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CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Bioética:
origens, desenvolvimento e perspectivas
Origens da Bioética
• Como abordado na aula passada, apesar do termo Bioética ter sido utilizado pela
primeira vez em 1971 pelo bioquímico e oncologista americano Potter, o tema
preocupa a humanidade desde a Antiguidade;
• Os primeiros regramentos disciplinado os limites da pesquisa são fruto de
acontecimentos terríveis, como os crimes cometidos nos campos de
concentração nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial e julgados em
Nüremberg;
• Retomando a aula passada:
Saúde pública X Direitos de todos os humanos

Crianças com menos de 5 anos abaixo do peso

Subnutrição
Saúde pública X Direitos de todos os humanos
(igualdade de gêneros)

Mulheres fora do ensino superior

Meninas fora da escola primária

Mulheres jovens (15 a 24 anos) analfabetas


Saúde pública X Direitos de todos os humanos
(igualdade de gêneros)

Meninas fora da escola primária

Meninas fora da escola secundária


Outros nomes importantes:
• Karl Jaspers (1883-1969): médico, psicólogo e filósofo preocupou-se com um
estatuto “humanitário” da medicina em um contexto de crescente espaço da
tecnologia na medicina, com risco de suplantar a centralidade da
comunicação médico-paciente
• Hans Jonas (1903- 1993): filósofo alemão de origem judaica, estudioso da
prospectiva ética do homem contemporâneo, cuja obra principal denomina-
se “O princípio responsabilidade: uma ética para a civilização tecnológica”
(1979);
• Destacou ainda que:
 A humanidade tem a obrigação ética de sobreviver, baseado em um critério
central: a exclusão da catástrofe através da previsão dos efeitos negativos de
nossas ações
 Necessidade de uma ética do “futuro”
 Elaboração de uma teoria da “responsabilidade”
• Marco do Código de Nüremberg (1947)
Código de Nüremberg
• A partir dos julgamentos dos crimes de guerra (“experiências”) cometidos
principalmente nos campos de concentração contra os prisioneiros civis (judeus,
ciganos, russos... principalmente em crianças) se estabeleceu um marco para os
limites da pesquisa em seres humanos, com o Código de Nüremberg;

 A partir da condenação de 17 médicos nazistas e de


toda experiência sobre o homem sem seu
consentimento, surge um documento com 10 pontos,
texto imprescindível para sancionar o “princípio de
consenso informado” nas pesquisas biomédicas

 Durante o julgamento foram revelados diversos experimentos, como os envolvendo


crianças e particularmente gêmeos, tinham como principal responsável o médico Josef
Mengele do campo de Auschwitz, que realizou experiências em mais de 1500 gêmeos,
dos quais cerca de 200 sobreviveram aos experimentos;
Código de Nüremberg
 Os “experimentos” de Josef Mengele
Consentimento Informado no Código de Nüremberg
• “O consentimento voluntário do sujeito humano é absolutamente
essencial. Isto quer dizer que a pessoa afetada deverá ter capacidade
legal para consentir; deverá estar em situação tal que possa exercer
plena liberdade de escolha, sem impedimento algum de força, fraude,
engano, intimidação, promessa o qualquer outra forma de coação ou
ameaça; e deverá ter informação e conhecimento suficientes dos
elementos do experimento correspondente, de modo que possa
entender o que decide”.
• “No curso da experiência o indivíduo é livre para a interromper, sempre
que considerar que tenha chegado a um estado físico ou mental no
qual lhe parece impossível continuar na mesma.”
Código de Nüremberg
 Nos campos de Dachau e Auschwitz foram realizados experimentos sobre
congelamento/hipotermia pelo médico Sigmund Rascher da Luftwaffe.
 Eram escolhidos jovens saudáveis judeus e russos que eram mergulhados em tanques de
água gelada abaixo de zero para determinar quanto tempo seria necessário para baixar a
temperatura corporal até à morte; e segundo, qual a melhor forma de reanimar a vítima
congelada.
 Rascher divulgou os resultados de suas experiências sobre o congelamento na conferência
de médicos de 1942 em trabalho intitulado "Problemas Médicos decorrentes do mar e do
Inverno".
A bioética: origens

