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NARRATOLOGIA1

Autor: Jan Christoph Meister

Tradução de Gisele da Costa Lipimam Pereira

1 Definição
A narratologia é uma disciplina da área de humanas dedicada ao estudo da
lógica, dos princípios e das práticas da representação narrativa.
Dominada por abordagens estruturalistas em seu início, a narratologia se
desenvolveu em uma variedade de teorias, conceitos e procedimentos analíticos. Seus
conceitos e modelos são amplamente usados como ferramentas heurísticas, e os
teoremas narratológicos desempenham um papel central na exploração e modelagem de
nossa capacidade de produzir e processar narrativas em uma infinidade de formas,
mídias, contextos e práticas comunicativas.

2 Explicação
Como ciência humana, a narratologia é historicamente definida e reflete as
contínuas mudanças nas orientações e metodologias de pesquisa nas humanidades. Ao
mesmo tempo, a persistência da investigação narratológica por mais de quatro décadas,
apesar de suas crescentes “tendências centrífugas” (BARRY, 1990), atesta sua coesão
como sistema de práticas científicas.
Durante sua fase inicial ou “clássica”, de meados da década de 1960 ao início da
década de 1980, os narratologistas estavam particularmente interessados em identificar
e definir os universais narrativos. Essa tendência ainda ecoa em uma definição concisa
de narratologia, de 1993, como “o conjunto de afirmações gerais sobre gêneros
narrativos, sobre a sistemática da narrativa (contar uma história) e sobre a estrutura do

1
Como citar este texto:

MEISTER, Jan Christoph. Narratologia. Tradução: Gisele da Costa Lipimam Pereira.


Repositório Digital de Textos de Narratologia. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2022. Título Original: Narratology. Disponível em:
<https://www.ufrgs.br/geni/recursos-para-pesquisa/enciclopedia-de-narratologia/>
Acesso em: dia mês. 202x.

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enredo” (RYAN; VON ALPHEN, 1993, p. 110). No entanto, uma década depois, a
narratologia foi alternativamente descrita como (a) uma teoria (PRINCE, 2003, p. 1),
(b) um método (KINDT; MÜLLER, 2003, p. 211), ou (c) uma disciplina
(FLUDERNIK; MARGOLIN, 2004, p. 149).
A terceira opção parece mais adequada: o conceito de disciplina inclui teoria e
método, reconhecendo a natureza dupla da narratologia tanto como abordagem de
pesquisa teórica como de orientação aplicada. A narratologia não é mais uma teoria
única, mas compreende um grupo de teorias relacionadas (ver HERMAN, 1999). Isso
levou alguns a concluir que a narratologia é, de fato, uma teoria textual cujo escopo se
estende para além das narrativas e a alegar que “nenhuma das distinções introduzidas
pela narratologia na teoria do texto é específica a qualquer gênero” (TITZMANN, 2003,
p. 201).
No entanto, a narratologia “pós-clássica” contemporânea também não pode ser
reduzida a uma teoria do texto. Nos últimos vinte anos, os narratologistas têm prestado
cada vez mais atenção à historicidade e contextualidade dos modos de representação
narrativa, bem como à sua função pragmática em várias mídias, enquanto a pesquisa
voltada aos universais narrativos foi expandida de forma a abarcar as funções cognitivas
e epistemológicas da narrativa. Nesse contexto, duas questões merecem atenção
especial:
(a) Como a narratologia se relaciona com outras disciplinas que incluem o estudo da
narrativa? (b) Como pode ser caracterizado seu status como metodologia? Cinco
observações podem ser feitas em resposta a essas questões que, ao mesmo tempo,
substanciam a definição de narratologia acima:
(i) A narratologia não é a teoria da narrativa (BAL, [1985] 1997), mas sim uma
teoria da narrativa (PRINCE, 1995, p. 110; NÜNNING, 2003, p. 227-28). Outras
teorias da narrativa coexistem com as narratológicas. A relação entre teoria
narrativa e narratologia não é, portanto, simétrica, mas hierárquica e inclusiva
(NÜNNING; NÜNNING, 2002, p. 19).
(ii) Ao mesmo tempo, a narratologia é mais do que uma teoria. Embora possa
não ter correspondido à pretensão cientificista expressa em sua invocação como
uma nova “ciência da narrativa” (TODOROV, 1969, p. 10), ela se qualifica
como uma disciplina. Tem um campo de objeto definido, teorias e modelos
explícitos, uma terminologia descritiva distinta, procedimentos analíticos

