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UNIVERSIDADE DE ARARAQUARA

EDSON COELHO CHAGAS

REVISÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS EM RAZÃO DA LEI DO

SUPERENDIVIDAMENTO:

Contratos de Empréstimos Bancários (Mútuo)

ARARAQUARA

2022
UNIVERSIDADE DE ARARAQUARA

EDSON COELHO CHAGAS

REVISÃO JUDICIAL DE CONTRATOS BANCÁRIOS EM RAZÃO DA LEI DO

SUPERENDIVIDAMENTO:

Contratos de Empréstimos Bancários (Mútuo)

Monografia apresentada como exigência para a


obtenção do título de Bacharel em Direito pela
Universidade de Araraquara – UNIARA

Orientador (a): Prof. Me. Marcelo Candido de


Azevedo

ARARAQUARA

2022
DECLARAÇÃO

Eu, Edson Coelho Chagas, declaro ser o autor do texto apresentado

como monografia de bacharelado com o título REVISÃO JUDICIAL DE

CONTRATOS BANCÁRIOS EM RAZÃO DA LEI DO

SUPERENDIVIDAMENTO: Contratos de Empréstimos Bancários (Mútuo).

Afirmo, também, ter seguido as normas da ABNT referentes às citações

textuais que utilizei e das quais eu não sou o autor, dessa forma, creditando

a autoria a seus verdadeiros autores.

Através dessa declaração dou ciência de minha responsabilidade sobre

o texto apresentado e assumo qualquer responsabilidade por eventuais

problemas legais no tocante aos direitos autorais e originalidade do texto.

Edson Coelho Chagas – 26 de agosto de 2022


FOLHA DE APROVAÇÃO

A presente monografia foi examinada, nesta data, pela Banca

Examinadora composta pelos seguintes membros

Orientador ............................................................

Marcelo Candido de Azevedo

1º Examinador ......................................................

(não colocar o nome do membro da banca)

2º Examinador ......................................................

(não colocar o nome do membro da banca)

Média _______ Data: / /


À minha esposa e ao meu filho.
Eles entendem o que Deus tem preparado para nossa
história. Compreenderam os grandes desafios desta que
foi mais uma formação acadêmica.

Aos meus pais.


Eles sempre me ensinaram os importantes e imutáveis
princípios que me norteiam até hoje.

Ao bom e maravilhoso Deus, glórias nas alturas.


SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................ 07
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 08
01. LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO – LEI Nº 14.181, DE 1º DE JULHO 2021
...................................................................................................................................... 11
01.01 A Positivação da Lei do Superendividamento .................................................19
02. DIREITO DO CONSUMIDOR – ART. 4º - POLÍTICA NACIONAL DAS
RELAÇÕES DE CONSUMO ................................................................................... 24
03. DIREITO CIVIL – “CONTRATOS” ....................................................................... 42
03.01 Principiologia Contratual ................................................................................ 45
03.02 Princípio da Função Social do Contrato ......................................................... 50
03.03 Princípio da Boa-Fé Objetiva .......................................................................... 52
03.04 Princípio do Equilibrio Econômico do Contrato ........................................... 54
03.05 Contratos Bancários – uma definição específica ............................................ 56
04. DA REVISÃO JUDICIAL DOS CONTRATOS BANCÁRIOS COM
FUNDAMENTO NA LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO .................................. 67
04.01 Revisão Judicial – Aplicabilidade ................................................................... 67
04.02 Contratos Bancários – Demandas Repetitivas e as Jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça ........................................................................... 68
04.03 Revisão Judicial dos Contratos Bancários com base na Lei nº 14.181/2021
............................................................................................................................ 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 81
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 85
7

RESUMO

A realidade dos consumidores brasileiros se apresenta em um cenário do

superendividamento. Não conseguem adimplir as dívidas contraídas comprometendo as

condições básicas de sobrevivência – o denominado “mínimo existencial.

Atualmente o Judiciário brasileiro não julga e não discute efetivamente nas decisões e

sentenças prolatadas, especificamente o tema do superendividado. Doravante, a Lei do

Superendividamento (14.181/21) se propõe a inibir a exclusão social do consumidor, instituindo

mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial deste superendividado e, tão

importante quanto, busca a garantia da prática de crédito de forma responsável.

Ainda, sobre a atual conduta do Judiciário notadamente é verificado que as decisões não

são entendidas como medidas estruturantes, o que dificulta a existência de um entendimento

uniformizado quanto a prevenção que a nova Lei se propõe a tutelar.

A problemática existente e que se mostra não superada até então, diz respeito a

contratação de créditos bancários. Situações como a dos juros exorbitantes e impagáveis,

associados a vulnerabilidade contratual do consumidor são questões que exigem não somente a

positivação de novas normas, mas principalmente decisões e sentenças que permitam ser

possível a revisão judicial desses contratos abusivos.

Palavras-Chave: Superendividamento; Consumidor; Contratos; Revisão Judicial


8

INTRODUÇÃO

Indiscutivelmente grande parcela dos consumidores brasileiros vivem comprometidos

com o endividamento. Somado a esta condição está o fato de que, esses mesmos consumidores

e os demais, possuem grande dificuldade para acessar os seus direitos constitucionais básicos.

Dessa forma, torna-se relevante analisar os aspectos do endividamento como também, a

disposição do Judiciário em relação a demanda desses consumidores.

No tocante a positivação das leis brasileiras, a Constituição de 1988 e, a Lei nº

8.078/1990, em sua origem e instituição, juntas compreenderam o grande avanço da Justiça em

se tratando de remodelar e tutelar os direitos individuais do cidadão brasileiro.

Na prática sendo considerado a problemática do endividamento, associado à dificuldade

de acesso à Justiça nos faz pensar se de fato, bastou o estabelecimento da Constituição como

também do Código de Defesa do Consumidor para tutelar dais direitos aplicáveis as relações

consumeristas. Pergunta-se em busca de respostas se foi o suficiente a instituição constitucional,

como também da lei infraconstitucional considerada um microssistema jurídico, para realmente

tutelar os direitos básicos do consumidor.

No dia a dia é perceptível que, o índice de endividamento do consumidor brasileiro tem

aumentado em proporções alarmantes, como também que, como consequência desse evento,

esses mesmos consumidores endividados estão sendo excluídos economicamente, a ponto de o

mínimo existencial ser comprometido. O que preocupa é se esta condição de excluídos e

desprovidos do mínimo existencial, mesmo existindo os direitos básicos, signifique que o

brasileiro não tenha conhecimento e, ou acesso aos seus direitos básicos. A vulnerabilidade do

consumidor não pode ser associada, como regra, a utilização irresponsável do crédito

disponível, mas sim, ao fato de que os contratos de obtenção de crédito, se mostram obscuros
9

e, como Marques, et al. (2016) define, se desenvolvem sob um completo desiquilíbrio na

relação consumerista.

No Brasil tem sido pulverizado a disposição de crédito, principalmente para aderência

à empréstimos bancários e cartão de crédito, mas, de forma desproporcional e inferior, tem sido

a disponibilização das informações imprescindíveis em relação a esses contratos de crédito.

Por conseguinte, a pesquisa denominada de revisão judicial para contratos bancários em

razão da nova Lei do Superendividamento pretende dispor de forma objetiva, como é possível

a intervenção do Judiciário ante o quadro de aumento de consumidores que tem seus direitos

tolhidos e, simplesmente sendo considerados como resultado do acesso irresponsável ao crédito

financeiro.

Não teria sido (e ainda, não é) suficiente o que rege a Carta Magna do País, como

também o Código de Defesa do Consumidor, no que diz respeito a tutelar o Direito do

Consumidor?

Notadamente, com o advento da Lei do Superendividamento o legislador atribui as

relações consumeristas uma nova norma regulamentadora, a fim de, produzir de forma eficaz,

a proteção do direito do consumidor em relação a preservação do mínimo existencial. Sendo

que, para isso a lei pretende atuar sobre o binômio crédito responsável e o próprio

superendividamento, ainda que, mantendo algumas exceções.

A lei se volta às relações de consumo, como principalmente na exposição do que seja a

Política Nacional das Relações de Consumo e, portanto, se volta a fomentação de “ações

direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores” (Inciso IX, Lei nº 1.181/21).

Portanto, na pesquisa será possível analisar mais minuciosamente o que representou as

alterações do CDC, com base na lei do superendividamento. Considerando o entendimento de

diversos pesquisadores, especialistas, juristas e inclusive julgados, temas repetitivos e Súmulas

do STJ e STF, é possível compreender que existem inúmeras expectativas de uma nova
10

disposição do Judiciário em relação as demandas dos consumidores superendividados. À luz

dos dispositivos do Código Civil, em especial, dos “Contratos”, a revisão judicial é pertinente,

seja pelo fato de que, as cláusulas contratuais não podem ser abusivas, como também, da própria

existência do que é denominado de “contratos de adesão” que, pela natureza própria que tem,

já demonstra disparidade e unilateralidade das disposições necessárias à relação contratual

consumerista.

Por ser uma pesquisa específica, o conteúdo aplicável da lei se direciona sobre o

contrato de empréstimo bancário que, em sua natureza é real, unilateral, nominativo, típico e

oneroso e de adesão. Arnaldo Rizzardo, descreve-o como sendo “praticamente o mútuo, regrado

pelo Código Civil” (RIZZARDO, 2009, 34).

No mais, o tema é relevante pois, em suma, se desdobra a expor e verificar o alcance da

nova lei considerando a atuação das legislações existentes e, portanto, na intenção de identificar

o que é novo quanto a ação da justiça brasileira sobre o assunto. Aponta o quadro da realidade

do consumidor superendividado evidenciando que a vulnerabilidade do consumidor é permeada

por diversas condições como baixa renda, acesso as relações consumeristas sem as necessárias

informações contratuais, o desconhecimento dos direitos constitucionais básicos e a dificuldade

de acesso à Justiça para pleitear ou demandar sobre seus direitos comprometidos.

Por fim, objetiva-se discorrer a própria essência da lei, descrevendo e compreendendo

todas as alterações indicadas por ela, haja vista que esta lei é considerada como uma alteração

direta do CDC e, em uma questão especifica, altera o Estatuto do Idoso. A pesquisa apresenta,

mesmo que de forma sucinta, a apreciação da nova lei, os conceitos gerais do que seja o instituto

civil dos Contratos e, com a finalidade de entender a possibilidade ou não da revisão judicial

sobre os contratos de empréstimo bancário, apresenta os procedimentos adotados no texto da

Lei do Superendividamento que, possibilita ao consumidor endividado discutir as condições

contratuais e, por conseguinte, ser beneficiado pela aplicação da lei.


11

01. A LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO – LEI Nº 14.181, DE 1º DE

JULHO 2021

De fato, estamos diante de uma grande Lei que tem por finalidade superar a

vulnerabilidade do consumidor brasileiro. Aqui, pretende-se demonstrar de forma suscinta o

que seja a Lei do Superendividamento e sua aplicabilidade mesmo que ainda muito recente.

Antes da abordagem sobre o que seja mais uma norma jurídica sancionada com vistas a

atender as demandas do brasileiro, é imprescindível que se faça uma breve elucidação quanto

as condições socioeconômicas do brasileiro. Condições estas que possuem particularidades e

que devem ser consideradas mesmo nas implementações das políticas de atendimento e

ajustamento das necessidades ao que se denomina de vulnerável. Não sendo possível no ato de

uma criação de normas jurídicas e, ou de conceitos pré-estabelecidos em outras federações sob

diversos aspectos, a simples adaptação por analogia dessas diversas políticas implementas pelos

países mais desenvolvidos.

Com base em pesquisas para reconhecimento das reais condições dos consumidores

brasileiros a definição do sujeito vulnerável tornou-se um campo de discussão autônoma uma

vez que o consumidor brasileiro não se demonstra vulnerável simplesmente pela falta de

conhecimento/informação. Mesmo que tenha havido um “aproveitamento da falha de

comunicação desses consumidores que contribuía para conduzi-los mais rapidamente a um

estado de superendividamento” (MARQUES et al., 2016).

É nítido o entendimento absorvido de que as informações e a educação financeira tem

limites em sua atuação para regular a condições de vulnerabilidade do consumidor brasileiro, o

que fez com que a legislação do pais, optasse pela presunção da vulnerabilidade dos

consumidores distinguindo-a da vulnerabilidade técnica-jurídica, fática e informacional”

(MARQUES et al., 2016).


12

No mais, antes de compreender a vulnerabilidade dos consumidores brasileiros é

imprescindível compreender a estratificação das classes socioeconômicas no Brasil e como

elas comprometem a condição deste consumidor.

Uma das pesquisas contemporâneas sobre o perfil dos consumidores superendividados,

de uma região específica1, permitiu compreender as condições dos brasileiros de forma

estratificada.

A pesquisa analisou o período de cinco anos (2007 – 2012) na região de Porto Alegre /

RS e analisou a condição de 6165 consumidores endividados que recorreram ao Projeto Piloto

do TJRS (MARQUES et al., 2015). Um dos indicadores estratificados pela pesquisa sobre a

condição dos consumidores brasileiros foi a “Renda média mensal do consumidor

superendividado”. Marques, et al. (2015) descreve que no período de levantamento dos dados

[...] a maioria ganha e 1 a 2 salários-mínimos (49,2%) e ainda uma elevada


parcela ganha menos de um salário-mínimo (13,5%). Apenas 0,9% destes
consumidores ganha mais de 10 salários por mês e 0,3%, mais de 20 salários
mensais.
[...]
Em totais, percebemos que 81,7% dos consumidores que trataram o
superendividamento no projeto ganha até 3 salários-mínimos, contra 6,1% que
ganha mais de 5 salários-mínimos por mês. Apenas 1,2% das famílias dos
endividados recebem mais de 10 salários por mês. A informação confirma a
tendência que o maior grupo ganha entre 1 e 2 salários-mínimos (49,2%) e 2
a 3 salários (19,0%), assim a grande maioria ganha entre menos de 1 a 3
salários-mínimos (81,7%). Destaque-se ainda que 13,4% informam que
recebe menos de 1 salário-mínimo mensal. Estes dados estão a indicar que o
perfil do superendividado de Porto Alegre é de um consumidor pobre, da
classe C e D. (MARQUES et al., 2015).

1
Projeto Piloto do TJ/RS, em Porto Alegre, sob a coordenação das magistradas Karen Bertoncello e Clarissa
Costa de Lima (também doutoras do PPGDir.UFRGS e membros do grupo de pesquisa).
13

Não obstante, ainda foi (e, é sob a ótica dos estudos e, especialistas) considerável a

dificuldade que o brasileiro enfrenta quanto aos acessos básicos garantidos pela Constituição

Brasileira de 1988. Por que não dizer, dificuldade de acessar a própria Constituição Brasileira.

Marques et al. (2016) fala sobre as atualizações de projetos que reforçaram a dimensão

constitucional com vistas a proteção do vulnerável como também, a importância de não existir

retrocessos nos direitos conquistados na esfera constitucional. Cita os artigos2 5º, XXXII e, 170,

V, da Constituição Brasileira, como pilares da Lei 8.078/19903.

Em uma descrição cronológica com base nas exposições dos especialistas, desde 1980

já existia a conjuntura internacional sensibilizada com as questões envolvendo os

consumidores, Marques, et al. (2016) descreve

[...] a Resolução 39/248, de 9 de abril de 1985, Assembleia da ONU, aprovou


diretrizes para a proteção do consumidor. A Constituição de 1988, nas
disposições constitucionais transitórias, determina a elaboração do Código de
Defesa do Consumidor, o Estado imprime a natureza de microssistema para a
defesa do consumidor já garantida no art. 5º, XXXII, e no art. 170, V, impondo
uma nova ordem constitucional do mercado. (MARQUES et al., 2016).

Mesmo assim, passados mais de 25 anos da existência de lei específica para a proteção

aos direitos do consumidor muitos brasileiros computam o total do “déficit de informação”

existindo a vulnerabilidade informativa, representando um grande fator de desiquilíbrio na

relação consumerista (MARQUES et al., 2016).

2
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
V - defesa do consumidor;
3
Lei 8078/1990 - LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor
e dá outras providências.
14

Observando as importantes e relevantes análises apresentadas pelos especialistas no

campo das relações consumeristas, é notório que, existe um desiquilíbrio total entre as

prestações de informações especificas exigidas nos contratos de crédito, por exemplo e, com o

avanço da disponibilidade desse crédito aos consumidores brasileiros e a disponibilidade das

informações imprescindíveis desses contratos. Ao longo dos anos houve a pulverização do

crédito facilitando o acesso do consumidor brasileiro aos produtos e serviços. Mas também, a

partir desse fenômeno, o desiquilíbrio com a responsabilidade de se prestar as informações

especificas. Houve a ampliação do crédito a inclusão e participação no mercado de consumo

(MARQUES et al., 2016), mas por outro lado, o início da condição de superendividados.

Como já demonstrado anteriormente, as pesquisas demonstram que o consumidor

brasileiro não carece unicamente da “educação financeira” como meio de proteção contra o

endividamento. Haja vista que,

[...] o déficit de informação do consumidor não é causa determinante para as


situações de superendividamento resultantes de alteração posterior das
circunstâncias ou de “acidentes da vida”, como desemprego, redução de renda,
separações e divórcios, entre outros motivos alheios à vontade do devedor.
Dados apurados pelo Observatório do Crédito revelaram o percentual de
76,1% de superendividados “passivos” que informaram as causas das dívidas:
redução de renda (26,5%), desemprego (24,3%), doença (18,0%), divórcios e
separação (4,8%) e morte (2,5%). Apenas 23,9% declararam como causa do
endividamento “gastar mais do que ganha”. (MARQUES et al., 2016).

Na atualização do CDC (Código de Defesa do Consumidor) o legislador propôs no PL.

283/20124, que a vulnerabilidade do consumidor brasileiro “prepondera na dimensão social e

4
Ementa:
Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), para aperfeiçoar a
disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção do superendividamento.

Explicação da Ementa:
Altera a Lei nº 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor – para aperfeiçoar a disciplina do crédito
ao consumidor e dispor sobre a instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e
judicial do superendividamento e de proteção do consumidor pessoa física, visando garantir o mínimo
existencial e a dignidade humana; estabelece como direito básico do consumidor a garantia de práticas de
15

não racional” (MARQUES et al., 2016). Desta forma, definiu-se o surgimento do

“Superendividamento” sob um importante questionamento. A PL 283/2013, se propõe a

instituição de mecanismos de prevenção e do tratamento extrajudicial e judicial do

superendividamento e da proteção do consumidor. O objetivo central do projeto de lei foi a

garantia da preservação do mínimo existencial5 e da dignidade humana.

A composição do projeto de lei6 pode ser enumerada da seguinte forma:

➢ O aperfeiçoamento a disciplina do crédito ao consumidor;


➢ A disposição sobre a instituição de mecanismos de prevenção e tratamento
extrajudicial e judicial do superendividamento e de proteção do consumidor
pessoa física;
➢ visar garantir o mínimo existencial e a dignidade humana do consumidor;
➢ O estabelecimento como direito básico do consumidor:
• a garantia de práticas de crédito responsável,

crédito responsável, de educação financeira, de prevenção e tratamento das situações de


superendividamento, preservando o mínimo existencial, por meio da revisão e repactuação da dívida, entre
outras medidas; dispõe sobre a prescrição das pretensões dos consumidores; estabelece regras para a
prevenção do superendividamento; descreve condutas que são vedadas ao fornecedor de produtos e
serviços que envolvem crédito, tais como: realizar ou proceder à cobrança ou ao débito em conta de
qualquer quantia que houver sido contestada pelo consumidor em compras realizadas com cartão de
crédito ou meio similar, enquanto não for adequadamente solucionada a controvérsia, impedir ou
dificultar, em caso de utilização fraudulenta do cartão de crédito ou meio similar, que o consumidor peça
e obtenha a anulação ou o imediato bloqueio do pagamento ou ainda a restituição dos valores
indevidamente recebidos, condicionar o atendimento de pretensões do consumidor ou o início de tratativas
à renúncia ou à desistência relativas a demandas judiciais; dispõe sobre a conciliação no
superendividamento; define superendividamento; acrescenta o § 3º ao art. 96 da Lei nº 10.741/2003
(Estatuto do Idoso) para estabelecer que não constitui crime a negativa de crédito motivada por
superendividamento do idoso; dispõe que a validade dos negócios e demais atos jurídicos de crédito em
curso, constituídos antes da entrada em vigor da lei, obedece ao disposto no regime anterior, mas os seus
efeitos produzidos após a sua vigência aos preceitos dela se subordinam.

