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BIOÉTICA

Aula 1 - Introdução à Bioética, Conceitos e Evolução


A Bioética é a ética aplicada que busca promover o diálogo entre todas as
disciplinas, facilitando o enfrentamento de conflitos e questões (bio)éticas
que surgirão na vida profissional. Sem os conceitos básicos, os
profissionais terão dificuldades de assumir uma postura ética. Seu objetivo
é facilitar o enfrentamento de questões conflituosas.
Vamos juntos embarcar nesse universo de conhecimento bioético
fundamental para estabelecer o diálogo e ajudar a tomar decisões mais
assertivas no cuidado em saúde?
Ao final da leitura, você deverá ser capaz de responder às perguntas: “Será
que minha conduta profissional está fundamentada em princípios
bioéticos?” ou “O que os pesquisadores fizeram durante a segunda guerra
com as pessoas foi correto?”
Conceito de bioética
A Bioética é uma ética aplicada. Segundo Singer também é chamada de
“ética prática” (1994), cujo objetivo é propor soluções para os conflitos e
dificuldades morais relacionadas nas práticas das Ciências da Vida e da
Saúde do ponto de vista da ética.
A bioética, devido seu caráter inter, multi e transdisciplinar, permeia por
diversos saberes e disciplinas permitindo inúmeras definições dependendo
do contexto, autor, tradição, cultura e o objetivo do estudo. Vamos pensar e
refletir sobre a definição citada abaixo:
“Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão
moral, decisões, conduta e políticas - das ciências da vida e atenção à
saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas em um cenário
interdisciplinar” (Reich WT. Encyclopedia of Bioethics. 2nd. ed. New
York; MacMillan, 1995: XXI).
A bioética (“ética da vida”) pode ser definida também como a ciência “que
tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do
homem sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente
proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações” (LEONE;
PRIVITERA; CUNHA, 2001). Vejamos um pouco sobre o histórico da
bioética para entender melhor.
Histórico da bioética
O termo bioética foi utilizado pela primeira vez por Fritz Jahr em 1927, que
conceituou a bioética como sendo o reconhecimento de obrigações éticas,
não apenas com relação ao ser humano, mas para com todos os seres vivos
(GOLDIM, 2007).
Em 1936 Albert Schweitzer (1875-1965), publicou um texto Ethics of
Reverence for Life (Ética da reverência para a vida) apresentando os
fundamentos para o pensamento bioético. Reflita sobre as palavras de
Schweitzer:
“Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja
animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes”
(SCHWEITZER, Albert. The ethics of reverence for life. Christendom,
v. 1, n. 2, p. 235, 1936, tradução feita pela autora)

A Bioética e a pesquisa em seres humanos


Durante muitos séculos, desconheciam as normas para condução e
realização de pesquisas com animais e seres humanos. No campo
científico, especificamente aquele envolvido em pesquisa com seres
humanos, o bem-estar das pessoas que se submetem às pesquisas deve
sempre prevalecer sobre aos interesses da ciência e mesmo da sociedade.
As pesquisas eram realizadas de forma antiética e eram justificadas pelo
progresso da ciência.
“O imperativo moral nas pesquisas em seres humanos é considerar a
dignidade humana” (URBAN, C. A. Aspectos Clínicos e Bioéticos no
tratamento do câncer de mama, cap. 1, in ADAMI e CHEMIN. Câncer de
mama e a bioética: clínica, cuidado e prevenção. Curitiba: Prismas,
2016, p 38.
Durante a Segunda Guerra Mundial os experimentos em seres humanos
eram largamente utilizados, principalmente pela Alemanha. Foram usados
judeus, escravos, negros e ciganos como cobaias humanas, pois
considerava-os como raça inferior.
Após o final da guerra, devido as investigações dos campos de
concentração, ficaram expostas todas as atrocidades e horrores que foram
cometidas durante esse período. Esses fatores levaram à criação de
diversos documentos internacionais, como a Declaração de Nuremberg,
que é a primeira normatização sobre ética em pesquisa envolvendo
seres humanos, resultado do julgamento dos crimes nazistas cometidos
contra a humanidade. Sua revisão em 1964 resultou na Declaração de
Helsinque, documento de referência internacional, que estabelece
diretrizes para as pesquisas médicas de modo a preservar a integridade
física e moral dos voluntários.
Mesmo assim, até a década de 60, esses conceitos ainda continuaram a ser
questionados e fortemente criticados, porque já tinham acontecidos casos
muito graves e continuavam a realização de estudos; alguns casos se
tornaram muito famosos, como o desastre de Lübeck e Caso Tuskegee.
O desastre de Lübeck ocorreu na Alemanha em 1930, onde foram
realizados testes de vacinas em crianças. Devido a um erro no processo de
inativação, essas vacinas continham ainda cepas virulentas, o que levaram
ao desenvolvimento de tuberculose em 251 crianças, além de terem
ocasionado morte em 75 crianças e causando efeitos adversos em 135
crianças. Além disso, os pais não tinham conhecimento que seus filhos
estavam sendo utilizados em estudos.
Caso Tuskegee foi um estudo realizado nos Estados Unidos entre 1932 e
1970, com o objetivo de avaliar a evolução natural da sífilis. Foi utilizada
uma amostragem de 600 negros norte-americanos, 399 com a doença e 201
sadios. Os benefícios oferecidos aos participantes foram alimentação e a
garantia de terem um velório e enterro bancados pelos pesquisadores.
Durante esse estudo já existia o tratamento para sífilis, que era penicilina, o
mesmo foi NEGADO aos participantes infectados e cerca de 30 pessoas
morreram durante o estudo.
Contudo, foi só a partir da década de 1970 que a bioética veio se reafirmar
e se consolidar quando Potter publicou o livro Bioethics: a bridge to the
future, recentemente traduzido para o português: Bioética ponte para o
futuro (2016). Para Potter, bio representava o conhecimento biológico, a
ciência dos seres viventes, e ética, o conhecimento dos valores
humanos. Seu objetivo era prolongar a sobrevivência da espécie humana
numa forma aceitável de sociedade (OLIVEIRA, 1997).
"Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois
componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é
tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores
humanos.” (Van Rensselaer Potter, Bioethics. Bridge to the future. 1971).
No Brasil, a Bioética veio ganhar força na década de noventa e cresceu
significativamente, pois muitos estudiosos e pesquisadores renomados têm
se dedicado ao estudo das questões bioéticas conseguindo alcançar uma
admiração e respeitabilidade internacional. Além disso, universidades do
Brasil têm incluído em suas grades curriculares a bioética, pois estão
preocupadas com a formação de futuros profissionais de campo
relacionados às ciências da vida e da saúde (GARRAFA e PESSINI, 2003).
Considerações finais
A bioética representa uma proposta de tolerância e esperança para a
pluralidade moral da humanidade nas suas diferenças de valores, em todos
os campos relacionados às ciências da vida.
A bioética surgiu como uma ponte. Devido seu caráter transdisciplinar, é
um instrumento valioso e indispensável para o diálogo que envolve
questões éticas na área de saúde.
Questões para Simulado:
1. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO) - Enfermeiro -
CESGRANRIO (2019)
A Bioética tem como objetivo facilitar o enfrentamento de questões
éticas/bioéticas, auxiliando o profissional no cuidar de maneira ética. O
princípio bioético que se aproxima da equidade é o de
A. autonomia
B. justiça
C. dignidade humana
D. beneficência
E. não maleficência
2. Prefeitura Municipal de Resende - Agente Comunitário de Saúde -
CONSULPAM (2019)
A ética é construída por uma sociedade com base:
A. Na genética das pessoas, que se passa por geração, como se estivesse no
próprio DNA da pessoa. F
B. Na educação formal e tradicional que é dada nas escolas.
C. Nas muitas disciplinas ministradas nas universidades e outras
instituições de ensino superior.
D. Em um conjunto de valores positivos, históricos e culturais, apreendidos
em casa, na escola, no trabalho e na vida social. V
Slides Aula 1
Bioética (Bio=Ethik): como o surgimento de obrigações éticas não apenas
com relação aos seres humanos, mas a todos os seres vivos.
Van Renssealaer Potter (1970):
“Nós temos uma grande necessidade de uma ética na Terra, uma ética para
a vida selvagem, uma ética de populações, uma ética de consumo, uma
ética urbana, uma ética internacional, uma ética geriátrica e assim por
diante. Todas elas envolvem a bioética”.
Combinação da biologia com conhecimentos humanísticos diversos,
constituindo uma ciência que estabelece um sistema de prioridades médicas
e ambientais para a sobrevivência aceitável.
BIO = VIDA
ÉTICA = VALORES MORAIS E PRINCÍPIOS IDEAIS DO
COMPORTAMENTO HUMANO
“Estudo sistemático das dimensões morais, incluindo visão, decisão,
conduta e normais morais das ciências da vida e do cuidado da saúde,
utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto
interdisciplinar”.
Dimensão pluralista, aberta e multifacetada.
Não é uma disciplina isolada = envolve questões da vida relacionadas com
diversas áreas: biologia, filosofia, nutrição, medicina, política, direito,
ecologia, sociologia, teologia e antropologia.
Aplicada à vida humana e não humana = abrange questões relacionadas
com o meio ambiente e o trato com os animais.
Elucidar e refletir acerca das soluções para questões éticas provocadas,
principalmente, pelo avanço das tecnociências biomédicas.
Critério ético fundamental = Respeito ao ser humano, aos seus direitos; a
seu bem-estar = dignidade da pessoa humana.
Acontecimentos e Segunda Guerra Mundial
1931 – “Diretrizes para novas terapêuticas e a pesquisa em seres humanos”
(Alemanha).
Mais precisas e restritivas aos padrões técnicos e éticos da pesquisa.
 Justificativa sobre mudanças no projeto inicial;
 Análise sobre possíveis riscos e benefícios;
 Justificativa para pesquisa em pacientes vulneráveis;
 Obrigação de manter documentação escrita referente às pesquisas.

