Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUPERENDIVIDAMENTO:
ARARAQUARA
2022
UNIVERSIDADE DE ARARAQUARA
SUPERENDIVIDAMENTO:
ARARAQUARA
2022
DECLARAÇÃO
textuais que utilizei e das quais eu não sou o autor, dessa forma, creditando
Orientador ............................................................
1º Examinador ......................................................
2º Examinador ......................................................
RESUMO ................................................................................................................................ 07
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 08
01. LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO – LEI Nº 14.181, DE 1º DE JULHO 2021
...................................................................................................................................... 11
01.01 A Positivação da Lei do Superendividamento .................................................19
02. DIREITO DO CONSUMIDOR – ART. 4º - POLÍTICA NACIONAL DAS
RELAÇÕES DE CONSUMO ................................................................................... 24
03. DIREITO CIVIL – “CONTRATOS” ....................................................................... 42
03.01 Principiologia Contratual ................................................................................ 45
03.02 Princípio da Função Social do Contrato ......................................................... 50
03.03 Princípio da Boa-Fé Objetiva .......................................................................... 52
03.04 Princípio do Equilibrio Econômico do Contrato ........................................... 54
03.05 Contratos Bancários – uma definição específica ............................................ 56
04. DA REVISÃO JUDICIAL DOS CONTRATOS BANCÁRIOS COM
FUNDAMENTO NA LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO .................................. 67
04.01 Revisão Judicial – Aplicabilidade ................................................................... 67
04.02 Contratos Bancários – Demandas Repetitivas e as Jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça ........................................................................... 68
04.03 Revisão Judicial dos Contratos Bancários com base na Lei nº 14.181/2021
............................................................................................................................ 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 81
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 85
7
RESUMO
Atualmente o Judiciário brasileiro não julga e não discute efetivamente nas decisões e
Ainda, sobre a atual conduta do Judiciário notadamente é verificado que as decisões não
A problemática existente e que se mostra não superada até então, diz respeito a
associados a vulnerabilidade contratual do consumidor são questões que exigem não somente a
positivação de novas normas, mas principalmente decisões e sentenças que permitam ser
INTRODUÇÃO
com o endividamento. Somado a esta condição está o fato de que, esses mesmos consumidores
e os demais, possuem grande dificuldade para acessar os seus direitos constitucionais básicos.
de acesso à Justiça nos faz pensar se de fato, bastou o estabelecimento da Constituição como
também do Código de Defesa do Consumidor para tutelar dais direitos aplicáveis as relações
aumentado em proporções alarmantes, como também que, como consequência desse evento,
brasileiro não tenha conhecimento e, ou acesso aos seus direitos básicos. A vulnerabilidade do
consumidor não pode ser associada, como regra, a utilização irresponsável do crédito
disponível, mas sim, ao fato de que os contratos de obtenção de crédito, se mostram obscuros
9
relação consumerista.
à empréstimos bancários e cartão de crédito, mas, de forma desproporcional e inferior, tem sido
razão da nova Lei do Superendividamento pretende dispor de forma objetiva, como é possível
a intervenção do Judiciário ante o quadro de aumento de consumidores que tem seus direitos
financeiro.
Não teria sido (e ainda, não é) suficiente o que rege a Carta Magna do País, como
Consumidor?
relações consumeristas uma nova norma regulamentadora, a fim de, produzir de forma eficaz,
que, para isso a lei pretende atuar sobre o binômio crédito responsável e o próprio
direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores” (Inciso IX, Lei nº 1.181/21).
do STJ e STF, é possível compreender que existem inúmeras expectativas de uma nova
10
dos dispositivos do Código Civil, em especial, dos “Contratos”, a revisão judicial é pertinente,
seja pelo fato de que, as cláusulas contratuais não podem ser abusivas, como também, da própria
existência do que é denominado de “contratos de adesão” que, pela natureza própria que tem,
consumerista.
Por ser uma pesquisa específica, o conteúdo aplicável da lei se direciona sobre o
contrato de empréstimo bancário que, em sua natureza é real, unilateral, nominativo, típico e
oneroso e de adesão. Arnaldo Rizzardo, descreve-o como sendo “praticamente o mútuo, regrado
nova lei considerando a atuação das legislações existentes e, portanto, na intenção de identificar
o que é novo quanto a ação da justiça brasileira sobre o assunto. Aponta o quadro da realidade
por diversas condições como baixa renda, acesso as relações consumeristas sem as necessárias
todas as alterações indicadas por ela, haja vista que esta lei é considerada como uma alteração
direta do CDC e, em uma questão especifica, altera o Estatuto do Idoso. A pesquisa apresenta,
mesmo que de forma sucinta, a apreciação da nova lei, os conceitos gerais do que seja o instituto
civil dos Contratos e, com a finalidade de entender a possibilidade ou não da revisão judicial
JULHO 2021
De fato, estamos diante de uma grande Lei que tem por finalidade superar a
que seja a Lei do Superendividamento e sua aplicabilidade mesmo que ainda muito recente.
Antes da abordagem sobre o que seja mais uma norma jurídica sancionada com vistas a
atender as demandas do brasileiro, é imprescindível que se faça uma breve elucidação quanto
que devem ser consideradas mesmo nas implementações das políticas de atendimento e
ajustamento das necessidades ao que se denomina de vulnerável. Não sendo possível no ato de
diversos aspectos, a simples adaptação por analogia dessas diversas políticas implementas pelos
Com base em pesquisas para reconhecimento das reais condições dos consumidores
vez que o consumidor brasileiro não se demonstra vulnerável simplesmente pela falta de
que fez com que a legislação do pais, optasse pela presunção da vulnerabilidade dos
estratificada.
A pesquisa analisou o período de cinco anos (2007 – 2012) na região de Porto Alegre /
do TJRS (MARQUES et al., 2015). Um dos indicadores estratificados pela pesquisa sobre a
superendividado”. Marques, et al. (2015) descreve que no período de levantamento dos dados
1
Projeto Piloto do TJ/RS, em Porto Alegre, sob a coordenação das magistradas Karen Bertoncello e Clarissa
Costa de Lima (também doutoras do PPGDir.UFRGS e membros do grupo de pesquisa).
13
Não obstante, ainda foi (e, é sob a ótica dos estudos e, especialistas) considerável a
dificuldade que o brasileiro enfrenta quanto aos acessos básicos garantidos pela Constituição
Brasileira de 1988. Por que não dizer, dificuldade de acessar a própria Constituição Brasileira.
Marques et al. (2016) fala sobre as atualizações de projetos que reforçaram a dimensão
constitucional com vistas a proteção do vulnerável como também, a importância de não existir
retrocessos nos direitos conquistados na esfera constitucional. Cita os artigos2 5º, XXXII e, 170,
Em uma descrição cronológica com base nas exposições dos especialistas, desde 1980
Mesmo assim, passados mais de 25 anos da existência de lei específica para a proteção
2
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
V - defesa do consumidor;
3
Lei 8078/1990 - LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor
e dá outras providências.
14
campo das relações consumeristas, é notório que, existe um desiquilíbrio total entre as
prestações de informações especificas exigidas nos contratos de crédito, por exemplo e, com o
crédito facilitando o acesso do consumidor brasileiro aos produtos e serviços. Mas também, a
(MARQUES et al., 2016), mas por outro lado, o início da condição de superendividados.
brasileiro não carece unicamente da “educação financeira” como meio de proteção contra o
4
Ementa:
Altera a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), para aperfeiçoar a
disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção do superendividamento.
Explicação da Ementa:
Altera a Lei nº 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor – para aperfeiçoar a disciplina do crédito
ao consumidor e dispor sobre a instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e
judicial do superendividamento e de proteção do consumidor pessoa física, visando garantir o mínimo
existencial e a dignidade humana; estabelece como direito básico do consumidor a garantia de práticas de
15
[…]
• a educação financeira,
• a prevenção e tratamento das situações de superendividamento,
➢ A preservação do mínimo existencial, por meio da revisão e repactuação da
dívida, entre outras medidas;
➢ A disposição sobre a prescrição das pretensões dos consumidores;
➢ O estabelecimento das regras para a prevenção do superendividamento;
➢ A descrição das condutas que são vedadas ao fornecedor de produtos e serviços
que envolvem crédito, tais como:
• realizar ou proceder à cobrança ou ao débito em conta de qualquer
quantia que houver sido contestada pelo consumidor em compras
realizadas com cartão de crédito ou meio similar, enquanto não for
adequadamente solucionada a controvérsia,
• impedir ou dificultar, em caso de utilização fraudulenta do cartão de
crédito ou meio similar,
• que o consumidor peça e obtenha a anulação ou o imediato bloqueio do
pagamento ou ainda a restituição dos valores indevidamente recebidos,
➢ O condicionamento o atendimento de pretensões do consumidor ou o início de
tratativas à renúncia ou à desistência relativas a demandas judiciais;
➢ A disposição sobre a conciliação no superendividamento;
(MARQUES et al., 2016). E sobre essa condição Marques (2016) apud (MIRAGEM, 2014)
destacou que
17
possíveis credores visando um meio paliativo de tratar a situação que fosse além dos
mecanismos propostos anteriormente. Marques et al. (2016) descreve a inclusão de uma fase
judicial que visaria a revisão contratual como um meio de o consumidor endividado poder pagar
(adimplir) as dívidas e ainda ser preservado o mínimo existencial (art. 104-B, CDC)9. Ainda
7
Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa natural, sobre o crédito
responsável e sobre a educação financeira do consumidor. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de
boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu
mínimo existencial, nos termos da regulamentação. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
8
Idem. Ibidem
9
Art. 104-B.