Projeto de Lei do Senado n° 283, de 2012 (AGENDA BRASIL 2015)


5
Art. 6º […]

XI – a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção e tratamento de


situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por
meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas;

[…]

XII – a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação de dívidas e na


concessão de crédito;
6
Idem. Ibidem
16

• a educação financeira,
• a prevenção e tratamento das situações de superendividamento,
➢ A preservação do mínimo existencial, por meio da revisão e repactuação da
dívida, entre outras medidas;
➢ A disposição sobre a prescrição das pretensões dos consumidores;
➢ O estabelecimento das regras para a prevenção do superendividamento;
➢ A descrição das condutas que são vedadas ao fornecedor de produtos e serviços
que envolvem crédito, tais como:
• realizar ou proceder à cobrança ou ao débito em conta de qualquer
quantia que houver sido contestada pelo consumidor em compras
realizadas com cartão de crédito ou meio similar, enquanto não for
adequadamente solucionada a controvérsia,
• impedir ou dificultar, em caso de utilização fraudulenta do cartão de
crédito ou meio similar,
• que o consumidor peça e obtenha a anulação ou o imediato bloqueio do
pagamento ou ainda a restituição dos valores indevidamente recebidos,
➢ O condicionamento o atendimento de pretensões do consumidor ou o início de
tratativas à renúncia ou à desistência relativas a demandas judiciais;
➢ A disposição sobre a conciliação no superendividamento;

Ainda, o projeto de lei definiu o superendividamento, sob o

acréscimo do parágrafo § 3º ao art. 96 da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso)


para estabelecer que não constitui crime a negativa de crédito motivada por
superendividamento do idoso. Como também, dispõe que a validade dos
negócios e demais atos jurídicos de crédito em curso, constituídos antes da
entrada em vigor da lei, obedece ao disposto no regime anterior, mas os seus
efeitos produzidos após a sua vigência aos preceitos dela se subordinam.

Os especialistas analisaram a condição do consumidor brasileiro considerando que,

“sobressai a vulnerabilidade existencial dos superendividados que necessitam de proteção”

(MARQUES et al., 2016). E sobre essa condição Marques (2016) apud (MIRAGEM, 2014)

destacou que
17

[...] as dimensões que assume e potenciais efeitos pessoais, familiares e sociais


que envolvem os contratos de crédito, a proteção do consumidor de crédito
extravasa a finalidade protetiva meramente negocial – de proteção do
contratante vulnerável em face de uma dada posição ou interesse econômico
legítimo – para assumir caráter existencial. A vulnerabilidade agravada do
consumidor de crédito e de sua família na realidade atual faz com que nas
relações de consumo se observe a projeção do princípio da dignidade da
pessoa humana, bem como de eficácia dos direitos fundamentais às relações
privadas.

Por conseguinte, tanto os especialistas quanto o legislador na criação do projeto de lei

estabeleceram como critério fundamental em relação a vulnerabilidade do consumidor

brasileiro, a condição da vulnerabilidade e o comprometimento do seu “mínimo existencial” 7.

As necessidades vitais do consumidor sendo comprometidas e, por conseguinte, os interesses

existenciais sendo considerados a priori tendo em vista a defesa da subsistência e a dignidade

desse consumidor endividado.

Os pesquisadores descrevem que a PL 283/20138 previa o tratamento extrajudicial e

judicial do superendividamento considerando a conciliação do consumidor devedor e seus

possíveis credores visando um meio paliativo de tratar a situação que fosse além dos

mecanismos propostos anteriormente. Marques et al. (2016) descreve a inclusão de uma fase

judicial que visaria a revisão contratual como um meio de o consumidor endividado poder pagar

(adimplir) as dívidas e ainda ser preservado o mínimo existencial (art. 104-B, CDC)9. Ainda

7
Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa natural, sobre o crédito
responsável e sobre a educação financeira do consumidor. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de
boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu
mínimo existencial, nos termos da regulamentação. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
8
Idem. Ibidem
9
Art. 104-B.
Se não houver êxito na conciliação em relação a quaisquer credores, o juiz, a pedido do consumidor,
instaurará processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e repactuação das
dívidas remanescentes mediante plano judicial compulsório e procederá à citação de todos os credores
18

mais, que tal procedimento projetaria os credores para uma postura mais responsável quanto a

concessão de crédito (MARQUES e LIMA, 2013).

Gonçalves (2018), apresentou de forma suscinta a origem do superendividamento que

Marques e Lima (2013) já haviam demonstrado em sua importante reflexão quanto as

conclusões do Banco Mundial em matéria de superendividamento dos consumidores pessoas

físicas, onde

Se por um lado, o aumento de renda experimentado pela população brasileira


nos últimos anos representa um incremento na democracia, com uma
quantidade significativa de pessoas saindo de uma situação de miserabilidade
e ingressando no mercado consumidor, por outro, o aumento na concessão e
na facilitação do acesso ao credito fez surgir um número cada vez maior de
pessoas que tem seu orçamento comprometido em proporções acima do
razoável, afetando sua possibilidade de pagamento e, muitas vezes,
interferindo na possibilidade de satisfação de suas necessidades básicas
(realmente essenciais). É o surgimento do fenômeno do superendividamento
em escala importante (GONÇALVES, 2018).

A aplicação da Lei do Superendividamento no atual cenário das relações consumeristas

a luz do entendimento das pesquisas realizadas não se mostra como uma solução final e

cujos créditos não tenham integrado o acordo porventura celebrado. (Incluído pela Lei nº 14.181, de
2021)

§ 1º Serão considerados no processo por superendividamento, se for o caso, os documentos e as


informações prestadas em audiência. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)

§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, os credores citados juntarão documentos e as razões da negativa de


aceder ao plano voluntário ou de renegociar. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)

§ 3º O juiz poderá nomear administrador, desde que isso não onere as partes, o qual, no prazo de até 30
(trinta) dias, após cumpridas as diligências eventualmente necessárias, apresentará plano de pagamento
que contemple medidas de temporização ou de atenuação dos encargos. (Incluído pela Lei nº 14.181,
de 2021)

§ 4º O plano judicial compulsório assegurará aos credores, no mínimo, o valor do principal devido,
corrigido monetariamente por índices oficiais de preço, e preverá a liquidação total da dívida, após a
quitação do plano de pagamento consensual previsto no art. 104-A deste Código, em, no máximo, 5
(cinco) anos, sendo que a primeira parcela será devida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias,
contado de sua homologação judicial, e o restante do saldo será devido em parcelas mensais iguais e
sucessivas. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
19

completa do problema do superendividamento, uma vez que, o sujeito dessas relações jurídicas

alvo de proteção, não é alvo somente do “hiperconsumismo”, das propagandas que geram

desejos de consumir. É fato, que, alterações inesperadas na vida do consumidor, podem de certa

forma tornarem-se causas do superendividamento, como “[...] desemprego, redução de renda,

separações e divórcios, entre outros motivos alheios à vontade do devedor” (MARQUES et al.,

2016).

01.01 A Positivação da Lei do Superendividamento

Sendo expostas inúmeras reflexões sobre a base da Lei do Superendividamento torna-se

imprescindível descrever sob argumentos suscintos, mas essenciais, o que representa a Lei nº

14.181/2021 já decretada e sancionada pelo Excelentíssimo Sr. Presidente da República.

Dentre tantos argumentos e afirmações do que seja esta Lei, quanto aos comentários À

LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO (LEI Nº 14.181, DE 1º DE JULHO DE 2021) E O

PRINCÍPIO DO CRÉDITO RESPONSÁVEL, (LOPES apud GAGLIANO e OLIVEIRA,

2021) destacou que

[...] cabe registrar elogios a professores que desempenharam um papel


fundamental da Academia: a luta pela efetiva concretização da Justiça. A
Professora Cláudia Lima Marques, ao lado de outros talentosos juristas –
como a Juíza Clarissa Costa de Lima –, atuou com abnegação pela aprovação
da proposição. A classe dos civilistas expressou seu apoio por meio de
renomadas instituições, como o Instituto Brasileiro de Direito Contratual
(IBDCont), sob a presidência do Professor Flávio Tartuce, e o Brasilcon
(Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor), sob a presidência
do Promotor Fernando Rodrigues Martins.

A proposição nasceu no Senado como Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 283,


de 2013, fruto dos trabalhos da Comissão Temporária de Modernização do
Código de Defesa do Consumidor. Seguiu para a Câmara dos Deputados como
Projeto de Lei (PL) nº 3.514/2015, retornando ao Senado como Projeto de Lei
(PL) nº 1.805, de 2021 (Substitutivo).
20

O nascimento da nova lei também deve ser creditado a várias robustas


produções acadêmicas e doutrinárias sobre o assunto, a exemplo das obras da
Professora Clarissa Costa de Lima[1] e da Professora Marília de Ávila e Silva
Sampaio[2].

A lei atualmente sancionada tem atuação no campo do CDC, aplicando-se ao

consumidor brasileiro sendo que, importantes subtópicos melhor elucidam sua

representatividade como norma-jurídica.

Primeiramente é mister citar que a Lei tem a finalidade de atuar no binômio crédito

responsável e superendividamento. Normas jurídicas10 permeando as práticas negociais que

devam ser abrangentes e saudáveis entre o consumidor e os fornecedores. As alterações do CDC

e Estatuto do Idoso11 convergiram para uma mais profunda atuação sob os fundamentos

constitucionais. Importa dizer que, o cerne da Lei foi de considerar como consumidor

vulnerável aquele que, mediante a exposição de condições aquém da sua Boa – Fé12 se tornou

alvo do Superendividamento comprometendo o mínimo existencial.

10
Sobre as normas jurídicas

[...] voto da Desembargadora Simone Lucindo: “Quanto à alegação de superendividamento, é certo que
as empresas, ao concederem o crédito, devem adotar as cautelas necessárias ao efetivo recebimento do
retorno financeiro e, ao lado disso, devem tomar medidas visando coibir a superveniência do
superendividamento dos devedores, preservando, assim, o patrimônio mínimo a garantir a dignidade
humana. Trata-se da aplicação da teoria do crédito responsável” (TJDFT, Acórdão nº 1095565,
20180110080656APC, 1ª T., Relª Desª Simone Lucindo, DJe 15.05.2018).
11
Art. 96. […]

3º Não constitui crime a negativa de crédito motivada por superendividamento do idoso.

LOPES apud (GAGLIANO e OLIVEIRA, 2021) afirma que,


como forma de afastar o receio do mercado em negar crédito a idosos sem capacidade financeira
suficiente, a supracitada alteração no Estatuto do Idoso deixa clara a ausência de crime nessa hipótese.
12
Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa natural, sobre o crédito
responsável e sobre a educação financeira do consumidor. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)

§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de


boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu
mínimo existencial, nos termos da regulamentação. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
21

Ante o exposto, e em se tratando de controle e fiscalização do Estado, o papel do

Ministério Público é direcionar os atos normativos e políticas públicas, fiscalizando e

acompanhando os credores inibindo-os a disponibilização de créditos irresponsáveis, e muito

menos ao estímulo imprudente para o endividamento.

Por fim, não menos importante, a própria conduta do devedor (consumidor/endividado),

que deve ser orientado a ter um comportamento prudente ao contrair compromissos financeiros

não ultrapassando a sua capacidade de pagamentos. Dessa forma, o segundo ponto de destaque

e atuação da Lei, é que este consumidor, também, demonstre a boa-fé objetiva evitando futuras

inadimplências.

A tutela da Lei do Superendividamento não superou as condições em que a aquisição

trata de produtos de luxo. Como um terceiro ponto fundamental, a lei mantem o princípio da

proteção simplificada, atrelado ao conceito de paradigma da essencialidade (LOPES apud

GAGLIANO e OLIVEIRA, 2021). Oliveira (2018), afirmando que “quanto menor for o grau

de essencialidade do direito, menor deve ser a intervenção do Direito”. É fato concreto tal

entendimento, pois a própria Lei, expressamente determina

Art. 54-A.
Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa
natural, sobre o crédito responsável e sobre a educação financeira do
consumidor. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
[...]
§ 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao consumidor cujas dívidas
tenham sido contraídas mediante fraude ou má-fé, sejam oriundas de contratos
celebrados dolosamente com o propósito de não realizar o pagamento ou
decorram da aquisição ou contratação de produtos e serviços de luxo de alto
valor. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)

No mais, não há de se falar apenas de Direito Administrativo quando se considera os

aspectos legais dos dispositivos do CDC (art. 4º e 5º) inseridos como normas da Política

Nacional de Relação de Consumo. Na verdade, as normas do CDC se aplicam aos particulares


22

nas suas relações de consumo. O que Lopes (2021) descreve enfatizando é que os particulares

e suas relações consumeristas “têm de estar harmonizados com o ambiente normativo de

proteção do consumidor”. Em se tratando de aspectos do Direito Administrativo a Lei do

Superendividamento,

serve de guia para a atividade de órgãos como os Procons, a Secretaria


Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacon), o Conselho
Nacional de Defesa do Consumidor e outros órgãos federais ou estaduais que
lidem com o consumidor. Essa constelação de órgãos integra, [...] SNDC
(Decreto nº 2.181/1997) (LOPES, 2021)

Na prática, a Lei do Superendividamento terá o desafio de considerar a validade dos

negócios e atos jurídicos, uma vez que, o art. 3º, da Lei do Superendividamento disciplina, em

manter válidos aqueles negócios e atos jurídicos de crédito que foram constituídos antes da

entrada em vigor da Lei, in verbis “mas os efeitos produzidos após a entrada em vigor desta Lei

subordinam-se aos seus preceitos” (BRASIL, 2021).

Como já descrito no início, falar da Lei do Superendividamento é um ato que carece de

tempo e atenção, e, portanto, não será esgotado nesta pesquisa, aliás, entende-se que tal pesquisa

se mostra pioneira quanto a apresentar o assunto de forma sistemática e aplicável.

Insta dizer que, no máximo, descreve-se neste texto: suas bases, discussões e pesquisas

que fomentaram e ensejaram sua existência. Ainda mais, expõe-se os diversos aspectos da

aplicabilidade considerando as particularidades do consumidor brasileiro e sua vulnerabilidade.

Quanto ao seu conceito, pela ótica de autores pesquisados, extraiu-se o entendimento quanto a

insuficiência de simplesmente considerar a educação financeira como única condição a ser

sanada.

E no mais que a vulnerabilidade do consumidor brasileiro se atesta por diversos outros

aspectos que demandam (demandarão) uma ação normativa de Lei que se configure na

existência de Políticas Nacionais de Relações de Consumo na fiscalização do Poder Público e


23

na harmonização desse ambiente normativo com vistas a proteção do consumidor (entre os

particulares).

Doravante, é importante que seja considerado a trajetória do Direito do Consumidor e a

Política Nacional das Relações de Consumo já existente e, como a Lei do Superendividamento

somou no sentido de fortalecer a proteção ao consumidor vulnerável, privilegiando a

manutenção das relações consumeristas inibindo o assédio ao consumismo e por conseguinte a

existência do Superendividamento.

Por fim, sua contribuição ao cenário jurídico e também as decisões judiciais na formação

de jurisprudências e demais atos judiciais, tendo em vista que tal lei se demonstra nova, mas

ainda assim, restrita a condições e exigências vividas pelos consumidores.

Vejamos esta trajetória e possíveis cenários resolutivos, pois, a Política Nacional das

Relações de Consumo, objetivando atender as necessidades dos consumidores, no que se

denomina como “vulnerabilidade contratual, terá a frente o confronto com a existência do então

contrato de adesão, meio contratual moderno, aplicável e que não atende a vulnerabilidade do

consumidor.
24

02. DIREITO DO CONSUMIDOR – ART. 4º - POLÍTICA NACIONAL

DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

O Código de Defesa do Consumidor origina-se para a proteção do consumidor brasileiro

abrangendo todos os aspectos do mercado de consumo. A sociedade de consumo se manifestou

não somente pela massificação da contratação dos serviços e produtos existentes no mercado,

mas também e principalmente pela relação contratual.

Nesta seara de amplitude das relações contratuais a ausência ou frágil proteção

contratual do consumidor passou a ser um problema, principalmente do consumidor brasileiro.

Por conseguinte, a frágil condição do consumidor é comumente denominada de condição de

“vulnerabilidade contratual do consumidor” (Lima, 2019, p.9). O CDC em seu artigo 4º, inciso

I, por ope legis, in verbis, define que

A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento


das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e
segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua
qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008,
de 21.3.1995)
I - Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de
consumo;

O Direito do Consumidor se desenvolve sob diversas e importantes teorias como a

própria definição do contexto legal, sendo um microssistema de interesse público, inderrogável

de proteção ao hipossuficiente existente nas relações de consumo se desenvolvendo pelo

diálogo das fontes. No mais, entre inúmeros outros tópicos, abarca a proibição de práticas e

cláusulas abusivas, o assédio de consumo e o superendividamento, sendo esse último tópico o

objetivo geral em discussão na pesquisa bibliográfica.


25

A memorável obra em tela (CDC – Comentado pelos Autores do Anteprojeto13) trouxe

importante crítica ao sistema legislativo brasileiro, no que tange a aprovação dos diversos

projetos de atualização que tramitaram (e tramitam) pelo Congresso. Dessa forma, quando se

diz que o CDC trata-se de um “Microssistema jurídico de caráter inter e multidisciplinar”, desde

sua origem,

Ou seja: ao lado de princípios que lhe são próprios, no âmbito da chamada


ciência consumerista, o Código Brasileiro do Consumidor relaciona-se com
outros ramos do Direito, ao mesmo tempo em que atualiza e dá nova roupagem
a antigos institutos jurídicos.
Por outro lado, reveste-se de caráter multidisciplinar, eis que cuida de questões
que se acham inseridas nos Direitos Constitucional, Civil, Penal, Processuais
Civil e Penal, Administrativo, mas sempre por pedra de toque a
vulnerabilidade do consumidor até o fornecedor, e sua condição de
destinatário final de produto e serviços, ou desde que não visem o uso
profissional. (BRASIL, 1990, p.11)

Ante o exposto, soma-se a composição das leis em prol do consumidor em um

denominado código, o entendimento de que este último (um novo código civil), vale muito mais

pela perspectiva e diretrizes que fixa para a efetiva defesa ou proteção do consumidor (Brasil,

1990, 12). Pode-se dizer, de uma busca por harmonização, através do equacionamento de

normas que tendem ao objetivo de proteger o consumidor, se contrapondo a ideia de uma

exaustão dessas mesmas normas.

No mais.

13
1. Brasil [Código de Defesa do Consumidor (1990)]. 2. Defesa do Consumidor – Legislação – Brasil. I. Ada
Pellegrini.
[...]
Antes mesmo da promulgação da Constituição de 1988, o então presidente do Conselho Nacional de
Defesa do Consumidor, Dr. Flávio Flores da Cunha Bierrenbach, constituiu comissão, no âmbito do
referido Conselho, com o objetivo de apresentar Anteprojeto de Código de Defesa do Consumidor,
previsto, com essa denominação, pelos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte.
[...]
Finalmente, a comissão apresentou ao ministro Paulo Brossard o primeiro anteprojeto, que foi amplamente
divulgado e debatido em diversas capitais, recebendo, assim, críticas e sugestões.
26

Como descrever os entraves entre o Novo Código Civil, Leis Especiais, Novos Tratados

Comerciais, a Convenção de Montreal, a desconstrução do SNDC e, decisões do STF, todos

em relação ao CDC?

Estamos de fato em uma crise ética de valores onde direitos primários como o do

consumidor não estão em voga, estes mesmos direitos que são considerados como necessários

e prioritários pelos poderes brasileiro e, em especial o judiciário?

