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FACULDADE ATAME

LUÍS PAULO GUEDES DE ALBUQUERQUE RIBEIRO

ASPECTOS POSITIVOS DA LEI Nº 11.441/07:


PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS DE INVENTÁRIO,
PARTILHA, SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO CONSENSUAIS

GOIÂNIA
2020
2

FACULDADE ATAME

LUÍS PAULO GUEDES DE ALBUQUERQUE RIBEIRO

ASPECTOS POSITIVOS DA LEI Nº 11.441/07:


PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS DE INVENTÁRIO,
PARTILHA, SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO CONSENSUAIS

Monografia apresentada como requisito para


conclusão do curso de pós–graduação lato
sensu em Direito Notarial e Registral.

GOIÂNIA
2020
3

LUÍS PAULO GUEDES DE ALBUQUERQUE RIBEIRO

ASPECTOS POSITIVOS DA LEI Nº 11.441/07:


PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS DE INVENTÁRIO,
PARTILHA, SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO CONSENSUAIS

Monografia apresentada como requisito para


conclusão do curso de pós–graduação lato
sensu em Direito Notarial e Registral.

Aprovada em: ____/____/____

___________________________________________________

GOIÂNIA
2020
4

RESUMO

A presente monografia destina-se à análise dos benefícios inseridos pela Lei nº


11.441/07 ao ordenamento jurídico pátrio, a qual trouxe inovações ao possibilitar que
em determinadas situações, sejam essas procedimentos de separação, divórcio,
inventário ou partilha, pudessem ser realizados pela via administrativa, ou seja, em
cartórios extrajudiciais, o que antes apenas ocorriam pela via judicial
exclusivamente. Após o referido estudo, será possível compreender em quais
aspectos tais melhoramentos trouxeram proveitos àquelas pessoas que usufruem e
necessitam de tais dispositivos legais e de que forma o advento da Lei melhorou a
vida dos usuários dos serviços extrajudiciais, ao simplificar requisitos e
procedimentos para a formalização dos referidos atos jurídicos.

Palavras-chave: Lei nº 11.441/07, separação, divórcio, inventário,


partilha, extrajudicial.
5

ABSTRACT

This monograph is intended for the analysis of the benefits inserted by Law nº
11.441/ 07 to the national legal system, which brought innovations by allowing that in
certain situations, whether these procedures of separation, divorce, inventory or
sharing, could be carried out by administrative way, that is, in extrajudicial registries,
which previously only occurred through the judicial route exclusively. After the
referred study, it will be possible to understand in which aspects such improvements
have generated benefits for those people who enjoy and need such legal provisions
and how the advent of the Law has improved the lives of users of extrajudicial
services, by simplifying requirements and procedures for formalization constituted
legal acts.

Keywords: Law 11.441/07, separation, divorce, inventory, sharing,


extrajudicial.
6

SUMÁRIO

I. Introdução .............................................................................................................. 8

II. CAPÍTULO 1 - Divórcio e Separação .......... ....................................................... 9


2.1 Conceito e Natureza Jurídica do casamento ........................................... 10
2.1.1 Casamento X União Estável ...................................................... 13
2.2 Dissolução da sociedade conjugal e do casamento ................................ 15
2.2.1 Diferença entre separação e divórcio ........................................ 19
2.3 Modalidades de separação e divórcio ..................................................... 20
2.3.1 Separação de fato ...................................................................... 20
2.3.2 Separação de corpos ................................................................. 21
2.3.3 Separação judicial consensual ................................................... 22
2.3.4 Separação judicial litigiosa ......................................................... 22
2.3.5 Separação extrajudicial consensual............................................ 24
2.4 Modalidades de Divórcio ......................................................................... 24
2.4.1 Divórcio Direto ............................................................................ 24
2.4.2 Divórcio Conversão .................................................................... 25
2.4.3 Divórcio Litigioso ........................................................................ 25
2.4.4 Divórcio Consensual ................................................................. 25
2.4.5 Divórcio Extrajudicial .................................................................. 25

III. CAPÍTULO 2 – Inventário e Partilha ................................................................. 26


3.1 Modalidades de inventário ....................................................................... 28
3.1.1 Inventário Judicial ...................................................................... 28
3.1.2 Inventário Extrajudicial ............................................................... 29
3.1.3 Inventário Negativo .................................................................... 31
3.2 Modalidades de Partilha .......................................................................... 32
3.2.1 Partilha Extrajudicial ................................................................... 32
3.2.2 Partilha Judicial .......................................................................... 33
3.2.3 Partilha em vida ......................................................................... 33
3.3 Conversão de Inventário ou partilha judicial em extrajudicial .................. 34

IV. CAPÍTULO 3 – Procedimentos Extrajudiciais da Lei nº 11.441/07 ............... 35


4.1 Disposições comuns a todos os procedimentos ...................................... 35
4.1.1 Competência Material e Territorial ............................................. 37
4.1.2 Desistência de processo judicial e promoção pela via extrajudicial
............................................................................................................. 38
4.1.3 Necessidade de advogado ou defensor público ........................ 38
4.1.4 Desnecessidade de homologação judicial ................................. 39
4.1.5 Gratuidade .................................................................................. 40
4.2 Separação, Divórcio e Dissolução de União Estável por Escritura Pública
........................................................................................................................ 41
4.2.1 Requisitos comuns ao divórcio, separação e extinção de união
estável por escritura pública .......................................................................... 41
4.2.2 Documentos necessários ........................................................... 42
4.2.3 Outras Questões relevantes ...................................................... 43
4.2.4 Peculiaridades da Separação Consensual ................................ 44
4.2.5 Conversão da Separação Judicial em Divórcio ......................... 45
4.3 Inventário e Partilha por escritura Pública ............................................... 46
7

4.3.1 Requisitos Específicos ao Inventário e Partilha Extrajudiciais ... 46


4.3.2 Prazos ........................................................................................ 47
4.3.3 Legitimidade para instauração de inventário e partilha ............ 48
4.3.4 Documentos Necessários .......................................................... 49
4.3.5 Bens de estrangeiros no Brasil e bens no Exterior .................... 49
4.3.6 Procedimento ............................................................................. 50
4.3.7 Carta de Adjudicação ................................................................. 52
4.4 Benefícios da Lei nº 11.441/07 ................................................................ 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 56


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 58
8

INTRODUÇÃO

A Lei n° 11.441/07 trouxe inovações para o ordenamento jurídico brasileiro,


abrangendo a possibilidade de realização de divórcio consensual, separação
consensual, inventário e partilha por meio da via extrajudicial, ou seja, com
tramitação em cartórios, a depender do caso.
É de conhecimento geral que os referidos procedimentos, quando tramitam
nos tribunais, costumam ser morosos e podem causar enormes dissabores às partes
envolvidas. Até a edição da referida lei, todos esses procedimentos eram realizados
exclusivamente de forma judicial.
Nessa senda, o presente ensaio acadêmico tem por objetivo analisar as
inovações trazidas pela Lei n° 11.441/07 ao ordenamento jurídico brasileiro, bem
como os benefícios abarcados por ela, principalmente no que concerne às partes
envolvidas no processo.
Este trabalho traz uma pesquisa doutrinária, normativa e com análise da
jurisprudência brasileira.
O primeiro capítulo deste projeto trata do casamento e sua dissolução, por
meio do divórcio e da separação consensuais, abarcando conceitos jurídicos,
modalidades de divórcio e separação, principais questões atinentes e a evolução
dos referidos institutos.
No segundo capítulo faz-se um apanhado a respeito do inventário e partilha,
com uma abordagem conceitual, no qual serão apresentadas diversas modalidades
para a realização dos procedimentos e outras questões que permeiam o tema.
Já no terceiro capítulo analisa-se a Lei nº 11.441/07 especificamente: os
novos procedimentos incorporados por ela, inclusive de acordo com a Resolução nº
35/2007 do Conselho Nacional de Justiça, a qual regulamenta os trâmites nos
cartórios extrajudiciais, citando requisitos para a sua realização pela via extrajudicial;
bem como mostrando a evolução da Norma na transição entre o Código de
Processo Civil e os códigos anteriores (o de 1973 e o de 2015); abarca também a
documentação necessária para o procedimento, dentre outras questões relevantes
que aqui serão abordadas. E, por fim, encerrado com um levantamento das
vantagens que a Lei nº 11.441/07 trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro.
9

Dessa forma, o presente estudo se presta a aferir as vantagens dos


procedimentos trazidos pela Lei nº 11.441/07, e de que forma isso impactou nos
usuário dos serviços dos cartórios extrajudiciais.
10

II. Capítulo 1 – DIVÓRCIO E SEPARAÇÃO

2.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO

O casamento consiste na união entre duas pessoas, as quais, por livre


vontade resolvem formar uma relação jurídica revestida das formalidades legais,
tornando-a protegida e reconhecida perante o Estado, com objetivo de formar
família.
Para Flávio Tartuce1, o casamento “pode ser conceituado como a união de
duas pessoas, reconhecida e regulamentada pelo Estado, formada com o objetivo
de constituição de uma família e baseado em um vínculo de ato”.
Para Maria Helena Diniz2, “o casamento é o vínculo entre o homem e a
mulher, livres, que se unem, segundo as formalidades legais, para obter o auxílio
mútuo e espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica, e a constituição
de uma família”.
Para Paulo Lôbo3, “o casamento é ato jurídico negocial, solene, público,
complexo, mediante o qual um homem e uma mulher constituem família por livre
manifestação de vontade e pelo reconhecimento do Estado”.
Guilherme Calmon Nogueira da Gama4 traz o seguinte conceito:
É a união formal entre um homem e uma mulher desimpedidos, como
vínculo formador e mantenedor de família, constituída mediante negócio
jurídico solene e complexo, em conformidade com a ordem jurídica,
estabelecendo comunhão plena de vida, além de efeitos pessoais e
patrimoniais entre os cônjuges, com reflexos em outras pessoas.

Apesar de alguns conceitos exigirem que os contraentes tenham sexos


distintos, essa referida visão representa o conceito clássico do casamento, bastante
ultrapassado para os dias atuais, em que o requisito passou a ser dispensado. Em
2011, o Superior Tribunal de Justiça julgou tal questão e permitiu a união estável,
com a consequente conversão em casamento, de pessoas do mesmo sexo,
conforme ementa in verbis:

1 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense. 2018. (p. 1.340)
2 DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2010. (p. 1.051) apud TARTUCE, Flávio.
Manual de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense. 2018. (p. 1.340)
3 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. (p. 76) apud TARTUCE, Flávio. Manual de

Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense. 2018. (p. 1.340)


4 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito Civil. Família. São Paulo: Atlas, 2008. (p. 5)
11

DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO CIVIL ENTRE PESSOAS DO


MESMO SEXO (HOMOAFETIVO). INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 1.514,
1.521, 1.523, 1.535 e 1.565 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. INEXISTÊNCIA
DE VEDAÇÃO EXPRESSA A QUE SE HABILITEM PARA O CASAMENTO
PESSOAS DO MESMO SEXO. VEDAÇÃO IMPLÍCITA
CONSTITUCIONALMENTE INACEITÁVEL. ORIENTAÇÃO
PRINCIPIOLÓGICA CONFERIDA PELO STF NO JULGAMENTO DA ADPF
N. 132/RJ E DA ADI N. 4.277/DF. 1. Embora criado pela Constituição
Federal como guardião do direito infraconstitucional, no estado atual em que
se encontra a evolução do direito privado, vigorante a fase histórica da
constitucionalização do direito civil, não é possível ao STJ analisar as
celeumas que lhe aportam "de costas" para a Constituição Federal, sob
pena de ser entregue ao jurisdicionado um direito desatualizado e sem
lastro na Lei Maior. Vale dizer, o Superior Tribunal de Justiça, cumprindo
sua missão de uniformizar o direito infraconstitucional, não pode conferir à
lei uma interpretação que não seja constitucionalmente aceita. 2. O
Supremo Tribunal Federal, no julgamento conjunto da ADPF n. 132/RJ e da
ADI n. 4.277/DF, conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002
interpretação conforme à Constituição para dele excluir todo significado que
impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre
pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como
sinônimo perfeito de família. 3. Inaugura-se com a Constituição Federal de
1988 uma nova fase do direito de família e, consequentemente, do
casamento, baseada na adoção de um explícito poliformismo familiar em
que arranjos multifacetados são igualmente aptos a constituir esse núcleo
doméstico chamado "família", recebendo todos eles a "especial proteção do
Estado". Assim, é bem de ver que, em 1988, não houve uma recepção
constitucional do conceito histórico de casamento, sempre considerado
como via única para a constituição de família e, por vezes, um ambiente de
subversão dos ora consagrados princípios da igualdade e da dignidade da
pessoa humana. Agora, a concepção constitucional do casamento -
diferentemente do que ocorria com os diplomas superados - deve ser
necessariamente plural, porque plurais também são as famílias e, ademais,
não é ele, o casamento, o destinatário final da proteção do Estado, mas
apenas o intermediário de um propósito maior, que é a proteção da pessoa
humana em sua inalienável dignidade. 4. O pluralismo familiar engendrado
pela Constituição - explicitamente reconhecido em precedentes tanto desta
Corte quanto do STF - impede se pretenda afirmar que as famílias formadas
por pares homoafetivos sejam menos dignas de proteção do Estado, se
comparadas com aquelas apoiadas na tradição e formadas por casais
heteroafetivos. 5. O que importa agora, sob a égide da Carta de 1988, é que
essas famílias multiformes recebam efetivamente a "especial proteção do
Estado", e é tão somente em razão desse desígnio de especial proteção
que a lei deve facilitar a conversão da união estável em casamento, ciente o
constituinte que, pelo casamento, o Estado melhor protege esse núcleo
doméstico chamado família. 6. Com efeito, se é verdade que o casamento
civil é a forma pela qual o Estado melhor protege a família, e sendo
múltiplos os "arranjos" familiares reconhecidos pela Carta Magna, não há de
ser negada essa via a nenhuma família que por ela optar,
independentemente de orientação sexual dos partícipes, uma vez que as
famílias constituídas por pares homoafetivos possuem os mesmos núcleos
axiológicos daquelas constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a
dignidade das pessoas de seus membros e o afeto. 7. A igualdade e o
tratamento isonômico supõem o direito a ser diferente, o direito à auto-
afirmação e a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias.
Em uma palavra: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se
é garantido o direito à diferença. Conclusão diversa também não se mostra
consentânea com um ordenamento constitucional que prevê o princípio do
livre planejamento familiar (§ 7º do art. 226). E é importante ressaltar, nesse
ponto, que o planejamento familiar se faz presente tão logo haja a decisão
de duas pessoas em se unir, com escopo de constituir família, e desde esse
12

momento a Constituição lhes franqueia ampla liberdade de escolha pela


forma em que se dará a união. 8. Os arts. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e
1.565, todos do Código Civil de 2002, não vedam expressamente o
casamento entre pessoas do mesmo sexo, e não há como se enxergar uma
vedação implícita ao casamento homoafetivo sem afronta a caros princípios
constitucionais, como o da igualdade, o da não discriminação, o da
dignidade da pessoa humana e os do pluralismo e livre planejamento
familiar. 9. Não obstante a omissão legislativa sobre o tema, a maioria,
mediante seus representantes eleitos, não poderia mesmo
"democraticamente" decretar a perda de direitos civis da minoria pela qual
eventualmente nutre alguma aversão. Nesse cenário, em regra é o Poder
Judiciário - e não o Legislativo - que exerce um papel contramajoritário e
protetivo de especialíssima importância, exatamente por não ser
compromissado com as maiorias votantes, mas apenas com a lei e com a
Constituição, sempre em vista a proteção dos direitos humanos
fundamentais, sejam eles das minorias, sejam das maiorias. Dessa forma,
ao contrário do que pensam os críticos, a democracia se fortalece,
porquanto esta se reafirma como forma de governo, não das maiorias
ocasionais, mas de todos. 10. Enquanto o Congresso Nacional, no caso
brasileiro, não assume, explicitamente, sua coparticipação nesse processo
constitucional de defesa e proteção dos socialmente vulneráveis, não pode
o Poder Judiciário demitir-se desse mister, sob pena de aceitação tácita de
um Estado que somente é "democrático" formalmente, sem que tal
predicativo resista a uma mínima investigação acerca da universalização
dos direitos civis. 11. Recurso especial provido5. (STJ. REsp 1.138.378/RS)