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transparentes e a infraestrutura institucional típica das disciplinas: organizações
oficiais; recursos de conhecimento especializado (periódicos, séries, manuais,
dicionários, bibliografias, portais da web, etc.); uma comunidade científica
diversificada e engajada em projetos de pesquisa nacionais, internacionais e
interdisciplinares. E, por último, mas não menos importante, a narratologia é
ensinada em cursos de graduação e pós-graduação.
(iii) O interesse principal da narratologia permanece sendo a representação
narrativa como tipo, embora não exclua o estudo de atributos narrativos. Definir
narratologia em termos afirmativos pode ser difícil, mas defini-la ex negativo
não é: uma afirmação sobre a representação narrativa ― uma teoria, um
argumento, mas também um achado empírico concreto ― não é narratológica
se, em última instância, não se referir à “narrativa enquanto narrativa” (PRINCE,
1990, p. 10).
(iv) Na esteira da “virada narrativa”, a aplicação de ferramentas narratológicas a
problemas de pesquisa extra-narratológicos tornou-se cada vez mais difundida,
resultando em uma infinidade de narratologias compostas ou “hifenizadas”. No
entanto, de uma perspectiva teórica, nem toda abordagem rotulada de
“narratológica” constitui, automaticamente, uma nova narratologia em sentido
estrito. Enquanto um subconjunto das novas abordagens compreende variantes
metodológicas (narratologia natural, narratologia crítica, narratologia cognitiva,
etc.; HERMAN, 2002; FEHN et al., 1992; FLUDERNIK, 1996), outros focam
em questões temáticas e ideológico-críticas (narratologia pós-colonial,
narratologia feminista, etc.; ver NÜNNING, 2003; NÜNNING; NÜNNING,
2002).
(v) Apesar do alto grau de atenção acadêmica desfrutado pelas práticas e
produtos da competência narrativa humana, a noção corriqueira de narrativa
ainda está predominantemente associada a narrativas baseadas em textos.
“Representação narrativa” é, portanto, uma definição preferível do objeto de
estudo da narratologia na medida em que se contrapõe a esse reducionismo de
duas maneiras: (a) a representação narrativa não é específica a uma mídia, uma
vez que sua especificidade é de ordem funcional e reside na narratividade; (b)
“representação” denota o produto, bem como o processo de representação ou,
como Prince afirmou: “A narrativa é um ato e é um objeto” (1990, p. 4).

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3 História do Conceito e seu Estudo
3.1 A criação do termo “Narratologia”
O termo francês narratologie foi criado por Todorov (1969, p. 10), que defendeu
uma mudança de foco do nível superficial da narrativa textual (ou seja, discurso
concreto realizado na forma de letras, palavras e frases) para a lógica geral e
propriedades estruturais da narrativa como um universo de representações (p. 9).
Todorov, portanto, clamou por um novo tipo de teoria generalizante que pudesse ser
aplicada a todos os domínios da narrativa e, na verdade, por uma hipotética “ciência que
ainda não existe; vamos chamá-la de NARRATOLOGIA, ou ciência da narrativa.”
O neologismo aludiu às ciências sociais e naturais, como a sociologia e a
biologia (HERMAN, 2005, p. 19), e sua invenção por Todorov às vezes é interpretada
como um ato fundacional. No entanto, a suposição de uma ligação direta entre a história
do conceito e a história da disciplina é enganosa: quase nenhuma das contribuições
importantes para a narratologia inicial se associou explicitamente ao título
“narratologia” (por exemplo, Communications vol. 8, 1966; GENETTE, [1972] 1980;
PRINCE, 1973; BREMOND, 1973; CULLER, 1975; CHATMAN, 1978). A análise
bibliométrica de cerca de 4.500 entradas listadas na bibliografia online do
“Interdisciplinary Center for Narratology” (ICN) aponta que o uso do conceito como
um identificador metodológico e disciplinar em monografias e artigos de periódicos em
francês, holandês, alemão e inglês só se tornou popular após a publicação de
Narratologie, de Bal, em 1977. O primeiro uso do termo em um título inglês é
encontrado em Ryan (1979), e em um título alemão, em Schmidt (1989).
Uma das razões para a hesitante aceitação do nome “narratologia” pela
comunidade científica foi a proliferação de conceitos relacionados e mais gerais, bem
como os objetivos de pesquisa alternativas voltadas à narrativa. Na Alemanha, os
termos Erzähltheorie e Erzählforschung já estavam bem estabelecidos e em uso desde
meados da década de 1950 (LÄMMERT, 1955), o que também pode explicar por que a
tentativa de introdução do termo “Narrativik”, por parte de Ihwe em 1972, teve sucesso
limitado. Entre a vanguarda russa, para quem a poesia dominou a literatura, o
chamamento a uma “teoria da prosa” equivalia a um apelo por uma reavaliação do outro
hemisfério, enquanto importantes contribuições americanas, como Booth ([1961] 1983)
ou Chatman (1978, 1990a) evoluíram da tradição da Nova Crítica e da retórica. Por fim,
os narratologistas franceses estavam enraizados na linguística estrutural e na semiologia

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(GREIMAS, [1966] 1983), na lógica (BREMOND, 1973) ou nas categorias retóricas e
gramaticais tradicionais de Genette ([1972] 1983).

3.2 Precursores
Elementos e ideias centrais já estavam em uso na modelagem narratológica da
narrativa e foram introduzidos já na antiguidade grega, enquanto outros se originaram
do final do século XIX em diante, particularmente no contexto de taxonomias
fenomenológicas, morfológicas e hermenêuticas e teorias de narrativas literárias e
folclóricas.

