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GOIÂNIA
2020
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FACULDADE ATAME
GOIÂNIA
2020
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GOIÂNIA
2020
4
RESUMO
ABSTRACT
This monograph is intended for the analysis of the benefits inserted by Law nº
11.441/ 07 to the national legal system, which brought innovations by allowing that in
certain situations, whether these procedures of separation, divorce, inventory or
sharing, could be carried out by administrative way, that is, in extrajudicial registries,
which previously only occurred through the judicial route exclusively. After the
referred study, it will be possible to understand in which aspects such improvements
have generated benefits for those people who enjoy and need such legal provisions
and how the advent of the Law has improved the lives of users of extrajudicial
services, by simplifying requirements and procedures for formalization constituted
legal acts.
SUMÁRIO
I. Introdução .............................................................................................................. 8
INTRODUÇÃO
1 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense. 2018. (p. 1.340)
2 DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2010. (p. 1.051) apud TARTUCE, Flávio.
Manual de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense. 2018. (p. 1.340)
3 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. (p. 76) apud TARTUCE, Flávio. Manual de
união estável, pois trata-se um fato jurídico, apesar de haver a possibilidade de sua
formalização em um cartório de notas, caso seja da vontade das partes. Entretanto,
é a situação fática que gera a eficácia do direito, não seu registro em cartório.
As diferenças que existiam antigamente entre o casamento e a união estável
foram esvaziadas pelo julgamento do Recurso Ordinário nº 878.694/MG do Supremo
Tribunal Federal, que entendeu pela inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código
Civil, conferindo aos companheiros (nome conferido às pessoas que vivem em união
estável, assim como existe o termo “cônjuge” para se referir às partes de um
casamento) o mesmo direito à sucessão legítima que é conferido aos cônjuges, o de
figurar na sucessão do outro como herdeiro necessário em concorrência com os
demais.
O artigo 1.727 do Código Civil prescreve que caso um dos cônjuges esteja
sob algum dos impedimentos do artigo 1.521 do mesmo códex, o de contrair novo
matrimônio, a situação será de concubinato e não de união estável.
A união estável pode ser extinta, e por ser uma situação de fato, não depende
de registro para a sua eficácia, mas pode ser registrada caso haja vontade das
partes, o que é recomendável por questões que envolvem segurança jurídica e
proteção patrimonial.
O artigo 733 do Código de Processo Civil disciplina a extinção consensual de
união estável extrajudicial: pode ocorrer em cartório de notas, desde que,
observados os requisitos legais, haja acordo entre as partes, não tenham filhos
incapazes ou nascituro e estejam as partes assistidas por advogado. A extinção da
união estável pode se dar ainda por processo judicial, caso em que poderá ser tanto
litigiosa quanto consensual. Se por ventura não houver consenso entre as partes, o
único procedimento possível é o judicial.
Alguns esclarecimentos sobre a extinção de união estável se fazem
pertinentes. É possível fazer a dissolução da união estável ainda que não tenha sido
feita a Declaração de União Estável. Os conviventes deverão preencher certos
requisitos para que possam requerer a dissolução pela via extrajudicial e, caso não
cumpram, o procedimento deverá ser judicial11.
12 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002 (art. 1.571). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> > Acesso: 15 jul. 2020
13 Idem. (arts. 1521, 1548, 1550).
16
Por ser Norma Constitucional, tem aplicação imediata para produzir efeitos,
independentemente de qualquer lei infraconstitucional.
A separação judicial é um instituto em desuso pelos operadores do direito. Até
o ano de 1977, havia a proibição de se divorciar no Brasil. Com o advento da Lei nº
6.515/77, o divórcio passou a ser possível, desde que cumprido um requisito: a
separação. Na época, década de 1970, o casamento ainda era uma instituição que
carregava valores morais e religiosos mais conservadores. Assim, o Estado
empreendia esforços para evitar a dissolução dos casamentos, sendo um deles a
exigência de que o casal passasse por um estágio intermediário antes do divórcio de
fato, que era a separação.
