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H. P.

BLAVATSKY

COMENTÁRIOS SOBRE

A Doutrina Secreta
DIÁLOGOS COM H. P. BLAVATSKY
TRANSACTIONS OF THE BLAVATSKY LOOGE

JANEIRO, FEVEREIRO, MARÇO, 1889

EXTRAÍDO DO COLLECTEO WRITINGS, VOLUME X,


DE H. P. BLAVATSKY
(AS 4 PRIMEIRAS ESTÂNCIAS DO VOl. I, COSMOGÊNESE)

TRADUÇÃO:
FERNANDO MANSUR E RAUL BRANCO

EDITORA TEOSÓFICA
2
Título do original em inglês:
Collected Writings, Volume X, H. P. Blavatsky
Theosophical Publishing House, 1888.
Chennai, Índia.

Tradução do espanhol: Fernando Mansur.


Tradução do inglês: Raul Branco
Revisão do português: Zeneida Cereja da Silva
Diagramação: Ana Paula Cichelero
Capa: Tiago Portes

SUMÁRIO
Prefácio 5

Introdução 6

Índice das Estâncias comentadas: 9


A Evolução Cósmica nas Estâncias do Livro de Dzyan

Estância I
Sloka 1 12
Sloka 2 18
Sloka 3 23
Sloka 4 31
Sloka 5 35
Sloka 6 37
Sloka 7 37
Sloka 8 39
Sloka 9 46

Estância II
Sloka 1 48
Sloka 2 48
Sloka 3 51
Sloka 4 53

Estância III
Sloka 1 56
Sloka 2 63

3
Sloka 3 63
Sloka 4 64
Sloka 5 68
Sloka 6 69
Sloka 7 71
Sloka 8 73
Sloka 10 75
Sloka 11 76

Estância IV
Sloka 1 83
Sloka 2 84
Sloka 3 85
Sloka 4 85
Sloka 5 87
Sloka 6 89

4
PREFÁCIO DA EDIÇÃO BRASILEIRA
De uma forma geral, cada ser humano tem a possibilidade de direcionar seu tempo e
energia de diferentes maneiras para encontrar o seu propósito de vida. Neste contexto,
existem muitas pessoas que colocam os estudos de filosofia e espiritualidade como
fundamentais, pois são instrumentos para remover a ignorância e aliviar o sofrimento
humano.
Helena Petrovna Blavatsky foi uma dessas pessoas que dedicou a sua vida a conhecer
as culturas e religiões, em todo o mundo. Grande estudiosa e desbravadora, resolveu
contribuir com a humanidade, revelando ao Ocidente a sabedoria milenar do Oriente. Ela
foi uma das fundadoras da Sociedade Teosófica, trazendo sua contribuição com seus
profundos conhecimentos espirituais.
Existe uma frase de Henry David Thoreau que fala: "Para cada mil homens dedicados a
cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes". Esse foi o caso da ocultista
Blavatsky que, durante anos, além dos diversos livros que escreveu, também estabeleceu
diálogos e reflexões com pessoas do mundo todo, respondendo às suas dúvidas e
questionamentos. Esta obra é o resultado de inquirições de um grupo de estudantes de
Teosofia em Londres.
Como ela mesmo dizia: "Não há nada mais valioso para um indivíduo do que possuir
um ideal elevado ao qual ele aspire continuamente, modelando por ele seus pensamentos
e sentimentos, e construindo, assim, da melhor forma que possa, a sua vida."
Ao ler esta pérola, é como se nós estivéssemos presentes nesse pequeno grupo de
estudos, onde a própria H. P. B., de forma colaborativa, fornece acréscimos preciosos para
o entendimento da literatura teosófica.

Ótima leitura e reflexão!


Ígor Mendonça Câmara
Presidente da Editora Teosófica

5
INTRODUÇÃO

Aproximadamente no mês de março de 1890, e novamente em janeiro de 1891, a


Theosophical Publishing Society (Sociedade Editora Teosófica), situada naquele tempo no nº
7 da Rua Duke, Adelphi, Londres, publicou dois pequenos volumes separados sob o título de
Transactions¹ of the Blavatsky Lodge of the Theosophical Society, Partes I e lI.
1 No original em inglês, "Transactions": Relatórios, atas, trabalhos (esp. de academia ou sociedade ou
agremiações científicas). Fonte: Dicionário Inglês-Português Antônio Houaiss. Ed. Record. RJ-SP- 2001. -
Optamos por usar "Diálogos", como na versão em espanhol. (Nota do trad.)
Também foram editados por William Quan Judge, Rua Nassau, nº 132, Nova Iorque.
Esses livros continham diálogos acerca de algumas Estâncias do primeiro volume de A
Doutrina Secreta, realizados em reuniões da Loja Blavatsky em Londres, quando H.P.B.
respondia algumas perguntas bem abstrusas relacionadas aos ensinamentos da Filosofia
Esotérica.
A Parte I trata das reuniões realizadas nos dias 10, 17, 24 e 31 de janeiro de 1889, na
Rua Lansdowne, nº 17, Londres, nas quais se discutiram as Estâncias I e lI.
A Parte II trata das reuniões realizadas no mesmo endereço, nos dias 7, 14, 21 e 28 de
fevereiro, e 7 e 14 de março de 1889.
Nestas reuniões, discutiram-se as Estâncias II, III e IV.
Um Apêndice, que aparece com o título de "Sonhos", oferece um "Resumo dos
ensinamentos apresentados sobre este tema em várias reuniões que precederam aos
Diálogos... ", ou seja, as de 20 a 27 de dezembro de 1888. [Este material pode ser
encontrado nos Collected Writings, Vol. X, em sua correta ordem cronológica. Uma Nota de
Introdução declara que "em todos os casos as respostas se baseiam em Informes
taquigráficos, e são as respostas acerca da Filosofia Esotérica dadas pela própria H.P.B".
Uma revisão da Parte I desses Diálogos (Revista Lucifer, Londres, Vol. VI, abril, 1889, p.
173-74) expressa, entre outras coisas, que "resta ainda material suficiente para mais cinco
volumes sobre o mesmo tema". Esta declaração pode ter-se referido ao material contido na
Parte Il, o qual, no momento em que a "revisão foi escrita, não havia ainda sido publicado.
Mas o que é muito mais difícil de entender é o fato de que, na Nota Preliminar de
"ambos os volumes" ou partes dos Diálogos, é dito que estão compilados "com base nas
notas taquigráficas tomadas nas reuniões da Loja Blavatsky da Sociedade Teosófica, do dia
10 de janeiro ao dia 20 de junho, 1889...".
Pareceria, portanto, que houve reuniões semelhantes realizadas depois de 14 de
março de 1889, que é a data da última discussão que foi impressa. Até meados do verão de
1889, H.P.B. esteve em Londres; em julho, 1889, fez uma viagem à França, escrevendo a
maior parte de A Voz do Silêncio² em Fontainebleau. Em seguida, foi a St. Heliers, Jersey, e
não retornou a Londres até a metade de agosto. Assim, é bem provável que as reuniões da
Loja Blavatsky tenham continuado até o momento de sua saída para a França, e que tais
reuniões foram semelhantes às incorporadas nos Diálogos já impressos.
2 Editora Teosófica, 2a ed., Brasília, 2017. (N.E.)
No mês de novembro de 1889, e, portanto, anterior à publicação da Parte I dos
Diálogos, George R. S. Mead, como secretário da Loja Blavatsky, publicou (Lucifer, Vol. V, p.
6
178) uma notícia para aqueles que estão interessados nos Diálogos da Loja Blavatsky. E diz
o seguinte:
"As discussões sobre o Primeiro Volume de A Doutrina Secreta, e que foram
reportadas por um taquígrafo, eram de uma natureza tão difícil que muito da substância,
assim como está, é totalmente inútil. O trabalho de revisar e colocar em outras palavras
estes relatos, tarefa que teve que ser assumida por um dos mais atarefados da família
sediada na Rua Lansdowne, nº 17, está progredindo, mas deve ser revisado novamente e
preparado antes de ser publicado, e isso não pode ser feito por ninguém, a não ser H.P.B.;
portanto, devido a suas múltiplas tarefas, o trabalho só pode progredir muito lentamente. É
de se esperar que a ânsia de nossos amigos seja atenuada com a explicação anterior."
É naturalmente evidente que grande parte dos manuscritos dos quais fala Mead
estava formado por material anotado durante as discussões nas reuniões de janeiro,
fevereiro e começo de março, 1889, publicado mais tarde como "Diálogos" ["Transactions"
...], Partes I e II. Mas como esta notícia apareceu algum tempo depois das reuniões de fim
de março, abril, maio e junho, 1889, o mais provável é que ele também tivesse tido diante
de si um material pertencente a essas últimas reuniões, especialmente se tivermos
presente o que é dito nas Notas Preliminares dos dois volumes.
Isso está apoiado de maneira substancial pelo fato de que em Lucifer, VoI. I, de 15,
1890, p. 165, depois do aparecimento da Parte I, e antes da publicação da Parte II, dos
Diálogos, declara-se que os informes dos Diálogos consistem de vinte e quatro (24) fólios
escritos à mão, dos quais quatro já tinham sido publicados. Se quatro destes fólios foram
constituir a Parte I dos Diálogos (publicados em março, 1890), com ou sem o ensaio sobre
"Sonhos", e se a Parte II (publicada em janeiro, 1891) era menor que a Parte I, é óbvio,
naturalmente, que uma porção considerável dos vinte e quatro fólios nunca foi Impressa.
Como prova adicional deste fato, devemos ter em mente a declaração direta da Sra.
Alice Leighton Cleather, que, escrevendo sua periódica Letter from London, em fevereiro de
1891, diz: "A segunda parte dos "Diálogos da Loja Blavatsky" está agora publicada e logo
seguirá a terceira" (The Theosophist, VoI. XII, abril, 1891 - p. 438).
Quase dois anos depois da morte de H.P.B., os editores de Lucifer publicaram em suas
páginas algum material da pena de H.P.B., sob o título de Notas sobre o Evangelho segundo
João (Vol. XI, N° 66, fevereiro, 1893, p. 449-56, e Vol. XII, N° 67, março, 1893, p. 20 - 30).
Em uma breve Nota de Introdução a esta série em duas partes, George R. S. Mead declara
que "as seguintes notas formaram a base de discussão nas reuniões da Loja Blavatsky, em
outubro de 1889...".Como estas Notas sobre o Evangelho de São João citam em algum
lugar a própria tradução do gnóstico Pistis-Sophia, de G.R.S. Mead, ou seja, a partir do
primeiro fascículo em diante, publicado em Lucifer, Vol. VI, abril, 1890, e agora esta revista
faz referência em uma nota de rodapé, parece que estas Notas foram revisadas e
publicadas depois de abril de 1890, ou, possivelmente, mesmo depois da morte de H.P.B.
em maio de 1891.
A partir da data mencionada por G.R.S. Mead, ou seja, outubro de 1889, parece que
estas Notas formaram a base das discussões na Loja Blavatsky, depois do retorno de H.P.B.
de sua viagem à França. Mesmo se o manuscrito deste material fosse considerado como
formando parte dos "vinte e quatro grandes fólios escritos à mão", dos quais se falou
anteriormente, o que é muito improvável, considerando as várias datas às quais nos
7
referimos, devemos ainda levar em conta o fato de que, por uma ou outra razão, está
faltando algo do material dos Diálogos que muito seguramente nunca foi publicado.
Quanto à autenticidade de todo este conjunto, citamos abaixo um importante
fragmento de uma carta escrita por William Kingsland, um dos companheiros mais
próximos de H.P.B., em Londres, ao Dr. Henry T. Edge, um de seus discípulos pessoais,
posteriormente em Point Loma, Califórnia. A carta está datada de 7 de outubro de 1931,
Claremont, The Strand, Ryde, I. W., e o fragmento diz o seguinte:
"...De acordo com minha lembrança, H.P.B. estava presente em cada uma destas
reuniões. Os Diálogos foram em parte compilados das notas tomadas das respostas; mas
cada uma delas foi revisada por H.P.B. antes de ser publicada. Não são palavra por palavra,
como ela as apresentou naquela ocasião. De todo modo, são suas autênticas respostas..."

O compilador.

8
ÍNDICE DAS ESTÃNCIAS COMENTADAS:
A EVOLUÇÃO CÓSMICA NAS ESTÂNCIAS DO LIVRO DE DZYAN

(Nestes Diálogos, H. P. B. comenta as 4 primeiras Estâncias)³


3 No original, as perguntas e respostas não estão numeradas nem as 4 Estâncias reproduzidas. Optamos,
assim, em reproduzi-las nesta edição. As referências à A Doutrina Secreta são da edição brasileira, da Ed.
Pensamento. Acrescentamos algumas pequenas modificações às citações, baseados na versão original.
(Nota do trad.)

ESTÂNCIA I

1. O Eterno Pai-Mãe4, envolto em suas Sempre Invisíveis Vestes, havia adormecido


uma vez mais durante Sete Eternidades.
4 No original em inglês: "parent" muitas vezes aparecerá "Pai-Mã ,", expressão para a qual vale esta nota
em todo o livro. (Nota do trad.)
2. O tempo não existia, porque dormia no Seio Infinito da Duração.
3. A Mente Universal não existia, porque não havia Ah-hi para contê-la.
4. Os Sete Caminhos da Felicidade não existiam. As Grandes Causas da Desgraça não
existiam, porque não havia ninguém que as produzisse e fosse por elas aprisionado.
5. Só as trevas enchiam o Todo Sem Limites, porque Pai, Mãe e Filho eram novamente
Um, e o Filho ainda não havia despertado para a Nova Roda e a Peregrinação por ela.
6. Os Sete Senhores Sublimes e as Sete Verdades haviam cessado de ser; e o Universo,
filho da Necessidade, estava mergulhado em Paranishpanna, para ser expirado por Aquele
que é e, todavia, não é. Nada existia.
7. As Causas da Existência haviam sido eliminadas; o Visível, que foi, e o Invisível, que
é, repousavam no Eterno Não Ser - o Único Ser.
8. A Forma Una da Existência, sem limites, infinita, sem causa, permanecia sozinha, em
um Sono sem Sonhos; e a Vida pulsava inconsciente no Espaço Universal, em toda a
extensão daquela Onipresença que o Olho Aberto de Dangma percebe.
9. Onde, porém, estava Dangma quando o Alaya do Universo se encontrava em
Paramārtha, e a Grande Roda era Anupādaka?

ESTÂNCIA II
1. ...Onde estavam os Construtores, os Filhos Resplandecentes da Aurora do
Manvantara? ... Nas Trevas Desconhecidas, em seu Ah-hi Paranishpanna. Os Produtores da
Forma, tirada da Não Forma, que é a Raiz do Mundo, Devamātri e Svabhāvat, repousavam
na felivcidade do Não Ser.
2. ...Onde estava o Silêncio? Onde os ouvidos para percebê-lo? Não; não havia
Silêncio nem Som; nada, a não ser o Incessante Alento Eterno, para si mesmo ignoto.
9
3. A Hora ainda não havia soado; o Raio ainda não havia brilhado dentro do Germe; a
Matripādma ainda não intumescera.
4. Seu Coração ainda não se abrira para deixar penetrar o Raio Único e fazê-lo cair em
seguida, como Três em Quatro, no Regaço de Māyā [H.P.B. comenta aqui].
5. Os Sete não haviam ainda nascido do Tecido de Luz. O Pai-Mãe, Svabhāvat, era só
Trevas; e Svabhāvat jazia nas Trevas.
6. Estes Dois são o Germe, e o Germe é Uno. O Universo ainda estava oculto no
Pensamento Divino e no Divino Seio.

ESTÂNCIA III
1. ...A última Vibração da Sétima Eternidade palpita através do Infinito. A Mãe
intumesce e se expande de dentro para fora, como o Botão de Lótus.
2. A Vibração se propaga, suas velozes Asas tocam o Universo inteiro e o Germe que
mora nas Trevas; as Trevas que sopram sobre as adormecidas Águas da Vida.
3. As Trevas irradiam a Luz, e a Luz emite um Raio solitário sobre as Águas e dentro das
Entranhas da Mãe. O Raio atravessa o Ovo Virgem; faz o Ovo Eterno estremecer, e
desprende o Germe não Eterno, que se condensa no Ovo do Mundo.
4. Os Três caem nos Quatro. A Essência Radiante passa a ser Sete interiormente e Sete
exteriormente. O Ovo Luminoso, que é Três em si mesmo, coagula-se e espalha os seus
Coágulos brancos como o leite por toda a extensão das Profundezas da Mãe: a Raiz que
cresce nos Abismos do Oceano da Vida.
5. A Raiz permanece, a Luz permanece, os Coágulos permanecem; e, não obstante,
Oeaohoo é Uno.
6. A Raiz da Vida estava em cada Gota do Oceano da Imortalidade, e o Oceano era Luz
Radiante, que era Fogo, Calor e Movimento. As Trevas se desvaneceram, e não existiram
mais: sumiram-se em sua própria Essência, o Corpo de Fogo e Água, do Pai e da Mãe.
7. Vê, ó Lanu! O Radiante Filho dos Dois, a Glória refulgente e sem par: o Espaço
Luminoso, Filho do Negro Espaço, que surge das Profundezas das Grandes Águas Sombrias.
É Oeaohoo, o mais jovem, o *** ["Que tu conheces agora como Kwan-Shai-Yin'']. Ele brilha
como o Sol. É o Resplandecente Dragão Divino da Sabedoria. O Eka [Um] é Chatur [Quatro],
e Chatur toma para si Tri, e a união produz Sapta, no qual estão os Sete, que se tornam o
Tridasha, as Hostes e as Multidões. Contempla-o levantando o Véu e desdobrando-o de
Oriente a Ocidente. Ele oculta o Acima, e deixa ver o Abaixo como a Grande Ilusão. Assinala
os lugares para os Resplandecentes, e converte o Acima num Oceano de Fogo sem praias, e
o Uno Manifestado nas Grandes Águas.
8. Onde estava o Germe, onde então se encontravam as Trevas? Onde está o Espírito
da Chama que arde em tua Lâmpada, ó Lanu? O Germe é Aquilo, e Aquilo é a Luz, o Alvo e
Refulgente Filho do Pai Obscuro e Oculto.
9. A Luz é a Chama Fria, e a Chama é o Fogo, e o Fogo produz o Calor, que dá Água - a
Água da Vida na Grande Mãe.
10. O Pai-Mãe urde uma Tela, cujo extremo superior está unido ao Espírito, Luz da
Obscuridade Única, e o inferior à Matéria, sua Sombra. A Tela é o Universo, tecido com as
10
Duas Substâncias combinadas em Uma, que é Svabhāvat.
11. A Tela se distende quando o Sopro do Fogo a envolve; e se contrai quando tocada
pelo Sopro da Mãe. Então, os Filhos se separam, dispersando-se, para voltar ao Seio de sua
Mãe no fim do Grande Dia, tornando-se de novo uno com ela. Quando esfria, a Tela fica
radiante. Seus Filhos se dilatam e se retraem dentro de Si mesmos e em seus Corações; elas
abrangem o Infinito.[H.P.B. comenta até aqui]
12. Então, Svabhāvat envia Fohat para endurecer os Átomos. Cada qual é uma parte
da Tela. Refletindo o "Senhor Existente por Si Mesmo" como um Espelho, cada um vem a
ser, por sua vez, um Mundo.

ESTÂNCIA IV
1. ...Escutai, ó Filhos da Terra. Escutai os vossos Instrutores, os Filhos do Fogo. Sabei:
não há nem primeiro nem último; porque tudo é Um Número que procede do Não Número.
Aprendei o que nós, que descendemos dos Sete Primeiros, nós, que nascemos da Chama
Primitiva, temos aprendido de nossos Pais...
2. Do Resplendor da Luz - o Raio das Trevas Eternas - surgem no Espaço as Energias
despertadas de novo; o Um do Ovo, o Seis e o Cinco. Depois o Três, o Um, o Quatro, o Um,
o Cinco, o duplo Sete, a Soma Total. E estas são as Essências, as Chamas, os Construtores,
os Números os Arūpa, os Rūpa e a Força ou o Homem Divino, a Soma Total. E do Homem
Divino emanaram as Formas, as Centelhas, os Animais Sagrados e os Mensageiros dos
Sagrados Pais dentro do Santo Quatro.
3. Este foi o Exército da Voz, a Divina Mãe dos Sete. As Centelhas dos Sete são os
súditos e os servidores do Primeiro, do Segundo, do Terceiro, do Quarto, do Quinto, do
Sexto e do Sétimo dos Sete. Estas Centelhas são chamadas Esferas, Triângulos, Cubos,
Linhas e Modeladores; porque deste modo se conserva o Eterno Nidāna - o Oi-Ha-Hou.
4. O Oi-Ha-Hou - as Trevas, o Sem Limites, ou o Não Número, Ãdi-Nidãna,
Svabhãvat, o O (o Círculo).
I. O Ādi-Sonat, o Número; porque ele é Um.
II. A Voz da Palavra, Svabhāvat, os Números; porque ele é Um e Nove.
III. O "Quadrado sem Forma".
E estes Três, encerrados no O (no Círculo) são os Quatro Sagrados e os Dez são o
Universo Arūpa. Depois vêm os Filhos, os Sete Combatentes, o Um, o Oitavo excluído, e seu
Sopro, que é o Artífice da Luz.
5. ...Em seguida, os Segundos Sete, que são os Lipikas, produzidos pelos Três. O Filho
excluído é Um. Os "Filhos-Sóis" são inumeráveis.

11
(Reunião realizada na Rua Lansdowne, nº 17, Londres, W., em 10 de janeiro de 1889,
às 8 e meia da noite, sob a presidência do Sr. Harbottle.)

Tema:
As Estâncias de A Doutrina Secreta, Volume I

ESTÂNCIA I

Sloka (1) O ETERNO PAI-MÃE (O ESPAÇO), ENVOLTO EM SUAS5 SEMPRE INVISÍVEIS


VESTES, HAVIA ADORMECIDO UMA VEZ MAIS DURANTE SETE ETERNIDADES.
5 No original em inglês: her. (Nota do trad.)

Pergunta 1) O Espaço, no abstrato, é explicado no Proêmio da seguinte maneira:


"...a Unidade Absoluta não pode converter-se no Infinito, porque o Infinito pressupõe
a extensão ilimitada de algo e a duração deste 'algo'; e o Todo Uno é - como o Espaço, sua
única representação mental e física em nosso plano de existência, a Terra - nem sujeito
nem objeto de percepção. Caso se pudesse admitir que o Todo eterno e infinito, a Unidade
onipresente, em vez de ser na eternidade, se transformasse, por manifestações periódicas,
em um Universo múltiplo ou em uma Personalidade múltipla, tal Unidade deixaria de ser
una. A ideia de Locke, de que 'o espaço puro não é capaz nem de resistência nem de
movimento', é incorreta. O Espaço não é nem um 'vazio sem limites' nem uma 'plenitude
condicionada'; mas uma e outra coisa. E sendo, no plano da abstração, a Divindade sempre
ignota, que é um vazio só para a mente finita, e, no plano da percepção mayávica, o
Plenum, o continente absoluto de tudo o que é, seja manifestado ou não manifestado - é,
por conseguinte, aquele TODO ABSOLUTO. Não há diferença alguma entre as palavras do
Apóstolo cristão: 'Nele vivemos, nos movemos e temos o nosso ser', e o que diz o Rishi
hindu: 'O Universo vive em Brahmā, dele procede e a ele voltará'; porque Brahman
(neutro), o não manifestado, é aquele Universo in abscondito; e Brahmā, o manifestado, é o
Logos macho-fêmea dos dogmas ortodoxos. O Deus do Apóstolo Iniciado, assim como o do
Rishi, é ao mesmo tempo o Espaço Invisível e o Visível. No simbolismo esotérico, o Espaço é
chamado 'Mãe- Pai Eterno de Sete Peles'; e é constituído de sua superfície indiferenciada
até a de sete capas...
'Que é o que foi, é e será...haja ou não um Universo, existam ou não deuses?' -
pergunta o catecismo Esotérico Senzar. E a resposta é: 'O Espaço'."6
6 A Doutrina Secreta, VoI. I, p. 76-77. (Nota do trad.)
Mas por que se fala do Eterno Pai, o Espaço, como feminino?
Resposta 1) Não em todos os casos, porque na passagem anterior o Espaço é
chamado o "Eterno Mãe-Pai"; mas quando é chamado assim, é porque é impossível definir
Parabrahman; entretanto, cada vez que falamos desse algo que primeiro pode se conceber,
devemos tratá-lo como um princípio feminino. Em todas as cosmogonias, a primeira
diferenciação foi sempre considerada feminina. É Mūlaprakriti que oculta ou vela
Parabrahman; Sephira é a luz que emana primeiro de Ain-Soph; e em Hesíodo é Gaia que
surge do Caos, precedendo a Eros. Isso se repete em todas as criações menos abstratas e
12
materiais subsequentes, como a declaração de que Eva foi criada de uma costela de Adão
etc. São a deusa e as deusas que aparecem primeiro. A primeira emanação converte-se na
Mãe imaculada da qual procedem todos os deuses, ou as antropomorfizadas forças
criadoras. Temos que adotar o gênero feminino ou masculino, porque não podemos usar o
neutro "isso". De AQUILO estritamente falando, nada pode proceder, nem uma radiação
nem uma emanação.

P. 2) Esta primeira emanação é idêntica à Neith egípcia?


R. 2) Em realidade está além de Neith, porém em um sentido ou em um aspecto
inferior é Neith.

P. 3) Então, esse AQUILO não é o "Eterno Pai-Mãe de Sete Peles?


R. 3) Certamente que não. AQUILO é o Parabrahman da Filosofia Hindu, aquilo que
está além de Brahmā, ou, como se lhe chama agora na Europa, "o incognoscível". O espaço
do qual falamos é o aspecto feminino de Brahmā, o masculino. Quando acontece o
primeiro movimento de diferenciação o Subjetivo emana ou cai, como uma sombra, no
Objetivo, e se converte na Deusa Mãe de quem procede o Logos, o Deus Filho e Deus Pai ao
mesmo tempo, os dois imanifestados, um a Potencialidade, e o outro a Potência. Mas o
primeiro não deve ser confundido com o Logos manifestado, também chamado "o Filho"
em todas as cosmogonias.

P. 4) A primeira diferenciação do absoluto AQUILO é sempre feminina?


R. 4) Somente como figura de linguagem; em filosofia estrita, não tem sexo; porém o
aspecto feminino é o primeiro que assume nas concepções humanas, cuja subsequente
materialização, em qualquer filosofia, depende do grau de espiritualidade da raça ou nação
que concebeu o sistema. Por exemplo: na Cabala dos talmudistas, AQUILO é chamado AIN-
SOPH, o ilimitado, o infinito, o que não tem princípio nem fim (sendo o atributo sempre
negativo); e se referem a este Princípio absoluto como Ele!! Desse negativo Ilimitado
Círculo de Luz Infinita emana a primeira Sephira, a Coroa, que os talmudistas chamam
Torah, a lei, explicando que é a esposa de Ain-Soph. Isto é antropomorfizar o espiritual no
grau máximo.

P. 5) Ocorre o mesmo na Filosofia Hindu?


R. 5) Exatamente o oposto. Porque se vamos às cosmogonias hindus, vemos que ali
Parabrahman não é sequer mencionado, mas somente Mūlaprakriti. Esta última é, por
assim dizer, a veste ou aspecto de Parabrahman no Universo invisível. Mūlaprakriti significa
Raiz da Natureza ou da Matéria. Mas não se pode chamar "Raiz" a Parabrahman, porque é
a absoluta Raiz sem Raiz de tudo. Portanto, devemos começar com Mūlaprakriti, ou o Véu
deste incognoscível. Aqui vemos uma vez mais que o primeiro é a Deusa-Mãe, o reflexo da
raiz subjetiva, no primeiro plano da Substância. Logo segue, emanando de, ou antes,
residindo em, esta Deusa-Mãe, o Logos imanifestado, o que é seu Filho e Esposo ao mesmo
tempo, chamado o "Pai oculto". Desse procede o primeiro Logos manifestado, ou Espírito, o
Filho de cuja substância emanam os sete Logoi, cuja síntese, considerada como uma só
13
força coletiva, se converte no Arquiteto do Universo visível. São os Elohim dos judeus.

P. 6) Que aspecto do Espaço, ou a deidade desconhecida, chamada nos Vedas


"Aquilo", que se mencionada mais adiante, é chamado aqui o "Eterno Pai"?
R. 6) É o vedantino Mūlaprakriti, o Svabāvat dos budistas, ou aquele algo andrógino
do qual estamos falando, e que é diferenciado e indiferenciado. Em seu primeiro princípio é
uma pura abstração, e se torna diferenciado somente quando se transforma com o
decorrer do tempo em Prakriti. Comparando-se com os princípios humanos, corresponde a
Buddhi, enquanto Ātmā corresponderia a Parabrahman, Manas a Mahat e assim
sucessivamente.

P. 7) Então, que são as sete camadas do Espaço, já que no 'Proêmio' lemos acerca do
"Pai-Mãe de sete Peles"?
R. 7) Platão e Hermes Trismegisto consideram isto como o Pensamento Divino, e
Aristóteles compreendeu este "Pai-Mãe" como "privação" de matéria. É aquilo que se
converterá nos sete planos de existência, começando com o espiritual e passando através
do psíquico até o plano material. Os sete planos do pensamento ou os sete estados de
consciência correspondem a estes planos. Todos estes setenários estão simbolizados por
meio das sete "Peles".

P. 8) As ideias divinas na Mente Divina? Entretanto a Mente divina ainda não havia
aparecido...
R. 8) A Mente Divina é e deve ser antes que ocorra a diferenciação. É chamada a
Ideação divina, que é eterna em sua Potencialidade e periódica em sua Potência, quando
ser converte em Mahat, Anima Mundi ou Alma Universal. Mas recordem que, de qualquer
modo que se lhe chame, cada ideia que se forme tem seus aspectos mais metafísicos, mais
materiais e também outros aspectos intermediários.

P. 9) Qual é o significado da expressão "Sempre invisíveis vestes?"


P. 9) Naturalmente que é uma expressão figurada, como toda alegoria das filosofias
orientais. Talvez seja o hipotético Protilo que o professor Crookes anda buscando, mas que
certamente nunca poderá ser encontrado nesta nossa Terra ou plano. É a substância
indiferenciada ou matéria espiritual.

P. 10) E o que se chama "Laya"?


R. 10) As "Vestes" e tudo o mais estão em condição Laya, o ponto do qual ou no qual
a substância primordial começa a diferenciar-se, dando assim vida ao Universo e a tudo o
que nele está contido.

P. 11) As "invisíveis vestes" são assim chamadas porque não são objetivas para
nenhuma diferenciação de consciência?
R. 11) Diria, mais propriamente, invisíveis para a consciência finita, se tal consciência
fosse possível nessa etapa de evolução. Inclusive para o Logos, Mūlaprakriti um véu, as
Vestes nas quais está envolto o Absoluto. Os vedantinos dizem que nem mesmo o Logos
14
pode perceber o Absoluto7.
7 A Filosofia da Bhagavad-Gitā, T. Subba Row. Ed. Teosófica, Brasília, 2019. (N. E.)

P. 12) Mūlaprakriti é o termo correto que deve ser usado?


R. 12) O Mūlaprakriti dos vedantinos é o Aditi dos Vedas. A Filosofia Vedanta significa
literalmente "o fim ou síntese de todo conhecimento". Agora, existem seis escolas de
Filosofia Hindu, as quais, analisadas estritamente, se verá que coincidem perfeitamente em
substância. Fundamentalmente são idênticas, porém há tal abundância, tal quantidade de
conclusões secundárias, detalhes e ornamentações, sendo algumas emanações seus
próprios pais e os pais nascidos de suas próprias filhas, que a pessoa se sente perdida em
uma selva. Diga o que você quiser a um hindu, do ponto de vista esotérico, e, se ele desejar,
poderá lhe contradizer ou lhe refutar sob o ponto de vista de seu próprio sistema
particular. Cada uma destas seis escolas tem seus próprios termos e pontos de vista. De
modo que a menos que durante toda a discussão se adote e se use a terminologia de uma
escola, existe um grande perigo de mal-entendidos.

P. 13) Então, o mesmo termo é usado em muitos diferentes sentidos pelas diferentes
filosofias? Por exemplo, Buddhi tem um sentido na Filosofia Esotérica e um sentido muito
distinto na Filosofia Sankhya. Não é assim?
R. 13) Exatamente, e outro sentido diferente no Vishnu-Purāno, o qual fala de sete
Prakritis emanantes de Mahat, e chama a esta última Maha-Buddhi. Entretanto,
basicamente, as ideias são as mesmas, embora os termos difiram em cada escola, e neste
labirinto de personificações perdeu-se o sentido correto. Talvez fosse melhor, se fosse
possível, inventar uma nova nomenclatura para nós. Contudo, devido à pobreza dos
idiomas europeus, em particular o inglês, em vocábulos filosóficos, a empresa seria algo
dificultosa.