3.2.1 Platão e Aristóteles: modos representacionais e a relação funcional

entre personagem e ação


Em A República, Platão diferencia gêneros literários com base na constelação
específica de dois modos fundamentais de discurso denominados mimesis, a imitação
direta, literal, do discurso na forma de diálogos e monólogos dos personagens, e
diegese, que compreende todos os enunciados atribuíveis ao autor. Segundo Platão, o
gênero lírico se restringe ao uso da diegese, e o gênero dramático ao uso da mimese,
sendo que apenas o gênero épico combina os dois. Esta distinção fundamental dos dois
modos principais de narrar não apenas antecipou a oposição mostrar vs. contar, muito
presente no século XX, como também prefigurou uma das três dimensões analíticas
adotadas por Genette ([1972] 1983), a saber, a voz.
A Poética de Aristóteles apresentou um segundo critério que se mantém
fundamental para a compreensão da narrativa: a distinção entre a totalidade dos eventos
que ocorrem em um mundo representado e o enredo narrado de fato, ou muthos. Ele
apontou que este é sempre uma construção que apresenta um subconjunto de eventos,
escolhidos e organizados de acordo com considerações estéticas. Disso resultou a
abordagem funcional da Poética aos protagonistas ficcionais e suas ações, as quais são
explicadas como sendo regidas pelos requisitos estéticos e lógicos do muthos geral.

3.2.2 O Paradigma Normativo: teorias do romance do século XVII ao

início do século XX
A narrativa em prosa como a conhecemos hoje tornou-se parte aceita do cânone

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literário apenas a partir do século XVIII. Concentrando-se em aspectos da temática e
didática, a principal questão que motivou seus primeiros teóricos (por exemplo, HUET,
[1670] 1715; BLANCKENBURG, [1774] 1965) era, portanto, normativa: a nova forma
literária estaria à altura dos padrões qualitativos da épica antiga? Essa preocupação
continuou a dominar muitas teorias do gênero narrativo paradigmático até o início do
século XX, mais proeminentemente em Lukács ([1916] 1993).

3.2.3 Reintroduzindo o Paradigma Formal: Spielhagen e Friedemann


Spielhagen ([1876] 1967) foi um dos primeiros a abordar novamente as
características formais da narrativa, e o fez distinguindo romance e novela em termos da
complexidade e funcionalidade dos personagens e das diferentes economias de ação e
design de enredo. Seu estudo ([1883] 1967) introduziu uma distinção taxonômica
fundamental entre narração em primeira e terceira pessoas e também refletiu sobre a
relação autor-narrador. Motivado por uma aversão a dispositivos narrativos
anti-ilusórios, Spielhagen declarou que a narrativa ideal nunca alerta o leitor para o
processo de narração em andamento.
Friedemann ([1910] 1965) contestou esse postulado normativo. Para ela, a
medialidade era um elemento constitutivo da narração, ao invés de um defeito, e a
instância narrativa constituía uma característica inerente a qualquer narrativa, seja
(ficcionalmente) presente ou logicamente implícita. O significado metodológico desse
insight dificilmente pode ser superestimado: Friedemann definiu efetivamente a
essência da narrativa em termos estruturais, levando o princípio da definição
fenomenológica de Platão para o épico um passo adiante.

3.2.4 Do Catálogo à Fórmula: Aarne-Thompson vs. Propp


A história e teoria literárias do final do século XIX equiparavam a narrativa à
literatura narrativa, deixando assim a pesquisa sobre o conto popular para especialistas.
Na década de 1880, os pioneiros de uma nova abordagem empírica nos estudos
folclóricos formaram a “Escola Finlandesa” e, em 1910, Aarne, um de seus membros,
publicou a primeira versão de um catálogo conhecido como Índice Aarne-Thompson
(AARNE; THOMPSON, [1928] 1961), usado internacionalmente até os dias atuais
(UTHER, 2004). O catálogo expandido agora lista 2.500 variantes resumidas de contos

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populares em oito categorias.
Uma tentativa teórica de reduzir narrativas literárias a princípios básicos foi
apresentada em Forster ([1927] 2005). Ele argumentou que a hipotética história mínima
“O rei morreu, e, depois, a rainha morreu” poderia ser transformada em um enredo
narrativo válido pela adição de uma cláusula explicativa, como “de tristeza”. Focando
nos contos populares empíricos, Propp ([1928] 1968) apresentou um modelo dos
componentes elementares das narrativas e a forma como eles são combinados. No
entanto, contrastando com seus predecessores, Propp abstraiu-se completamente do
plano de conteúdo para descrever um tipo particular de conto de fadas russo em termos
de uma sequência de trinta e uma “funções” abstratas.
A abordagem de Propp receberia atenção considerável entre os estruturalistas
franceses que, embora reconhecendo a originalidade do modelo, ao mesmo tempo o
criticaram por sua lógica de ação puramente sequencial e monolinear, sugerindo sua
substituição por modelos combinatórios multilineares (LÉVI-STRAUSS, 1976).
Parcialmente com base em tais revisões, o modelo funcional de Propp serviu como um
ponto de referência fundamental para a elaboração de “gramáticas de histórias”, sendo a
gramática gerativa chomskiana o outro. A ideia de uma gramática gerativa da narrativa
seria adotada não apenas por narratologistas (PRINCE, 1973, 1980; VAN DIJK, 1975;
PAVEL,1985), mas também por pesquisadores de Inteligência Artificial (IA) que
tentaram projetar sistemas artificiais de contar histórias (RUMELHART, 1980;
BRINGSJORD; FERRUCCI, 1999).