A concepção social do CDC, amparada por opes legis, uma utopia, ou de fato diz a

respeito de um sistema legal que tem como objetivo “restabelecer nas relações contratuais o

equilibrio”? (Mallinvaud, p.50, apud Lima, p.53).

Dentre esses e, outros questionamentos, o intento da pesquisa, se projeta na descrição

da trajetória do que é descrito como conjunto de normas em prol do consumidor brasileiro,

atendendo sua vulnerabilidade nas relações consumeristas. A pesquisa não se sustenta sob o

óbice de especulações, mas, fundamentalmente se explana pelo próprio contexto do Código,

que, em seu 1º artigo

[..] estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública


e interesse social, nos termos dos arts. 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da
Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias 14. (BRASIL,
1990, 13)

Ao se falar sobre proteção do consumidor, considerando os aspectos de consumo,

obrigatoriamente se faz necessário apresentar um breve histórico das relações comerciais e sua

14
José Geraldo Brito Filomeno, ao apresentar o Capítulo I – Das Disposições Gerais, da obra CÓDIGO
BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, edição 12, descreveu que:

[...] da mesma Constituição, impõe-se ao Estado promover, na forma de lei, a defesa do consumidor.
[...] no texto do art. 170 que cuida da ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tendo por fim, assegurar a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social.
[...] em seu § 5º que a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos
impostos que incidam sobre as mercadorias e serviços.
27

expansão, como também, esse cenário geral ensejado no estabelecimento do CDC e, sua

extensão ao que já está sancionado como a “Lei do Superendividamento”.

As relações comerciais se desenvolveram cada vez mais no campo da ampla

competitividade. E a real condição desse campo de atuação das relações comerciais que,

naturalmente se ensejaram a competividade não se deu somente pela disposição dos produtos e

serviços, mas, imprescindivelmente pela disposição do fluxo de informação publicitária.

Naturalmente as relações comerciais se desenvolvem e são divulgadas para além da

finalidade de tornar público tal ideia, mas, seguem-se além sob a ação da propaganda,

estendendo-se para o objetivo de que todos os potenciais consumidores sejam alcançados (e,

porque não dizer, induzidos) à aquisição de tais produtos e, ou serviços, disponibilizados no

mercado. Não somente as relações comerciais se expandiram no campo da competitividade,

mas, o próprio formato do comercio se modificou ao longo dos anos adaptando as necessidades

dos consumidores à disponibilidade da tecnologia e comunicação via internet. Podemos dizer

ainda que, a evolução do comercio denominado de e-comerce, passou a exercer influência sobre

os consumidores a ponto de criar necessidades para os consumidores.

Portanto, a lei da oferta e demanda que regem o funcionamento do mercado se

confundem quando são vistas na projeção criada pelo e-comerce. Essa afirmação pode ser

considerada uma verdade primeiramente quando trazemos ao contexto da atual pesquisa os

conceitos de Mercado, Oferta e Demanda. Um primeiro conceito a ser explorado na pesquisa,

é a expressão máxima dada pelo matemático e economista francês Antoine Cournot apud Onto

(2016), sobre o mercado.

Economistas entendem pelo termo mercado não um local de mercado


[marketplace] particular onde coisas são compradas e vendidas, mas toda a
região em que compradores e vendedores estão em tamanha livre conexão uns
com outros que os preços de bens similares tendem à igualdade facilmente e
rapidamente. (COURNOT, 1838 apud MARSHALL, 2009, p.162, apud
ONTO, 2016)
28

Vejamos o conceito.

O mercado não foi definido como um local particular de comercio, mas sim uma região.

No entanto, tal conexão comercial e relações comerciais são possíveis não unicamente porque

o conceito em si, evoluiu, mas, principalmente por conta do desenvolvimento tecnológico

direcionado para o campo das relações comerciais.

Tão importante quanto as definições dadas pelos economistas sobre o que seria o

mercado é a relação perfeita de concorrência entre os diversos vendedores, como também, de

que todos os consumidores deveriam (devem) ter igual informação referente aos tipos de

produtos e serviços e seus respectivos preços. Pode-se dizer que é importante definir o que

representa esta ampla disposição do mercado a todos os consumidores.

A ampla disposição do mercado traz em si algumas implicações sobre as relações

comerciais, fundamentalmente quanto as obrigações entre os fornecedores e consumidores.

Essas relações obrigacionais são definidas quanto ao produto e ou serviço disponibilizados,

como também, quanto as necessidades dos consumidores e como os fornecedores devem atuar

para atender essas necessidades. Suprir a demanda do mercado, manter o produto e serviço

dentro dos padrões exigíveis e, atender as necessidades dos consumidores, essas e outras, são

as responsabilidades do fornecedor.

Aduz, ser também importante entender a evolução e expansão do mercado e suas

relações com os consumidores, como introduz a própria definição do que seja o consumidor.

Dessa forma, definir quem seja o consumidor é tarefa que exige explorar o campo ontológico

do termo, isto é, o “ser enquanto ser", no que seja a essência que estabelece sua existência sob

características distintas das demais realidades existentes. Sendo que, as realidades distintas

podem ser definidas como as demais partes existentes nas relações de consumo (comerciais)

que não somente desfrutam dos resultados da transação, como assumem responsabilidades e

obrigações no campo jurídico.


29

O conceito de consumidor, no Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 2º se

define por norma de lei, como sendo

[...] pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Consoante a definição do Código, na fala de Grinover et al. (CDC, 2019, p.27),

independentemente das conotações de ordem filosóficas, psicológicas e outras,

[...] entendemos por “consumidor” qualquer pessoa física ou jurídica que,


isolada ou coletivamente, contrate para consumo final, em benefício próprio
ou de outrem, a aquisição ou locação de bens, bem como a prestação de um
serviço.
[...] coletivamente, sobretudo quando se tem em vista sua sujeição a
campanhas publicitarias enganosas e abusivas, ou então ao consumo de
produtos e serviços perigosos ou nocivos à saúde e segurança.

Substancialmente, com fulcro nas relações de consumo que de fato sofrem as alterações

ou novas adaptações sob a mesma referência bibliográfica aplica-se o conceito do que seja

“relações de consumo”

[...] ou seja, “relações jurídicas por excelência”, embora e como também


enfatizado, procurando tratar desigualmente pessoas desiguais, levando-se em
conta que o consumidor está em situação de manifesta inferioridade ante o
fornecedor de bens e serviços. (CDC, 2019, p.27)

E por quê, falar das relações de consumo? Por que na forma, toda relação de consumo

a) envolve basicamente duas partes bem definidas: de um lado, o adquirente


de um produto ou serviço (“consumidor”), e, de outro, o fornecedor ou
vendedor de um produto ou serviço (“produtor/fornecedor”);
b) b) tal relação destina-se à satisfação de uma necessidade privada do
consumidor; c) o consumidor, não dispondo, por si só, de controle sobre a
produção de bens de consumo ou prestação de serviços que lhe são
30

destinados, arrisca-se a submeter-se ao poder e condições dos produtores


daqueles mesmos bens e serviços. (CDC, 2019, p.27)

Isto posto, quanto a compreender o conceito de consumidor, as relações de consumo

auxiliam esse entendimento trazendo à tona a existência das partes. Como também, pelo fato

de que nessas relações uma das partes encontra a satisfação e em contrapartida, a outra mantem

a condição de inferioridade. O consumidor é a parte inferior nessas relações de consumo.

Por fim, são amplas as ideias que se somam para definir o que seja o consumidor. O

adquirente, como também, a coletividade dele para benefício próprio de produtos e serviços

como destinatário final, o que nas relações jurídicas são denominados de pessoas desiguais, na

condição de hipossuficiente.

Dessarte, dessa relação de consumo é extraído não somente a essência daquilo que deu

sentido ao consumidor como hipossuficiente – “o ser vulnerável”, como também, o que

Grinover et al. (CDC, 2019, p.27) destaca, o chamado - “movimento consumerista”.

Esse movimento consumerista interage com os movimentos da segunda metade do

século XIX. Aqueles que tendem serem considerados como ações de reinvindicações para

situações como: melhores condições de trabalho e melhoria da qualidade de vida. Sobre esses

movimentos que são denominados de movimento operário, destacam-se as articulações de

novas formas de lutar pelas causas. As causas se definem pelo crescente desemprego decorrente

do novo modelo de trabalho adotado pelas indústrias – o maquinário e a luta por melhores

condições de trabalho (Mundo Educação).

A partir desse ponto a questão se amplia até o Estado e o reconhecimento de sua

responsabilidade reguladora, junto aos envolvidos na relação de consumo. Não obstante,

propôs-se que, o Estado ao instituir a lei 8.078/90, conseguiu garantir ao consumidor o direito

a saúde e segurança, o direito à informação, o direito a escolha e o direito de ser ouvido. Ou


31

melhor, na composição do Código de Defesa do Consumidor essas premissas foram

consideradas como pilares de sustentação para garantir equidade ao lado hipossuficiente.

Essas questões somadas as primeiras, no início do Capítulo 2 da pesquisa, precisam ser

respondidas, pois, constantemente nos deparamos com um preponderante questionamento - O

cenário que vivemos é de consumismo ou aliciamento de pseudo-vantangens na aquisição de

produtos e serviços por parte do consumidor?

Como já abordado, ao longo dos anos, o consumo tem sido incentivado não somente

por conta da real necessidade dos consumidores, mas, o próprio mercado tem criado tipos de

consumidores, para a demanda do tipo de consumo disponibilizado. Com o avanço tecnológico,

atrelado ao poder da propaganda midiática e a diversidade de crédito cedidos nas relações

comerciais, tem sido grande a absorção desse mercado pelos adquirentes, denominados de

consumidores. São inúmeros os resultados dessa nova conexão com o mercado e o que ele

disponibiliza e, dentre eles tem destaque, mais como uma consequência, o superendividamento

do consumidor.

Procede tal preocupação, tanto que, passou de um tema em discussão por parte de vários

setores para o sancionamento de Lei, a questão do superendividamento do consumidor. Desde

2015 tramitou na Câmara dos Deputados o projeto de lei nº 31515/15, anteriormente aprovado

no Senado. E recentemente de volta no senado, agora numerada pela Lei nº 14.181/01/07/2021,

foi aprovada a lei que alterou

a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor),


e a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), para
aperfeiçoar a disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção
e o tratamento do superendividamento15.

15
Art. 1º A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), passa a vigorar com as
seguintes alterações:

“Art. 4º.......................................................................................................
IX – fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores;
X – prevenção e tratamento do superendividamento como forma de evitar a exclusão social do
consumidor.” (NR)
32

“Art. 5º.......................................................................................................
VI – instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do superendividamento
e de proteção do consumidor pessoa natural;
VII – instituição de núcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento.
“Art. 6º.......................................................................................................
XI – a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção e tratamento de
situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por
meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas;
XII – a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação de dívidas e na
concessão de crédito;
XIII – a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por quilo, por litro,
por metro ou por outra unidade, conforme o caso.
“Art. 51.......................................................................................................
XVII – condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos do Poder Judiciário;
XVIII – estabeleçam prazos de carência em caso de impontualidade das prestações mensais ou impeçam
o restabelecimento integral dos direitos do consumidor e de seus meios de pagamento a partir da purgação
da mora ou do acordo com os credores;
XIX – (VETADO).

“CAPÍTULO VI-A
DA PREVENÇÃO E DO TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO
Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa natural, sobre o
crédito responsável e sobre a educação financeira do consumidor.
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de
boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu
mínimo existencial, nos termos da regulamentação.
§ 2º As dívidas referidas no § 1º deste artigo englobam quaisquer compromissos financeiros assumidos
decorrentes de relação de consumo, inclusive operações de crédito, compras a prazo e serviços de
prestação continuada.
§ 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao consumidor cujas dívidas tenham sido contraídas mediante
fraude ou má-fé, sejam oriundas de contratos celebrados dolosamente com o propósito de não realizar o
pagamento ou decorram da aquisição ou contratação de produtos e serviços de luxo de alto valor.
Art. 54-B. No fornecimento de crédito e na venda a prazo, além das informações obrigatórias previstas no
art. 52 deste Código e na legislação aplicável à matéria, o fornecedor ou o intermediário deverá informar
o consumidor, prévia e adequadamente, no momento da oferta, sobre:
I – o custo efetivo total e a descrição dos elementos que o compõem;
II – a taxa efetiva mensal de juros, bem como a taxa dos juros de mora e o total de encargos, de qualquer
natureza, previstos para o atraso no pagamento;
III – o montante das prestações e o prazo de validade da oferta, que deve ser, no mínimo, de 2 (dois) dias;
IV – o nome e o endereço, inclusive o eletrônico, do fornecedor;
V – o direito do consumidor à liquidação antecipada e não onerosa do débito, nos termos do § 2º do art.
52 deste Código e da regulamentação em vigor.
§ 1º As informações referidas no art. 52 deste Código e no caput deste artigo devem constar de forma
clara e resumida do próprio contrato, da fatura ou de instrumento apartado, de fácil acesso ao consumidor.
§ 2º Para efeitos deste Código, o custo efetivo total da operação de crédito ao consumidor consistirá em
taxa percentual anual e compreenderá todos os valores cobrados do consumidor, sem prejuízo do cálculo
padronizado pela autoridade reguladora do sistema financeiro.
§ 3º Sem prejuízo do disposto no art. 37 deste Código, a oferta de crédito ao consumidor e a oferta de
venda a prazo, ou a fatura mensal, conforme o caso, devem indicar, no mínimo, o custo efetivo total, o
agente financiador e a soma total a pagar, com e sem financiamento.
Art. 54-C. É vedado, expressa ou implicitamente, na oferta de crédito ao consumidor, publicitária ou não:
I – (VETADO);
II – indicar que a operação de crédito poderá ser concluída sem consulta a serviços de proteção ao crédito
ou sem avaliação da situação financeira do consumidor;
III – ocultar ou dificultar a compreensão sobre os ônus e os riscos da contratação do crédito ou da venda
a prazo;
IV – assediar ou pressionar o consumidor para contratar o fornecimento de produto, serviço ou crédito,
principalmente se se tratar de consumidor idoso, analfabeto, doente ou em estado de vulnerabilidade
agravada ou se a contratação envolver prêmio;
33

V – condicionar o atendimento de pretensões do consumidor ou o início de tratativas à renúncia ou à


desistência de demandas judiciais, ao pagamento de honorários advocatícios ou a depósitos judiciais.
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 54-D. Na oferta de crédito, previamente à contratação, o fornecedor ou o intermediário deverá, entre
outras condutas:
I – informar e esclarecer adequadamente o consumidor, considerada sua idade, sobre a natureza e a
modalidade do crédito oferecido, sobre todos os custos incidentes, observado o disposto nos arts. 52 e 54-
B deste Código, e sobre as consequências genéricas e específicas do inadimplemento;
II – avaliar, de forma responsável, as condições de crédito do consumidor, mediante análise das
informações disponíveis em bancos de dados de proteção ao crédito, observado o disposto neste Código
e na legislação sobre proteção de dados;
III – informar a identidade do agente financiador e entregar ao consumidor, ao garante e a outros
coobrigados cópia do contrato de crédito.
Parágrafo único. O descumprimento de qualquer dos deveres previstos no caput deste artigo e nos arts. 52
e 54-C deste Código poderá acarretar judicialmente a redução dos juros, dos encargos ou de qualquer
acréscimo ao principal e a dilação do prazo de pagamento previsto no contrato original, conforme a
gravidade da conduta do fornecedor e as possibilidades financeiras do consumidor, sem prejuízo de outras
sanções e de indenização por perdas e danos, patrimoniais e morais, ao consumidor.
Art. 54-E. (VETADO).
Art. 54-F. São conexos, coligados ou interdependentes, entre outros, o contrato principal de fornecimento
de produto ou serviço e os contratos acessórios de crédito que lhe garantam o financiamento quando o
fornecedor de crédito:
I – recorrer aos serviços do fornecedor de produto ou serviço para a preparação ou a conclusão do contrato
de crédito;
II – oferecer o crédito no local da atividade empresarial do fornecedor de produto ou serviço financiado
ou onde o contrato principal for celebrado.
§ 1º O exercício do direito de arrependimento nas hipóteses previstas neste Código, no contrato principal
ou no contrato de crédito, implica a resolução de pleno direito do contrato que lhe seja conexo.
§ 2º Nos casos dos incisos I e II do caput deste artigo, se houver inexecução de qualquer das obrigações e
deveres do fornecedor de produto ou serviço, o consumidor poderá requerer a rescisão do contrato não
cumprido contra o fornecedor do crédito.
§ 3º O direito previsto no § 2º deste artigo caberá igualmente ao consumidor:
I – contra o portador de cheque pós-datado emitido para aquisição de produto ou serviço a prazo;
II – contra o administrador ou o emitente de cartão de crédito ou similar quando o cartão de crédito ou
similar e o produto ou serviço forem fornecidos pelo mesmo fornecedor ou por entidades pertencentes a
um mesmo grupo econômico.
§ 4º A invalidade ou a ineficácia do contrato principal implicará, de pleno direito, a do contrato de crédito
que lhe seja conexo, nos termos do caput deste artigo, ressalvado ao fornecedor do crédito o direito de
obter do fornecedor do produto ou serviço a devolução dos valores entregues, inclusive relativamente a
tributos.
Art. 54-G. Sem prejuízo do disposto no art. 39 deste Código e na legislação aplicável à matéria, é vedado
ao fornecedor de produto ou serviço que envolva crédito, entre outras condutas:
I – realizar ou proceder à cobrança ou ao débito em conta de qualquer quantia que houver sido contestada
pelo consumidor em compra realizada com cartão de crédito ou similar, enquanto não for adequadamente
solucionada a controvérsia, desde que o consumidor haja notificado a administradora do cartão com
antecedência de pelo menos 10 (dez) dias contados da data de vencimento da fatura, vedada a manutenção
do valor na fatura seguinte e assegurado ao consumidor o direito de deduzir do total da fatura o valor em
disputa e efetuar o pagamento da parte não contestada, podendo o emissor lançar como crédito em
confiança o valor idêntico ao da transação contestada que tenha sido cobrada, enquanto não encerrada a
apuração da contestação;
II – recusar ou não entregar ao consumidor, ao garante e aos outros coobrigados cópia da minuta do
contrato principal de consumo ou do contrato de crédito, em papel ou outro suporte duradouro, disponível
e acessível, e, após a conclusão, cópia do contrato;
III – impedir ou dificultar, em caso de utilização fraudulenta do cartão de crédito ou similar, que o
consumidor peça e obtenha, quando aplicável, a anulação ou o imediato bloqueio do pagamento, ou ainda
a restituição dos valores indevidamente recebidos.
§ 1º Sem prejuízo do dever de informação e esclarecimento do consumidor e de entrega da minuta do
contrato, no empréstimo cuja liquidação seja feita mediante consignação em folha de pagamento, a
34

formalização e a entrega da cópia do contrato ou do instrumento de contratação ocorrerão após o


fornecedor do crédito obter da fonte pagadora a indicação sobre a existência de margem consignável.
§ 2º Nos contratos de adesão, o fornecedor deve prestar ao consumidor, previamente, as informações de
que tratam o art. 52 e o caput do art. 54-B deste Código, além de outras porventura determinadas na
legislação em vigor, e fica obrigado a entregar ao consumidor cópia do contrato, após a sua conclusão.”

