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Bioética e Deontologia

Ft.
Ms. Ft. Carolina Thomazi

Curso de Fisioterapia
UNICNEC/Osório
Cronograma
• Aula1- Apresentação do plano de ensino. Definição de bioética. Princípios da Bioética

• Aula2- Humanização da saúde e qualidade de vida.

• Aula3- Bioética e direito. Ética e Pesquisa. Doping.

• Aula 4- Aborto e reprodução assistida. Paciente e religião. Estudo dirigido.

• Aula5- Prova teórica 1

• Aula 6- Eutanásia e distanásia. Cuidados paliativos e pacientes terminais. Éticas nos


transplantes.

• Aula 7- Doença mental. Código de ética fisioterapêutica.

• Aula8- Ética na relação paciente terapeuta. Atividade de encenação.

• Aula9- Seminário de casos.

• Aula10- Prova teórica 2


Avaliações
A avaliação da disciplina :

• Nota B1: prova teórica (6 pontos) + participação do


aluno nas discussões em sala de aula e estudo
dirigido (4 pontos).
• Nota B2: prova teórica (6 pontos) + participação do
aluno nas discussões em sala de aula e seminário de
casos (4 pontos).

A média semestral, será a média entre B1 e B2.


Juro, por Deus e minha família, diante de meus mestres que me
dedicarei à Fisioterapia com honra dignidade, respeitando a vida
humana desde a concepção até a morte, jamais cooperando em
ato que voluntariamente se atente contra ela, ou que coloque
em risco a integridade física, psíquica e social do ser humano;
dispondo todo meu conhecimento, talento e inteligência para a
promoção, proteção e recuperação da saúde. Repassarei meus
conhecimentos sempre que se fizer necessário e agirei com
humildade e honestidade.

Assim, eu juro.
“Se existem duas culturas que parecem incapazes de dialogar – as
ciências e humanidades – e se isto se mostra como uma razão pela
qual o futuro se apresenta duvidoso, então, possivelmente,
poderíamos construir uma ponte para o futuro, construindo a bioética
como uma ponte entre as duas culturas” Van Rensselaer Potter, 1971

bios (vida) ethos (ética)


representa o conhecimento representa o
biológico, a ciência dos conhecimento dos valores
sistemas vivos. BIOÉTICA humanos.
“ A Bioética é a disciplina ética que se formou em torno de pesquisas,
práticas e teorias que visam interpretar os problemas levantados pela
biotecnociência e pela biomedicina” Pegoraro, 2002.

“Convencidos de que a bioética não se ocupa somente dos problemas


éticos originados do desenvolvimento científico e tecnológico, mas
também das condições que tornam o meio ambiente humano
ecologicamente equilibrado na biodiversidade natural e de todos os
problemas éticos relacionados ao cuidado da vida e da saúde, tem
como pressuposto básico o conceito de saúde integral entendido na
perspectiva biológica, psicológica, social e ambiental, como o
desenvolvimento das capacidades humanas essenciais que viabilizem
uma vida longeva, saudável e alcançável por todos, o quanto seja
possível. (Texto distribuído aos membros da Sociedade Brasileira de Bioética via correspondência em
20/11/2004)
“A Encyclopedia of Bioethics (Tom L. Beauchamp e James F.
Childress) define a bioética como um estudo sistemático da
conduta humana no campo das ciências biológicas e da atenção
de saúde, sendo essa conduta examinada à luz de valores e
princípios morais, constituindo um conceito mais amplo que o da
ética médica, tratando da vida do homem,
da fauna e da flora.”

- Portanto, seu estudo vai além da área médica, abarcando


Direito, Psicologia, Biologia, Antropologia, Sociologia, Ecologia,
Teologia, Filosofia, etc., observando as diversas culturas e
valores.

Vieira, 2000
CONCEITOS

MORAL Deontologia

ÉTICA
MORAL

É o conjunto de valores, hábitos, costumes, formas de ser de um povo e


que se modifica com o passar do tempo. Os valores morais constroem-se
segundo as diferentes épocas, lugares e contextos históricos.
A moral está inserida na cultura de um povo e constitui-se no objeto de
estudo da Ética. Assim, nossa moralidade é uma espécie de argila que se molda
sob a égide das diferentes éticas, em cada época, em cada sociedade.