3.2.5 O Formalismo Russo


O formalismo russo, que floresceu por volta de 1916 até ser suprimido pelos
stalinistas no final dos anos 1920, tinha um foco cultural-ideológico mais radical: seu
objetivo era provar a autonomia da arte como forma. A literatura, em particular, foi
considerada um fenômeno sui generis que não pode ser explicado adequadamente em
termos de conteúdo ou de contexto biográfico ou histórico. Chklovsky ([1917] 1965)
postulou a necessidade de se estudar a literatura em termos de características puramente
formais, como o princípio da desfamiliarização, que rege o uso literário da linguagem e
acentua o artefato textual como uma estrutura significante autônoma. A contribuição
mais influente, de uma perspectiva narratológica, foi a diferenciação formalista entre

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fábula e sujet (TOMACHEVSKI, [1925] 1971), em que o último é definido como uma
desfamiliarização do primeiro.

3.2.6 Teorias Pré-estruturalistas da Narrativa: Perspectiva, Tempo, Lógica


e Retórica
3.2.6.1 Perspectiva
No início do século passado, a questão da perspectiva narrativa (Niederhoff →
Perspectiva - Ponto de Vista2) tornou-se objeto de uma polêmica poetológica iniciada
pelo romancista e teórico Henry James. Ele defendeu o método cênico de narração, em
que a perspectiva narrativa está estritamente ligada às restrições epistemológicas de um
personagem particular, uma técnica demonstrada particularmente em Os Embaixadores
(1903). Admirador de James, Lubbock ([1921] 1972) postulou que tal “ponto de vista”
vinculado ao personagem deveria de fato ser considerado o padrão qualitativo para a
prosa narrativa, elevando assim a distinção técnica de James ao nível de princípio, mais
especificamente, o de “mostrar” vs. “contar.” Segundo Lubbock, uma representação
mimética coerente só pode originar-se do ponto de vista epistemológico de um
personagem (ou seja, do puro “mostrar”).
Com o propósito mais descritivo do que prescritivo, Pouillon (1946) ampliou o
escopo e distinguiu três principais formas definidas em termos de posicionamento
temporal e cognitivo do narrador em relação aos personagens. Friedman (1955)
estendeu o escopo ainda mais, propondo um espectro graduado de oito modos de
perspectiva em que cada tipo é determinado pela proporção entre as sequências ligadas
ao narrador e aquelas ligadas ao personagem. Um modelo estratificado ainda mais
complexo, no qual as posições do personagem e do narrador são correlacionadas nas
quatro dimensões de ideologia, fraseologia, restrições espaço-temporais e psicologia da
perspectiva, foi desenvolvido por Uspenskij ([1970] 1973), membro da escola semiótica
de Tartu-Moscou. A ideia foi levada mais longe em Schmid (2005), que representa o
modelo de perspectiva mais abrangente até hoje.
Uma contribuição fenomenológica para a teoria da perspectiva foi a do
anglicista austríaco Stanzel, que identificou três “situações narrativas” prototípicas

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Todas as referências indicadas por setas correspondem a textos do Living Handbook
of Narratology, muitos dos quais estão traduzidos e disponíveis no Repositório Digital de
Textos de Narratologia.

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([1955] 1971). Na “situação narrativa Eu”, o narrador existe e atua no mundo narrado;
na “situação narrativa autoral”, ele se posiciona fora do mundo narrado, mas domina o
processo de mediação ao comentar os eventos; na “situação narrativa figural”, o
narrador em terceira pessoa permanece não-intrusivo, enquanto a informação narrativa é
filtrada através da perspectiva interna do personagem refletor. Stanzel entendeu essas
três situações narrativas como tipos ideais e, assim, modelou-as em um círculo
tipológico sintético. As narrativas reais, observou ele, muitas vezes ocupam uma
posição intermediária entre essas situações e, portanto, são mais bem modeladas em
termos de um círculo tipológico sintético.
A controvérsia sobre os méritos pragmáticos da abordagem de Stanzel versus
suas restrições metodológicas e inconsistências continua até os dias atuais (ver COHN,
1981; KINDT; MÜLLER, 2006; CORNILS, 2007; SCHERNUS, 2007), assim como o
debate narratológico mais geral sobre o conceito de perspectiva narrativa (ver VAN
PEER; CHATMAN, 2001; HÜHN et al, 2009).

3.2.6.2 Tempo
Com relação à categoria de tempo, Müller (1948) introduziu uma distinção
igualmente fundamental entre “tempo narrado” (erzählte Zeit) e “tempo de narração”
(Erzählzeit). A correlação entre as duas dimensões, como ele demonstrou, caracteriza o
ritmo de uma narrativa.
Essa abordagem foi explorada por Lämmert (1955), em uma das primeiras
taxonomias narrativas em grande escala. Para Lämmert, a fenomenologia das narrativas
individuais pode ser rastreada até um repertório universal estável de modos elementares
de narrar. Ele distinguiu vários tipos de narração que esticavam, abreviavam, repetiam,
pausavam e interrompiam, pulavam e eliminavam subsequências, enquanto outros tipos
imitavam perfeitamente o fluxo do tempo narrado. (A categoria de tempo em Genette
[1972] 1980 é examinada em termos semelhantes.) Com base no trabalho de Lubbock
([1921] 1972), bem como em Petsch (1934), Lämmert relacionou essas formas
elementares de temporalidade narrativa aos principais modos de narração, como
apresentação cênica, relato, reflexão e descrição. Infelizmente, o ganho sistemático de
sua contribuição foi prejudicado por uma taxonomia excessivamente complexa e às
vezes “confusa” que tenta explicar todas as formas de flashbacks e flashforwards

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narrativos.

