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A construção da modernidade europeia

O método experimental e o progresso do conhecimento do homem e da natureza


Foi durante os séculos XVII e XVIII que se estabeleceram os fundamentos da ciência moderna. Os contributos
herdados do século XVI levaram à valorização da observação direta e do experiencialismo.

As observações de Galileu, baseadas na experiência e no conhecimento matemático, abriram um novo caminho à


construção do conhecimento científico. As descobertas puseram em causa o saber tradicional académico e as
convicções defendidas pela Igreja, fundamentadas no conhecimento livresco. Galileu questionava o pensamento
assente num mundo de papel, por não crer no conhecimento resultante no saber livresco, mas sim no conhecimento
fundamentado num mundo real. Através da utilização da luneta astronómica, comprovou a Teoria Coperniciana,
refutando o geocentrismo e defendendo o heliocentrismo.

O contributo de Francis Bacon assentou na defesa de um novo método para alcançar o conhecimento, baseado na
observação, na experiência e na indução, uma vez que defendia que os estudos aperfeiçoam a natureza, mas são por
sua vez aperfeiçoados pela experiência. Defendeu que era através da observação de factos concretos e de
experiências que se chegava ao verdadeiro conhecimento, bem como através do raciocínio indutivo, isto é, partir de
uma observação empírica particular (facto) para alcançar uma conclusão universal (lei).

René Descartes teve um papel relevante na construção do pensamento científico. Como forma de reduzir o seu
pensamento ao sentido mais puro, procurou anular as influências do que aprendera e foi nesta medida que
formulou a famosa proposição Penso, logo existo, ou seja, a certeza do pensamento racionalista.

O método cartesiano era composto por quatro etapas: a primeira (evidência) consistia em não aceitar como
verdadeiro algo que a razão não reconhecesse como tal; a segunda (análise) residia na decomposição do problema
em várias partes; a terceira (síntese) consistia em reunir as diferentes partes em ordenar as observações começando
pelos objetos mais simples e mais fáceis de se conhecer, para pouco me elevar […] até aos conhecimentos mais
complexos; a quarta (enumeração) garantia, depois do processo realizado que, nada havia sido omitido ou ficara de
fora. O método cartesiano consistia numa análise e, desta forma era um método eficaz para resolver os problemas e
as questões, assentava na razão e, como tal, na capacidade de bem julgar e distinguir o verdadeiro do que é falso,
contribuindo indubitavelmente para o progresso do conhecimento do Homem e da natureza.

Isaac Newton, figura cimeira da “revolução científica” do século XVII, formulou a lei da gravitação universal que pôs
fim, definitivamente, à cosmologia Antiga e demonstrou que o universo era infinito e que o sistema solar se regia por
regras matemáticas aplicadas tanto à Terra como aos outros planetas.

Ainda no domínio do conhecimento científico, é possível destacar o contributo de outras figuras. Edmond Halley foi
o primeiro astrónomo a descrever a órbita de um cometa, que ficaria conhecido como cometa Halley, o qual foi
identificado, por Halley, como o cometa que tinha sido visto em 1531 e em 1607, calculando que seria visível a cada
75 anos.

Ainda no âmbito da astronomia, Johannes Kepler descobriu as três leis do movimento dos planetas, segundo as
quais estes se deslocam numa órbita elíptica em torno do Sol.

No campo da matemática, Blaise Pascal foi o criador da teoria do cálculo das probabilidades e inventou a primeira
máquina de calcular- a pascaline.

No campo da anatomia, William Harvey foi o primeiro a descrever, em 1628, o circuito contínuo da circulação
sanguínea, determinante para o avanço da medicina.

As doutrinas antigas foram substituídas por novas teorias que permitiram a criação de um novo método, o método
científico. De acordo com este método, era necessário repetir, várias vezes, a experiência de modos a comprová-las
e, consequentemente, a torná-las leis. Pela importância destas inovações no conhecimento do Homem e do
Universo, muitos apelidaram-nas de “revolução científica”, o que fez entrar as ciências na modernidade.

A par da prática da observação e da experimentação, o século XVII viu nascer novos instrumentos.
O microscópio, inventado em 1590 por Hans e Zacharias Janssen, popularizou-se no século XVII, permitindo avanços
na microbiologia e no estudo de micro-organismos: a luneta astronómica e o termómetro, criados por Galileu, bem
como o barómetro de Torricelli, criado em 1643, e o telescópio, atribuído à invenção de Hans Lippershey, no ano de
1608, foram progressivamente adaptados à observação e à experiência, revelando-se cruciais para um
conhecimento mais rigoroso do Homem e da natureza.

Este novo espírito crítico apaixonou elites e soberanos que demonstraram um interesse cada vez maior pelas
ciências e pelos homens da ciência e, nesse sentido, procuraram apoiar as academias e os observatórios. Ao mesmo
tempo, a opinião pública mais culta sentia-se mais atraída quer pelas curiosidades, quer pelas novidades científicas.
Consequentemente, os chamados gabinetes de curiosidades, espécie de laboratórios improvisados e em pequena
escala, foram-se expandindo, assumindo-se como lugares onde se criavam e exibiam instrumentos e se
demonstravam os fenómenos físicos.

As academias, apoiadas pelos Estados ou decorrentes de iniciativas privadas, promoveram a ciência e difundiram os
conhecimentos e as descobertas.

Também a imprensa permitiu a maior circulação do saber e o alargamento da comunidade científica, contribuindo
ainda para divulgar as novidades e as descobertas científicas, entre um número cada vez maior de indivíduos,
facilitando também o confronto entre a tradição e a inovação.

A Filosofia das luzes


O iluminismo foi um movimento intelectual tendo o seu início na segunda metade do século XVII, que designa o
movimento intelectual, filósofo e científico que, na Europa, entre a segunda metade do século XVII e o século XVIII,
valorizava a razão e a tolerância. Os iluministas acreditavam também no progresso humano e no desenvolvimento
das capacidades do indivíduo, no conhecimento e na liberdade, necessárias para atingir a felicidade.

Meios de difusão do pensamento iluminista


As ideias iluministas não conheceram fronteiras; a sua expansão pela Europa contou com os seguintes meio de
difusão:

 as academias- sociedades formais e com objetivos científicos, destinadas a promover e a divulgar a ciência,
as artes, as letras, as línguas, a história;
 as bibliotecas- que colecionavam os trabalhos científicos e, por vezes, exibiam coleções de objetos
arqueológicos e de raridades;
 a língua francesa- instituiu-se como a língua corrente entre os homens do Iluminismo, contribuindo assim
para a universalidade e expansão das ideias das Luzes;
 os cafés- sendo que o mais conhecido era o café Procope, em Paris, onde se reuniram, entre outros, Voltaire
e Diderot, e nos quais se debatiam as novas ideias:
 a imprensa- foi determinante na divulgação das ideias iluministas, pois os jornais e as revistas científicas
permitiram fazer chegar ao público as novas ideias, contornando, desta forma, a censura instituída na maior
parte dos Estados;
 os salões- locais de convívio social onde as damas recebiam os artistas, os sábios, os poetas, os filósofos e
nos quais se debatiam temas e conteúdos específicos, previamente definidos;
 a Enciclopédia- entre 1751 e 1772 foi publicada a Encyclopédie, em 35 volumes, dirigida por Dennis Diberot
e Jean le Rond D’Alembert. Esta obra reunia os mais importantes vultos do Iluminismo e abarcou um vasto
conjunto de conhecimentos.

Apologia da razão, do progresso e do valor do indivíduo


O Iluminismo ficou conhecido como a “Idade da Razão”. O homem das Luzes fez uso da razão, considerada como
guia, e que se constituiu como uma ideia central do pensamento e da ação do Iluminismo. A razão foi aplicada a
todos os domínios do conhecimento e, nesta medida, assumiu-se como um meio através do qual se chegava à
verdade.
O uso da razão tornou-se, assim, no motor do progresso e do desenvolvimento da humanidade. Sem ela, o Homem
permanecia nas “trevas” e no obscurantismo, pelo que a revelação da verdades através da razão permitia identificar
o erro e descortinar a verdadeira essência das coisas para melhor compreender o mundo, para progredir e atingir a
felicidade.