Se não houver êxito na conciliação em relação a quaisquer credores, o juiz, a pedido do consumidor,
instaurará processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e repactuação das
dívidas remanescentes mediante plano judicial compulsório e procederá à citação de todos os credores
18
mais, que tal procedimento projetaria os credores para uma postura mais responsável quanto a
físicas, onde
a luz do entendimento das pesquisas realizadas não se mostra como uma solução final e
cujos créditos não tenham integrado o acordo porventura celebrado. (Incluído pela Lei nº 14.181, de
2021)
§ 3º O juiz poderá nomear administrador, desde que isso não onere as partes, o qual, no prazo de até 30
(trinta) dias, após cumpridas as diligências eventualmente necessárias, apresentará plano de pagamento
que contemple medidas de temporização ou de atenuação dos encargos. (Incluído pela Lei nº 14.181,
de 2021)
§ 4º O plano judicial compulsório assegurará aos credores, no mínimo, o valor do principal devido,
corrigido monetariamente por índices oficiais de preço, e preverá a liquidação total da dívida, após a
quitação do plano de pagamento consensual previsto no art. 104-A deste Código, em, no máximo, 5
(cinco) anos, sendo que a primeira parcela será devida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias,
contado de sua homologação judicial, e o restante do saldo será devido em parcelas mensais iguais e
sucessivas. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
19
completa do problema do superendividamento, uma vez que, o sujeito dessas relações jurídicas
alvo de proteção, não é alvo somente do “hiperconsumismo”, das propagandas que geram
desejos de consumir. É fato, que, alterações inesperadas na vida do consumidor, podem de certa
separações e divórcios, entre outros motivos alheios à vontade do devedor” (MARQUES et al.,
2016).
imprescindível descrever sob argumentos suscintos, mas essenciais, o que representa a Lei nº
Dentre tantos argumentos e afirmações do que seja esta Lei, quanto aos comentários À
Primeiramente é mister citar que a Lei tem a finalidade de atuar no binômio crédito
e Estatuto do Idoso11 convergiram para uma mais profunda atuação sob os fundamentos
constitucionais. Importa dizer que, o cerne da Lei foi de considerar como consumidor
vulnerável aquele que, mediante a exposição de condições aquém da sua Boa – Fé12 se tornou
10
Sobre as normas jurídicas
[...] voto da Desembargadora Simone Lucindo: “Quanto à alegação de superendividamento, é certo que
as empresas, ao concederem o crédito, devem adotar as cautelas necessárias ao efetivo recebimento do
retorno financeiro e, ao lado disso, devem tomar medidas visando coibir a superveniência do
superendividamento dos devedores, preservando, assim, o patrimônio mínimo a garantir a dignidade
humana. Trata-se da aplicação da teoria do crédito responsável” (TJDFT, Acórdão nº 1095565,
20180110080656APC, 1ª T., Relª Desª Simone Lucindo, DJe 15.05.2018).
11
Art. 96. […]
que deve ser orientado a ter um comportamento prudente ao contrair compromissos financeiros
não ultrapassando a sua capacidade de pagamentos. Dessa forma, o segundo ponto de destaque
e atuação da Lei, é que este consumidor, também, demonstre a boa-fé objetiva evitando futuras
inadimplências.
trata de produtos de luxo. Como um terceiro ponto fundamental, a lei mantem o princípio da
GAGLIANO e OLIVEIRA, 2021). Oliveira (2018), afirmando que “quanto menor for o grau
de essencialidade do direito, menor deve ser a intervenção do Direito”. É fato concreto tal
Art. 54-A.
Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa
natural, sobre o crédito responsável e sobre a educação financeira do
consumidor. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
[...]
§ 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao consumidor cujas dívidas
tenham sido contraídas mediante fraude ou má-fé, sejam oriundas de contratos
celebrados dolosamente com o propósito de não realizar o pagamento ou
decorram da aquisição ou contratação de produtos e serviços de luxo de alto
valor. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
aspectos legais dos dispositivos do CDC (art. 4º e 5º) inseridos como normas da Política
nas suas relações de consumo. O que Lopes (2021) descreve enfatizando é que os particulares
Superendividamento,
negócios e atos jurídicos, uma vez que, o art. 3º, da Lei do Superendividamento disciplina, em
manter válidos aqueles negócios e atos jurídicos de crédito que foram constituídos antes da
entrada em vigor da Lei, in verbis “mas os efeitos produzidos após a entrada em vigor desta Lei
tempo e atenção, e, portanto, não será esgotado nesta pesquisa, aliás, entende-se que tal pesquisa
Insta dizer que, no máximo, descreve-se neste texto: suas bases, discussões e pesquisas
que fomentaram e ensejaram sua existência. Ainda mais, expõe-se os diversos aspectos da
Quanto ao seu conceito, pela ótica de autores pesquisados, extraiu-se o entendimento quanto a
sanada.
aspectos que demandam (demandarão) uma ação normativa de Lei que se configure na
particulares).
existência do Superendividamento.
Por fim, sua contribuição ao cenário jurídico e também as decisões judiciais na formação
de jurisprudências e demais atos judiciais, tendo em vista que tal lei se demonstra nova, mas
Vejamos esta trajetória e possíveis cenários resolutivos, pois, a Política Nacional das
denomina como “vulnerabilidade contratual, terá a frente o confronto com a existência do então
contrato de adesão, meio contratual moderno, aplicável e que não atende a vulnerabilidade do
consumidor.
24
não somente pela massificação da contratação dos serviços e produtos existentes no mercado,
“vulnerabilidade contratual do consumidor” (Lima, 2019, p.9). O CDC em seu artigo 4º, inciso
diálogo das fontes. No mais, entre inúmeros outros tópicos, abarca a proibição de práticas e
importante crítica ao sistema legislativo brasileiro, no que tange a aprovação dos diversos
projetos de atualização que tramitaram (e tramitam) pelo Congresso. Dessa forma, quando se
diz que o CDC trata-se de um “Microssistema jurídico de caráter inter e multidisciplinar”, desde
sua origem,
denominado código, o entendimento de que este último (um novo código civil), vale muito mais
pela perspectiva e diretrizes que fixa para a efetiva defesa ou proteção do consumidor (Brasil,
1990, 12). Pode-se dizer, de uma busca por harmonização, através do equacionamento de
No mais.
13
1. Brasil [Código de Defesa do Consumidor (1990)]. 2. Defesa do Consumidor – Legislação – Brasil. I. Ada
Pellegrini.
[...]
Antes mesmo da promulgação da Constituição de 1988, o então presidente do Conselho Nacional de
Defesa do Consumidor, Dr. Flávio Flores da Cunha Bierrenbach, constituiu comissão, no âmbito do
referido Conselho, com o objetivo de apresentar Anteprojeto de Código de Defesa do Consumidor,
previsto, com essa denominação, pelos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte.
[...]
Finalmente, a comissão apresentou ao ministro Paulo Brossard o primeiro anteprojeto, que foi amplamente
divulgado e debatido em diversas capitais, recebendo, assim, críticas e sugestões.
26
Como descrever os entraves entre o Novo Código Civil, Leis Especiais, Novos Tratados
em relação ao CDC?
Estamos de fato em uma crise ética de valores onde direitos primários como o do
consumidor não estão em voga, estes mesmos direitos que são considerados como necessários
A concepção social do CDC, amparada por opes legis, uma utopia, ou de fato diz a
respeito de um sistema legal que tem como objetivo “restabelecer nas relações contratuais o
atendendo sua vulnerabilidade nas relações consumeristas. A pesquisa não se sustenta sob o
obrigatoriamente se faz necessário apresentar um breve histórico das relações comerciais e sua
14
José Geraldo Brito Filomeno, ao apresentar o Capítulo I – Das Disposições Gerais, da obra CÓDIGO
BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, edição 12, descreveu que:
[...] da mesma Constituição, impõe-se ao Estado promover, na forma de lei, a defesa do consumidor.
[...] no texto do art. 170 que cuida da ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tendo por fim, assegurar a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social.
[...] em seu § 5º que a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos
impostos que incidam sobre as mercadorias e serviços.
27
expansão, como também, esse cenário geral ensejado no estabelecimento do CDC e, sua
competitividade. E a real condição desse campo de atuação das relações comerciais que,
naturalmente se ensejaram a competividade não se deu somente pela disposição dos produtos e
finalidade de tornar público tal ideia, mas, seguem-se além sob a ação da propaganda,
estendendo-se para o objetivo de que todos os potenciais consumidores sejam alcançados (e,
mas, o próprio formato do comercio se modificou ao longo dos anos adaptando as necessidades
ainda que, a evolução do comercio denominado de e-comerce, passou a exercer influência sobre
confundem quando são vistas na projeção criada pelo e-comerce. Essa afirmação pode ser
é a expressão máxima dada pelo matemático e economista francês Antoine Cournot apud Onto
Vejamos o conceito.
O mercado não foi definido como um local particular de comercio, mas sim uma região.
No entanto, tal conexão comercial e relações comerciais são possíveis não unicamente porque
Tão importante quanto as definições dadas pelos economistas sobre o que seria o
que todos os consumidores deveriam (devem) ter igual informação referente aos tipos de
produtos e serviços e seus respectivos preços. Pode-se dizer que é importante definir o que
como também, quanto as necessidades dos consumidores e como os fornecedores devem atuar
para atender essas necessidades. Suprir a demanda do mercado, manter o produto e serviço
dentro dos padrões exigíveis e, atender as necessidades dos consumidores, essas e outras, são
as responsabilidades do fornecedor.
relações com os consumidores, como introduz a própria definição do que seja o consumidor.
Dessa forma, definir quem seja o consumidor é tarefa que exige explorar o campo ontológico
do termo, isto é, o “ser enquanto ser", no que seja a essência que estabelece sua existência sob
características distintas das demais realidades existentes. Sendo que, as realidades distintas
podem ser definidas como as demais partes existentes nas relações de consumo (comerciais)
que não somente desfrutam dos resultados da transação, como assumem responsabilidades e
[...] pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Substancialmente, com fulcro nas relações de consumo que de fato sofrem as alterações
ou novas adaptações sob a mesma referência bibliográfica aplica-se o conceito do que seja
“relações de consumo”
E por quê, falar das relações de consumo? Por que na forma, toda relação de consumo
auxiliam esse entendimento trazendo à tona a existência das partes. Como também, pelo fato
de que nessas relações uma das partes encontra a satisfação e em contrapartida, a outra mantem
Por fim, são amplas as ideias que se somam para definir o que seja o consumidor. O
adquirente, como também, a coletividade dele para benefício próprio de produtos e serviços
como destinatário final, o que nas relações jurídicas são denominados de pessoas desiguais, na
condição de hipossuficiente.
