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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS


CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA
DISCIPLINA DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA II
PROFESSOR JOSÉ MARIA NUNES GUERREIRO

FICHAMENTO LIVRO “A REVOLUÇÃO FRANCESA E A MODERNIDADE”


CAPÍTULOS 3 E 4

Ana Maria;
Davi Franco;
Ismael Nunes;
Juliana Leandro.

Limoeiro do Norte
Dezembro 2022
3. Iluminismo e Revolução

Variando de acordo com as circunstâncias do momento e as tendências políticas, a


preferência poderia ser Voltaire ou Rousseau, o primeiro mais significativo para os
girondinos, o segundo para os jacobinos. Rousseau, ou "Jean-Jacques", como a ele
se referiam - o amigo da natureza, a alma sensível e o defensor da justiça e da
igualdade foi a referência principal do período em que a ampliação dos direitos da
cidadania e o princípio da igualdade social destacam-se como prioridades da
revolução.

A Revolução Francesa foi um movimento intelectual já que contou com pensadores


iluministas durante o processo que antecedeu a datada Revolução como Voltaire e Rousseau.
Esses filósofos alcançaram pensamentos capazes de criar novos valores que legitimassem que
rompem com a tradição, esses novos ideais criticavam o Antigo Regime.

Líderes revolucionários de matizes diversos buscavam assim explicar a origem da


revolução e ganhar legitimidade. Aos filósofos se tributaria a formulação das idéias
que eles colocaram em prática, pondo fim a um período que passaria a ser
identificado aos preconceitos, ao obscurantismo e à tirania.

Sobre esses pilares inicia-se a propagação de um ideário que colocava iluminismo e


revolução como imagens que se espelhavam. A homenagem que unia na
posterioridade o que fora separado em vida - não é demais relembrar as enormes
discordâncias entre os dois filósofos, cumpria ainda uma outra finalidade. Ela
permitia interpretar o iluminismo como um movimento homogêneo e contínuo, cuja
tarefa teria sido preparar a revolução.

O texto comenta que o iluminismo e a revolução se espelham, porém historiadores


divergem sobre a ideia de que tais filósofos influenciaram na revolução, como se tem
discutido.

● A República das letras e a vida moderna: O esprit de finesse

A República das Letras era uma sociedade de filósofos e pensadores, e que se tornou
ao longo do tempo Academia de Letras por todo o mundo. Essa sociedade de pensadores e
críticos estudiosos se estendem até a atualidade pelos continentes da Europa e da América.

A primeira delas é nos chamar atenção para a importância dos “homens de letras”
as “principais figuras políticas” - no século XVIII. De passagem, ele nos apresenta a
forma singular de inserção desses “letrados” na vida social. Esta é uma pista
preciosa para quem pretende desvendar as relações entre as novas idéias e a
revolução.

Segundo Tocqueville a importância da "república das letras" decorria do fato de


serem ouvidos discorrendo todos os dias sobre a origem das sociedades e suas
formas primitivas, sobre os direitos primordiais dos cidadãos e das autoridades,
sobre as relações naturais e artificiais dos homens, sobre os erros e a legitimidade
dos costumes e sobre os próprios princípios das leis. Penetrando desse modo até as
bases da constituição de seu tempo, examinavam com curiosidade sua estrutura e
criticavam o plano geral.
Essa sociedade intelectual logo se tornou muito importante, já que a maioria dos que
a pertenciam eram da elite francesa, como também esses homens adquiriram identificação de
nobres devido seus pensamentos intelectuais caracterizados pela objetividade e exatidão.
Sendo assim, muitos quiseram aderir à sociedade para que garantissem privilégios e a
fazerem parte da nova elite.

Outro fator importante dessa época foi o crescimento do mercado de livros, já que
mais pessoas buscavam o conhecimento e alcançavam o letramento. O que levou a um grande
movimento editorial.

Esse era o caminho mais fácil para se aproveitarem do crescimento do mercado de


livro durante o século XVIII. A combinação fortuita de diversos elementos como a
duplicação do número de alfabetizados, em função das mudanças operadas no
sistema educacional, paralelamente à expansão econômica, podem explicar não
apenas o aumento do público leitor como uma disponibilidade maior para a leitura.

Também de forma semelhante ao que acontecia aos burgueses, a carreira de escritor


podia operar a ascensão social, mas as portas de passagem eram muito estreitas e
não podiam dar acesso a todos. Nesse meio também funcionava aquela espécie de
“mobilidade lotérica”, na feliz expressão de Tocqueville.