Considerava-se que todos os homens eram dotados de razão e, por isso, desde que fizessem bom uso das suas
faculdades podiam chegar à verdade, fazendo-se a apologia da razão humana aliada à fé inabalável no progresso. A
razão tornava-se soberana: era ela que devia comandar o pensamento e as ações dos homens, que devia ligar a
teoria e a prática, de modo a que o Homem pudesse ajuizar, de forma esclarecida, o mundo que o rodeava. O uso da
razão foi determinante no progresso do conhecimento científico.

Os iluministas consideravam que as condições de vida seriam melhores à medida que as gerações fossem passando e
que a humanidade seria responsável por este desenvolvimento. A ideia de progresso interligava-se com o ideal de
universalidade humana por intermédio da união de raças, religiões e culturas.

O valor do indivíduo e a sua liberdade individual começaram a ser de defendidos entre as elites intelectuais e a
contrapor-se à ideia do indivíduo privilegiado pelo nascimento.

Os filósofos iluministas desenvolveram teorias no domínio da pedagogia para promover as capacidades do Homem e
a sua autonomia. Entre filósofos que refletiram sobre a educação, podemos destacar Rousseau, Fénelon e
Condorcet, que defenderam respetivamente, entre outras ideias, a educação, pela natureza, a educação das
mulheres como forma de contribuírem melhorar para a educação das suas crianças, e a existência de uma instrução
política.

A valorização do indivíduo levou os iluministas a desenvolver um ideal de justiça, a defender a capacidade de aceitar
a diferença, a reconhecer a multiplicidade de pontos de vista e a tomar a consciência de que todos os homens
podiam errar. Neste sentido, a tolerância surgiu como um valor fundamental na edificação de uma sociedade
melhor, centrada na prossecução do bem enquanto variedade melhor, centrada na prossecução do bem enquanto
valor moral. Reconheceu-se o valor do ser humano e condenaram-se a tortura e as práticas que infligiam sofrimento
e dor, ou seja, procedimentos contrários ao ideal de felicidade e que eram vistos como um atentado à dignidade
humana.

O ideal de tolerância religiosa, fundamentado no princípio da liberdade de pensamento e na opção individual, foi
defendido por pensadores como John Locke, Baruch Spinoza, Voltaire e Jean-Jacques Rousseau. Os homens das
Luzes consideravam que a religião limitava, em certa medida, a liberdade de pensamento e o uso da razão e que, por
isso, constrangia o progresso do novo Homem.

Defesa do direito natural, do contrato social e da separação dos poderes


No que respeita a Rousseau, o contrato social consistia na conciliação da vontade particular, isto é, do indivíduo,
com a vontade geral, que deveria atender ao bem comum e ao bem público, se bem que guiados por uma lei. A ideia
de contrato social, preconizada por Rosseau, representava uma nova conceção do pensamento político. Assim,
segundo esta teoria, a sociedade organizava-se mediante um contrato, segundo o qual os indivíduos, os governados,
entregavam parte da sua liberdade aos governantes, os quais deviam respeitar a vontade geral.

Também John Locke havia já defendido, no século XVII, a ideia de que a autoridade régia assentava um contrato
entre o soberano e a nação. Caso o contrato fosse quebrado, isto é, se o poder régio degenerasse em poder absoluto
e não respeitasse o contrato, Locke considerava legítima a deposição do monarca. Assim, a associação dos indivíduos
através do contrato tinha subjacente a ideia de submissão relativamente a uma maioria, mas também a
possibilidade de destituição, em caso de incumprimento do contrato, o que significava que a sociedade mantinha
parte da sua liberdade face ao governo. Neste sentido, da ideia de contrato social decorria a convicção de que o
povo se assumia como o detentor do poder que partilhava, através do contrato, com o soberano. Era através das leis
e da partilha do poder, consagradas no contrato, que a sociedade se organizava.

Montesquieu considerava que a boa organização social decorria da divisão dos poderes. Tomou como modelo a
monarquia parlamentar inglesa. Montesquieu considerava que o respeito dos direitos só era possível mediante o
exercício partilhado do poder político. Consequentemente, via no absolutismo monárquico, baseado na origem
divina do poder, um regime condenável, na medida em que o exercício dos poderes políticos se confundia, pois
estavam concentrados. Defendia que o clero, a nobreza e os parlamentos, vistos como representantes naturais da
sociedade, deviam assumir-se como controladores do poder régio, com vista a evitar o despotismo e a favorecer a
liberdade.

Montesquieu foi um defensor da necessidade de limitar os regimes políticos por considerar que se não existirem
limites à ação dos governos, estes degeneravam e, como tal provocavam a desordem.

Portugal- o projeto pombalino de inspiração iluminista


3.3.2. A política económica e social pombalina

Em 1750, no final do reinado de D. João V, a conjuntura económica portuguesa apresentava-se adversa, com
indicadores claramente negativos: excessiva dependência da economia nacional face à Inglaterra; elevado défice da
balança comercial portuguesa; diminuição do afluxo do ouro e dos diamantes ao reino; dificuldade de colocação dos
produtos coloniais no mercado internacional; produção manufatureira reduzida, de fraca qualidade e asfixiada pela
concorrência inglesa; comércio colonial cada vez mais sujeito à concorrência e aos interesses estrangeiros:
agricultura atrasada e pouco produtiva; setor vinícola afetado pela perda de qualidade, que se refletia na baixa do
preço dos vinhos e no recuo das exportações. Foi nesta conjuntura, marcada por dificuldades, que D. José I ascendeu
ao trono.

Impunha-se ao monarca escolher um secretário de Estado. Tarefa exigente esperava o novo secretário: havia que
proceder a reformas económicas, no sentido de diminuir as importações, de desenvolver a produção manufatureira,
de reduzir a dependência face a Inglaterra, de restringir os efeitos negativos da concorrência externa, de retirar o
controlo do comércio nacional das mãos dos estrangeiros, de aumentar a produção agrícola, de dotar o comércio
colonial de uma maior rentabilidade e de equilibrar a balança comercial, para promover a criação de riqueza. O novo
secretário optou pela aplicação de medidas de cariz mercantilista. Relativamente ao domínio do comércio,
promoveu a criação de companhias monopolistas.

Em relação ao mercado interno metropolitano, a governação pombalina publicou medidas facilitadoras da circulação
no reino. A par da criação das companhias comerciais, o marquês de Pombal dedicou atenção especial aos setores
produtivos. Neste sentido, fomentou o desenvolvimento de manufaturas e reestruturou o setor.

No domínio social, a ação desenvolvida pelo marquês de Pombal ficou ligada à valorização da alta burguesia,
apelidada de homens de negócios, por ele considerada a base social do desenvolvimento económico. Apoiada pelo
Estado, pela primeira vez, a burguesia portuguesa pombalina desempenhava um papel social e económico
reconhecido.

Podemos então concluir que, no plano social, a ação do mar quês de Pombal ficou marcada pela perseguição à alta
nobreza e ao clero, com o objetivo de limitar a ação de todos os que tentavam contrapor-se à política régia e ao
reforço do poder do Estado. A sua política social apoiou-se na alta burguesia, que elevou a posições cimeiras na
hierarquia social. A política do marquês de Pombal restringiu os poderes da alta nobreza, limitou a interferência da
Igreja nos assuntos do Estado e subordinou todos à vontade régia. Além do mais, dotou a alta burguesia dos
instrumentos necessários para que assumisse o domínio económico, tão necessário ao desenvolvimento do reino.

