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Sobre
as Origens, Evolução e os Significados da Bioética.
“Primeiro aprende o significado do que dizes, depois diz”. Epictetus (55-135 d.C.), filósofo estóico.
Texto 1: “Após seis décadas de observação, proclamo que a bioética global, como uma nova ciência da
ética, é uma necessidade para a sobrevivência humana a longo prazo (...) Mas antes da bioética global
surgiu a bioética ponte (Cf. POTTER, V. R. Bridge Bioethics, 1971). A “bioética ponte” é o símbolo para
a visão que cristalizei com a palavra “bioética”, quando a cunhei em 1970. Esta visão é captada ao colocar
juntas as palavras “ponte” e “bioética”. A palavra “ponte” é usada porque a bioética era vista como uma
nova disciplina que construiria uma ponte entre a ciência biológica e a ética, portanto, bioética. Essa ponte
era somente um meio para um fim. O fim era... construir a bioética como uma outra ponte, como uma ponte
para o futuro (...) Penso a bioética ponte dessa maneira: (a) Função primordial: bioética como uma ponte
para o futuro; b) Função capacitadora: bioética como uma ponte entre as várias diciplinas. (in, POTTER,
Van Rensselaer (1998). Biética Global e Sobrevivência Humana, IV Congresso Mundial da Bioética, 4-5
Novembro, Tóquio, pp.1-2).
Texto 2: “A bioética, vocábulo inventado, em 1970, pelo cancerólogo americano V. R. Potter para exprimir
o processo para a sobrevivência humana e o “bem-estar” num meio natural graças ao progresso, utilizou,
com a ética, multíplas definições e controvérsias ainda atuais”. (in, REDE EUROPEIA, Medicina e
Direitos do Homem. (2001). A Saúde face aos Direitos do Homem à Ética e às Morais, trad. de Mª T. Serpa.
Lisboa: I. Piaget, p. 32).
Texto 4: “O termo bioética é de uso recente. Nascido no ambiente anglosaxão, encontrou um favorável
acolhimento das restantes áreas linguísticas (...) A composição de raíz grega alude a duas realidades de
notáveis significações: bios (vida) e ethos (ética). O propósito geral da bioética é captar a adequada
«composição» entre essas duas realidades de vida e da ética: uma composição, que não seja meramente
justaposição, mas autêntica intereração – que serve – no sentido de Potter, das ciências biógicas para
melhorar a vida humana”. (VIDAL. M. (1994). Bioética. Estudos de Bioética Racional. Madrid: Tecnos, p. 15).
Texto 5: “Bioética é uma palavra etimologicamente formada por dois étimos gregos: bio(s) e ethike. A esse
neologismo foi imputada uma tríplice paternidade e um triplo local de nascimento: Van Rensselaer Potter
em Wisconsin; Shriver e Hellegers, em Washington; e Fritz Jahr, em Halle an der Saale (Alemanha). Potter
se preocupava, em princípio, com o meio ambiente e a sustentabilidade da vida humana no planeta; o grupo
de Washington, principalmente com os problemas e desafios éticos impostos à Medicina pelas novas
tecnologias; e Fritz Jahr, com as relações éticas dos humanos com animais e plantas. A Bioética nasce
trazendo na memória os experimentos desumanos realizados em pessoas vulneráveis durante a Segunda
Guerra Mundial e cresce lado a lado com um grande desenvolvimento científico e tecnológico. Essa mesma
tecnologia que aumenta as potencialidades da Medicina traz consigo sérios desafios de ordem moral que a
ética hipocrática tradicional tem dificuldades de responder. Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo em que
pessoas lutam também por mais autonomia e direitos. Refletir sobre esse contexto e identificar as melhores
alternativas de conduta é um dos papeis da Bioética (...) O estudo etimológico revela que a Bioética é
formada por dois étimos gregos: bio(s) – utilizado inicialmente no sentido de vida humana e, mais tarde,
por extensão, aplicado a todos os seres vivos; e ethike – significando ética (...)
Atribui-se a Van Rensselaer Potter, bioquímico e oncologista americano que trabalhou na Faculdade de
Medicina da Universidade de Wisconsin, a criação do termo Bioética. Ele aparece inicialmente no artigo
1
FCT. Ciências Biológicas. 4º Ano, 2019-2020. Ética e Deontologia Profissional. Sobre
as Origens, Evolução e os Significados da Bioética.
“Bioethics, the Science of Survival”, publicado em 1970, na revista Perspectives in Biology and Medicine
(1970; 14: 127-153), e, posteriormente, no seu livro Bioethics: Bridge to the Future, publicado em 1971.