• O Código de Nüremberg é um documento importantíssimo visto o alarme suscitado pela


descoberta de algumas experiências “selvagens” nos Estados Unidos:
 Anos 1932 e 1972 - O Estudo da Sífilis Não-Tratada de Tuskegee foi um experimento médico realizado pelo
Serviço Público de Saúde dos Estados Unidos (SPS) em Tuskegee, Alabama, entre 1932 e 1972.
 600 homens afro-americanos pobres, analfabetos e sifilíticos foram cobaias no experimento: em 399 foi
observada a progressão natural da sífilis sem o uso de medicamentos; frente a 201 indivíduos saudáveis, que
serviram como base de comparação em relação aos infectados.
 Os doentes envolvidos não foram informados sobre seu diagnóstico e jamais consentiram participar da
experiência.
 Foram informados que possuíam "sangue ruim" (bad blood), e que se participassem do programa receberiam
tratamento médico gratuito, transporte para a clínica, refeições gratuitas e a cobertura das despesas de
funeral.
A bioética: origens
 Ao final do experimento 74 pacientes ainda estavam vivos; outros 25 tinham morrido
diretamente de sífilis; 100 morreram de complicações relacionadas com a doença; 40
das esposas das cobaias humanas haviam sido infectadas pela doença, e 19 de suas
crianças haviam nascido com sífilis congênita.
 Os resultados parciais do estudo foram aceitos para apresentação em congressos
científicos e não tiveram qualquer restrição da comunidade científica. Porém a
divulgação dos monstruosos experimentos gerou indenizações para os descendentes
e alguns sobreviventes da experiência, e o governo americano se comprometeu a criar
programas para atender as vítimas da tragédia.
 Em 1997 ainda existiam 8 pessoas vivas que participaram do estudo - e o governo
norte-americano decidiu fazer um pedido de desculpas formais a todos os que foram
enganados durante o experimento de Tuskegee.
 O mais chocante é que, mesmo sabendo que a sífilis reduz em 20% a expectativa
média de vida, em 1940 com a descoberta da penicilina a sífilis era tratável, estes
pacientes foram mantidos sem qualquer tratamento até 1972, quando o caso foi
denunciado por Peter Buxtun, investigador de Doenças sexualmente transmissíveis
para o SPS (Serviço Público de Saúde dos Estados Unidos )
A bioética: origens
 1963 a 1966 - no Hospital Jewish Chronic Disease, do Brooklyn, o médico Chester Southam e colaboradores
realizaram um estudo com células cancerígenas em pacientes senis, para observar a reação dos sistemas
imunológicos debilitados em comparação com o de pessoas saudáveis, pois estudos anteriores haviam indicado que
pessoas saudáveis conseguiam rejeitar as células cancerígenas, impedindo sua multiplicação desordenada e,
posteriormente, o câncer. Porém, esse experimento foi realizado sem o consentimento dos pacientes.
 O experimento consistiu em aplicações regulares de células cancerígenas no fígado de 22 pacientes idosos
hospitalizados devido a doenças crônicas.
 Segundo as declarações de Southam, a atitude de não informá-los sobre as injeções de células do câncer em seu
organismo foi não assustá-los, pois julgava que os pacientes tinham “the phobia and ignorance that surrounds the
word cancer” (a fobia e da ignorância que cercam a palavra câncer). Para ele, o relevante eram os resultados da
análise, na medida em que estava convencido de que seu trabalho era cientificamente importante e traria boa
repercussão.
 Os experimentos não tinham nenhuma finalidade terapêutica, ou seja, muitos pacientes foram prejudicados e alguns
morreram por causa das injeções sem receber qualquer tratamento que impedisse tal fim.

 Southam nunca foi processado, recebeu apenas uma


prisão preventiva de um ano do Board of Regents of the
University of the State of New York e, apesar de romper
com o código de ética na pesquisa médica, não impediu
alguns anos depois de ser eleito presidente da American
Association for Cancer Research.
A bioética: origens
 1965 a 1971 – Willowbrook State School de New York, os médicos Samuel Krugman e Joan Giles, com a intenção
de desenvolver uma vacina para hepatite (que na época era endêmica em populações de crianças pertencentes a
instituições) infectaram deliberadamente com o vírus da Hepatite B, um grupo de 700 crianças deficientes
mentais;
 O experimento foi explicado ao pais sob a alegação que quase todas as crianças se infectavam com o vírus na
instituição, sendo assim a infecção era benigna e as imunizava por toda a vida;