A ação do Marquês de Pombal a nível:

Económico: criação da Junta do Comércio, promovendo o desenvolvimento do rei e da produção, adequando-se às


exigências do Estado e do bem comum;

Social- retirou privilégios antigos que se encontravam ancorados na hereditariedade e na tradição; afastou a nobreza
e o clero de setores em que o Estado desejava ter maior intervenção; desta forma, nivelaram os grupos sociais
perante o poder do soberano e evitaram da sobreposição de poderes, de jurisdições e de leis; criação da Real Mesa
Censória, em 1768 para o controlo da censura;

Político- criação da Real Mesa Censória, retirando o controlo da censura à igreja, passando a estar dependente do
Estado e nas mãos dos jurisconsultos e de letrados;
Modernização do Estado e das instituições- criação do Erário Régio, em 1761, com o objetivo de centralizar e
controlar as contas públicas; criação do cargo de tesoureiro-geral das sisas e de tesoureiro-mor;

Urbanístico- a 1 de novembro, de 1755, Lisboa foi devastada por um violento terramoto; Sebastião José de Carvalho
e Melo tomou iniciativas: o abastecimento da cidade foi feito para evitar a especulação nos preços; policiaram-se as
ruas para conter os roubos e implementaram-se medidas de higiene pública; A reconstrução de Lisboa implicou o
reordenamento urbano, inspirado no Iluminismo: uso de modelos padronizados e de elementos de simetria e
infraestruturas de saneamento; os edifícios, nivelados e ordenados, com fachadas sóbrias, destinavam-se à
burguesia pombalina ou à nobreza renovada; destacou-se o sistema de gaiola, que constituiu um eficaz sistema
antissísmico;

Ensino- as influências que do estrangeiro se fizeram se fizeram perante o conhecimento e a realidade, tendo
repercussões ao nível da educação, com propostas de criação de novos modelos pedagógicos e de ensino; a
influência dos estrangeiros trouxe para Portugal uma nova visão do ensino da pedagogia; nos seus escritos, esses
intelectuais valorizaram novas matérias pois tinham clara perceção do atraso em que o reino se encontrava
relativamente a outros países europeus; as novas ideias dos estrangeiros acerca do ensino acabaram por assumir
expressão nas reformas empreendidas dos Jesuítas e a extinção da Universidade de Évora, e 1772, ano da reforma
da Universidade de Coimbra. Estas reformas originaram uma série de alterações no domínio do ensino; criou a Aula
do Comércio, na medida em que defendia a necessidade de instrução nos assuntos da vida comercial e mercantil
(câmbios, pesos e medidas), de modo a formar pessoas que pudessem acompanhar as mudanças comerciais e
contribuir para o desenvolvimento económico do reino; no ano de 1761, fundou, em Lisboa, o Real Colégio dos
Nobres destinados a ensinar os filhos da fidalguia, com vista à sua preparação para os mais altos cargos de
administração do Estado; a criação da Junta de Providência Literária, em 1768, foi importante na medida em que
auxiliou Pombal na reforma universitária; em 1772, com o objetivo de financiar todas estas reformas no campo da
educação, foi instituído o “subsídio literário”, que incidia em parte das verbas arrecadadas com o imposto sobre o
vinho, a aguardente e o vinagre, cujas receitas eram canalizadas para o ensino; neste mesmo ano de 1772, Pombal
procedeu à reforma dos Estudos Menores; criaram-se as chamadas escolas menores, em várias localidades, onde
professores régios ensinavam, gratuitamente, as crianças a ler, a escrever e a contar;

(Jurídico)- construção de uma estrutura jurídica e legislativa subordinada aos princípios da razão e do direito natural,
em consonância com os ideias do Iluminismo; promulgação da Lei da Boa Razão, que visava uma uniformização das
fontes do Direito e da prática jurídica, de modo a impor a autoridade incontestável do rei; implementaram-se novas
áreas jurisdicionais e reformaram-se cargos judiciais;

(Segurança pública)- criação da intendência-Geral da Polícia da Corte e do Reino, contendo o poder junto dos oficiais
régios; criação da polícia, para proteger as pessoas e os seus bens, fazer cumprir a lei e os regimentos;

A Revolução Americana, uma revolução americana


As revoluções que aconteceram tanto nos EUA em 1776, na França, em 1789 e em Portugal, no ano de 1820, tiveram
os mesmos fatores. O triunfo das revoluções liberais teve nos seus principais fatores a crise da monarquia com o
levantamento de impostos que sobrecarregavam o Terceiro Estado e o fato de que pretendiam abranger, no
contributo fiscal, as ordens privilegiadas até então isentas do pagamento de impostos. Também a transformação da
sociedade do antigo regime e mobilidade social, foram uns dos principais fatores, com a transformação social, pelo
facto, da burguesia ter poder económico e desejar ter papel político e pelo facto da sociedade de ordens e os seus
privilégios, já não corresponderem à realidade social. Por último um dos fatores foi também a divulgação do
iluminismo pelas novas ideias sobre o poder e o seu exercício punham em causa as monarquias absolutas e pelas
novas ideias sobre o Homem e os direitos individuais punham em causa a sociedade de ordens e o direito divino dos
reis. A divulgação dos princípios iluministas e da ideologia liberal originaram os direitos fundamentais dos indivíduos
que eram a liberdade de expressão, a liberdade de pensamento, a igualdade dos cidadãos perante a lei, o direito à
justiça e a um julgamento justo e a liberdade religiosa. Também os direitos económicos foram originados por essa
divulgação e eram a liberdade económica, a liberdade de comércio e o direito à propriedade. Por fim, também os
direitos políticos, foram originados por essa divulgação, e eram a divisão dos poderes, o direito ao voto, a eleição dos
representantes por eleitores, o parlamentarismo, a soberania popular e os direitos dos votos. Surgiram também as
ideias liberais e de inspiração iluminista que foram defendidas e postas em prática nas revoluções liberais que, desde
os finais do século XVIII e ao longo do século XIV, triunfaram na Europa e na América.

Nascimento de uma nação sob a égide dos ideais iluministas


A revolução americana resultou da insurreição das 13 colónias inglesas na América do Norte contra o domínio da
Inglaterra.

O espírito das Luzes desenvolveu-se entre os colonos ingleses que valorizavam o uso da razão, tinham consciência do
valor da liberdade e defendiam princípios de governação assentes na defesa dos direitos naturais do Homem, na
partilha da soberania, no modelo político saído da Revolução Gloriosa de 1688, em que a divisão do poder, a
liberdade, e a defesa dos direitos e do valor do indivíduo se assumiram como características marcantes.

Quando os colonos americanos sentiram que estes valores e princípios estavam a ser colocados em causa, reagiram,
opondo-se ao modo como os ingleses exerciam o seu domínio sobre as colónias americanas.

Um movimento que começou por ser de resistência, a várias decisões da Coroa e do Parlamento inglês, acabou por
se tornar uma revolta das 13 colónias inglesas que culminou, em 1776, na declaração da sua independência, face ao
domínio inglês.

O movimento de insurreição das colónias americanas


Depois de 1763, a Inglaterra foi confrontada com a falta de recursos financeiros, pelo que aumentou os impostos
sobre as colónias da América do Norte.

Em 1764, a Inglaterra lançou, sobre as colónias, impostos sobre o açúcar- Sugar Act-, o café e a importação de
vinhos e roupas. Além da criação de novos impostos, procurou reforçar o exclusivo do comércio colonial. Em 1765,
surgiu um novo imposto- o Stampo Act- que obrigava ao uso do papel selado inglês na documentação oficial e ao
pagamento do imposto do selo sobre os jornais e revistas que circulavam nas colónias americanas.

O espírito de revolta rapidamente se difundiu, levado, em 1770, à primeira revolta de Boston.

Em 1773, a desavença entre a metrópole e as colónias agravou-se como forma de tentar salvar a Companhia Inglesa
das Índias Orientais, foi lançado o Tea Act (imposto sobre o chá).

Os colonos americanos eram obrigados a comprar chá àquela companhia e viam-se impedidos de os comercializar
pelo que a Companhia Inglesa das Índias Orientais passava a deter o monopólio de venda deste produto.

A reação dos colonos, a mais esta imposição, culminou, em dezembro de 1773, na revolta de Boston Tea Party, em
que um grupo de colonos, disfarçados de índios, lançou ao mar a carga de chá de três navios. Consequentemente,
em 1774, o porto de Boston foi encerrado, a cidade foi obrigada a pagar uma indeminização à companhia e as
reuniões foram proibidas, exceto com o consentimento do governador da colónia, sendo também proibida a
expansão dos colonos para oeste dos montes Apalches.

Deste modo, limitavam-se os direitos, as liberdades e a autonomia da colónia do Massachusetts, medidas que foram
consideradas intoleráveis (Intolerable Acts).

No ano de 1774 reuniu-se o primeiro Congresso de Filadélfia, no qual se discutiram os direitos dos colonos
americanos e se defendeu a ideia de que apenas os colonos cabia o poder de levantar impostos na América do
Norte. Na Declaração dos Direitos de 1774 que possuíam direitos inalienáveis e tomaram medidas mais concretas
com o boicote aos produtos ingleses, tendo em vista atingir a economia da metrópole. A rebelião, feita de protestos
e de boicotes, abriu um caminho para o confronto armado entre as 13 colónias americanas e a Inglaterra.