14 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil – Direito de Família. São Paulo: Editora Saraiva,
2013. (p. 523) apud BIANCHINI, Izabella. Divórcio Impositivo – JUS, 2019. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/78326/divorcio-impositivo#_ftnref3 >. Acesso: 01 jul. 2020.
15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Loc.cit. (art. 226).
17
16FRANZONI, Larissa. Qual a diferença entre divórcio e separação? – Franzoni Advogados, 2015. Disponível
em: < https://franzoni.adv.br/diferenca-entre-divorcio-e-separacao/ > Acesso: 3 jul. 2020.
17 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.247.098/MS. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=1247098&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true
> Acesso: 30 jun. 2020.
18
https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-
cej/vjornadadireitocivil2012.pdf>. Acesso: 30 jun. 2020.
19
Art. 46 - Seja qual for a causa da separação judicial, e o modo como esta se
faça, é permitido aos cônjuges restabelecer a todo o tempo a sociedade
conjugal, nos termos em que fora constituída, contanto que o façam
mediante requerimento nos autos da ação de separação. 24
<http://lyon.com.br/projetos/2_nova_lima/?page_id=460#:~:text=Observe%20que%20ap%C3%B3s%20o%20div
%C3%B3rcio,conjugal%20atrav%C3%A9s%20de%20escritura%20p%C3%BAblica.> Acesso: 30 jun. 2020.
27SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Separação de fato há mais de um ano permite curso da prescrição
para pedido de partilha de bens – Portal do STJ, 2019. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Separacao-de-fato-tambem-permite-curso-da-
prescricao-para-pedido-de-partilha-de-
bens.aspx#:~:text=A%20separa%C3%A7%C3%A3o%20de%20fato%20%C3%A9,no%20estado%20civil%20de
%20casados.> Acesso: 30 jun. 2020.
28 BIANCA, Massimo Cesare. Apud NADER, Paulo. Curso de direito civil: Direito de família. Rio de Janeiro:
Ainda que gere o mesmo efeito que a separação de fato, que é de encerrar a
vida em comunhão, no tipo em questão há a formalização do ato, que pode ocorrer
de forma consensual ou litigiosa e depende de decisão judicial. Após a formalização
do ato, cessam os deveres do casamento, inclusive de fidelidade e de comunhão de
bens, de forma que a pessoa poderá, inclusive, contrair nova união estável, sendo
29 NADER, Paulo. Curso de direito civil: Direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2008. (p. 199) apud
MARTINS, Humberto. Dissolução da sociedade conjugal no Código Civil de 2002: separação judicial
consensual e extrajudicial.
30 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Separação de fato há mais de um ano permite curso da prescrição
para pedido de partilha de bens – Portal do STJ, 2019. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Separacao-de-fato-tambem-permite-curso-da-
prescricao-para-pedido-de-partilha-de-
bens.aspx#:~:text=A%20separa%C3%A7%C3%A3o%20de%20fato%20%C3%A9,no%20estado%20civil%20de
%20casados.> Acesso: 30 jun. 2020.
31 STJ JUSBRASIL. REsp 678.790/PR. Relator: Ministro Raul Araújo. DJ: 05/06/2014. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?processo=678790&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>
Acesso: 30 jul. 2020.
22
impedida apenas de se casar novamente até o divórcio e de adquirir bens sem que
isso importe em meação do cônjuge.
A separação é decretada judicialmente em procedimento cautelar, com
escopo de retirar dos cônjuges ou companheiros o dever de comunhão de vida, ou
seja, de terem de conviver no mesmo lar. Assim, após sua decretação, cessam os
deveres conjugais e um dos cônjuges pode deixar o lar32.
A separação judicial litigiosa pode ser requerida por apenas um dos cônjuges,
a qualquer tempo, e será processada pelo rito ordinário. É disciplinada no artigo
1.572 do Código Civil:
Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial,
imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do
casamento e torne insuportável a vida em comum.
34 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Loc. Cit. (art. 1572)
35 Idem. (art. 1573)
24
36
PORTAL-EDUCAÇÃO. Separação judicial litigiosa. Disponível em:
<https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/separacao-judicial-
litigiosa/39397#:~:text=A%20separa%C3%A7%C3%A3o%20judicial%20litigiosa%20ocorre,bens%20e%20altera
%C3%A7%C3%A3o%20do%20nome> Acesso: 6 jul. 2020.