P. 14) Não se poderia empregar o termo "Protilo" para representar a condição Laya?
R. 14) Dificilmente; o Protilo do professor Crookes provavelmente é usado para
indicar a matéria homogênea no plano mais material de todos, enquanto que a substância
simbolizada pelas "Vestes" do "Eterno Pai-Mãe" se encontra no sétimo plano de matéria
contando a partir de baixo, ou melhor, de fora para dentro (desde o mais denso ao mais
sutil). Esta não pode ser encontrada no plano inferior, ou melhor, no mais externo ou
material.

P. 15) Existe, pois, em cada um dos sete planos, uma matéria relativamente
homogênea para cada plano?
R. 15) Assim é; porém tal matéria é homogênea apenas para aqueles que se
encontram nos mesmos planos de percepção; de modo que se algum dia a ciência moderna
descobrir o Protilo, será homogêneo somente para nós. A ilusão pode durar algum tempo,
talvez até a Sexta Raça, porque a humanidade está sempre mudando, física e mentalmente,
e esperamos que também espiritualmente, aperfeiçoando-se cada vez mais em cada raça e
sub-raça.

15
P. 16) Não será um grande erro utilizar termos que tenham sido usados pelos
cientistas com outro significado? Protoplasma teve uma vez quase o mesmo significado que
Protilo, porém seu significado agora se restringiu.
R. 16) Decididamente assim seria; o Hyle dos gregos, porém, certamente, não era
aplicado à matéria deste plano, pois o adotaram da cosmogonia caldeia, onde era usado
num sentido altamente metafísico.

P. 17) Todavia a palavra Hyle é usada agora pelos materialistas para expressar uma
ideia muito próxima daquilo para o qual empregamos o termo Mūlaprakriti.
R. 17) Pode ser; porém o Dr. Lewins e sua meia dúzia de intrépidos Hilo-idealistas
dificilmente sustentam essa opinião, porque em seu sistema o sentido metafísico foi
completamente deixado de lado e perdido de vista.

P. 18) Então, depois de tudo isso, talvez Laya seja o melhor termo para se usar?
R. 18) Não tanto, porque Laya não significa algo em particular ou um ou outro plano,
mas denota um estado ou condição. É um termo sânscrito que transmite a ideia de algo em
um estado indiferenciado e sem mudanças, um ponto zero no qual cessa toda
diferenciação.

P. 19) A primeira diferenciação representaria a matéria em seu sétimo plano: não


devemos supor, portanto, que o Protilo do professor Crookes é também matéria deste seu
sétimo plano?
R. 19) O Protilo Ideal do prof. Crookes é matéria no estado que ele chama "ponto-
zero".

P. 20) Ou seja, o ponto Laya deste plano?


R. 20) Não está de todo claro se o prof. Crookes se ocupa de outros planos ou se
admite a existência dos mesmos. O objeto de suas investigações é o átomo protílico, que,
como ninguém jamais o viu, é simplesmente uma nova hipótese de trabalho para a ciência.
Porque, o que é em realidade um átomo?

P. 21) É uma definição conveniente do que seja ou se pensa que seja uma molécula,
ou melhor, um termo apropriado para dividi-la?
R. 21) Mas seguramente devem ter chegado à conclusão, por ora, de que átomo não
é um termo mais adequado que os setenta e poucos diferentes elementos. Tem sido
costume rir-se dos quatro ou cinco elementos dos antigos; mas agora o prof. Crookes
chegou à conclusão de que, estritamente falando, não existe absolutamente uma coisa tal
como um elemento químico. De fato, longe de se descobrir o átomo, não se chegou ainda a
uma simples molécula.

P. 22) Deveria ser lembrado que Dalton foi o primeiro a falar deste tema, e o chamou
“Teoria Atômica".
R. 22) Assim é; porém, como demonstrou Sir William Hamilton, o termo é usado
num sentido errôneo pelas escolas científicas modernas, as quais, ao mesmo tempo que
16
riem dos metafísicos, aplicam um vocábulo puramente metafísico à física de modo que
atualmente a palavra "teoria" começou a usurpar as prerrogativas do "axioma".

P. 23) O que são as "Sete Eternidades" e como pode haver tal divisão em Pralaya,
onde não existe ninguém que seja consciente do tempo?
R. 23) O astrônomo moderno de nenhum modo conhece melhor que seu antigo
irmão os "mandatos do Céu". Se perguntado se ele poderia "trazer Mazzaroth8 à existência
em sua estação [do ano]" ou se esteve com "aquele" que "desdobrou o firmamento", teria
que responder tristemente, como o fez Jó, com uma negativa. Entretanto, isso de nenhuma
maneira o impede de especular sobre a idade do Sol, da Lua e da Terra, e de "calcular" os
períodos geológicos desde o tempo em que sobre a Terra não vivia nenhum homem com
ou sem consciência. Por que, então, não se concede o mesmo privilégio aos antigos?
8 Mazzaroth é uma palavra bíblica hebraica encontrada no Livro de Jó 38:32, significando literalmente
uma "guirlanda de coroas". Mas seu contexto é o de constelações astronômicas, e é geralmente
interpretada como um termo para o zodíaco ou suas constelações. (Nota do trad.)

P. 24) Mas por que se deve empregar o termo "Sete Eternidades"?


R. 24) O termo "Sete Eternidades" é empregado devido à invariável lei de analogia.
Assim como o Manvantara está dividido em sete períodos, o mesmo ocorre com o Pralaya;
assim como o dia se compõe de doze horas, acontece o mesmo com a noite. Podemos dizer
que, devido ao fato de estarmos adormecidos durante a noite e perdermos a consciência
do tempo, as horas não passam? Pralaya é a "Noite" que segue ao "Dia" Manvantárico. Não
existe ninguém, e a consciência dorme com todo o resto; contudo, essa consciência existe e
se encontra em plena atividade como durante o Manvantara. E assim como somos
completamente sensíveis ao fato de que a lei de analogia e periodicidade é imutável, e
sendo assim, que deve atuar por igual em ambos os extremos, por que não empregar essa
frase?

P. 25) Mas como se pode calcular uma eternidade?


R. 25) Talvez a questão surja devido à má interpretação geral do termo "Eternidade".
Nós, ocidentais, somos tolos o bastante para especular acerca daquilo que não tem
princípio nem fim, e supomos que os antigos devam ter feito o mesmo. Entretanto, não o
fizeram: nenhum filósofo antigo usou a palavra "Eternidade" para indicar uma duração sem
começo nem fim. Nem os Eóns dos gregos nem os Neros transmitem este significado. De
fato, eles não tinham nenhuma palavra para expressar o sentido exato. Parabrahman, Ain-
Soph e o Zeruana-Akerne do Avesta representam somente tal Eternidade; todos os outros
períodos são finitos e astronômicos, baseando-se nos anos tropicais e em outros ciclos
enormes. A palavra Eón, que na Bíblia se traduz por Eternidade, significa apenas um
período finito, como também um anjo e um ser.

P. 26) Mas não é correto dizer que em Pralaya também se encontra o "Grande
Alento"?
R. 26) Certamente: porque o "Grande Alento" nunca deixa de ser, e é, por assim
dizer, o universal terno perpetuum mobile.
17
P. 27) Sendo assim, é impossível dividi-lo em períodos, pois isso afasta a ideia de
absoluto e do nada completo. Parece incompatível que se possa falar de um "número" de
períodos, embora se possa falar de tantas exalações e inalações do "Grande Alento".
R. 27) Isso colocaria de lado a ideia de Repouso absoluto, se esta absolutividade do
Repouso não fosse interrompida pela absolutividade do Movimento. Existe um magnífico
poema sobre o Pralaya, escrito por um Rishi muito antigo, que compara o movimento do
Grande Alento durante o Pralaya com os movimentos rítmicos do Oceano Inconsciente.

P. 28) A dificuldade reside em usar a palavra "eternidade" em lugar de "éon"?


R. 28) Por que se deve usar uma palavra grega quando existe uma expressão mais
familiar, especialmente se esta se encontra completamente explicada em A Doutrina
Secreta? Pode-se chamá-la eternidade relativa ou eternidade manvantárica ou praláyca, se
preferem.

P. 29) A relação entre Pralaya e Manvantara é estritamente análoga à relação entre o


sono e a vigília?
R. 29) Em um certo sentido apenas; durante a noite todos nós existimos como
personalidades, e ao mesmo tempo somos individualidades, embora sonhemos e talvez
sejamos inconscientes de viver assim. Porém, durante o Pralaya, o todo diferenciado, assim
como cada unidade, desaparece do Universo fenomenal, e se funde no, ou melhor, passa a
ser o Um numênico. Por conseguinte, de fato, há uma grande diferença.

P. 30) O sonho tem sido chamado "o lado escuro da vida"; pode-se dizer que o Pralaya
é o lado escuro da vida Cósmica?
R.30) Em um certo sentido pode ser chamado assim. Pralaya é a dissolução do visível
dentro do invisível, do heterogêneo no homogêneo, e, portanto, um tempo de repouso.
Mesmo a matéria cósmica, embora indestrutível em sua essência, deve ter um tempo de
repouso e voltar ao seu estado Laya. A absolutividade da essência Una abarcante deve
manifestar-se tanto em repouso como em atividade.

Sloka (2)
O TEMPO NÃO EXISTIA, POIS JAZIA ADORMECIDO
NO SEIO INFINITO DA DURAÇÃO.

P. 1) Que diferença existe entre Tempo e Duração?


R. 1) A Duração é; não tem princípio nem fim. Como você pode chamar Tempo àquilo
que não tem princípio nem fim? A Duração é sem começo e sem fim; o Tempo é finito.

P. 2) É, então, a Duração é a concepção infinita e o Tempo a finita?


R. 2) O Tempo pode ser dividido; a Duração, pelo menos em nossa filosofia, não. O
Tempo é divisível em Duração, ou como vocês dizem, um é algo dentro do Tempo e do

18
Espaço, enquanto que o outro está fora de ambos.

P. 3) A única maneira de definir o Tempo é pelo movimento da Terra?


R. 3) Mas também podemos definir o Tempo em nossos conceitos.

P. 4) Ou, dizendo melhor, a Duração?


R.4) Não, o Tempo; porque, com relação à Duração, é impossível dividi-la ou
estabelecer demarcações ali. A Duração, para nós, é a eternidade una, não relativa, mas
absoluta.

P. 5) Pode-se dizer que a existência é a ideia essencial da Duração?


R. 5) Não; a existência tem períodos limitados e definidos, enquanto que a Duração,
não tendo princípio nem fim, é uma perfeita abstração que contém o Tempo. A Duração é
como o Espaço, o qual é também uma abstração e é igualmente sem princípio nem fim. É
apena em seu aspecto concreto e em limitação; que se converte em uma representação e
em um algo. Naturalmente, a distância entre dois pontos é chamada espaço; pode ser
enorme ou pode ser infinitesimal, entretanto será sempre um espaço. Porém, todas essas
especificações são divisões feitas pela concepção humana. Em realidade, o Espaço é o que
os antigos chamavam o Uno invisível ou a desconhecida (agora incognoscível) Deidade.

P. 6) Então, Tempo é o mesmo que Espaço, sendo um no abstrato?


R.6) Como duas abstrações, podem ser uma; mas isso se aplicaria à Duração e ao
Espaço Abstrato, em vez de ao Tempo e ao Espaço.

P. 7) O Espaço é o lado objetivo e o Tempo é o lado subjetivo de toda manifestação.


Em realidade, são os únicos atributos do infinito, mas atributo é talvez um termo
inapropriado para se usar, visto serem eles, digamos assim, co extensivos com o infinito.
Entretanto, pode-se objetar que não são nada mais que criações de nosso próprio intelecto;
são simplesmente as formas nas quais não podemos deixar de conceber coisas.
R. 7) Isto soa como um argumento de nossos amigos Hilo-idealistas, mas aqui falamos
do Universo numênico e não do fenomênico. No catecismo oculto9, pergunta-se: Que é
aquilo que sempre É, que não se pode imaginar como NÃO SENDO, mesmo se
quiséssemos? A resposta é: O ESPAÇO. Porque não pode haver um só homem no Universo
que possa pensá-lo, nem um só olho capaz de percebê-lo, nem um só cérebro capaz de
senti-lo, entretanto, o espaço é, sempre foi, e sempre será, e não podemos deixá-lo de lado.
9 A Doutrina Secreta, VoI. I, Proêmio. (Nota do trad.)

P. 8) Talvez porque não podemos deixar de pensar nele?


R. 8) Nosso pensamento nele não tem nada a ver com a questão. Tente, antes, pensar
em algo excluindo o Espaço e logo descobrirá o impossível de tal concepção. O Espaço
existe onde nada mais existe, e deve também existir, quer seja o Universo um absoluto
vacum (vazio), ou um completo pleroma (plenitude).

P. 9) Os filósofos modernos o reduziram a isto: que o espaço e o tempo não são nada
19
mais que atributos, nada mais que acidentes.
R. 9) E estariam certos se sua conclusão fosse o fruto da verdadeira ciência, em vez de
ser o resultado de Avidyā e Māyā, ou seja, de uma ilusão. Encontramos também Buda
dizendo que mesmo o Nirvāna era, afinal de contas, somente Māyā ou uma ilusão; mas o
Senhor Buda baseava o que dizia no conhecimento, não na especulação.

P. 10) Mas são o Espaço e a Duração eternos os únicos atributos do Infinito?


R. 10) O Espaço e a Duração, sendo eternos, não podem ser chamados de atributos,
posto que são somente os aspectos daquele Infinito. Não pode aquele Infinito, se com ele
você quer dizer o Princípio Absoluto, ter nenhum atributo, já que apenas aquilo que por si
mesmo é finito e condicionado pode ter alguma relação com algo. Tudo isso é
filosoficamente errôneo.

P. 11) Não podemos conceber nenhuma matéria que não esteja estendida, nem uma
extensão que não seja a extensão de algo. Ocorre o mesmo nos planos superiores? E, em
sendo assim, qual é a substância que ocupa o espaço absoluto e é idêntica com esse
espaço?
R. 11) Se seu "intelecto treinado" não pode conceber outra coisa que não seja
matéria, talvez possa fazê-lo alguém menos treinado, porém mais aberto à percepção
espiritual. Não se infere, porque você o diz, que tal conceito de Espaço seja o único
possível, mesmo em nossa Terra. Porque também neste nosso plano existem outros e
diferentes intelectos, além dos humanos, em criaturas visíveis e invisíveis, desde as mentes
de Seres subjetivos, elevados e inferiores, até os animais objetivos e os organismos
inferiores; em resumo, "do Deva ao elefante, do elemental à formiga". Agora, de acordo
com seu próprio plano de concepção e de percepção, a formiga tem um intelecto tão bom
como o nosso, e até melhor; porque embora não o possa expressar com palavras, contudo,
acima e além do instinto, a formiga demonstra grandes poderes de raciocínio, como todos
nós sabemos. Assim, achando-se em nosso próprio plano - se cremos nos vários
ensinamentos do Ocultismo - tantos e tão variados estados de consciência e de inteligência,
não temos direito de levar em consideração apenas nossa própria consciência humana,
como se nenhuma outra existisse fora dela. E se não podemos presumir decidir até onde
chega a consciência de um inseto, como podemos limitar a consciência, da qual a ciência
nada sabe, somente a este plano?

P. 12) Mas por que não? Seguramente a ciência natural pode descobrir tudo o que
deve ser descoberto, mesmo na formiga.
R. 12) Essa é sua opinião; mas para o ocultista, essa confiança está mal colocada,
apesar dos trabalhos de Sir John Lubbock. A ciência pode especular, mas, com seus
métodos atuais, não será nunca capaz de provar a veracidade de tais especulações. Se um
cientista pudesse transformar-se por um momento em uma formiga e pensar como tal e
recordasse sua experiência ao voltar à sua própria esfera de consciência, somente então
poderia saber indubitavelmente algo sobre este interessante inseto.
Atualmente, só pode especular fazendo deduções a partir do comportamento da
formiga.
20
P. 13) Então o conceito que a formiga tem acerca do tempo e do espaço não é como o
nosso. É isso que você quer dizer?
R. 13) Exatamente; a formiga tem conceitos do tempo e do espaço que lhe são
próprios, não são os nossos; são conceitos que estão inteiramente em outro plano;
portanto, não temos direito de rechaçar a priori a existência de outros planos somente
porque não podemos formar uma ideia deles, mas que, no entanto, existem - planos
superiores e inferiores ao nosso em vários graus, como atesta a formiga.

P. 14) Deste ponto de vista, a diferença entre o homem e o animal parece ser que o
primeiro nasce com mais ou menos todas as suas faculdades, e geralmente falando, não
tem nenhuma vantagem apreciável por isso, enquanto que o último está aprendendo e
melhorando gradualmente. Não é esta realmente a questão?
R. 14) Justamente; mas você tem que recordar o porquê: não se trata de que o
homem tenha um "princípio" a mais que o inseto mais diminuto, mas porque o homem é
um animal aperfeiçoado, o veículo de uma mônada plenamente desenvolvida, auto
consciente e que segue sua própria linha de progresso, enquanto que no inseto, e mesmo
no animal mais desenvolvido, a tríade dos princípios superiores está totalmente
adormecida.

P. 15) Existe alguma consciência ou ser consciente que conheça e faça a divisão do
tempo quando ocorre o primeiro estremecimento da manifestação? Em "A Filosofia da
Bhagavad-Gitã”10, o Sr. Subba Row, falando do Primeiro Logos, parece implicar tanto a
consciência quanto a inteligência.
10 Editora Teosófica, Brasília, 2019. (Nota do trad.)
R. 15) Mas não explicou a qual Logos se referia, e creio que falava em geral. Na
Filosofia Esotérica, o Primeiro Logos é o imanifestado, e o Segundo é o manifestado.
Ishvāra corresponde ao Segundo, e Nārāyana ao Logos imanifestado. Subba Row é um
advaita e um vedantino erudito, e explicava de seu ponto de vista. Nós o fazemos do nosso.
Em A Doutrina Secreta, aquilo do qual nasce o Logos manifestado se traduz como o "Eterno
Pai-Mãe"; enquanto que no Vishnu-Purāna é descrito como "o Ovo do Mundo", rodeado
por sete peles, capas ou zonas. É neste Ovo Dourado que nasce Brahmā, o masculino, e
esse Brahmā em realidade é o Segundo Logos ou também o Terceiro, de acordo com a
enumeração adotada; porque certamente não é o Primeiro ou mais elevado, o ponto que
está em todas as partes e em nenhuma. Mahat, na interpretação esotérica, é em realidade
o Terceiro Logos ou a Síntese dos Sete Raios criadores, os Sete Logoi. Das assim chamadas
Sete Criações, Mahat é a Terceira, porque é a Alma Universal e inteligente, a Ideação
Divina, combinando os planos ideais e os protótipo de todas as coisas, tanto no mundo
objetivo manifestado como no subjetivo. Nas Doutrinas Sankhya e Purānica, Mahat é o
primeiro produto de Pradhāna, animado por Kshetrajnā, "o Espírito Substância". Na
Filosofia Esotérica, "Kshetrajnā" é o nome que se dá a nossos EGOS reencarnantes.

P. 16) É esta então a primeira manifestação em nosso Universo objetivo?


R. 16) É o primeiro Princípio nele, sensível ou perceptível para o pensamento divino e
21
não para os sentidos humanos. Mas se partirmos do Incognoscível, falaremos que é o
terceiro, e que corresponde a Manas, ou melhor, a Buddhi-Manas.

P. 17) Então o Primeiro Logos está representado pelo primeiro ponto dentro do
círculo?
R. 17) O ponto dentro do círculo que não tem limites e é eterno, e que não tem nem
nome nem atributo. Este primeiro Logos imanifestado é simultâneo com a linha traçada
sobre o diâmetro do Círculo. A Primeira Linha ou Diâmetro representa o Pai-Mãe; dele
procede o Segundo Logos, que contém em si mesmo a Terceira Palavra Manifestada. Nos
Purānas, por exemplo, se diz outra vez que a primeira criação do Akāsha é o Som, e neste
caso Som significa "Palavra", a expressão do inefável pensamento, o Logos manifestado, o
dos gregos e platônicos e de São João. O Dr. Wilson e outros orientalistas falam desta
concepção dos hindus como de um absurdo, porque segundo eles Akāsha e Caos são
idênticos. Mas se soubessem que Akāsha e Pradhāna não são senão os dois aspectos de
uma mesma coisa, e recordassem que Mahat, a ideação divina, em nosso plano, é esse Som
ou Logos manifestado, ririam de si mesmos e de sua própria ignorância.

P. 18) Com referência à passagem seguinte, qual é a consciência que toma


conhecimento do tempo? É a consciência de tempo limitada ao plano da consciência física
desperta, ou ela existe em planos superiores? Em A Doutrina Secreta, se diz que: "O tempo
é só uma ilusão produzida pela sucessão de nossos estados de consciência em nossa viagem
através da duração eterna, e não existe onde não existe consciência em que possa produzir-
se a ilusão...”11
11 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 101. (Nota do trad.)
R.18) Aqui só se quer indicar a consciência em nosso plano e não a eterna Consciência
divina à qual chamamos o Absoluto. A consciência do tempo, no sentido atual da palavra,
não existe nem mesmo durante o sono; muito menos, portanto, pode existir na essência
absoluta. Pode-se dizer que o mar tem um conceito do tempo em seu rítmico golpear sobre
a praia, ou no movimento de suas ondas? Não se pode dizer que o Absoluto tenha
consciência, ou pelo menos uma consciência tal qual a que temos aqui. Não tem
consciência, nem desejo, nem vontade, nem pensamento, porque é pensamento absoluto,
desejo absoluto, consciência absoluta, é um "todo" absoluto.

P. 19) É aquilo a que nos referimos como SEIDADE ou SAT?


R. 19) Nossos amáveis críticos acharam muito divertida a palavra "Seidade”12 porém
não existe outro modo de traduzir a palavra sânscrita Sat. Não é existência, porque
existência pode aplicar-se somente aos fenômenos, nunca aos númenos, a mesma
etimologia do termo em latim que contradiz tal afirmação, pois ex significa "de ou desde",
ou "fora de", e sistere, "estar"; portanto, trata-se de algo que parece estar então (ali?) onde
não estava antes. Ademais, a palavra existência implica algo que tem um começo e um fim.
Como então se pode aplicar o termo àquilo que sempre foi, e do qual não se pode dizer que
tivesse surgido de alguma outra coisa?
12 No original em inglês: Be-ness. (Nota do trad.)

22
P. 20) O hebreu Jeová era "Eu sou".
R. 20) E também o era Ormuzd, o Ahura-Mazda dos antigos masdeístas. Neste
sentido, todo homem assim como todo Deus pode jactar-se de sua existência dizendo "Eu
sou o que sou".

P. 21) Mas seguramente Seidade tem alguma relação com a palavra "ser"?
R. 21) Sim; mas Seidade não é "ser", porque é igualmente "não ser". Nós não
podemos concebê-lo, porque nosso intelecto é muito limitado e nossa linguagem é ainda
mais limitada e condicionada que nossa mente. Portanto, como podemos expressar aquilo
que somente pode ser concebido por meio de uma série de negativas?

P. 22) Um alemão poderia expressá-lo mais facilmente com a palavra "sein" (ser);
"das sein" [o ser (sendo "sein" um infinitivo)] poderia ser um equivalente muito bom para
"Be-ness"; este último termo talvez soe absurdo aos ouvidos ingleses desacostumados, mas
"das sein" (o ser) é um termo e uma ideia perfeitamente familiares a um alemão. Mas
estávamos falando de consciência em Espaço e Tempo.
R. 22) Esta consciência é finita, tendo princípio e fim. Mas qual é a palavra para essa
Consciência finita que ainda, devido a Māyā, acreditava-se infinita? Nem mesmo quem está
no Devachan é consciente do tempo; tudo está presente no Devachan; não há passado, de
outro modo o Ego o recordaria e o lamentaria; nem futuro, senão desejaria tê-lo. Portanto,
vendo que o Devachan é um estado de bem-aventurança no qual tudo está presente, se diz
que aquele que está no Devachan não tem nenhum conceito ou ideia do tempo; para ele
tudo é como em um sonho vívido, uma realidade.

P. 23) Mas podemos sonhar o tempo de uma vida em meio segundo, sendo
conscientes de uma sucessão de estados de consciência, de eventos que se sucedem um
atrás do outro?
R. 23) Só depois do sonho: enquanto se sonha não existe tal consciência.

P. 24) Não poderíamos comparar a recordação de um sonho a uma pessoa dando a


descrição de um quadro, e tendo que mencionar todas as partes e os detalhes porque não
pode apresentar o todo diante do olho da mente de quem escuta?
R. 24) Essa é uma analogia muito boa.

23
(Reunião realizada em Lansdowne Road, N° 17, Londres, W., em 17 de janeiro de 1889,
sob a presidência do Sr. T. B. Harbottle.)

ESTÂNCIA I [continuação]

Sloka (3) A MENTE UNIVERSAL NÃO EXISTIA, POIS NÃO HAVIA AH-HI (SERES
CELESTIAIS) PARA CONTÊ- LA (E, PORTANTO, PARA MANIFESTÁ- LA).

P. 1) Este Sloka parece implicar que a Mente Universal não tem existência separada
dos Ah-hi; mas no Comentário se diz que:
"...um númeno pode chegar a ser fenômeno em qualquer plano de existência somente
se manifestando naquele plano através de uma base ou veículo apropriado; e durante a
longa noite de repouso, chamada Pralaya, quando todas as existências estão dissolvidas, a
'MENTE UNIVERSAL' permanece como uma permanente possibilidade de ação mental, ou
como aquele pensamento abstrato absoluto, do qual a mente é a relativa manifestação
concreta. Os AH-Hi (Dhyān-Chohans) são as hostes coletivas de seres espirituais ... os quais
são os veículos, para a manifestação do pensamento e da vontade divinos ou universais.
São as Forças Inteligentes que dão e estabelecem na Natureza as 'Leis', ao passo que eles
mesmos trabalham conforme as leis que lhes foram impostas de uma maneira análoga por
Poderes ainda mais elevados; ... Esta hierarquia de Seres espirituais, por cujo meio a Mente
Universal se põe em ação, assemelha-se a um exército - verdadeiramente uma 'Hoste' ... "13
13 A Doutrina Secreta, VoI. I, p. 102. (Nota do trad.)
O comentário sugere que os Ah-hi não são eles próprios a Mente Universal, mas
somente o veículo para sua manifestação.
R. 1) O significado deste Sloka, creio, é muito claro; quer dizer que, como não há
mentes finitas diferenciadas durante o Pralaya, é como se não houvesse mente de forma
alguma, porque não existe nada para contê-la ou percebê-la. Não existe nada que receba e
reflita a ideação da Mente Absoluta; portanto, ela não está. Fora do Absoluto e imutável
Sat (Seidade), tudo é necessariamente finito e condicionado, já que tem começo e fim. Em
consequência, posto que "não estavam os Ah-hi", não havia Mente Universal como
manifestação. Há que se fazer uma distinção entre a Mente Absoluta, que está sempre
presente, e sua manifestação e reflexo nos Ah-hi, os quais, encontrando-se no plano mais
elevado, refletem coletivamente a mente universal ao primeiro estremecimento do
Manvantara. Logo, eles começam o trabalho de evolução de todas as forças inferiores
através dos sete planos, até o mais denso, o nosso. Os Ah-hi são os primordiais Sete Raios
ou Logoi, emanados do primeiro Logos, triplo, e, no entanto, um em sua essência.

P. 2) Então os Ah-hi e a Mente Universal são necessariamente complementos um do


outro?
R. 2) De modo algum: a Mente Universal ou Absoluta sempre é durante o Pralaya,
assim com no Manvatara; é imutável. Os Ah-hi são os Dhyanis mais elevados, os Logoi,
como acabamos de dizer, aquele que começam a evolução descendente, ou emanação.

24
Durante o Pralaya não existe Ah-hi, porque eles vêm à existência somente com a primeira
radiação da Mente Universal, a qual, per se, não pode diferenciar-se e cuja radiação é o
primeiro descenso do Manvantara. O Absoluto é mente adormecida, latente, e não pode
ser de outra maneira na verdadeira percepção metafísica; é somente Sua sombra que
começa a diferenciar-se na coletividade destes Dhyanis.

P. 3) Isto significa que era consciência absoluta, mas já não é?


R. 3) É consciência absoluta eternamente, a qual periodicamente se converte em
consciência relativa, em cada "amanhecer manvatárico". Representamos esta consciência
latente ou potencial como uma espécie de vazio dentro de um recipiente; rompe-se o
recipiente, e o que acontece com o vazio? Onde devemos buscá-lo? Desapareceu; está em
todas as partes e em nenhuma. Ele é algo e, no entanto, nada: um vazio e ao mesmo tempo
uma plenitude. Mas o que é em realidade um vazio, segundo a Ciência Moderna, um algo
homogêneo ou o quê? O Vazio Absoluto não é uma ficção de nossa fantasia? Uma pura
negação, um suposto Espaço onde nada existe? Sendo assim, destrua-se o recipiente, e -
pelo menos para nossa percepção - nada existe. Portanto, a Estância expressa isso muito
corretamente; "A Mente Universal não existia", porque não havia veículo para contê-la.

P. 4) Quais são os poderes mais elevados que condicionam os Ah-hi?


R. 4) Não podem ser chamados de poderes; seria talvez melhor falar de poder ou
Potencialidade. Os Ah-hi são condicionados pelo despertar na manifestação da LEI universal
periódica, que se converte sucessivamente em ativa e em passiva. É por esta Lei que são
condicionados ou formados, não criados. "Criados" é um termo impossível de se usar em
Filosofia.

P. 5) Então, o poder ou Potencialidade que precede os Ah-hi e é superior a eles, é a lei


que necessita manifestar-se?
R. 5) Exatamente isso; a manifestação periódica. Quando soa a hora, a Lei entra em
ação, e os Ah-hi aparecem no primeiro degrau da escada de manifestação.

P. 6 ) Mas seguramente esta é A LEI, e não UMA lei?


R. 6) Exatamente, já que é absoluta e "Sem Segundo", e, portanto, não é um atributo,
mas a própria Absolutividade.

P. 7) A grande dificuldade consiste em dar conta dessa Lei?


R. 7) Isto seria tentar ir além da primeira manifestação e da suprema causalidade.
Seria necessário todo nosso limitado intelecto para compreender mesmo vagamente esta
última; por mais que tentemos, nunca poderemos, limitados como somos, compreender o
Absoluto, que para nós, em nossa atual etapa de desenvolvimento mental, é somente uma
especulação lógica, ainda que possamos pôr uma data, retrocedendo milhares e milhares
de anos.

P. 8) Com referência ao sloka em questão, não seria "mente cósmica" um termo


melhor que "mente universal"?
25
R. 8) Não. A Mente Cósmica aparece na terceira etapa, ou grau, e está confinada ou
limitada ao Universo manifestado. Nos Purānas, Mahat (o "grande" Princípio mental ou
Intelecto) aparece somente na terceira das Sete "Criações" ou etapas de evolução. A Mente
Cósmica é Mahat, ou ideação divina em atividade (operação criativa) e, portanto, é
somente a manifestação periódica em tempo e in actu da Eterna Mente Universal in
potencia. A rigor, sendo Mente Universal apenas outro nome para o Absoluto, fora do
tempo e do espaço, esta Ideação Cósmica, ou Mente, não é de nenhum modo uma
evolução, (e menos ainda uma "criação"), mas simplesmente um dos aspectos daquela que
não conhece mudanças, que sempre foi, que é e será. Assim, repito, o sloka implica que não
havia ideação universal, vale dizer, não era perceptível, porque não existiam mentes para
percebê-la, já que a Mente Cósmica estava ainda latente, como mera potencialidade. Como
as estâncias falam da manifestação, estamos consequentemente obrigados a traduzi-las
assim, e não de outro ponto de vista.

P. 9) Usamos a palavra "cósmica" como aplicada ao Universo manifestado em todas


as suas formas. O sloka aparentemente não se refere a isso, mas à primeira Consciência
absoluta ou Não consciência, e parece implicar que a consciência absoluta não podia ser a
mente universal, porque essa não estava expressada (manifestada), ou não podia estar: em
consequência não havia nenhuma expressão para ela. Mas poderse-ia objetar que não
havia modo de expressá-la (manifestá-la), entretanto, estava ali? Podemos dizer que, igual
a Sat, era e não era?
R. 9) Isso não ajudaria a interpretação.

