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Primeira Parte

A avaliação psicopedagógica 1
Teresa Colomer, M. Teresa Masot e Isabel Navarro

INTRODUÇÃO professores e as escolas (ver Quadro 1.1).


Ao longo do capítulo, trataremos dessa pers-
Este capítulo pretende estabelecer um pectiva.
ponto de referência para a avaliação psico- O marco teórico básico de referência
pedagógica e fazer uma proposta de proce- em que se apóia a avaliação psicopedagógica
dimentos e estratégias. Fundamenta-se em tal como a entendemos é o da concepção
nosso trabalho compartilhado de reflexão e construtivista do processo de ensino-apren-
sistematização sobre a prática no âmbito da dizagem e da teoria sistêmica.
avaliação. Nasce do desafio de oferecer um Ao mesmo tempo, entendemos que a
módulo sobre a avaliação dos transtornos de avaliação psicopedagógica deve nos permi-
aprendizagem no Mestrado em Psicopato- tir dispor de informações relevantes não
logia Infantil e Juvenil da Universidade apenas em relação às dificuldades apresen-
Ramon Llull de Barcelona. Enriqueceu-se tadas por um determinado aluno ou grupo
com as contribuições dos alunos do ano de alunos, por um professor ou alguns pais,
letivo 1995-1996. mas também às suas capacidades e poten-
Seguramente, muitos se identificarão cialidades. Desse modo, não falamos de de-
com grande parte dos pontos de vista ex- ficiências nem de dificuldades, mas sim de
postos. Estamos convencidas disso. Pro- necessidades educativas dos alunos que, ne-
cedemos de uma história comum no qual cessariamente, devem ser traduzidas em si-
os profissionais das Equipes de Assesso- tuações passíveis de melhora e na concre-
ramento Psicopedagógico (EAP), conside- tização de auxílio e suporte. Na mesma li-
ram essencial compartilhar o que fazem nha, consideramos que a interação estabe-
e o que sabem. É nosso saber comparti- lecida pelos alunos nos diferentes contextos
lhado. (sala de aula, família, meio social mais am-
A principal referência que temos ao fa- plo) determina tanto suas competências e
larmos da avaliação psicopedagógica é nos- habilidades quanto a definição do auxílio
sa prática profissional na EAP, e não po- necessita.
demos desvinculá-la da função assessora Identificaremos aos participantes no
que nos corresponde, intervindo nos dife- processo de avaliação, as técnicas e os ins-
rentes âmbitos: os alunos, suas famílias, os trumentos que utilizamos.
$ Manuel Sánchez-Cano, Joan Bonals & Cols.

Quadro 1.1 Marco em que se situa a avaliação psicopedagógica

CONTEXTO SOCIAL

CONTEXTO ESCOLAR

SALA DE AULA

Professores

CONTEXTO FAMILIAR

Alunos Conteúdos

CONCEITO, FINALIDADE E ponto de vista deles, tem um caráter inter-


MARCO EM QUE SE SITUA disciplinar, com contribuições próprias da
competência de cada um.
Entendemos a avaliação psicopedagó- Falamos de coleta de informações rele-
gica como “um processo compartilhado de vantes porque, diante de uma situação de
coleta e análise de informações relevantes da avaliação psicopedagógica, é preciso priori-
situação de ensino-aprendizagem, conside- zar sempre os aspectos a avaliar, os quais
rando-se as características próprias do con- serão mais críticos para tomar decisões
texto escolar e familiar, a fim de tomar deci- quanto à resposta educacional e quanto às
sões que visam promover mudanças que to- mudanças progressivas que deverão ser pla-
rnem possível melhorar a situação colocada” nejadas e, portando, esse é o critério que
(Colomer, Masot, Navarro, 2001). orientará a coleta de informações. Esse pro-
Trata-se de um processo porque não se cesso será desenvolvido nos contextos mais
reduz a uma atuação pontual ou a algumas significativos em que ocorrer a situação de
atuações isoladas, mas tem um início e uma ensino-aprendizagem.
continuidade de atuações inter-relaciona- É na sala de aula que a interação entre
das, destinadas a pesquisar e a compreen- os alunos, os professores e os conteúdos con-
der melhor o fato de ensinar a aprender. figuram, em parte, essa situação. Todavia,
A avaliação psicopedagógica desenvol- não podemos esquecer que a sala de aula faz
ve-se em colaboração com o conjunto de parte de uma instituição escolar com histó-
participantes no processo: os alunos, a fa- ria, organização e funcionamento próprios.
mília, a escola, outros profissionais, etc. Do É evidente que os dois contextos ou, se prefe-
Avaliação psicopedagógica %

