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Ética médica 

é um código que compõe um conjunto de normas e preceitos


fundamentais de direitos e deveres dos médicos, com base moral e científica.
Este código deve ser seguido e aplicado por todos os profissionais da área da
saúde, garantindo os direitos humanos, respeito à vida, sigilo profissional,
segurança nos procedimentos e cuidados prestados de forma equânime. Estas
regras não toleram distinção de etnia, condição socioeconômica entre outros
aspectos. A ética médica pauta e define diversas questões na saúde pública,
como o aborto, a eutanásia, a manipulação genética, a doação de órgãos e,
acima de tudo, o poder de escolha do paciente.

Com caráter de lei, o Código estabelece a segurança dos profissionais e


pacientes cumprindo regras no cuidado da saúde com os cidadãos. Sob três
pilares, a ética na medicina pode ser pontuada como: a relação entre médico e
paciente, dos médicos entre si e a relação entre o médico e sociedade. As
normas de ética na área da saúde estão sempre em constantes atualizações
no intuito de acompanhar a evolução moral da sociedade e seu
desenvolvimento científico.

História da ética na medicina


Os primeiros registros de códigos de conduta datam aproximadamente no
segundo milênio antes da Era Cristã, como o código de Hamurabi, um monólito
grafado e encontrado no templo de Ebabbara, em Sippar, na
antiga Mesopotâmia. Considerado o pai da medicina no
ocidente, Hipócrates (430 a.C.) escreveu o famoso “Juramento de Hipócrates”,
um código de ética com base na honestidade, caridade e ciência.

Em 1803 o médico e filósofo inglês Thomas Percival organizou o Código de


Ética médica. Médicos e farmacêuticos se reuniram para criar e padronizar
novas diretrizes para o tratamento dos internados em meio a um surto de febre
tifóide no Reino Unido. Posteriormente, em 1847, os EUA adotaram o código
de Percival.

Experiências com seres humanos


Um episódio grotesco deste tipo ocorreu quando Shirō Ishii, tenente-general da
famigerada Unidade 731, do Exército Imperial Japonês, realizou experiências
com prisioneiros chineses e cometeu crimes de guerra na Segunda Guerra
Sino-Japonesa. Da mesma forma, na Segunda Guerra Mundial os nazistas
também realizaram experimentos com pessoas.

Estes e outros processos culminaram na criação de códigos de comportamento


nacionais e internacionais. Um deles é a Declaração de Genebra (1948),
promovida pela Associação Médica Mundial (AMM), reformulando o juramento
de Hipócrates e salientando as consequências às transgressões éticas
ocorridas durante a Segunda GM. Com base na declaração, foi gerido o Código
Internacional de Ética Médica.

Princípios Básicos (Deveres) e Aplicação


A ética médica é baseada na deontologia, uma teoria que afirma que as ações
são classificadas como boas ou más baseadas num conjunto claro de regras.

Princípios fundamentais da ética médica (Beauchamp e Childress)

Beneficência:

Agir apenas com a intenção de fazer o bem e em benefício do paciente

Alguns proclamam-no como o maior de todos os princípios éticos na medicina

Garante que, mesmo quando a autonomia do paciente estiver comprometida, o


seu melhor interesse seja defendido e defendido pelo médico

Autonomia:

Respeito ao direito do paciente de se autogovernar

Base para a capacidade de decisão e consentimento informado. Observar que


em situações especiais (situações de emergência) é permitido ao médico agir
com base na beneficência, mesmo que o paciente não seja capaz de dar
consentimento como expressão da sua autonomia (por exemplo, realizar CPR
(pela sigla em inglês) em caso de paragem cardíaca).

Não maleficência:

Não agir com a intenção de prejudicar

Expresso na máxima Primum non nocere (Primeiro, não faça mal)

Justiça distributiva:

Reconhecer o direito de todos a serem tratados igualmente

Dividir a beneficiência de forma igual entre os pacientes

Princípios adicionais

Confidencialidade

Fidelidade

Confiabilidade

Respeito pela lei

Princípios de Ética Médica

Os princípios seguintes resumem os padrões de conduta esperados de um


médico.
Os médicos devem fornecer cuidados médicos competentes e compassivos,
sempre defendendo os direitos humanos.

Os médicos devem manter os padrões de profissionalismo.

Os médicos devem respeitar a lei e assumir a responsabilidade de alterar as


leis que são contrárias aos melhores interesses do paciente.

Os médicos devem respeitar os direitos e a privacidade dos pacientes e


colegas dentro das restrições da lei.

Os médicos devem manter o compromisso de continuar a educação médica.

Os médicos devem ser livres para escolher a quem servir e o ambiente no qual
prestar assistência médica.

Os médicos devem assumir a responsabilidade de participar de atividades que


melhorem a saúde pública.

Os médicos devem considerar a responsabilidade para com o paciente como a


sua maior prioridade ao cuidar do paciente.

Os médicos devem apoiar a expansão do acesso aos cuidados médicos para


todas as pessoas.

Progressão da Ética Médica


A ética médica progride de forma casuística, aplicando a ética a
casos individuais. Assim, o resultado é uma linha histórica de
eventos de casos em que surgiu um dilema e foi proposta uma
solução. Os passos são:

1. É criada ou alterada uma política.