1933 – 1945: Período nazista e 2ª. Guerra Mundial


 Inclusão progressiva das instituições médicas na formulação e
realização das políticas públicas eugenistas e racistas;
 Destinação de recursos públicos à pesquisa científica envolvendo
indivíduos não portadores de enfermidades que iriam ser
investigados;
 As práticas de pesquisa consistiam em provocar a doença em
indivíduos para que pudesse ser investigada.
 Os pacientes eram internados em hospitais psiquiátricos, asilos ou
penitenciárias.
1933 – Lei sobre a esterilização = prevenção contra uma descendência
“hereditariamente doente”.
1935 – Lei da Cidadania do Reich = “Lei para proteção do sangue e honra
alemães”
 Populações judias e ciganas;
 Interdição dos casamentos entre pessoas.
1939 – Circular sobre a eutanásia de doentes considerados incuráveis.
 Vidas que não valiam a pena serem vividas;
 Criação de 6 institutos;
 Morfina ou sufocamento em câmaras de gás (monóxido de carbono e
inseticida);
 Decisão dos médicos.
Criação dos campos de extermínio:
 Participação dos médicos e juristas no planejamento e execução
desses programas;
 “Legitimidade” científica e moral
 Organizados pelos responsáveis pelo programa de morte por
eutanásia;
 Violação do princípio do consentimento voluntário (diretrizes de
1900 e 1931);
1945: Fim da Segunda Guerra Mundial e das atrocidades nazistas.
1946: Tribunal de Nuremberg = tribunal militar internacional.
1947: Julgamento dos médicos nazistas no Tribunal de Nuremberg.
 Foram levantadas questões éticas sobre a experimentação com
seres humanos.

1947: Código de Nuremberg


 Primeiro documento internacional sobre a pesquisa em seres
humanos;
 Consentimento livre e esclarecido;
 Liberdade para desistir a qualquer momento;
 Teste em animais;
 Relação risco/benefício favorável;
 Pesquisadores qualificados, metodologia adequada.
Aula 02 - Os Princípios Bioéticos
A bioética através de sua proposta dialógica lança mão de princípios que
norteiam na deliberação e tomada de decisão. Os princípios bioéticos foram
propostos pela primeira vez para direcionar as pesquisas em seres humanos
em 1978, no Relatório de Belmont. Logo em seguida, Beauchamps e
Childress, em sua obra Principles of biomedical ethics (Princípio para ética
médica), incluíram esses princípios para a saúde humana, estendendo para
a prática nos serviços de saúde.
Os princípios bioéticos: Autonomia, Beneficência, Não maleficência e
Justiça são largamente utilizadas nos conflitos e dilemas éticos, sendo
vistos como instrumentos essenciais na tomada de decisão.
Ao final da leitura, você deverá ser capaz de responder às perguntas: “O
que significa respeitar a autonomia das pessoas?” ou “Eu estou sendo
justo?”, “Qual o significado de beneficência e não maleficência?”
Aula 2 – Princípios da Bioética
1. Beneficência
O primeiro princípio a ser considerado é o da beneficência, que significa
fazer o bem.
Mas o que é o bem?
Fazer o bem pode ser entendido como não promover o mal. Significa
priorizar os cuidados em relação ao paciente, fazendo o que lhe atrai e o
que lhe satisfaz, aliviando sua dor e cuidando de sua doença e/ou patologia,
oferecendo os medicamentos, os quais o ajudarão a recuperar seu estado
saudável.
A beneficência pode ser entendida ainda como as medidas adotadas pelos
profissionais de saúde para cuidar do paciente de forma integral,
considerando sua totalidade em todos os aspectos físicos, psicológico,
social e espiritual, visando oferecer o melhor tratamento, respeitando sua
dignidade e escolhas (CAMARGO, 2013).
Os profissionais de saúde devem, antes de qualquer coisa, desejar e fazer o
melhor para o paciente, ajudando-o a sair do processo patológico e
recuperar a saúde.
2. Não maleficência
Esse princípio significa não fazer o mal, não causar danos. Devemos partir
sempre de que o objetivo dos profissionais de saúde é sempre ajudar o
paciente e estes nunca deverão causar danos, de forma alguma, aos
pacientes.
Esse princípio se fundamenta nos dizeres de Hipócrates que traz: jamais
prejudicar o enfermo, então diante de qualquer decisão deve levar sempre
em consideração a promoção do bem e preservação da vida. Fique atento:
A beneficência e não maleficência são dois princípios que se
complementam, pois um promove o bem e outro evita prejuízos, sempre no
sentido de proteger e promover a saúde e bem-estar do paciente.
3. Autonomia
Esse princípio é de fundamental importância, pois é ele quem estabelece
uma parceria entre profissionais de saúde e o paciente. Segundo esse
princípio, os pacientes apresentam total poder de decisão sobre sua vida e
escolhas a respeito do tratamento. Fique atento:
A autonomia consiste na capacidade que uma pessoa possui de definir,
gerenciar e traçar metas segundo sua vontade, no exercício do seu livre
arbítrio, sem influência de outras pessoas.
Esse princípio se resguarda na Declaração Universal dos Direitos Humanos
em 1948, que traz claramente que todos os seres são livres. John Stuart
Mill (1806-1883) já dizia que: “sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua
mente, o indivíduo é soberano”.
Atualmente tem sido considerada a constante busca pela autonomia ou
liberdade. Podemos citar, por exemplo, o Código de Defesa do
Consumidor, que garante proteção e cuidados nos serviços de saúde, além
disso, a própria constituição assegura que todo ser é livre e tem direito à
autonomia e saúde (CAMARGO, 2013).
Mas, para que as pessoas possam exercer sua autonomia com consciência,
elas precisam ser informadas de forma correta e adequada para que
conscientes possam tomar as melhores decisões, principalmente em relação
à sua doença e/ou patologias, afinal quem não é da área de saúde é
necessário explicar de forma clara, utilizando termos compreensíveis, para
que as pessoas possam entender e, assim, sem pressão, possam, no uso de
sua liberdade, decidir o que acham melhor para sua saúde (SILVA e
REZENDE, 2017).
4. Justiça
O quarto princípio a ser considerado é o princípio de justiça. Esse princípio
foi proposto, devido à grande dificuldade da saúde pública, em atender às
necessidades de todos, de forma justa e equitativa. Este princípio se refere à
igualdade de tratamento e à justa distribuição das verbas do Estado para a
saúde, à pesquisa e outros serviços. Atrelado ao princípio da justiça, está
um princípio do SUS (Sistema Único de Saúde) que é a equidade, que
significa tratar os diferentes de forma diferente, simplesmente não dá para
tratarmos todos iguais, sendo que pessoas especiais merecem e requerem
um tratamento especial. Pois suas necessidades são diferentes (SILVA e
REZENDE, 2017).
De acordo com o princípio da justiça, é preciso respeitar com
imparcialidade o direito de cada um. Não seria ética uma decisão que
levasse um dos personagens envolvidos (profissional ou paciente) a se
prejudicar.
Princípio da Justiça
É também, a partir desse princípio, que se fundamenta a chamada objeção
de consciência, que representa o direito de um profissional de se recusar a
realizar um procedimento, aceito pelo paciente ou mesmo legalizado.
Todos esses princípios (insistimos que eles devem ser nossas “ferramentas”
de trabalho) devem ser considerados na ordem em que foram apresentados,
pois existe uma hierarquia entre eles. Isso significa que, diante de um
processo de decisão, devemos primeiro nos lembrar do nosso
fundamento (o reconhecimento do valor da pessoa); em seguida,
devemos buscar fazer o bem para aquela pessoa (e evitar um mal!);
depois devemos respeitar suas escolhas (autonomia); e, por fim,
devemos ser justos (CAMARGO, 2013).
Abordagens distintas propostas por pesquisadores acerca da Bioética:
Quando falamos em bioética, os quatro princípios, referenciados acima,
auxiliam nortear situações de enfrentamento e propor soluções baseadas no
diálogo, mas não podemos considerar que somente esses 4 princípios
seriam suficientes para embasar todas as questões bioéticas e situações que
possam surgir no exercício da profissão de saúde.
Assim, alguns pesquisadores propuseram que deve considerar a vida como
o bem mais precioso baseado na moral cristã, outros trazem o termo
santidade da vida denotando a absoluta inviolabilidade da vida humana
(JOHNSTONE, 1963), integridade das pessoas focando na totalidade do
ser, logo surgiu a totalidade na qual considera que as partes existem para
formar o todo (CAMARGO, 2013).
A qualidade de vida também é considerada de grande importância dentro
da bioética, pois reflete a plenitude nos aspectos fisiológicos, psicológicos
e emocionais.
A defesa da vida física inclui a importância da promoção e preservação da
vida para que consiga realizar todas suas atividades com precisão.
Outros fatores a serem considerados são a liberdade e a responsabilidade,
onde a liberdade é a capacidade de escolher os melhores meios para a
própria realização como pessoa (CAMARGO, 2013), nós somos livres para
viver e fazer nossas escolhas, mas temos que estar cientes da
responsabilidade pelos desdobramentos de nossas escolhas.
Assim, são diversas as abordagens propostas por pesquisadores acerca da
bioética, mas todas elas se fundamentam essencialmente na preservação e
promoção da vida.
Considerações Finais
Agora que você já sabe que os princípios bioéticos auxiliam de forma
efetiva a tomada de decisão diante dos conflitos, eles agem como
ferramentas, os quais ajudarão os profissionais de saúde a nortearem suas
decisões.
O princípio da beneficência se baseia na promoção do bem, enquanto a não
maleficência foca em não fazer o mal. Já o princípio da autonomia leva em
consideração as escolhas e decisões dos pacientes, respeitando-os, e o
princípio da justiça baseia-se na justiça e igualdade para todos, onde todos
devem ter os mesmos direitos de atendimentos de saúde, e se necessário
devem ser consideradas as peculiaridades de cada um.
Neste tema, você teve a oportunidade de:
Compreender os fundamentos da Bioética, correlacionando conceitos,
princípios éticos e legais que auxiliam na prática do profissional de saúde.
E ainda foi capaz de comparar entre os diferentes modelos explicativos
utilizados na Bioética propostos por pesquisadores.
Aula 02 - Slides
Principialismo
Publicação do livro “Principles of Biomedical Ethics” – Beauchamp e
Childress (1979).
Texto de referência para o Principialismo.
Além dos princípios relacionados à experimentação com seres humanos
(Relatório de Belmont), apresentou princípios da prática clínica e
assistencial.
Princípios da Bioética
Princípios: 1. Respeito à autonomia
2. Não-Maleficiência
3. Beneficiência
4. Justiça
 Princípios básicos, evidentes e incontestáveis que fundamental a vida
moral;

 Obrigatórios em uma primeira consideração


Deveres “Prima Facie”
 Devem ser cumpridos, a não ser que entrem em conflito com outro
dever igual ou mais forte, em uma situação particular.

 Quando comparados entre si podem ser priorizados de acordo com a


circunstância.

 Quando ocorre um conflito entre deveres deve ser tomada a


decisão sobre qual desses princípios deve ser tomado como
prioritário.
Princípio da Autonomia
 Respeito à pessoa autônoma:

 Capaz de deliberar e agir de acordo com as suas


convicções.
 Considerar suas opiniões e escolhas e evitar a obstrução
de suas ações.

 Proteção às pessoas com autonomia diminuída.

