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Seminários de Pesquisa: cuidados éticos nas pesquisas com seres humanos e seus

atravessamentos

Bruna Cristina de Souza Silva1


Elvis Dutra Laurindo2
Isadora Soeiro Fonteles Castelo Branco3
Maria Ida Pires Ferreira de Camargo4

Resumo:
Este artigo tem por objetivo apresentar discussões relacionadas a ética de pesquisa com seres
humanos, proposto pela disciplina de Seminários de pesquisa II do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso, como critério de produção textual
deste artigo foi utilizado produções bibliográficas publicadas nos últimos cinco anos, bem
como materiais, normativas e documentos imprescindíveis a esta discussão, que apresentam o
percurso histórico das pesquisas com seres humanos, observando os cuidados éticos nas
pesquisas com seres humanos, percorrendo textualmente os atravessamentos em relação a
devolutiva de resultados pesquisa e por fim os desafios ético-políticos na produção do
conhecimento.

Palavras-chave: Ética em pesquisa; Cuidados éticos de pesquisa; Pesquisa com seres


humanos; Devolutiva de pesquisa.

1
Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso. Docente de psicologia na Universidade
de Cuiabá (UNIC). Membro do Laboratório de Psicanálise, Subjetividade e Linguagem (LaPSuLi) -
souza11bruna@gmail.com.
2
Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso. Bolsista CAPES. Membro do
Laboratório de Psicanálise, Subjetividade e Linguagem (LaPSuLi) - elvisdutrapsi@gmail.com.
3
Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso.
4
Mestranda em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso.
1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Resolução n° 466/2012, de dezembro de 2012, toda pesquisa com


seres humanos deve ser submetida à apreciação e aprovação de um Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP). Esta resolução apresenta como referenciais balizadores o respeito à dignidade
humana, a preservação da autonomia do participante, a beneficência e não maleficência, justiça,
equidade, dentre outros, como meio de assegurar a preservação e garantia dos direitos humanos
nos processos de pesquisas realizadas com seres humanos no Brasil. O estabelecimento de
normativas reguladoras no campo de pesquisas com seres humanos, como a Resolução n°
466/2012, visa assegurar os direitos e deveres dos participantes da pesquisa, do pesquisador,
da comunidade científica e do Estado. Porém, ao fazer uma retomada histórica acerca das
realizações de pesquisas com seres humanos, identificamos barbáries cometidas no campo
científico, as quais justificam a formulação de normativas reguladoras no campo da pesquisa
científica.
O presente artigo objetivou a realização de um levantamento histórico acerca da
pesquisa com seres humanos, referenciando os avanços conquistados ao longo de seu processo
evolutivo, pois é nesse contexto de retomada que se pode discutir as expectativas, benefícios e
os riscos trazidos pelas pesquisas com seres humanos em uma sociedade que vive em
constantes mudanças sociais, dos quais se destacam os culturais, os ideológicos, as crenças,
entre outros.
A Segunda Guerra Mundial, considerada como marco histórico de que se tem registro
do uso de seres humanos em pesquisas médicas, se torna a referência para que se reconheça
que o respeito ao ser humano em todas as suas fases evolutivas só é alcançado se estiver atento
à dignidade humana. A discussão sobre os cuidados éticos em pesquisas com seres humanos é
um convite para apontar os erros do passado, reconhecer os desafios do presente e buscar traçar
novos caminhos que assegurem o respeito à ética em todos os âmbitos de um estudo. Logo,
torna-se fundamental conhecer os desafios atuais dos pesquisadores no que diz respeito aos
cuidados éticos em pesquisas com seres humanos, especialmente, os desafios ético-políticos
existentes, visto que o fazer do pesquisador deve estar pautado não apenas no cumprimento de
normas éticas dos Comitês de ética, mas também deve estar atento à outras questões éticas que
podem emergir na relação com os participantes num determinado contexto.
Histórico Das Pesquisas Com Seres Humanos

Os experimentos de Galileu na ciência moderna (1564-1642) e a consequente aprovação