EXEMPLOS

Stron, 2007
ÉTICA

Diz respeito ao pensamento crítico sobre o conjunto de valores morais adotados


por um povo. Cabe à ética a tarefa de indagar: Esses valores são bons? Trazem felicidade?
Devemos modificar esses valores e adotar outros mais adequados? A ética, como
conhecimento filosófico, pergunta-se sobre o Bem e o Mal, sobre o que pode e o que não
pode ser feito, o que deve e o que não deve ser feito, portanto sobre o sentido da
existência .

Stron, 2007
ÉTICA “Ética é um conjunto de valores e princípios que
você e eu usamos para decidir as três grandes questões da
vida: quero, devo, posso”. Mário Sérgio Cortela
Deontologia

Deonto do grego significa dever.

Deontologia pode ser entendida como a “ciência dos deveres” e engloba o estudo, a
discussão, a elaboração e a constante necessidade de atualização do Código de Ética.

Cada profissão possui seu Código de Ética.

O Código de Ética é o documento que espelha a Deontologia de uma profissão e pode


ser considerado como a ética das intenções, a melhor das intenções. É o resultado das
discussões de um grupo escolhido de profissionais, com consulta pública ao conjunto da
categoria, para elaborar como deve ser a conduta de todos.

Stron, 2007
História da Bioética

Termo Bioética

Fritz Jahr Van R. Potter

• 1927 • 1970
• Alemanha • EUA

Pessini,2013
Van R. Potter

• Chamou a bioética de “ciência da sobrevivência humana”;

• Duas publicações importantes e inovadoras para a época :


– Bioethics, science of survival, publicado em Persp Biol Med
(1970);
– Bioethics: bridge to the future (1971).

• Potter apresenta a bioética como uma ponte entre a ciência


biológica e a ética;

• Sua intuição consistiu em pensar que a sobrevivência de grande


parte da espécie humana, em uma civilização decente e sustentável,
dependia do desenvolvimento e manutenção de um sistema ético;
Pessini,2013
Van R. Potter

• Potter almejava criar uma disciplina em que promovesse a


dinâmica e a interação entre o ser humano e o meio ambiente.
Antecipando-se ao que atualmente se tornou preocupação
mundial: a ecologia;

• André Hellegers, considerado o segundo pai da bioética, seis


meses após o lançamento do livro de Potter nomeia com o termo
bioética um novo centro de estudos – Joseph and Rose Kennedy
Institute for the Study of Human Reproducton and Bioethics –
hoje conhecido como Instituto Kennedy de Bioética.

• Em 1988, Potter amplia a bioética em relação a outras disciplinas,


não somente como ponte entre a biologia e a ética, mas com a
dimensão de uma ética global. Pessini,2013
Fritz Jahr

• Em 1997, o professor Rolf Lother, da Universidade Humboldt de Berlim,


menciona Fritz Jahr, a quem credita ter cunhado a palavra Bio-Ethik em
1927;

• Lother investigou a origem da palavra Bioética, chegando à publicações do


famoso periódico Kosmos, deixado por seu avô, nos quais encontrou o
editorial do volume de 1927 e o histórico artigo de Jahr intulado “Bioética:
uma revisão do relacionamento ético dos humanos em relação aos animais
e plantas”;

• As ideias de Jahr foram elaboradas por Hans-Martin Sass, seu conterrâneo e


que trabalhou por longos anos no Instituto Kennedy de Bioética;

• Devido as dificuldades de seu tempo na Alemanha (Hitler), não teve grande


influência história para o desenvolvimento da Bioética.
Pessini,2013
Marcos Históricos
História da Bioética

1962

• Criação de máquina de hemodiálise em um Hospital


de Seatle;
• Comitê de Seatle – decidiam quem iria realizar o
tratamento pois havia mais pacientes do que
máquinas. Além disso decidiam a alocação de
recursos em saúde.
Pessini,2013
Marcos Históricos
História da Bioética

1966

• Henry Beecher, escreve artigo denunciando inúmeros


casos de pesquisas que usavam sujeitos vulneráveis.
– 400 jovens negros, sífilis;
– Células cancerígenas em idosos;
– Hepatite A em crianças de um orfanato para crianças com
retardo mental.
Pessini,2013
Marcos Históricos
História da Bioética

1967

• Christian Barnard realizou o 1º transplante de


coração;
• Critérios para morte:
– Antes: funcionamento do coração e pulmão;
– Após: definição de morte cerebral (em 1975).