P. 10) Quando se diz que não estava, a ideia que se sugere então é que não estava
no Absoluto?
R. 10) De modo algum; simplesmente "não existia".

P. 11) Certamente, parece haver uma distinção; porque se pudéssemos dizer "era"
estaríamos tendo uma visão muito parcial da ideia de Sat, que equivaleria dizer que Sat
estava SENDO. Mais ainda, alguém poderia dizer que a frase "A Mente Universal não era",
como está, sugere que é uma manifestação, mas a mente não é uma manifestação.
R. 11) A Mente no ato da ideação é uma manifestação; mas a Mente Universal não é
a mesma coisa, já que não se pode falar de nenhum ato relativo ou condicionado daquilo
que é Absoluto. Houve ideação universal tão logo apareceram os Ah-hi, e continua havendo
ao longo do Manvantara.

P. 12) A que plano cósmico pertencem os Ah-hi dos quais se fala aqui?
R. 12) Eles pertencem ao primeiro, segundo e terceiro plano (sendo, em realidade, o
último plano, o ponto de partida da manifestação primordial), o reflexo objetivo do
Imanifestado. Assim como a Monas pitagórica, o Primeiro Logos, havendo emanado a
primeira Tríad , desaparece no silêncio e nas trevas.

P. 13) Isto significa que os três Logoi emanados da Radiação primordial no


Macrocosmos, correspondem a Ātmā, Buddhi e Manas, no Microcosmos?
26
R. 13) Exatamente; correspondem, mas não devem ser confundidos com estes. Agora
estávamos falando do Macrocosmos no momento do primeiro estremecimento da aurora
manvantárica, quando começa a evolução, e não do Microcosmos ou Homem.

P. 14) Os três planos aos quais pertencem os três Logoi são emanações simultâneas
ou emanam um do outro?
R. 14) É muito enganoso aplicar leis mecânicas à metafísica superior da cosmogonia,
ou ao espaço e tempo, como os conhecemos agora, porque então não existia nenhum dos
dois. O reflexo da Tríade no tempo e no espaço, ou no Universo objetivo, vem depois.

P. 15) Os Ah-hiforam homens em Manvantaras anteriores ou virão a ser?


R. 15) Toda criatura vivente, qualquer que seja sua descrição, foi, é ou será um ser
humano em um ou em outro Manvantara.

P. 16) Mas eles permanecem neste Manvantara no mesmo altíssimo plano, durante o
período total do ciclo de vida?
R. 16) Se com "ciclo de vida" você se refere a uma duração de tempo que se estende
por um número de mais de quinze cifras, então, minha resposta é, decididamente, não. Os
"Ah-hi" passam por todos os planos, começando a manifestar-se no terceiro. Como todas as
outras Hierarquias, no plano mais elevado são Arūpa, ou seja, sem forma, sem corpo, sem
nenhuma substância, meros alentos. No segundo plano, eles começam a se aproximar de
Rūpa, ou forma; no terceiro, convertem-se em Manasaputras, aqueles que se encarnaram
nos homens. Em cada plano que eles alcançam, são chamados por nomes diferentes, (há
uma contínua diferenciação de sua substância homogênea original; nós a chamamos
substância, embora, em realidade, não seja nenhuma substância que possamos conceber).
Mais tarde, se transformam em Rūpas, formas etéreas.

P. 17) Então os Ah-hi deste Manvantara... ?


R. 17) Já não existem; há muito tempo se converteram em Egos Planetários Solares,
Lunares e, por último, em Egos reencarnantes, porque, como se disse, "Eles são as hostes
coletivas de seres espirituais".

P. 18) Mas antes foi dito que os Ah-hi não se convertem em homens neste
Manvantara.
R. 18) Não o fazem como "Ah-hi" sem forma. Mas o fazem como transformações de si
mesmos. Os Manvantaras não devem ser confundidos. O ciclo manvatárico de quinze
cifras aplica-se ao Sistema Solar; mas há um Manvantara que corresponde à totalidade do
Universo objetivo, o Pai-Mãe, e também muitos Manvantaras menores. Em geral, os slokas
que foram selecionados relacionam-se com o Manvantara menor (de quinze cifras) e foram
dados apenas dois ou três (slokas) relacionados ao Manvantara maior. Portanto, muitos
slokas foram omitidos por causa de sua difícil natureza.

P. 19) Então, os homens de um Manvantara, ao redespertarem no Manvantara


seguinte, terão que passar por um estado correspondente à etapa de Ah-hi?
27
R. 19) Em alguns dos Manvantaras, "a cauda está na boca da serpente". Meditem
sobre este simbolismo.

P. 20) Um homem pode escolher aquilo em que vai pensar. Pode esta analogia ser
aplicada aos Ah-hi?
R. 20) Não; porque o homem tem livre-arbítrio e os Ah-hi não. Eles estão obrigados
a atuar simultaneamente, porque a Lei sob a qual devem atuar lhes dá o impulso. O livre-
arbítrio só pode existir em um Homem que tenha mente e consciência, as quais atuam e o
fazem perceber as coisas no interior e no exterior de si mesmos. Os "Ah-hi" são Forças, não
seres humanos.

P. 21) Mas eles não são agentes conscientes no trabalho?


R. 21) São conscientes enquanto atuam dentro da consciência universal. Mas a
consciência de um Mānasa-Putra no terceiro plano é muito diferente. É somente então
que se tornam Pensadores. Ademais, o Ocultismo, diferentemente da ciência moderna,
sustenta que todo átomo de matéria, uma vez diferenciado, torna-se dotado de sua própria
classe de Consciência. Cada célula do corpo humano (como em todo animal) está dotada de
sua própria faculdade de discriminação, instinto, e, relativamente falando, de inteligência.

P. 22) Pode-se dizer que os Ah-hi desfrutam de bem-aventurança?


R.22) Como podem estar sujeitos à bem-aventurança e à não bem-aventurança? A
bem-aventurança só pode ser apreciada, e se converter em tal, quando o sofrimento é
conhecido.

P. 23) Mas há uma diferença entre felicidade e bem-aventurança.


R. 23) Embora possa haver diferença, no entanto, não há nem felicidade nem bem-
aventurança sem uma prévia experiência contrastante de sofrimento e dor.

P. 24) Mas entendemos que se pretendeu fazer referência àquela bem-aventurança,


como o estado do Absoluto.
R. 24) Isso é ainda mais ilógico. Como se pode dizer que o ABSOLUTO sente? O
Absoluto não pode ter nem condicionamento nem atributo. Somente aquilo que é finito e
diferenciado pode ter algum tipo de sentimento ou de atitude que se lhe possa atribuir.

P. 25) Então não se pode dizer que os Ah-hi são consciências inteligentes, já que a
consciência deles é tão complexa?
R. 25) Talvez o termo seja errôneo, mas devido à pobreza das línguas europeias,
parece não haver outra escolha.

P. 26) Mas talvez uma frase representasse a ideia mais corretamente? O termo
parece significar uma força que é uma unidade, não uma ação e reação complexa de várias
forças que estariam implicadas na palavra "inteligência". O aspecto numenal da força fe-
nomenal talvez expressasse melhor a ideia.
R. 26) Ou talvez pudéssemos representar a ideia como uma chama, uma unidade; os
28
raios desta chama seriam complexos, atuando cada um em sua própria linha reta.

P. 27) Mas somente se tornam complexos quando encontram receptáculos nas formas
inferiores.
R. 27) Exatamente; entretanto os Ah-hi são a chama da qual saem os raios,
diferenciando-se cada vez mais à medida que vão caindo mais profundamente na matéria,
até que finalmente chegam a este nosso mundo, com seus milhões de habitantes e seres
sencientes14, e aí sim, tornam-se verdadeiramente complexos.
14 No original em inglês: sensual beings. (Nota do trad.)

P. 28) Considerados então como uma essência primária, os Ah-hi seriam uma
unidade? Podemos considerá-los assim?
R. 28) Vocês podem; mas a estrita verdade é que eles somente procedem da
Unidade, e são os primeiros de seus sete raios.

P. 29) Podemos então chamá-los de o reflexo da unidade?


R. 29) Os raios do espectro solar não são fundamentalmente um só raio branco? De
um se converte em três; dos três, sete; e destes sete primários surge uma infinidade.
Voltando à assim chamada "consciência" dos Ah-hi, essa consciência não pode ser julgada
pelo padrão das percepções humanas. Está num plano completamente diferente.

P. 30) "Durante o sono profundo, a mente não está no plano físico"; pode-se inferir,
portanto, que durante esse período a mente está ativa em outro plano? Existe alguma
definição das características que distinguem a mente em estado de vigília da mente durante
o sono do corpo?
R. 30) Existe, naturalmente, mas não creio que uma discussão acerca disso seja
pertinente ou útil agora; basta dizer que, com frequência, a faculdade de raciocínio da
mente superior pode estar adormecida, e a mente instintiva plenamente desperta. É a
distinção fisiológica entre o cérebro e o cerebelo; um dorme e o outro está desperto.

P. 31) O que se entende por mente instintiva?


R.31) A mente instintiva se expressa através do cerebelo e é também a mente dos
animais. No homem, durante o sono, cessam as funções do cérebro e o cerebelo o leva ao
Plano Astral, um estado ainda mais irreal que o plano de ilusão de vigília; porque assim
chamamos a este estado que a maioria de vocês considera tão real. E o Plano Astral é ainda
mais ilusório, porque reflete sem discriminação o mal e o bem e é muito caótico.

P. 32) As condições fundamentais da mente no estado de vigília são tempo e espaço:


estes existem para a mente (Manas) durante o sono do corpo físico?
R. 32) Não como nós os conhecemos. Ademais, a resposta depende do Manas a que
você se refira, o superior ou o inferior. Somente o último é que é suscetível a alucinações
do espaço e do tempo; por exemplo: um homem em estado de sonho pode viver em uns
poucos segundos os acontecimentos de toda uma vida, porque para as percepções e as
compreensões do Ego Superior não existe nem espaço nem tempo.
29
P. 33) Foi-nos dito que Manas é o veículo de Buddhi, mas se fala da mente universal
como de Maha-Buddhi. Qual é então a diferença entre os termos Manas e Buddhi,
empregados em um sentido universal, e Manas e Buddhi manifestados no homem?
R. 33) Buddhi Cósmico, a emanação da Alma Espiritual, Alaya, é o veículo de Mahat
apenas quando esse Buddhi corresponde a Prakriti. Então é chamado Maha-Buddhi. Este
Buddhi se diferencia através de sete planos, enquanto que Buddhi no homem é o veículo de
Ātman, veículo que é da essência do plano mais elevado do Akāsha e, portanto, não se
diferencia. A diferença entre Manas e Buddhi no homem é a mesma que a diferença entre
os Mānasa-Putra e os Ah-hi no Cosmos.

P. 34) Manas é mente e foi dito que os Ah-hi não podem ter Mente individual ou
aquilo que nós chamamos mente, neste plano, mais do que Buddhi pode ter. Pode haver
Consciência sem Mente?
R. 34) Não neste plano de matéria. Mas por que não em algum outro plano superior?
Uma vez que sugerimos uma Mente Universal, tanto o cérebro, veículo da mente, como a
Consciência, sua faculdade, em um plano mais elevado, devem ser muito diferentes do que
são aqui. Estão mais próximos do TODO Absoluto, e, portanto, devem estar representados
por uma substância infinitamente mais homogênea; algo sui generis e totalmente fora do
alcance de nossas percepções intelectuais. Podemos chamá-lo ou imaginá-lo como um
estado incipiente e incognoscível de diferenciação primordial. Nesse plano mais elevado, ao
que me parece, Mahat, o grande Princípio Manvantárico de Inteligência, atua como um
Cérebro, por meio do qual a Mente Universal e Eterna irradia os Ah-hi, representando a
resultante consciência ou ideação. À medida que a sombra deste triângulo primordial cai
mais e mais através dos planos descendentes, em cada etapa torna-se mais material.

P. 35) E se converte no plano no qual a Consciência percebe as manifestações


objetivas. Não é assim?
R. 35) Sim. Mas aqui nos defrontamos com o grande problema da Consciência, e
temos que combater o Materialismo. Pois o que é a Consciência? De acordo com a ciência
moderna é uma faculdade da Mente, como a vontade. Também nós dizemos o mesmo; mas
acrescentamos que enquanto a Consciência não é uma coisa per se, a Mente, pelo
contrário, em suas funções Manvantáricas, pelo menos, é uma Entidade. Tal é a opinião de
todos os idealistas do Oriente.

P. 36) Entretanto, está na moda hoje em dia falar depreciativamente da ideia de que
a mente é uma entidade.
R. 36) Não obstante, mente é um perfeito termo sinônimo de Alma. Aqueles que
negam a existência desta última, naturalmente discutirão que não existe uma coisa tal
como a consciência separada do cérebro e que com a morte a consciência cessa. Os
ocultistas, pelo contrário, afirmam que existe consciência depois da morte e que somente
então começa a verdadeira consciência e a liberdade do Ego, quando ele então não está
mais impedido pela matéria terrestre.

30
P. 37) Talvez o enfoque anterior surja ao se limitar o termo "consciência" à faculdade
de percepção?
R. 37) Se for assim, o Ocultismo se opõe inteira mente à semelhante visão.

Sloka (4) AS SETE SENDAS PARA A FELICIDADE (MOKSHA OU NIRVĀNA) NÃO


EXISTIAM (VER: A VOZ DO SILÊNCI015, FRAGMENTO III, OS SETE PORTAIS). AS GRANDES
CAUSAS DA MISÉRIA (NIDĀNA E MĀYĀ), NÃO EXISTIAM, PORQUE NÃO HAVIA NINGUEM
QUE AS PRODUZISSE E FOSSE ENGANADO POR ELAS.
15 Editora Teosófica, Brasília, 2018. (N.E.)

P. 1) Quais são as sete sendas para a bem-aventurança?


R. 1) São certas faculdades sobre as quais o estudante conhecerá mais, quando se
aprofundar no Ocultismo.

P. 2) São as Quatro Verdades da Escola Hīnayīna, as mesmas que Sir Edwin Arnold
menciona em "A Luz da Ásia16", sendo a primeira delas, a senda do Sofrimento; a segunda, a
causa do Sofrimento; a terceira, a cessação do Sofrimento, e a quarta, a SENDA?
16 Editora Teosófica, Brasília, 2011. (N. E.)
R. 2) Tudo isso é teológico e exotérico; e se encontra em todas as escrituras budistas;
e o mencionado acima parece ter sido tomado do Budismo do Ceilão [atual Sri Lanka] ou do
Sul. Entretanto, o tema está tratado de uma maneira mais completa na Escola Āryasangha
(a Filosofia em que está baseada A Voz do Silêncio). Mesmo ali as quatro verdades têm um
significado para o sacerdote regular de manto amarelo, e outro totalmente diferente para
os verdadeiros místicos.

P. 3) Nidāna e Māyā (as grandes causas da miséria) são aspectos do Absoluto?


R. 3) Nidāna significa a concatenação de causa e efeito; os doze Nidānas são a
enumeração ou os efeitos mais severos sob a lei kármica. Apesar de não haver conexão
entre os termos Nidāna e Māyā por si mesmos, no entanto, se considerarmos o Universo
como Māyā ou Ilusão, então certamente os Nidānas, como agentes morais no Universo,
estão incluídos em Māyā. É Māyā, ilusão ou ignorância, que desperta os Nidānas; e
havendo-se produzido a causa ou as causas, seguem-se os efeitos, de acordo com a lei
kármica. Para citar um exemplo: todos nós nos consideramos como Unidades, embora em
essência sejamos uma Unidade indivisível, gotas no oceano do Ser, que não se distinguem
uma da outra. Havendo-se então produzido esta causa, a totalidade das discórdias da vida
segue-se como um efeito; em realidade, este é o esforço da Natureza para restabelecer a
harmonia e manter o equilíbrio. Neste sentido de separatividade está a raiz de todo mal.

P. 4) Talvez fosse melhor separar os termos, e estabelecer se Māyā é um aspecto do


Absoluto?
R. 4) Dificilmente poderia sê-lo, posto que Māyā é a Causa, e ao mesmo tempo um
aspecto de diferenciação; além disso, o Absoluto não pode jamais diferenciar-se. Māyā é
uma manifestação; o Absoluto não pode nunca ter manifestação, mas somente um reflexo,
uma sombra que se irradia periodicamente dele, não por meio dele.
31
P. 5) Entretanto, se diz que Māyā é a causa da manifestação ou diferenciação?
R. 5) E o que tem isso de particular? Certamente se não houvesse Māyā não haveria
diferenciação, ou melhor, não se perceberia nenhum Universo objetivo. Mas isso não faz
dela um aspecto do Absoluto, mas simplesmente algo contemporâneo e coexistente com o
Universo manifestado, ou a heterogênea diferenciação na pura homogeneidade.

P. 6) Pela mesma razão, então, se não há diferenciação, não há Māyā? Mas aqui
estamos falando de Māyā como A CAUSA do Universo, de modo que quando deixamos para
trás a diferenciação, poderíamos nos perguntar: "Onde está Mâyā"?
R. 6) Māyā está em todas as partes, e em tudo o que tem começo e fim; por
conseguinte, cada coisa é um aspecto daquilo que é eterno, e nesse sentido, naturalmente,
Māyā mesmo é um aspecto de SAT, ou daquilo que é eternamente presente no Universo,
seja durante o Manvantara ou no Maha-Pralaya. Mas lembrem-se de que foi dito que
mesmo o Nirvāna é apenas Māyā, comparado com o Absoluto.

P.7) Então Māyā é um termo coletivo para todas as manifestações?


R. 7) Não creio que isso explicaria o termo Māyā, que é a faculdade perceptiva de
todo Ego que considera a si mesmo uma Unidade separada, e independente, do eterno SAT
ou "Seidade". Na filosofia exotérica e nos Purānas, Māyā se explica como a ativa vontade
personificada do Deus Criador - este último sendo ele próprio uma Māyā personificada -
uma passageira ilusão dos sentidos do homem, que desde o começo mesmo de suas
especulações empreendeu a antropomorfização das puras abstrações. Māyā, segundo a
concepção do hindu ortodoxo, é muito distinta de Māyā para um idealista vedantino ou um
ocultista. A Vedanta declara que Māyā, ou a enganadora influência da ilusão, só constitui a
crença na real existência da matéria ou de qualquer coisa diferenciada. O Bhāgavata-
Purāna identifica Māyā com Prakriti (natureza e matéria manifestadas). O mesmo não é
dito por alguns metafísicos europeus avançados, tais como Kant, Schopenhauer e outros?
Naturalmente, eles tomaram suas ideias do Oriente, (especialmente do Budismo;
entretanto, a doutrina da irrealidade deste Universo foi desenvolvida de forma bastante
correta por nossos filósofos), em linhas gerais. Agora, apesar de não existirem duas pessoas
que possam ver as coisas e os objetos exatamente da mesma maneira, e de cada um de nós
vê-las do seu modo, no entanto, todos estamos sujeitos mais ou menos a ilusões, e em
especial à Grande Ilusão (Māyā) de que, como personalidades, somos seres distintos dos
outros seres, e que mesmo nossos Eus ou Egos seguirão como tais na eternidade (ou, de
qualquer maneira, na sempiternidade; enquanto que não somente nós, mas também todo
o Universo visível e invisível, somos apenas partes transitórias do TODO UNO sem princípio
nem fim, ou d'Aquilo que sempre foi, é e será.

P. 8) O termo parece aplicar-se aos complexos pontos de diferenciação: aplicando-se


diferenciação à unidade e Māyā ao conjunto de unidades. Mas aqui podemos colocar uma
questão lateral.
Com relação à parte anterior da discussão, foi feita referência ao cérebro e ao
cerebelo, e este último foi descrito como o órgão instintivo. Supõe-se que um animal tem
32
uma mente instintiva; porém se diz que o cerebelo é simplesmente o órgão da vida
vegetativa, e que apenas controla as funções corporais; enquanto que a mente sensória é a
mente na qual se abrem os sentidos, e não pode haver pensamento nem ideação, nada que
indique intelecto ou instinto, a não ser por parte da atuação da mente designada para tais
funções, ou seja, o cérebro.
R. 8) Seja como for, este cerebelo é o órgão das funções instintivas animais, as que
refletem ou produzem sonhos caóticos ou incoerentes em sua maior parte. Contudo, os
sonhos que são recordados e que apresentam uma sequência de eventos se devem à visão
do Ego superior.

P. 9) Não é o cerebelo aquilo que poderíamos chamar o órgão do hábito?


R. 9) Sendo instintivo, creio que poderia muito bem chamar-se assim.

P. 10) Exceto que podemos nos referir ao hábito como aquilo que poderíamos
chamar o estado atual de existência, e falar do instinto como de uma etapa passada.
R. 10) Qualquer que seja o nome que se lhe dê, somente o cerebelo funciona
quando se dorme, não o cérebro, e os sonhos, emanações ou sentimentos instintivos que
experimentamos em vigília são o resultado de sua atividade.

P. 11) A sequência - encadeamento lógico - surge inteiramente da faculdade


coordenadora. Mas seguramente também o cérebro atua; uma prova disso é que quanto
mais nos aproximamos do momento do despertar, mais vívidos se tornam nossos sonhos.
R. 11) Assim é; quando você está despertando, mas não antes. Podemos comparar
esse estado do cerebelo a uma barra de metal, ou algo da mesma natureza, que foi
aquecido durante o dia e emana ou irradia calor durante a noite; da mesma maneira, a
energia do cérebro se irradia inconscientemente durante a noite.

P. 12) Entretanto, não podemos dizer que o cérebro seja incapaz de registrar
impressões durante o sonho. Um homem dormindo pode ser despertado por um ruído e,
quando desperta, com frequência será capaz de reconstruir seu sonho até a impressão
causada pelo ruído. Este fato parece provar, de forma concludente, a existência da
atividade cerebral durante o sono.
R. 12) Uma atividade mecânica, certamente; se sob tais circunstâncias existe a mais
leve percepção, ou o mínimo lampejo do estado de sonho, a memória entra em jogo e o
sonho pode ser reconstruído. Falando de sonhos, o estado de sonho que está passando
para a vigília foi comparado com as brasas de um fogo em extinção; podemos muito bem
continuar com a analogia e comparar a entrada em ação da memória com uma corrente de
ar que as reativa. Ou seja, que a consciência ao despertar faz retornar a atividade ao
cerebelo, que estava declinando sob o limiar da consciência.

P. 13) Mas o cerebelo deixa de funcionar alguma vez?


R. 13) Não; mas se perde nas funções do cérebro.

P. 14) Isso quer dizer que os estímulos que procedem do cerebelo durante a vida em
33
vigília caem abaixo do limiar da consciência de vigília, o campo da consciência sendo
inteiramente ocupado pelo cérebro, e isso continua até que sobrevém o sono, quando os
estímulos do cerebelo começam a formar o campo de consciência. Portanto, não é correto
dizer que o cérebro seja a única sede da consciência.
R. 14) Assim é; a função do cérebro é a de polir, aperfeiçoar, ou coordenar as ideias,
enquanto que a do cerebelo é de produzir desejos conscientes, e assim por diante.

P. 15) Evidentemente, temos que ampliar nossa ideia de consciência. Por exemplo,
não há nenhum motivo pelo qual uma planta sensitiva não possa ter consciência. Du Prel,
em seu livro Philosophie der Mystik cita algumas experiências muito curiosas que mostram
um tipo de consciência local, talvez uma classe de conexão reflexa. Ele vai ainda mais longe,
demonstrando, a partir de um grande número de casos bem documentados - tais como os
de clarividentes que podem perceber com a boca do estômago - que o limiar da consciência
é capaz de se estender de maneira ampla muito mais do que estamos acostumados a
pensar, tanto para cima quanto para baixo.
R. 15) Podemos nos congratular com as experiências de Du Prel, como um antídoto
contra as teorias do prof. Huxley, que são absolutamente irreconciliáveis com os
ensinamentos do Ocultismo.

34
(Reunião realizada na Rua Lansdowne, N° 17, Londres, W., em 24 de janeiro de 1889,
sob a presidência do Sr. T. B. Harbottle.)

ESTÂNCIA I [continuação]

Sloka (5) SOMENTE TREVAS PREENCHIAM O TODO SEM LIMITES, POIS PAI, MÃE E
FILHO ERAM MAIS UMA VEZ UM, E O FILHO NÃO HAVIA DESPERTADO AINDA PARA A NOVA
RODA E SUA PEREGRINAÇÃO NELA.

P. 1) São as "Trevas" o mesmo que o "Eterno Pai Espaço" do qual se fala no Sloka 1 ?
R. 1) De modo algum. Aqui o "todo sem limites" é o "Pai-Espaço"; e o Espaço Cósmico
é algo já com atributos, pelo menos potencialmente. As "Trevas", pelo contrário, e nesse
caso, é aquilo sobre o qual não se pode postular nenhum atributo: é o Princípio
Desconhecido preenchendo o Espaço Cósmico.

P. 2) Então, Trevas está usado no sentido de polo oposto à Luz?


R. 2) Sim, no sentido do Imanifestado e o Desconhecido como polo oposto da
manifestação, e daquilo sobre o qual não se pode especular.

P. 3) Então, as Trevas não são opostas à Luz, mas à diferenciação, ou melhor, não
podem ser consideradas como um símbolo da Negatividade?
R. 3) As "Trevas" que queremos dizer aqui não podem se opor nem à Luz nem à
Manifestação, já que ambas são os legítimos efeitos da evolução Manvantárica, o ciclo de
Atividade. São as "Trevas sobre a Face do Abismo" do Gênesis: o Abismo sendo aqui "o filho
brilhante do Pai Obscuro" (o Espaço).

P. 4) Significa que não existe Luz, ou simplesmente não há nada para manifestá-la e
ninguém para percebê-la?
R. 4) Ambas as coisas. Em sentido objetivo, tanto a luz como as trevas são ilusões,
(Māyā); neste caso não se trata de Trevas como ausência de Luz, mas como um Princípio
primordial incompreensível que, sendo o próprio Absoluto, não tem forma para nossas
percepções intelectuais, nem cor, nem substancialidade, nem nenhuma outra coisa que
possa expressar-se com palavras.

P. 5) Quando surge a Luz dessas Trevas?


R. 5) Posteriormente, quando chega a primeira hora de manifestação.

P. 6) Então, a Luz é a primeira manifestação?


R. 6) É, depois de começar a diferenciação e somente na terceira etapa da evolução.
Tenham em mente que em filosofia usamos o termo "luz" num sentido dual: um, para
significar a luz eterna, absoluta, in potentia, sempre presente no seio das Trevas
desconhecidas, ou, em outras palavras, idêntica com estas; e o outro, como uma
Manifestação da heterogeneidade e como contraste para esta. Quem ler o Vishnu-Purāna,
35
por exemplo, entendendo-o, encontrará a diferença entre os termos bem expressados em
Vishnu: um com Brahmā e, no entanto, distinto dele. Ali, Vishnu é o eterno X, e ao mesmo
tempo é cada termo da equação. Ele é Brahmā, essencialmente matéria e espírito, que são
os dois aspectos primordiais de Brahmā, o Espírito sendo Luz abstrata17. Nos Vedas,
entretanto, encontramos Vishnu considerado em pouca estima, e nenhuma referência é
feita a Brahmā (o masculino).
17 No segundo capítulo dos Vishnu-Purāna (tradução de Horace Hayman Wilson, lemos:
"Parāsarā disse: "Glória ao inalterável, santo, eterno, supremo Vishnu, de natureza universal, o
onipotente: a ele, que é Hiranyagarbha, Hari, e Sankara, o criador, preservador e destruidor do mundo; a
Vāsudeva, o libertador de seus adoradores; a ele, cuja essência é ao mesmo tempo simples e múltipla; que
é sutil e corpóreo, indiferente e discreto; a Vishnu, causa final de toda emancipação. Glória ao supremo
Vishnu, causa da criação, existência, e fim deste mundo; que é a raiz do mundo, e que consiste do mundo."
E novamente: "Quem pode descrever aquele que não pode ser apreendido pelos sentidos: que é o
melhor de todas as coisas; a Alma Suprema, que existe por si mesma; que não tem nenhuma das
características que distinguem a forma, casta ou semelhante; que não tem nascimento, vicissitudes, nem
morte nem decadência: que é sempre, e sozinho: que está em todas as partes e no qual todas as coisas
aqui existem; e que, portanto, é chamado Vāsudeva? Ele é Brahman (neutro), supremo, senhor, não
nascido, imperecível, que não decai; de uma só essência; sempre puro, assim como livre de defeitos. Ele,
esse Brahman, foi (é), todas as coisas; compreendendo em sua própria natureza o indiscreto e o discreto."
(Este tema é tratado no Livro I, cap. II, dos Vishnu-Purāna, e pode-se encontrar nas páginas 13-15, e
17-18 da tradução de Horace Hayman Wilson).

P. 7) Qual é o significado da frase "Pai, Mãe e Filho eram uma vez mais um"?
R. 7) Significa que os Logoi, o "Pai" não manifestado, a "Mãe" semi manifestada, e o
Universo, que é o terceiro Logos de nossa filosofia, Brahmā, durante o (periódico) Pralaya,
eram mais uma vez; pois a essência diferenciada voltara a ser indiferenciada. A frase, "Pai,
Mãe e Filho" é o antítipo [protótipo] da forma cristã - Pai, Filho e Espírito Santo - o último
dos quais sendo, entre os primeiros cristãos e gnósticos, a feminina "Sophia". Significa que
todas as forças criadoras e sensitivas, e seus efeitos, os quais constituem o Universo,
haviam retornado a seu estado primordial; tudo havia se fundido em um. Durante os
Mahapralayas não existe nada, a não ser o Absoluto.

P. 8) Quais são os diferentes significados de Pai, Mãe e Filho? No Comentário, eles


são explicados como (a) Espírito, Substância e Universo; (b) Espírito, Alma e Corpo; (c)
Universo, Cadeia Planetária e Homem.
R. 8) Acabei de completar isto com minha definição extra, que creio ser clara. Não há
nada que acrescentar a esta explicação, a menos que comecemos a antropomorfizar os
conceitos abstratos.

P. 9) Tomando os últimos termos das três séries, as ideias de Filho, Universo, Homem
e Corpo, eles correspondem um ao outro?
R. 9) Naturalmente que sim.

P. 10) E cada um destes termos é produzido pelo par restante de termos de cada
trindade; por exemplo, o Filho do Pai e da Mãe; os homens da Cadeia e do Universo, etc., e
finalmente no Pralaya o filho se funde novamente com seus pais?
36
R. 10) Antes de a pergunta ser respondida, você deve recordar que não se está
falando do período que precede a assim chamada Criação; mas apenas de quando a
matéria havia começado a diferenciar-se, e não havia assumido ainda nenhuma forma. Pai-
Mãe é um termo composto que representa a Substância Primordial ou Espírito-Matéria.
Quando, através da diferenciação começa a transitar da Homogeneidade para a
Heterogeneidade, transforma-se em positiva e negativa; desse modo, do "estado-Zero" (ou
Laya) converte-se em ativa e passiva, em vez de somente nesta última; e como
consequência desta diferenciação (cuja resultante é a evolução e o subsequente Universo)
o "Filho" é produzido, sendo este "Filho" o mesmo Universo, ou Cosmos manifestado, até
um novo Mahāpralaya.

P. 11) Ou - o estado derradeiro em Laya ou no ponto zero, como no princípio, antes


do estado de Pai, Mãe e Filho?
R. 11) Em A Doutrina Secreta se faz somente uma leve referência àquilo que havia
antes do período de Pai-Mãe. Se existe Pai-Mãe, naturalmente não pode haver uma
condição como Laya.

P. 12) Portanto, Pai, Mãe são uma condição posterior à de Laya?


R. 12) Exatamente; os objetos individuais podem estar em Laya, mas não o Universo
quando aparece o Pai-Mãe.

P. 13) É Fohat um dos três: Pai, Mãe e Filho?


R. 13) Fohat é um termo genérico e é usado em muitos sentidos. É a luz (Daiviprakriti)
dos três Logoi, os símbolos personificados das três etapas espirituais, de Evolução. Fohat é
o agregado de todas as ideações criativas espirituais acima, e de todas as forças criativas e
eletrodinâmicas abaixo, no Céu e na Terra. Parece haver uma grande confusão e mal-
entendido com relação ao Primeiro e Segundo Logos. O primeiro é a já presente e todavia
ainda não manifestada potencialidade, no seio do Pai-Mãe; o Segundo é a abstrata
coletividade de criadores chamada pelos gregos de "Demiurgos", ou os "Construtores" do
Universo. O terceiro Logos é a diferenciação final do Segundo e a individualização das
Forças Cósmicas, das quais Fohat é o chefe; porque Fohat é a síntese dos Sete Raios
Criadores ou Dhyan-Chohans que procedem do terceiro Lagos.