de Francis Bacon (1561-1626), são considerados marcos históricos afirmativos nas pesquisas
com seres humanos. Tais pesquisas refletiam a evolução da sociedade, pois promoviam
conhecimento, e uma atuação eticamente neutra, pois mantinham valores morais relacionados
a uma prática correta. Max Weber (1864-1920) também é citado para fundamentar essa tese da
neutralidade moral da ciência, quando afirma que a ciência tem como encargo social solucionar
determinados problemas, para serem aplicados segundo as prioridades da própria sociedade, e
que se deve afastar o método científico propriamente dito de qualquer influência subjetiva, para
que as pesquisas possam ser realizadas de forma moralmente neutra, sem distorções
(KOTTOW, 2008).
De acordo com Kottow, 2008, a expansão tecnocientífica, no decorrer século XX,
alcançou proporções tais que o método científico não podia ser aplicado sem se ponderar a
relação entre benefícios e riscos, adquirindo especial importância em pesquisas biomédicas em
que o estudo com seres vivos poderia produzir danos irreversíveis ou até a morte. O autor
afirma também que a história reconhece a presente reflexão ética sobre os estudos de cadáveres
e de seres vivos tanto humanos como não-humanos.
A dissecção anatômica do cadáver humano somente foi oficialmente autorizada por
Clemente VII, em 1537, uma vez que fazê-lo anteriormente era considerado um sacrilégio, a
menos que se tratasse de um homem e, possivelmente, de um criminoso. André Vesalio (1514-
1564) quebrou o tabu de que o valor e a certeza do conhecimento residiam no estudo teológico
e não na observação natural, ao estudar a anatomia humana por meio de cadáver (KOTTOW,
2008).
Conforme, Arendt, 2005, foi em 1914 que se tornou ilícito e punível invadir
cirurgicamente o corpo de uma pessoa sem seu prévio consentimento, se fazendo possível a
participação do paciente em suas decisões clínicas, mas só encontrou reforço jurídico com a
introdução, em 1957, da expressão “consentimento informado” para situações clínicas, o que
já havia ocorrido dez anos antes nas pesquisas envolvendo seres humanos. Os estudos com
humanos foram praticados com crescente assiduidade, mas os pesquisadores não se sentiam
obrigados a realizar uma reflexão ética específica para sua atividade. Pierre-Charles Bongrand
apresentou em sua tese de doutorado (1905) uma extensa lista de experimentos e auto-
experimentos biomédicos em seres humanos, chegando à conclusão de que, em prol da ciência,
esses estudos, ainda que “imorais”, eram “ocasionalmente necessários”. Sob condições
controladas, justificava-se submeter a riscos de pesquisa os “idiotas”, os moribundos, os
prisioneiros e os condenados à morte, mas não as pessoas vulneráveis, como os pobres, as
crianças e as mulheres grávidas. Mencionando o consentimento voluntário e a necessidade de
compensações, Bongrand terminou por reconhecer na sociedade um estado de “plácida
ignorância” que deveria ser modificado (Amiel et al. 2001).
A Segunda Guerra Mundial foi o maior marco histórico de que se tem registro do uso
de seres humanos em pesquisas médicas, quando milhares de pessoas presas em campos de
concentração nazistas foram submetidas a cruéis formas de estudo, sendo tratadas como objetos
sem valor intrínseco, como se tivessem perdido a qualidade inerente que as tornava integrantes
da espécie humana. A partir dela é que a sociedade ocidental sentiu um impacto maior dentro
da sociedade científica com as experiências realizadas com seres humanos, trazendo
repercussão até os dias atuais na área médica, farmacológica e tecnocientífica. (RECKZIGEL,
2012).
Com o término da Segunda Guerra Mundial, em 1947 e as barbáries praticadas com os
seres humanos instaurou-se o Tribunal Militar Internacional, em Nuremberg, a fim de julgar os
crimes cometidos nos campos de concentração nazistas. Todos os médicos envolvidos foram
condenados à prisão e à pena de morte. O Código de Nuremberg, nasce nesse contexto, através
de um documento elaborado por médicos das forças armadas americanas para servir de subsídio
aos juízes deste Tribunal (ARENDT, 2004, p. 100-1). Este documento foi o primeiro marco
ético de limite às pesquisas médicas com seres humanos. O Código de Nuremberg possui
validade internacional por tratar oficialmente do consentimento para a pesquisa, estabelecendo
dez princípios definidores de legitimidade destes experimentos, entre os quais se destacam: as
normas do consentimento informado e da ilegalidade da coerção; regulamentação científica; a
beneficência como um dos fatores justificáveis sobre os participantes dos experimentos
(RECKZIGEL, 2012). Este Código de Nuremberg foi o primeiro a suscitar uma
conscientização acerca dos perigos com os progressos advindos da ciência, trazendo como um
dos pontos importantes as referências éticas da autonomia, tornando obrigatório o
consentimento do sujeito na pesquisa (DURAND, 2007, p. 40).
O século XX, foi marcado pela proliferação de legislações, nacionais e tratados
internacionais nas áreas civis, políticas, econômicas e culturais, entre outras (BARRETTO,
2003, p. 343), que buscaram positivar e ressaltar a necessidade do respeito aos direitos
individuais. A Declaração de Helsinque surge nesse contexto, como mais útil e mais ampla,
que o Código de Nurembergue, principalmente por sua preocupação com o consentimento
informado dos participantes ou de seus representantes legais, no caso de pessoas incapazes, e
com a distinção entre ensaios terapêuticos e não-terapêuticos.
O Código de Nuremberg, ficou conhecido como um documento reativo e acusador, cujo
efeito prospectivo foi muito atenuado, o que explica a imediata criação de grupos de estudo no
interior da Associação Médica Mundial (AMM). Os grupos apresentaram, em rápida sucessão,
uma Resolução sobre Experimentação Humana, em 1953, um Guia para Pesquisadores, em
1955, e um Código Ético para Pesquisadores. (RECKZIGEL, 2012). De acordo com Kottow,
2008, as deliberações da AMM culminaram em 1964, com a Declaração de Helsinque,
inaugurando a análise acadêmica, posteriormente assumida pela bioética, da probidade de
pesquisas biomédicas.
Em 1975 foi realizada a revisão da Declaração de Helsinque, a fim de reforçar o caráter
fundamental do consentimento informado, instituindo assim, a necessidade de criar comitês de
ética em pesquisa e aconselhando a não publicação de trabalhos de proveniência eticamente
objetável (RECKZIGEL, 2012). Em 1978,
surge o Relatório Belmont, o documento estabeleceu uma clara distinção entre a trajetória
seguida pela ética em pesquisa nos Estados Unidos e sua evolução no restante dos países,
distinção esta que terminaria sob franco debate a partir da Declaração de Helsinque, revisada
no ano 2000. O Relatório Belmont foi o resultado das deliberações da Comissão Nacional para
a Proteção de Sujeitos Humanos em Pesquisas Biomédicas e Comportamentais (1974-1978) e
da Comissão Consultiva Nacional de Bioética (NBAC), estabelecida em 1995 e 1996 com o
propósito de revisar, ratificar e unificar esforços anteriores no campo. O Relatório Belmont
introduz intencionalmente a linguagem dos princípios éticos ao exigir que toda pesquisa seja
respeitosa com as pessoas, benéfica para a sociedade e equânime em seu balanço entre riscos
e benefícios.
Tanto a Declaração de Helsinque (1975) quanto o Relatório Belmont (1978) insistiram
na necessidade de criar instâncias diretamente relacionadas com as atividades científicas. Tais
instâncias adaptariam a linguagem propositiva, mas escassamente vinculante, dos documentos
declaratórios, a fim de regular todos os aspectos bioéticos das pesquisas em seres vivos, em
especial os estudos com seres humanos. (KOTTOW, 2008).
No Brasil, as discussões e resoluções voltadas aos cuidados éticos nas pesquisas
ganharam corpo nos anos 1990, após a criação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(Conep), por meio da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão de
controle social vinculado ao Ministério da Saúde. A essa Comissão foi atribuída a função de
implementar as normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos
no país, aprovadas pelo CNS e que devem ser seguidas pelos CEP (Comitê de Ética e Pesquisa).