 Os médicos Samuel Krugman e Joan Giles não sofreram qualquer tipo de punição pelo procedimento e
conseguiram desenvolver uma vacina, entretanto seu sucesso foi discreto devido a repercussão negativa do
experimento.
• Em 1962 no Swedish Hospital, em Seattle ocorre a instituição de uma Comissão (composta
na maioria de não médicos, “God Committee”) para indicar os critérios de seleção dos
pacientes para o acesso à diálise crônica, dado o número insuficiente de aparelhos;
• Em 1964 há a Declaração de Helsinki “Princípios éticos a respeito das pesquisas biomédicas
envolvendo sujeitos humanos”
A bioética: origens
• Finalmente em 1970-71 chegamos a POTTER que usa pela 1ª vez formalmente o termo
“BIOética”
• 1970 - artigo “Bioethics. The science of survival”
• 1971 – livro “Bioethics: Bridge to the future”
• A partir daí diversas instituições surgiram ou se fortalecem. Nos Estados Unidos duas
organizações são referência:
 1968: Hasting Center (New York, USA): D. Callahan e W. Gaylin ocupam-se de pesquisa e formação
interdisciplinar em bioética e desde 1971 publica o Hasting’s Center Report
 1971: Kennedy Institute of Ethics (Georgetown University; Washington DC) sob os cuidados do obstetra A.
Hellegers , junto com P. Ramsey, discutem problemas sociais de relevância bioética (p.ex.: o controle de
natalidade)
Declaração de Helsinque
• Como se observa a pesquisa médica envolvendo seres humanos foi e é uma prática
comum na evolução científica, e sem dúvida alguma contribuiu para melhorar a
qualidade de vida do homem;
• Entretanto, em função do desejo de desenvolvimento e justiça social crescentes na
evolução da sociedade, se sobressai a questão da experimentação abusiva,
desnecessária e sem critérios;
• Estas práticas ocorreram ao longo da história da humanidade pela falta de normas para
nortear tais experimentos, não sendo raras as práticas abusivas de experimentações
sem critérios, de forma aleatória e discriminativa, em prejuízo de grupos sociais
restritos ou minoritários, economicamente mais carentes e desamparados.
• Tais fatos mereceram da sociedade a atenção e a tentativa crescente de regulamentar a
pesquisa dentro da ética necessária à evolução social pretendida.
Declaração de Helsinque
• Assim, a partir do reconhecimento de algumas lacunas no Código de Nüremberg,
a Associação Médica Mundial elaborou a Declaração de Helsinque, em junho de
1964, durante a 18ª Assembléia Médica Mundial, em Helsinque, na Finlândia.
• A Declaração de Helsinque é considerada como sendo o 1º padrão internacional
de pesquisa biomédica e constitui a base da maioria dos documentos
subsequentes.
• O documento se tornou referência na maioria das diretrizes nacionais e
internacionais, defendendo em 1º lugar a afirmação de que "o bem estar do ser
humano deve ter prioridade sobre os interesses da ciência e da sociedade", e
dando importância especial ao consentimento livre e firmado em pesquisas
médicas que envolvam seres humanos.
• A Declaração desenvolveu os dez primeiros princípios defendidos no Código de
Nuremberg, e aliou-os à Declaração de Genebra (1948), uma declaração de
deveres éticos do médico.
• A Declaração de Helsinque foi revisada 6 vezes pela AMM, sendo sua última
revisão em outubro de 2008
Declaração de Helsinque
• Princípios da Declaração de Helsinque
• É missão do médico resguardar a saúde do Povo. Seu conhecimento e sua consciência são dedicados
ao cumprimento dessa missão.
• A declaração de Genebra da Associação Médica Mundial estabelece o compromisso do médico com as
seguintes palavras: "A Saúde do meu paciente será minha primeira consideração",
• O Código Internacional de Ética Médica declara: "Qualquer ato ou notícia, que possa enfraquecer a
resistência do seu humano, só pode ser usado em seu benefício".
• É essencialmente importante que os resultados de experiência de laboratório sejam aplicados aos
seres humanos para incremento do conhecimento científico e para ajudar a humanidade que sofre, a
Associação Médica Mundial preparou as seguintes recomendações, como um guia de todo médico que
trabalha na pesquisa clínica. É preciso acentuar que os padrões, como apresentados, são somente um
guia para os médicos em todo o mundo. Os médicos não são isentos das responsabilidades criminais,
civis e éticas de seus próprios países.
• No campo da pesquisa clínica, uma diferença fundamental deve ser reconhecida entre a pesquisa
clínica cujo propósito é essencialmente terapêutico para um paciente, e a pesquisa clínica cujo objetivo
principal é puramente científico e sem valor terapêutico para a pessoa submetida à pesquisa.
Declaração de Helsinque x Relatório de Belmont

