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COMO ESTUDAR A DOUTRINA SECRETA?
ALFREDO PUIG FIGUEROA1
TheoSophia y Ano 94 y Abril/Maio/Junho 2005
O propósito desta obra pode ser expresso da seguinte maneira:
mostrar que a Natureza não é "uma reunião fortuita de áto‐
mos", e indicar ao homem seu devido lugar no esquema do Uni‐
verso; resgatar da degradação as verdades arcaicas que são à
base de todas as religiões; revelar de certo modo a unidade fun‐
damental da qual tudo surge; e finalmente mostrar que o lado
oculto da Natureza nunca foi abordado pela ciência da civiliza‐
ção moderna.
Helena Petrovna Blavatsky,
DS. vol. 1, pp. 8‐9. Ed. Adyar, 1938
Como estudar A Doutrina Secreta? Devo ler primeiro outros livros e esperar para
estudá‐la? Devo ler logo esta obra? Quais são os requisitos para estudá‐la? Existe al‐
gum método para estudá‐la?
Estas e outras perguntas semelhantes, que de tempo em tempo são feitas por pes‐
soas da Sociedade Teosófica, tanto membros novos como antigos, fizeram‐me pensar
em como responder a essas perguntas, e de que maneira dar respostas que satisfizes‐
sem as indagações dos estudantes de teosofia.
Minha intenção ao fazer este trabalho foi colocar à disposição de estudantes since‐
ros algumas recomendações para facilitar‐lhes a leitura e o estudo desta obra mo‐
numental, cujo objetivo, nas próprias palavras de HPB é "conduzir à verdade", afirma‐
ção que ela repetiu muitas vezes.
Desde o início vemos uma diferença notável entre A Doutrina Secreta e os livros
que estamos acostumados a ler, sejam eles textos, relatos ou romances que ge‐
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Ex‐Presidente Nacional da Sociedade Teosófica no Brasil.
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ralmente seguem uma seqüência na qual cada ponto é explicado à medida que se a‐
presenta.
Por isso ao ler a DS sentimos certa confusão, e a própria HPB nos alertou sobre isso
quando disse: "A leitura de A Doutrina Secreta, página por página, como lemos um
livro qualquer, só terminará em confusão."
Um enfoque interessante que devemos observar, é que A Doutrina Secreta é apre‐
sentada como um conceito platônico e não aristotélico. Não é o peso dos fatos e dados
conhecidos, mas o conceito arquetípico do Todo que temos em primeiro lugar, e de‐
pois cabe ao estudante buscar e fixar os detalhes à medida que prossegue em seu es‐
tudo.
Como exemplo concreto do conceito platônico, o estudante encontra o conceito
do Universo como um Todo, sem muitos detalhes, e como estes vão sendo agregados
no lugar apropriado, dentro do quadro geral em que foi concebido, dependendo da
capacidade para relacionar os fatos, cada um será ou não capaz de compreendê‐los
integrando o Todo.
É evidente que a relação que existe entre a interpretação do oculto e a verdadeira
experiência que se pode ter do oculto em si são coisas diametralmente diferentes, já
que o caminho do ocultismo é um assunto inteiramente individual e pessoal.
Neste trabalho faço várias citações da atitude que a própria HPB considerava que
se devia ter ao estudar A Doutrina Secreta. Devemos isto ao capitão Robert Bowen,
que em 1891 perguntou sinceramente a HPB como se deveria estudar sua obra e que
atitude se deveria ter sobre seu conteúdo. Ele anotou cuidadosamente as observações
que ela fez a esse respeito e depois as leu para ela que as aprovou. Ela disse, ao ler as
notas: "Isto pode ser útil para alguém daqui a 30 ou 40 anos." E isso aconteceu exata‐
mente 41 anos mais tarde, em janeiro de 1932, quando foram publicadas estas notas,
que surgiram entre os documentos do filho de Bowen e vieram à luz numa pequena
revista Theosophy in Ireland editada em Dublin, Irlanda.
Mencionaremos agora alguns aspectos adicionais que devemos ter em conta para
este estudo:
Devemos manter a regularidade no estudo que vamos fazer. A vida é um processo
de ritmo harmônico com o qual vamos nos relacionar. O estudo pode ser feito diário,
semanal, quinzenalmente, ou em períodos que consideremos mais apropriados de
acordo com nossas possibilidades.