“CAPÍTULO V
DA CONCILIAÇÃO NO SUPERENDIVIDAMENTO
Art. 104-A. A requerimento do consumidor superendividado pessoa natural, o juiz poderá instaurar
processo de repactuação de dívidas, com vistas à realização de audiência conciliatória, presidida por ele
ou por conciliador credenciado no juízo, com a presença de todos os credores de dívidas previstas no art.
54-A deste Código, na qual o consumidor apresentará proposta de plano de pagamento com prazo máximo
de 5 (cinco) anos, preservados o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, e as garantias e as
formas de pagamento originalmente pactuadas.
§ 1º Excluem-se do processo de repactuação as dívidas, ainda que decorrentes de relações de consumo,
oriundas de contratos celebrados dolosamente sem o propósito de realizar pagamento, bem como as
dívidas provenientes de contratos de crédito com garantia real, de financiamentos imobiliários e de crédito
rural.
§ 2º O não comparecimento injustificado de qualquer credor, ou de seu procurador com poderes especiais
e plenos para transigir, à audiência de conciliação de que trata o caput deste artigo acarretará a suspensão
da exigibilidade do débito e a interrupção dos encargos da mora, bem como a sujeição compulsória ao
plano de pagamento da dívida se o montante devido ao credor ausente for certo e conhecido pelo
consumidor, devendo o pagamento a esse credor ser estipulado para ocorrer apenas após o pagamento aos
credores presentes à audiência conciliatória.
§ 3º No caso de conciliação, com qualquer credor, a sentença judicial que homologar o acordo descreverá
o plano de pagamento da dívida e terá eficácia de título executivo e força de coisa julgada.
§ 4º Constarão do plano de pagamento referido no § 3º deste artigo:
I – medidas de dilação dos prazos de pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração
do fornecedor, entre outras destinadas a facilitar o pagamento da dívida;
II – referência à suspensão ou à extinção das ações judiciais em curso;
III – data a partir da qual será providenciada a exclusão do consumidor de bancos de dados e de cadastros
de inadimplentes;
IV – condicionamento de seus efeitos à abstenção, pelo consumidor, de condutas que importem no
agravamento de sua situação de superendividamento.
§ 5º O pedido do consumidor a que se refere o caput deste artigo não importará em declaração de
insolvência civil e poderá ser repetido somente após decorrido o prazo de 2 (dois) anos, contado da
liquidação das obrigações previstas no plano de pagamento homologado, sem prejuízo de eventual
repactuação.
Art. 104-B. Se não houver êxito na conciliação em relação a quaisquer credores, o juiz, a pedido do
consumidor, instaurará processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e
repactuação das dívidas remanescentes mediante plano judicial compulsório e procederá à citação de todos
os credores cujos créditos não tenham integrado o acordo porventura celebrado.
§ 1º Serão considerados no processo por superendividamento, se for o caso, os documentos e as
informações prestadas em audiência.
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, os credores citados juntarão documentos e as razões da negativa de
aceder ao plano voluntário ou de renegociar.
§ 3º O juiz poderá nomear administrador, desde que isso não onere as partes, o qual, no prazo de até 30
(trinta) dias, após cumpridas as diligências eventualmente necessárias, apresentará plano de pagamento
que contemple medidas de temporização ou de atenuação dos encargos.
§ 4º O plano judicial compulsório assegurará aos credores, no mínimo, o valor do principal devido,
corrigido monetariamente por índices oficiais de preço, e preverá a liquidação total da dívida, após a
quitação do plano de pagamento consensual previsto no art. 104-A deste Código, em, no máximo, 5
(cinco) anos, sendo que a primeira parcela será devida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias,
contado de sua homologação judicial, e o restante do saldo será devido em parcelas mensais iguais e
sucessivas.
Art. 104-C. Compete concorrente e facultativamente aos órgãos públicos integrantes do Sistema Nacional
de Defesa do Consumidor a fase conciliatória e preventiva do processo de repactuação de dívidas, nos
moldes do art. 104-A deste Código, no que couber, com possibilidade de o processo ser regulado por
convênios específicos celebrados entre os referidos órgãos e as instituições credoras ou suas associações.
35

Veja-se alguns importantes pontos da lei, que conferem com a grande preocupação

existente nas relações de consumo:

01. No art. 4º, do CDC, em que se trata da Política Nacional das Relações de Consumo,

são tratadas as diversas necessidades dos consumidores, como: “o respeito à sua

dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria

da sua qualidade de vida, bem como, a transparência e harmonia das relações de

consumo” (art. 4º, CDC). Ainda, foram acrescidos outros fundamentais princípios,

como o de:

IX - fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental dos


consumidores; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021) e,
"X - prevenção e tratamento do superendividamento como forma de evitar a
exclusão social do consumidor." (“Superendividamento - Aplicação das novas
regras. - Jusbrasil”) (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021).

Fica evidente pelo disposto em lei, que a educação financeira e ambiental dos

consumidores, é o meio pelo qual seja possível a prevenção do superendividamento dos

consumidores, isto em relação a novos consumidores que passarão a existir nas relações de

§ 1º Em caso de conciliação administrativa para prevenir o superendividamento do consumidor pessoa


natural, os órgãos públicos poderão promover, nas reclamações individuais, audiência global de
conciliação com todos os credores e, em todos os casos, facilitar a elaboração de plano de pagamento,
preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, sob a supervisão desses órgãos, sem
prejuízo das demais atividades de reeducação financeira cabíveis.
§ 2º O acordo firmado perante os órgãos públicos de defesa do consumidor, em caso de
superendividamento do consumidor pessoa natural, incluirá a data a partir da qual será providenciada a
exclusão do consumidor de bancos de dados e de cadastros de inadimplentes, bem como o
condicionamento de seus efeitos à abstenção, pelo consumidor, de condutas que importem no
agravamento de sua situação de superendividamento, especialmente a de contrair novas dívidas.”
Art. 2º O art. 96 da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), passa a vigorar acrescido
do seguinte § 3º:
“Art. 96.......................................................................................................
§ 3º Não constitui crime a negativa de crédito motivada por superendividamento do idoso.” (NR)
Art. 3º A validade dos negócios e dos demais atos jurídicos de crédito em curso constituídos antes da
entrada em vigor desta Lei obedece ao disposto em lei anterior, mas os efeitos produzidos após a entrada
em vigor desta Lei subordinam-se aos seus preceitos.
Art. 4º (VETADO).
Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação
36

consumo, como também, para resolver e tratar o problema já existente na condição de grande

parte dos atuais consumidores.

Mas, é possível educar para transformar o consumidor, quando o fomento do

consumismo é permitido sem que, exista do outro lado, um controle sobre o poder da

propaganda consumerista, como também, sobre as movimentações e liberações de crédito?

Em um estudo feito pelo Banco Central do Brasil, da série – Cidadania Financeira,

Estudos sobre Educação, Proteção e Inclusão, especificamente sobre o Endividamento de Risco

no Brasil, preliminarmente foi concluído que

Segundo os critérios empregados, 5,4% dessa população, ou 4,6 milhões de


tomadores, encontram-se em situação de endividamento de risco. Vale
destacar que a população de renda média – entre R$2 mil e R$10 mil – e com
idade acima de 54 anos mostra-se a mais vulnerável a essa condição.
(Endividamento de Risco no Brasil, 2020, p.6)

Diante do exposto, não estamos falando da população sob miséria, desemprego e,

daqueles que vivem com renda mínima, do salário-mínimo ou sob os projetos de renda cidadã

do governo federal, estadual e municipal. Estamos falando do percentual da população que tem

as condições de movimentação de crédito.

Fato importante relacionado a lei sancionada e o próprio parecer feito pelo Banco

Central, é o consenso de que para mitigar o problema do endividamento, dentre tantas medidas,

uma delas é a de modernização de leis e instituições, como também a de ampliação das medidas

protetivas para os consumidores que estejam sob o endividamento, in verbis:

Ações de transparência efetiva, modernização de leis e instituições,


articulação com provedores de serviços para a reestruturação de dívidas,
práticas responsáveis na concessão do crédito e alinhamento do produto aos
objetivos do consumidor são algumas das medidas propostas. (Endividamento
de Risco no Brasil, 2020, p.9)
37

A Recomendação sobre Proteção do Consumidor em Crédito de Consumo da


Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
emitida em julho de 2019, também expressa preocupação sobre os efeitos
nocivos do endividamento excessivo e recomenda a ampliação de medidas
protetivas para consumidores que se encontram nessa situação.
(Endividamento de Risco no Brasil, 2020, p.9

Os novos incisos (VI e VII) do art. 5º, demonstram que, o Estado brasileiro tem se

mobilizado em prol da ampliação dessas medidas, pelo fato de que considerando o ordenamento

jurídico brasileiro não basta a “lei seca”, mas sim sua normatização efetiva.

02. O art. 6º do CDC, enumera os direitos básicos do consumidor, inclusive em seu

parágrafo único, garante a ampliação dos direitos quanto a informações,

especificações e riscos, também a pessoa com deficiência (Incluído pela Lei nº

13.146, de 2015).

Diante da ampliação por meio da lei 14.181, de 2021, observou-se a inserção no rol de

direitos básicos do consumidor e também do princípio do mínimo existencial nas situações de

tratamento do superendividamento e na repactuação de dívidas existentes, o que a

[...] doutrina constitucional trata do princípio da “proibição da insuficiência”,


cuja finalidade é auxiliar no acompanhamento da concretização dos direitos
sociais, quando se define, a partir da Constituição, um conteúdo mínimo de
direitos fundamentais, ao qual o legislador estaria vinculado e proibido de
suprimir sem uma compensação adequada (QUEIROZ, 2006, p. 105-110 apud
Filho).

Destarte, em tese, seria o caso de os poderes públicos assegurarem o respeito


por um núcleo essencial, um patamar de conteúdo mínimo, com ações e
projetos definidos, desde logo, no orçamento do governo. Tal patamar
proibiria a insuficiência de direitos fundamentais básicos, a fim de garantir a
dignidade humana. Suzana Tavares da Silva chega a se referir a uma “mochila
38

da dignidade humana”, a ser garantida a cada indivíduo pelos governantes


(SILVA, 2010, p. 129 apud Filho).

A inclusão de mais um direito básico do consumidor, no CDC, não significa

propriamente a efetiva proteção dos direitos, uma vez que, além da lei, é fundamental que os

órgãos competentes, criados para essa finalidade sejam de fato atuantes e eficientes, veja-se que

a lei diz, in verbis:

Art. 5° Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo,


contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:
"I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor
carente;" (“Art. 5 do Código de Defesa do Consumidor - Lei 8078/90 -
Jusbrasil”)
II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito
do Ministério Público;
III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de
consumidores vítimas de infrações penais de consumo;
IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas
para a solução de litígios de consumo;
V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de
Defesa do Consumidor.
VI - instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e
judicial do superendividamento e de proteção do consumidor pessoa natural;
(Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
VII - instituição de núcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos
de superendividamento. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)

03. Quanto ao art. 51, e especificamente o inciso XVII, que considera “nulas de pleno

direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos

e serviços que, [...] condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos

do Poder Judiciário”; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021). Sobre isso trataremos

em outro tópico específico que tratará mais objetivamente o tema da pesquisa.


39

04. A inserção dos artigos 54-A, 54-B, 54-C, 54-D, 54-F, 54-G, diz respeito a política

de prevenção e tratamento do superendividamento, assunto que devem ser tratados

em outra pesquisa específica.

05. A inserção dos artigos 104-A, 104-B, 104-C, diz respeito ao processo conciliatório

entre os credores e os consumidores / devedores, tendo em vista a repactuação de

dívidas, preservado o mínimo necessário, como também a exclusão do consumidor

nos bancos de dados e cadastros de inadimplentes.

Dessa forma, apresenta-se a Política Nacional das Relações de Consumo (art. 4º, CDC),

como o meio de garantir da harmonização das “sobreditas ‘relações de consumo’, pois, se por

um lado existe a real preocupação com o atendimento das necessidades básicas dos

consumidores, ainda assim, por outro lado,

as boas relações comerciais, a proteção da livre concorrência, do livre


mercado, da tutela das marcas e patentes, inventos e processos industriais,
programas de qualidade e produtividade, enfim, uma política que diz respeito
ao mais perfeito possível relacionamento entre consumidores – todos nós em
última análise, em menor ou maior grau – e fornecedores. (CDC, 2019, p.72)”

No mais, haja vista que, a Política Nacional das Relações de Consumo é parte do

microssistema jurídico denominado de Código de Defesa do Consumidor, é sabido que, tornou-

se necessário a preocupação do judiciário quanto ao tratamento que é dado as lides existentes e

promovidas pelas ações judiciais.

Junior et al. Moura (2016) em seu trabalho de pesquisa relacionado ao entendimento

quanto as impressões da administração judiciária, analisou a crise no cotidiano judiciário

brasileiro em específico no Distrito Federal16.

16
Artigo – Impressões de Administração Judiciária sobre o
“Programa de Prevenção e de Tratamento aos Consumidores Superendividados no Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios: uma prática consolidada”
40

Ele considerou que

[...] se o quadrante socioeconômico observado, em 2014, tivesse ocorrido há


alguns anos, certamente a estratégia de enfrentamento para os casos de
superendividamento seria adotada no campo processual, diretamente nas
Varas Cíveis (inclusive Juizados Especiais), via aumento do contingente de
servidores ou estrutura, tudo para dar vazão a grandes volumes de ações
judiciais (MARQUES et al., 2016).

Pressupõe-se que, o judiciário percebe sua relação direta com a Política Nacional de

Consumo, mas a ênfase que foi dada até então é simplesmente ao atendimento denominado de

“Justiça sem processo”. Evidenciando claramente a ausência de uma consolidação legal, de uma

atualização do Código de Defesa do Consumidor, que aperfeiçoasse a disciplina de crédito ao

consumidor existindo “disposições expressas sobre o superendividamento” (MARQUES et al.,

2016).

Em sua pesquisa, Junior et al. Moura (2016), descreve a existência do Programa de

Prevenção e de Tratamento aos Consumidores Superendividados (PPTS)17,

[...] uma iniciativa de caráter social voltada à reeducação financeira e à


reinserção do consumidor superendividado no mercado de consumo, além de
fomentar a pacificação social e representar, por meio da conciliação e
valorização do indivíduo, a diminuição significativa do número de demandas
ajuizadas e um importante agenda positiva para o Poder Judiciário [...]

Portanto, as decisões judiciais carecem das novas iniciativas, como no caso do PPTS,

abarcando técnicas gerenciais, estratégicas de coordenação, novos programas de políticas

públicas com base em aspectos organizacionais profissionalizados. Dessa forma, a Justiça

MARQUES, Claudia Lima, CAVALLAZZI, Rosangela Lunardelli, LIMA, Clarissa Costa de. Direitos do
Consumidor endividado II. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016

17
PPTS (Relatório, 2016), Idem. Ibidem
41

sendo modelada para assistir o cidadão em seu cotidiano, através de práticas jurídicas eficazes,

diferentemente dos discursos da jurisdição clássica(Junior et al. Moura, 2016)

O presente capítulo demonstrou não somente o caráter jurídico da Política Nacional das

Relações de Consumo, especificamente, sob o artigo 4º, do CDC, como também, e tão

importante, as denominações dos agentes existentes nas relações consumeristas. A trajetória

das relações consumeristas, nos aspectos econômico, social e tecnológico, como também, as

fomentações quanto a proteção do consumidor brasileiro.

Os pertinentes questionamentos levantados nesse Capítulo são em essência a proposta

de correlação entre as antigas e novas medidas implementadas pelo Legislativo, quanto a

atender, de fato, as implicações obrigacionais entre os consumidores e fornecedores. A verdade

de que os consumidores são percebidos como “hipossuficientes”, soma-se ao fato de que, ainda

é verdade a existência do aliciamento de pseudo vantagens na disposição de produtos e serviços,

causadores do superendividamento.

A necessidade de programas de prevenção e tratamento do consumidor

superendividado, se manifesta como um alvo a ser superado, com vistas a modulação social que

valorize o indivíduo e, o seu mínimo existencial, mas ainda, contendo a redução financeira, que

compreenda a reinserção do consumidor superendividado novamente ao mercado de consumo,

de forma correta.
42

03. DIREITO CIVIL – “CONTRATOS”

Diante de uma enormidade de nuances próprias as relações de consumo, tem destaque

os contratos de consumo que em sua essência possuem um regramento próprio, objetivando a

segurança jurídica das relações consumeristas e do próprio contrato. O CDC regrando os

contratos de consumo preserva uma interpretação que sempre será mais favorável ao

consumidor, sendo que, tal entendimento fica evidente sob a égide dos artigos 47 e 25 do mesmo

código.

Em aspecto de equivalência material e revisão contratual diz-se que, quanto as cláusulas

abusivas e a imposição de outras que em sua essência tornam-se excessivamente onerosas, as

mesmas sempre serão passiveis de revisão uma vez que, o consumidor está amparado por

proteção legal. Fato este perfeitamente compreendido na descrição do artigo 6º, incisos IV e V

do CDC.

Fundamentalmente disposto pelo CDC a elevação do princípio da equivalência material

em contratos de consumo, movimentando-se em busca da fundamental equalização das relações

contratuais. O Código Civil por sua vez, prevê regulações atinentes ao que se refere aos

contratos de adesão e a existência de cláusulas abusivas. Como também conduz o entendimento

de que, tais condições jurídicas não são exclusivas as relações consumeristas (STIGLITZ, 1992,

pg.186).

O contrato consumerista é subordinado a outras tantas condições como, a exigência de

dar prévio conhecimento facilitando a compreensão do consumidor quanto ao seu respectivo

conteúdo. Além do fato de que existem as cláusulas nulas de pleno direito, todas elas

estabelecidas no artigo 51, do CDC. Essas cláusulas estabelecem um regramento que perpassa

inúmeras condições, como


43

➢ Não ser permitido que o fornecedor se auto exonere da responsabilidade quanto

a existência de vícios de qualquer natureza quanto aos produtos e serviços

fornecidos;

➢ Não ser subtraído do consumidor o direito de ser reembolsado da quantia já paga,

em casos previstos por lei;

➢ Não ser permitido obrigações completamente abusivas que conduzam o

consumidor a uma desvantagem na relação consumerista, acima de tudo que

sejam obrigações incompatíveis com a boa-fé e a equidade.

➢ A desconsideração da inversão do ônus da prova, prejudicando o consumidor;

➢ A desproporção entre os direitos contratuais do fornecedor e do consumidor

quanto a conclusão do contrato, sendo possível somente ao primeiro tal direito

contratual.

➢ A possibilidade de o fornecedor variar a precificação unilateralmente;

Por fim, também nula de pleno direito a cláusula que autorizar o fornecedor a modificar

o conteúdo e qualidade do contrato após sua celebração.

Consideradas todas as cláusulas onde é cabível a nulidade contratual, ressalva-se que,

tais cláusulas não invalidam o contrato como um todo, mas somente o que de forma abusiva

contraria o CDC, prejudicando o consumidor, lhe sendo facultado o direito de ajuizar ação que

declare tal nulidade contratual.

As condições acima enumeradas e especificadas, cabíveis de nulidade contratual são

encontradas nos contratos de adesão18. Macedo (1995, p.99), descreve que os contratos de

18
Contratos de adesão
[...] Muito raramente, os contratos bancários são negociados. Na grande maioria das vezes, celebram-se
mediante a adesão do cliente (aderente) às condições gerais do negócio, estipuladas pelo estabelecimento
financeiro. A massividade da atuação do banco, a obediência a instruções e regulamentos governamentais,
as condições próprias do mercado financeiro, a exigir tratamento equivalente entre as operações ativas e
passivas, tudo leva à adoção de contrato padrão para os diversos tipos de negócio, que não se distinguem
muito de um para outro estabelecimento. Para o conceito de contrato de adesão, características, efeitos e
44

adesão surgem em face da necessidade de o direito adequar-se às exigências econômicas e

sociais, compatíveis com a modernidade da economia. A autora considerou em sua definição,

desta modalidade contratual desde a produção em série, como o consumo em massa associados

a pressa do agir pelos sujeitos envolvidos em toda a transação, como também nas próprias

relações consumeristas.