37 VINICIUS, Márcio. Divórcio Direto. O que é. Disponível em: https://santoscavalcanti.adv.br/divorcio-direto-o-
42 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Direito das Sucessões. São Paulo: Editora Saraiva,
2005. (p. 368)
43 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Editora Saraiva,
2008. Apud DiretoNet - Inventário - Novo CPC (Lei nº 13.105/15). Disponível em:
<https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/423/Inventario-Novo-CPC-Lei-no-13105-15>. Acesso: 7 jul. 2020.
27
44 RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Sucessões. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2008. (p.587)
45 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, família, sucessões, volume 5. São Paulo : Saraiva, 2012. (p.
389)
46 DINIZ, Maria Helena. Loc. Cit (p. 400)
47 COELHO, Fábio Ulhôa. Loc. Cit. (p. 703)
28
A partilha é o ato que, uma vez homologado pelo juiz do inventário (ou,
quando admitido por lei, formalizado por escritura pública), desfaz o
condomínio hereditário que a abertura da sucessão instituíra entre os
herdeiros. Trata-se da definição dos bens da herança, que passam à
propriedade individual de cada um deles. Divide-se, com a partilha, entre os
herdeiros o que remanesceu do pagamento dos legados e dos credores do
falecido.
48 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Volume 7: direito das sucessões. São Paulo:
Saraiva, 2015 (p. 558)
49 FERREIRA, Jaqueline. Inventário extrajudicial e inventário judicial – DireitoNet, 2017. Disponível em:
<https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10450/Inventario-extrajudicial-e-inventario-
judicial#:~:text=N%C3%A3o%20havendo%20alternativa%2C%20dever%C3%A1%20ser,testamento%20ou%20h
ouver%20interessado%20incapaz>. Acesso: 8 jul. 2020.
29
parágrafo 1º, prescreve que o procedimento poderá ser feito por escritura pública
quando as partes forem capazes e concordes. Dessa forma, infere-se que além dos
casos em que exista testamento ou interessado incapaz, o inventário deverá ser
obrigatoriamente judicial quando não houver acordo entre as partes, para que o juiz
possa decidir as questões controversas.
O inventário judicial é composto pelas seguintes etapas: abertura do
inventário, nomeação do inventariante, oferecimento das primeiras declarações,
citação dos interessados, avaliação dos bens, cálculo e pagamento de impostos e
últimas declarações. Após isso, vem a partilha e sua homologação (caso seja
judicial, pois a partilha extrajudicial pode ser realizada em um inventário judicial)51.
53 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça STJ – RECURSO ESPECIAL: RESP RJ 1.808.767/RJ. Relator: Ministro
Luis Felipe Salomão. DJ: 15/10/2019. Disponível em: <
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1.2&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGeneric
a&num_registro=201901146094> Acesso: 9 jul 2020.
31
54 GARCIA, Cristiano Pereira Moraes. Coleção Prática do Direito. Inventários e Partilhas. (p. 68/69) apud
ANDRADE, Michele Bonilha da Conceição. O inventário negativo. Revista Jus Navigandi. Teresina, 2017.
Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/55837>. Acesso: 14 jul. 2020.
55 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Disponível em: <
CPC/73 CPC/15
Art. 982. Havendo testamento ou interessado Art. 610. Havendo testamento ou interessado
incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial; incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.
se todos forem capazes e concordes, poderá
fazer-se o inventário e a partilha por escritura § 1º Se todos forem capazes e concordes, o
pública, a qual constituirá título hábil para o inventário e a partilha poderão ser feitos por
registro imobiliário. escritura pública, a qual constituirá
documento hábil para qualquer ato de
§ 1º O tabelião somente lavrará a escritura registro, bem como para levantamento de
pública se todas as partes interessadas importância depositada em instituições
estiverem assistidas por advogado comum financeiras.
ou advogados de cada uma delas ou por
defensor público, cuja qualificação e § 2º O tabelião somente lavrará a escritura
assinatura constarão do ato notarial. pública se todas as partes interessadas
estiverem assistidas por advogado ou por
§ 2º A escritura e demais atos notariais serão defensor público, cuja qualificação e
gratuitos àqueles que se declararem pobres assinatura constarão do ato notarial.