P. 14) Durante o Manvantara, quando o Filho está em manifestação ou está desperto,


o Pai-Mãe existe independentemente ou apenas como manifestado no Filho?
R. 14) Ao usarmos os termos Pai, Mãe e Filho, deveríamos nos precaver para
evitarmos antropomorfizar o conceito; os dois primeiros são simplesmente as forças
centrífuga e centrípeta e seu produto é o "Filho"; além do mais, é impossível excluir um ou
outro destes fatores da concepção da Filosofia Esotérica.

P. 15) Se é assim, então surge esta outra questão: é possível conceber as forças
centrifuga e centrípeta como forças que existem independentemente dos efeitos que
produzem. Os efeitos são considerados sempre como secundários à causa ou causas.
R. 15) Porém é muito duvidoso se essa concepção pode se sustentar ou aplicar-se à
37
nossa simbologia; se estas forças existem, devem produzir efeitos, e se os efeito cessam, as
forças cessam com eles, mas quem pode conhecê-las?

P. 16) Mas elas existem como entidades separadas para fins matemáticos, não
existem?
R. 16) Isso é algo diferente; existe uma grande diferença entre a natureza e a ciência,
a realidade e o simbolismo filosófico. Pela mesma razão dividimos o homem em sete
princípios, mas isso não significa que ele tenha, digamos assim, sete peles ou entidades ou
almas. Estes princípios são todos aspectos de um único princípio, e mesmo este princípio
não é senão um raio temporal e periódico da Chama ou Fogo Uno, eterno e infinito.

Sloka (6) OS SETE SENHORES SUBLIMES E AS SETE VERDADES HAVIAM DEIXADO DE


SER, E O UNIVERSO, O FILHO DA NECESSIDADE ESTAVA IMERSO EM PARANISHPANNA (a
perfeição absoluta, Paranirvāna, que é Yong-Grüb) PARA SER EXALTADO POR AQUILO QUE
É E NO ENTANTO NÃO É. NADA EXISTIA.

Sloka (7) AS CAUSAS DA EXISTÊNCIA HAVIAM SIDO SUPRIMIDAS; O VISÍVEL QUE FOI E
O INVISÍVEL QUE É REPOUSAVAM NO ETERNO NÃO SER, O ÚNICO SER.

P. 1) Se as "Causas da Existência" haviam sido suprimidas, como voltaram outra vez à


existência? Nos Comentários, é dito que a causa principal da existência é "o desejo de
existir", mas neste sloka, o Universo é chamado "filho da necessidade".
R. 1) A frase "as causas da existência haviam sido suprimidas" refere-se ao último
Manvantara ou idade de Brahmā; mas a causa que faz girar a Roda do Tempo e do Espaço
na Eternidade, a qual está fora do Tempo e do Espaço, nada tem a ver com as causas finitas
ou o que chamamos Nidānas. A mim me parece que não há contradição nas afirmações.

P. 2) Há certamente um contraste. Se as causas da existência haviam sido suprimidas,


como retornaram à existência? A resposta resolve a dificuldade, porque se declara que um
Manvantara desapareceu em Pralaya, e que a causa que levou à existência o Manvantara
anterior agora está além dos limites de Tempo e Espaço, e, portanto, faz com que outro
Manvantara venha à existência.
R. 2) Assim é. Esta causa una e eterna e, portanto, "causa sem causa", é imutável e
não tem nada a ver com as causas de nenhum dos planos que concernem aos seres finitos e
condicionados. Portanto, de nenhum modo pode implicar uma consciência finita ou um
desejo. É um absurdo postular desejo ou necessidade do Absoluto; o som de um relógio
não sugere que o relógio tenha desejo de soar.

P. 3) Mas o relógio tem cordas e necessita de alguém que lhe dê corda.


R. 3) O mesmo pode ser dito do Universo e de sua causa, o Absoluto, pois, por ser
Absoluto contém tanto o relógio como aquele que lhe dá corda; a única diferença que ao
primeiro se dá corda no Espaço e no Tempo, e ao último fora do Tempo e do Espaço, ou
seja, na Eternidade.
38
P. 4) A questão, em realidade, requer uma explicação da causa da diferenciação
dentro do Absoluto.
R. 4) Isso está fora das fronteiras da especulação legítima. Parabrahman não é uma
causa, nem existe uma causa que possa obrigá-lo a emanar ou a criar-se. Estritamente
falando, Parabrahman não é nem mesmo o Absoluto, mas a Absolutividade. Parabrahman
não é a causa, mas a causalidade, ou o poder propulsor, não o volitivo, em toda Causa que
se manifesta. Podemos ter uma ideia confusa de que existe algo assim como esta eterna
Causa sem Causa ou Causalidade. Mas é impossível defini-la. Em "Conferências sobre a
Bhagavad-Gitā", do Sr. Subba Row, é dito que logicamente, nem mesmo o Primeiro Logos
pode conhecer a Parabrahman, mas apenas a Mūlaprakriti, seu véu. Portanto, se não
temos nem mesmo uma clara ideia de Mūlaprakriti, o primeiro aspecto básico de
Parabrahman, o que podemos saber do Todo Supremo, que está velado por Mūlaprakriti
(a raiz da Natureza ou Prakriti), mesmo para o Logos?

P. 5) Qual é o significado da expressão no sloka 7, "o visível que foi, e o invisível que
é"?
R. 5) "O visível que foi" refere-se ao Universo do Manvantara passado, que passara
para a Eternidade e não mais existia. "O invisível que é" significa a deidade eterna, sempre
presente e invisível, à qual damos muitos nomes, tais como Espaço abstrato, Sat Absoluto,
etc., e da qual em realidade nada conhecemos.

Sloka (8) A FORMA UNA DE EXISTÊNCIA, SEM LIMITES, IINFINITA, SEM CAUSA,
PERMANECIA SOZINHA, EM UM SONO SEM SONHOS; E A VIDA PULSAVA INCONSCIÊNTE NO
ESPAÇO UNIVERSAL, EM TODA A EXTENSÃO DAQUELA ONIPRESENÇA QUE O OLHO ABERTO
DE DANGMA PERCEBE.

P. 1) O "Olho" se abre para o Absoluto, ou "a forma una de existência" e a


"Onipresença" são distintas do Absoluto ou são nomes diferentes do mesmo Princípio?
R. 1) Tudo é um, naturalmente; são simplesmente expressões metafóricas. Por favor,
observe que não se diz que o "Olho" vê"; mas que apenas "percebe" a "Onipresença.

P. 2) Então, é através deste "Olho" que recebemos tal percepção, ou sensação, ou


consciência?
R. 2) É através desse "Olho", com certeza; mas então é necessário ter esse "Olho"
antes de poder ver, ou converter-se em um Dangma ou Vidente.

P. 3)A mais elevada faculdade espiritual,presumivelmente?


R. 3) Muito bem; mas onde estava, naquela etapa, seu feliz possuidor? Não havia
Dangma para perceber a "Onipresença", porque ainda não havia homens.

P. 4) Com referência ao sloka 6, é dito que a causa da Luz foram as Trevas.


R. 4) Aqui novamente a palavra Trevas deve ser lida num sentido metafórico. São
Trevas, sem nenhuma dúvida para nosso intelecto, porque não podemos saber nada delas.
39
Já lhe disse que nem Trevas nem Luz devem ser usadas no sentido de opostos, como no
mundo diferenciado. Trevas é o termo que dará lugar a mínima confusões. Por exemplo, se
fosse usado o termo "Caos", facilmente seria confundido com a matéria caótica.

P. 5) O termo luz, naturalmente, nunca foi usado para indicar a luz física?
R. 5) Naturalmente que não. Aqui luz é a primeira potencialidade despertando de sua
condição Laya para converter-se em potência; é o primeiro estremecimento na matéria
indiferenciada que a lança na objetividade e num plano a partir do qual começará a
manifestação.

P. 6) Mais adiante, em "A Doutrina Secreta" se diz que a luz se faz visível por meio das
trevas, ou melhor ainda, que as trevas existiam originalmente e que a luz é o resultado da
presença de objetos que a refletem, ou seja, dos objetos do mundo objetivo. Agora, vejamos
um globo de água atravessando uma descarga elétrica; acharemos que esta descarga é
invisível, a menos que na água haja partículas opacas, em cujo caso se verão pontinhos de
luz. Esta é uma boa analogia?
R. 6) É uma ilustração muito clara, creio.

P. 7) Não é a luz uma forma diferenciada de vibração?


R. 7) Assim nos diz a Ciência; e o Som o é também. E deste modo vemos que os
sentidos são, de certo modo, intercambiáveis. Como você explicaria, por exemplo, que um
clarividente, em estado de transe, possa ler uma carta colocada às vezes em sua fronte, na
planta dos pés ou na boca do estômago?

P. 8) É um sentido adicional?
R. 8) De maneira nenhuma; é simplesmente que o sentido da visão pode ser
intercambiado com o sentido do tato.

P. 9) Mas o sentido da percepção não é o começo do sexto sentido?


R.9) Isso é ir além do caso que estamos tratando, o qual é simplesmente um
intercâmbio dos sentidos do tato e da visão. Tais clarividentes, no entanto, não poderão
dizer o conteúdo de uma carta que não tenham visto ou com a qual não tenham estado em
contato; isto requer a prática do sexto sentido: o primeiro é um exercício dos sentidos no
plano físico, e o último é o exercício de um sentido no plano superior.

P. 10) Segundo a fisiologia, parece muito provável que todos os sentidos possam
resolver-se no sentido do tato, que poderia ser chamado o sentido coordenador. Chega-se a
esta dedução a partir de investigações embriológicas, as quais mostram que o sentido do
tato é o primeiro e fundamental sentido, e que todos os demais evolucionam dele. Todos os
sentidos, portanto, são formas de tato mais altamente especializadas ou diferenciadas.
R. 10) Este não é o ponto de vista da Filosofia Oriental; no Anugita, lemos uma
conversação entre "Brahman" e sua esposa com relação aos sentidos, dos quais se diz que
são sete, sendo os outros dois, segundo o Sr. Tribak Telang, e segundo a tradução do prof.
Max Muller, "mente e compreensão"; entretanto, estes termos não transmitem o correto
40
significado dos termos sânscritos. Agora, o primeiro sentido, de acordo com os hindus, está
relacionado com o som. Este dificilmente pode ser o sentido do tato.

P. 11) Ao dizer tato muito provavelmente se queira dizer sensibilidade, ou algum


meio sensível?
R. 11) Na Filosofia Oriental, entretanto, manifesta-se primeiro o sentido do som, e
em seguida o sentido da visão, os sons convertendo-se em cores. Os clarividentes podem
ver os sons e detectar cada nota e modulação muito mais distintamente do que através do
ordinário sentido da vibração do som, ou audição.

P. 12) Então, o som é percebido como um tipo de movimento rítmico?


R. 12) Sim; e estas vibrações podem ser vistas à maior distância das que podem ser
escutadas.

P. 13) Mas supondo que o ouvido físico deixasse de ouvir e que uma pessoa
percebesse os sons de maneira clarividente; esta sensação não poderia ser traduzida em
clariaudiência também?
R. 13) Certamente num certo ponto é possível que um sentido se funda no outro.
Deste modo também os sons podem ser traduzidos em gosto. Existem sons que soam
muito "ácidos" na boca de alguns sensitivos, enquanto que outros geram um gosto de
doçura; de fato, toda a escala de sentidos é suscetível de correlação.

P. 14) Então, deve existir a mesma extensão para o sentido do olfato?


R. 14) É muito natural, como já demonstramos anteriormente. Os sentidos são
intercambiáveis, uma vez que admitamos sua correlação. Ademais, todos podem ser
modificados ou intensificados de modo muito considerável. Agora você entenderá a
referência nos Vedas e nos Upanishads, onde se diz que os sons são percebidos.

P. 15) No último número da "Harper's Magazine" apareceu uma curiosa história de


uma tribo que vive numa ilha dos Mares do Sul, que virtualmente perdeu o costume de
falar. Entretanto, pareciam compreender-se mutuamente e simplesmente ver o que cada
um dos demais pensava.
R. 15) Tal "Palácio da Verdade" dificilmente se adaptaria à nossa sociedade moderna.
Entretanto, se diz que foi justamente por tais meios que as primeiras raças se comunicavam
umas com as outras, o pensamento tomando forma objetiva, antes que a fala se
desenvolvesse em diferentes linguagens faladas. Sendo assim, então deve ter havido um
período durante a evolução das raças humanas no qual toda a humanidade estava
composta de sensitivos e clarividentes.

41
Reunião realizada na Rua Lansdowne, n° 17, Londres, W., no dia 31 de janeiro de
1889, sob a presidência do Sr. T. B. Harbottle.

ESTÂNCIA I [continuação]

P. 1) Com referência ao sloka (6), onde se fala dos "Sete Senhores", já que é possível
surgir uma confusão com relação à correta aplicação dos termos, qual é a diferença entre
Dhyan-Chohans, Espíritos Planetários, Construtores e Dhyani-Buddhas?
R. 1) Como seriam necessários dois volumes adicionais de A Doutrina Secreta para
explicar todas as Hierarquias, omitiu-se, portanto, das Estâncias e dos Comentários muito
do que está relacionado com elas. No entanto, podemos tentar uma breve definição.
Dhyan-Chohan é um nome genérico para todos os Devas, ou Seres Celestiais. Um Espírito
Planetário é o governante de um planeta, uma espécie de deus finito ou pessoal. Contudo,
existe uma diferença marcante entre os Governantes dos Planetas Sagrados e os
Governantes de uma "pequena" cadeia de mundos como a nossa. Não há uma objeção
séria em se dizer que a Terra tem, entretanto, seis companheiros invisíveis e quatro planos
diferentes, como todo outro planeta, porque a diferença entre eles é vital em muitos
pontos. Digam o que quiserem, nossa Terra nunca foi contada entre os sete planetas
sagrados da antiguidade, embora, na astrologia exotérica popular, fosse o substituto de um
planeta sagrado, agora perdido de vista pelos astrônomos, e, todavia, bem conhecido para
os especialistas Iniciados. Tampouco o Sol e a Luz figuravam nesse número, embora aceitos
na atualidade pela astrologia moderna; porque o Sol é uma Estrela Central, e a Lua, um
planeta morto.

P. 2) Nenhum dos seis globos da cadeia "terrestre” foi contado entre os planetas
sagrados?
R. 2) Nenhum. Estes últimos foram todos planetas em nosso plano, e alguns deles
foram descobertos mais tarde.

P. 3) A senhora não poderia nos dizer algo dos planetas para os quais o Sol e a Lua
foram os substitutos?
R. 3) Não há nenhum segredo nisso, embora nossa moderna astrologia ignore estes
planetas. Há um planeta intramercurial, que se supõe ter sido descoberto, e ao qual foi
dado por antecipação o nome de Vulcano; e o outro, um planeta com um movimento
retrógrado, às vezes visível em certas horas da noite e aparentemente próximo da Lua. A
influência oculta deste planeta é transmitida pela Lua.

P. 4) O que é que fez esses planetas serem considerados sagrados ou secretos?


R. 4) Sua influência oculta, até onde sei.

P. 5) Então, os Espíritos Planetários dos Sete Planetas Sagrados pertencem a uma


Hierarquia diferente daquela da Terra?
R. 5) Evidentemente; já que o espírito terrestre18 é de um grau muito elevado. Deve-
42
se recordar que o espírito planetário nada tem a ver com o homem espiritual, mas com as
coisas materiais e os seres cósmicos. Os deuses e governantes de nossa Terra são
Governantes cósmicos; ou seja, eles dão a forma e a estrutura à matéria cósmica, motivo
pelo qual foram chamados Cosmocratores. Nunca tiveram algo a ver com o espírito; os
Dhyani-Buddhas, que pertencem a uma hierarquia totalmente diferente, estão
especialmente relacionados com o espírito.
18 No original em inglês: the terrestrial spirit of the Earth. (Nota do trad.)

P. 6) Estes sete Espíritos Planetários, portanto, nada têm a ver em realidade com a
Terra, exceto ocasionalmente?
R. 6) Pelo contrário, os "Planetários" - que não são os Dhyani-Buddhas - têm tudo a
ver com a Terra, física e moralmente. São eles que governam seu destino e a sorte dos
homens. Eles são os agentes kármicos.

P. 7) Eles têm algo a ver com o quinto princípio, o Manas superior?


R. 7) Não; eles nada tem a ver com os três princípios superiores; no entanto, têm algo
a ver com o quarto. Então, recapitulando: o termo "Dhyan-Chohan" é um nome genérico
para todos os seres celestiais. Os "Dhyani-Buddhas" têm a ver com a tríade superior
humana em uma forma misteriosa, que não há por que explicá-la aqui. Os "Construtores"
são uma classe chamada, como já expliquei, os Cosmocratores, ou os invisíveis mas
inteligentes Maçons, que modelam a matéria de acordo com o plano ideal, preparado para
eles no que chamamos Ideação Divina e Cósmica. Os primeiros maçons deram o nome de
"O Grande Arquiteto do Universo" coletivamente, mas agora os modernos maçons fazem
de seu G.A.D.U. uma Deidade pessoal e singular.

P. 8) Não são eles Espíritos Planetários também?


R. 8) Num sentido são, posto que a Terra é também um Planeta, mas de ordem
inferior.

P. 9) Eles atuam sob a orientação do Espírito Planetário Terrestre?


R. 9) Acabei de dizer que coletivamente eles mesmos eram esse Espírito. Gostaria que
compreendessem que eles não são uma Entidade, uma espécie de deus pessoal, mas Forças
da Natureza atuando sob uma Lei imutável, sobre cuja natureza é certamente inútil para
nós especular.

P. 10) Mas não existem Construtores do Universo, e Construtores de Sistemas, como


existem Construtores de nossa Terra?
R. 10) Certamente existem.

P. 11) Então, os Construtores terrestres são um "Espírito Planetário" como o restante


deles, e somente de uma classe inferior?
R. 11) Eu diria que certamente é assim.

P. 12) São inferiores de acordo com o tamanho do Planeta ou são inferiores em


43
qualidade?
R. 12) Inferiores em qualidade, como fomos ensinados. Veja, os antigos não tinham
nosso conceito moderno, especialmente o teológico, que faz desta nossa partícula de barro
algo inefavelmente maior que qualquer outro dos planetas e estrelas que conhecemos. Se,
por exemplo, a Filosofia Esotérica ensina que o "Espírito" (de novo coletivamente) de
Júpiter é muito superior ao Espírito Terrestre, não é porque Júpiter é muitíssimas vezes
maior que nossa Terra, mas porque sua substância e textura são muito mais sutis e
superiores às da Terra. E é em proporção a esta qualidade que as Hierarquias dos
respectivos "Construtores Planetários" se refletem e atuam sobre as ideações que
encontram planejadas para eles na Consciência Universal, o verdadeiro Grande Arquiteto
do Universo.

P. 13) A Alma do Mundo, ou "Anima Mundi"?


R.13) Chame-a assim, se quiser. É o Antítipo destas Hierarquias, que são suas classes
diferenciadas. O único Grande Arquiteto do Universo impessoal é MAHAT, a Mente
Universal. E Mahat é um símbolo, uma abstração, que assume um aspecto nebuloso, uma
forma de entidade em todas as concepções materializantes do homem.

P. 14) Qual é a verdadeira diferença entre os Dhyani-Buddhas nos conceitos ortodoxo


e esotérico?
R. 14) Filosoficamente, uma diferença muito grande. Eles, como Devas superiores,
são chamados Bodhisattvas pelos budistas. Exotericamente são cinco em número,
enquanto que segundo as escolas esotéricas são sete, e não simples Entidades, mas
Hierarquias. Em A Doutrina Secreta é mencionado que já vieram cinco Buddhas e que mais
dois hão de vir nas raças sexta e sétima. Exotericamente, seu chefe é Vajrasattva, a
"Inteligência Suprema" ou "Buddha Supremo"; porém, mais transcendental ainda é
Vajradhara, do mesmo modo que Parabrahman transcende a Brahmã ou Mahat. Assim, os
significados exotérico e oculto dos Dhyani-Buddhas são totalmente diferentes.
Exotericamente, cada um é uma trindade, três em um, manifestando-se os três
simultaneamente nos três mundos - como um Buddha humano na Terra, como Dhyani-
Buddha no mundo das formas astrais, e um Arūpa, ou sem forma, Buddha no reino
Nirvānico mais elevado. Portanto, para um Buddha humano, uma encarnação de um destes
Dhyanis, a permanência sobre esta Terra está limitada de sete a sete mil anos em vários
corpos, posto que, como homens, estão sujeitos às condições normais, acidentes e morte.
Na Filosofia Esotérica, por outro lado, isto significa que somente cinco dos "Sete Dhyani-
Buddhas", ou melhor, das Sete Hierarquias destes Dhyanis, que no misticismo budista são
idênticos às superiores Inteligências encarnantes, ou os Kumāras dos hindus, cinco
apareceram até agora na Terra, em uma sucessão regular de encarnações, os últimos dois
devendo vir durante as sexta e sétima Raças-Raízes. Isto é, mais uma vez, semialegórico, se
não inteiramente. Pois a sexta e a sétima Hierarquias já encarnaram nesta Terra junto com
o restante. Mas como alcançaram o assim chamado "Buddhado", quase desde o começo da
quarta Raça Raiz, se diz que descansam desde então em uma consciente bem-aventurança
e liberdade, até o princípio da Sétima Ronda, quando guiarão a Humanidade como uma
nova raça de Buddha . Estes Dhyanis estão relacionados somente com a Humanidade, e,
44
estritamente falando, somente com os "princípios" superiores do homem.

P. 15) Os Dhyani-Buddhas e os Espíritos Planetários a cargo dos globos entram em


pralaya quando seus planetas entram nesse estado?
R. 15) Somente ao final da sétima Ronda e não entre as rondas, porque devem vigiar
o funcionamento das leis durante estes pralayas menores. Detalhes mais completos sobre
esse assunto já foram escritos no terceiro volume de A Doutrina Secreta. Mas todas essas
diferenças são, de fato, meramente funcionais, porque são todos aspectos da única e
mesma Essência.19
19 Na atualidade, não se sabe que exista algum material sobre este tema. O volume publicado em 1897 e
intitulado A Doutrina Secreta, Volume III, não contém nada que trate mesmo remotamente deste tema
geral. A declaração de H.P.B. parece confirmar a crença de que certos outros manuscritos existiram num
determinado momento, embora seu destino último permaneça inteiramente indeterminado. (Nota do
comp. Boris de Zirkoff)

P. 16) A hierarquia de Dhyanis, cuja função é velar por uma Ronda, vigiam durante
seu período de atividade toda a série de globos, ou somente um globo em particular?
R. 16) Há Dhyanis encarnados e Dhyanis que vigiam. Você acabou de ouvir sobre as
funções dos Dhyanis da primeira categoria; os últimos parecem levar a cabo sua tarefa da
maneira seguinte. Cada classe ou hierarquia corresponde a uma das Rondas: a primeira e
inferior hierarquia corresponde à primeira e menos desenvolvida Ronda; a segunda, à
segunda Ronda; e assim sucessivamente até chegar à sétima Ronda, a qual está sob
supervisão da mais elevada Hierarquia dos sete Dhyanis. Por último, eles aparecerão sobre
a Terra, como também o farão alguns dos Planetários, porque toda a humanidade se terá
convertido em Bodhisattvas, seus próprios filhos", ou seja, os "Filhos" do próprio Espírito e
Essência deles ou eles mesmos. Desse modo, há apenas uma diferença funcional entre os
Dhyanis e os Planetários. Uns são inteiramente divinos, os outros são siderais. Os primeiros
são chamados somente Anupãdakas20 sem pais, porque saíram diretamente d'Aquele que
não é nem Pai nem Mãe mas o Logos imanifestado. Eles são, de fato, o aspecto espiritual
dos sete Logoi; e os Espíritos. Planetários são em sua totalidade, como os sete Sephiroth
(sendo os três superiores abstrações supercósmicas, e ocultos na Cabala), e constituem o
homem Celestial, ou Adam Kadmon. Dhyani, no Budismo, é um nome genérico uma
abreviação para todos os deuses. Contudo, deve-se recordar sempre que embora sejam
"deuses", não devem, no entanto, ser adorados.
20 Este termo sânscrito aparece em uma forma mal escrita em muitos lugares de todos os
escritos de H.P.B .. Sua forma correta.e Anupapādaka, de An: não; upa: de acordo com; e da
forma causativa da raiz verbal pad: proceder. Portanto, este termo significa “o que não
procede de acordo com uma sucessão regular”, ou seja, o que e nascido por si mesmo, ou
sem pais. (Nota do Comp.)

P. 17) Por que não, se são deuses?


R. 17) Porque a Filosofia Oriental rechaça a ideia de uma divindade pessoal e
extracósmica. E para os que chamam isso de ateísmo, eu gostaria de dizer o seguinte. É
ilógico adorar um desses deuses, porque, como se diz na Bíblia, "Há muitos Senhores e
muitos Deuses". Portanto, se desejamos adorar, devemos escolher ou a adoração de
45
muitos deuses, sendo cada um não melhor nem menos limitado que o outro, ou seja,
politeísmo e idolatria; ou escolher, como fizeram os israelitas, um deus tribal e racial entre
eles, e embora creiam na existência de muitos deuses, ignoram e mostram desprezo pelos
demais, considerando o nosso como o mais elevado e como o "Deus dos Deuses". Porém,
logicamente isso é insustentável, porque tal deus não pode ser infinito nem absoluto, mas
deve ser finito, ou seja, limitado e condicionado pelo tempo e o espaço. Com o Pralaya o
deus tribal desaparece, e Brahmā e todos os outros Devas e os deuses se fundem no
Absoluto. Por esta razão os ocultistas não os adoram nem lhes oferecem orações, porque,
se o fizéssemos, deveríamos adorar a muitos deuses ou fazer preces ao Absoluto, o qual,
não tendo atributos, não pode ter ouvidos para nos ouvir. Aquele que adora a muitos
deuses, necessariamente deve ser injusto para com todos os outros deuses; e por mais que
ele estenda sua adoração, é simplesmente impossível para ele adorar a cada um
separadamente; e em sua ignorância, se escolhe algum em particular, de modo algum sabe
escolher o mais perfeito. Portanto, ele faria muito melhor se recordasse que todo homem
tem um deus dentro de si, um raio direto do Absoluto, o raio celestial do Único; que tem
seu "deus" dentro de, e não fora, de si.

P. 18) Existe algum nome que se possa aplicar à Hierarquia ou espírito planetário que
cuida de toda a evolução de nosso próprio globo, tal como Brahmā, por exemplo?
R. 18) Nenhum, exceto o nome genérico, já que é um setenário e uma Hierarquia; em
verdade, a menos que o chamemos, como fazem alguns cabalistas: "o espírito da Terra".

P. 19) É muito difícil recordar todas estas infinitas Hierarquias de deuses.


R. 19) Não mais difícil do que resulta para um químico recordar os intermináveis
símbolos da química, se for um especialista. Entretanto, somente na Índia existem mais de
300 milhões de deuses e deusas. Os Manus e os Rishis são também deuses planetários,
porque se diz que apareceram no início das raças humanas para cuidarem da evolução, e
que encarnaram e desceram à Terra subsequentemente a fim de ensinarem à humanidade.
São, então, os Sapta Rishis, os "Sete Rishis", que exotericamente se diz que residem na
constelação da Ursa Maior. Também existem deuses planetários.

P. 20) São superiores a Brahmã?


R. 20) Depende em que aspecto Brahmā é enfocado. Na Filosofia Esotérica, ele é a
síntese dos sete Logoi. Na teologia exotérica, é um aspecto de Vishnu, para os vaishnavas,
junto com outros mais, como na Trimurti, a Trindade hindu, em que Brahmā é o principal
Criador, enquanto Vishnu é o Preservador, e Shiva o Destruidor. Na Cabala ele é certamente
Adam Kadmon, o homem "masculino-feminino" do primeiro capítulo de Gênesis.
Porque os Manus procedem de Brahmā, assim como os Sephiroth provêm de Adam
Kadmon, e eles também são sete e dez, segundo exijam as circunstâncias.
Mas agora podemos passar para outro Sloka da Estância, que você gostaria que fosse
explicado.

Sloka (9) MAS ONDE ESTAVA O DANGMA QUANDO O ALAYA DO UNIVERSO (Alma
como base de tudo, Anima Mundi) ESTAVA EM PARAMĀRTHA (Absoluto Ser e Consciência,
46
os quais são Absoluto Não Ser e Inconsciência) E A GRANDE RODA ERA ANUPĀDAKA?

P. 1) Significa "Alaya" aquilo que nunca se manifesta nem se dissolve, e que é


derivada de "a", a partícula negativa, e de “Laya"?
R. 1) Se etimologicamente for assim (e não estou preparada para lhe responder de
uma maneira ou de outra), significaria o contrário, já que Laya mesmo é justamente aquilo
que não é manifestado; portanto, Alaya significaria, se isso quer dizer algo: aquilo que não
é imanifestado. Qualquer que seja a vivissecção etimológica da palavra, é simplesmente a
"Alma do Mundo", Anima Mundi. Isto é demonstrado pelas próprias palavras do Sloka, que
fala de Alaya estando em Paramārtha, ou seja, no Absoluto Não Ser e Inconsciência, sendo
ao mesmo tempo perfeição absoluta ou a própria Absolutividade. Esta palavra, no entanto,
é o centro de discussão entre as escolas Yogāchārya e a Madhyamika do Budismo do Norte.
O escolasticismo da última faz de Paramārtha (Satya) algo dependente de, e, portanto,
relativo a, outras coisas, desse modo viciando toda a filosofia metafísica da palavra
"Absolutividade". A outra escola rechaça muito justamente esta interpretação.

P. 2) A Filosofia Esotérica não ensina as mesmas doutrinas que a Escola Yogāchārya?


R. 2) Não exatamente. Mas sigamos em frente.

47
ESTÂNCIA II
Sloka (1) ...ONDE ESTAVAM OS CONSTRUTORES, OS BRILHANTES FILHOS DA AURORA
DO MANVANTARA? ...NAS TREVAS DESCONHECIDAS EM SEU AR-HI (Chohânico, Dhyani-
Buddhico) PARANISHPANNA, OS PRODUTORES DA FORMA (rūpa), DERIVADA DA NÃO
FORMA (arūpa) - QUE É A RAIZ DO MUNDO -, ADEVAMATRI ("Mãe dos Deuses", Aditi ou
Espaço Cósmico. No "Zohar" é chamada Sephira, a Mãe dos Sephiroth e Shekinah em sua
forma primordial "in abscondito"). E SVABHAVAT, REPOUSAVA NA FELICIDADE DO NÃO SER.

P. 1) "Os luminosos Filhos da Aurora Manvantárica" são espíritos humanos perfeitos


do último Manvantara, ou estão a caminho de se tornarem humanos neste ou num
Manvatara subsequente?
R. 1) Neste caso, tratando-se de um Maha-manvantara depois de um Maha-pralaya,
eles são estes últimos. São os sete raios primordiais dos quais, por sua vez, emanarão todas
as outras vidas luminosas e não luminosas, sejam elas Arcanjos, Demônios, homens ou
macacos. Alguns foram e outros somente agora se converterão em seres humanos. Apenas
depois da diferenciação dos sete raios e depois que as sete forças da Natureza os tiverem
tomado em suas mãos e trabalhado sobre eles, é que eles se converterão em pedras
angulares ou em descartadas peças de barro. Portanto, tudo está nestes sete raios, mas
neste estágio é impossível dizer em qual, porque estes ainda não estão diferenciados e
individualizados.

P. 2) Na passagem seguinte, comentário (a) deste Sloka, é dito:


"Os 'Construtores', os 'Filhos da Aurora Manvantárica', são os verdadeiros criadores
do Universo; e nesta doutrina, que se ocupa apenas de nosso Sistema Planetário, eles,
como arquitetos do mesmo, são também chamados os 'Vigilantes' das Sete Esferas, que
exotericamente são os Sete planetas, e, esotericamente, as sete terras ou esferas (planetas)
de nossa cadeia também.”21
21 A Doutrina Secreta, VoI. I, p. 114, 115. (Nota do trad.)
Então, por sistema planetário se quer dizer o Sistema Solar ou a cadeia à qual pertence
a Terra?
R. 2) Os Construtores são aqueles que constroem e moldam as coisas numa forma. O
termo se aplica igualmente aos Construtores do Universo e dos pequenos globos, como os
de nossa cadeia. Por sistema planetário se entende apenas nosso Sistema Solar.