No mesmo sentido, na VII Jornada de Direito Civil, realizada em 2015 pelo


Conselho Federal da Justiça Federal, foi aprovado o enunciado nº 601, o qual dispõe
que o casamento entre pessoas do mesmo sexo existe e tem validade6. Cabe dizer
que, no entanto, ainda não houve nenhuma alteração legislativa disciplinando a
questão, de forma que os dispositivos permanecem com a mesma redação.
A natureza jurídica do casamento é um tanto controversa na doutrina. Há
três teorias que buscam explicá-la:
a. Teoria Institucionalista: para os defensores dessa
corrente, cuja base é fundamentada por princípios morais e religiosos
conservadores, o casamento é uma instituição. Essa posição é defendida por Maria
Helena Diniz e Rubens Limongi França, por exemplo;
b. Teoria Contratualista: para os contratualistas, o
casamento constitui um contrato civil de natureza especial, disciplinado por regras
peculiares. Defende esta corrente o autor Sílvio Rodrigues. Essa é a teoria adotada
no Código Civil de Portugal;

5 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.138.378/RS - STJ. Disponível em:


<https://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:superior.tribunal.justica;turma.4:acordao;resp:2011-10-25;1183378-
1157830 > Acesso: 7 jul. 2020.
6 BRASIL. Conselho da Justiça Federal. Enunciado 601 – CJF. Disponível em: <

https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/828>. Acesso: 7 jul. 2020.


13

c. Teoria Mista ou Eclética: entendem os defensores desta


corrente que o casamento é instituição em relação ao seu conteúdo, mas é um
contrato especial quanto à sua formação. Corroboram com este entendimento os
autores Eduardo Leite de Oliveira, Guilherme Calmon Nogueira, Flávio Augusto
Monteiro de Barros e Roberto Senise Lisboa7.
A tarefa de conceituar o casamento e identificar sua natureza jurídica mostra
que esse é um instituto controverso e em constante evolução. Desde sua origem, há
milhares de anos, vem passando por mudanças que acontecem até os dias atuais.

2.1.1 CASAMENTO X UNIÃO ESTÁVEL

A Constituição Federal de 1988 assim reconhece a união estável em seu


artigo 226, § 3°: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua
conversão em casamento”8.
Conforme já exposto no início do presente ensaio acadêmico, o Superior
Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 1.138.378/PR, entendeu
que não é mais necessário que a união se dê somente entre homem e mulher,
ampliando a possibilidade de reconhecimento de união estável para incluir casais
homoafetivos e garantir-lhes proteção do Estado.
O Código Civil fornece o conceito de união estável em seu artigo 1.7239: “É
reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família.” Também nesse mesmo sentido dispõe o artigo
1º da Lei 9.278/9610.
Pelo texto é possível inferir que a união estável decorre de uma situação de
fato, quando presentes os quatro requisitos estatuídos pelo artigo 1.723 do Código
Civil. Assim, não é necessário um registro ou um ato jurídico para que exista uma

7 TARTUCE, Flávio. Loc.cit. p. 1.341


8 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro
de 1988. (cap. VII, art. 226). Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
Acesso: 7 jul. 2020.
9BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. (art. 1.723) Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> Acesso: 7 jul. 2020.


10BRASIL. Lei 9.278 – 10 de maio de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.htm>

Acesso: 7 jul. 2020.


14

união estável, pois trata-se um fato jurídico, apesar de haver a possibilidade de sua
formalização em um cartório de notas, caso seja da vontade das partes. Entretanto,
é a situação fática que gera a eficácia do direito, não seu registro em cartório.
As diferenças que existiam antigamente entre o casamento e a união estável
foram esvaziadas pelo julgamento do Recurso Ordinário nº 878.694/MG do Supremo
Tribunal Federal, que entendeu pela inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código
Civil, conferindo aos companheiros (nome conferido às pessoas que vivem em união
estável, assim como existe o termo “cônjuge” para se referir às partes de um
casamento) o mesmo direito à sucessão legítima que é conferido aos cônjuges, o de
figurar na sucessão do outro como herdeiro necessário em concorrência com os
demais.
O artigo 1.727 do Código Civil prescreve que caso um dos cônjuges esteja
sob algum dos impedimentos do artigo 1.521 do mesmo códex, o de contrair novo
matrimônio, a situação será de concubinato e não de união estável.
A união estável pode ser extinta, e por ser uma situação de fato, não depende
de registro para a sua eficácia, mas pode ser registrada caso haja vontade das
partes, o que é recomendável por questões que envolvem segurança jurídica e
proteção patrimonial.
O artigo 733 do Código de Processo Civil disciplina a extinção consensual de
união estável extrajudicial: pode ocorrer em cartório de notas, desde que,
observados os requisitos legais, haja acordo entre as partes, não tenham filhos
incapazes ou nascituro e estejam as partes assistidas por advogado. A extinção da
união estável pode se dar ainda por processo judicial, caso em que poderá ser tanto
litigiosa quanto consensual. Se por ventura não houver consenso entre as partes, o
único procedimento possível é o judicial.
Alguns esclarecimentos sobre a extinção de união estável se fazem
pertinentes. É possível fazer a dissolução da união estável ainda que não tenha sido
feita a Declaração de União Estável. Os conviventes deverão preencher certos
requisitos para que possam requerer a dissolução pela via extrajudicial e, caso não
cumpram, o procedimento deverá ser judicial11.

11COSTA, Rosângela. Como dissolver a união estável. Disponível em:


<https://costarosangela.jusbrasil.com.br/artigos/529713213/como-dissolver-a-uniao-estavel > Acesso: 14 jul.
2020.
15

2.2 DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL E DO CASAMENTO

O Código Civil de 2002 estabelece quatro formas de extinção do casamento


no artigo 1.571:
Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:
I - pela morte de um dos cônjuges;
II - pela nulidade ou anulação do casamento;
III - pela separação judicial;
IV - pelo divórcio.
§ 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou
pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto
ao ausente12.

A morte é a extinção da pessoa natural, conforme dispõe o artigo 6º do


Código Civil e, consequentemente extingue a sociedade conjugal. O artigo 1.548 do
Código Civil estabelece que o casamento é nulo quando contraído com infringência
de um dos impedimentos do artigo 1.521. O casamento é anulável nas hipótese do
artigo 1.550 do Código Civil, conforme disposto a seguir:

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o
foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro
grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte.
[...]

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:


(...)
II - por infringência de impedimento.
[...]

Art. 1.550. É anulável o casamento:


I - de quem não completou a idade mínima para casar;
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante
legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558 ;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o
consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse
da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante13.

12 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002 (art. 1.571). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> > Acesso: 15 jul. 2020
13 Idem. (arts. 1521, 1548, 1550).
16

O jurista Pablo Stolze Gagliano conceitua o divórcio da seguinte maneira:


(...) medida dissolutória (sic.) do vínculo matrimonial válido, importando, por
consequência, a extinção de deveres conjugais. Trata-se, no vigente
ordenamento jurídico brasileiro, de uma forma voluntária de extinção da
relação conjugal, sem causa específica, decorrente de simples
manifestação de vontade de um ou ambos os cônjuges, apta e permitir, por
consequência, a constituição de novos vínculos matrimoniais.14

O processo de dissolução da sociedade conjugal e do casamento sofreu


modificações recentemente. A Emenda Constitucional nº 66 foi aprovada em 13 de
julho de 2010, possibilitando o chamado divórcio direto sem prévia separação
judicial, que permite a dissolução do casamento sem uma separação precedente,
como estabelecia a redação do art. 226 da Carta Magna. Constituiu, portanto, objeto
de mudança de redação por conta da Emenda. Vejamos, então, a tabela
comparativa a seguir:

Art. 226, § 6º, CF/88 – Art. 226, § 6º, CF/88 –


redação original redação atual

§ 6º O casamento civil pode ser


§ 6º O casamento civil pode ser
dissolvido pelo divórcio, após prévia
dissolvido pelo divórcio.15
separação judicial por mais de um
ano nos casos expressos em lei, ou
comprovada separação de fato por
mais de dois anos.

Por ser Norma Constitucional, tem aplicação imediata para produzir efeitos,
independentemente de qualquer lei infraconstitucional.
A separação judicial é um instituto em desuso pelos operadores do direito. Até
o ano de 1977, havia a proibição de se divorciar no Brasil. Com o advento da Lei nº
6.515/77, o divórcio passou a ser possível, desde que cumprido um requisito: a
separação. Na época, década de 1970, o casamento ainda era uma instituição que
carregava valores morais e religiosos mais conservadores. Assim, o Estado
empreendia esforços para evitar a dissolução dos casamentos, sendo um deles a
exigência de que o casal passasse por um estágio intermediário antes do divórcio de
fato, que era a separação.

14 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil – Direito de Família. São Paulo: Editora Saraiva,
2013. (p. 523) apud BIANCHINI, Izabella. Divórcio Impositivo – JUS, 2019. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/78326/divorcio-impositivo#_ftnref3 >. Acesso: 01 jul. 2020.
15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Loc.cit. (art. 226).
17

O primeiro momento foi a época da separação judicial, que era etapa


obrigatória no processo de divórcio. O casal fazia um pedido de separação na
Justiça e deveria esperar um intervalo de tempo de três anos para só então poder se
divorciar.
A Constituição Federal de 1988 trouxe o chamado “divórcio direto”, que na
realidade não era direto como é nos dias atuais. Isso porque, para requerer o
divórcio sem a necessidade de prévia separação judicial, era exigido que o casal
estivesse separado de fato há mais de dois anos.
A situação mudou mesmo em 2010, com a Emenda Constitucional nº 66, que
suprimiu a exigência da prévia separação de qualquer espécie, de forma que
atualmente é possível realizar o divórcio diretamente, sem a exigência do
cumprimento de qualquer requisito. Apesar do requisito da prévia separação ter sido
abolido, de o divórcio poder ser realizado diretamente e de alguns especialistas no
assunto entenderem que não existe mais processo de separação judicial no Brasil
(já que a lei não exige mais o cumprimento desse requisito para a decretação do
divórcio), a realidade do Poder Judiciário é outra, pois ainda existem muitas
demandas judiciais para essa situação16.
Em 2017, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que a
separação judicial é facultativa aos cônjuges, podendo ser realizado também o
divórcio diretamente, conforme ementa exarada, in verbis:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. EMENDA


CONSTITUCIONAL N° 66/10. DIVÓRCIO DIRETO. SEPARAÇÃO
JUDICIAL. SUBSISTÊNCIA.
1. A separação é modalidade de extinção da sociedade conjugal, pondo fim
aos deveres de coabitação e fidelidade, bem como ao regime de bens,
podendo, todavia, ser revertida a qualquer momento pelos cônjuges
(Código Civil, arts. 1571, III e 1.577). O divórcio, por outro lado, é forma
de dissolução do vínculo conjugal e extingue o casamento, permitindo que
os ex-cônjuges celebrem novo matrimônio (Código Civil, arts. 1571, IV e
1.580). São institutos diversos, com consequências e regramentos
jurídicos distintos.
2. A Emenda Constitucional n° 66/2010 não revogou os artigos do Código
Civil que tratam da separação judicial.
3. Recurso especial provido17. (RESP 1247098/MS)

16FRANZONI, Larissa. Qual a diferença entre divórcio e separação? – Franzoni Advogados, 2015. Disponível
em: < https://franzoni.adv.br/diferenca-entre-divorcio-e-separacao/ > Acesso: 3 jul. 2020.
17 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.247.098/MS. Disponível em:

<https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=1247098&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true
> Acesso: 30 jun. 2020.
18

Em sentido contrário, merece destaque a posição de Álvaro Villaça Azevedo18,


que entende que a separação judicial fora abolida do ordenamento jurídico
brasileiro:
A grande maioria dos juristas tem entendido que, com a edição da PEC
do divórcio, extinguiu-se a separação judicial. Este é o meu entendimento.
Estaríamos, agora, como o sistema japonês que só admite o divórcio.
Contudo, há quem entenda que a PEC existiu só para a extinção dos
prazos constantes do § 6º, do art. 226 da Constituição Federal não tendo
ela objetivado a extinção da separação, que não poderia ser extinta
tacitamente. Todavia, a Emenda Constitucional é claríssima ao assentar que
‘O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio’. Em verdade, a PEC
existiu para instituir, no direito brasileiro, o divórcio direto.
Cogita-se, entretanto, que podem os cônjuges preferir sua separação
judicial, por exemplo, os católicos, à moda da separação temporal admitida
pelo Código Canônico. Sim, porque, se o católico levar a sério suas crenças
religiosas, não poderá pretender o divórcio. Não é o que geralmente
acontece. Nesse caso, deve o religioso permanecer em separação de fato.
Todavia, para que exista, excepcionalmente, a separação de fato dos
cônjuges, é preciso que ambos manifestem-se nesse sentido, pois um
pretendendo o divórcio não poderá ser obstado pelo outro na realização
desse direito potestativo.