Dessarte, dessa relação de consumo é extraído não somente a essência daquilo que deu
século XIX. Aqueles que tendem serem considerados como ações de reinvindicações para
situações como: melhores condições de trabalho e melhoria da qualidade de vida. Sobre esses
novas formas de lutar pelas causas. As causas se definem pelo crescente desemprego decorrente
do novo modelo de trabalho adotado pelas indústrias – o maquinário e a luta por melhores
propôs-se que, o Estado ao instituir a lei 8.078/90, conseguiu garantir ao consumidor o direito
Como já abordado, ao longo dos anos, o consumo tem sido incentivado não somente
por conta da real necessidade dos consumidores, mas, o próprio mercado tem criado tipos de
comerciais, tem sido grande a absorção desse mercado pelos adquirentes, denominados de
consumidores. São inúmeros os resultados dessa nova conexão com o mercado e o que ele
disponibiliza e, dentre eles tem destaque, mais como uma consequência, o superendividamento
do consumidor.
Procede tal preocupação, tanto que, passou de um tema em discussão por parte de vários
2015 tramitou na Câmara dos Deputados o projeto de lei nº 31515/15, anteriormente aprovado
15
Art. 1º A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), passa a vigorar com as
seguintes alterações:
“Art. 4º.......................................................................................................
IX – fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental dos consumidores;
X – prevenção e tratamento do superendividamento como forma de evitar a exclusão social do
consumidor.” (NR)
32
“Art. 5º.......................................................................................................
VI – instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial e judicial do superendividamento
e de proteção do consumidor pessoa natural;
VII – instituição de núcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento.
“Art. 6º.......................................................................................................
XI – a garantia de práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção e tratamento de
situações de superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, por
meio da revisão e da repactuação da dívida, entre outras medidas;
XII – a preservação do mínimo existencial, nos termos da regulamentação, na repactuação de dívidas e na
concessão de crédito;
XIII – a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por quilo, por litro,
por metro ou por outra unidade, conforme o caso.
“Art. 51.......................................................................................................
XVII – condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos do Poder Judiciário;
XVIII – estabeleçam prazos de carência em caso de impontualidade das prestações mensais ou impeçam
o restabelecimento integral dos direitos do consumidor e de seus meios de pagamento a partir da purgação
da mora ou do acordo com os credores;
XIX – (VETADO).
“CAPÍTULO VI-A
DA PREVENÇÃO E DO TRATAMENTO DO SUPERENDIVIDAMENTO
Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do superendividamento da pessoa natural, sobre o
crédito responsável e sobre a educação financeira do consumidor.
§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta de o consumidor pessoa natural, de
boa-fé, pagar a totalidade de suas dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu
mínimo existencial, nos termos da regulamentação.
§ 2º As dívidas referidas no § 1º deste artigo englobam quaisquer compromissos financeiros assumidos
decorrentes de relação de consumo, inclusive operações de crédito, compras a prazo e serviços de
prestação continuada.
§ 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao consumidor cujas dívidas tenham sido contraídas mediante
fraude ou má-fé, sejam oriundas de contratos celebrados dolosamente com o propósito de não realizar o
pagamento ou decorram da aquisição ou contratação de produtos e serviços de luxo de alto valor.
Art. 54-B. No fornecimento de crédito e na venda a prazo, além das informações obrigatórias previstas no
art. 52 deste Código e na legislação aplicável à matéria, o fornecedor ou o intermediário deverá informar
o consumidor, prévia e adequadamente, no momento da oferta, sobre:
I – o custo efetivo total e a descrição dos elementos que o compõem;
II – a taxa efetiva mensal de juros, bem como a taxa dos juros de mora e o total de encargos, de qualquer
natureza, previstos para o atraso no pagamento;
III – o montante das prestações e o prazo de validade da oferta, que deve ser, no mínimo, de 2 (dois) dias;
IV – o nome e o endereço, inclusive o eletrônico, do fornecedor;
V – o direito do consumidor à liquidação antecipada e não onerosa do débito, nos termos do § 2º do art.
52 deste Código e da regulamentação em vigor.
§ 1º As informações referidas no art. 52 deste Código e no caput deste artigo devem constar de forma
clara e resumida do próprio contrato, da fatura ou de instrumento apartado, de fácil acesso ao consumidor.
§ 2º Para efeitos deste Código, o custo efetivo total da operação de crédito ao consumidor consistirá em
taxa percentual anual e compreenderá todos os valores cobrados do consumidor, sem prejuízo do cálculo
padronizado pela autoridade reguladora do sistema financeiro.
§ 3º Sem prejuízo do disposto no art. 37 deste Código, a oferta de crédito ao consumidor e a oferta de
venda a prazo, ou a fatura mensal, conforme o caso, devem indicar, no mínimo, o custo efetivo total, o
agente financiador e a soma total a pagar, com e sem financiamento.
Art. 54-C. É vedado, expressa ou implicitamente, na oferta de crédito ao consumidor, publicitária ou não:
I – (VETADO);
II – indicar que a operação de crédito poderá ser concluída sem consulta a serviços de proteção ao crédito
ou sem avaliação da situação financeira do consumidor;
III – ocultar ou dificultar a compreensão sobre os ônus e os riscos da contratação do crédito ou da venda
a prazo;
IV – assediar ou pressionar o consumidor para contratar o fornecimento de produto, serviço ou crédito,
principalmente se se tratar de consumidor idoso, analfabeto, doente ou em estado de vulnerabilidade
agravada ou se a contratação envolver prêmio;
33
“CAPÍTULO V
DA CONCILIAÇÃO NO SUPERENDIVIDAMENTO
Art. 104-A. A requerimento do consumidor superendividado pessoa natural, o juiz poderá instaurar
processo de repactuação de dívidas, com vistas à realização de audiência conciliatória, presidida por ele
ou por conciliador credenciado no juízo, com a presença de todos os credores de dívidas previstas no art.
54-A deste Código, na qual o consumidor apresentará proposta de plano de pagamento com prazo máximo
de 5 (cinco) anos, preservados o mínimo existencial, nos termos da regulamentação, e as garantias e as
formas de pagamento originalmente pactuadas.
§ 1º Excluem-se do processo de repactuação as dívidas, ainda que decorrentes de relações de consumo,
oriundas de contratos celebrados dolosamente sem o propósito de realizar pagamento, bem como as
dívidas provenientes de contratos de crédito com garantia real, de financiamentos imobiliários e de crédito
rural.
§ 2º O não comparecimento injustificado de qualquer credor, ou de seu procurador com poderes especiais
e plenos para transigir, à audiência de conciliação de que trata o caput deste artigo acarretará a suspensão
da exigibilidade do débito e a interrupção dos encargos da mora, bem como a sujeição compulsória ao
plano de pagamento da dívida se o montante devido ao credor ausente for certo e conhecido pelo
consumidor, devendo o pagamento a esse credor ser estipulado para ocorrer apenas após o pagamento aos
credores presentes à audiência conciliatória.
§ 3º No caso de conciliação, com qualquer credor, a sentença judicial que homologar o acordo descreverá
o plano de pagamento da dívida e terá eficácia de título executivo e força de coisa julgada.
§ 4º Constarão do plano de pagamento referido no § 3º deste artigo:
I – medidas de dilação dos prazos de pagamento e de redução dos encargos da dívida ou da remuneração
do fornecedor, entre outras destinadas a facilitar o pagamento da dívida;
II – referência à suspensão ou à extinção das ações judiciais em curso;
III – data a partir da qual será providenciada a exclusão do consumidor de bancos de dados e de cadastros
de inadimplentes;
IV – condicionamento de seus efeitos à abstenção, pelo consumidor, de condutas que importem no
agravamento de sua situação de superendividamento.
§ 5º O pedido do consumidor a que se refere o caput deste artigo não importará em declaração de
insolvência civil e poderá ser repetido somente após decorrido o prazo de 2 (dois) anos, contado da
liquidação das obrigações previstas no plano de pagamento homologado, sem prejuízo de eventual
repactuação.
Art. 104-B. Se não houver êxito na conciliação em relação a quaisquer credores, o juiz, a pedido do
consumidor, instaurará processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e
repactuação das dívidas remanescentes mediante plano judicial compulsório e procederá à citação de todos
os credores cujos créditos não tenham integrado o acordo porventura celebrado.
§ 1º Serão considerados no processo por superendividamento, se for o caso, os documentos e as
informações prestadas em audiência.
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, os credores citados juntarão documentos e as razões da negativa de
aceder ao plano voluntário ou de renegociar.
§ 3º O juiz poderá nomear administrador, desde que isso não onere as partes, o qual, no prazo de até 30
(trinta) dias, após cumpridas as diligências eventualmente necessárias, apresentará plano de pagamento
que contemple medidas de temporização ou de atenuação dos encargos.
§ 4º O plano judicial compulsório assegurará aos credores, no mínimo, o valor do principal devido,
corrigido monetariamente por índices oficiais de preço, e preverá a liquidação total da dívida, após a
quitação do plano de pagamento consensual previsto no art. 104-A deste Código, em, no máximo, 5
(cinco) anos, sendo que a primeira parcela será devida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias,
contado de sua homologação judicial, e o restante do saldo será devido em parcelas mensais iguais e
sucessivas.
Art. 104-C. Compete concorrente e facultativamente aos órgãos públicos integrantes do Sistema Nacional
de Defesa do Consumidor a fase conciliatória e preventiva do processo de repactuação de dívidas, nos
moldes do art. 104-A deste Código, no que couber, com possibilidade de o processo ser regulado por
convênios específicos celebrados entre os referidos órgãos e as instituições credoras ou suas associações.
