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AULA 1 DE

SOCIOLOGIA 2024.1
Prof. Dr. Mestre Jackson Cordeiro de Almeida
Doutor em Educação Holística
Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Regional
Especialista em Gestão Escolar
Especialista em Filosofia e Sociologia
Especialista em Docência do Ensino Superior
Especialista em Inspeção Institucional
Graduado em Filosofia
O CONHECIMENTO
SOCIAL
Tratar da constituição do campo das
ciências sociais como expressão do
entendimento racional das sociedades
humanas é, antes de mais nada,
compreender a consolidação do discurso
científico como caminho válido e seguro ao
entendimento da natureza e do homem
como ser social.
Nesse sentido, é importante que o discurso científico
procure desmascarar outras formas de conhecimento
incorporadas ao cotidiano social. A validação do
discurso científico passa pela identificação e pelo
desmascaramento do conhecimento proveniente do
senso comum, de nosso cotidiano, desprovido do rigor
científico que confirmaria a veracidade das
conclusões dele provenientes.
O senso comum se manifesta através de
nossa experiência pessoal e coletiva e das
crenças que nascem dessa convivência
coletiva; por meio de nosso cotidiano,
vamos firmando certas percepções que
aparentam ser verdadeiras e passamos a
incorporá-las como se fossem verdades
absolutas.
Assim, o senso comum assume formas
variadas, tais como crença, as tradições, o
estereótipo (a imagem que fazemos de
uma pessoa, sem conhecê-la de fato), o
preconceito, entre outros.
O senso comum corresponde à primeira forma de
compreensão que o homem possui do mundo e da
realidade ao seu redor, no entanto, por ser uma forma
de conhecimento desorganizado, inexato e ancorado
em tradições sociais, não tende a buscar uma verdade
que seja comprovada cientificamente, motivo pelo
qual a Sociologia deve se dedicar a superá- lo em
busca da visão científica da realidade social.
Para tanto, é preciso alterar nosso comportamento
diante da realidade que nos cerca, adotando uma nova
perspectiva, mais crítica e desmistificadora desta
realidade, o que corresponde ao que os sociólogos
chamam de estranhamento, ou seja, procurar uma
solução que não resulte de nossas primeiras
impressões, mas de uma investigação científica e
racional dos acontecimentos em questão.
A AVENTURA
SOCIOLÓGICA
Para que possamos compreender a origem e
necessidade da Sociologia, precisamos,
portanto, identificar o momento em que a razão
torna-se instrumento de investigação da
natureza e da sociedade. Neste aspecto,
devemos ressaltar que o primeiro povo a fazer
uso da razão foram os gregos.
O BERÇO DA RAZÃO

A superação do senso comum passa,


obrigatoriamente, pelo uso da razão como
instrumento de compreensão do mundo ao
redor, permitindo ao sociólogo
desnaturalizar falsas realidades. ...
...Tal
processo, no entanto, iniciou-se na Grécia
Antiga, quando tal povo passou a utilizar-se da
razão para compreender o mundo,
abandonando as explicações míticas que se
pautavam em seres fantásticos para responder
às inquietações e indagações humanas a
respeito do cosmo e da existência humana.
Mas, enquanto a filosofia buscava uma visão
contemplativa, a ciência procurava uma
aplicação prática do conhecimento, o que
começava a se tornar realidade com a
Revolução Científica do século XVI e com o
advento do Iluminismo no século XVIII, como
relata o texto abaixo:
Pelo menos até o século 18, a maioria dos
campos de conhecimento hoje
enquadrados sob o rótulo de ciências, era
ainda, como na Antiguidade Clássica,
parte integral dos grandes sistemas
filosóficos. ...
A constituição de saberes autônomos,
organizados em disciplinas específicas, como a
Biologia ou a própria Sociologia, envolverá, de
uma forma ou de outra, a progressiva
redefinição das questões últimas colocadas
tradicionalmente pela reflexão filosófica, como
a liberdade e a razão.