Mas se decidirmos fazê‐lo semanalmente, deve ser em dia e hora fixada. Sabemos
que a princípio teremos contratempos, compromissos ou dificuldades familiares, que
podem interferir no nosso propósito, mas devemos ser firmes nessa decisão para man‐
ter a regularidade no estudo.
Lembremos que embora tenhamos que fazer muitas coisas em nossa vida diária,
sempre paramos várias vezes ao dia para nos alimentar. O estudo da A Doutrina Secre‐
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ta é nosso valioso "alimento espiritual", algo básico e indispensável para a presente
encarnação e para todas nossas vidas futuras.
Embora seja apenas uma recomendação de nossa parte, queremos enfatizar a im‐
portância da regularidade deste estudo. Os resultados serão, em curto prazo, muito
alentadores, pois nos sentiremos envoltos pela atmosfera especial que emana desta
magnum opus.
Outra sugestão que fazemos é que, paralelamente ao estudo de A Doutrina Secre‐
ta, escolhamos como livro de meditação A Voz do Silêncio, da própria HPB, seguindo o
método tradicional de ler um aforismo e memorizá‐lo antes de dormir para que o te‐
nhamos na memória e meditemos sobre ele na manhã seguinte.
Outro aspecto importante é estudar a vida de HPB. Conhecer em detalhes sua vida
é incrementar nossa admiração e respeito por ela e estar ciente da enorme dívida de
gratidão que temos para com ela. A edição de Adyar de A Doutrina Secreta foi publica‐
da em inglês em 1938, por ocasião do cinqüentenário da primeira edição, e nela apa‐
rece um artigo intitulado "HPB: sinopse de sua vida", de Josephine Ranson, en‐
carregada de revisar e preparar esta edição especial. Em 29 de julho de 1988, em ceri‐
mônia presidida por Radha Burnier, Presidenta Internacional da Sociedade Teosófica,
foi comemorado em Londres o Centenário da publicação desta obra. É tempo, portan‐
to, de começar o estudo desta importante obra.
Existem outras fontes para conhecer a vida de HPB e, dentre elas, podemos citar a
obra de nosso Presidente Fundador, coronel H. S. Olcott, intitulada Old Diary Leaves,
primeira edição publicada em 1900. Há outras obras que devo mencionar: Helena Bla‐
vatsky ‐ a Vida e a Influência Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico
Moderno, de Sylvia Cranston (Ed. Teosófica), e The Esoteric Word of Madame Bla‐
vatsky, de Daniel Caldwell (TPH, Wheaton, 2000). Finalmente, é útil tudo que nos per‐
mita conhecer a vida extraordinária de nossa reverenciada HPB, pois toda obra tem a
marca de seu autor.
Embora não exista limite quanto aos métodos ou formas de estudo sugeridas, va‐
mos agora analisar cinco dos métodos recomendados.
Primeiro Método:
Tentar compreender o significado dos Três Princípios Fundamentais tal como apa‐
recem no Proêmio do primeiro volume.
Quando pediram a HPB que explicasse a forma correta de estudar A Doutrina Se‐
creta, ela disse que "a primeira coisa que devemos fazer, embora leve anos para con‐
seguirmos, é captar o significado dos três Princípios Fundamentais que aparecem no
Proêmio."
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Não há dúvida de que HPB foi a primeira notável instrutora do oculto na Sociedade
Teosófica, pois foi a maior responsável de popularizar termos como "oculto" e "ocul‐
tismo".
No Proêmio ela apresenta três grandes Proposições ou Princípios, para indicar a
natureza do oculto.
A Primeira Proposição diz que existe a Realidade Absoluta una, ou em suas próprias
palavras: "Um Princípio Onipresente, Eterno, Ilimitado e Imutável, sobre o qual toda
especulação é impossível, já que transcende o poder da concepção humana e só pode
ser diminuído por qualquer expressão ou semelhança humana. Está além do horizonte
e do alcance do pensamento e é, nas próprias palavras do Mandukya Upanishad, in‐
concebível e inefável!"
A Segunda Proposição é "A eternidade do Universo in toto como plano sem limites,
periodicamente cenário de incontáveis universos que se manifestam e desaparecem
incessantemente". Este princípio afirma que existe, funcionando em toda parte, uma
lei de inalação e exalação, que se projeta e se recolhe, como no dormir e no despertar,
no dia e na noite, no nascer e no morrer, na manifestação e no recesso.
