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O que é Bioética?

Bios, para os gregos, complementa-se com zoé, sendo que a vida fisiológica é também bios e vice-versa. Ethos é a
palavra que, para os gregos, refere-se ao estudo fundamental e filosófico da moral, pois é a própria palavra que
indica costumes e hábitos. A ética nada mais é que a fundamentação da moral, que está embasada nos costumes.
Portanto, a bioética é o ramo de estudo filosófico que busca a fundamentação ética do tratamento da vida em
seus mais variados aspectos.

A Bioética é uma área de estudo focada na influência de princípios morais e éticos na prática médica e na
pesquisa científica.

Os 4 princípios da Bioética
A Bioética tem quatro princípios que devem ser analisados para resolver dilemas éticos sobre atendimentos ou
tratamentos de saúde. Os princípios são autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça.

1. Autonomia
O princípio da autonomia determina que a vontade do paciente quanto aos tratamentos deve ser respeitada.
Sabendo disso, os profissionais de saúde devem agir respeitando esses princípios pessoais e morais.

O princípio tem algumas exceções, como: atendimentos urgentes em que há risco de morte, doenças que devem
ser obrigatoriamente notificadas ou quando o paciente não possui capacidade de decisão.

2. Beneficência
O princípio da beneficência determina que os tratamentos médicos devem ser aplicados considerando o máximo
de benefício com a menor quantidade de prejuízos.

A beneficência é a obrigação médica de fazer o que for melhor para o paciente, escolhendo os tratamentos que não
causem danos ou que causem o menor prejuízo possível.

3. Não-maleficência
Esse princípio se relaciona com a beneficência e determina que os profissionais de saúde devem fazer o possível
para evitar danos intencionais aos pacientes.

O objetivo é evitar que os pacientes tenham que lidar com outras dores ou prejuízos além dos que já existem como
consequências de sua condição de saúde.

Por exemplo, sempre que possível, deve-se evitar o uso de medicações que tenham efeitos secundários, que
causem dor ou outros prejuízos de saúde.

4. Justiça
O princípio da justiça determina que o acesso ao atendimento médico e aos tratamentos de saúde deve acontecer
de forma justa, observando-se as necessidades dos pacientes.

Define que os profissionais de saúde tratem todos os doentes com o mesmo cuidado e atenção, sem diferenças no
tratamento por questões sociais, culturais, étnicas, de gênero ou religiosas.

Também se refere à igualdade na avaliação dos tratamentos mais adequados a cada situação. Para isso, é preciso
considerar tanto os valores morais e éticos do paciente, como a realidade de sua saúde e a necessidade do
tratamento.

Qual a importância da bioética para a sociedade


Uma sociedade extremamente científica, com as mais variadas maneiras de modificação da vida em laboratório,
com a possibilidade de fertilização in vitro, de clonagem, de eugenia, com a utilização de animais em pesquisas e
para a alimentação, precisa de um amparo teórico para pensar em tais problemas. Em uma sociedade na qual o
sofrimento de um doente terminal pode ser encurtado ou o sofrimento de uma gestação indesejada pode ser
evitado, a bioética também serve para oferecer o aparato intelectual e fundamental para estabelecer-se
uma discussão justa sobre esses assuntos.
 É ético praticar o aborto e a eutanásia?
 É ético manipular genes em laboratório para melhorar a espécie humana?
 E quando a utilização desse meio tem uma intenção racista?
 E o sofrimento dos animais, deve ser levado em consideração?
A bioética, como quase tudo dentro da filosofia, não fornece respostas, mas fornece problemas e perguntas como
essas, que amparam uma discussão justa sobre tais temas.

Princípios da bioética
O filósofo Tom L. Beauchamp e o filósofo e teólogo James F. Childress podem ser considerados os primeiros
grandes estudiosos de bioética. Eles escreveram um tratado de bioética chamado Princípios de ética
biomédica, considerada obra fundamental por estabelecer os primeiros princípios de um trabalho bioético.
Eles dizem especificamente do tratamento médico, da utilização de seres humanos em pesquisas científicas e da
relação paciente e médico ou enfermeiro. No entanto, tais princípios podem ser estendidos a qualquer relação
bioética. No livro, os princípios levantados pelos filósofos são:
1. Princípio da não maleficência: nunca o paciente ou a cobaia de testes pode ser prejudicado. Existem
exceções, por exemplo quando um tratamento pode desencadear algum tipo de prejuízo, mas há, no fim,
um benefício maior e desejável.
2. Princípio da beneficência: o utilitarismo, corrente filosófica desenvolvida pela primeira vez pelos
filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill, diz que uma ação ética é aquela que provoca o
maior benefício ao maior número de pessoas, além de minimizar o dano. Para Beauchamp e Childress, uma
relação bioética não pode ser diferente. Profissionais de saúde e pesquisadores que utilizem a vida em suas
pesquisas devem ser utilitaristas.
3. Princípio da autonomia: toda pessoa busca a sua autonomia. Beauchamp e Childress buscaram essa ideia
de autonomia no filósofo iluminista alemão Immanuel Kant para defender que o paciente deve ser
autônomo e decidir se ele aceita ou não o tratamento médico proposto.
4. Princípio da justiça: recorrendo ao filósofo estadunidense contemporâneo John Rawls, Beauchamp e
Childress colocam a justiça como princípio para qualquer ação que se pretenda ética na manipulação da
vida. Buscar uma ação justa é fundamental para que qualquer tratamento da vida possa estabelecer-se
eticamente.