sob as penas da lei
Art. 983. O processo de inventário e partilha Art. 611. O processo de inventário e de
deve ser aberto dentro de 60 (sessenta) dias partilha deve ser instaurado dentro de 2
a contar da abertura da sucessão, ultimando- (dois) meses, a contar da abertura da
se nos 12 (doze) meses subseqüentes, sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses
podendo o juiz prorrogar tais prazos, de subsequentes, podendo o juiz prorrogar
ofício ou a requerimento de parte. esses prazos, de ofício ou a requerimento de
parte.
Art. 1.124-A. A separação consensual e o Art. 733. O divórcio consensual, a separação
divórcio consensual, não havendo filhos consensual e a extinção consensual de
menores ou incapazes do casal e união estável, não havendo nascituro ou
observados os requisitos legais quanto aos filhos incapazes e observados os requisitos
prazos, poderão ser realizados por escritura legais, poderão ser realizados por escritura
pública, da qual constarão as disposições pública, da qual constarão as disposições de
relativas à descrição e à partilha dos bens que trata o art. 731.
comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao
acordo quanto à retomada pelo cônjuge de § 1º A escritura não depende de
seu nome de solteiro ou à manutenção do homologação judicial e constitui título hábil
nome adotado quando se deu o casamento. para qualquer ato de registro, bem como
para levantamento de importância
§ 1o A escritura não depende de depositada em instituições financeiras.
homologação judicial e constitui título hábil
para o registro civil e o registro de imóveis. § 2º O tabelião somente lavrará a escritura
se os interessados estiverem assistidos por
§ 2º O tabelião somente lavrará a escritura advogado ou por defensor público, cuja
se os contratantes estiverem assistidos por qualificação e assinatura constarão do ato
advogado comum ou advogados de cada um notarial.
68MEDINA, José Miguel Garcia. Quadro Comparativo entre CPC/1973 e o CPC/2015 - Boletim Jurídico, 2015.
Disponível em: <http://boletimjuridico.publicacoesonline.com.br/wp-content/uploads/2015/03/Quadro-
comparativo-CPC-1973-x-CPC-2015.pdf> Acesso: 9 jul. 2020.
37
69 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 1º)
38
70 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 2º)
71 Idem. (art. 8º)
39
O advogado que irá assessorar as partes pode ser comum para ambas ou
podem as partes escolher advogados diferentes. Frise-se que é de suma
importância a presença de um advogado na garantia dos interesses das partes.
Sobre o papel do advogado, é cabível mencionar a opinião de Marco Jean de
Oliveira Teixeira73:
Nesse caso, poderá ser um advogado para representar cada cônjuge, ou,
apenas um advogado representando ambos, não há problemas nisso. A
única exigência aqui é que haja ao menos um advogado que acompanhe o
processo. Esse acompanhamento é de suma importância, pois o advogado
não só verificará todos os trâmites do procedimento, bem como toda
documentação, e também terá um papel muito importante na orientação do
casal. E essa orientação não se refere apenas ao procedimento de divórcio
extrajudicial em sim, mas também no melhor encaminhamento das tratativas
do casal sobre a partilhas dos bens e fixação de pensão (se for o caso).
72 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 9º)
73 TEIXEIRA, Marco. Divórcio Extrajudicial – guia passo a passo – Conteúdo Jurídico, 2019. Disponível em:
<https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/53254/divrcio-extrajudicial-guia-passo-a-passo-completo>
Acesso: 14 jul. 2020.
74 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 3º)
40
4.1.5 GRATUIDADE
Criada em 2007, a lei que prevê o divórcio, separação, inventário e partilha
pela via administrativa alterou dispositivos do Código de Processo Civil vigente à
época, o de 1973. Os supramencionados artigos 982, § 2º, e 1.124-A, § 3º, previam
a possibilidade de gratuidade de justiça para tais atos. Porém, com a edição do
Novo Código de Processo Civil, em 2015, a redação desses dispositivos foi mudada
e não houve menção à gratuidade na redação mais recente.