A Terceira Proposição é "A identidade fundamental de todas as almas com a Alma
Universal, sendo esta em si mesma um aspecto da Raiz Desconhecida" e continua HPB
demonstrando que, à luz da segunda proposição, este terceiro princípio de identidade
de todas as almas individuais com a Alma Una, abarca a todos nós, como indivíduos ou
como coletividade humana, e que vamos confirmar esta lei de manifestação e recesso,
de nascimento e morte, através de uma extensa peregrinação de experiências.
Esta Terceira Proposição é relacionada pela irmã Joy Mills com o conceito de Fra‐
ternidade, e ela diz o seguinte:
“Ao justificar a existência na Sociedade Teosófica como único requisito para ser seu
membro, a aceitação da idéia da Fraternidade Universal, dizemos que a fraternidade
que postulamos tem origem espiritual. Mas qual é esta peculiaridade? Todas as gran‐
des religiões expressam uma fraternidade derivada de fontes espirituais. Portanto a
Sabedoria Divina, como raiz de todas as religiões, deve esclarecer esta questão e dar
uma explicação metafísica à idéia projetada e consciente."
"A metafísica certamente se vale da Terceira Proposição Fundamental apresentada
em A Doutrina Secreta. Mas existe um pensamento adicional acrescentado pelas pala‐
vras "identidade fundamental". A fraternidade não surge num vazio. Pode existir ape‐
nas quando há uma origem comum, uma raiz comum. A idéia de fraternidade é secun‐
dária à da consideração fundamental; é o corolário filosófico da declaração metafísica
da identidade. A fraternidade implica em existências separadas e independentes, entre
as quais existe certa relação, a relação de fraternidade. Neste sentido, identidade é não
ter relação, porque onde existe o Uno não há nada com o que se relacionar. Quando o
Uno se relaciona, existe Aquilo fora do Uno com o qual se relaciona e, conseqüente‐
mente existem Dois ou a Dualidade; a relação é a ponte que une os dois. E, onde quer
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que exista uma dualidade existe uma Trindade, porque o terceiro aspecto é a relação.
'Quando o Um se torna Dois, aparece o Terceiro...' (Estâncias de Dzyan). Portanto po‐
demos dizer que a fraternidade existe somente durante a manifestação, porque quan‐
do cessa a manifestação subsiste apenas 'o Pai Eterno', envolto em suas vestes sempre
invisíveis."
Sintetizando brevemente: os Três Princípios postulam que existe uma Realidade
Absoluta do Um Incognoscível, que os universos estão perpetuamente entrando e sa‐
indo da manifestação, e que todos os "eus" são em essência o Eu Uno, que é um as‐
pecto da Realidade Absoluta ou Primordial.
HPB dedica o resto de A Doutrina Secreta para explicar em detalhe estas Proposi‐
ções Fundamentais e mostra como se expressam e se ampliam os ensinamentos da
religião e das tradições dos mistérios que existiram através de todos os séculos na
Humanidade.
Estas Proposições afirmam que embora estejamos vivendo agora num mundo de
multiplicidade, cheio de seres e de objetos diferentes de nós mesmos, no coração de
tudo está a Unidade, e toda essa variedade é apenas uma expressão passageira da
plenitude infinita do Uno. Elas também afirmam que embora nossa vida atual esteja
numa condição de manifestação, de energias e atividade visível voltadas para o exteri‐
or, da mesma maneira existe um aspecto não manifestado, e chegará o momento para
todos os seres, universos ou criaturas de qualquer espécie "em que Aquilo que emergiu
das profundezas insondáveis, regressará novamente a seu lar”.
Segundo Método:
Estudar as definições relacionadas com determinado tema e procurar todas as i‐
déias afins, para o que utilizaremos o índice do VI volume (DS, edição Adyar, 1938.)
Isto nos permite estudar os ensinamentos‐chave da Sabedoria Divina ou Filosofia
Esotérica, o que requer muito tempo de estudo, e periodicamente acrescentaremos
um pequeno comentário próprio a cada etapa.
