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2020 - 2022

AS CIÊNCIAS SOCIAIS
AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Inicie seus estudos conhecendo o tripé das ciências sociais: sociologia, antropologia e
ciência política.

Esta subárea é composta pelas apostilas:

1. Introdução à Sociologia
2. Introdução à Antropologia
3. Introdução à Ciência Política
INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA

Nesta apostila, vamos estudar as origens da Sociologia e entender como ela se relaciona
com o positivismo. À primeira vista, isso pode parecer muito complicado. Será que terei
de me tornar cientista social para entender esse conteúdo?! Logo logo percebemos que
não... Na verdade, é mais simples do que a gente pensa. De uma certa forma, é como
respirar. Não paramos para contar quantas vezes respiramos ao dia e nem como se dá
esse processo. Assim também acontece com as relações sociais. Nós simplesmente
achamos natural o nosso comportamento em sociedade.

Mas, se é natural, por que será que as pessoas se comportam de maneiras variadas
em diferentes países? Por que uns comem com as mãos, outros com garfo e faca e
outros com pauzinhos de bambu? Por que as sociedades estabelecem padrões a serem
seguidos por determinados indivíduos? São muitas perguntas e olha que só estamos
começando.

Pessoas comem em Seul, Jovens confraternizam durante a Garota come fast food na rua.
Coréia do Sul. refeição em um restaurante.

A Sociologia “tem como objetivo compreender e explicar as permanências e as


transformações que ocorrem nas sociedades humanas e até indicar algumas pistas
sobre os rumos das mudanças”.
Fonte: TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o Ensino Médio. São Paulo: Saraiva, 2010.

Dessa forma, quando pensamos em Sociologia, pensamos na vida em sociedade. Nós,


humanos, somos seres sociais. E essa não é uma característica só do tempo presente.
Há muito tempo - muito tempo mesmo - antigas civilizações já possuíam a sua forma
de estruturação social, como os romanos, os gregos, os mongóis, os egípcios e os maias.
E, nessas civilizações, já existiam pessoas que queriam compreender melhor porque as
coisas eram de um jeito e não de outro. Foram pessoas com senso crítico, que tinham a
capacidade de refletir sobre sua vida cotidiana e isso pode ser indesejável para algumas
pessoas. É como mostra a tirinha abaixo, a Sociologia torna visível algumas coisas que
a sociedade muitas vezes não quer enxergar.

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Introdução à Sociologia

© tirasarmandinho
ENTÃO VAMOS AO INÍCIO DE TUDO!
Importantes contribuições para a reflexão sobre a sociedade surgiram ainda na Grécia
Antiga. Filósofos como Platão e Aristóteles buscaram se afastar da mitologia e de
suas narrativas fantásticas e sobrenaturais para entender o mundo a partir da prática
racional. Considera-se que esses pensadores deram os primeiros passos em direção ao
estudo das sociedades humanas.

No entanto, nesse momento, a Sociologia ainda estava muito distante de existir


como área de conhecimento. Como veremos, é apenas no século XIX que os estudos
sociológicos passam a ser reconhecidos como científicos.

“Foram com os filósofos gregos Platão (427-347 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C),
que surgiram os primeiros passos dos trabalhos mais reflexivos sobre a sociedade.
Platão foi defensor de uma concepção idealista e acreditava que o aspecto material do
mundo seria um tipo de fruto imperfeito das ideias universais, as quais existem por si
mesmas. Aristóteles já mencionava que o homem era um ser que, necessariamente,
nasce para estar vivendo em conjunto, isto é, em sociedade.”
Fonte: LORENSETTI ET AL. Sociologia – Ensino Médio. Curitiba: SEED-PR, 2006.

DA IDADE MÉDIA À RENOVAÇÃO


Durante a Idade Média, período que vai do
século V ao XV, não havia muito espaço
para o uso da razão e para reflexões
sobre a sociedade e o mundo. Essa época
ficou conhecida como “Idade das Trevas”.
A Europa Medieval estava dominada pela
Igreja Católica e a perspectiva religiosa
ditava a compreensão das relações
sociais. Diversos pensadores e cientistas
Tribunal da Santa Inquisição. Pintura de Francisco Goya.
foram perseguidos pela Santa Inquisição,
um conjunto de instituições católicas responsáveis por julgar aqueles que discordavam
da Igreja, considerados hereges.

Já no século XVI, Galileu Galilei, matemático, físico, filósofo e astrônomo nascido em


Florença foi condenado e obrigado pela Igreja Católica a negar suas ideias publicamente
e a viver em prisão domiciliar. Tudo isso por ter defendido a tese de Copérnico, segundo
a qual a Terra não ficava no centro do Universo, mas sim girava em torno do Sol. Em

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1992, o papa João Paulo II reconheceu que a

Introdução à Sociologia
Igreja errou ao condenar Galileu à prisão.