A guerra pela independência


Em 1775, as tropas inglesas e os colonos americanos defrontaram-se na primeira batalha da revolução americana- a
batalha de Lexington. A determinação das colónias em afirmar a independência, e a consciência do seu direito à
liberdade levou a que a 4 de julho de 1776 fosse aprovada a Declaração da Independência, redigida por Thomas
Jefferson que consagrava a independência das 13 colónias americanas, proclamada pelos representantes dos EUA. A
capacidade militar dos colonos para enfrentar o exército britânico era reduzida, pelo que foi necessário encontrar
apoios na Europa, especialmente junto da França e da Espanha.

Nas batalhas pela independência foi fundamental o papel de George Washington como general e comandante-chefe
do exército americano. A vitória americana na batalha de Saratoga, em 1777, pôs fim às hesitações francesas e
conduziu a uma aliança formal, em 1778, entre os colonos revoltosos e a França. A Espanha juntou-se no ano
seguinte à causa americana, como aliada da França, pelo que a insurreição das colónias deixava de ser uma guerra
civil circunscrita ao império britânico, para assumir um caráter internacional. Esta humilhante derrota levou à
rendição inglesa e pôs fim ao domínio na América do Norte.

No ano de 1783, foi assinada a paz de Paris entre a Inglaterra e as colónias americanas, a França e a Espanha:
reconheceu-se a independência das colónias e definiram-se as fronteiras que eram limitadas pelos Grandes Lagos a
norte, o Mississípi e os Montes Apalaches a oeste, abrangendo territórios que iam para além daquilo fora,
efetivamente, conquistado e ocupado militarmente. A Flórida foi cedida a Espanha, a França recuperou o Senegal
(em África) e Tobago (nas Antilhas), tendo o Canadá permanecido sob domínio britânico.

O nascimento de uma nação


A vitória dos americanos beneficiou do jogo político e diplomático que souberam fazer, no âmbito de política
externa, aproveitando as rivalidades existentes entre os vários países europeus. A entrada da França no conflito foi
uma forma deste país compensar a derrota que se sofrera na Guerra dos Sete Anos.

Após a Declaração da Independência de 1776 e o reconhecimento dos EUA, em 1783, iniciava-se o processo de
afirmação de uma nova nação e de um novo Estado.

Os EUA formaram-se como nação e como Estado em resultado de uma revolução liberal, num movimento que os
libertou do jugo do império colonial inglês, com a justificação, fundamental, de que as suas liberdades e direitos
tinham vindo a ser, sucessivamente, postos em causa pelo soberano inglês e pelo Parlamento da metrópole.

Era necessário construir um novo modelo político e de governo que respeitasse os princípios pelos quais os
revoltosos haviam lutado. O debate dos americanos fundadores oscilou entre dois modelos: a manutenção da
Confederação dos EUA, ratificada em 1781, segundo a qual cada Estado detinha uma forte autonomia e
independência; ou a criação de uma Federação, com um governo central forte, capaz de conciliar os interesses dos
diferentes Estados.

Os antifederalistas (defensores do primeiro modelo) receavam que a constituição de um governo central pudesse
em causa os interesses particulares de cada Estado e limitasse as suas liberdades. Os federalistas consideravam que
os diferentes Estados seriam devidamente representados e que os seus interesses não seriam relegados.

O debate terminou em 1787 com a aprovação da Constituição. A Constituição americana de 1787 assegurava aos
Estados federados a sua autonomia, ao mesmo tempo que estes, por sua livre vontade, atribuíram poderes de
soberania a um Estado centralizado. Nascia assim a república federal dos EUA assente na divisão tripartida do poder
e num sistema presidencialista do exercício do poder executivo.

A frase que inicia o texto da Constituição revelava claramente a opção pela inscrição do princípio da soberania
popular, cabendo ao povo americano através do voto censitário, a eleição do Congresso e por sufrágio indireto a
eleição do Presidente.

A Constituição americana consagrava a divisão dos poderes defendidas por Montesquieu: o poder legislativo cabia
ao Congresso, o poder executivo era da responsabilidade do Presidente e o poder judicial estava nas mãos do
Supremo Tribunal e dos tribunais estaduais.

O Congresso era bicameralista dividido em duas câmaras: o Senado e a Câmara dos Representantes. Esta Câmara era
diretamente eleita pelos cidadãos de modo a que nela estivesse representado o número de eleitores. O Senado era
composto por dois senadores de cada Estado, com vista a garantir a igualdade de representação dos Estados.
Da competência de governo do Estado Central era o lançamento de impostos, a contração de empréstimos, a
regulação do comércio externo, a cunhagem de moeda, a organização dos tribunais federais, o poder de declarar
guerra e de firmar a paz, o estabelecimento de relações diplomáticas e o recrutamento e manutenção do exército.
Quanto às competências dos governos dos Estados federais ficavam responsáveis pela administração local, em
matérias tributárias, judiciais e de legislação civil e criminal, e ainda do ensino.

A Revolução americana afirmou-se como um movimento político e não tanto social, uma vez que a estrutura da
sociedade americana, com menos contrastes sociais e com maior mobilidade social.

Com o nascimento dos EUA, estabeleceu-se um sistema político inteiramente novo, uma República Federal. Esta
República baseou-se em princípios de organização que foram o resultado da aplicação de um conjunto de ideias
sobre os direitos naturais do Homem e sobre as formas de governo que vinham ganhando corpo e que, no século
XVIII, tiveram no movimento das Luzes a sua consagração com Montesquieu e Rosseau.

Desde o ideal de revolta contra o poder instituído, até à ideia da constituição de uma nação e de um Estado, em que
o princípio da soberania popular e de divisão de poderes se assumia como determinante, os EUA concretizaram todo
um conjunto de ideias que valorizavam o indivíduo, a liberdade, a igualdade e a propriedade.

A Revolução Francesa- paradigma das revoluções liberais e burguesas


Datas importantes:
1789- convocação dos Estados Gerais (24 de janeiro); abertura dos Estados Gerais (5 de maio); terceiro Estado
constitui-se Assembleia Nacional (17 de junho); formação da Assembleia Nacional Constituinte (9 de julho); tomada
da Bastilha (14 de julho); abolição dos privilégios e direitos senhoriais (3-4 de agosto); declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão (26 de agosto);

1790- constituição civil do clero (12 de julho);

1791- fuga da família real (20 de junho); promulgação da Constituição (3 de setembro);

1792- tomada das Tulherias pelos populares e abdicação do rei (10 de agosto); destituição do rei da monarquia
constituição; eleição da Convenção Nacional (20 de setembro); vitória dos franceses em Valmy (20 de setembro);
julgamento do rei (11 de dezembro);

1793- lei dos Suspeitos (17 de setembro); proclamação da Constituição republicana (21 de setembro); declaração da
República (25 de setembro); proclamação do governo revolucionário (10 de outubro); execução do rei (21 de
janeiro);

1793-1794- período do terror;

1794- execução de Robespierre (28 de julho);

1796- conjura dos Iguais;

1795-1799- diretório;

1799-1804- consulado; golpe de Estado liderado por Napoleão Bonaparte (9 de novembro); aprovação da
Constituição (26 de dezembro de 1799); assinatura da Concordata (1801); Napoleão foi declarado cônsul vitalício
(1802); início do Primeiro Império (18 de meio de 1804);

A França nas vésperas da revolução


A Revolução Francesa que, tal como a Revolução Americana assume características das revoluções liberais, teve na
tomada da Bastilha, a 14 de julho de 1789, um dos momentos mais simbólicos, e correspondeu ao período entre a
convocação dos Estados Gerais, em maio de 1789, e o golpe de Estado de novembro de 1799, liderado por Napoleão
Bonaparte.
A Revolução Francesa significou uma profunda transformação em termos políticos, sociais e económicos: pôs fim à
monarquia absoluta, instaurou, primeiro, uma monarquia constitucional, seguida de uma república, aboliu o Antigo
Regime, e com ele os direitos senhoriais e os privilégios da sociedade de ordens.