A AVENTURA
SOCIOLÓGICA
A filosofia grega busca a contemplação do
conhecimento, objetivo distinto daquele
almejado pela ciência; por este motivo,
devemos nos deslocar historicamente mais
adiante e manter atenção na nascente sociedade
ocidental e em seu processo de laicização.
A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
DA RENASCENÇA
O declínio das civilizações da Antiguidade
Clássica teve como resultado o surgimento de
uma sociedade ocidental dominada pelo viés
religioso e clerical da Igreja Católica, que, ao
longo de todo o período medievo, dedicar-se-á
a impor sua visão de mundo de caráter
espiritual e dualista. ...
Assim, entre os séculos V e XIII, o que
...
se percebe é o predomínio das crenças e
tradições na organização da sociedade,
que mantém basicamente uma mesma
estrutura de caráter hierárquico e
espiritual.
A partir do século XIII, o Renascimento
Comercial e Urbano gerou uma nova realidade
social, na qual o europeu passou a ter contato
com os povos orientais e, em paralelo ao
movimento da escolástica religiosa, começou a
estudar os textos filosóficos dos gregos.
Estes fatores, em conjunto, criaram as
condições para o Renascimento Científico, que
encontrou dificuldades em superar a
hegemonia clerical, que se sustentava em
instituições como o Tribunal do Santo Ofício,
que vitimou e calou estudiosos Como:
Giordano Bruno, morto na fogueira por
defender suas ideias sobre o modelo
heliocêntrico, e, além dele, Galileu Galilei, que
sofreu processo inquisitorial, tendo de
renunciar às suas proposições astronômicas
(defesa do movimento da Terra e do
heliocentrismo), condenado à prisão domiciliar
pela Igreja Católica.
Tais percalços não impediram, porém, a expansão do
pensamento científico e de sua visão naturalista da
realidade, que foi ocupando o espaço antes dominado
pela religião, com sua perspectiva sobrenatural e
espiritual, e substituindo lentamente explicações
místicas ou sobrenaturais por explicações lógicas,
racionais e naturais.
Na esteira das ideias renascentistas da Época
Moderna, o século XVII firmou a posição da
ciência com o desenvolvimento da Matemática,
resultante dos esforços de Isaac Newton, Blaise
Pascal e René Descartes, entre outros, o que
contribuiu para o fortalecimento do processo
de laicização do pensamento.
• Esclareceremos o que a nova ciência procura
alcançar e qual o seu significado.
• A Sociologia é a ciência da sociedade e
estudaremos em um nível generalizado.
A crença newtoniana de que o universo era
uma máquina, regida por leis identificáveis e
traduzíveis matematicamente em fórmulas, foi
determinante para a consolidação das ciências
exatas e, ao mesmo tempo, impulsionou o
surgimento de novas ferramentas, tais como:
o cálculo diferencial e integral, a
geometria analítica e os estudos de
probalidade, permitindo ao homem uma
compreensão mecânica do universo, dada
por relações de causalidade.
A REVOLUÇÃO DAS
LUZES
Durante o século XVIII (o Século das
Luzes), o pensamento iluminista se viu
fortalecido pelas descobertas científicas
do século XVII, incorporando em
definitivo a razão natural como
instrumento analítico para a obtenção do
conhecimento.
...Prática que acabou por resultar, com o
tempo, no abandono das explicações
fantásticas ou sobrenaturais e em um forte
sentimento anticlerical, perceptível em todos os
movimentos revolucionários dos séculos XVIII
e XIX impulsionados pelos valores iluministas.
...
...A Revolução Industrial Inglesa, por
exemplo, apenas se tornou possível graças
à aplicação do conhecimento científico de
forma prática e funcional, de modo a
encaminhar a humanidade para um novo
estágio civilizacional. ...