rirem, sistemas, interajam influenciando-se Compartilhar a finalidade da avaliação será


mutuamente. Ao mesmo tempo, a escola faz o primeiro passo do trabalho em equipe do
parte de um contexto social mais amplo com conjunto de participantes. É o requisito im-
o qual também se produz essa influência mú- prescindível para promover mudanças.
tua. Dentro desse contexto social, queremos A fim de que cada participante possa se
fazer uma referência particular à família que sentir competente no que lhe corresponde,
o aluno pertence, interagindo com os outros temos de nos centrar necessariamente na
contextos descritos. avaliação das capacidades e potencialidades,
Estabelecendo um paralelo com a teoria mais do que no déficit e nas dificuldades.
de sistemas, podemos dizer que qualquer mu- Conseqüentemente, as orientações obtidas
dança produzida em algum dos sistemas leva serão voltadas ao planejamento dos auxílios
a mudanças ou adaptações de outros. A ava- e condições que tornem possível a melhora
liação psicopedagógica terá de considerar to- da situação colocada.
dos esses contextos, assim como sua interação Portanto, a avaliação psicopedagógica
(ver Quadro 1.1). é uma ferramenta para tomar decisões que
Devemos ter presente que a avaliação melhorem a resposta educacional do aluno
nunca se faz no vazio, mas é sempre fruto de ou grupo de alunos, mas também para pro-
uma demanda ou de uma necessidade de- mover mudanças no contexto escolar e fa-
tectada. Nesse sentido, não se poderá perder miliar.
de vista o objetivo ou a finalidade para que
se inicie um processo de avaliação. Essa fina-
lidade condicionará tanto as atuações que PROCEDIMENTO DE AVALIAÇÃO
realizaremos quanto os instrumentos que PSICOPEDAGÓGICA
utilizaremos, mas, sobretudo, os procedi-
mentos adotados. A avaliação psicopedagógica normal-
Sob essa perspectiva, é importante in- mente se inicia com a detecção de uma ne-
troduzir o conceito de eficiência na ava- cessidade. Concretiza-se em uma demanda
liação psicopedagógica. Quando se detecta de intervenção profissional com a finali-
uma necessidade, nem tudo o que é susce- dade de buscar melhorias na situação co-
tível de ser avaliado na situação que se locada. Inicia um processo compartilhado
apresenta terá de ser objeto de avaliação. de coleta e análise de informações, formula-
Priorizam-se sempre os aspectos mais rele- ção de hipóteses e tomada de decisões (ver
vantes segundo a proposta, e planejam-se Quadro 1.2).
apenas as atuações necessárias para pro- A demanda, amplamente exposta no
mover mudanças. segundo capítulo desta publicação, terá de
Esse processo é dinâmico e interativo, ser concretizada e reformulada em conjun-
isto é, as atuações desenvolvidas interagem to para que nos permita:
com os demais participantes no processo (os • Identificar a finalidade da avaliação
alunos, os professores, a família, a EAP, os psicopedagógica, sempre orientada a
outros serviços, etc.), modificando-se mu- uma melhor compreensão do pro-
tuamente. Para que essa interação implique cesso de ensino-aprendizagem a fim
uma melhoria real na situação avaliada, as de introduzir as ajudas sobre o que,
pessoas que participam devem se envolver como e quando se quer ensinar. Em
ativamente no processo e se sentir compe- suma, ajustar a resposta educacional
tentes, cada uma na função que desenvolve. às necessidades avaliadas.
& Manuel Sánchez-Cano, Joan Bonals & Cols.

