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RESPONSABILIDADE DOS AGENTES

PÚBLICOS, RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS


CONTRATOS E APLICAÇÃO DE
SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
Um paralelo entre os regimes da Lei nº
8.666/1993 e a nova Lei, com atenção
para os entendimentos do TCU

04 a 06, 09 e 10 de agosto de 2021


Agradecemos sua participação no Zênite Online “RESPONSA-
BILIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS, RESCISÃO/EXTINÇÃO
DOS CONTRATOS E APLICAÇÃO DE SANÇÕES ADMINISTRA-
TIVAS”, realizado de 04 a 06, 09 e 10 de agosto de 2021.

Este material, elaborado em conjunto com a equipe Zênite, reú-


ne o teor da exposição dos Professores José Anacleto Abduch
Santos, Ricardo Alexandre Sampaio e Rodrigo Vissotto Junkes,
expressando o entendimento sobre a temática abordada e as
questões polêmicas que serão tratadas durante o evento.

Esperamos que o conteúdo aqui exposto e os ensinamentos dos


Palestrantes contribuam para seu aperfeiçoamento profissional,
bem como para a resolução das dificuldades vividas no exercício
de sua atividade.

A revisão linguística do conteúdo desta apostila é realizada de acordo com a norma culta
da Língua Portuguesa. As citações doutrinárias, jurisprudenciais e legislativas são repro-
duzidas conforme o original. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta
apostila sem a permissão expressa da Zênite.
SUMÁRIO

AULA 1
AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE
CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS
CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 01.......................................................................................................13
Quem está obrigado à nova Lei de Licitações? Quais
leis foram alteradas e revogadas? Quando a nova Lei
entra em vigor? Teremos uma aplicação concomitante
dos regimes da Lei nº 8.666/1993 e da nova Lei. Como
escolher entre um regime e outro?

QUESTÃO 02.......................................................................................................19
Quais requisitos devem ser preenchidos na designação
dos agentes para desempenho das funções previstas na
nova Lei, inclusive órgão de assessoramento jurídico e
de controle interno? Qual a responsabilidade do agente
da contratação, do pregoeiro e da equipe de apoio?

QUESTÃO 03.......................................................................................................28
Há um capítulo específico na nova Lei sobre controle
das contratações. Quais são as diretrizes e as previsões
sobre esse assunto que merecem destaque? Quais as
linhas de defesa e como são integradas?
QUESTÃO 04.......................................................................................................32
Na atuação das linhas de defesa, quais os cuidados a
serem adotados para o saneamento e a mitigação de
riscos?

QUESTÃO 05.......................................................................................................35
A aplicação da nova Lei depende da entrada em
operação do Portal Nacional de Contratações Públicas
(PNCP), sítio oficial centralizador das publicações? Ou
é possível defender a aplicação imediata da Lei, com a
publicação em outros veículos/sítios, enquanto o PNCP
não estiver disponível?

QUESTÃO 06.......................................................................................................46
A nova Lei tem disciplina detalhada sobre
parecer jurídico. Quais as novidades relativas
a formato, conteúdo, obrigação de elaboração
e sua dispensa, parecer padronizado, bem como
sobre responsabilidade do parecerista? Quais os
entendimentos do TCU e da jurisprudência sobre o assunto?

QUESTÃO 07.......................................................................................................53
No processo de contratação pública, o parecer jurídico
é opinativo ou vinculante? A autoridade que decide com
base em parecer jurídico afasta sua responsabilidade
sob o argumento de que a análise de legalidade cabe
ao departamento jurídico? O assessor jurídico pode ser
responsabilizado? Quais os entendimentos do TCU, do
STF e do STJ?

QUESTÃO 08.......................................................................................................58
De acordo com a nova Lei, em que casos e quais as
condições para que a defesa dos agentes públicos,
nas esferas administrativa, controladora e judicial,
possa ser realizada pela Advocacia Pública? Quais os
entendimentos do TCU sobre esse tema?
AULA 2

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 09.......................................................................................................66
Pela mesma falha, pode ser responsabilizado mais
de um agente, por exemplo, o fiscal, o assessor
jurídico e também a autoridade competente? Qual o
entendimento do TCU?

QUESTÃO 10.......................................................................................................69
O que significa afirmar que o agente pode responder
administrativa, civil e penalmente? O que envolve as
esferas administrativas, controladora e judicial?

QUESTÃO 11.......................................................................................................72
O que é e como caracterizar o erro grosseiro e o que
significa isso no contexto da responsabilização? Quais
as orientações do TCU sobre a caracterização de erro
grosseiro? Essa avaliação se altera de acordo com o
regime previsto na nova Lei?

QUESTÃO 12.......................................................................................................76
O TCU tem entendimento de que a reparação
de dano ao erário decorre de dolo ou culpa, sem
qualquer gradação. Qual o impacto concreto desse
entendimento e de que forma pode interferir na eficácia
das alterações implementadas pela LINDB?
QUESTÃO 13.......................................................................................................78
A ação de regresso para reparação de dano ao erário é
imprescritível? Qual o entendimento do STF sobre o tema?

QUESTÃO 14.......................................................................................................89
De acordo com as alterações da LINDB, para a aplicação
de sanções, devem ser ponderadas a natureza e a
gravidade da infração cometida, os danos para a
Administração Pública, as circunstâncias agravantes
ou atenuantes e os antecedentes do agente. Esse
balizamento para a dosimetria de sanções está alinhado
com os julgados dos tribunais e dos órgãos de controle?
Isso se altera de acordo com a disciplina da nova Lei?

QUESTÃO 15.......................................................................................................92
O que é improbidade administrativa? Quais ações
constituem improbidade administrativa nos termos da
Lei nº 8.429/1992? Quais as sanções previstas? Quais
agentes públicos podem ser sancionados com base
nessa legislação?

QUESTÃO 16......................................................................................................103
Quais sanções podem ser impostas pelo TCU aos
agentes públicos responsáveis por licitações e contratos
administrativos, conforme a Lei Orgânica e o Regimento
Interno dessa Corte de Contas? As decisões do TCU que
penalizam os agentes públicos podem ser questionadas
e desconstituídas pelo Poder Judiciário?
AULA 3

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

QUESTÃO 17......................................................................................................109
Quais as causas de extinção do contrato administrativo
de acordo com a Lei nº 8.666/1993 e com a nova Lei de
Licitação? Quais as situações previstas na nova Lei em
que o contratado terá direito à extinção do contrato e ao
ressarcimento pelos prejuízos comprovados?

QUESTÃO 18......................................................................................................127
O que deve ser ponderado para decidir pela rescisão
do contrato ou por sua manutenção? Os custos que
decorrem da rescisão devem ser avaliados na decisão
de rescindir ou manter o contrato? Qual a atuação do
fiscal e do gestor nessa análise?

QUESTÃO 19......................................................................................................129
De acordo com a nova Lei, quais as consequências
no caso de extinção do contrato por ato unilateral da
Administração?

QUESTÃO 20......................................................................................................135
Qual o procedimento (passo a passo) para as rescisões/
extinção administrativa, bilateral, judicial de acordo
com a Lei nº 8.666/1993 e a nova Lei? Qual será o
procedimento no caso de extinção por decisão arbitral?

QUESTÃO 21......................................................................................................139
O que envolve a indenização – danos emergentes e
lucros cessantes – no caso de rescisão/extinção do
contrato? O particular pode questionar os valores da
indenização? Como deve proceder?
QUESTÃO 22......................................................................................................144
Quais medidas e cautelas para prevenir fraudes
nas contratações e inexecuções contratuais que
geram desperdícios de recursos públicos? Existem
instrumentos inovadores na nova Lei?

AULA 4

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

QUESTÃO 23......................................................................................................149
Quais sanções administrativas podem ser aplicadas
aos licitantes e contratados de acordo com a Lei nº
8.666/1993 e a Lei nº 10.520/2002? Quais as sanções
previstas no regime da nova Lei de Licitações?

QUESTÃO 24......................................................................................................153
Qual a importante novidade da nova Lei quanto às
infrações passíveis de penalidade aos licitantes e
contratados? De acordo com a nova Lei, o que deve ser
ponderado na aplicação das sanções?

QUESTÃO 25......................................................................................................156
Qual a extensão dos efeitos da suspensão do direito
de licitar e contratar, da declaração de inidoneidade
e do impedimento de licitar? Quais os entendimentos
do TCU e do STJ? Qual a disciplina da nova Lei sobre a
extensão dos efeitos das sanções?
QUESTÃO 26......................................................................................................167
Quais sanções podem ser cumuladas de acordo com
a Lei nº 8.666/1993 e a nova Lei? As multas moratória
e compensatória podem ser aplicadas conjuntamente
em um mesmo contrato e também por um mesmo fato
(infração)?

QUESTÃO 27......................................................................................................172
Em acórdão do ano de 2020, o TCU recomendou
limites à multa indenizatória. Quais são esses limites?
Essa recomendação está alinhada com a nova Lei?

QUESTÃO 28......................................................................................................174
Aplicadas as sanções de suspensão do direito de
licitar e contratar, de declaração de inidoneidade ou
de impedimento, é possível a manutenção de outros
contratos firmados com o mesmo contratante? Quais
os entendimentos do TCU e do STJ?

QUESTÃO 29......................................................................................................180
Qual o passo a passo do procedimento para a
aplicação das penalidades previstas na Lei nº
8.666/1993, na Lei do Pregão e na nova Lei de
Licitações? Quais as principais novidades da nova
Lei? Quem deve conduzir o processo de aplicação
de penalidade e qual é a autoridade competente
para aplicar cada uma das sanções administrativas?
Como deve ser instruído o processo para evitar
apontamentos e questionamentos futuros?
AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E


CONTRATOS

QUESTÃO 30......................................................................................................191
Quais as diretrizes gerais previstas na IN nº 43/2020
sobre dispensa, parcelamento, compensação e
suspensão de cobrança de multas nas Leis nº
8.666/1993, nº 10.520/2002 e nº 12.462/2011?

QUESTÃO 31......................................................................................................199
Em quais situações o TCU pode declarar a empresa
contratada inidônea?

QUESTÃO 32......................................................................................................200
É possível aplicar penalidade mesmo depois de
rescindido/extinto o contrato? Nessa hipótese, a
infração deve ser verificada e comunicada ainda na
vigência contratual? Qual o prazo máximo para a
aplicação de penalidade? Qual a disciplina da nova Lei
quanto à prescrição?

QUESTÃO 33......................................................................................................206
Com relação à Lei nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção),
pergunta-se:
a) Quais atos lesivos previstos na Lei Anticorrupção
podem gerar a responsabilização da empresa,
especialmente quanto a licitações e contratos?
b) Quais as sanções administrativas previstas na Lei
Anticorrupção e qual autoridade tem competência
para aplicá-las?
c) Qual a disciplina da nova Lei de Licitações sobre
apuração conjunta das infrações?
QUESTÃO 34......................................................................................................215
De acordo com a nova Lei, em que casos é cabível a
desconsideração da personalidade jurídica da empresa
nos processos de aplicação de sanções? Quais as
cautelas a serem adotadas nesse caso?

QUESTÃO 35......................................................................................................216
Quais as alterações mais relevantes da nova Lei a
respeito dos crimes nas licitações?

QUESTÃO 36......................................................................................................221
Qual o entendimento da jurisprudência sobre a
configuração do crime previsto no art. 89 da Lei nº
8.666/1993? Exige dolo específico ou trata-se de crime
de mera conduta? Qual o impacto concreto desse
entendimento?
AULA 1
Agentes públicos que atuam nos
processos de contratação,
responsabilidade e o controle das
contratações

Professor:

Ricardo Alexandre Sampaio


Advogado. Consultor na área de licita-
ções e contratos. Foi Diretor Técnico da
Consultoria Zênite. Integrante da Equipe
de Redação das Soluções Zênite e da
Equipe de Consultores Zênite. Colabo-
rador da obra Lei de licitações e contratos
anotada (6. ed. Zênite, 2005). Autor de
diversos artigos jurídicos.
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 01

Quem está obrigado à nova Lei de Licitações?


Quais leis foram alteradas e revogadas?
Quando a nova Lei entra em vigor? Teremos
uma aplicação concomitante dos regimes
da Lei nº 8.666/1993 e da nova Lei. Como
escolher entre um regime e outro?

INCIDÊNCIA DA NOVA LEI

Lei nº 14.133/2021
Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais de licitação e contrata-
ção para as Administrações Públicas diretas, autárquicas e funda-
cionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
pios, e abrange:
I – os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, dos
Estados e do Distrito Federal e os órgãos do Poder Legislativo dos
Municípios, quando no desempenho de função administrativa;
II – os fundos especiais e as demais entidades controladas direta
ou indiretamente pela Administração Pública.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

NÃO ALCANÇADOS PELA NOVA LEI

Empresas estatais

Entidades do Sistema S

Licitações e contratações com recursos


oriundos de agentes internacionais

Contratações relativas à gestão direta ou


indireta das reservas internacionais do país

Contratos que tenham por objeto operação de crédito,


interno ou externo, e gestão de dívida pública, incluídas as
contratações de agente financeiro e a concessão de
garantia relacionadas a esses contratos

Contratações sujeitas a normas previstas em


legislação própria (por exemplo, publicidade)

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Lei nº 14.133/2021
Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais de licitação e contrata-
ção para as Administrações Públicas diretas, autárquicas e funda-
cionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
pios, e abrange:
[...]
§ 1º Não são abrangidas por esta Lei as empresas públicas, as so-
ciedades de economia mista e as suas subsidiárias, regidas pela
Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016, ressalvado o disposto no
art. 178 desta Lei.
§ 2º As contratações realizadas no âmbito das repartições públi-
cas sediadas no exterior obedecerão às peculiaridades locais e
aos princípios básicos estabelecidos nesta Lei, na forma de regu-
lamentação específica a ser editada por ministro de Estado.
§ 3º Nas licitações e contratações que envolvam recursos prove-
nientes de empréstimo ou doação oriundos de agência oficial de
cooperação estrangeira ou de organismo financeiro de que o Bra-
sil seja parte, podem ser admitidas:
I – condições decorrentes de acordos internacionais aprovados pelo
Congresso Nacional e ratificados pelo Presidente da República;
II – condições peculiares à seleção e à contratação constantes de
normas e procedimentos das agências ou dos organismos, desde
que:
a) sejam exigidas para a obtenção do empréstimo ou doação;
b) não conflitem com os princípios constitucionais em vigor;

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

c) sejam indicadas no respectivo contrato de empréstimo ou do-


ação e tenham sido objeto de parecer favorável do órgão jurídico
do contratante do financiamento previamente à celebração do
referido contrato;
d) sejam objeto de despacho motivado pela autoridade superior
da administração do financiamento. (VETADO.)
§ 4º A documentação encaminhada ao Senado Federal para au-
torização do empréstimo de que trata o § 3º deste artigo deverá
fazer referência às condições contratuais que incidam na hipótese
do referido parágrafo.
§ 5º As contratações relativas à gestão, direta e indireta, das reservas
internacionais do País, inclusive as de serviços conexos ou acessó-
rios a essa atividade, serão disciplinadas em ato normativo próprio
do Banco Central do Brasil, assegurada a observância dos princípios
estabelecidos no caput do art. 37 da Constituição Federal.

REVOGAÇÃO DE OUTRAS LEIS E VIGÊNCIA DA NOVA LEI

Lei nº 14.133/2021
Art. 193. Revogam-se:
I – os arts. 89 a 108 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, na
data de publicação desta Lei;
II – a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, a Lei nº 10.520, de 17 de
julho de 2002, e os arts. 1º a 47-A da Lei nº 12.462, de 4 de agosto de
2011, após decorridos 2 (dois) anos da publicação oficial desta Lei.
Art. 194. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

PERÍODO DE TRANSIÇÃO ENTRE OS REGIMES

Tempo de convivência simultânea entre os dois regimes

2 anos de convivência

1993

Lei nº 8.666/1993

2021 Nesses dois anos,


a escolha do regime
(Lei nº 8.666/1993
ou Nova Lei de
Licitações) deve
ocorrer a cada
processo de
contratação.
2023

Lei nº 14.133/2021

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Lei nº 14.133/2021
Art. 191. Até o decurso do prazo de que trata o inciso II do caput
do art. 193, a Administração poderá optar por licitar ou contratar
diretamente de acordo com esta Lei ou de acordo com as leis cita-
das no referido inciso, e a opção escolhida deverá ser indicada ex-
pressamente no edital ou no aviso ou instrumento de contratação
direta, vedada a aplicação combinada desta Lei com as citadas no
referido inciso.
Parágrafo único. Na hipótese do caput deste artigo, se a Adminis-
tração optar por licitar de acordo com as leis citadas no inciso II
do caput do art. 193 desta Lei, o contrato respectivo será regido
pelas regras nelas previstas durante toda a sua vigência.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 02
Quais requisitos devem ser preenchidos na
designação dos agentes para desempenho das
funções previstas na nova Lei, inclusive órgão
de assessoramento jurídico e de controle
interno? Qual a responsabilidade do agente
da contratação, do pregoeiro e da equipe de
apoio?

REQUISITOS PARA DESIGNAÇÃO DE AGENTES

REQUISITOS PARA A DESIGNAÇÃO

Preferencialmente, servidores efetivos ou empregados


dos quadros permanentes

Atribuições relacionadas a licitações e contratos

Formação compatível ou qualificação atestada por certificação

Não podem ser cônjuges ou companheiros de licitantes ou


contratados habituais nem ter vínculo de parentesco com estes

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Lei nº 14.133/2021
Art. 7º Caberá à autoridade máxima do órgão ou da entidade, ou
a quem as normas de organização administrativa indicarem, pro-
mover gestão por competências e designar agentes públicos para
o desempenho das funções essenciais à execução desta Lei que
preencham os seguintes requisitos:
I – sejam, preferencialmente, servidor efetivo ou empregado pú-
blico dos quadros permanentes da Administração Pública;
II – tenham atribuições relacionadas a licitações e contratos ou
possuam formação compatível ou qualificação atestada por certi-
ficação profissional emitida por escola de governo criada e manti-
da pelo poder público; e
III – não sejam cônjuge ou companheiro de licitantes ou contra-
tados habituais da Administração nem tenham com eles vínculo
de parentesco, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, ou
de natureza técnica, comercial, econômica, financeira, trabalhista
e civil.
§ 1º A autoridade referida no caput deste artigo deverá observar
o princípio da segregação de funções, vedada a designação do
mesmo agente público para atuação simultânea em funções mais
suscetíveis a riscos, de modo a reduzir a possibilidade de oculta-
ção de erros e de ocorrência de fraudes na respectiva contratação.
§ 2º O disposto no caput e no § 1º deste artigo, inclusive os requi-
sitos estabelecidos, também se aplica aos órgãos de assessora-
mento jurídico e de controle interno da Administração.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

AGENTES ENVOLVIDOS NA CONDUÇÃO DO PROCESSO


LICITATÓRIO

AGENTE DE AUXÍLIO DA EQUIPE CONCORRÊNCIA


CONTRATAÇÃO DE APOIO LEILÃO

PREGOEIRO AUXÍLIO DA EQUIPE PREGÃO


DE APOIO

LEILOEIRO OFICIAL LEILÃO

OBRAS, SERVIÇOS DE
COMISSÃO DE ENGENHARIA ESPECIAIS,
CONTRATAÇÃO BENS OU SERVIÇOS
ESPECIAIS

PREÇO, MELHOR TÉCNICA


BANCA OU CONTEÚDO

COMISSÃO DIÁLOGO COMPETITIVO

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Lei nº 14.133/2021
Art. 8º A licitação será conduzida por agente de contratação, pes-
soa designada pela autoridade competente, entre servidores efe-
tivos ou empregados públicos dos quadros permanentes da Ad-
ministração Pública, para tomar decisões, acompanhar o trâmite
da licitação, dar impulso ao procedimento licitatório e executar
quaisquer outras atividades necessárias ao bom andamento do
certame até a homologação.
[...]
§ 2º Em licitação que envolva bens ou serviços especiais, desde
que observados os requisitos estabelecidos no art. 7º desta Lei,
o agente de contratação poderá ser substituído por comissão de
contratação formada por, no mínimo, 3 (três) membros, que res-
ponderão solidariamente por todos os atos praticados pela co-
missão, ressalvado o membro que expressar posição individual
divergente fundamentada e registrada em ata lavrada na reunião
em que houver sido tomada a decisão.
[...]
§ 4º Em licitação que envolva bens ou serviços especiais cujo ob-
jeto não seja rotineiramente contratado pela Administração, po-
derá ser contratado, por prazo determinado, serviço de empresa
ou de profissional especializado para assessorar os agentes públi-
cos responsáveis pela condução da licitação.
§ 5º Em licitação na modalidade pregão, o agente responsável
pela condução do certame será designado pregoeiro.
[...]

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Art. 31. O leilão poderá ser cometido a leiloeiro oficial ou a servi-


dor designado pela autoridade competente da Administração, e
regulamento deverá dispor sobre seus procedimentos operacio-
nais.
§ 1º Se optar pela realização de leilão por intermédio de leiloeiro
oficial, a Administração deverá selecioná-lo mediante credencia-
mento ou licitação na modalidade pregão e adotar o critério de
julgamento de maior desconto para as comissões a serem cobra-
das, utilizados como parâmetro máximo os percentuais definidos
na lei que regula a referida profissão e observados os valores dos
bens a serem leiloados.
[...]
Art. 32. A modalidade diálogo competitivo é restrita a contrata-
ções em que a Administração:
[...]
§ 1º Na modalidade diálogo competitivo, serão observadas as se-
guintes disposições:
[...]
XI - o diálogo competitivo será conduzido por comissão de con-
tratação composta de pelo menos 3 (três) servidores efetivos ou
empregados públicos pertencentes aos quadros permanentes da
Administração, admitida a contratação de profissionais para as-
sessoramento técnico da comissão;
§ 2º Os profissionais contratados para os fins do inciso XI do § 1º
deste artigo assinarão termo de confidencialidade e abster-se-ão
de atividades que possam configurar conflito de interesses.
[...]
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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Art. 37. O julgamento por melhor técnica ou por técnica e preço


deverá ser realizado por:
[...]
§ 1º A banca referida no inciso II do caput deste artigo terá no mí-
nimo 3 (três) membros e poderá ser composta de:
I - servidores efetivos ou empregados públicos pertencentes aos
quadros permanentes da Administração Pública;
II - profissionais contratados por conhecimento técnico, experiên-
cia ou renome na avaliação dos quesitos especificados em edital,
desde que seus trabalhos sejam supervisionados por profissionais
designados conforme o disposto no art. 7º desta Lei.
[...]
Art. 75. É dispensável a licitação:
[...]
XIII - para contratação de profissionais para compor a comissão de
avaliação de critérios de técnica, quando se tratar de profissional
técnico de notória especialização;

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES ENVOLVIDOS NA


CONDUÇÃO DO PROCESSO LICITATÓRIO

TCU – Acórdão nº 2.420/2015 – Plenário


Enunciado
No âmbito dos processos de controle externo, a responsabilida-
de dos gestores de recursos públicos é de natureza subjetiva. São
exigidos simultaneamente três pressupostos para a responsabili-
zação: (i) o ato ilícito na gestão dos recursos públicos; (ii) a con-
duta dolosa ou culposa; e (iii) o nexo de causalidade entre o dano
e o comportamento do agente. Admite-se a ocorrência de exclu-
dentes de culpabilidade, tal como a inexigibilidade de conduta
diversa ou a ausência de potencial conhecimento da ilicitude.
(Relator: Benjamin Zymler; Data do Julgamento: 30/09/2015)

Lei nº 14.133/2021
Art. 8º A licitação será conduzida por agente de contratação, pes-
soa designada pela autoridade competente, entre servidores efe-
tivos ou empregados públicos dos quadros permanentes da Ad-
ministração Pública, para tomar decisões, acompanhar o trâmite
da licitação, dar impulso ao procedimento licitatório e executar
quaisquer outras atividades necessárias ao bom andamento do
certame até a homologação.
§ 1º O agente de contratação será auxiliado por equipe de apoio e
responderá individualmente pelos atos que praticar, salvo quan-
do induzido a erro pela atuação da equipe.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

TCU – Acórdão nº 2.341/2012 – Segunda Câmara


Enunciado
A equipe de apoio ao pregoeiro não possui poder decisório.
(Relator: Raimundo Carreiro; Data do Julgamento: 10/04/2012)

TCU – Acórdão nº 10.041/2015 – Segunda Câmara


Enunciado
Os integrantes da equipe de apoio não possuem poder decisório,
portanto em regra não respondem pelas decisões adotadas pelo
pregoeiro.
(Relator: Marcos Bemquerer Costa; Data do Julgamento: 10/11/2015)

TCU – Acórdão nº 3.178/2016 – Plenário


Enunciado
A responsabilidade dos integrantes da equipe de apoio ao pre-
goeiro somente emerge se agirem com dolo, cumprirem ordem
manifestamente ilegal ou deixarem de representar à autoridade
superior na hipótese de terem conhecimento de ilegalidade pra-
ticada pelo pregoeiro, uma vez que os membros da equipe dão
suporte a este, mas não praticam atos decisórios e não avaliam
questões de mérito do certame, cuja competência é do pregoeiro.
(Relatora: Ana Arraes; Data do Julgamento: 07/12/2016)

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

TCU – Acórdão nº 747/2013 – Plenário


Enunciado
A ausência de rodízio de membros das comissões de licitação e
equipes de apoio dos pregões, além de constituir uma ilegalida-
de, denota falta de observância às boas práticas administrativas
de fortalecimento dos controles internos.
(Relator: José Jorge; Data do Julgamento: 03/04/2013)

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 03

Há um capítulo específico na nova Lei sobre


controle das contratações. Quais são as
diretrizes e as previsões sobre esse assunto
que merecem destaque? Quais as linhas de
defesa e como são integradas?

TERCEIRA LIN
HA
Órgão centra DE DEFESA
l
interno da A de controle
dministraçã
Tribunal de C oe
ontas

SEGUNDA LIN
H
Unidades de A DE DEFESA
assessorame
jurídico e de nto
contr
próprio órgã ole interno do
o ou entidad
e

PRIMEI
Servidores e e RA LINHA DE DEFESA
m
licitação e au pregados públicos, agente
toridades que s
de governança atuam na est de
do órgão ou d ru tu ra
a entidade

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Lei nº 14.133/2021
Art. 169. As contratações públicas deverão submeter-se a práti-
cas contínuas e permanentes de gestão de riscos e de controle
preventivo, inclusive mediante adoção de recursos de tecnologia
da informação, e, além de estar subordinadas ao controle social,
sujeitar-se-ão às seguintes linhas de defesa:
I – primeira linha de defesa, integrada por servidores e empre-
gados públicos, agentes de licitação e autoridades que atuam na
estrutura de governança do órgão ou entidade;
II – segunda linha de defesa, integrada pelas unidades de asses-
soramento jurídico e de controle interno do próprio órgão ou en-
tidade;
III – terceira linha de defesa, integrada pelo órgão central de con-
trole interno da Administração e pelo tribunal de contas.
[...]
Art. 170. Os órgãos de controle adotarão, na fiscalização dos atos
previstos nesta Lei, critérios de oportunidade, materialidade, rele-
vância e risco e considerarão as razões apresentadas pelos órgãos
e entidades responsáveis e os resultados obtidos com a contrata-
ção, observado o disposto no § 3º do art. 169 desta Lei.
[...]
§ 4º Qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica po-
derá representar aos órgãos de controle interno ou ao tribunal de
contas competente contra irregularidades na aplicação desta Lei.
Art. 171. Na fiscalização de controle será observado o seguinte:

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

I – viabilização de oportunidade de manifestação aos gestores so-


bre possíveis propostas de encaminhamento que terão impacto
significativo nas rotinas de trabalho dos órgãos e entidades fisca-
lizados, a fim de que eles disponibilizem subsídios para avaliação
prévia da relação entre custo e benefício dessas possíveis propo-
sições;
II – adoção de procedimentos objetivos e imparciais e elaboração
de relatórios tecnicamente fundamentados, baseados exclusiva-
mente nas evidências obtidas e organizados de acordo com as
normas de auditoria do respectivo órgão de controle, de modo a
evitar que interesses pessoais e interpretações tendenciosas in-
terfiram na apresentação e no tratamento dos fatos levantados;
III – definição de objetivos, nos regimes de empreitada por preço
global, empreitada integral, contratação semi-integrada e con-
tratação integrada, atendidos os requisitos técnicos, legais, orça-
mentários e financeiros, de acordo com as finalidades da contra-
tação, devendo, ainda, ser perquirida a conformidade do preço
global com os parâmetros de mercado para o objeto contratado,
considerada inclusive a dimensão geográfica.
§ 1º Ao suspender cautelarmente o processo licitatório, o tribunal
de contas deverá pronunciar-se definitivamente sobre o mérito
da irregularidade que tenha dado causa à suspensão no prazo de
25 (vinte e cinco) dias úteis, contado da data do recebimento das
informações a que se refere o § 2º deste artigo, prorrogável por
igual período uma única vez, e definirá objetivamente:
I – as causas da ordem de suspensão;

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

II – o modo como será garantido o atendimento do interesse pú-


blico obstado pela suspensão da licitação, no caso de objetos es-
senciais ou de contratação por emergência.
§ 2º Ao ser intimado da ordem de suspensão do processo licita-
tório, o órgão ou entidade deverá, no prazo de 10 (dez) dias úteis,
admitida a prorrogação:
I – informar as medidas adotadas para cumprimento da decisão;
II – prestar todas as informações cabíveis;
III – proceder à apuração de responsabilidade, se for o caso.
§ 3º A decisão que examinar o mérito da medida cautelar a que se
refere o § 1º deste artigo deverá definir as medidas necessárias e
adequadas, em face das alternativas possíveis, para o saneamen-
to do processo licitatório, ou determinar a sua anulação.
§ 4º O descumprimento do disposto no § 2º deste artigo ensejará
a apuração de responsabilidade e a obrigação de reparação do
prejuízo causado ao erário.