O esprit de finesse liberava a imaginação, abrindo infinitas possibilidades de acesso


a pluralidade dos dados da natureza. E assim cumpria seu papel “revolucionário”.

O esprit de finesse se referia em sua tradução, sobre uma mente perspicaz ao pensar
e ao se tornar crítico sobre algo. Criar uma opinião ou ideais a partir de estudos.

● A Enciclopédia
Encaminhar em outros termos a questão da ciência e do saber era o ponto central
para os idealizadores da Enciclopédia. Dedicaram-se à tarefa de rearraniar um
conjunto de conhecimentos e descobertas isoladas, abrangendo campos os mais
diversos do conhecimento como a história, a botânica, a geografia, etc., de uma
forma que não se submetesse à antiga crença na existência de um sistema.
Os intelectuais idealizaram a enciclopédia e tiveram de mapear verbetes, estudar todas
suas possíveis ramificações de significados. Assim como escritos por vários autores, a
enciclopédia possuía várias vertentes.
“Como a própria expressão do esprit de finesse os enciclopedistas postulavam uma
dupla possibilidade.” Pois o espírito era perspicaz ao buscar o conhecimento como também
ao produzi-lo.
“Essa nova maneira de conceber a ciência permite ainda desvendar mais um aspecto
novo e de grande importância para a compreensão das mudanças relacionadas ao
iluminismo.”
Em resumo, a contribuição da Enciclopédia consistiu em fundar uma nova
concepção de ciência ao redefinir sua prática e afirmar que somente a razão criadora
poderia fornecer as regras para a condução da vida nas coletividades. Como
reconheceu Diderot, "a razão significa para o filósofo, o que a graça significa para o
cristão"

● Voltaire
- 1694-1778
- Conteúdo Crítico
- Os homens a pensar de uma maneira geral, e sobre a realidade a que estavam
submetidos, de uma maneira particular.
- Mostrar os absurdos que impermear na sociedade
- Seu estilo de argumentação, desenvolvia-se como uma espécie de jogo entre os
interlocutores, em que os lances eram dados pelo permanente vaivém do
pensamento, através do recurso a analogias, do contraste de situações, e da
criação de inumeráveis fatos concretos que poderiam ser mencionados para
confirmar ou negar um argumento
- Construção de um argumento claro e preciso que deveria ser confrontado com
os fatos disponíveis.
- Falta de razão
- Alvo de suas críticas, não só o catolicismo, mas a religião como um todo,
encarada como fonte de preconceitos, obscurantismo, ignorância e intolerância.
- Entendia que os homens, a despeito de todas as diferenças que guardam entre si,
partilhavam a recusa em aceitar tudo que não estivesse claro.
- Variedade dos assuntos que abordam, eram pontuados por sua atração pela
negação, por sua paixão demolidora, embora não raro contrapostas a uma certa
ironia cética com relação à sua própria afirmação.
- Atração pela negação, quanto à ironia. Derivou muito possivelmente da certeza
que partilhava com outros filósofos de seu tempo, de que os homens
permaneceram ignorado os segredos do mundo
- Ensinou os homens a pensar criticamente, levando-os a rejeitar o que apontou
como os “absurdos” de seu tempo; alimentava os desejos de reformas da
sociedade
- Possível criar um novo tipo de sociedade fundada a partir dos princìpios fixados
pelas Luzes, em que as leis fossem produto da razão absoluta e soberana em suas
avaliações, livre de todos os preconceitos
● Rousseau
- 1712-1778
- Impossibilidade de o homem ser ele mesmo e de eles reconhecerem-se entre si.
- Tanto a desigualdade quanto os maus sentimentos que proliferavam no mundo
eram estranhos à alma humana e resultaram das transformações sofridas pela