A Revolução Francesa criou uma nova sociedade, na medida em que os franceses deixaram de ser súbditos e
tornaram-se cidadãos livres e iguais perante a lei: consagrou a ideia de que a soberania assentava no povo
(soberania popular), pois os cidadãos delegavam o poder nos seus representantes, através das eleições.

A Revolução Francesa foi um processo complexo de transformação.

Causas da Revolução
As causas mais enraizadas e duradouras no tempo, e que podem remontar ao reinado de Luís XV, assentavam em
questões de natureza política, económica, social e cultural.

Do ponto de vista político e económico, desde 1744, que o Estado francês vinha acumulando sucessivos défices que,
progressivamente, debilitaram as suas finanças e afetaram a sua economia. A fragilidade financeira acentuou-se com
a participação francesa, a partir de 1778, na guerra da independência dos EUA, o que obrigou a Coroa a sucessivos e
avultados empréstimos para poder participar neste conflito. A insustentabilidade das finanças públicas levou alguns
ministros de Luís XV e de Luís XVI à defesa de uma reforma do sistema de impostos, no sentido de generalizar o seu
pagamento a toda a população. Do ponto de vista estritamente político, desde o reinado de Luís XV que os monarcas
enfrentavam a oposição dos parlamentos locais, sobretudo o de Paris. Estes, compostos por membros da nobreza,
revelavam-se, nalguns casos, defensores de um modelo monárquico semelhante ao de Inglaterra. Ambicionavam
também recuperar um papel político preponderante que o absolutismo régio tinha diminuído.

Em termos sociais, persistia a secular divisão tripartida e hierarquizada de uma sociedade desigual, baseada nos
privilégios judiciais e fiscais, isentando os privilegiados, o clero e a nobreza, do pagamento maior de impostos. Esta
situação, sobretudo fiscal, provocava tensões crescentes entre os estratos superiores do Terceiro Estado (burguesia)
e os privilegiados (clero e nobreza). A burguesia letrada e rica, que desempenhava funções na área mercantil,
administrativa, jurídica ou nas profissões liberais, cada vez mais se consciencializava que era sobre eles que recaía o
peso dos encargos financeiros, tão necessários à Corte e ao Estado, pelo que desejava pôr fum aos direitos
senhoriais, através de uma justiça fiscal mais equitativa. A sobrecarga de impostos afetava, largamente, os fracos
rendimentos dos estratos mais baixos do Terceiro Estado, que sentiam a constante degradação das suas condições
de vida, pois mesmo em épocas de alguma melhoria produtiva ou de menor carestia, a maioria vivia no limiar da
subsistência.

O descontentamento social não era exclusivo dos mais desfavorecidos, uma vez que as elites burguesas e as
aristocráticas começavam a demonstrar um crescente mal-estar com a monarquia absoluta. Se a alta burguesia se
via afastada dos cargos administrativos e políticos, a nobreza procurava obter uma maior participação política por
reformas consonantes com as ideias que vinham sendo veiculadas pelo espírito das Luzes.

O Iluminismo inspirou grande parte das mudanças culturais que ocorreram em França, no pensamento e na
mentalidade das elites- a rejeição do absolutismo, a defesa de princípios, como a liberdade e a igualdade, que
valorizavam a dignidade do indivíduo e a soberania popular, e ainda o desejo de um modelo político assente na
divisão de poderes.

Em termos económicos, os anos que antecederam a revolução foram particularmente difíceis. O ano de 1787 foi
marcado por chuvas e inundações, por seca e saraiva (no verão), acompanhado de um inverno rigoroso, condições
que se refletiram nas más colheitas cerealíferas de 1789, provocando o aumento significativo do preço do pão. Esta
situação vinha juntar-se a uma crise de subsistência desde 1788, causadora de revoltas populares. A indústria têxtil
encontrava-se numa situação de estagnação e, no ano de 1789, a sua produção diminuiu muitíssimo, aumentando as
dificuldades de escoamento dos produtos. O descontentamento social era generalizado- a fome, a miséria e a
mendicidade, consequência das condições económicas adversas, provocaram sublevações populares, um pouco por
toda a França.

A realeza era vista negativamente: ao monarca, Luís XVI, fraco hesitante perante as medidas necessárias a
implementar, juntava-se a rainha Maria Antonieta, considerada frívola, gastadora e inimiga dos franceses. Luís XVI
foi incapaz de enfrentar e controlar a nobreza dos parlamentos locais que, muitas vezes, divergiam das decisões
régias. O défice financeiro obrigava à urgência do levantamento de imposto pela mão de Calonne, ministro das
finanças de Luís XVI, a proposta de uma reforma administrativa e fiscal, esta pretendia uniformizar a tributação. Esta
proposta de taxação encontrou forte resistência por parte da nobreza nos parlamentos, o que acabou por levar à
demissão do ministro, Calonne foi substituído por Brienne. Mas a reação nobiliárquica e a oposição permanente dos
parlamentos levaram a que se evocasse o princípio de que o rei não podia levantar impostos sem a convocação e o
consentimento dos Estados Gerais. Luís XVI resignou-se às exigências e convocou, então, os Estados Gerais a reunir
em 5 de maio de 1789.

Da nação soberana ao triunfo da revolução burguesa


Entre janeiro de 1789, data da convocação dos Estados Gerais e maio do mesmo ano, data da sua abertura solene,
em Versalhes, procedeu-se à eleição dos deputados aos Estados Gerais, os últimos realizados no Antigo Regime.

Por toda a França, em assembleias separadas, clero, nobreza e Terceiro Estado escolheram os deputados que os
representariam nos Estados Gerais. O reu solicitara às três ordens sociais a redação de cadernos de queixas. A
mobilização geral para a preparação e participação nos Estados Gerais permitiu a manifestação clara das aspirações
sociais, patentes nos cadernos de queixas. A nobreza ansiava por uma maior participação política e pela conservação
do seu prestígio social. O clero pretendia manter os seus privilégios, sobretudo o de isenção fiscal. O Terceiro Estado
revelava nos seus cadernos uma maior diversidade de queixas, reivindicando a igualdade fiscal e judicial, a correção
de uma maior ação de Estado e na revolução dos seus problemas.

Neste período que antecedeu a reunião dos Estados Gerais, teve lugar uma campanha favorável à alteração do
sistema de votação a implementar, de modo a que o Terceiro Estado tivesse uma representação proporcional face às
ordens privilegiadas. Surgiu a defesa de uma votação por cabeça e não por ordem, ou pela duplicação do número de
representantes do Terceiro Estado, ainda que, esta última solução, deixasse, mesmo assim, em aberto a vantagem
dos privilegiados.

Uma vez concluído o processo de escolha dos representantes dos três estados, foram 1139 os deputados que se
apresentaram em Versalhes: 291 representantes do clero, 270 pertencentes à nobreza e 578 representantes do
Terceiro Estado. O voto deveria ter lugar por ordem.

A abertura dos Estados Gerais fez-se de forma tradicional. Perante a intransigência do clero e da nobreza quando à
votação por cabeça, pois mantinham a opção pela votação tradicional por ordem, o Terceiro Estado reforçou o
argumento de que representava a Nação. Deste modo, gerou-se um impasse, na medida em que o Terceiro Estado
se opôs ao prosseguimento dos trabalhos e acabou por se proclamar como Assembleia Nacional.

Perante esta situação, o rei mandou encerrar a sala de reunião dos três estados. O Terceiro Estado encontrou uma
nova sala de reunião, a Sala do Jogo da Pela onde a 20 de junho, juraram não se separar até redigirem uma
Constituição para a França. Este episódio ficou conhecido como Juramento da sala do Jogo da Pela. Três dias depois,
foi-lhes ordenada a dispersão e a separação das ordens. No dia 27 de junho de 1789, Luís XVI foi obrigado a
reconhecer a sua derrota nesse sentido, ordenou que os três estados se unissem num só corpo. Estava então
formada a Assembleia Nacional Constituinte que tinha como objetivo fundamental elaborar a Constituição.

A desagregação da ordem social do Antigo Regime


A ordem social do Antigo Regime iniciou formalmente a sua desagregação quando Luís XVI ordenou a reunião dos
três estados num só corpo.

Entre 9 de julho de 1789 e 12 de julho de 1790, tiveram lugar uma série de acontecimentos marcantes que
contribuíram para a abolição do Antigo Regime.