Sloka (2) "...ONDE ESTAVA O SILÊNCIO? ONDE OS OUVIDOS PARA PERCEBÊ-LO?


NÃO, NÃO HAVIA NEM SILÊNCIO NEM SOM..."

P. 1) Com relação à passagem seguinte: comentário (a) do sloka (2), seria correto
dizer que o que percebemos é um "elemento" diferente da mesma substância? Por
exemplo, quando uma substância se encontra em estado gasoso, poderia se dizer que é o
elemento Ar o que se percebe, e que quando se combinam para formar água, o oxigênio e o
hidrogênio aparecem sob a forma do elemento Água; e quando está em estado sólido, gelo,
48
então percebemos o elemento Terra?
"A ideia de que as coisas podem deixar de existir' ainda SER é fundamental na
psicologia oriental. Sob esta aparente contradição de termos, existe um fato na Natureza; e
é mais importante compreendê-lo do que discutir acerca das palavras. Um exemplo familiar
de um paradoxo semelhante é oferecido pela combinação química. A questão sobre se o
hidrogênio e o oxigênio deixam de existir quando se combinam para formar a água é ainda
discutida.”22
R. 1) Os ignorantes julgam tudo por sua aparência e não pelo que as coisas são em
realidade. Nesta Terra, naturalmente, a água é um elemento completamente distinto de
qualquer outro, usando este último termo no sentido de diferentes manifestações de um
elemento. Os elementos fundamentais, Terra, Ar, Água e Fogo são estados muito mais
abrangentes de diferenciação. Sendo esse o caso, em Ocultismo, a Transubstanciação se
converte em uma possibilidade, observando que nada do que existe é, em realidade, o que
se supõe ser.

P. 2) Mas o oxigênio, que usualmente se encontra em estado gasoso, pode ser


liquidificado e mesmo solidificado. Então, quando o oxigênio se encontra na condição de
gás, é o elemento oculto Ar que é percebido, e quando se encontra em estado líquido é o
elemento Água, e quando em estado sólido, é o elemento Terra?
R. 2) Muito seguramente: em primeiro lugar, temos o elemento Fogo, não o fogo
comum, mas o Fogo dos Rosacruzes Medievais, a chama una, o Fogo da Vida.
Na diferenciação, este se converte em diferentes aspectos do fogo. O Ocultismo
facilmente soluciona o dilema de se o oxigênio e o hidrogênio deixam de existir quando se
combinam para formar água. Nada do que está no Universo pode desaparecer dele.
Temporariamente, então, quando estes dois gases se combinam para formar água, estão in
abscondito, mas não deixaram de ser. Porque, se eles tivessem se aniquilado, a Ciência,
decompondo a água em oxigênio e hidrogênio, poderia ter criado algo a partir do nada, e,
portanto, não teria discussões com a Teologia. Assim, a água é um elemento, se
preferirmos chamá-lo deste modo, somente neste plano. Igualmente o oxigênio e o
hidrogênio, por sua vez, podem ser divididos em elementos mais sutis, sendo todos
diferenciações do elemento único ou essência universal.

P. 3) Então, todas as substâncias deste plano físico são, em realidade, as muitas


correlações e combinações destes elementos raízes, e em última instância, do elemento
único?
R. 3) Muito seguramente. Em Ocultismo é sempre melhor proceder dos universais
para os particulares.

P. 4) Aparentemente, então, toda a base do Ocultismo reside nisto, que em todo


homem está latente um poder que pode lhe outorgar o verdadeiro conhecimento, um poder
para perceber a verdade, que o capacita para lidar diretamente com os universais, se ele for
estritamente lógico e encarar os fatos. Assim, podemos avançar dos universais para os
particulares por meio desta força inata espiritual que reside em todo homem.
R. 4) Justamente: este poder é inerente a todos, mas está paralisado por nossos
49
métodos educacionais, e especialmente pelos métodos aristotélico e baconian As hipóteses
reinam agora triunfantes.

P. 5) É curioso ler Schopenhauer e Hartmann e notar como, passo a passo, por meio
de uma estrita lógica e puro raciocínio, eles chegaram às mesmas bases do pensamento
que havia sido adotado há séculos na Índia, especialmente pelo Sistema Vedantino.
Entretanto, pode-se muito bem objetar que eles chegaram a isso pelo método indutivo. Mas
ao menos no caso de Schopenhauer não foi assim. Ele próprio reconhecia que a ideia lhe
veio como um flash; tendo assim obtido sua ideia fundamental, começava a trabalhar para
ordenar seus fatos, de maneira que o leitor imaginasse que aquilo que era em realidade
uma ideia intuitiva, era uma lógica dedução extraída dos fatos.
R. 5) Isso não é apenas verdade para a Filosofia de Schopenhauer, mas também para
todos os grandes descobrimentos dos tempos modernos. Por exemplo, como Newton
descobriu a lei da gravidade? Não foi pela simples queda de uma maçã, nem por uma
elaborada série de experimentos. Tempo virá em que o método platônico não será tão
completamente ignorado e os homens olharão com agrado para os métodos educacionais
que lhes permitirão desenvolver esta que é a faculdade mais espiritual.

50
Reunião realizada na Rua Lansdowne, nº 17, Londres, W., no dia 7 de fevereiro de
1889, sob a presidência do Sr. W. Kingsland.

ESTÂNCIA II [continuação]

Sloka (3) A HORA AINDA NÃO HAVIA SOADO; O RAIO NÃO HAVIA BRILHADO DENTRO
DO GERME; A MĀTRlPADMA (Mãe Lótus) AINDA NÃO INTUMESCERA.

"O raio das 'Trevas Eternas' converte-se, ao ser emitido, em um raio de luz
resplandecente ou vida, e penetra no 'Germe' - o ponto no Ovo do Mundo, representado
pela matéria em seu sentido abstrato.”23
23 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 117. (Nota do trad.)

P. 1) O Ponto no Ovo do Mundo é o mesmo que o Ponto dentro do Círculo, o Logos


Imanifestado?
R. 1) Certamente não: o Ponto dentro do Círculo é o Logos Imanifestado; o Logos
Manifestado é o Triângulo. Pitágoras fala da nunca manifestada Mônada, que vive em
solidão e trevas; quando soa a hora, irradia de si mesma o UM, o primeiro número. Este
número ao descer produz o DOIS, o segundo número, e o DOIS, por sua vez, produz o TRES,
formando um triângulo, a primeira figura geométrica completa no mundo da forma. É o
triângulo ideal ou abstrato, o qual é o Ponto dentro do Ovo do Mundo, que, depois da
gestação, e no terceiro movimento, vai partir do Ovo para formar o Triângulo. Isto é
Brahmā-Vāch-Virāj da Filosofia Hindu e Kether-Chochmah-Binah no Zohar. O Primeiro Logos
Manifestado é a Potência, a Causa não revelada; o Segundo e o Pensamento ainda latente;
o Terceiro, o Demiurgo, a Vontade ativa, que evoluciona a partir de seu Eu universal, o
efeito ativo, o qual, por sua vez, torna-se a causa em um plano inferior.

P. 2) O que são as Trevas Eternas no sentido usado aqui?


R. 2) Trevas Eternas, suponho, significam o mistério sempre incognoscível, além do
véu, de fato, Parabrahman. Mesmo o Logos só pode ver Mūlaprakriti não pode ver além
do véu. Isso é o que são "as Sempre desconhecidas das Trevas".

P. 3) Com relação a isso, o que é o Raio?


R. 3) Recapitularei. Temos o plano do círculo sua superfície sendo negra; o ponto
dentro do círculo é potencialmente branco, e esta é para nossas mentes a primeira
concepção possível do Logos invisível. "As Trevas" são eternas, o Raio é periódico. Havendo
cintilado deste ponto central e tendo feito estremecer o Germe o Raio é absorvido
novamente dentro do ponto, e o Germe se converte em Segundo Logos, o triângulo dentro
do Ovo do Mundo.

P. 4) Quais são então as etapas de manifestação?


R. 4) O primeiro estágio é o aparecimento do ponto potencial dentro do círculo, o
Logos Imanifestado. O segundo estágio é o disparar do Raio, a partir do ponto branco
51
potencial, produzindo o primeiro ponto, chamado no Zohar, Kether ou Sephira. O terceiro
estágio é a produção, a partir de Kether, de Chochmah e Binah, deste modo constituindo o
primeiro triângulo, que é o Terceiro Logos ou Logos manifestado; em outras palavras, o
Universo subjetivo e objetivo. Ademais, deste Logos manifestado, emanarão os Sete Raios,
que no Zohar são chamados os Sephiroth inferiores, e no Ocultismo oriental os sete raios
primordiais. Daí procedem as inumeráveis séries de Hierarquias.

P. 5) O Triângulo mencionado aqui é aquilo ao qual a senhora se refere como o


Germe no Ovo do Mundo?
R. 5) Certamente. Mas você deve recordar que há um Ovo Universal e um Ovo Solar (e
outros), e que é necessário limitar qualquer declaração com relação a eles. O Ovo do
Mundo é uma expressão da Forma Abstrata.

P. 6) Pode-se dizer que a Forma Abstrata é a primeira manifestação do eterno


princípio feminino?
R. 6) É a primeira manifestação não do princípio feminino, mas do Raio que emana do
ponto central, o qual é perfeitamente assexual. Não existe um princípio feminino eterno,
porque este Raio produz aquilo que é a potencialidade dos dois sexos unidos, mas de
nenhum modo masculino ou feminino. Esta última diferenciação aparecerá somente
quando cair na matéria, quando o Triângulo se converte num Quadrado, a primeira
Tetraktys.

P. 7) Então, o Ovo do Mundo é tão assexual quanto o Raio?


R. 7) O Ovo do Mundo é simplesmente a primeira etapa da manifestação, matéria
primordial indiferenciada na qual o germe criador vital recebe seu primeiro impulso
espiritual; a Potencialidade converte-se em Potência.
A matéria, apenas metaforicamente, é considerada feminina, porque é receptiva aos
raios do Sol que a fecundam e produz assim tudo o que cresce em sua superfície, isto é,
neste, o plano mais inferior. Por outro lado, a matéria primordial deveria ser considerada
como substância e de nenhum modo pode-se dizer que tenha sexo.
Assim o Ovo,em qualquer plano que se fale, significa a matéria sempre existente e
indiferenciada, a qual, estritamente falando, não é nem matéria de maneira nenhuma, mas,
como nós a chamamos, os Átomos. A matéria é destrutível na forma, enquanto que os
Átomos são absolutamente indestrutíveis, sendo a quintessência das Substâncias. E aqui,
por átomos, quero dizer as Unidades divinas primordiais, e não os "átomos" da Ciência
moderna.
Similarmente, o "Germe" é uma expressão figurativa; o germe reside em todas as
partes, assim como o círculo, cuja circunferência não está em parte alguma e cujo centro se
encontra em todas as partes. Este, portanto, representa todos os germes, ou seja, a
natureza imanifestada, ou todo o poder criador que emanará, chamado Brahmā pelos
hindus, embora em cada plano tenha um nome diferente.

P. 8) A Matri-Padma é o Ovo eterno ou o periódico?


R. 8) É o Ovo eterno; tornar-se-á periódico apenas quando o raio do primeiro Logos
52
tiver reluzido do Germe latente na Matri-Padma, que é o Ovo, a Matriz do Universo que há
de ser. Por analogia, o germe físico na célula feminina não se poderia dizer que é eterno,
embora seja possível dizer isso do espírito latente do germe, oculto dentro da célula
masculina na Natureza.

Sloka (4) SEU CORAÇÃO AINDA NÃO ESTAVA ABERTO PARA RECEBER O RAIO ÚNICO,
E CAIR DEPOIS, COMO TRÊS EM QUATRO, NO REGAÇO DE MĀYĀ.

"Mas quando 'soa a hora' e se torna receptora da impressão Fohática do Pensamento


Divino (o Logos, ou aspecto masculino da Anima Mundi, Alaya), seu 'coração' se abre.”24
24 A Doutrina Secreta, VoI. I, p. 119. (Nota do trad.)

P. 1) A "impressão Fohática do Pensamento Divino" não corresponde a uma etapa


ulterior de diferenciação?
R. 1) Fohat, como força ou entidade distinta, é um desenvolvimento posterior.
"Fohático" é um adjetivo e pode ser usado em um sentido mais amplo; Fohat, como
substantivo ou Entidade, surge de um atributo Fohático do Logos. A eletricidade não pode
ser gerada por aquilo que não contém um princípio ou elemento elétrico. O princípio divino
é eterno; os deuses são periódicos. Fohat é a Shakti ou força da mente divina; Brahmā e
Fohat são, ambos, aspectos da mente divina.

P. 2) A intenção nos Comentários a esta Estância não é transmitir algumas ideias do


tema, falando das correspondências em uma etapa de evolução posterior?
R. 2) Exatamente isso; foi declarado várias vez que os Comentários do Primeiro
Volume se referem quase inteiramente à evolução do Sistema Solar, unicamente. A beleza
e sabedoria das Estâncias consistem em que podem ser interpretadas em sete planos
diferentes, o último refletindo - pela lei universal de correspondências e analogia, em seu
aspecto mais diferenciado, grosseiro e físico - os processos que têm lugar no plano primário
ou puramente espiritual. Devo estabelecer aqui, de uma vez por todas, que as primeiras
Estâncias tratam do despertar do Pralaya e não estão relacionadas apenas ao Sistema Solar,
enquanto e o Vol. II se refere somente à nossa Terra.

P. 3) A senhora poderia dizer qual é o verdadeiro significado da palavra Fohat?


R. 3) A palavra é um composto turaniano e são vários seus significados. Na China, Pho
ou Fo, indica "alma animal", a Nephesh vital ou alento de vida. Alguns dizem que deriva do
sânscrito Bhu, que quer dizer existência, ou melhor, a essência da existência. Agora,
Swāyambhū quer dizer Brahmā e Homem ao mesmo tempo. Significa autoexistência e
autoexistente, aquilo que é perpétuo, o eterno alento. Se Sat é a potencialidade do Ser, Pho
é a potência do Ser. O significado, entretanto, depende totalmente de onde se ponha o
acento. De novo, Fohat está relacionado com Mahat. É o reflexo da Mente Universal, a
síntese dos "Sete" e as inteligências dos sete Construtores criadores, ou, como os
chamamos, os Cosmocratores. Portanto, como você verá em nossa filosofia, a vida e a
eletricidade são um. É dito que a vida é eletricidade, e se é assim, então a Vida Una é a
essência e raiz de todos os fenômenos elétricos e magnéticos neste plano manifestado.

53
P. 4) Como é que se diz que Hórus e os outros "Deuses-Sol" nasceram "através de uma
Mãe Imaculada"?
R. 4) No primeiro plano de diferenciação não existe sexo, usando o termo por
conveniência, mas ambos os sexos existem potencialmente na matéria primordial. Matéria
é a raiz da palavra "Mãe" e, portanto, é feminina. A matéria indiferenciada, a matéria
primordial não é fecundada por algum ato no espaço e no tempo, pois a fertilidade e a
produtividade são inerentes a ela. Logo, aquilo que emana ou nasce por essa virtude
inerente não nasce "dela", mas "por meio dela". Em outras palavras, tal virtude ou
qualidade é a causa única de que este algo se manifeste através de seu veículo; enquanto
que no plano físico, a Mãe-matéria não é a causa ativa, mas o meio passivo e o instrumento
de uma causa independente.
Na Doutrina Cristã da Imaculada Conceição, uma materialização da concepção
metafísica e espiritual, a mãe é primeiro fecundada pelo Espírito Santo e o Filho nasce dela
e não através dela. "Dela" implica a existência de uma fonte limitada e condicionada da
qual surgir, devendo o ato ter lugar no Tempo e no Espaço. "Através de" é aplicável à
Eternidade e à Infinitude, assim como ao Finito. O Grande Alento palpita através do Espaço,
o qual é ilimitado, e existe na, e não a partir da eternidade.

P. 5) Como é que o Triângulo se converte no Quadrado e o Quadrado em um Cubo de


seis faces?
R. 5) Na Geometria oculta e pitagórica, é dito que a Tétrade combina dentro de si
mesma todos os materiais com os quais se produz o Cosmos. O Ponto ou Um se estende
para uma Linha, o Dois; uma Linha até uma Superfície, Três; e a Superfície, a Tríade ou
Triângulo, converte-se em um Sólido, a Tétrade ou Quatro, por meio do ponto colocado
sobre ele. Segundo a Cabala, Kether ou Sephira, o Ponto, emana Chochmah e Binah, os
quais são sinônimo de Mahat, nos Purānas hindus; e esta Tríade, descendo na matéria,
produz o Tetragrammaton, ou Tetraktys, como também a Tétrade inferior. Este número
contém os números produtores e os produzidos. A Dúade duplicada faz uma Tétrade, e a
Tétrade duplicada forma uma Hebdômada.25
25 Uma Tétrade duplicada seria oito ou uma Ogdoada, enquanto que uma Hebdômada implicaria sete.
Este pode ser um erro tipográfico, a menos que esteja implicado algum outro significado. Nós o deixamos
inalterado. (Nota do comp.)
De outro ponto de vista, é o Espírito, a Vontade e o Intelecto animando os quatro
princípios inferiores.

P. 6) Então, como o Quadrado se transforma no Cubo de seis faces?


R. 6) O Quadrado converte-se em Cubo quando cada ponto do Triângulo se torna
dual, masculino ou feminino. Os pitagóricos diziam "Uma vez um, duas vezes dois e aparece
uma Tétrade, tendo em sua cúspide a Unidade superior; esta converte-se em uma Pirâmide
cuja base é uma Tétrade plana; a luz divina que permanece nela forma o Cubo abstrato."
A superfície do Cubo está composta de seis quadrados, e o desdobramento do Cubo
dá a Cruz, ou o Quatro vertical cruzado pelo Três horizontal; o seis fazendo assim o Sete, os
sete princípios ou as sete propriedades pitagóricas do homem. Vejam a excelente
explicação disto oferecida no livro The Source of Measures, do Sr. J. R. Skinner:
"Assim temos a repetição, na Terra, daquele mistério que, segundo os videntes, se
54
realizou no plano divino. O Filho da Virgem Celeste Imaculada (ou o Prótilo Cósmico não
diferenciado, a Matéria em sua infinitude) nasce de novo na Terra como Filho da Eva
terrestre (nossa mãe Terra) e se torna a Humanidade como um todo - passado, presente e
futuro; porque Jehovah, ou Jod-He-Vau-He, é andrógino, ou masculino e feminino ao
mesmo tempo. Em cima, o Filho é todo o COSMOS; embaixo, a HUMANIDADE. A Tríade ou
Triângulo se converte na Tetraktys, o sagrado número pitagórico, o Quadrado perfeito, e,
sobre a Terra, num Cubo de seis faces. O Macroposopo (a Grande Face) passa a ser o
Microposopo (a Face Menor); ou, como dizem os cabalistas, o "Ancião dos Dias", descendo
sobre Adam-Kadmon, a quem utiliza como veículo de manifestação, fica transformado no
Tetragrammaton. Acha-se então no "Regaço de Māyā", a Grande Ilusão, e entre Ele e a
Realidade se interpõe a Luz Astral, a Grande Enganadora dos Sentidos limitados do homem,
a menos que o Conhecimento venha em seu auxílio por intermédio de Paramārthasatya.”26
26 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 120. (Nota do trad.)
Ou seja, o Logos converte-se no Tetragrammaton; e o Triângulo, ou o Três, converte-
se no Quatro.

P. 7) A Luz Astral é usada aqui no sentido de Māyā?


R. 7) Certamente. Mais adiante, em A Doutrina Secreta, é explicado que praticamente
existem apenas quatro planos pertencentes às cadeias planetárias. Os três planos
superiores são completamente Arilpa [sem forma] e absolutamente fora de nossa
compreensão.

P. 8) Então, a Tetraktys é totalmente diferente do Tetragrammaton?


R. 8) A Tetraktys pela qual juravam os pitagóncos não era o Tetragrammaton, mas, ao
contrário, a Tetraktys mais elevada ou superior. Nos primeiros capítulos do Gênesis, temos
uma chave para o descobrimento deste Tetragrammaton inferior. Encontramos ali Adão,
Eva e Jehovah que se convertem em Caim. O ulterior desenvolvimento da Humanidade está
simbolizado em Abel, como concepção humana do superior. Abel é "a filha" e não o "filho"
de Eva, e simboliza a separação dos sexos; enquanto que o assassinato de Abel simboliza o
matrimônio. A concepção mais humana encontra-se no final do 40 Capítulo, quando se fala
de Seth, para quem nasceu um filho, Enos, depois do qual os homens começaram - não
como está traduzido no Gênesis, a "invocar o Senhor" - mas a ser chamados Jod-He-Vau,
significando homens e mulheres.
O Tetragrammaton, portanto, é simplesmente Malkuth; quando o noivo vem até a
noiva na Terra então aparece a Humanidade. Deve-se passar por todos os sete Sephiroth
inferiores, o Tetragrammaton se torna cada vez mais material. O Plano Astral encontra-se
entre a Tetraktys e o Tetragrammaton.

P. 9) A Tetraktys parece ser usada aqui em dois sentidos completamente diferentes.


R. 9) A verdadeira Tetraktys dos pitagóricos era a Tetraktys da Mônada invisível, a
qual produz o primeiro Ponto, o segundo e o terceiro, e logo se retira para as trevas e o
silêncio eterno; em outras palavras, a Tetraktys e o primeiro Logos. Tomada a partir do
plano da matéria, é entre outras coisas, o Quaternário inferior, o homem de carne ou de
matéria.

55
Reunião realizada na Rua Lansdowne 17, Londres, W., no dia 14 de fevereiro de 1889,
sob a presidência do Sr. W. Kingsland.

ESTÂNCIA III
Sloka (1) A ÚLTIMA VIBRAÇÃO DA SÉTIMA ETERNIDADE PALPITA ATRAVÉS DA
INFINITUDE. A MÃE INTUMESCE E SE EXPANDE DE DENTRO PARA FORA COMO O BOTÃO
DO LÓTUS.

"O uso aparentemente paradoxal da expressão 'Sétima Eternidade', dividindo assim o


que é indivisível, está consagrado na Filosofia Esotérica. Esta divide a duração sem limites
em Tempo incondicionado, eterno e universal (Kāla), e em tempo condicionado
(Khandakāla). Um é a abstração ou númeno do Tempo infinito; o outro, o seu fenômeno,
que aparece periodicamente como efeito de Mahat, a Inteligência Universal, limitada pela
duração Manvantárica.”27
27 A Doutrina Secreta, Vol. l, p. 121, 122. (Nota do trad.)

P. 1) O começo do Tempo, como distinto da Duração, corresponde ao aparecimento


do Logos manifestado?
R. 1) Certamente que isso não pode acontecer antes. Mas "a sétima vibração" aplica-
se tanto ao Primeiro Logos como ao Logos manifestado; o primeiro, fora do Tempo e do
Espaço, e o segundo, quando tiver começado o Tempo. Apenas quando "a mãe intumesce"
começa a diferenciação, porque quando o primeiro Logos irradia através da matéria
primordial e não diferenciada não há ainda ação alguma no Caos. "A última vibração da
Sétima Eternidade" é a primeira que anuncia a Aurora, e é sinônima do Primeiro ou Logos
imanifestado. Nesta etapa não existe Tempo. Não há nem Espaço nem Tempo no começo;
mas tudo está no Tempo e no Espaço uma vez que se põe em marcha a diferenciação. No
momento da radiação primordial, ou quando emana o Segundo Logos, esta radiação é
potencialmente Pai-Mãe, mas quando aparece o Terceiro Logos ou Logos manifestado,
converte-se na Virgem-Mãe. O "Pai e o Filho" são encontrados em todas as Teogonias;
portanto, a expressão corresponde à aparição do Logos imanifestado e do manifestado: um
no começo, e o outro no final da Sétima Eternidade".

P. 2) A senhora pode então falar do Tempo como existindo a partir do aparecimento


do Segundo Logos ou Imanifestado-Manifestado?
R. 2 ) Certamente que não, mas (posso falar) a partir do aparecimento do Terceiro
Logos. E aqui que reside uma grande diferença entre os dois, como acabamos de
demonstrar. A "última vibração" começa fora do Tempo e do Espaço, e termina com o
Terceiro Logos, quando começam o Tempo e o Espaço, isto é, o tempo periódico. O
Segundo Logos participa da essência ou natureza do primeiro e do último. Não há
diferenciação com o Primeiro Logos; a diferenciação somente começa no latente Mundo do
Pensamento, com o Segundo Logos, e recebe sua plena expressão, ou seja, converte-se na
"Palavra" feita carne, com o Terceiro.

56
P. 3) Em que diferem os termos "Radiação" e "Emanação" em A Doutrina Secreta?
R. 3) Em minha opinião, eles expressam duas ideias totalmente diferentes, e são as
melhores interpretações que se puderam encontrar para os termos originais; mas se o
significado corrente for vinculado a eles, a ideia se perderá. A "radiação" é, por assim dizer,
um brotar inconsciente e espontâneo, a ação de algo do qual procede este ato; porém, a
"emanação" é algo no qual se produz outra coisa em um constante fluir, e emana
conscientemente. Um ocultista ortodoxo vai além e diz que o perfume de uma flor emana
dela "conscientemente", embora isso possa parecer absurdo para um profano. A radiação
pode provir do Absoluto; a Emanação não pode. Uma das diferenças consiste na ideia de
que a Radiação, seguramente, cedo ou tarde, será reabsorvida, enquanto que a Emanação
leva a outras emanações e é completamente separada e diferenciada. Naturalmente, ao
final do ciclo do tempo, também a emanação será reabsorvida no Um Absoluto; entretanto,
a emanação continua durante todo o ciclo de mudanças. Uma coisa emana da outra, e, de
fato, de um ponto de vista, emanação equivale à evolução; enquanto "radiação", em minha
opinião representa (no período pré-cósmico, naturalmente) uma ação instantânea, como a
de uma folha de papel aceso debaixo de uma lupa, ato do qual o Sol nada sabe.
Naturalmente, os dois termos são usados na falta de melhores.

P. 4) O que se quer dizer por protótipos existindo na luz astral?28


28 A Doutrina Secreta, VoI. I, p. 122. (Nota do trad.)
R. 4) Luz Astral é usada aqui como uma frase conveniente para um termo muito
pouco compreendido, ou seja: "O reino de Akāsha, ou Luz Primordial manifestado através
da Ideação Divina". Este último termo deve ser aceito, neste caso particular, como um
termo genérico para a mente universal e divina refletida nas Águas do Espaço e Caos, que é
a verdadeira Luz Astral, e ao mesmo tempo um espelho que reflete e reverte um plano
superior. No ABSOLUTO ou Pensamento Divino, tudo existe e nunca houve um tempo em
que nada existisse; mas a Ideação Divina está limitada pelos Manvantaras Universais. O
reino do Akāsha é o Espaço numenal (numênico) indiferenciado e abstrato que será
ocupado por Chidakasam, o campo da consciência primordial. Tem, no entanto, vários
graus na Filosofia Oculta; de fato, "os sete campos". O primeiro é o campo da consciência
latente que é coeva com a duração do Primeiro e Segundo Logos não manifestados. É a
"Luz que brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam" do Evangelho de São João.
Quando soa a hora para que apareça o Terceiro Logos, então da latente potencialidade
irradia um campo inferior de consciência diferenciada, o qual é Mahat ou toda a
coletividade daqueles Dhyan-Chohans de vida senciente dos quais Fohat é o representante
no plano objetivo, como os Mānasaputras o são no plano subjetivo. A Luz Astral é aquilo
que reflete os três planos mais elevados de consciência e está acima do mais baixo, o plano
terrestre; portanto, não se estende para além do quarto plano, onde, poderíamos dizer,
começa o Akāsha.
Há uma grande diferença entre a Luz Astral e o Akāsha que deve ser recordada. Este
último é eterno, a primeira é periódica. A Luz Astral muda não apenas com os
Mahāmanvantaras, mas também com cada subperíodo e Ciclo Planetário ou Ronda.

P. 5) Então, os protótipos existem em um plano superior ao da Luz Astral?


57
R. 5) Os protótipos ou ideias existem primeiro no plano da Consciência Eterna e
Divina, e dali são refletidos e revertidos na Luz Astral, a qual também reflete, em seu plano
individual inferior, a vida de nossa Terra registrando-a em suas "tabuletas". Portanto, a Luz
Astral é chamada Ilusão. É dali de onde oportunamente obteremos nossos protótipos.
Consequentemente, a menos que o Clarividente ou VIDENTE possa transcender este plano
de ilusão, nunca poderá ver a Verdade, mas se afogará num oceano de autoilusões e
alucinações.

P. 6) E o que é o Akāsha propriamente dito?


R. 6) O Akāsha é a eterna consciência divina que não pode diferenciar-se, ter
atributos, ou atuar; a ação pertence ao que é refletido dele. O incondicionado e infinito não
pode ter relação com o finito e condicionado. A Luz Astral é o Céu-Médio dos gnósticos, no
qual está Sophia Achamoth, a mãe dos sete Construtores ou Espíntos da Terra, que não são
necessariamente bons e entre os quais os gnósticos situaram Jehovah, a quem chamaram
Ildabaoth. (Sophia Achamoth não deve ser confundida com a divina Sophia). Podemos
comparar o Akāsha e a Luz Astral, com relação a estes protótipos, com o germe na bolota.
Esta última, além de conter em si mesma a forma astral do futuro carvalho, oculta o germe
do qual crescerá a árvore contendo milhões de formas. Estas formas estão potencialmente
encerradas na bolota, entretanto o desenvolvimento de cada bolota, em particular,
depende de circunstâncias externas, forças físicas, etc.

P. 7) Mas como isso é responsável pelas variedades infinitas do Reino Vegetal?


R. 7) As diferentes variedades de plantas são os raios nos quais se decompõe o Raio
Único. À medida que o Raio passa pelos sete planos, se decompõe em cada plano em
milhares e milhões de raios até chegar ao mundo da forma, cada raio penetrando em uma
inteligência em seu próprio plano. De modo que vemos que cada planta tem uma
inteligência ou seu próprio propósito de vida, digamos assim, e até certo ponto, seu próprio
livre-arbítrio. Assim é, pelo menos como eu o entendo. Uma planta pode ser receptiva ou
não, embora cada planta, sem exceção, sinta e tenha uma consciência própria. Mas além
disso, todas as plantas, desde a árvore gigantesca até a mais diminuta samambaia ou folha
de grama, têm, como nos ensina o Ocultismo, uma entidade Elemental da qual ela é a
envoltura exterior neste plano. Daí que os cabalistas e rosa-cruzes da Idade Média sempre
estavam falando de Elementais. Segundo eles, todas as coisas possuem um espírito
Elemental.

P. 8) Qual é a diferença entre um Elemental e um Dhyan-Chohan ou um Dhyani-


Buddha?
R. 8) A diferença é muito grande. Os Elementais estão ligados somente aos quatro
Elementos terrestres e apenas aos dois reinos inferiores da Natureza (o mineral e o
vegetal), nos quais eles se "inmetalizam”29 e "inherbalizam”30, digamos assim. O termo
hindu Deva pode ser aplicado a eles, mas não o de Dhyan-Chohan. O primeiro tem uma
espécie de Inteligência cósmica; mas os outro estão dotados de um intelecto
supersensitivo, cada um de sua classe. Quanto aos Dhyani-Buddhas, eles pertencem às
Inteligências Divinas mais elevadas (ou oniscientes), correspondendo talvez aos Arcanjos
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católico-romanos.
29 No original em inglês: inmetalize. (Nota do trad.)
30 No original em inglês: inhebalize. (Nota do trad.)

P. 9) Existe uma evolução de tipos através dos vários planos de Luz Astral?
R. 9) Você deve deduzir a partir da analogia da evolução da bolota. Da bolota crescerá
um carvalho e este carvalho, como árvore, pode ter mil formas, as quais variam todas umas
das outras. Todas estas formas estão contidas na bolota, e embora a forma que a árvore
tomará dependerá de circunstâncias externas, entretanto o que Aristóteles chamou de
"privação da matéria" existe de antemão nas ondas astrais. Porém, o germe numenal do
carvalho existe além do plano da Luz Astral; é somente a imagem subjetiva dele que já
existe na Luz Astral, e o desenvolvimento do carvalho é o resultado do desenvolvimento do
protótipo na Luz Astral, desenvolvimento que procede dos planos superiores para os
inferiores, até que no plano mais baixo tem sua última consolidação e desenvolvimento da
forma. E aqui reside a explicação do fato curioso, segundo a afirmação vedantina, de que
cada planta tem seu Karma e que seu crescimento é o resultado deste Karma. Este Karma
provém dos Dhyan-Chohans inferiores que traçam o plano de desenvolvimento da árvore.