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 04

Na atuação das linhas de defesa, quais


os cuidados a serem adotados para o
saneamento e a mitigação de riscos?

Lei nº 14.133/2021
Art. 169. As contratações públicas deverão submeter-se a práti-
cas contínuas e permanentes de gestão de riscos e de controle
preventivo, inclusive mediante adoção de recursos de tecnologia
da informação, e, além de estar subordinadas ao controle social,
sujeitar-se-ão às seguintes linhas de defesa:
[...]
§ 1º Na forma de regulamento, a implementação das práticas a
que se refere o caput deste artigo será de responsabilidade da
alta administração do órgão ou entidade e levará em conside-
ração os custos e os benefícios decorrentes de sua implementa-
ção, optando-se pelas medidas que promovam relações íntegras
e confiáveis, com segurança jurídica para todos os envolvidos, e
que produzam o resultado mais vantajoso para a Administração,
com eficiência, eficácia e efetividade nas contratações públicas.
[...]

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

§ 3º Os integrantes das linhas de defesa a que se referem os inci-


sos I, II e III do caput deste artigo observarão o seguinte:
I – quando constatarem simples impropriedade formal, adotarão
medidas para o seu saneamento e para a mitigação de riscos de
sua nova ocorrência, preferencialmente com o aperfeiçoamento
dos controles preventivos e com a capacitação dos agentes públi-
cos responsáveis;
II – quando constatarem irregularidade que configure dano à Ad-
ministração, sem prejuízo das medidas previstas no inciso I deste
§ 3º, adotarão as providências necessárias para a apuração das in-
frações administrativas, observadas a segregação de funções e a
necessidade de individualização das condutas, bem como reme-
terão ao Ministério Público competente cópias dos documentos
cabíveis para a apuração dos ilícitos de sua competência.

Lei nº 14.133/2021
Art. 147. Constatada irregularidade no procedimento licitatório
ou na execução contratual, caso não seja possível o saneamento,
a decisão sobre a suspensão da execução ou sobre a declaração
de nulidade do contrato somente será adotada na hipótese em
que se revelar medida de interesse público, com avaliação, entre
outros, dos seguintes aspectos:
I – impactos econômicos e financeiros decorrentes do atraso na
fruição dos benefícios do objeto do contrato;

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

II – riscos sociais, ambientais e à segurança da população local


decorrentes do atraso na fruição dos benefícios do objeto do con-
trato;
III – motivação social e ambiental do contrato;
IV – custo da deterioração ou da perda das parcelas executadas;
V – despesa necessária à preservação das instalações e dos servi-
ços já executados;
VI – despesa inerente à desmobilização e ao posterior retorno às
atividades;
VII – medidas efetivamente adotadas pelo titular do órgão ou en-
tidade para o saneamento dos indícios de irregularidades apon-
tados;
VIII – custo total e estágio de execução física e financeira dos con-
tratos, dos convênios, das obras ou das parcelas envolvidas;
IX – fechamento de postos de trabalho diretos e indiretos em ra-
zão da paralisação; X – custo para realização de nova licitação ou
celebração de novo contrato;
XI – custo de oportunidade do capital durante o período de para-
lisação.
Parágrafo único. Caso a paralisação ou anulação não se revele me-
dida de interesse público, o poder público deverá optar pela con-
tinuidade do contrato e pela solução da irregularidade por meio
de indenização por perdas e danos, sem prejuízo da apuração de
responsabilidade e da aplicação de penalidades cabíveis.

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 05

A aplicação da nova Lei depende da


entrada em operação do Portal Nacional de
Contratações Públicas (PNCP), sítio oficial
centralizador das publicações? Ou é possível
defender a aplicação imediata da Lei, com
a publicação em outros veículos/sítios,
enquanto o PNCP não estiver disponível?

PLANOS DA VALIDADE, VIGÊNCIA E EFICÁCIA DA NORMA


JURÍDICA

Validade: a validade de uma norma significa, apenas, que ela está


integrada ao ordenamento jurídico, ou seja, pertence ao conjun-
to das normas jurídicas. Essa integração deve ser formal (ou con-
dicional) e material (ou finalística).

Vigência: a vigência de uma norma se relaciona com a capacidade


de ela vincular seus destinatários à observância de suas disposições.

Eficácia: a eficácia da norma significa que ela está apta para a


produção de seus efeitos próprios, ou seja, sua aplicação não se
encontra dependente de qualquer evento ou condição posterior.

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Sobre a eficácia da Lei nº 14.133/2021, formam-se 2 linhas de


entendimento

> 1ª Linha de entendimento: enquanto não for disponibilizado


o Portal Nacional de Contratações Públicas – PNCP, a Lei nº
14.133/2021 não pode ser aplicada, pois não é plenamente
eficaz.

Lei nº 14.133/2021
Art. 94. A divulgação no Portal Nacional de Contratações Públicas
(PNCP) é condição indispensável para a eficácia do contrato e de
seus aditamentos e deverá ocorrer nos seguintes prazos, conta-
dos da data de sua assinatura:
I - 20 (vinte) dias úteis, no caso de licitação;
II - 10 (dez) dias úteis, no caso de contratação direta.
§ 1º Os contratos celebrados em caso de urgência terão eficácia a
partir de sua assinatura e deverão ser publicados nos prazos pre-
vistos nos incisos I e II do caput deste artigo, sob pena de nulida-
de.
[...]
Art. 174. É criado o Portal Nacional de Contratações Públicas
(PNCP), sítio eletrônico oficial destinado à:
I - divulgação centralizada e obrigatória dos atos exigidos por esta
Lei;

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

AGU – Parecer nº 00002/2021/CNMLC/CGU/AGU


Ementa
I - Análise jurídica de condicionamentos e requisitos para possibi-
lidade de utilização da Lei nº 14.133/21 como fundamento para
embasar licitações e/ou contratações. Necessidade de traçar um
panorama de eficácia da lei para priorização dos modelos a serem
elaborados e do cronograma para tanto.
II - A divulgação dos contratos e dos editais no Portal Nacional
de Contratações Públicas - PNCP não pode ser substituída pelo
DOU, sítio eletrônico do órgão ou outro meio de divulgação, sen-
do obrigatório, portanto, o PNCP;
III - O art. 70, II abre a possibilidade de registros cadastrais não-
-unificados para fins de substituição da documentação de habili-
tação;
IV - A implementação das medidas previstas no art. 19 da nova
lei, incluindo os modelos, não é pré-requisito para que haja con-
tratações pelo novo regramento, muito menos exige-se ônus ar-
gumentativo adicional para contratar-se antes de finalizadas tais
medidas. Essa conclusão não aborda a eventual obrigatoriedade
de uso de instrumentos que efetivamente existam;
V - Os arts. 7º, 11, parágrafo único e 169, §1º são consideradas
como medidas preferenciais antes de proceder às contratações:
recomenda-se que o gestor se prepare, iniciando gestão por com-
petências/processos de controle interno antes de iniciar a aplica-
ção da nova lei, sem prejuízo de, justificadamente, fazer contrata-
ções antes disso;

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

VI - O regulamento do art. 8º, § 3º é necessário para a atuação do


agente ou da comissão de contratação, equipe de apoio, fiscais
e gestores contratuais. Como toda licitação necessita de agente/
comissão de contratação e todo contrato de fiscal/gestor, isso im-
plica, na prática, a impossibilidade de licitar ou contratar até que
as condutas dos agentes respectivos sejam regulamentadas na
forma do artigo em questão.
VII - É necessária a regulamentação de pesquisas de preços, tanto
em geral quanto especificamente para obras e serviços de enge-
nharia, para que elas sejam feitas com fundamento na nova lei;
VIII - A regulamentação da modalidade de Leilão e dos modos de
disputa da Concorrência e do Pregão é necessária para o seu uso.
IX - Para o uso do SRP, é necessária a sua regulamentação, seja em
geral, seja quando resultante de contratação direta;
X - É possível contratar sem a regulamentação do modelo de ges-
tão do contrato, caso em que o próprio instrumento contratual
deverá desenhar o modelo que seja adequado ao caso. Ainda
assim, é recomendável que, nos casos de contratação com mão-
-de-obra, utilize-se de procedimentos de fiscalização trabalhista
adequados à lei, análogos à IN 5/2017, por exemplo.
XI - Nos dois anos a que se refere o art. 191, o gestor poderá eleger
se em determinada contratação se valerá dos comandos da Lei nº
8.666/93, da Lei nº 10.520/2002 e dos artigos 1º a 47-A da Lei nº
12.462/2011, inclusive subsidiariamente, ou se adotará a Lei n.º
14.133/2021, inclusive subsidiariamente, nos termos do art. 189;

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

XII - Em qualquer caso, é vedada a combinação entre a Lei nº


14.133/21 e as Leis 8.666/93, 10.520/2002 e os arts. 1º a 47-A da
Lei nº 12.462/2011, conforme parte final do art. 191;
XIII - Não é possível a recepção de regulamentos das leis nº
8.666/93, 10.520/02 ou 12.462/11 para a Lei nº 14.133/21, en-
quanto todas essas leis permanecerem em vigor, independente-
mente de compatibilidade de mérito, ressalvada a possibilidade
de emissão de ato normativo, pela autoridade competente, rati-
ficando o uso do regulamento para contratações sob a égide da
nova legislação.

> 2ª Linha de entendimento: ainda que exigências fixadas


na Lei nº 14.133/2021 não sejam atendidas sem a prévia
disponibilização do Portal Nacional de Contratações Públicas
– PNCP, isso não impede a sua aplicação.

Blog da Zênite
A aplicação da nova Lei de Licitações depende da criação do
Portal Nacional de Contratações Públicas?
Por José Anacleto Abduch Santos
Uma questão jurídica da maior relevância, e que pode produzir
importantes impactos na Administração Pública brasileira é: a
aplicação da Lei nº 14.133/2021 (nova lei de licitações) depende
da criação do Portal Nacional de Contratações Públicas?
O Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) é sítio eletrô-
nico oficial destinado à: I – divulgação centralizada e obrigatória

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

dos atos exigidos por esta Lei; II – realização facultativa das con-
tratações pelos órgãos e entidades dos Poderes Executivo, Legis-
lativo e Judiciário de todos os entes federativos (art. 174).
À toda vista se trata de norma geral, aplicável, por disposição ex-
pressa normativa, para todos os entes federados. A corroborar esta
tese, tem-se que o PNCP será gerido pelo Comitê Gestor da Rede
Nacional de Contratações Públicas, que conta com a participação
de representantes de todos os entes da federação (art. 174, §1º).
Com a edição da Lei nº 14.133/2021, o veículo oficial de divulga-
ção dos atos relativos às licitações e contratações públicas passa
a ser o PNCP.
Dentre outras referências, 2 normas versando sobre publicidade
dos atos licitatórios e contratuais podem ser destacadas na nova lei.
Primeira, a contida no art. 54, que preceitua:
Art. 54. A publicidade do edital de licitação será realizada me-
diante divulgação e manutenção do inteiro teor do ato convoca-
tório e de seus anexos no Portal Nacional de Contratações Públi-
cas (PNCP).
E aquela contida no art. 94:
Art. 94. A divulgação no Portal Nacional de Contratações Públicas
(PNCP) é condição indispensável para a eficácia do contrato e de
seus aditamentos e deverá ocorrer nos seguintes prazos, conta-
dos da data de sua assinatura:
I – 20 (vinte) dias úteis, no caso de licitação;
II – 10 (dez) dias úteis, no caso de contratação direta.

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

§ 1º Os contratos celebrados em caso de urgência terão eficácia a


partir de sua assinatura e deverão ser publicados nos prazos pre-
vistos nos incisos I e II do caput deste artigo, sob pena de nulidade.
Referidas normas podem induzir a 2 conclusões distintas, ambas,
claro, defensáveis, afinal, interpretação implica a busca do melhor
significado, dentre os vários possíveis, de um determinado texto
normativo.
A interpretação literal das normas pode, com efeito, levar à con-
clusão hermenêutica no sentido de que somente após a criação
do PNCP a nova lei pode ser aplicada, pois (i) a publicidade dos
editais de licitação deve ser feita no Portal; e (ii) a publicação do
extrato do contrato no Portal é condição de sua eficácia.
Não parece ser esta a melhor interpretação.
Primeiro: porque o art. 194 determina que a Lei entra em vigor na
data de sua publicação, o que ocorreu no dia 1º de abril de 2021.
Segundo: porque o art. 1º do Decreto-Lei nº 4.657/1942 estabele-
ce que “salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo
o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”.
Terceiro: a eficácia de uma norma somente pode ser limitada ou
contida mediante disposição expressa – ou, como defendem al-
guns, no mínimo implícita.
Por fim, não parece atender o interesse público vincular a eficácia
de uma lei à implementação de um banco de dados – a não ser
que o objeto da lei fosse unicamente a criação deste banco de da-
dos, ou que a sua aplicação dependesse materialmente dele – o
que não é o caso.

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Tem-se, assim, que a Lei nº 14.133/2021 é válida, vigente e eficaz


(à exceção de eventuais normas que dependam de regulamenta-
ção, o que demanda indicação expressa, como dito).
Ora, se a Lei é vigente, pode ser aplicada. Ademais, a própria Lei
estabelece que “até o decurso do prazo de que trata o inciso II
do caput do art. 193, a Administração poderá optar por licitar ou
contratar diretamente de acordo com esta Lei ou de acordo com
as leis citadas no referido inciso, e a opção escolhida deverá ser
indicada expressamente no edital ou no aviso ou instrumento de
contratação direta, vedada a aplicação combinada desta Lei com
as citadas no referido inciso” (art. 191).
O legislador, em momento algum, vinculou a vigência da lei à
criação do Portal Nacional de Contratações Públicas, o que pode
levar a outra conclusão no que tange à aplicabilidade imediata da
Lei nº 14.133/2021.
E esta outra conclusão decorre de uma interpretação sistemática
ou sistêmica das normas contidas na nova lei de licitações.
Partindo-se da premissa de que a Lei tem vigência, e tem, como
visto. E de que não se pode admitir eficácia contida ou limitada de
nenhuma de suas normas sem expressa previsão também legal –
ainda que implícita -, é possível deduzir conclusão no sentido da
possibilidade de aplicação imediata do regime jurídico da Lei nº
14.133/2021.
O primeiro argumento em favor da eficácia imediata da Lei nova
tem relação com a função do Portal Nacional de Contratações Pú-

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

blicas. Trata-se de um banco de dados que conterá informações re-


levantes e indispensáveis sobre licitações e contratações públicas.
Será, também como visto, o veículo oficial de publicidade dos
atos relativos às licitações e contratos da Administração Pública –
à exceção das empresas estatais.
Ora, esta função pode ser suprida, sem qualquer prejuízo de pu-
blicidade, pelo sistema de publicidade oficial dos atos administra-
tivos. Normalmente a publicação em Diário Oficial. A publicida-
de dos atos relativos a licitações e contratos pode e deve ocorrer
também por meio dos sítios eletrônicos oficiais – para conferir
eficiência às publicações.
O relevante e de interesse público é que ocorra efetivamente a
publicação dos instrumentos convocatórios e dos extratos dos
contratos – cumprindo o princípio constitucional da publicidade.
Nem se diga que esta sistemática ensejará prejuízos ou riscos de
publicidade, pois é a sistemática de que se vale a Administração
Pública com fundamento na Lei nº 8.666/1993.
Nesta medida, a interpretação sistemática das normas que exigem
a publicação no Portal Nacional de Contratações Públicas leva à
conclusão de que (i) enquanto não for criado referido Portal, a pu-
blicidade dos atos e contratos se dará por intermédio dos veículos
oficiais de publicação e sítios eletrônicos dos entes e órgãos da
Administração Pública; e (ii) a publicação no Portal somente será
condição para eficácia dos contratos após a sua efetiva criação.
O segundo argumento em favor da eficácia imediata da nova Lei
é de ordem lógico-jurídica. Não há sentido jurídico em vincular a

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

vigência e a eficácia de uma Lei à criação de um banco de dados


informatizado, que se presta a uma finalidade – conferir publici-
dade aos atos – que pode ser atingida por outros meios jurídicos
legítimos e válidos.
Por hipótese, imagine-se que, transcorridos os 2 anos de que
trata o art. 193, II da nova Lei tenhamos a revogação da Lei nº
8.666/1993, mas ainda não tenhamos um Portal Nacional de Con-
tratações Públicas.
Neste caso, lamentavelmente não poderemos mais realizar licita-
ções ou contratações públicas, pois não haverá lei vigente ou efi-
caz, para, nos estreitos limites da legalidade administrativa, am-
parar a Administração Pública. Porque não foi criado um banco de
dados informatizado.
(Disponível em: https://www.zenite.blog.br/a-aplicacao-da-
nova-lei-de-licitacoes-depende-da-criacao-do-portal-nacional-
de-contratacoes-publicas/. Acesso em: 15 jun. 2021)

PGE/RS – Parecer nº 18.761/2021


LEI FEDERAL Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021. NOVA LEI DE
LICITAÇÕES. EFICÁCIA INTERTEMPORAL.
[...]
5. Nas situações de ausência de regulamento, será necessário ava-
liar, na casuística, se a regulamentação prevista em lei é impres-
cindível ou meramente auxiliar à efetivação das normas, sendo
de rigor prestigiar a plena efetividade do novo diploma legal, sob
pena de limitação desnecessária do artigo 194.
[...]

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Em relação à análise da legislação estadual sobre a matéria, con-


vém estabelecer dois pontos: 1) toda a legislação vigente, edi-
tada sob a égide das leis revogadas pelo artigo 193, II, da Lei nº
14.133/2021, mantém a sua utilidade em razão do período de
transição de dois anos da publicação da nova lei, conforme tra-
tado na resposta ao primeiro questionamento; 2) em segundo
lugar, as normas estaduais vigentes que tratam de licitações e
contratos, sempre que possível, poderão ser aproveitadas no re-
gime da nova Lei de Licitações, naquilo que não ofendam os seus
Princípios e as suas finalidades, sob pena de prejuízo ainda maior
ao regular funcionamento da Administração Pública.
O segundo ponto se justifica pela série de questões procedimen-
tais que, fruto da prática, consolidaram-se nos regulamentos es-
taduais, mostrando-se útil a continuidade da sua aplicação, até
que sobrevenha regramento específico, para não gerar prejuízos
ao regular funcionamento da Administração Pública observa-
da, por certo, a compatibilidade da regra com a novel legislação.
Quanto à situação da Lei Estadual nº 13.191, de 30 de junho de
2009, que trata do pregão eletrônico no âmbito do Estado do Rio
Grande do Sul, as disposições que não entrem em confronto com
o novo sistema e que não tratem de dispositivos das leis revoga-
das (em especial da Lei nº 8.666/1993) de forma incompatível ou
inconciliável com as regras da nova Lei poderão ser aplicadas nos
procedimentos do novo regime.

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 06

A nova Lei tem disciplina detalhada sobre


parecer jurídico. Quais as novidades relativas
a formato, conteúdo, obrigação de elaboração
e sua dispensa, parecer padronizado, bem
como sobre responsabilidade do parecerista?
Quais os entendimentos do TCU e da
jurisprudência sobre o assunto?

linguagem simples, clara, compreensível e


PARECER objetiva
JURÍDICO apreciar todos os elementos importantes para
a contratação
expor os pressupostos de fato e de direito

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AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Função orientativa
do assessor jurídico

Responsabilidade
Obrigatório do parecerista

PARECER
JURÍDICO
Responsabilidade Padronização
de quem decide
com base em
parecer jurídico Casos de
dispensa da
análise jurídica

Lei nº 14.133/2021
Art. 53. Ao final da fase preparatória, o processo licitatório seguirá
para o órgão de assessoramento jurídico da Administração, que
realizará controle prévio de legalidade mediante análise jurídica
da contratação.
§ 1º Na elaboração do parecer jurídico, o órgão de assessoramen-
to jurídico da Administração deverá:
I – apreciar o processo licitatório conforme critérios objetivos pré-
vios de atribuição de prioridade;
II – redigir sua manifestação em linguagem simples e compreen-
sível e de forma clara e objetiva, com apreciação de todos os ele-

47
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

mentos indispensáveis à contratação e com exposição dos pres-


supostos de fato e de direito levados em consideração na análise
jurídica;
III – dar especial atenção à conclusão, que deverá ser apartada
da fundamentação, ter uniformidade com os seus entendimentos
prévios, ser apresentada em tópicos, com orientações específicas
para cada recomendação, a fim de permitir à autoridade consu-
lente sua fácil compreensão e atendimento, e, se constatada ile-
galidade, apresentar posicionamento conclusivo quanto à impos-
sibilidade de continuidade da contratação nos termos analisados,
com sugestão de medidas que possam ser adotadas para adequá-
-la à legislação aplicável. (VETADO.)
[...]
§ 4º Na forma deste artigo, o órgão de assessoramento jurídico da
Administração também realizará controle prévio de legalidade de
contratações diretas, acordos, termos de cooperação, convênios,
ajustes, adesões a atas de registro de preços, outros instrumentos
congêneres e de seus termos aditivos.
§ 5º É dispensável a análise jurídica nas hipóteses previamente
definidas em ato da autoridade jurídica máxima competente, que
deverá considerar o baixo valor, a baixa complexidade da contra-
tação, a entrega imediata do bem ou a utilização de minutas de
editais e instrumentos de contrato, convênio ou outros ajustes
previamente padronizados pelo órgão de assessoramento jurídi-
co.

48
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

RESPONSABILIDADE DO PARECERISTA

Lei nº 14.133/2021
Art. 53. Ao final da fase preparatória, o processo licitatório seguirá
para o órgão de assessoramento jurídico da Administração, que
realizará controle prévio de legalidade mediante análise jurídica
da contratação.
[...]
§ 6º O membro da advocacia pública será civil e regressivamente
responsável quando agir com dolo ou fraude na elaboração do
parecer jurídico de que trata este artigo. (VETADO.)

Código de Processo Civil


Art. 184. O membro da Advocacia Pública será civil e regressiva-
mente responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício
de suas funções.

LINDB
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas de-
cisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

TCU – Acórdão nº 896/2012 – Plenário


Enunciado
No caso de parecer omisso, desarrazoado ou tendencioso, devem
responder o parecerista e a autoridade que o acolheu pela irregu-
laridade que resultar do parecer.
(Relator: Aroldo Cedraz; Data do Julgamento: 18/04/2012)

TCU – Acórdão nº 1.151/2015 – Plenário


Enunciado
O parecerista jurídico pode ser responsabilizado por parecer com
erro grosseiro, emitido em cumprimento ao art. 38, parágrafo úni-
co, da Lei 8.666/1993, que exige o prévio exame e aprovação das
minutas de contrato pelas assessorias jurídicas.
(Relatora: Ana Arraes; Data do Julgamento: 13/05/2015)

TCU – Acórdão nº 4.984/2018 – Primeira Câmara


Enunciado
O parecerista jurídico pode ser responsabilizado solidariamente
com o gestor por irregularidades ou prejuízos ao erário, nos ca-
sos de erro grosseiro ou atuação culposa, quando seu parecer for
obrigatório – caso em que há expressa exigência legal – ou mes-
mo opinativo.
(Relator: Vital do Rêgo; Data do Julgamento: 29/05/2018)

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

TCU – Acórdão nº 7.181/2018 – Segunda Câmara


Enunciado
Nos casos em que o parecer técnico, por dolo ou culpa, induzir
o gestor à prática de irregularidade, ilegalidade ou qualquer ato
que fira princípios da Administração Pública, haverá responsabili-
dade solidária entre o gestor e o parecerista.
(Relator: Aroldo Cedraz; Data do Julgamento: 07/08/2018)

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 302


Acórdão 615/2020-TCU-Plenário (Recurso de Reconsideração,
Relator Ministra Ana Arraes)
Responsabilidade. Licitação. Parecer jurídico. Erro grosseiro. Obras
e serviços de engenharia. Preço unitário. Critério.
A ausência de critério de aceitabilidade dos preços unitários em edi-
tal de licitação para contratação de obra, em complemento ao critério
de aceitabilidade do preço global, configura erro grosseiro que atrai a
responsabilidade do parecerista jurídico que não apontou a falha no
exame da minuta do ato convocatório, pois deveria saber, como es-
perado do pareceristas médio, quando as disposições editalícias não
estão aderentes aos normativos legais e à jurisprudência.

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 326


Acórdão nº 9.294/2020 – Primeira Câmara (Recurso de Reconsi-
deração, Relator Ministro Bruno Dantas)
Responsabilidade. Culpa. Parecerista. Erro grosseiro. Parecer jurí-
dico.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Para fins do exercício do poder sancionatório do TCU, pode ser


tipificada como erro grosseiro (art. 28 do Decreto-lei 4.657/1942
– Lindb) a aprovação, pelo parecerista jurídico (art. 38, parágrafo
único, da Lei 8.666/1993), de minuta de edital contendo vícios que
não envolvem controvérsias jurídicas ou complexidades técnicas.

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 330


Acórdão nº 10.830/2020 – Primeira Câmara (Recurso de Recon-
sideração, Relator Ministro Vital do Rêgo)
Responsabilidade. Culpa. Parecerista. Parecer jurídico. Contrato
administrativo. Reajuste. Erro grosseiro.
A emissão de parecer jurídico sem abordar a inviabilidade de con-
ceder a empresa contratada pela Administração reajuste de preço
por desconformidade com o art. 40, inciso XI, da Lei 8.666/1993
c/c os arts. 2º e 3º da Lei 10.192/2001 caracteriza erro grosseiro e
acarreta a aplicação de multa ao seu autor.

TCU – Acórdão nº 3.193/2014 – Plenário


Enunciado
Os pareceristas em geral só terão afastada a responsabilidade a
eles eventualmente questionada se seus pareceres estiverem
devidamente fundamentados, albergados por tese aceitável da
doutrina ou da jurisprudência, de forma que guardem forte res-
peito aos limites definidos pelos princípios da moralidade, da le-
galidade, da publicidade, dentre outros.
(Relator: Benjamin Zymler; Data do Julgamento: 19/11/2014)

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 07

No processo de contratação pública, o


parecer jurídico é opinativo ou vinculante? A
autoridade que decide com base em parecer
jurídico afasta sua responsabilidade sob o
argumento de que a análise de legalidade
cabe ao departamento jurídico? O assessor
jurídico pode ser responsabilizado? Quais os
entendimentos do TCU e do STF?

Lei nº 14.133/2021
Art. 53. Ao final da fase preparatória, o processo licitatório seguirá
para o órgão de assessoramento jurídico da Administração, que
realizará controle prévio de legalidade mediante análise jurídica
da contratação.
[...]
§ 2º O parecer jurídico que desaprovar a continuidade da contra-
tação, no todo ou em parte, poderá ser motivadamente rejeitado
pela autoridade máxima do órgão ou entidade, hipótese em que
esta passará a responder pessoal e exclusivamente pelas irregu-
laridades que, em razão desse fato, lhe forem eventualmente im-
putadas. (VETADO.)