3.2.6.3 Lógica e Retórica


Uma contribuição filosoficamente mais concisa para a teoria narrativa foi feita
por Hamburger ([1957] 1973), explorando a semântica e a pragmática da comunicação
literária e, em particular, a lógica específica do uso de dêixis temporal e pessoal sob as
condições de referência ficcional. Hamburger apontou que nem o sujeito de um
enunciado nem a localização e referência temporal do enunciado podem ser inferidos
adequadamente a partir das palavras e frases de uma narrativa literária: a literatura
substitui as regras e convenções do uso cotidiano da linguagem por sua própria lógica.
A questão da validade e confiabilidade dos enunciados narrativos foi novamente
levantada por Booth ([1961] 1983), desta vez de uma perspectiva retórica e ética. Ele
introduziu o conceito de “narrador não confiável”, interpretando casos de narrações
conflitantes e auto-contraditórias como um dispositivo estético destinado a sinalizar a
distância moral e normativa do autor em relação ao seu narrador. No entanto, a maneira
como Booth construiu seu argumento demandou a introdução de um segundo conceito,
mais especulativo, a saber, o de autor implícito (Schmid → Autor Implícito). Embora o
conceito de “narrador não confiável”, rejeitado por estruturalistas como Genette ([1983]
1988), tenha se tornado mais aceito na narratologia pós-clássica, a controvérsia sobre a
plausibilidade do autor implícito permanece (BOOTH, 2005; KINDT; MÜLLER,
2006).

3.3 O Estruturalismo francês: 1966–1980


O estruturalismo francês acabou dando o impulso decisivo para a formação da
narratologia como uma variante da teoria da narrativa metodologicamente coerente e
voltada para a estrutura. Esse novo paradigma foi proclamado em uma edição especial
de 1966 da revista Communications, programaticamente intitulada “L’analyse
estruturale du récit”. A revista continha artigos dos principais estruturalistas, como
Barthes, Eco, Genette, Greimas, Todorov e o teórico do cinema Metz.
Três tradições embasaram a nova abordagem estruturalista da narrativa: o
formalismo russo e a morfologia proppiana; a linguística estrutural de tradição
saussuriana, bem como a antropologia estrutural de Lévi-Strauss; a gramática gerativa
transformacional de Chomsky. Nesse contexto, os estruturalistas se engajaram em um

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reexame sistemático das duas dimensões da narrativa já identificadas por Chklovsky,
fábula e sujet, renomeadas por Todorov em francês como histoire e discours e por
Genette como histoire e récit.
De 1966 a 1972, a narratologia se concentrou principalmente no primeiro item
da dicotomia. No nível mais abstrato, o semioticista Greimas concentrou-se na estrutura
elementar da significação. Com base na análise estrutural dos mitos de Lévi-Strauss
(1955, [1958] 1963), Greimas ([1966] 1983) propôs um modelo de significação de nível
profundo denominado “quadrado semiótico”, que representa a infraestrutura semiótica
de todos os sistemas significantes. O alinhamento dessa estrutura universal profunda
com a estrutura superficial de uma dada narrativa pode então ser explicado em termos
de regras transformacionais. Por fim, uma tipologia de seis papéis funcionais atribuíveis
aos personagens (personagem principal vs. secundário, oponente vs. ajudante, remetente
vs. receptor; ver Greimas [1973] 1987) complementa a abordagem. Barthes ([1966]
1975) propôs uma sistemática funcional de eventos narrados que distingue “núcleos”,
ou seja, eventos obrigatórios que garantem a coerência da história, e “satélites”
opcionais que servem para embelezar o enredo básico. Todorov (1969) ampliou a
analogia linguística ao equiparar ações a verbos, personagens a substantivos e seus
atributos a adjetivos e, então, vincular esses elementos por meio de operadores modais.
Essa sintaxe narrativa opera no nível abstrato de uma langue narrativa: em vez de
contabilizar apenas a sequência explícita de eventos representados em um determinado
mundo ficcional, essa “gramática” também incluía a lógica das sequências de ação
virtual, por exemplo, aquelas imaginadas na mente de um personagem narrador.
Bremond (1973) explorou a lógica da ação representada de outro ângulo ainda,
modelando-a como uma série de escolhas binárias em que uma “eventualidade” resulta
em “ação” ou “não ação” e, no primeiro caso, em “conclusão” ou em “não conclusão”.
O interesse por questões de lógica de ação e gramática narrativa foi retomado em Prince
(1973), que sintetizou e sistematizou as abordagens anteriores, e, mais uma vez, em
Pavel (1985), que combinou a lógica binária abstrata de Bremond com a teoria dos
jogos (ver HERMAN, 2002).
Embora a ambição teórica e o nível de abstração dos primeiros modelos
estruturalistas de narrativa fossem impressionantes, sua relevância prática era difícil de
provar aos filólogos. A semiótica greimasiana é um caso em questão: usada como uma
gramática descritiva, suas categorias foram definidas com um grau de generalidade