P. 10) Qual é o verdadeiro significado de Manvantara, ou melhor, do Manu-Antara?


R. 10) Em realidade significa" entre dois Manus", dos quais existem catorze em cada
"Dia de Brahmā", tal "Dia" consistindo de 1.000 agregados de quatro idades ou de 1.000
"Grandes Idades" ou Maha-yugas. Quando analisamos a palavra "Manu" encontramos que
os orientalistas declaram que provém da raiz "Man": pensar, e daí o "homem pensador".
Mas esotericamente cada Manu, como um patrono/protetor antropomorfizado de seu ciclo
particular, ou ronda, é tão somente a ideia personificada do "Pensamento Divino" (como o
hermético Pimandro). Cada um dos Manus, portanto, é o deus particular, o criador e
formador de tudo o que aparece durante seu próprio respectivo ciclo de existência ou
Manvantara.

P. 11) O Manu é também uma unidade de consciência humana personificada, ou é a


individualização do Pensamento Divino com propósitos manvantáricos?
R. 11) Ambas as coisas, posto que a "consciência humana" é apenas um Raio da
Divina. Nosso Manas ou Ego procede de, e é, figurativamente, o filho de Mahat. Vaivasvata
Manu (o Manu de nossa própria Quinta Raça e da Humanidade em geral) é o Chefe e
representante personificado da Humanidade pensante da Quinta Raça Raiz; e, portanto, ele
é representado como o Filho mais velho do Sol e um Agnishwatta Antepassado. Como
"Manu" deriva de Man, pensar, a ideia está clara. A ação do pensamento sobre os cérebros
humanos é infinita. Assim, o Manu é, e contém em si a potencialidade de todas as formas
pensantes que se desenvolverão sobre a Terra a partir dessa fonte particular. No
ensinamento esotérico, ele é o começo desta Terra, dele e de sua filha Ila nasce a
humanidade; ele é uma unidade que contém todas as pluralidades e suas modificações.
Deste modo, cada Manvantara tem seu próprio Manu e, deste Manu, os vários Manus, ou
melhor, todos os Manasas dos Kalpas que se seguirão. Como analogia, ele pode ser
comparado à luz branca que contém todos os outros raios, e lhes dá nascimento ao passar
59
pelo prisma de diferenciação e evolução. Mas isso pertence aos ensinamentos esotéricos e
metafísicos.

P. 12) É possível dizer que o Manu está relacionado com cada Manvantara, assim
como o Primeiro Logos o está com o Mahāmanvantara?
R. 12) É possível dizer isso, se você quiser.

P. 13) Pode-se dizer que o Manu é uma individualidade?


R. 13) Em sentido abstrato, certamente não, mas é possível aplicar uma analogia. O
Manu é talvez a síntese dos Mānasas, e é uma só consciência, no mesmo sentido que,
embora todas as diferentes células das quais está composto o corpo humano sejam
consciências diferentes e variadas, há, no entanto, uma unidade de consciência que é o
homem. Mas esta unidade, digamos assim, não é uma só consciência; é o reflexo de
milhares e milhões d consciências que o homem absorveu.
Mas o Manu, em realidade, não é uma individualidade, é o total da humanidade.
Podemos dizer que Manu é um nome genérico para os Pitris, os progenitores da
humanidade. Eles provêm, como demonstrei, da Cadeia Lunar. Dão nascimento à
humanidade, porque, havendo-se convertido nos primeiros homens, dão nascimento a
outros pelo desenvolvimento de suas sombras, seus eus astrais. Deles, não somente
derivam a humanidade, como também os animais, e todas as criaturas. Neste sentido, nos
Purānas se diz, dos grandes Iogues, que eles deram origem, um, às serpentes; outro, a
todas as aves, etc. Porém, assim como a Lua recebe sua luz do Sol, do mesmo modo os
descendentes dos Pitris Lunares recebem sua luz mental superior do Sol ou "do Filho do
Sol". Porque todos vocês sabem que Vaivasvata Manu poderia ser um Avatar ou uma
personificação de MAHAT, encarregado pela Mente Universal de guiar e fazer progredir a
Humanidade pensante.

P. 14) Aprendemos que a humanidade aperfeiçoada de uma Ronda converte-se em


Dhyani-Buddhas e nos dirigentes do próximo Manvantara. Então, que relação tem o Manu
com as hostes dos Dyani-Buddhas?
R. 14) Não tem, absolutamente, nenhuma relação, de acordo com os ensinamentos
exotéricos. Mas posso lhes dizer que os Dhyani-Buddhas nada têm a ver com o trabalho
prático inferior do plano terrestre. Usando uma ilustração: o Dhyani-Buddha pode ser
comparado a um grande regente em qualquer condição de vida. Suponhamos apenas que
se tratasse de uma casa; o grande dirigente não tem diretamente nada a ver com o
trabalho de uma faxineira. Os Dhyanis mais elevados dão origem a hierarquias de Dhyanis
cada vez mais inferiores, mais consolidados e mais materiais, até chegar a esta cadeia de
Planetas, sendo alguns dos últimos os Menus, os Pitris e Antepassados Lunares. Como eu
mostrei no VoI. II de A Doutrina Secreta, estes Pitris têm a tarefa de dar origem ao homem.
Eles o fazem projetando suas sombras, e a primeira humanidade (se de fato ela pode ser
chamada humanidade) são os chayas astrais dos Antepassados Lunares, sobre os quais a
Natureza constrói o corpo físico, que inicialmente não tem forma. A Segunda Raça tem cada
vez mais forma e é assexuada. Na Terceira Raça, transformam-se em bissexuais e
hermafroditas e, então, finalmente separando-se os sexos, a propagação da humanidade se
60
desenvolve de diversas maneiras.

P. 15) Então, o que a senhora quer dizer com o termo Manvantara, ou, como a
senhora explicou, ''Manu-antara'' ou "entre dois Manus"?
R. 15) Significa simplesmente um período de atividade e não se emprega em nenhum
sentido limitado e definido. Vocês têm de deduzir a partir do contexto da obra que estão
estudando, qual é o significado de Manvantara, recordando também que o que é aplicável
a um período menor, aplica-se também a um maior, e assim reciprocamente.

P. 16) "Água" é usada aqui em sentido puramente simbólico, ou tem sua


correspondência na evolução dos elementos?
R. 16) É preciso ter cuidado de não confundir os elementos universais com os
elementos terrestres. Nem, repito, os elementos terrestres significam aquilo que conhecido
como elementos químicos. Eu chamaria de elementos cósmicos, universais, os númenos
dos elementos terrestres, e acrescentaria que cósmico não está limitado ao nosso pequeno
Sistema Solar.
A Água é o primeiro elemento cósmico, e os termos "trevas" e "caos" foram
empregados para indicar o mesmo "elemento". Existem sete estados de matéria, dos quais
três são geralmente conhecidos, ou seja, sólido, líquido e gasoso. É necessário considerar
todo o cósmico e o terrestre como existindo em variações destes sete estados. Mas é
impossível para mim falar em termos que são desconhecidos para vocês, e, portanto,
impossíveis de compreender. Deste modo, "água", o "cálido e úmido princípio" dos
filósofos, é usada para indicar aquilo que não é ainda matéria sólida, ou melhor, aquilo que
não possui a solidez da matéria, como nós a entendemos. Isso se torna muito mais difícil
com o uso do termo "água" como um subsequente elemento na série de éter, fogo e ar.
Porém, o éter contém em si todos os demais e todas as suas propriedades, e é este éter o
hipotético agente da ciência física: ademais, é a forma mais inferior de Akāsha, o único
agente e elemento universal. Portanto, água é usada aqui para indicar a matéria em seu
estado pré-cósmico.

P. 17) Que relação têm os elementos com os Elementais?


R. 17) A mesma relação que a Terra tem com o homem. Assim como o homem físico é
a quintessência da Terra, do Ar, do Fogo e da Água, do mesmo modo, um Elemental
(chamado Silfo, Salamandra, Ondina, etc.) é a quintessência de seu elemento especial. Toda
diferenciação de substância e matéria desenvolve um tipo de Força inteligente e são estes
os que os rosacruzes chamaram de Elementais, ou espíritos da Natureza. Cada um de nós
pode acreditar num Elemental criado por nós mesmos. Mas este último tipo de criação de
Elementais não tem existência fora de nossa própria imaginação. Será uma inteligência,
uma Força, boa ou má, mas a forma que lhe foi dada e seus atributos serão os de nossa
própria criação, ao passo que ao mesmo tempo essa forma terá uma inteligência derivada
também de nós.

P. 18) O "Ovo-Virgem" e o "Ovo-Eterno" são a mesma coisa, ou são diferentes etapas


de diferenciação?
61
R. 18) O "Ovo-Eterno" é uma pré-diferenciação em condição laya ou zero; portanto,
antes da diferenciação ele não pode ter atributos nem qualidades. O "Ovo-Virgem" já tem
qualidades e, portanto, é diferenciado, embora em sua essência seja o mesmo. Nenhuma
coisa pode estar separada de outra, em sua natureza essencial. Mas no mundo das ilusões,
no mundo das formas, da diferenciação, tudo parece estar separado, inclusive nós mesmos.

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Reunião realizada na Rua Lansdowne, nº 17, W., no dia 21 de fevereiro de 1889, sob
a presidência do Sr. W. Kingsland.

ESTÂNCIA III [continuação]


Sloka (2) A VIBRAÇÃO SE PROPAGA REPENTINAMENTE, TOCANDO COM SUAS
VELOZES ASAS (simultaneamente) O UNIVERSO INTEIRO E O GERME QUE MORA NAS
TREVAS: AS TREVAS QUE RESPIRAM (se movem) SOBRE AS ADORMECIDAS ÁGUAS DA
VIDA31.
31 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 123. (Nota do trad.)

P. 1) Como devemos entender a expressão "a vibração toca o Universo inteiro e


também o germ”?
R. 1) Antes de tudo, os termos usados devem ser definidos até onde nos seja possível,
porque a linguagem empregada aqui é puramente figurativa. O Universo não significa o
Cosmos ou mundo das formas, mas o espaço sem forma, o futuro veículo do Universo que
se manifestará. Este espaço é sinônimo de "águas do espaço", com (para nós) as trevas
eternas de fato com Parabrahman. Em síntese todo o Sloka refere-se ao "período" anterior
a qualquer manifestação. Da mesma maneira, o Germe (o Germe eterno, os átomos
indiferenciados da futura matéria) é uno com o Espaço, que é tanto infinito quanto
indestrutível, e tão eterno quanto o próprio espaço. De um modo semelhante, "a vibração"
corresponde ao Ponto, o Logos Imanifestado.
É necessário acrescentar uma explicação importante. Empregando a linguagem
figurada, como se faz em A Doutrina Secreta, as analogias e comparações são muito
frequentes. Como regra, a palavra Trevas, por exemplo, aplica-se somente à totalidade
desconhecida ou Absoluto. Em contraste com as Trevas eternas, o Primeiro Logos é
certamente Luz; e em contraste com o segundo ou o terceiro, o Logos Manifestado, o
primeiro é Trevas, e os outros são Luz.

Sloka (3) AS "TREVAS" IRRADIAM LUZ, E A LUZ EMITE UM RAIO SOLITÁRIO NAS
ÁGUAS, DENTRO DAS PROFUNDEZAS DA MÃE. O RAIO ATRAVESSA O OVO VIRGEM; FAZ O
OVO ETERNO ESTREMECER, E DESPRENDE O GERME NÃO ETERNO (periódico) QUE SE
CONDENSANO OVO DO MUNDO.³2
32 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 117. (Nota do trad.)

P. 1) Por que se diz que a Luz emite um raio solitário dentro das águas, e como este
raio é representado em relação com o Triângulo?
R. 1) Não obstante que muitos Raios possam parecer existir neste plano, quando são
retraídos à sua fonte original, eles finalmente serão decompostos em uma unidade, como
as sete cores prismáticas, as quais procedem todas do, e se decompõem no único raio
branco. Do mesmo modo, este Raio uno solitário se desenvolve nos sete raios (e suas
inumeráveis subdivisões) apenas no plano da ilusão. Ele é representado relacionado com o
Triângulo devido a que o Triângulo é a primeira figura geométrica perfeita. Como disse
Pitágoras, e é dito também na Estância, o Raio (a Mônada pitagórica) descendo do "não
63
lugar" (Aloka), lança-se como uma estrela cadente através dos planos do "não ser" no
primeiro mundo do ser, dando origem ao Número Um; então, ramificando-se, à direita
produz o Número Dois; voltando-se novamente sobre si para formar a linha de base, gera o
Número Três, e daí ascende novamente até o Número Um, e finalmente desaparece ali,
para entrar nos reinos do "não ser", como demonstrou Pitágoras.

P. 2) Por que deveriam os ensinamentos pitagóricos ser encontrados nas antigas


filosofias da Índia?
R. 2) Pitágoras extraiu seus ensinamentos da Índia, e nos livros antigos encontramos
que se fala dele como o Yavanacharya, ou Instrutor grego. Vemos assim que o Triângulo é a
primeira diferenciação; no entanto, todos os seus lados são delineados pelo Raio único.

P. 3) O que realmente se quer dizer com o termo "planos do 'não ser"'?


R. 3) Quando se usa a frase "planos do 'não ser'" devemos recordar que estes planos
para nós são apenas esferas do "não ser", mas para as inteligências superiores a nós são
esferas do ser e da matéria. Os mais elevados Dhyan-Chohans do Sistema Solar podem não
ter nenhuma ideia do que existe nos sistemas mais elevados, isto é, no segundo plano
"setenário" cósmico, o qual, para os Seres do sempre invisível Universo, é inteiramente
subjetivo.

Sloka (4) (Então) OS TRÊS (triângulo) CAEM NO QUATRO (quaternário). A ESSÊNCIA


RADIANTE PASSA A SER SETE INTERIORMENTE E SETE EXTERIORMENTE. O OVO LUMINOSO
(Hiranyagarbha), QUE É TRÊS EM SI MESMO (as três hipóstase de Brahmā, ou Vishnu, os
três "Avasthās"), COAGULA-SE E SE ESPALHA EM COÁGULOS BRANCOS COMO O LEITE POR
TODA A EXTENSÃO DAS PROFUNDEZAS DA MÃE: A RAIZ QUE CRESCE NOS ABISMOS DO
OCEANO DA VIDA.33
33 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 125. (Nota do trad.)

P. 1) É a "Essência Radiante" o mesmo que "Ovo luminoso"? Qual é a Raiz que cresce
no oceano da vida?
R. 1) A essência radiante, o luminoso ou Dourado Ovo de Brahmā, ou de novo,
Hiranyagarbha, são idênticos. A Raiz que cresce no Oceano da Vida é a potencialidade que
transforma em matéria objetiva diferenciada o germe universal, subjetivo, ubíquo, e, no
entanto, homogêneo, ou a eterna essência que contém em si a potência da natureza
abstrata. O Oceano da Vida é, de acordo com um termo da Filosofia Vedanta, se não me
engano, a "Vida Una", Paramātmā, quando se quer indicar a Alma Suprema; e Jivātmā,
quando falamos do "alento de vida" físico ou animal, ou, por assim dizer, a alma
diferenciada; em suma, aquela vida que dá origem ao átomo e ao Universo, à molécula e ao
homem, ao animal, à planta e ao mineral.
"A Essência Radiante se coagula e se expande através dos abismos do Espaço". De um
ponto de vista astronômico, isto é fácil de explicar: é a Via Láctea, o material do mundo, ou
a matéria primordial em sua forma primitiva.

P. 2) A Essência Radiante, a Via Láctea, ou matéria do mundo se decompõe em


64
átomos ou é não atômica?
R. 2) Em seu estado pré-cósmico, naturalmente, não é atômica, se por átomos você
quer dizer moléculas; porque o átomo hipotético, um simples ponto matemático, não é
material ou aplicável à matéria, tampouco à substância. O verdadeiro átomo não existe no
plano material. A definição de um ponto, como tendo uma determinada posição, não deve
ser tomada, em Ocultismo, no sentido corrente de lugar; já que o verdadeiro átomo está
além do tempo e do espaço. A palavra molecular é em verdade aplicável a nosso globo e a
seu plano somente; uma vez dentro dele, mesmo nos outros globos de nossa cadeia
planetária, a matéria se encontra numa condição totalmente diferente e não molecular. O
átomo, em seu estado eterno, é invisível mesmo aos olhos de um Arcanjo; e se torna visível
para este último apenas periodicamente, durante o ciclo de vida. A partícula, ou molécula,
não é, mas existe periodicamente e, portanto, é considerada uma ilusão.
A matéria do mundo anima a si mesma através dos vários planos e não se pode dizer
que se converta em estrelas ou que se torne molecular, até alcançar o plano de existência
do Universo visível ou objetivo.

P. 3) Em Ocultismo, pode-se dizer que o éter é molecular?


R. 3) Depende totalmente do que se quer dizer com o termo. Em seus estratos
inferiores, onde se funde com a luz astral, ele pode ser chamado de molecular em seu
próprio plano; mas não para nós. Mas o éter do qual a ciência suspeita a existência é a
manifestação mais densa do Akāsha, embora, em nosso plano, para nós mortais, seja o
sétimo princípio da luz astral, e três graus mais elevados que a "matéria radiante". Quando
penetra algo ou anima algo, pode ser que seja molecular, porque assume a forma deste
último, e seus átomos animam as partículas desse "algo". Talvez possamos dizer que
matéria é "éter cristalizado".

P. 4) Mas, de fato, o que é um átomo?


R. 4) Um átomo pode ser comparado (e isso é para o ocultista) com o sétimo princípio
de um corpo, ou melhor, de uma molécula. A molécula física ou química é composta de
uma infinidade de moléculas mais finas, e estas, por sua vez, em inumeráveis e ainda mais
finas moléculas. Tomemos, por exemplo, uma molécula de ferro, e depois a reduzamos até
se tornar não molecular; então, imediatamente, ela se transforma em um dos sete
princípios, isto é, seu corpo astral; o sétimo destes é o átomo. A analogia entre uma
molécula de ferro antes e depois de ser dissolvida é a mesma que a analogia entre um
corpo físico antes e depois da morte. Os princípios permanecem, menos o corpo.
Naturalmente, isto é alquimia oculta, não química moderna.

P. 5) Qual é o significado das frases alegóricas "o bater do oceano (ou a "malaxação
dos oceanos) e a "vaca da abundância" dos hindus, e que correspondência existe entre elas
e a "guerra no céu"?
R. 5) Um processo que começa no estado de "não ser" e termina no encerramento do
Mahā-Pralaya dificilmente pode ser explicado com poucas palavras ou mesmo em volumes.
É simplesmente uma representação alegórica das inteligências primárias invisíveis e
desconhecidas, os átomos da ciência oculta, o próprio Brahmā sendo chamado Anu ou o
65
Átomo, que modela ou diferencia o oceano sem praias da radiante essência primordial. A
relação entre "o bater do oceano" e a "guerra no céu" é um tema muito vasto e abstruso de
se tratar. Para dizê-lo em seu aspecto simbólico mais inferior, esta "guerra no céu" continua
na eternidade. Diferenciação é contraste, o equilíbrio dos contrários: e enquanto isso
existir, haverá "guerra" ou luta. Naturalmente que existem diferentes etapas ou aspectos
desta guerra: como, por exemplo, a astronômica e a física. Para todos e para tudo que
nasce em um Manvantara, há "guerra no céu" e também na Terra: para os catorze Manus
Raiz e Semente que presidem nosso ciclo manvantárico e para as incontáveis Forças,
humanas e outras, que deles procedem. Há uma perpétua luta de ajuste, porque tudo
tende a harmonizar-se e equilibrar-se; de fato, deve ser assim, antes que possa assumir
uma forma qualquer. Os elementos dos quais somos formados, as partículas de nossos
corpos, estão em contínua guerra, um atropelando o outro e mudando a cada instante.
Quando do "bater do oceano" pelos deuses, vieram os Nagas e alguns roubaram a Amrita -
a água da Imortalidade - e então surgiu a guerra entre os deuses e os Asuras, os não
deuses, e os deuses foram vencidos. Isto se refere à formação do Universo e à
diferenciação da matéria primordial. Porém, deve ser recordado que este é apenas o
aspecto cosmológico, um dos sete significados. A "guerra no céu" tem também uma
imediata referência com a evolução do princípio intelectual da humanidade. Esta é uma
chave metafísica.

P. 6) Por que nas Estâncias são usados tantos números e qual é realmente o segredo
de eles serem tão livremente usados nas Escrituras mundiais - na Bíblia e nos Purānas, por
Pitágoras e pelos Sábios ários?
R. 6) Balzac, o inconsciente ocultista da literatura francesa, diz em algum lugar que: "o
Número é para a Mente, o mesmo que para a matéria, um agente incompreensível". Mas
eu responderia: talvez seja assim para o profano, nunca para a mente de um Iniciado. O
Número é, como o grande escritor pensou, uma Entidade, e ao mesmo tempo, um Alento
(Sopro) que emana daquilo que ele chamou de Deus e que nós chamamos o TODO; o
Alento único que pôde organizar o Cosmos físico, "onde nada obtém sua forma, a não ser
através da Deidade, que é um efeito do Número”³4 - "Deus geometriza" diz Platão.
34 A Doutrina Secreta, VoI I, p. 125. (Nota do trad.)

P. 7) Em que sentido os números podem ser chamados Entidades?


R. 7) Quando queremos dizer Entidades inteligentes; quando são considerados
simplesmente como dígitos, naturalmente, não são Entidades, mas somente sinais
simbólicos.

P. 8) Por que se diz que a essência radiante se transforma em sete internamente e


sete externamente?
R. 8) Porque ela tem sete princípios no plano do manifestado e sete no do
imanifestado. Argumentem sempre baseados na analogia e apliquem o axioma oculto:
"Como é acima é embaixo".

P. 9) Mas os planos do "não ser" são também setenários?


66
R. 9) Sem dúvida. Aquilo que A Doutrina Secreta se refere como os planos não
manifestados são planos imanifestados ou planos do "não ser" apenas do ponto de vista do
intelecto finito; para as inteligências superiores seriam planos manifestados e assim até a
infinitude, a analogia sempre se mantendo.

67
Reunião realizada na Rua Lansdowne, nº 17, Londres, W., no dia 28 de fevereiro de
1889, sob a presidência do Sr. W. Kingsland.

ESTÂNCIA III [continuação]


Sloka (5) A RAIZ PERMANECE, A LUZ PERMANECE, OS COAGULOS PERMANECEM E,
NO ENTANTO, OEAHOO UNO.35
35 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 126. (Nota do trad.)

P. 1) O que se quer significar quando se diz que estes "permanecem"?


R. 1). Significa simplesmente que qualquer que seja a pluralidade da manifestação,
ainda assim tudo é uno. Em outras palavras, estes são diferentes aspectos do elemento
uno; isso não significa que permaneçam sem diferenciação.
"Os coágulos são a primeira diferenciação; e também se referem, provavelmente,
àquela matéria cósmica que se supõe ser a origem da Via Láctea (a matéria que
conhecemos). Esta matéria que, segundo a revelação recebida dos primitivos Dhyāni-
Buddhas, é, durante o sono periódico do Universo, da máxima tenuidade que pode
perceber a vista do Bodhisattva perfeito; esta matéria, radiante e fria36, dissemina-se pelo
Espaço ao primeiro despertar do movimento cósmico, aparecendo, quando olhada da
Terra, em forma de aglomerados e saliências, à maneira de coágulos de leite. São as
sementes dos mundos futuros, o 'material das Estrelas'"37
36 No original em inglês radical and cool . (Nota do trad.)
37 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 127. (Nota do trad.)

P. 2) Devemos supor que a Via Láctea é composta de matéria em um estado de


diferenciação que não é aquele com o qual estamos familiarizados?
R. 2) Acredito plenamente nisso. É o depósito dos materiais com os quais se
produzem as estrelas, os planetas e os outros corpos celestes. A matéria nesse estado não
existe sobre a Terra; mas a que já está diferenciada e que se encontra sobre a Terra está
também nos outros planetas e vice-versa. Mas entendo que antes de chegar aos planetas, a
partir de sua condição na Via Láctea, a matéria deve primeiro passar por muitas etapas de
diferenciação. Por exemplo, a matéria dentro do Sistema Solar se encontra em um estado
completamente diferente daquele que está fora ou além do Sistema.

P. 3) Existe uma diferença entre a Nebulosa e a Via Láctea?


R.3) A mesma, eu diria, que existe entre uma estrada e as pedras e o barro que há
nessa estrada. Deve haver, naturalmente, uma diferença entre a matéria da Via Láctea e a
das várias Nebulosas, e estas devem, por sua vez, diferenciar-se entre si. Mas em todos os
seus cálculos e medidas é necessário considerar que a luz por meio da qual são vistos os
objetos é uma luz refletida, e que a ilusão ótica causada pela atmosfera terrestre torna
impossível que cálculos das distâncias, etc., sejam absolutamente corretos, além do fato de
que ela altera totalmente as observações da matéria da qual estão compostos os corpos
celestes, já que é passível de impor sobro nós uma condição semelhante à da Terra. De
qualquer forma, isso é o que nos ensinam os MESTRES.
68
Sloka (6) A RAIZ DA VIDA ESTAVA EM CADA GOTA DO OCEANO DA IMORTALIDADE
(AMRITA) E O OCEANO ERA LUZ RADIANTE, QUE ERA FOGO, CALOR E MOVIMENTO. AS
TREVAS SE DESVANECERAM, E NÃO EXISTIRAM MAIS: SUMIRAM EM SUA PRÓPRIA
ESSÊNCIA, O CORPO DE FOGO E ÁGUA, DO PAI E DA MÃE.³8
38 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 127. (Nota do trad.)

P. 1) Quais são os vários significados do termo ''fogo'' nos diferentes planos do


Cosmos?
R. 1) O Fogo é o mais místico dos cinco elementos, e também o mais divino. Portanto,
dar uma explicação de seus vários significados apenas em nosso plano, deixando todos os
outros planos fora de questão, seria demasiado árduo, além de ser totalmente
incompreensível para a vasta maioria. O fogo é o pai da luz, a luz é pai do calor e do ar (ar
vital). Se podemos nos referir à deidade absoluta como sendo Trevas ou o Fogo Escuro, a
Luz, sua primeira progênie, é verdadeiramente o primeiro deus autoconsciente. O que é a
luz em sua raiz primordial, senão a divindade doadora de vida que ilumina o mundo? A luz é
aquilo que a partir de uma abstração converteu-se numa realidade. Ninguém jamais viu a
Luz verdadeira ou primordial; o que vemos são apenas seus raios quebrados ou reflexos,
que se tornam cada vez mais densos e menos luminosos à medida que descem na forma e
na matéria. Fogo, portanto, é um termo que abarca TUDO. O Fogo é a deidade invisível, "o
Pai", e a Luz que se manifesta é Deus, o Filho", e também o Sol. O fogo, no sentido oculto, é
éter, e o éter nasce do movimento, e o movimento é o Fogo escuro, eterno e invisível. A luz
põe em movimento e controla toda a Natureza, desde o mais elevado éter primordial até as
mais diminutas moléculas do Espaço. O MOVIMENTO é eterno per se, e no Cosmos
manifestado é o Alfa e o Ômega daquilo que se chama eletricidade, galvanismo,
magnetismo, sensação (moral e física), pensamento e até vida neste plano. Portanto, o
fogo, em nosso plano, é simplesmente a manifestação do movimento, ou Vida.
Os rosa-cruzes se referiam a todos os fenômenos cósmicos como a "geometria
animada". Toda função polar é apenas uma repetição da "polaridade primária", diziam os
filósofos do Fogo, porque o movimento gera calor, e o éter em movimento é calor. Quando
o movimento decai, então se gera o frio, porque "o frio é éter em uma condição latente".
Assim, os principais estados da Natureza são três positivos e três negativos, sintetizados
pela luz primitiva. Os três estados negativos são: (1) Trevas; (2) Frio; (3) Vazio. Os três
positivos são: (1) Luz (em nosso plano); (2) Calor; (3) Toda a Natureza. Portanto, pode-se
dizer que o Fogo é a unidade do Universo. O Fogo cósmico puro (sem combustível, digamos
assim) é a Deidade em sua universalidade; porque o fogo cósmico ou calor criador é todo
átomo de matéria na Natureza manifestada. Não existe no Universo uma coisa ou partícula
que não contenha em si fogo latente.

P. 2) Então, o fogo pode ser considerado como o primeiro Elemento?


R.2) Quando dizemos que o fogo é o primeiro dos Elementos, é o primeiro somente
no Universo visível, o fogo que comumente conhecemos. Mesmo nos planos mais elevados
de nosso Universo, o plano do Globo A ou G, o fogo é, em um aspecto, apenas o quarto
elemento. Os ocultistas, os rosa-cruzes da Idade Média e mesmo os cabalistas medievais
diziam que para nossa percepção humana e até para a dos mais elevados "anjos", a
69
Deidade universal é Trevas, e destas Trevas emana o Logos nos seguintes aspectos: (1) Peso
[o Caos, que se converte em éter em seu estado primordial]; (2) Luz; (3) Calor; (4) Fogo.

P. 3) Em que relação acha-se o Sol, a mais elevada forma de Fogo que reconhecemos,
com o Fogo como a senhora o explicou?
R. 3) O Sol, como está em nosso plano, não é nem mesmo fogo "Solar". O Sol que
vemos não dá nada de si, porque é um reflexo; um feixe de forças eletromagnéticas, uma
das incontáveis miríades de "Nós de Fohat" Fohat é chamado "o fio da Luz primeva", de
fato, "a Bola do fio de Ariadne” neste labirinto de matéria caótica. Este fio corre através dos
sete planos, atando-se em nós39. Sendo cada plano um setenário, há, portanto, quarenta e
nove forças místicas e físicas, os nós mais amplos formando estrelas, sóis e sistemas, os
menores, os planetas, e assim por diante.
39 No original em inglês: "Knots", plural de nó. (Nota do trad.)

P. 4) Em que sentido o Sol é uma ilusão?


R. 4) O nó eletromagnético de nosso Sol não é tangível nem dimensional, nem
mesmo tão molecular como a eletricidade que conhecemos. O Sol absorve, "psiquisa"40 e
"vampiriza" os que dependem dele dentro do Sistema. Fora isso, não dá nada de SI mesmo.
Portanto, é um absurdo dizer que os fogos solares estão sendo consumidos e que vão se
extinguindo gradualmente. O Sol tem apenas uma função característica: dar o impulso vital
a tudo o que respira e vive sob sua luz. O Sol é o coração palpitante do Sistema; sendo cada
batida um impulso. Mas este coração é invisível; nenhum astrônomo jamais o verá. Aquilo
que está oculto neste coração e o que nós percebemos e vemos, sua chama e fogos
aparentes, para usar um símile, são os nervos que governam os músculos do Sistema Solar,
e nervos, alem do mais, fora do corpo. Este impulso não é mecânico, mas um impulso
nervoso puramente espiritual.
40 No original em inglês: psychizes. (Nota do trad.)

P. 5) Que conexão tem o "peso", no sentido que a senhora usa, com a gravidade?
R. 5) Por "peso" queremos dizer a gravidade no sentido oculto de atração e repulsão.
É um dos atributos da diferenciação e é uma propriedade universal. Por meio da atração e
da repulsão entre matéria em vários estados, é possível, na maioria dos casos, explicar
(enquanto que a "lei da gravidade" é insuficiente para fazê-lo) a relação que assumem as
caudas dos cometas quando se aproximam do Sol: vendo que atuam visivelmente de forma
contrária a esta hipótese.

P. 6) Nesta relação, qual é o significado de “Água"?


R. 6) Como a Água, segundo seu peso atômico, é composta de 1/9 parte [uma nona
parte] de Hidrogênio (um gás muito inflamável, como você sabe, e não se encontra nenhum
corpo orgânico que não o contenha), e de 8/9 [oito nonas] de Oxigênio (o qual produz
combustão quando é combinado rapidamente demais com qualquer corpo), o que pode ela
ser senão uma das formas da força primordial ou fogo em uma forma fria, latente ou
fluídica? O Fogo tem com a Água a mesma relação que o Espírito com a Matéria.

