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OS CAMINHOS DA CULTURA

A confiança no progresso científico

Positivismo: Corrente filosófica e científica sistematizada, no século XIX,


por Augusto Comte. O Positivismo, como corrente de pensamento, exclui
toda a teorização metafísica, confinando-se ao positivo conhecimento
dos factos através do método científico.

Segundo Comte, a Humanidade e os diversos ramos do conhecimento


passaram sucessivamente por três estados:
- O teológico, em que os fenómenos são explicados pela intervenção das
forças sobrenaturais;
- O metafísico, em que se aceita a existência de entidades abstractas,
não observáveis, como causa dos fenómenos:
- O estado positivo (ou científico), que se alicerça no estudo das leis
naturais e invariáveis que regem os fenómenos.
Cientismo: Crença no poder absoluto da ciência em todos os aspectos
da vida. O cientismo parte de um estrito racionalismo que considera
explicáveis todos os fenómenos, não pondo, por isso, limites às
possibilidades do conhecimento humano. Segundo esta corrente do
pensamento, a ciência constituiria a chave do progresso e da felicidade
humana.

O avanço das ciências exactas e a emergência das ciências


sociais
Palco de extraordinárias descobertas, o século XIX não se limitou a
acrescentar o volume dos conhecimentos, mas revolucionou também as
suas bases:
- Na Química, Mendeleiev elaborou a primeira tabela periódica;

- Na Física, os britânicos Joule e Maxwell formularam com a precisão a


teoria cinético-molecular, onde todos os corpos são formados por
partículas dotadas de movimento, cuca intensidade varia pela acção de
factores externos por como, por exemplo, a temperatura. O casal Curie e
Henri Becquerel publicaram sobre a radiactividade, demonstrando que
para além de se moverem, os elementos podiam transformar-se uns aos
outros.
- Na biologia, Charles Darwin publicou a “Origem das Espécies”, uma
hipótese da evolução das espécies animais e vegetais e Mendel
desvendaria o complexo mecanismo que preside à transmissão dos
caracteres hereditários;
- Na microbiologia e na medicina, os estudos de Louis Pasteur e de
Robert Koch, deram melhores conhecimentos sobre as causas da
propagação de doenças;
- A Sociologia nasceu e Émile Durkheim lançou os seus fundamentos na
obra “As Regras do Método Sociológico”;
- Na economia política, Marx tentou tornar “científico” o socialismo
utópico;
- A Geografia deixou de ser puramente descritiva, debruçando-se sobre a
relação entre homens e o espaço;
- A História desenvolveu as regras para a selecção e a crítica das suas
fontes, na esperança de, desse modo, reconstituir o passado com toda a
exactidão.

A progressiva generalização do ensino público


O cientismo e a sua fé inabalável no alcance do conhecimento
impulsionaram a instrução e o seu desenvolvimento, sendo a segunda
metade do século XIX a época da alfabetização:

• O ensino primário tornou-se gratuito e obrigatório;


• O pagamento dos professores deixou de estar a cargo das
autarquias e instituições de benemerência e transitou para o poder
central;
• Construção de redes de escolas;
• Laicização da escola pública;
• Impulsionamento dos ensinos secundários e superiores, que
formavam profissionais nas áreas da engenharia e empregos
liberais, com renovação dos seus currículos e métodos
pedagógicos;
• Desenvolvimento, na Alemanha e nos EUA, do moderno conceito
de docência universitária que colocava o professor como orientador
do trabalho e dos seus alunos formando uma equipa de
investigação.

O interesse pela realidade social na literatura e nas


artes- as novas correntes estéticas na viragem do
século
O Realismo

Realismo: Movimento cultural que se segue e se opõe ao Romantismo.


Cronologicamente, o Realismo afirma-se cerca de 1850 e prolonga-se,
sob várias formas, até à viragem do século. Influenciado pela corrente
positivista, o Realismo rejeita toda a subjectividade, opondo à beleza, ao
refinamento, à elevação moral o simples culto dos factos. Estendendo-
se, embora, a vários domínios, este movimento foi particularmente
expressivo na pintura e na literatura.