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amplo demais para ser defeituoso; posta à prova como uma gramática gerativa, seu
rendimento foi muito abstrato para demonstrar a necessidade ou o poder explicativo do
processo de transformação da estrutura semiótica profunda em estrutura superficial de
eventos e personagens narrados.
Essa lacuna sistemática e metodológica foi abordada por Genette ([1972] 1980),
que apresentou uma taxonomia abrangente dos fenômenos do discurso desenvolvida
juntamente com uma análise detalhada da composição e técnica narrativa em Em Busca
do Tempo Perdido de Proust. Em termos gerais, a taxonomia narratológica de Genette
cobriu três domínios funcionais da narrativa literária: a estrutura temporal e a dinâmica
da representação (no duplo sentido de produto e processo da atividade
representacional); o modo de narração e sua lógica subjacente de comunicação
narrativa; e as restrições epistemológicas e normativas da coleta e comunicação de
informações durante o processo narrativo. A terminologia e os neologismos
introduzidos por Genette, juntamente com sua taxonomia, logo se tornaram a língua
franca narratológica.
Em contraste com seus predecessores formalistas e colegas estruturalistas,
Genette não tinha intenção de projetar uma teoria da narrativa totalmente coerente e
autocontida. Isso gerou controvérsias narratológicas fundamentais sobre conceitos
genetianos, tais como “focalização” (BAL, 1977; JAHN, 1996, 1999b), e abriu caminho
para para numerosos debates que resultariam na narratologia pós-clássica. Algumas
dessas críticas foram abordadas em Genette ([1983] 1988).

3.4 Narratologia pós-estruturalista: 1980–1990


A década seguinte foi dominada por duas tendências principais: a ampliação do
escopo da narratologia para além da narrativa literária e a importação de conceitos e
teorias de outras disciplinas (RYAN; VAN ALPHEN, 1993, p. 112). O processo,
portanto, espelhou a mudança geral de metodologias estruturalistas para
pós-estruturalistas que estava acontecendo nas ciências humanas naquela época.
Chatman (1978) demonstrou a aplicabilidade da narratologia às narrativas
visuais. Bal ([1985] 1997) e outros provaram a relevância da narratologia na análise de
fenômenos textuais cruzados, como intertextualidade e intermidialidade, bem como nos
fenômenos intratextuais de polivocidade (LANSER, 1981). A desconstrução de Derrida

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foi introduzida por Culler (1981), que questionou a genealogia implícita da estória
(histoire, fábula) ao discurso e argumentou que a relação de dependência entre os dois é
exatamente o oposto: o discurso gera a estória. A motivação psicológica em jogo nesse
processo do emplotting retrospectivo foi explorada em Brooks (1984). Outra influência
veio dos estudos feministas: Lanser (1986) propôs incluir o gênero como uma categoria
sistemática para a análise narratológica do perfil narratorial, bem como do ponto de
vista e do modo de apresentação. Em um nível mais abstrato, Pavel (1986) e Doležel
(1988) estenderam o modelo narratológico ao introduzir a lógica modal e a teoria dos
mundos possíveis. Esses modelos explicam as narrativas virtuais implícitas e não
realizadas, indicadas pelas esperanças, desejos, etc. dos personagens de ficção, que
podem não se materializar, mas servem para apontar para a possibilidade teórica de um
curso alternativo de eventos. Ryan (1991) explorou ainda mais essa linha de raciocínio,
vinculando-a ao paradigma de simulação da IA. Por fim, a fase pós-clássica da
narratologia deu margem a um aumento na exportação de conceitos narratológicos e
teoremas para outras disciplinas (Meuter → Narration in Various Disciplines),
contribuindo assim para a “virada narrativa” (ver WHITE, 1980; KREISWIRTH, 1995).

3.5 Narratologia pós-clássica e “novas” narratologias: 1990 até o


presente
Com o tempo, a tensão entre a preocupação original da narratologia
estruturalista com a sistematicidade e coerência lógica e a necessidade de uma resposta
aos apelos por uma teoria da narrativa mais orientada para o pragmatismo não pôde
mais ser ignorada, conforme observado por Prince (2003).
Fludernik (1996) sinalizou uma mudança no foco dos fenômenos textuais para
as funções cognitivas da narrativa oral e não literária, abrindo assim um novo capítulo
no projeto narratológico. Em contraste, Gibson (1996) defendeu uma desconstrução
radical de todo o aparato conceitual desenvolvido pelos estruturalistas. Se tal crítica
filosófica de caráter derrideano merece ser classificada como “narratológica” foi, no
entanto, algo recebido com ceticismo (por exemplo, NÜNNING; NÜNNING, 2002, p.
15).
Mesmo assim, o ataque desconstrucionista e pós-modernista estimulou uma
infinidade de novas abordagens que buscavam unir a preocupação estruturalista com a
sistematicidade a uma renovação do interesse por questões culturais e filosóficas da