Temas da bioética
Os temas tratados pela bioética são os mais variados bem como são, em sua maioria, tabus de nossa sociedade. O
ser humano trata com estranheza e dificuldade algumas coisas de difícil resolução, como o aborto e a eutanásia.
Também tratam com estranheza alguns temas relacionados à pesquisa científica. Os tópicos seguintes dizem
respeito a temas estudados pela bioética:

 Médico e paciente/cientista e cobaia


Os princípios da bioética fundamentam uma relação que se suponha correta e eticamente fundamentada entre
cientista ou médico, que, por sua posição de autoridade, têm também um certo poder na relação com seus
pacientes ou cobaias, que são partes mais fracas nas relações de poder.

 Aborto
Filósofo australiano, Peter Singer é um dos principais estudiosos de bioética da atualidade. Em seu livro Ética
prática, Singer defende o aborto como uma prática que, se feita até a 12ª semana de gestação, não provoca
sofrimento ao feto e evita o sofrimento futuro da mãe de uma gestação indesejada e da criança que crescerá sem
condições materiais de existência.
A posição de Singer está baseada na ciência, na medicina e em algo que ele sempre coloca para fundamentar suas
decisões bioéticas: a senciência. Para o filósofo, a senciência é o ato de sentir dor e prazer, o que leva o indivíduo
a perceber-se como alguém no mundo. Diferente da consciência, que é a capacidade de pensar-se no mundo, a
senciência apenas sente.
O feto, até a 12ª semana de gestação, ainda não tem atividade cerebral, o que impossibilita a senciência e,
consequentemente, qualquer chance de sofrimento por parte daquele ser que foi, na maior parte do tempo,
um emaranhado de células embrionárias em crescimento.

 Utilização de células-tronco embrionárias


É possível retirar de um embrião abortado as células-tronco, que são como células que conseguem replicar
vários tecidos do corpo humano. Hoje existem tratamentos com células-tronco que retardam doenças
degenerativas, como esclerose múltipla, e recuperam partes significativas de tecidos cerebrais e nervosos
danificados, podendo até devolverem parte de movimentos de braços e pernas perdidos por pacientes que sofreram
lesões na coluna vertical.
Para capturar tais células, é necessário utilizar um embrião abortado ou gerado em laboratório sem fim
reprodutivo. Para algumas concepções religiosas, isso é um pecado. Para certas visões bioéticas, entre elas a de
Singer, é uma ação legítima que segue o princípio da utilidade.

 A eutanásia e o suicídio assistido


A palavra eutanásia vem do grego e significa, literalmente, boa morte. É a prática de encerrar-se uma vida que
sofre e que não tem (ou quase não tem) chance de recuperação de uma vida digna. A eutanásia é praticada em
animais domesticados, como cachorros, gatos e cavalos. Para encurtar o sofrimento de animais doentes ou
acidentados que não podem recuperar uma vida digna, o ser humano aplica neles uma morte digna e sem dor.
O suicídio assistido é uma espécie de eutanásia praticada por vontade própria, em que a própria pessoa que
sofre opta por uma morte digna para encerrar o sofrimento da vida indigna. A questão é: se nos animais é tão
normal, o que nos difere deles a ponto de obrigar-nos ao sofrimento e a uma vida indigna?
Peter Singer é um dos defensores da eutanásia e do suicídio assistido na atualidade. A legislação suíça permite o
suicídio assistido, e há, na Suíça, a primeira ONG (Dignitas) que presta auxílio a quem deseja acabar com o
próprio sofrimento.

 Direitos dos animais


Os animais têm direito à vida? Eles têm direito a uma vida livre, digna e sem sofrimento provocado por agentes
humanos? O ser humano pode utilizar os animais como se fossem objetos? Essas e outras questões a respeito da
utilização animal entram em cena quando falamos de bioética e direitos dos animais.
Peter Singer, por exemplo, defende o vegetarianismo e a abolição da utilização de animais em testes
laboratoriais e médicos. Essa visão pode conflitar com o princípio utilitarista de Beauchamp e Childress, visto
que a utilização de animais pode atender a um certo benefício humano. O aspecto conflitante deve ser debatido
para que se estabeleça até que ponto podemos utilizar os animais para nosso próprio benefício.

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