Cuidados Éticos nas pesquisas com seres humanos

As atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial no que tange a realização


de experimentos com seres humanos impuseram a necessidade de criação de normas éticas para
nortear a realização de pesquisas com seres humanos. É evidente a importância da investigação
científica e dos benefícios à sociedade decorrentes do progresso da ciência e de suas
tecnologias, porém, é essencial enfatizar que tais investigações e seus processos devem estar
em conformidade com os princípios e fundamentos éticos, respeitando a dignidade e os direitos
humanos (AMORIM, 2019).
No Brasil, atualmente, a Resolução n° 466/2012, de 12 de dezembro de 2012 estabelece
os fundamentos éticos, normativos e científicos para este tipo de pesquisa dispondo sobre as
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, incorporando
referenciais da bioética em sua formulação, a saber: princípios de autonomia, não maleficência,
beneficência, justiça e equidade, com vistas a assegurar os direitos e deveres dos participantes
da pesquisa, da comunidade científica e do Estado (BRASIL, 2012).
Assim, as pesquisas envolvendo seres humanos, a partir da Resolução n° 466/2012,
deverão atender aos fundamentos éticos versados, onde uma pesquisa eticamente justificável
deve respeitar o participante, garantindo sua dignidade e autonomia, com devida atenção a sua
vulnerabilidade, assegurando a vontade do participante de permanecer ou não na pesquisa,
vontade essa expressa por intermédio de consentimento livre e esclarecido, bem como,
ponderar acerca dos riscos e benefícios produzidos pela pesquisa, onde o pesquisador se
comprometa com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos, e garantindo que danos
previsíveis sejam evitados. A pesquisa precisa, ainda, ter potencial relevância social,
considerando os interesses envolvidos na pesquisa, mas não podendo perder o seu objetivo de
destinação sócio-humanitária (BRASIL, 2012).
A Resolução n° 466/2012 elenca exigências mínimas sob as quais pesquisas com seres
humanos precisam se submeter, a saber:
a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibilidades
concretas de responder a incertezas;
b) estar fundamentada em fatos científicos, experimentação prévia e/ou pressupostos
adequados à área específica da pesquisa;
c) ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa ser
obtido por outro meio;
d) buscar sempre que prevaleçam os benefícios esperados sobre os riscos e/ou
desconfortos previsíveis;
e) utilizar os métodos adequados para responder às questões estudadas, especificando-
os, seja a pesquisa qualitativa, quantitativa ou quali-quantitativa;
f) se houver necessidade de distribuição aleatória dos participantes da pesquisa em
grupos experimentais e de controle, assegurar que, a priori, não seja possível estabelecer as
vantagens de um procedimento sobre outro, mediante revisão de literatura, métodos
observacionais ou métodos que não envolvam seres humanos;
g) obter consentimento livre e esclarecido do participante da pesquisa e/ou seu
representante legal, inclusive nos casos das pesquisas que, por sua natureza, impliquem
justificadamente, em consentimento a posteriori;
h) contar com os recursos humanos e materiais necessários que garantam o bem-estar
do participante da pesquisa, devendo o(s) pesquisador(es) possuir(em) capacidade profissional
adequada para desenvolver sua função no projeto proposto;
i) prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção
da imagem e a não estigmatização dos participantes da pesquisa, garantindo a não utilização
das informações em prejuízo das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de
autoestima, de prestígio e/ou de aspectos econômico-financeiros;
j) ser desenvolvida preferencialmente em indivíduos com autonomia plena. Indivíduos
ou grupos vulneráveis não devem ser participantes de pesquisa quando a informação desejada
possa ser obtida por meio de participantes com plena autonomia, a menos que a investigação
possa trazer benefícios aos indivíduos ou grupos vulneráveis;
k) respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, como
também os hábitos e costumes, quando as pesquisas envolverem comunidades;
l) garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível, traduzir-se-ão em
benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua conclusão. Quando, no interesse
da comunidade, houver benefício real em incentivar ou estimular mudanças de costumes ou
comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir, sempre que possível, disposições para
comunicar tal benefício às pessoas e/ou comunidades;
m) comunicar às autoridades competentes, bem como aos órgãos legitimados pelo
Controle Social, os resultados e/ou achados da pesquisa, sempre que estes puderem contribuir
para a melhoria das condições de vida da coletividade, preservando, porém, a imagem e
assegurando que os participantes da pesquisa não sejam estigmatizados;
n) assegurar aos participantes da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em
termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa;
o) assegurar aos participantes da pesquisa as condições de acompanhamento,
tratamento, assistência integral e orientação, conforme o caso, enquanto necessário, inclusive
nas pesquisas de rastreamento;
p) comprovar, nas pesquisas conduzidas no exterior ou com cooperação estrangeira, os
compromissos e as vantagens, para os participantes das pesquisas e para o Brasil, decorrentes
de sua realização. Nestes casos deve ser identificado o pesquisador e a instituição nacional,
responsáveis pela pesquisa no Brasil. Os estudos patrocinados no exterior também deverão
responder às necessidades de transferência de conhecimento e tecnologia para a equipe
brasileira, quando aplicável e, ainda, no caso do desenvolvimento de novas drogas, se
comprovadas sua segurança e eficácia, é obrigatório seu registro no Brasil;
q) utilizar o material e os dados obtidos na pesquisa exclusivamente para a finalidade
prevista no seu protocolo, ou conforme o consentimento do participante;
r) levar em conta, nas pesquisas realizadas em mulheres em idade fértil ou em mulheres
grávidas, a avaliação de riscos e benefícios e as eventuais interferências sobre a fertilidade, a
gravidez, o embrião ou o feto, o trabalho de parto, o puerpério, a lactação e o recém-nascido;
s) considerar que as pesquisas em mulheres grávidas devem ser precedidas de pesquisas
em mulheres fora do período gestacional, exceto quando a gravidez for o objeto fundamental
da pesquisa;
t) garantir, para mulheres que se declarem expressamente isentas de risco de gravidez,
quer por não exercerem práticas sexuais ou por as exercerem de forma não reprodutiva, o
direito de participarem de pesquisas sem o uso obrigatório de contraceptivos;
u) ser descontinuada somente após análise e manifestação, por parte do Sistema
CEP/CONEP/CNS/MS que a aprovou, das razões dessa descontinuidade, a não ser em casos
de justificada urgência em benefício de seus participantes (BRASIL, 2012).
A Resolução ainda elenca exigências especiais para pesquisas que utilizarão
metodologias experimentais no campo biomédico, as quais envolvam seres humanos,
afirmando que, além das exigências supracitadas, também deverão ser observadas as que são
versadas abaixo:
a) estar fundamentadas na experimentação prévia, realizada em laboratórios, utilizando-
se animais ou outros modelos experimentais e comprovação científica, quando pertinente;
b) ter plenamente justificadas, quando for o caso, a utilização de placebo, em termos de
não maleficência e de necessidade metodológica, sendo que os benefícios, riscos, dificuldades
e efetividade de um novo método terapêutico devem ser testados, comparando-o com os
melhores métodos profiláticos, diagnósticos e terapêuticos atuais. Isso não exclui o uso de
placebo ou nenhum tratamento em estudos nos quais não existam métodos provados de
profilaxia, diagnóstico ou tratamento;
c) utilizar o material biológico e os dados obtidos na pesquisa exclusivamente para a
finalidade prevista no seu protocolo, ou conforme o consentimento dado pelo participante da
pesquisa;
d) assegurar a todos os participantes ao final do estudo, por parte do patrocinador,
acesso gratuito e por tempo indeterminado, aos melhores métodos profiláticos, diagnósticos e
terapêuticos que se demonstraram eficazes;
e) o acesso também será garantido no intervalo entre o término da participação
individual e o final do estudo, podendo, nesse caso, esta garantia ser dada por meio de estudo
de extensão, de acordo com análise devidamente justificada do médico assistente do
participante (BRASIL, 2012).
Por fim, a pesquisa com seres humanos precisa ser aprovada previamente por um
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), os quais acompanham e aprovam, ou não, os projetos,
avaliando e orientando sobre os aspectos e problemas éticos, jurídicos, científicos e sociais
pertinentes (AMORIM, 2019).