Na mesma linha de entendimento, Fonseca (1995, p.55) descreve que o contrato de

adesão tornou-se uma realidade “inarredável”, em face do dinâmico movimento jurídico da

modernidade. No mesmo diapasão, Orlando Gomes (2000, p.36) diz que o contrato de adesão

critérios interpretativos, remeto aos estudos especializados 17 e ao art. 54 do Código de Defesa do


Consumidor e seus comentadores. A posição do fornecedor do crédito, prestador do dinheiro, é mais
forte do que a do prestatário, sendo aquele o sólido detentor do capital e do crédito, mola mestra da
atividade econômica, e este o que necessita, com intensidade e urgência, da obtenção do crédito e da
disponibilidade do numerário. Normalmente, essa posição de supremacia se reflete no conteúdo do
contrato. Por isso, deve ser reconhecida a preponderância da parte que estipula as condições a serem
aceitas pela outra sem discussão. A história do prêt d'argent dos países civilizados é marcada pela
vontade constante de proteger o prestatário contra o abuso do prestador.18 Depois de observar que
deixar o banco agir livremente, como se pretendeu no liberalismo econômico, é o mesmo que permitir
a exploração do mais fraco, concluiu Covello: é para evitar esse estado de coisas que o Estado interfere
na contratação bancária por meio do BC, que emite resoluções e circulares para disciplinar o crédito.
Tenho que esse controle administrativo das cláusulas contratuais parece ser de todos o mais eficiente
por atuar preventivamente e estender-se ao maior número de casos. Já o controle judicial tem a
inconveniência de atuar só repressivamente e com eficácia restrita. Aplica-se ao Brasil a observação feita
por Frederic Mahus a respeito da Alemanha: a jurisprudência dos tribunais tem pouco impacto no uso
das cláusulas gerais dos negócios porque o ordenamento jurídico não adota o princípio do stare decisis,
não servindo as decisões da Corte como precedente jurisprudencial, de sorte que apenas as decisões do
Bundesgerichtshof têm alguma influência, mas não substancial.19 Isso realmente é assim e basta ver
que entre as centenas de milhares de operações bancárias realizadas diariamente no país, apenas
reduzidíssimo número é objeto de litígio judicial, e a decisão nele proferida tem efeito de coisa julgada
somente entre as partes e para aquele negócio. Ainda são escassas as ações coletivas previstas na lei da
ação civil pública (Lei nº 7.347, de 24.7.1985) e no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90),
mas o STJ tem afirmado a legitimidade ativa do Ministério Público e de associações, como o IDEC, para
o ajuizamento de demandas sobre a nulidade de cláusulas abusivas de contratos bancários (REsp
292.636/RJ, 4ª Turma, rel. o Min. Barros Monteiro). No mesmo sentido: REsp 168.859/RJ; REsp
177.965/PR; REsp 105.215/DF. Deixo aqui registrada a decisiva importância que devem exercer as
agências administrativas no controle do conteúdo dos contratos bancários, para garantir que nos
milhões mensalmente celebrados e cumpridos não existam cláusulas abusivas ou ilegais, uma vez que
as reclamações administrativas ou judiciais se contam nos dedos.

JÚNIOR, Ruy Rosado de Aguiar. Os Contratos Bancários e a Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
Informativo Jurídico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.15,n.1,p.1-148, jan/jun. 2003. Disponível em: <
https://www.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/informativo/article/view/428/386>. Acesso em 20 jan
2022
45

possibilita a predeterminação da relação de negócio por parte do sujeito, que na relação de

fornecimento faz a oferta ao público consumidor.

A compreensão introdutória da modalidade contratual de adesão, específica as relações

consumeristas, projetam a importância de se compreender o princípio da existência dos

contratos, perpassando o conceito de liberdade contratual, sua obrigatoriedade e por fim, a

relativização dos efeitos contratuais.

Na seara conceitual dos contratos a pesquisa discorre especificamente sobre como são

formados os contratos bancários, seu regramento que estabelece o regime das relações

contratuais e a efetiva proteção do consumidor. No mais, importante destacar a contratação

bancária sob a vigência do CDC, a existência ou não de um impacto positivo a partir da decisão

que rejeitou a ADIn 2.591, ambas condições como ponto de análise para o controle judicial dos

contratos e relações consumeristas bancárias.

03.01 Principiologia Contratual

Sabe-se que o contrato define-se na concepção de um negócio jurídico onde está

envolvido a vontade consensual de duas ou mais partes, sobre o mesmo objeto e que na

disposição da vontade das partes envolvidas, cria-se, modifica-se e, ou extingue-se direitos e

obrigações. Através deste negócio jurídico acordado são definidos os meios para que ambas as

partes alcancem os fins estabelecidos. As cláusulas contratuais definidas sob a legislação

vigente e apropriada, estabelecem os parâmetros e limites para todos os direitos exigíveis na

relação obrigacional (DINIZ, 2011).

O direito contratual é regido por princípios estabelecidos e classificados como clássicos

e modernos. A função de cada um desses princípios revela a objetividade do equilibrio

contratual, a mitigação dos abusos de poderes, a inexistência de vantagens indevidas, como


46

também, entre outros, a não permissão do enriquecimento ilícitos seja das partes, ou comumente

de uma das partes que detenha maior poder de determinação contratual.

Orlando Gomes (2008, p.25) traz três principais princípios, denominados de princípios

clássicos, como (i) a autonomia da vontade, (ii) o consensualismo, (iii) a força obrigatória dos

contratos. Complementa-se a mesma classificação o princípio da revisão contratual, a cláusula

“rebus sic stantibus”19 e a relatividade contratual, entre outros que estabelecem a condição da

principiologia clássica.

O mesmo autor traz em suas definições o que compõe os chamados princípios modernos

contratuais. Orlando Gomes (2008, p.25) considera que, a boa-fé, o equilibrio econômico do

contrato e sua função social, todos foram incorporados no atual Código Civil de 2002

(MENEZES, 2004, p.1). Isto posto, sob a ótica dos novos paradigmas conceituais acerca do

seja o contrato, Menezes (2004) diz ser o contrato

[...] mecanismo de consecução do bem comum, de busca do interesse social.


Não há mais espaço para sua antiga concepção individualista e desumana, pois
o Direito segue uma esteira da ótica de valores sociais, de um novo horizonte
para a aplicação dos modernos princípios contratuais.
Os paradigmas do instituto contratual foram elevados à sua verdadeira
condição no instante em que foi, tal qual a propriedade, entendido de acordo
com sua função social. O individualismo foi relegado ao ostracismo, voltando
o legislador seus olhos para a função meta-individual, exógena, do contrato.

Na linha do tempo partindo da concepção liberal, a codificação contratual se

fundamentou sob estruturas jurídicas como do Código Civil Francês, de caráter conservador,

19
“rebus sic stantibus”
é a presunção, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, da existência implícita
de cláusula em que a obrigatoriedade do cumprimento do contrato pressupõe inalterabilidade da situação
de fato. Quando ocorre uma modificação na situação de fato, em razão de acontecimentos extraordinário
(imprevisível) que torne excessivamente oneroso para o devedor o seu adimplemento, poderá este requerer
ao juiz a isenção da obrigação, parcial ou totalmente. Esta cláusula dá ensejo a Teoria da Imprevisão, que
serve de argumento para uma revisão judicial do contrato. A exemplo de acontecimentos extraordinário e
imprevisível: ocorrência de uma guerra.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil vol. 3 - Contratos. São Paulo: Saraiva, 20012.
47

garantindo o direito absoluto da propriedade privada, como seus modos de aquisição e

administração (CUNHA, 2004. 18). Uma existência fundada, quase que de forma totalmente

autônoma a própria legislação, como Cunha (2004, p.20) ressalta, “tendo um papel de

exclusividade no trato das relações de direito privado patrimonial, não se admitindo a ingerência

de quem ou do que quer que fosse”.

Junto ao “Code” individualista, refletido a concepção de vida econômica e social, o

Código Civil Alemão de 1900, influenciou diretamente o Código Civil Brasileiro de 1916.

Gustavo Tepedino (apud Cunha, 2004, p. 21), destacou que os valores patrimoniais prevaleciam

sobre os valores existenciais, e sob o modelo liberal, o Código Civil Brasileiro de 1916, buscou

assegurar normas básicas para o desenvolvimento da aristocracia rural e a burguesia industrial.

A autonomia da vontade, a propriedade como direito absoluto prevaleceram.

Junto a autonomia da vontade, dogma fundamental da concepção liberal dos contratos,

se revela como princípio clássico e de cunho liberal a liberdade contratual. Onde a possiblidade

de contratar ou não, os conteúdos e cláusulas se estabelecem livremente pelas partes. Cunha

(2004, p.27) entendeu sob a ótica de Pereira (2001, p.23) que, a liberdade contratual se exerce

e é concretizada quando:

[...] vigora a faculdade de contratar e de não contratar, [...] segundo interesses


e conveniências de cada um, [...] na escolha da pessoa com quem fazê-lo, bem
como o tipo de negócio a efetuar, [...] no poder de fixar o conteúdo do contrato,
redigidas as suas cláusulas ao sabor do livre jogo das conveniências dos
contratantes, [...] uma vez concluído o contrato, passa a constituir fonte formal
de direito, autorizando qualquer das partes a mobilizar o aparelho coator do
Estado, [...].

Alguns autores definiram a liberdade contratual igualmente à autonomia da vontade,

trazendo uma concepção de mesma razão dogmática, entendendo isso por considerá-la em uma

mesma realidade (LÔBO, 1991 p.14). Claudia Lima Marques, preferiu manter a distinção entre
48

ambos os conceitos, entendendo que, “a liberdade contratual, [...] é derivada como princípio

contratual”, da autonomia da vontade, “[...] como dogma fundamental”.

No mesmo diapasão do princípio da liberdade contratual, se firmou como princípio a

“força obrigatória dos contratos, como também, o entendimento de que seria impossível a

revisão contratual, dentro da concepção liberal dos contratos”. Uma vez firmado pela autonomia

da vontade das partes, dentro da concepção da liberdade contratual, “as partes não poderiam se

desobrigar do pacto senão por meio de outro ajuste, devendo gozar dos direitos e cumprir os

deveres ali previstos” (CUNHA, 2004, p.30).

Ripert (2002) apud (Cunha, 2004,p.31), comentou que esse princípio da obrigação

contratual, se demonstra sob uma expressão enérgica projetando as convenções legalmente

formadas, tendo o valor das leis para aqueles que a fizerem. Fazendo alusão ao art. 1134, Código

Civil do Código de Napoleão.

A máxima latina – pacta sunt servanda20, uma vez declarada a vontade,

obrigatoriamente as relações contratuais deveriam serem cumpridas inexoravelmente

(obrigatório). A mentalidade liberal esboça o entendimento de que o cumprimento do contrato

pactuado demanda obrigatoriedade, uma vez que, as partes anteriormente se manifestaram com

ampla defesa de contratar, expondo suas vontades. Independentemente da existência do

desiquilíbrio econômico e ou o rompimento das condições econômicas de uma das partes da

relação contratual. À autoridade Estatal caberia somente a condução em juízo das lides que se

manifestassem e fundamentalmente garantisse o cumprimento dos termos das cláusulas

contratuais. A impossibilidade de intervenção na economia do contrato (CUNHA, 2004, p.32).

Por fim, o princípio da relatividade dos efeitos contratuais limitados às partes contratantes.

20
pacta sunt servanda
são um termo em latim que significa “os pactos devem ser cumpridos”. Representa o princípio da força
obrigatória dos contratos, que diz: se as partes estiverem de acordo e desejarem se submeter a regras
estabelecidas por elas próprias, o contrato obriga seu cumprimento como se fosse lei.

TISSOT, Rodrigo. O que é o princípio do pacta sunt servanda e suas principais implicações. Portal Aurum.
Disponível em: < https://www.aurum.com.br/blog/pacta-sunt-servanda/>. Acesso em 30 mar 2022
49

Essa limitação, se estabeleceu não somente sob a condição da autonomia da vontade de

seus contratantes, mas também a limitação interventiva do Estado.

Na ótica de diversos autores, como é o de CAENEGEM (2000), a crise da concepção

liberal do contrato, deu origem pelas diversas críticas que sobrepuseram sobre condições

liberais, como era o individualismo excessivo, a falta de regulamentação adequada “[...]

respeito exagerado a liberdade de contrato, entre outros”. Para Paulo Luiz Netto Lôbo (1991,

p.242) apud (Cunha, 2004, p.36) foi no movimento do Estado Social, considerando o enfoque

nas desigualdades sociais, especialmente o entendimento da dimensão econômica e social, onde

deu-se a nova condição de intervenção legislativa, administrativa e judicial sobre as atividades

privadas. Já, Gustavo Tepedino (2002) definiu a transição intervencionista do Estado sobre as

relações privadas, sob a premissa evolutiva que se iniciou com a existência de leis extra

codificadas, a condição de uma nova política Estatal assistencialista determinando os novos

limites da “autonomia privada, da propriedade e do controle de bens” e, por fim, a própria

promulgação da Constituição Federal de 1988.

Destaca-se que, na composição e existência de leis que não permitiram a exclusividade

do Código Civil de 1916, leis especiais tidas como “estatutos”, assim denominado por

Tepedino, tem-se o importante papel e em destaque nesta pesquisa, o denominado Código de

Defesa do Consumidor – Lei nº 8.078/199021.

Neste tempo em que transita do Estado Liberal para o Estado Social, inúmeras condições

precárias relacionadas a pactuação contratual tornam-se evidentes, como: a condição de

contratos injustos, desequilíbrio contratual entre fornecedores e os vulneráveis consumidores,

a insuficiência da Lei no confrontamento e intervenção de onerosidades excessivas, por

exemplo. Diante disso, a história demonstra como se deu a crise da teoria contratual clássica.

21
Lei 8078/1990 - LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
outras providências.
50

Não podendo mais disfarçar as desigualdades existentes, tal qual como eram, isto é,

concreta e real, a revisão da teoria contratual foi impulsionada (NEGREIROS, 1998). O Estado

passou a corrigir os reflexos contratuais, intervindo no conteúdo material dos contratos,

existindo a partir de então o “Dirigismo Contratual” (CUNHA, 2004, p.42).

Claudia Lima Marques (data, p.) enfatiza que, nesta transição, passou a existir certa

limitação a autonomia da vontade, uma vez que, a própria lei passou a ser legitimadora dessa

vontade. Passou a integrar as relações contratuais uma nova concepção de contrato, a inserção

de um elemento estranho as partes, isto é o interesse social. Passa a existir o forte regramento

legal, portanto, passou a existir a autonomia regrada da vontade (CUNHA, 2004, p.47).

Retomando o entendimento de Orlando Gomes (2000, p.36), chegamos as inovações da

teoria contratual denominada de teoria moderna dos contratos, onde surgem princípios como,

da função social dos contratos, da boa-fé objetiva e do Equilibrio Econômico contratual.

Tornando o contrato, “hábil a atender aos reclamos de socialização do direito e, somente a partir

da nova teoria, a possibilitar a revisão judicial dos contratos” (CUNHA, 2004, p.48).

03.02 Princípio da Função Social do Contrato

Tendo ocorrido mudanças significativas na teoria contratual, com enunciações

autônomas do Direito, novos paradigmas de regência e interpretação surgiram para dirimir as

relações jurídicas contratuais. A sociedade mudando e exigindo modificações em suas relações

contratuais.

Ao requerer novos princípios, especificamente os sociais, para os contratos, destaca-se a

função social do contrato em confronto direto aos princípios liberais da liberdade contratual,

superando as limitações da relatividade dos efeitos do contrato que ensejavam somente as

partes.

Vejamos que,
51

Dentro dessa conformação liberal, a função social do contrato ia tão-somente


até o ponto de permitir a circulação de riquezas, as trocas econômicas, em
consideração apenas aos interesses individuais das partes, sem se importar
com os interesses sociais eventualmente envolvidos, nem ainda com a
natureza e a finalidade negocial e tampouco com a justiça contratual implícita
no pacto. (CUNHA, 2004, P.65)

Fernando Noronha (2003, p.27) entendendo que transcendem os interesses do credor e

do devedor, estes são os valores maiorais da sociedade, não podendo ser afetados, pois o

princípio da função social determina a conformidade entre os interesses individuais e os

interesses sociais (Lôbo, 2002, p.15). Os autores supracitados concordam que a elevação dos

interesses sociais se projetam como primeira condição sine qua non para tal mudança e

apropriação sociopolítica e econômica dos contratos.

Logicamente que, a nova condição contratual, não deixa de lado o que se compreende

como o fim de um contrato, isto é, sua finalidade, o que para Cunha (2004, p.68) em

consonância com o entendimento de BIERWAGEN (2002, p.40) significa “ - distribuição de

riquezas – [...] atingida de forma justa, [...] quando o contrato representar uma fonte de

equilibrio social.

A aplicação objetiva desse conceito sobre os contratos sob a esteira do Código de Defesa

do Consumidor e do Novo Código Civil, o de 2002, é definida pelo que no nosso ordenamento

jurídico é tido como a “positivação”, isto é, a partir do CC 2002, especificamente no seu artigo

421, ficou estabelecido que: “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da

função social do contrato”, uma progressão do que anteriormente já se estabelecia na própria

promulgação da Constituição Federal de 1988 (CUNHA, 2004, p.69).

Na seara do CDC, especificamente em seu art. 4º, inciso III, a mesma lógica social é

encontrada, in verbis:

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e


compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
52

desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios


nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e
fornecedores;

Na concepção de Marques et al. (2016), o contrato sendo um instrumento que possibilita

a autorregulamentação dos interesses dos particulares, deve ser realizado em condições

permitidas pelo direito. Dessa forma, o contrato preserva em seu contexto e finalidade, a

“eficácia jurídica”, sendo indiscutível a posição dominante da Lei.

03.03 Princípio da Boa-Fé Objetiva

O princípio da Boa-fé objetiva, presente no Código de Defesa do Consumidor, como

também no novo Código Civil de 2002, reflete em cláusulas gerais, parâmetro para uma atuação

harmônica à Política Nacional das Relações de Consumo e a nulidade de todas as cláusulas que

a ela sejam incompatíveis. No art. 4º, inciso III22, do CDC, a Boa-fé objetiva se revela na

harmonização das relações de consumo, enquanto o art. 51, inciso, IV, identifica a eventual

abusividade em cláusulas contratuais.

22
Art. 4º, III, CDC
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
[...]
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre
com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

Art. 51, IV, CDC


Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:
[...]
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
53

Na concepção do Novo Código Civil de 2002, especificamente em seus artigos, 113, 187

e 422, a Boa-fé objetiva se revela como meio de interpretação dos negócios jurídicos, como

parâmetro limitador dos negócios jurídicos lícitos e também, como princípio para desde a

contratação até sua execução, o contrato se mantenha dirimido pelas corretas obrigações.

Cunha (2004), expõe que a perspectiva de Claudia Lima Marques, acerca da Boa-fé

objetiva é de uma fonte criadora de “deveres especiais, [...] como o dever de informar, de

cuidado e de cooperação”. De ser limitadora, definindo condutas e cláusulas, como também, a

condição interpretativa, “como elemento de concreção23”. Na relação contratual, seja de

consumo ou demais contratos, a conduta se estabelecerá sob a égide das relações sociais,

atendendo expectativas legitimas, sem que defraude a confiança da contraparte (NORONHA,

1996, p.93).

Diante da enormidade de garantias estabelecidas pela Boa-fé objetiva sobre as relações

contratuais, e os próprios aspectos do contrato, a limitação à liberdade contratual se mostra

mais evidente no que diz respeito aos deveres contratuais que deverão ser observados pelos

contraentes (MORAES, 2002, p.03).

Ante o exposto, com vistas a apresentar um conteúdo bibliográfico aplicável ao

entendimento revisional dos contratos bancários, antes mesmo de considerar o direcionamento

da Lei do Superendividamento, faz jus a reflexão apresentada por Agathe E. Schmidt da Silva

apud Cunha (2004, p.83)

A aplicação da cláusula geral de boa-fé exige, do intérprete, uma nova postura,


no sentido da substituição do raciocínio formalista, baseado na mera
subsunção do fato à norma, pelo raciocínio teleológico ou finalístico 24 na

23
Concreção
(latim concretio, - onis, agregação, condensação, reunião, matéria, materialidade)
substantivo feminino
1. Ação de tornar ou tornar-se concreto.
"concreção", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021,
https://dicionario.priberam.org/concre%C3%A7%C3%A3o [consultado em 16-07-2022].
24
Sobre o método Teleológico de interpretação do Direito
54

interpretação das normas jurídicas, com ênfase à finalidade que os postulados


normativos procuram atingir.