Os enunciados da V Jornada de Direito Civil do Conselho Geral da Justiça


Federal19 concluíram pela coexistência da separação judicial e do divórcio no
ordenamento jurídico brasileiro:
Enunciado nº 514: A Emenda Constitucional nº 66/2010 não extinguiu o
instituto da separação judicial e extrajudicial.
Enunciado nº 515: Pela interpretação teleológica da Emenda
Constitucional nº 66/2010, não há prazo mínimo de casamento para a
separação consensual.
Enunciado nº 516: Na separação judicial por mútuo consentimento, o juiz
só poderá intervir no limite da preservação do interesse dos incapazes ou
de um dos cônjuges, permitida a cindibilidade dos pedidos, com a
concordância das partes, aplicando-se esse entendimento também ao
divórcio.
Enunciado nº 517: A Emenda Constitucional nº 66/2010 extinguiu os
prazos previstos no art. 1.580 do Código Civil, mantido o divórcio por
conversão.

Ante o exposto, são quatro as formas de dissolução da sociedade conjugal


previstas pelo Código Civil, lembrando que a separação judicial é facultativa.
Conclui-se também que o divórcio não excluiu do ordenamento jurídico a
possibilidade de separação judicial.

18 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Emenda Constitucional do Divórcio. Disponível em <http://www.flavio-


tartuce.adv.br/secoes/artigosc/villaca_emenda.doc.> Acesso: 1° jul. 2020.
19 BRASIL. Justiça Federal. V Jornada de Direito Civil - Conselho da Justiça Federal, 2012. Disponível em: <

https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-
cej/vjornadadireitocivil2012.pdf>. Acesso: 30 jun. 2020.
19

2.2.1 DIFERENÇA ENTRE SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRCIO

A separação judicial diverge do casamento. A primeira põe fim à sociedade


conjugal, conforme preceituado na Lei nº 6.515/77, artigo 2º, inciso III, o que não
importa na dissolução do casamento e nem na extinção do vínculo matrimonial,
conforme preceitua o parágrafo único do artigo 2°: “O casamento válido somente se
dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio”.20
O efeito jurídico da separação judicial é previsto no artigo 1.576 do Código
Civil, que preceitua que “a separação judicial põe termo aos deveres de coabitação e
fidelidade recíproca e ao regime de bens”.21
Sobre o assunto, explica Carlos Roberto Gonçalves22 que “a separação
judicial, embora coloque termo à sociedade conjugal, mantém intacto o vínculo
matrimonial, impedindo os cônjuges de contraírem novas núpcias. Pode-se, no
entanto, afirmar que representa a abertura do caminho à sua dissolução”.
Assim, ante a extinção dos elencados no artigo 1.576 do Código Civil, a
pessoa separada judicialmente terá a possibilidade de iniciar um relacionamento
com outras e adquirir bens sem que isso importe na meação do seu cônjuge. Porém,
isso não significa que será possível se casar novamente, visto que ainda subsiste o
vínculo matrimonial anterior. Para que ela possa contrair novas núpcias, deverá
formalizar o divórcio. Na prática, os efeitos são equivalentes aos do divórcio, com
exceção da possibilidade de a pessoa contrair novo casamento. Em resumo, a
separação judicial põe fim aos deveres do casamento, mas não ao casamento em si,
pois este só pode ser desfeito pelo divórcio ou pela morte de um dos cônjuges.
É possível que no curso de um processo de separação judicial um casal se
arrependa e queira voltar atrás. Para isso, o artigo 1.577 do Código Civil dispõe
sobre o restabelecimento da sociedade conjugal da seguinte maneira: “seja qual for
a causa da separação judicial e o modo como esta se faça, é lícito aos cônjuges
restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo”23.
Regra semelhante consta também do artigo 46 da nº Lei 6.515/77, o qual
dispõe:

20BRASIL. Lei nº 6515/77 - 26 de dezembro de 1977. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6515.htm> Acesso: 30 jun. 2020. (parág. Único, art. 2º).
21BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Loc. Cit. (art. 1576).
22 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2019. (p. 201)
23 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Loc. Cit. (art. 1577).
20

Art. 46 - Seja qual for a causa da separação judicial, e o modo como esta se
faça, é permitido aos cônjuges restabelecer a todo o tempo a sociedade
conjugal, nos termos em que fora constituída, contanto que o façam
mediante requerimento nos autos da ação de separação. 24

O procedimento de restabelecimento da sociedade conjugal pode ocorrer pela


via judicial, ou extrajudicialmente, por escritura pública perante o Tabelião de Notas,
conforme dispõe a Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça, no artigo
48, in verbis:
Art. 48. O restabelecimento de sociedade conjugal pode ser feito por
escritura pública, ainda que a separação tenha sido judicial. Neste caso, é
necessária e suficiente a apresentação de certidão da sentença de
separação ou da averbação da separação no assento de casamento.25

A redação do artigo 46 da Lei nº 6.515/77 e do artigo 48 da Resolução nº


35/2007 do Conselho Nacional de Justiça deixam claro que o restabelecimento da
sociedade conjugal só é possível caso os cônjuges estejam separados, não
divorciados. O divórcio é irreversível: uma vez realizado, não há restabelecimento, e
caso o casal queira se reconciliar, deverá contrair novo matrimônio26.

2.3 MODALIDADES DE SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO

2.3.1 SEPARAÇÃO DE FATO


A separação de fato consiste na “livre decisão dos cônjuges de encerrar a
sociedade conjugal, porém sem recorrer aos meios legais. A decisão põe fim aos
direitos, deveres e efeitos do casamento, mas os cônjuges permanecem no estado
civil de casados”27.
Na lição de Massimo Bianca28, “ela pode ser definida como um fato jurídico
eficaz, caracterizado pela interrupção efetiva e estável da convivência conjugal não
declarada judicialmente”. Ou seja, é uma situação meramente fática, na qual um dos
cônjuges deixa o lar sem formalizar juridicamente a separação.

24 BRASIL. Lei nº 6515/77 - 26 de dezembro de 1977. Loc. Cit. (art. 46)


25BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Disponível em:
<https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/179> Acesso: 30 jun. 2020. (art. 48)
262º Tabelionato de Notas de Nova Lima/MG. Divórcio. Disponível em:

<http://lyon.com.br/projetos/2_nova_lima/?page_id=460#:~:text=Observe%20que%20ap%C3%B3s%20o%20div
%C3%B3rcio,conjugal%20atrav%C3%A9s%20de%20escritura%20p%C3%BAblica.> Acesso: 30 jun. 2020.
27SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Separação de fato há mais de um ano permite curso da prescrição

para pedido de partilha de bens – Portal do STJ, 2019. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Separacao-de-fato-tambem-permite-curso-da-
prescricao-para-pedido-de-partilha-de-
bens.aspx#:~:text=A%20separa%C3%A7%C3%A3o%20de%20fato%20%C3%A9,no%20estado%20civil%20de
%20casados.> Acesso: 30 jun. 2020.
28 BIANCA, Massimo Cesare. Apud NADER, Paulo. Curso de direito civil: Direito de família. Rio de Janeiro:

Forense, 2008. (p. 199).


21

Paulo Nader, citado por Humberto Martins29, destaca três características da


separação de fato, a seguir:
a) Sua ocorrência não se confunde com situações episódicas (viagens,
ausências temporárias para tratamento de saúde ou de interesses
profissionais) ou temporárias, ainda que dilatadas no tempo, ao estilo de
serviço militar ou civil no exterior;
b) A separação pode-se dar por mútuo consentimento dos cônjuges, o que
não gera qualquer eficácia negativa, ao exemplo do art. 1.573, inciso IV, do
CCB/2002, que considera como causa de impossibilidade da comunhão de
vida a ocorrência de “abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano
contínuo;
c) Se unilateral e durável por mais de um ano, como já exposto, pode servir
de fundamento para qualificar a impossibilidade de comunhão de vida (art.
1.573, inciso IV, do CCB/2002). Como consequência, poderá o cônjuge
requerer a separação judicial, com fundamento no § 1o do art. 1.572 do
CCB/2002.

O Superior Tribunal de Justiça já entendeu que a separação de fato há mais


de um ano permite o curso da prescrição para requerer a partilha de bens, ainda que
não haja previsão legal específica nesse sentido30. O mesmo Tribunal, no
julgamento do REsp 678.790/PR, confirmou acórdão do Tribunal de Justiça do
Paraná, firmando entendimento de que o bem adquirido por um dos cônjuges
durante a separação de fato não integra a partilha, in verbis: "o cônjuge casado,
qualquer que seja o regime de comunhão - universal ou parcial -, separado de fato,
pode adquirir bens, com esforço próprio, e formar novo patrimônio, o qual não se
integra à comunhão e sobre o qual o outro cônjuge não tem direito à meação"31.

2.3.2 SEPARAÇÃO DE CORPOS

Ainda que gere o mesmo efeito que a separação de fato, que é de encerrar a
vida em comunhão, no tipo em questão há a formalização do ato, que pode ocorrer
de forma consensual ou litigiosa e depende de decisão judicial. Após a formalização
do ato, cessam os deveres do casamento, inclusive de fidelidade e de comunhão de
bens, de forma que a pessoa poderá, inclusive, contrair nova união estável, sendo
29 NADER, Paulo. Curso de direito civil: Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2008. (p. 199) apud
MARTINS, Humberto. Dissolução da sociedade conjugal no Código Civil de 2002: separação judicial
consensual e extrajudicial.
30 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Separação de fato há mais de um ano permite curso da prescrição

para pedido de partilha de bens – Portal do STJ, 2019. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Separacao-de-fato-tambem-permite-curso-da-
prescricao-para-pedido-de-partilha-de-
bens.aspx#:~:text=A%20separa%C3%A7%C3%A3o%20de%20fato%20%C3%A9,no%20estado%20civil%20de
%20casados.> Acesso: 30 jun. 2020.
31 STJ JUSBRASIL. REsp 678.790/PR. Relator: Ministro Raul Araújo. DJ: 05/06/2014. Disponível em:

<https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=678790&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>
Acesso: 30 jul. 2020.
22

impedida apenas de se casar novamente até o divórcio e de adquirir bens sem que
isso importe em meação do cônjuge.
A separação é decretada judicialmente em procedimento cautelar, com
escopo de retirar dos cônjuges ou companheiros o dever de comunhão de vida, ou
seja, de terem de conviver no mesmo lar. Assim, após sua decretação, cessam os
deveres conjugais e um dos cônjuges pode deixar o lar32.

2.3.3 SEPARAÇÃO JUDICIAL CONSENSUAL

A separação judicial substituiu o antigo desquite. Pode ocorrer por mútuo


consenso entre as partes ou ainda de forma litigiosa. Está fundamentada no artigo
1.574 do Código Civil da seguinte maneira: “dar-se-á a separação judicial por mútuo
consentimento dos cônjuges se forem casados por mais de um ano e o
manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada a
convenção”33.
A separação judicial consensual é admitida para pessoas casadas há mais de
um ano quando há um acordo de vontades entre elas, que é submetido a um
magistrado para que este o homologue. É a homologação que confere eficácia ao
negócio jurídico, extinguindo a sociedade conjugal. Cabe ao juiz, nesse caso, tão
somente examinar os aspectos formais do acordo de vontades, podendo intervir na
vontade das partes quando o acordo não preservar da forma suficiente os interesses
dos filhos ou de um dos cônjuges, como preceitua o artigo 1.574, § único, do Código
Civil.

2.3.4 SEPARAÇÃO JUDICIAL LITIGIOSA

A separação judicial litigiosa pode ser requerida por apenas um dos cônjuges,
a qualquer tempo, e será processada pelo rito ordinário. É disciplinada no artigo
1.572 do Código Civil:
Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial,
imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do
casamento e torne insuportável a vida em comum.

32 DIAS, Maria Berenice. Separação de corpos e o desenlace familiar. Disponível em <


http://www.mariaberenice.com.br/manager/arq/(cod2_763)12__separacao_de_corpos_e_desenlace_familiar.pdf>
Acesso: 6 jul. 2020.
33 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Loc. Cit. (art. 1574)
23

§ 1º A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges


provar ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de
sua reconstituição.
§ 2º O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver
acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, que
torne impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma
duração de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura
improvável.
§ 3º No caso do parágrafo 2º, reverterão ao cônjuge enfermo, que não
houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos bens que levou
para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a meação
dos adquiridos na constância da sociedade conjugal34.

A doutrina divide a separação judicial litigiosa em três modalidades: a


separação-sanção; a separação-ruptura (também chamada de separação-falência) e
a separação-remédio.
Separação-sanção é disposta no caput do artigo 1.572, decorre da culpa de
um dos cônjuges, por ter infringido um dos deveres conjugais estatuídos no artigo
1.573 do Código Civil:

Art. 1.573. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a


ocorrência de algum dos seguintes motivos:
I - adultério;
II - tentativa de morte;
III - sevícia ou injúria grave;
IV - abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo;
V - condenação por crime infamante;
VI - conduta desonrosa.
Parágrafo único. O juiz poderá considerar outros fatos que tornem evidente
a impossibilidade da vida em comum”35.

A separação-ruptura é aquela disposta no § 1º do artigo 1.573 (acima


exposto), quando um dos cônjuges prova que a ruptura da vida comum ocorreu há
mais de um ano, e que é impossível reconstituí-la.
A separação-remédio representa uma situação penosa do artigo 1.573, §2º,
do Código Civil, na qual um dos cônjuges é acometido de enfermidade mental grave
só descoberta após o matrimônio, o que torna a continuação da comunhão de vida
impossível, desde que após dois anos a doença seja reconhecida como incurável. O
§ 3º do mesmo artigo confere proteção patrimonial ao cônjuge enfermo caso
realmente ocorra a separação.
Faz-se necessário dizer que a separação litigiosa além de exigir uma das três
situações acima elencadas, também pode ocorrer quando as partes não entram em

34 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Loc. Cit. (art. 1572)
35 Idem. (art. 1573)
24

acordo sobre a vontade de se separarem ou quando não há acordo entre elas


referente à guarda dos filhos menores, bem como pagamento de pensão alimentícia,
partilha de bens e alteração do nome36.

2.3.5 SEPARAÇÃO EXTRAJUDICIAL CONSENSUAL


A separação extrajudicial consensual é mais uma inovação incorporada pela
Lei nº 11.441/07 no ordenamento jurídico brasileiro, possibilitando sua realização
pela via extrajudicial, ou seja, diretamente em um cartório. Está disposta no artigo
733 do Código de Processo Civil de 2015, assim como também constam no mesmo
artigo o divórcio e a união estável extrajudiciais.
As semelhanças e as diferenças em relação ao divórcio permanecem as
mesmas: em ambos os casos cessam os deveres conjugais e o regime de bens.
Entretanto, no divórcio há a dissolução do vínculo matrimonial e a pessoa pode
contrair novo casamento; já na separação, mesmo que extrajudicial, o vínculo
matrimonial permanece existente, de modo que a pessoa não poderá se casar
novamente até que se divorcie.
A possibilidade de restabelecimento da sociedade conjugal existe apenas na
separação judicial, pois no caso de divórcio, uma vez desfeito o vínculo matrimonial,
este só poderá ser restaurado a partir de um novo casamento.
Os requisitos e procedimentos do ato serão explorados mais adiante, no
capítulo III.