Quadro 1.2 A avaliação psicopedagógica como instrumento para tomar decisões e melhorar a
resposta educacional

Coleta de informações
Detecção e delimitação da situação

▼ ▼ ▼
Análise da informação
Inicia-se um processo de formulação de hipóteses


TOMADA DE DECISÕES

Melhora Ajusta-se à Não melhora


resposta
educacional

Análise da nova informação


Planejamento das atuações
para a avaliação específica


Aplicação das atuações
o quê, quem, quando, onde, como

• Determinar quem serão os partici- – outros serviços e profissionais (CRE-


pantes com os quais teremos de com- DA – Centro de Recursos para Defi-
partilhar o processo de avaliação pa- cientes Auditivos; EAP para deficien-
ra planejar as atuações iniciais: tes visuais; CDIAP – Centro de De-
– o aluno e/ou grupo de alunos; senvolvimento e Atenção Precoce;
– a família; serviços sociais; CSMIJ – Centro de
– o professor tutor e/ou equipe do- Saúde Mental Infantil e Juvenil; ser-
cente; viços de neurologia pediátrica, etc.);
– os especialistas em pedagogia te- • Levantar as primeiras hipóteses fun-
rapêutica e/ou psicopedagogia; damentadas na análise e na interpre-
– os profissionais da EAP (psicólogo, tação da informação.
pedagogo, psicopedagogo/assisten- • Iniciar a tomada de decisões, orien-
te social); tando os ajustes da resposta educacio-
Avaliação psicopedagógica '

nal ou determinando que se necessita tos do processo de avaliação, todos os par-


dispor de mais informação. ticipantes dele adquirem habilidades para
• Coletar mais informações relevantes, compreender melhor a situação que é obje-
se necessário: qual, como, em que to de avaliação, a fim de que se coloquem
contexto, com quem. novas questões e para que os participantes
• Planejar atuações específicas de ava- estejam ativos no processo de mudança:
liação: quais, com quem, com que ins- • Professores e profissionais da EAP e
trumentos e materiais, etc.. de outros serviços para analisar nos-
• Analisar as novas informações, veri- sa intervenção em cada caso e ajustá-
ficar ou desprezar as hipóteses ante- la aos demais participantes.
riores para estabelecer outras. • Alunos e famílias atendidos de forma
• Definir as propostas de mudança e compreensiva e respeitosa para que
tomar decisões de ajustes na respos- participem ativamente no processo
ta educacional. de análise e melhoria.
• Estabelecer um processo de acom-
panhamento para realizar os ajustes Evidentemente, os profissionais da EAP,
conforme a evolução. que exercem seu trabalho no contexto esco-
lar, também participam desse processo. Pa-
O conhecimento prévio de cada um ra tanto, a avaliação psicopedagógica en-
dos participantes e de seu contexto, assim tendida de tal maneira está estreitamente
como a interação que estabelecem, será ao vinculada à função de orientação e asses-
mesmo tempo: soramento, que irá se ajustando na inte-
• um indicador para formular hipóteses; ração com os demais participantes no pro-
• um instrumento para a análise; cesso, respeitando ritmos e momentos, dan-
• um recurso para introduzir ajudas e do contribuições que possam levar a bom
melhorias. termo, tanto em relação aos alunos quanto
A perspectiva de nosso trabalho nos aos professores e famílias.
permite abordar o processo de avaliação Quando nos fazem uma solicitação,
com o conhecimento prévio da escola, dos seja para avaliar as necessidades educativas
professores, dos alunos, das famílias e do de um aluno, de um grupo de alunos, ou de
meio social em que todos se inserem. Essa uma situação escolar ou familiar, a coleta e
abordagem possibilita introduzir mudanças a análise de informações deve nos permitir
que permitem melhorar a situação objeto identificar os elementos suscetíveis de me-
de avaliação desde o início do processo e lhoria, mas também as competências e ca-
fazê-lo da maneira mais adequada possível. pacidades dos participantes, a fim de que as
Ao longo do processo de avaliação, de- propostas de mudança possam ser imple-
vem-se evitar intervenções que possam levar mentadas com êxito e satisfação por parte
a uma falta de envolvimento dos participan- de todos. Em última análise, trata-se de
tes no processo, que podem se situar como trabalhar na zona de desenvolvimento proxi-
meros aplicadores de propostas de modifi- mal (Vigotsky, 1972) do conjunto de parti-
cação no quê, como e quando ensinar. Isso cipantes no processo e construir conheci-
geraria uma dependência do assessor e não mento compartilhado significativo para to-
fomentaria a autonomia desejável. dos os envolvidos.
Na medida em que, com esse metodo- A avaliação psicopedagógica, embora
logia, se desdobrem os diferentes momen- possa centrar-se mais ou menos em um ou
 Manuel Sánchez-Cano, Joan Bonals & Cols.

