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FCSHA. Filosofia da Linguagem e Comunicação, II Semestre 2019/2020. 3º Ano.

«A Filosofia
Analítica» in, D`AGOSTINI, Franca (2003). Analíticos e Continentais. Guia à Filosofia nos Últimos
Trinta Anos, trad. de Benno Dischinger, Editora Unisinos, Colecção Ideias 4, pp. 279-307.

1. Uma questão de estilo (argumentativo): a análise (procedimento “imanente”, “reflexivo” como método
próprio da filosofia”.
A FA é uma “filosofia minunciosa, colaboradora e anti-heróica” (p.279) caracterizada por:
(1) ensaios curtos, argumentação controlada e formalismo (recurso à lógica formal, i.e, à análise lógica);
(2) investigação em equipa (empresa comum) baseada na linguagem compartilhada segundo a “análise lógica”.

2. Linguagem e Pensamento (Como se relacionam?)


Para alguns pensadores (Richard Rorty, Michael Dummett e Ernst Tugendhat...), a FA identifica-se com a “filosofia
linguística” (Max Black), que releva “o papel decisivo da linguagem nos trabalhos do pensamento” (p.280), i.e, a
análise da linguagem como procedimento filosófico privilegiado.
Porém, nem todos os filósofos analíticos (Frege, Austin, Dummett.) defendem o primado da linguagem sobre o
pensamento (reducionismo linguístico), pois muitos deles, hoje, concordariam com a viragem cognitiva: análise da
linguagem a partir do pensamento, processos cognitivos e natureza da mente.
Frege e a FA: análise do estudo do pensamento e entidades lógico-linguísticas – reabilitação do conceito de análise
e “configuração linguagem-e-pensamento”.

3. Sentidos das Análises linguísticas como práticas filosóficas diversas: (1) Decomposição – redução do
complexo a elementos simples não-decomponíveis (Frege, Russell, Moore, Neopositivismo, Carnap); (2)
Explicitação do inexpresso das intenções dos falantes e ouvintes (Paul Grice); (3) Tradução ou paráfrase da
linguagem natural em linguagens “lógicas” construidas (Quine, Davidson e.... os restantes analíticos).

4. Lógica e Linguagem: G. Frege e análise do pensamento; B. Russel e a análise das proposições e das suas
formas lógicas; Carnap e a Sintaxe (metalógica) lógica da linguagem; G. Ryle e análise da estrutura lógica dos
factos e a lógica como estrutura objectiva, interior à linguagem; Alfred J. Ayer e a versão discursiva da lógica;
O recurso à lógica como estrutura objectiva e interior da LO: (1) rigor; (2) oportunidades heurísticas; (3) partilha
de resultados; (4) confiança na representação esquemática ou formalização.
Recusa do formalismo: II Wittgenstein; G. E. Moore: J. L. Austin; P. Strawson; John Searle...(Teóricos da LO).

5. Outros confins: linguística e psicologia: linguística (filosofia como teoria da argumentação com S. Toulmin e
C. Perleman), psicologia (cognitiva) - filosofia da mente e psicologia (viragem cognitiva) – pensar a linguagem
a partir dos processos mentais e das entidades lógicas (pensamentos).

6. Tendências da Filosofia Analítica: A FA como investigação da correlação “linguagem-pensamento” através da


investigação argumentativa dos significados e conceitos. Nesta investigação, distinguem-se três tendências: (1)
Análise lógico-linguística (teoria do significado); (2) Análise psicológico-cognitiva (teoria da linguagem
associada ao senso comum, intuição, pensamento, natureza da mente e processos mentais em N. Chomsky, J.
Fodor, J. Katz); (3) Análise aplicada aos problemas da justiça, política (J. Rawls, R. Dworkin), arte (N.
Goodman) e ética (M. Schlick, B. Williams, R. Hare; A. MCIntyre).

7. História, Origens da FA: Com os analistas de Cambridge (Russell, Moore, Wittgenstein) associados à tradição
semântica alemã (Peano, Frege, Brentano, Bolzano, Lotze); (2) positivismo lógico (Escola de Leopoli-Varsávia,
Círculos de Viena e Berlim);

8. Os anos trinta e quarenta: 1) Se tomarmos como critério a ideia de uma filosofia científica, a FA começa com
Franz Brentano; 2) Se tomarmos como critério a ideia da análise como procedimento reflexivo, a FA começa
como Frege, e, talvez, vai de Aristóteles a Kant; 3) Se tomarmos como critério a ideia da tradução de uma LO
a uma LL, a FA começa com Moore, e remonta a David Hume e Thomas Reid; 4) Se tomarmos como critério a
ideia da análise como exercício sobre a linguagem natural ou ideal, a FA começa com II Wittgenstein e Austin:
Revistas Erkenntsis (1930) e Analysis (1933).