A transformação ali tornava-se palpável
...
com a ampliação da capacidade humana
na utilização de recursos naturais e de sua
transformação em uma escala até então
inimaginável, o que favoreceu a elite
industrial e seu visível progresso material.
É claro que a situação de parte considerável da
sociedade inglesa não era boa e a exploração
do trabalhador consistia em um novo fator de
tensão e agitação social. A velha ordem social
não funcionava mais diante da complexidade
assumida pela sociedade industrial.
Por sua vez, a Revolução Francesa fez
desmoronar o edifício social construído
na Idade Média e assentado na divisão
tradicional dos Três Estados, avalizado
pela realeza absolutista. ...
O Antigo Regime deveria ceder lugar a uma
nova organização política e social que, para
muitos, era caótica. Em meio ao caos, seria
importante pensar em uma engenharia social e,
para tanto, a reflexão sobre os elementos de
condicionamento social seria necessária, o que
constitui o cenário ideal para o florescer do
pensar sociológico.
O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA:
PRIMEIROS PRESSUPOSTOS

Considerar o nascimento da Sociologia e


entendê-la como uma ciência dos
componentes sociais do homem é estudar
o contexto histórico em que está inserida.
Nesse aspecto, as revoluções burguesas
do século XVIII são a base ideológica das
transformações que se seguiram ao longo
do século XIX e que iriam nos
encaminhar em direção ao nascimento da
Sociologia.
NOVAS CIÊNCIAS NO SÉCULO
XIX:
BIOLOGIA E SOCIOLOGIA
O século XIX deu sequência ao fortalecimento
do discurso científico. Na Europa, o
surgimento das “Sociedades para o Progresso
da Ciência” criou um ambiente propício para
debates sobre pesquisas científicas e eram
mostrados os efeitos deste conhecimento na
melhoria da condição de vida das pessoas. ...
É claro que tensões existiam no interior das
sociedades e denunciavam que a melhoria não
era para todos para uma parcela enriquecida e
detentora do poder sobre os conhecimentos
científicos produzidos, mas, apesar disso, a
consolidação do pensamento científico se fez
como um ganho inestimável da humanidade.
Seguiu-se ainda nova revolução no universo
científico com o alvorecer de um novo ramo do
conhecimento: a biologia, que se desenvolveu
com a publicação da obra de Charles Darwin
sobre a evolução das espécies, retirando da
existência humana seu caráter divino.
...Ao encontrar uma explicação natural para o
seu surgimento, fruto do processo evolutivo
resultante da aplicação da seleção natural em
todas as espécies existentes. Essa teoria viria a
suscitar um intenso debate entre
“criacionistas”, que se dedicavam a defender
uma origem divina para o homem, e
“evolucionistas”. ...
...Os estudos de Mendel sobre hereditariedade
abriram caminho para o nascimento da
genética e constituíram outra importante área
de desenvolvimento da Biologia, junto às
pesquisas em torno da vacina elaboradas por
Pasteur, o que impulsionou a medicina.
A caricatura acima foi uma das várias
realizadas na segunda metade do século XIX
que criticavam o pensamento evolucionista de
Darwin e defendiam o criacionismo, ou seja,
defendiam que os seres vivos foram criados
por Deus e desde então se mantiveram do
mesmo jeito.
Foi neste quadro de novidades das ciências naturais
que alguns pensadores quiseram devotar esforços no
sentido de compreender, de forma científica, as
transformações pelas quais passavam tais sociedades,
procurando, também, conferir um sentido
evolucionista para as organizações humanas, caminho
que possibilitou o surgimento da Sociologia, voltada
para estudar a nova sociedade industrial que
despontava na Europa.
Deve-se considerar, porém, que o século XIX
também foi marcado pelas práticas imperialistas
das mesmas potências industriais europeias sobre
a África e a Ásia, o que suscitou curiosidade sobre
a forma de organização e hábitos das comunidades
humanas que viviam nestes continentes,
submetidas ao jugo europeu. A Antropologia
surgiu neste mesmo período como instrumentode
compreensão destas sociedades não ocidentais.