Diante disso, o Tribunal de Justiça da Paraíba formulou a Consulta nº
0006042-02.2017.2.00.000075 ao Conselho Nacional de Justiça a fim de informar-se
se a gratuidade ainda estava vigente em relação ao divórcio extrajudicial, ao passo
que tal prerrogativa foi confirmada.
O conselheiro Arnaldo Hossepian76, quem foi relator do processo, defendeu
que ainda que a gratuidade não esteja explícita em lei, deverá ser interpretada de
forma extensiva para se adequar à Constituição Federal, uma vez que esta prevê
como direito do cidadão o acesso à jurisdição e a prestação plena aos atos
extrajudiciais de notários e registradores. Portanto, em seu voto, Hossepian afirma:
É inafastável a conclusão de que a assistência jurídica é integral, e, mais
que isso, a assistência gratuita a aqueles que dela necessitem deve ser
vista como um direito fundamental a concretizar, envolvendo também as
vias extrajudiciais de efetivação do acesso à ordem jurídica, sendo qualquer
lacuna ou regramento em contrário inadmissível configuração de retrocesso,
vedado por princípios constitucionais.
O artigo 733 do Código de Processo Civil78 dispõe sobre os requisitos que são
comuns à realização do divórcio, separação e extinção de união estável pela via
extrajudicial:
Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção
consensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e
observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura
pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731.
78 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 733)
79 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 34)
42
Por último, será exigida a manifestação de vontade das partes, que deverá
ser declarada de forma clara na escritura pública, conforme estabelece o artigo 35
da Resolução nº 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça80:
Art. 35. Da escritura, deve constar declaração das partes de que estão
cientes das conseqüências da separação e do divórcio, firmes no propósito
de pôr fim à sociedade conjugal ou ao vínculo matrimonial, respectivamente,
sem hesitação, com recusa de reconciliação.
80 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 35)
81 COLÉGIO NOTARIAL DO BRASIL – Seção Bahia. Divórcio e Separação extrajudicial – CNBBA. Disponível
em: < http://cnbba.org.br/atos-notariais/divorcio-e-separacao-
extrajudicial#:~:text=Div%C3%B3rcio%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20dissolu%C3%A7%C3%A3o%2
0do%20casamento%20por%20vontade%20das%20partes.&text=O%20principal%20requisito%20%C3%A9%20o
,ter%20filhos%20menores%20ou%20incapazes.> Acesso: 14 jul. 2020.
43
4.3.2 PRAZOS
Há dois prazos referente ao inventário e à partilha, ambos dispostos no artigo
611 do Código de Processo Civil. O primeiro prazo diz respeito à instauração do
processo, o qual calcula dois meses a partir da abertura da sucessão (data da morte
do de cujus); o outro estabelece o prazo de doze meses para finalização do
processo, podendo ser prorrogado pelo juiz de ofício ou a requerimento das partes.91
Algumas consolidações normativas estaduais permitem prazos maiores para
a instauração do inventário. Apesar disso, todos os prazos previstos nos estados
deverão ser de, no mínimo, dois meses para que seja respeitada a regra do Código
de Processo Civil. É uma forma de a lei evitar que o estado federado faça cobranças
abusivas92.
Foram identificados no Brasil seis estados cujos prazos e procedimentos da
consolidação normativa divergem do Código de Processo Civil, são eles: Acre,
Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí e Santa Catarina, de acordo
com informações dadas por Dierle Nunes e Moisés Oliveira.93.
O transcurso do prazo para abertura do inventário não implica em prescrição.
Caso não seja cumprido o prazo, a fazenda pública estadual poderá fixar multa, que
é relacionada com o atraso no pagamento do ITCMD – Imposto de Transmissão
Causa Mortis, conforme prescreve o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal
90 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 12)
91 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 611)
92 COSTA, Marcele. Qual o prazo para inventário? - Cartório no Brasil. Disponível em:
Uma vez que não há menção legal sobre a ordem de prioridade das pessoas
legítimas para instaurar o processo, tampouco há alusão sobre o assunto na
doutrina ou jurisprudência, deduz-se que qualquer uma das pessoas referidas no
artigo 616 do Código de Processo Civil pode postular a instauração do inventário.
94BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula nº 542/STF. DJ: 12/12/1969. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=3345> Acesso: 17 jul. 2020.
95 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 31)
96 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 616)
49
Por outro lado, havendo bens no exterior, o inventário e a partilha deverão ser
processados no país onde estão localizados os bens, conforme prescreve o caput
do artigo 10 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro –– LINDB, Decreto
nº 4.657/42, in verbis: “A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país
em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a
situação dos bens”99.
Nesse ínterim, reiterando tal dispositivo, o artigo 29 da Resolução nº 35/2007
do Conselho Nacional de Justiça proíbe a lavratura da escritura de inventário e
partilha a respeito de bens localizados no exterior, conforme redação própria: “É
vedada a lavratura de escritura pública de inventário e partilha referente a bens
localizados no exterior”.
Dessa forma, caso o de cujus tenha deixado bens no Brasil e no exterior, o
inventário e a partilha referente aos bens localizados no Brasil deverá ser
processado no Brasil, ao passo que os bens localizados no exterior deverão ser
processado no país em que se encontram os bens. Portanto, caso sejam deixados
bens no Brasil e em países diversos, o processo de inventário e partilha deverá ser
aberto em tantos quantos forem os países em que o falecido deixou os bens100.
O local de processamento do inventário será sempre aquele onde estão
situados os bens. A lei que regulará a sucessão será a do último domicílio do autor,
conforme lição exarada abaixo pela advogada Marielle Brito101:
Em uma primeira etapa, se determina qual o país competente para julgar o
processo de inventário, que é o do local do bens. Na segunda etapa, se
determina qual será a lei aplicada para o processamento do inventário, que
será a do país do último domicílio do autor. Se a lei do último domicílio do
autor for mais prejudicial, poderá o Juiz, optar pela lei mais benéfica aos
herdeiros.
4.3.6 PROCEDIMENTO
O procedimento de inventário e partilha é composto por algumas etapas. A
primeira delas é a escolha do cartório e do advogado que, como dito anteriormente,
deve ser um tabelionato de notas de livre escolha das partes; e o advogado, que
poderá ser o mesmo para ambas as partes, ou cada parte pode escolher o seu.
A segunda etapa é a nomeação de um inventariante, que encabeçará o
processo, cujo papel será de administrar os bens do espólio (acervo deixado pelo de
cujus), bem como deverá proceder com o pagamento de eventuais credores102.
99 BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, 1942. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm>. Acesso: 17 jul. 2020.
100 BRITO, Marielle. Herança de bens no exterior – JusBrasil, 2015. Disponível em:
<https://escritoriopj.jusbrasil.com.br/noticias/403719211/como-fazer-um-inventario-extrajudicial-passo-a-passo >
Acesso: 17 jul. 2020
51
103 BRASIL. Lei 13.105. Código de Processo Civil de 2015. Loc. Cit. (art. 617)
104 ALVES, Marco. Como fazer um inventário extrajudicial passo a passo – JusBrasil, 2016. Disponível em:
<https://escritoriopj.jusbrasil.com.br/noticias/403719211/como-fazer-um-inventario-extrajudicial-passo-a-passo >
Acesso: 17 jul. 2020
105 BRASIL. Lei 10.406. Código Civil de 2002. Loc Cit. (art. 1792)
52
Em seguida, tendo sido realizada a partilha, será feita a minuta, que nada
mais é do que um “rascunho” da escritura a ser encaminhado à procuradoria do
estado, cuja atuação será no sentido de avaliar as informações, declaração de bens
do espólio e valores para evitar equívocos no cálculo do tributo. Caso esteja tudo em
conformidade, a procuradoria autorizará a lavratura da escritura. O processo de
encaminhamento e autorização da minuta leva, em média, 15 dias. Alguns estados
como São Paulo dispensam o encaminhamento da minuta para aprovação caso a
escritura tenha sido lavrada em um cartório do próprio estado.