35
Veja-se alguns importantes pontos da lei, que conferem com a grande preocupação
01. No art. 4º, do CDC, em que se trata da Política Nacional das Relações de Consumo,
consumo” (art. 4º, CDC). Ainda, foram acrescidos outros fundamentais princípios,
como o de:
Fica evidente pelo disposto em lei, que a educação financeira e ambiental dos
consumidores, isto em relação a novos consumidores que passarão a existir nas relações de
consumo, como também, para resolver e tratar o problema já existente na condição de grande
consumismo é permitido sem que, exista do outro lado, um controle sobre o poder da
daqueles que vivem com renda mínima, do salário-mínimo ou sob os projetos de renda cidadã
do governo federal, estadual e municipal. Estamos falando do percentual da população que tem
Fato importante relacionado a lei sancionada e o próprio parecer feito pelo Banco
Central, é o consenso de que para mitigar o problema do endividamento, dentre tantas medidas,
uma delas é a de modernização de leis e instituições, como também a de ampliação das medidas
Os novos incisos (VI e VII) do art. 5º, demonstram que, o Estado brasileiro tem se
mobilizado em prol da ampliação dessas medidas, pelo fato de que considerando o ordenamento
jurídico brasileiro não basta a “lei seca”, mas sim sua normatização efetiva.
13.146, de 2015).
Diante da ampliação por meio da lei 14.181, de 2021, observou-se a inserção no rol de
propriamente a efetiva proteção dos direitos, uma vez que, além da lei, é fundamental que os
órgãos competentes, criados para essa finalidade sejam de fato atuantes e eficientes, veja-se que
03. Quanto ao art. 51, e especificamente o inciso XVII, que considera “nulas de pleno
e serviços que, [...] condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos
do Poder Judiciário”; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021). Sobre isso trataremos
04. A inserção dos artigos 54-A, 54-B, 54-C, 54-D, 54-F, 54-G, diz respeito a política
05. A inserção dos artigos 104-A, 104-B, 104-C, diz respeito ao processo conciliatório
Dessa forma, apresenta-se a Política Nacional das Relações de Consumo (art. 4º, CDC),
como o meio de garantir da harmonização das “sobreditas ‘relações de consumo’, pois, se por
um lado existe a real preocupação com o atendimento das necessidades básicas dos
No mais, haja vista que, a Política Nacional das Relações de Consumo é parte do
16
Artigo – Impressões de Administração Judiciária sobre o
“Programa de Prevenção e de Tratamento aos Consumidores Superendividados no Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios: uma prática consolidada”
40
Pressupõe-se que, o judiciário percebe sua relação direta com a Política Nacional de
Consumo, mas a ênfase que foi dada até então é simplesmente ao atendimento denominado de
“Justiça sem processo”. Evidenciando claramente a ausência de uma consolidação legal, de uma
2016).
Portanto, as decisões judiciais carecem das novas iniciativas, como no caso do PPTS,
MARQUES, Claudia Lima, CAVALLAZZI, Rosangela Lunardelli, LIMA, Clarissa Costa de. Direitos do
Consumidor endividado II. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016
17
PPTS (Relatório, 2016), Idem. Ibidem
41
sendo modelada para assistir o cidadão em seu cotidiano, através de práticas jurídicas eficazes,
O presente capítulo demonstrou não somente o caráter jurídico da Política Nacional das
Relações de Consumo, especificamente, sob o artigo 4º, do CDC, como também, e tão
das relações consumeristas, nos aspectos econômico, social e tecnológico, como também, as
de que os consumidores são percebidos como “hipossuficientes”, soma-se ao fato de que, ainda
causadores do superendividamento.
superendividado, se manifesta como um alvo a ser superado, com vistas a modulação social que
valorize o indivíduo e, o seu mínimo existencial, mas ainda, contendo a redução financeira, que
de forma correta.
42
contratos de consumo preserva uma interpretação que sempre será mais favorável ao
consumidor, sendo que, tal entendimento fica evidente sob a égide dos artigos 47 e 25 do mesmo
código.
mesmas sempre serão passiveis de revisão uma vez que, o consumidor está amparado por
proteção legal. Fato este perfeitamente compreendido na descrição do artigo 6º, incisos IV e V
do CDC.
contratuais. O Código Civil por sua vez, prevê regulações atinentes ao que se refere aos
de que, tais condições jurídicas não são exclusivas as relações consumeristas (STIGLITZ, 1992,
pg.186).
conteúdo. Além do fato de que existem as cláusulas nulas de pleno direito, todas elas
estabelecidas no artigo 51, do CDC. Essas cláusulas estabelecem um regramento que perpassa
fornecidos;
contratual.
Por fim, também nula de pleno direito a cláusula que autorizar o fornecedor a modificar
tais cláusulas não invalidam o contrato como um todo, mas somente o que de forma abusiva
contraria o CDC, prejudicando o consumidor, lhe sendo facultado o direito de ajuizar ação que
encontradas nos contratos de adesão18. Macedo (1995, p.99), descreve que os contratos de
18
Contratos de adesão
[...] Muito raramente, os contratos bancários são negociados. Na grande maioria das vezes, celebram-se
mediante a adesão do cliente (aderente) às condições gerais do negócio, estipuladas pelo estabelecimento
financeiro. A massividade da atuação do banco, a obediência a instruções e regulamentos governamentais,
as condições próprias do mercado financeiro, a exigir tratamento equivalente entre as operações ativas e
passivas, tudo leva à adoção de contrato padrão para os diversos tipos de negócio, que não se distinguem
muito de um para outro estabelecimento. Para o conceito de contrato de adesão, características, efeitos e
44
desta modalidade contratual desde a produção em série, como o consumo em massa associados
a pressa do agir pelos sujeitos envolvidos em toda a transação, como também nas próprias
relações consumeristas.
modernidade. No mesmo diapasão, Orlando Gomes (2000, p.36) diz que o contrato de adesão
JÚNIOR, Ruy Rosado de Aguiar. Os Contratos Bancários e a Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
Informativo Jurídico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v.15,n.1,p.1-148, jan/jun. 2003. Disponível em: <
https://www.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/informativo/article/view/428/386>. Acesso em 20 jan
2022
45
Na seara conceitual dos contratos a pesquisa discorre especificamente sobre como são
formados os contratos bancários, seu regramento que estabelece o regime das relações
bancária sob a vigência do CDC, a existência ou não de um impacto positivo a partir da decisão
que rejeitou a ADIn 2.591, ambas condições como ponto de análise para o controle judicial dos
envolvido a vontade consensual de duas ou mais partes, sobre o mesmo objeto e que na
obrigações. Através deste negócio jurídico acordado são definidos os meios para que ambas as
também, entre outros, a não permissão do enriquecimento ilícitos seja das partes, ou comumente
Orlando Gomes (2008, p.25) traz três principais princípios, denominados de princípios
clássicos, como (i) a autonomia da vontade, (ii) o consensualismo, (iii) a força obrigatória dos
“rebus sic stantibus”19 e a relatividade contratual, entre outros que estabelecem a condição da
principiologia clássica.
O mesmo autor traz em suas definições o que compõe os chamados princípios modernos
contratuais. Orlando Gomes (2008, p.25) considera que, a boa-fé, o equilibrio econômico do
contrato e sua função social, todos foram incorporados no atual Código Civil de 2002
(MENEZES, 2004, p.1). Isto posto, sob a ótica dos novos paradigmas conceituais acerca do
fundamentou sob estruturas jurídicas como do Código Civil Francês, de caráter conservador,
19
“rebus sic stantibus”
é a presunção, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, da existência implícita
de cláusula em que a obrigatoriedade do cumprimento do contrato pressupõe inalterabilidade da situação
de fato. Quando ocorre uma modificação na situação de fato, em razão de acontecimentos extraordinário
(imprevisível) que torne excessivamente oneroso para o devedor o seu adimplemento, poderá este requerer
ao juiz a isenção da obrigação, parcial ou totalmente. Esta cláusula dá ensejo a Teoria da Imprevisão, que
serve de argumento para uma revisão judicial do contrato. A exemplo de acontecimentos extraordinário e
imprevisível: ocorrência de uma guerra.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil vol. 3 - Contratos. São Paulo: Saraiva, 20012.
47
administração (CUNHA, 2004. 18). Uma existência fundada, quase que de forma totalmente
autônoma a própria legislação, como Cunha (2004, p.20) ressalta, “tendo um papel de
exclusividade no trato das relações de direito privado patrimonial, não se admitindo a ingerência
Código Civil Alemão de 1900, influenciou diretamente o Código Civil Brasileiro de 1916.
Gustavo Tepedino (apud Cunha, 2004, p. 21), destacou que os valores patrimoniais prevaleciam
sobre os valores existenciais, e sob o modelo liberal, o Código Civil Brasileiro de 1916, buscou
se revela como princípio clássico e de cunho liberal a liberdade contratual. Onde a possiblidade
(2004, p.27) entendeu sob a ótica de Pereira (2001, p.23) que, a liberdade contratual se exerce
e é concretizada quando:
trazendo uma concepção de mesma razão dogmática, entendendo isso por considerá-la em uma
mesma realidade (LÔBO, 1991 p.14). Claudia Lima Marques, preferiu manter a distinção entre
48
ambos os conceitos, entendendo que, “a liberdade contratual, [...] é derivada como princípio
“força obrigatória dos contratos, como também, o entendimento de que seria impossível a
revisão contratual, dentro da concepção liberal dos contratos”. Uma vez firmado pela autonomia
da vontade das partes, dentro da concepção da liberdade contratual, “as partes não poderiam se
desobrigar do pacto senão por meio de outro ajuste, devendo gozar dos direitos e cumprir os
Ripert (2002) apud (Cunha, 2004,p.31), comentou que esse princípio da obrigação
formadas, tendo o valor das leis para aqueles que a fizerem. Fazendo alusão ao art. 1134, Código
pactuado demanda obrigatoriedade, uma vez que, as partes anteriormente se manifestaram com
relação contratual. À autoridade Estatal caberia somente a condução em juízo das lides que se
Por fim, o princípio da relatividade dos efeitos contratuais limitados às partes contratantes.
20
pacta sunt servanda
são um termo em latim que significa “os pactos devem ser cumpridos”. Representa o princípio da força
obrigatória dos contratos, que diz: se as partes estiverem de acordo e desejarem se submeter a regras
estabelecidas por elas próprias, o contrato obriga seu cumprimento como se fosse lei.
