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RESUMO AULA 2

Bioética. Ética e sociedade. Ética do Estudante de Direito.

BIOÉTICA

"A Bioética é uma área de estudo interdisciplinar que envolve a Ética e a Biologia,
fundamentando os princípios éticos que regem a vida quando essa é colocada em risco
pela Medicina ou pelas ciências. A palavra Bioética é uma junção dos radicais “bio”, que
advém do grego bios e significa vida no sentido animal e fisiológico do termo (ou seja,
bio é a vida pulsante dos animais, aquela que nos mantém vivos enquanto corpos), e ethos,
que diz respeito à conduta moral.

Trata-se de um ramo de estudo interdisciplinar que utiliza o conceito de vida da Biologia,


o Direito e os campos da investigação ética para problematizar questões relacionadas à
conduta dos seres humanos em relação a outros seres humanos e a outras formas de vida.

Origem da Bioética
A Bioética surgiu na segunda metade do século XX, devido ao grande desenvolvimento
da Medicina e das ciências, que avançaram cada vez mais para a modificação da vida
humana e a promoção do conforto humano, bem como para a utilização de cobaias vivas
(humanas e não humanas). A fim de evitar horrores, como os que foram vividos dentro
dos campos de concentração nazistas e de técnicas médicas que ferissem os princípios
vitais das pessoas, surgiu a Bioética como meio de problematizar o que está oculto na
pesquisa científica ou na técnica médica quando elas envolvem a vida.

Importância da Bioética
A importância social da Bioética centra-se, justamente, no fato de que ela procura evitar
que a vida seja afetada ou que alguns tipos de vida sejam considerados inferiores a outros.
A Bioética discute, por exemplo, a utilização de células-tronco embrionárias em suas mais
diversas problemáticas, passando pela necessidade de abortar-se uma gestação para retirar
tais células e pelos benefícios que os tratamentos obtidos por esse recurso podem
promover para as pessoas.
Também é tratado por estudiosos de Bioética o respeito aos limites que devemos ter ao
lidar com animais, seja para o cuidado ou a alimentação, seja para a utilização comercial
deles, pois são seres vivos dotados de sentidos e capazes de sofrer.

Princípios da Bioética
Em Princípios de Ética Biomédica, Beauchamps e Childress estabelecem quatro
princípios básicos que devem nortear o trabalho bioético tanto para as ciências que
utilizam cobaias quanto para as técnicas biomédicas e médicas que lidam diretamente
com a vida. Esses princípios estão ligados a teorias éticas conhecidas e ganham um novo
contorno em suas formulações voltadas para a vida animal.

Princípio da não maleficência: consiste na proibição, por princípio, de causar qualquer


dano intencional ao paciente (ou à cobaia de testes científicos). A sua mais antiga
formulação pode ser encontrada no Juramento de Hipócrates, e, no século XX, ele foi
estabelecido como princípio bioético pelos estudiosos Dan Clouser e Bernanrd Gert.

Princípio da beneficência: pode ter seu gérmen encontrado no juramento hipocrático,


em que se é afirmado que o médico deve visar ao benefício do paciente. Beauchamp e
Childress vão além, estabelecendo que tanto médicos quanto cientistas que utilizem
cobaias devem basear-se no princípio da utilidade (o utilitarismo de Mill e Bentham),
visando a provocar o maior benefício para o maior número possível de pessoas.

Princípio da autonomia: tem suas raízes na filosofia de Immanuel Kant e busca romper
a relação paternal entre médico e paciente e impedir qualquer tipo de obrigação de cobaias
para com a ciência. Trata-se do respeito à autonomia do indivíduo, pois esse é o
responsável por si, e é ele que decide se quer ser tratado ou se quer participar de um estudo
científico.

Princípio da justiça: baseado na teoria da justiça, de John Rawls, esse princípio visa a
criar um mecanismo regulador da relação entre paciente e médico, a qual não deve ficar
submetida mais apenas à autoridade médica. Tal autoridade, que é conferida ao
profissional devido ao seu conhecimento e pelo juramento de conduta ética e profissional,
deve submeter-se à justiça, que agirá em caso de conflito de interesses ou de dano ao
paciente.
Temas da Bioética
A Bioética trata de temas muito delicados, muitas vezes considerados tabus. Há uma
dificuldade de estabelecimento de proposições únicas e últimas, pois existem, ao menos,
três grandes áreas do conhecimento que envolvem a Bioética e porque, enquanto ciência,
ela não pode se submeter à moral religiosa, que pode ser um obstáculo forte em questões
relativas à vida, principalmente a humana.

