Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
humanos
Elaine Alves
Professora Adjunta da Universidade de Brasília (Área de Medicina da Criança e
do Adolescente). Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
de Medicina da Universidade de Brasília. Consultora da disciplina Oncologia
Geral e Pediátrica da FAMEPLAC.
Paulo Tubino
Professor Titular de Cirurgia Pediátrica da Universidade de Brasília. Consultor
das disciplinas de Embriologia, Técnica Operatória e Cirurgia Pediátrica da
FAMEPLAC.
RESUMO
Os autores abordam o uso do ser humano, através dos tempos,
para experimentações dos mais diversos tipos e as condições que leva-
ram à regulamentação da pesquisa em seres humanos. Apresentam
alguns conceitos de ética e enfatizam que a pesquisa em seres huma-
nos é um capítulo importante da ética médica e da bioética. Analisam a
regulamentação internacional e nacional a respeito e as recentes tentati-
vas de se estabelecer um duplo padrão ético em pesquisa, dirigido aos
ética em pesquisa.
tina mos, moris (que deu em português a palavra moral), que equivale
apenas a hábito ou costume. A ética e a moral têm em comum um
sentido eminentemente prático, embora a ética seja um conceito
mais amplo e rico que a moral. Moral pode ser definida como qual-
quer conjunto de regras, valores e proibições, impostos pela políti-
ca, costumes sociais, religiões ou ideologias. Por sua vez, a ética
sempre implica em uma reflexão sobre a validade da conduta huma-
na, ou seja, é uma análise crítica das regras impostas pela moral.
Além da Ética Médica Hipocrática, dentre os grandes modelos éti-
cos da tradição ocidental destacamos: a Ética da Reciprocidade (ou
a Regra de Ouro), que é um princípio moral encontrado em pratica-
mente todas as religiões e culturas (Não faças aos outros o que não
gostarias que os outros fizessem a ti, ou faz aos outros aquilo que gostarias
que te fizessem) e, mais modernamente, a “Bioética”.
Em 1964, a Associação Médica Mundial (World Medical
Association) aprovou uma codificação de maior abrangência que a de
Nuremberg – a Declaração de Helsinque.6 Embora sem status jurídi-
co, é um código de conduta para investigações médicas reconhecido
internacionalmente. A Declaração de Helsinque já foi objeto de cinco
revisões, a última em outubro de 2000, e nela são consagrados o
princípio do consentimento informado por parte dos sujeitos da pes-
quisa e a prevalência da beneficência do indivíduo sobre o bem co-
mum ou da ciência. Também passa a ser obrigatório que os projetos
sejam aprovados por uma comissão de ética independente.
Entretanto, continuaram a ocorrer pesquisas que violavam os
princípios éticos já estabelecidos. Junto ao caso Tuskegee, outros
dois experimentos mobilizaram a opinião pública norte-americana:
a injeção de células tumorais hepáticas vivas em idosos doentes no
Jewish Chronic Disease Hospital em Nova Iorque (1963) e a contami-
nação de crianças com deficiência mental pelo vírus da hepatite
infecciosa, entre 1950 e 1970, na Willowbrook State School.7,8 Em uma
reação institucional ao escândalo provocado por essas pesquisas, o
governo e o congresso norte-americano constituíram uma comissão
para identificar quais princípios éticos básicos deveriam conduzir
experiências em seres humanos. O resultado foi o Relatório Belmont
(Belmont Report), que concluiu pelos seguintes princípios: o princípio
REFERÊNCIAS
1. Opera omnia anatomico-medico-chirurgica huc usque edita. 5 volumes. Amsterdã, 1737.
Tradução para o holandês por Y. G. Arlebout: Alle de ontleed- genees- en heelkundige werken
van Fr. Ruysch. 3 partes. Amsterdã, 1744.
2. Jones JH. Bad blood: the Tuskegee syphilis experiment. 2.ed. New York: The Free
Press; 1993.
3. British Medical Journal. The Nuremberg Code (1947). BMJ 1996;313:1448.
4. Seidelman WE. Nuremberg lamentation: for the forgotten victims of medical science.
BMJ 1996;313:1463-7.
5. Weindling P. Human guinea pigs and the ethics of experimentation: the BMJ’s
correspondent at the Nuremberg medical trial. BMJ 1996;313:1467-70.
6. CREMESP/Centro de Bioética. Declaração de Helsinque - outubro/2000. Disponível
em: http://www.bioetica.org.br/legislacao/outras_diretrizes/integra.php. Acesso em
26/06/2006.
7. Lerner BH. Sins of Omission – Cancer research without informed consent. NEJM
2004; 351:628-30.
8. Rothman DJ, Rothman SM. Willowbrook wars: a decade of struggle for social justice.
New York: Harper & Row Publishers, 1984.
9. The National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and
Behavioral Research. – The Belmont Report. Washington, Government Printing, 1979.
Disponível em: http://www.mcg.edu/Research/ohrp/hac/belmont.pdf. Acesso em
26/06/2006.
10.Potter VR. Bioethics: bridge to the future. Englewood Clidds: Prentice-Hall; 1971.
11.Beauchamp TL, Childress JF. Principles of biomedical ethics. 5.ed. New York: Oxford
University Press, 2001.
12.Council for International Organizations of Medical Sciences (CIOMS). International
Ethical Guidelines for Biomedical Research Involving Human Subjects. Disponível
em: http://www.cioms.ch/frame_guidelines_nov_2002.htm. Acesso em 26/06/2006.
13.Dismantling the Helsinki Declaration - Editorial - CMAJ 2003;169: 997.
14.Greco DB. Editorial especial: As modificações propostas para o parágrafo 30 da
Declaração de Helsinque 2000 diminuirão os requisitos relacionados ao acesso aos
cuidados de saúde para os voluntários de ensaios clínicos. Rev. bras. Epidemiol.
2003;6:284-90.
15.Lima C. Ensaios clínicos. Vulnerabilidade e relativismo ético. Acta Med Port.
2005;18:221-6.
16.Connor EM, Sperling RS, Gelber R, Kiselev P, Scott G, O’Sullivan MJ et al. Reduction
of maternal-infant transmission of human immunodeficiency virus type 1 with
zidovudine treatment. N Engl J Med.1994;331:1173-80.
17.Whalen CC, Johnson JL, Okwera A, Hom DL, Huebner R, Mugyenyi P et al. A trial of
three regimens to prevent tuberculosis in Ugandan adults infected with the human
immunodeficiency virus. Uganda-Case Western Reserve University Research
Collaboration. N Engl J Med.1997;18;337:801-8.
18.Vieira S. Ética e metodologia na pesquisa médica. Rev Bras Saude Mater Infant.
2005;5:241-5.
19.Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – Resolução
196/96. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/docs/Resolucoes/Reso196.doc.
Acesso em 276/06/2006.
***