TISSOT, Rodrigo. O que é o princípio do pacta sunt servanda e suas principais implicações. Portal Aurum.
Disponível em: < https://www.aurum.com.br/blog/pacta-sunt-servanda/>. Acesso em 30 mar 2022
49
liberal do contrato, deu origem pelas diversas críticas que sobrepuseram sobre condições
respeito exagerado a liberdade de contrato, entre outros”. Para Paulo Luiz Netto Lôbo (1991,
p.242) apud (Cunha, 2004, p.36) foi no movimento do Estado Social, considerando o enfoque
privadas. Já, Gustavo Tepedino (2002) definiu a transição intervencionista do Estado sobre as
relações privadas, sob a premissa evolutiva que se iniciou com a existência de leis extra
do Código Civil de 1916, leis especiais tidas como “estatutos”, assim denominado por
Neste tempo em que transita do Estado Liberal para o Estado Social, inúmeras condições
exemplo. Diante disso, a história demonstra como se deu a crise da teoria contratual clássica.
21
Lei 8078/1990 - LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá
outras providências.
50
Não podendo mais disfarçar as desigualdades existentes, tal qual como eram, isto é,
concreta e real, a revisão da teoria contratual foi impulsionada (NEGREIROS, 1998). O Estado
Claudia Lima Marques (data, p.) enfatiza que, nesta transição, passou a existir certa
limitação a autonomia da vontade, uma vez que, a própria lei passou a ser legitimadora dessa
vontade. Passou a integrar as relações contratuais uma nova concepção de contrato, a inserção
de um elemento estranho as partes, isto é o interesse social. Passa a existir o forte regramento
legal, portanto, passou a existir a autonomia regrada da vontade (CUNHA, 2004, p.47).
teoria contratual denominada de teoria moderna dos contratos, onde surgem princípios como,
Tornando o contrato, “hábil a atender aos reclamos de socialização do direito e, somente a partir
da nova teoria, a possibilitar a revisão judicial dos contratos” (CUNHA, 2004, p.48).
contratuais.
função social do contrato em confronto direto aos princípios liberais da liberdade contratual,
partes.
Vejamos que,
51
do devedor, estes são os valores maiorais da sociedade, não podendo ser afetados, pois o
interesses sociais (Lôbo, 2002, p.15). Os autores supracitados concordam que a elevação dos
interesses sociais se projetam como primeira condição sine qua non para tal mudança e
Logicamente que, a nova condição contratual, não deixa de lado o que se compreende
como o fim de um contrato, isto é, sua finalidade, o que para Cunha (2004, p.68) em
riquezas – [...] atingida de forma justa, [...] quando o contrato representar uma fonte de
equilibrio social.
A aplicação objetiva desse conceito sobre os contratos sob a esteira do Código de Defesa
do Consumidor e do Novo Código Civil, o de 2002, é definida pelo que no nosso ordenamento
jurídico é tido como a “positivação”, isto é, a partir do CC 2002, especificamente no seu artigo
421, ficou estabelecido que: “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da
Na seara do CDC, especificamente em seu art. 4º, inciso III, a mesma lógica social é
encontrada, in verbis:
permitidas pelo direito. Dessa forma, o contrato preserva em seu contexto e finalidade, a
também no novo Código Civil de 2002, reflete em cláusulas gerais, parâmetro para uma atuação
harmônica à Política Nacional das Relações de Consumo e a nulidade de todas as cláusulas que
a ela sejam incompatíveis. No art. 4º, inciso III22, do CDC, a Boa-fé objetiva se revela na
harmonização das relações de consumo, enquanto o art. 51, inciso, IV, identifica a eventual
22
Art. 4º, III, CDC
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
[...]
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre
com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
Na concepção do Novo Código Civil de 2002, especificamente em seus artigos, 113, 187
e 422, a Boa-fé objetiva se revela como meio de interpretação dos negócios jurídicos, como
parâmetro limitador dos negócios jurídicos lícitos e também, como princípio para desde a
contratação até sua execução, o contrato se mantenha dirimido pelas corretas obrigações.
Cunha (2004), expõe que a perspectiva de Claudia Lima Marques, acerca da Boa-fé
objetiva é de uma fonte criadora de “deveres especiais, [...] como o dever de informar, de
consumo ou demais contratos, a conduta se estabelecerá sob a égide das relações sociais,
1996, p.93).
mais evidente no que diz respeito aos deveres contratuais que deverão ser observados pelos
da Lei do Superendividamento, faz jus a reflexão apresentada por Agathe E. Schmidt da Silva
23
Concreção
(latim concretio, - onis, agregação, condensação, reunião, matéria, materialidade)
substantivo feminino
1. Ação de tornar ou tornar-se concreto.
"concreção", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021,
https://dicionario.priberam.org/concre%C3%A7%C3%A3o [consultado em 16-07-2022].
24
Sobre o método Teleológico de interpretação do Direito
54
nova postura por parte dos julgadores em trazer à baila esse princípio (da boa-fé objetiva)
quanto em relação aos demais. MARTINS-COSTA (1999, p.45) fala de um sistema aberto,
único e responsável para que nas circunstâncias do caso concreto, “a cláusula geral da boa-fé
contrato se estabelece pela premissa de que não deve existir o desequilíbrio nas prestações do
Consiste na busca da finalidade das normas jurídicas tentando fazer a adequação destas aos critérios
atuais, pois o Direito por ser uma ciência normativa ou finalística a sua interpretação há de ser
essencialmente teleológica. Dessa forma, o intérprete ou aplicador sempre terá em vista a finalidade do
dispositivo legal, ou seja, se a intenção do legislador foi atingida. Como dispõe Tércio Sampaio Ferraz Jr:
JESUS, Ana Cláudia Aparecida de. Métodos de Interpretação do Direito – Aspectos Gerais. Jusbrasil. Disponível
em: < https://anaclaudiajesus.jusbrasil.com.br/artigos/516517364/metodos-de-interpretacao-do-direito-
aspectos-gerais>. Acesso em 13 jun. 2022
55
jurídica, não permitindo que as diferenças econômicas entre os contratantes, seja intensificada,
fato que pode ocorrer com maior frequência nos contratos em massa. Lôbo (2002, p.18) apud
Cunha (2004, p.86) definiu como equilibrio real de direitos e deveres no contrato, [...] para
tópico referente a Política Nacional das Relações de Consumo26, o interesse jurídico em tutelar
a harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo. Cunha (2004, p.88)
repete seu entendimento, quanto ao que dispõe o CDC em seus artigos 6º, IV, V, 51, IV, fazendo
referência ao fato de que a “equivalência material das prestações contratuais, em virtude de seu
equilibrio contratual.
princípio do equilibrio econômico do contrato, que ela define como “Nova noção de equilibrio
mínimo das relações contratuais”, de imediato nos deparamos com o apontamento de que,
25
Art. 170, caput, CF88
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos, existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
26
Art. 4º, I e III, CDC
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações
de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
[...]
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre
com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
56
contratual (Vertragsgerechtigkeit27),
Claudia Lima Marques, et al. (2019), conclui que junto com o controle das cláusulas
abusivas, este novo equilibrio contratual é na verdade uma “projeção dos princípios da
forma, em seu entendimento vê ser limitada a noção de equidade econômica contratual imposta
pelo CDC e pelo princípio da boa-fé objetiva. A autora afirma ser necessário o reequilíbrio total
da relação contratual.
Não basta controlar a vantagem que determinado fornecedor tenha em uma determinada
irrazoável para o consumidor desta mesma relação (MARQUES et al., 2016, p.277).
Por definição geral os contratos de fornecimento de produtos e serviços são regidos por
subsunção dos art. 2º e 3º do CDC. Um regime legal para todas as espécies de contratos que
27
Vertragsgerechtigkeit – “Justiça contratual”
28
MARQUES, C.L. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 9. ed.
rev. e atual. – São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p.275
Sinalagma
[...] um elemento imanente estrutural do contrato, é a dependência genética, condicionada e funcional
de pelo menos duas prestações correspectivas, é o nexo final que, oriundo da vontade das partes, é
moldado pela lei. Sinalagma não significa apenas bilateralidade, como muitos acreditam, influenciados
pelo art. 1.102, do Code Civil Francês, mas sim contrato, convenção, é um modelo de organização
(Organisationsnodell) das relações privadas.
57
envolvam consumidores e fornecedores. Sendo tal norma de ordem pública (artigo 01º)
passaram a ser tutelados sob o CDC, que a seu termo, subdividiu suas normas em: “especiais
para tutela dos contratos de adesão (art. 54) e normais gerais aplicáveis às cláusulas abusivas
(devedor), a existência de certa prestação, a ser cumprida pelo obrigado (JUNIOR, 2003, p.25).
O contrato em si, tem como objeto imediato o conteúdo que seja o desejo das partes de forma
Sob o entendimento de outros autores, Júnior (2003, p.30) discorre a respeito de diversas
circunstâncias que permeiam a existência dos contratos bancários. Diz sobre o que é a prestação
existente na relação obrigacional (VENOSA, 2008, P.16), entre outros pontos, a ideia de que
contratos bancários e operações bancárias são sinônimos29, o que há época era justificado “tanto
na prática do mercado como na nossa doutrina e jurisprudência”. Mais ainda, o mesmo autor
definiu o Banco como sendo, “a empresa com fundos próprios ou de terceiros”, que faz a
negociação de crédito30, que na perspectiva econômica, é a troca de uma riqueza atual por outra
29
TOLOMEI, Fernando Soares. LINHAS GERAIS SOBRE CONTRATOS BANCÁRIOS. Curso de Direito das
Faculdades Integradas, Presidente Prudente/SP, 2009.
Quanto a ideia de que contratos bancários e operações bancárias são sinônimos, Fernando Soares Tolomei,
argumenta que,
“apesar de a operação ter campo mais abrangente, de maneira a englobar atos que não se formalizam no
contrato bancário, não se pode deixar de lado o entendimento de que a obrigação é um processo, vale
dizer, as operações nada mais são do que atos que se propõem a alcançar um determinado fim, o qual se
formaliza por meio do contrato bancário.”