Logo, estudar a constituição das ciências humanas
dentro do movimento de legitimação do discurso
científico, que veicula o conhecimento racional sobre
o mundo, é entender a influência sofrida pelo avanço
das ciências da natureza, de modo que seus pioneiros
irão flertar com tal método. Dentre tais pensadores,
pode-se destacar Saint-Simon e Auguste Comte, que
serão estudados em detalhes a seguir.
O PENSAMENTO DE
SAINT-SIMON
Claude-Henry de Rouvroy, o conde de Saint-Simon, viveu
entre 1760 e 1825. Foi um contemporâneo da Revolução
Francesa, além de um combatente na Guerra de Independência
dos EUA contra as forças britânicas. Dentre suas ideias, propôs
que os cientistas tomassem o lugar dos padres na educação dos
homens. Só assim a humanidade poderia trilhar o caminho do
desenvolvimento material e se pautar pela harmonia em torno
de um igualitarismo não apenas legal e natural, mas, sobretudo,
material. Nesse sentido, é considerado um pensador socialista.
Saint-Simon acreditava que os velhos padrões sociais da Idade
Média se encontravam superados e que o progresso material
proveniente do desenvolvimento industrial exigiria uma
organização social diferenciada, que contemplasse o universo
urbano e os valores iluministas; seria necessária uma ciência da
sociedade francesa que pudesse organizá-la no período pós-
revolucionário. Entre as leis afirmadas por este pensador,
podem-se citar a lei do progresso e a do
desenvolvimento social.
Saint-Simon é considerado um dos expoentes do
pensamento igualitário no âmbito legal e social. Para
ele, as agitações sociais diminuiriam e a sociedade se
tornaria harmônica se os benefícios constituídos pelo
novo estágio produtivo fossem repartidos com os
trabalhadores. Acreditava na divisão da riqueza como
um meio do ordenamento social assentado na
fraternidade humana, viés ideológico que influenciou
o nascimento do pensamento socialista utópico.
A Greve. Óleo sobre tela produzido por Robert Koehler, em
1886. Greves, ataques a fábricas e atentados políticos
marcaram a história dos movimentos sociais do século XIX. O
impacto dessas ações produziu, no plano intelectual, esforços
no sentido de compreender a realidade social, buscando leis
que pudessem iluminar a vida coletiva e sinalizar um
caminhode evolução para as sociedades humanas. Para muitos,
sem a ordem não haveria nenhum tipo de progresso.
Sua visão otimista em relação à
industrialização e à ciência teria produzido o
primeiro pensamento positivista nos
primórdios das ciências sociais, afinal Saint-
Simon esperava maior racionalização dentro do
processo de produção, o que refletiria a
incorporação de funções específicas a cada
trabalhador que participasse da linha de
produção. ...
...Tais ideias foram absorvidas e
alimentadas por seu discípulo, o jovem
Auguste Comte, fundador da primeira
escola de pensamento sociológico, o
positivismo, e por isso considerado o
“pai” da Sociologia.
COMTE EM SEU
CONTEXTO HISTÓRICO
Para melhor compreensão do pensamento de
Comte, énecessário inseri-lo no quadro das
agitações sociais da Europa do século XIX.
Depois das guerras napoleônicas e da tentativa
de restauração da antiga ordem pelo Congresso
de Viena em 1815,
...O continente europeu vivenciou, em seu
conjunto, revoluções liberais e agitações
operárias nos maiores centros de
desenvolvimento industrial, ao mesmo tempo
em que a ciência fazia progressos em vários
campos e a cultura cientificista acabava por
disseminar-se em vários países.
Auguste Comte (1798-1857) percebia, nas
agitações políticas e sociais, formas
impeditivas do progresso material e humano,
buscando, então, uma melhor compreensão da
sociedade para evitar os excessos, os abusos
que poderiam colocar em cheque a evolução
humana.