Como exemplo, tomemos em consideração o ensinamento do renascimento e ve‐
jamos suas referências na obra citada:
Renascimento (Rebirth)
III, 321 Bharata, de
II, 295 Brahmanes, dos
III, 90 Cósmico
III, 235, 248, 307 Leis cíclicas, das
I, 150 Devotos não isentos de
III, 249 Essência divina do
I, 224, 284; V, 83 Doutrina do
IV, 187 Juízo final do
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IV, 329 Crenças dos druidas sobre o
II, 361 Duração de sucessivos
IV, 205 Ego ou mônada
III, 120 Crença dos essênios sobre
IV, 273 Globo de nossos
II, 178; III, 372 Deuses e semi‐deuses dos
III, 304 Individualidade, da
V, 84 Isaac e Jacó, de
V, 247 Karma e
III, 237, 304 Karma e ciclos de
II, 359 Cosmos do
II, 86 Maha Pralaya, depois do
II, 81 Homem, do
II, 296 Mônada, da
III, 277, 323 Narada e o
V, 566 Períodos entre os
I, 213 Cadeias planetárias, das
III, 365 Deuses primitivos, dos
I, 333 Punarjanman ou o
II, 101 Purificação depois de 3.000 anos de
I, 284 Religiões e doutrinas, nas
IV, 37,113; V, 83 Espiritual
II, 121 Símbolo de revestir‐se e o
V, 356 Teoria do
V, 351 Três tipos de
III, 171 Mundos, dos
II, 383 Mundo, dos salvadores do
(As referências indicam volume e páginas na edição Adyar, 1938, em inglês.)
De modo que, para poder ler e estudar todas as referências para o termo renasci‐
mento, nós temos obviamente que dedicar muito tempo.
Se acrescentarmos termos afins, correlacionados com o mesmo, tal como renasci‐
do, palingenesia, metempsicose, somático, preexistência, reencarnação, transmigração
e muitos outros neste extenso tema, não é difícil compreender que é uma forma atra‐
ente de aprofundarmo‐nos nestes ensinamentos‐chave da Sabedoria Divina.
Outra linha de estudo pode ser a Cabala, um tema de muito interesse para os estu‐
dantes de teosofia. Nele buscaremos definições do termo Cabala, que tem página e
meia de referências, depois acrescentaríamos o termo em hebraico: cabbalah, tradi‐
ção, e outros mais.
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Terceiro Método:
Para poder analisar cada termo e as referências relacionadas com ele em toda a
obra, dentro do contexto em que são utilizadas, será útil usar o índice do vol. VI. Aqui é
especialmente útil usar o Glossário Teosófico de HPB, ed. Ground, em português.
Este método está relacionado com o anterior, mas seu propósito é aprofundar um
assunto específico e estudá‐lo por todos os ângulos possíveis.
Por exemplo, às vezes ouvimos na Loja o comentário de um irmão de que sempre
estamos falando sobre Karma. Pode‐se tratar deste tema de maneira superficial, mas
repetir sempre os mesmos conceitos não é a forma mais atraente de apresentá‐lo.
Mas todos nós concordamos de que a Lei do Karma, como tema de estudo, é uma
questão básica relacionada com cada um dos momentos de nossa vida diária. Tudo o
que nos rodeia, o que nos sucede, o que acontece em todo o lugar, não é mais do que
uma expressão sábia e inteligente dessa Lei de Justiça Divina de Retribuição, como a
denominaram os místicos cristãos e que HPB define como "a lei de equilíbrio no Uni‐
verso”.
O Karma, como tema de estudo, é algo muito instigante e misterioso, cujo conhe‐
cimento em profundidade explica muitas coisas e desvenda muitos segredos. No vol.
IV da obra as definições de Karma aparecem como referências das páginas 209 à 211
(em inglês).
A leitura de todas as referências sobre o Karma, na A Doutrina Secreta, seu estudo
e reflexão, não apenas enriquecem nossa compreensão sobre este ensinamento‐
chave, complementando o estudo deste assunto em outras obras teosóficas, mas tam‐
bém dão uma nova perspectiva a nossas vidas e a nossas relações com os demais.
