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A Bioética e as suas Relações com a

Prática Profissional e o Código de Ética

Prof. Dr. Alexandre Juan Lucas

São Paulo
2022
Prof. Dr. Alexandre Juan Lucas

• Enfermeiro (Universidade Católica de Santos)


• Doutor e Mestre em Bioética (Centro Universitário São Camilo)
• Pós-doutorado em Bioética (Universidade de Brasília)
• Especialista em Gerenciamento dos Serviços de Enfermagem
(UNIFESP), Educação Profissional (EERP-USP) e Enfermagem do
Trabalho (Universidade Bandeirante de São Paulo)
• Docente de cursos de graduação e pós-graduação em enfermagem e
saúde
• Fiscal do Coren-SP
Apresentação

• Processo histórico do desenvolvimento da


bioética
• Principais fundamentos da bioética
• A bioética no Brasil
• A bioética e a Enfermagem
• A bioética e o Código de Ética de Enfermagem
A Bioética
Paul Max Fritz Jahr (Halle, 18 de janeiro de 1895 - Halle, 1 de outubro de
1953) foi um teólogo alemão responsável por empregar, pela primeira vez,
o termo Bioética, no ano de 1927, em seu clássico artigo na revista
científica Kosmos, intitulado "Bioética: uma revisão do relacionamento
ético dos humanos em relação aos animais e plantas". Por este feito, é
considerado como o precursor da bioética.
Declarações e Códigos

- Código de Nuremberg – 1947


- Declaração Universal de Direitos
Humanos – 1948
- Declaração de Helsinque – 1965
Diniz (2002) destaca os seguintes acontecimentos:

• 1. A divulgação do artigo da Jornalista Shana Alexander,


na revista Life, publicado em 1962, intitulado de “Eles
decidem quem vive, quem morre”, onde conta a história
e seus desdobramentos até a criação de um comitê de
ética hospitalar, o Comitê de Admissão e Políticas do
Centro Renal de Seattle, em Washington, nos Estados
Unidos.

• O Comitê de Seattle tinha por objetivo definir as


prioridades na alocação de recursos para a saúde, e uma
das suas primeiras medidas foi selecionar, entre os
pacientes renais crônicos, que fariam parte do programa
de hemodiálise recentemente inaugurado.

• Porém havia um número maior de pacientes do que de


máquinas dialisadoras, e assim os médicos fizeram a
opção de delegar para um pequeno grupo de pessoas,
leigas, os critérios da seleção para o atendimento, e
assim, cabia, por sua vez, a este grupo fazer, por meio de
critérios não médicos, a seleção para o tratamento,
passando assim, a decisão dos médicos para o domínio
de leigos.
• 2.Henry Beecher, médico anestesista, estudioso, e que pesquisava
artigos de pesquisas científicas, com publicação internacional, e que
envolviam seres humanos, em 1966, divulgou o artigo intitulado
“Ethics and clinical research”, ou seja, a “Ética em pesquisa
clínica”, no The New England Journal of Medicine.

• Tal artigo chocou a comunidade científica mundial, pois do


levantamento de 50 artigos compilados, foram publicados 22 artigos,
destas 14 foram desenvolvidas em centros universitários norte-
americanos, com relatos de pesquisas realizadas com recursos
procedentes de companhias de medicamentos e instituições
governamentais, onde o principal alvo dessas pesquisas eram os
chamados “cidadão de segunda classe”, que eram pessoas internadas
em hospitais de caridade, adultos e crianças com deficiência mental,
recém-nascidos, idosos, presidiários, pessoas com distúrbios mentais,
ou seja, conforme afirmado por Beecher “pessoas incapazes de
assumir uma postura moralmente ativa diante do pesquisador do
experimento”.

