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SOCIOLOGIA

MÓDULO 1 Uma introdução à Sociologia e Positivismo

UMA INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA esse tecido social, formado por relações de solidariedade
e de muitas tensões. Ao lado disso, soma-se a
1. Introdução importância histórica, na organização de uma nova
sociedade e cultura, das revoluções burguesas, a
Intelectuais, desde a Antiguidade, desenvolveram construção do Estado-nação e a secularização que
reflexões sobre a vida em sociedade, particularmente separava a atmosfera religiosa até então imantada nos
através da filosofia, contudo, a elaboração científica de elementos da cultura e das instituições. Surgiam nesse
um pensamento social é muito recente e, portanto, mundo o mito do progresso e a fé nos benefícios seguros
podemos afirmar que a Sociologia é uma ciência propiciados pelas descobertas científicas da época,
moderna. É difícil precisar o nascimento dessa ciência, supostamente capazes de oferecer conforto e escla-
mas sabe-se que o termo sociologia começa a ser recimento suficiente.
utilizado aproximadamente por volta de 1830. É preciso
compreender que a Sociologia não nasceu da vontade ou 2. A Ciência Social
genialidade intelectual de um ou alguns poucos
pensadores, mas da necessidade de se buscar Os primeiros cientistas sociais pretendiam elaborar
explicações e respostas para um período de grandes uma ciência que explicasse os fenômenos sociais com o
transformações sociais, culturais e históricas desenca- mesmo rigor utilizado nas chamadas ciências naturais,
deadas principalmente pela Revolução Industrial como a Biologia ou a Física. Buscavam leis universais que
(séculos XVIII e XIX). dessem conta de compreender racionalmente processos
que, na verdade, como foi colocado posteriormente,
precisavam de métodos e categorias próprias do
pensamento social. Enquanto ciência, o novo pensa-
mento social pretendia-se, e ainda deve ser assim,
exercício intelectual de observação e de experimentação.
Fatos se acumulavam e tornavam-se, pela repetição dos
fenômenos, fatos sociais, ou seja, passíveis de
observação científica. Por essa época, as ciências naturais
davam importantes passos em seu desenvolvimento. Há
mais de um século, Galileu, Copérnico e Newton
deixaram legados e estudos que abalaram conceitos
clássicos que já não bastavam para explicar os fenômenos
e mudaram o paradigma, ou seja, o referencial teórico dos
homens. O heliocentrismo, por exemplo, de Nicolau
Copérnico, deslocava a Terra do centro do Universo e
A Revolução Industrial foi palco histórico do nascimento da Sociologia.
mostrava o equívoco teórico inevitável de uma
humanidade que até então não produzira a investigação
A ciência em questão nascera numa sociedade, científica. A ciência, portanto, não nasceu como uma
especificamente europeia, marcada por grandes forma entre outras de saber, mas como a única
transformações no processo de produção, em que se competente e capaz de expressar a verdade, e por isso
formava a massa de trabalhadores e com ela, uma pode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso,
condição precária e diferente de existência. Ocorria então o mito da ciência. Essa mentalidade foi chamada de
rápida urbanização, que expunha uma nova forma de cientificismo e corresponde a uma escola do
miséria, de conflitos, doenças proliferavam facilmente, pensamento conhecida como Positivismo. Se de um
um aumento do alcoolismo, do suicídio, da prostituição; lado, a Sociologia descendia da filosofia social elaborada
mas também, assistia-se a um desenvolvimento tec- pelos antigos gregos ou pelos iluministas do século XVIII,
nológico nunca visto antes, nasciam novos hábitos de por outro lado, ela exigia uma metodologia distinta e
consumo e movimentos artísticos que expressavam todo propriamente científica.