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

STF – MS nº 24.584-1/DF – Tribunal Pleno


Ementa
ADVOGADO PÚBLICO – RESPONSABILIDADE – ARTIGO 38 DA LEI
Nº 8.666/93 – TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO – ESCLARECIMEN-
TOS. Prevendo o artigo 38 da Lei nº 8.666/93 que a manifesta-
ção da assessoria jurídica quanto a editais de licitação, contratos,
acordos, convênios e ajustes não se limita a simples opinião, al-
cançando a aprovação, ou não, descabe a recusa à convocação do
Tribunal de Contas da União para serem prestados esclarecimen-
tos.
[...]
Voto do Ministro Joaquim Barbosa
A exigência legal de aprovação das minutas pela assessoria jurídi-
ca da Administração caracteriza, sem dúvida, a vinculação do ato
administrativo ao parecer jurídico favorável. Note-se que a lei não
se contenta em estabelecer a obrigatoriedade da mera existên-
cia de um parecer jurídico de conteúdo opinativo ou informativo.
Não. Ela condiciona a prática dos atos ao exame e à aprovação do
órgão jurídico.
[...]
Voto do Ministro Carlos Ayres Britto
Isso implicou [a previsão, na Lei nº 8.666/93, do art. 38, parágrafo
único}, parece-me uma valorização da carreira jurídica, que tem
uma contrapartida: a maior responsabilidade por parte dos titu-
lares desses órgãos eminentemente jurídicos. Como disse o Mi-

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

nistro Marco Aurélio, a função aqui do parecerista é mais do que


opinativa. Chego a entender que ela tem o caráter até da vinculabi-
lidade, embora essa vinculabilidade seja passível de rejeição motiva-
da do administrador, mas em princípio é vinculativa.
[...]
Manifestação do Ministro Relator Marco Aurélio
[...]. A lei de licitações é explícita ao prever que o ato do procurador
não é simplesmente opinativo; é um ato conclusivo no tocante à
aprovação, ou não. Agora, evidentemente, não vincula o dirigente
da entidade pública que, diante de uma manifestação negativa,
vier a praticar o ato – e será o único responsável.
(Relator: Marco Aurélio; Data do Julgamento: 09/08/2007)

TCU – Acórdão nº 723/2005 – Plenário


Enunciado
Os pareceres técnicos e jurídicos não são vinculantes ao gestor, o
que não significa ausência de responsabilidade daqueles que os
firmam. Tem o administrador obrigação de examinar a correção
dos pareceres, até mesmo para corrigir eventuais disfunções na
administração.
(Relator: Ubiratan Aguiar; Data do julgamento: 08/06/2005)

TCU – Informativo de Jurisprudência nº 143


4. A falta de implementação do encaminhamento apontado no
parecer jurídico de que tratam o inciso VI e o parágrafo único

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

do art. 38 da Lei nº 8.666/1993 demanda a explicitação, por es-


crito, dos motivos que embasam a solução adotada e sujeita o
gestor às consequências de tal ato, caso se confirmem as irre-
gularidades apontadas pelo órgão jurídico
Ainda no âmbito da Representação acerca de supostas irregula-
ridades relativas a processos licitatórios conduzidos pelo Institu-
to Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o relator destacou que,
“mesmo que a administração contratante desejasse seguir adian-
te com a contratação pretendida, contrariando, eventualmente,
parecer jurídico sobre o assunto, necessitar-se-ia da aposição de
justificativa para tanto, no processo licitatório”. Recorreu ao Acór-
dão 147/2006 – Plenário, segundo o qual o parecer jurídico emi-
tido para fins de controle prévio da licitude dos procedimentos
licitatórios e dos documentos mencionados no parágrafo único
do art. 38 da Lei de Licitações “não possui um caráter meramente
opinativo ...”. Mencionou ainda trecho do Acórdão 462/2003 – Ple-
nário que respalda esse entendimento: “O parecer jurídico emiti-
do por consultoria ou assessoria jurídica de órgão ou entidade,
via de regra acatado pelo ordenador de despesas, constitui fun-
damentação jurídica e integra a motivação da decisão adotada.”
Com fundamento nos precedentes citados, concluiu que “o ges-
tor público, quando discordar dos termos do parecer jurídico cuja
emissão está prevista no inciso VI e no parágrafo único do art. 38
da Lei nº 8.666/1993, deverá apresentar por escrito a motivação
dessa discordância”. O Tribunal, então, ao acolher proposta do re-
lator, decidiu, em relação a essa questão, dar ciência ao Inpe de
que, “caso venha discordar dos termos do parecer jurídico, cuja

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

emissão está prevista no inciso VI e no parágrafo único do art. 38


da Lei nº 8.666/1993, deverá apresentar por escrito a motivação
dessa discordância antes de prosseguir com os procedimentos
relativos à contratação, arcando, nesse caso, integralmente com
as consequências de tal ato, na hipótese de se confirmarem, pos-
teriormente, as irregularidades apontadas pelo órgão jurídico”.
Precedentes mencionados: Acórdão 147/2006-Plenário, Acór-
dão 462/2003 – Plenário. Acórdão nº 521/2013 – Plenário, TC
009.570/2012-8, Rel. Min.-Subs. Augusto Sherman Cavalcanti,
13/03/2013.

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 90


Acórdão 1656/2015-TCU-Plenário (Relatório de Auditoria, Re-
lator Ministro Substituto Marcos Bemquerer)
Responsabilidade. Contrato. Parecerista jurídico.
Ainda que a natureza opinativa do parecer jurídico afaste, em re-
gra, a responsabilidade de seu emitente, essa subsiste, caso se de-
monstre culpa ou erro grosseiro.

57
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

QUESTÃO 08

De acordo com a nova Lei, em que casos e


quais as condições para que a defesa dos
agentes públicos, nas esferas administrativa,
controladora e judicial, possa ser
realizada pela Advocacia Pública? Quais os
entendimentos do TCU sobre esse tema?

Lei nº 14.133/2021
Art. 10. Se as autoridades competentes e os servidores públicos
que tiverem participado dos procedimentos relacionados às lici-
tações e aos contratos de que trata esta Lei precisarem defender-
-se nas esferas administrativa, controladora ou judicial em razão
de ato praticado com estrita observância de orientação constante
em parecer jurídico elaborado na forma do § 1º do art. 53 desta
Lei, a advocacia pública promoverá, a critério do agente público,
sua representação judicial ou extrajudicial.
§ 1º Não se aplica o disposto no caput deste artigo quando:
I – o responsável pela elaboração do parecer jurídico não perten-
cer aos quadros permanentes da Administração; (VETADO.)
II – provas da prática de atos ilícitos dolosos constarem nos autos
do processo administrativo ou judicial.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

§ 2º Aplica-se o disposto no caput deste artigo inclusive na hipó-


tese de o agente público não mais ocupar o cargo, emprego ou
função em que foi praticado o ato questionado. .

Lei nº 9.028/1995
Art. 22. A Advocacia-Geral da União e os seus órgãos vinculados,
nas respectivas áreas de atuação, ficam autorizados a representar
judicialmente os titulares e os membros dos Poderes da Repú-
blica, das Instituições Federais referidas no Título IV, Capítulo IV,
da Constituição, bem como os titulares dos Ministérios e demais
órgãos da Presidência da República, de autarquias e fundações
públicas federais, e de cargos de natureza especial, de direção e
assessoramento superiores e daqueles efetivos, inclusive promo-
vendo ação penal privada ou representando perante o Ministério
Público, quando vítimas de crime, quanto a atos praticados no
exercício de suas atribuições constitucionais, legais ou regula-
mentares, no interesse público, especialmente da União, suas res-
pectivas autarquias e fundações, ou das Instituições menciona-
das, podendo, ainda, quanto aos mesmos atos, impetrar habeas
corpus e mandado de segurança em defesa dos agentes públicos
de que trata este artigo.

59
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Notícias STF
OAB questiona a constitucionalidade da defesa de agentes pú-
blicos pela AGU
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
ajuizou no Supremo Tribunal Federal uma Ação Direta de Incons-
titucionalidade (ADI 2888), com pedido de liminar, contra o artigo
22 da Lei 9.028/95, o qual alterou as atribuições institucionais da
Advocacia-Geral da União previstas no Código de Processo Civil.
Segundo a OAB, desde 12 de abril de 1995, quando foi editada
a lei, as sucessivas alterações na redação desse artigo, por Medi-
da Provisória e outra Lei, provocaram um progressivo e constante
aumento da competência da AGU para defender as pessoas dos
agentes públicos.
A entidade acusa que a cada mudança do texto legal, “foram
acrescentadas novas atribuições, novas pessoas a serem defendi-
das por conta do erário público e por supostos danos que causa-
ram ao próprio erário”.
A ação aponta violação ao artigo 131 da Constituição Federal, que
trata da AGU. O texto do dispositivo dispõe que “a Advocacia-Ge-
ral da União é instituição que, diretamente ou através de órgão
vinculado, representa a União, judicial ou extrajudicialmente [...]”.
De acordo com a OAB, a norma constitucional não permite a defe-
sa de interesses dos servidores públicos que, por terem praticado
atos em tese prejudiciais ao Estado, estão por elas respondendo.
“A criação dessa verdadeira defensoria dos servidores não encon-
tra suporte”, conclui.

60
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

A atual redação do artigo 22 da Lei 9.028/95 prevê que cabe à


Advocacia-Geral da União “a representação judicial dos titulares
dos Poderes da República, de órgãos da Administração Pública
Federal direta, e de ocupantes de cargos e funções de direção em
autarquias e fundações públicas federais, concernente a atos pra-
ticados no exercício de suas atribuições institucionais ou legais,
competindo-lhe, inclusive, a impetração de mandado de segu-
rança em nome desses titulares ou ocupantes para defesa de suas
atribuições legais. (Redação da pela Lei nº 9.649, de 27.5.1998)”.
(STF – Supremo Tribunal Federal. OAB questiona a constitucionalidade
da defesa de agentes públicos pela AGU. 20 maio 2003. Disponível
em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.
asp?idConteudo=60507. Acesso em: 22 fev. 2021)

STJ – Agravo Regimental no REsp nº 681.571/GO


Ementa
PROCESSUAL CIVIL – ADMINISTRATIVO – DISSÍDIO JURISPRUDEN-
CIAL CONFIGURADO – CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO ES-
PECIAL – CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO PRIVADO PARA DEFESA
DE PREFEITO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA – ATO DE IMPROBIDADE.
1. Merece ser conhecido o recurso especial, se devidamente confi-
gurado o dissídio jurisprudencial alegado pelo recorrente.
2. Se há para o Estado interesse em defender seus agentes políti-
cos, quando agem como tal, cabe a defesa ao corpo de advoga-
dos do Estado, ou contratado às suas custas.
3. Entretanto, quando se tratar da defesa de um ato pessoal do
agente político, voltado contra o órgão público, não se pode ad-

61
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

mitir que, por conta do órgão público, corram as despesas com a


contratação de advogado. Seria mais que uma demasia, consti-
tuindo-se em ato imoral e arbitrário.
4. Agravo regimental parcialmente provido, para conhecer em
parte do recurso especial.
5. Recurso especial improvido.
(Relatora: Eliana Calmon; Data do Julgamento: 06/06/2006)

TCU – Acórdão nº 1.318/2006 – Plenário


Voto
54. Outro ponto evidenciado no Relatório que contribui para fra-
gilizar as atividades de fiscalização refere-se ao fato de que os fis-
cais federais agropecuários sentem-se intimidados ao exercer as
atribuições do cargo em razão da possibilidade de serem proces-
sados por perdas e danos, principalmente por empresas importa-
doras. A intimidação se dá devido à existência de ações propostas
diretamente contra os fiscais, em vez de contra a União, não ha-
vendo, todavia, apoio jurídico para que os fiscais sejam auxiliados
em sua defesa.
55. A situação decorre da falta de conhecimento dos fiscais agro-
pecuários federais, da Gerência do Programa Vigiagro, bem como
da consultoria jurídica do MAPA, sobre as disposições do art. 22
da Lei nº 9.028/95, que prevê a possibilidade de serem assessora-
dos e representados juridicamente pela Advocacia Geral da União
– AGU. Sobre a questão, entende-se, ainda, que não seja correto o
ajuizamento de ações diretamente contra os fiscais, porquanto o

62
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

Estado tem responsabilidade objetiva, direta, pelos atos comissi-


vos e omissivos de seus agentes, resguardado o direito de regres-
so contra estes, no caso de comprovação de dolo ou culpa.
[...]
Acórdão
9.1. com fulcro no art. 250, III, do RI/TCU, recomendar à Secretaria
de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (SDA/MAPA) a adoção das seguintes medidas:
[...]
9.1.3. oriente os fiscais federais agropecuários sobre os procedi-
mentos a serem adotados, caso figurem como réus em ações ju-
diciais em razão de atos efetuados em decorrência do exercício
das atribuições do cargo, inclusive sobre a possibilidade de soli-
citarem assistência jurídica nos núcleos locais da Advocacia Geral
da União;
(Relator: Benjamin Zymler; Data do Julgamento: 02/08/2006)

Portaria nº 428/2019 – AGU


Art. 1º Esta Portaria disciplina os procedimentos relativos à repre-
sentação judicial dos agentes públicos de que tratam o art. 22 da
Lei nº 9.028, de 12 de abril de 1995, e o § 11 do art. 5º da Lei nº
11.473, de 2007, pela Advocacia-Geral da União e pela Procurado-
ria-Geral Federal.
Art. 2º A representação de agentes públicos em juízo somente
ocorrerá mediante solicitação do interessado e desde que o fato
questionado tenha ocorrido no exercício de suas atribuições cons-

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

AGENTES PÚBLICOS QUE ATUAM NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, RESPONSABILIDADE E O CONTROLE DAS CONTRATAÇÕES

titucionais, legais ou regulamentares, devendo o requerimento


demonstrar a existência de interesse público da União, suas res-
pectivas autarquias e fundações ou das Instituições mencionadas
no art. 22 da Lei nº 9.028, de 1995.
§ 1º O pedido de representação judicial poderá ser formulado,
independentemente de citação, intimação ou notificação do in-
teressado, a partir da distribuição dos autos do processo judicial
ou da instauração de procedimento antecedente à propositura de
ação judicial, observado o disposto nos arts. 5º e 6º.
§ 2º Na hipótese do § 1º, caberá ao requerente encaminhar cópia
do instrumento de citação, intimação ou notificação no prazo de
até 72 (setenta e duas) horas, contado do recebimento da comu-
nicação processual.

64
AULA 2
Responsabilidade dos agentes por
ações e omissões

Professor:

Ricardo Alexandre Sampaio


Advogado. Consultor na área de licita-
ções e contratos. Foi Diretor Técnico da
Consultoria Zênite. Integrante da Equipe
de Redação das Soluções Zênite e da
Equipe de Consultores Zênite. Colabo-
rador da obra Lei de licitações e contratos
anotada (6. ed. Zênite, 2005). Autor de
diversos artigos jurídicos.
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 09
Pela mesma falha, pode ser responsabilizado mais de um agente, por exemplo,
o fiscal, o assessor jurídico e também a autoridade competente? Qual o
entendimento do TCU?

O CONTEXTO DA
RESPONSABILIZAÇÃO
Qualquer agente público Atos que envolvem a
pode ser responsabilizado participação de mais de um
quando praticar um ato agente em sua realização,
considerado ilícito pela podem resultar na
ordem jurídica. A responsabilidade será responsabilização de tantos
atribuída ao agente que sujeitos quantos forem os
praticou a conduta causadores da irregularidade.
determinante do ilícito.

66
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

TCU – Acórdão nº 362/2015 – Plenário


Enunciado
Faz-se necessário que o agente público participe da cadeia causal
apta a gerar o dano, para que possa efetivamente ser responsabi-
lizado.
(Relator: Marcos Bemquerer Costa; Data do Julgamento: 04/03/2015)

TCU – Acórdão nº 2.781/2016 – Plenário


Enunciado
A decisão adotada com base em pareceres técnicos não afasta,
por si só, a responsabilidade da autoridade hierarquicamente su-
perior por atos considerados irregulares, uma vez que o parecer
técnico não vincula o gestor, que tem a obrigação de examinar a
sua correção, em razão do dever legal de supervisão que lhe cabe.
(Relator: Benjamin Zymler; Data do Julgamento: 01/11/2016)

TCU – Acórdão nº 2.011/2016 – Plenário


Enunciado
A existência de parecer de consultoria ou procuradoria jurídica
somente afasta a responsabilidade do gestor quando a matéria
for extremamente técnica e de difícil detecção pelo responsável.
(Relator: Marcos Bemquerer Costa; Data do Julgamento: 03/08/2016)

67
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

TCU – Acórdão nº 10.642/2015 – Segunda Câmara


Enunciado
A responsabilização do gestor que age com base em parecer téc-
nico deve estar fundamentada em prova concreta e objetiva de
que o parecer apresentava falhas perceptíveis por qualquer ad-
ministrador de conhecimento mediano, especialmente quando
emitido no exercício regular das funções do técnico e não por de-
legação de competência.
(Relatora: Ana Arraes; Data do Julgamento: 17/11/2015)

68
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 10

O que significa afirmar que o agente pode


responder administrativa, civil e penalmente?
O que envolve as esferas administrativas,
controladora e judicial?

Lei nº 8.112/1990
Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativamente
pelo exercício irregular de suas atribuições.
Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou co-
missivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou
a terceiros.
[...]
§ 2º Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o servi-
dor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva.
[...]
Art. 123. A responsabilidade penal abrange os crimes e contra-
venções imputadas ao servidor, nessa qualidade.
Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato omis-
sivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou função.
Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas poderão cumu-
lar-se, sendo independentes entre si.

69
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será afas-


tada no caso de absolvição criminal que negue a existência do
fato ou sua autoria.

Lei nº 8.443/1992
Art. 56. O Tribunal de Contas da União poderá aplicar aos admi-
nistradores ou responsáveis, na forma prevista nesta Lei e no seu
Regimento Interno, as sanções previstas neste capítulo.
Seção II – Multas
Art. 57. Quando o responsável for julgado em débito, poderá ain-
da o Tribunal aplicar-lhe multa de até cem por cento do valor atu-
alizado do dano causado ao Erário.
Art. 58. O Tribunal poderá aplicar multa de Cr$ 42.000.000,00
(quarenta e dois milhões de cruzeiros), ou valor equivalente em
outra moeda que venha a ser adotada como moeda nacional, aos
responsáveis por:
I - contas julgadas irregulares de que não resulte débito, nos ter-
mos do parágrafo único do art. 19 desta Lei;
II - ato praticado com grave infração à norma legal ou regulamentar de
natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;
III - ato de gestão ilegítimo ou antieconômico de que resulte in-
justificado dano ao Erário;
IV - não atendimento, no prazo fixado, sem causa justificada, a
diligência do Relator ou a decisão do Tribunal;
V - obstrução ao livre exercício das inspeções e auditorias deter-
minadas;

70
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

VI - sonegação de processo, documento ou informação, em inspe-


ções ou auditorias realizadas pelo Tribunal;
VII - reincidência no descumprimento de determinação do Tribunal.
§ 1° Ficará sujeito à multa prevista no caput deste artigo aquele
que deixar de dar cumprimento à decisão do Tribunal, salvo mo-
tivo justificado.
§ 2° O valor estabelecido no caput deste artigo será atualizado,
periodicamente, por portaria da Presidência do Tribunal, com
base na variação acumulada, no período, pelo índice utilizado
para atualização dos créditos tributários da União.
[...]
Art. 60. Sem prejuízo das sanções previstas na seção anterior e
das penalidades administrativas, aplicáveis pelas autoridades
competentes, por irregularidades constatadas pelo Tribunal de
Contas da União, sempre que este, por maioria absoluta de seus
membros, considerar grave a infração cometida, o responsável fi-
cará inabilitado, por um período que variará de cinco a oito anos,
para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no
âmbito da Administração Pública.

Portaria-TCU nº 15, de 15 de janeiro de 2021


Art. 1º É fixado em R$ 67.854,38 (sessenta e sete mil, oitocentos e
cinquenta e quatro reais e trinta e oito centavos), para o exercício
de 2021, o valor máximo da multa a que se refere o caput do art.
58 da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992.

71
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 11

O que é e como caracterizar o erro grosseiro


e o que significa isso no contexto da
responsabilização? Quais as orientações do
TCU sobre a caracterização de erro grosseiro?
Essa avaliação se altera de acordo com o
regime previsto na nova Lei?

Decreto-Lei nº 4.657/1942 (LINDB)


Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas de-
cisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro.

Decreto nº 9.830/2019
Art. 12. O agente público somente poderá ser responsabilizado
por suas decisões ou opiniões técnicas se agir ou se omitir com
dolo, direto ou eventual, ou cometer erro grosseiro, no desempe-
nho de suas funções.
§ 1º Considera-se erro grosseiro aquele manifesto, evidente e
inescusável praticado com culpa grave, caracterizado por ação ou
omissão com elevado grau de negligência, imprudência ou impe-
rícia.

72
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

§ 2º Não será configurado dolo ou erro grosseiro do agente públi-


co se não restar comprovada, nos autos do processo de responsa-
bilização, situação ou circunstância fática capaz de caracterizar o
dolo ou o erro grosseiro.
§ 3º O mero nexo de causalidade entre a conduta e o resultado
danoso não implica responsabilização, exceto se comprovado o
dolo ou o erro grosseiro do agente público.
§ 4º A complexidade da matéria e das atribuições exercidas pelo
agente público serão consideradas em eventual responsabiliza-
ção do agente público.
§ 5º O montante do dano ao erário, ainda que expressivo, não po-
derá, por si só, ser elemento para caracterizar o erro grosseiro ou
o dolo.
§ 6º A responsabilização pela opinião técnica não se estende de
forma automática ao decisor que a adotou como fundamento de
decidir e somente se configurará se estiverem presentes elemen-
tos suficientes para o decisor aferir o dolo ou o erro grosseiro da
opinião técnica ou se houver conluio entre os agentes.
§ 7º No exercício do poder hierárquico, só responderá por culpa in
vigilando aquele cuja omissão caracterizar erro grosseiro ou dolo.
§ 8º O disposto neste artigo não exime o agente público de atuar
de forma diligente e eficiente no cumprimento dos seus deveres
constitucionais e legais.

73
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO E O ERRO GROSSEIRO

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 228


Acórdão 1628/2018-TCU-Plenário (Auditoria, Relator Ministro
Benjamin Zymler)
Responsabilidade. Culpa. Erro grosseiro. Conduta.
A conduta culposa do responsável que foge ao referencial do “ad-
ministrador médio” utilizado pelo TCU para avaliar a razoabilidade
dos atos submetidos a sua apreciação caracteriza o “erro grosseiro”
a que alude o art. 28 do Decreto-lei 4.657/1942 (Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro), incluído pela Lei 13.655/2018.

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 308


Acórdão nº 4.447/2020 – Segunda Câmara (Representação, Re-
lator Ministro Aroldo Cedraz)
Responsabilidade. Culpa. Erro grosseiro. Caracterização.
Para fins de responsabilização perante o TCU, considera-se erro
grosseiro (art. 28 do Decreto-lei 4.657/1942 – Lindb) aquele que
pode ser percebido por pessoa com diligência abaixo do normal
ou que pode ser evitado por pessoa com nível de atenção aquém
do ordinário, decorrente de grave inobservância de dever de cui-
dado.

74
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

TCU – Acórdão nº 2.924/2018 – Plenário


Enunciado
Para fins do exercício do poder sancionatório do TCU, erro grossei-
ro é o que decorreu de grave inobservância do dever de cuidado,
isto é, que foi praticado com culpa grave.
(Relator: José Múcio Monteiro; Data do Julgamento: 12/12/2018)

75
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 12

O TCU tem entendimento de que a reparação


de dano ao erário decorre de dolo ou culpa,
sem qualquer gradação. Qual o impacto
concreto desse entendimento e de que forma
pode interferir na eficácia das alterações
implementadas pela LINDB?

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 320


Acórdão nº 7.982/2020 – Primeira Câmara (Recurso de Reconsi-
deração, Relator Ministro Benjamin Zymler)
Responsabilidade. Débito. Culpa. Dolo. Requisito. Lei de Introdu-
ção às Normas do Direito Brasileiro.
Enunciado
O dever de indenizar os prejuízos ao erário permanece sujeito à
comprovação de dolo ou culpa, sem qualquer gradação, como é de
praxe no âmbito da responsabilidade aquiliana, inclusive para fins
do direito de regresso (art. 37, § 6º, da Constituição Federal). As al-
terações promovidas no Decreto-lei 4.657/1942 (Lei de Introdução
às Normas do Direito Brasileiro - Lindb) pela Lei 13.655/2018, em
especial a inclusão do art. 28, ou mesmo a regulamentação trazida
pelo Decreto 9.830/2019, não provocaram modificação nos requisi-
tos necessários para a responsabilidade financeira por débito.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

TCU – Acórdão nº 5.547/2019 – Primeira Câmara


Enunciado
A regra prevista no art. 28 da Lindb (Decreto-lei 4.657/1942) , que
estabelece que o agente público só responderá pessoalmente por
suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro gros-
seiro, não se aplica à responsabilidade financeira por dano ao erá-
rio. O dever de indenizar prejuízos aos cofres públicos permanece
sujeito à comprovação de dolo ou culpa, sem qualquer gradação,
tendo em vista o tratamento constitucional dado à matéria (art.
37, § 6º, da Constituição Federal).
(Relator: Benjamin Zymler; Data do Julgamento: 09/07/2019)

77
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 13

A ação de regresso para reparação de dano ao


erário é imprescritível? Qual o entendimento
do STF sobre o tema?

AÇÃO DE REGRESSO
REPARAÇÃO DE DANO
AO ERÁRIO

IMPRESCRITÍVEL PRESCRITÍVEL
(TCU) (STF)

Constituição Federal
Art. 37. [...]
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspen-
são dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponi-
bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada-
ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pratica-
dos por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos
ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

78
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

TCU – Súmula nº 282


As ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes
causadores de danos ao erário são imprescritíveis.
(DOU 20/08/2012)

STF – Recurso Extraordinário nº 669.069/MG –


Plenário
Ementa
CONSTITUCIONAL E CIVIL. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. IMPRES-
CRITIBILIDADE. SENTIDO E ALCANCE DO ART. 37, § 5º, DA CONSTI-
TUIÇÃO.
1. É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública
decorrente de ilícito civil.
2. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(Relator: Teori Zavascki; Data do Julgamento: 03/02/2016)

STF – Emb. Decl. nos Emb. Decl. no AgReg. no AI nº


481.650/SP – Segunda Turma
Ementa
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. IM-
PRESCRITIBILIDADE. REPARAÇÃO DE DANOS. IMPROBIDADE AD-
MINISTRATIVA E ILÍCITO PENAL. PRESCRITIBILIDADE. ILÍCITO CIVIL.
PRAZO. OFENSA INDIRETA. AI INTERPOSTO SOB A VIGÊNCIA DO
CPC DE 1973. ARTIGO 1.033 DO CPC/2015. INAPLICABILIDADE.