Logo após, passa-se à lavratura da Escritura de Inventário e Partilha pelo
tabelião, ocasião em que deverão estar presentes todos os herdeiros e seus
advogados, munidos da documentação exigida, tais como a certidão de óbito, os
documentos de identidade das partes e do autor da herança, as certidões do valor
venal dos imóveis e a certidão de regularidade do ITCMD, por exemplo.
Por último, a certidão do inventário deverá ser levada aos órgãos
competentes para registro dos bens em nome dos herdeiros, que passarão a ser
seus titulares. A exemplo disso, o órgão competente para o registro dos imóveis é o
Cartório de Registro de Imóveis em que estão matriculados os imóveis e, no caso
dos veículos, tem-se o Departamento Estadual de Trânsito, DETRAN106.
Finalizadas todas essas etapas, os bens passarão a integrar o patrimônio dos
herdeiros.
106 ALVES, Marco. Como fazer um inventário extrajudicial passo a passo – JusBrasil, 2016. Disponível em:
<https://escritoriopj.jusbrasil.com.br/noticias/403719211/como-fazer-um-inventario-extrajudicial-passo-a-passo >
Acesso: 17 jul. 2020
107 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 35/2007 do CNJ. Loc. Cit. (art. 26)
53
108PINTO, José Augusto Alves. Paraná quer aumentar número de divórcios em cartório no interior – Conjur,
2008. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2008-jun-24/cartorios_pr_buscam_ampliacao_lei_11441>
Acesso: 23 jul. 2020.
54
109 CAHALI, Francisco José; HERANCE FILHO, Antonio; ROSA, Karin Regina Rick; FERREIRA, Paulo Roberto
Gaiger. Escrituras públicas: separação, divórcio, inventário e partilha consensuais: análise civil, processual
civil, tributária e notarial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (p.54) apud RIBEIRO, Flávia Pereira.
Divórcios em SP aumentaram 48,3% após nova Lei – JusBrasil, 2012. Disponível em:
<https://flaviaribeiro2.jusbrasil.com.br/artigos/121816503/divorcios-em-sp-aumentaram-48-3-apos-nova-lei>
Acesso: 23 jul. 2020.
110 LOUREIRO, L. G. Registros públicos: teoria e prática. São Paulo: Método, 2010. (p. 536)
55
111DINO. Lei que acelerou divórcios e inventários completa 11 anos – Terra, 2018. Disponível em:
<https://www.terra.com.br/noticias/dino/lei-que-acelerou-divorcios-e-inventarios-completa-11-
anos,655453b7c80a26d97aafe7420850c191pl40htmy.html> Acesso: 23 jul. 2020.
56
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
apenas pela via extrajudicial, sendo essa, porém, a via mais recomendada, caso
seja possível. Para tanto, há a necessidade de enquadramento da situação em
determinados requisitos que, cumulativamente, devem ser aqueles comuns a todos
os procedimentos objeto do presente estudo e específicos do procedimento em si.
Caso não sejam atendidos os requisitos, impõe-se a necessidade de realização do
ato de maneira judicial, uma vez que certos empecilhos podem exigir a atuação de
um magistrado, afastando possibilidade de atuação do notário.
A possibilidade de realização dos referidos atos em cartório representa maior
celeridade, desburocratização, diminuição de custos para as partes e desafoga o
Poder Judiciário, além de trazer outros benefícios já elencados como a gratuidade
de justiça, livre escolha do tabelião de notas e possibilidade da parte interessada ser
representada por procuração.
Assim, conclui-se que o procedimento extrajudicial, nos casos em que é
possível a sua realização, é o mais adequado e menos custoso, pois representa
enormes vantagens para as partes, conferindo a elas autonomia negocial, além de
ser um procedimento mais célere, que evita desgastes emocionais e dissabores
entre os familiares. O próprio requisito do consenso entre as partes evita que os
membros de uma família entrem em conflito na individualização do seu quinhão.
Dessa maneira, ao evitar conflitos, principalmente entre familiares, é possível afirmar
que as inovações legislativas, objeto do presente ensaio acadêmico, cumprem com
o propósito precípuo que o Direito deve ter, que é o de pacificação e equilíbrio
social.
58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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inventário e partilha consensuais: análise civil, processual civil, tributária e notarial.
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