A tomada da Bastilha
Os acontecimentos que deram lugar à tomada da Bastilha tiveram, na sua origem, as sublevações populares que
ocorreram nos dias anteriores, a 12 e a 13 de julho de 1789. A fome que grassava na cidade de Paris revoltou a
população que procurou reunir armas e assaltar os depósitos de cereais. A 14 de julho de 1789, teve lugar um dos
acontecimentos mais simbólicos da Revolução Francesa: a tomada da Bastilha, que assumiu especial significado na
medida em que marcou a entrada do povo na Revolução. A tomada da prisão-fortaleza resultou da necessidade de
ali ir buscar a pólvora para as armas necessárias à insurreição. A Bastilha era vista como o símbolo da arbitrariedade,
onde os presos eram encarcerados sem processo judicial, mas no reinado de Luís XVI era usada, sobretudo, para
prender delinquentes e ofensores da moral pública. A tomada da Bastilha não deixou não só por ser a prisão-símbolo
do Antigo Regime, mas também por estar ligada à revolta que pôs fim ao absolutismo, sendo ainda hoje a data de
comemoração como dia nacional da França.

O “Grande Medo”
Os acontecimentos de 14 de julho repercutiram-se um pouco por toda a França, tanto nas cidades como nos
campos. Desencadearam-se movimentos antissenhoriais contra os direitos feudais, que assumiram maior expressão
no campo. As revoltas fizeram-se sentir entre 15 de julho e 6 de agosto de 1789 e traduziram-se em ataques a
castelos, fornos, lagares e moinhos. Ocorriam rumores de que ingleses e espanhóis se preparavam para entrar em
França a fim de esmagar o movimento popular que se iniciara a 14 de julho.

A noite de 4 de agosto e o fim da sociedade e das instituições do Antigo Regime


A 4 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte, decretou a abolição dos privilégios da sociedade feudal,
pondo fim aos alicerces político-sociais do Antigo Regime. A hesitação reinava na Assembleia Constituinte pelo facto
de muitos dos deputados serem proprietários. Apesar das hesitações muitos dos deputados da Assembleia viram-se
obrigados a sacrificar os seus privilégios.

Reconhecendo a necessidade do apoio popular, e de acalmar as revoltas, acabaram por decretar a abolição do
sistema feudal: o fim da dízima, o fim dos direitos de caça e de coutada, o fim das corveias e da servidão, e dos
privilégios associados às comunidades, cidades e corporações, a abolição da venalidade dos cargos públicos
garantido o livre acesso aos mesmos, o fim dos privilégios fiscais e a igualdade civil perante a lei.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


Assinada a 26 de agosto de 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão assumiu-se como o texto
fundamental da Revolução Francesa e foi o resultado da necessidade de consagrar, num texto escrito, os valores da
liberdade, da igualdade e da propriedade que nortearam a ação dos seus promotores. Estes princípios iluministas de
valorização do indivíduo constituíram como a declaração formal da abolição do feudalismo e do absolutismo de
origem divina. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão constituiu-se, deste modo, como o documento
que, de forma irreversível, atribuiu um novo papel ao Homem.

A Constituição Civil do Clero


Não obstante o processo da Revolução se encontrar em curso, a pesada herança financeira do Antigo Regime
continuava a ser um problema e era necessário arranjar novas fontes de receita. A Assembleia Nacional Constituinte,
na sequência da abolição dos privilégios das ordens, decretou o confisco dos bens do clero, tornando-os em bens
nacionais, com o intuito de obter mais receitas para equilibrar as finanças públicas. O confisco dos bens eclesiásticos
obrigou à reforma e reorganização da Igreja de França, através de uma lei, votada pela Assembleia Nacional
Constituinte a 12 de julho de 1790 que foi denominada Constituição Civil do Clero. Essa lei estabelecia que os
membros do clero se tornavam funcionários do Estado. Tal implicou a obrigatoriedade de um juramento de
fidelidade à nação e à Constituição. Além do mais, a forma de eleição dos bispos foi alterada, muitos ofícios
eclesiásticos foram suprimidos e as ordens monásticas foram dissolvidas em fevereiro de 1790.

O papa Pio VI condenou a Constituição Civil do Clero que viria a ser revogada apenas em 1801. Esta lei abriu caminho
à afirmação do Estado laico, e procurava, por um lado, tornar a Igreja independente do poder do papa e, por outro,
submetê-la ao Estado. Consequentemente, este documento procurou uma cisão dentro da sociedade francesa e
contribuiu ainda para aglutinar os padres refratários.

O fim das corporações


A 14 de julho de 1791, a aprovação da Lei Le Chapelier constituiu-se como mais um golpe sobre a sociedade francesa
do Antigo Regime. Pôs fim às corporações dos ofícios ou de outros organismos coletivos cuja organização e
privilégios remontavam à Idade Média, e eram um entrave à inovação técnica e à liberdade de iniciativa económica.
A lei proíbia a greve, as manifestações dos trabalhadores e a organização de sindicatos. As corporações eram vistas
como organizações que defendiam, sobretudo, interesses particulares opondo-se ao bem-comum e à liberdade de
iniciativa. Deste modo, a França pretendiam modernizar a sua economia e abrir o seu mercado à iniciativa privada.

A Revolução Francesa foi um processo irreversível marcado por profundas transformações económicas, sociais e
políticas, ultrapassou fronteiras da França, teve consequências na Europa, e na América Latina e, por isso, marcou
definitivamente o fim do Antigo Regime.

A monarquia constitucional
A Constituição de 1791, aceite pelo rei Luís XVI, pôs fim à monarquia absoluta e instaurou, em França, a monarquia
constitucional. Esta caracteriza-se por ser um sistema de governo no qual o rei, chefe da nação e detentor da
primeira magistratura do Estado, vê o seu poder limitado e submetido à Constituição, assumindo somente o poder
executivo.

Os deputados que redigiram a Constituição de 1791 foram influenciados pelos grandes princípios do Iluminismo, mas
também pelo sistema de governo inglês implementado com a Revolução Gloriosa, bem como pela Revolução
Americana, em particular no que diz respeito aos direitos e liberdades dos indivíduos. Esta Constituição assumiu-se,
deste modo, como o resultado destas diferentes influências e das leis votadas pela Assembleia Constituinte desde
1789, sendo, inclusivamente, introduzido pelo texto da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Desta forma, consagrava-se uma nova forma de exercício de poder e de governo assente nos princípios da divisão do
poder e na defesa dos direitos naturais do Homem, nomeadamente a liberdade e a igualdade. Além disso, a
Constituição assentava ainda no princípio da soberania popular, pelo que o monarca deixava de ser rei de França
para se tornar rei dos franceses. Afirmava-se, assim, a soberania nacional, a qual designa o princípio segundo o qual
é na nação que reside o poder, podendo o exercício da mesma ser direto ou indireto, realizado através de
representantes eleitos pela nação.

A Constituição de 1791 obedeceu ao princípio da separação de poderes anteriormente defendido por Montesquieu.
A Assembleia Nacional, constituída poe 745 deputados, eleitos como representantes da nação, detinha o poder
legislativo. Assim sendo, segundo a lei constitucional, o rei era o chefe do poder executivo, a Assembleia Nacional
exercia o poder legislativo e o poder judicial era assegurado por juízes, eleitos pelos cidadãos, e por tribunais, com o
objetivo de garantir a sua independência face aos restantes poderes.

Na Assembleia, estavam presentes deputados com perspetivas diferentes acerca do exercício do poder, por isso,
estabeleceu-se a tendência de se agruparem os deputados por afinidades nas votações. A soberania nacional
definida na Constituição era, no entanto, limitada, ou seja, nem todos os franceses podiam exercer o direito de voto,
e sim apenas aqueles que eram considerados como cidadãos ativos. Assim, a Constituição de 1791 definia por
sufrágio censitário e indireto, isto é, o voto não era entendido como direito universal, mas como uma função
reservada aos cidadãos que reuniam as condições consideradas fundamentais para participarem nas eleições.

A Constituição estabelecia, então, que apenas os homens com idade igual ou superior a 25 anos, que dispunham de
capacidade para pagar um determinado imposto eram considerados cidadãos ativos, estando aptos para eleger os
eleitores que os representavam na escolha dos deputados. Os verdadeiros eleitores eram, assim, aqueles que
dispunham de maiores rendimentos e que pagavam um censo mais elevado.