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3. Objeto da Sociologia 4. Uma Ciência da Sociedade

Não é possível definir o objeto da Sociologia em Os primeiros sociólogos pretendiam uma ciência
poucas linhas. Os próprios clássicos não compartilham as semelhante às ciências naturais, porém, hoje diríamos
mesmas noções de sociedade e têm diferentes que a ciência da sociedade não tem a função de descobrir
concepções de um objeto da Sociologia. Cada pensador leis gerais e naturais da sociedade, mas a de formular
tende a construir ou a se apropriar de categorias cien- generalizações sobre a realidade social. Não cabe ao
tíficas distintas. Tais divergências não empobrecem essa sociólogo estudar fatos isolados, o que é feito pelo
área do conhecimento, ao contrário, tornam-na mais historiador, mas fatos marcados pela repetição do
interessante e complexa. fenômeno. Em outros termos, para que seja detectado
Como vimos na aula anterior, a Sociologia tem o um fenômeno de interesse sociológico, tal fenômeno
compromisso de elaborar abordagens científicas da deve apresentar alguma regularidade. Não interessa ao
sociedade. Assim, tais abordagens não podem partir de sociólogo o suicídio de alguma autoridade política, por
exemplo, mas pode interessar o aumento verificado no
especulações livres de gabinete, tampouco podem contar
número estatístico de suicídios em uma determinada
com observações casuais de fenômenos sociais isolados.
sociedade, e levará em consideração o contexto histórico
Enquanto ciência, o pensamento sociológico se expressa
em que se verificou o fenômeno repetido.
como um sistema coerente de categorias construídas
É preciso salientar além disso que teorias sociológicas
sobre a realidade observada e interpretada, criando
não são doutrinas sociais, pois essas últimas não resultam
proposições e teorias. Em princípio, a ciência social em
de um trabalho científico de observações. Assim como, a
questão pode tomar por objeto qualquer fenômeno social, Sociologia também não é uma mera técnica de controle
visto como processo, ou ainda, em seu próprio social. Contudo, as doutrinas sociais e as técnicas de
dinamismo e historicidade. São objetos de observação e controle podem ser objeto de estudo do sociólogo e os
estudo os processos sociais, movimentos sociais, as conhecimentos acumulados ou desvelados pela Sociologia
relações de classe, conflitos, instituições, fenômenos podem contribuir para a prática política de administração
múltiplos em que as ações dos homens levem em da sociedade.
consideração a existência dos outros. A realidade social já Existe ainda uma distinção entre problema sociológico
não é percebida então como processo da natureza ou e problema social. É um equívoco e um lugar-comum
obra do acaso, mas como resultado de inúmeras variantes confundir os dois conceitos. Pensa-se que o objeto da
históricas, políticas e culturais, que envolvem questões Sociologia seja o conjunto dos problemas sociais e que
de poder, status e significações. sua única função é a de propor soluções. O sociólogo deve
saber, ao propor uma pesquisa, problematizar o fenômeno
social, que pode ser um problema social, ou não. Na
verdade, é um problema sociológico toda questão social
passível de ser teorizada e estudada. A função social de
um ritual ou de uma festa popular, por exemplo, pode ser
um problema sociológico, e não deve se supor que a
ciência social nasceu para solucionar problemas sociais,
como a violência ou o desemprego, embora possa
contribuir nesse sentido.
A quem interessa a Sociologia? O conhecimento
sociológico não se restringe aos interesses dos cientistas
sociais. Hoje, integra o saber do cidadão comum e faz
parte do cotidiano. Tornou-se difícil acompanhar os
noticiários e comentários registrados pela mídia, quando
se está totalmente desprovido de noções de teoria social.
Foto: Jesus Carlos. Movimento social no Brasil. Uma pessoa pode viver sem qualquer conhecimento de
gramática e se comunicar sem grandes problemas, porém,
o domínio mínimo da gramática pode auxiliar e aperfeiçoar
O clássico Max Weber definiu Sociologia como: “uma a capacidade de comunicação de um indivíduo. Da mesma
ciência que pretende compreender interpretativamente a forma ocorre com a Sociologia. É certo que se pode viver
ação social e assim explicá-la causalmente em seu curso sem ela, mas é notável como certa intimidade com as
e seus efeitos”. (Weber, Max. Economia e Sociedade: categorias e teorias sociológicas propicia maior fluidez e
Fundamentos de uma Sociologia Compreensiva. Editora coerência nas reflexões que um indivíduo possa expressar.
Universidade de Brasília, 1991) A ciência, portanto, assim como a Filosofia, deve trabalhar
transcendendo o senso comum.