Devolutiva dos resultados de pesquisa com seres humanos

A partir do escopo ao qual a discussão desse artigo propõe, há de se demonstrar a


importância do processo de devolutiva de resultado das pesquisas. Através de Rocha, Silva e
Dellazzana-Zanon (2022), bem como Almeida et al. (2018) é que apresentamos nossas
discussões sobre o processo e a suposições de estratégias de devolutivas na pesquisa com seres
humanos.
A devolutiva de pesquisa (dissertações; teses) tem sido uma das questões entre as
resoluções éticas que tem acontecido com menos frequência, dentre os documentos que
destacam o direito do participante em receber a devolutiva das pesquisas, temos: “(a) Norma
Operacional nº 001/2013 do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)/Comissão Nacional de Ética
em Pesquisa (CONEP), (b) Resolução 510/2016 do CONEP, e (c) Código de Ética Profissional
do Psicólogo do Conselho Federal de Psicologia (CFP)” (ROCHA, SILVA E DELLAZZANA-
ZANON, p. 220, 2022).
A literatura nacional e internacional sobre devolução de pesquisa ainda é mínima,
dentre os estudos teóricos sobre a temática apresentados por Rocha, Silva e Dellazzana-Zanon
(2022), destacamos a pesquisa de Purvis et al. (2017); a pesquisa realizada no estado
estadunidense do Arkansas indica que os participantes de pesquisas acreditam que irão receber
alguma forma de devolutiva sobre a participação.
Os participantes da pesquisa anteriormente citada, destacaram de acordo com Purvis et
al. (2017) três motivos pelos quais acreditam que é importante realizar a devolutiva, sendo os
motivos: “(a) por defenderem que os resultados são propriedade dos participantes; (b) pois
incentiva os participantes a participarem de pesquisas futuras; e (c) pois colabora na relação de
confiança entre pesquisador e participante”. Os respectivos motivos demonstram em sua
natureza questões como: a devolutiva como um direito do participante, o incentivo dos
participantes em outras pesquisas e o vínculo entre a academia e a sociedade na construção de
conhecimento (ROCHA, SILVA E DELLAZZANA-ZANON, p. 221, 2022).
Diante desta problemática a partir das experiências sobre as lacunas existentes no
processo de devolutiva das pesquisas, Purvis et al. (2020) apud Rocha, Silva e Dellazzana-
Zanon (2022) discorrem sobre a importância dos pesquisadores organizarem um protocolo de
devolutiva observando as experiências anteriores de outros pesquisadores sobre a devolutiva
aos participantes, as experiências transitam sobre diversos aspectos relacionados à pesquisa e
a devolutiva dos resultados, como: a linguagem a ser utilizada nas devolutivas, o medo em
relação à infração de anonimato, a exequibilidade da devolutiva em relação ao tempo de
formação, entre outras.
Em relação a literatura nacional sobre devolutiva de pesquisa, nos ancoramos no artigo
de Rocha, Silva e Dellazzana-Zanon (2022), onde são apresentados dois estudos sobre
devolutivas de pesquisa, por se tratar de aproximações teóricas e discursivas, escolhemos nesse
texto evidenciar apenas o primeiro estudo dos autores.
O primeiro estudo consistiu na realização de um levantamento das teses e dissertações
produzidas no Programa de Pós-Graduação em Psicologia de uma Universidade, do
interior de São Paulo, que tem como mantenedora uma associação civil de direito
privado, comunitária e filantrópica. O levantamento foi realizado na Biblioteca
Digital de Teses e Dissertações da instituição. A busca foi realizada no mês de
setembro de 2018. Foram incluídos na amostra, somente os trabalhos publicados entre
os anos de 2013 a 2018 (ROCHA, SILVA E DELLAZZANA-ZANON, 2022).