→ Médico e paciente x cientista e cobaia


É o principal ponto tocado pelos estudos de Beauchamp e Childress, que formulam a
solução principalista (que se baseia em uma ética de princípios) para os problemas
decorrentes.

→ Eutanásia e suicídio assistido


A tradução literal de eutanásia é “boa morte”. Eutanásia é o ato de encerrar a vida de
alguém que, incapacitado, está em situação de penúria e não pode decidir por si mesmo.
Quando um animal de estimação tem uma doença crônica progressiva ou ficou
gravemente sequelado por algum mal, os veterinários podem dar a eles a eutanásia para
encerrar o seu sofrimento.

O suicídio assistido é um tipo de eutanásia, mas aplicado por humanos que decidem tirar
a própria vida de maneira digna e assistida por pessoas que garantirão o não sofrimento
do paciente. Peter Singer baseia-se no respeito à dignidade humana e no direito à escolha,
que, para Beauchamp e Childress, podem ser representados pelo princípio da autonomia,
para afirmar a necessidade de serem respeitadas as escolhas individuais de cada sujeito e
a necessidade de olhar-se para a dignidade de uma vida que não vale a pena ser vivida.

→ Aborto
Singer defende o aborto de fetos com até três meses de gestação, período em que a
Medicina afirma não haver ainda atividade cerebral e, portanto, há a ausência completa
de sentidos. O aborto, antes dos três meses, seria apenas a interrupção do crescimento
celular dentro de um corpo. Para discutir sobre isso, Singer parte das noções de
consciência e de senciência (sentidos básicos e noção da presença no mundo pela dor e
pelo sofrimento).

→ Utilização de células-tronco
Partindo da utilidade e da beneficência, a utilização de células-tronco embrionárias é
eticamente viável quando visa ao tratamento e à melhoria da vida comum. A parte
polêmica desse tema é a necessidade de efetuar-se abortos para conseguir a extração de
células de embriões. A eticidade do aborto, nesses casos, baseia-se nos mesmos princípios
discutidos no tópico anterior.

→ Direitos dos animais


Singer escreveu o livro Libertação animal, que, entre outras coisas, discute os direitos dos
animais. Os animais são providos de níveis de senciência e, por isso, sofrem, sentem dor,
medo, fome etc. Isso é suficiente para notar que os animais não podem ser
indiscriminadamente utilizados pela indústria, tirando a dignidade de suas vidas. Singer
problematiza a alimentação humana que utiliza os animais como produtos e, mais
profundamente, introduz ao debate a utilização dos animais para testes científicos,
farmacêuticos e de cosméticos."

CONCEITO DE ÉTICA E SOCIEDADE:

É fato conhecido de que todos nós em algum momento dissemos saber o significado de
ética. Porém, quanto mais pensamos no assunto, verificamos o quanto torna-se algo difícil
tentar explicá-la, principalmente quando somos questionados.
A ética é conjunto de costumes e valores que diversas culturas construíram ao longo
tempo e espaço nas sociedades humanas.
Dentro de aspecto de abrangência: A Ética, ela nasce da necessidade humana de criar
valores e hábitos para que assim possamos viver pacificamente em comunidade.
A política para Aristóteles seria o regulador/mediador dessas normativas que irá definir
o certo ou errado, o justo e o injusto, o moral do imoral. Dentro da premissa Aristotélica
a éthos (ética), ou seja, os costumes e hábitos de um povo, são reguladas através das leis
e mediada pela política.
Aristóteles argumenta: “A lei só tem força para se fazer obedecer no hábito, e o hábito só
se forma com o tempo, com os anos. Assim, mudar com facilidade as leis existentes por
outras novas é enfraquecer a sua própria força”.
O filósofo ainda menciona o papel do homem na sociedade diferindo do animal em estado
de natureza. Também manifesta conceito de “igualdade entre os homens”, contudo, esta
visão não enquadrava, estrangeiros, mulheres, “bárbaros”, escravos sejam eles,
“naturais”, pois, “nasceram neste estado” dos cativos por guerras ou dívidas.
Logo, a visão Aristotélica de Igualdade e Democracia estavam limitadas ao Grego de
nascimento, ricos e geralmente pertencente a uma classe social privilegiada (eupátridas).
Desta perspectiva nascem novas questões e dúvidas pertinentes a nossa sociedade como:
o meio ambiente, biodiversidade, multiculturalismo, bioética nos avanços científicos, o
uso das novas tecnologias, e a inter-relação entre tecnologia e política. Esses conceitos
estão entrelaçados com valores como bem, virtude e caráter.
Deste modo, sempre retornaremos a Aristóteles, por sermos seres, que revisita sua história
e questiona seus avanços e retrocessos. Porém, conceitos Aristotélicos de Igualdade
“apenas para homens gregos ricos” e de Democracia “para poucos” foram aos poucos
deixado de lado.