 Indivíduos mentalmente comprometidos, pessoas


institucionalizadas (prisioneiros), etc.
Autonomia = capacidade de pensar, decidir e agir de modo livre e
independente.
John Stuart Mill (1806-1883): “Sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua
mente, o indivíduo é soberano”.
Princípio da Beneficência
Beneficência = fazer o bem
 Obrigação moral de agir para o benefício do outro:

 Deve-se fazer o bem ao outro independente de desejá-lo


ou não.
“Usarei o meu poder para ajudar os doentes com o melhor da minha
habilidade e julgamento; abster-me-ei de causar danos ou de enganar a
qualquer homem com ele.”
Hipócrates (430 a.C.)
Princípio da Não-Maleficência
 Não causar dano intencional, não prejudicar.
“Usarei o meu poder para ajudar os doentes com o melhor da minha
habilidade e julgamento; abster-me-ei de causar danos ou de enganar a
qualquer homem com ele.”
Hipócrates (430 a.C.)

“Pratique duas coisas ao lidar com as doenças: auxilie e não prejudique o


paciente”.
Auxilie = Princípio da Beneficiência.
Não prejudique = Princípio da Não-Maleficiência.
Princípio da Justiça
 Justiça distributiva = distribuição justa, equitativa e apropriada na
sociedade, de acordo com as normas que estruturam os termos da
cooperação social.