Creio sinceramente que o estudo do Karma é muito conveniente e fascinante, e a
este respeito devo assinalar que a Dra. Annie Besant em sua obra Karma, coloca como
introdução um fragmento de uma carta do Mestre K.H. publicada no livro O Mundo
Oculto, de A.P. Sinnett, que transcrevo a seguir:
"Cada pensamento emitido pelo homem passa ao mundo interior e se converte
numa entidade ativa, associando‐se, poderíamos dizer aderindo‐se a uma dessas forças
meio inteligentes nos domínios invisíveis. Esta entidade sobrevive como uma inteligên‐
cia ativa, criatura engendrada pelo espírito, durante um período mais ou menos exten‐
so, dependendo da primeira intensidade da ação cerebral que a despertou. Deste mo‐
do, um bom pensamento se perpetua como um poder bem‐feitor ativo, e um mau, co‐
mo um demônio cruel. Assim um homem povoa continuamente sua corrente no espa‐
ço, com um mundo próprio, onde surgem os brotos de seus sonhos, desejos, impulsos e
paixões; uma corrente que reage sobre toda organização sensitiva ou nervosa que en‐
tra em cantata com ela, em proporção a sua intensidade. Os budistas a chamam de
Skandha, os hindus, de Karma. O Adepto emite conscientemente estas formas, os ho‐
mens comuns às emitem inconscientemente."
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Da mesma maneira podemos também escolher outros assuntos importantes como
estudo, para fixar com precisão os conceitos que temos dos mesmos, por exemplo,
quando estudamos Manvantaras, Pralayas, Cadeias, Globos, Rondas, Raças, etc.
Quarto Método:
Fazer um estudo específico das Estâncias de Dzyan, tomando cada sloka (versículo)
para um exame detalhado, buscando todas as explicações possíveis em todas as pas‐
sagens correlacionadas com cada um deles em todos os volumes da A Doutrina Secre‐
ta. Este parece ser um método simples, no entanto representa para o estudante, uma
tarefa que exige um trabalho minucioso e metódico.
Como motivação para este enfoque, vejamos o começo do Proêmio, com o título
de "Páginas de alguns anais pré‐históricos":
"Um manuscrito arcaico uma coleção de folhas de palmas que se tornaram imper‐
meáveis à água, ao fogo e ao ar, por algum processo específico e desconhecido ‐ está
ante os olhos da escritora. Em sua primeira página há um disco imaculadamente bran‐
co dentro de um fundo totalmente escuro. Na página seguinte, o mesmo disco, mas
com um ponto no centro. O primeiro (sabe o estudante) representa o Cosmos na Eter‐
nidade, antes do despertar da Energia que ainda dormita, a Emanação do Mundo em
sistemas posteriores. O ponto, no disco até agora imaculado, o Espaço e a Eternidade
no Pralaya, indica o alvorecer da diferenciação. O Ponto no Ovo do mundo, o Gérmen
dentro do qual se desenvolverá o Universo, o Todo, o Cosmos ilimitado e periódico ‐ um
gérmen que está latente e ativo, periodicamente e por turnos. O círculo único é a Uni‐
dade Divina, de onde tudo procede, ao qual tudo retorna: sua circunferência um símbo‐
lo limitado por forças, veste a limitação da mente humana ‐ indica o abstrato, a Pre‐
sença sempre incognoscível, e seu plano, a Alma Universal, embora os dois sejam um.
Só a face do disco é branca e por estar rodeado por um fundo escuro, mostra clara‐
mente que seu plano é o único conhecimento, embora nebuloso e fraco como ainda é,
que pode ser alcançado pelo homem. É neste plano que começa a manifestação Man‐
vantárica; porque é nesta Alma, que dormita durante o Pralaya, onde o pensamento
Divino está, ocultando o plano de cada cosmogonia e teogonia futuras." (DS, vol. I,
p.69)
Basta esta citação para compreender a maravilha deste método, bem como a ri‐
queza e profundidade de conceitos que se revelarão nesta pesquisa e estudo específi‐
co.
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Quinto Método:
Fazer uma leitura página por página, ou melhor, ler região por região cada página,
por toda a obra, com pausas apropriadas para consultar as referências e compreender
seu significado.
Aos estudantes que se interessam em seguir este método, que requer uma vonta‐
de firme e resoluta, sugerimos fazer este estudo por temas ou assuntos, em vez de
começar pela página 1 do vol. I.
Isto é, recomendamos começar a estudar os vol. III e IV, da edição de Adyar, que
tratam da Antropogênese, o estudo da evolução do homem, já que este assunto é fa‐
cilmente acessível e dá uma compreensão básica mais fácil das passagens do que as
contidas no vol. I.
O estudo do homem, tal como é apresentado pela Sabedoria Divina, é de extraor‐
dinária importância, não somente para encontrar a chave da origem do homem, mas
também para proporcionar uma explicação racional para todos os problemas que o‐
correm na vida diária.
Além disso os volumes III e IV dão a base necessária de conhecimento para uma
compreensão posterior do material de estudo do volume I.