humanidade em seu esforço de, através do progresso, sair do estado natural.
- Constatação da impossibilidade de um retorno ao estado de natureza, à idade da
inocência e da igualdade
- Constatação de que não haveria a conciliação entre estado de natureza e estado
natural. Todo o mal da sociedade deriva do fato de uns dependerem dos outros,
pois no mundo só havia senhores e escravos que se corromperam mutuamente,
contrariando assim a sua própria natureza.
- Contrato social: solução política para preservar a sociedade e permitir que os
homens recuperaram sua liberdade e se unissem por laços mais estreitos,
restaurando assim o bem supremo do homem, sua faculdade de se governar.
- Substituição da vontade dos homens por uma vontade impessoal, a vontade
geral
- Falar de coração para o coração
- Criar uma relação também nova entre a vida pública e a privada
- Seu ideal de homem confundia-se também com o ideal revolucionário do
cidadão, dado que ambos tinham origem no mesmo sentimento.
- Uma outra forma de igualdade entre os homens; a condição de todos
experimentarem as mesmas emoções e as mesmas reações
- A conquista do sufrágio universal e a exaltação da democracia direta são
inspiradas no Contrato Social
- Algumas medidas tomadas em favor dos pobres tenham derivado de seu
Discurso sobre a Desigualdade
- Associado a origem do romantismo e o impulso às narrativas autobiográficas
- Voltaire e Rousseau: Ambos refletiram criticamente sobre a sociedade do
Antigo Regime, e acreditavam na possibilidade de a filosofia auxiliar os homens
em sua conduta futura
- Voltaire condenava o cristianismo como a própria negação da razão, enfatizava
a faculdade humana de pensar, e nesta potencialidade depositava, as suas
esperanças para o futuro, numa nova idade da humanidade, mais feliz e mais
esclarecida
- Rousseau rejeitava as formas de vida de sua época por serem conforme à
natureza, e sonha com a possibilidade de redenção humana que recupere as
condições naturais. O homem sente antes de pensar, e por esta razão importa-lhe
mais o que ele experimenta, a bondade que lhe é natural e sua necessidade de
amar e ser amado.
● A Franco-Maçonaria
- Gestou-se o desejo de reformas segundo a crença de que as “Luzes” se
confundiam com o progresso e a civilização. O iluminismo pode ser interpretado
como o fecho do processo de secularização, pela crença que difundiu na
possibilidade de uma planificação moralmente justificada, em tudo subordinada à
razão
-Relação entre moral e política, tal como se processou no s´culo XVIII francês
-Os valores morais como os que deveriam constituir a política, ou melhor, a
forma indireta como se concebia a intervenção política através da intervenção
moral. O centro da dialética entre moral e política residia no “segredo”
-Moral
- O conteúdo do segredo poderia variar de uma loja para outra. O que importava
era o que representava, a possibilidade de participar de uma vida nova.
- Uma comunidade de irmãos, sem diferença de classe ou crença religiosa
- Dupla frente de batalha dos maçons: contra a Igreja, que chamava a si a
responsabilidade de velar pelos padrões morais, e contra a monarquia absolutista.
- Virtude
- Uma lei que implicaria, mais cedo ou mais tarde uma mudança na ordem
estabelecida
● Jacobinismo
-Dificilmente o tema do jacobinismo é abordado pela literatura
especializada sem que se destaque a radicalização revolucionária do
período (1792-1795); a ação dos clubes sans-culottes e a ascensão do
movimento popular, a ampliação das conquistas sociais e a proclamação
da república igualitária; o reconhecimento do sufrágio universal.