70
Sloka (7) VÊ, Ó LANU! O RADIANTE FILHO DOS DOIS, A GLÓRIA REFULGENTE E SEM
PAR: O ESPAÇO LUMINOSO, FILHO DO ESPAÇO ESCURO, QUE SURGE DAS PROFUNDEZAS
DAS GRANDES ÁGUAS SOMBRIAS. É O OEAOHOO, O MAIS JOVEM, O *** ("Que tu conheces
agora como Kwan-Shai-Yin.") ELE BRILHA COMO O SOL. É O RESPLANDECENTE DRAGÃO
DIVINO DA SABEDORIA. O EKA (um), É CHATUR (quatro), E CHATUR TOMA PARA SI TRÊS, E A
UNIÃO PRODUZ O SAPTA (sete), NO QUAL ESTÃO OS SETE QUE VÊM A SER OS TRIDASA (os
três vezes dez), AS HOSTES E AS MULTIDÕES. CONTEMPLA-O LEVANTANDO O VÉU E
DESDOBRANDO-O DE ORIENTE A OCIDENTE. ELE OCULTA O ACIMA, E DEIXA VER O ABAIXO
COMO A GRANDE ILUSÃO. ASSINALA OS LUGARES PARA OS RESPLANDECENTES (estrelas) E
CONVERTE O SUPERIOR (espaço) NUM OCEANO DE FOGO SEM PRAIAS, E O UNO
MANIFESTADO (elemento) NAS GRANDES ÁGUAS.41
41 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 128, 129. (Nota do trad.)

Kwan-Shai-Yin e Kwan-Yin são sinônimos de Fogo e Água. As duas deidades em sua


manifestação primordial são a díade ou deus dual, de natureza bissexual, Purusha e Prakriti.

P. 1) Quais são os termos que correspondem aos três Logoi entre as palavras
Oeaohoo, o mais jovem; Kwan-Shai-Yin; Kwan-Yin; Pai-Mãe; Fogo e Água; Espaço Radiante
e Espaço Escuro?
R. 1) Cada um deve resolver isso por si mesmo; "Kwan-Shai-Yin assinala os lugares
para os resplandecentes, as estrelas, e converte o espaço superior em um mar de fogo sem
praias, e o uno manifestado nas grandes Águas". Meditem bem nisto. O Fogo representa o
Espírito oculto, a Água é sua progênie, ou umidade, ou os elementos criadores aqui sobre a
Terra, a crosta externa, e, interiormente, os princípios evolucionantes ou criadores, ou os
princípios mais internos. Os ilusionistas provavelmente diriam "acima".

P. 2) O que é o véu que Oeaohoo, o mais jovem, levanta de Oriente ao Ocidente?


R. 2) O véu da realidade. É a cortina que desaparece para mostrar ao espectador as
ilusões no cenário da Existência, a cena e os atores, em uma palavra, o universo de MĀYĀ.

P. 3) O que é o "espaço superior" e "o oceano sem praias de fogo"?


R. 3) O "espaço superior" é o espaço "interno", embora pareça paradoxal, porque na
infinitude não existe nem acima nem abaixo; mas os planos se seguem um ao outro e se
solidificam de dentro para fora. De fato, é o Universo como aparece ao sair de seu estado
laya ou "zero", uma expansão sem praias do espírito, ou "oceano de fogo".

P. 4) As "Grandes Águas"são as mesmas que aquelas sobre as quais se moviam as


Trevas?
R. 4) É incorreto neste caso falar de Trevas "que se movem". As Trevas Absolutas, ou
o Eterno Desconhecido, não podem ser ativos, e mover-se é ação. Inclusive, no Gênesis, se
diz que as Trevas estavam sobre a superfície do abismo, mas que o que se movia sobre a
superfície das águas era o "Espírito de Deus". Esotericamente isto significa que no início,
quando a Infinitude não tinha forma, e o Caos, ou o Espaço exterior, era ainda vazio, havia
apenas trevas (isto é, Kalahamsa Parabrahman). Então, na primeira irradiação do
71
amanhecer, o "Espírito de Deus" (depois que foram irradiados o Primeiro e o Segundo
Logos), o Terceiro Logos, ou Narayan, começou a mover-se sobre a superfície das Grandes
Águas do "Abismo". Portanto, a pergunta, para ser correta, se não clara, deveria ser: "As
Grandes Águas são o mesmo que as Trevas das quais se fala?" A resposta então seria
afirmativa. Kalahamsa tem um duplo significado. Exotericamente é Brahmā que é o Cisne, a
"Grande Ave", o veículo no qual as Trevas se manifestam à compreensão humana como luz,
e este Universo. Mas, esotericamente, são as mesmas Trevas, o Incognoscível Absoluto que
é a Fonte, primeiro da irradiação chamada o Primeiro Logos; depois, de seu reflexo, a
Aurora, ou o Segundo Logos, e, finalmente, de Brahmā, a Luz manifestada, ou Terceiro
Logos. Recordemos que sob esta ilusão de manifestação, que vemos e sentimos, e que,
como imaginamos, chega à percepção de nossos sentidos, é pura e simplesmente aquilo
que não ouvimos, nem vemos nem sentimos, nem provamos, nem tocamos. É apenas uma
ilusão grosseira e nada mais.

P. 5) Voltando a uma pergunta anterior, em que sentido pode a eletricidade ser


chamada de uma "entidade"?
R. 5) Somente quando nos referimos a ela como Fohat, sua Força Primordial. Em
realidade, existe somente uma força, que no plano de manifestação nos aparece em
milhões e milhões de formas. Como foi dito, tudo procede do único fogo universal
primordial, e a eletricidade é, em nosso plano, um dos aspectos mais abrangentes desse
fogo. Tudo contém, e é, eletricidade, desde a urtiga que arde até o raio que mata, desde a
faísca no seixo até o sangue no corpo. Mas a eletricidade que se vê, por exemplo, em uma
lâmpada elétrica, é uma coisa totalmente distinta de Fohat. A eletricidade é a causa do
movimento molecular no Universo físico e, portanto, também aqui na Terra. É um dos
"princípios" da matéria; porque como é gerada em toda alteração de equilíbrio, converte-
se, por assim dizer, no elemento kāmico do objeto no qual ocorre tal alteração. Assim,
Fohat, a causa primeva desta força em seus milhões de aspectos, e como a soma total da
eletricidade cósmica universal, é uma entidade.

P. 6) Mas o que a senhora quer dizer com este termo: A eletricidade não é também
uma entidade?
R. 6) Eu não a chamaria assim. A palavra Entidade vem da raiz latina ens, que significa
"ser", do verbo ser"; portanto, tudo que não depende de outra coisa é uma "entidade",
desde um grão de areia até Deus. Mas em nosso caso, somente Fohat é uma entidade,
tendo a eletricidade unicamente um significado relativo se tomada no sentido científico
atual.

P. 7) Não é a eletricidade cósmica um filho de Fohat, e seus "Sete Filhos" não são
entidades?
R. 7) Temo que não. Falando do Sol, podemos chama-lo uma Entidade, mas
dificilmente diríamos que um raio de sol, que deslumbra nossos olhos é também uma
entidade. Os "Filhos de Fohat” são as várias Forças que tem a vida fohática ou Vida elétrica
cósmica em sua essência ou ser, e em seus vários efeitos. Um exemplo: friccione o âmbar,
uma Entidade Fohática - e ele dará origem a um "Filho" que atrairá a palha: desse modo um
72
objeto aparentemente inanimado e inorgânico manifesta vida. Mas friccionemos uma
urtiga entre o polegar e o indicador e você também irá gerar um Filho de Fohat na forma de
uma bolha. Nestes casos, a bolha é uma Entidade, mas a atração que atrai a palha,
dificilmente pode-se dizer que seja.

P. 8) Então, Fohat é eletricidade cósmica e o "Filho" é também eletricidade?


R. 8) A eletricidade é o trabalho de Fohat mas como acabo de dizer, Fohat não é
eletricidade. Do ponto de Vista oculto, os fenômenos elétricos muito frequentemente são
produzidos por um estado anormal das moléculas de um objeto ou de corpos no espaço: a
eletricidade é vida e é morte: a primeira sendo produzida pela harmonia; a segunda, pela
desarmonia. A eletricidade vital esta sob as mesmas leis que a eletricidade cósmica. A
combinação de moléculas em novas formas e a produção de novas correlações e alterações
do equilíbrio molecular é, em geral, o trabalho de, e que gera, Fohat. O princípio
sintetizado, ou a emanação dos sete Logoi cósmicos, e benéfico apenas quando prevalece
a harmonia.

Sloka (8) ONDE ESTAVA O GERME E ONDE ENTÃO SE ENCONTRAVAM AS TREVAS?


ONDE ESTA O ESPÍRITO DA CHAMA QUE ARDE EM TUA LÂMPADA, Ó, LANU! O GERME É
AQUILO, E AQUILO E A LUZ; O BRANCO FILHO RESPLANDECENTE DO PAI OBSCURO E
OCULTO.42
42 A Doutrina Secreta, Vol. l, p. 134. (Nota do trad.)

P. 1) É o espírito da chama que arde na lâmpada de cada um de nós, nosso Pai


Celestial ou Eu Superior?
R. 1) Nem um nem outro; a frase citada e apenas uma analogia e se refere à lâmpada
verdadeira que se supõe que o discípulo esteja usando.

P. 2) Os elementos são os corpos dos Dhyan-Chohans, e o Hidrogênio, o Oxigênio, o


Ozônio e o Nitrogênio são os elementos primordiais neste plano de matéria?
R. 2) A resposta à primeira parte desta pergunta será encontrada ao se estudar o
simbolismo de A Doutrina Secreta. Com relação aos quatro elementos citados, este é o
caso; mas recordem que no plano superior o próprio éter volátil pareceria tão denso como
o barro. Todos os planos têm sua própria densidade de substância ou matéria, suas
próprias cores, sons, dimensões de espaço, etc., que nos são inteiramente desconhecidos
neste plano; e assim como na Terra temos seres intermediários, a formiga, por exemplo,
uma espécie de entidade de transição entre dois planos, assim também no plano superior
existem criaturas dotadas de sentidos e faculdades desconhecidos para os habitantes desse
nosso plano. Há uma notável ilustração de Elihu Vedder para os Quartetos [Rubaiyat] de
Ornar Khayyam, que sugere a ideia dos Nós de Fohat. É a comum representação japonesa
das nuvens, linhas simples que se encontram em forma de nós, tanto em pinturas como em
gravuras. É Fohat "o que faz os nós" e, de um ponto de vista, é a "matéria do mundo".

P. 3) Se a Via Láctea é uma manifestação desta "matéria do mundo", como é que ela
não é vista em todo o céu?
73
R. 3) E por que não seria a parte mais contraída e, portanto, a mais condensada, a
única que se vê? Esta se transforma em "nós" e passa pela etapa solar, as etapas cometária
[relativo a "cometa"] e planetária, até converter-se finalmente em um corpo morto, ou uma
lua. Também há várias classes de sóis. O Sol do Sistema Solar é um reflexo. Ao final do
Manvantara solar, ele começará a ser cada vez menos radiante, dando cada vez menos
calor, devido a uma mudança no Sol verdadeiro, do qual o Sol visível é um reflexo. Após o
Pralaya solar, em um Manvantara futuro, o Sol atual se converterá em um corpo
cometário, mas certamente não durante a vida de nossa pequena cadeia planetária. O
argumento obtido de uma análise do espectro estelar não é sólido, porque não se leva em
conta a passagem da luz através da poeira cósmica. Isto não quer dizer que não há
diferença real no espectro das estrelas, ma que a reconhecida presença de ferro ou sódio
em qualquer estrela particular pode ser devida à modificação dos raios de tal estrela pela
poeira cósmica com a qual a Terra está rodeada.

P. 4) O poder perceptivo de uma formiga acerca das cores, por exemplo, não diferirá
de nossos poderes de percepção, simplesmente devido a condições fisiológicas?
R. 4) Certamente a formiga pode apreciar os sons que nós captamos, mas ela também
pode apreciar os sons que não ouvimos, e evidentemente a fisiologia não tem nada a ver
com a matéria. Nós e as formigas possuímos graus diferentes de percepção. Nós estamos
em uma escala superior de evolução, porém, comparativamente falando, somos como as
formigas em relação ao plano superior.

P. 5) Quando a eletricidade é excitada ao se friccionar o âmbar, existe algo que


corresponda a uma emanação do âmbar?
R. 5) Sim, existe: a eletricidade que está latente no âmbar existe em tudo o mais, e
será encontrada ali se forem dadas as condições apropriadas para sua liberação. Há um
erro que se comete comumente e que na visão de um ocultista não pode haver erro maior.
É feita uma distinção entre o que vocês chamam objetos animados e inanimados, como se
sobre a Terra pudesse existir algo como um objeto perfeitamente inanimado!
Em realidade, mesmo aquilo que vocês chamam um homem morto está mais vivo do
que nunca. De um ponto de vista, a marca distintiva entre o que se chama orgânico e
inorgânico é a função da nutrição, mas, se não houvesse nutrição, como poderiam sofrer
mudanças o corpos chamados inorgânicos? Mesmo os cristais sofrem um processo de
acréscimo, que para eles responde à função de nutrição. Em realidade, como nos ensina a
Filosofia Oculta, tudo o que muda é orgânico; tem em si o princípio vital e tem todas as
potencialidades das vidas superiores. Se, como dissemos, na Natureza tudo é um aspecto
do elemento único, e a vida é universal, como podem existir coisas tais como os átomos
inorgânicos?!

74
Reunião realizada na Rua Lansdowne, nº 17, Londres, W., em 7 de março de 1889; sob
a presidência do Sr. W. Kingsland.

ESTÂNCIA III [continuação]


Sloka (10) O PAI-MÃE TECE UMA TELA, CUJO EXTREMO SUPERIOR ESTÁ UNIDO AO
ESPÍRITO (Purusha), A LUZ DA OBSCURIDADE ÚNICA, E O INFERIOR À MATÉRIA (Prakriti),
SUA (do Espírito) EXTREMIDADE DE SOMBRAS; E ESTA TELA É O UNIVERSO, TECIDO COM AS
DUAS SUBSTÂNCIAS COMBINADAS EM UMA, QUE É SVABHĀVAT.43.
43 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 138. (Nota do trad.)

P. 1) Espírito e Matéria são os extremos opostos da mesma Tela; Luz e Trevas, Frio e
Calor, Vazio ou Espaço e plenitude de tudo o que existe são também opostos. Em que
sentido estes três pares de opostos estão associados ao Espírito e à Matéria?
R. 1) No sentido de que tudo o que existe no Universo está associado ou com a
Matéria ou com o Espírito, tomando-se como elemento permanente um dos dois ou
ambos. A Matéria pura é Espírito puro, e isso não pode ser compreendido, mesmo se
admitido por nossos intelectos finitos. Nem a Luz nem as Trevas, como efeitos óticos, são
matéria; nem são espírito, mas são as qualidades daquela (matéria).

P. 2) Em que relação está o Ether com o Espírito e a Matéria?


R. 2) Façam uma diferença entre AEther e Ether, sendo o primeiro divino, e o último
físico e infernal. O Ether é o mais baixo na divisão setenária do Akāsha-Pradhāna, a
primordial Substância-Fogo. AEther-Akāsha é o quinto e sexto princípios do corpo do
Cosmos - correspondendo assim a Buddhi-Manas no homem; o Ether é seu sedimento
cósmico, que se mescla com a capa inferior da Luz Astral. Começando com a quinta raça-
raiz, se desenvolverá até a plenitude somente no começo da quinta ronda. AEther é Akāsha
em seu aspecto mais elevado. E Ether-Akāsha, em seu aspecto mais inferior. Por um lado,
equivale ao Pai-Criador, Zeus, Pai AEther; e, por outro, é equivalente à Serpente-Tentadora
infernal, a Luz Astral dos cabalistas. Neste último caso, é matéria totalmente diferenciada;
no primeiro, é somente matéria rudimentariamente diferenciada. Em outras palavras, o
Espírito converte-se em matéria objetiva; e a matéria objetiva converte-se novamente em
Espírito subjetivo, quando escapa aos nossos sentidos metafísicos. O AEther tem com o
Cosmos e com a nossa Terra a mesma relação que tem Manas com a Mônada e o corpo.
Portanto, o Ether não tem nada a ver com o Espírito, mas muitíssimo com a matéria
subjetiva e com a nossa Terra.

P. 3) "Brahmâ como 'germe das Trevas desconhecidas', é o material a partir do qual


tudo evoluciona e se desenvolve". É um dos axiomas da lógica o fato de que é impossível
para a mente acreditar em algo de que nada compreende. Agora, se este "material" que é
Brahmā não possui forma, então na mente não pode entrar nenhuma ideia com relação a
isso, porque a mente não pode conceber nada que não tenha forma. É a "vestimenta" ou
manifestação sob a forma de "Deus" a que podemos perceber, e é por meio desta e só por
meio desta que podemos saber algo dele. Portanto, qual é a primeira forma deste material
75
que pode ser reconhecida pela consciência humana?
R. 3) O seu axioma de lógica pode ser aplicado apenas ao Manas inferior, e é somente
a partir da percepção de Kama-Manas que é possível argumentar. Mas o Ocultismo ensina
unicamente o que provém do conhecimento do Ego Superior ou Buddhi-Manas. Porém,
tratarei de responder segundo as linhas que lhe são familiares. A primeira e única forma de
matéria-prima que nossa consciência cerebral pode conhecer é um círculo. Treine seu
pensamento, antes de tudo, para um profundo conhecimento de um círculo limitado, e
expando-o gradualmente. Logo chegará a um ponto em que, sem deixar de ser um círculo
no pensamento, se converterá em infinito e ilimitado para suas percepções internas. Este
círculo é o que chamamos Brahmā, o germe, átomo ou anu: um átomo latente que
compreende a infinitude e a Eternidade sem limites durante o Pralaya, um átomo ativo
durante os ciclos de vida; mas um que não possui circunferência nem plano, somente uma
expansão ilimitada. Portanto, o Círculo é a primeira figura geométrica e o primeiro símbolo
no mundo subjetivo, e converte-se em Triângulo no objetivo.
O Triângulo é a figura seguinte, depois do Círculo. A primeira figura, o Círculo com o
Ponto, em realidade não é uma figura; é simplesmente um germe primitivo, o primeiro que
se pode imaginar no começo da diferenciação; deve-se conceber o Triângulo logo que a
matéria tenha ultrapassado o ponto zero ou Laya. Brahmā é chamado um átomo, porque
temos de imaginá-lo como um ponto matemático, o qual, no entanto, pode ser estendido
até a absolutividade. Nota bene, ele é o germe divino e não o átomo dos químicos. Mas
cuidado com a ilusão da forma. Uma vez que vocês façam descer sua Deidade até a forma
humana, vocês a limitam e condicionam, e eis que vocês criaram um deus antropomórfico.

Sloka (11) ELA (a Tela) EXPANDE-SE QUANDO O ALENTO DE FOGO (o Pai) ESTÁ SOBRE
ELA; E SE CONTRAI QUANDO O ALENTO DA MÃE (a raiz da Matéria) A TOCA. ENTÃO OS
FILHOS (os Elementos com seus respectivos Poderes ou Inteligências) SE SEPARAM E SE
ESPALHAM, PARA VOLTAREM AO SEIO DE SUA MÃE NO FIM DO "GRANDE DIA",
TORNANDO-SE DE NOVO UNOS COM ELA. QUANDO ELA (a Tela) ESFRIA, ELA SE TORNA
RADIANTE, SEUS FILHOS SE DILATAM E SE RETRAEM DENTRO DE SI MESMOS E DE SEUS
CORAÇÕES; ELES ABRANGEM O INFINITO.44
44 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 138, 139. (Nota do trad.)

P. 1) A palavra "expande-se" é usada aqui no sentido de diferenciar-se ou


desenvolver-se, e "se contrai" no de involucionar, ou estes termos referem-se ao
Manvantara e ao Pralaya? Ou, de novo, a um constante movimento vibratório da matéria
do mundo ou átomos? Esta expansão e contração são simultâneas ou sucessivas?
R. 1) A Tela é a substância primordial sempre existente, (espírito puro no nosso
conceito) o material do qual se desenvolve, ou se desenvolvem, o Universo ou os Universos
objetivos. Quando o alento de fogo ou Pai está sobre ela, expande-se; ou seja, que como
material subjetivo ele é ilimitado, eterno e indestrutível. Quando o sopro da Mãe a toca, ou
seja, quando o momento de manifestação chega a ele tem que assumir uma forma
objetiva, contrai-se, porque não existe uma coisa tal como uma forma material objetiva que
seja ilimitada. Ainda que a proposição de Newton de que toda partícula de matéria tem a
propriedade de atrair outras partículas, seja em geral correta; e que a tese de Leibniz, de
76
que todo átomo é em si um universo e atua por meio de sua força inerente, também seja
verdade; entretanto, ambas as proposições são incompletas. Porque o homem é também
um átomo, que possui atração e repulsão, e é o Microcosmo do Macrocosmo. Porém, seria
também verdade dizer que devido à força e à inteligência que estão nele, ele se move
independentemente de qualquer outra unidade humana, ou que poderia atuar e mover-se,
a menos que houvesse uma força e uma inteligência maiores que as próprias para permitir-
lhe viver e mover-se nesse elemento superior de Força e Inteligência?
Um dos objetivos de A Doutrina Secreta é provar que os movimentos planetários não
podem ser explicados de maneira satisfatória somente pela lei da gravidade. Além da força
que atua na matéria, há também uma força que atua sobre a matéria.
Quando falamos da modificação das condições de Espírito-Matéria (que em realidade
é Força), e as chamamos por vários nomes, tais como calor, frio, luz e trevas, atração e
repulsão, eletricidade e magnetismo, etc., para o ocultista estes são simplesmente nomes
que expressam a diferença na manifestação da mesma Força única (sempre dual em sua
diferenciação), mas não qualquer diferença específica de forças. Pois todas estas diferenças
no mundo objetivo resultam apenas das peculiaridades de diferenciação da matéria, sobre
a qual atua a única força livre, auxiliada nisso por essa porção de sua essência à qual
chamamos força aprisionada, ou moléculas materiais. O trabalhador no interior, a força
inerente, tende sempre a unificar-se com sua essência Pai-Mãe no exterior; e assim, a Mãe
atuando interiormente, faz com que a Tela se contraia; e o Pai, atuando de fora, faz com
que se expanda. A ciência chama isto de gravitação; para os ocultistas é o trabalho da
Força-Vida universal, que se irradia dessa FORÇA Absoluta e Incognoscível que está além de
todo Espaço e Tempo. Esta é a tarefa da Eterna evolução e involução, ou expansão e
contração.

P. 2) Qual é o significado da frase "a Tela esfriando" e quando isso acontece?


R. 2) Evidentemente que é ela mesma que está esfriando, e não algo fora dela.
Quando? Foi-nos dito que isso começa quando a força aprisionada e a inteligência inerente
em todo átomo de matéria, tanto a diferenciada quanto a homogênea, chega a um ponto
em que ambas se tornam obedientes a uma Força inteligente superior, cuja missão é a de
guiá-las e modelá-las. É a Força que chamamos a divina Livre-Vontade (Livre-Arbítrio),
representada pelos Dhyāni-Buddhas. Quando as forças centrípeta e centrífuga da Vida e da
existência estão submetidas à Força Una, inominada, a qual produz ordem na desordem, e
estabelece a harmonia no Caos - então começa a esfriar-se. É impossível informar com
exatidão o tempo em um processo cuja duração é desconhecida.

P. 3) A forma é o resultado da interação das forças centrífuga e centrípeta na matéria


e na Natureza?
R. 3) Foi-nos dito que toda forma é construída de acordo com o modelo para ela
desenhado na Eternidade e refletido na MENTE DIVINA. Existem hierarquias de
"Construtores da forma" e séries de formas e graus, desde a mais elevada até a mais ínfima.
Enquanto que as primeiras são moldadas sob a orientação dos "Construtores", os deuses
"Cosmocratores", as últimas são modeladas pelos Elementais ou Espíritos da Natureza.
Como um exemplo disso, observem os estranhos insetos, alguns répteis e outras
77
criaturas invertebradas, os quais imitam quase exatamente as folhas, as flores, os ramos
cobertos de limo e outras coisas chamadas "inanimadas" não somente na cor, mas também
na forma. Devemos considerar a "seleção natural" e as explicações de Darwin como uma
solução? Creio que não. A teoria da seleção natural não é só totalmente inadequada para
explicar esta misteriosa faculdade de imitação no reino da existência, como também
proporciona um conceito inteiramente falso da importância da faculdade imitativa, como
"uma arma potente na luta pela vida". E se esta faculdade imitativa for uma vez provada
(coisa que pode acontecer facilmente), como algo que não se encaixa de forma alguma no
esquema de Darwin; isto é, se for demonstrado que seu uso, em conexão com a assim
chamada "sobrevivência do mais apto" é uma especulação que não pode suportar uma
análise severa, então, a que se pode atribuir a existência desta faculdade? Todos vocês já
viram insetos que copiam/imitam, quase que com a fidelidade de um espelho, a cor e
mesmo a forma exterior das plantas, folhas, flores, partes de pequenos ramos mortos, etc.
Isto não é uma lei, mas antes uma frequente exceção. O que então, senão uma invisível
inteligência fora do inseto, pode copiar com tal exatidão a partir dos originais maiores?

P. 4) Mas o Sr. Wallace não demonstra que tal imitação tem seu objetivo na
Natureza? Que é justamente isso o que comprova a teoria da "seleção natural" e o instinto
inato nas criaturas mais fracas de buscar segurança atrás da aparência emprestada de
certos objetos? Os insetívoros que não se alimentam de folhas e plantas deixarão desse
modo a salvo de ataque um inseto parecido com uma folha ou com um musgo. Isso parece
muito plausível.
R. 4) Muito plausível, realmente, se, além de fatos negativos, não houvesse uma
evidência muito positiva para demonstrar o inadequado da teoria da seleção natural para
explicar o fenômeno da imitação. Para que um fato se sustente, deve mostrar-se aplicável,
se não universalmente, pelo menos sob as mesmas condições; exemplo: a correspondência
e identidade de cores entre os animais de uma mesma localidade e o solo dessa região
seriam uma manifestação geral. Mas o que podemos dizer do camelo do deserto, com sua
vestimenta da mesma cor "protetora" das planícies em que vive, e da zebra, cujas intensas
listras escuras não a podem proteger nas abertas planícies da África do Sul, como admitia o
mesmo Sr. Darwin.
A ciência nos assegura que esta imitação da cor do solo encontra-se invariavelmente
nos animais mais fracos, e, no entanto, encontramos o leão - que não precisa temer
nenhum inimigo mais forte do que ele no deserto - com uma roupagem que dificilmente
pode distingui-lo das rochas e das planícies arenosas de onde vive! Pedem-nos para
acreditar que esta "imitação de cores protetoras é originada pelo uso e o beneficio que
oferece ao imitador", como "uma arma potente na luta pela vida"; e, contudo, a
experiência diária nos mostra exatamente o contrário. Assim, aponta para uma quantidade
de animais nos quais as formas mais pronunciadas de faculdade imitativa (mimetização) são
inteiramente inúteis, ou, pior ainda, prejudiciais e muitas vezes autodestrutivas. Que
benefício, pergunto, é a imitação da fala humana para a pega45 e o papagaio, exceto o de
levá-los a ser encerrados numa gaiola? Que utilidade tem para o macaco sua capacidade
mímica, que traz tanta dor a muitos deles e, às vezes, grandes lesões corporais e
autodestruição; ou a um rebanho de mansas ovelhas, que seguem cegamente a seu guia,
78
inclusive quando este cai em um precipício? Este desejo não reprimido (também de imitar
seus líderes) levou mais de um desafortunado darwinista a fazer as mais incongruentes e
absurdas declarações, ao buscar as provas para seu hobby favorito.
45 No original em inglês: magpie; "pegas" são aves da família corvidae (diferente da do corvo, que é
"corvus"), incluindo.o pega-rabuda o branco e preto, que é uma das poucas espécies animais capazes de
reconhecerem a si mesmas em um teste do espelho, também chamado pica-pica. (Nota do trad.)
Assim, nosso amigo haeckeliano, Sr. GrantAllen, em sua obra a respeito do tema que
se debate, fala de um certo lagarto indiano, abençoado com três grandes parasita de
diferentes espécies. Cada um destes três imita perfeitamente a cor da parte do corpo em
que vive; o parasita do estômago dessa criatura é amarelo como o estômago; o segundo
parasita, tendo escolhido seu habitat nas costas, tem cores tão variadas como as lâminas
(escamas) dorsais; enquanto que o terceiro parasita, tendo escolhido sua morada na cabeça
marrom do lagarto, quase não se distingue dele pela cor. Esta cuidadosa cópia das
respectivas cores, diz o Sr. G. Allen, tem o propósito de proteger os parasitas do próprio
lagarto. Mas, seguramente, este esforçado campeão da seleção natural não tem a intenção
de dizer a seu público que o lagarto pode ver o parasita que está sobre sua própria cabeça!
E, por último, que utilidade tem a cor vermelha brilhante para o peixe que vive entre os
bancos de corais, ou para a diminuta Ave do Paraíso, o colibri, cuja plumagem de matizes
irisados imita todas as cores brilhantes da fauna e flora tropicais - exceto para torná-los
mais perceptíveis?

P. 5) A que causas o Ocultismo atribuiria esta faculdade imitativa?


R. 5) A várias coisas. No caso dessas raras aves tropicais e dos insetos tipo folha, a
causa é atribuída aos primeiros elos intermediários, no primeiro caso entre o lagarto e o
colibri, e no último, entre certas vegetações e o tipo de inseto. Houve um tempo, há
milhões de anos, em que tais "elos perdidos" eram numerosos em cada ponto do globo
onde havia vida. Porém, agora, estão tornando mais raros a cada ciclo e geração; na
atualidade, encontram-se somente em um limitado número de lugares e tais elos são
relíquias do passado.

P. 6) A senhora poderia nos dar alguma explicação, do ponto de vista oculto, sobre a
chamada" Lei da Gravidade"?
R. 6) A ciência insiste em que entre os corpos a atração é diretamente proporcional à
massa e inversamente proporcional ao quadrado da distância. Entretanto os ocultistas têm
dúvidas sobre se essa lei se sustenta com relação à totalidade da rotação planetária.
Consideremos a primeira e a segunda lei de Kepler incluídas na lei de Newton, segundo diz
Herschel46:
46 (Sir John F. W. Herschel, Treatise on Astronomy, New ed., Londres, 1851; Cap. VII, p. 237, 238. (Nota do
comp.)

"...sob a influência de tal força de atração que faz com que dois corpos esféricos
se atraiam mutuamente, cada um deles, ao mover-se na proximidade do outro, será
desviado em uma órbita côncava até o outro, e descreverá - um ao redor do outro,
considerando o outro como fixo, ou os dois ao redor de seu centro comum de
gravidade - curvas cujas formas estão limitadas às figuras que em geometria se
79
conhecem com o nome geral de seções cônicas. Dependera [...] das circunstâncias
particulares de velocidade, distância e direção, qual destas curvas será descrita, seja
uma elipse, um círculo, uma parábola, ou uma hipérbole; mas deve ser uma ou
outra..."

A ciência diz que os fenômenos de movimento planetário resultam da ação de duas


forças, uma centrípeta e a outra centrífuga, e que um corpo caindo ao chão numa linha
perpendicular à água parada, comporta-se assim devido à lei da gravidade ou força
centrípeta. Entre outras, é possível expressar as seguintes objeções apresentadas por um
douto ocultista:

- Que a trajetória de um círculo é impossível no movimento planetário.


- Que o argumento manifestado na terceira lei de Kepler, ou seja, que "Os
quadrados dos tempos periódicos de dois planetas são proporcionais um ao outro,
como o cubo de suas distâncias médias do Sol", - dá origem ao curioso resultado de
um permitido equilíbrio na excentricidade dos planetas. Agora, permanecendo
inalteradas as ditas forças em sua natureza, isto pode surgir apenas, como ele diz, "a
partir da interferência de uma causa estranha".
- Que o fenômeno de gravitação ou "queda" não existe, exceto como resultado
de um conflito de forças. Só pode ser considerada como uma força isolada por meio de
uma análise mental ou separação. Afirma ele, além disso, que os planetas, os átomos e
as partículas de matéria não são atraídos mutuamente na direção de linhas retas que
unem seus centros, mas que são forçados mutuamente nas curvas de espirais que se
fecham sobre o centro um do outro. E também que a maré não é o resultado da
atração. Tudo isso, como ele demonstra, resulta do conflito entre as forças livres e as
forças aprisionadas; antagonismo, aparentemente; mas, em realidade, afinidade e
harmonia.
"...Fohat, reunindo alguns aglomerados de partículas da Matéria Cósmica
(nebulosa), vai Impulsioná-los e colocá-los de novo em movimento, desenvolvendo o
calor necessário e deixando-o então seguir seu próprio novo crescimento."47
47 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 139. (Nota do trad.)