São publicações que expressam grande preocupação de Potter: o conhecimento científico crescendo
exponencialmente, sem se acompanhar de adequada reflexão sobre o seu uso e possíveis consequências
para a sobrevivência do homem. Na tradução de Ferrer e Álvares, lê-se textualmente:
Há duas culturas – ciências e humanidades – que parecem incapazes de falar uma com a outra
e, se esta é parte da razão de o futuro da humanidade ser incerto, então possivelmente
poderíamos fabricar uma ponte para o futuro, construindo a disciplina da Bioética como a ponte
entre essas duas culturas. Os valores éticos não podem ser separados dos valores biológicos. A
humanidade necessita urgentemente de uma nova sabedoria que lhe proporcione o entendimento
de como usar o conhecimento para a sobrevivência do homem e a melhoria da qualidade de
vida. Para Potter, a Bioética combina então conhecimentos biológicos (bios) com um sistema
de valores humanos (ética). (Daí, a ideia da Bioética Global desenvolvida por V. R. Potter
(1998) no texto Bioética Global, Construindo sobre a Herança de Aldo Leopold).
Há uma segunda paternidade, não pela originalidade do termo, mas pela ênfase em um sentido específico.
Bioética como uma reflexão mais voltada para a análise dos problemas relacionados ao desenvolvimento
da Biomedicina. Ela teria surgido também em 1970 e de modo independente numa conversa envolvendo,
entre outros, Sargent Shriver, marido de Eunice Kennedy Shriver, e André Hellegers, obstetra holandês,
sobre a possibilidade de a Fundação Joseph P. Kennedy Jr. patrocinar, na Universidade de Georgetown,
um instituto voltado para o estudo dos aspectos religiosos e éticos dos avanços nas ciências biológicas,
aplicando aos dilemas médicos o raciocínio da filosofia moral. A partir dessas conversas, criam, em 1971, o
The Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction and Bioethcis, hoje
conhecido como Kennedy Institute of Ethics. É a primeira vez que a palavra bioética vai figurar como
nome de uma instituição.
O terceiro lugar de origem da palavra bioética, Halle an der Saale, Alemanha, veio à luz em uma
conferência em 1997, por Rolf Lother, e vem sendo gradualmente investigado. Nesse caso, a fonte que cita
a palavra bioética é um editorial da Revista Kosmos, de 1927. Seu autor é o alemão Fritz Jahr (1895 –
1953), filósofo, educador e pastor protestante. O artigo original foi traduzido para o português sob o título:
“Bioética – revendo as relações éticas dos seres humanos com os animais e plantas” e pode ser
encontrado nos anais do VIII Congresso Internacional de Bioética Clínica, realizado em maio de 2012 na
cidade de São Paulo. Numa analogia a Kant, Fritz Jahr propõe um imperativo bioético: Respeite cada ser
vivo por questão de princípio e trate-o, sempre que possível, como tal. Se Immanuel Kant formulou seu
imperativo categórico baseado na dignidade do ser humano, Fritz Jahr fundamenta o seu na compaixão.
Rincic e Muzur comentam algo aparentemente paradoxal acontecendo simultaneamente: ao mesmo tempo
em que Jahr advoga a extensão do imperativo categórico de Kant também para os animais e plantas, o
Nazismo, na Alemanha, o restringe aos arianos, em detrimento dos demais. Albert Jonsen, no seu livro The
Birth of Bioethics, considera que o neologismo bioética ganha status canônico em 1974, quando é
catalogado e colocado como termo de entrada na Livraria do Congresso Americano. A justificativa para
essa entrada teria sido o artigo Bioethics as a Discipline, de Daniel Callahan (filósofo e um dos fundadores
do The Hustings Center: Institute of Society, Ethics and Life Sciences, juntamente com o psiquíatra W.
Gaylin em 1969), publicado em 1973 no primeiro número do Hastings Center Studies. Lavra-se assim,
oficialmente, a certidão de nascimento da palavra bioética”. (in LOPES, J. A. (2014). Bioética – uma breve
história: de Nuremberg (1947) a Belmont (1979), Revista Médica de Minas Gerais, 2014, nº 24 (2), pp. 262-273).
Texto 6: “A Bioética é o “estudo sistemático das dimensões morais (incluindo a visão, decisão, conduta e
normas morais) das ciências da vida.”. (POST, Stephen G. (1995). Enciclopedia of Bioethics, p. XXI).
Questões para discussão: (1) Como e porquê surgiu a Bioética? (2) O que distingue e aproxima as ideias de
bioética de Potter, S. Shriver/ A. Hellegers e Friz Jahr? (3) Que princípios éticos e valores devem nortear a
bioética? (4) Quais são as competências da bioética? (5) Quais são as raízes remotas e recentes da bioética?
(6) Quais foram/são as instituições mundiais mais importantes da bioética? (7) Quais são, para si, os
princípios éticos mais relevantes da Declaração Universal sobre a Bioética e Direitos Humanos (2005)?
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