O estudo apresenta critérios de inclusão e exclusão para realizar o levantamento a partir


de uma seleção preliminar de teses e dissertações que correspondam com os critérios
estabelecidos. Em relação a análise dos dados do levantamento, foi organizada uma tabela com
informações relacionadas a aspectos como: “ano, título, tipo (mestrado/doutorado), linha de
pesquisa, grupo de pesquisa, orientador(a), aluno(a), método, participantes, área de atuação e
se citavam ou não a devolutiva de resultados" (ROCHA, SILVA E DELLAZZANA-ZANON,
p. 224, 2022).
Os resultados do levantamento foram sintetizados em uma imagem de modelo
fluxograma (diagrama utilizado para sistematizar e descrever processos), onde podemos
visualizar dados quantitativos, bem como a aplicação dos critérios de inclusão/exclusão sobre
a seleção preliminar. Através dos critérios estabelecidos, 119 pesquisas foram incluídas no
estudo, sendo que 65 delas mencionaram em alguma medida (documentos, texto da
dissertação) a devolutiva dos resultados e 49 não mencionam a devolutiva como um processo
constituinte da pesquisa. Dos estudos que citaram a devolutiva, 55 citaram uma vez e os outros
10 citaram duas vezes
Segundo Rocha, Silva e Dellazzana-Zanon (p, 225, 2022),
Dos estudos que citaram a devolutiva de resultados duas vezes no trabalho observou-
se que: (a) quatro dos estudos citaram no TCLE e no texto, (b) três citaram no parecer
do Comitê de Ética em Pesquisa e na Carta de Autorização Institucional, (c) dois
citaram no TCLE e na Carta de Autorização Institucional e (d) um citou no TCLE e
no parecer ao Comitê de Ética em Pesquisa. Além disso, chamou atenção que, dentre
os 65 trabalhos que citaram a devolutiva, somente 21 a citaram no texto, sendo que,
apenas 9 relataram a devolutiva como uma etapa realizada e não como uma parte da
pesquisa a ser realizada.

Por fim, no levantamento realizado foi possível observar variedades de devolutiva de


resultados, tanto previstas como realizadas nas pesquisas como: palestras com os participantes
a respeito da temática de pesquisa, conversas individuais com os participantes sobre os
resultados, orientações aos participantes sobre o tema de pesquisa, devolutiva aos participantes
por meio de e-mail, encontro de encerramento e outras modalidades.
A devolutiva dos resultados é um direito do participante, segundo Rocha, Silva e
Dellazzana-Zanon (2022), das 65 pesquisas que mencionaram o processo da devolutiva aos
participantes, apenas 9 delas evidenciam a realização desse processo. Nesse sentido, quando o
pesquisador não realiza a devolutiva mencionada, corre-se o risco de que os participantes não
participem de futuras pesquisas, como já discutido no texto os participantes acreditam que irão
receber alguma devolutiva, quando esse processo é negligenciado há riscos de tensões sobre a
confiança nos pesquisadores e posteriormente acadêmicos preocupados apenas em coletar e
analisar os dados de suas pesquisas. Entretanto, apesar das menções sobre devolutivas não
estarem presente em algumas dissertações/teses, isso não significa que não ocorreram após o
término de todo processo de pesquisa.
A devolutiva tem como fundamento o cumprimeto de uma legislação ou normativa,
mas também se movimenta enquanto uma responsabilidade social da pesquisa, onde os
pesquisador pode realizar a aproximação do universo da pesquisa com a sociedade (no caso os
participantes), como nos afirma Almeida et al. (2018), é um processo de “inclusão” dos
diferentes atores envolvidos na pesquisa.
Nesse sentido, “buscamos romper com uma lógica de produção do conhecimento
unilateral e de base representacional, a qual considera o pesquisador como aquele que acumula
e detém os resultados da pesquisa”, é um processo que precisa ser organizado com
planejamento e exequibilidade, movimentando o papel de todos participantes da pesquisa, o
objetivo não deve ser apenas concretizado na tarefa de coleta de dados, mas também na ressalva
que se pode fazer aos participantes através da estratégia de devolutiva adotada, enfatizando a
importância dos participantes para na construção da pesquisa “devolvendo os
saberes ao seu plano de constituição e problematização” (ALMEIDA et al., p. 204-207, 2018).