• Em seu levantamento, Beecher verificou que apenas dois estudos


apresentavam a solicitação do termo de consentimento, no protocolo
de pesquisa. Mediante a constatação de Beecher, quanto à violação
de direitos humanos frente às pesquisas, ele propôs em toda a
pesquisa com seres humanos, primeiramente o respeito, e a
importância da necessidade do termo de consentimento informado,
bem como o compromisso na ação do pesquisador com
responsabilidade.
• 3.Em 1967, na África do Sul, o cirurgião cardíaco
Christian Barnard, transplantou um coração de uma
pessoa quase morta, para um paciente com doença
cardíaca em fase terminal. Tal fato causou inúmeros
debates e discussões sobre como o médico garantia
que o doador estivesse de fato morto, no momento da
doação. Devido ao fato, a Escola Médica da
Universidade de Harvard, no ano de 1968, procurou
definir os critérios para a morte cerebral, com a
finalidade de dar respostas a casos semelhantes,
porém tais regras somente foram divulgadas em 1975.
4. Destaca-se também, o ocorrido entre 1950 e 1970,
em um hospital de Nova York, onde foram injetados
vírus da hepatite viral em crianças com
deficiências mentais, e em 1963, em outro hospital,
onde se fazia o tratamento de pessoas com doenças
crônicas, também situado em Nova York, onde foram
injetadas células cancerosas em idosos doentes.
(PESSINI e BARCHIFONTAINE, 2010)
5. O Caso Tuskegee, como ficou conhecido, é seguramente um dos
exemplos mais perturbadores utilizados pelos pesquisadores da bioética
como referência para os abusos realizados em nome da ciência e do
progresso. A pesquisa era conduzida pelo Serviço de Saúde Pública dos
Estados Unidos (U.S. Public Health Service – PHS), ou seja, um órgão
sanitário oficial do país, e consistia em acompanhar o ciclo natural de
evolução da sífilis em sujeitos infectados.

Desde meados dos anos 1930 até o início dos anos 1970, 400 pessoas
negras portadoras de sífilis foram deixadas sem tratamento (utilizava-se
apenas placebo), no intuito de identificar a história natural da doença [...].
Vale lembrar que a penicilina, medicamento fundamental para o tratamento
da sífilis, já havia sido descoberta, com uso corrente no tratamento da
enfermidade. Os participantes da pesquisa sequer foram informados de que
estavam sendo submetidos a um experimento, não lhes sendo oferecida a
alternativa do tratamento convencional. A denúncia desse caso forçou a
opinião pública a perceber que nem tudo estava moralmente correto no
campo da ciência, da tecnologia e da medicina.
(GUILHEM e DINIZ, 2002)
A Bioética
Van Rensselaer Potter (27 de agosto de
1911 — 6 de setembro de 2001) foi um
bioquímico americano, e pesquisador em
oncologia. Sua experiência com pacientes
oncológicos o fez propor o surgimento de um
novo conceito interdisciplinar, o qual
correlaciona ética e ciência, o qual denominou
de Bioética. Potter tenta estabelecer um
diálogo entre a ciência da vida e a sabedoria
prática, ou seja, entre o Bios e o Ethos,
criando desta forma a bioética. Seu livro
“Bioética: Ponte para o Futuro” é o primeiro
livro abordando este dialogo, e o marco inicial
da bioética.
A Bioética norte-americana

• Seis meses após a publicação de Potter, no dia primeiro de julho


de 1971, é fundado oficialmente, nos Estados Unidos, o “The
Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of Human
Reproduction and Bioethics”, sendo este o primeiro instituto
universitário destinado ao estudo da bioética, na Universidade de
Georgetown, em Washington, D.C., mediante o donativo de 1,35
milhão de dólares procedentes da Joseph P. Kennedy, Jr.
Foundation, onde o fundador foi André Hellegers, obstetra
holandês e pesquisador, onde este por sua vez, também deu
destaque e difundiu a palavra bioética.

• Em 1974 instituída a “National Commission for the Protection of


Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research”, ou seja
“Comissão Nacional para a Proteção dos Seres Humanos da
Pesquisa Biomédica e Comportamental”que em 1978 deu origem
ao Relatório Belmont.
O Relatório Belmont

Princípios da Bioética

• Respeito pelas pessoas


(Autonomia);
• Não-maleficência;
• Beneficência;
• Justiça.
A Bioética no Brasil
• 1987 - é publicado o livro Experimentação em seres humanos, por Sônia
Vieira e William Saad Hossne, esta obra chamou a atenção para as
questões éticas na pesquisa envolvendo seres humanos;

• 1988 - o Conselho Nacional de Saúde (CNS), recém instalado, como


órgão de controle social, elaborou uma norma, a Resolução CNS nº 01 de
14 de junho de 1988, que aprovava as normas para a pesquisa em saúde;

• 1993 - a publicação do primeiro número da revista Bioética, pelo Conselho


Federal de Medicina - temática “AIDS e Bioética”, e por contemplar em seu
conselho editorial médicos e não médicos, ou seja pessoas de notório
saber e especialistas de outras áreas ;

• 1995 - criação da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), passando a


bioética a contar com uma associação comprometida com os estudos e a
discussão em bioética, tendo seu primeiro congresso no ano de 1996 e
periodicidade bienal.