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Empírico: Que se apoia na observação e experimentação


da realidade concreta.
Heliocentrismo: Doutrina do Sistema Solar tendo o Sol
como o centro.
Secularização: Perda do caráter religioso. Abandono do
Estado eclesiástico.
Sistema social: A sociedade vista como sistema implica
uma interação entre os elementos e instituições, de tal
forma que a mudança de um elemento compromete ou
influencia todo o tecido social.

O POSITIVISMO
Carnaval suíço. Foto: Alexander Thoele. A Sociologia tem como objeto
todo evento social carente de interpretação.
6. Introdução

O Positivismo foi um movimento intelectual represen-


5. Subdivisões da Sociologia e Relações com Outros
tado principalmente pelo francês Auguste Comte,
Saberes
caracterizando-se como afirmação social da experimen-
tação científica. Em 1966, o antropólogo estruturalista
A Sociologia é uma entre outras ciências sociais
Edmund Leach definiu o positivismo como a visão de que
(Antropologia Cultural, Ciência Política, Economia etc.).
a pesquisa científica social não deveria procurar causas
Ela pode – e deve – dialogar com outras ciências e outras
últimas que derivem de alguma fonte externa, mas sim
formas de conhecimento, como a filosofia e a arte. A
confinar-se ao estudo de relações existentes entre os
produção sociológica não pode pretender responder a
fatos que são diretamente acessíveis pela observação.
qualquer questão, mormente quando estiver fora de seu
Em outros termos, para o positivista, o cientista tem
domínio de estudo. Não cabe ao cientista, por exemplo,
acesso direto à realidade que é o seu objeto de estudo e
buscar respostas para o sentido da existência humana, o
deve descobrir as leis gerais que seriam a base da
que é feito pela Filosofia, pelas tradições religiosas ou pela
regulamentação da vida em sociedade. Assim, o Positivis-
Teologia. Nesse sentido, dizemos que a Sociologia não
mo é marcado por forte carga de cientificismo e essa
deve ser uma ciência solitária, mas sim solidária, ou seja,
carga é o seu próprio alvo de crítica hoje.
deve oferecer suas contribuições para os saberes
O termo positivo indica a possibilidade de um saber
acumulados pela humanidade.
seguro e comprovado, que já não admite dúvidas. Auguste
A Sociologia pode ser subdividida em algumas áreas
Comte afirmara que assim como não há liberdade de
de estudo e interesses específicos. Por isso, ouvimos
consciência na Matemática ou na Astronomia, não pode
falar de uma sociologia da educação, das artes, do
haver também em matéria de Sociologia. Pretendia com
conhecimento, da religião, da linguagem ou ainda de uma
isso dizer que cabe ao sociólogo encontrar as leis
sociologia ambiental, rural ou urbana. Contudo, apesar
universais e imutáveis que regulam a vida social. Ora, esse
dessa possibilidade de abordagens específicas e
pensamento, hoje, é considerado ultrapassado, senão, por
especializações, o sociólogo não deve abandonar uma
que existiriam tantas escolas divergentes e pensadores
visão panorâmica das ciências sociais e da sociedade. Um
com visões até opostas acerca de uma mesma realidade
saber esfarelado corre o risco de enxergar a realidade de
observada? Sabe-se que o conhecimento é sempre uma
forma mutilada. O sociólogo não necessita e não
redução e interpretação do mundo real e a teoria científica
consegue estudar tudo de uma sociedade, mas não pode
é elaborada sobre hipóteses.
desconsiderar o todo, pois cada elemento ou aspecto,
aparentemente isolado do tecido social, está imantado 7. O Pensamento de Auguste Comte (1789-1857)
pela totalidade do sistema social. Assim, o estudo de um
aspecto como a família revelará que tal instituição traz em Auguste Comte nasceu em Montpellier, sudoeste
si outras tantas dimensões do tecido social, como a francês, e desde cedo revelou avançada capacidade
religião, as relações de produção, noção de autoridade e intelectual e de memória. Aos dezesseis anos de idade,
muito mais. ingressou na Escola Politécnica de Paris, foi secretário do
filósofo Henri de Saint-Simon com quem rompeu relações
Glossário
de trabalho em razão das divergências de pensamento.
Antropologia Cultural: Ciência que estuda o homem Trabalhou principalmente para desenvolver o que chamou
como ser produtor de cultura. de uma filosofia positiva.

