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1 Definição
A narratologia é uma disciplina da área de humanas dedicada ao estudo da
lógica, dos princípios e das práticas da representação narrativa.
Dominada por abordagens estruturalistas em seu início, a narratologia se
desenvolveu em uma variedade de teorias, conceitos e procedimentos analíticos. Seus
conceitos e modelos são amplamente usados como ferramentas heurísticas, e os
teoremas narratológicos desempenham um papel central na exploração e modelagem de
nossa capacidade de produzir e processar narrativas em uma infinidade de formas,
mídias, contextos e práticas comunicativas.
2 Explicação
Como ciência humana, a narratologia é historicamente definida e reflete as
contínuas mudanças nas orientações e metodologias de pesquisa nas humanidades. Ao
mesmo tempo, a persistência da investigação narratológica por mais de quatro décadas,
apesar de suas crescentes “tendências centrífugas” (BARRY, 1990), atesta sua coesão
como sistema de práticas científicas.
Durante sua fase inicial ou “clássica”, de meados da década de 1960 ao início da
década de 1980, os narratologistas estavam particularmente interessados em identificar
e definir os universais narrativos. Essa tendência ainda ecoa em uma definição concisa
de narratologia, de 1993, como “o conjunto de afirmações gerais sobre gêneros
narrativos, sobre a sistemática da narrativa (contar uma história) e sobre a estrutura do
1
Como citar este texto:
3.2 Precursores
Elementos e ideias centrais já estavam em uso na modelagem narratológica da
narrativa e foram introduzidos já na antiguidade grega, enquanto outros se originaram
do final do século XIX em diante, particularmente no contexto de taxonomias
fenomenológicas, morfológicas e hermenêuticas e teorias de narrativas literárias e
folclóricas.
início do século XX
A narrativa em prosa como a conhecemos hoje tornou-se parte aceita do cânone
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Todas as referências indicadas por setas correspondem a textos do Living Handbook
of Narratology, muitos dos quais estão traduzidos e disponíveis no Repositório Digital de
Textos de Narratologia.
3.2.6.2 Tempo
Com relação à categoria de tempo, Müller (1948) introduziu uma distinção
igualmente fundamental entre “tempo narrado” (erzählte Zeit) e “tempo de narração”
(Erzählzeit). A correlação entre as duas dimensões, como ele demonstrou, caracteriza o
ritmo de uma narrativa.
Essa abordagem foi explorada por Lämmert (1955), em uma das primeiras
taxonomias narrativas em grande escala. Para Lämmert, a fenomenologia das narrativas
individuais pode ser rastreada até um repertório universal estável de modos elementares
de narrar. Ele distinguiu vários tipos de narração que esticavam, abreviavam, repetiam,
pausavam e interrompiam, pulavam e eliminavam subsequências, enquanto outros tipos
imitavam perfeitamente o fluxo do tempo narrado. (A categoria de tempo em Genette
[1972] 1980 é examinada em termos semelhantes.) Com base no trabalho de Lubbock
([1921] 1972), bem como em Petsch (1934), Lämmert relacionou essas formas
elementares de temporalidade narrativa aos principais modos de narração, como
apresentação cênica, relato, reflexão e descrição. Infelizmente, o ganho sistemático de
sua contribuição foi prejudicado por uma taxonomia excessivamente complexa e às
vezes “confusa” que tenta explicar todas as formas de flashbacks e flashforwards
3.6 O Panorama
O desenvolvimento da narratologia dependeu não apenas de seus avanços
teóricos ou metateóricos, mas também emergiu com a consolidação gradual das
estruturas organizacionais e institucionais. A esse respeito, três fases podem ser
identificadas:
Fase 1: A formação de grupos de interesse narratológicos transdisciplinares.
Começando com os contribuintes para a edição especial programática de 1966 da revista
Communications e a criação, durante os anos 1970, por Bremond, Genette, Todorov,
Marin e Metz do Centre de recherches sur les arts et le langage (Centre National de
Recherche Scientifique), modelos organizacionais informais (também representados
pelo grupo de Tel Aviv, com seu influente periódico Poetics Today, ou pela Escola de
Amsterdã, iniciada por Bal) desempenharam um papel decisivo na formação da
narratologia como uma interdisciplina paradigmática.
Fase 2: O advento de instituições narratológicas oficialmente financiadas para
pesquisa acadêmica e ensino desde o final da década de 1990, como o “Forschergruppe
Narratologie” e o “Interdisciplinary Center for Narratology”, na Universidade de
Hamburgo, o “Zentrum für Erzählforschung”, na Universidade de Wuppertal, assim
como o “Center for Narratological Studies” da Universidade do Sul da Dinamarca e o
“Project Narrative”, da Universidade Estadual de Ohio nos Estados Unidos.
Fase 3: A fundação de organizações narratológicas guarda-chuvas nacionais e
internacionais. Isso inclui a “International Society for the Study of Narrative”, da
América do Norte, a “Nordic Network” escandinava e a “European Narratology
Network”.
Até o momento, a definição teórica de narratologia geralmente seguiu uma de
três linhas de raciocínio: a primeira defende ou questiona o credo estruturalista
formalista original da narratologia; a segunda explora semelhanças familiares entre a
velha e as “novas narratologias” e seus vários paradigmas de pesquisa; a terceira enfoca
a distinção metodológica entre funções hermenêuticas e heurísticas, às vezes sugerindo
5 Bibliografia
5.1 Obras Citadas:
AARNE, Antti; THOMPSON, Stith. The types of the folktale. A classification and
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BARTHES, Roland. An Introduction to the Analysis of Narrative. New Literary
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BOOTH, Wayne C. The Rhetoric of Fiction. Chicago: University of Chicago Press,
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BOOTH, Wayne C. “Resurrection of the Implied Author: Why Bother?” In: PHELAN,
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