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2 HISTÓRICO DA BIOÉTICA
Mesmo antes do neologismo Bioética existir, houveram fatos históricos que contribuíram
para seu surgimento. A partir de agora, vamos ver quais foram esses fatos e como
ocorreram suas contribuições para a criação desse conceito tão atual e essencial no mundo
de hoje.
Observação
A aplicação desse documento não ultrapassou a região onde foi elaborado. Em 1930 em
uma área vizinha 100 crianças foram submetidas a testes com a vacina BCG, sem
consentimento de seus pais, 75 delas morreram - desastre de Lübeck.
Lembrete
1933-1945: Período nazista e 2ª Guerra Mundial. Nesse período algumas leis foram criadas
em prol de atitudes racistas:
1. Lei de 14 de julho de 1933 - Sobre a esterilização, essa lei foi elaborada para prevenir
uma descendência doente e foi complementada com outros documentos, mas, sobretudo
interditava o casamento entre pessoas de “raças diferentes”.
1945: Fim da 2ª Guerra Mundial e das atrocidades cometidas pelos nazistas contra os seres
humanos.
Observação
1960: Pílula Anticoncepcional que revolucionou a vida sexual e social ocidental. A mulher
passa a querer autonomia para gerir seu corpo (debates sobre a questão do aborto).
1964 – Declaração de Helsinki (versões 1975, 1983, 1989, 1996, 1999 e 2000).
1966: Artigo denuncia inúmeros casos de artigos científicos publicados com inadequações
éticas.
1969/1970 – É fundado o Hastings Center em Nova York por Daniel Callahan, católico com
formação em teologia e filosofia esse centro reunia grupos que tinham o objetivo de
desenvolver regras e normas éticas para problemas específicos.
1997 - Nasce a Ovelha Dolly - primeiro mamífero clonado 2000 - O Genoma Humano
Muitos outros fatos foram responsáveis pelas mudanças comportamentais no campo das
pesquisas. Nesse momento, vamos interromper essa cronologia para explicar com mais
detalhes alguns desses principais fatos.
A maioria desses "cientistas" eram médicos que queriam expandir seus conhecimentos e
não se importavam em sacrificar outro ser humano. Essas cobaias humanas, como estavam
exiladas e eram consideradas inferiores, suas ausências, poderiam até mesmo, ser
consideradas um benefício para humanidade.
Saiba mais
A Declaração de Helsinki tem como principal fundamento, o bem estar do ser humano, que
“deve ter prioridade sobre os interesses da ciência e da sociedade". O Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) passou a receber atenção especial após esse
período e será detalhado ainda nessa unidade7.
De acordo com essa declaração, o projeto e a execução de cada procedimento
experimental envolvendo seres humanos, devem ser claramente formulados em um
protocolo experimental que será avaliado por uma comissão independente, para ser
analisado, comentado e orientado. Este comitê de ética independente deve agir de acordo
com as regulações e leis locais do país onde a pesquisa será conduzida. Os princípios
básicos para toda pesquisa clínica de acordo com a Declaração de Helsinki são:
Saiba mais
O relatório de Belmont, formulado por essa comissão, reunida na cidade com o mesmo
nome, concluiu serem três os princípios Bioéticos fundamentais:
Capacidade para agir intencionalmente. Para tanto é preciso que a pessoa tenha
compreensão, razão e deliberação para decidir entre as alternativas que lhe são
apresentadas;
Liberdade, no sentido de estar livre de qualquer influência controladora para esta
tomada de posição9.
Lembrete
Para que as pessoas tenham autonomia é necessário que tenham informações suficientes
para que possam exercer seu poder de escolha.
2. Beneficência - em linhas gerais quer dizer não fazer o mal, não causar dano. Além disso,
os benefícios devem ser maximizados e eventuais riscos minimizados. Por esse princípio o
pesquisador é responsável pelo bem-estar físico, mental e social do participante que está
incluído em sue estudo. A proteção e assegurar o bem-estar do participante são mais
importantes do que a busca de novos conhecimentos. A beneficência tem sido associada à
excelência profissional desde os tempos da medicina grega, e está expressa no Juramento
de Hipócrates: “Usarei o tratamento para ajudar os doentes, de acordo com minha
habilidade e julgamento e nunca o utilizarei para prejudicá-los”12. Beneficência quer dizer
fazer o bem.
De uma maneira prática, ser beneficente quer dizer ter obrigação moral de agir para o
benefício do outro. Na área da saúde signifca fazer o melhor para o paciente fazendo uso
de todos os conhecimentos e habilidades profissionais, com a minimização dos riscos e
maximizando dos benefícios13.
A justiça está associada com as relações entre grupos sociais, distribuição de bens e
recursos considerados comuns, procurando sempre igualar as oportunidades de acesso a
estes bens13. Como exemplo destes princípios materiais de justiça pode citar:
Algumas teorias de justiça incluem mais de um destes princípios, ou mesmo todos, quando
precisam decidir sobre a distribuição mais justa de bens e recursos.
Com a crescente socialização dos cuidados com a saúde, as dificuldades de acesso e o alto
custo destes serviços, as questões relativas à justiça social precisam cada vez mais ser
consideradas quando os conflitos éticos que emergem da necessidade de uma distribuição
justa de assistência à saúde das populações aparecem. Segundo Jussara Loch (2002), o
conceito da justiça deve fundamentar-se na premissa que as pessoas têm direito a um
mínimo decente de cuidados com sua saúde o que inclui:
A ética, em seu nível público, além de proteger a vida e a integridade das pessoas, objetiva
evitar a discriminação, a marginalização e a segregação social16.
Esses autores acreditavam que a Beneficência não era suficiente para proteger os
participantes da pesquisa. Era necessário que além de não fazer o mal (beneficência), as
pesquisas que envolvem os seres humanos, precisam evitar sofrimentos desnecessários
(não maleficência).
De acordo com o princípio da não maleficência, o profissional de saúde tem o dever de,
intencionalmente, não causar mal e/ou danos a seu paciente. Considerado por muitos
como o princípio fundamental da tradição hipocrática da ética médica, é frequentemente
utilizado como uma exigência moral da profissão médica que se não cumprido, coloca o
profissional de saúde numa situação de má-prática ou prática negligente da medicina ou
das demais profissões da área biomédica.
A Não Maleficência tem importância porque muitas vezes, o risco de causar danos é
inseparável de uma ação ou procedimento que está moralmente indicado. Do ponto de
vista ético, este dano pode estar justificado se o benefício esperado com o resultado deste
exame, for maior que o risco. Porém, se o paciente tiver problemas, este risco ficará
aumentado. Jussara Loch (2002), afirma ainda que quanto maior o risco de causar dano,
maior e mais justificado deve ser o objetivo do procedimento para que este possa ser
considerado um ato eticamente correto14.
Esses quatro princípios são seguidos e direcionam toda a análise ética dos projetos de
pesquisa.
Segundo Albert Jonsen, um dos pioneiros da bioética, os princípios deram destaque para as
reflexões. Em sua simplicidade e objetividade, forneceram uma linguagem para falar com
um novo público, formado por médicos, enfermeiros e outros profissionais da área de
saúde17.
Referências Bibliográficas
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http://www.ushmm.org/research/doctors/indiptx.htm
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11. Sgreccia E. Manual de Bioética. I- Fundamentos e Ética Biomédica. SãoPaulo:
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16. Gracia, D. Ética y Vida. Santa Fé de Bogotá, DC: Editorial El Búho,1998 (Estudios de
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