Grupo de Estudos de Narratologia e Intermidialidade 13


história e da ideologia. A onda resultante de teorias e modelos narratológicos com
orientação crítica provou ser metodologicamente heterogênea, o que levou Herman
(1999) a introduzir o conceito plural de “narratologias”. Uma pesquisa abrangente feita
por Nünning e Nünning (2002) e por Nünning (2003) agrupou a proliferação de “novas
narratologias” que tiveram início durante a década de 1990 em oito categorias, três das
quais se tornaram os paradigmas metodológicos dominantes da narratologia
contemporânea:
(a) A narratologia contextualista (CHATMAN, 1990b; observe que Chatman
introduz o termo, mas critica a abordagem) relaciona os fenômenos encontrados
na narrativa a contextos culturais, históricos, temáticos e ideológicos
específicos. Isso amplia o foco de aspectos puramente estruturais para questões
de conteúdo narrado.
(b) A narratologia cognitiva (HERMAN, 2003) concentra-se no processamento
intelectual e emocional humano de narrativas. Essa abordagem não se restringe
às narrativas literárias: as narrativas cotidianas e orais “naturais” são
consideradas como representantes de uma competência antropológica subjacente
em sua forma original (FLUDERNIK, 1996). As abordagens cognitivistas
também desempenham um papel crucial na pesquisa em IA, cujo objetivo é
modelar ou simular a inteligência narrativa humana (JAHN, 1999a; MATEAS;
SENGERS, 2003; MEISTER, 2003; LÖNNEKER et al., 2005).
(c) As abordagens transgenéricas (Hühn & Sommer → Narração em Poesia e
Drama) e abordagens intermidiais (Ryan → Narração em Várias Mídias; ver
RYAN, 2004; WOLF, 2004) exploram a relevância dos conceitos narratológicos
para o estudo de gêneros e mídias fora do domínio tradicional da narrativa
literária textual como objeto. A aplicação, adaptação e reformulação de
conceitos narratológicos andam de mãos dadas com a análise narratológica do
drama (FLUDERNIK, 2000; JAHN, 2001; RICHARDSON, 2007;
FLUDERNIK, 2008; NÜNNING; SOMMER, 2008), poesia (HÜHN, 2004;
HÜHN; KIEFER, 2005; SCHÖNERT et al., 2007), filme (BORDWELL, 1985;
BRANIGAN, 1992; SCHLICKERS, 1997; MITTELL, 2007; EDER, 2008),
música (KRAMER, 1991; WOLF, 2002; SEATON, 2005; GRABÓCZ, 2009),
artes visuais e performáticas (BAL, 1991; RYAN, 2003, ed. 2004; Berns →
Performativity), jogos digitais (RYAN, 2001, 2006, 2008), bem como outros

Grupo de Estudos de Narratologia e Intermidialidade 14


domínios. Essa ampliação da paleta narratológica para além de mídias
específicas destaca a necessidade de novas pesquisas sobre a narratividade
(Abbott → Narratividade).

3.6 O Panorama
O desenvolvimento da narratologia dependeu não apenas de seus avanços
teóricos ou metateóricos, mas também emergiu com a consolidação gradual das
estruturas organizacionais e institucionais. A esse respeito, três fases podem ser
identificadas:
Fase 1: A formação de grupos de interesse narratológicos transdisciplinares.
Começando com os contribuintes para a edição especial programática de 1966 da revista
Communications e a criação, durante os anos 1970, por Bremond, Genette, Todorov,
Marin e Metz do Centre de recherches sur les arts et le langage (Centre National de
Recherche Scientifique), modelos organizacionais informais (também representados
pelo grupo de Tel Aviv, com seu influente periódico Poetics Today, ou pela Escola de
Amsterdã, iniciada por Bal) desempenharam um papel decisivo na formação da
narratologia como uma interdisciplina paradigmática.
Fase 2: O advento de instituições narratológicas oficialmente financiadas para
pesquisa acadêmica e ensino desde o final da década de 1990, como o “Forschergruppe
Narratologie” e o “Interdisciplinary Center for Narratology”, na Universidade de
Hamburgo, o “Zentrum für Erzählforschung”, na Universidade de Wuppertal, assim
como o “Center for Narratological Studies” da Universidade do Sul da Dinamarca e o
“Project Narrative”, da Universidade Estadual de Ohio nos Estados Unidos.
Fase 3: A fundação de organizações narratológicas guarda-chuvas nacionais e
internacionais. Isso inclui a “International Society for the Study of Narrative”, da
América do Norte, a “Nordic Network” escandinava e a “European Narratology
Network”.
Até o momento, a definição teórica de narratologia geralmente seguiu uma de
três linhas de raciocínio: a primeira defende ou questiona o credo estruturalista
formalista original da narratologia; a segunda explora semelhanças familiares entre a
velha e as “novas narratologias” e seus vários paradigmas de pesquisa; a terceira enfoca
a distinção metodológica entre funções hermenêuticas e heurísticas, às vezes sugerindo

Grupo de Estudos de Narratologia e Intermidialidade 15


que o escopo da narratologia deva ser restrito à última e, em outras, argumentando que
deva ser definido em termos ainda mais gerais. Embora o mérito dessas definições
teóricas seja óbvio, o potencial da narratologia para um maior desenvolvimento talvez
seja mais bem descrito em termos de uma interação de três processos simultâneos:
expansão do corpo de teorias específicas da área nas quais a narratologia se baseia;
ampliação contínua de seu alcance epistêmico; consolidação de uma infraestrutura
institucional, o que ajudou a transformar uma metodologia em uma disciplina.