Desta forma, o voto censitário excluía da participação política um grande número de cidadãos a quem eram
reconhecidos, pela Constituição, direitos civis mas que não tinham direitos públicos ou de voto. Estavam assim,
excluídos do voto não só todos os homens que não pagavam o censo estabelecido, como também as mulheres a
quem não era reconhecida capacidade civil, estando, portanto, impedidas de votar.

A queda da monarquia
As opções legislativas e a constitucionais da Assembleia não foram pacíficas, causando agitação social e política. O
monarca revelou-se hesitante perante o novo modelo de governação. As suas indecisões culminaram na tentativa de
fuga falhada, do rei Luís XVI e da família real. Estas atitudes conduziram a um sentimento generalizado de
desconfiança popular. O povo, sobretudo o de Paris, os sans cullottes organizava-se e pressionava para obter uma
maior participação na vida política e no sentido da adoção de medidas favoráveis à melhoria das suas condições de
vida.

As tentativas contrarrevolucionárias provenientes do exterior, por parte dos emigrados franceses que tinham fugido
do ambiente revolucionário e que intensificaram as tensões no interior da França e levaram à contestação da própria
monarquia. Luís XVI contava com o apoio dos monarcas estrangeiros que começavam a ver a situação revolucionária
em França, como sendo perigosa para as outras monarquias europeias. O manifesto de Brunswick, de 25 de julho de
1792, declarava que, caso a família real fosse de algum modo atacada, então a população de Paris também o seria
por acreditarem que o rei estava ligado aos contrarrevolucionários.

A França confrontava-se com quatro preocupações que dividiam a opinião pública e as diferentes fações políticas:
por um lado, o receio de uma insubordinação social popular geral, devido ao descontentamento em consequência
da fome, provocada por más colheitas entre o inverno; o crescente descontentamento gerado pelo recrutamento de
homens, tirados à sorte, para integrarem o exército que devia combater o inimigo externo e que originou a revolta
da Vendeia; por outro lado, o perigo da contrarrevolução liderada pela aristocracia que, a partir do estrangeiro ou no
interior do país, conspirava de modo a travar o processo revolucionário; finalmente, o perigo externo devido à
guerra que as potências monárquicas europeias coligadas haviam iniciado contra a França revolucionária.

A 10 de agosto de 1792, um movimento insurrecional popular, dirigiu-se à residência real das Tulherias, obrigando o
rei a procurar refúgio na Assembleia Legislativa que, no entanto, fazendo valer as posições mais radicais e
pressionada pelos sans-culottes suspendei as funções do rei, decidindo que a família real fosse encarcerada.

O rei Luís XVI foi destituído dos seus poderes e tornou-se um cidadão como todos os outros, foi condenado como
traidor e a sua execução, que ocorreu a 21 de janeiro de 1793 foi uma decisão que provocou a divisão definitiva
entre os girondinos e os montanheses, as forças políticas representadas na anterior Assembleia Legislativa
sobretudo quando ao destino a dar ao rei-prisioneiro, face à pressão social que se fazia sentir na Comuna
insurrecional de Paris.

Os girondinos, liderados por Brissot, apoiados pela rica burguesia dos negócios, mais moderados, e politicamente
divergentes da Comuna de Paris, defendiam as liberdades de 1789, opondo-se a quaisquer medidas de exceção,
recusando a atribuição da pena capital ao rei, antes defendendo o exílio do monarca. Os girondinos foram
progressivamente afastados, e os montanheses vão dominar a Convenção.

Os montanheses, ligados predominantemente ao clube dos jacobinos defendiam o caráter mais popular da
revolução, e concordavam em pedir a morte em nome da salvação pública e das necessidades da revolução. Os
montanheses, ligados predominantemente ao clube dos jacobinos, defendiam o caráter mais popular da revolução e
concordavam em pedir a morte em nome da salvação pública e das necessidades da revolução. Os montanheses
respondiam, assim, à pressão exercida pelos sans-culottes, que se haviam tornado a base social de apoio da
revolução e que, já desde 1789, vinham revelando um pepel ativo, em momentos decisivos.

A nova Convenção republicana teve a sua primeira sessão em 20 de setembro de1792, no mesmo dia em que os
exercícios franceses obtiveram uma vitória em Valmy. Foi a derrota ali infligida aos prussianos pelas tropas francesas
que contribuiu não só para a difusão dos ideias revolucionários fora da França, como reforçou a intervenção dos
revolucionários da Comuna de Paris e da Convenção contra os vestígios do absolutismo e da monarquia, contra as
ameaças externas e internas que punham em causa a revolução.

A obra da convenção
A deposição do rei e a radicalização revolucionária conduziu à formação de uma nova assembleia- a Convenção
republicana. A Convenção eleita reuniu, pela primeira vez, em 20 de setembro de 1792 e decidiu a abolição da
monarquia constitucional. Os montanheses, apoiados pelos sans-culottes afastaram os girondinos da Convenção e
implementaram a ditadura jacobina, assente num governo revolucionário. A 25 de setembri, uma das primeiras
medidas tomadas doi a declaração da República “una e indivisível” face à continuação das ameaças da guerra com a
Europa e às revoltas dos realistas da Vendeia. Cumprindo as suas funções, a Convenção elaborou uma nova
Convenção republicana.
O período da Convenção republicana vigorou até 1795, e ficou marcado pela fase do “Terror” associado à figura de
Maximilen Ropespierre um dos principais líderes do Comité de Salvação Pública. A 10 de outubro de 1793 foi
decretado que o governo da França seria revolucionário até à paz, o que implicava a adoção de medidas de exceção
e não aplicação da Constituição de 1793.

A instituição do regime do “Terror” contava com a existência de um Comité de Segurança que supervisiona as
prisões e procedia ao envio dos réus para os tribunais. Este foi reforçado com a criação do Tribunal Revolucionário
com vista a julgar todos os crimes contrarrevolucionários. A partir de 6 de abril de 1793, o Comité de Salvação
Pública tornou-se o órgão central de governo, responsável pela execução da política da Convenção. A ação
revolucionária da Convenção estendeu-se por toda a França.

Um dos meios do regime do “Terror” foi a adoção da Lei dos Suspeitos que criou na sociedade francesa um clima de
suspeição e de perseguição. Foram instituídos tribunais revolucionários por toda a França, marcados,
essencialmente, pelo julgamento sumário daqueles que eram acusados e declarados como inimigos da República,
não só nobres, como padres refratários, emigrados e os que, de alguma forma, tinham comportamentos,
considerados antirrevolucionários e que, por isso eram condenados à morte. A guilhotina tornou-se o símbolo deste
período.

O regime da Convenção montanhesa adotou oficialmente o calendário revolucionário a partir de 5 de outubro de


1793. A contagem do tempo iniciava-se em 1792, o ano I do calendário republicano, e atribuíu novos nomes a todos
os meses e dias do ano.

A nível económico foi promulgado a Lei do Máximo, no sentido de fixar o valor dos salários e o preço máximo dos
produtos considerados essenciais. Foi também adotado um sistema de uniformização dos pesos e das medidas.

Em termos sociais decretou, no ano de 1794, a abolição da escravatura nas colónias. Neste mesmo ano, a partir de
maio, procurou fazer o levantamento dos casos de mendicidade e de indigência, criando o efeito do Livro de
Beneficência Nacional.

Relativamente à educação o facto do texto constitucional nunca ter estado em vigor fez com que os efeitos desta
intenção não se tenham feito sentir. O vazio deixado no campo do ensino pela supressão da atividade das ordens
religiosas foi só preenchido mais tarde.

Os símbolos da revolução francesa generalizaram-se neste período da Convenção republicana:

 a cocarde, emblema e distintivo usado desde 1789, e o barrete frígio vermelho, símbolo dos escravos
libertos, usado na Antiga Roma;
 as cores revolucionárias e a bandeira tricolor da república, composta por três bandas verticais, azul, branca e
vermelha;
 A Marselha, cântico de guerra do exercício do Reno, tornou-se o hino republicano; generalizaram-se os hinos
patrióticos e revolucionários;
 a divisa da república, segundo a fórmula da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, liberdade e
igualdade a que foi acrescentada a fraternidade, daí resultando a divisa Liberdade, Igualdade e Fraternidade
que surge muitas vezes associada à figura de Marianne, um dos outros símbolos da República divulgados
pela revolução;
 o traje dos sans-cullotes, assumiu-se, igualmente, como um distintivo revolucionário.