Os desafios ético-políticos na produção do conhecimento

A práxis da construção e desenvolvimento de pesquisas com seres humanos envolvem


uma série de questões desafiadoras pertinentes no âmbito ético, moral e político, as quais estão
presentes desde a construção histórica do modo de se pensar as pesquisas com seres humanos
até a reflexão sobre os cuidados éticos específicos que estudos com seres humanos requerem.
Desde o começo da realização de pesquisas com seres humanos, emergiram alguns
pontos relevantes sobre o fazer científico ético com a participação de seres humanos que
geraram controvérsias por não haver um consenso em algumas situações e circunstâncias.
Nesse sentido, Alves e Teixeira (2020) destacam como primeira grande controvérsia o alcance
da regulamentação nas pesquisas com seres humanos ao haver uma compreensão da amplitude
dos estudos para além do campo da saúde abrangendo outras instâncias de conhecimento.
No que diz respeito às pesquisas das Ciências Humanas e Sociais com seres humanos,
Alves e Teixeira (2020) e Chimentão e Reis (2019) apontam que há uma certa rejeição por
parte dos pesquisadores em Ciências Humanas e Sociais às exigências do sistema CEP/CONEP
(Conselho de ética em Pesquisa/ Comissão Nacional de ética em Pesquisa) por estar fortemente
arraigado à área biomédica.
Vale pontuar que, apesar da área biomédica ter sido precursora na construção de
aparatos de regulamentação para a pesquisa ética com seres humanos, há especificidades
presentes nos estudos com seres humanos, especialmente, no que se refere às Ciências
Humanas e Sociais que extrapolam as considerações éticas no campo biomédico, logo não
podendo serem enquadradas algumas particularidades conforme as Ciências Biomédicas.
Em relação à questão do reconhecimento das especificidades existentes nas pesquisas
com seres humanos, segundo Alves e Teixeira (2020) desde o início há uma controvérsia sobre
a consideração das especificidades existentes nesse tipo de estudo e como tentativa de superar
a ausência desse reconhecimento foram editadas resoluções complementares, como a de
reprodução humana (Res. CNS 303) e a dos povos indígenas (Res. CNS 304).
É fundamental pontuar que a compreensão da ética em pesquisas com seres humanos
abrange uma série de elementos para além do cuidado com o anonimato, privacidade e o
consentimento livre e esclarecido do participante. Obviamente, essas questões de éticas formais
que norteiam a organização e a realização das pesquisas com seres humanos respeitando as
regulamentações dos órgãos responsáveis são essenciais para assegurar o respeito a tais
questões supracitadas.
No que se refere a esses cuidados no cumprimento de princípios éticos em pesquisas
com humanos, Chimentão e Reis (2019) consideram esses procedimentos éticos como sendo
de cunho burocrático, entretanto reconhecem a importância da exigência e cumprimento das
regulamentações do que consideram como ética burocrática como forma de assegurar a
proteção do participante.
A reflexão sobre a ética no modo de construir pesquisas com seres humanos é um
convite para mergulhar em incontáveis questões éticas que envolvem a interação social humana
nos diversos cenários de pesquisa, as quais vão além dos riscos à saúde do participante nos
critérios da visão biomédica e dos requisitos de cumprimentos da ética burocrática.
Desse modo, outro importante desafio no campo das pesquisas de Ciências Humanas e
Sociais com seres humanos diz respeito à identificação dos riscos aos participantes da pesquisa
que podem ir além dos reconhecidos pelas Ciências da Saúde relacionados a assegurar o
cuidado com a saúde e a integridade do participante. Sobre esse aspecto, Campos (2020, p. 4 e
5) afirma que as pesquisas em psicologia, psicologia social ou antropologia tem demonstrado
reiteradamente que pode haver efeitos nos participantes de pesquisas após a realização de
entrevistas narrativas ou a observação de grupos humano, como: implicações emocionais,
constrangimento, vergonha, desconforto ou lembranças indesejadas.
Logo, o pesquisador em Ciências Humanas e Sociais tem o desafio de olhar para os
participantes da pesquisa de modo empático e com criticidade sobre os objetivos da pesquisa,
os riscos para os participantes para além do risco à saúde na visão biomédica e os benefícios
que o estudo irá proporcionar para aquele grupo, a fim de que não se limite apenas a produção
acadêmica por si só, mas produza reais benefícios aos envolvidos na pesquisa.
Vale pontuar a mudança que vem se desenhando no cenário das pesquisas em Ciências
Humanas e Sociais em relação às questões éticas, de acordo com Campos (2020) o Conselho
Nacional de Saúde aprovou a Resolução 510/2016 que complementa a Resolução 466/12 e
dispõe sobre questões específicas da ética e dos procedimentos em pesquisas de Ciências
Humanas e Sociais. Tal resolução constitui-se como um avanço, porém deve-se ter noção que
ainda existem muitos questionamentos sobre ética ao abordarmos a pesquisa com seres
humanos.
Observa-se que há outras questões éticas que devem ser consideradas nas pesquisas
com seres humanos. Nessa perspectiva, Chimentão e Reis (2019) destacam a relevância da
ética emancipatória nas pesquisas que envolvem seres humanos, na qual as tomadas de decisões
no que se refere aos julgamentos morais e éticos devem ser pautados no cuidado com o ser
humano que está em uma relação dialógica.
Ainda no que se refere à ética formal ou burocrática em pesquisa, Campos (2020, p.12)
aponta que em situações de vulnerabilidade dos participantes pode haver a necessidade de
realização de procedimentos especiais para a obtenção de termos de consentimento livre e
esclarecido ou termo de assentimento. Tal modo de intervenção do pesquisador reflete não
apenas o cuidado com a ética burocrática, mas a consideração da ética emancipatória com os
participantes da pesquisa.
No que se refere a ética burocrática e a ética emancipatória, nota-se que é um grande
desafio para as pesquisas com seres humanos avançarem rumo à produção de conhecimento
considerando a ética emancipatória na práxis da pesquisa para além do cumprimento das
condutas éticas formais ou burocráticas junto aos Comitês de ética.
A ética emancipatória pode ser considerada como um compromisso social do
pesquisador com os participantes da sua pesquisa, considerando para além de fonte de dados e
de futuros resultados de um estudo, mas como um participante ativo. Nesse sentido, Chimentão
(2016) pontua os métodos utilizados em sua pesquisa visando assegurar a ética emancipatória
através do método emancipatório de geração de dados, no qual os participantes exercem poder
na geração de dados da pesquisa de forma igualitária.
Outro aspecto ético nas pesquisas com seres humanos fundamental que se constitui
como um desafio é a questão da devolutiva dos resultados das pesquisas aos participantes.
Sobre esse elemento da pesquisa, Chimentão e Reis (2019) afirmam que o retorno aos
participantes com os resultados das análises do estudo é um momento da pesquisa que se torna
uma ferramenta de empoderamento dos participantes e no caso de uma pesquisa empoderadora
a devolutiva configura-se como um espaço de trocas com a possibilidade dos participantes
reverem seus posicionamentos e apontarem seus questionamentos e interpretações.
Conforme exposto, nota-se que a ética em pesquisa com seres humanos envolve
diversos aspectos que vão além da ética burocrática no fazer pesquisa, perpassando pela
necessidade da reflexão sobre a ética emancipatória em pesquisa como um compromisso social
e sobre os riscos e benefícios dos participantes, especialmente, nas pesquisas em Ciências
Humanas e Sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É indiscutível a necessidade e importância da investigação científica e evidente os