 Distribuição de benefícios e encargos de acordo com suas


propriedades ou situações particulares.
Os quatro princípios, com a sua formulação elementar, proporcionam uma
linguagem clara e acessível, mesmo aos leigos, para o debate das questões,
a deliberação e a decisão.
Questões para Simulado:
Questão 1. Universidade Federal do Ceará (UFC) - Enfermeiro - CCV-
UFC (2019)
A pesquisa envolvendo seres humanos deverá ter como base quatro
princípios básicos da bioética definidos abaixo:
I. Capacidade de decisão, liberdade e direito de autogovernar-se;
II. Respeito a equidade dos indivíduos;
III. Fazer o bem, cuidar e favorecer a qualidade de vida;
IV. Não causar mal e/ ou danos ao paciente de forma intencional.
Marque a opção que apresenta a ordem correta de definição destes
princípios:
A I - Autonomia, II - Justiça, III - Beneficência e IV - Não Maleficência.
B I - Beneficência, II - Autonomia, III - Não Maleficência e IV - Justiça.
C I - Autonomia, II - Justiça, III - Não Maleficência, e IV - Beneficência
D I - Justiça, II - Não Maleficência, III - Beneficência e IV - Autonomia.
E I - Justiça, II - Não Maleficência, III - Autonomia e IV - Beneficência.
Questão 2. Secretaria de Estado da Saúde - Pernambuco (SES-PE) -
Enfermeiro Cardiologista - Instituto AOCP (2018)
A Bioética, ou ética da vida, compreende o estudo sistemático e
multidisciplinar da conduta humana na área das ciências biológicas, à luz
dos valores e princípios morais. Assinale a alternativa que apresenta os
princípios fundamentalistas da Bioética.
A. Equidade, universalidade e integralidade.
B. Integralidade, justiça, autonomia, não maleficência.
C. Universalidade, justiça, autonomia e não maleficência.
D. Justiça, autonomia, beneficência e não maleficência.
E. Justiça, integralidade, beneficência e não maleficência.
Aula 3 – Ética
A ética está relacionada com a coerência entre o discurso e as ações, para
manter uma relação estreita entre o pensamento, verbalização e ação, esses
devem manter uma concordância e expressarem o mesmo sentido.
Assim, as teorias éticas, com a ajuda da bioética, auxiliam o profissional de
saúde, diante de um conflito, a refletir sobre as possíveis soluções do
problema estabelecendo uma livre comunicação e diálogo, levando em
consideração o dever e a justiça, tendo como objetivo e finalidade o bem
comum.
Convido a todos a promover uma reflexão sobre as teorias éticas e
estabelecer uma relação com os possíveis conflitos, que possam surgir no
exercício da profissão, juntamente com juízo de valor e de fato.
Ao final da leitura, você deverá ser capaz de responder às perguntas: “Eu
estou sendo ético?” ou “Qual a minha relação com os pacientes?”, “Estou
agindo de acordo com o que falo e exijo dos outros?”
As Teorias Éticas
Teoria Teleológica
Essa teoria apresenta o bem como finalidade comum. É baseada em três
linhas: o Eudenomismo (Individualismo), Hedonismo e Utilitarismo.
O Eudenomismo ou Individualismo fundamenta-se na liberdade que
constitui um bem moral, ao qual todos têm direito e deve ser preservado.
Nessa linha, o princípio ético da autonomia é muito importante, pois
reconhece que cada ser humano tem o direito de ser respeitado em suas
opiniões, convicções e crenças.
Hedonismo fundamenta-se na prevalência do prazer em detrimento da dor,
busca eliminar a dor e focar somente no prazer. Essa corrente provoca
muitas reflexões éticas, pois no mundo atual é praticamente impossível
viver sem dores e situações que provoquem algum tipo de sofrimento. Os
seres humanos não são perfeitos e isso pode causar conflitos muito sérios.
A lógica hedonista não deve ser tomada como única vertente a ser seguida.
Utilitarismo é uma linha que considera o custo e os benefícios, considera
como referencial ético o ser bem-sucedido obter sucesso sempre.
Inicialmente, a ideia é boa, pois incentiva as pessoas a buscarem sucesso e
positividade, mas o conflito surge quando os indivíduos, ao se sentirem
pressionados, começam a tomar atitudes ilícitas e não éticas para obterem
sucesso.
Você acha que os fins justificam os meios?
Teoria Deontológica
Essa teoria tem como alvo o que motiva as pessoas a fazerem algo e busca
justificar suas ações, não se preocupa com as consequências e nem nos
desdobramentos de sua ação.
A teoria deontológica preocupa-se com o aqui e o agora, não se preocupa
com o que acontecerá no futuro. Por exemplo, uma parte da Amazônia
pode ser desmatada, uma vez que por ter uma área grande e vai atender à
demanda das madeireiras locais (DE SOUZA LOPES et al., 2017).
O que você pensa sobre isso? Essa teoria está correta?
Teoria Dialógica
A teoria dialógica baseia-se na comunicação, interagindo a linguagem
verbal e os aspectos históricos e sociais. As principais teorias propostas
dessa linha são a Ética do discurso e a Universalização.
Ética do discurso foi proposta por Habermas, fundamenta-se na reflexão da
comunicação para solução de conflitos morais, ressalta a importância da
linguagem para busca de um entendimento baseado na igualdade dos
envolvidos, onde todos devem ser ouvidos, atendidos e levado em
consideração em relação a seu ponto de vista, busca valorizar e respeitar o
que é bom para todos (DE OLIVEIRA et al., 2106).
A ÉTICA DO DISCURSO SE APROXIMA DA BIOÉTICA, POIS AS
DUAS LEVAM EM CONSIDERAÇÃO O DIÁLOGO ENTRE AS
PARTES ENVOLVIDAS.
Para reflexão: Você tem praticado a ética do discurso? Pense sobre suas
atitudes!
Você ouve as pessoas? Ou quer sempre ser ouvido?
Diante do exposto sobre as teorias éticas, alguns autores se mostram
críticos às teorias existentes, propondo novas teorias de uma ética
contemporânea.
Assim, Hans Jonas chama a atenção da necessidade de uma ética que seja
capaz de solucionar os problemas atuais relacionados à técnica e à ética,
ocorrem questionamentos entre o poder de realizar uma determinada coisa
e ter o direito, eis a grande questão que surge: é correto fazê-lo?
(LINHARES e DE CARVALHO, 2017).
Baseado nisso, Hans Jonas propôs uma nova ética baseada no princípio da
responsabilidade orientando que os seres humanos devem se preocupar
com o futuro da humanidade e do planeta; ele questiona: como nós
deixaríamos o planeta para os nossos netos? Seria possível viver de forma
harmoniosa no futuro?
Sobre a proposta de Hans Jonas no livro: O princípio e responsabilidade –
ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, Rio de Janeiro, 2006, e
outra obra mais recente, JONAS, Hans. Técnica, medicina e ética: sobre a
prática do princípio responsabilidade. Pia Sociedade de São Paulo-Editora
Paulus, 2014.
Teorias éticas e a relação com o profissional de saúde
Os profissionais de saúde estão diariamente diante de dilemas e conflitos
éticos, nos quais se tornam necessários conhecer as teorias éticas para
auxiliá-los na tomada de decisão.
As teorias éticas, juntamente com a Bioética, vão nortear esse profissional
orientando-o a pensar e fazer reflexões, levando em consideração todos os
envolvidos na questão, e visando sempre a manutenção do bem e da vida.
Exemplo prático:
Ao considerar que o profissional de saúde está diante de dois pacientes, um
com crise de asma e outro, que foi atropelado, teve várias escoriações pelo
corpo e está perdendo bastante sangue. Diante desses casos surgem as
perguntas: Qual paciente atender primeiro? Qual corre maior risco de vida?
O que fazer?
Considerações Finais
Agora você já sabe que as teorias éticas, juntamente com a bioética, são
ferramentas importantes, pois poderão ajudar o profissional de saúde a se
orientar e decidir na tomada de decisão, diante de uma situação conflituosa.
Neste tema, você teve a oportunidade de compreender que as teorias éticas,
cada uma de acordo com seus princípios, é capaz de auxiliar os
profissionais de ajuda nos conflitos e dilemas, aos quais estão expostos
diariamente no exercício profissional.
Questões para Simulado:
Questão 1. Prefeitura Municipal de Fortaleza - Técnico de enfermagem
(2018): Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Legislativo -
FCC (2018)
A bioética brasileira adotou, inicialmente, como referência conceitual, a
teoria
A. principialista europeia.
B. principialista norte-americana.
C. utilitarista norte-americana.
D. utilitarista europeia.
E. deontológia inglesa.
Questão 2. A Bioética norteia ações frente a dilemas que vão desde as
necessidades básicas de saúde pública e direitos humanos, até as mais
complexas consequências do aprimoramento técnico, como a utilização do
genoma humano. Entre os princípios da Bioética, está a Autonomia.
Baseado no exposto, analise as afirmações que seguem, assinalando V para
Verdadeiro e F para Falso, e, em seguida, marque a opção com a sequência
correta de cima para baixo.
(V) I. Qualquer procedimento preventivo, diagnóstico ou terapêutico deve
ser autorizado pelo paciente.
(V) II. A Autonomia diz respeito ao poder de decidir sobre si mesmo e
preconiza que a liberdade de cada ser humano deve ser resguardada.
(V) III. Em pacientes intelectualmente deficientes e no caso de crianças, o
princípio da Autonomia deve ser exercido pela família ou pelo responsável
legal.
(V) IV. Os profissionais de saúde devem oferecer informações técnicas
necessárias para orientar as decisões do paciente, sem utilizar formas de
influência ou de manipulação, para que estes possam tomar decisões a
respeito da assistência à sua saúde.
A. V, V, F, V.
B. V, V, V, V.
C. F, V, V, V.
D. F, V, F, V.
Aula 4 – Aborto, Concepção Assistida e Concepção
Como você já deve saber, reprodução assistida é uma opção utilizada por
mulheres que não podem engravidar naturalmente. Trata-se de técnicas e
procedimentos que resolvem a barreira de infertilidade do casal.
A reprodução assistida consiste em uma especialidade médica recente, que
vem crescendo gradualmente, sendo necessário o desenvolvimento de uma
legislação específica e coerente que regulamenta a realização desses
procedimentos. Por isso, existem discussões éticas quanto à realização
desse tratamento.
Mas você sabe em quais condições pode ser realizada a reprodução
assistida? O que acontece com os embriões que não forem utilizados? Será
que a fertilização in vitro caracteriza aborto? Quando ocorre o início da
vida?
Nesta aula, vamos abordar esses assuntos e os principais conflitos e
dilemas envolvidos.
Vamos juntos mais uma vez!
Reprodução assistida
A reprodução assistida também é conhecida como procriação assistida,
procriação artificial, reprodução humana artificial e reprodução humana
assistida (MARINHO, 2010).
Há dados mostrando que, desde os primórdios da civilização, as pessoas
buscavam maneiras de superar a infertilidade. Em 1940, foi possível
conservar o sêmen fora do organismo, pela técnica de resfriamento, dando
início aos primeiros bancos de sêmen nos Estados Unidos (MARINHO,
2010).
Foi na década de 1950, contudo, que ocorreram pesquisas científicas
decisivas para implementação da reprodução assistida no Brasil e no
mundo. Nesse período, teve início o cultivo de células para a fertilização in
vitro, bem como experimentos de transferência de embriões em animais, o
que originou a técnica dos bebês de proveta.
A Sociedade Brasileira de Reprodução Humana se consolidou em 1974
com a participação de especialistas de todo mundo, marcando assim a sua
federalização (AMARAL et al, 2009).
Já na década de 1970, vários pesquisadores realizaram pesquisas sobre
fertilização in vitro com óvulos humanos. Houve a coleta de óvulos e
espermatozoides, o desenvolvimento da técnica de fertilização de embriões
in vitro e posterior implantação no útero. Nesse momento, ocorreu também
o nascimento do primeiro bebê de proveta na Inglaterra (VÁZQUEZ,
2018).
Assim, tenha em mente que a reprodução assistida veio resolver conflitos
familiares e auxiliar na perpetuação da espécie.
Apesar de apresentar soluções aos problemas familiares, surgiram muitas
questões éticas em relação à reprodução assistida. Um exemplo é: o que
fazer com os embriões que sobram? Quando começa uma vida?
Quando começa a vida?
Existem várias perspectivas e divergências entre autores em relação ao
início da vida. Assim, alguns autores defendem que o início do ser humano
começa com a concepção, que é a fertilização do óvulo e a formação do
zigoto, que apresenta uma existência própria e uma autonomia intrínseca,
necessitando apenas de condições favoráveis ao seu desenvolvimento
(MELO; ALBUQUERQUE FILHO; ALBUQUERQUE, 2018). Essa ideia
é corroborada por Venosa (2009, p. 24), que nos traz que “o embrião
humano, logo desde a fusão dos gametas, não é um ser humano potencial, é
um ser humano real que iniciou a sua própria existência”.
Opiniões diferentes são citadas por Paulichi e Silva (2015), que
argumentam que não ocorre formação de um novo ser a partir da
fecundação, devido às numerosas possibilidades do que pode acontecer,
como doença trofoblástica, aborto espontâneo precoce do embrião, além da
formação de gêmeos. Esses autores consideram que o décimo quarto dia é o
marco para a atribuição do estatuto de “pessoa” na altura da implantação,
pois ocorre o surgimento rudimentar do sistema nervoso, sinalizando o
começo de uma sensibilidade individual (PAULICHI; SILVA, 2015).
Opinião similar é defendida pelo filósofo Peter Singer (2006), para o qual
deve-se aplicar o princípio de morte cerebral para considerar o início da
vida humana. Segundo ele, como a vida tem fim com o término das funções
cerebrais, o início da vida deveria adotar o mesmo princípio. Nesse caso, a
vida começaria a partir do surgimento das primeiras funções cognitivas
ligadas à organogênese cerebral.
Diante dessas opiniões contrastantes, surge o questionamento: “Será que é
o processo de implantação que confere dignidade e estatuto de pessoa ao
embrião?”
Confira o estudo feito em Filha et al, no qual se discute a ideia da defesa do
nascimento saudável sob o olhar e ponto de vista dos profissionais de saúde
que trabalham em Maternidade pública (FILHA, Francidalma Soares Sousa
Carvalho et al. Direito ao nascimento saudável: concepções de
profissionais de saúde. 2018.
Disponível: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/27354/2/ve_Francid
alma_Filha_et_al_2018.pdfLinks to an external site..
Alguns pensadores defendem que o feto é uma pessoa em potencial
(MEDEIROS; VERDI, 2010). Por isso, a ele, podem ser atribuídos os
direitos de pessoa. Para esse autor, o valor que os embriões e os fetos têm é
o valor que as pessoas lhes atribuem, podendo, portanto, depender de
vários fatores, como o desejo de seus pais em tê-los (MEDEIROS; VERDI
2010).
Bioética, reprodução assistida e aborto
A Bioética, devido ao seu caráter inter, multi e transdisciplinar, contribui
de forma eficiente para resolução de conflitos éticos, principalmente na
relação médico-paciente, nas pesquisas biomédicas e nos dilemas
relacionados a intervenções realizadas no ser humano. Dentre os vários
desafios enfrentados pela Bioética, destaca-se a busca constante pelo
equilíbrio por meio da construção de um caminho seguro, considerando
sempre os lados envolvidos e respeitando a dignidade do ser humano como
valor e princípio fundamental (RODRIGUES, 2015).
A reprodução assistida levanta debates que vão desde o início da vida até a
questão do aborto. Atualmente, os questionamentos envolvendo o nascituro
(aquele que está para nascer) e o embrião referem-se à dignidade humana e
à aquisição de direito de personalidade (MALUF, 2010).
Na prática, o aborto legal é o tipo de aborto previsto em lei em caso de
estupro ou quando há risco da segurança para a mãe (aborto terapêutico).
Ambos se apoiam nos princípios bioéticos da autonomia, justiça,
beneficência e não maleficência, tendo respaldo na lei. É importante
ressaltar que se prioriza a proteção da vida constituída em relação à vida
que ainda não nasceu, preservando a mãe.
No caso da reprodução assistida, a questão proeminente é: o que acontece
com os embriões que não são utilizados? Na Bioética, a corrente utilitarista
defende o uso desses embriões na pesquisa. Isso pode auxiliar muitos
enfermos e pessoas portadoras de doenças, que dependem do uso de
células-tronco, por exemplo.
As células-tronco são definidas como células primitivas, que têm a
capacidade de gerar diferentes tipos de células e reconstruir diversos
tecidos. Por isso, o uso desses embriões para pesquisas é fundamental.
A Teoria Concepcionista, por outro lado, é contra a utilização desses
embriões, pois entende que a vida começa com a concepção. Ela se
fundamenta no fato de que o nascituro tem personalidade civil e evidencia
que o Artigo 2º do Código Civil de 2002 expõe “... a lei põe a salvo, desde
a concepção, os direitos do nascituro” (MELO; ALBUQUERQUE FILHO;
ALBUQUERQUE, 2018).
Reflita que a Bioética, assim como as Ciências da Saúde, é sempre a favor
da preservação e continuação da vida!
Exemplo
Dois casais procuram clínica de infertilidade. Casal 1: M.A.P. com 38 anos
e R.K.O. com 48 anos. Eles vêm tentando engravidar há seis anos. Após
investigação e resultados laboratoriais, foi diagnosticada a infertilidade
masculina. Casal 2: S.C.C. com 45 anos e A.Z.T. com 52 anos, também
com dificuldade de engravidar há quatro anos. Nesse casal, a infertilidade é
feminina, devido a uma endometriose severa. Para ambos os casais foi
proposta a fertilização in vitro (FIV). O casal 1 não tem filhos e está na
primeira tentativa. Já no casal 2, um dos cônjuges tem um filho. Após a
transferência dos embriões, o casal 1 não obteve sucesso, mas o casal 2
engravidou. Uma semana após a implantação do embrião, foi descoberto
que houve troca dos embriões dos casais em questão. O que fazer?
Esse caso hipotético é muito grave, mas possível de ocorrer. É, portanto,
necessário analisar com calma todas as possibilidades e tomar a melhor
decisão para os casais envolvidos.
O mais importante é que os casais consigam realizar o sonho de ter filhos.
Se necessário, emprega-se a medicina reprodutiva, mas sempre com ética,
cautela e considerando os valores éticos fundamentais.
FECHAMENTO
Agora você já sabe o que é reprodução assistida e sua relação com o aborto,
bem como as possibilidades de utilização dessa técnica para realização de
sonhos de casais que não podem ter filhos.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
compreender as nuances que envolvem o processo de reprodução assistida
e o aborto;
Refletir sobre os princípios bioéticos, sobre os conflitos e dilemas que
surgem durante esse tipo de procedimento.
Questão para Simulado:
Questão 1. Universidade do Estado de Maringá (UEM) - Técnico de
enfermagem - UEM (2017)
A Bioética tem como objetivo facilitar o enfrentamento de questões éticas e
bioéticas que surgirão na vida profissional. Sem esses conceitos básicos,
dificilmente alguém consegue enfrentar um dilema, um conflito e se
posicionar diante dele de maneira ética. Assim, não é princípio da bioética
A. justiça.
B. autonomia.
C. beneficência.
D. não maleficência.
E. jurisprudência.
Aborto
Interrupção da gravidez em um período em que o feto é incapaz de
sobreviver fora do útero.
Assunto polêmico que abrange ângulos:
 Históricos
 Sociológicos
 Direito civil e penal
 Teológico, moral e religioso
 Cultural
Na Itália, o aborto foi regulado pela Lei 194/78.
No Brasil, é considerado crime, conforme abaixo:
 Aborto provocado por terceiros, sem o consentimento da mãe;
 Aborto ocorrido com o consentimento da gestante;
 Aborto provocado pela gestante.