2.4 MODALIDADES DE DIVÓRCIO

2.4.1 DIVÓRCIO DIRETO


Atualmente, esta é a forma de divórcio mais comum no Brasil. É chamado
“direto” porque não há necessidade de prévia separação judicial, assim como era
antes da Emenda Constitucional nº 66/2010. O divórcio direto pode ser litigioso ou
consensual37.

36
PORTAL-EDUCAÇÃO. Separação judicial litigiosa. Disponível em:
<https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/separacao-judicial-
litigiosa/39397#:~:text=A%20separa%C3%A7%C3%A3o%20judicial%20litigiosa%20ocorre,bens%20e%20altera
%C3%A7%C3%A3o%20do%20nome> Acesso: 6 jul. 2020.
37 VINICIUS, Márcio. Divórcio Direto. O que é. Disponível em: https://santoscavalcanti.adv.br/divorcio-direto-o-

que-e/#:~:text=Divórcio%20Direto%20é%20o%20atual,“indireta”%20de%20se%20divorciar. Acesso: 7 jul. 2020.


25

2.4.2 DIVÓRCIO CONVERSÃO


Passado um ano da separação (judicial ou extrajudicial), as partes podem
requerer que a separação seja convertida em divórcio. O procedimento pode ser
realizado de maneira judicial ou extrajudicial, a depender da situação38.

2.4.3 DIVÓRCIO LITIGIOSO


É chamado litigioso o divórcio no qual não há acordo entre os cônjuges e eles
não conseguem entrar em um consenso sobre o ato da ruptura em si, tampouco
sobre as demais questões que envolvem a decisão, tais como a partilha dos bens,
pensão e guarda dos filhos.
O divórcio litigioso só pode ser realizado pela via judicial, uma vez que cabe
ao magistrado decidir questões atinentes ao litígio. Por esse motivo, o processo
costuma levar mais tempo para a sua conclusão39.

2.4.4 DIVÓRCIO CONSENSUAL


Em sentido contrário ao divórcio litigioso, existe o divórcio o consensual, no
qual há acordo entre as partes. Nesse caso, o divórcio pode ser processado de
forma judicial ou extrajudicial (em cartório), desde que o casal não tenha filhos
incapazes40.

2.4.5 DIVÓRCIO EXTRAJUDICIAL


É realizado diretamente no cartório, quando o casal não tem filhos incapazes,
sendo exigida a presença de advogado, acordo entre as partes e duas
testemunhas41.

38PORTAL-EDUCAÇÃO. Tipos de Divórcio. Disponível em:


https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/gestao-e-lideranca/tipos-de-divorcio/37342> Acesso: 7 jul.
2020.
39 VINICIUS, Márcio. Divórcio Direto. O que é. Disponível em: https://santoscavalcanti.adv.br/divorcio-direto-o-

que-e/#:~:text=Divórcio%20Direto%20é%20o%20atual,“indireta”%20de%20se%20divorciar. Acesso: 7 jul. 2020.


40 Idem.
41 Ibidem.
26

III. CAPÍTULO 2 – SUCESSÃO, INVENTÁRIO E PARTILHA

A sucessão consiste em um ato jurídico pelo qual uma pessoa substitui a


outra em seus direitos e obrigações. Aqui será tratada a sucessão no sentido
jurídico, que ocorre com o falecimento de uma pessoa, ocasião em que serão
transmitidos seus bens e obrigações a quem a lei ou a vontade do falecido assim
estabelecerem.
A sucessão é disciplinada por diversas normas, principalmente pelo Código
Civil, que diz que o seu termo inicial é a morte do de cujus (pessoa que faleceu).
Segundo o artigo 1.786 do Código Civil, a sucessão pode ser dar por lei ou
por disposição de última vontade, sendo essa última consignada em um testamento,
que deverá respeitar os limites impostos pelas normas vigentes. Essas modalidades
são chamadas de sucessão hereditária e sucessão testamentária, respectivamente.
O inventário é a instrumentalização do direito sucessório. Consiste em um
procedimento para apuração do acervo de bens e obrigações da pessoa falecida (de
cujus), é por meio dele que também é definido o quinhão que cabe a cada herdeiro,
para só então poder ser realizada a transferência de titularidade dos bens do de
cujus para seus sucessores.
Para Maria Helena Diniz42 o inventário “é o processo judicial tendente a
relação, descrição, avaliação e liquidação de todos os bens pertencentes ao de
cujus ao tempo de sua morte, para distribuí-los entre seus sucessores”. Importante
ressaltar que o conceito de Maria Helena Diniz foi elaborado em 2005, antes da
criação da Lei 11.441/07, quando o procedimento de inventário era somente judicial.
Com o advento da Lei, o procedimento tornou-se possível de ser realizado
administrativamente (em cartório).
O autor Marcos Vinícius Rios Gonçalves43 define inventário da seguinte
forma:
O inventário é o procedimento pelo qual se define quais bens integram o
acervo hereditário e qual quinhão pertencerá a cada herdeiro. Assim, o
inventário é a simples enumeração e descrição dos bens e das obrigações
que integram a herança. Todos os direitos, bens e obrigações serão
incluídos no inventário, integrando o monte-mor. Depois, separar-se-á o que

42 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Direito das Sucessões. São Paulo: Editora Saraiva,
2005. (p. 368)
43 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Editora Saraiva,

2008. Apud DiretoNet - Inventário - Novo CPC (Lei nº 13.105/15). Disponível em:
<https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/423/Inventario-Novo-CPC-Lei-no-13105-15>. Acesso: 7 jul. 2020.
27

pertencia ao de cujus e distribuirá entre os herdeiros, separando aquilo que


pertence ao cônjuge supérstite. Sendo assim, inventário é a descrição
minuciosa de todos os bens, obrigações e dívidas ativas deixadas pelo de
cujus. É o procedimento de jurisdição contenciosa que discriminará os bens
pertencentes ao acervo hereditário e indicará os herdeiros e legatários do
de cujus, estabelecendo o quinhão pertencente a cada um.

Nesse mesmo sentido, Arnaldo Rizzardo44 assim conceitua inventário:

No sentido específico da lei, temos a única forma de instrumentalizar a


transmissão dos bens que se dá com a morte de seu titular. Compreende o
conteúdo vários atos, ao cabo dos quais se dá a formalização da
transmissão, e que se desenvolvem na descrição dos bens, na avaliação,
liquidação e partilha entre os herdeiros e legatários, passando, também,
pelo pagamento das obrigações e recolhimento de impostos.

Sobre os objetivos estabelecidos pelo procedimento de inventário, ensina o


autor Fábio Ulhôa Coelho45:
Os objetivos do inventário são quatro:
a) definir a herança, estabelecendo quais são os bens deixados pelo de
cujus e quais os que devem ser assim considerados (itens 2 e 3);
b) proceder à satisfação das dívidas deixadas pelo falecido (item 4), bem
como ao pagamento do imposto incidente sobre a transmissão causa
mortis;
c) fazer o pagamento dos legados, se o falecido instituiu legatário, bem
como cumprirem-se as demais disposições de última vontade;
d) partilhar o acervo remanescente entre os herdeiros (item 5).

Após o inventário, prossegue-se à partilha dos bens, a qual consiste na


quebra da indivisibilidade da herança, em que são divididos os bens constantes do
inventário entre os sucessores, gerando documento hábil (o formal de partilha) para
que possa ser efetivada a adjudicação do quinhão de cada herdeiro. No Código Civil
de 2002, a partilha é tratada entre os artigos 2.013 a 2.027; e no Código de
Processo Civil de 2015, a matéria é regulada do artigo 647 ao 658.
A jurista Maria Helena Diniz46 assim conceitua partilha:
A partilha é (...) a divisão oficial do monte líquido, apurado durante o
inventário, entre os sucessores do de cujus, para lhes adjudicar os
respectivos quinhões hereditários. Tem, portanto, efeito declaratório, pois
assim que for julgado o direito de cada herdeiro circunscrever-se-á ao seu
quinhão e também retroativo, desde a abertura da sucessão.

Retomando os ensinamentos de Fábio Ulhôa Coelho47, é trazido por ele o


seguinte conceito para definir partilha:

44 RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Sucessões. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2008. (p.587)
45 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, família, sucessões, volume 5. São Paulo : Saraiva, 2012. (p.
389)
46 DINIZ, Maria Helena. Loc. Cit (p. 400)
47 COELHO, Fábio Ulhôa. Loc. Cit. (p. 703)
28

A partilha é o ato que, uma vez homologado pelo juiz do inventário (ou,
quando admitido por lei, formalizado por escritura pública), desfaz o
condomínio hereditário que a abertura da sucessão instituíra entre os
herdeiros. Trata-se da definição dos bens da herança, que passam à
propriedade individual de cada um deles. Divide-se, com a partilha, entre os
herdeiros o que remanesceu do pagamento dos legados e dos credores do
falecido.

Sobre os efeitos da partilha, assim ensina Carlos Roberto Gonçalves48:


Com a partilha, desaparece o caráter transitório da indivisibilidade do acervo
hereditário determinado pela abertura da sucessão. Cessa, com o seu
advento, a comunhão hereditária, desaparecendo a figura do espólio que
será substituída pelo herdeiro a quem coube o direito ou a coisa objeto da
causa.

Ante os conceitos apresentados, conclui-se que o inventário é uma fase que


antecede a partilha. Portanto, se faz necessário reunir os bens do de cujus para só
então poder dividi-los conforme o quinhão de cada herdeiro.

3.1 MODALIDADES DE INVENTÁRIO


O inventário pode ser feito em três modalidades: judicial, extrajudicial e
negativo. A seguir será analisada cada uma das modalidades existentes.

3.1.1 INVENTÁRIO JUDICIAL


Na modalidade judicial, o Poder Judiciário é acionado por meio de um
advogado, para que possam ser apurados os direitos e as obrigações deixados pelo
de cujus. Em seguida, há a partilha, que é a distribuição desses bens entre os
herdeiros.
O prazo para a abertura do processo é de dois meses a contar da abertura da
sucessão – data de falecimento do de cujus – que pode ser prorrogado pelo
magistrado, de ofício ou a requerimento da parte.
Das modalidades de inventário existentes, o judicial é o menos célere e o
mais custoso para os interessados49.
O artigo 610 do Código de Processo Civil vigente, preconiza que “havendo
testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial”50 e, em seu

48 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume 7: direito das sucessões. São Paulo:
Saraiva, 2015 (p. 558)
49 FERREIRA, Jaqueline. Inventário extrajudicial e inventário judicial – DireitoNet, 2017. Disponível em:

<https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10450/Inventario-extrajudicial-e-inventario-
judicial#:~:text=N%C3%A3o%20havendo%20alternativa%2C%20dever%C3%A1%20ser,testamento%20ou%20h
ouver%20interessado%20incapaz>. Acesso: 8 jul. 2020.
29

parágrafo 1º, prescreve que o procedimento poderá ser feito por escritura pública
quando as partes forem capazes e concordes. Dessa forma, infere-se que além dos
casos em que exista testamento ou interessado incapaz, o inventário deverá ser
obrigatoriamente judicial quando não houver acordo entre as partes, para que o juiz
possa decidir as questões controversas.
O inventário judicial é composto pelas seguintes etapas: abertura do
inventário, nomeação do inventariante, oferecimento das primeiras declarações,
citação dos interessados, avaliação dos bens, cálculo e pagamento de impostos e
últimas declarações. Após isso, vem a partilha e sua homologação (caso seja
judicial, pois a partilha extrajudicial pode ser realizada em um inventário judicial)51.

3.1.2 INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL


O artigo 610 do Código de Processo Civil contém a seguinte redação:
Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao
inventário judicial.
§ 1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão
ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para
qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeiras.
§ 2 o O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes
interessadas estiverem assistidas por advogado ou por defensor público,
cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.52

Conforme explicitado, é cabível o inventário extrajudicial quando todas as


partes forem capazes, houver consenso entre elas e inexistir testamento deixado
pelos de cujus. Tem-se, portanto, uma inovação apresentada pela Lei nº11.441/07,
uma vez que até a sua edição só havia a possibilidade de realizar o procedimento
judicialmente. Assim, a Lei simplificou os casos que exigiam menor atuação do
magistrado, a fim de que os procedimentos pudessem ser realizados diretamente em
cartório.
Apesar do procedimento de inventário extrajudicial exigir o requisito da
inexistência de testamento, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que pode haver

50 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso: 8 jul. 2020. (art. 610)
51DELGADO, Lahiz. O novo CPC e o inventário extrajudicial. DireitoNet, 2019. Disponível em:

<https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10904/O-Novo-CPC-e-o-inventario-extrajudicial> Acesso: 10 jul.


2020.
52 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 610)
30

uma flexibilização dessa exigência, de acordo com o Recurso Especial nº


1.808.767/RJ53, conforme abaixo transcrito:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSO CIVIL. SUCESSÕES.