P. 7) Deve Fohat ser entendido como sinônimo de força, ou daquilo que causa a
cambiante manifestação da matéria? Se assim for, como se pode dizer que Fohat "o deixa
seguir seu próprio novo crescimento", quando todo desenvolvimento depende da força
interior?
R. 7) Todo crescimento depende da força interior, porque neste nosso plano é
somente esta força que atua conscientemente. A Força universal não pode ser considerada
como consciente, no sentido em que compreendemos a palavra consciência, porque se
converteria imediatamente em um deus pessoal. Apenas aquilo que está encerrado na
forma, uma limitação da matéria, é que está consciente de si mesmo neste plano. Não se
pode dizer que esta Força Livre ou Vontade, que é ilimitada e absoluta, atue
compreensivamente, porém é a única e exclusiva Lei imutável da Vida e do Ser.
Portanto, fala-se de Fohat como do poder motor que sintetiza todas as forças vitais
80
aprisionadas ,e como o meio entre a Força absoluta e a condicionada. É um elo, assim
como Manas é o elo de conexão entre a matéria densa do corpo físico e a divina Mônada
que o anima, mas que não tem poder para atuar diretamente sobre a forma.

P. 8) Se a Força é uma unidade ou o Uno, que se manifesta em uma ilimitada


variedade de maneiras, é difícil compreender o que se diz no Comentário que: "Existe calor
interno e calor externo em cada átomo"; isto é, o calor latente e o ativo ou o calor dinâmico
e cinético. Calor é o fenômeno de uma percepção da matéria, impulsionada pela força de
uma maneira peculiar. Portanto, o calor no plano físico é simplesmente matéria em
movimento. Se existe calor em um sentido mais interno e oculto que o calor físico, deve ser
percebido por meio de sentidos mais elevados e mais internos, em virtude de suas
atividades em qualquer plano em que se manifeste. Para esta percepção, são necessárias
três condições: uma força que atua, uma forma sobre a qual tal força atua e aquilo que
percebe a forma em movimento. Os termos "latente", ''potencial'' ou "dinâmico" são
inaplicáveis ao calor, porque o calor, seja no primeiro ou no sétimo plano de consciência, é
a percepção da matéria ou substância em movimento. A discrepância entre a declaração
acima mencionada e o ensinamento de A Doutrina Secreta é aparente ou real?

R. 8) Por que seria o calor, em qualquer outro plano que não seja o nosso, a
percepção da matéria ou substância em movimento? Por que um ocultista deveria aceitar a
condição (1) de uma força atuante; (2) uma forma sobre a qual atua a força; (3) aquilo que
percebe a forma em movimento, como condições de calor? Assim como, à medida que os
planos ascendem, a heterogeneidade tende cada vez mais para a homogeneidade, assim
também, no sétimo plano, a forma desaparecerá, não haverá nada sobre o que atuar, e a
Força permanecerá em solitária grandeza, para perceber somente a si mesma; ou, segundo
a fraseologia de Spencer, converter-se-á em "sujeito e objeto, o percebedor e o percebido",
os dois juntos. Os termos que se usam não são contraditórios, mas símbolos tomados da
ciência física para esclarecer a ação e os processos ocultos à mente dos que estão treinados
nessa ciência. De fato, cada uma destas definições de calor e de força correspondem a um
dos princípios do homem.
Os "centros de calor", do ponto de vista físico, seriam o ponto zero, porque são
espirituais.
A palavra "percebido" é um tanto errônea, seria melhor dizer "sentido". Fohat é o
agente da lei, o representante dos Mānasa-putras, cuja coletividade é a mente eterna.

P. 9) Na passagem de um globo ao Pralaya, ele permanece in situ [in loco], isto é,


ainda formando parte de uma cadeia planetária e segue mantendo sua própria posição em
relação aos outros globos? A dissociação por meio do calor desempenha algum papel na
passagem de um globo ao Pralaya?
R. 9) Isto está explicado no Esoteric Buddhism. Quando o globo de uma cadeia
planetária entra em "obscurecimento", todas as qualidades, incluindo o calor, retiram-se de
tal globo e permanecem in status quo, como a "Bela adormecida", até que Fohat, o
"Príncipe Encantado", a desperta com um beijo.

81
P. 10) Fala-se dos filhos que se desagregam e se dispersam. Isso parece estar em
oposição à grande ação de "voltar ao seio de sua mãe" ao final do "Grande Dia". A
dissociação e a dispersão referem-se à formação do globo a partir da matéria do mundo
universalmente espargida, que, em outras palavras, emerge do Pralaya?
R. 10) A dissociação e a dispersão referem- ao Nitya Pralaya. Este é um eterno e
perpétuo Pralaya que ocorre sempre, desde quando houve globos e matéria diferenciada. É
simplesmente uma mudança atômica.

P. 11) O que se quer dizer com a expressão "se dilatam e se contraem dentro de si
mesmos e em seus corações", e como isso está relacionado com a última linha do Sloka
"eles abarcam o infinito"?
R. 11) Isso já foi explicado. Através de suas forças aprisionadas e inerentes, eles
lutam coletivamente para unirem-se a força una universal ou força livre, ou seja, para
abarcarem o Infinito, sendo infinita esta força livre.

P. 12) Qual é a relação entre eletricidade, magnetismo físico ou animal e o


hipnotismo?
R. 12) Se por eletricidade você se refere à ciência que revela neste plano os
fenômenos e as Leis do fluido elétrico, sob dezenas de qualificativos ou substantivos então
responderei que não tem relação alguma. Mas se você se refere à eletricidade que
chamamos Fohática ou intracósmica, então direi que todas estas formas de fenômenos se
baseiam nela.

82
Reunião realizada na Rua Lansdowne, nº 17, Londres, W., no dia 14 de março de 1889,
sob a presidência do Sr. W. Kingsland.

ESTÂNCIA IV
Sloka (1) ESCUTAI, Ó FILHOS DA TERRA, OS VOSSOS INSTRUTORES, OS FILHOS DO
FOGO. SABEI QUE NÃO HÁ PRIMEIRO NEM ULTIMO; PORQUE TUDO É UM NÚMERO QUE
PROCEDE DO NÃO NÚMERO.48
48 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 140. (Nota do trad.)

P. 1) Os Filhos do Fogo são os Raios do Terceiro Logos?


R. 1) Os "Raios" são os "Filho da Névoa de Fogo", produzidos pela Terceira Criação, ou
Logos. Os reais "Filhos do Fogo" da Quinta Raça e Sub-raças são assim chamados
simplesmente porque por sua sabedoria pertencem ou estão mais próximos da hierarquia
dos divinos "Filhos da Névoa de Fogo", os mais elevados dos Chohans ou Anjos Planetários.
Mas os Filhos do Fogo, dos quais aqui se fala como se dirigindo aos Filhos da Terra, são,
neste caso, os Instrutores-Reis que encarnaram nesta Terra para instruírem a nascente
Humanidade. Como "Reis" eles pertencem às dinastias divinas das quais cada nação, Índia,
Caldeia, Egito, Grécia homérica, etc. conservou uma tradição ou um registro em uma forma
ou outra. O nome de "Filhos da Névoa de Fogo" era dado também aos antigos Hierofantes.
São certamente subdivisões do Terceiro Logos. São os Chohans do Fogo ou Anjos, os Anjos
do Ether, do Ar e da Água e os Anjos da Terra. Os sete Sephiroth inferiores são anjos
terrenos e correspondem às sete hierarquias dos sete elemento, cinco dos quais são
conhecidos e dois ainda desconhecidos.

P. 2) Então, eles correspondem às Raças?


R. 2) Sim. De outro modo, onde estariam as Raças intelectuais com cérebros e
pensamento, se não fosse por estas hierarquias que encarnaram nelas?

P. 3) Qual é a diferença entre estas várias Hierarquias?


R. 3) Em realidade, para aquele que vê além do véu da matéria ou ilusão, estes fogos
não estão separados, como não estão as almas ou mônadas.
Aquele que quer ser um ocultista não deve separar nem a si mesmo nem qualquer
outra coisa do resto da criação ou não criação. Pois, do momento em que ele se sente
distinto mesmo de um veículo impuro, ele não estará em condições de unir-se a um veículo
puro. Deve pensar de si mesmo como de algo infinitesimal, nem sequer como de um átomo
individual, mas como parte dos átomos do mundo, como um todo, ou converter-se em uma
ilusão, um ninguém, e desaparecer como um sopro, não deixando nenhum rastro atrás.
Como ilusões, somos corpos separados e distintos, que vivemos dentro de máscaras
proporcionadas por Māyā. Podemos alegar que um só átomo de nosso corpo é distinto de
nós próprios? Tudo, do espírito à partícula mais diminuta é parte do todo, no melhor dos
83
casos é um elo. Rompam um único elo e tudo termina em aniquilação; mas isso é
impossível. Há uma série de veículos que se tornam cada vez mais grosseiros, desde a
matéria espiritual até a mais densa, de maneira que com cada passo para baixo ou para o
exterior, o senso de separatividade em nós se desenvolve cada vez mais. Entretanto, isto é
ilusório, porque se houvesse uma separação real e completa entre dois seres humanos
quaisquer, eles não poderiam se comunicar entre si e de nenhum modo poderiam
compreender um ao outro.
O mesmo ocorre com estas hierarquias. Por que deveríamos separar suas classes em
nossas mentes, a não ser com o propósito de distingui-las no Ocultismo prático, o qual não
é senão a forma inferior de Metafísica aplicada. Mas se você procura separá-las neste plano
de ilusão, então tudo o que posso dizer é que entre estas Hierarquias existe o mesmo
abismo de distinção como entre os "princípios" do Universo ou os do homem, se você
preferir, e os mesmos "princípios" em um bacilo.
"Há uma passagem na Bhagavad-Gitā (Cap. VIII) onde Krishna, falando simbólica e
esotericamente, diz:

'''Eu indicarei os tempos (condições)... em que os devotos, ao partirem [desta


vida], o fazem para não voltar jamais [a renascer], ou para voltar [a encarnar-se de
novo]. O fogo, a chama, o dia, a lua crescente, [a quinzena feliz], os seis meses do
solstício do Norte, partindo [morrendo]... neles, os que conhecem a Brahman [os
Jogues], vão a Brahman. A fumaça, a noite, a lua minguante [a quinzena nefasta], os
seis meses do solstício do Sul [morrendo]... nestes, o devoto vai à esfera lunar
[também a Luz Astral], e volta [renasce]'."49
49 A Doutrina Secreta, Vol. I, p 141. (Nota do trad.)

P. 4) Qual é a explicação desta passagem?


R. 4) Significa que os devotos se dividem em duas classes: os que alcançam o Nirvāna
na Terra, e o aceitam (para não nascerem de novo neste Mahakalpa, ou idade de Brahman;
e os que recusam este estado de bem-aventurança, como o fizeram Buddha e outros.
"O Fogo, a Chama, a quinzena brilhante da Lua" são todos símbolos da mais elevada
deidade absoluta. Aqueles que morrem em tal estado de pureza vão até Brahman, isto é,
têm direito a Moksha ou Nirvāna. Por outro lado, "A Fumaça, a Noite, a quinzena sombria,
etc.", todos simbolizam a matéria, a obscuridade da ignorância. Os que morrem em tal
estado de purificação incompleta devem, naturalmente, renascer de novo. Somente o
espírito imaculado homogêneo, absolutamente purificado, pode unir-se de novo à Deidade
ou ir até Brahman.

Sloka (2) APRENDEI O QUE NÓS QUE DESCENDEMOS DOS SETE PRIMORDIAIS, NÓS,
QUE NASCEMOS DA CHAMA PRIMORDIAL, TEMOS APRENDIDO DE NOSSOS PAIS.50
50 A Doutrina Secreta, Vol. I, p 142. (Nota do trad.)

"Os primeiros 'Primordiais' são os Seres mais elevados na Escola da Existência... "Os
Primordiais procedem do 'Pai-Mãe'."

84
P. 1) O Pai-Mãe é aqui sinônimo do Terceiro Logos?
R. 1) Os primeiros sete primordiais nascem do Terceiro Logos. Isto acontece antes que
ele seja diferenciado na Mãe, quando se converte em matéria primordial pura em sua
primeira essência primária, potencialmente Pai-Mãe. A Mãe converte-se na mãe imaculada
apenas quando a diferenciação entre espírito e matéria está completa. De outro modo não
existiria tal distinção. Ninguém falaria do espírito puro como imaculado, porque não pode
ser de outro modo. A mãe é, então, a matéria imaculada antes de sua diferenciação sob o
sopro do Fohat pré-cósmico, quando se converte na "mãe imaculada" do "Filho" ou o
Universo manifestado, na forma. É com este último que começa a hierarquia que terminará
na Humanidade ou homem.

Sloka (3) DO RESPLENDOR DA LUZ - O RAIO DAS TREVAS ETERNAS - SURGIRAM NO


ESPAÇO AS ENERGIAS DESPERTADAS DE NOVO (Dhyan-Chohans): O UM DO OVO, O SEIS E O
CINCO. DEPOIS O TRÊS, O UM, O QUATRO, O UM, O CINCO, O DUPLO SETE, A SOMA TOTAL.
E ESTAS SÃO: AS ESSÊNCIAS, AS CHAMAS, OS ELEMENTOS, OS CONSTRUTORES, OS
NÚMEROS, OS ARŪPA (sem forma), OS RUPA (com corpos), E A FORÇA DO HOMEM DIVINO
- A SOMA TOTAL. E DO HOMEM DIVINO EMANARAM AS FORMAS, AS CENTELHAS, OS
ANIMAIS SAGRADOS, E OS MENSAGEIROS DOS SAGRADOS PAIS (os Pitris) DENTRO DO
SANTO QUATRO.51
51 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 143. (Nota do trad.)

P. 1) A senhora poderia explicar estes números e dar o significado deles?


R. 1) Conforme dito no Comentário, na atualidade não estamos envolvidos no
processo, ou seja, que ele não pode, no momento, se tornar público. Entretanto, algumas
sugestões podem ser dadas. Os rabinos chamam o Círculo (ou, como dizem alguns, o
primeiro ponto dentro dele) Echod, o UM, ou Ain-Soph. Em um plano inferior, o quarto
torna-se Adam Kadmon, o sete manifestado e o dez imanifestado, ou a completa Árvore
Sephirotal. Portanto, os Sephiroth são o mesmo que os Elohim. Agora, o nome deste último,
escrito em hebraico Alhim é composto de cinco letras; e estas letras em seus valores em
numerais, sendo colocadas ao redor de um círculo podem ser transmutadas à vontade, o
que não aconteceria caso fossem aplicadas a qualquer outra figura geométrica. O círculo é
interminável, isto é, não tem princípio nem fim. Agora, a Cabala literal divide-se em três
partes ou três métodos de leitura, dos quais a terceira é chamada Temura ou permutação.
De acordo com certas regras, uma letra ou numeral é substituída por outra. O alfabeto
cabalístico é dividido em duas partes iguais, e cada letra ou numeral de uma parte
corresponde a um número ou letra similar na outra. Mudando alternativamente as letras,
são obtidas vinte e duas (22) permutações ou combinações, e este processo é chamado
Tziruph.

Sloka (4) ESTE ERA O EXÉRCITO DA VOZ - O SETENÁRIO DIVINO, AS CENTELHAS DOS
SETE ESTÃO SUJEITAS AO/E SÃO AS SERVAS DO/PRIMEIRO, SEGUNDO, TERCEIRO, QUARTO,
QUINTO, SEXTO E DO SÉTIMO DOS SETE. ESTAS (as "centelhas") SAO CHAMADAS ESFERAS,
TRIÂNGULOS, CUBOS, LINHAS E MODELADORES; POIS ASSIM SE MANTÉM O ETERNO
NIDĀNA - O OI-HA-HOU (a permutação de Oeaohoo).52
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52 A Doutrina Secreta Vol. I, p. 146. (Nota do trad.)

P. 1) O que são os 'Ventos-Vitais" citados no comentário da página 149 de Doutrina


Secreta, Vol. I?
R. 1) Os Ventos-Vitais são os vários modos de inspiração e expiração, mudando assim
a polaridade do corpo e os Estados de Consciência. É uma prática de Yoga, mas cuidado
para não tomar as obras exotéricas sobre Yoga literalmente. Todos requerem uma chave.

P. 2) Qual o significado da frase do sloka 3, que começa: "As centelhas,..."? (ver Sloka
4, acima)
R. 2) As centelhas significam os Raios tanto para a inteligência inferior como para as
centelhas humanas ou Mônadas. Refere-se ao círculo e aos dígitos, e equivale dizer que os
números 3 1 4 5, como aparecem na página 144, Vol. I), estão todos sujeitos à
circunferência e ao diâmetro do círculo.

P. 3) Por que se diz que Sarasvati (a deusa da fala) é também a deusa da sabedoria
esotérica? Se a explicação se encontra no significado da palavra Logos, por que então há
uma diferença entre a mente imóvel e a fala móvel? A Mente equivale a Mahat, ou ao
Manas Superior e Inferior?
R. 3) A questão é bem complexa. Sarasvati, a deusa hindu, é o mesmo que Vāch, cujo
nome significa a Fala e que é, esotericamente, o feminino de Logos. A segunda pergunta
parece bastante complicada. Acredito que é porque o Logos ou a Palavra é chamado a
sabedoria encarnada, "a Luz que brilha na escuridão". A diferença reside entre o imóvel e
eternamente imutável TODO, e a Fala ou Logos móvel, ou seja, o periódico e o manifestado.
Pode referir-se à Mente Universal ou à mente individual, a Mahat, ou a Manas superior, ou
mesmo inferior, o Kama-Manas ou Mente-Cérebro. Porque aquilo que é desejo, impulso
instintivo no inferior, converte-se em pensamento no Superior. O primeiro encontra
expressão nos atos; o segundo, nas palavras. Esotericamente, o pensamento é mais
responsável e punível que a ação. Mas exotericamente acontece o contrário. Portanto,
segundo a lei humana corrente, castiga-se mais severamente um assalto que o pensamento
ou intenção, isto é, a ameaça, enquanto que karmicamente é o contrário.

P. 4) "Deus Geometriza", diz Platão, mas vendo que não existe um Deus pessoal, como
é que o processo de formação se faz por Pontos, Linhas, Triângulos, Cubos, Círculos, e
finalmente Esferas? E como, quando a esfera deixa a condição estática, a força inerente do
Alento afaz dar voltas rapidamente?
R. 4) O termo "Deus" - a menos que se refira à Deidade Desconhecida ou
Absolutividade, da qual dificilmente pode supor-se que esteja atuando de alguma maneira -
nas filosofias antigas sempre significou o conjunto das Forças da Natureza ativas e
inteligentes. A palavra "Floresta" é singular, entretanto é um vocábulo que expressa a ideia
de milhares e mesmo milhões de árvores de diferentes classes. Os materialistas podem
optar por dizer "a Natureza", ou, melhor ainda, "a Lei geometriza" se assim preferirem. Mas
nos dias de Platão, o leitor comum dificilmente teria compreendido a distinção metafísica e
o significado real. No entanto, a verdade da Natureza sempre "geometrizando" pode ser
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descoberta facilmente. Aqui está um exemplo: O Calor é a modificação dos movimentos ou
partículas de matéria. Mas é lei física e mecânica que as partículas ou corpos, em
movimento sobre si mesmos, assumam uma forma esferoidal - isto, desde um globo
planetário até uma gota de chuva. Observem os flocos de neve, que, juntamente com os
cristais, nos mostram todas as formas geométricas existentes na Natureza. Tão logo cessa o
movimento, altera-se a forma esferoidal; ou, como nos diz Tyndall, torna-se uma gota
plana, e a gota forma um triângulo equilátero, um hexágono e assim sucessivamente.
Observando-se a fragmentação das partículas de gelo de uma grande massa através da qual
ele [Tyndall] fez passar raios calóricos, notou que a primeira forma assumida pelas
partículas foi triangular ou piramidal, depois cúbica e finalmente hexagonal, etc. Assim,
mesmo a moderna ciência física corrobora Platão e justifica sua proposição.

P. 5) Quando Tyndall pegou um grande bloco de gelo e lançou um poderoso raio sobre
ele e daí para uma tela, foram vistas formas de samambaias e de outras plantas. Qual é a
razão disso?
R. 5) Em realidade, esta pergunta deveria ser dirigida primeiro ao prof. Tyndall, que
daria uma explicação científica para ela, e talvez já a tenha dado. Mas o Ocultismo o
explicaria dizendo que o raio ajudou a mostrar as formas astrais que estavam se
preparando para constituir as futuras samambaias e plantas, ou que o gelo havia
conservado o reflexo das samambaias e plantas reais e que já havia sido refletido nele. O
gelo é um grande mago, cujas propriedades ocultas são tão pouco conhecidas como as do
Ether. Está relacionado ocultamente com a luz astral, e, sob certas condições, pode refletir
certas imagens da região astral invisível, assim como a luz e uma placa sensibilizada podem
refletir as estrelas que não podem ser percebidas, mesmo por um telescópio. Isto é bem
conhecido pelos doutos Iogues que habitam no gelo eterno de Badrinath e nos Himalaias.
De qualquer modo, o gelo tem certamente a propriedade de conservar as imagens de
coisas estampadas em sua superfície, sob certas condições de luz, imagens que são
conservadas invisivelmente até que ele se derreta. O aço fino tem a mesma propriedade,
embora seja de uma natureza menos oculta. Se você observasse o gelo a partir da
superfície, estas formas não seriam vistas. Mas uma vez que ao decompor o gelo com calor
você lida com as forças e as coisas que estavam impressas nele, você então descobre que
ele emite estas imagens e as formas aparecem. Não é senão um elo que conduz a outro elo.
Tudo isso, naturalmente, não é ciência moderna; entretanto, é um fato e uma verdade.

P. 6) Os números e as figuras geométricas representam para a consciência humana as


leis de ação da Mente Divina?
R. 6) Certamente que sim. Não há possibilidade de evolução ou de formação casual,
nem de que qualquer dos assim chamados aspectos anormais ou fenômenos cósmicos se
deva a circunstâncias fortuitas.

Sloka (5) ...O OI-HA-HOU (OEAOHOO) "AS TREVAS", O ILIMITADO OU O NÃO


NÚMERO ĀDI-NIDĀNA, SVABHĀVAT: o O (o círculo) (o X, a quantidade desconhecida).

I. O ĀDI-SANAT, O NÚMERO; PORQUE ELE É UM.


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II. A VOZ DA PALAVRA, SVABHAVAT, OS NÚMEROS, POIS ELE É UM E NOVE.
III. O "QUADRADO SEM FORMA" (Arūpa)

E ESTES TRÊS, ENCERRADOS DENTRO DO O (o círculo sem limites) SÃO O SAGRADO


QUATRO, E OS DEZ SÃO O UNIVERSO ARŪPA (subjetivo, sem forma). DEPOIS VÊM OS
FILHOS, OS SETE COMBATENTES] O UM, O OITAVO EXCLUÍDO, E SEU SOPRO, QUE E O
ARTÍFICE DA LUZ (Bhūskara).53
53 A Doutrina Secreta, Vol. I, p. 150, 151. (Nota do trad.)

P. 1) O "Excluído" é o Sol de nosso Sistema. Há alguma explicação astronômica para a


rejeição de Marttanda [o Sol]?
R. 1) O Sol é mais antigo do que qualquer de seus planetas, embora mais jovem que a
Lua. Sua "exclusão" significa que quando começaram a se formar os corpos ou planetas,
ajudado por seus raios, sua radiação magnética ou calor, e especialmente por sua atração
magnética, tiveram que detê-lo; caso contrário, teria tragado todos os corpos mais jovens,
como a lenda diz que Saturno fez com sua progênie. Isto não quer dizer que todos os
planetas se desprenderam do Sol, como ensina a Ciência moderna, mas simplesmente que
sob os Raio do Sol eles obtêm seu crescimento. Aditi é a sempre equilibrante Mãe Natureza
no plano puramente espiritual e subjetivo. Ela é a Shakti, o poder feminino ou potência do
espírito fecundante; e é ela a que deve regularizar o comportamento dos filhos nascidos de
seu seio. A alegoria védica é muito sugestiva.

P. 2) Os planetas de nosso Sistema Solar foram todos primeiramente cometas e depois


sóis?
R. 2) Não foram sóis em nosso Sistema, ou em seus atuais Sistemas Solares, mas
cometas no espaço. Todos começaram suas vidas como errantes na superfície do infinito
Cosmos. Separaram-se do depósito comum do material já preparado, a Via Láctea (que é
nem mais nem menos do que a matéria do mundo totalmente desenvolvida, sendo todo o
resto do espaço um material tosco, até agora invisível para nós); então, começando sua
longa jornada, assentaram a vida ali onde Fohat lhes havia preparado as condições, e
gradualmente se converteram em sóis. Depois, cada sol, quando chegou seu Pralaya, se
desfez em milhões e milhões de fragmentos. Cada um destes fragmentos se movia de um
lado a outro no Espaço, juntando material novo, à medida que ia rolando como uma
avalanche, até que se deteve sob as leis de atração e repulsão, e se converteu em um
planeta em nosso Sistema, como também em outros, além do alcance de nossos
telescópios. Os fragmentos solares se converterão em planetas após o Pralaya Solar. Foi
uma vez um cometa, no começo da Idade de Brahmā. Depois chegou à sua condição atual,
de onde explodirá em pedaços, e seus átomos irão girando vertiginosamente no espaço
durante éons e éons como todos os outros cometas e meteoros, até que cada um, guiado
pelo Karma, é apanhado no vórtice das duas forças e fixado em algum Sistema mais
elevado e melhor.
Assim, o Sol viverá em seus filhos, como uma parte dos pais vive em sua prole. Quando
chegar esse dia, a aparência ou o reflexo do Sol que vemos se desprenderá como um véu da
face do verdadeiro Sol. Nenhum mortal o verá, porque nenhum olho mortal poderia
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suportar seu resplendor. Se seu véu fosse removido uma vez por um só segundo, todos os
planetas de seu Sistema seriam reduzidos imediatamente a cinzas, como os sessenta mil
Filhos do Rei Sagara foram destruídos por uma mirada (do olho) de Kapila.

Sloka (6) ...EM SEGUIDA, OS SEGUNDOS SETE, QUE SÃO OS LIPlKAS, PRODUZIDOS
PELOS TRÊS (Palavra, Voz e Espírito). O FILHO REJEITADO E UM, OS "FILHOS-SÓIS" SÃO
INUMERÁVEIS.54
54 A Doutrina Secreta, Vol. I p. 155 (Nota do trad.)

P. 1) Qual é a relação dos Lipikas, os "Segundos Sete" com os "Sete Primordiais" e o


primeiro "Quatro Sagrado"?
R. 1) Se você acredita que qualquer um, com exceção dos mais elevados Iniciados,
pode explicar isso para sua satisfação, então você está muito enganado. Esta relação pode
ser mais bem compreendida, ou melhor demonstrar-se estar além de toda compreensão,
estudando primeiro os sistemas gnósticos dos primeiros séculos do Cristianismo, desde o
de Simão o Mago até o mais elevado e mais nobre deles, a assim chamada PISTIS-SOPHIA.
Todos estes sistemas derivam do Oriente. Aquilo que chamamos os "Sete Primordiais" e os
"Segundos Sete", Simão o Mago os chama AEons, a primitiva, .a segunda e a terceira séries
dos Syzygies. São as graduais emanações, que descem cada vez mais baixo na matér~a,
desse princípio primordial que ele chama Fogo, e nos, Svabhāvat. Por trás desse Fogo, a
manifestada, mas silenciosa Deidade, permanece com ele, como permanece conosco,
aquilo "que é, foi e sempre será". Comparemos seu sistema com o nosso.
Em uma passagem citada de suas obras pelo autor de Philosophumena, lemos:

"Desta permanente Estabilidade e Imortalidade deste primeiro princípio


manifestado 'Fogo' (o Terceiro Logos), cuja imutabilidade não impede a atividade,
posto que o segundo dele está dotado de inteligência e razão (Mahat), isso (o Fogo)
passou da potencialidade da ação, à ação mesma. A partir desta série de evoluções se
formaram seis seres, ou emanação desde a potência infinita; formaram-se em
Syzygies, isto é, irradiaram-se da chama de dois em dois, sendo um o princípio ativo e
o outro o princípio passivo". A estes Simão os chamou Nous e Epinoia, ou Espírito e
Pensamento, Phoné e Onoma, Voz e Nome, Logismós e Enthumêsis, Raciocínio e
Reflexão. E de novo: "Cada um destes seis Seres primordiais continha inteiramente a
Infinita Potência; mas ela estava ali potencialmente e não em ato. Ela tinha de ser
estabelecida ali por meio de uma imagem (a do paradigma), a fim de se mostrar em
toda sua essência, virtude, grandeza e efeitos; pois somente então ela poderia ser
igual à Potência Progenitora, eterna e infinita. Se, ao contrário, ela não se amoldasse
por meio da imagem, essa Potencialidade não teria podido nunca converter-se em
Potência ou passar à ação, mas se perderia por falta de uso, como ocorre ao homem
que tendo aptidão para a gramática ou a geometria não a exercita; a perde como se
nunca a tivesse possuído.”55
55 Estas passagens são do Livro VI, 12, p. 250, de Philosophumena ou Refutation of All Heresies, atribuído
agora a Santo Hipólito, mas anteriormente incluído nas obras de Orígenes. H.P.B. aparentemente traduziu
o texto grego ou o latino para o inglês, conforme publicado, um sob o outro, numa edição preparada do
Paris Codex por Patricius Cruice (Paris: Imprimerie Royale, 1860) .... ]. (Nota do comp.)
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Ele mostra que se estes AEons pertencem ao mundo superior, médio ou inferior, eles
são todos um, exceto pela densidade material, a qual determina suas manifestações
exteriores e o resultado produzido, não sua real essência que é una, ou suas mútuas
relações que, como ele diz, são estabelecidas desde a eternidade por leis imutáveis.
Assim sendo, o primeiro, o segundo, terceiro ou sete primordiais, ou Lipika, são todos
um. Quando eles emanam de um plano a outro, é uma repetição de "como é em cima, é
embaixo". Estão todos diferenciados em matéria ou densidade, não em qualidade; as
mesmas qualidades descem ao último plano, o nosso, onde o homem está dotado da
mesma potencialidade, se ele apenas soubesse como desenvolvê-la, como os mais elevados
Dhyan-Chohans.
Nas Hierarquias dos AEons, Simão indica três pares de cada dois, o sétimo sendo o
quarto que desce de um plano a outro.
Os Lipikas procedem de Mahat e, na Cabala, são chamados os Quatro Anjos
Registradores; na Índia, os quatro Maharajas, os que registram todo pensamento e ação do
homem; São João em sua Revelação os chama o Livro da Vida. Estão diretamente
relacionados com o Karma e com o que os cristãos denominam o Dia do Juízo; no Oriente
era chamado o Dia depois do Mahamanvantara, ou o "Dia-do-Sê-Conosco". Então, tudo se
torna um, todas as individualidades se fundem em uma; entretanto, cada uma conhece a si
mesma: um ensinamento verdadeiramente misterioso. Mas então, aquilo que para nós
agora é não consciência ou o inconsciente, será então consciência absoluta.

P. 2) Que relação têm os Lipikas com Mahat?


R. 2) São uma divisão, quatro tomados de um dos Setenários que emanam de Mahat.
Mahat corresponde ao Fogo de Simão o Mago, a Ideação Divina a secreta e a manifestada
criadas para testemunhar a si mesmas neste Universo objetivo, por meio das formas
inteligentes que vemos ao nosso redor, no que chamamos criação. Como todas as demais
emanações, são "Rodas dentro de Rodas". Os Lipikas encontram-se no plano
correspondente ao plano mais elevado de nossa cadeia de globos.

P. 3) Qual é a diferença entre Espírito, Voz e Palavra?


R. 3) A mesma que entre Ātmā, Buddhi e Manas em um sentido. O Espírito emana das
Trevas desconhecidas, o mistério no qual nenhum de nós pode penetrar. Esse Espírito,
chame-o "Espírito de Deus" ou Substância primordial, reflete-se nas Águas do Espaço ou na
ainda indiferenciada matéria do futuro Universo, e, dessa forma, produz o primeiro
torvelinho de diferenciação dentro da matéria primordial homogênea. Esta é a Voz pioneira
da "Palavra" ou primeira manifestação, e dessa Voz emana a Palavra ou Logos, isto é, a
expressão definida e objetiva daquilo que até então permanecia nas profundidades do
Pensamento Oculto. Aquilo que se reflete no Espaço é o Terceiro Logos. Podemos expressar
esta Trindade por meio dos termos Cor, Som e Números.

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