À época, os autores supracitados, se demonstraram preocupados se de fato existiria uma

nova postura por parte dos julgadores em trazer à baila esse princípio (da boa-fé objetiva)

quanto em relação aos demais. MARTINS-COSTA (1999, p.45) fala de um sistema aberto,

único e responsável para que nas circunstâncias do caso concreto, “a cláusula geral da boa-fé

objetiva, possa dar fruto”.

03.04 Princípio do Equilibrio Econômico do Contrato

Partindo do entendimento da equivalência material das prestações contratuais, quanto ao

princípio do equilibrio econômico do contrato, verifica-se que a nova concepção social do

contrato se estabelece pela premissa de que não deve existir o desequilíbrio nas prestações do

contrato. Mas firmemente o entendimento de que, verifica-se a justiça e o equilibrio contratual

projetando-se sobre o contratante vulnerável (Cunha, 2004, p.85)

Consiste na busca da finalidade das normas jurídicas tentando fazer a adequação destas aos critérios
atuais, pois o Direito por ser uma ciência normativa ou finalística a sua interpretação há de ser
essencialmente teleológica. Dessa forma, o intérprete ou aplicador sempre terá em vista a finalidade do
dispositivo legal, ou seja, se a intenção do legislador foi atingida. Como dispõe Tércio Sampaio Ferraz Jr:

A interpretação teleológica-axiológica ativa a participação do intérprete na


configuração do sentido. Seu movimento interpretativo, inversamente da
interpretação sistemática que também postula uma cabal e coerente unidade do
sistema, parte das consequências avaliadas das normas e retorna para o interior do
sistema. É como se o intérprete tentasse fazer com que o legislador fosse capaz de
mover suas próprias previsões, pois, as decisões dos conflitos parecem basear-se nas
previsões de suas próprias consequências. Assim, entende-se que, não importa a
norma, ela há de ter, para o hermeneuta, sempre um objetivo que tem para
controlar até as consequências da previsão legal (a lei sempre visa os fins sociais do
direito às exigências do bem comum, ainda que, de fato, possa parecer que elas não
estejam sendo atendidos) (FERRAZ Jr. 2008, P. 266 – 267).

JESUS, Ana Cláudia Aparecida de. Métodos de Interpretação do Direito – Aspectos Gerais. Jusbrasil. Disponível
em: < https://anaclaudiajesus.jusbrasil.com.br/artigos/516517364/metodos-de-interpretacao-do-direito-
aspectos-gerais>. Acesso em 13 jun. 2022
55

Este princípio se fundamenta na equalização contratual visando mitigar a vulnerabilidade

jurídica, não permitindo que as diferenças econômicas entre os contratantes, seja intensificada,

fato que pode ocorrer com maior frequência nos contratos em massa. Lôbo (2002, p.18) apud

Cunha (2004, p.86) definiu como equilibrio real de direitos e deveres no contrato, [...] para

harmonização dos interesses.

Além do princípio que norteia a ordem econômica25 em nossa carta magna

constitucional, o CDC, reconhecendo a vulnerabilidade jurídica do consumidor, trouxe no

tópico referente a Política Nacional das Relações de Consumo26, o interesse jurídico em tutelar

a harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo. Cunha (2004, p.88)

repete seu entendimento, quanto ao que dispõe o CDC em seus artigos 6º, IV, V, 51, IV, fazendo

referência ao fato de que a “equivalência material das prestações contratuais, em virtude de seu

conteúdo”, remete diretamente “a conceitos que se ligam essencialmente” trazendo à noção de

equilibrio contratual.

Retomando o entendimento de Marques (et al., 2016), especificamente quanto ao

princípio do equilibrio econômico do contrato, que ela define como “Nova noção de equilibrio

mínimo das relações contratuais”, de imediato nos deparamos com o apontamento de que,

quanto a análise jurisprudencial e os mais comuns conflitos envolvendo as relações de consumo,

25
Art. 170, caput, CF88
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
26
Art. 4º, I e III, CDC
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações
de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
[...]
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre
com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
56

o CDC mostrou-se como um instrumento efetivo, para se alcançar a justiça ou equidade

contratual (Vertragsgerechtigkeit27),

Efetivamente, com o advento do CDC o contrato passa a ter seu equilibrio,


conteúdo ou equidade mais controlados, valorizando-se o seus sinalagma28.
[...] na filosofia das normas do CDC estaria a proteção do consumidor contra
a lesão e os negócios lesionários, preocupando-se especialmente com a justiça
comutativa e o princípio da equidade (MARQUES et al., 2016, p.275)

Claudia Lima Marques, et al. (2019), conclui que junto com o controle das cláusulas

abusivas, este novo equilibrio contratual é na verdade uma “projeção dos princípios da

confiança e da boa-fé, positivados no CDC” e, não especificamente na noção de lesão. Dessa

forma, em seu entendimento vê ser limitada a noção de equidade econômica contratual imposta

pelo CDC e pelo princípio da boa-fé objetiva. A autora afirma ser necessário o reequilíbrio total

da relação contratual.

Não basta controlar a vantagem que determinado fornecedor tenha em uma determinada

relação contratual, mais fundamentalmente importante é o prejuízo por uma desvantagem

irrazoável para o consumidor desta mesma relação (MARQUES et al., 2016, p.277).

03.05 Contratos Bancários – uma definição específica

Por definição geral os contratos de fornecimento de produtos e serviços são regidos por

subsunção dos art. 2º e 3º do CDC. Um regime legal para todas as espécies de contratos que

27
Vertragsgerechtigkeit – “Justiça contratual”
28
MARQUES, C.L. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 9. ed.
rev. e atual. – São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p.275

Sinalagma
[...] um elemento imanente estrutural do contrato, é a dependência genética, condicionada e funcional
de pelo menos duas prestações correspectivas, é o nexo final que, oriundo da vontade das partes, é
moldado pela lei. Sinalagma não significa apenas bilateralidade, como muitos acreditam, influenciados
pelo art. 1.102, do Code Civil Francês, mas sim contrato, convenção, é um modelo de organização
(Organisationsnodell) das relações privadas.
57

envolvam consumidores e fornecedores. Sendo tal norma de ordem pública (artigo 01º)

estabelece os parâmetros da boa-fé objetiva e transparência (MARQUES et al., 2016, p.277).

Marques et al. (2019) menciona que os contratos de fornecimento de produtos e serviços

passaram a ser tutelados sob o CDC, que a seu termo, subdividiu suas normas em: “especiais

para tutela dos contratos de adesão (art. 54) e normais gerais aplicáveis às cláusulas abusivas

(art.51 usque 53)”.

Quanto ao conceito específico de contrato bancário, partindo do seu objeto, entende-se

da relação obrigacional estabelecida entre o sujeito ativo (credor) e um sujeito passivo

(devedor), a existência de certa prestação, a ser cumprida pelo obrigado (JUNIOR, 2003, p.25).

O contrato em si, tem como objeto imediato o conteúdo que seja o desejo das partes de forma

regulada pelos próprios contratantes.

Sob o entendimento de outros autores, Júnior (2003, p.30) discorre a respeito de diversas

circunstâncias que permeiam a existência dos contratos bancários. Diz sobre o que é a prestação

existente na relação obrigacional (VENOSA, 2008, P.16), entre outros pontos, a ideia de que

contratos bancários e operações bancárias são sinônimos29, o que há época era justificado “tanto

na prática do mercado como na nossa doutrina e jurisprudência”. Mais ainda, o mesmo autor

definiu o Banco como sendo, “a empresa com fundos próprios ou de terceiros”, que faz a

negociação de crédito30, que na perspectiva econômica, é a troca de uma riqueza atual por outra

29
TOLOMEI, Fernando Soares. LINHAS GERAIS SOBRE CONTRATOS BANCÁRIOS. Curso de Direito das
Faculdades Integradas, Presidente Prudente/SP, 2009.

Quanto a ideia de que contratos bancários e operações bancárias são sinônimos, Fernando Soares Tolomei,
argumenta que,

“apesar de a operação ter campo mais abrangente, de maneira a englobar atos que não se formalizam no
contrato bancário, não se pode deixar de lado o entendimento de que a obrigação é um processo, vale
dizer, as operações nada mais são do que atos que se propõem a alcançar um determinado fim, o qual se
formaliza por meio do contrato bancário.”
30
TOLOMEI, Fernando Soares. LINHAS GERAIS SOBRE CONTRATOS BANCÁRIOS. Curso de Direito das
Faculdades Integradas, Presidente Prudente/SP, 2009.

Focando-se novamente nos contratos bancários, denota-se que o objeto destes contratos, lato sensu, é o
próprio crédito. É evidente que, como leciona o Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior (2003: 140 p.),
58

futura (NADER, 2010, p.465). Quanto conceito de crédito que reúne dois fatores: “o tempo e

a confiança”, pressupõe “uma décalage31 entre duas prestações, uma atual, prestada pelo credor,

e outra futura, a ser cumprida pelo devedor” (JUNIOR, 2003, p.28).

Entre outras importantes circunstâncias que permeiam os contratos bancários, destaca-

se atividades das instituições financeiras, e suas operações ativas, onde

a obrigação do banqueiro tem por objeto imediato da relação à intermediação


do crédito (conduta), e o objeto mediato é o crédito em si, com a
disponibilização de numerário (a simples disponibilidade é um bem
econômico) ou a entrega da moeda. A prestação pode ter por objeto imediato
um fato, isto é, a intermediação do crédito (nas obrigações de fazer, como
acontece no contrato em que o banco se obriga a conceder um financiamento
ou uma garantia, nos termos contratados) ou uma coisa, ou seja, o numerário
transferido ao mutuário. Já o contrato bancário tem o seu objeto imediato
na regulação da intermediação, e o mediato é o crédito, com a
disponibilidade ou a entrega do numerário (grifo nosso).
Nas operações ativas, em que o banco é o credor, a obrigação do cliente do
banco consiste na obrigação de dar (pagar os juros, tipo de prestação periódica
ou de trato sucessivo, os acessórios e o principal) e, excepcionalmente, na
obrigação de fazer (cumprir determinados programas nos financiamentos
vinculados, como acontece nos concedidos pelos bancos de investimento)
(JUNIOR, 2003, p.30).

Como também, as operações passivas, como

no contrato de depósito ou de aplicações em títulos bancários (CDB, RDB,


etc.), há a especificidade de ser do banqueiro a conduta esperada quanto ao
pagamento de juros, acessórios e restituição do capital (JUNIOR, 2003, p.30).

amparado pela doutrina de Aramy Dornelles da Luz, os bancos não se constituem tão-somente como
mediadores do crédito perante indivíduos com excesso e escassez do mesmo, “pois os depositantes não
entregam recursos para o fim de serem emprestados a terceiros, mas por motivos de segurança, confiança
e praticidade (...)”.
31
“uma décalage
é a ação de tirar o calço ("cale") a um móvel. Emprega-se habitualmente em sentido figurado:
desequilíbrio, desfasamento, desnível, fosso, falta de correspondência, diferença entre duas coisas,
ruptura, etc.'
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/decalage--
desequilibrio-ruptura/2419 [consultado em 19-07-2022]
59

Fábio Ulhoa Coelho (2009, p.127) definiu os contratos bancários como veículos

jurídicos da atividade econômica de intermediação monetária, na captação como no

fornecimento dos créditos monetários. Na mesma seara, Tolomei (2009) argumenta que se tem

convencionado que o contrato de natureza bancária possui contornos específicos e que, devido

à complexidade de sua natureza, “não se enquadram em nenhum instrumento jurídico previsto

pelo ordenamento, de forma a ensejar o que segmentos da doutrina chamam de contratos

atípicos”.

Como parte da definição do que seja o contrato bancário é cabível entender algumas

importantes características. Sob o entendimento de Junior (2003,p.31), os contratos bancários

possuem como características: ser comutativo, isto é, as partes têm conhecimento das vantagens

e sacríficos que tal negócio contratual comporta. A luz do direito processual, o contrato exige

a realização de certos atos comprobatórios quanto as operações realizadas, direcionadas a parte

contratual que tenha mais facilidade de demonstrar o fato. Na maioria das vezes, os contratos

bancários pelas próprias condições, tipos de operações em massa, exigências por parte de

regulamentações, são de adesão (conceito já definido anteriormente).

Por fim, diante de inúmeras e importantes características intrínsecas ao contrato

bancário, está o sigilo – “uma confiança entre banco e cliente” (JUNIOR, 2003, p.34).

Nas suas espécies, o contrato bancário pode ser desenvolvido na condição de contrato de

depósito, onde são entregues ao banco valores monetários, para que este último em determinado

tempo, restitua o valor do capital mais os juros propostos pela situação financeira estabelecida

no mercado financeiro e estipulado em suas cláusulas. Fábio Ulhoa Coelho (1993, p.431) apud

Junior (2003) definiu como sendo uma relação de “verdadeira fidúcia32”. Já o

32
“Fidúcia”
JURÍDICO (TERMO)
ônus que grava a propriedade dada em fideicomisso, visto que ela pertence ao fiduciário enquanto este
viver ou por outra condição estabelecida pelo testador.
60

contrato de conta corrente é o contrato pelo qual o banco recebe numerário do


correntista ou de terceiros e se obriga a efetuar pagamentos por ordem do
cliente, pela utilização daqueles recursos, com ou sem limite de crédito. Ao
contrário do contrato de depósito, que é real, o contrato de conta corrente, que
se estabelece mediante o simples acordo de vontade, é contrato consensual.
(JUNIOR, 2003, p.35)

O contrato de abertura de crédito, no entendimento de Nelson Abrão apud Junior (2003)

é “sui generis” e sob o entendimento de outros tantos autores, é bilateral, “com fixação de

obrigações para ambas as partes” (JUNIOR, 2003). Diferentemente do que pensa e define

Pontes de Miranda, que insiste ser o contrato, unilateral.

Quanto ao contrato mútuo ou de empréstimo bancário, trata-se de contrato real que

demanda a entrega da coisa, especificamente, a disponibilidade do crédito. E justamente quanto

a forma que se disponibiliza o crédito, sob cláusulas contratuais - é o aspecto relevante nesta

pesquisa para a existência da Revisão Judicial dos Contratos Bancários.

O contrato bancário de empréstimo tem maior relevância quanto a proposta de verificar

e entender como o sistema judiciário brasileiro tem atuado nas relações obrigacionais existente

entre os contratantes desta modalidade de contrato. Junior (2003) descreveu que tal contrato

tem “importância na vida econômica de todas as pessoas, seja porque na grande maioria dos

contratos bancários existe no fundo uma relação de mútuo”.

O Código Civil de 2002 em seu artigo 58633, define o mútuo como sendo o empréstimo

de coisas fungíveis, portanto trata-se daquilo que seja possível sua restituição pelo equivalente.

Quando se trata do mútuo bancário34 se fundamenta na disposição da prestação de certa soma,

33
Art. 586, CC 2002
O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele
recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.
34
(prêt d'argent) – “empréstimo de dinheiro”
61

certa quantia de moeda (Junior, 2003, p.37). E em resumo, o contrato bancário de empréstimo

é real, unilateral, nominativo, típico e oneroso.

Quando se propõe a definir os contratos bancários em uma definição específica, a

proposta se resume unicamente em fechar o tema “Contratos” na condição das relações

bancárias, mas também, direcionar esta última para o entendimento específico quanto aos

contratos bancários de empréstimos. Portanto, importa pesquisar como as teorias revisionistas

judiciais são comumente aplicadas em relação a essa modalidade de contratos, mas

principalmente, sob a égide da Lei do Superendividamento.

Arnaldo Rizzardo, iguala o empréstimo bancário, “praticamente ao mútuo comum,

regrado pelo Código Civil” (RIZZARDO, 2009, 34). Junqueira (1988) apud RIZZARDO

(2020, p.21), em edição mais recente, definiu a natureza do contrato bancário destacando que,

O contrato bancário contém inúmeras cláusulas redigidas prévia e


antecipadamente, com nenhuma percepção e entendimento delas por parte do
aderente. Efetivamente – é do conhecimento geral das pessoas de qualidade
média – os ‘contratos bancários’ não apresentam natureza sinalagmática,
porquanto não há válida manifestação ou livre consentimento por parte do
aderente, com relação ao suposto conteúdo jurídico, pretensamente
convencionado com o credor.

Cláusulas como as de vencimento, atualização monetária, taxa efetiva, juros moratórios

e multa sobre montante do débito, comprovam a impossibilidade de o aderente poder manifestar

à vontade (RIZZARDO, 2020, p.21).

O que tem sido apresentado até agora, a respeito dos contratos bancários,

especificamente acerca dos empréstimos bancários, é a imposição de padrões contratuais que

de fato esmagam economicamente o aderente, ora consumidor, do serviço disponibilizado pelas

instituições bancárias. Ainda, sobre as limitações impostas sobre o aderente aos empréstimos

bancários, Junior (2003) descreveu que “o mútuo atribui ao emprestador o direito de

recebimento de juros remuneratórios”, e mesmo que


62

A constituição da República, no art. 192, § 3º, dispôs sobre o limite de 12%


ao ano para o juro real, mas o egrégio Supremo Tribunal Federal decidiu que
a norma depende de regulamentação, de sorte que, na atividade bancária,
prevalece o enunciado da Lei nº 4.595/64, cujo art. 4º, IX, atribui ao Conselho
Monetário Nacional a competência para fixar a taxa de juros, as comissões e
o custo dos serviços bancários (Súmula nº 596/STF).

Retomando o entendimento de Junqueira (1988) apud Rizzardo (2020, p.22), o

esmagamento econômico é inteiramente disposto pelo “desrespeito e da infidelidade do credor,

já no momento mesmo da celebração do contrato, ávido pela exploração consciente, [...]

rompendo-se, no seu nascedouro, a novação de boa-fé e dos bons costumes”. Mesmo que bem

anterior ao CDC e as decisões como a ADI 2.591, por exemplo, ainda assim, o entendimento

de Junqueira (1988) é fundamental para compreender, o cerne do questionamento de Marques,

et al. ( 2016, p.277). Isto é, [...] mais fundamentalmente importante é o prejuízo por uma

desvantagem irrazoável para o consumidor desta mesma relação (MARQUES et al., 2016,

p.277).

Tal situação de pressão econômica, sob o vértice contratual, é de fato comprovada uma

vez que, as instituições financeiras passaram a sustentar a inconstitucionalidade da incidência

do CDC sobre as relações bancárias (Junior, 2004, p.40). É possível verificar a existência dessa

pressão econômica sobre o aderente, ora consumidor, dos contratos bancários em geral, pelo

conteúdo da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.591, requerida pela Confederação

Nacional do Sistema Financeiro – CONSIF.

In verbis, a Ementa da ADIN 2.591

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 5o, XXXII, DA CB/88.