79
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

EMBARGOS ACOLHIDOS, EM PARTE, PARA PRESTAR ESCLARECI-


MENTOS.
I – A imprescritibilidade prevista no art. 37, § 5°, da Constituição
Federal, diz respeito apenas a ações de ressarcimento de danos
decorrentes de ilegalidades tipificadas como de improbidade ad-
ministrativa e como ilícitos penais. É prescritível a ação de repa-
ração de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil (RE
669.069-RG/MG, Relator Ministro Teori Zavascki).
(Relator: Ricardo Lewandowski; Data do Julgamento: 31/08/2017)

Notícias STF
Quarta-feira, 03 de fevereiro de 2016
STF decide que há prescrição em danos à Fazenda Pública de-
correntes de ilícito civil
Na sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF) desta quar-
ta-feira (3), os ministros firmaram tese de repercussão geral no
sentido de que “é prescritível a ação de reparação de danos à Fa-
zenda Pública decorrente de ilícito civil”. Essa tese foi elaborada
no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 669069 em que se
discute o prazo de prescrição das ações de ressarcimento por da-
nos causados ao erário, entretanto essa tese não alcança prejuízos
que decorram de ato de improbidade administrativa, tema não
discutido nesse recurso.
Conforme o recurso, a União propôs ação de ressarcimento contra
uma empresa de transporte rodoviário e um de seus motoristas
por entender que houve culpa exclusiva do condutor do ônibus

80
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

em batida contra uma viatura da Companhia da Divisão Anfíbia


da Marinha, ocorrida no dia 20 de outubro de 1997 em uma rodo-
via no Estado de Minas Gerais. Naquele ano ainda vigorava o Có-
digo Civil de 1916, que estabelecia prazo para efeito de prescrição
das pretensões reparatórias de natureza civil. No entanto, a ação
foi ajuizada pela União em 2008, quando vigorava o Código Civil
de 2002.
O RE foi interposto pela União contra acórdão do Tribunal Regio-
nal Federal da 1ª Região (TRF-1) que aplicou o prazo prescricional
de cinco anos para confirmar sentença que extinguiu a ação de
ressarcimento por danos causados ao patrimônio público, decor-
rente do acidente. A União alegava a imprescritibilidade do prazo.
A maioria dos ministros acompanhou o voto do relator, ministro
Teori Zavascki, que negou provimento ao recurso, bem como a
tese proposta pelo ministro Luís Roberto Barroso no sentido de
que, em se tratando de ilícitos civis, há a incidência da prescrição.
De acordo com o relator do processo, a ressalva contida na parte
final do parágrafo 5º do artigo 37 da Constituição Federal, que
remete a lei a fixação de prazos de prescrição para ilícitos que
causem prejuízos ao erário, mas excetua respectivas ações de
ressarcimento, deve ser entendida de forma estrita. Segundo ele,
uma interpretação ampla da ressalva final conduziria à imprescri-
tibilidade de toda e qualquer ação de ressarcimento movida pelo
erário, mesmo as fundadas em ilícitos civis que não decorram de
culpa ou dolo.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

Na sessão de hoje, o ministro Dias Toffoli apresentou voto-vista


e acompanhou o relator. Toffoli lembrou que o caso trata da pos-
sibilidade de o direito do ente público à reparação de danos em
decorrência de acidente de trânsito poder ser alcançado ou não
pela prescrição. “Não há no tema de fundo discussão quanto à
improbidade administrativa nem mesmo de ilícitos penais que
impliquem em prejuízos ao erário ou, ainda, das demais hipóte-
ses de atingimento do patrimônio estatal nas suas mais variadas
formas”, destacou. “Portanto, não há como se debater sobre todo
o comando jurídico do artigo 37, parágrafo 5º”, completou o mi-
nistro.
Também votaram na sessão de hoje, com o relator, os ministros
Gilmar Mendes, Carmen Lúcia, Marco Aurélio, Celso de Mello e o
presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski. Ficou vencido
o ministro Edson Fachin, que votou no sentido de dar provimento
ao RE, determinando o retorno do processo ao TRF-1, se superada
a questão da prescrição pelo Supremo, a fim de que fosse julgada
a matéria de fundo, ainda não apreciada naquela instância.
O ministro Ricardo Lewandowski observou que, no meio acadê-
mico, os professores costumam lembrar que “a prescrição visa
impedir que o cidadão viva eternamente com uma espada de Dâ-
mocles na cabeça”. O ministro também citou o jurista Clóvis Bevi-
láqua que dizia que o fundamento da prescrição é a necessidade
de se assegurar a ordem e a paz na sociedade. “Me parece abso-
lutamente inafastável a necessidade de garantir-se, por meio da
prescrição, certeza e segurança nas relações sociais, sobretudo no
campo patrimonial”, ressaltou.

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

Notícias STF
Quarta-feira, 08 de agosto de 2018
STF reconhece imprescritibilidade de ação de ressarcimento
decorrente de ato doloso de improbidade
Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal
(STF) reconheceu a imprescritibilidade de ações de ressarcimento
de danos ao erário decorrentes de ato doloso de improbidade ad-
ministrativa. A decisão foi tomada na tarde desta quarta-feira (8)
no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 852475, com reper-
cussão geral reconhecida. Com o julgamento, a decisão deverá
ser aplicada em aproximadamente 1 mil processos semelhantes
em instâncias inferiores.
No caso concreto se questionou acórdão do Tribunal de Justiça
de São Paulo (TJ-SP) que declarou a prescrição de ação civil públi-
ca movida contra funcionários da Prefeitura de Palmares Paulista
(SP) envolvidos em processo de licitação considerado irregular, e
extinguiu a ação. Ao prover parcialmente o recurso, o STF deter-
minou o retorno dos autos ao tribunal de origem para que, uma
vez afastada a prescrição, examine o pedido de ressarcimento do
erário com base nas condições fixadas pelo Plenário.
Julgamento
O julgamento teve início na última quinta-feira (2), quando cinco
ministros acompanharam o voto do relator, ministro Alexandre
de Moraes, no sentido do desprovimento do recurso do Ministé-
rio Público estadual, entendendo aplicar-se ao caso o prazo de
prescrição previsto na legislação de improbidade administrativa

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

(Lei 8.429/1992), de cinco anos. O ministro Edson Fachin, acompa-


nhado da ministra Rosa Weber, divergiu do relator por entender
que o ressarcimento do dano oriundo de ato de improbidade ad-
ministrativa é imprescritível, em decorrência da ressalva estabe-
lecida no parágrafo 5º do artigo 37 da Constituição Federal, e da
necessidade de proteção do patrimônio público.
Na sessão desta quarta-feira (8), o julgamento foi retomado com
o voto do ministro Marco Aurélio, que acompanhou o relator. Para
o ministro, a Constituição não contempla a imprescritibilidade de
pretensões de cunho patrimonial. “Nos casos em que o Consti-
tuinte visou prever a imprescritibilidade, ele o fez. Não cabe ao
intérprete excluir do campo da aplicação da norma situação jurí-
dica contemplada, como não cabe também incluir situação não
prevista”, disse.
Já para o ministro Celso de Mello, que votou em seguida, houve,
por escolha do poder constituinte originário, a compreensão da
coisa pública como um compromisso fundamental a ser protegi-
do por todos. “O comando estabelece, como um verdadeiro ide-
al republicano, que a ninguém, ainda que pelo longo transcurso
de lapso temporal, é autorizado ilicitamente causar prejuízo ao
erário, locupletando-se da coisa pública ao se eximir do dever de
ressarci-lo”, ressaltou, ao acompanhar a divergência. A presidente
do STF, ministra Cármen Lúcia, votou no mesmo sentido.
Na sessão de hoje, o ministro Luís Roberto Barroso, que já havia
acompanhado o relator na semana passada, reajustou seu voto
e se manifestou pelo provimento parcial do recurso, restringin-
do no entanto a imprescritibilidade às hipóteses de improbidade

84
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

dolosa, ou seja, quando o ato de improbidade decorrer em en-


riquecimento ilícito, favorecimento ilícito de terceiros ou causar
dano intencional à administração pública. O ministro Luiz Fux,
que também já havia seguido o relator, reajustou seu voto nesse
sentido. Todos os ministros que seguiram a divergência (aberta
pelo ministro Edson Fachin) alinharam seus votos a essa proposta,
formando assim a corrente vencedora.
Integraram a corrente vencida os ministros Alexandre de Moraes
(relator), Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, que
mantiveram os votos já proferidos na semana passada, e o minis-
tro Marco Aurélio.
Tese
Foi aprovada a seguinte tese proposta pelo ministro Edson Fa-
chin, para fins de repercussão geral: “São imprescritíveis as ações
de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipi-
ficado na Lei de Improbidade Administrativa”.

TCU – Acórdão nº 7.687/2020 – Primeira Câmara


Sumário
RECURSOS DE RECONSIDERAÇÃO EM TOMADA DE CONTAS ES-
PECIAL. PLANO NACIONAL DE QUALIFICAÇÃO (PNQ). CONVÊNIO
MTE/SPPE/CODEFAT 48/2004-SERT/SP. SUBCONVÊNIO SERT/SINE/
SP 95/2004. IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO FÍSICA E FINAN-
CEIRA. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE OS RECUR-
SOS REPASSADOS E AS DESPESAS INCORRIDAS. DEFICIÊNCIA NA
FISCALIZAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DA AVENÇA. CONTAS IR-

85
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

REGULARES. DÉBITO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. CO-


NHECIMENTO DOS RECURSOS. NEGATIVA DE PROVIMENTO.
Acórdão
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reuni-
dos em sessão da Primeira Câmara, ante as razões expostas pelo
relator e com fundamento nos artigos 32, inciso I, e 33 da Lei
8.443/1992, em:
9.1. conhecer dos recursos de reconsideração para, no mérito, ne-
gar-lhes provimento;
[...]
Relatório
5. Da alegada prescrição do débito
5.1. Os recorrentes [...] arguem pela prescrição do débito, tendo
em vista os seguintes fundamentos:
a) recente julgamento do Recurso Extraordinário nº 669.069/MG
pelo STF, interposto contra decisão proferida pelo TRF 1ª Região,
reconheceu a repercussão geral do tema (Tema 66614) , e firmou
entendimento de estar prescrita a ação de ressarcimento de da-
nos materiais promovidos com fundamento em acidente de trân-
sito. (DJe de 3/8/2013, Tema 666: imprescritibilidade das ações de
ressarcimento por danos causados ao erário, ainda que o prejuízo
não decorra de ato de improbidade administrativa) (peça 73, p. 5);
[...]
d) o lapso prescricional já ocorreu definitivamente e uma vez
ocorrida a prescrição do direito de ação, pelo decurso do prazo,

86
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

a extinção do processo com resolução do mérito se perfaz nos


termos do artigo 487, II do CPC (peça 62, p. 5-6);
[...]
Análise
5.2. Os argumentos dos recorrentes não merecem prosperar.
5.3. No tocante à alegada repercussão geral do RE 669.069, vale
dizer que tal tema foi acuradamente analisado por este Tribunal.
Nesse sentido, vale transcrever elucidativo trecho do voto funda-
mentador do Acórdão ora vergastado (peça 53, p. 3) :
23. Em específico sobre a alegação de prescrição tendo por base
a tese fixada pelo STF no RE 669.069 (Repercussão Geral 666) ,
inviável a sua aplicação ao caso concreto. O mencionado Recurso
Extraordinário trata da incidência da prescrição nos débitos com
a União decorrentes de ilícitos civis (prazo prescricional de cinco
anos), não alcançando os prejuízos que decorram de ilícitos admi-
nistrativos, como a não comprovação da regular gestão de recur-
sos públicos, que são imprescritíveis, consoante entendimento
fixado na Súmula-TCU 282.
[...]
5.9. Ou seja, até decisão definitiva em contrário do Pretório Excel-
so, permanecem imprescritíveis as pretensões de ressarcimento
ao erário decorrentes de processos de tomada de contas especial
que tramitam perante o TCU, conforme tese firmada pelo Supre-
mo no MS 26.210/DF, motivo pelo qual rejeita-se a preliminar de
prescrição arguida pelo recorrente para o ressarcimento do débi-
to.

87
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

5.10. Logo, enquanto não sobrevier interpretação eventualmente


restritiva por parte da Suprema Corte, não cabe outra leitura do
texto constitucional, cujo teor é sublinhado no âmbito do proces-
so administrativo de controle externo pela Súmula-TCU 282.
[...]
5.12. Portanto, o débito apurado não está fulminado por prescri-
ção, ressalvada eventual manifestação em sentido contrário do
STF (tema 899 da repercussão geral) que venha a ser externada
antes da respectiva quitação levada a termo espontaneamente
ou por meio de execução forçada.
(Relator: Walton Alencar Rodrigues; Data do Julgamento: 14/07/2020)

88
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 14

De acordo com as alterações da LINDB, para a


aplicação de sanções, devem ser ponderadas a
natureza e a gravidade da infração cometida,
os danos para a Administração Pública, as
circunstâncias agravantes ou atenuantes e os
antecedentes do agente. Esse balizamento
para a dosimetria de sanções está alinhado
com os julgados dos tribunais e dos órgãos
de controle? Isso se altera de acordo com a
disciplina da nova Lei?

Natureza e gravidade da infração cometida


Danos para a Administração Pública
APLICAÇÃO Circunstâncias agravantes ou atenuantes
DE SANÇÕES Antecedentes do agente

89
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

Lei nº 14.133/2021
Art. 156. Serão aplicadas ao responsável pelas infrações adminis-
trativas previstas nesta Lei as seguintes sanções:
[...]
§ 1º Na aplicação das sanções serão considerados:
I - a natureza e a gravidade da infração cometida;
II - as peculiaridades do caso concreto;
III - as circunstâncias agravantes ou atenuantes;
IV - os danos que dela provierem para a Administração Pública;
V - a implantação ou o aperfeiçoamento de programa de integri-
dade, conforme normas e orientações dos órgãos de controle.

TCU – Acórdão nº 2.463/2019 – Primeira Câmara


Enunciado
Na aplicação de sanções, o TCU deve considerar a natureza e a
gravidade da infração, os danos que dela provieram para a Admi-
nistração Pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os
antecedentes do agente, nos termos do art. 22, § 2º, do Decreto-
-lei 4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
(Relator: Bruno Dantas; Data do Julgamento: 19/03/2019)

90
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

TCU – Acórdão nº 2.677/2018 – Plenário


Enunciado
Na dosimetria da sanção pelo TCU, é possível considerar o com-
portamento da parte no curso do processo, ou seja, sua boa-fé
processual, com fundamento no princípio da equidade e nas dis-
posições do Código Penal pertinentes à aplicação da pena.
(Relator: Benjamin Zymler; Data do Julgamento: 21/11/2018)

TCU – Acórdão nº 992/2017 – Plenário


Enunciado
No âmbito do TCU, a dosimetria da pena tem como balizadores
o nível de gravidade dos ilícitos apurados, com a valoração das
circunstâncias fáticas e jurídicas envolvidas, e a isonomia de tra-
tamento com casos análogos. O Tribunal não realiza dosimetria
objetiva da multa, comum à aplicação de normas do Direito Pe-
nal, e não há um rol de agravantes e atenuantes legalmente reco-
nhecido.
(Relator: Augusto Nardes; Data do Julgamento: 17/05/2017)

91
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 15

O que é improbidade administrativa? Quais


ações constituem improbidade administrativa
nos termos da Lei nº 8.429/1992? Quais as
sanções previstas? Quais agentes públicos
podem ser sancionados com base nessa
legislação?

STJ – AgRg no AREsp nº 21.662/SP – Primeira Turma


Ementa
3. O ato ilegal só adquire os contornos de improbidade quando a
conduta antijurídica fere os princípios constitucionais da Admi-
nistração Pública coadjuvada pela má-intenção do administrador,
caracterizando a conduta dolosa; a aplicação das severas sanções
previstas na Lei 8.429/1992 é aceitável, e mesmo recomendável,
para a punição do administrador desonesto (conduta dolosa) e
não daquele que apenas foi inábil (conduta culposa).
(Relator: Napoleão Nunes Maia Filho; Data do Julgamento: 07/02/2012)

92
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa)


Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta
ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa in-
corporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja cria-
ção ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de
cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão pu-
nidos na forma desta lei.
Art. 2º Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remunera-
ção, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego
ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,
àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concor-
ra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob
qualquer forma direta ou indireta.

93
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

CONDUTAS QUALIFICADAS COMO DE IMPROBIDADE

Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa)


CAPÍTULO II

Dos Atos de Improbidade Administrativa
Seção I

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enri-
quecimento Ilícito
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando
enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patri-
monial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, fun-
ção, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º
desta lei, e notadamente:
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imó-
vel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta,
a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido
ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do
agente público;
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facili-
tar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou
a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1º por
preço superior ao valor de mercado;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facili-
tar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o forne-

94
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

cimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de


mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade
ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art.
1º desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empre-
gados ou terceiros contratados por essas entidades;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de
lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação
em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantida-
de, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou
bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º
desta lei;
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, car-
go, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo
valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda
do agente público;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consul-
toria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha
interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou
omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a
atividade;

95
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação


ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou
indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara-
ção a que esteja obrigado;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, ren-
das, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das enti-
dades mencionadas no art. 1º desta lei;
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores in-
tegrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no
art. 1º desta lei.
Seção II

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo
ao Erário
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa
lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que
enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento
ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no
art. 1º desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação
ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das
entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica priva-
da utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem

96
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicá-


veis à espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente desperso-
nalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, ren-
das, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalida-
des legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem
integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no
art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
por preço inferior ao de mercado;
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
ou serviço por preço superior ao de mercado;
VI - realizar operação financeira sem observância das normas le-
gais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
nea;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância
das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo inde-
vidamente;
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas
em lei ou regulamento;
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem
como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;

97
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas


pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação ir-
regular;
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça
ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veícu-
los, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza,
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades men-
cionadas no art. 1º desta lei, bem como o trabalho de servidor pú-
blico, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
XIV - celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por obje-
to a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada
sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei nº
11.107, de 2005)
XV - celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi-
ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as forma-
lidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
Seção III

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra
os Princípios da Administração Pública
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, le-
galidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

98
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou di-


verso daquele previsto, na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das
atribuições e que deva permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
V - frustrar a licitude de concurso público;
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro,
antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou servi-
ço.

TRF da 1ª Região – AC nº 2782-31.2003.4.01.3000 –


Quarta Turma
Ementa
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. DANO AO ERÁRIO E PRINCÍPIOS
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE PROVA INEQUÍ-
VOCA DA CONDUTA ÍMPROBA. ILEGALIDADE ADMINISTRATIVA E/
OU INAPTIDÃO FUNCIONAL.
1. A configuração dos atos de improbidade administrativa do art.
10 da Lei 8.429/92 exige-se a presença de um requisito de cará-
ter objetivo, expresso no efetivo dano ao erário, e de outro de
cunho subjetivo, consubstanciado no dolo/culpa. Na hipótese, os
elementos da instrução não demonstram que tenha ocorrido le-

99
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

são aos cofres públicos, tampouco os agentes tenham agido com


dolo/culpa. Peças técnicas constantes dos autos (Parecer Técnico
do setor de engenharia da FUNASA) indicam que, a despeito de
erros técnicos, que não podem ser imputados aos requeridos, o
objeto do Convênio 421/98 foi cumprido
2. Os atos de improbidade administrativa do art. 11 da Lei 8.492/92 não
se confundem com simples ilegalidades administrativas ou inaptidões
funcionais, devendo, diversamente, apresentar aproximação objetiva
com a essencialidade da improbidade, consubstanciada na inobser-
vância (desonesta) dos princípios regentes da atividade estatal.
3. Apelação não provida.
(Relator: Olindo Menezes; Data do Julgamento: 12/03/2013)

STJ – AgRg no REsp nº 1253667/MG – Segunda Turma


Ementa
ADMINISTRATIVO. LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEI N.
8.429/92, ART. 11. AUSÊNCIA DE DOLO OU CULPA CONSIGNADA
NO ACÓRDÃO RECORRIDO.NÃO CARACTERIZAÇÃO DO ATO DE IM-
PROBIDADE.
1. É firme a jurisprudência do STJ, inclusive de sua Corte Especial,
no sentido de que “não se pode confundir improbidade com sim-
ples ilegalidade. A improbidade é ilegalidade tipificada e quali-
ficada pelo elemento subjetivo da conduta do agente. Por isso
mesmo, a jurisprudência do STJ considera indispensável, para a
caracterização de improbidade, que a conduta do agente seja do-
losa, para a tipificação das condutas descritas nos artigos 9º e 11

100
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

da Lei8.429/92, ou pelo menos eivada de culpa grave, nas do arti-


go 10.”(AIA 30/AM, Corte Especial, DJe de 27/09/2011).
2. A Corte de origem, ao consignar que o enquadramento do
agente público no art. 11 “não exigiria a comprovação de dolo ou
culpa por parte do gestor público, ou mesmo a existência de pre-
juízo ao erário”, contrariou o entendimento desta Corte.
3. Como o agravante não trouxe argumento capaz de infirmar a
decisãoque deseja ver modificada, esta deve ser mantida em seus
própriosfundamentos.Agravo regimental improvido.
(Relator: Humberto Martins; Data do Julgamento: 24/04/2012)

SANÇÕES

Constituição Federal
Art. 37. [...]
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspen-
são dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponi-
bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada-
ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Lei nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa)


Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e adminis-
trativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo
ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravi-
dade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

101
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilici-


tamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando
houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos
de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o
valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Po-
der Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou credití-
cios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos
bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer
esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas
vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público
ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se hou-
ver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de
três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o
valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de con-
tratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por in-
termédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de três anos.
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz le-
vará em conta a extensão do dano causado, assim como o provei-
to patrimonial obtido pelo agente.

102
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

QUESTÃO 16

Quais sanções podem ser impostas pelo


TCU aos agentes públicos responsáveis
por licitações e contratos administrativos,
conforme a Lei Orgânica e o Regimento
Interno dessa Corte de Contas? As decisões do
TCU que penalizam os agentes públicos podem
ser questionadas e desconstituídas pelo Poder
Judiciário?

103
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

Sanção RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES


Cabimento

Contas julgadas irregulares e que não haja débito, conforme parágrafo único do
Multa de até R$ 67.854,38
art. 19 da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU).
(sessenta e sete mil, oitocentos e
cinquenta e quatro reais e trinta e Ato praticado com grave infração à norma legal ou regulamentar de naturezas
oito centavos), conforme Portaria contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial.
TCU nº 15, de 15 de janeiro de Ato de gestão ilegítimo ou antieconômico de que resulte injustificado dano ao
2021: erário.
Art. 1º É fixado em R$ 67.854,38 Não atendimento, no prazo e sem justificativa, à diligência do Relator ou decisão
(sessenta e sete mil, oitocentos e do Tribunal.
cinquenta e quatro reais e trinta Impedir inspeções e auditorias determinadas.
e oito centavos), para o exercício
de 2021, o valor máximo da multa Sonegação de processo, documento ou informação em inspeções ou auditorias
a que se refere o caput do art. 58 realizadas pelo Tribunal.
da Lei nº 8.443, de 16 de julho de Reincidência no descumprimento de determinação do Tribunal.
1992.
Quem deixar de dar cumprimento à decisão do Tribunal, salvo motivo justificado.
*Anualmente é expedida portaria
*Base legal: art. 58 da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU) e art. 268 da
atualizando o valor da multa.
Resolução TCU nº 246/2011 (Regimento Interno do TCU).

Multa de até 100% do valor Quando o responsável for julgado em débito.


atualizado do dano causado ao *Base legal: art. 57 da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU) e art. 267 da
erário. Resolução TCU nº 246/2011 (Regimento Interno do TCU).

104
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

Diante de indícios suficiente de que, mantido em suas funções, o responsável possa


retardar ou dificultar a realização de auditoria ou inspeção, causar novos danos ao
Afastamento temporário das erário ou inviabilizar seu ressarcimento.
funções do responsável no início
ou no curso de qualquer apuração, *Base legal: art. 44 da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU) e art. 273 da
de ofício pelo Plenário do TCU Resolução TCU nº 246/2011 (Regimento Interno do TCU).
ou a requerimento do Ministério
Público. *A autoridade superior pode responder solidariamente se deixar de atender à
determinação aqui contida (§ 1º do art. 44 da Lei nº 8.443/1992 e parágrafo único
do art. 273 da Resolução TCU nº 246/2011).

Indisponibilidade dos bens do


responsável suficientes para Na hipótese imediatamente anterior.
garantir o ressarcimento dos *Base legal: art. 44, § 2º, da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU) e art. 274 da
danos em apuração, por prazo não Resolução TCU nº 246/2011 (Regimento Interno do TCU).
superior a um ano.

Em caso de urgência, fundado receio de grave lesão ao erário ou risco de ineficácia


Sustar a execução de ato ou da decisão de mérito.
procedimento impugnado até que
o TCU decida o mérito. *Base legal: art. 45 da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU) e art. 276 da
Resolução TCU nº 246/2011 (Regimento Interno do TCU).

105
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

Inidoneidade do licitante Fraude comprovada à licitação.


fraudador para participar, por
até cinco anos, de licitação na *Base legal: art. 46 da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU) e art. 271 da
Administração Pública federal. Resolução TCU nº 246/2011 (Regimento Interno do TCU).

Ocorrência de desfalque, desvio de bens ou outra irregularidade que resulte em


Conversão do processo em dano ao erário, exceto se o custo da cobrança for superior ao do ressarcimento.
tomada de contas especial.
*Base legal: art. 47 da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU).
Arresto de bens a ser solicitado
pelo Plenário do TCU ao Ministério Responsáveis julgados em débito.
Público junto ao TCU, à AGU ou aos *Base legal: art. 61 da Lei nº 8.443/92 (Lei Orgânica do TCU) e art. 275 da Resolução
dirigentes das entidades que lhe TCU nº 246/2011 (Regimento Interno do TCU).
sejam jurisdicionadas.

Inabilitação para o exercício de


cargo em comissão ou função Em caso de infração grave cometida por gestor de recurso público.
de confiança no âmbito da *Base legal: art. 60 da Lei nº 8.443/1992 (Lei Orgânica do TCU) e art. 270 da
Administração Pública por um Resolução TCU nº 246/2011 (Regimento Interno do TCU).
período de cinco a oito anos.

106
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESPONSABILIDADE DOS AGENTES POR AÇÕES E OMISSÕES

Decreto-Lei nº 4.657/1942 – LINDB


Art. 21. A decisão que, nas esferas administrativa, controladora
ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, pro-
cesso ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso
suas consequências jurídicas e administrativas. (Incluído pela Lei
nº 13.655, de 2018)
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo
deverá, quando for o caso, indicar as condições para que a regula-
rização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo
aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingi-
dos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso,
sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)

POSSIBILIDADE DE REVISÃO PELO PODER JUDICIÁRIO

Constituição Federal
Art. 5º [...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito;

107
AULA 3
Rescisão/Extinção dos contratos
administrativos

Professor: José Anacleto Abduch Santos


Procurador do Estado do Paraná. Advogado especialista em contratações
públicas. Mestre e doutor em Direito Administrativo pela UFPR. Professor
de Direito Administrativo do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba);
professor e coordenador do Curso de Especialização em Licitações e Con-
tratos Administrativos da UniBrasil; professor de cursos de pós-graduação,
treinamentos e eventos nas áreas de licitações e contratos administrativos,
contratações públicas sustentáveis, microempresa e empresa de pequeno
porte, concessões de serviços públicos e parcerias público-privadas. Exer-
ceu cargos e funções de Diretor-Geral da Procuradoria-Geral de Estado
do Paraná; Procurador-Geral do Estado Substituto; Coordenador do Cur-
so de Graduação em Administração Pública da UniBrasil; Presidente dos
Conselhos de Administração e Fiscal da Paranaprevidência; e Presidente
de Comissões Especiais e Permanentes de Licitação no Estado do Paraná.
Membro das Comissões de Gestão Pública e Infraestrutura da OAB/PR
e da Comissão Especial de Direito Administrativo da OAB Federal. Autor
das obras Contratos administrativos: formação e controle interno da execu-
ção – com particularidades dos contratos de obras e serviços de engenharia
e prestação de serviços terceirizados; Contratos de concessão de serviços
públicos: equilíbrio econômico-financeiro; e Licitações e o Estatuto da Micro-
empresa e Empresa de Pequeno Porte. Coautor das obras Comentários à Lei
nº 12.846/2013: Lei Anticorrupção; e Lei das Estatais: comentários ao regime
jurídico licitatório e contratual da Lei nº 13.303/2016. Autor de artigos téc-
nicos sobre licitações e contratos administrativos publicados em revistas
especializadas. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5637223172703835.
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

QUESTÃO 17
Quais as causas de extinção do contrato
administrativo de acordo com a Lei nº 8.666/1993
e com a nova Lei de Licitações? Quais as situações
previstas na nova Lei em que o contratado terá
direito à extinção do contrato?

Função social

CONTRATOS Finalidades
ADMINISTRATIVOS

Competência
Interesse público na
discricionária
contratação

109
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Regime jurídico Regime jurídico Prerrogativas


dos contratos administrativo exorbitantes
administrativos

Execução das obrigações pela


Extinção normal
contratada
do contrato
Pagamento pela contratante

Extinção anormal Anulação


do contrato Rescisão contratual

110
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

ASPECTOS COMUNS À LEI Nº 8.666/1993 E À NOVA LEI DE


LICITAÇÕES – CAUSAS DE EXTINÇÃO DO CONTRATO

Causas atribuíveis
ao contratado
Causas atribuíveis
ao contratante

Causas não
atribuíveis a
nenhuma das partes

JUDICIAL

RESCISÃO NA
LEI Nº 8.666/1993

CONSENSUAL UNILATERAL

111
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

UNILATERAL

EXTINÇÃO NA
NOVA LEI
CONSENSUAL, DECISÃO
POR CONCILIAÇÃO, ARBITRAL OU
MEDIAÇÃO OU
COMPROMISSO
COMITÊ DE
RESOLUÇÃO DE ARBITRAL OU
DISPUTAS JUDICIAL

Lei nº 8.666/1993
Art. 79. A rescisão do contrato poderá ser:
I - determinada por ato unilateral e escrito da Administração, nos
casos enumerados nos incisos I a XII e XVII do artigo anterior;
II - amigável, por acordo entre as partes, reduzida a termo no pro-
cesso da licitação, desde que haja conveniência para a Adminis-
tração;
III - judicial, nos termos da legislação;

112
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Lei nº 14.133/2021
Art. 138. A extinção do contrato poderá ser:
I – determinada por ato unilateral e escrito da Administração, ex-
ceto no caso de descumprimento decorrente de sua própria con-
duta;
II – consensual, por acordo entre as partes, por conciliação, por
mediação ou por comitê de resolução de disputas, desde que haja
interesse da Administração;
III – determinada por decisão arbitral, em decorrência de cláusula
compromissória ou compromisso arbitral, ou por decisão judicial.