outro participante ou aspecto da situação aluno ou grupo de alunos a respeito


avaliada, nunca pode ser feita de maneira iso- do que pode aprender. Às vezes, será
lada. Deve sempre levar em conta o contexto preciso avaliar suas capacidades (mo-
onde se produz e os mecanismos de interação trizes, de equilíbrio pessoal, cogniti-
e influência gerados (ver Quadro 1.1). vas, de relação interpessoal e de in-
Muitas vezes, durante o processo de serção social) e seus níveis de com-
avaliação, identificamos igualmente situa- petência para ver como favorecem ou
ções suscetíveis de melhora que não são ob- dificultam as aquisições no contexto
jeto de demanda no momento. Nesse caso, escolar e familiar à sua volta.
será preciso esperar e promover o momento Enfatizaremos particularmente o es-
e/ou contexto mais apropriado para iniciar tilo de aprendizagem do aluno. Co-
um novo processo de avaliação. mo pode aprender melhor? Que con-
Sob essa perspectiva, adotamos uma dições pessoais e do ambiente facili-
estratégia de intervenção que possibilita a tam sua aprendizagem? Como incor-
extensão de mudanças introduzidas em uma pora os novos conhecimentos à sua
situação concreta a outras situações. É fre- estrutura cognoscitiva e como utiliza
qüente, por exemplo, que uma proposta que de forma funcional suas aprendiza-
ajusta a resposta educacional às necessida- gens, tornando-as significativas? Co-
des específicas de um menino ou de uma me- mo os alunos analisam sua própria
nina comporte uma melhoria para outros co-
atividade de aprender, que sentido
legas ou para uma turma inteira. Pode incor-
têm para eles os conteúdos que lhes
porar-se também ao projeto curricular da es-
são apresentados e com que grau de
cola (PCC), depois de ser captada e anali-
motivação e autonomia os enfrenta?
sada pelos professores de um nível, de um
Qual sua atitude diante dos conflitos
ciclo, pela comissão pedagógica, etc.
cognitivos (Piaget, 1983), se signi-
Faremos uma breve caminhada por al-
ficam um desafio ou uma dificulda-
guns dos aspectos mais relevantes que cos-
de, etc.
tumam ser objetos de avaliação, tendo co-
• A interação entre o aluno ou grupo de
mo referente, mais uma vez, o Quadro 1.1
alunos e os professores. Interessa-nos
saber como os professores partem
O contexto escolar dos conhecimentos prévios dos alu-
nos para incorporarem novos conhe-
A sala de aula cimentos de aprendizagem. Quais
A sala de aula é um subsistema dentro ajudas pedagógicas são oferecidas na
do contexto escolar no qual ocorrem situa- sala de aula e o grau de planejamen-
ções de interação entre os alunos, os pro- to didáticos. Se essas ajudas permi-
fessores e os conteúdos de aprendizagem. É tem que os alunos alcancem os novos
onde se situa o triângulo interativo (Coll, conteúdos de aprendizagem e favo-
1999). Para facilitar a coleta de dados e a recem a autonomia do aluno ou, ao
análise, podemos nos centrar em cada um contrário, se o mantêm em um esta-
de seus vértices: do de permanente dependência.
• A interação entre o aluno ou grupo de É importante saber se a intervenção
alunos e os conteúdos de aprendiza- educacional está desenvolvendo ou
gem. Interessa-nos dispor de elemen- não a formação de um autoconceito
tos para compreender como ajudar o positivo nos alunos e uma dinâmica
Avaliação psicopedagógica 