ART. 170, V, DA CB/88. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. SUJEIÇÃO
DELAS AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, EXCLUÍDAS DE
SUA ABRANGÊNCIA A DEFINIÇÃO DO CUSTO DAS OPERAÇÕES
ATIVAS E A REMUNERAÇÃO DAS OPERAÇÕES PASSIVAS
PRATICADAS NA EXPLORAÇÃO DA INTERMEDIAÇÃO DE
63

DINHEIRO NA ECONOMIA [ART. 3º, § 2º, DO CDC]. MOEDA E TAXA


DE JUROS. DEVER-PODER DO BANCO CENTRAL DO BRASIL.
SUJEIÇÃO AO CÓDIGO CIVIL.
1. As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das
normas veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor.
2. "Consumidor", para os efeitos do Código de Defesa do Consumidor, é toda
pessoa física ou jurídica que utiliza, como destinatário final, atividade
bancária, financeira e de crédito.
3. O preceito veiculado pelo art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor
deve ser interpretado em coerência com a Constituição, o que importa em que
o custo das operações ativas e a remuneração das operações passivas
praticadas por instituições financeiras na exploração da intermediação de
dinheiro na economia estejam excluídas da sua abrangência.
4. Ao Conselho Monetário Nacional incumbe a fixação, desde a perspectiva
macroeconômica, da taxa base de juros praticável no mercado financeiro.
5. O Banco Central do Brasil está vinculado pelo dever-poder de fiscalizar as
instituições financeiras, em especial na estipulação contratual das taxas de
juros por elas praticadas no desempenho da intermediação de dinheiro na
economia.
6. Ação direta julgada improcedente, afastando-se a exegese que submete às
normas do Código de Defesa do Consumidor [Lei n. 8.078/90] a definição do
custo das operações ativas e da remuneração das operações passivas praticadas
por instituições financeiras no desempenho da intermediação de dinheiro na
economia, sem prejuízo do controle, pelo Banco Central do Brasil, e do
controle e revisão, pelo Poder Judiciário, nos termos do disposto no Código
Civil, em cada caso, de eventual abusividade, onerosidade excessiva ou outras
distorções na composição contratual da taxa de juros. ART. 192, DA CB/88.
NORMA-OBJETIVO. EXIGÊNCIA DE LEI COMPLEMENTAR
EXCLUSIVAMENTE PARA A REGULAMENTAÇÃO DO SISTEMA
FINANCEIRO.
7. O preceito veiculado pelo art. 192 da Constituição do Brasil consubstancia
norma-objetivo que estabelece os fins a serem perseguidos pelo sistema
financeiro nacional, a promoção do desenvolvimento equilibrado do País e a
realização dos interesses da coletividade.
8. A exigência de lei complementar veiculada pelo art. 192 da Constituição
abrange exclusivamente a regulamentação da estrutura do sistema financeiro.
CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL. ART. 4º, VIII, DA LEI N.
64

4.595/64. CAPACIDADE NORMATIVA ATINENTE À CONSTITUIÇÃO,


FUNCIONAMENTO E FISCALIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS. ILEGALIDADE DE RESOLUÇÕES QUE EXCEDEM
ESSA MATÉRIA.
9. O Conselho Monetário Nacional é titular de capacidade normativa --- a
chamada capacidade normativa de conjuntura --- no exercício da qual lhe
incumbe regular, além da constituição e fiscalização, o funcionamento das
instituições financeiras, isto é, o desempenho de suas atividades no plano do
sistema financeiro.
10. Tudo o quanto exceda esse desempenho não pode ser objeto de regulação
por ato normativo produzido pelo Conselho Monetário Nacional.
11. A produção de atos normativos pelo Conselho Monetário Nacional,
quando não respeitem ao funcionamento das instituições financeiras, é
abusiva, consubstanciando afronta à legalidade.
(STF - ADI: 2591 DF, Relator: CARLOS VELLOSO, Data de
Julgamento: 07/06/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 29/09/2006)

O teor das manifestações jurídicas que permearam a discussão pela

inconstitucionalidade do §2º do artigo 3º do CDC, incutiram grandes reflexões e preocupações,

como foi o caso do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor, que, através do

parecer encaminhado pelo Sr. Roberto Pfeiffer, então presidente do instituto, demonstrou

diversos prejuízos que os aderentes de contratos bancários, ora consumidores, sofreriam caso,

fosse deferida a ADIn 2.591.

Há época, Garcia (2009), apresentou de forma sintetizada que, no parecer do Instituto

Brasileiro de Política e Direito do Consumidor – “os correntistas ficariam sem proteção nos

casos de operações bancárias típicas, [...] uma vez que no Código de Defesa do Consumidor é

mais amplo do que a resolução do Banco Central”, garantindo maior “proteção aos

consumidores. Ainda também que, no CDC existe “o direito de requerer inversão do ônus da

prova e uma extensa relação de cláusulas consideradas abusivas” e, que o


65

Código de Defesa do Consumidor dá ao consumidor, entre outros, o poder de


recorrer à Justiça a fim de rever contratos quando considerar que há vantagem
excessiva por parte da empresa contratada (GARCIA, 2009)

Conferindo a razão dos votos dos ministros, Garcia (2009), expôs que, para o então

Ministro Carlos Velloso (relator), o CDC deveria limitar-se a defender o consumidor, “sem,

contudo, interferir na estrutura institucional do sistema financeiro”, especificamente quanto “a

incidência da taxa de juros reais nas operações bancárias35”.

Ante o exposto, se observa os contrastes de entendimentos descritos na alegação à

inconstitucionalidade de norma ofensiva aos artigos 5º, LIV, e 192, II e IV, da CF88. Pois bem,

não somente foi julgada improcedente tal alegação, como também, existem diversos

apontamentos acerca de como deveria ser estrutura tal decisão por parte do STF.

Marcos Felix Jobim (2013) et al. SEUS e CADERMARTORI (2013), sustentou ser

possível que,

quando existir repercussão geral no recurso extraordinário, de o Supremo


Tribunal Federal impor medidas estruturantes (grifo nosso), ou seja, para
alterar a legislação e pela prolação de uma sentença normativa.

As tais medidas estruturantes da qual Seus e Cademartori (2013) retratam dizem respeito

a alteração da legislação vigente acompanhada por uma decisão judicial que fosse

completamente normativa, com vistas a manter rigorosamente tais decisões harmonicamente

em conformidade com a Constituição Federal. Em outras palavras, a decisão prolatada no

julgamento da ADIn 2.591, na ementa dos embargos declaratórios, deixou a desejar não

35
O Min. Carlos Velloso, relator,
[...] proferiu voto no sentido de julgar procedente em parte a ação para emprestar ao § 2º, do art. 3º, da
Lei 8.078/90, interpretação conforme a CF para excluir da incidência a taxa dos juros reais nas operações
bancárias, ou sua fixação em 12% ao ano, dado que essa questão diz respeito ao Sistema Financeiro
Nacional.

GARCIA, Gabriel Rodrigues. Uma Análise do Julgamento na Adin 2591. Clic Direito, 2009. Disponível em: <
https://clicdireito.com.br/uma-analise-do-julgamento-na-adin-2591> Acessado 31 mar 2022.
66

promovendo as medidas estruturantes cabíveis para dar a máxima efetividade as decisões

(SEUS e CADERMARTORI, 2013, p.14).

Os mesmos autores descrevem sob o entendimento de MIRAGEM (2013) que as

matérias relevantes aplicáveis pelo CDC ao contrato bancário, compreendem os artigos:

(i) Art. 30 e ss. – sobre oferta e publicidade;


(ii) Art. 39 – sobre as práticas abusivas;
(iii) Art. 42 – sobre as cobranças de dívidas;
(iv) Art. 43 – sobre os bancos de dados e cadastro de consumidores;
(v) Art. 46 – sobre os deveres pré-contratuais;
(vi) Art. 47 – sobre a interpretação favorável ao consumidor;
(vii) Art. 49 – sobre o direito de arrependimento;
(viii) Art. 51 – sobre o controle de cláusulas abusivas;
(ix) Art. 52 – sobre os deveres de conduta na concessão do financiamento;
(x) Art. 54 – sobre os contratos de adesão.

E no que se refere a aplicação das medidas estruturantes, na ótica de uma decisão de

máxima instância da justiça brasileira (STF), sugeriu-se que as condições como: inexigível a

obrigação de cujo instrumento não houve a prévia informação ao consumidor (art. 46, CDC); o

instrumento celebrado com a instituição financeira contenha requisitos mínimos, sem prejuízo

de outros que lhe sejam cabíveis (art. 52, CDC); as respectivas cláusulas limitadoras de direitos

com amplo destaque (art. 54, CDC). Fossem todas elas condições normativas previamente

aplicáveis nas relações contratuais entre as instituições bancárias e os aderentes, ora

consumidores.

Sob toda a argumentação de inúmeros autores na proposta de compreender e apresentar

o conceito de contratos, especificamente aqueles aplicáveis aos contratos de empréstimos

bancários, a expectativa em geral tem por objetivo entender a existência ou não da segurança

jurídica do consumidor. Não existindo, seria cabível a revisão judicial dos contratos bancários?
67

04. DA REVISÃO JUDICIAL DOS CONTRATOS BANCÁRIOS COM

FUNDAMENTO NA LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO

04.01 Revisão Judicial – Aplicabilidade

Passados 19 (dezenove) anos, desde 2003 (data da referência citada) e diante de centenas

de milhares de operações bancárias realizadas diariamente no país, reduzidíssimo número

dessas operações bancárias, tem sido objeto de litígio judicial. E, quanto as decisões proferidas

nos processos judicializados, tais decisões tem efeito de coisa julgada somente entre as partes

e para aquele negócio (JUNIOR, 2003).

O que se pergunta é se nesses inúmeros contratos bancários celebrados e cumpridos (ou

não) não existiram cláusulas abusivas ou ilegais? Quais os índices de possíveis reclamações

administrativas ou judiciais existentes em relação ao universo de contratos bancários

celebrados?

Seguindo os questionamentos supramencionados, mas tendo em vista pensar

especificamente os novos cenários envolvendo as relações contratuais, Friedemann (2017) vê

no fundamento do superendividamento, com base nas definições, classificações e pressupostos,

ser possível uma construção válida e capaz de figurar como teoria de revisão contratual.

Dessa forma, pensa-se a revisão judicial dos contratos sob a existência do

superendividamento e, não de forma preventiva. Tanto que, Giancoli (2008, p.160) apud

Friedemann (2017), ressalta que, no polo ativo da ação revisional. figura

“somente o superendividado, ou seja, aquele indivíduo que necessita da tutela


jurisdicional do Estado para garantir a manutenção digna de sua capacidade
de crédito para sua sobrevivência social mínima é quem possui legitimidade
ativa para esta hipótese revisional”
68

Um olhar mais técnico direcionado as demandas judiciais e as Jurisprudências dos

órgãos superiores da Justiça Brasileira, reforça a ideia de que a utilização da nova Lei demanda

uma nova abertura de discussão jurídica atendendo as demandas dos atuais superendividados e

por conseguinte se projetando como meio de prevenção do Superendividamento de novos

consumidores, em especifico os contratantes (aderentes) de contratos bancários.

04.02 Contratos Bancários – Demandas Repetitivas e as Jurisprudência

do Superior Tribunal de Justiça

Com o intuito de entender a extensão e objetividade da justiça brasileira e, sua atual

performance no campo da revisão dos contratos bancários, é imprescindível destacar alguns dos

principais julgados do Superior Tribunal de Justiça (STJ), “mormente àqueles submetidos a

sistemática de julgamento de demandas repetitivas, e das Súmulas por ele editadas, que

envolvam a temática de contratos bancários” (BAIÃO, 2020).

Um dos primeiros julgados para ser exposto na pesquisa de jurisprudências julgou que,

apesar de

tratar de consignação em folha de pagamento, em que normalmente há


Decreto e Instrução Normativa regulando e limitando os descontos, o Superior
Tribunal de Justiça se posicionou de forma a limitar a cobrança do saldo
devedor do consumidor, estabelecendo o patamar máximo de desconto de
30% dos rendimentos, respeitando o “mínimo existencial”, fundamentado no
superendividamento do consumidor (BAIÃO, 2020).

O que se vê no julgado é a jurisprudência da Corte Superior de Justiça adotando o

entendimento relacionado ao contrato de mútuo referente ao crédito consignado com desconto

em folha de pagamento, respeitando o “mínimo existencial” (FRIEDEMANN, 2017):

AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (STJ – AgRg no REsp


1206956/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 18/10/2012, DJe 22/10/2012)
69

Em um segundo julgado, verifica-se que a Corte de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu

favorável à revisão contratual do consumidor superendividado, in verbis:

(Apelação Cível Nº 70051861490, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de


Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em 13/12/2012)

Evidenciado neste julgado com base nos princípios da boa-fé objetiva, da dignidade da

pessoa humana, e dos princípios gerais que regem as relações de consumo, é possível a revisão

contratual com fundamento no superendividamento do consumidor, desde que presentes seus

pressupostos.

Em um terceiro julgado que abordou a confissão de dívida, renegociação e pagamento

de contrato bancário, está estabelecido pela Súmula 286 do STJ que nestes casos não há

impedimento de se discutir eventuais ilegalidade contratuais, como também, quanto a extinção

contratual de quitação e novação (BAIÃO, 2020)

(AgInt no AREsp 857.008/SE, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA


TURMA, julgado em 05/12/2017, DJe 13/12/2017) (s.g.)

Um quarto julgado, agora quanto aos juros remuneratórios36, especificamente quando a

taxa for superior a 12% a.a., representando o preço da disponibilidade monetária, já está firmado

em sede de recurso repetitivo (Tema 25 e Súmula 382) – a não abusividade.

Baião (2020) reforça o entendimento, expondo que a Súmula 596 do STF, e o STJ

(Tema 24) assentaram que, “as disposições do Decreto 22.626/33 [Lei da Usura] não se aplicam

36
Consoante anota a doutrina
“os juros correspondem à renda do dinheiro, podendo ser compensatórios, se compensarem a
indisponibilidade do bem pelo mutuante, ou moratórios, se decorrentes de atraso no adimplemento das
obrigações ajustadas” (FUJITA, et al., 2014).

BAIÃO, Julian. Contratos bancários e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. JUS.com.br, 2020.
Disponível em:< https://jus.com.br/artigos/78904/contratos-bancarios-e-a-jurisprudencia-do-superior-tribunal-de-
justica>. Acesso em 20 fev.2022
70

às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições

públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional”.

Observa-se que, a questão dos juros remuneratórios são permeados por diversas outras

decisões, como: (i) “se o contrato não for expresso quanto a taxa cobrada” – possível fixação

pelo juiz da taxa média do mercado – (Temas: 233, 234, Súmula 530, STJ); (ii) Inaplicabilidade

aos juros remuneratórios sobre os contratos de mútuo bancário o que está disposto nos art. 591

c/c o art. 406 do CC200237 – (Tema 26); (iii) Se prevista a taxa, a revisão contratual poderá

ocorrer se demonstrada vantagem exagerada – (Tema 27, a Jurisprudência do STJ, manteve)

(AgInt no AREsp 1454960/MS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA


TURMA, julgado em 29/10/2019, DJe 07/11/2019) (s.g.)

(AgInt no AREsp 1230673/MS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS


FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 01/04/2019, DJe 05/04/2019)
(s.g.)

Adiante, um quinto julgado quanto a necessidade da exibição de documentação, houve

julgado especifico quanto a demonstração de extratos bancários, o julgamento do REsp

1133872/PB (Tema 411), decidiu-se por ser cabível a inversão do ônus da prova, determinando

que às instituições financeiras exiba-os,

“enquanto não estiver prescrita a eventual ação sobre eles, tratando-se de


obrigação decorrente de lei e de integração contratual compulsória não sujeita
à recusa ou condicionantes, tais como o adiantamento dos custos da operação
pelo correntista e a prévia recusa administrativa da instituição financeira em
exibir os documentos, com a ressalva de que ao correntista, autor da ação,
incumbe a demonstração da plausibilidade da relação jurídica alegada, com

37
Código Civil 2002

Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de
redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou
quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a
mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.
71

indícios mínimos capazes de comprovar a existência da contratação, devendo,


ainda, especificar, de modo preciso, os períodos em que pretenda ver exibidos
os extratos.” (s.g.)”

Quando reconhecida a abusividade, é descaracterizado a mora (Tema 28, STJ) e na

ementa do Acórdão atinente ao Tema 953, embora não tenha sido objeto da afetação, o tema

foi assim consignado (BAIÃO, 2020)

(REsp 1388972/SC, Rel. Ministro MARCO BUZZI, SEGUNDA SEÇÃO,


julgado em 08/02/2017, DJe 13/03/2017) (s.g.)

Já em relação as tarifas bancárias e outros ressarcimentos cobrados do consumidor,

regulamentados pelo Conselho Monetário Nacional (art. 4º, da Lei nº 4.595/64), atualmente a

Resolução CMS nº 3.518/2007 estabelece a padronização da nomenclatura das tarifas. Quanto

a cobrança não foi contemplado a TAC e TEC, entendimento exposto nos temas Repetitivos

618 e 619, STJ. A Súmula 565, estabeleceu que: “A pactuação das tarifas de abertura de crédito

(TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida

apenas nos contratos bancários anteriores ao início da vigência da Resolução-CMN n.

3.518/2007, em 30/4/2008”.

Por fim, o Tema 621 o STJ que reconheceu como sendo válida a convenção do

pagamento do IOF embutido em financiamento (BAIÃO, 2020)

São inúmeras as decisões sobre temas repetitivos e súmulas todas relacionadas as

revisões dos contratos bancários. As súmulas do STJ são encontradas organizadas por ramos

do Direito38, sendo que, as súmulas que interessam ao tema da pesquisa estão organizadas no

38
Superior Tribunal de Justiça Secretaria de Jurisprudência Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
Súmulas organizadas por ramos do Direito

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmulas Organizadas por Ramos do Direito. Brasília-DF, 04-mar-
2022.www.stj.jus.br/ chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.stj.jus.br/docs_internet/jurisprudencia/tematica/dow
nload/SU/RamosDoDireito/Sumulas_com_capa_-_04_marco_2022.pdf. Acesso em 12 jul. 2022
72

Direito Bancário (páginas 186 usque 270); Direito do Consumidor, especificamente no

subgrupo – Inscrição em cadastro de Inadimplentes (páginas 417 usque 427); Direito Tributário

– IOF (página 1315).

Com o advento da Lei do Superendividamento e as novas regras que estão atreladas a

manutenção do mínimo existencial do consumidor brasileiro, considera-se necessárias novas

discussões e temas repetitivos que naturalmente exigirão novos posicionamentos do Judiciário

Brasileiro. Oportunamente espera-se a possibilidade de que futuramente outras pesquisas

obtenham acesso as essas novas decisões e os resultados dessas novas demandas.

04.03 A Revisão Judicial dos Contratos Bancários com base na Lei nº

14.181/2021

Mesmo que existem diversas discussões jurídicas, julgados, decisões, é perceptível que

até então as revisões contratuais são em suma, todas voltadas a tecnicidade das relações

econômicas e financeiras. Não se discute até então a realidade de que muitos consumidores não

têm condições de pagar suas dívidas. Retomando a discussão sobre a realidade dos

consumidores brasileiros, e as diversas condições que são a causa do endividamento,

notadamente as discussões jurídicas não têm considerado que os gastos dos consumidores “são

superiores aos ganhos mensais, seu passivo é maior que o ativo, precisando de auxílio para

reconstruir sua vida econômico-financeira” (FRIEDEMANN, 2017).

Se por um lado, a nova lei já se mostrou de forma clara designada a: inibir a exclusão

social do consumidor (art. 4º, X); a instituição de mecanismos de prevenção e tratamento

extrajudicial e judicial do superendividamento e de proteção do consumidor pessoa natural (art.

4º, VI). Como também a garantia de práticas de crédito responsável (art. 4º, XI). Por outro lado,

não se mostrou eficiente as decisões Judiciário, pois, primeiramente pelo fato de todas as

decisões (mesmo que favoráveis) já existentes não ter efeito erga omnes, mas somente, efeitos
73

entre as partes (JUNIOR, 2003, p. 33). E mais, por ainda não ser efetiva a proposta do judiciário

de produzir decisões estruturadas facilitando os demandantes das revisões dos contratos,

principalmente dos contratos bancários de empréstimos.

Friedemann (2017) explica com clareza a problemática, ao dizer que o “consumo em

razão do amplo acesso ao crédito sem efetiva verificação da capacidade de reembolso, o

fenômeno do superendividamento é gerado a partir da contratação de dívidas com juros

exorbitantes e impagáveis”. O que deixa claro, ser imprescindível a aplicação mais precisa das

regras da Política Nacional das Relações de Consumo sobre as relações consumeristas.

Se já é sabido da vulnerabilidade contratual do consumidor (Lima, 2019, p.9), como

também que, é dever do Estado proibir e coibir as práticas abusivas (de publicidade e

contratual), o assédio de consumo e o próprio superendividamento, portanto, o cerne da Lei

aplicada sobre os contratos é o correto tratamento da questão do superendividamento e

recuperação da saúde financeira de milhões de brasileiros.

Como já mencionado, se distingue o procedimento especial previsto na nova lei de

tratamento dos superendividados, em relação às ações ordinárias até então ajuizadas para

revisão dos contratos pela via do controle judicial (Friedemann 2017), o que deixa em aberto,

saber se – a Lei conseguirá atender seu objetivo?