DECISÃO ADMINISTRATIVA DA RESCISÃO UNILATERAL X POR


ACORDO

TCU – Acórdão nº 740/2013 – Plenário


Voto
31. Compulsando os tipos legais previstos para a rescisão unilate-
ral, registro que os incisos I a XI referem-se a situações de inadim-
plemento contratual por parte do particular, enquanto o inciso XII
diz respeito à extinção da avença por razões de interesse público.
Trata-se, esta última hipótese, de nítida manifestação do princí-
pio da supremacia do interesse público sobre o privado, a exigir
o desfazimento do ajuste, independentemente da anuência do
contratado.

113
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

32. Considerando o poder-dever da Administração de zelar pelo


fiel cumprimento do contrato e o próprio princípio da indisponibi-
lidade do interesse público, entendo que a entidade contratante
não possui a liberdade discricionária de deixar de promover a res-
cisão unilateral do ajuste caso seja configurado o inadimplemen-
to do particular. Nesse sentido, só existe campo para a rescisão
amigável de um contrato administrativo quando houver conveni-
ência para a Administração e não ocorrer nenhuma das hipóteses
previstas para a rescisão unilateral da avença.
49. Por outro lado, a tese desenvolvida no presente voto, no sen-
tido de que é necessário verificar a ocorrência ou não das cir-
cunstâncias ensejadoras da rescisão unilateral, antes da rescisão
amigável de um contrato, não é de fácil percepção por um ad-
ministrador médio. Por esses motivos, abstenho-me de propor a
audiência dos responsáveis.
50. Inobstante o exposto, entendo pertinente dar ciência à Se-
trap/AP de que a rescisão amigável do Contrato 45/2010- SETRAP
sem a devida comprovação de conveniência para a Administra-
ção e de que não houve os motivos para a rescisão unilateral do
ajuste constitui irregularidade, o que afronta o art. 79, inciso II, da
Lei 8.666/1993.
(Relator: Benjamin Zymler; Data do Julgamento: 03/04/2013)

TCU – Informativo de Jurisprudência nº 322


1. Sendo necessária a execução do objeto ajustado, não pode
o gestor, discricionariamente, autorizar a rescisão amigável do

114
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

contrato, pois tal instituto tem aplicação restrita e não é cabí-


vel quando configurada outra hipótese que dê ensejo a resci-
são unilateral ou anulação do ajuste.
Ao apreciar relatório de auditoria realizada nas obras do Hospital
Regional do Município de Queimados/RJ, financiado por meio de
contrato de repasse, o TCU apurou divergências quantitativas en-
tre os projetos da obra e os serviços constantes da respectiva pla-
nilha orçamentária, as quais resultaram em superestimativa no
valor ajustado. Diante de tal situação, o Acórdão 2.612/2016-TCU-
-Plenário, entre outras medidas, fixou prazo para que a Secretaria
de Obras do Estado do Rio de Janeiro (Seobras) adotasse as pro-
vidências necessárias ao cumprimento da lei, promovendo a anu-
lação do contrato ou celebrando termo de aditamento contratual
com vistas a sanear as impropriedades constatadas. Todavia, após
a realização de inspeção na Seobras, verificou-se que essa não
anulara nem repactuara o ajuste, mas pretendera rescindi-lo uni-
lateralmente, após, aparentemente, a construtora não ter aceita-
do a rescisão amigável. Sobre o tema, o relator ponderou que não
subsiste amparo legal para a rescisão amigável do contrato, “pois
tal instituto tem aplicação restrita e não seria cabível quando con-
figurada outra hipótese que desse ensejo a rescisão ou anulação
do ajuste. Somente poderia ocorrer quando fosse conveniente
para a Administração e, por conseguinte, não poderia resultar em
prejuízo para o órgão contratante. Sendo necessária a execução
do objeto, não caberia ao gestor, discricionariamente, autorizar o
término do contrato. Basicamente, a Lei 8.666/1993 limita a resci-
são aos casos de inexecução contratual (por parte do contratado),

115
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

de prática de atos por parte da administração que inviabilizem a


atuação da contratada, por atrasos nos pagamentos (superiores a
90 dias) e razões de interesse público. Além disso, o art. 79 da Lei
8.666/1993 prevê a possibilidade de rescisão amigável do contra-
to administrativo, mas somente quando houver interesse da ad-
ministração”. Ponderou, ainda, que o “mesmo raciocínio se aplica
a caso de rescisão unilateral previsto no inciso XII do art. 78 da Lei
8.666/1993, em virtude de razões de interesse público, de alta re-
levância e amplo conhecimento, justificadas e determinadas pela
máxima autoridade da esfera administrativa a que está subordi-
nado o contratante e exaradas no processo administrativo a que
se refere o contrato”. Ademais, o relator ressaltou que, “sendo ne-
cessária a construção do hospital, não poderia o gestor, discricio-
nariamente, autorizar o término do contrato. E, caso a contratada
não estivesse desempenhando suas atribuições a contento, seria
obrigação do gestor aplicar as sanções previstas nos arts. 86 e 87
da Lei 8.666/1993. Por outro lado, constatada ilegalidade no pro-
cedimento licitatório, o instituto aplicável é o da anulação do con-
trato, previsto nos arts. 49 e 59 da Lei de Licitações e Contratos, e
não o distrato por razões de interesse público”. Ressaltou, ainda,
que, “no caso examinado, em que se está diante de uma contra-
tação com superestimativa de quantitativos, caberia a anulação
do contrato com base no art. 7º, §§ 4º e 6º, da Lei 8.666/1993,
ou a celebração de termo de aditamento contratual suprimindo
os serviços desnecessários ou cujos quantitativos encontram-se
acima dos levantados a partir dos projetos executivos”. Ao final, o
Colegiado, anuindo à proposta do relator, entre outras medidas,

116
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

determinou à Caixa Econômica Federal que se abstenha de libe-


rar os recursos do contrato de repasse sem que previamente seja
comprovado que o convenente realizou as correções necessárias
na planilha orçamentária da obra e realizou nova licitação, cujo
orçamento-base possua quantitativos de serviços em conformi-
dade com os previstos em projeto, nos termos do art. 7º, § 4º, da
Lei 8.666/1993. Acórdão 845/2017 Plenário, Auditoria, Relator
Ministro Benjamin Zymler.

CAUSAS DE RESCISÃO NA LEI Nº 8.666/1993

Lei nº 8.666/1993
Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:
I - o não cumprimento de cláusulas contratuais, especificações,
projetos ou prazos;
II - o cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especifica-
ções, projetos e prazos;
III - a lentidão do seu cumprimento, levando a Administração a
comprovar a impossibilidade da conclusão da obra, do serviço ou
do fornecimento, nos prazos estipulados;
IV - o atraso injustificado no início da obra, serviço ou fornecimen-
to;
V - a paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento, sem jus-
ta causa e prévia comunicação à Administração;

117
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

VI - a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação


do contratado com outrem, a cessão ou transferência, total ou
parcial, bem como a fusão, cisão ou incorporação, não admitidas
no edital e no contrato;
VII - o desatendimento das determinações regulares da autorida-
de designada para acompanhar e fiscalizar a sua execução, assim
como as de seus superiores;
VIII - o cometimento reiterado de faltas na sua execução, anota-
das na forma do § 1º do art. 67 desta Lei;
VIII - o cometimento reiterado de faltas na sua execução, anota-
das na forma do § 1º do art. 67 desta Lei;
IX - a decretação de falência ou a instauração de insolvência civil;
X - a dissolução da sociedade ou o falecimento do contratado;
XI - a alteração social ou a modificação da finalidade ou da estru-
tura da empresa, que prejudique a execução do contrato;
XII - razões de interesse público, de alta relevância e amplo co-
nhecimento, justificadas e determinadas pela máxima autoridade
da esfera administrativa a que está subordinado o contratante e
exaradas no processo administrativo a que se refere o contrato;
XIII - a supressão, por parte da Administração, de obras, serviços
ou compras, acarretando modificação do valor inicial do contrato
além do limite permitido no § 1º do art. 65 desta Lei;
XIV - a suspensão de sua execução, por ordem escrita da Admi-
nistração, por prazo superior a 120 (cento e vinte) dias, salvo em
caso de calamidade pública, grave perturbação da ordem inter-

118
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

na ou guerra, ou ainda por repetidas suspensões que totalizem


o mesmo prazo, independentemente do pagamento obrigatório
de indenizações pelas sucessivas e contratualmente imprevistas
desmobilizações e mobilizações e outras previstas, assegurado
ao contratado, nesses casos, o direito de optar pela suspensão do
cumprimento das obrigações assumidas até que seja normaliza-
da a situação;
XV - o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devi-
dos pela Administração decorrentes de obras, serviços ou forneci-
mento, ou parcelas destes, já recebidos ou executados, salvo em
caso de calamidade pública, grave perturbação da ordem interna
ou guerra, assegurado ao contratado o direito de optar pela sus-
pensão do cumprimento de suas obrigações até que seja norma-
lizada a situação;
XVI - a não liberação, por parte da Administração, de área, local
ou objeto para execução de obra, serviço ou fornecimento, nos
prazos contratuais, bem como das fontes de materiais naturais es-
pecificadas no projeto;
XVII - a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, regularmen-
te comprovada, impeditiva da execução do contrato.
XVIII - descumprimento do disposto no inciso V do art. 27, sem
prejuízo das sanções penais cabíveis.

119
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

CAUSAS DE EXTINÇÃO NA NOVA LEI DE LICITAÇÕES

Lei nº 14.133/2021
Art. 137. Constituirão motivos para extinção do contrato, a qual
deverá ser formalmente motivada nos autos do processo, asse-
gurados o contraditório e a ampla defesa, as seguintes situações:
I – não cumprimento ou cumprimento irregular de normas edita-
lícias ou de cláusulas contratuais, de especificações, de projetos
ou de prazos;
II – desatendimento das determinações regulares emitidas pela
autoridade designada para acompanhar e fiscalizar sua execução
ou por autoridade superior;
III – alteração social ou modificação da finalidade ou da estrutura
da empresa que restrinja sua capacidade de concluir o contrato;
IV – decretação de falência ou de insolvência civil, dissolução da
sociedade ou falecimento do contratado;
V – caso fortuito ou força maior, regularmente comprovados, im-
peditivos da execução do contrato;
VI – atraso na obtenção da licença ambiental, ou impossibilidade
de obtê-la, ou alteração substancial do anteprojeto que dela re-
sultar, ainda que obtida no prazo previsto;
VII – atraso na liberação das áreas sujeitas a desapropriação, a de-
socupação ou a servidão administrativa, ou impossibilidade de
liberação dessas áreas;

120
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

VIII – razões de interesse público, justificadas pela autoridade má-


xima do órgão ou da entidade contratante;
IX – não cumprimento das obrigações relativas à reserva de car-
gos prevista em lei, bem como em outras normas específicas, para
pessoa com deficiência, para reabilitado da Previdência Social ou
para aprendiz.
§ 1º Regulamento poderá especificar procedimentos e critérios
para verificação da ocorrência dos motivos previstos no caput
deste artigo.

DIREITO DO CONTRATADO À EXTINÇÃO DO CONTRATO

Lei nº 14.133/2021
Art. 137. [...]
§ 2º O contratado terá direito à extinção do contrato nas seguin-
tes hipóteses:
I – supressão, por parte da Administração, de obras, serviços ou
compras que acarrete modificação do valor inicial do contrato
além do limite permitido no art. 125 desta Lei;
II – suspensão de execução do contrato, por ordem escrita da Ad-
ministração, por prazo superior a 3 (três) meses;
III – repetidas suspensões que totalizem 90 (noventa) dias úteis,
independentemente do pagamento obrigatório de indenização
pelas sucessivas e contratualmente imprevistas desmobilizações
e mobilizações e outras previstas;

121
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

IV – atraso superior a 2 (dois) meses, contado da emissão da nota


fiscal, dos pagamentos ou de parcelas de pagamentos devidos
pela Administração por despesas de obras, serviços ou forneci-
mentos;
V – não liberação pela Administração, nos prazos contratuais, de
área, local ou objeto, para execução de obra, serviço ou forneci-
mento, e de fontes de materiais naturais especificadas no proje-
to, inclusive devido a atraso ou descumprimento das obrigações
atribuídas pelo contrato à Administração relacionadas a desapro-
priação, a desocupação de áreas públicas ou a licenciamento am-
biental.

122
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

HIPÓTESES DE EXTINÇÃO COM BASE


NOS INCS. II, III E IV DO § 2º DO ART. 137

Não serão admitidas em É assegurado ao contratado o


caso de calamidade pública, direito de optar pela
grave perturbação da suspensão do cumprimento
ordem, guerra ou das obrigações assumidas até
decorrente de ato praticado a normalização da situação,
pelo contratado. admitido o estabelecimento
do equilíbrio
econômico-financeiro do
contrato.

Cautelas especiais
Início de processo Comunicação
referentes ao
administrativo para aos emitentes
seguro-garantia –
rescisão contratual de garantia
Resolução SUSEP

Possibilidade de convocação dos


NO CASO DE remanescentes da licitação para
RESCISÃO concluir o objeto do contrato

123
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

ANULAÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Direcionamento
da licitação
Fraude na
Contrato licitação
verbal

Falta de parecer
jurídico
Contratação
direta ilegal

ALGUMAS
NULIDADES
Decisões sem
motivação,
Vício de arbitrárias
publicidade ou ilegais
do contrato

Vício na
escolha da
Inabilitação ou
modalidade
desclassificação Vício de
ilegal publicidade do
instrumento
convocatório

124
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

ANULAÇÃO DOS CONTRATOS NA NOVA LEI

Assegurada a
prévia
manifestação Não exonera
dos interessados do dever de
Devem ser
indicados os indenizar pelo
atos com vícios que foi
insanáveis executado

Requer análise
prévia do interesse ANULAÇÃO Por ilegalidade
insanável
público envolvido

Não sendo Opera


possível retorno retroativamente
à situação anterior: Pode ter eficácia
perdas e danos em momento
futuro: por
seis meses
prorrogáveis

125
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Lei nº 8.666/1993
Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo ope-
ra retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordina-
riamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzi-
dos.
Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do de-
ver de indenizar o contratado pelo que este houver executado até
a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regular-
mente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, pro-
movendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.

126
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

QUESTÃO 18

O que deve ser ponderado para decidir pela


rescisão do contrato ou por sua manutenção?
Os custos que decorrem da rescisão devem ser
avaliados na decisão de rescindir ou manter o
contrato? Qual a atuação do fiscal e do gestor
nessa análise?

Aplicação de sanção Ato vinculado

Rescisão do contrato Ato discricionário

127
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

FATORES A SEREM CONSIDERADOS PARA DECIDIR PELA


RESCISÃO CONTRATUAL

Aspecto
temporal

Risco de Qualidade do
transição contrato

RESCISÃO
Custos Capacidade
financeiros administrativa

128
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

QUESTÃO 19

De acordo com a nova Lei, quais as


consequências no caso de extinção do
contrato por ato unilateral da Administração?

CONSEQUÊNCIAS DA RESCISÃO UNILATERAL

Ocupação
Assunção do local,
do objeto instalações e
equipamentos

Retenção de Execução
créditos da garantia

129
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Lei nº 14.133/2021
Art. 139. A extinção determinada por ato unilateral da Adminis-
tração poderá acarretar, sem prejuízo das sanções previstas nesta
Lei, as seguintes consequências:
I – assunção imediata do objeto do contrato, no estado e local em
que se encontrar, por ato próprio da Administração;
II – ocupação e utilização do local, das instalações, dos equipa-
mentos, do material e do pessoal empregados na execução do
contrato e necessários à sua continuidade;
III – execução da garantia contratual para:
a) ressarcimento da Administração Pública por prejuízos decor-
rentes da não execução;
b) pagamento de verbas trabalhistas, fundiárias e previdenciárias,
quando cabível;
c) pagamento das multas devidas à Administração Pública;
d) exigência da assunção da execução e da conclusão do objeto
do contrato pela seguradora, quando cabível;
IV – retenção dos créditos decorrentes do contrato até o limite dos
prejuízos causados à Administração Pública e das multas aplica-
das.

IN nº 03/2018
Art. 31. A cada pagamento ao fornecedor a Administração realiza-
rá consulta ao Sicaf para verificar a manutenção das condições de
habilitação, observadas as seguintes condições:

130
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

I - constatando-se, junto ao Sicaf, a situação de irregularidade do


fornecedor contratado, deve-se providenciar a sua advertência,
por escrito, para que, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, o fornece-
dor regularize sua situação ou, no mesmo prazo, apresente sua
defesa;
II - o prazo do inciso anterior poderá ser prorrogado uma vez por
igual período, a critério da Administração;
III - não havendo regularização ou sendo a defesa considerada
improcedente, a Administração deverá comunicar aos órgãos
responsáveis pela fiscalização da regularidade fiscal quanto à
inadimplência do fornecedor, bem como quanto à existência de
pagamento a ser efetuado pela Administração, para que sejam
acionados os meios pertinentes e necessários para garantir o re-
cebimento de seus créditos;
IV - persistindo a irregularidade, a Administração deverá adotar
as medidas necessárias à rescisão dos contratos em execução, nos
autos dos processos administrativos correspondentes, assegura-
da à contratada a ampla defesa;
IV - persistindo a irregularidade, a Administração deverá adotar
as medidas necessárias à rescisão dos contratos em execução, nos
autos dos processos administrativos correspondentes, assegura-
da à contratada a ampla defesa;
V - havendo a efetiva prestação de serviços ou o fornecimento dos
bens, os pagamentos serão realizados normalmente, até que se
decida pela rescisão contratual, caso o fornecedor não regularize
sua situação junto ao Sicaf; e

131
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

VI - somente por motivo de economicidade, segurança nacional


ou outro interesse público de alta relevância, devidamente justifi-
cado, em qualquer caso, pela máxima autoridade do órgão ou en-
tidade contratante, não será rescindido o contrato em execução
com empresa ou profissional que estiver irregular no Sicaf.

TCU – Acórdão nº 361/2007 – Plenário


Relatório
18.2.1. No que se refere à alínea “a” deste ponto de audiência, en-
tendo que os responsáveis não lograram êxito em demonstrar
que houve acerto na decretação da rescisão dos contratos com a
[...].
18.2.2. Os escólios doutrinários invocados, apesar de aventarem,
seja indireta ou diretamente, a possibilidade de capitular rescisão
contratual com o concurso do disposto no art. 55, inciso XIII, com
o estipulado no art. 78, inciso I da Lei 8.666/1993, não contem-
plam especificamente que a falta de comprovação da regularida-
de fiscal poderia ser subsumida em tal capitulação.
18.2.3. Na verdade, uma leitura mas atenta e sistêmica do que
lecionam os doutrinadores a respeito da matéria conduz a uma
interpretação restritiva desses escólios, de forma que não abar-
quem a hipótese de o descumprimento da condição de habilita-
ção recair sobre a regularidade fiscal.
[...]
18.2.5. O próprio Marçal Justen, no seguimento do trecho colacio-
nado pelos responsáveis, quase que textualmente exclui a possi-

132
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

bilidade de a não-preservação da regularidade fiscal dar causa à


rescisão:
“O inciso XIII destina-se a evitar dúvidas sobre o tema. A sua au-
sência não dispensaria o particular dos efeitos do princípio de
que a habilitação se apura previamente, mas se exige a presen-
ça permanente de tais requisitos, mesmo durante a execução do
contrato. O silêncio do instrumento não significará dispensa da
exigência. Se o particular, no curso da execução do contrato, dei-
xar de preencher as exigências formuladas, o contrato deverá ser
rescindido. Mas a questão tem de ser apreciada em vista do prin-
cípio da proporcionalidade. Ou seja, é indispensável identificar
a providência menos onerosa ao interesse público e aos valores
tutelados pela ordem jurídica. Não teria cabimento estabelecer
uma solução mecanicista, em que a ocorrência de evento perfei-
tamente suprível, viesse a ser considerada como causa automáti-
ca para rescisão do contrato.
18.2.6. Podemos perfilhar também, como argumento para excluir
a falta de comprovação da regularidade fiscal como causa resci-
sória, o fato de a desconformidade contratual que ela encerra não
ser pertinente à obrigação principal do contrato, “in casu”, prestar
serviços de manutenção predial. E essa pertinência é posta em
realce pela doutrina referente à exegese do art. 78, inciso I, como
se depreende da seguinte lição de Marçal Justen Filho:
“O inciso I alude, portanto, à hipótese de inadimplemento abso-
luto. Indica a situação em que o sujeito pratica condutas que tor-
nam inviável a execução do contrato.

133
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Ou seja, não são apanhados pelo inc. I todos os comportamentos


desconformes com o contrato ou com a Lei. Se, por exemplo, o
particular tinha o dever de enviar à Administração aviso do início
da execução de uma obra e deixar de remetê-lo, isso é secundário
- desde que tenha iniciado a execução da obra. O mesmo se diga
quanto a todos deveres cujo descumprimento produz efeito sobre
a própria parte, tais como o dever de apresentar os documentos
probatórios da execução da prestação como pressuposto para re-
ceber o pagamento.” (Comentários à Lei de Licitações e Contratos
Administrativos, 9ª edição, Editora Dialética - SP 2002, pág. 526).
(Relator: Ubiratan Aguaiar; Data do Julgamento: 14/03/2007)

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 220


Acórdão 1182/2018-TCU-Plenário (Auditoria, Relator Ministro
Benjamin Zymler)
Despesas em contrato emergencial celebrado em decorrência de
abandono de obra, e que não existiriam caso houvesse o adim-
plemento regular do contrato anterior, devem ser incluídas no en-
contro de contas da rescisão (art. 80, inciso III, da Lei 8.666/1993),
a título de indenização por perdas e danos da Administração.

134
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

QUESTÃO 20

Qual o procedimento (passo a passo) para as


rescisões/extinção administrativa, bilateral,
judicial de acordo com a Lei nº 8.666/1993 e a
nova Lei? Qual será o procedimento no caso de
extinção por decisão arbitral?

Fiscal depara-se com o cometimento de falhas pelo contratado que ensejam a


rescisão. Deve fazer as anotações necessárias para a instrução do processo e levar
ao conhecimento da autoridade competente, sugerindo a rescisão e/ou a(s)
sanção(ões) a ser(em) aplicada(s), conforme o caso.

Abertura de processo administrativo específico indicando enquadramento legal, fatos e


obrigações violadas, com a pretensão de rescisão e/ou qual(is) sanção(ões) poderá ser
aplicada(s), solicitando intimação do contratado (art. 26 da Lei nº 9.784/1999).

Intimação do contratado para exercício do contraditório e da ampla defesa no prazo


de 5 dias corridos ou prazo superior (art. 24 da Lei nº 9.784/1999)

Produção de provas, a exemplo de vistoria ou oitiva de testemunhas, solicitadas


pela Administração e/ou pelo contratado.

Manifestação do interessado sobre as provas produzidas no prazo de até 10 dias


corridos (art. 46 da Lei nº 9.784/1999)

135
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Avaliação e emissão de parecer pela assessoria jurídica (art. 38, parágrafo único, da
Lei nº 8.666/1993) no prazo máximo de 15 dias, salvo norma especial ou comprovada
necessidade de maior prazo (art. 42 da Lei nº 9.784/1999).

NOVA LEI: PARECER JURÍDICO (ART. 53, § 4º)

Decisão da autoridade competente quanto à rescisão contratual e/ou aplicação de


determinadas sanções, devidamente motivada.

Comunicação pessoal ao interessado

Abertura de prazo para recurso administrativo, cinco dias úteis (art. 109, inc. I,
alínea “e”, da Lei nº 8.666/1993). Se a decisão administrativa também envolve
aplicação de penalidades, deve-se fazer menção ao art. 109, inc. I, alínea “f”, ou
art. 109, inc. II, da Lei nº 8.666/1993.

NOVA LEI: três dias úteis para recurso da extinção do contrato (art. 165,
inc. I, "e") e quinze dias úteis para recurso de sanções de advertência,
multa e impedimento de licitar e contratar (art. 166) e de pedido de
reconsideração para declaração de inidoneidade (art. 167).

Decisão administrativa definitiva.

Publicidade e comunicação pessoal ao interessado.

Operatividade e exequibilidade da decisão.

136
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Extinção por Cláusula


decisão arbitral compromissória Procedimento

Lei nº 9.307/1996
Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbi-
tragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais dispo-
níveis.
§ 1º A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da
arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais
disponíveis.
[...]
Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus
litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim
entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual
as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitra-
gem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contra-
to.
§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito,
podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento
apartado que a ele se refira.

137
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 171


Acórdão 845/2017-TCU-Plenário, Auditoria, Relator Ministro
Benjamin Zymler
Sendo necessária a execução do objeto ajustado, não pode o ges-
tor, discricionariamente, autorizar a rescisão amigável do contra-
to, pois tal instituto tem aplicação restrita e não é cabível quando
configurada outra hipótese que dê ensejo a rescisão unilateral ou
anulação do ajuste.

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 142


Acórdão 2205/2016-TCU-Plenário, Auditoria, Relator Ministra
Ana Arraes
A eventual morosidade do processo administrativo de rescisão
unilateral não pode ser considerada para justificar a rescisão ami-
gável do contrato administrativo, que somente se admite quando
conveniente para a Administração e não houver motivos para a
rescisão unilateral.

138
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

QUESTÃO 21

O que envolve a indenização – danos


emergentes e lucros cessantes – no caso de
rescisão/extinção do contrato? O particular
pode questionar os valores da indenização?
Como deve proceder?

INDENIZAÇÃO EM CASO DE RESCISÃO CONTRATUAL

Causa atribuível Lucros


ao contratante cessantes

Danos Valor da
emergentes indenização

139
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Lei nº 8.666/1993
Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo ope-
ra retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordina-
riamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzi-
dos.
Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do de-
ver de indenizar o contratado pelo que este houver executado até
a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regular-
mente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, pro-
movendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.
[...]
Art. 79. [...]
§ 2º Quando a rescisão ocorrer com base nos incisos XII a XVII do
artigo anterior, sem que haja culpa do contratado, será este res-
sarcido dos prejuízos regularmente comprovados que houver so-
frido, tendo ainda direito a:
I - devolução de garantia;
II - pagamentos devidos pela execução do contrato até a data da
rescisão;
III - pagamento do custo da desmobilização.
Art. 80. A rescisão de que trata o inciso I do artigo anterior acarre-
ta as seguintes conseqüências, sem prejuízo das sanções previs-
tas nesta Lei:
I - assunção imediata do objeto do contrato, no estado e local em
que se encontrar, por ato próprio da Administração;

140
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

II - ocupação e utilização do local, instalações, equipamentos, ma-


terial e pessoal empregados na execução do contrato, necessários
à sua continuidade, na forma do inciso V do art. 58 desta Lei;
III - execução da garantia contratual, para ressarcimento da Admi-
nistração, e dos valores das multas e indenizações a ela devidos;
IV - retenção dos créditos decorrentes do contrato até o limite dos
prejuízos causados à Administração.

Lei nº 14.133/2021
Art. 138. A extinção do contrato poderá ser:
I – determinada por ato unilateral e escrito da Administração, ex-
ceto no caso de descumprimento decorrente de sua própria con-
duta;
II – consensual, por acordo entre as partes, por conciliação, por
mediação ou por comitê de resolução de disputas, desde que haja
interesse da Administração;
III – determinada por decisão arbitral, em decorrência de cláusula
compromissória ou compromisso arbitral, ou por decisão judicial.