• Apesar de tudo isto, muitos abusos foram cometidos evidenciando a fraqueza da


Declaração de Helsinque levando a conformação, em 1974, da National Comission for
the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research nos Estados
Unidos
• Uma nova etapa para a ética em pesquisa com seres humanos inicia em 1978, ano em
que foi publicado o “Relatório Belmont”, redigido por membros da National Comission
for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research
• Este documento estabeleceu um método de análise para a condução das pesquisas
clínicas baseado em três princípios éticos:
• o respeito à pessoa,
• a beneficência
• a justiça,
• Princípios que são norteadores na avaliação ética das pesquisas envolvendo seres
humanos.
Relatório de Belmont
• O princípio de respeito à pessoa relaciona-se com o respeito pela autonomia dos
indivíduos, destacando duas premissas: a primeira discorre sobre o fato que os
indivíduos devem ser tratados com autonomia; a segunda relacionada com as pessoas
com autonomia reduzida que terão direito à proteção contra abusos. Este princípio é
materializado na obtenção do consentimento informado, processo que deverá estar
isento de coação e incorporará o fornecimento de informação suficiente, total
compreensão pelo sujeito sobre os procedimentos a serem executados e sua
voluntariedade.
• O princípio da beneficência, diz respeito à obrigação de não causar dano, bem como a
de maximizar os benefícios e minimizar os riscos associados com os experimentos.
• O princípio de justiça implica a distribuição imparcial dos benefícios e dos riscos
decorrentes das pesquisas
• A Comissão procurou fornecer um documento operativo e prático sobre as
recomendações relacionadas com os conflitos éticos na pesquisa biomédica,
distanciando-se das propostas divulgadas no Código de Nuremberg e na Declaração de
Helsinque, documentos que foram considerados “de difícil operacionalização”
Aplicações do Relatório de Belmont
• Consentimento Informado: informação, compreensão, voluntariado.
• Avaliação dos riscos e benefícios: o tratamento brutal ou inumano de seres humanos
nunca é moralmente justificado ; os riscos devem reduzir-se ao necessário para se
alcançar os resultados, sempre avaliando-se se é necessário recorrer a seres
humanos; quando a pesquisa traz risco de dano sério os comitês de avaliação devem
ser extraordinariamente insistentes sobre a justificativa do risco; quando pessoas
vulneráveis participam de uma pesquisa é necessário justificar a necessidade de sua
participação, pesando os benefícios esperados ; os riscos e benefícios esperados
devem ser explícita e compreensivelmente arrolados nos documentos e
procedimentos para a obtenção do consentimento informado.
• Critérios para seleção dos sujeitos da pesquisa (princípio de justiça).
Outros documentos com diretrizes para as
pesquisas biomédicas
• São vários os documentos internacionais que estabelecem diretrizes para as
pesquisas biomédicas envolvendo seres humanos e outros seres vivos;
• Estes documentos não têm em geral força de lei, mas têm efeito sobre as
pesquisas biomédicas na medida em que influenciam a legislação dos diferentes
países signatários (UNESCO, ONU, OMS...) e principalmente a política na
distribuição das verbas financiadoras das pesquisas;
• Exemplos:
• Declaração de Asilomar
• Declaração Universal sobre o Genoma e os Direitos Humanos
• Convênio de Oviedo
• Declaração de Mônaco - a Bioética e os Direitos da Criança
• Protocolo de Cartagena sobre Segurança da Biotecnologia no Convênio sobre a Diversidade
Biológica
• ...
Declaração de Asilomar
• Compromisso firmado em 1975 por biólogos moleculares de vários países
estabelecendo normas de segurança físicas e biológicas para as pesquisas com DNA
recombinante,
• Esta declaração foi motivada pela atitude de Paul Berg e outros cientistas que, alguns
meses antes, propuseram uma moratória em tais pesquisas até que fossem definidas
normas seguras para sua continuidade.
• Tais normas foram concebidas como barreiras capazes de impedir a disseminação dos
resultados dos experimentos, com Princípios de precaução:
• Barreiras físicas: medidas estruturais e de boas práticas de laboratório.
• Barreiras biológicas: usar bactérias incapazes de sobreviver em ambientes naturais e vetores capazes de
agir apenas em determinados hospedeiros.