Tutela do bem jurídico: a vida


A engenharia genética, atualmente, encontra-se em um processo de
constante evolução, mostrando inúmeras possibilidades acerca da utilização
de embriões em vitro, as denominadas células-tronco.
A partir desse momento, renova-se uma discussão ética, religiosa, jurídica e
científica quanto ao momento exato do início da vida humana;
De acordo com Diniz (2011): a Constituição Federal de 1988 e o Código
Civil de 2022 não asseguram apenas à proteção à vida extrauterina, mas
também a vida intrauterina desde o momento de sua concepção, como
afirma o Pacto de São José da Costa Rica.
Aspecto Jurídico
Segundo Maria Helena Diniz, mesmo o nascituro não sendo viabilizado no
ventre da mãe é considerado um sujeito de direito como um potencial
portador de direitos fundamentais e de personalidade jurídica.
Discussão Jurídica quanto à Proteção Civil:
Art 2º. A personalidade Civil da pessoa começa do nascimento com a vida,
mas a Lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro, Código
Civil de 2002.
Art 4º. Direito à vida: 1. Toda pessoa tem direito de que se respeite sua
vida. Esse direito deve ser protegido pela lei em geral, desde o momento da
concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. (Pacto de
São José da Costa Rica, 1969).
Circunstâncias:
Paradoxo:
 Como o embrião não é humano, podemos abortá-lo
 Porque o embrião é humano, queremos utilizá-lo em pesquisas.
Ficção: a ciência pode informar se o blastocisto é ou não um “ser
humano”.*

* ou: que tem um potencial suficiente de ser um “ser humano” para


merecer a proteção que um ser humano merece.

Aula 5 – Cuidados Paliativos, distanásia e ortotanásia


Cuidados paliativos são os cuidados que são fornecidos às pessoas em
estágio terminal, no qual nenhuma conduta terapêutica, farmacológica irá
impactar na doença. Portanto, em cuidados paliativos deixa a morte seguir
o curso natural, cuidando do paciente.
Cuidados paliativos não é o que resta a oferecer, mas sim o melhor a
oferecer, pois cuidará do paciente visando preservar sua qualidade de vida
e não o deixar sentir dor.
Mas você sabe em quais condições podem ser considerados cuidados
paliativos? O que acontece quando um paciente entra em cuidados
paliativos? Como os profissionais, familiares e cuidadores devem
proceder? Quando ocorre o início da vida? Vamos juntos mais uma vez!
Cuidados Paliativos
Segundo Saunders (1996), “Eu me importo pelo fato de você ser você, me
importo até o último momento de sua vida e faremos tudo o que está ao
nosso alcance, não somente para ajudar você a morrer em paz, mas também
para você viver até o dia da morte”. Essas palavras definem bem o que é
humanização e cuidados paliativos.
O paciente, em cuidados paliativos na terminalidade da vida, precisa
receber um cuidado humanizado respeitando sua biografia, preferências e
individualidade.
A dignidade da pessoa humana deve ser assegurada durante todo o percurso
da vida, o que implica em planejar a morte e os cuidados que a antecedem.
Para se ter uma morte com dignidade, torna-se necessário o acesso ao
serviço hospitalar e organizar todo o entorno do paciente e familiares.
Na relação paciente-profissional de saúde, deve ser respeitado um princípio
bioético básico que é a autonomia do indivíduo, assim as relações de
cuidado devem ser baseadas no respeito, prezando a boa convivência e
interação saudável, e estabelecer relação de imposição e domínio sobre o
paciente.
Humanização e Saúde
As ciências biomédicas aliaram-se à tecnologia na sociedade pós-moderna.
Esses avanços tecnológicos e científicos representam, para os dias atuais,
um mundo de descobertas e oportunidades nunca antes imaginadas na área
da saúde, permitindo salvar mais vidas, revolucionando a qualidade da cura
e longevidade das pessoas, possibilitando manipular o ser humano em todas
as fronteiras da vida. Importante ressaltar que a função do profissional de
saúde é promover a saúde e não ser um manipulador de tecnologia.
Devido a isso, deve-se procurar entender e desenvolver um atendimento
mais humanizado, valorizando o sujeito em sua dignidade, respeitando sua
dor e sofrimento, que seja tratado como ser humano e não seja
“coisificado”.
Os cuidados Paliativos surgem no sentido de conseguir melhor qualidade
possível para os pacientes e suas famílias. Tendo um compromisso com a
promoção do bem-estar do doente crônico e terminal, introduzindo a
ortotanásia, que garante a dignidade do ser humano no seu viver e no seu
morrer, desenvolvendo a arte de bem morrer, permitindo ao enfermo que
está na fase final e seus familiares enfrentar a morte com certa
tranquilidade, como se fizesse parte da vida, como se fosse um
acontecimento natural, permitindo que a pessoa morra em paz e
tranquilidade num ambiente de amor e carinho, quando chegar seu
momento de partir (BERTACHINI; PESSINI, 2004). Enquanto eutanásia
consiste na conduta de abreviar a vida de um paciente em estado terminal
ou que esteja sujeito a dores e intoleráveis sofrimentos físicos ou psíquicos.
Já a distanásia é o nome do ato de prorrogar a vida através de meios
artificiais e, muitas vezes, desproporcionais à condição de recuperação do
doente.
Os cuidados paliativos estão intrinsicamente relacionados ao processo de
humanização, pois ambos, focam a valorização do ser humano colocando-o
em evidência, buscando valorizar sua dignidade e respeitá-lo como tal, em
todas as fases de sua vida e principalmente em sua fase final, onde possa
viver sua própria morte, respeitando sua autonomia, deixando que participe
da tomada de decisões, decidindo como quer viver esse momento, viver sua
dor e elaborá-la da melhor maneira possível e não simplesmente ser tratada
como incapaz e impossibilitada de dirigir sua própria vida, o que fez a vida
toda.
Atualmente, passamos por uma imensa crise de humanismo relacionado à
questão da humanização da dor e do sofrimento, no contexto hospitalar.
Temos ambientes desumanizados, tecnicamente perfeitos, mas sem alma e
ternura humana. A pessoa humana vulnerabilizada pela doença deixou de
ser o centro das atenções e passou a ser instrumentalizada em função de um
determinado fim, passando a ser objeto de aprendizado, usada em benefício
dos pesquisadores, tratados como cobaias de pesquisa. A verdade ética, ao
ser lembrada, nos remete à reflexão de que as coisas têm preço e podem ser
tomadas, as pessoas têm valor, têm dignidade e devem ser respeitadas
(BERTACHINI; PESSINI, 2004).
Houve e há a necessidade de implantar política de assistência e cuidado do
ser humano nesse cenário gerador de sofrimento, e para terminar essa
reflexão, menciono novamente a fala de Saunders (1996), citada acima, em
Cuidados Paliativos, no primeiro parágrafo.
Princípios Éticos da Medicina Paliativa
O cuidar humanizado está intrinsicamente relacionado ao cuidador que
deve ter um olhar e uma compreensão do real significado da vida, e
desenvolver a capacidade de perceber e compreender a si mesmo e ao
outro.
A humanização no atendimento pelos profissionais de saúde implica em
compartilhar com o paciente experiências e vivências, que surtirão em um
resultado positivo, focando nas ações no sentido de ajudar, compartilhar e
auxiliar o sujeito a manter a sobrevivência, superar a doença e restabelecer
um equilíbrio voltando a ter saúde.
O paciente quando entra em cuidados paliativos, na terminalidade da vida,
precisa receber um cuidado humanizado respeitando sua biografia,
preferências e individualidade.
Os princípios éticos da medicina paliativa foram sendo estabelecidos pela
comunidade médica para orientar decisões diagnósticas e garantir o
respeito à vida humana. São eles:
a) “o da veracidade, onde se procura benefício para ambos, médico e
paciente/familiares, pois possibilita participação ativa no processo.
Comunicar a verdade usando de prudência;
b) o da proporcionalidade terapêutica, onde se questiona a utilidade ou
inutilidade da medida terapêutica, os riscos e benefícios das alternativas de
ação, os custos físicos-psíquicos, moral e econômicos envolvidos, assim
como os prognósticos com e sem a implementação da medida terapêutica.
A obrigação moral de se implementar todas as medidas terapêuticas que
tenham relação de proporção entre os meios empregados e o resultado é
abordado aí;
c) o do duplo efeito, a razão proporcional se aplica questionando se a ação
em si mesma é boa, ou pelo menos indiferente; que o efeito seja tolerável
apenas quando não há outra alternativa eficaz de tratamento; que o efeito
positivo não seja consequência dos efeitos negativos; e que o bem causado
seja proporcional ao dano produzido;
d) o da prevenção quando se evita desproporcionais intervenções.
Implementar as medidas necessárias para prevenir complicações e/ou
sintomas, e aconselhar a família evitando sofrimento desnecessário ao
paciente é parte da responsabilidade médica;
e) o da inviolabilidade da vida humana;
f) o do não-abandono, salvo em casos de grave objeção de consciência, é
condenável eticamente abandonar o paciente porque este recuse
determinadas terapias. Mesmo quando não se pode curar é possível
acompanhar solidariamente, cuidar” (BERTACHINI; PESSINI, 2004,
p.189-192).
Os princípios éticos citados acima demostram a preocupação que deve ter
com o paciente no sentido de preservar sua história e que ele tenha um final
de vida digno.
Vulnerabilidade e Dignidade da Pessoa Enferma
“Cuidar do outro em caso de cuidados paliativos na terminalidade de vida,
é cuidar que o outro, enfermo, tenha sua individualidade e dignidade
preservadas. Num ambiente de clínica ampliada, atentar para, e atender,
que o entorno familiar do enfermo processe seu luto antecipado com
presença solidária. De igual importância é o cuidadoso olhar para dentro da
equipe transdisciplinar envolvida, cujos sofrimentos subjazem e, também,
precisam estar em pauta para a dignificação da vida no processo do morrer”
(CHEMIN & SOUZA, 2015, p 3).
Respeitar a dignidade humana implica diretamente em cuidar de si. Nesse
processo, o sujeito aprende sobre si, aprende consigo mesmo, faz
significados e evolui memorizando e respondendo de si, por si e cuidando
sempre de si. Em Pelizzoli e Miranda (in SANTOS; OLIVEIRA;
ZANCANARO, 2011 p.294) temos que, nesta prática de si, o uso da
autonomia individual pede ponderação, visto as implicações do efeito de
seus atos no porvir: “Se à autonomia cabia um uso individual, enquanto ao
porvir cabia um efeito, ou uma prática social, à autonomia cabia também
um cuidado de si por si, que, inevitavelmente, imbricava-se ao porvir”.
Historicamente Cuidados Paliativos foi definido pela Organização Mundial
da Saúde (OMS), pela primeira vez em 1986, segundo Maciel (2008, p.18),
e publicado em 1990 (WHO, 1990), trazendo no texto: “O cuidado ativo
total dos pacientes cuja doença não responde mais ao tratamento curativo.
O controle da dor e de outros sintomas, o cuidado dos problemas de ordem
psicológica, social e espiritual, é o que mais importa [...]”. Algum tempo
depois, em 2002, a própria OMS redefine como uma “abordagem que
promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de
doenças que ameaçam a continuidade da vida, através de prevenção e
alívio do sofrimento”.
Os cuidados paliativos vieram garantir e melhorar a qualidade de vida (QV)
da pessoa enferma, assegurando a dignidade até o momento final da vida.
Importante ressaltar que cuidados paliativos estão relacionados com a vida
e devem garantir que a vida seja mantida e preservada até o sopro final; é
assegurar a melhor qualidade de vida possível para os pacientes e suas
famílias, mantendo a “dignidade até o momento da morte” (WHO, 2002).
A dignidade da pessoa humana deve ser assegurada durante todo o percurso
da vida, o que implica em planejar a morte e os cuidados que a antecedem.
Para ter uma morte com dignidade, torna-se necessário ter acesso ao
serviço hospitalar e organizar todo o entorno do paciente e familiares.
Se possível, oferecer um atendimento domiciliar para que o paciente se
sinta confortável e fique em ambiente familiar, além disso devem ser
utilizadas terapias disponíveis no sentido de prolongar a vida do paciente
com qualidade, mesmo em uso de procedimentos quimioterápicos e/ou
radioterápicos, evitando abordagens que causem dor e sofrimento (WHO,
2012).
Nesse momento, o papel da equipe multidisciplinar é fundamental, sendo
necessário estabelecer uma rede de apoio prestado pela equipe
multidisciplinar abrangendo e atendendo às necessidades dos pacientes e
seus familiares, focado na QV, impactando de forma positiva na evolução
da doença.
A OMS preconiza que deve assegurar o cuidado e promover a saúde,
integrando os aspectos psicossociais e espirituais da pessoa, encarando a
morte como parte do processo natural da vida, deixando-a seguir seu curso.
Nesse contexto, os cuidados paliativos garantem à vida de forma intensa
até seu final e auxilia a família a lidar com a doença e o luto (WH0,
2012).
Considerações Finais
Agora você já sabe o que são cuidados paliativos e sua relação com o
distanásia e ortotanásia, tornando possível uma melhor compreensão e
atendimento ao paciente em cuidados paliativos, oferecendo um suporte à
família e cuidadores.
Questão para Simulado:
Questão 1. Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) -
Enfermeiro - AOCP (2017)
Um sistema de saúde é passível de questões e dilemas éticos que, se não
resolvidos adequadamente, podem comprometer a atuação profissional, a
qualidade do atendimento ou a autonomia dos usuários. Nesse sentido,
sobre a hemotransfusão em pacientes Testemunhas de Jeová, assinale a
alternativa correta.
A. Deve ocorrer em qualquer situação independentemente da existência ou
não de risco de morte e aceitação do paciente.
B. No Brasil, ainda não existem instituições que ofereçam serviço de
hemoterapia alternativa a esses pacientes.
C. Na iminência de risco de morte, caso seja realizada a hemotransfusão,
sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, essa ação
pode ser considerada crime.
D. Caso esteja prescrita pelo médico, o enfermeiro deve realizar a
hemotransfusão, independente da situação e consentimento do paciente.
E. Quando o procedimento for eletivo, com necessidade de
hemotransfusão, compete ao hospital requisitar decisão jurídica para
proceder a hemoterapia, caso ela seja recusada.
O que é cirurgia eletiva? A cirurgia eletiva é um procedimento que pode ser
agendado com antecedência e até mesmo adiado no prazo de um ano.
Intervenções mais graves, como cirurgia de hérnia, remoção de pedras nos
rins ou de apêndice, também podem ser classificadas como eletivas.
A eutanásia significa a morte antecipada com o objetivo de dar um fim ao
sofrimento de doentes terminais, sem chances de recuperação.
A distanásia é o prolongamento artificial da vida e do sofrimento do
paciente. Já a ortotanásia é a morte natural, sem intervenção de nenhuma
espécie.
Obstinação terapêutica consiste em iniciar ou continuar ações médicas
que não têm outro objetivo além de prolongar a vida de um paciente
quando ele está em processo irreversível de morte. Insistir em meramente
prolongar a vida biológica de alguém a todo custo implica numa séria
agressão à sua dignidade.
Slides
Cuidados Paliativos (CP)
Vieram preencher a lacuna entre a competência técnica da medicina
curativa e a cultura do respeito à autonomia do indivíduo em relação às
situações extremas, como o fato de decidir, que diante de uma situação, na
qual não faz diferença na vida da pessoa, pelo contrário, causará mais
sofrimento interromper todos os procedimentos e deixar a morte seguir o
curso natural, cuidando obviamente para que não tenha dor e preserve sua
qualidade de vida.
CP é o melhor a oferecer.