Na pintura, o Realismo manifestou-se na simples reprodução,


desapaixonada e neutra do que a vista oferece ao pintor, passando,
depois aos temas do quotidiano. Destaca a França como impulsionadora
deste movimento destacando-se Honoré Daumier, Édouard Manet e
Gustave Coubert. Na literatura, o Realismo centrou-se no retracto
objectivo da realidade social em detrimento da exaltação dos
sentimentos individuais que tinha marcado o Romantismo. Foi esta
realidade palpável, clara e cruamente exposta, que chocou a sociedade
burguesa da época, tão ligada às aparências.

O Impressionismo

Impressionismo: Corrente pictórica que se esboça na década de 60 e


persiste, pelas mãos de pintores como Claude Monet, até ao início do
século XX. Os impressionistas procuram captar a realidade visível tal
como, de imediato, a percebemos, transfigurada pelas diferentes
intensidades de luz. Caracteriza-se por uma técnica pictórica rápida, de
contornos diluídos, que privilegia as cores fortes e claras. Rejeita a
pintura de atelier, a aplicação tradicional das cores, o esboço prévio e os
contornos definidos.

O simbolismo

Simbolismo: Corrente artística da segunda metade do século XIX que


atingiu a sua expressão mais forte cerca de 1880-1890. O Simbolismo
toma como tema o mundo dos pensamentos e dos sonhos, o
sobrenatural e o invisível, adquirindo um carácter hermético e isotérico.
Revela um desprezo pelo mundo industrial (evasão do quotidiano) e
rejeita o “culto dos factos”, a simples reprodução da realidade visível.

Uma “Arte Nova”

Arte Nova: Estilo que marca, na Europa, a viragem do século (1890-


1914) e se afirma pela oposição aos estilos antigos que continuavam a
inspirar a arte académica. Embora se desdobre em múltiplas vertentes
nacionais, a Arte Nova define-se pela preocupação decorativa, pelo
predomínio da linha ondulada, pelo recurso aos motivos florais e
femininos e pela predominância de cores claras. Rejeita a separação
entre artes maiores (arquitectura, escultura, pintura) e artes menores
(artes decorativas em geral).

Portugal: o dinamismo cultural do último terço do


século
O impulso da geração de 70
A inquietação e os anseios de modernidade que se sentiam na Europa
vai masterizar-se em Portugal, num grupo de estudantes de Coimbra,
que incluía Antero de Quental, Teófilo Braga e Eça de Queirós.
Conhecendo-os como a Geração de 70, este grupo de jovens abraçava
entusiasticamente a fé cientista no progresso, bem como a crença no
papel da literatura como meio de transformação social. Insurgia-se contra
a “escola literária de Coimbra” e o conservadorismo dos intelectuais
portugueses, contrapondo-lhes a “novidade” europeia. Elaboraram uma
série de Conferências Democráticas onde discutiam abertamente a
política, a sociedade, o ensino, a literatura e a religião. Condenados pelo
regime de ofenderem “claramente as leis do reino e o Código
Fundamental da Monarquia” o ciclo das conferências não chegou a
completar-se. Os membros da Geração de 70 sentiram-se então
derrotados pelo imobilismo nacional, tendo, todavia, deixado um legado
que alimentou a efervescência ideológica que marcou o fim da
monarquia e abriu o caminho a novas correntes literárias e artísticas.

O primado da pintura naturalista


Em Portugal, fruto dos jovens estudantes bolseiros que estudavam em
França e de lá traziam as novas correntes artísticas, o Naturalismo
ganhou destaque e tornou-se a “arte oficial” que, sendo moderno, não
chocava nem desencadeava polémicas no seio da sociedade
conservadorismo da época, predominando uma inexistência de
percursos marcantes pela inovação e originalidade.

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