EXISTÊNCIA DE TESTAMENTO. INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL.
POSSIBILIDADE, DESDE QUE OS INTERESSADOS SEJAM MAIORES,
CAPAZES E CONCORDES, DEVIDAMENTE ACOMPANHADOS DE SEUS
ADVOGADOS. ENTENDIMENTO DOS ENUNCIADOS 600 DA VII
JORNADA DE DIREITO CIVIL DO CJF; 77 DA I JORNADA SOBRE
PREVENÇÃO E SOLUÇÃO EXTRAJUDICIAL DE LITÍGIOS; 51 DA I
JORNADA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL DO CJF; E 16 DO IBDFAM.
1. Segundo o art. 610 do CPC/2015 (art. 982 do CPC/73), em havendo
testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial. Em
exceção ao caput, o § 1° estabelece, sem restrição, que, se todos os
interessados forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão
ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para
qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeiras. 2. O Código Civil, por sua vez,
autoriza expressamente, independentemente da existência de testamento,
que, "se os herdeiros forem capazes, poderão fazer partilha amigável, por
escritura pública, termo nos autos do inventário, ou escrito particular,
homologado pelo juiz" (art. 2.015). Por outro lado, determina que "será
sempre judicial a partilha, se os herdeiros divergirem, assim como se algum
deles for incapaz" (art. 2.016) – bastará, nesses casos, a homologação
judicial posterior do acordado, nos termos do art. 659 do CPC. 3. Assim, de
uma leitura sistemática do caput e do § 1° do art. 610 do CPC/2015, c/c
os arts. 2.015 e 2.016 do CC/2002, mostra-se possível o inventário
extrajudicial, ainda que exista testamento, se os interessados forem
capazes e concordes e estiverem assistidos por advogado, desde que
o testamento tenha sido previamente registrado judicialmente ou haja
a expressa autorização do juízo competente. 4. A mens legis que
autorizou o inventário extrajudicial foi justamente a de desafogar o
Judiciário, afastando a via judicial de processos nos quais não se necessita
da chancela judicial, assegurando solução mais célere e efetiva em relação
ao interesse das partes. Deveras, o processo deve ser um meio, e não um
entrave, para a realização do direito. Se a via judicial é prescindível, não há
razoabilidade em proibir, na ausência de conflito de interesses, que
herdeiros, maiores e capazes, socorram-se da via administrativa para dar
efetividade a um testamento já tido como válido pela Justiça. 5. Na hipótese,
quanto à parte disponível da herança, verifica-se que todos os herdeiros são
maiores, com interesses harmoniosos e concordes, devidamente
representados por advogado. Ademais, não há maiores complexidades
decorrentes do testamento. Tanto a Fazenda estadual como o Ministério
Público atuante junto ao Tribunal local concordaram com a medida. Somado
a isso, o testamento público, outorgado em 2/3/2010 e lavrado no 18° Ofício
de Notas da Comarca da Capital, foi devidamente aberto, processado e
concluído perante a 2ª Vara de Órfãos e Sucessões. 6. Recurso especial
provido. (RESP 1.808.767/RJ)

53 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça STJ – RECURSO ESPECIAL: RESP RJ 1.808.767/RJ. Relator: Ministro
Luis Felipe Salomão. DJ: 15/10/2019. Disponível em: <
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1.2&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGeneric
a&num_registro=201901146094> Acesso: 9 jul 2020.
31

3.1.3 INVENTÁRIO NEGATIVO


Segundo a doutrina de Cristiano Pereira Moraes Garcia54, “o inventário
negativo é aquele realizado pelo sucessor com a finalidade de o Poder Judiciário
declarar que o morto não deixou bens a inventariar, tornando pública tal situação.”
Esse tipo de inventário não é regulamentado pela legislação vigente, porém é aceito
pela doutrina majoritária e também está presente na jurisprudência.
Apesar de não haver disposição em lei a respeito do inventário negativo, o
artigo 28 da Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça permite que
este seja lavrado por escritura pública, in verbis: “é admissível inventário negativo
por escritura pública”55.
O conceito apresentado deixa inevitável dúvida quanto à utilidade do
procedimento: por qual motivo fazer um inventário se o falecido não deixou bens?
Bem, o inventário negativo se faz necessário para duas situações: a primeira é
quando o cônjuge sobrevivente deseja contrair novo matrimônio e, nesse caso, o
inventário relativo ao seu marido falecido (ou esposa falecida) deve estar concluído,
pois caso não esteja, configurar-se-á impedimento para casar, devendo ser
obrigatório o regime de separação total de bens. Se por ventura desejarem contrair
matrimônio em outro regime de bens, deverá ser feito o inventário.
A segunda situação se dá quando o de cujus não deixa bens e deixa apenas
dívidas. É natural que após o falecimento do devedor apareçam credores para
cobrar suas dívidas. O credor que recebe a notícia de que o falecido não deixou
bens, pode vir a acreditar que se trata de um artifício para ocultar um possível
patrimônio, a fim de que este não seja utilizado para o pagamento das dívidas do de
cujus. Nessa hipótese, o inventário negativo serve como prova perante os credores
do falecido de que ele não reservou patrimônio para o cumprimento de suas
obrigações. Evita-se, deste modo, que os credores busquem incessantemente bens
do de cujus para a satisfação de seu crédito56.

54 GARCIA, Cristiano Pereira Moraes. Coleção Prática do Direito. Inventários e Partilhas. (p. 68/69) apud
ANDRADE, Michele Bonilha da Conceição. O inventário negativo. Revista Jus Navigandi. Teresina, 2017.
Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/55837>. Acesso: 14 jul. 2020.
55 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Disponível em: <

https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/179 > Acesso: 14 jul. 2020.


56 CAMARGO, Lauane Braz. Espécies de inventário. Migalhas, 2016. Disponível em:

<https://www.migalhas.com.br/coluna/pitadas-juridicas/240121/especies-de-inventario>. Acesso: 10 jul. 2020.


32

3.2 MODALIDADES DE PARTILHA


A partilha pode se dar de três maneiras: extrajudicial, judicial e em vida. As
duas primeiras ocorrem após o falecimento do de cujus, ao passo que a última
ocorre por meio de atos em vida.
Sobre a partilha judicial ou extrajudicial, esta exige certos requisitos e caso
eles estejam ausentes, deverá ser adotada aquela. É necessário dizer que, caso
presentes os requisitos, não será obrigatória a partilha extrajudicial, pois tal escolha
cabe tão somente às partes, conforme disposição constante na Resolução nº
35/2007, artigo 2º, do Conselho Nacional de Justiça57: “É facultada aos interessados
a opção pela via judicial ou extrajudicial (...)”. Deste modo, é possível que estejam
presentes todos os requisitos para o procedimento ser realizado extrajudicialmente,
porém ainda assim as partes podem optar pelo procedimento judicial.

3.2.1 PARTILHA EXTRAJUDICIAL


A partilha extrajudicial, também chamada de “amigável”, é aquela realizada
por escritura pública, diretamente no cartório. Tal possibilidade é estabelecida pelo
artigo 657 do Código de Processo Civil58 da seguinte maneira: “a partilha amigável,
lavrada em instrumento público, reduzida a termo nos autos do inventário ou
constante de escrito particular homologado pelo juiz, pode ser anulada por dolo,
coação, erro essencial ou intervenção de incapaz (...)”.
No Código Civil também há previsão da partilha amigável e requisitos para o
procedimento, tal qual versa o artigo 2.015: “Se os herdeiros forem capazes,
poderão fazer partilha amigável, por escritura pública, termo nos autos do inventário,
ou escrito particular, homologado pelo juiz”59. Ressalta-se aqui também que a
partilha amigável poderá ocorrer até mesmo em um processo judicial, necessitando
apenas de redução a termo nos autos do processo.
Observa-se que a homologação judicial não é mais um requisito para a
partilha, a despeito da exigência que constava dos revogados Código Civil de 1916 e
Código de Processo Civil de 197360. Atualmente, a homologação é exigida apenas
para partilhas que forem realizadas por instrumento particular.

57 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Loc. Cit. (art. 2º)


58 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 657)
59 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Loc. Cit. (art. 2015)
60 TARTUCE, Flávio. Loc. Cit (p. 1.875)
33

O artigo 610, § 1º, do Código de Processo Civil61 estabelece que a partilha é


documento hábil para a adjudicação dos bens aos herdeiros, inclusive aquelas
quantias depositadas em instituições financeiras, o que afasta a necessidade da
homologação judicial, senão vejamos:
§ 1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão
ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para
qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeiras.

3.2.2 PARTILHA JUDICIAL


A partilha deverá ser judicial quando faltarem alguns requisitos, conforme
dispõe o Código Civil em seu artigo 2.01662: “Será sempre judicial a partilha, se os
herdeiros divergirem, assim como se algum deles for incapaz”.
A tramitação judicial implica em um processo menos célere e deve ser na
presença de um magistrado para dirimir eventuais litígios no tocante à divisão do
patrimônio deixado.

3.2.3 PARTILHA EM VIDA


É possível também que a pessoa queira resolver a partilha de seus bens em
vida. Nesse caso, é feita a partilha de ascendentes a descendentes em vida (não
deve ser confundida com a doação) ou por testamento, devendo ser respeitada a
reserva da legítima, conforme estatuído no artigo 2.018 do Código Civil: “É válida a
partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que
não prejudique a legítima dos herdeiros necessários”63.
Na partilha em vida deve ser observado o limite do artigo 548 do Código Civil,
que veda a doação universal (de todos os bens) sem que haja uma reserva para que
o doador possa sobreviver, nos seguintes termos: “É nula a doação de todos os
bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador.64”
Há duas formas de se fazer a partilha: em vida, equivalente a uma doação,
que antecipa a transferência do patrimônio aos herdeiros; e por testamento, ocasião

61 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso: 9 jul. 2020.
62 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm Acesso: 9 jul. 2020. (art. 2016)


63 Idem. (art. 2018)
64 Ibidem. (art. 548)
34

em que o documento será lavrado, enquanto vivo o ascendente, para produzir


efeitos após a sua morte65.

3.3 CONVERSÃO DE INVENTÁRIO OU PARTILHA JUDICIAL EM


EXTRAJUDICIAL

A Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça, ao disciplinar sobre


o inventário e a partilha, permite sua conversão em extrajudicial. Tal previsão consta
no artigo 2º: “É facultada aos interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial;
podendo ser solicitada, a qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de 30 dias, ou
a desistência da via judicial, para promoção da via extrajudicial”66.
Dessa forma, desde que cumpridos os requisitos, o procedimento judicial
poderá ser convertido em extrajudicial.

65 TARTUCE, Flávio. Loc. Cit. (p. 1.885)


66 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 2º)
35

IV. CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS DA LEI


11.441/07

A entrada em vigor da Lei nº 11.441/0767 data de 4 de janeiro de 2007. A


referida lei permitiu que fossem realizados pela via administrativa (em cartórios) os
seguintes procedimentos: separação consensual, divórcio consensual, inventário e
partilha. As possibilidades foram colocadas por força dos artigos 1º ao 3º, com a
seguinte redação:

Art. 1o: Os artigos nº 982 e 983 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 –


Código de Processo Civil, passam a vigorar com a seguinte redação:
Art. 982. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao
inventário judicial; se todos forem capazes e concordes, poderá fazer-se o
inventário e a partilha por escritura pública, a qual constituirá título hábil
para o registro imobiliário.
Parágrafo único. O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as
partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou
advogados de cada uma delas, cuja qualificação e assinatura constarão do
ato notarial. (NR)
Art. 983. O processo de inventário e partilha deve ser aberto dentro de 60
(sessenta) dias a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12
(doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de ofício
ou a requerimento de parte.
Parágrafo único. (Revogado). (NR)
Art. 2o O art. 1.031 da Lei no 5.869, de 1973 – Código de Processo Civil,
passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 1.031. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos
do art. 2.015 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, será
homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da quitação dos tributos
relativos aos bens do espólio e às suas rendas, com observância dos arts.
1.032 a 1.035 desta Lei.
Art. 3o A Lei no 5.869, de 1973 – Código de Processo Civil, passa a vigorar
acrescida do seguinte art. 1.124-A:
Art. 1.124-A: A separação consensual e o divórcio consensual, não havendo
filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais
quanto aos prazos, poderão ser realizados por escritura pública, da qual
constarão as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns
e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge
de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu
o casamento.
§ 1o A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil
para o registro civil e o registro de imóveis.
§ 2o O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes estiverem
assistidos por advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja
qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

67BRASIL. Lei nº 11.441/07. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-


2010/2007/lei/l11441.htm>. Acesso: 9 jul. 2020
36

§ 3o A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se


declararem pobres sob as penas da lei.

Em 2015 entrou em vigor o Novo Código de Processo Civil, trazendo redação


inédita aos dispositivos, conforme tabela comparativa abaixo, do professor José
Miguel Garcia Medina68:

CPC/73 CPC/15
Art. 982. Havendo testamento ou interessado Art. 610. Havendo testamento ou interessado
incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial; incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.
se todos forem capazes e concordes, poderá
fazer-se o inventário e a partilha por escritura § 1º Se todos forem capazes e concordes, o
pública, a qual constituirá título hábil para o inventário e a partilha poderão ser feitos por
registro imobiliário. escritura pública, a qual constituirá
documento hábil para qualquer ato de
§ 1º O tabelião somente lavrará a escritura registro, bem como para levantamento de
pública se todas as partes interessadas importância depositada em instituições
estiverem assistidas por advogado comum financeiras.
ou advogados de cada uma delas ou por
defensor público, cuja qualificação e § 2º O tabelião somente lavrará a escritura
assinatura constarão do ato notarial. pública se todas as partes interessadas
estiverem assistidas por advogado ou por
§ 2º A escritura e demais atos notariais serão defensor público, cuja qualificação e
gratuitos àqueles que se declararem pobres assinatura constarão do ato notarial.
sob as penas da lei
Art. 983. O processo de inventário e partilha Art. 611. O processo de inventário e de
deve ser aberto dentro de 60 (sessenta) dias partilha deve ser instaurado dentro de 2
a contar da abertura da sucessão, ultimando- (dois) meses, a contar da abertura da
se nos 12 (doze) meses subseqüentes, sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses
podendo o juiz prorrogar tais prazos, de subsequentes, podendo o juiz prorrogar
ofício ou a requerimento de parte. esses prazos, de ofício ou a requerimento de
parte.
Art. 1.124-A. A separação consensual e o Art. 733. O divórcio consensual, a separação
divórcio consensual, não havendo filhos consensual e a extinção consensual de
menores ou incapazes do casal e união estável, não havendo nascituro ou
observados os requisitos legais quanto aos filhos incapazes e observados os requisitos
prazos, poderão ser realizados por escritura legais, poderão ser realizados por escritura
pública, da qual constarão as disposições pública, da qual constarão as disposições de
relativas à descrição e à partilha dos bens que trata o art. 731.
comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao
acordo quanto à retomada pelo cônjuge de § 1º A escritura não depende de
seu nome de solteiro ou à manutenção do homologação judicial e constitui título hábil
nome adotado quando se deu o casamento. para qualquer ato de registro, bem como
para levantamento de importância
§ 1o A escritura não depende de depositada em instituições financeiras.
homologação judicial e constitui título hábil
para o registro civil e o registro de imóveis. § 2º O tabelião somente lavrará a escritura
se os interessados estiverem assistidos por
§ 2º O tabelião somente lavrará a escritura advogado ou por defensor público, cuja
se os contratantes estiverem assistidos por qualificação e assinatura constarão do ato
advogado comum ou advogados de cada um notarial.

68MEDINA, José Miguel Garcia. Quadro Comparativo entre CPC/1973 e o CPC/2015 - Boletim Jurídico, 2015.
Disponível em: <http://boletimjuridico.publicacoesonline.com.br/wp-content/uploads/2015/03/Quadro-
comparativo-CPC-1973-x-CPC-2015.pdf> Acesso: 9 jul. 2020.
37

deles ou por defensor público, cuja


qualificação e assinatura constarão do ato
notarial.
§ 3º A escritura e demais atos notariais serão
gratuitos àqueles que se declararem pobres
sob as penas da lei.

Os procedimentos extrajudiciais trazidos pela Lei nº 11.441/07 são


disciplinados na Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça.