Nesse sentido, Comte inspirava-se nos conhecimentos
da física e na afirmação das leis naturais. Voltando-se
à sociedade, pretendia elaborar uma ciência, a “física
social”, que se inspiraria nos mesmos mecanismos de
análise das ciências naturais, o que possibilitaria
melhor compreensão das diferenças e a harmonização
sociedade em torno de princípios evolutivos e
racionais.
O PENSAMENTO DE
AUGUSTE COMTE
Comte sustentava que o entendimento das leis
que
regiam a sociedade permitiria a adoção de
medidas contrárias
às agitações políticas, garantindo o equilíbrio
necessário para o desenvolvimento social.
Era fundamental estabelecer a ordem para o
...
desenvolvimento do progresso, lema positivista
de Comte, pois, transferindo-se as noções
científicas da sociedade para a prática,
implantar-se-ia não apenas a ordem, mas
também criar--se-ia um conjunto de crenças
comuns a todos os homens.
O ato de estudar a sociedade de forma
científica significava, da parte do autor, total e
completa neutralidade, de modo que suas
opiniões não poderiam contaminar o
experimento sociológico.
Tal neutralidade garantiria um estudo coeso e
isento, desde que o pesquisador seguisse os
passos corretos, a saber: observação,
comparação, experimentação e a classificação
dos objetos dispostos na natureza.
Em sua filosofia positiva, afirmava ter
encontrado uma “grande lei fundamental”
do progresso humano: a Lei dos Três
Estados. O primeiro era o teológico, o
segundo, o metafísico e o terceiro, o
positivo, estágio final do desenvolvimento
humano.
No estado teológico, as explicações dadas pelo
homem aos fenômenos naturais estavam
atreladas a seres sobrenaturais, a divindades, o
que constituía uma visão religiosa e politeísta
da ordem natural; no estado metafísico, os
agentes sobrenaturais seriam substituídos por
forças abstratas.
Nesse estado, a racionalidade se encontraria mais
desenvolvida, mas ainda marcada por um viés místico
que deveria ser eliminado. Por fim, no estado positivo,
o homem racionalizaria os fenômenos naturais,
conhecendo as leis físicas que os regem, o que
permitiria o desenvolvimento tecnológico, caminho
para o progresso científico que se encontrava em
curso.
AS CIÊNCIAS POSITIVAS

Comte estabeleceu, ainda, uma classificação


das ciências que alcançavam o estágio positivo,
segundo quatro critérios: cronológico; nível de
complexidade; generalidade e dependência.
Com esta classificação, Comte identificou seis
ciências que se encaixavam nestes parâmetros:
a Matemática, que ganhou corpo científico
com os gregos; a Astronomia, que se iniciou
com os gregos, mas se aprofundou com o
Renascimento Científico do século XVI e com
investigações favorecidas por instrumentos de
observação celeste mais eficientes que o olho
nu;
A Física, impulsionada pela Revolução Científica, da
qual se beneficiou Isaac Newton, que pôde
desenvolver as leis básicas para a compreensão do
mundo físico ou natural; a Química, que permitiu ao
homem compreender a composição da matéria em
nível molecular; a Biologia que, com Darwin,
procurava um significado natural e terreno para a
existência humana e sua relação com a natureza;
por fim, a Sociologia, a mais recente das
ciências positivas, que, na visão de
Comte, era a mais significativa de todas,
uma vez que deveria coordenar as demais,
dando-lhes um sentido mais amplo e
totalizante.
POSITIVISMO NO BRASIL
O positivismo de Comte teve seguidores em várias partes do
mundo, inclusive no Brasil. Suas ideias apontavam a existência
de um Estado laico que muitos consideravam ser a República.