30
TOLOMEI, Fernando Soares. LINHAS GERAIS SOBRE CONTRATOS BANCÁRIOS. Curso de Direito das
Faculdades Integradas, Presidente Prudente/SP, 2009.
Focando-se novamente nos contratos bancários, denota-se que o objeto destes contratos, lato sensu, é o
próprio crédito. É evidente que, como leciona o Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior (2003: 140 p.),
58
futura (NADER, 2010, p.465). Quanto conceito de crédito que reúne dois fatores: “o tempo e
a confiança”, pressupõe “uma décalage31 entre duas prestações, uma atual, prestada pelo credor,
amparado pela doutrina de Aramy Dornelles da Luz, os bancos não se constituem tão-somente como
mediadores do crédito perante indivíduos com excesso e escassez do mesmo, “pois os depositantes não
entregam recursos para o fim de serem emprestados a terceiros, mas por motivos de segurança, confiança
e praticidade (...)”.
31
“uma décalage
é a ação de tirar o calço ("cale") a um móvel. Emprega-se habitualmente em sentido figurado:
desequilíbrio, desfasamento, desnível, fosso, falta de correspondência, diferença entre duas coisas,
ruptura, etc.'
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/decalage--
desequilibrio-ruptura/2419 [consultado em 19-07-2022]
59
Fábio Ulhoa Coelho (2009, p.127) definiu os contratos bancários como veículos
fornecimento dos créditos monetários. Na mesma seara, Tolomei (2009) argumenta que se tem
convencionado que o contrato de natureza bancária possui contornos específicos e que, devido
atípicos”.
Como parte da definição do que seja o contrato bancário é cabível entender algumas
possuem como características: ser comutativo, isto é, as partes têm conhecimento das vantagens
e sacríficos que tal negócio contratual comporta. A luz do direito processual, o contrato exige
contratual que tenha mais facilidade de demonstrar o fato. Na maioria das vezes, os contratos
bancários pelas próprias condições, tipos de operações em massa, exigências por parte de
bancário, está o sigilo – “uma confiança entre banco e cliente” (JUNIOR, 2003, p.34).
Nas suas espécies, o contrato bancário pode ser desenvolvido na condição de contrato de
depósito, onde são entregues ao banco valores monetários, para que este último em determinado
tempo, restitua o valor do capital mais os juros propostos pela situação financeira estabelecida
no mercado financeiro e estipulado em suas cláusulas. Fábio Ulhoa Coelho (1993, p.431) apud
32
“Fidúcia”
JURÍDICO (TERMO)
ônus que grava a propriedade dada em fideicomisso, visto que ela pertence ao fiduciário enquanto este
viver ou por outra condição estabelecida pelo testador.
60
é “sui generis” e sob o entendimento de outros tantos autores, é bilateral, “com fixação de
obrigações para ambas as partes” (JUNIOR, 2003). Diferentemente do que pensa e define
a forma que se disponibiliza o crédito, sob cláusulas contratuais - é o aspecto relevante nesta
e entender como o sistema judiciário brasileiro tem atuado nas relações obrigacionais existente
entre os contratantes desta modalidade de contrato. Junior (2003) descreveu que tal contrato
tem “importância na vida econômica de todas as pessoas, seja porque na grande maioria dos
O Código Civil de 2002 em seu artigo 58633, define o mútuo como sendo o empréstimo
de coisas fungíveis, portanto trata-se daquilo que seja possível sua restituição pelo equivalente.
33
Art. 586, CC 2002
O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele
recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.
34
(prêt d'argent) – “empréstimo de dinheiro”
61
certa quantia de moeda (Junior, 2003, p.37). E em resumo, o contrato bancário de empréstimo
bancárias, mas também, direcionar esta última para o entendimento específico quanto aos
regrado pelo Código Civil” (RIZZARDO, 2009, 34). Junqueira (1988) apud RIZZARDO
(2020, p.21), em edição mais recente, definiu a natureza do contrato bancário destacando que,
O que tem sido apresentado até agora, a respeito dos contratos bancários,
instituições bancárias. Ainda, sobre as limitações impostas sobre o aderente aos empréstimos
rompendo-se, no seu nascedouro, a novação de boa-fé e dos bons costumes”. Mesmo que bem
anterior ao CDC e as decisões como a ADI 2.591, por exemplo, ainda assim, o entendimento
et al. ( 2016, p.277). Isto é, [...] mais fundamentalmente importante é o prejuízo por uma
desvantagem irrazoável para o consumidor desta mesma relação (MARQUES et al., 2016,
p.277).
Tal situação de pressão econômica, sob o vértice contratual, é de fato comprovada uma
do CDC sobre as relações bancárias (Junior, 2004, p.40). É possível verificar a existência dessa
pressão econômica sobre o aderente, ora consumidor, dos contratos bancários em geral, pelo
como foi o caso do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor, que, através do
parecer encaminhado pelo Sr. Roberto Pfeiffer, então presidente do instituto, demonstrou
diversos prejuízos que os aderentes de contratos bancários, ora consumidores, sofreriam caso,
Brasileiro de Política e Direito do Consumidor – “os correntistas ficariam sem proteção nos
casos de operações bancárias típicas, [...] uma vez que no Código de Defesa do Consumidor é
mais amplo do que a resolução do Banco Central”, garantindo maior “proteção aos
consumidores. Ainda também que, no CDC existe “o direito de requerer inversão do ônus da
Conferindo a razão dos votos dos ministros, Garcia (2009), expôs que, para o então
Ministro Carlos Velloso (relator), o CDC deveria limitar-se a defender o consumidor, “sem,
inconstitucionalidade de norma ofensiva aos artigos 5º, LIV, e 192, II e IV, da CF88. Pois bem,
não somente foi julgada improcedente tal alegação, como também, existem diversos
apontamentos acerca de como deveria ser estrutura tal decisão por parte do STF.
Marcos Felix Jobim (2013) et al. SEUS e CADERMARTORI (2013), sustentou ser
possível que,
As tais medidas estruturantes da qual Seus e Cademartori (2013) retratam dizem respeito
a alteração da legislação vigente acompanhada por uma decisão judicial que fosse
julgamento da ADIn 2.591, na ementa dos embargos declaratórios, deixou a desejar não
35
O Min. Carlos Velloso, relator,
[...] proferiu voto no sentido de julgar procedente em parte a ação para emprestar ao § 2º, do art. 3º, da
Lei 8.078/90, interpretação conforme a CF para excluir da incidência a taxa dos juros reais nas operações
bancárias, ou sua fixação em 12% ao ano, dado que essa questão diz respeito ao Sistema Financeiro
Nacional.
GARCIA, Gabriel Rodrigues. Uma Análise do Julgamento na Adin 2591. Clic Direito, 2009. Disponível em: <
https://clicdireito.com.br/uma-analise-do-julgamento-na-adin-2591> Acessado 31 mar 2022.
66
máxima instância da justiça brasileira (STF), sugeriu-se que as condições como: inexigível a
obrigação de cujo instrumento não houve a prévia informação ao consumidor (art. 46, CDC); o
instrumento celebrado com a instituição financeira contenha requisitos mínimos, sem prejuízo
de outros que lhe sejam cabíveis (art. 52, CDC); as respectivas cláusulas limitadoras de direitos
com amplo destaque (art. 54, CDC). Fossem todas elas condições normativas previamente
consumidores.
bancários, a expectativa em geral tem por objetivo entender a existência ou não da segurança
jurídica do consumidor. Não existindo, seria cabível a revisão judicial dos contratos bancários?
67
Passados 19 (dezenove) anos, desde 2003 (data da referência citada) e diante de centenas
dessas operações bancárias, tem sido objeto de litígio judicial. E, quanto as decisões proferidas
nos processos judicializados, tais decisões tem efeito de coisa julgada somente entre as partes
não) não existiram cláusulas abusivas ou ilegais? Quais os índices de possíveis reclamações
celebrados?
ser possível uma construção válida e capaz de figurar como teoria de revisão contratual.
superendividamento e, não de forma preventiva. Tanto que, Giancoli (2008, p.160) apud
órgãos superiores da Justiça Brasileira, reforça a ideia de que a utilização da nova Lei demanda
uma nova abertura de discussão jurídica atendendo as demandas dos atuais superendividados e
performance no campo da revisão dos contratos bancários, é imprescindível destacar alguns dos
sistemática de julgamento de demandas repetitivas, e das Súmulas por ele editadas, que
Um dos primeiros julgados para ser exposto na pesquisa de jurisprudências julgou que,
apesar de
Em um segundo julgado, verifica-se que a Corte de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu
Evidenciado neste julgado com base nos princípios da boa-fé objetiva, da dignidade da
pessoa humana, e dos princípios gerais que regem as relações de consumo, é possível a revisão
pressupostos.
de contrato bancário, está estabelecido pela Súmula 286 do STJ que nestes casos não há
taxa for superior a 12% a.a., representando o preço da disponibilidade monetária, já está firmado
Baião (2020) reforça o entendimento, expondo que a Súmula 596 do STF, e o STJ
(Tema 24) assentaram que, “as disposições do Decreto 22.626/33 [Lei da Usura] não se aplicam
36
Consoante anota a doutrina
“os juros correspondem à renda do dinheiro, podendo ser compensatórios, se compensarem a
indisponibilidade do bem pelo mutuante, ou moratórios, se decorrentes de atraso no adimplemento das
obrigações ajustadas” (FUJITA, et al., 2014).
BAIÃO, Julian. Contratos bancários e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. JUS.com.br, 2020.
Disponível em:< https://jus.com.br/artigos/78904/contratos-bancarios-e-a-jurisprudencia-do-superior-tribunal-de-
justica>. Acesso em 20 fev.2022
70
às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições
Observa-se que, a questão dos juros remuneratórios são permeados por diversas outras
decisões, como: (i) “se o contrato não for expresso quanto a taxa cobrada” – possível fixação
pelo juiz da taxa média do mercado – (Temas: 233, 234, Súmula 530, STJ); (ii) Inaplicabilidade
aos juros remuneratórios sobre os contratos de mútuo bancário o que está disposto nos art. 591
c/c o art. 406 do CC200237 – (Tema 26); (iii) Se prevista a taxa, a revisão contratual poderá
1133872/PB (Tema 411), decidiu-se por ser cabível a inversão do ônus da prova, determinando
37
Código Civil 2002
Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de
redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.
Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou
quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a
mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.
71
ementa do Acórdão atinente ao Tema 953, embora não tenha sido objeto da afetação, o tema
regulamentados pelo Conselho Monetário Nacional (art. 4º, da Lei nº 4.595/64), atualmente a
a cobrança não foi contemplado a TAC e TEC, entendimento exposto nos temas Repetitivos
618 e 619, STJ. A Súmula 565, estabeleceu que: “A pactuação das tarifas de abertura de crédito
(TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, é válida
3.518/2007, em 30/4/2008”.
Por fim, o Tema 621 o STJ que reconheceu como sendo válida a convenção do
revisões dos contratos bancários. As súmulas do STJ são encontradas organizadas por ramos
do Direito38, sendo que, as súmulas que interessam ao tema da pesquisa estão organizadas no
38
Superior Tribunal de Justiça Secretaria de Jurisprudência Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
Súmulas organizadas por ramos do Direito
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmulas Organizadas por Ramos do Direito. Brasília-DF, 04-mar-
2022.www.stj.jus.br/ chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.stj.jus.br/docs_internet/jurisprudencia/tematica/dow
nload/SU/RamosDoDireito/Sumulas_com_capa_-_04_marco_2022.pdf. Acesso em 12 jul. 2022
72
subgrupo – Inscrição em cadastro de Inadimplentes (páginas 417 usque 427); Direito Tributário
14.181/2021
Mesmo que existem diversas discussões jurídicas, julgados, decisões, é perceptível que
até então as revisões contratuais são em suma, todas voltadas a tecnicidade das relações
econômicas e financeiras. Não se discute até então a realidade de que muitos consumidores não
têm condições de pagar suas dívidas. Retomando a discussão sobre a realidade dos
notadamente as discussões jurídicas não têm considerado que os gastos dos consumidores “são
superiores aos ganhos mensais, seu passivo é maior que o ativo, precisando de auxílio para
Se por um lado, a nova lei já se mostrou de forma clara designada a: inibir a exclusão
4º, VI). Como também a garantia de práticas de crédito responsável (art. 4º, XI). Por outro lado,
não se mostrou eficiente as decisões Judiciário, pois, primeiramente pelo fato de todas as
decisões (mesmo que favoráveis) já existentes não ter efeito erga omnes, mas somente, efeitos
73
entre as partes (JUNIOR, 2003, p. 33). E mais, por ainda não ser efetiva a proposta do judiciário
exorbitantes e impagáveis”. O que deixa claro, ser imprescindível a aplicação mais precisa das
também que, é dever do Estado proibir e coibir as práticas abusivas (de publicidade e
tratamento dos superendividados, em relação às ações ordinárias até então ajuizadas para
revisão dos contratos pela via do controle judicial (Friedemann 2017), o que deixa em aberto,
Sobre as decisões dos Tribunas e Juízes brasileiros, Gonçalves (2018) comenta que,
embora,
74
Por fim, a própria hipossuficiência do aderente do contrato bancário, que ainda tem (e
sempre terá) a dificuldade de precisar o valor incontroverso de um contrato e, mais ainda, para
manter o pagamento do valor enquanto buscam o que é de direito em uma demanda litigiosa.
artigos 104-A, 104-B, 104-C, estabelece novo procedimento especial próprio para o tratamento
que,
requerimento do próprio consumidor (Neto, 2017) para repactuação das dívidas existentes,
sendo que, neste requerimento o consumidor obrigatoriamente deverá considerar que o plano
a nova lei traz conceitos claros, define os requisitos, os direitos e regula a publicidade e oferta
de crédito, inclusive o tratamento dos contratos conexos, prevendo novas práticas abusivas no
Neto (2021) explica que, a Lei nº 14.181/2021 (do Superendividamento) inseriu no CDC,
no Capítulo V, do Título III, o que ele chama de procedimento de Conciliação, “um plano de
pagamento que serve para revisar as obrigações de modo conjunto com os credores,
financeira do superendividado”. Na mesma ótica descritiva, Junior (2022) descreve que, com o
advento da Lei supracitada foi criado o procedimento para renegociação das dívidas, de modo
consumidor endividado possa requerer a revisão de suas obrigações contratuais que ensejaram
1) A dívida não pode ter sido contraída de má-fé, ou seja, desde o começo o
consumidor não tinha intenção de pagar;
2) A dívida não pode ter uma garantia real (alienação de carro, por exemplo),
de financiamento imobiliário ou de crédito rural;
Essa legislação é ideal para quem tem uma dívida com cartão de crédito,
limite do cheque especial ou empréstimos sem garantia.
76
• Firmar o acordo:
Incluído a data a partir da qual será providenciada a exclusão do
consumidor do banco de dados e cadastros de inadimplentes
• As demais condições são as mesmas compreendidas na apresentação
do Requerimento do Consumidor ao Judiciário, ainda que na esfera
conciliatória.
01.02 Se ao Judiciário for apresentado o Requerimento
➢ O juiz instaura processo de repactuação das dívidas
➢ Realização de audiência conciliatória
➢ Presença de todos os credores de dívidas previstas no art. 54-A, CDC
• O não comparecimento injustificado de qualquer credor, ou de seu
procurador com poderes especiais e plenos para transigir, à audiência de
conciliação de que trata o caput deste artigo acarretará a suspensão da
exigibilidade do débito e a interrupção dos encargos da mora, bem como a
sujeição compulsória ao plano de pagamento da dívida se o montante devido
ao credor ausente for certo e conhecido pelo consumidor, devendo o
77
pagamento a esse credor ser estipulado para ocorrer apenas após o pagamento
aos credores presentes à audiência conciliatória. (§ 2º)
➢ Apresentação da Proposta de Plano de Pagamento:
• prazo máximo de 05 anos;
• preservados o mínimo existencial;
• atendido as regulamentações, garantias e formas de pagamento
originalmente pactuadas
➢ Levantamento das dívidas excluídas aquelas (Art. 104-A, §1º, CDC):
• Oriundas de contratos celebrados dolosamente (fraude ou má fé – art.
54-A, §3º, CDC);
• Da aquisição ou contratação de produtos e serviços de luxo de alto
valor art. 54-A, §3º, CDC);
• Provenientes de contratos de crédito com garantia real;
• De financiamentos imobiliários
• E de crédito real
01.03 Conciliação
➢ com qualquer credor (§ 3º)
• A sentença judicial homologará o acordo
• Disporá do plano de Pagamento
• Terá eficácia de título executivo e força de coisa julgada
➢ Plano de Pagamento (§ 4º)
• Inciso I
medidas de dilação dos prazos de pagamento
redução dos encargos da dívida ou da remuneração do fornecedor
(facilitação do pagamento da dívida).
Início dos pagamentos com a primeira parcela no prazo máximo de 180
dias, contados da homologação judicial, com o restante do saldo devido em
parcelas mensais iguais e sucessivas (art. 104-B, § 4º, CDC)
• Inciso II
Suspensão ou extinção das ações judiciais em curso.
• Inciso III
Data da exclusão do consumidor do banco de dados e de cadastro de
inadimplentes.
• A decisão que deferir o pedido do consumidor, quanto a revisão das
dívidas, terão seus efeitos condicionados à abstenção, “pelo consumidor, de
78
Junior (2022) entende ser possível que o consumidor apresente o requerimento tanto ao
Judiciário como aos órgãos competentes, como é o caso do Procon (art. 104-C, CDC). O autor declara
condições financeiras para “pagar suas despesas ordinárias essenciais, como aluguel, água, luz e
alimentação”.
Na sequência não sendo acatado o processo de repactuação das dívidas no plano conciliatório,
por parte dos credores, o consumidor poderá requerer ao Juiz o início do processo para revisão e
integração dos contratos e repactuação das dívidas remanescentes mediante plano judicial compulsório,
forma pormenorizada, o que no texto da lei está definido como “diligências eventualmente
de “dívida com cartão de crédito, limite do cheque especial ou empréstimos sem garantia”.
Sendo de grande interesse tal referência já que esta pesquisa se constrói justamente na
compreendem demandas como, (i) discussão de eventuais ilegalidades sobre contratos extintos
e novações, (ii) quanto a juros remuneratórios e índices das taxas; (iii) fixação pelo próprio juiz
de taxa média do mercado; (iv) inaplicabilidade do que dispõe os artigos 591 c/c 496, CC2002
sobre os juros remuneratórios; (v) revisão contratual na existência de taxa, onde demonstrada
vantagem exagerada; (vi) sobre exibição de documentação, como nos casos de extratos
pactuação das tarifas TAC e TEC apenas sobre contratos bancários, anteriores ao início da
Acredita-se que as demandas que, de fato, estão relacionadas ao cerne da nova Lei, isto
2018), serão discutidas posteriormente por meio de novas pesquisas pertinentes ao mesmo
assunto.
Pelo que já foi exposto, com base na própria condição da nova lei que, procede a revisão
real, novos julgados e novos temas projetarão as decisões estruturadas que culminarão em novas
Súmulas. Com isso o Judiciário se mostrará atinente ao que de fato a nova Lei veio estabelecer.
81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
compreender a sua essência, primeiramente pelo fato de que, a lei veio alterar pontos específicos
As alterações sobre o CDC, foram especificamente (i) a inserção dos incisos IX, X, art.
4º; (ii) incisos VI, VII, art. 5º; (iii) incisos XI, XII e XIII, art. 6º; (iv) incisos XVII, XVIII, art.