4.1 DISPOSIÇÕES COMUNS A TODOS OS PROCEDIMENTOS


4.1.1 COMPETÊNCIA MATERIAL E TERRITORIAL
A competência material e territorial é comum a todos os procedimentos.
Recentemente houve alteração no artigo 1° da Resolução nº 35/2007 do Conselho
Nacional de Justiça para afastar a regra de competência territorial do Código de
Processo Civil, cujo texto passou a ser o seguinte:

Art. 1º: Para a lavratura dos atos notariais relacionados a inventário,


partilha, separação consensual, divórcio consensual e extinção consensual
de união estável por via administrativa, é livre a escolha do tabelião de
notas, não se aplicando as regras de competência do Código de Processo
Civil. (Redação dada pela Resolução nº 326, de 26.6.2020)”69

A leitura do dispositivo permite concluir que dentre as especialidades das


serventias extrajudiciais, será competente o tabelionato de notas para a lavratura
dos atos extrajudiciais de inventário, partilha, separação, divórcio e extinção de
união estável. Além disso, a escolha do tabelionato de notas é livre, de modo que as
partes interessadas podem escolher em qual cartório se dará a lavratura do ato.
Ponto que merece destaque é que apesar de a Lei nº 11.441/07 não dispor
sobre o procedimento extrajudicial de extinção consensual de união estável, a
Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça permite que o ato seja
realizado também pela via administrativa.
Portanto, os cinco procedimentos anteriormente descrito podem ser de
competência do tabelião de notas, a escolha das partes.

69 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 1º)
38

4.1.2 DESISTÊNCIA DE PROCESSO JUDICIAL E PROMOÇÃO PELA VIA


EXTRAJUDICIAL
Nem sempre é possível realizar os procedimentos objetos do presente de
estudo pela via administrativa. Em alguns casos, isso decorre da preferência da
parte, a qual pode optar pelo procedimento que julgar mais adequado e, em outras
vezes, é comum que não estejam preenchidos os requisitos exigidos para que o ato
possa ser realizado extrajudicialmente.
No entanto, é factível que as partes desistam do processo judicial a qualquer
tempo e optem pela via extrajudicial, conforme dispõe o artigo 2º da Resolução nº 35
do Conselho Nacional de Justiça, nos seguintes termos: “É facultada aos
interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial; podendo ser solicitada, a
qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de 30 dias, ou a desistência da via
judicial, para promoção da via extrajudicial”70.
Caso as partes optem por desistir do processo judicial e decidam acionar a
via extrajudicial, deverão preencher os requisitos para a realização do ato em
cartório.

4.1.2 NECESSIDADE DE ADVOGADO OU DEFENSOR PÚBLICO


Em todos os procedimentos, é necessário que as partes estejam assistidas
por advogado. Além da exigência constar dos supramencionados artigos 610 e 733
do Código de Processo Civil, o artigo 8º da Resolução nº 35/2007 do Conselho
Nacional de Justiça confirma tal exigência: “É necessária a presença do advogado,
dispensada a procuração, ou do defensor público, na lavratura das escrituras aqui
referidas, nelas constando seu nome e registro na OAB”. (Redação dada pela
Resolução nº 326, de 26.6.2020)71.
O tabelião não pode indicar advogado às partes, tão somente a elas deve
competir a escolha do profissional. Entretanto, se a parte não dispuser de condições
financeiras para a contratação, o tabelião deve indicar-lhes a defensoria pública ou
seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, conforme estatuído no artigo 9º:

Art. 9º: É vedada ao tabelião a indicação de advogado às partes, que


deverão comparecer para o ato notarial acompanhadas de profissional de
sua confiança. Se as partes não dispuserem de condições econômicas para
contratar advogado, o tabelião deverá recomendar-lhes a Defensoria

70 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 2º)
71 Idem. (art. 8º)
39

Pública, onde houver, ou, na sua falta, a Seccional da Ordem dos


Advogados do Brasil72.

O advogado que irá assessorar as partes pode ser comum para ambas ou
podem as partes escolher advogados diferentes. Frise-se que é de suma
importância a presença de um advogado na garantia dos interesses das partes.
Sobre o papel do advogado, é cabível mencionar a opinião de Marco Jean de
Oliveira Teixeira73:
Nesse caso, poderá ser um advogado para representar cada cônjuge, ou,
apenas um advogado representando ambos, não há problemas nisso. A
única exigência aqui é que haja ao menos um advogado que acompanhe o
processo. Esse acompanhamento é de suma importância, pois o advogado
não só verificará todos os trâmites do procedimento, bem como toda
documentação, e também terá um papel muito importante na orientação do
casal. E essa orientação não se refere apenas ao procedimento de divórcio
extrajudicial em sim, mas também no melhor encaminhamento das tratativas
do casal sobre a partilhas dos bens e fixação de pensão (se for o caso).

A assistência por parte do advogado, além de exigência legal, implica em um


procedimento mais transparente, justo, consensual e confiável às partes.

4.1.4 DESNECESSIDADE DE HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL


As escrituras públicas referentes aos atos extrajudiciais trazidos pela Lei nº
11.441/07 dispensam a homologação judicial e são também consideradas
documentos suficientes para a adjudicação dos bens em nome do meeiro ou
herdeiro (a depender do ato). Tais previsões estão estabelecidas nos
supramencionados artigos 610, § 1º e 733, § 1º, ambos do Código de Processo Civil
de 2015. Nesse mesmo sentido dispõe o artigo 3º da Resolução nº 35/2007 do
Conselho Nacional de Justiça74, senão vejamos:

Art. 3º: As escrituras públicas de inventário e partilha, separação e divórcio


consensuais não dependem de homologação judicial e são títulos hábeis
para o registro civil e o registro imobiliário, para a transferência de bens e
direitos, bem como para promoção de todos os atos necessários à
materialização das transferências de bens e levantamento de valores
(DETRAN, Junta Comercial, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, instituições
financeiras, companhias telefônicas, etc.)

72 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 9º)
73 TEIXEIRA, Marco. Divórcio Extrajudicial – guia passo a passo – Conteúdo Jurídico, 2019. Disponível em:
<https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/53254/divrcio-extrajudicial-guia-passo-a-passo-completo>
Acesso: 14 jul. 2020.
74 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 3º)
40

4.1.5 GRATUIDADE
Criada em 2007, a lei que prevê o divórcio, separação, inventário e partilha
pela via administrativa alterou dispositivos do Código de Processo Civil vigente à
época, o de 1973. Os supramencionados artigos 982, § 2º, e 1.124-A, § 3º, previam
a possibilidade de gratuidade de justiça para tais atos. Porém, com a edição do
Novo Código de Processo Civil, em 2015, a redação desses dispositivos foi mudada
e não houve menção à gratuidade na redação mais recente.
Diante disso, o Tribunal de Justiça da Paraíba formulou a Consulta nº
0006042-02.2017.2.00.000075 ao Conselho Nacional de Justiça a fim de informar-se
se a gratuidade ainda estava vigente em relação ao divórcio extrajudicial, ao passo
que tal prerrogativa foi confirmada.
O conselheiro Arnaldo Hossepian76, quem foi relator do processo, defendeu
que ainda que a gratuidade não esteja explícita em lei, deverá ser interpretada de
forma extensiva para se adequar à Constituição Federal, uma vez que esta prevê
como direito do cidadão o acesso à jurisdição e a prestação plena aos atos
extrajudiciais de notários e registradores. Portanto, em seu voto, Hossepian afirma:
É inafastável a conclusão de que a assistência jurídica é integral, e, mais
que isso, a assistência gratuita a aqueles que dela necessitem deve ser
vista como um direito fundamental a concretizar, envolvendo também as
vias extrajudiciais de efetivação do acesso à ordem jurídica, sendo qualquer
lacuna ou regramento em contrário inadmissível configuração de retrocesso,
vedado por princípios constitucionais.

Para dirimir a questão de uma vez por todas, a Resolução nº 326/2020 do


Conselho Nacional de Justiça alterou a redação dos artigos 6º e 7º da Resolução nº
35/200777 do Conselho Nacional de Justiça a fim de ajustar a redação original com o
propósito de garantir a gratuidade de justiça em relação às escrituras de inventário,
partilha, separação e divórcio consensuais, bastando para tanto, a simples
declaração dos interessados. O fato de a parte estar assessorada por advogado (e
não por defensor público) não afasta a possibilidade de obtenção de gratuidade de
justiça, senão vejamos:

75 BRASIL. Tribunal de Justiça da Paraíba. Consulta nº 0006042-02.2017.2.00.0000. Relator: Arnaldo


Hossepian. DJ: 20/04/2018. Disponível em: <
https://www.cnj.jus.br/InfojurisI2/Jurisprudencia.seam?jurisprudenciaIdJuris=49061> Acesso: 14 jul. 2020.
76 Idem.
77 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 326/2020 do CNJ. Disponível em:
<https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/179> Acesso: 14 jul. 2020.
41

Art. 6º A gratuidade prevista na norma adjetiva compreende as escrituras de


inventário, partilha, separação e divórcio consensuais. (Redação dada pela
Resolução nº 326, de 26.6.2020)

Art. 7º Para a obtenção da gratuidade pontuada nesta norma, basta a


simples declaração dos interessados de que não possuem condições de
arcar com os emolumentos, ainda que as partes estejam assistidas por
advogado constituído (Redação dada pela Resolução nº 326, de 26.6.2020).

Ante o exposto, infere-se que a gratuidade é possível também nos atos


extrajudiciais previstos pela Lei nº 11.441/07.

4.2 SEPARAÇÃO, DIVÓRCIO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL POR


ESCRITURA PÚBLICA

Os procedimentos de separação e divórcio consensuais estão dispostos nos


artigos 33 a 46 da Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça. Os
artigos 47 a 51 dizem respeito apenas à separação consensual, já o artigo 52 dispõe
exclusivamente sobre o divórcio.

4.2.1 REQUISITOS COMUNS AO DIVÓRCIO, SEPARAÇÃO E EXTINÇÃO


DE UNIÃO ESTÁVEL POR ESCRITURA PÚBLICA

O artigo 733 do Código de Processo Civil78 dispõe sobre os requisitos que são
comuns à realização do divórcio, separação e extinção de união estável pela via
extrajudicial:
Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção
consensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e
observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura
pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731.

Pela leitura do preceito legal, é possível inferir que o procedimento


extrajudicial só poderá ocorrer caso haja consenso entre as partes.
Outro requisito necessário é a inexistência de filhos incapazes, inexistência de
nascituro (não pode haver gravidez) ou desconhecimento dessa circunstância,
conforme prescreve o artigo 34 da Resolução nº 35/200779 do Conselho Nacional de
Justiça, in verbis:

78 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 733)
79 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 34)
42

Art. 34. As partes devem declarar ao tabelião, no ato da lavratura da


escritura, que não têm filhos comuns ou, havendo, que são absolutamente
capazes, indicando seus nomes e as datas de nascimento.
Parágrafo único. As partes devem, ainda, declarar ao tabelião, na mesma
ocasião, que o cônjuge virago não se encontra em estado gravídico, ou ao
menos, que não tenha conhecimento sobre esta condição. (Incluído pela
Resolução nº 220, de 26.04.2016)

Por último, será exigida a manifestação de vontade das partes, que deverá
ser declarada de forma clara na escritura pública, conforme estabelece o artigo 35
da Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça80:
Art. 35. Da escritura, deve constar declaração das partes de que estão
cientes das conseqüências da separação e do divórcio, firmes no propósito
de pôr fim à sociedade conjugal ou ao vínculo matrimonial, respectivamente,
sem hesitação, com recusa de reconciliação.

Além da assistência do advogado, conforme mencionada anteriormente, são


três os requisitos do divórcio, separação e extinção de união estável consensuais:
consenso entre as partes, inexistência de filhos incapazes ou de gravidez e vontade
das partes.

4.2.2 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS


O artigo 33 da supracitada Resolução nº 35/2007 dispõe sobre os
documentos que são necessários à lavratura das escrituras públicas de separação e
divórcio consensuais. O referido artigo descreve em linhas gerais os documentos
exigidos para tanto. Apesar disso, na prática, os cartórios exigem a documentação
descrita no artigo de forma atualizada, além de outros documentos de maneira
acessória, a exemplo da quitação de débitos condominiais dos bens imóveis dos
cônjuges, o que não está determinado no artigo nº 33, mas é importante para dar
segurança jurídica às partes, principalmente para evitar eventuais ilegalidades ou
desigualdades no momento da partilha. Por esse motivo, a lista de documentos
abaixo, retirada do sítio eletrônico do Colégio Notarial do Brasil – Seção Bahia81,
ilustra de maneira clara os documentos descritos na Resolução do Conselho
Nacional de Justiça com outras exigências que não constam na regulamentação
oficial, mas decorrem da prática cartorial, a seguir:

80 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 35)
81 COLÉGIO NOTARIAL DO BRASIL – Seção Bahia. Divórcio e Separação extrajudicial – CNBBA. Disponível
em: < http://cnbba.org.br/atos-notariais/divorcio-e-separacao-
extrajudicial#:~:text=Div%C3%B3rcio%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20dissolu%C3%A7%C3%A3o%2
0do%20casamento%20por%20vontade%20das%20partes.&text=O%20principal%20requisito%20%C3%A9%20o
,ter%20filhos%20menores%20ou%20incapazes.> Acesso: 14 jul. 2020.
43

. certidão de casamento (atualizada – prazo máximo de 90 dias);


. documento de identidade oficial, CPF e informação sobre profissão e
endereço dos cônjuges;
. escritura de pacto antenupcial (se houver);
. documento de identidade oficial, CPF e informação sobre profissão e
endereço dos filhos maiores (se houver) e certidão de casamento (se
casados);
. documentos necessários à comprovação da titularidade dos bens (se
houver):
a) imóveis urbanos: via original da certidão negativa de ônus
expedida pelo Cartório de Registro de Imóveis atualizada (30 dias), carnê de
IPTU, certidão de tributos municipais incidentes sobre imóveis, declaração
de quitação de débitos condominiais.
b) imóveis rurais: via original da certidão negativa de ônus expedida
pelo Cartório de Registro de Imóveis atualizada (30 dias), declaração de ITR
dos últimos 5 (cinco) anos ou Certidão Negativa de Débitos de Imóvel Rural
emitida pela Secretaria da Receita Federal, Certificado de Cadastro de
Imóvel Rural (CCIR) expedido pelo INCRA.
c) bens móveis: documentos de veículos, extratos de ações, contratos
sociais de empresas, notas fiscais de bens e joias, etc.
d) descrição da partilha dos bens.
e) definição sobre a retomada do nome de solteiro ou manutenção do
nome de casado.
f) definição sobre o pagamento ou não de pensão alimentícia.
g) carteira da OAB, informação sobre estado civil e endereço do
advogado.