• 1996 - o Conselho Nacional de Saúde aprovou, como instrumento legal, a


Resolução 196 de 10 de outubro de 1996, que dispõe sobre a Aprovação das
Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos,
e assim revogou a Resolução CNS 01 de 1988. Atualmente foi reformulada pela
Resolução CNS 466/2012.
A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos
Humanos – UNESCO (2005)
1.Dignidade Humana e Direitos Humano;
2. Benefício e Dano;
3. Autonomia e Responsabilidade Individual;
4. Consentimento;
5. Indivíduos sem a Capacidade para Consentir;
6. Respeito pela Vulnerabilidade Humana e pela Integridade
Individual;
7. Privacidade e Confidencialidade;
8. Igualdade, Justiça e Equidade;
9. Não discriminação e Não Estigmatização;
10. Respeito pela Diversidade Cultural e pelo Pluralismo;
11. Solidariedade e Cooperação;
12. Responsabilidade Social e Saúde;
13. Compartilhamento de Benefícios;
14. Proteção das Gerações Futuras;
15. Proteção do Meio Ambiente, da Biosfera e da Biodiversidade

(UNESCO, 2005).
A Bioética e a Pesquisa com Seres
Humanos no Brasil

CNS – Conselho Nacional de Saúde

• Resolução CNS – 466/2012

• Resolução CNS – 510/2016


A Bioética e a Enfermagem
- A bioética vem se agregando à construção histórico-social da
prática profissional da enfermagem, imprimindo-lhe novos
matizes e perspectivas, no sentido de responder aos desafios
decorrentes da necessidade de mesclar a ética e técnica.

(ZOBOLI, 2005)

- Os dilemas morais em assuntos bioéticos são enfrentados


diariamente pelos profissionais da Enfermagem, o que torna o
seu estudo, e esta discussão imprescindíveis à profissão.

(VIEIRA, 2007)

- Refletir as condutas terapêuticas, questionar valores, repensar


e redefinir práxis e cuidados no agir profissional, à luz da ética e
bioética representa para a enfermagem, tomar consciência da
dimensão e do desafio da bioética na profissão.

(SELLI,1998)
A Bioética e a
Enfermagem
Principais temas:

• Direitos dos usuários dos serviços de saúde;


• Questões vinculadas ao início de vida;
• Questões inerentes ao final de vida;
• Privacidade, confidencialidade e sigilo;
• Legislação em saúde;
• Legislação profissional;
• Bioética e desenvolvimento técnico-científico;
• Ética na pesquisa com seres humanos e animais;
• Direitos e deveres profissionais;
• Iatrogenias
• Violência;
• Atuação dos Comitês de Ética em Pesquisa;
Referências

• GUILHEM, Dirce; DINIZ, Debora. O que é bioética. São Paulo:


Brasiliense, 2002. 69 p.
• PESSINI, Leocir; BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de.
Problemas atuais de bioética. 9. ed. São Paulo: Centro
Universitário São Camilo: Loyola, 2010. 632 p.
• SELLI, Lucilda. Bioética na Enfermagem. 2. ed. São Leopoldo:
Unisinos, 1998. 158 p.
• VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética e enfermagem: uma análise
interdisciplinar. In: MALAGUTTI, William (Org.). Bioética e
enfermagem: controvérsias, desafios e conquistas. Rio de
Janeiro: Rubio, 2007. Cap. 2. p. 17-30.
• ZOBOLI, Elma Lourdes Campos Pavone. Bioética e Enfermagem. In:
VIEIRA, Tereza Rodrigues (Org.). Bioética nas profissões.
Petrópolis RJ: Vozes, 2005. Cap. 7. p. 101-119.
COREN-SP

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alexandrej@coren-sp.gov.br

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