4 Tópicos para pesquisas futuras


A diversificação da narratologia desde a década de 1990 não apenas demonstrou
sua relevância continuada, mas também destacou a necessidade de se abordar o
problema da identidade metodológica. O que, exatamente, é a narratologia (ver KINDT;
MÜLLER, 2003)? Como pode ser definida em termos teóricos e metodológicos? A
necessidade de uma autorreflexão crítica por narratologistas praticantes pode ser
argumentada de dois ângulos.
Mesmo durante o auge do pós-estruturalismo, foi observado que “visitas ao
depósito de ferramentas da narratologia podem ser uma vantagem mesmo para aqueles
que fazem da teoria crítica sua residência principal” (HOESTEREY, 1991, p. 214). No
entanto, podem as importações conceituais tiradas da narratologia estruturalista manter
sua precisão teórica e integridade em um contexto metodológico diverso, ou não
estariam destinadas a degenerar em meros rótulos metafóricos? Conceitos descritivos
como mise en abyme ou metalepsis (Pier → Metalepsis) parecem correr menos riscos
(ver WOLF, 2005; SCHMID, 2005a), enquanto outros ― especialmente o conceito
narratológico central de narrador ― resistem à apropriação direta, como os estudos
fílmicos ou de jogos digitais (por exemplo, NEITZEL, 2005) vieram a perceber.
No entanto, exemplos como esses também apontam para uma questão mais
fundamental que se estende para além do escopo dos conceitos individuais. Qual é o
principal status metodológico do empreendimento que agora se transformou em uma
“Narratologia para além dos Estudos Literários” (MEISTER et al., 2005): a narratologia
é uma ferramenta, um método, um programa, uma teoria ou é, de fato, uma disciplina
(SCHÖNERT, 2004)?
A abrangente pesquisa de Nünning e Nünning de 2002 (ver NÜNNING, 2003)
sobre a diversidade de “novas narratologias” é encerrada com uma lista de seis metas,

Grupo de Estudos de Narratologia e Intermidialidade 16


clamando por: (a) mais estudos sobre a história da narratologia; (b) exemplos concretos
de análises narratológicas de textos; (c) explicação teórica detalhada dos fundamentos
conceituais narratológicos; (d) reconstruções narratológicas de fenômenos relevantes
para a história literária; (e) trabalhos narratológicos no campo da história cultural; (f)
pesquisa sobre aspectos intermidiais da narrativa.
Nos anos que se seguiram, a maioria desses objetivos foram atendidos, pelo
menos em parte. Por exemplo, o papel constitutivo dos formalistas russos foi
reconstruído em Schmid (Eds., 2009), que inclui traduções (alemãs) de textos originais
seminais.
Outros investigaram ligações históricas entre a narratologia e a Erzähltheorie
alemã (CORNILS; SCHERNUS, 2003; FLUDERNIK; MARGOLIN, 2004). Análises
narratológicas de textos, filmes, artefatos visuais, etc. foram realizadas, a partir da
década de 1970, e continuam a alimentar a reflexão narratológica até hoje. Numerosos
estudos ― alguns deles com extensão de livros ― foram dedicados a conceitos
fundamentais, como evento e “eventfulness” (SCHMID, 2003; Hühn → Event and
Eventfulness), narratividade (STURGESS, 1992; STERNBERG, 2001; AUDET et al.
[2006] 1992; PIER; GARCÍA LANDA, EDS 2008; Abbott → Narratividade), ação
(MEISTER, 2003), personagem (JANNIDIS, 2004; EDER, 2008; Jannidis →
Character) e perspectiva (HÜHN et al., Eds 2009; Niederhoff → Perspectiva – Ponto de
Vista; Niederhoff → Focalização); pesquisas sobre aspectos procedimentais da
narrativa, que por muito tempo permaneceram despercebidos, surgiram dos estudos de
mídias digitais (RYAN, 2002, 2006).
Por outro lado, uma abordagem narratológica da história literária ― demandada
repetidamente (BAL, 1986; PAVEL, 1990; NÜNNING, 2000; FLUDERNIK, 2003, etc.)
― ainda é incomum. Da mesma forma, o potencial para cooperação interdisciplinar
entre narratologia e linguística textual também não foi totalmente explorado ainda.
Após um início promissor, na década de 1970 (VAN DIJK, 1975), esse trabalho foi
realizado apenas ocasionalmente (por exemplo, ADAM, [1985] 1994; KARLGREN;
CUTTING, 1994; TOOLAN, [1988] 2001). Contribuições recentes como Adam (2005),
Lehmann (2008) ou Janik (2008) demonstram a sinergia dessa abordagem.
A narratologia contemporânea respondeu claramente ao apelo para ampliar o
escopo da metodologia e do campo do objeto. Ao mesmo tempo, as duas últimas metas
ressaltam o status paradigmático da narrativa literária para o estudo narratológico da

Grupo de Estudos de Narratologia e Intermidialidade 17


representação narrativa.

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<http://www.sdu.dk/Om_SDU/Institutter_centre/Ilkm/Forskning/Forskningsprojekter/C
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