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CONSTRUÇÃO DA MODERNIDADE

EUROPEIA

O método experimental e o progresso do


conhecimento do Homem e da Natureza

A revolução científica

A partir do século XVII, um pequeno grupo de eruditos, com uma


mentalidade crítica e desejo de aprender herdada do Renascimento,
provocou uma forte “revolução científica na Europa. Partilhavam entre si
três ideias fundamentais:

- Só a observação directa conduz ao conhecimento da natureza;


- Esse conhecimento pode aumentar constantemente;
- O progresso científico contribui para melhor o destino.

A descoberta de novas terras permitiu o aumento do conhecimento sobre


novas espécies de fauna e flora, que desenvolveram o interesse pelo
mundo natural e realizações humanas. Assistiu-se à criação de
“gabinetes de curiosidades” e associações que acumulavam colecções
de objectos e livros raros, maquinismo, plantas e animais, discutindo
teorias e partilhando novidades.

Os “experimentalistas” procuraram desenvolver um método capaz de os


guiar nas suas pesquisas, evitando o erro e as conclusões apressadas.
Foi então que o filósofo inglês Francis Bacon expôs as etapas do método
indutivo (ou experimental):

• Observar factos precisos;


• Formular hipóteses explicativas;
• Provocar a repetição dos factos através de experiências;
• Determinar a lei e as relações que se estabelecem entre os factos.

A matemática surgiu como linguagem de expressão das leis e de todos


os fenómenos quantificáveis, dando sentido ao conceito de “ciências
exactas”. René Descartes e a sua obra “Discurso do Método” foi um dos
pilares ao pensamento racionalista
O conhecimento do Homem
As investigações de William Harvey, com as descobertas sobre a
circulação sanguínea e o advento da era experimental deram um impulso
decisivo à ciência médica, que progrediu notavelmente. O corpo humano
passou a ser olhado como uma “máquina”, no qual todas as “peças” se
interligam de forma harmoniosa e cujo funcionamento pode ser
desvendado.

Os segredos do Universo
As observações de Galileu Galilei foram fundamentais:
- Basearam-se na experiência;
- Abriram um novo caminho no conhecimento matemático e científico;
- Puseram em causa o saber tradicional e académico assente no
conhecimento livresco;
- Comprovaram a Teoria Coperniciana, defendendo o Heliocentrismo;
- Construiu o primeiro telescópio;
- Descreveu o movimento dos corpo na Terra.
- Aperfeiçoou a luneta astronómica que permitiu fazer observações que
comprovaram a teoria de Copérnico; observar a lua desconhecida,
descobrindo crateras e comprovando o relevo da superfície lunar;
descobrir manchas solares.

O mundo da ciência
Nas primeiras décadas do século XVIII, as ciências exactas tornaram-se
autónomas e o seu interesse público e colectivo aumentou. As
academias de carácter científico espalharam-se pelas capitais europeias,
divulgando boletins periódicos que permitiam a rápida difusão dos
conhecimentos, bem como laboratórios modernos para as
experimentações. As inúmeras invenções como o telescópio de Galileu,
o barómetro de Torricelli, o termómetro aperfeiçoado por Fahrenheit e o
relógio de pêndulo de Huygens permitiram um maior rigor às
investigações e desencadearam novas e importantes descobertas. No
fim do século XVIII, o público tinha-se apaixonado pela ciência e o
mundo natural separou-se com nitidez do sobrenatural, estando as
razões de fé excluídas como explicações credíveis dos factos da
Natureza.
A filosofia das Luzes

A apologia da Razão e do Progresso

Iluminismo: Corrente filosófica que se desenvolveu na Europa do século


XVIII e que se caracterizou pela crítica à autoridade política e religiosa,
pela afirmação da liberdade e pela confiança na Razão e no progresso
da ciência, como meios de atingir a felicidade humana.