Ética e Eutanásia
O que é eutanásia?

Eutanásia consiste na conduta de abreviar a vida de um paciente em estado


terminal ou que esteja sujeito a dores e intoleráveis sofrimentos físicos ou
psíquicos.

Uma série de questões éticas e morais afloram no contexto da


terminalidade da vida:
 Direitos do paciente em relação à verdade sobre suas reais
condições;
 Objetivos da atuação médica;
 Paradoxos entre a consciência e a legalidade.
 Pode, ou deve, o médico ajudar um paciente, que sofre de modo
irreversível, a morrer?

 A eutanásia pode ser considerada uma ação médica ética?


 A palavra “eutanásia” tem origem grega e representa, literalmente:
“boa morte”.
 É comumente entendida como a prática pela qual o médico abrevia a
vida de um paciente incurável.

É importante respeitar a legislação vigente, que afirma que a eutanásia é


crime.

A atuação médica está fundamentada em dois pilares:

 A preservação da vida, e
 O alívio do sofrimento.

Distanásia
 Se considerarmos que a preservação da vida é o valor maior,
podemos incorrer na chamada “distanásia”.
 Distanásia é o nome do ato de prorrogar a vida através de meios
artificiais e, muitas vezes, desproporcionais à condição de
recuperação do doente.
 A distanásia é mais ética do que a eutanásia?
 É válido estender a vida mesmo que a cura não seja possível e o
sofrimento excessivamente penoso?
 Enquanto houver a mais remota possibilidade de reversão do quadro
de morte inevitável deve-se sustentar a manutenção da vida;
 Mas, em caso contrário, o que a ética determina é a priorização do
segundo pilar: o alívio do sofrimento.

Eutanásia
Poderíamos então, considerar que aliviar o sofrimento, nestes casos,
compreendido como permitir ou antecipar a morte, recai em uma outra
grave questão:

Quando desistir da vida ?

Eutanásia e Suicídio Assistido

Uruguai, Holanda e Bélgica admitem a prática legal da eutanásia ativa.

Suicídio assistido = Suíça, Alemanha, Holanda, EUA - Oregon, Washington


e Vermont.

Suicídio assistido = O suicídio assistido ocorre quando uma pessoa, que


não consegue concretizar sozinha sua intenção de morrer, solicita o auxílio
de um outro indivíduo.

No Brasil - a eutanásia pode ser enquadrada no artigo 121, como homicídio


simples ou qualificado, e o suicídio assistido pode configurar o crime de
participação em suicídio, previsto no artigo 122.

Do ponto de vista legal, é importante frisar que, no Brasil, o Conselho


Federal de Medicina através do Código de Ética Médica (2009) em seu
Artigo 41 explicita de modo claro a proibição de: “Abreviar a vida do
paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.”
Resolução 1.805 de 2006 do CFM = regulamentava e autorizava aos
médicos a prática da ortotanásia (interrupção de terapêuticas que já não
surtem mais efeitos em pacientes terminais) como forma de desestimular a
distanásia (sustentação artificial da vida por tratamentos desproporcionais à
condição de recuperação).

Aula 6 – Humanização da relação paciente/profissional de saúde


Humanização é o ato ou efeito de humanizar, de tornar humano ou mais
humano, tornar generoso, tornar caloroso, receptivo e confortante.

E na saúde como podemos definir humanização?

Na saúde, a humanização é garantir a dignidade, é reconhecer o sofrimento


humano e as percepções de dor ou de prazer do outro, é saber ouvir e ser
compreendido. A humanização depende da capacidade de falar e de ouvir,
principalmente ser ouvido e compreendido.

Nós, seres humanos, não vivemos isolados, necessitamos uns dos outros!
Ser humano é perceber o outro e agir de forma como gostaríamos que
agissem conosco. Ao final da leitura, você deverá ser capaz de responder às
perguntas: “Eu tenho agido de forma humanizada em relação ao meu
semelhante?” ou “Eu tenho olhado nos olhos das pessoas e tentado
compreendê-las?”

Bom estudo! Vamos lá...

Humanização

Cada vez mais se torna necessário unir as pessoas e a comunidade, uma vez
que fazemos parte desse todo, o que afeta nossos semelhantes, também nos
afeta e deveríamos sensibilizar ajudando-os e os compreendendo. Ao nos
sensibilizarmos com a dor e o sofrimento do outro estamos redescobrindo a
humanização e o diálogo que é fundamental nessas situações.

Mas o que é humanizar?

Humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética, é necessário


reconhecer e ouvir as palavras do sujeito que as expressa e reconhecê-las.
Além disso é preciso retribuir de forma comunicativa e clara se
posicionando e acolhendo o outro (PESSINI e BERTACHINI, 2004).
O Ministério da saúde com o Humaniza SUS, através da Política Nacional
de Humanização, propõe o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde
(SUS) mais humano, remodelado com a participação e união de todos e
focado na atenção à saúde com qualidade, de forma integral e universal
(BRASIL, 2004).

Segundo a ANVISA (AGÊNCIA NACIONAL DE VIIGILÂNCIA


SANITÁRIA, 2010, p. 48).

“A humanização da Atenção à Saúde, consiste na valorização da dimensão


subjetiva e social, em todas as práticas de atenção e gestão da saúde,
fortalecendo o compromisso com o direito do cidadão, destacando-se o
respeito às questões de gênero, etnia, raça, religião, cultura, orientação
sexual e as populações específicas”.

Políticas públicas de humanização no Brasil

A Política Nacional de Humanização (PNH) foi proposta em 2003 com o


objetivo de colocar em vigência os princípios do SUS, no cotidiano dos
serviços de saúde, refletindo alterações que produzissem alterações no
modo de administrar a gestão e o cuidado.

Fique atento!