Começar pelo estudo da origem e desenvolvimento do homem foi um dos métodos
seguidos nas Escolas de Mistérios Antigos. Por isso, a leitura sobre o homem, de‐
senvolvida na A Doutrina Secreta, logo permite nos darmos conta de que o homem é
um microcosmo, um pequeno universo. Ao entender este pequeno universo aprende
também que é possível compreender o grande universo, o macrocosmo.
Depois de finalizar o estudo do homem, nos vol. III e IV, em vez de continuar este
estudo, começamos pelo princípio do vol. I, pela página 206, na seção que diz: "Alguns
fatos e explicações”. A razão disto é que desta parte da obra até o final do vol. I e tudo
o que aparece no vol. II, trata de tudo que se relaciona com nossa Terra.
Quando se completa esta fase do estudo, estamos em condições para empreender
a parte mais abstrusa da primeira parte do vol. I, que fundamentalmente é o estudo do
Universo e, conseqüentemente, de nossa Terra e do Sistema Solar.
Quanto ao enfoque que o leitor individual deve assumir, deve‐se ter em conta que
durante muitas eras, os temas principais tratados na A Doutrina Secreta foram consi‐
derados conhecimento esotérico e eram revelados sob juramento secreto nas Antigas
Escolas de Mistérios.
Embora as informações desta obra publicada em 1888 sejam acessíveis ao público
em geral, podemos garantir que este conhecimento é tratado de maneira reservada
como na antiga forma tradicional.
Certas jóias da Sabedoria Divina estão à disposição do leitor que deve se esforçar
para compreendê‐las e correlacioná‐las com outras facetas dos ensinamentos, permi‐
tindo‐lhe desta maneira ter uma compreensão mais profunda da Realidade Primordial.
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Naturalmente tudo isto pode ser conseguido após um estudo repetido e perseve‐
rante, durante longo período de tempo, pois raras vezes se conseguem resultados com
uma única leitura.
Portanto, o enfoque para o estudo da A Doutrina Secreta deve ser o de uma mente
aberta, com disposição de não fazer julgamento definitivo sobre um tema dado até
que tenha conseguido certa iluminação. A mente deve conservar‐se flexível e sem cris‐
talização, não importando quanto desejemos penetrar em seu significado.
Finalmente, mais um ponto a ser considerado. De tempos em tempos, através dos
anos, surgiram membros valiosos em nossa Sociedade Teosófica, que lançaram o cha‐
mado de "regressar a Blavatsky" (Back to Blavatsky). Estes membros, cheios de boas
intenções, defendem que estudemos somente as obras de HPB como "o verdadeiro" e
"o original”. Desta maneira, sem querer, tentaram converter os ensinamentos de HPB
numa espécie de "dogma" ou de "credo".
Creio sinceramente que não honramos HPB e a suas valiosas obras com esta atitu‐
de "parcial". Entre as notas de Bowen, aferidas e aprovadas posteriormente pela pró‐
pria HPB, reproduzimos o seguinte fragmento:
"Ela diz, sem dúvida alguma, que não nos ancoremos nela como autoridade final,
nem a qualquer outra pessoa, mas que dependamos sempre de nossas próprias per‐
cepções mais amplas".
Lembrando as primeiras frases da "Escada de Ouro", nos parece que elas sinteti‐
zam as qualidades requeridas para o estudo da A Doutrina Secreta em particular e de
qualquer outra obra em geral que trate da Sabedoria Divina: "Vida limpa, mente aber‐
ta, coração puro, intelecto ardente ... "
Bibliografia:
1. Methods of Approach to the Study of The Secret Doctrine, Geoffrey A. Barborka, The
American Theosophist, dezembro de 1956.
2. Karma, Annie Besant, Krotona, 1918.
3. Glosario Teosófico, HPB, Buenos Aires, 1957.
4. La Voz deI Silencio, HPB, Barcelona, 1920.
5. The Secret Doctrine, edição de Adyar, 1938, inglês.
6. The Third Fundamental Proposition, Joy Mills, The American Theosophist, junho,
1958.
7. Historia de la Sociedad Teosofica, H.S. Olcott, Madrid, 1929.
8. Madame Blevetskye Own Ideas About the Study of the Secret Doctrine, Pieter K.
Roest, The American Theosophist, outubro e novembro 1936.
9. An Approach to the Occult, Hugh Shearman, Adyar, 1959.
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