Dessa forma, a propagação das ideias positivistas no território
brasileiro, em especial no meio militar, contribuiu para o
movimento em defesa da criação de um Estado republicano no
Brasil, o que se tornou realidade em 1889, quando o Exército
brasileiro depôs o Imperador D. Pedro II, encerrando o Período
Monárquico e incorporando valores positivistas à nascente
República.
POSITIVISMO NO BRASIL
O fragmento da bandeira brasileira acima
revela a influência do positivismo na
proclamação da República do Brasil, em 1889,
incorporando o lema máximo de Comte:
“Ordem e Progresso”. A defesa da ordem e do
progresso como binômio indissociável anuncia
uma máxima nem sempre realizada na história
deste país.
O fragmento da bandeira brasileira acima
revela a influência do positivismo na
proclamação da República do Brasil, em 1889,
incorporando o lema máximo de Comte:
“Ordem e Progresso”. A defesa da ordem e do
progresso como binômio indissociável anuncia
uma máxima nem sempre realizada na história
deste país.
NOVOS RUMOS
Contudo, tratar da Sociologia é compreender que há uma
pluralidade de discursos de viés científico que a constitui.
Comte, sem dúvida, forneceu as bases do pensamento
sociológico, mas outros pensadores que o sucederam
encontraram passagens que consideravam equivocadas, quando
não discordavam completamente de sua visão sociológica; é o
caso de seu discípulo, Émile Durkheim, que criticava o que
considerava um revés em direção à metafísica: a valorização da
moral como ciência positiva.
Tal posição levou Durkheim a se distanciar do
positivismo por considerá-lo contaminado pelo viés
pessoal, o que impedia a neutralidade científica tão
defendida por Comte. Esse seria o desafio de
Durkheim: construir uma teoria sociológica que
alcançasse a neutralidade científica necessária para o
correto estudo da sociedade. É o que veremos a seguir.
A SOCIOLOGIA DE ÉMILE
DURKHEIM
A sociologia positivista de Auguste Comte
abriu novos caminhos para a reflexão sobre a
organização das sociedades humanas,
incentivando outros pensadores a procurarem
estabelecer novos critérios e metodologias que
pudessem detalhar a compreensão da vida
social, de sua dinâmica e das transformações
pelas quais vinha passando.
Dentre aqueles que foram influenciados por
suas ideias, destacamos o francês Émile
Durkheim, discípulo de Comte e crítico das
elocubrações finais de seu mestre, ainda que
viesse a incorporar deste o ideal de progresso
atrelado à racionalização da sociedade como
chave para o progresso humano.
A PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA
DURKHEIMIANA
Ao utilizar o positivismo na organização de sua teoria sociológica,
Durkheim procurava distanciar-se da regressão metafísica de Comte
a respeito da moral, dedicando-se à busca de instrumentos que
permitissem ao sociólogo uma efetiva neutralidade científica quanto
ao seu principal objeto de estudo: a sociedade.
...Tal
obsessão será perseguida em sua obra As
regras do método sociológico, o que levou o
sociólogo a desenvolver o conceito de fato
social como forma de compreender certos
aspectos da vida coletiva e, em especial, a
manutenção dos vínculos sociais entre os
homens.
Dentro de sua perspectiva, o indivíduo, ao
nascer, estaria subordinado a uma série de
regras e costumes sociais os quais deveria
seguir, sob pena de sanção ou punição em caso
de desobediência. Assim, a teoria
durkheimiana afirma a prevalência da
sociedade, da coletividade, sobre o indivíduo.
Tais crenças fundamentavam-se na constatação da
existência de instituições que detinham o controle
sobre as vontades individuais, passando a impor
determinados comportamentos e a proibir outros, de
modo a criar um espaço de sociabilidade humana.
Nesse sentido, as instituições se manifestavam por
meio dos fatos sociais, comuns às várias formas de
organização das comunidades humanas e de seus
valores.
Instituições como a família e a religião eram
identificáveis nas sociedades humanas, o que
revelava a existência de uma ordem
hierárquica e de regras de convívio coletivo
definidas, que são exteriores aos indivíduos e
exercem sobre eles certa coercitividade que se
estende a toda sociedade, elementos que
compõem o fato social.