Para humanizar o SUS é necessário a participação de todos,


principalmente, dos profissionais de saúde na proposta de estratégias que
busquem priorizar o ser humano de forma integral.

Um dos principais objetivos da PNH foi incentivar o diálogo entre os


gestores, trabalhadores da saúde e os usuários para incluir todos no
processo e, assim, desenvolver condições de enfrentamento de relações de
poder, trabalho e dedicação que, às vezes, geram atitudes desumanizadas
que afetam a autonomia e o comprometimento dos profissionais de saúde
no desenvolver do seu trabalho e dos próprios usuários ao cuidar de si
mesmos (BRASIL, 2004).

A PNH abrange equipes locais em cada região com o apoio de secretarias


estaduais e municipais de saúde.

Sobre a PNH no documento completo, proposto pelo ministério da saúde,


onde traz métodos, estratégias e princípios da PNH, disponibilizado no
link http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humaniza
cao_pnh_folheto.pdfLinks to an external site.. Acesso em 12 abril de 2018.
A partir desta articulação se constroem, de forma compartilhada, planos de
ação para promover e disseminar inovações nos modos de fazer saúde
(BRASIL, 20010.

Humanizar o cuidado

A humanização dos cuidados em saúde nos direciona para respeitar o ser


humano em sua essência e de forma integral, considerando sua
individualidade e necessidades. Humanizar o cuidado é facilitar que a
pessoa que se encontra vulnerabilizada, com dor ou sofrimento, possa ser
compreendida, e receba apoio para enfrentar positivamente os seus desafios
e vencer esse processo pelo qual está enfrentando.

O cuidar humanizado reflete a compreensão do significado e importância


da vida, implica na capacidade de perceber e compreender a si mesmo e ao
outro, compartilhamento de experiências e vivências que ao serem
compartilhadas com os pacientes auxiliem no entendimento e compreensão
das situações ou momento o qual estejam vivendo (OISHI e CHEMIN,
2017).

Relação paciente profissional de saúde

O fundamento e princípios da humanização se baseiam na relação entre o


paciente e o profissional de saúde, pois humanizar o cuidado é acolher as
angústias do ser humano, suas fragilidades do corpo, mente e espírito.

A relação entre paciente e profissional de saúde passa por fases de grandes


desafios, pois o profissional necessita atender muitos pacientes ao mesmo
tempo e acaba não tendo tempo suficiente para escutar e atender suas
necessidades de forma completa.

Além disso, devido ao desenvolvimento das tecnologias, muitos


procedimentos consistem em apertar botões e checar a impressão dos
resultados, isso leva a um distanciamento entre os pacientes e os
profissionais que passam a tratar todos como máquinas, portanto não
portadores de sentimentos.

Nesse contexto, é necessário que o profissional de saúde desenvolva uma


presença solidária com habilidades humanas e científicas, para empregar
seu conhecimento, mas nunca esquecer que são pessoas que estão
necessitando de sua ajuda, pois essas pessoas se encontram vulneráveis e
fragilizadas, necessitando de atenção, compreensão, carinho e ajuda.

O cuidado humanizado é aquele que busca atender o paciente de forma


integral respeitando e entendendo suas necessidades, assim o profissional
conseguirá seu objetivo maior que é cuidar e promover saúde.
A preocupação com os aspectos humanos do cuidado em saúde reflete que
os profissionais estão praticando o olhar para o próximo na busca de
compreensão e entendimento de suas dores e sofrimentos.

Considerações Finais

Agora você já sabe que o atendimento humanizado em saúde consiste em


promover a dignidade e respeitar a vulnerabilidade das pessoas,
reconhecendo a dor e o sofrimento humano. Além disso, é importante saber
ouvir e compreender, entender e atender às necessidades do outro
respeitando sua autonomia e vontades.

Agora é sua vez

CASO PRÁTICO:

Paciente idosa, 82 anos, diabética, hipertensa e não tem filhos. Encontra-se


em um estado depressivo no qual está necessitando de ser ouvida e
compreendida. O profissional de saúde vem atendê-la e percebe que sua
glicose está muito alta e a pressão está descompensada. Pergunta se ela está
usando os medicamentos de forma correta e ela responde que parou de
tomar os medicamentos. Ele insiste que ela deve tomar os medicamentos e
sai para atender outro paciente.

O que você pensa sobre a atitude desse profissional? Ele agiu de forma
correta? Se você estivesse no lugar dele, o que teria feito?

Questão para Simulado:

Questão 1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de


Janeiro (IF-RJ) - Enfermeiro - FCM (2017)

Analise o caso abaixo: Paciente J.C.L, 67 anos, portador de câncer, em


cuidados paliativos, possui queixa contínua de dor. Nesse caso, a
enfermeira implementou um plano de controle da dor e monitorou a
resposta do paciente ao plano.
O princípio que norteia o monitoramento é o(a)
A. justiça.
B. fidelidade
C. beneficência.
D. não maleficência.
E. respeito à autonomia.
O princípio da fidelidade está relacionado à confiança entre o profissional e
o paciente, no qual o profissional de enfermagem deve cumprir o
compromisso de ser fiel para manter-se confiável.

A fidelidade é o dever de lealdade e compromisso do terapeuta para com o


paciente, que serve de base para o relacionamento entre ambos. A
veracidade, isto é, a utilização verdadeira e honesta das informações, é um
dever prima facie do terapeuta e base desta fidelidade.

Aula 07 - Células-tronco, transplantes e doações de órgãos


As células-tronco são dotadas de autorrenovação, sendo capazes de originar
qualquer célula do organismo.

Transplantes de órgãos são realizados quando um órgão perde sua função,


para isso é necessário a doação de órgãos.

Ao final da leitura, você deverá ser capaz de responder às perguntas: “As


células-tronco podem ser utilizadas para pesquisas?” ou “Como funcionam
os transplantes e doações de órgãos?”

Vamos lá...

Células-tronco

As células-tronco embrionárias pluripotentes apresentam a capacidade de


se diferenciar em qualquer tipo de célula, devido a isso, podem ser
utilizadas no tratamento de diversas patologias.

Os tipos células-tronco são: as embrionárias e as adultas, que são


encontradas principalmente na medula óssea e no cordão umbilical,
originadas de fontes naturais e; as pluripotentes induzidas, que foram
obtidas por cientistas em laboratório em 2007.

As células pluripotentes, também chamadas de embrionárias, apresentam a


capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula adulta. São
encontradas no embrião, apenas quando este se encontra no estágio de
blastocisto (4 a 5 dias após a fecundação). O corpo humano possui em
torno de 216 tipos diferentes de células e as células-tronco embrionárias
podem se transformar em qualquer uma delas.

Na fase adulta, as células-tronco são encontradas, principalmente, na


medula óssea e no sangue do cordão umbilical, mas todos os órgãos do
nosso corpo possuem um pouco de células-tronco, para que as células
sejam renovadas ao longo da vida. Elas podem se dividir para gerar uma
célula nova ou outra diferenciada. As células-tronco adultas são chamadas
de multipotentes por serem menos versáteis que as embrionárias.

As primeiras células-tronco humanas induzidas foram produzidas em 2007,


a partir da pele. A partir daí são retiradas as células para reprogramação.
Mesmo que hipoteticamente, qualquer tecido do corpo pode ser
reprogramado. Esse processo de reprogramação se dá através da inserção
de um vírus contendo 4 genes. Estes genes se inserem no DNA da célula
adulta, como, por exemplo, uma da pele, e reprogramam o código genético.
Com este novo programa, as células voltam ao estágio de uma célula-
tronco embrionária e possuem características de autorrenovação e
capacidade de se diferenciarem em qualquer tecido, como na figura mais
abaixo. Estas células são chamadas de células-tronco de pluripotência
induzida ou pela sigla IPS (do inglês induced pluripotent stem cells).

Uso das células-tronco

As pesquisas com células-tronco são essenciais para compreensão do


funcionamento e crescimento dos organismos, e entender como os tecidos
do corpo humano se mantêm ao longo da vida adulta, ou mesmo o que
acontece com o organismo durante o curso de patologia.

As células-tronco auxiliam os pesquisadores a entender as doenças, ajuda


nos testes de medicamentos e promovem o desenvolvimento de terapias
com resultados efetivos e assertivos.

A terapia celular consiste na substituição das células doentes por células


novas e saudáveis, consistindo em um uso das células-tronco contra
doenças.

Assim, teoricamente toda doença que ocorre degeneração de tecidos no


organismo poderia ser tratada através da terapia celular.

Nas pesquisas de células-tronco é importante analisar todos os tipos, pois


são específicas e podem ser complementares.
Mesmo com o desenvolvimento das células IPS, as células-tronco
embrionárias ainda são utilizadas, pois foram elas que propiciaram a
reprogramação celular. Além disso, apesar dos resultados promissores, as
iPS e as embrionárias ainda não são 100% iguais, e o processo de
reprogramação ainda sofre com um mínimo de insegurança por conta da
utilização dos vírus.
Existem outras opções sendo estudadas, mas é muito importante que
possamos ter e comparar esses 2 tipos celulares.

Estudos realizados com células-tronco, retiradas da medula óssea do


paciente, que foram implantadas no músculo cardíaco de um paciente,
resultou na regeneração do músculo e criação de novos vasos sanguíneos,
aumentando a irrigação e revertendo o processo patogênico. O Brasil se
destaca em estudos com células-tronco para tratar de 1.200 cardíacos em
várias instituições e cada vez mais os estudos são promissores.

No caso de lesões da Medula Espinhal, o tratamento foi realizado com


implante de células-tronco da medula óssea na medula espinhal, e o
resultado foi a melhora da passagem de impulso elétrico, aumentaram a
sensibilidade e atividade motora. Estudos realizados com mais de 30
pacientes tratados no Hospital das Clínicas (USP) mostram que três
voltaram a andar.

Essas células podem ser cultivadas em meio específico para que possam ser
utilizadas em tratamento.

Transplante de órgãos

O transplante de órgão sólido é uma opção de tratamento com o objetivo de


melhorar a qualidade de vida dos indivíduos de qualquer idade, que se
encontram em um estágio crônico de caráter irreversível e em estágio final.

O primeiro transplante foi realizado, com sucesso, em 1954. Desde então,


os transplantes de órgãos sólidos têm sofrido constante avanço no
tratamento de doenças do rim, pâncreas, fígado, coração, pulmão e
intestino (ITNS, 2011).