9. As duas linguagens (LO & LA/LLP): A FA pode ser compreendida como análise da linguagem ideal (Frege,
Russell, Wittgenstein, Carnap, Reichenbarch, Quine, Goodman – USA) e análise da linguagem ordinária
1
(entendida como jogos ou usos da linguagem em II Wittgenstein, John Wisdom e Friedrich Waismann, Gilbert
Ryle) e clarificação do senso comum em Moore, Austin, Strawson, Grice, Searle – filósofos analíticos ingleses,
particularmente, os da “Oxford Cambridge Philosophy”.

10. Convergêcias: a viragem pragmática: emergência, na década de 1950, da concepção da linguagem em termos
de ação e uso dos signos para... (jogos de linguagem do II Witt., teoria dos actos de fala (linguísticos) em Austin
(Como fazer as coisas com as palavras?), Grice e Searle, e teoria pragmática do significado (W. Quine, H.
Putnam, W. Sellars, N. Goodman...) e prioridade à dimensão interactiva e comunicativa da linguagem
(Habermas...). Como se pode ler na página 294.

11. A filosofia pós-analítica: Filósofos como Richard Rorty, Hilary Putnam, Thomas Nagel, Arthur Danto, Ian
Hacking, Thomas Kuhn e John Rawls consideram-se como “pós-analíticos”, i.e, como pertencentes ao período de
transição da era da análise (do significado) para a era da tradução (sentenças) em (Quine, Davidson...). Daí, que
outros analíticos (Dummett, Strawson e Tugendhat) propõem a reconfiguração (renovação) dos objectivos e das
práticas da FA:

12. A Viragem Cognitiva: começa com a viragem anti-referencialista e pragmática nos anos 1950, i.é, com a
emergência das Ciências Cognitivas, nomeadamente, com a recusa do psicologismo e mentalismo da teoria do
significado – o significado não é uma coisa na mente/ uma entidade mental/ uma representação mental, mas um
comportamento da mente. Daí, a viragem cognitiva (Mind Turn) – estudo da linguagem a partir da análise
dos processos mentais e dos Qualia (qualidades mentais como a percepção, intencionalidade) e das “competências
dos falantes”, i.e, a partir da “filosofia da mente” (Noam Chomsky: Cf. A Linguagem e a Mente; John R. Searle,
Expressão e Significado).

13. Autores da FA:

I. Frege (1848-1925): a natureza dos entes matemáticos (pensamentos); logicismo e crítica do psicologismo; o 3º
mundo como reino da linguagem (uma vez que os significados são objectidades ideais); Conceptografia ou
Ideografia como análise da reformulação da LO em LLP.
II. Russell (1872-1970): crítica à viragem linguística; análise da forma lógica das proposições; distinção entre
Denotação e Referência como duas funções semânticas diferentes; teoria das descrições definidas; crítica à
natureza enganadora da linguagem natural (LO) e da forma gramatical, em contraposição à forma lógica;
III. Wittgenstein (1889-1951): Desenvolveu uma lógica das proposições (imagens linguísticas dos factos ----»
Isomorfismo/figurabilidade – a linguagem como espelho da realidade); só tem sentido as proposições, que
constituem os factos do mundo (reais e possíveis) --» Princ. de verificação do Neopositivismo lógico; a análise
(do significado) como critério da cientificidade das proposições/impossibilidade de se falar daquilo que mais
importa (Cf. Wittgenstein, TLF (1922); análise da linguagem comum e descrição dos vários usos (jogos) da
linguagem (II Wittgenstein, Investigações Filosóficas, 1953)
IV. G. E. Moore (1837-1958): Reabilitação do senso comum; a filosofia como crítica da filosofia (especulativa);
definição dos objectos possíveis da experiência (refutação do idealismo).....» Thomas Reid e W. Hamilton;
Existência de verdades fundamentais (evidências últimas intuitivas)....» (Da Certeza, em Witt/ Enunciados
Protocolares em Otto Neurath e Alfred Jules Ayer); intuicionismo ético – análise linguística ética.

Como entender a Análise Clássica (a ideia da análise nos inícios da FA)?: (1) Decomposição do pensamento na
sua formulação linguística em enunciados observáveis/ nomes que denotam objectos simples/individuais (nomes
próprios) e (2) Crítica da filosofia baseada na lógica e nas crenças do senso comum (Cf. p. 306).

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