Pessini,2013
Princípios da Bioética
Princípios da Bioética

• São o ponto de partida obrigatório para qualquer discussão a


propósito o de temas controversos na área da saúde.

• O estabelecimento dos princípios da Bioética decorreu da criação,


pelo Congresso dos Estados Unidos, de uma “Comissão Nacional
para Proteção de Sujeitos Humanos na Pesquisa Biomédica
Comportamental” encarregada de identificar os princípios éticos
básicos que deveriam guiar a investigação em seres humanos
pelas ciências do comportamento e pela Biomedicina.

• Regem desde a experimentação com seres humanos até a prática


clínica e assistencial. Diversas vertentes.
Oguisso e Zoboli, 2006
Princípios da Bioética
• Iniciados os trabalhos em 1974, quatro anos depois, esta
Comissão publicou o chamado “Relatório Belmont”, contendo três
princípios:
– Autonomia – respeito pelas pessoas - vulneráveis;
– Beneficência – riscos e benefícios;
– Justiça – desigualdades e igualdades.

• Em 1979, Tom L. Beauchamp e James F. Childress , acrescentaram


outro princípio:
– não-maleficência.

O PRINCIPIALISMO
Oguisso e Zoboli, 2006
Princípios da Bioética

Os autores defendiam a
aplicação prática da Bioética em
três vetores:

- Prática terapêutica

- Oferta de serviços de saúde

- Pesquisa médica e biológica


Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE NÃO MALEFICÊNCIA:

• De acordo com este princípio, o profissional de saúde tem o dever de,


intencionalmente, não causar mal e/ou danos a seu paciente.

• Considerado por muitos como o princípio fundamental da tradição hipocrática


da ética médica, tem suas raízes em uma máxima que preconiza: “cria o hábito
de duas coisas: socorrer (ajudar) ou, ao menos, não causar danos”.

• Trata-se, portanto, de um mínimo ético, um dever profissional, que, se não


cumprido, coloca o profissional de saúde numa situação de má-prática ou
prática negligente.

Oguisso e Zoboli, 2006


Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE NÃO MALEFICÊNCIA:

• A Não Maleficência tem importância porque, muitas vezes, o risco de causar


danos é inseparável de uma ação ou procedimento que está indicado.

• No exercício da medicina este é um fato muito comum, pois quase toda


intervenção diagnóstica ou terapêutica envolve um risco de dano.

Por exemplo, retirar sangue:


Para realizar um teste diagnóstico tem um risco de causar hemorragia no local
puncionado. Este dano pode estar justificado se o benefício esperado com o resultado deste
exame for maior que o risco de hemorragia. A intenção do procedimento é beneficiar o paciente e
não causar-lhe o sangramento. As consequências do dano são pequenas e certamente não há risco
de vida. Porém, se o paciente tiver problemas de hemostasia, este risco ficará aumentado. Quanto
maior o risco de causar dano, maior e mais justificado deve ser o objetivo do procedimento para
que este possa ser considerado um ato eticamente correto.

Oguisso e Zoboli, 2006


Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE BENEFICÊNCIA:

• A beneficência tem sido associada à excelência profissional desde os tempos da


medicina grega, e está expressa no Juramento de Hipócrates:
“Usarei o tratamento para ajudar os doentes, de acordo com minha
habilidade e julgamento e nunca o utilizarei para prejudicá-los”

• Beneficência quer dizer fazer o bem. De uma maneira prática, isto significa que
temos a obrigação moral de agir para o benefício do outro.

• Este conceito, quando é utilizado na área de cuidados com a saúde, que engloba
todas as profissões das ciências biomédicas, significa fazer o que é melhor para
o paciente. É usar todos os conhecimentos e habilidades profissionais a
serviço do paciente, considerando, na tomada de decisão, a minimização dos
riscos e a maximização dos benefícios do procedimento a realizar.
Oguisso e Zoboli, 2006
Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE BENEFICÊNCIA:

• O princípio da Beneficência obriga o profissional de saúde a ir além da


não maleficência (não causar danos intencionalmente) e exige que ele
contribua para o bem estar dos pacientes, promovendo ações:

– para prevenir e remover o mal ou dano que, neste caso, é a doença e a


incapacidade e,
– para fazer o bem, entendido aqui como a saúde física, emocional e mental.