4.2.3 OUTRAS QUESTÕES RELEVANTES


As partes poderão comparecer pessoalmente ou representadas por
mandatário constituído por instrumento público com poderes especiais que valerá
por 30 dias, devendo constar nele a descrição das cláusulas essenciais.
Se houver necessidade de partilha de bens na escritura, deverá ser separado
o patrimônio comum do casal e o patrimônio individual de cada cônjuge, de acordo
com o regime de bens, o que deverá constar da escritura pública. A partilha segue
as regras do inventário extrajudicial, sobre o qual discorreremos mais adiante. Se na
partilha houver transmissão de propriedade de bens individuais entre um cônjuge e
outro; ou se a partilha do patrimônio comum for desigual, deverá ser recolhido o
tributo referente à fração que foi transferida.
O traslado da escritura deverá ser apresentado ao Oficial de Registro Civil do
respectivo assento de casamento, quem deverá averbar, nesse mesmo assento, o
divórcio ou separação consensual, independentemente de audiência do Ministério
Público ou autorização judicial. Compete ao tabelião orientar sobre a necessidade
de apresentação do traslado no registro civil de assento do casamento para que haja
a averbação, o que deverá ser consignado na escritura pública.
44

A partilha na própria escritura de separação e divórcio consensuais se dá nos


mesmos moldes da partilha em inventário extrajudicial, naquilo que couber,
conforme estatuído no artigo 39 da Resolução nº 35/07 do Conselho Nacional de
Justiça.
Caso algum cônjuge queira alterar seu nome em razão da escritura de
restabelecimento da sociedade conjugal, separação ou divórcio consensuais, o
oficial de registro civil responsável pela averbação (o do assento de casamento)
deverá anotar a mudança no respectivo assento de nascimento, caso este esteja em
sua unidade, ou, caso esteja em outra unidade, deverá comunicar ao Oficial
competente para que seja feita a alteração necessária naquele documento.
Mesmo após a separação ou divórcio, será possível ajustar o nome de
casado, pois a escritura pública pode ser retificada por meio de declaração unilateral
do interessado na volta ao uso do nome de solteiro, o que deverá ocorrer em nova
escritura pública e exigirá assistência de advogado. Após a separação ou divórcio,
também será possível que as partes retifiquem as cláusulas de obrigações
alimentares ajustadas anteriormente, desde que haja consenso entre elas.
Não há sigilo nas escrituras públicas de divórcio ou separação consensuais.
O tabelião pode recusar a lavratura do ato se desconfiar que uma das partes
está sendo prejudicada, ou caso duvide da clareza de sua manifestação de vontade,
devendo fundamentar sua recusa por escrito82.
A Resolução nº 35/07 do Conselho Nacional de Justiça nada diz a respeito
do nome, se poderá ser mantido ou deverá ser alterado, portanto, se faz necessário
trazer a posição da autora Maria Berenice Dias83, a qual defende:
Nada sendo referido a respeito do nome, presume-se que o cônjuge que
adotou o sobrenome do outro vai assim permanecer. Nada obsta que a
qualquer tempo busque a exclusão do nome, o que pode ser levado a efeito
por meio de declaração unilateral, em nova escritura pública, não sendo
necessária a via judicial. A alteração dever ser comunicada ao registro civil.

4.2.4 PECULIARIDADES DA SEPARAÇÃO CONSENSUAL


A Seção V da Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça trata
das especificidades relativas apenas à separação consensual.
O artigo 47 da mencionada Resolução abarca os requisitos específicos da
separação consensual, repete aqueles comuns tanto relativos à separação quanto

82 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Seção IV da Resolução nº 35/2007 do CNJ. Disponível em:


<https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/179> Acesso: 14 jul. 2020.
83 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. (p. 302)
45

ao divórcio consensual (tais como manifestação de vontade; ausência de filhos


incapazes, gravidez ou desconhecimento acerca dessa circunstância; e assistência
por advogado) e traz uma novidade: para a separação consensual é exigido que as
partes tenham se casado há, pelo menos, um ano.
Como dito no Capítulo I, na separação consensual não há a dissolução do
vínculo matrimonial. Por isso, diferentemente do divórcio, a separação permite que
as partes se arrependam e queiram restabelecer a sociedade conjugal, o que pode
ser feito por escritura pública, independentemente da separação ter sido judicial ou
extrajudicial, bastando que para tanto seja apresentada a certidão de sentença de
separação ou a averbação da separação no assento de casamento84.
Ponto que merece destaque é que o restabelecimento da sociedade conjugal
deve se dar nos mesmos moldes que o casamento anterior, uma vez que o artigo 50
da Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça veda o restabelecimento
da sociedade conjugal com modificações85.

4.2.5 CONVERSÃO DA SEPARAÇÃO JUDICIAL EM DIVÓRCIO


A dissenso do restabelecimento da sociedade conjugal, é possível que os
cônjuges após algum tempo separados decidam que realmente não desejam mais
permanecer juntos. Nesse caso, é admissível converter a separação judicial em
divórcio por escritura pública, cujas condições podem ser as mesmas, mas também
podem ser passíveis de alteração. A apresentação da certidão atualizada do
processo judicial não será necessária, pois será suficiente a certidão da averbação
da separação no assento de casamento. É o que prescreve o artigo 52 da
Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça86.
A conversão da separação judicial em divórcio tem regras próprias e é
disciplinada pela Resolução nº 48/08 do Conselho Nacional de Justiça.

84 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit.


85 Idem. (art. 50)
86 Ibidem. (art. 52)
46

4.3 INVENTÁRIO E PARTILHA POR ESCRITURA PÚBLICA

O artigo nº 610, § 1°, do Código de Processo Civil87 permite que o inventário e


a partilha possam ser realizados extrajudicialmente, conforme estabelecido da
seguinte maneira:
Art. 610, § 1º: Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha
poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil
para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeiras.

Tal como na separação e divórcio consensuais, a própria escritura é


documento hábil para atos de registro e levantamento de valores sob custódia de
instituições financeiras, não havendo necessidade de nenhuma providência extra, tal
como a homologação judicial, por exemplo.

4.3.1 REQUISITOS ESPECÍFICOS AO INVENTÁRIO E PARTILHA


EXTRAJUDICIAIS
Conforme já visto anteriormente no presente trabalho, o § 2º do supracitado
artigo 610 do Código de Processo Civil confirma a necessidade de assistência de
todas as partes por advogado ou defensor público, e de manifestação de vontade
clara das partes88.
Já o mesmo artigo, em seu parágrafo primeiro, traz dois requisitos para que o
inventário e a partilha possam ser feitos administrativamente: capacidade civil das
partes e consenso entre elas.
No que diz respeito à capacidade, o caput do artigo 610 do Código de
Processo Civil confirma os requisitos anteriormente mencionados e estabelece outro,
que é a inexistência de testamento: “Art. 610: Havendo testamento ou interessado
incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial”89.
Apesar de o artigo 610 do CPC exigir a inexistência de testamento, o Superior
Tribunal de Justiça já julgou a questão no Recurso Especial nº 1.808.767/RJ e
flexibilizou o requisito em um caso em que, apesar de existir testamento, havia
consenso entre as partes em relação ao que fora objeto consignado no documento
de disposição da última vontade do de cujus.

87 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso: 16 jul. 2020.
88 Idem.
89 Ibidem.
47

Sobre a emancipação, a qual consiste na antecipação da aquisição da


capacidade civil, esta é mencionada no artigo 12 da Resolução nº 35/2007 do
Conselho Nacional de Justiça90, que dispõe sobre a possibilidade de realizar
inventário e partilha extrajudiciais caso o(a) filho(a) seja emancipado(a): “Art. 12.
Admitem-se inventário e partilha extrajudiciais com viúvo(a) ou herdeiro(s) capazes,
inclusive por emancipação, representado(s) por procuração formalizada por
instrumento público com poderes especiais.(Redação dada pela Resolução nº 179,
de 03.10.13)”.

4.3.2 PRAZOS
Há dois prazos referente ao inventário e à partilha, ambos dispostos no artigo
611 do Código de Processo Civil. O primeiro prazo diz respeito à instauração do
processo, o qual calcula dois meses a partir da abertura da sucessão (data da morte
do de cujus); o outro estabelece o prazo de doze meses para finalização do
processo, podendo ser prorrogado pelo juiz de ofício ou a requerimento das partes.91
Algumas consolidações normativas estaduais permitem prazos maiores para
a instauração do inventário. Apesar disso, todos os prazos previstos nos estados
deverão ser de, no mínimo, dois meses para que seja respeitada a regra do Código
de Processo Civil. É uma forma de a lei evitar que o estado federado faça cobranças
abusivas92.
Foram identificados no Brasil seis estados cujos prazos e procedimentos da
consolidação normativa divergem do Código de Processo Civil, são eles: Acre,
Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí e Santa Catarina, de acordo
com informações dadas por Dierle Nunes e Moisés Oliveira.93.
O transcurso do prazo para abertura do inventário não implica em prescrição.
Caso não seja cumprido o prazo, a fazenda pública estadual poderá fixar multa, que
é relacionada com o atraso no pagamento do ITCMD – Imposto de Transmissão
Causa Mortis, conforme prescreve o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal

90 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 12)
91 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 611)
92 COSTA, Marcele. Qual o prazo para inventário? - Cartório no Brasil. Disponível em:

https://cartorionobrasil.com.br/inventario/qual-o-prazo-para-inventario.> Acesso: 17 jul. 2020.


93 NUNES, Dierle; OLIVEIRA, Moisés. Fisco pode multar herdeiros por demora em instaurar processo de

inventário – Consultor Jurídico, 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2018-jun-02/opiniao-fisco-


multar-herdeiros-demora-iniciar-inventario>. Acesso: 17 jul. 2020.
48

Federal na Súmula 542: “não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-


membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário”94.
Nesse mesmo sentido, o artigo 31 da Resolução nº 35/2007 do Conselho
Nacional de Justiça, assim dispõe: “A escritura pública de inventário e partilha pode
ser lavrada a qualquer tempo, cabendo ao tabelião fiscalizar o recolhimento de
eventual multa, conforme previsão em legislação tributária estadual e distrital
específicas”95, o que só confirma que o prazo para abertura de inventário não é
prescricional e que compete à respectiva unidade federativa editar leis a respeito de
multas em caso de atraso na abertura do processo.

4.3.3 LEGITIMIDADE PARA INSTAURAÇÃO DE INVENTÁRIO E PARTILHA


O Código de Processo Civil dispõe que o requerimento de inventário e partilha
deve ser realizado pela pessoa que estiver na posse e administração dos bens
(espólio) deixados pelo de cujus. No entanto, em seu artigo 61696, confere
legitimidade concorrente às seguintes pessoas:

I - o cônjuge ou companheiro supérstite;


II - o herdeiro;
III - o legatário;
IV - o testamenteiro;
V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;
VII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;
VIII - a Fazenda Pública, quando tiver interesse;
IX - o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da
herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite.

Uma vez que não há menção legal sobre a ordem de prioridade das pessoas
legítimas para instaurar o processo, tampouco há alusão sobre o assunto na
doutrina ou jurisprudência, deduz-se que qualquer uma das pessoas referidas no
artigo 616 do Código de Processo Civil pode postular a instauração do inventário.

94BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula nº 542/STF. DJ: 12/12/1969. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=3345> Acesso: 17 jul. 2020.
95 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 31)
96 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 616)
49

4.3.4 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS


Os artigos 22 a 24 da Resolução nº 35/200797 do Conselho Nacional de
Justiça dispõem sobre os documentos necessários para a lavratura da escritura de
inventário e partilha, os quais poderão ser apresentados na via original ou em cópia
autenticada, exceto a identidade civil das partes, que deverá ser sempre original. Os
documentos apresentados devem constar do corpo da escritura pública. Vejamos a
redação dos artigos supramencionados:

Art. 22: Na lavratura da escritura deverão ser apresentados os seguintes


documentos:
a) certidão de óbito do autor da herança;
b) documento de identidade oficial e CPF das partes e do autor da herança;
c) certidão comprobatória do vínculo de parentesco dos herdeiros;
d) certidão de casamento do cônjuge sobrevivente e dos herdeiros casados
e pacto antenupcial, se houver;
e) certidão de propriedade de bens imóveis e direitos a eles relativos;
f) documentos necessários à comprovação da titularidade dos bens móveis
e direitos, se houver;
g) certidão negativa de tributos; e
h) Certificado de Cadastro de Imóvel Rural - CCIR, se houver imóvel rural a
ser partilhado.

Art. 23: Os documentos apresentados no ato da lavratura da escritura


devem ser originais ou em cópias autenticadas, salvo os de identidade das
partes, que sempre serão originais.

Art. 24: A escritura pública deverá fazer menção aos documentos


apresentados.

4.3.5 BENS DE ESTRANGEIROS NO BRASIL E BENS NO EXTERIOR


O Código de Processo Civil disciplina sobre a competência exclusiva da
justiça brasileira, de modo que o inventário e a partilha de todos os bens localizados
no território brasileiro deverão ser processados aqui, conforme prescreve o artigo
8998:
Art. 89: Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de
qualquer outra:
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II – proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o
autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.

Por outro lado, havendo bens no exterior, o inventário e a partilha deverão ser
processados no país onde estão localizados os bens, conforme prescreve o caput
do artigo 10 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro –– LINDB, Decreto

97 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Disponível em:


<https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/179> Acesso: 17 jul. 2020.
98 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 89)
50

nº 4.657/42, in verbis: “A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país
em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a
situação dos bens”99.
Nesse ínterim, reiterando tal dispositivo, o artigo 29 da Resolução nº 35/2007
do Conselho Nacional de Justiça proíbe a lavratura da escritura de inventário e
partilha a respeito de bens localizados no exterior, conforme redação própria: “É
vedada a lavratura de escritura pública de inventário e partilha referente a bens
localizados no exterior”.
Dessa forma, caso o de cujus tenha deixado bens no Brasil e no exterior, o
inventário e a partilha referente aos bens localizados no Brasil deverá ser
processado no Brasil, ao passo que os bens localizados no exterior deverão ser
processado no país em que se encontram os bens. Portanto, caso sejam deixados
bens no Brasil e em países diversos, o processo de inventário e partilha deverá ser
aberto em tantos quantos forem os países em que o falecido deixou os bens100.
O local de processamento do inventário será sempre aquele onde estão
situados os bens. A lei que regulará a sucessão será a do último domicílio do autor,
conforme lição exarada abaixo pela advogada Marielle Brito101:
Em uma primeira etapa, se determina qual o país competente para julgar o
processo de inventário, que é o do local do bens. Na segunda etapa, se
determina qual será a lei aplicada para o processamento do inventário, que
será a do país do último domicílio do autor. Se a lei do último domicílio do
autor for mais prejudicial, poderá o Juiz, optar pela lei mais benéfica aos
herdeiros.