benefícios à sociedade decorrentes do progresso do campo científico, não obstante, tais
processos precisam estar em conformidade com os princípios e fundamentos éticos
estabelecidos pelo campo científico, respeitando, em primeira instância, a dignidade e os
direitos humanos.
Portanto, no presente ensaio é possível visualizar que as pesquisas com seres humanos,
se destaca, sobretudo, pela possibilidade de aumento da qualidade de vida, bem como meio de
expansão do campo científico, no entanto, demarcando a necessidade de não esquecer de que
o seu desenvolvimento historicamente fora marcado por uma série de violações aos direitos
humanos fundamentais, daí a importância de se pensar o processo ao longo dos tempos, em
nome da própria evolução científica. Isso posto, nota-se que é essencial conhecer o percurso
histórico que desencadeou a construção de normativas que visassem os cuidados éticos atuais
nas pesquisa com seres humanos desde o contato inicial resguardando o anonimato do
participante até o momento da devolutiva, a fim de que seja possível compreender os desafios
éticos presentes na atualidade.
Dentre os desafios apresentados atualmente nos cuidados éticos em pesquisa com seres
humanos encontra-se, muitas vezes, a busca dos pesquisadores pelo cumprimento das
normativas éticas formais dos Comitês de Ética em detrimento de aliar com o cuidado ético
emancipatório e nota-se a dificuldade enfrentada pelas Ciências Humanas e Sociais em
construir formas de assegurar as questões éticas formais e emancipatórias reconhecendo as
singularidades das pesquisas nessa área de saber.
Cabe ressaltar que as normas que regulamentam as pesquisas com seres humanos, por
si só, não garantem o cumprimento rígido das normas éticas por parte dos pesquisadores, tendo
em vista a complexidade dos aspectos e processos envoltos na realização de uma pesquisa.
Diante disso, faz-se necessário a produção de lugares de discussão e formulação de modos de
enfrentamento e acompanhamento que vão de encontro com as necessidades vivenciadas
atualmente no âmbito das pesquisas com seres humanos no Brasil.

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