• A Beneficência requer ações positivas, ou seja, é necessário que o profissional


atue para beneficiar seu paciente.

Oguisso e Zoboli, 2006


Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE BENEFICÊNCIA:

• Além disso, é preciso avaliar a utilidade do ato, pesando benefícios versus riscos
e/ou custos.

• Por exemplo, uma pesquisa:


Um pesquisador submete um protocolo de investigação ao Comitê de Ética
em Pesquisa de uma Instituição: se espera que o investigador esclareça não só quais
são os riscos para os sujeitos pesquisados, mas também quais são os benefícios
esperados com o estudo, tanto para os participantes como para a sociedade em geral,
e, então, argumente porque os possíveis benefícios sobrepujam os riscos, pois só neste
caso a pesquisa é considerada eticamente correta ou adequada. O mesmo raciocínio
pode ser utilizado para os procedimentos da prática clínica, com o intuito de definir a
sua utilidade e beneficência. Oguisso e Zoboli, 2006
Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE RESPEITO À AUTONOMIA:

• Autonomia é a capacidade de uma pessoa para decidir fazer ou buscar aquilo


que ela julga ser o melhor para si mesma. Para que ela possa exercer
esta autodeterminação são necessárias duas condições fundamentais:
1) COMPETÊNCIA: capacidade para agir intencionalmente, o que pressupõe
compreensão e
razão para decidir coerentemente entre as alternativas que lhe
são apresentadas;
2) LIBERDADE: no sentido de estar livre de qualquer influência controladora para
esta tomada de posição.

• Já o Respeito à Autonomia significa ter consciência deste direito da pessoa de


ter seus pontos de vista e opiniões, de fazer escolhas autônomas, de agir
segundo seus valores e convicções.
Oguisso e Zoboli, 2006
Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE RESPEITO À AUTONOMIA:

• Na prática assistencial:
- consentimento para a realização de diagnósticos, procedimentos e
tratamentos;
- obriga o profissional de saúde a dar ao paciente a mais completa informação
possível, com o intuito de promover uma compreensão adequada do
problema, condição essencial para que o paciente possa tomar uma decisão;
- ajudar o paciente a superar seus sentimentos de dependência, para que possa
discutir as opções diagnósticas e terapêuticas.

É a essência do consentimento informado

Oguisso e Zoboli, 2006


Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE JUSTIÇA:

• A justiça ordena duas coisas:


1) Que todos os pacientes sejam tratados com equidade, sem diferenças, a não
ser que momentaneamente apareçam situações distintas, que exigem o
tratamento diferenciado, mas que será aplicado a todos os que venham a se
encontrar na mesma situação.
2) Diz respeito ao Estado, que deve distribuir igualmente os recurso, para que
todos os cidadãos possam receber cuidados médicos competentes e de
qualidade.

• O conceito de justiça deve fundamentar-se na premissa que as pessoas têm


direito a um mínimo decente de cuidados com sua saúde.

Oguisso e Zoboli, 2006


Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
O PRINCÍPIO DE JUSTIÇA:

• Justiça está associada preferencialmente com as relações entre grupos sociais,


preocupando-se com a equidade na distribuição de bens e recursos
considerados comuns, numa tentativa de igualar as oportunidades de acesso a
estes bens.

• Com a crescente socialização dos cuidados com a saúde, as dificuldades


de acesso e o alto custo destes serviços, as questões relativas à justiça social
são cada dia mais prementes e necessitam ser consideradas quando se
analisam os conflitos éticos que emergem da necessidade de uma distribuição
justa de assistência à saúde das populações.

Oguisso e Zoboli, 2006


Princípios da Bioética
O PRINCIPIALISMO
• Desde seu aparecimento, o Principialismo gerou críticas.
• Conflitos entre eles porque, na prática, nem sempre se pode respeitá-los
igualmente.
EXEMPLO:
Conflitos de beneficência x autonomia
Crianças. A beneficência do pediatra para com seu paciente existe independentemente da
vontade dos pais. Porém, em alguns momentos há conflito entre as concepções da equipe
de saúde e dos responsáveis sobre o que é melhor para a criança.
Escolares e adolescentes. Muitas vezes eles tem condições de entender e opinar sobre sua
saúde.

EXEMPLO:
Conflitos de não maleficência x autonomia

Oguisso e Zoboli, 2006

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