Galileu se tornou um dos principais


representantes do que viria a ser conhecido
como Renascimento, um período de
renovação cultural e científica. Os
renascentistas se voltam para a Grécia
Antiga e, a partir dos escritos dos pensadores
antigos, passam a defender que o mundo
deve ser visto de forma reflexiva e mesmo
questionado. Esse movimento influenciou
diferentes áreas, desde a literatura até a
filosofia e o pensamento científico. Nicolau
Maquiavel e Erasmus de Roterdã foram
importantes pensadores desse período. De
formas diferentes, procuraram compreender
Galileu Galilei
a relação dos governantes com a sociedade.

O Renascimento colocou o homem no centro de tudo. Era a perspectiva antropocêntrica


que ganhava força. Essa fase da História mundial foi fundamental para o que viria
depois... o Iluminismo!

E FEZ-SE A LUZ!
No século XVIII, tem início o Iluminismo, também conhecido como “Século das Luzes”.
Essa referência à luz diz respeito à saída da “Idade das Trevas” e à entrada na era das
“luzes da razão”.

Esse movimento nasce na Europa, mais precisamente na França e na Inglaterra.


Naquele momento, o continente europeu vivenciava diversos governos absolutistas.
O Rei Luís XIV da França (1643-1715) se tornou o símbolo do Absolutismo. Também
conhecido como Rei Sol, a ele é atribuída a famosa frase “O Estado sou eu!”. Não temos
certeza até hoje se ele disse isso mesmo ou não. De qualquer forma, essa frase define
muito bem o que se esperar de um
governante absolutista. Não poderia
haver contestação e crítica aos poderes
do rei, que era visto como a própria
encarnação divina.

Durante o Absolutismo, que durou do


século XVI ao XVIII, as pessoas que
viviam sob esses governos tinham
inúmeras restrições. Elas não podiam
ter sua própria religião, deveriam
O artista Jean-Léon Gérôme retrata Luís XIV em uma
praticar a mesma fé do Estado. de suas recepções em Versalhes. Os elementos da imagem
evidenciam o poder do famoso rei.

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Não participavam das decisões políticas. Votar e escolher os seus governantes, nem
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pensar!

Dentro desse contexto, o Iluminismo buscou combater o Estado Absoluto a partir


da valorização da ciência e do uso da razão para pensar a vida em sociedade. Esse
pensamento científico trazia questionamentos sobre o caráter sobrenatural dos
governantes. Em geral, essa aura divina que se atribuía aos representantes era resultado
de uma forma de ver o mundo ditada pela religião. Para os absolutistas, os reis receberiam
o poder direto de Deus.

Importantes nomes do pensamento


ocidental foram considerados
pensadores do “Século das Luzes”.
Entre eles Jean-Jacques Rousseau,
que chegou a ser eleito patrono
da Revolução Francesa de 1789.
Também conhecido como o primeiro
revolucionário, Rousseau se destacou
ao propor que o povo é soberano
e que, portanto, deve ser livre para
estruturar e governar o Estado. Ele
A tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789.
defendia que as pessoas deveriam ter Momento marcante da Revolução Francesa. Quadro
poder político. de Jean-Baptiste LALLEMAND.

Montesquieu também ocupa um espaço fundamental dentro do Iluminismo. Alguns


chegam a chamá-lo de pai da Sociologia. Outros apontam a sua importância dentro
da Ciência Política, afinal, foi ele quem desenvolveu a teoria dos três poderes, também
conhecida como teoria da separação dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário),
estrutura política que nós usamos até hoje. No Brasil, o chefe do Poder Executivo é
o presidente da República. Nós escolhemos os nossos legisladores também pelo
voto. Quando votamos para deputado federal e para senador, estamos decidindo
quem queremos no Poder Legislativo. No Poder Judiciário, temos os juízes e os
desembargadores, que ocupam as suas funções geralmente por concurso público. Ou
seja, Montesquieu escreve no século XVIII, mas as suas ideias nos ajudam a organizar
a sociedade até hoje!

Montesquieu também se preocupa com a leis. Para ele, existem as leis da razão (aquelas
conclusões a que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode chegar sozinha
por ser um ser racional) e as leis escritas e os costumes, criadas pelos próprios homens
para dizer como as pessoas em uma determinada sociedade devem se comportar.
“Mas o objeto de Montesquieu não são as leis que regem as relações entre os homens
em geral, mas as leis positivas, isto é, as leis e instituições criadas pelos homens para
reger as relações entre os homens. Montesquieu observa que, ao contrário dos outros
seres, os homens têm a capacidade de se furtar às leis da razão (que deveriam reger
suas relações), e além disso adotam leis escritas e costumes destinados a reger os
comportamentos humanos. E têm também a capacidade de furtar-se igualmente às
leis e instituições.”
Fonte: WEFFORT, Francisco (org). Os clássicos da política vol. 1 14.ed. São Paulo: Ática, 2011.