CONCLUSÃO:

Toda cultura humana se preocupou com a preservação de seus valores e dos cuidados que
devem a elas. Uma vez que nós vivemos em sociedade e para que assim continuemos
precisamos aprender a conviver em comunidade
Neste sentido não existe o termo “ética” no singular, afinal, todas sociedades procuraram
definir suas normas (Leis), para mediar o correto e incorreto dentro da comunidade.
Mas “éticas” no plural. Significando que todas as culturas ao longo dos séculos e em
diferentes lugares construíram diferentes alicerces para nortear as noções de certo ou
errado; bem ou mal, justiça e injustiça dentro de uma sociedade.

A ÉTICA DO ESTUDANTE DE DIREITO

O estudante de Direito optou por uma carreira cujo núcleo é trabalhar com o certo e com
o errado. Ele tem responsabilidade mais intensificada, diante dos estudantes destinados a
outras carreiras, de conhecer o que é moralmente certo e o que vem a ser eticamente
reprovável. Alguma ética todo jovem possui. Mesmo que seja a ética do deboche, ou a
ética do desespero, a ética do resultado ou a ética do deixa disso. Na Faculdade de Direito
ele desenvolverá essa formação ética inicial e, depois de cinco anos, queira-se ou não,
estará ele entregue a um mercado de trabalho com normativa ética bem definida.
Os advogados têm Código de Ética; juízes e promotores também. E, até há pouco, nada
ouvia o estudante quanto à ciência dos deveres em seu curso. Os Tribunais de Ética da
OAB vêm enfrentando inúmeras denúncias de pessoas prejudicadas por seus advogados.
Avolumam-se as queixas, multiplicam-se as apurações. Tudo isso por não haver a Escola
de Direito, até há bem pouco tempo e com as honrosas exceções de sempre, se preocupado
seriamente com a formação ética dos futuros profissionais.
Seria ilusão pueril acreditar-se que o salto qualitativo nas carreiras jurídicas, vinculado
ao incremento ético de seus integrantes, decorra de um processo de aperfeiçoamento
espontâneo da comunidade. A decantação dos maus costumes para ver aflorar os bons
não tem sido a regra na história das civilizações.
Há razões para muito ceticismo e, até, para certo pessimismo. O momento de se pensar
seriamente em ética era ontem, não amanhã. O futuro cobrará do profissional posturas
cujo fundamento ele não entenderá perfeitamente e de cuja experiência não dispõe, pois
nada se lhe transmitiu ou cobrou. Todo professor experiente já ouviu indagações de seu
alunado de Direito que chegam a chocar, tal o despreparo.
Poucas as vocações alertadas do que significa estudar Direito e qual o compromisso
assumido por quem ingressa na Faculdade de Ciências Jurídicas. Só o estudo aprofundado
e a meditação consequente sobre a ética profissional é que poderá fazer frente a essa
situação nova.
Ainda é tempo, embora se faça a cada dia mais urgente, de propiciar uma reflexão crítica
sobre a ética e de envolver a juventude nesse projeto digno de reconstrução da
credibilidade no Direito e na Justiça. O entusiasmo da mocidade e o convívio com
heterogeneidades próprias à atual formação jurídica são propícios a fornecer aos mais
lúcidos os instrumentos de sua conversão em profissionais irrepreensivelmente éticos, se
os responsáveis pela educação jurídica se compenetrarem de que o ensino e a vivência
ética não constituem formalismo. A inclusão da disciplina Ética Geral e Profissional no
currículo das Faculdades de Direito surgiu do reconhecimento de que os patamares de
legitimidade das carreiras jurídicas, em virtude das denúncias disseminadas e ampliadas
pela mídia, chegaram a níveis insuspeitados.
O momento, agora, é o da reversão. Para isso, a juventude também há de ser conclamada
e as lideranças acadêmicas precisam se conscientizar de que mais importante do que
promover as tradicionais Semanas Jurídicas, delas se reclama um investimento na
formação de um profissional ético, em quem se possa confiar.