• Na Conferência RIO 92 foi proposto formalmente o Princípio da Precaução;


• O Princípio da Precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com
o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados. Este Princípio
afirma que a ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um
dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever
este dano.
• (Exemplo: No caso da talidomida, uma droga tida como segura tanto em estudos científicos quanto com base
em experiências pessoais em nível assistencial, desencadeou uma terrível situação ao ter o seu efeito
teratogênico constatado na década de 1960;
• Em 2006, cientistas do Center for Disease Control dos EUA recriaram o vírus da Gripe Espanhola de 1918 que
matou 50 a 100 milhões)
Declaração Universal sobre o Genoma e os
Direitos Humanos
• A UNESCO cria Comissão de Bioética em 1993.
• Declaração sobre os Princípios de Atuação na Pesquisa Genética, publicada em
1996 pelo Conselho da Organização do Genoma Humano (HUGO).
• 1997: Comissão de Bioética da UNESCO propõe a Declaração Universal sobre o
Genoma e os Direitos Humanos, aprovada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas em 9 de dezembro de 1998.
• 1999: UNESCO aprova as “Orientações para a aplicação da Declaração Universal
sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos”.
Declaração Universal sobre o Genoma e os Direitos
Humanos

• Principais disposições
• “O genoma humano é a base da unidade fundamental de todos os membros da família
humana e do reconhecimento de sua dignidade e diversidade intrínsecas(art.1)”
• “Em sentido simbólico, o genoma humano é patrimônio da humanidade. (art. 1)”
• “Ninguém poderá ser objeto de discriminações fundadas em suas características
genéticas, cujo objeto ou efeito seria atentar contra seus direitos e liberdades
fundamentais e o reconhecimento de sua dignidade”. Se insiste ainda que a expressão
genética está influenciada pelo entorno natural e social do ser humano.
• “O genoma humano em seu estado natural não pode dar lugar a benefícios pecuniários.”
Declaração Universal sobre o Genoma e os Direitos
Humanos

• Principais disposições
• Se reafirmam as condições habituais de definição do consentimento informado como
exigência para o início de uma pesquisa, diagnóstico ou tratamento.
• Se afirma o princípio da confidencialidade para a proteção dos dados genéticos
associados com pessoa identificável, conservados ou tratados com finalidade de
pesquisa ou qualquer outra.
• “Nenhuma pesquisa relativa ao genoma humano nem suas aplicações poderão
prevalecer sobre o respeito aos direitos humanos, às liberdades fundamentais e à
dignidade humana dos indivíduos ou, se procedente, dos grupos humanos.” (art. 10).
• Entre as práticas que se consideram atentatórias à dignidade humana se cita
expressamente a clonagem com o objetivo de reprodução de seres humanos (art.11).
• Chamamento à solidariedade internacional no sentido de que a pesquisa sobre doenças
não se restrinjam às do primeiro mundo e que o conhecimento e as técnicas genéticas
sejam amplamente comunicadas e divulgadas, de forma a garantir formas de acesso às
mesmas por parte dos países subdesenvolvidos.
Convênio de Oviedo (Europa)
• Convênio para a proteção dos Direitos Humanos e a dignidade do ser humano com
respeito às aplicações da Biologia e da Medicina.
• Aprovado pela Assembléia Parlamentar Européia em 26 de setembro de 1996.
• 7 capítulos dedicados à bioética e 7 a questões legais.
• Capítulos de bioética:
1. Disposições Gerais
2. O consentimento
3. Vida privada e direito à informação
4. Genoma Humano
5. Experiências científicas
6. Extração de órgãos e tecidos e doadores vivos para transplantes
7. Proibição de aproveitamento e utilização de partes do corpo humano.
Protocolos adicionais
• Sobre a proibição de clonar seres humanos. (2001) Se proíbe qualquer intervenção
que tenha por objetivo criar um ser humano geneticamente idêntico a outro, seja
vivo ou morto.
• A expressão ser humano "geneticamente idêntico" a outro ser humano significa
compartir com outro a mesma carga nuclear genética. Se decidiu deixar às leis
nacionais a definição do alcance da expressão "ser humano" para fins de aplicação
do Protocolo.

