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REALISMO
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Nos anos seguintes a 1860, desencadeia-se uma profunda reviravolta na vida mental portuguêsa: o
Romantismo, exausto, agonizante como estilo de vida e de arte, começa a sofrer os primeiros
ataques por parte da nova geração que surge.
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É que a derrota de Castilho significava apenas o golpe de morte no Romantismo: nem era
necessário tanto ruído para abater as modas envelhecidas; bastava aguardar os anos, mas é condição
da juventude de sempre o gôsto de pôr abaixo estrepitosamente os velhos ídolos e bonzos
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Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que
vive a humanidade civilizada;
Procurar adquirir a consciência dos fatos que nos rodeiam, na Europa;
Agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência moderna;
Estudar as condições da transformação política, econômica e religiosa da sociedade portuguêsa;
Tal é o fim das Conferências Democráticas."
Doze assinaturas leva o documento: Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Seromenho,
Augusto Fuschini, Eça de Queirós, Germano Vieira Meireles, Guilherme de Azevedo, Jai me
Batalha Reis, J. P. Oliveira Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Sáraga e Teófilo Braga.
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Cabe a Eça de Queirós proferir, a 6 de _ junho, a quarta conferência, sob o título de A Literatura
Nova (0 Realismo Como Nova Expressão da Arte). Apoiando-se nas idéias de Proudhon, prega a
revolução que se vinha operando na política, na ciência e na vida social.
Para tanto, havia que considerar a Literatura um produto social, condicionado a determinismos
rígidos. Afim de ilustrar suas observações, Eça critica acerbamente o Romantismo e defende o
Realismo, como a corrente estética que realiza o exato consórcio entre a obra de arte e o meio
social. Courbet, na pintura, Flaubert, na ficção, servem-lhe de exemplo.
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Seguiu-se-lhe o aparecimento duma série de obras teóricas acêrca das questões estéticas postas pelo
nôvo movimento literário. Na verdade, raramente acontece em Literatura Portuguêsa o que então se
verifica, ou seja, que à instalação do espírito realista suceda a proliferação de obras doutrinárias:
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Resta ainda considerar as idéias filosóficas de Schopenhauer (1788-1860 ), de tão profunda
presença no pensamento europeu do século XIX: sem negar a Ciência, o pensador alemão
pessimistamente considera que o homem, submetido a determinismos morais, é por natureza fadado
à dor e ao sofrimento, de modo que o mundo constitui um imenso palco de mentirosas ilusões, e que
a pouca alegria conseguida resulta dum esfôrço doloroso que logo a destrói.
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Por outro lado, é necessário não esquecer que entre o Realismo e o Naturalismo existem vários
pontos de contacto, suficientes para justificar que alguns estudiosos os considerem, equìvocamente,
um pelo outro ou os liguem por um hífen formando uma palavra composta. Embora até certo ponto
seja plausível tal procedimento, na verdade há diferenças nítidas entre as duas tendências,
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Primeiro que tudo, os realistas reagiram violenta e hostilmente contra tudo quanto se identificava
com o Romantismo. Por isso, eram anti-românticos confessos, o que significava se rem anti-
subjetivistas, ou adeptos do objetivismo. Com efeito, pregavam e procuravam realizar a filosofia da
objetividade: o que interessa é o objeto, isto é, aquilo que está fora de nós, diante de nós, o não-eu.
Para alcançar concentrar-se no objeto, os realistas tinham de destruir a sentimentalidade e a
imaginação romântica e trilhar a única via de acesso à realidade objetiva: a Razão, ou a inteligência.
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Para realizar seu desiderato, os realistas abandonaram as preocupações teológicas e metafísicas por
considerá-las subjetivas, egocêntricas, e aderiram à ciência, forma de conhecimento objetivo da
realidade efetuado com o apoio das faculdades racionais.
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Êste, por sua vez, também se aplica à vida psíquica, considerada como submetida às mesmas leis da
vida fisiológica, a ponto de haver entre elas um íntimo paralelismo, o então chamado paralelismo
psicofisiológico.
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Mais ainda, colocar-se-ia em pé de igualdade com a natureza bruta: "A ciência prova que as
condições de existência de todo fenômeno são as mesmas nos corpos vivos e nos corpos brutos." *
Com isso, o homem deixava de ser considerado o centro do Universo e a medida de tôdas as coisas
- como pedia o Romantismo -, para se transformar numa engrenagem do mecanismo cósmico, com
as mesmas funções e regalias que as demais peças, pertencentes a qualquer dos reinos, vegetal,
animal ou mineral. Enfim, uma concepção mecanicista do homem, que transitou para a literatura
com tôdas as suas conseqüências.
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os romancistas faziam obra de tese: como o cientista em seu laboratório empreende seguidas
experimentações objetivando provar uma teoria, o ficcionista valer-se-ia do romance para
demonstrar a procedência duma tese antes defendida e revelada pela Ciência; por isso, seu intuito
consistiria na demonstração de que tais personagens, vivendo em tal meio, em tais circunstâncias e
carregando determinada carga genética, necessàriamente teriam de se comportar de certo modo.
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Na verdade, desejavam banir o excepcional da Literatura - que tanta voga tivera no Romantismo -
em favor da média dos homens, mas isso implicava estabelecer que o "normal" é que é um ente
abstrato, extremamente raro, e, quando encontrado, seria monótono e desimportante para a Arte
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Incesto
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Para pôr à mostra o declínio completo da instituição burguesa, os realistas atacaram de frente o seu
núcleo; o casamento, trazendo a nuas misérias que o destroem como alicerce da Burguesia, misérias
essas condensadas no adultério, tornado lugar-comum elegante. O casamento deixa-se destruir pelo
adultério precisamente porque, em ligação com o pensamento burguês, de sentido pragmático e
acomodatício, se funda na luxúria, no confôrto material trazido pelo dinheiro ou nas hipócritas
convenções sociais. Vem daí que, regra geral, o romance realista (e o naturalista) tenha o adultério
por nódulo dramático e narrativo.
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EÇA DE QUEIRÕS
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Aderindo às teorias do Realismo iconoclasta a partir de 1871, Eça coloca-se sob a bandeira da
República e da Revolução, e passa a escrever, em coerência com as idéias aceitas, obras de combate
às instituições vigentes (Monarquia, Igreja, Burguesia) e de ação e reforma social
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Com Os Maias, volta ao cenário português, para examinar a alta sociedade lisboeta em tôdas as suas
camadas, de financistas, políticos, jornalistas, literatos, fidalgos, etc.: o romance gira em tórno dum
caso de incesto que só se desvenda quase ao fim, servindo de pretexto para Eça pintar um largo
afrêsco da fidalguia portuguêsa em decomposição.
Estruturalmente defeituoso, porquanto o primeiro volume é uma longa preparação para um caso
absurdo e folhetinesco de amor físico entre dois irmãos, o romance vale sobretudo como documento
social e pelo estilo em que Eça o construiu.