51; (v) do Capítulo VI-A, artigos 54-A, 54-B, 54-C, 54-D, 54-F, 54-G; (vi) Capítulo V, artigos
104-A, 104-B, 104-C. Alterou o art. 96 da Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), como
também, estabeleceu parâmetros quanto a “validade dos negócios e dos demais atos jurídicos
lei anterior, mas, em relação aos efeitos produzidos após a entrada em vigor da Lei, estes
Na pesquisa, foi possível avaliar que o legislador brasileiro tem se atentado para a
direito ao mínimo existencial, como também, já está tutelado pelo direito do consumidor. Mas,
é fato que, mesmo sob a égide da constituição e do CDC, ainda não estão assegurados esses
consumeristas.
dos consumidores superendividados? Mesmo que a pesquisa não tenha sido uma resenha
analítica do entendimento proposto pela Dr.h.c Claudia lima Marques, ainda assim, o que a
professora afirma, é relevante – “é necessário o reequilíbrio total da relação contratual, [...] mais
82
é fundamental que se considere como atualmente, o poder Judiciário tem julgado as atuais
Na pesquisa se verificou que, infelizmente não tem sido tema das decisões a condição
interpartes. Isso significa que ainda estamos longe de um posicionamento por parte dos
Quando se diz que - a forma como tem sido disponibilizado o crédito e as cláusulas
para a necessidade da revisão judicial dos contratos bancários e, o que se espera é a intervenção
objetiva do Estado, por meio dos órgãos competentes, para impedir a exploração indiscriminada
do consumidor. A Política Nacional das relações de consumo não somente deve ser vista na
condição vulnerável do consumidor, pois: (i) garante a ampliação dos direitos quanto as
seus artigos), merece que seja exposto de forma crítica, a preocupação de que esta lei também
pontos específicos da lei. Pontos esse como as (i) exceções a aplicação da lei; (ii) a presunção
relativa quanto a boa-fé objetiva do consumidor, haja vista que, será permitido analisar a
procedência de má-fé quanto a existências das dívidas; (iii) a dívida não ter garantia real; (iv)
não ser financiamento imobiliário ou de crédito rural; (v) e não ser oriundo de aquisições de
luxo.
Mais especificamente, é mister dizer que, (i) a burocracia; (ii) os meios conciliatórios;
credor ausente na etapa de conciliação, deva ser certo e conhecido pelo consumidor, para que
tudo na seara conciliatória extrajudicial, ensejará com certeza a necessidade da segunda etapa
o possível retardamento da solução, uma vez que, o consumidor na maioria das vezes não tem
acesso a documentação que ensejou a relação contratual. E, por conseguinte, mesmo que seja
ao plano voluntario ou de renegociar, ainda assim, os mesmos poderão se valer de outros meios
Isto posto, entendo que a pesquisa é atual, pertinente, colaborativa e proveitosa para
ampliar a sede de pesquisas quanto ao atual cenário das relações de consumo e as decisões do
judiciário.
84
Tratou-se da aplicação da lei, com vistas a possibilidade da revisão judicial dos contratos
bancários em específico dos contratos de empréstimo, pelo fato de que, esse tipo de contrato,
quando não realizado avalizado por garantia real, é uma das relações contratuais que é cabível
a aplicação da lei.
pesquisa, a fim de, enumerar e agrupar todas as modalidades do empréstimo bancário, como
Por fim, que sejam possíveis novas pesquisas que tragam um novo capítulo para esta
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 14.181 de 01 de julho 2021. Dispõe sobre para aperfeiçoar a disciplina do
crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento.
Publicação Original [Diário Oficial da União de 02/07/2021] (p. 2, col. 1) (senado.leg.br)
Disponível em < https://legis.senado.leg.br/norma/34251655/publicacao/34252359> Acesso
em 16 jul 2021.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Repetitivos Organizados por Assunto. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/docs_internet/jurisprudencia/tematica/download/RR/Repetitivos_Organi
zados_por_Assunto_ed._1.pdf Acesso em 15 jan. 2022
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmulas Organizadas por Ramos do Direito. Brasília-
DF, 04-mar-2022.www.stj.jus.br/ chrome-
extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.stj.jus.br/docs_internet/jurisprude
ncia/tematica/download/SU/RamosDoDireito/Sumulas_com_capa_-_04_marco_2022.pdf.
Acesso em 12 jul. 2022
CAENEGEM, R.C. Uma introdução histórica ao direito privado. Trad.: Carlos Eduardo Lima
Machado. Revisão: Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
<https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/18854/1/PrincipioCreditoReponsavel.pdf>.
Acesso em 10 Abr 2021.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 10. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva,
2006-2009. v. 1, 3 ISBN 85-02-05565-8
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1993
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil vol. 3 - Contratos. São Paulo: Saraiva, 20012.
CUNHA, Wladimir Alcebíades Marinho Falcão. A revisão judicial dos contratos e a evolução
do direito contratual. Recife, PE, 2004, 207f.
FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Cláusulas abusivas. Revista de Direito do Consumidor,
São Paulo, v.16, p.52-62, out.-dez. 1995
GARCIA, Gabriel Rodrigues. Uma Análise do Julgamento na Adin 2591. Clic Direito, 2009.
Disponível em: < https://clicdireito.com.br/uma-analise-do-julgamento-na-adin-2591>
Acessado 31 mar 2022.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil –
Contratos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, v. 4, 2021. p. 189.
GOMES, Orlando, Contratos, 26ª Edição, Editora Forense e Gen, 2008, Rio de Janeiro
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil vol. 3 - Contratos e Atos Unilaterais. São Paulo:
Saraiva, 2012.
JESUS, Ana Cláudia Aparecida de. Métodos de Interpretação do Direito – Aspectos Gerais.
Jusbrasil. Disponível em: <
https://anaclaudiajesus.jusbrasil.com.br/artigos/516517364/metodos-de-interpretacao-do-
direito-aspectos-gerais>. Acesso em 13 jun. 2022
Kotler, Philip. Administração de marketing / Philip Kotler, Kevin Lane Keller; tradução Sônia
Midori Yamamoto; revisão técnica Edson Crescitelli. – 14. ed. – São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2012.
LIMA, Clarissa Costa de. Nota sobre as conclusões do Banco Mundial em matéria de
superendividamento dos consumidores pessoas físicas. Revista de Direito do Consumidor. vol.
89. São Paulo: Ed. RT, set. 2013
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Condições gerais dos contratos e cláusulas abusivas. São Paulo:
Saraiva, 1991.
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípios Contratuais. In: LÔBO, Paulo Luiz Netto e LYRA
JUNIOR, Eduardo Messias Gonçalves de (Coord.). A Teoria do Contrato e o Novo Código
Civil. Recife: Editora Nossa Livraria, 2002, p.09-23.
MACEDO, Elaine Harzheim. Contratos de adesão. Controle judicial dos contratos de consumo.
Revista de Direito do Consumidor, são Paulo, v.15, p.99-118, jun.-set. 1995.
MARQUES, Claudia Lima, CAVALLAZZI, Rosangela Lunardelli, LIMA, Clarissa Costa de.
Direitos do Consumidor endividado II. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016
MARQUES, C.L. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações
contratuais. 9. ed. rev. e atual. – São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
88
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. 2. ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1954-1969. v.
42.
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 5. Ed. atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT,
2014
MORAES, Maria Antonieta Lynch. Resolução e revisão dos contratos por onerosidade
excessiva. In: LÔBO, Paulo Luiz Netto e LYRA JÚNIOR, Eduardo Messias Gonçalves de
(Coord.). A Teoria do Contrato e o Novo Código Civil. Recife: Editora Nossa Livraria, 2002,
p.207-226.
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: Contratos. V.3. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
NETO, André Perin Schmidt. A revisão das obrigações segundo a nova lei de proteção dos
superendividados. Consultor Jurídico, 2021. Disponível em < https://www.conjur.com.br/2021-
set-29/garantias-consumo-revisao-obrigacoes-segundo-lei-protecao-superendividados#_ftn1>.
Acesso em 23 jul. 2022
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Fontes das Obrigações. 10. Ed.
Rio Janeiro: Forense, 2001, 3v., p. 09-10
RIPERT, Georges. A regra moral nas obrigações civis. Trad. Osório de Oliveira. 2.ed.
Campinas: Bookseller, 2002.
RIZZARDO, Arnaldo. R627 Contrato de crédito bancário./ Arnaldo Rizzardo./ 8. ed. rev. e
atual, Editora Revista dos Tribunais, 2011.
RIZZARDO, Arnaldo. R627 Contrato de crédito bancário./ Arnaldo Rizzardo./ 12. ed. rev. e
atual./ Curitiba: Juruá, 2020. 440p. (Fonte: Arnaldo Rizzardo, Contrato de Crédito Bancário,
12ª Edição - Revista e Atualizada, Juruá Editora, 2020, p. 2, ID:28475)
Série cidadania financeira: estudos sobre educação, proteção e inclusão / Banco Central do
Brasil – Brasília: Banco Central do Brasil, 2020. 35 p.: il. Nota: n. 6. Endividamento de risco
no Brasil. A publicação está disponível em versão online na página do BCB no endereço:
https://www.bcb.gov.br/cidadaniafinanceira Acesso em 16 jul 2021.
SILVA, Agathe E. Schmidt da. Cláusula Geral de Boa-Fé nos Contratos de Consumo. Revista
de Direito do Consumidor, São Paulo, v.17, p.146-161, jan-mar. 1996.
SILVA, Suzana Tavares da. Revisitando a garantia da tutela jurisdicional efetiva dos
administrados. Revista de Direito Público e Regulação. Coimbra, Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra, n. 5, p. 129, mar-2010.
TEPEDINO, Gustavo. Crise das fontes normativas e técnica legislativa na parte geral do Código
Civil de 2002. In. TEPEDINO, Gustavo (Coord.) A parte Geral do Novo Código Civil. Estudos
na Perspectiva Civil-Constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. XV-XXXIII, p. XVI.
TISSOT, Rodrigo. O que é o princípio do pacta sunt servanda e suas principais implicações.
Portal Aurum. Disponível em: < https://www.aurum.com.br/blog/pacta-sunt-servanda/>.
Acesso em 30 mar 2022
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos.
8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 599 p. (Coleção direito civil; 2) ISBN 978-85-224-4959-0