• Sobre o transplante de órgãos e tecidos de origem humano. (2002) Afirma o acesso


equitativo dos pacientes aos serviços de transplante, a transparência na
distribuição de órgãos, a definição de normas de segurança, a não remuneração dos
doadores, assim como a informação adequada dos receptores, dos profissionais
sanitários e do público, bem como a confidencialidade.
Declaração de Mônaco - a Bioética e os
Direitos da Criança
• Resultado do Simpósio Internacional sobre Bioética e os Direitos das Crianças (2000)
• As origens da infância: deve-se respeitar a dignidade do embrião in vitro e os usos da
medicina genética ou fetal devem respeitar os princípios de não discriminar a
diversidade humana, não tender à redução ou eliminação da diversidade humana nem
atuar contra os elementos causais intrínsecos à vida. Nunca se pode considerar a
incapacidade de uma criança como um fato contra ela.
• Os laços da infância: deve-se levar em consideração o progressivo desenvolvimento da
autonomia das crianças para dar-lhes informação sobre seu nascimento (no caso de
fecundação in vitro).
• O corpo da criança: especial proteção às crianças com deficiências. Em nenhum caso o
interesse da sociedade deve prevalecer sobre o interesse da criança. Fomenta a pesquisa
sobre doenças raras.
Convênio sobre a Diversidade Biológica
(1993)
• Objetivos: conservação da diversidade biológica, utilização sustentável dos componentes
da diversidade biológica e distribuição justa e eqüitativa dos benefícios procedentes da
utilização de recursos genéticos.
• Medidas preconizadas
 Medidas gerais de conservação e utilização sustentável de recursos ambientais.
 Identificação e rastreamento dos componentes da diversidade biológica.
 Medidas para conservação in situ da diversidade biológica.
 Medidas para conservação ex situ da diversidade biológica.
 Utilização sustentável dos componentes da diversidade biológica.
 Incentivos para a conservação e utilização sustentável dos componentes da diversidade biológica.
 Medidas para a pesquisa, educação e capacitação para a conservação e utilização sustentável dos
componentes da diversidade biológica.
 Avaliação de impacto ambiental e redução ao mínimo dos impactos negativos.
 Acesso aos recursos genéticos do meio natural.
 Acesso à tecnologia e transferência de tecnologia.
 Gestão responsável da biotecnologia e distribuição dos seus benefícios.
Protocolo de Cartagena sobre Segurança da
Biotecnologia no Convênio sobre a Diversidade Biológica

• Em 29 de janeiro de 2000, a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade


Biológica (CDB) adotou seu primeiro acordo suplementar conhecido como Protocolo de
Cartagena sobre Biossegurança.
• Este Protocolo visa assegurar um nível adequado de proteção no campo da transferência, da
manipulação e do uso seguros dos organismos vivos modificados genéticamente (OVMs)
resultantes da biotecnologia moderna que possam ter efeitos adversos na conservação e no
uso sustentável da diversidade biológica, levando em conta os riscos para a saúde humana,
decorrentes do movimento transfronteiriço entre países.
• O Protocolo entrou em vigor em 11 de setembro de 2003, noventa dias após a entrega do
50º instrumento de ratificação. Até junho de 2006, 132 instrumentos de ratificação já
haviam sido depositados na Secretaria Geral das Nações Unidas.
• Dois conjuntos de procedimentos: um para OGM destinados à introdução deliberada no
meio ambiente, outro para organismos vivos modificados destinados ao uso direto como
alimento humano ou animal ou para processamento.
• Ambos buscam a garantir que se dê aos países receptores a informação necessária para
decidir se aceitam ou não as importações de OGM e comuniquem esta informação através
do Centro de Intercâmbio de Informação sobre Segurança da Biotecnologia.
• Os governos adotam sua decisão com base em avaliações de risco baseadas em critérios
científicos e no enfoque da precaução.
Os transgênicos
De acordo com Potter....
A melhor maneira de se lidar com o conhecimento perigoso é buscando
mais conhecimento (POTTER, 1971, p. 69)

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