Durante este período do “Terror”, viveu-se também uma descristianização forçada, em que se assistiu, para além da
adoção do calendário republicano ao encerramento de igrejas, à laicização do casamento, que se tornou um ato civil,
e à legalização do divórcio.

Generalizaram-se o culto do Ser Supremo e da Razão, as festas cívicas em honra dos heróis e da árvore da liberdade.

Estas festas cívicas religiosas integraram-se na descristianização que acompanhou a Revolução Francesa. A sua
origem residiu no deísmo de Voltaire e de Rousseau e no culto da razão. Muitas igrejas foram transformadas em
templos de razão. Este culto traduziu-se ma realização de cortejos e de cerimónias destinadas a honrar o Ser
Supremo, a natureza, a liberdade, a igualdade, entre outras virtudes cívicas.
Os excessos que marcaram este regime mergulharam a França numa instabilidade sem precedentes, o que levou,
progressivamente à retirada de apoio aos líderes de várias fações que foram afastados ou mesmo executados.

A 9 do Termidor, segundo o calendário republicano, Rospierre, foi preso e guilhotinado no dia seguinte, colocando-
se fim a este regime na França revolucionária. A Convenção voltou a ser dominada pelos girondinos e foi redigida um
nova Constituição, em 1795, votada a 29 do Messidor que foi ratificada por plebiscito (votar) e deu origem a um
novo período político da Revolução- o Diretório.

O regresso à paz civil e a nova ordem institucional e jurídica


O período compreendido entre 26 de outubro de 1795 e 18 de maio de 1804 correspondeu a duas formas de
governo distintas na primeira República francesa- o Diretório e o Consulado.

O Diretório
Depois do fim do “Terror” e da Convenção, instaurou-se, em França, o Diretório, uma forma de governo
constitucional que vigorou entre 26 de outubro de 1795 e 9 de novembro de 1799. Em termos sociais e políticos, o
Diretório foi marcado pelo afastamento das fações mais radicais, bem como das camadas populares, ligadas à
Convenção. Ascenderam os setores moderados, apoiados pela burguesia que tinha como objetivo firmar as
conquistas políticas e sociais alcançadas com a Revolução e garantir o controlo do poder.

A Constituição do Ano II teve como principal preocupação evitar a concentração de poderes. O poder legislativo foi
entregue a duas assembleias- o Conselho dos Quinhentos, composto por 500 deputados, com mais de 30 anos, ao
qual cabia a iniciativa das leis, e o Conselho dos Anciãos, formado poe 250 deputados, com mais de 40 anos, que
votava as leis propostas pelo Conselho dos Quinhentos. O poder executivo foi entregue a cinco diretores, eleitos
pelo Conselho dos Anciãos. Aos diretores cabia a nomeação de ministros, de altos funcionários e de generais, e ainda
a condução da política externa.

O período do Diretório coincidiu como um tempo de crise económica, mas também de especulação e corrupção,
assistindo-se à ascensão de uma classe de burgueses enriquecidos. Este período foi marcado por forte instabilidade
política, resultante de rivalidades entre fações opostas e das tentativas contrarrevolucionárias realistas e até
jacobinas. Os jacobinos desencadearam a “Conjuntura dos Iguais” que preconizava a Revolução coletivista e uma
igualdade perfeita. Estas tentativas de conquista do poder foram sempre reprimidas com a intervenção do exército,
de modo a restaurar a ordem.

O Consulado
Foi em resultado do golpe de 9 de novembro de 1799, e da procura de ordem, que surgiu o Consulado. Este regime
político vigorou na França entre 9 de novembro de 1799 a 18 de maio de 1804. O Consulado, dirigido por três
cônsules, entre os quais se destacou Napoleão Bonaparte, pretendeu garantir a pacificação e estabeleceu uma nova
ordem jurídica e institucional. Iniciou-se, assim, um novo regime com a aprovação da nova Constituição, a 26 de
dezembro de 1799.

A Constituição do ano VIII, promulgada por Napoleão, institucionalizou o Consulado e centrava-se, essencialmente,
nos poderes executivos e militar que ficaram nas mãos de Napoleão. Com esta nova Constituição, as eleições para os
diferentes órgãos de poder eram indiretas. O Senado, órgão de cariz conservador, tinha como função principal a
designação, a partir da lista de confiança, daqueles que iriam desempenhar os cargos legislativos e os titulares de
altos cargos; cabia-lhe ainda a escolha dos três cônsules, durantes dez anos, detinham o poder.

Ao primeiro cônsul, Napoleão Bonaparte, cabia o poder executivo, tinha poderes ao nível militar e das relações
externas e era, ainda, da sua responsabilidade a nomeação de ministros. Aos cônsules cabia propor as leis ao
Conselho de Estado. Este era formado por 50 membros, nomeados pelo primeiro cônsul, e tinha o poder de redigir
os projetos de lei, que eram discutidos pelo Tribunato e, depois, votados pelo Corpo Legislativo.
Napoleão Bonaparte foi declarado cônsul vitalício, tendo a Constituição sofrido algumas alterações. Era ao primeiro
cônsul que cabia propor ao Senado os nomes dos outros dois cônsules. O Senado passou a ter poder legislativo e
podia dissolver o Tribunato e o Corpo legislativo, estando subordinado à vontade do primeiro cônsul vitalício.

Durante o Consulado, sob a direção de Napoleão, retomou-se a paz interna e o espírito de reconciliação entre as
diferentes fações foi alcançado. A liberdade de culto foi concedida, os emigrados foram autorizados a regressar à
França e foi suprimida a lei que autorizava a prisão de familiares dos emigrados. O clima de pacificação fez-se sentir
também no exterior.

Uma das principais iniciativas do Consulado napoleónico foi a codificação das leis, ou seja, a fixação, em código, das
leis escritas. Os códigos napoleónicos são os mais famosos desde o código romano, abrangendo o domínio civil,
criminal, comercial e legal.

Com estes instrumentos legais e jurídicos consagrou-se uma maior uniformização da França e a igualdade dos
cidadãos perante a lei. Especial destaque teve o Código Civil, que garantia as liberdades individuais e a laicização da
Igreja, pois regulamentava a família, o matrimónio, a autoridade paternal sobre os filhos, ainda que a mulher
continuasse a ter um papel social de menoridade, limitando-se o seu poder sobre a propriedade e sobre os filhos
menores.

O aparelho do Estado foi modernizado, mas também burocratizado, e assumiu-se claramente a função pública ao
serviço do Estado, com salários, sem compra e venda de cargos, com carreiras abertas ao talento e não ao
nascimento. Valorizou-se a instrução com a criação de liceus e escolas superiores, de modo a formar os cidadãos
chamados a ter um papel ativo e competente na sociedade e no Estado. Foi nesse sentido que a lei de 1 de maio de
1802 criou os liceus, dando uma nova organização ao sistema educativo, onde se incluía o ensino primário e
superior.

Outra das iniciativas desde período foi a reforma administrativa e fiscal para obter o equilíbrio financeiro. O
orçamento de Estado estava equilibrado.

A administração local também foi reformada, especialmente no domínio judicial. Criaram-se as prefeituras,
manteve-se a divisão do território em departamentos, surgiram os bairros e os cantões.

Napoleão procurou a pacificação religiosa, tendo assinado a Concordata em 1801, sendo possível, a partir de então,
reorganizar a Igreja de França, colocando fim às divergências com a Santa Sé.

No plano social, a sociedade napoleónica organizava-se de forma hierárquica, distinguindo-se os cidadãos mais ricos,
que compunham uma elite, de entre a população, em geral. Procurou-se ainda a eliminação das fações políticas
opositoras- os realistas e os jacobinos- bem como dos liberais, assumindo-se o regime como mais autoritários.

No ano de 1804, a 18 de maio, com o fim do Consulado, o regime da primeira República francesa acabou. Iniciou-se
o primeiro Império em 2 de dezembro, quando Napoleão Bonaparte se coroou imperador na catedral de Notre-
Dame de Paris.

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