Deveres para consigo mesmo


Os princípios que regem a conduta humana devem contemplar, em primeiro lugar, os
deveres postos em relação à própria pessoa. Não se fale em ética para consigo mesmo,
que ética é algo a ser cultivado em relação aos outros. Ninguém contesta a existência de
deveres para com a própria identidade. Assim o dever de subsistir, ínsito ao instinto de
sobrevivência, o dever de se manter corporal e espiritualmente hígido, o dever de higiene
pessoal e o de se apresentar em condições compatíveis com o local, momento e
circunstâncias.
As Faculdades de Direito de antigamente eram reflexos da solenidade que imperava na
atuação judicial. Os alunos frequentavam aulas de paletó e gravata e se portavam como
futuros operadores. As transformações da sociedade, vieram a gerar um fenômeno visual
na maior parte das Faculdades.
Todavia, mais importante do que a forma é o conteúdo. A criatura humana é destinada à
perfectibilidade. Todos podem tomar-se cada dia melhores. Melhor seria dizer: uma vida
só se justifica se o compromisso de se tomar cada dia um pouco menos imperfeito vier a
ser um projeto sério. Essa é uma proposta individual que depende apenas de cada
consciência. Ao se propor a estudar Direito, o estudante assume um compromisso: o de
realmente estudar.

Relacionamento com os colegas


O companheirismo acadêmico é sempre espontâneo e prazeroso. Os anos passados na
Universidade podem ser considerados dentre os mais felizes na vida de qualquer
profissional. Costuma-se recordar com saudades desse tempo que, enquanto transcorre, é
célere e inconseqüente.
Interessar-se pelo colega leva também ao dever ético de solidariedade. A ausência de um
companheiro durante alguns dias deve motivar a indagação da classe e a sua proposta de
auxiliá-lo a enfrentar eventual problema.
A virtude, em todas essas hipóteses, é geradora de consistente satisfação naquele que se
dispôs a abrir-se ao convívio. Ela dá prazer enorme a quem a pratica. Envolver-se na
tentativa de mitigar a carga alheia de problemas é remédio para o trato da sua própria cota
de infelicidade. E o treino durante a Universidade não é senão experiência adquirida para
um saudável exercício profissional pouco adiante.

O estudante e a sociedade

Todo estudante é um devedor, inicialmente insolvente, da comunidade por ele integrada.


Para assegurar-lhe vaga no sistema reconhecido de educação regular, ela investiu
consideravelmente. Num país de escassos recursos ante inesgotáveis necessidades, outros
bens da vida foram sacrificados para garantir essa oportunidade de conclusão do ciclo
normal de formação.
Todo estudante pode melhorar seu país, mesmo antes de se formar, participando de
projetos de promoção humana, integrando-se a serviços voluntários tendentes ao resgate
dos excluídos, atuando decisivamente na fixação dos rumos da conduta dos titulares de
funções públicas.
O estudante de Direito tem grande poder e a História está pontuada de episódios heróicos
em que a luta dos acadêmicos serviu à defesa da democracia, da liberdade e da ordem
jurídica. O Brasil está a viver uma tênue experiência democrática, de futuro ainda
condicionado ao êxito da estabilização econômica. Por isso toda atuação acadêmica
tendente ao fortalecimento democrático é bem-vinda.
Frequentar aulas, estudar, fazer trabalhos, pesquisar e se submeter a avaliações é o
mínimo ético reclamado ao universitário. Mais do que isso, ele precisa ingressar na vida
política, num sentido bastante amplo, favorecendo com as luzes de seu conhecimento e
com o entusiasmo de sua juventude, a consecução de objetivos propiciadores de um futuro
cada vez mais digno à sua Pátria.

SITUAÇÃO PROBLEMA

Juiz convidado a assessorar um ministro da mais alta corte do país durante o julgamento
do artigo 5º da Lei de Biossegurança. Você vai, durante a elaboração do seu voto que
analisa a alegação de inconstitucionalidade do uso de célulastronco embrionárias para
pesquisas científicas, identificar de que forma a bioética lhe ajudará a acolher entre a tese
do autor e a tese do requerido, ambas fundadas em lei vigente. Para que possamos resolver
a situação-problema apresentada, decidir se deve ser aplicada a concepção de vida do
Código Civil ou a concepção de vida da lei de transplantes de órgãos.
O julgamento Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) da Lei de Biossegurança trazia
uma situação de estranhamento com a realidade (que se tornou nova a partir da evolução
da ciência) e uma expectativa de que dogmas e crenças não influenciassem o seu processo
decisório, bem como que você não se deixasse levar por falhas de raciocínio lógico ao
analisar as alegações apresentadas. Esses casos são conhecidos como hard cases por
possuírem tais características.

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