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Na Inglaterra, John Locke, conhecido como pai do Liberalismo, foi igualmente uma

Introdução à Sociologia
importante figura iluminista. Locke entendia que os indivíduos que se uniram por livre
e espontânea vontade para formar a sociedade transferiram parte de sua liberdade
natural para a comunidade ao concordar em respeitar as leis. As leis, no entanto, não
deveriam ser estabelecidas unilateralmente por um soberano. A sociedade deveria
participar de alguma forma desse processo de criação das leis. Além disso, era preciso
que os governantes também se submetessem às leis. Locke lançou, assim, as bases
para o que chamamos de Estado Democrático de Direito.

Tanto a Revolução Francesa (1789), como a Revolução Americana (1776) foram vistas
como desdobramentos das ideias iluministas. A primeira colocou fim ao reinado de Luís
XVI na França (não confundir com Luís XIV!), já a segunda trouxe a independência das
colônias inglesas nas Américas.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, CAPITALISMO E POSITIVISMO


Como vimos na seção anterior, o Iluminismo foi um divisor de águas na História do
mundo ocidental. A Era da Razão abriu caminho e estabeleceu as bases para muitas
coisas que viriam depois. A partir do Iluminismo, a forma como a sociedade europeia
via o conhecimento, assim como a sua produção, foi alterada. Não era apenas o
pensamento que estava mudando, os processos políticos e a economia também se
modificaram. Iniciou-se, em 1789, uma nova era, a Era Contemporânea. Chegava ao
fim a Era Moderna.

Nesse sentido, a Revolução Industrial desempenhou um importante papel. Ela teve um


grande impacto na vida das pessoas que viviam em sociedades que se industrializaram.
Ao mesmo tempo que gerou prosperidade econômica, também trouxe consigo uma
série de problemas sociais.

Muita coisa mudou. A população


europeia que, em grande medida, vivia
do artesanato, da agricultura e de outras
atividades locais passou cada vez mais
a se concentrar em centros urbanos.
Foram diversos os problemas. Em pouco
tempo, ficou evidente que a relação entre
os donos das fábricas (a burguesia)
e o trabalhadores (os proletários) era
desigual. Não existiam direitos mínimos
Fábrica inglesa em 1868. O coração de
a serem observados. Os operários Revolução Industrial.
trabalhavam durante longas jornadas sem
nenhum tipo de limite, o trabalho infantil era permitido, não havia normas de segurança
para garantir a saúde dos empregados, nem direito a férias ou salário mínimo. Além do
que, como as cidades começaram também a ficarem cheias de desempregados, outros
problemas sociais surgiram.

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“A classe burguesa é aquela que ao longo do tempo veio acumulando capital com
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o comércio e reteve os meios de produção em suas mãos, isto é, as ferramentas,


os equipamentos fabris, o espaço da fábrica, etc., bem como o poder político. Já a
classe proletária, sem capital e expropriada dos meios de produção por meio de sua
expulsão dos feudos e das terras comuns, tornava-se fornecedora de mão-de-obra
aos donos das fábricas.”
Fonte: LORENSETTI ET AL. Sociologia – Ensino Médio. Curitiba: SEED-PR, 2006.

Ao mesmo tempo em que havia uma sensação de progresso tecnológico, que colocava
a Europa à frente do restante do mundo, com suas máquinas a vapor, a sensação de
caos social era inegável. E não era só isso! Todo esse processo teve fortes impactos no
meio-ambiente. O Rio Tâmisa, que cruza Londres, ficou completamente poluído.

Esse quadro de mudanças foi essencial para a constituição da Sociologia como ciência.
As primeiras análises sociológicas do século XIX, importantes para lançar as bases
dessa área de conhecimento, vão olhar para esse mundo em transformação e tentar
entendê-lo.

O filósofo francês Auguste Comte foi o primeiro a usar


o termo “Sociologia” e é, por muitos, considerado o
fundador dessa ciência. Comte foi também o criador do
Positivismo, corrente teórica que defendia o progresso
da humanidade. Segundo essa perspectiva, esta seria
a tendência dos seres humanos e as Ciências Positivas
teriam o papel de auxiliar as diversas sociedades nesse
processo. A Sociologia seria, nessa perspectiva, a mais
relevante Ciência Positiva.

Logo depois de Comte, os pensadores que mais


contribuíram com a fundação da Sociologia foram Emile Auguste Comte, pai da Sociologia.

Durhkeim e Karl Marx. Este último, refletindo sobre as


condições de vida das classes trabalhadoras, escreve o “Manifesto Comunista” em
1848. Já Durhkeim, em sua obra “As regras do método sociológico”, de 1895, estabelece
o objeto de estudo da Sociologia, assim como suas regras de análise. Não por acaso,
esses são os dois pensadores que veremos nas próximas apostilas. Bons estudos e até
lá!

ANOTAÇÕES

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