4.3.6 PROCEDIMENTO
O procedimento de inventário e partilha é composto por algumas etapas. A
primeira delas é a escolha do cartório e do advogado que, como dito anteriormente,
deve ser um tabelionato de notas de livre escolha das partes; e o advogado, que
poderá ser o mesmo para ambas as partes, ou cada parte pode escolher o seu.
A segunda etapa é a nomeação de um inventariante, que encabeçará o
processo, cujo papel será de administrar os bens do espólio (acervo deixado pelo de
cujus), bem como deverá proceder com o pagamento de eventuais credores102.

99 BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, 1942. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm>. Acesso: 17 jul. 2020.
100 BRITO, Marielle. Herança de bens no exterior – JusBrasil, 2015. Disponível em:

<https://msbadvocacia.jusbrasil.com.br/artigos/205692346/heranca-de-bens-no-exterior>. Acesso: 17 jul. 2020.


101 Idem.
102 ALVES, Marco. Como fazer um inventário extrajudicial passo a passo – JusBrasil, 2016. Disponível em:

<https://escritoriopj.jusbrasil.com.br/noticias/403719211/como-fazer-um-inventario-extrajudicial-passo-a-passo >
Acesso: 17 jul. 2020
51

A escolha do inventariante deverá observar a ordem preferencial do art. 617


do Código de Processo Civil103, in verbis:
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou
se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, prestará, dentro
de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar a
função.

Após a nomeação do inventariante, prossegue-se ao inventário, que consiste


no levantamento das dívidas e dos bens deixados pelo falecido. Todas as dívidas
deverão ser pagas com o patrimônio deixado e, o que sobrar, ficará para os seus
herdeiros104.
Se os bens deixados não forem suficientes para honrar todas as dívidas, seus
herdeiros não poderão ser responsabilizados, conforme prescreve o artigo 1.792 do
Código Civil: “O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a
escuse, demostrando o valor dos bens herdados”.105
O quarto passo é o pagamento do Imposto de Transmissão Causa Mortis, de
competência estadual, cuja alíquota varia de um estado para outro, a qual pode
chegar ao máximo de 8% (oito por cento) e é calculada sobre o valor venal dos
bens.
Feito o pagamento dos impostos, será feita a partilha, que é quando será
individualizado o quinhão de cada herdeiro. Lembrando que aqui deve haver
consenso entre os herdeiros e, caso haja divergência, as partes devem proceder
com o inventário extrajudicial.

103 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 617)
104 ALVES, Marco. Como fazer um inventário extrajudicial passo a passo – JusBrasil, 2016. Disponível em:
<https://escritoriopj.jusbrasil.com.br/noticias/403719211/como-fazer-um-inventario-extrajudicial-passo-a-passo >
Acesso: 17 jul. 2020
105 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Loc Cit. (art. 1792)
52

Em seguida, tendo sido realizada a partilha, será feita a minuta, que nada
mais é do que um “rascunho” da escritura a ser encaminhado à procuradoria do
estado, cuja atuação será no sentido de avaliar as informações, declaração de bens
do espólio e valores para evitar equívocos no cálculo do tributo. Caso esteja tudo em
conformidade, a procuradoria autorizará a lavratura da escritura. O processo de
encaminhamento e autorização da minuta leva, em média, 15 dias. Alguns estados
como São Paulo dispensam o encaminhamento da minuta para aprovação caso a
escritura tenha sido lavrada em um cartório do próprio estado.
Logo após, passa-se à lavratura da Escritura de Inventário e Partilha pelo
tabelião, ocasião em que deverão estar presentes todos os herdeiros e seus
advogados, munidos da documentação exigida, tais como a certidão de óbito, os
documentos de identidade das partes e do autor da herança, as certidões do valor
venal dos imóveis e a certidão de regularidade do ITCMD, por exemplo.
Por último, a certidão do inventário deverá ser levada aos órgãos
competentes para registro dos bens em nome dos herdeiros, que passarão a ser
seus titulares. A exemplo disso, o órgão competente para o registro dos imóveis é o
Cartório de Registro de Imóveis em que estão matriculados os imóveis e, no caso
dos veículos, tem-se o Departamento Estadual de Trânsito, DETRAN106.
Finalizadas todas essas etapas, os bens passarão a integrar o patrimônio dos
herdeiros.

4.3.7 CARTA DE ADJUDICAÇÃO


Caso haja um único herdeiro, maior e capaz, o procedimento dispensará o
inventário e partilha e será feita uma carta de adjudicação, conforme prescreve o
artigo 26 da Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça: “Havendo um
só herdeiro, maior e capaz, com direito à totalidade da herança, não haverá partilha,
lavrando-se a escritura de inventário e adjudicação dos bens”107.

106 ALVES, Marco. Como fazer um inventário extrajudicial passo a passo – JusBrasil, 2016. Disponível em:
<https://escritoriopj.jusbrasil.com.br/noticias/403719211/como-fazer-um-inventario-extrajudicial-passo-a-passo >
Acesso: 17 jul. 2020
107 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 26)
53

4.4 BENEFÍCIOS DA LEI 11.441/07


Com o advento dos procedimentos extrajudiciais, algumas vantagens foram
trazidas ao ordenamento jurídico, as quais veremos a seguir.
A primeira delas é a possibilidade de livre escolha do tabelião de notas para a
realização dos procedimentos elencados no presente ensaio acadêmico, que é
conferida por força do artigo 1° da Resolução nº 35/07 do Conselho Nacional de
Justiça. Isso torna o procedimento mais fácil, uma vez que afasta as regras de
competência do Código de Processo Civil. Por outro lado, sendo o procedimento
judicial, aplicar-se-ão as regras do Código de Processo Civil, o que pode trazer
empecilhos no decorrer de um processo que tenha pessoas residentes em diferentes
comarcas, por exemplo, pois haverá a necessidade da presença dos interessados
em audiência, e também citação por carta precatória, dentre outras dificuldades que
podem surgir devido à distancia física dos envolvidos.
Os artigos 6º e 7º da Resolução nº 35/07 do Conselho Nacional de Justiça
trazem outro benefício, que é a possibilidade de obtenção de gratuidade de justiça,
tal como no procedimento judicial.
Outra vantagem é que o procedimento extrajudicial permite que a parte
interessada seja representada por procuração, de modo que não é necessário seu
comparecimento físico no ato, conforme estabelecem os artigos 12 e 36 da
supracitada Resolução nº 35/07 do Conselho Nacional de Justiça. Assim, não é
obrigatória a presença de todos os herdeiros. Desta maneira, se por ventura algum
deles não puder comparecer ao ato, ele poderá ser representado por procuração
pública com poderes especiais.
Tendo em vista que o procedimento extrajudicial é realizado sem a
interferência de um Poder Judiciário já sobrecarregado, e que tem como requisito a
ausência de litígio entre as partes, a quarta vantagem é a celeridade. Isso porque o
procedimento judicial é composto por mais atos que, por consequência, são mais
morosos.
Nesse sentido, alega o registrador imobiliário José Augusto Alves Pinto108:

A nova legislação trouxe agilidade e economia aos paranaenses, facilitando


o procedimento: o tempo médio para a execução da escritura pública em
cartório é de 15 dias, dependendo do número de bens envolvidos na

108PINTO, José Augusto Alves. Paraná quer aumentar número de divórcios em cartório no interior – Conjur,
2008. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2008-jun-24/cartorios_pr_buscam_ampliacao_lei_11441>
Acesso: 23 jul. 2020.
54

questão. Os preços também estão mais acessíveis comparados ao


procedimento judicial, custando até 90% menos ao bolso do cidadão.

A celeridade é uma consequência direta de outra vantagem, que é a


desburocratização. Por ser menos burocrático e mais simples, o procedimento
também é mais célere.
Nessa senda, assim ensinam os autores da obra “Escrituras públicas:
separação, divórcio, inventário e partilha consensuais - análise civil, processual civil,
tributária e notarial”109:
Os benefícios desta nova Lei 11.441/2007 já são proclamados em coro
pelos seus comentadores (juristas, magistrados, advogados, notários, etc.),
na medida em que facilita extremamente o procedimento para os atos nela
previstos, ao mesmo tempo em que, de forma promissora, alivia a carga do
Judiciário já tão abarrotado com diversas pendências em deficiente
estrutura, permitindo-lhe deixar de lado providencias meramente
homologatórias (e eminentemente administrativas, como são aquelas
previstas na norma), para dedicar-se com maior maestria à solução célere e
justa de processos litigiosos que inevitavelmente lhes são apresentados.

Em um Poder Judiciário sobrecarregado de processos, a Lei nº 11.441/07 traz


um grande avanço ao permitir que o procedimento seja realizado em cartório, pois
desafoga os tribunais, que já estão lotados de demandas, por mais que tais cortes
tenham em seu quadro servidores e juízes que trabalham arduamente para a
resolução dos litígios.
Uma sétima vantagem é a diminuição de custos para as partes, conforme
dispõe Loureiro110:
Esta medida favorece a celeridade dos atos, sem prejuízo à sua segurança
jurídica. Certamente também resulta em diminuição de custos, pois, embora
haja necessidade de pagamento de emolumentos pela lavratura de escritura
pública (salvo para as pessoas reconhecidamente pobres),
os honorários advocatícios tenderão a ser menores (o advogado não
precisará acompanhar uma ação por vários meses) e, não será paga a taxa
judiciária e outras despesas decorrentes do processo judicial.

Para se ter uma ideia da economia gerada, é interessante traduzi-la em


números. Em um estudo realizado em 2013, apenas seis anos após a edição da
referida Lei, mostra enorme redução de custos naquele período:

109 CAHALI, Francisco José; HERANCE FILHO, Antonio; ROSA, Karin Regina Rick; FERREIRA, Paulo Roberto
Gaiger. Escrituras públicas: separação, divórcio, inventário e partilha consensuais: análise civil, processual
civil, tributária e notarial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (p.54) apud RIBEIRO, Flávia Pereira.
Divórcios em SP aumentaram 48,3% após nova Lei – JusBrasil, 2012. Disponível em:
<https://flaviaribeiro2.jusbrasil.com.br/artigos/121816503/divorcios-em-sp-aumentaram-48-3-apos-nova-lei>
Acesso: 23 jul. 2020.
110 LOUREIRO, L. G. Registros públicos: teoria e prática. São Paulo: Método, 2010. (p. 536)
55

Segundo um estudo conduzido em 2013, pelo Centro de Pesquisas sobre o


Sistema de Justiça brasileiro (CPJus), cada processo que entra no
Judiciário custa em média R$ 2.369,73 para o contribuinte. Portanto, o
erário brasileiro economizou mais de 4,2 bilhões de reais com a
desburocratização desses atos111.

São esses os sete benefícios identificados a partir da Lei nº 11.441/07, que


mostram que, havendo a possibilidade de resolução da demanda pela via
extrajudicial, não há necessidade de submetê-la ao processo judicial, visto que a
solução administrativa traz enormes vantagens não só às partes interessadas, como
também ao Estado e suas instituições.

111DINO. Lei que acelerou divórcios e inventários completa 11 anos – Terra, 2018. Disponível em:
<https://www.terra.com.br/noticias/dino/lei-que-acelerou-divorcios-e-inventarios-completa-11-
anos,655453b7c80a26d97aafe7420850c191pl40htmy.html> Acesso: 23 jul. 2020.
56

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A legislação atinente ao direito de família tem evoluído de forma notável nos


últimos anos. Em relação ao tema estudado, constatou-se que importantes
inovações surgiram, tais como: a Lei nº 6.515/77 possibilitou o divórcio, que até
então era proibido no Brasil; a Lei nº 11.441/07 possibilitou a realização de
separação, divórcio, inventário e partilha pela via administrativa, em cartórios; e a
Emenda Constitucional nº 66, que, por sua vez, instituiu o divórcio direto, suprimindo
a necessidade de prévia separação entre os cônjuges.
No campo jurisprudencial, os julgados recentes trouxeram outras
contribuições notáveis ao direito de família: o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
permitiu a união estável, com a consequente conversão em casamento, entre
pessoas do mesmo sexo; também o STJ firmou entendimento de que a separação
judicial é facultativa aos cônjuges, podendo ser realizado também o divórcio de
forma direta ou indireta (com prévia separação); bem como a mesma Corte suprimiu
o requisito da inexistência de testamento em um caso no qual havia consenso entre
as partes.
As recentes inovações legislativas e precedentes judiciais mostram que as
evoluções do direito de família deram maior autonomia às pessoas em dispor sobre
suas relações familiares, de forma que cada vez mais as escolhas competem a cada
pessoa, e não mais ao Estado.
A Resolução nº 35/07 do Conselho Nacional de Justiça disciplina o trâmite
que a Lei nº 11.441/07 trouxe para o ordenamento jurídico: requisitos,
procedimentos, etc. Além disso, foram incorporadas mais novidades: a possibilidade
de conversão da separação em divórcio; a dissolução de união estável por escritura
pública; a realização dos referidos procedimentos em qualquer tabelionato de notas
de livre escolha das partes (o que dispensa outros atos judiciais que tornam o
processo moroso, como a citação das partes que residem fora da comarca por carta
precatória); a possibilidade de obtenção de gratuidade de justiça; a possibilidade da
parte interessada ser representada por procuração; e a desnecessidade de
submeter a escritura pública realizada em cartório à homologação judicial.
Neste trabalho, a separação, o divórcio, a partilha e o inventário foram
esmiuçados em seus conceitos e modalidades, a fim de que fosse possível levar à
compreensão de que tais procedimentos podem ocorrer de diversas formas, não
57

apenas pela via extrajudicial, sendo essa, porém, a via mais recomendada, caso
seja possível. Para tanto, há a necessidade de enquadramento da situação em
determinados requisitos que, cumulativamente, devem ser aqueles comuns a todos
os procedimentos objeto do presente estudo e específicos do procedimento em si.
Caso não sejam atendidos os requisitos, impõe-se a necessidade de realização do
ato de maneira judicial, uma vez que certos empecilhos podem exigir a atuação de
um magistrado, afastando possibilidade de atuação do notário.
A possibilidade de realização dos referidos atos em cartório representa maior
celeridade, desburocratização, diminuição de custos para as partes e desafoga o
Poder Judiciário, além de trazer outros benefícios já elencados como a gratuidade
de justiça, livre escolha do tabelião de notas e possibilidade da parte interessada ser
representada por procuração.
Assim, conclui-se que o procedimento extrajudicial, nos casos em que é
possível a sua realização, é o mais adequado e menos custoso, pois representa
enormes vantagens para as partes, conferindo a elas autonomia negocial, além de
ser um procedimento mais célere, que evita desgastes emocionais e dissabores
entre os familiares. O próprio requisito do consenso entre as partes evita que os
membros de uma família entrem em conflito na individualização do seu quinhão.
Dessa maneira, ao evitar conflitos, principalmente entre familiares, é possível afirmar
que as inovações legislativas, objeto do presente ensaio acadêmico, cumprem com
o propósito precípuo que o Direito deve ter, que é o de pacificação e equilíbrio
social.
58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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