O direito natural e o valor do indivíduo/ A defesa do contrato


social e da separação dos poderes/ Humanitarismo e
tolerância

• Em suma, os filósofos das luzes defendiam:


• A descrença nos valores tradicionais que potenciam a diferenciação
social;
• A Razão é a “luz” que esclarece o espírito humano, permitindo uma
evolução dos saberes;
• Crença no valor da Razão Humana como motor de progresso da
Humanidade;
• Valorização do indivíduo como parte integrante do progresso da
Humanidade;
• Defesa do direito natural: defesa dos mais desfavorecidos tendo em
conta a valorização do indivíduo;
• Defesa dos direitos naturais do Homem: direito à liberdade, à
igualdade, a um julgamento justo, à posse de bens e à liberdade de
consciência;
• Defesa do Contracto Social entre o povo e os governantes e da
Soberania Popular (o povo detém todo o poder e pode destituir o
governo e o governante quase este se torne tirano ou ditatorial);
• Defesa da separação dos poderes (legislativo, executivo e judicial);
• Denúncia dos actos de escravatura e servidão, da tortura, da
execução aviltante e dolorosa e dos trabalhos forçados,
desenvolvendo a fraternidade humana (Humanitarismo);
• Defesa da tolerância religiosa, da separação da Igreja e do Estado e
da aceitação de outros cultos espirituais.
A difusão do pensamento das luzes
Os principais nomes dos defensores dos ideais do Iluminismo foram:
- John Locke (Defensor dos direitos naturais do Homem através do
Contrato Social);
- Jean-Jacques Rosseau (Desenvolveu o Contrato Social reforçando a
ideia de que o pacto tem por finalidade o estabelecimento de leis justas);
- Montesquieu (Defensor da separação dos poderes numa monarquia
constitucional);
- Cesare Beccaria (Defensor da eliminação da tortura e da pena de
morte);
- Frederico II da Prússia e Catarina II da Rússia (Defensores dos
Filósofos Iluministas);
- Voltaire (Defensor do Deísmo).

Os principais meios de difusão do Iluminismo foram:


- Salões aristocráticos, clubes privados, cafés populares, academias, a
imprensa, lojas maçónicas (sociedades que lutavam pela transformação
da sociedade mediante o exercício da liberdade política), livros e mais
marcadamente a Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, das
Artes e dos Ofícios.

Portugal- o projecto pombalino de inspiração


iluminista

A reforma pombalina das instituições e o reforço da


autoridade do Estado
A Reforma das Instituições

Após subir ao poder, o primeiro-ministro Carvalho e Melo tinha como


principal objectivo racionalizar o aparelho do Estado para que
empreendeu um vasto conjunto de reformas. Em primeiro lugar pretendia
pôr ordem nas finanças do reino, onde para tal foi criado, em 1761, o
Erário Régio, instituição moderna que permitiu a gestão completa e
corrente das contas públicas. Paralelamente, Pombal empenha-se na
reforma do sistema judicial, implementado uma abundante legislação que
uniformizava o país para efeitos judiciais e anulava os privilégios da
nobreza e do clero.
A submissão das forças sociais
O regime do monarca e do primeiro-ministro ficou marcado por atitude de
obediência, repressão e submissão das diversas classes sociais. No
Povo, após um motim popular contra a Companhia das Vinhas do Alto
Douro, seguiu-se uma série de castigos com execuções e condenações
a penas várias. Na nobreza, um lamentável atentado contra D. José I fez
disparar uma repressão sem paralelo dirigida com as principais casas
nobres do país, com o episódio que chocou a Europa e o país da
execução dos Távoras. A nível do Clero, Marquês de Pombal procurou
controlar o Tribunal do Santo Ofício e institui um organismo de censura
estatal a Real Mesa Censória. Por fim, expulsou todos os jesuítas de
Portugal em 1759.

O reordenamento urbano/ A reforma do ensino


Com vista à modernização do ensino e à restruturação e construção de
Lisboa após o terramoto de 1755, Marquês de Pombal adoptou as
seguintes medidas:

• Planificou o novo mapa da cidade, com um traçado completamente


novo, de uma geometria rigorosa, fruto do mais puro racionalismo
iluminista, utilizando um engenhoso sistema de construção anti-
sísmica, conhecido por “gaiola”;
• Criação do Real Colégio dos Nobres, destinado aos jovens de
estirpe nobre, com o objectivo de os preparar para o desempenho
de altos cargos do Estado;
• Reestruturação do ensino em geral, dando atenção à universidade e
à sua reforma com a Junta da Previdência Literária (1768) por
critérios racionalistas e experimentais; à criação de postos de
“metres de ler e escrever” à criação de aulas de retórica, filosofia,
gramática grega e literatura latina.

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