No que tange o processo formal, atualmente se considera que,

De efeito, na falta previsão normativa especial acerca do tema, o Novo Código


de Processo Civil passou a exigir que o autor, na petição inicial, discrimine as
obrigações controvertidas, quantifique o valor incontroverso do débito e
continue pagando este no tempo e modo contratados, a teor do art. 330, §§ 2º e
3º do CPC/15 (NETO, 2021)

Sobre as decisões dos Tribunas e Juízes brasileiros, Gonçalves (2018) comenta que,

embora,
74

[...] venham decidindo casos que envolvem os superendividados (e não poderia


ser diferente), a indicação da situação do consumidor e sua impossibilidade de
adimplir suas dívidas, aparece mais como um argumento, uma situação real
enfrentada pelos consumidores e que não pode ser ignorada, do que
necessariamente uma causa de decidir (grifo nosso). Nesses casos, há uma
compreensão de que o mínimo existencial deve ser garantido e, na ausência de
norma definidora sobre o tratamento que deve ser dado aos superendividados,
as decisões acabam por inovar no tratamento dado a matéria. Em especial pela
limitação do avanço das dívidas nos salários (vencimentos) dos consumidores
superendividados, mas que ainda não trata o tema (superendividamento) como
fundamento (ratio legis) específico da decisão (GONÇALVES, 2018, p.167,
168)

Por fim, a própria hipossuficiência do aderente do contrato bancário, que ainda tem (e

sempre terá) a dificuldade de precisar o valor incontroverso de um contrato e, mais ainda, para

manter o pagamento do valor enquanto buscam o que é de direito em uma demanda litigiosa.

Novamente, pela ótica de (Friedemann 2017), “tais limitações inviabilizaram o exercício do

direito de ação por parte de devedores”.

Em regra geral, a nova Lei do Superendividamento altera o CDC e, especificamente nos

artigos 104-A, 104-B, 104-C, estabelece novo procedimento especial próprio para o tratamento

dos superendividados. Friedemann (2017), consoante ao entendimento de Neto (2021) expos

que,

O novo procedimento permitirá a recuperação financeira de quem possui


passivo superior ao ativo, e que hoje mesmo negativado se vê capturado na
contratação de dívidas impagáveis, porque acrescidas de vultosos juros
moratórios (FRIEDEMANN, 2017).

[...] procedimento de conciliação (inserido no Capítulo V do Título III, do


mesmo código), em que prevista a elaboração de um plano de pagamento que
serve para revisar as obrigações de modo conjunto com os credores,
resguardando um mínimo existencial e traçando um roteiro para recuperação
da saúde financeira do superendividado (NETO, 2021).
75

Verifica-se que o artigo 104-A, determina o início do novo procedimento com um

requerimento do próprio consumidor (Neto, 2017) para repactuação das dívidas existentes,

sendo que, neste requerimento o consumidor obrigatoriamente deverá considerar que o plano

de pagamento deverá acontecer no prazo máximo de cinco anos.

Além de incluir a prevenção e o tratamento do superendividamento como direito básico,

a nova lei traz conceitos claros, define os requisitos, os direitos e regula a publicidade e oferta

de crédito, inclusive o tratamento dos contratos conexos, prevendo novas práticas abusivas no

primeiro título do CDC atualizado.

Neto (2021) explica que, a Lei nº 14.181/2021 (do Superendividamento) inseriu no CDC,

no Capítulo V, do Título III, o que ele chama de procedimento de Conciliação, “um plano de

pagamento que serve para revisar as obrigações de modo conjunto com os credores,

resguardando um mínimo existencial e traçando um roteiro para recuperação da saúde

financeira do superendividado”. Na mesma ótica descritiva, Junior (2022) descreve que, com o

advento da Lei supracitada foi criado o procedimento para renegociação das dívidas, de modo

a conciliar a renda do consumidor com seus débitos.

Ambos os autores, apresentam de forma sistemática o procedimento para que o

consumidor endividado possa requerer a revisão de suas obrigações contratuais que ensejaram

o endividamento. Concordam sob o mesmo entendimento que tal procedimento resguarda

alguns requisitos. Quanto aos requisitos, Junior (2022) descreve que,

1) A dívida não pode ter sido contraída de má-fé, ou seja, desde o começo o
consumidor não tinha intenção de pagar;

2) A dívida não pode ter uma garantia real (alienação de carro, por exemplo),
de financiamento imobiliário ou de crédito rural;
Essa legislação é ideal para quem tem uma dívida com cartão de crédito,
limite do cheque especial ou empréstimos sem garantia.
76

O procedimento aqui denominado como – “Plano de Renegociação das Dívidas”, com


base na descrição de Friedemann (2017) e Junior (2022) , acontece sequencialmente,
primeiramente, pelo:
01. Processo de repactuação de dívidas por audiência conciliatória –
Art. 104-A
01.01 Requerimento do Consumidor
➢ Ao judiciário
➢ Aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor
(Procons, por exemplo), compete concorrente e facultativamente a fase
conciliatória e preventiva do processo de repactuação de dívidas (art. 104-C,
CDC)
• A existência de convênios específicos celebrados entre os referidos
órgãos e as instituições credoras ou suas associações
• Na conciliação administrativa serão possíveis (§ 1º):
Promover reclamações individuais;
Audiência global de conciliação com todos os credores;
Elaboração ou sua facilitação, do plano de pagamento (preservado o
mínimo existencial) nos termos da regulamentação

• Firmar o acordo:
Incluído a data a partir da qual será providenciada a exclusão do
consumidor do banco de dados e cadastros de inadimplentes
• As demais condições são as mesmas compreendidas na apresentação
do Requerimento do Consumidor ao Judiciário, ainda que na esfera
conciliatória.
01.02 Se ao Judiciário for apresentado o Requerimento
➢ O juiz instaura processo de repactuação das dívidas
➢ Realização de audiência conciliatória
➢ Presença de todos os credores de dívidas previstas no art. 54-A, CDC
• O não comparecimento injustificado de qualquer credor, ou de seu
procurador com poderes especiais e plenos para transigir, à audiência de
conciliação de que trata o caput deste artigo acarretará a suspensão da
exigibilidade do débito e a interrupção dos encargos da mora, bem como a
sujeição compulsória ao plano de pagamento da dívida se o montante devido
ao credor ausente for certo e conhecido pelo consumidor, devendo o
77

pagamento a esse credor ser estipulado para ocorrer apenas após o pagamento
aos credores presentes à audiência conciliatória. (§ 2º)
➢ Apresentação da Proposta de Plano de Pagamento:
• prazo máximo de 05 anos;
• preservados o mínimo existencial;
• atendido as regulamentações, garantias e formas de pagamento
originalmente pactuadas
➢ Levantamento das dívidas excluídas aquelas (Art. 104-A, §1º, CDC):
• Oriundas de contratos celebrados dolosamente (fraude ou má fé – art.
54-A, §3º, CDC);
• Da aquisição ou contratação de produtos e serviços de luxo de alto
valor art. 54-A, §3º, CDC);
• Provenientes de contratos de crédito com garantia real;
• De financiamentos imobiliários
• E de crédito real
01.03 Conciliação
➢ com qualquer credor (§ 3º)
• A sentença judicial homologará o acordo
• Disporá do plano de Pagamento
• Terá eficácia de título executivo e força de coisa julgada
➢ Plano de Pagamento (§ 4º)
• Inciso I
medidas de dilação dos prazos de pagamento
redução dos encargos da dívida ou da remuneração do fornecedor
(facilitação do pagamento da dívida).
Início dos pagamentos com a primeira parcela no prazo máximo de 180
dias, contados da homologação judicial, com o restante do saldo devido em
parcelas mensais iguais e sucessivas (art. 104-B, § 4º, CDC)
• Inciso II
Suspensão ou extinção das ações judiciais em curso.
• Inciso III
Data da exclusão do consumidor do banco de dados e de cadastro de
inadimplentes.
• A decisão que deferir o pedido do consumidor, quanto a revisão das
dívidas, terão seus efeitos condicionados à abstenção, “pelo consumidor, de
78

condutas que importem no agravamento de sua situação de


superendividamento” - Inciso IV
• O pedido do consumidor a que se refere o caput deste artigo não
importará em declaração de insolvência civil e poderá ser repetido somente
após decorrido o prazo de 2 (dois) anos, contado da liquidação das obrigações
previstas no plano de pagamento homologado, sem prejuízo de eventual
repactuação.’ (§ 5º)

Junior (2022) entende ser possível que o consumidor apresente o requerimento tanto ao

Judiciário como aos órgãos competentes, como é o caso do Procon (art. 104-C, CDC). O autor declara

que o requerimento e plano de pagamento resultante da conciliação deverá garantir ao consumidor

condições financeiras para “pagar suas despesas ordinárias essenciais, como aluguel, água, luz e

alimentação”.

Na sequência não sendo acatado o processo de repactuação das dívidas no plano conciliatório,

por parte dos credores, o consumidor poderá requerer ao Juiz o início do processo para revisão e

integração dos contratos e repactuação das dívidas remanescentes mediante plano judicial compulsório,

como veremos a seguir, de forma sistemática:

02. Pelo Processo por superendividamento para revisão e integração dos


contratos e repactuação das dívidas remanescentes mediante plano
judicial compulsório – Art. 104-B
02.01 Plano Judicial Obrigatório para pagamento
➢ A inexistência de conciliação em relação a quaisquer credores (caput)
➢ Serão considerados no processo por superendividamento, se for o caso,
os documentos e as informações prestadas em audiência (§ 1º)
➢ Serão feitas todas as diligências possíveis e necessárias (§ 3º)
02.02 Plano Judicial Compulsório
➢ Citação dos credores, cujos créditos não tenham integrado o acordo
porventura celebrado (caput)
• No prazo de 15 (quinze) dias, os credores citados juntarão documentos
e as razões da negativa de aceder ao plano voluntário ou de renegociar (§ 2º)
➢ De forma não onerosa, o juiz poderá nomear administrador, para:
• No prazo de 30 (trinta) dias apresentar plano de pagamento que
considere:
79

Medidas de temporização ou;


Atenuação dos encargos
Início dos pagamentos com a primeira parcela no prazo máximo de 180
dias, contados da homologação judicial, com o restante do saldo devido em
parcelas mensais iguais e sucessivas (§ 4º)
02.03 Será assegurado aos credores:
➢ O valor principal devido;
➢ Correção monetárias por índices oficiais de preço;
➢ Liquidação total da dívida em no máximo 5 (cinco) anos.

Quanto a esta segunda fase do requerimento do consumidor, Neto (2021) argumenta de

forma pormenorizada, o que no texto da lei está definido como “diligências eventualmente

necessárias” (§ 3º, art. 104-B, CDC), com o levantamento de todos os documentos, em

audiência que especifiquem,

as obrigações em discussão, indicando as questões de direito, como defeitos


do negócio jurídico, cláusulas abusivas, ou outras causas de anulação.
Também deve esclarecer acerca do mínimo existencial e o comprometimento
da renda do superendividado, com a descrição dos gastos básicos com sua
sobrevivência e de seus dependentes, e os efeitos da exclusão social. Esta fase
procedimental prevê ainda uma audiência conjunta, em que será apresentada
a sugestão de plano de pagamento trazida pelo consumidor, cabendo ao juiz,
caso não obtido acordo judicial, analisar as questões envolvendo a revisão das
dívidas, reintegração dos contratos, anulações em caso de vício e demais
questões jurídicas visando compor as dívidas de modo a tornar o
adimplemento viável.

Na ótica de Junior (2022) a Lei do Superendividamento é “ideal” e aplicável nos casos

de “dívida com cartão de crédito, limite do cheque especial ou empréstimos sem garantia”.

Sendo de grande interesse tal referência já que esta pesquisa se constrói justamente na

compreensão de como é possível aplicar a lei do superendividamento sobre os contratos

bancários, especificamente os de empréstimos bancários.


80

É observado no tópico anterior (04.02 Contratos Bancários – Demandas Repetitivas e as

Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça) que os temas discutidos no Judiciários

compreendem demandas como, (i) discussão de eventuais ilegalidades sobre contratos extintos

e novações, (ii) quanto a juros remuneratórios e índices das taxas; (iii) fixação pelo próprio juiz

de taxa média do mercado; (iv) inaplicabilidade do que dispõe os artigos 591 c/c 496, CC2002

sobre os juros remuneratórios; (v) revisão contratual na existência de taxa, onde demonstrada

vantagem exagerada; (vi) sobre exibição de documentação, como nos casos de extratos

bancários; (vii) descaracterização de mora quando reconhecida a abusividade; (viii) quanto a

pactuação das tarifas TAC e TEC apenas sobre contratos bancários, anteriores ao início da

vigência da Resolução-CMN n. 3.518/2007, em 30/4/2008”, (ix) validade do pagamento do IOF

embutido no financiamento, entre outros temas não abordados nessa pesquisa.

Acredita-se que as demandas que, de fato, estão relacionadas ao cerne da nova Lei, isto

é, a própria condição de superendividado ser o fundamento específico da decisão (Gonçalves,

2018), serão discutidas posteriormente por meio de novas pesquisas pertinentes ao mesmo

assunto.

Pelo que já foi exposto, com base na própria condição da nova lei que, procede a revisão

de contratos bancários, especificamente de empréstimos bancários não dependentes de garantia

real, novos julgados e novos temas projetarão as decisões estruturadas que culminarão em novas

Súmulas. Com isso o Judiciário se mostrará atinente ao que de fato a nova Lei veio estabelecer.
81

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar o teor da nova Lei do Superendividamento de imediato foi possível

compreender a sua essência, primeiramente pelo fato de que, a lei veio alterar pontos específicos

do atual CDC e, mais precisamente para “aperfeiçoar a disciplina do crédito ao consumidor

dispondo sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento” (BRASIL, 2021).

As alterações sobre o CDC, foram especificamente (i) a inserção dos incisos IX, X, art.

4º; (ii) incisos VI, VII, art. 5º; (iii) incisos XI, XII e XIII, art. 6º; (iv) incisos XVII, XVIII, art.

51; (v) do Capítulo VI-A, artigos 54-A, 54-B, 54-C, 54-D, 54-F, 54-G; (vi) Capítulo V, artigos

104-A, 104-B, 104-C. Alterou o art. 96 da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), como

também, estabeleceu parâmetros quanto a “validade dos negócios e dos demais atos jurídicos

de crédito em curso constituídos antes da entrada em vigor da Lei obedecendo ao disposto em

lei anterior, mas, em relação aos efeitos produzidos após a entrada em vigor da Lei, estes

subordinam-se aos seus preceitos” (BRASIL, 2021), isto é, da nova lei.

Na pesquisa, foi possível avaliar que o legislador brasileiro tem se atentado para a

condição de vulnerabilidade do consumidor brasileiro. Constitucionalmente está previsto o

direito ao mínimo existencial, como também, já está tutelado pelo direito do consumidor. Mas,

é fato que, mesmo sob a égide da constituição e do CDC, ainda não estão assegurados esses

direitos – o mínimo existencial e a proteção ante a abusividade existente nas relações

consumeristas.

A pergunta é – podemos esperar que a nova Lei do Superendividamento seja atinente

em tutelar as demandas existentes, considerando de fato evitar ou suprimir a marginalização

dos consumidores superendividados? Mesmo que a pesquisa não tenha sido uma resenha

analítica do entendimento proposto pela Dr.h.c Claudia lima Marques, ainda assim, o que a

professora afirma, é relevante – “é necessário o reequilíbrio total da relação contratual, [...] mais
82

fundamentalmente importante é o prejuízo por uma desvantagem irrazoável para o consumidor

desta mesma relação” (MARQUES, et al., 2016, p.277)

Quando se propõe entender a possibilidade da revisão judicial dos contratos bancários,

é fundamental que se considere como atualmente, o poder Judiciário tem julgado as atuais

demandas envolvendo os contratos bancários. Entender como estão sendo dispostas as

jurisprudências e, principalmente a uniformização das decisões relacionadas aos temas

repetitivos e, por conseguinte as Súmulas do STJ e STF.

Na pesquisa se verificou que, infelizmente não tem sido tema das decisões a condição

do endividamento dos consumidores, além do que, as decisões proferidas são unicamente

interpartes. Isso significa que ainda estamos longe de um posicionamento por parte dos

tribunais, quanto a tutelar os direitos do consumidor superendividado.

Quando se diz que - a forma como tem sido disponibilizado o crédito e as cláusulas

contratuais estabelecidas, são em suma, o aspecto relevante para a pesquisa e especialmente

para a necessidade da revisão judicial dos contratos bancários e, o que se espera é a intervenção

objetiva do Estado, por meio dos órgãos competentes, para impedir a exploração indiscriminada

do consumidor. A Política Nacional das relações de consumo não somente deve ser vista na

positivação de normas, mas na efetiva atuação preventiva e mediadora sobre as relações de

consumo, especialmente aquelas relacionadas a contratação de créditos bancários.

O conteúdo normativo da nova Lei do Superendividamento se mostra atual frente a

condição vulnerável do consumidor, pois: (i) garante a ampliação dos direitos quanto as

informações, especificações e riscos; (ii) institui mecanismos de prevenção e tratamento

extrajudicial e judicial do superendividamento, como também, (iii) institui os núcleos de

conciliação e mediação dos conflitos oriundos do superendividamento.


83

Sobre este último ponto, quanto a conciliação no superendividamento (Capítulo V e

seus artigos), merece que seja exposto de forma crítica, a preocupação de que esta lei também

não se apresente insuficiente, sendo deduzida como uma norma limitada.

Tal pensamento expresso em sede de considerações finais da pesquisa, remete-se a

pontos específicos da lei. Pontos esse como as (i) exceções a aplicação da lei; (ii) a presunção

relativa quanto a boa-fé objetiva do consumidor, haja vista que, será permitido analisar a

procedência de má-fé quanto a existências das dívidas; (iii) a dívida não ter garantia real; (iv)

não ser financiamento imobiliário ou de crédito rural; (v) e não ser oriundo de aquisições de

luxo.

Mais especificamente, é mister dizer que, (i) a burocracia; (ii) os meios conciliatórios;

(iii) a dificuldade de agrupar os fornecedores; (iv) a necessidade de que o montante devido ao

credor ausente na etapa de conciliação, deva ser certo e conhecido pelo consumidor, para que

seja possível a suspensão da exigibilidade do crédito e a interrupção dos encargos da mora –

tudo na seara conciliatória extrajudicial, ensejará com certeza a necessidade da segunda etapa

que é a judicialização da demanda.

Seguindo para a segunda etapa, a da judicialização da demanda, constata-se novamente,

o possível retardamento da solução, uma vez que, o consumidor na maioria das vezes não tem

acesso a documentação que ensejou a relação contratual. E, por conseguinte, mesmo que seja

determinado aos credores a apresentação de toda a documentação e razões da negativa de aceder

ao plano voluntario ou de renegociar, ainda assim, os mesmos poderão se valer de outros meios

processuais para retardar, ou mesmo suprimir, o direito do consumidor superendividado,

através do retardamento imotivado, da improbidade processual e a litigância de má-fé.

Isto posto, entendo que a pesquisa é atual, pertinente, colaborativa e proveitosa para

ampliar a sede de pesquisas quanto ao atual cenário das relações de consumo e as decisões do

judiciário.
84

Tratou-se da aplicação da lei, com vistas a possibilidade da revisão judicial dos contratos

bancários em específico dos contratos de empréstimo, pelo fato de que, esse tipo de contrato,

quando não realizado avalizado por garantia real, é uma das relações contratuais que é cabível

a aplicação da lei.

Em outro momento oportuno torna-se imprescindível o acréscimo ou expansão da

pesquisa, a fim de, enumerar e agrupar todas as modalidades do empréstimo bancário, como

também, o levantamento da existência ou não de um tipo de “cartel do setor bancário”, ou

mesmo se de fato existem as famosas “relações institucionais” ou mesmo as “relações

governamentais” que permitem o aumento dos superendividados junto as instituições bancárias.

Por fim, que sejam possíveis novas pesquisas que tragam um novo capítulo para esta

importante análise bibliográfica que permeia a Lei do Superendividamento e as Revisões

Judiciais dos Contratos Bancários.


85

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