STJ – EDcl nos EDcl no REsp nº 440.500/SP – 2ª Turma


PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ERRO MATE-
RIAL. CONTRATO ADMINISTRATIVO. RESCISÃO. CULPA DA ADMI-
NISTRAÇÃO. LUCROS CESSANTES. CABIMENTO.
1. Ante o término antecipado do contrato celebrado entre o parti-
cular e o Poder Público, são devidos os lucros cessantes até o mo-

141
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

mento em que haveria a extinção da obrigação pelo advento do


termo contratual, desde que a rescisão se dê por motivo de interes-
se público ou, como na hipótese dos autos, em razão de culpa atri-
buída à Administração (q. v., verbi gratia, AgRg no Ag 680.476/SP,
2ª Turma, Min. Humberto Martins, DJ de 27.08.2007; REsp 229.188/
PR, 2ª Turma, Min. Franciulli Netto, DJ de 01.04.2002; REsp 190.354/
SP, 1ª Turma, Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 14.02.2000).
2. Embargos de declaração acolhidos para sanar o erro material
apontado e, atribuindo-lhes efeitos modificativos, dar provimen-
to ao recurso especial para condenar o réu ao pagamento de lu-
cros cessantes à autora, a serem apurados em sede de liquidação.
(Relator: Carlos Fernando Mathias; Data de Julgamento: 01/04/2008)

STJ – EDcl no REsp nº 440.500/SP – Segunda Turma


Ementa
EMBARGOS DECLARATÓRIOS. EFEITO MODIFICATIVO. ADMINIS-
TRATIVO. RECURSO ESPECIAL. RESCISÃO DE CONTRATO ADMINIS-
TRATIVO. INDENIZAÇÃO. LUCROS CESSANTES.
1. Os lucros cessantes por descumprimento de contrato adminis-
trativo para construção de obra pública são devidos até o mo-
mento em que haveria extinção da obrigação em razão do ad-
vento do termo contratual. Tal matéria encontra regulamentação
nos artigos 1.059 do Código Civil de 1616, em razão da aplicação
subsidiária de que trata o artigo 44 do Decreto-Lei n. 2.300/86.
2. Por lucros cessantes, deve-se entender o que razoavelmente se
deixou de lucrar – essa é a dicção do artigo 1.059 do Código Civil

142
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

de 1916. Todavia, isso não autoriza que tais lucros sejam hipotéti-
cos. Ao contrário, devem ser previsíveis já na celebração do con-
trato, ou seja, são indenizáveis os lucros que o contratante obteria
com a execução direta do contrato, e não os que seriam obtidos
em decorrência de fatores diversos ou indiretos aos efeitos do
contrato.
3. Embargos declaratórios acolhidos com efeito modificativo. (Gri-
fo nosso)
(Relator: João Otávio de Noronha; Data do Julgamento: 23/10/2007)

TCU – Boletim de Jurisprudência nº 49


Acórdão 2079/2014-TCU-Plenário, TC Processo 013.367/2014-
5, relator Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti,
6.8.2014
Nos contratos de execução continuada ou parcelada, o inadim-
plemento das obrigações fiscais da contratada, incluindo a segu-
ridade social, enseja, além das penalidades legais, a rescisão do
contrato e a execução das garantias para ressarcimento de valo-
res e indenizações devidos à Administração, sendo vedada a re-
tenção de pagamento por serviço já executado, ou fornecimento
já entregue, sob pena de enriquecimento sem causa da Adminis-
tração.

143
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

QUESTÃO 22

Quais medidas e cautelas para prevenir


fraudes nas contratações e inexecuções
contratuais que geram desperdícios de
recursos públicos? Existem instrumentos
inovadores na nova Lei?

Medidas
sancionatórias

Medidas de
prevenção
Fraudes e ilegalidades
na execução do Medidas de
contrato correção

144
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Programas
de integridade

Compliance
Planejamento
adequado
da contratação

MEDIDAS E Governança
CAUTELAS pública

Atribuições
do fiscal e
do gestor

Sistema de
Gerenciamento controle
dos riscos interno
contratuais

145
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

NOVA LEI DE LICITAÇÕES

I Objetivo do processo licitatório: evitar sobrepreço e


superfaturamento (art. 11, inc. III)

Dever de implementar processos e estruturas de gestão de


II
riscos (art. 11, parágrafo único)

Diretrizes de planejamento e segregação de funções


III
(art. 7º, § 1º)

IV Dever de capacitação dos agentes públicos (art. 7º)

Estudo técnico preliminar (art. 18, inc. I)


V

Sistema informatizado de acompanhamento de obras, com


VI
vídeo (art. 19, inc. III)

VII Utilização preferencial do BIM (art. 19, § 3º)

VIII Matriz de riscos contratuais (art. 22)

Indicação de marca e certificações de qualidade (arts. 41


IX
e 42)

X Vedação de marca (art. 41, inc. III)

146
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

RESCISÃO/EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Responsabilização no caso de urgência decorrente de


XI
desídia ou má gestão (art. 75, § 6º)

XII Portal Nacional de Compras Públicas (art. 174)

XIII Possibilidade de seguradora executar contrato (art. 102)

XIV Medidas para evitar responsabilidade subsidiária (art. 121)

XV Responsabilização por falhas de projeto (art. 124, § 1º)

XVI Regime sancionatório (art. 155)

Apuração de responsabilidade com base na Lei


XVII Anticorrupção (art. 159)

XVIII Desconsideração da personalidade jurídica (art. 160)

XIX Sistema de controle das contratações (art. 169)

147
AULA 4
Sanções administrativas

Professor:

Rodrigo Vissotto Junkes


Advogado. Doutorando em Direito pela
UBA. Mestre em Gestão de Políticas Públi-
cas pela Univali. Especialista em Direito Ad-
ministrativo e em Direito Civil. Consultor na
área de licitações e contratos. Integrante da
Equipe de Consultores Zênite. Participante
do Observatório Nacional de Políticas
Públicas e de cursos no Banco Interamerica-
no de Desenvolvimento.
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

QUESTÃO 23

Quais sanções administrativas podem ser


aplicadas aos licitantes e contratados de
acordo com a Lei nº 8.666/1993 e a Lei nº
10.520/2002? Quais as sanções previstas no
regime da nova Lei de Licitações?

Multas moratória e
compensatória Suspensão

Advertência Declaração de
SANÇÕES DA inidoneidade
LEI Nº 8.666/1993

Lei nº 8.666/1993
Art. 86. O atraso injustificado na execução do contrato sujeitará
o contratado à multa de mora, na forma prevista no instrumento
convocatório ou no contrato.
[...]

149
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Adminis-


tração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as
seguintes sanções:
I - advertência;
II - multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no
contrato;
III - suspensão temporária de participação em licitação e impedi-
mento de contratar com a Administração, por prazo não superior
a 2 (dois) anos;
IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a
Administração Pública enquanto perdurarem os motivos deter-
minantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação
perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será
concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pe-
los prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção apli-
cada com base no inciso anterior.
[...].
Art. 88. As sanções previstas nos incisos III e IV do artigo anterior
poderão também ser aplicadas às empresas ou aos profissionais
que, em razão dos contratos regidos por esta Lei:
I - tenham sofrido condenação definitiva por praticarem, por meios
dolosos, fraude fiscal no recolhimento de quaisquer tributos;
II - tenham praticado atos ilícitos visando a frustrar os objetivos
da licitação;
III - demonstrem não possuir idoneidade para contratar com a Ad-
ministração em virtude de atos ilícitos praticados.

150
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Multas moratória
e compensatória

Impedimento de
licitar e contratar Descredenciamento
SANÇÕES DA
LEI Nº 10.520/2002

Lei nº 10.520/2002
Art. 7º Quem, convocado dentro do prazo de validade da sua pro-
posta, não celebrar o contrato, deixar de entregar ou apresentar
documentação falsa exigida para o certame, ensejar o retarda-
mento da execução de seu objeto, não mantiver a proposta, fa-
lhar ou fraudar na execução do contrato, comportar-se de modo
inidôneo ou cometer fraude fiscal, ficará impedido de licitar e
contratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios e,
será descredenciado no Sicaf, ou nos sistemas de cadastramento
de fornecedores a que se refere o inciso XIV do art. 4o desta Lei,
pelo prazo de até 5 (cinco) anos, sem prejuízo das multas previs-
tas em edital e no contrato e das demais cominações legais.

151
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Multas moratória e Impedimento de


compensatória licitar e contratar

Advertência Declaração de
inidoneidade
LEI Nº 14.133/2021

Lei nº 14.133/2021
Art. 156. Serão aplicadas ao responsável pelas infrações adminis-
trativas previstas nesta Lei as seguintes sanções:
I – advertência;
II – multa;
III – impedimento de licitar e contratar;
IV – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar.

152
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

QUESTÃO 24

Qual a importante novidade da nova Lei


quanto às infrações passíveis de penalidade
aos licitantes e contratados? De acordo com
a nova Lei, o que deve ser ponderado na
aplicação das sanções?

A TIPICIDADE DAS CONDUTAS NA NOVA LEI DE LICITAÇÕES

Lei nº 14.133/2021
Art. 155. O licitante ou o contratado será responsabilizado admi-
nistrativamente pelas seguintes infrações:
I – dar causa à inexecução parcial do contrato;
II – dar causa à inexecução parcial do contrato que cause grave
dano à Administração, ao funcionamento dos serviços públicos
ou ao interesse coletivo;
III – dar causa à inexecução total do contrato;
IV – deixar de entregar a documentação exigida para o certame;
V – não manter a proposta, salvo em decorrência de fato superve-
niente devidamente justificado;

153
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

VI – não celebrar o contrato ou não entregar a documentação exi-


gida para a contratação, quando convocado dentro do prazo de
validade de sua proposta;
VII – ensejar o retardamento da execução ou da entrega do objeto
da licitação sem motivo justificado;
VIII – apresentar declaração ou documentação falsa exigida para
o certame ou prestar declaração falsa durante a licitação ou a exe-
cução do contrato;
IX – fraudar a licitação ou praticar ato fraudulento na execução do
contrato;
X – comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude de qual-
quer natureza;
XI – praticar atos ilícitos com vistas a frustrar os objetivos da lici-
tação;
XII – praticar ato lesivo previsto no art. 5º da Lei nº 12.846, de 1º
de agosto de 2013.

A NOVA LEI E OS CRITÉRIOS PARA A DOSIMETRIA DA PENA

Lei nº 14.133/2021
Art. 156. Serão aplicadas ao responsável pelas infrações adminis-
trativas previstas nesta Lei as seguintes sanções:
I – advertência;
II – multa;

154
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

III – impedimento de licitar e contratar;


IV – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar.
§ 1º Na aplicação das sanções serão considerados:
I – a natureza e a gravidade da infração cometida;
II – as peculiaridades do caso concreto;
III – as circunstâncias agravantes ou atenuantes;
IV – os danos que dela provierem para a Administração Pública;
V – a implantação ou o aperfeiçoamento de programa de integri-
dade, conforme normas e orientações dos órgãos de controle.

TCU – Acórdão nº 992/2017 – Plenário


Enunciado
No âmbito do TCU, a dosimetria da pena tem como balizadores
o nível de gravidade dos ilícitos apurados, com a valoração das
circunstâncias fáticas e jurídicas envolvidas, e a isonomia de tra-
tamento com casos análogos. O Tribunal não realiza dosimetria
objetiva da multa, comum à aplicação de normas do Direito Pe-
nal, e não há um rol de agravantes e atenuantes legalmente reco-
nhecido.
(Relator: Augusto Nardes; Data do Julgamento: 17/05/2017)

155
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

QUESTÃO 25

Qual a extensão dos efeitos da suspensão do


direito de licitar e contratar, da declaração de
inidoneidade e do impedimento de licitar?
Quais os entendimentos do TCU e do STJ? Qual
a disciplina da nova Lei sobre a extensão dos
efeitos das sanções?

REGIME SANCIONATÓRIO – LEI Nº 8.666/1993 E


LEI Nº 10.520/2002

Art. 87, inc. III, da


Lei nº 8.666/1993

Art. 7º da
Lei nº 10.520/2002
Art. 87, inc. IV, da
Lei nº 8.666/1993

156
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

NOVA LEI DE LICITAÇÕES – SANÇÕES – EFEITOS

Sanções da nova Lei de Licitações – Efeitos e duração

EXTENSÃO DOS
SANÇÃO DURAÇÃO
EFEITOS
Na esfera (União, Prazo estabelecido
Impedimento
estado, Distrito Federal em decisão
de licitar e
ou município) de quem administrativa
contratar
aplicou a sanção (máximo de 3 anos)

Em todas as esferas Prazo estabelecido


(União, estados, Distrito em decisão
Declaração de
Federal e municípios), administrativa
inidoneidade
independentemente de (mínimo de 3 anos e
quem aplicou a sanção máximo de 6 anos)

Lei nº 14.133/2021
Art. 156. [...]
§ 4º A sanção prevista no inciso III do caput deste artigo será apli-
cada ao responsável pelas infrações administrativas previstas nos
incisos II, III, IV, V, VI e VII do caput do art. 155 desta Lei, quando
não se justificar a imposição de penalidade mais grave, e impedi-
rá o responsável de licitar ou contratar no âmbito da Administra-
ção Pública direta e indireta do ente federativo que tiver aplicado
a sanção, pelo prazo máximo de 3 (três) anos.

157
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

§ 5º A sanção prevista no inciso IV do caput deste artigo será apli-


cada ao responsável pelas infrações administrativas previstas nos
incisos VIII, IX, X, XI e XII do caput do art. 155 desta Lei, bem como
pelas infrações administrativas previstas nos incisos II, III, IV, V, VI
e VII do caput do referido artigo que justifiquem a imposição de
penalidade mais grave que a sanção referida no § 4º deste artigo,
e impedirá o responsável de licitar ou contratar no âmbito da Ad-
ministração Pública direta e indireta de todos os entes federati-
vos, pelo prazo mínimo de 3 (três) anos e máximo de 6 (seis) anos.

SUSPENSÃO DO DIREITO DE LICITAR E CONTRATAR E


DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE PARA LICITAR E CONTRATAR
– ART. 87, INCS. III E IV, DA LEI Nº 8.666/1993

Lei nº 8.666/1993
Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Adminis-
tração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as
seguintes sanções:
[...]
III - suspensão temporária de participação em licitação e impedi-
mento de contratar com a Administração, por prazo não superior
a 2 (dois) anos;
IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a
Administração Pública enquanto perdurarem os motivos deter-
minantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação
perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será

158
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pe-


los prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção apli-
cada com base no inciso anterior.

Lei nº 8.666/1993
Art. 6º Para os fins desta Lei, considera-se:
[...]
XI - Administração Pública - a administração direta e indireta da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, abran-
gendo inclusive as entidades com personalidade jurídica de direi-
to privado sob controle do poder público e das fundações por ele
instituídas ou mantidas;
XII - Administração - órgão, entidade ou unidade administrativa
pela qual a Administração Pública opera e atua concretamente;

STJ – REsp nº 151.567/RJ – Segunda Turma


Ementa
ADMINISTRATIVO – MANDADO DE SEGURANÇA – LICITAÇÃO –
SUSPENSÃO TEMPORÁRIA – DISTINÇÃO ENTRE ADMINISTRAÇÃO
E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – INEXISTÊNCIA – IMPOSSIBILIDADE
DE PARTICIPAÇÃO DE LICITAÇÃO PÚBLICA – LEGALIDADE – LEI
8.666/1993, ART. 87, INC. III.
- É irrelevante a distinção entre os termos Administração Pública e
Administração, por isso que ambas as figuras (suspensão tempo-
rária de participar em licitação (inc. III) e declaração de inidonei-

159
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

dade (inc. IV) acarretam ao licitante a não-participação em licita-


ções e contratações futuras.
- A Administração Pública é una, sendo descentralizadas as suas
funções, para melhor atender ao bem comum.
- A limitação dos efeitos da “suspensão de participação de licita-
ção” não pode ficar restrita a um órgão do poder público, pois os
efeitos do desvio de conduta que inabilita o sujeito para contratar
com a Administração se estendem a qualquer órgão da Adminis-
tração Pública.
- Recurso especial não conhecido.
(Relator: Francisco Peçanha Martins; Data do Julgamento: 25/02/2003)

STJ – REsp nº 174.274/SP – Segunda Turma


Ementa
ADMINISTRATIVO. SUSPENSÃO DE PARTICIPAÇÃO EM LICITAÇÕES.
MANDADO DE SEGURANÇA. ENTES OU ÓRGÃOS DIVERSOS. EX-
TENSÃO DA PUNIÇÃO PARA TODA A ADMINISTRAÇÃO.
1. A punição prevista no inciso III do artigo 87 da Lei nº 8.666/1993
não produz efeitos somente em relação ao órgão ou ente federa-
do que determinou a punição, mas a toda a Administração Pú-
blica, pois, caso contrário, permitir-se-ia que empresa suspensa
contratasse novamente durante o período de suspensão, tirando
desta a eficácia necessária.
2. Recurso especial provido.
(Relator: Castro Meira; Data do Julgamento: 19/10/2004)

160
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

TCU – Acórdão nº 3.243/2012 – Plenário


Voto Revisor
10. Não me parece, portanto, ser a melhor exegese aquela que
busca equiparar, quanto aos seus efeitos, as sanções dispostas no
art. 87, III e IV, da Lei de Licitações e Contratos. Ora, se o próprio
legislador distinguiu tais sanções, conferindo-lhes alcance dife-
renciado, certamente em função da gravidade da conduta per-
petrada pela sociedade apenada, não caberia ao intérprete, ainda
que movido pelo ímpeto moralizador, desconsiderar tal distinção
para, mediante simples esforço exegético, igualar seus efeitos.
Não se pode olvidar ainda que, à luz das melhores técnicas de
interpretação, a lei não contém palavras inúteis. Nesse diapasão,
a gravidade do ilícito praticado deve, sim, nortear a abrangência
da sanção imputada ao seu autor.
11. Por fim, gostaria de externar meu receio de que, a prevalecer
a interpretação inaugurada no Acórdão nº 2.218/2011-1ª Câma-
ra, particulares que perpetraram condutas não tão reprováveis a
ponto de serem excluídos de licitações/contratações junto a to-
dos os órgãos/entidades da Administração Pública passem a ser
apenados na esfera municipal - infelizmente mais suscetível a in-
gerências políticas e a violações ao princípio do devido processo
legal - com fulcro justamente no art. 87, III, da Lei nº 8.666/1993,
haja vista a sua máxima abrangência territorial.
(Relator: Ubiratan Aguiar; Data do Julgamento: 28/11/2012)

161
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Impedimento de licitar e contratar – Art. 7º da Lei nº


10.520/2002

Lei nº 10.520/2002
Art. 7º Quem, convocado dentro do prazo de validade da sua pro-
posta, não celebrar o contrato, deixar de entregar ou apresentar
documentação falsa exigida para o certame, ensejar o retarda-
mento da execução de seu objeto, não mantiver a proposta, fa-
lhar ou fraudar na execução do contrato, comportar-se de modo
inidôneo ou cometer fraude fiscal, ficará impedido de licitar e con-
tratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios e, será
descredenciado no Sicaf, ou nos sistemas de cadastramento de
fornecedores a que se refere o inciso XIV do art. 4º desta Lei, pelo
prazo de até 5 (cinco) anos, sem prejuízo das multas previstas em
edital e no contrato e das demais cominações legais.

TCU – Acórdão nº 3.171/2011 – Plenário


Relatório
242. Vê-se que houve uma opção legislativa de adotar sanção pró-
pria, mais rigorosa, aos participantes de certames realizados median-
te modalidade pregão. Tal escolha deveu-se à necessidade de coibir
condutas que viessem a embaraçar o andamento dos trabalhos, haja
vista o fim buscado pelo legislador de agilizar as contratações gover-
namentais, para fazer frente a processo, até então, moroso, burocráti-
co e muitas vezes ineficiente, consoante consignado na exposição de
motivos da medida provisória que deu origem à lei.

162
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

243. Tal agilização foi implementada na lei com a introdução de


facilidades e a redução de formalidades e exigências em relação
aos procedimentos adotados nas modalidades tradicionais. Dessa
forma, se de um lado deu-se maior liberdade, por outro se estabe-
leceu sanção mais severa para contratações por meio de pregão
do que aquelas estipuladas na Lei de Licitações e Contratos.
244. Portanto, verifica-se que a sanção disposta no art. 7º da Lei
10.520/2002 não se confunde com aquelas previstas no art. 87 da
Lei 8.666/1993, visto que são penalidades distintas.
[...]
259. Quanto ao argumento de que a [...] restringiu expressamente
a abrangência da punição às licitações e contratações por ela rea-
lizadas e por isso não seria possível ampliá-la, sob pena de torná-
-la mais gravosa, também não pode prosperar, pois o art. 7º da Lei
10.520/2002, que fundamentou a sanção em análise, estipula as
possíveis opções para a respectiva extensão: União, Estados, Dis-
trito Federal ou Municípios. O que definirá essa extensão é a esfe-
ra a qual pertence o órgão ou a entidade aplicadora da punição.
Conforme já explicitado, o texto do dispositivo não dá margem à
outra interpretação.
260. Portanto, uma vez definida a aplicação da penalidade com
amparo no art. 7º da Lei 10.520/2002, a extensão é aquela precei-
tuada na lei. Nem mais, nem menos, pois não cabe ao aplicador
da sanção restringir ou aumentar a sua abrangência quando a lei
não permite.

163
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

261. Pelas razões expendidas, conclui-se que quem sofrer a san-


ção disposta no art. 7º da Lei 10.520/2011 [sic] ficará impedido de
licitar e contratar com toda a esfera (Administração direta e indi-
reta) do órgão ou entidade que a aplicou e deve ser descredencia-
do no Sicaf, ou nos sistemas de cadastramento de fornecedores
referidos no inciso XIV do art. 4º da mesma lei, pelo prazo de até
cinco anos.
(Relator: André Luís de Carvalho; Data do Julgamento: 30/11/2011)

TCU – Acórdão nº 2.081/2014 – Plenário


Voto
12. De início, corroborando as ressalvas empreendidas pelo di-
retor da unidade, creio que a intelecção sobre a abrangência do
art. 87 da Lei de Licitações não seja, exatamente, a tese a ser des-
nudada para o presente julgamento; controvérsia, aliás, em que
concordo com a linha jurisprudencial menos ampliativa conferida
pelo TCU em seus últimos julgados.
13. Trata-se, aqui, de avaliação específica obre a interpretação
conferida ao art. 7º da Lei 10.520/2002:
Art 7º Quem, convocado dentro do prazo de validade da sua pro-
posta, não celebrar o contrato, deixar de entregar ou apresentar
documentação falsa exigida para o certame, ensejar o retarda-
mento da execução de seu objeto, não mantiver a proposta, fa-
lhar ou fraudar na execução do contrato, comportar-se de modo
inidôneo ou cometer fraude fiscal, ficará impedido de licitar e con-
tratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios e, será

164
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

descredenciado no Sicaf, ou nos sistemas de cadastramento de


fornecedores a que se refere o inciso XIV do art. 4º desta Lei, pelo
prazo de até 5 (cinco) anos, sem prejuízo das multas previstas em
edital e no contrato e das demais cominações legais. (grifei)
14. Sobre o assunto, o posicionamento doutrinário majoritário –
ao qual me alinho – é que a punição pautada na Lei do Pregão
aplica-se para toda o ente federativo aplicador da sanção. Cito,
como exemplo, o entendimento de Marçal Justen Filho (Comen-
tários à legislação do pregão comum e eletrônico. 4ª ed. São Pau-
lo: Dialética, 2005, p.193):
A utilização da preposição ‘ou’ indica disjunção, alternatividade.
Isso significa que a punição terá efeitos na órbita interna do ente
federativo que aplicar a sanção. Logo, e considerando o enfoque
mais tradicional adotado a propósito da sistemática da Lei nº
8.666, ter-se-ia de reconhecer que a sanção prevista no art. 7º da
Lei do Pregão consiste em suspensão do direito de licitar e contra-
tar. Não é uma declaração de inidoneidade. Portanto, um sujeito
punido no âmbito de um Município não teria afetada sua idonei-
dade para participar de licitação promovida na órbita de outro
ente federal.
15. No mesmo entendimento, Joel Menezes Niebuhr argumen-
ta (Pregão presencial e eletrônico. 4ª ed. Curitiba: Zênite, 2006, p.
257):
Perceba-se que o legislador, ao dispor da amplitude das sanções
administrativas, utilizou a conjunção alternativa ‘ou’, o que signi-
fica que o impedimento de contratar abrange apenas ao ente fe-

165
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

derativo que aplicou a penalidade, sem estender-se aos demais.


Noutras palavras, empresa impedida de participar de licitação
pela União, pode participar, livremente, de licitações nos Estados,
Distrito Federal e Municípios.
(Relator: Augusto Sherman Cavalcanti; Data do Julgamento: 06/08/2014)

Lei nº 14.133/2021
Art. 156. [...]
§ 4º A sanção prevista no inciso III do caput deste artigo será apli-
cada ao responsável pelas infrações administrativas previstas nos
incisos II, III, IV, V, VI e VII do caput do art. 155 desta Lei, quando
não se justificar a imposição de penalidade mais grave, e impedi-
rá o responsável de licitar ou contratar no âmbito da Administra-
ção Pública direta e indireta do ente federativo que tiver aplicado
a sanção, pelo prazo máximo de 3 (três) anos.
§ 5º A sanção prevista no inciso IV do caput deste artigo será apli-
cada ao responsável pelas infrações administrativas previstas nos
incisos VIII, IX, X, XI e XII do caput do art. 155 desta Lei, bem como
pelas infrações administrativas previstas nos incisos II, III, IV, V, VI
e VII do caput do referido artigo que justifiquem a imposição de
penalidade mais grave que a sanção referida no § 4º deste artigo,
e impedirá o responsável de licitar ou contratar no âmbito da Ad-
ministração Pública direta e indireta de todos os entes federati-
vos, pelo prazo mínimo de 3 (três) anos e máximo de 6 (seis) anos.

166
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

QUESTÃO 26

Quais sanções podem ser cumuladas de


acordo com a Lei nº 8.666/1993 e a nova Lei?
As multas moratória e compensatória podem
ser aplicadas conjuntamente em um mesmo
contrato e também por um mesmo fato
(infração)?

CUMULAÇÃO DAS MULTAS COM AS DEMAIS SANÇÕES


ADMINISTRATIVAS

LEI Nº 8.666/1993 NOVA LEI

ADVERTÊNCIA ADVERTÊNCIA

+ +
MULTA

MULTA

SUSPENSÃO IMPEDIMENTO

DECLARAÇÃO DE DECLARAÇÃO DE
INIDONEIDADE INIDONEIDADE

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Lei nº 8.666/1993
Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Adminis-
tração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as
seguintes sanções:
I - advertência;
II - multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no
contrato;
III - suspensão temporária de participação em licitação e impedi-
mento de contratar com a Administração, por prazo não superior
a 2 (dois) anos;
IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a
Administração Pública enquanto perdurarem os motivos deter-
minantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação
perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será
concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pe-
los prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção apli-
cada com base no inciso anterior.
[...].
§ 2º As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste artigo poderão
ser aplicadas juntamente com a do inciso II, facultada a defesa
prévia do interessado, no respectivo processo, no prazo de 5 (cin-
co) dias úteis.

168
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Lei nº 14.133/2021
Art. 156. Serão aplicadas ao responsável pelas infrações adminis-
trativas previstas nesta Lei as seguintes sanções:
I – advertência;
II – multa;
III – impedimento de licitar e contratar;
IV – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar.
[...]
§ 7º As sanções previstas nos incisos I, III e IV do caput deste artigo
poderão ser aplicadas cumulativamente com a prevista no inciso
II do caput deste artigo.

Aplicação e cobrança conjunta das multas moratória e compensatória

Lei nº 8.666/1993
Art. 86. O atraso injustificado na execução do contrato sujeitará
o contratado à multa de mora, na forma prevista no instrumento
convocatório ou no contrato.
[...]
Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Adminis-
tração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as
seguintes sanções:
[...]
II - multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no
contrato;

169
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Código Civil
Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obri-
gação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa
da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à
mora.
Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total
inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternati-
va a benefício do credor.
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de
mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada,
terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada,
juntamente com o desempenho da obrigação principal.
[...]
Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o
credor alegue prejuízo.
Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláu-
sula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se
assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como
mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo
excedente.

STJ – REsp nº 832.929/SP – Quinta Turma


Ementa
DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. LOCAÇÃO.
AÇÃO DE DESPEJO CUMULADA COM COBRANÇA DE ALUGUÉIS.
MULTAS COMPENSATÓRIA E MORATÓRIA. FATOS GERADORES DIS-

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

TINTOS. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO


ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.
1. É firme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sen-
tido de ser possível a cumulação das multas moratória e compen-
satória quando tiverem elas origem em fatos geradores diversos,
como ocorrido no caso concreto.
2. Recurso especial conhecido e provido.
(Relator: Arnaldo Esteves Lima; Data do Julgamento: 06/09/2007)

171
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

QUESTÃO 27

Em acórdão do ano de 2020, o TCU


recomendou limites à multa indenizatória.
Quais são esses limites? Essa recomendação
está alinhada com a nova Lei?