2. A política eventualmente leva a uma situação problemática, ou
dilema.
3. Uma ação ou inação em resposta ao dilema é proposta e
executada. Essa resposta inclui pesquisas sobre soluções
anteriores para dilemas semelhantes na literatura, bem como na
literatura filosófica, ética e até religiosa (The Great Conversation).
4. Os eticistas reveem a ação ou inação e fornecem comentários
sobre ela ser aceitável ou inaceitável.
Desafios Éticos
Dilemas
 Uma situação clínica em que 2 princípios éticos estão em
desacordo e deve ser tomada uma ação em transgressão de 1 dos
2.
 Muitas vezes, não há uma resposta obviamente “correta”.
 Quando essas situações surgem, as instituições contam com
conselhos ou comités de ética para definir a ação que melhor se
adequa aos melhores interesses do paciente.

Conflitos de interesse
 Dentro do contexto médico, o conflito de interesse descreve
situações em que a capacidade de um médico de agir no melhor
interesse dos seus pacientes é influenciada por relacionamentos
externos com pessoas, grupos ou empresas.
 Conflitos de interesse devem sempre ser divulgados e devem ser
feitas tentativas para minimizar preconceitos.

História da ética médica

A ética médica não é nova

“Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e


entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por
comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza à perda.”
O trecho acima foi retirado do juramento de Hipócrates, um dos textos mais
famosos entre médicos ocidentais.
Considerado o pai da medicina, Hipócrates exerceu a profissão na Grécia
antiga, por volta de 430 a.C.
Ele ganhou notoriedade por diversos feitos, como a distinção entre sintoma
(consequência) e doença (causa), associação que foi fundamental para
explicar a situação clínica e como tratá-la a partir dessa observação.

Ao escrever seu famoso juramento, o estudioso criou um tipo de código de


ética, no qual se comprometia a agir com honestidade, caridade e ciência.

Antes dele, o Código de Hamurabi (de 1780 a.C.) e o antigo manuscrito indiano
(Ayurveda) já falavam sobre a conduta médica.
No entanto, esses e outros ensinamentos só foram organizados, de fato,
como Código de Ética Médica em 1803, pelo médico, filósofo e escritor inglês
Thomas Percival.
Antes disso, a ética era compreendida como um comportamento social
daqueles que tinham honra, que tinham palavra e, portanto, não precisava de
regras para ser adotada.
Tomando por base estudos anteriores e publicações na área, Percival publicou
o livro Ética Médica ou Fundamentos e Regras Adaptadas para a Conduta
Profissional de Físicos e Cirurgiões. Essa obra cita, pela primeira vez, os
termos “ética profissional” e “ética médica”.

Na época, os clínicos gerais — chamados de físicos — se uniram a cirurgiões e


boticários (farmacêuticos) para discutir suas obrigações no tratamento de
pacientes internados, devido à febre tifoide que assolava Manchester, no Reino
Unido.

Foi desses debates que surgiu o interesse por organizar um manual de


condutas profissionais que deveriam ser seguidas em hospitais: o código de
Percival.

Assim, seria mais fácil padronizar a abordagem e as condutas aplicadas ao


paciente.

Em 1847, a Associação Médica Americana adaptou o trabalho de Percival para


que fosse utilizado pelos médicos nos Estados Unidos.

No Brasil, o primeiro documento que disciplina a ética médica foi publicado em


1929, no Boletim do Sindicato Médico Brasileiro.

Denominado Código de Moral Médica, o texto era uma tradução do código


organizado no VI Congresso Médico Latino Americano, realizado três anos
antes, em Havana, Cuba.

No entanto, o primeiro Código reconhecido pelas autoridades governamentais


só veio em 1944, após o IV Congresso Médico Sindicalista.

O texto foi oficializado com a publicação do Decreto-lei nº 7.955, que também


criou os Conselhos Regionais de Medicina — texto revogado e substituído
posteriormente pela Lei 3.268/1957.

Outros documentos foram criados em períodos seguintes, sendo o Código de


Ética Médica em vigor aprovado em 1988, com inspiração na redemocratização
do país.

Esse documento é fruto da 1ª Conferência Nacional de Ética Médica, e


contempla não apenas as rotinas da profissão, como também as perspectivas
de transformação de acordo com novos parâmetros sociais.

Qual a importância da ética na medicina?


Para atuar de forma idônea, todo profissional precisa seguir princípios éticos.
Mas essa questão é ainda mais importante na medicina, já que lida com a vida
e a saúde humana e que interfere significativamente na condição clínica e
psíquica do doente.

Para isso, os médicos precisam colocar o interesse do paciente acima de


qualquer outro.

Se não agir com ética, um profissional pode focar apenas nos lucros,
exercendo a medicina de maneira mercantilista, ou usar sua condição para
vender produtos que causam danos à saúde.

Por ter força de lei, o Código de Ética Médica proporciona segurança aos
profissionais e pacientes, estabelecendo regras para o cuidado com a saúde.

Sem ele, práticas restritas aos médicos, a exemplo de cirurgias, ficariam


liberadas a pessoas sem qualificação, levando a sequelas e aumentando o
risco de mortes.
Questões polêmicas, como pesquisa científica com humanos e alterações
genéticas, também não seriam observadas e reguladas, principalmente nos
dias atuais, em que os exames podem revelar predisposição para doenças
interferindo nas relações pessoais e profissionais do doente.

Além disso, o código garante que médicos respeitem a escolha do paciente,


familiares e responsáveis legais e exponham as informações de forma clara e
objetiva — para que a decisão seja dada de forma consciente.

Bibliografia

Yeo, M., e Moorhouse, A. Concepts and cases in Nursing Ethics. [S.l.: s.n.] pp. 60–62

https://ambr.org.br/novo-codigo-de-etica-medica/

https://telemedicinamorsch.com.br/blog/etica-na-medicina

http://acervo.avozdaserra.com.br/noticias/codigos-de-etica-medica-sua-historia

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