de grupo coesa. Será importante tam- que comportem mudanças e situações de


bém constatar as expectativas dos melhoria.
professores a respeito da aprendiza- Conhecer a organização e o funcio-
gem de um aluno em particular e do namento interno da escola em tudo aquilo
grupo em geral, assim como, se seu que diz respeito aos aspectos institucionais
estilo docente contempla o modo de e educacionais constitui informação rele-
aprendizagem dos alunos que in- vante para a tomada de decisões e, par-
tegram o grupo, oferecendo cami- ticularmente, para estabelecer roteiros de
nhos e ajudas que facilitem a apren- intervenção adequados, do mesmo modo
dizagem de todos. que conhecer os critérios e as propostas
• A interação entre os professores e os existentes sobre a detecção de necessidades
conteúdos de aprendizagem. Em mui- dos alunos, as modalidades organizacionais
tas situações, teremos de coletar in- e metodológicas de atenção à diversidade, e
formações referentes à programação saber como se pesquisa no Projeto Educa-
e, particularmente, a como ela é apli- tivo da Escola (PEC) e como se concretiza
cada na sala de aula. Como são abor- no Projeto Curricular da Escola (PCC). Em
dados os diferentes tipos de conteú- última análise, dispor de conhecimento da
dos, se o tratamento dado a estes as- estrutura organizacional da escola no mo-
segura o desenvolvimento das capaci- mento de identificar necessidades e pôr em
dades dos alunos e se sua organização funcionamento processos de avaliação in-
favorece a aprendizagem, se a meto- terna, nos permite participar com nossa ex-
dologia é adequada para atender a periência profissional das possíveis mudan-
diversidade de ritmos e estilos de ças institucionais.
aprendizagem dos alunos, que recur-
sos humanos, materiais e funcionais O contexto familiar
são utilizados e se o grau de ade-
O contexto familiar do qual procedem
quação ao aluno ou à turma está de
os alunos dotou-os de alguns referenciais
acordo com as intenções educacio-
que levam à escola para estabelecer os pri-
nais. Analisaremos também como se
meiros laços com um novo contexto. A fa-
concretiza a avaliação na sala de au-
mília é o primeiro núcleo de socialização
la: se é feita nos momentos iniciais,
das crianças e facilita, em maior ou menor
durante e no final da aprendizagem;
grau, as interações para a inserção escolar e
se tem uma função reguladora, intro-
social.
duzindo mudanças na própria práti-
As informações obtidas nas entrevistas
ca. Será preciso considerar o grau de
com os pais ou familiares próximos e as que
adequação do programa da classe em
possam ser fornecidas por outros profissio-
relação aos alunos e ao Projeto Cur-
nais, caso necessário, permitem saber co-
ricular da Escola (PCC).
mo o ambiente familiar é organizado para
promover o bem-estar de seus membros,
A escola
as orientações educacionais baseadas nas
A escola pertence a um sistema mais crenças dos pais sobre como se devem edu-
amplo que chamamos de sistema educacio- car os filhos, o que esperam deles no seio da
nal. Seu aspecto institucional faz com que família, na escola, no futuro, etc. A análise
seja organizada internamente, mas com au- dessas informações em conjunto permitirá
tonomia suficiente para modificar aspectos obter o máximo de sintonia entre os objeti-
Manuel Sánchez-Cano, Joan Bonals & Cols.

vos educacionais escolares e familiares e as tabelecer os caminhos apropriados, ao deci-