TCU – Acórdão nº 2.274/2020 – Plenário


Enunciado
A multa contratual decorrente da inexecução total do obje-
to está limitada a 10% do valor do contrato (art. 9º do Decreto
22.626/1933, revigorado pelo Decreto s/nº de 29/11/1991).
(Relator: Raimundo Carreiro; Data do Julgamento: 26/08/2020)

Lei nº 14.133/2021
Art. 156. Serão aplicadas ao responsável pelas infrações adminis-
trativas previstas nesta Lei as seguintes sanções:
I – advertência;
II – multa;
III – impedimento de licitar e contratar;
IV – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar.
[...]

172
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

§ 3º A sanção prevista no inciso II do caput deste artigo, calculada


na forma do edital ou do contrato, não poderá ser inferior a 0,5%
(cinco décimos por cento) nem superior a 30% (trinta por cento)
do valor do contrato licitado ou celebrado com contratação direta
e será aplicada ao responsável por qualquer das infrações admi-
nistrativas previstas no art. 155 desta Lei.

173
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

QUESTÃO 28

Aplicadas as sanções de suspensão do


direito de licitar e contratar, de declaração
de inidoneidade ou de impedimento, é
possível a manutenção de outros contratos
firmados com o mesmo contratante? Quais os
entendimentos do TCU e do STJ?

STJ – MS nº 13.964/DF – Primeira Seção


Ementa
ADMINISTRATIVO. DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE PARA LICITAR
E CONTRATAR COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. VÍCIOS FORMAIS
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA. EFEITOS EX NUNC
DA DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE: SIGNIFICADO.
1. Ainda que reconhecida a ilegitimidade da utilização, em pro-
cesso administrativo, de conversações telefônicas interceptadas
para fins de instrução criminal (única finalidade autorizada pela
Constituição - art. 5º, XII), não há nulidade na sanção administra-
tiva aplicada, já que fundada em outros elementos de prova, co-
lhidas em processo administrativo regular, com a participação da
empresa interessada.

174
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

2. Segundo precedentes da 1ª Seção, a declaração de inidonei-


dade “só produz efeito para o futuro (efeito ex nunc), sem inter-
ferir nos contratos já existentes e em andamento” (MS 13.101/DF,
Min. Eliana Calmon, DJe de 09.12.2008). Afirma-se, com isso, que
o efeito da sanção inibe a empresa de “licitar ou contratar com
a Administração Pública” (Lei 8666/93, art. 87), sem, no entanto,
acarretar, automaticamente, a rescisão de contratos administrati-
vos já aperfeiçoados juridicamente e em curso de execução, no-
tadamente os celebrados perante outros órgãos administrativos
não vinculados à autoridade impetrada ou integrantes de outros
entes da Federação (Estados, Distrito Federal e Municípios). Toda-
via, a ausência do efeito rescisório automático não compromete
nem restringe a faculdade que têm as entidades da Administra-
ção Pública de, no âmbito da sua esfera autônoma de atuação,
promover medidas administrativas específicas para rescindir os
contratos, nos casos autorizados e observadas as formalidades
estabelecidas nos artigos 77 a 80 da Lei 8.666/93.
3. No caso, está reconhecido que o ato atacado não operou au-
tomaticamente a rescisão dos contratos em curso, firmados pela
impetrante.
4. Mandado de segurança denegado, prejudicado o agravo regi-
mental.
(Relator: Teori Albino Zavascki; Data do Julgamento: 13/05/2009)

175
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

TCU – Acórdão nº 3.002/2010 – Plenário


Sumário
RECURSOS DE RECONSIDERAÇÃO. CONHECIMENTO. PROVIMEN-
TO PARCIAL. ALTERAR REDAÇÃO DO ITEM 9.3.1. DO ACÓRDÃO
1262/2009-TCU-PLENÁRIO, DE MODO A CONFERIR EFEITOS EX-
-NUNC À DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE DAS EMPRESAS. CIÊN-
CIA
[...]
Voto
4. Ao compulsar os exames empreendidos pela Serur, com os
quais o Ministério Público junto ao TCU manifestou-se de acordo,
vejo que a unidade técnica sugere que seja dado provimento par-
cial aos apelos em face de dois tópicos, a saber: a) a declaração de
inidoneidade apenas produz efeitos ex-nunc; e b) [...]
5. Quanto ao primeiro tópico, relativo à eficácia da declaração de
inidoneidade, manifesto-me de acordo com os exames empreen-
didos nos autos, pois, com amparo na moderna jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça - STJ e do Tribunal Regional Federal
da 1ª Região - TRF-1, concluiu-se que a declaração de inidoneida-
de não dá ensejo à imediata rescisão de todos os contratos firma-
dos entre as empresas sancionadas com a administração pública
federal. Isso porque a declaração de inidoneidade apenas produz
efeitos ex-nunc, não autorizando que sejam desfeitos todos os
atos pretéritos ao momento de sua proclamação.

176
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

6. Nesse sentido, são plenamente aplicáveis os escólios do Exmo.


Ministro Teori Albino Zavascki, exarados nos autos do MS 13.964/
DF, cuja ementa transcrevo a seguir:
“ADMINISTRATIVO. DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE PARA LICI-
TAR E CONTRATAR COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. VÍCIOS FOR-
MAIS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA. EFEITOS EX
NUNC DA DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE: SIGNIFICADO.
1. Ainda que reconhecida a ilegitimidade da utilização, em pro-
cesso administrativo, de conversações telefônicas interceptadas
para fins de instrução criminal (única finalidade autorizada pela
Constituição - art. 5º, XII), não há nulidade na sanção administra-
tiva aplicada, já que fundada em outros elementos de prova, co-
lhidas em processo administrativo regular, com a participação da
empresa interessada.
2. Segundo precedentes da 1ª Seção, a declaração de inidonei-
dade “só produz efeito para o futuro (efeito ex nunc), sem inter-
ferir nos contratos já existentes e em andamento” (MS 13.101/DF,
Min. Eliana Calmon, DJe de 09.12.2008). Afirma-se, com isso, que
o efeito da sanção inibe a empresa de “licitar ou contratar com
a Administração Pública” (Lei 8666/93, art. 87), sem, no entanto,
acarretar, automaticamente, a rescisão de contratos administrati-
vos já aperfeiçoados juridicamente e em curso de execução, no-
tadamente os celebrados perante outros órgãos administrativos
não vinculados à autoridade impetrada ou integrantes de outros
entes da Federação (Estados, Distrito Federal e Municípios). Toda-
via, a ausência do efeito rescisório automático não compromete
nem restringe a faculdade que têm as entidades da Administra-

177
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

ção Pública de, no âmbito da sua esfera autônoma de atuação,


promover medidas administrativas específicas para rescindir os
contratos, nos casos autorizados e observadas as formalidades
estabelecidas nos artigos 77 a 80 da Lei 8.666/93.
3. No caso, está reconhecido que o ato atacado não operou au-
tomaticamente a rescisão dos contratos em curso, firmados pela
impetrante.
4. Mandado de segurança denegado, prejudicado o agravo regi-
mental.” (grifos acrescidos)
7. Em acréscimo às ponderações de Sua Excelência, as quais ado-
to como razões de decidir, pondero que a rescisão de todos os
contratos anteriormente celebrados pela empresa declarada ini-
dônea nem sempre se mostra a solução mais vantajosa para a ad-
ministração pública, pois, dependendo da natureza dos serviços
pactuados, que em algumas situações não podem sofrer solução
de continuidade, não seria vantajoso para a administração res-
cindir contratos cuja execução estivesse adequada para celebrar
contratos emergenciais, no geral mais onerosos e com nível de
prestação de serviços diverso, qualitativamente, daquele que se-
ria obtido no regular procedimento licitatório.
8. Contudo, no que concerne aos contratos decorrentes de certa-
mes impugnados, nos quais se verificam condutas que autorizam
a declaração de inidoneidade das empresas participantes, enten-
do que devem ser prontamente rescindidos.
9. Dessa maneira, estaria correta a proposta apresentada pela
Serur para ser promovida a alteração do item 9.3.1. do Acórdão

178
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

1262/2009-TCU-Plenário, de forma a contemplar determinação


para ser prontamente rescindido o contrato decorrente do Pre-
gão 45/2001 e proibir a renovação dos contratos que porventura
estivessem em vigor com as outras empresas declaradas inidô-
neas. Não obstante, tal proposta perdeu objeto, haja vista que,
segundo pesquisa efetuada ao sítio dos correios (http://www.
correios.com.br/institucional/licit_compras_contratos/compras_
contratos/outras_pesquisas_pchave.cfm?pchave=transporte),
não estão em vigor quaisquer contratos celebrados com as em-
presas Skymaster Airlines Ltda., Beta - Brazilian Express Transpor-
tes Aéreo Ltda. e Aeropostal Brasil Transporte Aéreo Ltda. Perdeu
o objeto, também, a própria determinação original do item 9.3.1.
do Acórdão recorrido. Desnecessário, portanto, fazer qualquer al-
teração no item 9.3.1 do Acórdão recorrido, ou mesmo torná-lo
insubsistente.
(Relator: José Jorge; Data do Julgamento: 10/11/2010)

179
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

QUESTÃO 29

Qual o passo a passo do procedimento para


a aplicação das penalidades previstas na
Lei nº 8.666/1993, na Lei do Pregão e na
nova Lei de Licitações? Quais as principais
novidades da nova Lei? Quem deve conduzir
o processo de aplicação de penalidade e qual
é a autoridade competente para aplicar cada
uma das sanções administrativas? Como
deve ser instruído o processo para evitar
apontamentos e questionamentos futuros?

180
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Comissão de licitação, pregoeiro, equipe de apoio ou fiscal do contrato se deparam com o cometimento
de falhas pelo interessado (licitante ou contratado) que ensejam a aplicação de sanções. Devem fazer as
anotações necessárias para a instrução do processo e levar ao conhecimento da autoridade competente,
sugerindo a(s) sanção(ões) a ser(em) aplicada(s) e/ou rescisão contratual.

NOVA LEI: Obrigatória apuração de responsabilidade com base na Lei Anticorrupção, o que ocorre de
forma conjunta, nos mesmos autos (art. 159).

Abertura do processo administrativo específico, com breve relato das ocorrências, indicando a
pretensão de aplicar a penalidade "x" e/ou "y" e/ou possível rescisão contratual, bem como
determinando a intimação do licitante ou contratado (art. 26 da Lei nº 9.784/1999).

Intimação do licitante ou contratado para exercício do contraditório e da ampla defesa no prazo de


5 dias úteis ou, no caso de declaração de inidoneidade, dez dias.

NOVA LEI: Prazo de defesa prévia é de 15 dias úteis para multa, impedimento de licitar e contratar e
declaração de inidoneidade (arts. 157 e 158).

Produção de provas, a exemplo de vistoria ou oitiva de testemunha.

Manifestação do licitante ou contratado sobre as provas produzidas no prazo de até 10 dias corridos
(art. 46 da Lei nº 9.784/1999).

NOVA LEI: Prazo de 15 dias úteis para sanções de impedimento de licitar e contratar e de declaração de
inidoneidade (art. 158, § 2º).

Avaliação e emissão de parecer pela assessoria jurídica (art. 38, parágrafo único, 181
da Lei nº 8.666/1993).
Avaliação e emissão AULA 1
de parecerAULA
pela2 assessoria
AULA 3 jurídica
AULA (art.
4 AULA
38, 5
parágrafo único,
da Lei nº 8.666/1993).
SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Decisão motivada adotada pela autoridade competente quanto à aplicação de determinadas


sanções e/ou rescisão contratual.

NOVA LEI: Pode haver, ainda, a desconsideração da personalidade jurídica (art. 160).

Intimação pessoal do interessado

Abertura de prazo para recurso administrativo, cinco dias úteis (art. 109, inc. I, alínea "f" ou art. 109,
inc. II, da Lei nº 8.666/1993). Esse recurso não produz efeito suspensivo (art. 109, § 2º,
da Lei nº 8.666/1993).
NOVA LEI: Prazo de recurso de 15 dias úteis para advertência, multa e impedimento (art. 166), e o
mesmo prazo para reconsideração da declaração de inidoneidade (art. 167). Efeito suspensivo para
ambos (art. 168).

Decisão motivada sobre o recurso.

Publicação da decisão na imprensa oficial, intimação pessoal do contratado e informação para o


Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP) e para o Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e
Suspensas (CEIS).

NOVA LEI: A informação para tais cadastros pode ocorre em até 15 dias úteis (art. 161).

Operatividade e exequibilidade da decisão

182
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Novidade Tipicidade: previsão expressa de


infrações
nº 01

Pena de impedimento de licitar Novidade


e contratar
nº 02

Novidade Correlação expressa entre


infrações e sanções
nº 03

Aplicação de sanções de
Novidade
impedimento e de declaração de
inidoneidade precedidas de nº 04
processo de responsabilização
conduzido por comissão

Obrigatória apuração de
Novidade responsabilidade com base na
nº 05 Lei Anticorrupção

Desconsideração da personalidade Novidade


jurídica
nº 06

183
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Lei nº 14.133/2021
Art. 155. O licitante ou o contratado será responsabilizado admi-
nistrativamente pelas seguintes infrações:
I – dar causa à inexecução parcial do contrato;
II – dar causa à inexecução parcial do contrato que cause grave
dano à Administração, ao funcionamento dos serviços públicos
ou ao interesse coletivo;
III – dar causa à inexecução total do contrato;
IV – deixar de entregar a documentação exigida para o certame;
V – não manter a proposta, salvo em decorrência de fato superve-
niente devidamente justificado;
VI – não celebrar o contrato ou não entregar a documentação exi-
gida para a contratação, quando convocado dentro do prazo de
validade de sua proposta;
VII – ensejar o retardamento da execução ou da entrega do objeto
da licitação sem motivo justificado;
VIII – apresentar declaração ou documentação falsa exigida para
o certame ou prestar declaração falsa durante a licitação ou a exe-
cução do contrato;
IX – fraudar a licitação ou praticar ato fraudulento na execução do
contrato;
X – comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude de qual-
quer natureza;
XI – praticar atos ilícitos com vistas a frustrar os objetivos da lici-
tação;

184
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

XII – praticar ato lesivo previsto no art. 5º da Lei nº 12.846, de 1º


de agosto de 2013.
Art. 156. Serão aplicadas ao responsável pelas infrações adminis-
trativas previstas nesta Lei as seguintes sanções:
I – advertência;
II – multa;
III – impedimento de licitar e contratar;
IV – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar.
§ 1º Na aplicação das sanções serão considerados:
I – a natureza e a gravidade da infração cometida;
II – as peculiaridades do caso concreto;
III – as circunstâncias agravantes ou atenuantes;
IV – os danos que dela provierem para a Administração Pública;
V – a implantação ou o aperfeiçoamento de programa de integri-
dade, conforme normas e orientações dos órgãos de controle.
§ 2º A sanção prevista no inciso I do caput deste artigo será aplica-
da exclusivamente pela infração administrativa prevista no inciso
I do caput do art. 155 desta Lei, quando não se justificar a imposi-
ção de penalidade mais grave.
§ 3º A sanção prevista no inciso II do caput deste artigo, calculada
na forma do edital ou do contrato, não poderá ser inferior a 0,5%
(cinco décimos por cento) nem superior a 30% (trinta por cento)
do valor do contrato licitado ou celebrado com contratação direta

185
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

e será aplicada ao responsável por qualquer das infrações admi-


nistrativas previstas no art. 155 desta Lei.
§ 4º A sanção prevista no inciso III do caput deste artigo será apli-
cada ao responsável pelas infrações administrativas previstas nos
incisos II, III, IV, V, VI e VII do caput do art. 155 desta Lei, quando
não se justificar a imposição de penalidade mais grave, e impedi-
rá o responsável de licitar ou contratar no âmbito da Administra-
ção Pública direta e indireta do ente federativo que tiver aplicado
a sanção, pelo prazo máximo de 3 (três) anos.
§ 5º A sanção prevista no inciso IV do caput deste artigo será apli-
cada ao responsável pelas infrações administrativas previstas nos
incisos VIII, IX, X, XI e XII do caput do art. 155 desta Lei, bem como
pelas infrações administrativas previstas nos incisos II, III, IV, V, VI
e VII do caput do referido artigo que justifiquem a imposição de
penalidade mais grave que a sanção referida no § 4º deste artigo,
e impedirá o responsável de licitar ou contratar no âmbito da Ad-
ministração Pública direta e indireta de todos os entes federati-
vos, pelo prazo mínimo de 3 (três) anos e máximo de 6 (seis) anos.
§ 6º A sanção estabelecida no inciso IV do caput deste artigo será
precedida de análise jurídica e observará as seguintes regras:
I – quando aplicada por órgão do Poder Executivo, será de com-
petência exclusiva de ministro de Estado, de secretário estadual
ou de secretário municipal e, quando aplicada por autarquia ou
fundação, será de competência exclusiva da autoridade máxima
da entidade;

186
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

II – quando aplicada por órgãos dos Poderes Legislativo e Judici-


ário, pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública no desem-
penho da função administrativa, será de competência exclusiva
de autoridade de nível hierárquico equivalente às autoridades re-
feridas no inciso I deste parágrafo, na forma de regulamento.
§ 7º As sanções previstas nos incisos I, III e IV do caput deste artigo
poderão ser aplicadas cumulativamente com a prevista no inciso
II do caput deste artigo.
§ 8º Se a multa aplicada e as indenizações cabíveis forem superio-
res ao valor de pagamento eventualmente devido pela Adminis-
tração ao contratado, além da perda desse valor, a diferença será
descontada da garantia prestada ou será cobrada judicialmente.
§ 9º A aplicação das sanções previstas no caput deste artigo não
exclui, em hipótese alguma, a obrigação de reparação integral do
dano causado à Administração Pública.
Art. 157. Na aplicação da sanção prevista no inciso II do caput do
art. 156 desta Lei, será facultada a defesa do interessado no prazo
de 15 (quinze) dias úteis, contado da data de sua intimação.
Art. 158. A aplicação das sanções previstas nos incisos III e IV do
caput do art. 156 desta Lei requererá a instauração de processo
de responsabilização, a ser conduzido por comissão composta de
2 (dois) ou mais servidores estáveis, que avaliará fatos e circuns-
tâncias conhecidos e intimará o licitante ou o contratado para,
no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contado da data de intimação,
apresentar defesa escrita e especificar as provas que pretenda
produzir.

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SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

§ 1º Em órgão ou entidade da Administração Pública cujo quadro


funcional não seja formado de servidores estatutários, a comissão
a que se refere o caput deste artigo será composta de 2 (dois) ou
mais empregados públicos pertencentes aos seus quadros per-
manentes, preferencialmente com, no mínimo, 3 (três) anos de
tempo de serviço no órgão ou entidade.
§ 2º Na hipótese de deferimento de pedido de produção de novas
provas ou de juntada de provas julgadas indispensáveis pela co-
missão, o licitante ou o contratado poderá apresentar alegações
finais no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contado da data da inti-
mação.
§ 3º Serão indeferidas pela comissão, mediante decisão funda-
mentada, provas ilícitas, impertinentes, desnecessárias, protela-
tórias ou intempestivas.
§ 4º A prescrição ocorrerá em 5 (cinco) anos, contados da ciência
da infração pela Administração, e será:
I – interrompida pela instauração do processo de responsabiliza-
ção a que se refere caput deste artigo;
II – suspensa pela celebração de acordo de leniência previsto na
Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013;
III – suspensa por decisão judicial que inviabilize a conclusão da
apuração administrativa.
Art. 159. Os atos previstos como infrações administrativas nesta
Lei ou em outras leis de licitações e contratos da Administração
Pública que também sejam tipificados como atos lesivos na Lei nº
12.846, de 1º de agosto de 2013, serão apurados e julgados con-

188
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

juntamente, nos mesmos autos, observados o rito procedimental


e a autoridade competente definidos na referida Lei.
Parágrafo único. Na hipótese do caput deste artigo, se for cele-
brado acordo de leniência nos termos da Lei nº 12.846, de 1º de
agosto de 2013, a Administração também poderá isentar a pes-
soa jurídica das sanções previstas no art. 156 desta Lei e, se hou-
ver manifestação favorável do tribunal de contas competente, das
sanções previstas na sua respectiva lei orgânica. (VETADO.)
Art. 160. A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada
sempre que utilizada com abuso do direito para facilitar, encobrir
ou dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para
provocar confusão patrimonial, e, nesse caso, todos os efeitos das
sanções aplicadas à pessoa jurídica serão estendidos aos seus ad-
ministradores e sócios com poderes de administração, a pessoa
jurídica sucessora ou a empresa do mesmo ramo com relação de
coligação ou controle, de fato ou de direito, com o sancionado,
observados, em todos os casos, o contraditório, a ampla defesa e
a obrigatoriedade de análise jurídica prévia.

189
AULA 5
Sanções administrativas e crimes
em licitações e contratos

Professor:

Rodrigo Vissotto Junkes


Advogado. Doutorando em Direito pela
UBA. Mestre em Gestão de Políticas Públi-
cas pela Univali. Especialista em Direito Ad-
ministrativo e em Direito Civil. Consultor na
área de licitações e contratos. Integrante da
Equipe de Consultores Zênite. Participante
do Observatório Nacional de Políticas
Públicas e de cursos no Banco Interamerica-
no de Desenvolvimento.
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

QUESTÃO 30

Quais as diretrizes gerais previstas na IN


nº 43/2020 sobre dispensa, parcelamento,
compensação e suspensão de cobrança de
multas nas Leis nº 8.666/1993, nº 10.520/2002
e nº 12.462/2011?

DESTINATÁRIOS DO REGULAMENTO

IN nº 43/2020
Art. 1º Esta Instrução Normativa dispõe sobre a dispensa, o par-
celamento, a compensação e a suspensão de cobrança de multa
administrativa, prevista nas Leis nº 8.666, de 21 de junho de 1993,
nº 10.520, de 17 de julho de 2002 e nº 12.462, de 4 de agosto de
2011, no âmbito da Administração Pública federal direta, autár-
quica e fundacional, não inscritas em dívida ativa.
Parágrafo único. Os entes federativos poderão aplicar as disposi-
ções desta Instrução Normativa para os contratos administrativos
firmados que utilizem recursos da União decorrentes de transfe-
rências voluntárias.

191
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

CASOS DE DISPENSA DA FORMALIZAÇÃO DA COBRANÇA

IN nº 43/2020 Dispensa,
valor igual ou inferior a formalização e
R$ 1.000,00 cobrança de multa

IN nº 43/2020
Art. 2º Fica dispensada a formalização em processo, registro con-
tábil e cobrança administrativa dos débitos de que trata esta Ins-
trução Normativa, quando o valor total atribuído ao mesmo de-
vedor, sem juros ou atualizações, não ultrapassar o valor de que
trata o inciso I do art. 1º da Portaria MF nº 75, de 22 de março
de 2012, que dispõe sobre a inscrição de débitos na Dívida Ativa
da União e o ajuizamento de execuções fiscais pela Procuradoria-
-Geral da Fazenda Nacional.

CONSEQUÊNCIAS DA APLICAÇÃO DE NOVAS MULTAS

IN nº 43/2020
Art. 2º [...]
§ 1º A documentação comprobatória da responsabilidade perma-
necerá arquivada para eventual início do processo de cobrança,
caso haja novos débitos de mesma natureza relativos ao devedor,

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AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

cujo valor total seja superior ao limite estabelecido no caput, ob-


servado o prazo prescricional de cinco anos contados da data do
ato ou fato do qual se originarem.

CONDIÇÕES, VALOR E NÚMERO DE PARCELAS, PRAZO MÁXIMO


E PROCEDIMENTO PARA O PARCELAMENTO DE MULTAS

IN nº 43/2020
Requerimento do parcelamento
Art. 3º O débito resultante de multa administrativa de que trata
esta Instrução Normativa poderá ser parcelado, total ou parcial-
mente, em até 12 (doze) parcelas mensais e sucessivas, mediante
requerimento formal do interessado à Administração.
§ 1º O requerimento do interessado será acompanhado do com-
provante de que o devedor recolheu à Administração a quantia
correspondente ao valor do débito que pretende parcelar dividi-
do pelo número de prestações, observado o art. 4º, sob pena de
indeferimento sumário do pleito.
§ 2º A Administração poderá deferir ou indeferir o pedido ou, ain-
da, decidir pelo parcelamento do débito em número menor de
parcelas pretendidas pelo interessado.
§ 3º Enquanto não houver decisão da Administração, o devedor
recolherá mensalmente, a título de antecipação, a quantia calcu-
lada nos termos do § 1º.

193
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

§ 4º No caso de os débitos se encontrarem sob discussão adminis-


trativa ou judicial, submetidos ou não à causa legal de suspensão
de exigibilidade, o sujeito passivo deverá comprovar que desistiu
expressamente e de forma irrevogável da impugnação ou do re-
curso interposto, ou da ação judicial, e, cumulativamente, renun-
ciou a quaisquer alegações de direito sobre as quais se fundem a
ação judicial e o recurso administrativo.
§ 5º O pedido de parcelamento deferido constitui confissão de dívi-
da e instrumento hábil e suficiente para a exigência do crédito, po-
dendo a exatidão dos valores parcelados ser objeto de verificação.
§ 6º O parcelamento do débito não pode ultrapassar o prazo de
vigência originário do contrato.
Valor da parcela
Art. 4º O valor de cada parcela será obtido mediante a divisão
entre o valor do débito que se pretende parcelar e o número de
prestações.
§ 1° O valor mínimo de cada parcela não poderá ser inferior a 0,5%
(cinco décimos por cento) do limite mínimo definido pelo Tribunal
de Contas da União para instauração de Tomada de Contas Especial.
§ 2º O valor de cada prestação mensal, por ocasião do pagamento,
será acrescido de juros equivalentes à taxa referencial do Sistema
Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC para títulos federais,
acumulada mensalmente, calculados a partir do mês subsequen-
te ao da consolidação até o mês anterior ao do pagamento, e de
1% (um por cento) relativamente ao mês em que o pagamento
estiver sendo efetuado.

194
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

CANCELAMENTO DO PARCELAMENTO

IN nº 43/2020
Cancelamento do parcelamento
Art. 5º A inadimplência no pagamento ensejará o cancelamento
automático do parcelamento concedido, bem como a imediata
exigibilidade do débito não quitado.
Parágrafo único. Considera-se inadimplência a falta de pagamen-
to de 3 (três) prestações, consecutivas ou não.
Art. 6º Cancelado o parcelamento, apurar-se-á o saldo devedor,
providenciando-se, conforme o caso, o encaminhamento do dé-
bito para o prosseguimento da cobrança ou inscrição em dívida
ativa.
Art. 7º É vedado o reparcelamento de débito referente a parcela-
mento em curso ou que não tenha sido cumprido pelo devedor.

195
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

COMPENSAÇÃO DAS MULTAS COM CRÉDITOS CONTRATUAIS E


CONDIÇÕES PARA A COMPENSAÇÃO

IN nº 43/2020
Requerimento da compensação
Art. 8º Poderá haver compensação total ou parcial dos débitos
de que trata esta Instrução Normativa, com os créditos devidos
pela Administração decorrentes do mesmo contrato ou de outros
contratos administrativos que o interessado possua com o mes-
mo órgão ou entidade sancionadora.
§ 1º O pedido de compensação poderá ser formalizado pelo inte-
ressado, sem prejuízo da possibilidade de a Administração fazê-
-lo de ofício, acompanhado da relação dos contratos vigentes que
serão objeto de compensação do valor do débito pretendido, e
submetido à análise da Administração, que, deferindo o pedido,
terá caráter definitivo.
§ 2º A compensação será realizada em observância aos prazos
de validade de cada contrato administrativo indicado no reque-
rimento, não podendo ultrapassar o prazo de vigência originário
do contrato.
§ 3º A decisão que deferir ou indeferir o requerimento de que trata
o caput será proferida no prazo de até 30 (trinta) dias do pedido.
§ 4° Na hipótese de compensação parcelada mensalmente, a par-
cela indicada deverá ser fixa, observado o disposto nos §§ 1º e 2º
do art. 4º.

196
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

REFLEXOS NO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS COM


DEDICAÇÃO EXCLUSIVA DE MÃO DE OBRA

IN nº 43/2020
Requerimento da compensação
Art. 8º Poderá haver compensação total ou parcial dos débitos
de que trata esta Instrução Normativa, com os créditos devidos
pela Administração decorrentes do mesmo contrato ou de outros
contratos administrativos que o interessado possua com o mes-
mo órgão ou entidade sancionadora.
[...]
§ 5º As retenções para adimplemento das obrigações de natureza
trabalhista e previdenciária dos contratos de serviços com regime
de dedicação exclusiva de mão de obra têm prioridade em rela-
ção a pedidos de compensação de que trata o § 1º.