A exterioridade resulta de uma consciência
coletiva que impõe à consciência individual
normas de conduta. Por exemplo, quando
aprendemos a dirigir um carro ou motocicleta,
passamos a nos submeter a uma série de regras
de trânsito que já existiam antes mesmo de nós,
sendo, portanto, exteriores a nós.
A coercitividade se encontrava em seu caráter
impositivo. Por exemplo, se ultrapassarmos um
sinal vermelho em um cruzamento, estaremos
sujeitos a uma multa por tal infração, o que nos
impele a respeitar o sinal, ainda que possamos
ter pressa de chegar a nosso objetivo.
O caráter coercitivo do fato social pode ser
percebido na tirinha acima. No caso, a ameaça
de uma punição, caso não seja realizada a
tarefa, é fator que condiciona o indivíduo a
obedecer, ou seja, ou Calvin pula na piscina ou
é punido com uma “cauda de rato”!
A generalidade decorre da constatação de que nas
sociedades humanas, independentemente de quais
forem, as instituições, regras e convenções são uma
constante, comum a todos. Sendo esta uma regra
comum ou geral, passa-se a dar certa ordem no
comportamento individual em qualquer sociedade,
tornando-se um elemento civilizacional.
Sendo exterior ao homem, o cientista pode
voltar-se ao estudo do fato social como
elemento de compreensão da sociedade,
eximindo-se, então, do julgamento de valores
que contaminam o olhar científico, situação
que solucionaria o dilema criado por Comte ao
identificar na moral uma ciência positiva.
Os fatos sociais, por sua vez, tendem a relacionarem-
se entre si, formando uma enorme interação social que
leva à união da sociedade; a esta união, a estes laços
que ligavam os indivíduos uns aos outros, dando-lhes
certa coesão social, Durkheim chamou de
solidariedade. É a partir do conceito de solidariedade
que Durkheim distingue a existência de dois tipos de
sociedade.
SOLIDARIEDADE MECÂNICA E
SOLIDARIEDADE ORGÂNICA

As sociedades cujas regras eram norteadas pela


família e pela religião estavam atreladas a
vínculos tradicionais, associados à emotividade
e aos costumes que se repetiam geração após
geração; a incorporação das regras
possibilitava o surgimento de um padrão moral
que ditava o “certo” e o “errado” neste tipo de
sociedade.
Para Durkheim, a sociedade ocidental havia
passado por esta fase civilizacional, superando-
a; esta forma de organização social, cuja
coesão se fundamenta em princípios
tradicionais, corresponde ao que Durkheim
classificou como solidariedade mecânica
Este tipo de solidariedade é característica de
sociedades rurais, cuja hierarquia social é
influenciada pelos valores e moral religiosos.
O desenvolvimento industrial e os
procedimentos racionais no universo
produtivo, que visam ampliar a capacidade de
produção, a divisão do trabalho social e todo o
progresso científico aí existente, produziam
uma organização social distinta da anterior e
pautada pela racionalidade.
Assim, havia nesta sociedade maior organicidade
promovida pela interdependência mútua entre
industriais e trabalhadores, assegurada pela
necessidade de produzir o necessário para que
pudessem viver. Esta nova forma de coesão social
foi classificada por Durkheim como solidariedade
orgânica. Este tipo de solidariedade é
característica das sociedades industriais,
influenciadas pela intensa divisão do trabalho.
A passagem de uma forma de solidariedade para outra
se daria a partir do surgimento de novos grupos
sociais, como comerciantes e industriais, que
combateriam as normas vigentes, contrárias a seus
interesses econômicos, promovendo seu
enfraquecimento e levando ao surgimento de novos
valores e organização social; dessa forma, os valores
morais religiosos dariam lugar à divisão do trabalho
social.
A ANOMIA

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