O número de transplantes realizados mundialmente continua crescente. No


Brasil, desde 1964, quando foi efetuado o primeiro transplante de rim, já
ocorreram mais de 75.600 transplantes de órgãos sólidos. Trata-se de um
sistema de lista única de espera, que garante a equidade no acesso a esta
modalidade de tratamento.
De acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes, cerca de 30.547
pessoas aguardam por transplante de órgãos em 2012, sendo que no
primeiro semestre foram realizados somente 3.703 transplantes (ABTO,
2012). Importante destacar que o Sistema Nacional de Transplantes tem
direcionado esforços para aumentar os índices de cirurgias realizadas na
população brasileira que necessita dos transplantes.
Critérios de morte encefálica: quando ocorre uma lesão irrecuperável e
irreversível do cérebro e tronco cerebral, após traumatismo craniano grave,
tumor intracraniano ou derrame cerebral. É a interrupção definitiva de
todas as atividades encefálicas. Sendo assim, o indivíduo está pronto para
doação de órgãos.

Considerações Finais

Agora que você já conhece que as células-tronco embrionárias são capazes


de originar qualquer célula dos organismos fica fácil compreender a
importância das pesquisas realizadas com essas células, que são
fundamentais na cura de doenças.

Além disso, o transplante de órgãos veio revolucionar a prática médica,


salvando inúmeras vidas.

Aula 8 Transfusão sanguínea e convicções religiosas


Você sabia que transfusão sanguínea é um procedimento que consiste em
transferir sangue total, ou parte de seus componentes, de um doador para
um receptor, desde que haja compatibilidade? Ela é indicada para pacientes
que correm risco de vida e dependem de sangue para sobreviver.

Existe um grupo de pessoas, contudo, conhecido como Testemunhas de


Jeová, cuja convicção religiosa não permite esse procedimento. Diante
disso, surgem alguns questionamentos importantes: Até onde uma crença
pode interferir na sobrevivência humana? É correta a forma deles
pensarem? Qual deve ser a conduta de um profissional diante desse dilema?
Sem transfusão, um paciente pode ir a óbito?

Nesta aula, vamos abordar a transfusão sanguínea, as convicções religiosas,


os conflitos e dilemas envolvidos.

Preparado? Então vamos lá!


A transfusão de sangue é um procedimento rotineiro e seguro, feito em
ambientes hospitalares. Ele consiste em transfundir sangue total ou parte
de seus hemocomponentes, ou hemoderivados (como concentrado de
hemácias, plasma, plaquetas, granulócitos, crioprecipitado, fatores de
coagulação, proteínas plasmáticas, fibrinogênio etc.), de um doador para
um receptor, desde que haja compatibilidade.
Saiba que existem dois tipos de transfusão: a heteróloga, na qual ocorre
transfusão de sangue de uma pessoa a outra, e a autóloga, que se
caracteriza pela transfusão, usando o sangue do próprio paciente
(OLIVEIRA, 2018).

O processo de transfusão é delicado e requer uma série de exames como


prova cruzada para verificar possíveis reações e tipo sanguíneo. Isso evita
possíveis reações adversas no receptor, as quais, dependendo do grau,
podem levar a óbito. Geralmente, quando esses fatores são bem
controlados, a transfusão resulta na recuperação e melhora do receptor.

Durante o procedimento transfusional, é necessário que um profissional


habilitado (enfermeiro ou médico) acompanhe o processo nos primeiros
quinze minutos, pois é nesse período que costumam ocorrer as reações
adversas. É indicado, ainda, usar filtros de 20 a 40 micrômetros durante a
transfusão, com o objetivo de retenção de coágulos, evitando, assim,
possíveis efeitos inesperados.

A transfusão de sangue é indicada em vários cenários, como quando o


paciente se encontra em anemia profunda, hemorragia grave, queimaduras
de terceiro grau, hemofilia, grandes cirurgias e transplantes de medula. Em
alguns casos, dependendo da complexidade da doença ou procedimento,
serão necessárias várias transfusões de sangue até conseguir repor e suprir
as necessidades do organismo, e manter a homeostase.

No caso de pacientes que são Testemunha de Jeová, debates e estudos no


campo científico, jurídico e religioso são necessários. Isso porque é preciso
compreender essa atitude para poder solucionar conflitos e chegar a um
consenso entre as partes envolvidas.

E você? Acha que a transfusão não deveria ser feita em pacientes


Testemunha de Jeová?

Histórico e crenças das Testemunhas de Jeová

No final do século XIX, nos Estados Unidos, teve início a religião


Testemunhas de Jeová, tendo sido proposta por um grupo pequeno de
pessoas que estudavam a Bíblia. Em seus estudos, eles buscavam uma
análise sistemática da palavra de Deus, e fizeram isso por meio da
comparação com outras doutrinas pregadas pelas igrejas da época
(OLIVEIRA, 2018).

Após muitos estudos e análises, esses estudiosos começaram a publicar


suas conclusões e análises em livros, jornais e revistas. Uma das
publicações mais conhecidas é “A Sentinela Anunciando o Reino de
Jeová”. O objetivo central desse grupo era divulgar os ensinamentos de
Jesus Cristo, seguindo o modelo cristão do primeiro século, afirmando que
Jesus foi o fundador do Cristianismo (A SENTINELA, 2018). Essa
religião atrai cada vez mais seguidores e tem alcance global.

Saiba mais

Leia “Paradoxal: relação da vida versus morte e a transfusão de sangue nas


Testemunhas de Jeová” e conheça o conflito de princípios fundamentais a
partir da Bioética e do ordenamento jurídico brasileiro. GONÇALVES, T.
C. Paradoxal: relação da vida versus morte e a transfusão de sangue nas
Testemunhas de Jeová. Cadernos Ibero-Americanos de Direito
Sanitário, v. 6, n. 3, p. 177-197, 2017.

As Testemunhas de Jeová respeitam o corpo como um estilo exemplar, e


não usam drogas, álcool ou comem comida que levem sangue (sangue
coagulado que fervem junto ao alimento). Atuam ativamente em
campanhas humanitárias, recebendo e orientando as pessoas que querem
deixar de usar drogas e álcool.

Transfusão de sangue e as Testemunhas de Jeová

A transfusão sanguínea em pacientes Testemunhas de Jeová provoca


imensas discussões nos campos científicos, jurídico e principalmente
religioso. Esses pacientes se recusam a fazer transfusão sanguínea por
conta de suas convicções religiosas, sendo que encontram embasamento em
Gênesis 9: 3-4: “Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso
mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde. A carne, porém, com
sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis” (SOARES JÚNIOR, 2017).

Diante desse versículo, as Testemunhas de Jeová se recusam a receber


transfusão de sangue e estão protegidas pela lei, que preserva a autonomia
do ser humano e o respeito ao próximo. Além disso, a Constituição de 1988
garante a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, assegura
o livre exercício dos cultos religiosos e garante a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias (SOARES JÚNIOR, 2017).

Como o Brasil é um Estado laico, ou seja, que não tem uma religião oficial,
seus cidadãos têm liberdade para seguir suas convicções religiosas. Assim,
é fundamental garantir e respeitar a dignidade humana, buscando preservar
sua integridade física, intelectual e psicológica, fortalecendo a igualdade e
a liberdade.
O novo Código Civil, no Art. 15, preserva a autonomia e defende que
ninguém será exposto a qualquer tipo de constrangimento ou submetido a
tratamento médico ou intervenção cirúrgica se não estiver de acordo.
Assim, as Testemunhas de Jeová se encontram protegidas em sua
escolha. Toda decisão deve ser respeitada e levada em consideração a
autonomia e o livre arbítrio do ser humano.

Existem, contudo, alternativas, como sangue sintético, que proporcionam


tratamento seguro e realização de cirurgias de grande risco, como de
coração, ortopédicas e oncológicas, além de transplantes de fígado, rim,
coração e pulmão. Essas alternativas não atenderiam somente às
Testemunhas de Jeová, respeitando sua crença, de não receber sangue na
transfusão sanguínea, mas sim todos os pacientes que anseiam por opções
de tratamento seguras que desenvolvam problemas posteriores.

O direito à liberdade religiosa versus o direito à vida

O direito à liberdade religiosa é assegurado pela Constituição da República


Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), e concede aos cidadãos o direito de
liberdade de crença, o livre exercício dos cultos religiosos, a proteção dos
locais e liturgias.

Quando falamos em liberdade, torna-se necessário compreender a


amplitude desse termo. Liberdade, segundo o Dicionário Aurélio, significa
“direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá
contra o direito de outrem. Condição do homem ou da nação que goza de
liberdade. Conjunto das ideias liberais ou dos direitos garantidos ao
cidadão” (SOUZA; SILVA, 2017).

Assim, como a liberdade, o direito à vida também está previsto na


Constituição Federal. Mas até que ponto a liberdade sobrepõe o direito à
vida?

Em casos de conflito, os profissionais devem levar em consideração o


princípio da autonomia, no qual a vontade do paciente deve ser respeitada,
mesmo que embasada em valores morais e religiosos (DINIZ, 2009).
Entretanto, temos também o princípio da beneficência, que está relacionado
ao moral de agir em benefício dos outros, e o juramento de Hipócrates, que
diz que os profissionais da saúde devem sempre preservar a vida
(GOLDIM, 1999). Assim, temos o dilema ético entre a liberdade religiosa,
a autonomia e o direito à vida. O que deve prevalecer?

Reflita sobre essas questões, lembrando que não existem respostas corretas
e nem instantâneas. O mais importante é propiciar uma discussão no
sentido de garantir a autonomia, a dignidade e o direito de preservação e
manutenção da vida.

Exemplo

Uma paciente de 14 anos de idade, estudante, foi vítima de um


atropelamento muito grave, no qual perdeu muito sangue. A indicação
médica é de que essa paciente se submeta à transfusão de sangue
imediatamente, porém, sendo ela Testemunha de Jeová, seus pais optaram
por não fazer a transfusão de acordo com suas convicções religiosas.
Diante dessa atitude, a paciente foi a óbito.
O que você pensa sobre isso? Quais os princípios bioéticos envolvidos? Se
você fosse o profissional de saúde responsável pelo caso, o que teria feito?

Todo ser humano tem direito à autonomia. As Testemunhas de Jeová


não são exceção. Cabe aos médicos, apesar do dilema, respeitarem o
livre arbítrio desses pacientes.

Por fim, é fundamental destacar que, se a vontade desses pacientes não


for respeitada os profissionais podem ser processados.

Considerações Finais

Agora que você já conheceu as motivações das Testemunhas de Jeová, em


relação à transfusão de sangue, é capaz de compreender os conflitos e
dilemas morais envolvidos na transfusão de sangue frente às convicções
religiosas.

Nesta aula, você teve a oportunidade de entender que as decisões desses


pacientes têm respaldo na lei, e que sua autonomia e liberdade devem ser
mantidos, além de entender que apesar da transfusão de sangue ser um
procedimento de rotina dentro dos hospitais, podem causar dilemas éticos,
que colocam os princípios éticos em conflito com a autonomia e o dever de
salvar vidas.

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