expectativas recíprocas. dir que materiais utilizar, em que situações,
Nesse sentido, é importante saber como como, com quem os compartilhar e, em
os pais participam da experiência escolar de suma, que auxílios introduzir no processo
seus filhos: de que forma os auxiliam, qual de ensino-aprendizagem para melhorar os
relação estabelecem com a escola, de que recursos ordinários e, se for preciso, propor
modo colaboram nas atividades, e como a outros específicos com a colaboração ativa
escola prevê e organiza essa relação, isto é, de todos os participantes no processo.
como acolhe, entrevistas com os tutores, Não é o objetivo deste capítulo apro-
canais de comunicação estabelecidos entre a fundar-se nos instrumentos e/ou materiais
escola e a família, etc. de avaliação psicopedagógica. Em primeiro
A análise compartilhada dessas infor- lugar, consideramos que o próprio procedi-
mações permite, tanto à família quanto aos mento aqui descrito atua como instrumen-
professores, conhecer e compreender me- to. Em segundo lugar, destacamos o uso que
lhor os alunos, e criar as condições para deles fazemos de acordo com o referencial
compartilhar critérios educacionais entre em que trabalhamos e situamos a avaliação
os dois contextos. Isso deve ser feito em psicopedagógica. Por fim, tratar com pro-
um clima de consideração e respeito às fundidade dos instrumentos e/ou materiais
responsabilidades que competem a cada de avaliação psicopedagógica já é objetivo
um, a fim de favorecer o desenvolvimento dos capítulos seguintes desta publicação.
da criança ou do adolescente. Assim, os Os instrumentos e materiais serão de
pais melhoram sua competência educativa utilidade desde que tenhamos em mente as
e podem viver com satisfação o crescimen- interações entre os diversos elementos da
to de seus filhos. situação avaliada, desde que nos permitam
Não podemos esquecer que os dois compartilhar com alunos, professores e fami-
contextos, o escolar e o familiar, situam-se liares a análise da situação e as possibilidades
em um contexto social concreto, em proces- de cada um, para um envolvimento ativo nas
so de mútua interação. Na avaliação, preci- propostas de mudança. Estas devem permitir
samos ter em mente o grau de adaptação e avançar, de um lado, na melhoria da resposta
identificação da escola e da família às exi- educacional na escola e na família para o
gências do ambiente social. desenvolvimento de crianças e adolescentes;
Queremos reiterar que as informações de outro, no aumento da competência pessoal
relevantes são obtidas da análise de situa- no trabalho quando este é realizado entre
ções ordinárias e contextualizadas. So- profissionais e familiares.
mente nos casos em que essa análise não
nos proporciona informações suficientes
para compreender a situação e tomar de- REFERÊNCIAS
cisões adequadas, planejaremos atuações
específicas de avaliação, aprofundando- ANDOLFI, M. (1991): Terapia familiar. Un
nos nos aspectos que precisam de comple- enfoque interaccional. Barcelona. Paidós.
BASSEDAS, E. y otros (1989): Intervenció
mento.
educativa i diagnòstic psicopedagògic. Barcelona.
Evidentemente, teremos de avaliar Laia. Colección «Quaderns de Pedagogia».
tudo o que seja crítico diante da necessi- COLL, C.; ONRUBIA, J. (1999): Observado i
dade detectada. Devemos ter muito presen- anàlisi de les pràctiques d’educació escolar.
te qual finalidade nos propomos ao es- Barcelona. EDIUOC.
Avaliação psicopedagógica !

COLL, C.; PALÁCIOS, J.; MARCHESI, A. (1990): JORBA, J.; SANMARTÍ, N. (1993): «La evaluación
Desarrollo psicológico y educación. Vols. 1, 2 y 3. en el proceso de ensenanza-aprendizaje». Aula de
Madrid. Alianza Editorial. Innovadón Educativa, 20. Monográfico.
COLL, C.; SOLE, l. (1989): «Aprendizaje MAURI, T. y otros (1990): El currículum en el
significativo y ayuda pedagógica». Cuadernos de centro educativo. Barcelona. Horsori.
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COLOMER, T.; MASOT, MJ., NAVARRO, J. (2001): Barcelona. Gedisa.
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DEPARTAMENT D’ENSENYAMENT (1995): VIGOTSKY, LS. (1972): «Aprendizaje y desarrollo
L’avaluació a I’ESO. Departament d’Ensenyament. intelectual en la edad escolar», en LURIA,
Generalitat de Catalunya. Colección «Educació LEONTIEV, VIGOTSKY y otros: Psicología y
Secundaria Obligatòria». pedagogia. Madrid. Akal.
_____. (1998): Avaluació interna de centres. ZABALA VIDIELLA, A. (1995): La práctica
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