- De fato, o recurso à violência e o ideário de Rousseau são impossíveis


de conciliar. Sua reconhecida repulsa a essas práticas não condiziria com
a guilhotina e com a implantação do terror. Além do mais, não se pode
esquecer que as restrições à liberdade, inerentes ao período do terror,
representavam justo o oposto de suas concepções acerca da moralidade
do novo homem
- o terror não se identificaria com o jacobinismo, e a condenação à morte na
guilhotina teria sido recurso inevitável face à situação momentânea.
- o terror e a violência seriam recursos
indispensáveis e circunstanciais para eliminar os inimigos da revolução.
- Sob essa ótica, a questão do jacobinismo não guardaria maiores
relações com o iluminismo, a não ser nos termos em que foi estabelecida
em partes anteriores deste texto: a incorporação de alguns princípios de
"Jean-Jacques" e a celebrada "panteonização".
- Posto nestes termos o jacobinismo teria uma natureza e uma
dinâmica próprias por promover um outro tipo de sociabilidade e por
poder ser interpretado como um tipo de sociedade que Cochin chamou
de "uma sociedade de pensamento".

● A boêmia Literária
- "boêmia literária", constituída por
escritores que não desfrutavam do status dos integrantes da "república
das letras". Viviam isolados e contavam sempre com poucos recursos,
pois eram os excluídos do monde e, portanto, não recebiam pensões.
- Suas considerações sobre a "boêmia literária" reforçam as
interpretações sobre as tensões criadas pelo sistema de ascensão social
através do prestígio, que - por sua própria natureza - só recobria um[52]
grupo limitado, o que significava manter na condição de excluídos o
contingente maior da sociedade.
- Os literatos da boêmia expressavam suas idéias nos libelle, uma
espécie de panfleto que disseminava o sentimento de repulsa pelo Antigo
Regime, sempre tratado de forma apaixonada, em tom insolente
difamador e caluniador.
- Importa chamar atenção para o fato de que, mesmo sendo uma
literatura que se nutria de escândalos, de "segredos de bastidores", de
detalhes da vida íntima de personagens importantes da corte, entre os
quais não escaparam nem o rei, a rainha e o poderoso cardeal de Rohan,
o que estava em foco era a questão moral (...) pretendiam demonstrar a corrupção
instaurada no reino, a degeneração e decadência moral da aristocracia.
- Entre eles reinavam uma acirrada
competitividade e um profundo despeito pelo sucesso alcançado por
todos que haviam conseguido penetrar no monde. Este foi o caldo de
cultura em que ferveu seu ódio pelas elites.
- Danton é enfático ao concluir que o extremismo jacobino nutriu seu
verdadeiro timbre "neste ódio que subia das entranhas, e não nas
refinadas abstrações de uma bem tratada elite cultural", dando assim
sua versão para as relações entre iluminismo, jacobinismo e revolução
- A revolução destruiu as instituições onde florescera a elite intelectual
do Antigo Regime, os salões e as academias; revogou a censura,
eliminou as pensões, e aboliu os privilégios.

4. Cultura e Revolução

- Ao reconhecer que o passado não iluminaria mais o futuro, o que


Tocqueville testemunha é a nova maneira como se passou a relacionar o
passado, o presente e o futuro. Registra a mudança fundamental que se
operou em relação aos planos de historicidade, isto é, a forma como os
homens entendiam o próprio tempo histórico e as relações que
estabeleciam entre os três momentos que o constituem.
- Desde a antigüidade o conhecimento dos fatores históricos era
valorizado por seu caráter de exemplaridade. Assim, a história "mestra
da vida" importava porque as experiências passadas podiam orientar
ações futuras. Desta visão derivou a força da tradição e a forma pela
qual, através dos séculos, entrelaçavam-se o passado e o futuro.
- A abertura deste espaço e esta mudança radical de concepção
foram obra da revolução, pois dela se originou a crença de que os
homens podem controlar a história e, vale dizer, construir o futuro. A
idéia de construtibilidade substituiu a força da tradição na condução dos
assuntos humanos.

● O moderno conceito de Revolução


- usa Hanna arendt para contextualizar nao apenas o período mas como fonte
para explicar o surgimento desse conceito e os motivos que o tornaram
necessário;
- tras duas características em comum dos movimentos que surgiam naquela
época, todos eram uma guerra civil e um acúmulo das experiências passadas
- a mudança do significado de revolução se deu quando abandonou seu sentido
original e começassem a mudar a estrutura da sua vida cotidiana a partir das
revoluções implementadas a partir do século XVIII
● A conquista do mundo histórico
- a partir do estudo do conceito de revolução, conseguimos debater no texto o
entendimento de história, que muda drasticamente a partir desse momento
recortado, tornando uma concepção que enxerga a historicidade como uma
correlação de forças entre presente, passado e futuro que deságua praticamente
nas experiências sociais de um indivíduo dentro de uma sociedade
- o texto traz a figura dos “antiquários” figuras históricas que se preocupavam
em determinados recortes a partir do século XVII que os historiadores não
costumam trabalhar com muita frequência;
- os historiadores e antiquários foram bastante atacados pelos filósofos
iluministas dessa época por acreditarem que a história deveria ser uma mera
releitura dos fatos
● História e cidadania
- Essa parte do texto fala de maneira bastante interessante as contradições e
problemas em torno da construção do que hoje conhecemos como história
naquele período, tal feito teria sido possível inicialmente através de Guizot,
professor de sorbonne, uma das pessoas que criou o “fato histórico” entre
outros conceitos e metodologias de estudo de documentos como fonte do fazer
a história. Visto que nesse período em questão, a dificuldade de se criar a
disciplina de história era que o contexto pós revolução deixou um legado de
divisão, em que os filósofos tinham grande prestígio, a história ganhava cada
vez mais espaço, porém existia a dificuldade de se ensiná-la, como disciplina
pedagógica. A revolução enquanto cultura gostaria de negar grande parte da
história que antecederam, jamais aceitaria que esse modelo se perpetuasse tal
qual era feito, sendo assim, Guizot faz com essas contradições tenham uma
forma de se estruturar em torno de uma ciência.

Referência Bibliográfica

CAVALCANTE, Berenice. A Revolução Francesa e a Modernidade. 2ª ed. - São Paulo:


Contexto, 1991

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