SUSPENSÃO DA COBRANÇA DA MULTA

IN nº 43/2020
Requerimento da suspensão
Art. 9º Excepcionalmente, motivada pelos impactos econômicos
advindos da emergência de saúde pública, nos termos da Lei nº
13.979, de 6 de fevereiro de 2020, a Administração, mediante re-
querimento formal do interessado, poderá suspender a cobrança
de que trata esta Instrução Normativa pelo período de até sessen-

197
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

ta dias após o término do estado de calamidade pública de que


trata o Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020.
§ 1º No requerimento de solicitação da suspensão da cobrança do
débito, poderá o interessado cumulativamente optar pelo parce-
lamento do débito, pela compensação do débito ou combinação
de ambos, nos termos dos Capítulos III e IV, cujas parcelas ou com-
pensações terão seus prazos estabelecidos a partir do período de
que trata o caput.
§ 2º A decisão sobre o requerimento de que trata o caput será
proferida no prazo de até 30 (trinta) dias do pedido.
§ 3º Na hipótese de deferimento do pedido, o valor do débito deve
ser consolidado, atualizando-o conforme o § 2º do art. 4º, a partir
do trânsito em julgado da decisão administrativa de imposição
da cobrança, observados os procedimentos dos Capítulos III e IV.

COMBINAÇÃO ENTRE PARCELAMENTO, COMPENSAÇÃO E


SUSPENSÃO DA COBRANÇA

IN nº 43/2020
Orientações gerais
Art. 10. As hipóteses de parcelamento, compensação e suspen-
são da cobrança poderão ser combinadas entre si.

198
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

QUESTÃO 31

Em quais situações o TCU pode declarar a


empresa contratada inidônea?

Lei nº 8.443/1992
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação,
o Tribunal declarará a inidoneidade do licitante fraudador para
participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pú-
blica Federal

199
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

QUESTÃO 32

É possível aplicar penalidade mesmo depois


de rescindido/extinto o contrato? Nessa
hipótese, a infração deve ser verificada e
comunicada ainda na vigência contratual?
Qual o prazo máximo para a aplicação de
penalidade? Qual a disciplina da nova Lei
quanto à prescrição?

Ausência de
Inadimplemento vinculação à vigência
Aplicação de sanções
contratual do contrato

Prazo prescricional de
Inadimplemento cinco anos para a
aplicação de sanções

Lei nº 9.873/1999
Art. 1º Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração
Pública Federal, direta e indireta, no exercício do poder de polí-
cia, objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados

200
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

da data da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou


continuada, do dia em que tiver cessado.
§ 1º Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisa-
do por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho,
cujos autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento
da parte interessada, sem prejuízo da apuração da responsabili-
dade funcional decorrente da paralisação, se for o caso.
§ 2º Quando o fato objeto da ação punitiva da Administração tam-
bém constituir crime, a prescrição reger-se-á pelo prazo previsto
na lei penal.

Doutrina – Eduardo Rocha Dias


As sanções aplicadas a contratados, no âmbito de uma relação
na qual o Poder Público mantém suas prerrogativas frente ao
particular contratado, relacionam-se com a atividade de fiscali-
zação efetuada pela Administração. Presume-se que o órgão ou
entidade que realizou a licitação e contratou o particular fiscalize
sua atuação e a execução do contrato. Findo o prazo contratual,
recebido o objeto e liberada a garantia eventualmente prestada,
a presunção é de que inocorreu qualquer inexecução contratual
(não se pode presumir que a Administração aja com incúria no
trato com a coisa pública).
Tal entendimento, no entanto, merece ser considerado com cui-
dado. Deve-se atentar para a gravidade de cada falta punida. Em
se tratando de multa moratória, por exemplo, a inércia da Admi-
nistração em instaurar o procedimento punitivo, a partir da ocor-

201
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

rência do ilícito nos contratos de prestação de serviços contínuos


ou nos quais exista cronograma fixado previamente (não se admi-
te que a cargo do particular contratado, face a seu poder de fisca-
lizar a execução da avença) ou após o recebimento em atraso da
prestação, poderá ser considerada como equivalente a um per-
dão tácito. A falta de norma expressa aludindo a tal exclusão da
responsabilidade do contratado, bem como a indisponibilidade
do poder-dever de punir da Administração levam, porém, a que
seja adotado o prazo qüinqüenal como limite para a aplicação da
multa moratória.
As faltas sancionadas com a advertência somente podem ser pu-
nidas durante a vigência do contrato. Findo este último, não mais
poderá ser aplicada, até por não haver mais interesse para a Ad-
ministração.
Já as infrações mais graves, punidas com multa, suspensão do di-
reito de contratar ou licitar ou contratar e com declaração de ini-
doneidade, caracterizando grave inexecução contratual ou práti-
ca de ilícitos, deve ser aplicado prazo qüinqüenal. O momento de
início desse prazo deve ser aquele em que é cometida a infração.
Pode ser, porém, que pela natureza do fato o mesmo não possa
ser imediatamente conhecido. Aí, então, o prazo prescricional de-
verá começar a correr a partir da ciência do fato pela autoridade
administrativa (José Armando da Costa, op. cit., p. 284)”.
(DIAS, Eduardo Rocha. Sanções administrativas aplicáveis a licitantes
e contratados. São Paulo: Dialética, 1997. p. 107-108.)

202
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

STJ – Informativo de Jurisprudência nº 428


Prescrição. Prazo quinquenal.
A possibilidade de a administração valer-se do prazo vintenário
previsto no CC/2002 para impor sanções e de o administrado só
ter o quinquenal do Dec. nº 20.910/1932 para veicular suas pre-
tensões escapa dos cânones da razoabilidade e isonomia, princí-
pios norteadores da atuação do administrador, máxime no cam-
po sancionatório. Assim, as prescrições administrativas em geral,
seja em ações judiciais tipicamente administrativas seja no pro-
cesso administrativo, devem sujeitar-se ao prazo quinquenal pre-
visto no referido decreto. Quanto ao crédito objeto de execução
fiscal que não possui natureza tributária (como no caso, de mul-
ta ambiental), este Superior Tribunal já se posicionou no sentido
de que o marco interruptivo da prescrição é o despacho do juiz
que ordena a citação. REsp 1.057.754-SP, Rel. Min. Luiz Fux; J. em:
23/03/2010.

STJ – REsp nº 714.756/SP – Segunda Turma


Ementa
PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO - COBRANÇA DE MULTA PELO
ESTADO - PRESCRIÇÃO - RELAÇÃO DE DIREITO PÚBLICO - CRÉDITO
DE NATUREZA ADMINISTRATIVA - INAPLICABILIDADE DO CC E DO
CTN - DECRETO 20.910/32 - PRINCÍPIO DA SIMETRIA.
1. Nos termos da Súmula 211/STJ, inadmissível o recurso especial
quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos de-
claratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.

203
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

2. Se a relação que deu origem ao crédito em cobrança tem assen-


to no Direito Público, não tem aplicação a prescrição constante do
Código Civil.
3. Uma vez que a exigência dos valores cobrados a título de multa
tem nascedouro num vínculo de natureza administrativa, não re-
presentando, por isso, a exigência de crédito tributário, afasta-se
do tratamento da matéria a disciplina jurídica do CTN.
4. Incidência, na espécie, do Decreto 20.910/32, porque à Admi-
nistração Pública, na cobrança de seus créditos, deve-se impor a
mesma restrição aplicada ao administrado no que se refere às dí-
vidas passivas daquela. Aplicação do princípio da igualdade, co-
rolário do princípio da simetria.
(Relatora: Eliana Calmon; Data do Julgamento: 07/02/2006)

A NOVA LEI DE LICITAÇÕES E SEGURANÇA JURÍDICA

Lei nº 14.133/2021
Art. 158. A aplicação das sanções previstas nos incisos III e IV do
caput do art. 156 desta Lei requererá a instauração de processo de
responsabilização, a ser conduzido por comissão composta de 2
(dois) ou mais servidores estáveis, que avaliará fatos e circunstân-
cias conhecidos e intimará o licitante ou o contratado para, no pra-
zo de 15 (quinze) dias úteis, contado da data de intimação, apre-
sentar defesa escrita e especificar as provas que pretenda produzir.
[...]

204
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

§ 4º A prescrição ocorrerá em 5 (cinco) anos, contados da ciência


da infração pela Administração, e será:
I – interrompida pela instauração do processo de responsabiliza-
ção a que se refere caput deste artigo;
II – suspensa pela celebração de acordo de leniência previsto na
Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013;
III – suspensa por decisão judicial que inviabilize a conclusão da
apuração administrativa.

DIFERENÇA ENTRE INTERRUPÇÃO E SUSPENSÃO DA


PRESCRIÇÃO

TJ/ES – Apelação nº 00007917120178080002


Voto
Sobre o tema anotam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona
Filho que “A diferença entre interrupção e suspensão da prescri-
ção é que, enquanto na segunda o prazo fica paralisado, na pri-
meira “zera-se” todo o prazo decorrido, recomeçando a contagem
“da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo
para a interromper” (Parágrafo único do art. 202 do CC-02).
(Relator: Fabio Clem de Oliveira; Data do Julgamento: 17/04/2018)

205
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

QUESTÃO 33

Com relação à Lei nº 12.846/2013 (Lei


Anticorrupção), pergunta-se:
a. Quais atos lesivos previstos na Lei
Anticorrupção podem gerar a responsabilização
da empresa, especialmente quanto a licitações e
contratos?

Lei nº 12.846/2013
Art. 5º Constituem atos lesivos à administração pública, nacional
ou estrangeira, para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pe-
las pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do art. 1º,
que atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangei-
ro, contra princípios da administração pública ou contra os com-
promissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos:
I - prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem
indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada;
II - comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qual-
quer modo subvencionar a prática dos atos ilícitos previstos nesta
Lei;

206
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

III - comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou


jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a iden-
tidade dos beneficiários dos atos praticados;
IV - no tocante a licitações e contratos:
a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer
outro expediente, o caráter competitivo de procedimento licita-
tório público;
b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de
procedimento licitatório público;
c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou ofe-
recimento de vantagem de qualquer tipo;
d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente;
e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para par-
ticipar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo;
f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento,
de modificações ou prorrogações de contratos celebrados com a
administração pública, sem autorização em lei, no ato convocató-
rio da licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratu-
ais; ou
g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos
contratos celebrados com a administração pública;
V - dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos,
entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclu-
sive no âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscaliza-
ção do sistema financeiro nacional.

207
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

b. Quais as sanções administrativas previstas


na Lei Anticorrupção e qual autoridade tem
competência para aplicá-las?

Lei nº 12.846/2013
Sanções
Art. 6º Na esfera administrativa, serão aplicadas às pessoas jurídi-
cas consideradas responsáveis pelos atos lesivos previstos nesta
Lei as seguintes sanções:
I - multa, no valor de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte
por cento) do faturamento bruto do último exercício anterior ao
da instauração do processo administrativo, excluídos os tributos,
a qual nunca será inferior à vantagem auferida, quando for possí-
vel sua estimação; e
II - publicação extraordinária da decisão condenatória.
§ 1º As sanções serão aplicadas fundamentadamente, isolada ou
cumulativamente, de acordo com as peculiaridades do caso con-
creto e com a gravidade e natureza das infrações.
§ 2º A aplicação das sanções previstas neste artigo será precedi-
da da manifestação jurídica elaborada pela Advocacia Pública ou
pelo órgão de assistência jurídica, ou equivalente, do ente públi-
co.
§ 3º A aplicação das sanções previstas neste artigo não exclui, em
qualquer hipótese, a obrigação da reparação integral do dano
causado.

208
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

§ 4º Na hipótese do inciso I do caput , caso não seja possível utili-


zar o critério do valor do faturamento bruto da pessoa jurídica, a
multa será de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a R$ 60.000.000,00 (ses-
senta milhões de reais).
§ 5º A publicação extraordinária da decisão condenatória ocor-
rerá na forma de extrato de sentença, a expensas da pessoa ju-
rídica, em meios de comunicação de grande circulação na área
da prática da infração e de atuação da pessoa jurídica ou, na sua
falta, em publicação de circulação nacional, bem como por meio
de afixação de edital, pelo prazo mínimo de 30 (trinta) dias, no
próprio estabelecimento ou no local de exercício da atividade, de
modo visível ao público, e no sítio eletrônico na rede mundial de
computadores.
Competência
Art. 8º A instauração e o julgamento de processo administrativo
para apuração da responsabilidade de pessoa jurídica cabem à
autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Exe-
cutivo, Legislativo e Judiciário, que agirá de ofício ou mediante
provocação, observados o contraditório e a ampla defesa.
§ 1º A competência para a instauração e o julgamento do pro-
cesso administrativo de apuração de responsabilidade da pessoa
jurídica poderá ser delegada, vedada a subdelegação.
§ 2º No âmbito do Poder Executivo federal, a Controladoria-Geral
da União - CGU terá competência concorrente para instaurar pro-
cessos administrativos de responsabilização de pessoas jurídicas
ou para avocar os processos instaurados com fundamento nesta

209
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

Lei, para exame de sua regularidade ou para corrigir-lhes o anda-


mento.
Art. 9º Competem à Controladoria-Geral da União - CGU a apu-
ração, o processo e o julgamento dos atos ilícitos previstos nesta
Lei, praticados contra a administração pública estrangeira, obser-
vado o disposto no Artigo 4 da Convenção sobre o Combate da
Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações
Comerciais Internacionais, promulgada pelo Decreto nº 3.678, de
30 de novembro de 2000.

210
ATOS LESIVOS QUE ATENTEM CONTRA O PATRIMÔNIO
AULA 1 PÚBLICO
AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5
NACIONAL OU ESTRANGEIRO, CONTRA PRINCÍPIOS DA
SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA OU CONTRA OS COMPROMISSOS
SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS
INTERNACIONAIS ASSUMIDOS PELO BRASIL

Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, Sanções específicas da Lei Anticorrupção:


vantagem indevida a agente público, ou a terceira Aplicação de multa de 0,1% a 20% do faturamento bruto da
pessoa a ele relacionada. empresa do último exercício anterior ao da instauração do
Comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de processo administrativo, excluídos os tributos, a qual nunca será
qualquer modo subvencionar a prática dos atos ilícitos inferior à vantagem auferida, quando for possível sua estimação.
previstos nesta Lei. A metodologia de obtenção do faturamento bruto encontra
Comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa previsão na IN CGU nº 01/2015.
física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais O procedimento para cálculo da multa e seus percentuais em
interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos dadas situações concretas encontra previsão no art. 17 do
praticados. Decreto nº 8.420/2015.
No tocante a licitações e contratos: Os percentuais para redução da multa nos casos mencionados
a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou consta do art. 18 do Decreto nº 8.420/2015.
qualquer outro expediente, o caráter competitivo de O art. 19 do Decreto nº 8.420/2015 prevê os valores da multa
procedimento licitatório público; em determinadas hipóteses
b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de Os limites mínimos e máximos das multas podem ser vistos no
qualquer ato de procedimento licitatório público; art. 20 do Decreto nº 8.420/2015
c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de Publicação extraordinária da decisão condenatória.
fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer Referida publicação será custeada pela pessoa jurídica,
tipo; ocorrerá na forma de extrato de sentença nos locais
d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; mencionados no art. 24 do Decreto nº 8.420/2015.
211
A aplicação das sanções não exime o dever de reparação
integral do dano causado.
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5
e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa Sanções da Lei nº 8.666/1993 ou outras normas de licitações e
jurídica para participar de licitação pública
SANÇÕESou contratos:
ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS
celebrar contrato administrativo;
Suspensão temporária e impedimento de contratar do inc. III
f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo do art. 87 da Lei nº 8.666/1993.
fraudulento, de modificações ou prorrogações de
contratos celebrados coma Administração Pública, Declaração de inidoneidade do inc. IV do art. 87 da Lei nº
sem autorização em lei, no ato convocatório da 8.666/1993.
licitação pública ou nos respectivos instrumentos Impedimento de licitar e contratar do art. 7º da Lei nº
contratuais; ou 10.520/2002.
g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-
Impedimento de licitar e contratar do art. 47 da Lei nº
financeiro dos contratos celebrados com a
12.462/2011 (RDC).
Administração Pública.
Dificultar atividade de investigação ou fiscalização Suspensão temporária e impedimento de contratar do art. 33,
de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou intervir inc. IV, da Lei nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
em sua atuação, inclusive no âmbito das agências Declaração de inidoneidade do art. 33, inc. V, da Lei nº
reguladoras e dos órgãos de fiscalização do Sistema 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).
Financeiro Nacional.
Sanções que restrinjam a participação em licitações ou
celebração de contratos com a Administração Pública, ainda
que não sejam de natureza administrativa.
Sanções aplicadas por organismos internacionais, agências
oficiais de cooperação estrangeira ou organismos financeiros
multilaterais de que o Brasil seja parte, que limitem o direito
de pessoas físicas e jurídicas celebrarem contratos financiados
com recursos daquelas organizações, nos termos de acordos,
212
protocolos, convenções ou tratados internacionais aprovados
pelo Congresso Nacional.
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5
IMPORTANTE:
SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS
A responsabilidade da pessoa jurídica é objetiva e não exclui a responsabilidade de seus dirigentes ou administradores ou
de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito.
A apuração da responsabilidade será efetuada por meio de Processo Administrativo de Responsabilização (PAR), nos
moldes do Decreto nº 8.420/2015 e Portaria CGU nº 910/2015.
Na aplicação das sanções, será levado em conta (art. 7º da Lei nº 12.846/2013):
- a gravidade da infração; a vantagem auferida ou pretendida pelo infrator; a consumação ou não da infração; o grau de
lesão ou perigo de lesão; o efeito negativo produzido pela infração; a situação econômica do infrator; a cooperação da
pessoa jurídica para a apuração das infrações, podendo, inclusive, vir a ser celebrado o acordo de leniência (art. 16); a
existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades
e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica; o valor dos contratos mantidos pela
pessoa jurídica com órgão ou entidade pública.
A competência, os requisitos, os efeitos e as consequências da celebração do acordo de leniência, bem como de seu
descumprimento, estão previstos nos arts. 16 e 17 da Lei nº 12.846/2013. Referido acordo, além de isentar de algumas
sanções, reduz o valor da multa aplicável, porém não exime a pessoa jurídica de reparar integralmente o dano causado.
A avaliação de programas de integridade deverá observar a Portaria CGU nº 909/2015.
A aplicação das sanções não exime o dever de reparação integral do dano causado.
A multa deve ser recolhida no prazo de 30 dias. Não efetuado o recolhimento, haverá inscrição em dívida ativa e promoção
de medidas cabíveis para cobrança do débito, nos moldes do art. 25 do Decreto nº 8.420/2015 e art. 23, § 5º, da Portaria
CGU nº 910/2015.
As infrações previstas na Lei nº 12.846/2013 prescrevem em cinco anos a contar da data da infração ou, no caso de infração
permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado. A instauração do processo que tenha por objeto a apuração da
infração interrompe a prescrição (art. 25 da Lei nº 12.846/2013).
As sanções serão registradas no Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP) e no Cadastro Nacional de Empresas
Inidôneas e Suspensas (CEIS).
213
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

c. Qual a disciplina da nova Lei de Licitações


sobre apuração conjunta das infrações?

Lei nº 14.133/2021
Art. 159. Os atos previstos como infrações administrativas nesta
Lei ou em outras leis de licitações e contratos da Administração
Pública que também sejam tipificados como atos lesivos na Lei nº
12.846, de 1º de agosto de 2013, serão apurados e julgados con-
juntamente, nos mesmos autos, observados o rito procedimental
e a autoridade competente definidos na referida Lei.
Parágrafo único. Na hipótese do caput deste artigo, se for cele-
brado acordo de leniência nos termos da Lei nº 12.846, de 1º de
agosto de 2013, a Administração também poderá isentar a pes-
soa jurídica das sanções previstas no art. 156 desta Lei e, se hou-
ver manifestação favorável do tribunal de contas competente, das
sanções previstas na sua respectiva lei orgânica. (VETADO.)

214
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

QUESTÃO 34

De acordo com a nova Lei, em que casos é


cabível a desconsideração da personalidade
jurídica da empresa nos processos de
aplicação de sanções? Quais as cautelas a
serem adotadas nesse caso?

Lei nº 14.133/2021
Art. 160. A personalidade jurídica poderá ser desconsiderada
sempre que utilizada com abuso do direito para facilitar, encobrir
ou dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para
provocar confusão patrimonial, e, nesse caso, todos os efeitos das
sanções aplicadas à pessoa jurídica serão estendidos aos seus ad-
ministradores e sócios com poderes de administração, a pessoa
jurídica sucessora ou a empresa do mesmo ramo com relação de
coligação ou controle, de fato ou de direito, com o sancionado,
observados, em todos os casos, o contraditório, a ampla defesa e
a obrigatoriedade de análise jurídica prévia.

215
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

QUESTÃO 35

Quais as alterações mais relevantes da nova


Lei a respeito dos crimes nas licitações?

INCLUSÃO DE CAPÍTULO PRÓPRIO NO CÓDIGO PENAL


BRASILEIRO

Lei nº 14.133/2021
Art. 178. O Título XI da Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar acrescido
do seguinte Capítulo II-B:
“CAPÍTULO II-B
DOS CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
Contratação direta ilegal
Art. 337-E. Admitir, possibilitar ou dar causa à contratação direta
fora das hipóteses previstas em lei:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Frustração do caráter competitivo de licitação

216
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

Art. 337-F. Frustrar ou fraudar, com o intuito de obter para si ou


para outrem vantagem decorrente da adjudicação do objeto da
licitação, o caráter competitivo do processo licitatório:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
Patrocínio de contratação indevida
Art. 337-G. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado
perante a Administração Pública, dando causa à instauração de
licitação ou à celebração de contrato cuja invalidação vier a ser
decretada pelo Poder Judiciário:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
Modificação ou pagamento irregular em contrato administrativo
Art. 337-H. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modifica-
ção ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor do
contratado, durante a execução dos contratos celebrados com a
Administração Pública, sem autorização em lei, no edital da licita-
ção ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar
fatura com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.
Perturbação de processo licitatório
Art. 337-I. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer
ato de processo licitatório:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
Violação de sigilo em licitação
Art. 337-J. Devassar o sigilo de proposta apresentada em proces-
so licitatório ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:

217
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

Pena – detenção, de 2 (dois) anos a 3 (três) anos, e multa.


Afastamento de licitante
Art. 337-K. Afastar ou tentar afastar licitante por meio de violên-
cia, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de qual-
quer tipo:
Pena – reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos, e multa, além da
pena correspondente à violência.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém ou de-
siste de licitar em razão de vantagem oferecida.
Fraude em licitação ou contrato
Art. 337-L. Fraudar, em prejuízo da Administração Pública, licita-
ção ou contrato dela decorrente, mediante:
I – entrega de mercadoria ou prestação de serviços com quali-
dade ou em quantidade diversas das previstas no edital ou nos
instrumentos contratuais;
II – fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de mercadoria fal-
sificada, deteriorada, inservível para consumo ou com prazo de
validade vencido;
III – entrega de uma mercadoria por outra;
IV – alteração da substância, qualidade ou quantidade da merca-
doria ou do serviço fornecido;
V – qualquer meio fraudulento que torne injustamente mais one-
rosa para a Administração Pública a proposta ou a execução do
contrato:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa.

218
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

Contratação inidônea
Art. 337-M. Admitir à licitação empresa ou profissional declarado
inidôneo:
Pena – reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e multa.
§ 1º Celebrar contrato com empresa ou profissional declarado ini-
dôneo:
Pena – reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e multa.
§ 2º Incide na mesma pena do caput deste artigo aquele que,
declarado inidôneo, venha a participar de licitação e, na mesma
pena do § 1º deste artigo, aquele que, declarado inidôneo, venha
a contratar com a Administração Pública.
Impedimento indevido
Art. 337-N. Obstar, impedir ou dificultar injustamente a inscrição
de qualquer interessado nos registros cadastrais ou promover in-
devidamente a alteração, a suspensão ou o cancelamento de re-
gistro do inscrito:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Omissão grave de dado ou de informação por projetista
Art. 337-O. Omitir, modificar ou entregar à Administração Pública
levantamento cadastral ou condição de contorno em relevante
dissonância com a realidade, em frustração ao caráter competi-
tivo da licitação ou em detrimento da seleção da proposta mais
vantajosa para a Administração Pública, em contratação para a
elaboração de projeto básico, projeto executivo ou anteprojeto,

219
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

em diálogo competitivo ou em procedimento de manifestação de


interesse:
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
§ 1º Consideram-se condição de contorno as informações e os le-
vantamentos suficientes e necessários para a definição da solução
de projeto e dos respectivos preços pelo licitante, incluídos son-
dagens, topografia, estudos de demanda, condições ambientais e
demais elementos ambientais impactantes, considerados requisi-
tos mínimos ou obrigatórios em normas técnicas que orientam a
elaboração de projetos.
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de obter benefício, direto ou
indireto, próprio ou de outrem, aplica-se em dobro a pena previs-
ta no caput deste artigo.
Art. 337-P. A pena de multa cominada aos crimes previstos neste
Capítulo seguirá a metodologia de cálculo prevista neste Código
e não poderá ser inferior a 2% (dois por cento) do valor do contra-
to licitado ou celebrado com contratação direta.”

220
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

QUESTÃO 36

Qual o entendimento da jurisprudência sobre


a configuração do crime previsto no art. 89
da Lei nº 8.666/1993? Exige dolo específico
ou trata-se de crime de mera conduta? Qual o
impacto concreto desse entendimento?

Lei nº 8.666/1993
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previs-
tas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à
dispensa ou à inexigibilidade:
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo com-
provadamente concorrido para a consumação da ilegalidade,
beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar
contrato com o Poder Público.

STF – Ação Penal nº 946/DF – Primeira Turma


Voto Min. Rel. Marco Aurélio
LICITAÇÃO – INEXIGIBILIDADE – INEXISTÊNCIA. Configura o delito
do artigo 89 da Lei no 8.666/1993 a ausência de licitação quando
não comprovada a exclusividade.

221
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

PECULATO-DESVIO – ADITIVO CONTRATUAL – AUSÊNCIA DE JUS-


TIFICATIVA. Configura o delito do artigo 312 do Código Penal a
celebração de aditivos contratuais, no percentual máximo previs-
to em lei – 25% –, quando não revelada a necessidade do ente da
Administração Pública, implicando superfaturamento dos contra-
tos e desvio de dinheiro público.
[…]
Embargos recebidos
Decisão: Inicialmente, o Tribunal, por maioria e nos termos do voto
do Relator, rejeitou as preliminares suscitadas, vencido o Ministro
Marco Aurélio, que, quanto a elas, não conhecia dos embargos
infringentes. Acompanharam o Ministro Relator com ressalva de
entendimento os Ministros Edson Fachin e Celso de Mello. No mé-
rito, o Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, aco-
lheu os embargos infringentes para absolver a embargante, ven-
cidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso e Marco Aurélio.
Falaram: pela embargante, o Dr. José Eduardo Martins Cardozo e
o Dr. Cezar Roberto Bitencourt, e, pelo embargado, a Dra. Raquel
Elias Ferreira Dodge, Procuradora-Geral da República. Presidiu o
julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 30.8.2018.
(Relator: Marco Aurélio; Data do Julgamento: 30/08/2016)

STJ – AgRg no REsp nº 1.674.901/MA


Ementa
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ART. 89
DA LEI N. 8.666/1993. HABEAS CORPUS IMPETRADO NA ORIGEM.

222
AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5

SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

ORDEM CONCEDIDA PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA


DE DEMONSTRAÇÃO DAS ELEMENTARES ESSENCIAIS DO TIPO.
DOLO ESPECÍFICO E EFETIVO PREJUÍZO AO ERÁRIO. ATIPICIDADE
DA CONDUTA. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. INÚMEROS PRECEDENTES.
1. O delito tipificado no art. 89 da Lei n. 8.666/1993 pune a condu-
ta de dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas
em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dis-
pensa ou à inexigibilidade, sendo, conforme entendimento pací-
fico desta Corte, exigido para a sua consumação a demonstração,
ao menos em tese, do dolo específico de causar dano ao erário,
bem como o efetivo prejuízo causado à administração pública,
devendo tais elementos estarem descritos na denúncia, sob pena
de ser considerada inepta.
(Relator: Sebastião Reis Júnior; Data do Julgamento: 03/09/2018)

223

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