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b) A idade metafísica, em que o homem invoca


entidades abstratas como a natureza. Trata-se de
um avanço, pois as ideias substituem os deuses e
desenvolve-se a abstração filosófica.

c) A idade positiva, em que o homem renuncia a


descobrir as causas dos fatos e se satisfaz em buscar
as leis que os governam, sendo a etapa definitiva.

Vê-se nessa exposição uma clara concepção


evolucionista, típica da época. Tomava, portanto, a história
especificamente europeia como a história universal. O
modelo único de sociedade e de história era aquele visto
na sociedade industrial e cientificista da Europa Ocidental.
Consequentemente, para Comte, havia uma vocação
natural e universal para o desenvolvimento científico e a
história da humanidade era o desenvolvimento da natu-
reza humana, rumo à instauração da ordem. Considerava-
se, nesse sentido, um anunciador, um profeta de uma
nova religião positiva, sem revelações, sem o
sobrenatural, mas baseada na busca de uma unidade
moral do homem.

Auguste Comte foi o principal expoente do Positivismo.

Para Comte, o progresso econômico que se verificava


em sua época, resultante do processo industrial, acabaria
com os conflitos sociais. A Sociologia, para ele, deveria
buscar os acontecimentos constantes e repetitivos da
natureza e alcançar tal conhecimento seria então um
caminho para reconciliar ordem e progresso social.
Definiu a Sociologia como a ciência positiva da sociedade.
Acreditava estar vivendo uma época de transição de
uma cultura teológica para uma científica e de uma
organização social militar para uma industrial, e via nessa
transição um caminho natural para o estabelecimento da
ordem. Afirmava que os cientistas substituiriam os A inscrição “Ordem e Progresso” na Bandeira Nacional é um lema positivista.

sacerdotes e que a reforma da sociedade teria como 8. O Positivismo no Brasil.


condição fundamental a reforma intelectual. Para o
pensador em questão, a ciência era a grande e única O Brasil teve importantes representantes do po-
salvadora, capaz de dissolver as sombras da ignorância sitivismo, como o coronel Benjamim Constant, o marechal
atormentadora da humanidade. Cândido Rondon, Nísia Floresta Augusta (discípula direta
Segundo Comte, o compromisso da Sociologia era o de Auguste Comte), Miguel Lemos, Euclides da Cunha,
de compreender e acelerar o motor natural da história Júlio de Castilhos e o sociólogo e antropólogo Roquette-
rumo à ordem. Para fazer conhecer esse caminho, Pinto. O Positivismo, no País, formou o pensamento de
desenvolveu a lei dos três estados, associando-os a três professores, médicos, engenheiros, advogados, militares,
idades da humanidade: políticos, juízes e artistas.
a) A idade teológica, em que o homem explica os A própria Bandeira Nacional, composta por Raimundo
fenômenos atribuindo-os a seres ou forças que se Teixeira Mendes, está repleta de simbologia positivista,
equivalem aos próprios homens. Trata-se da como a forma geométrica que indica avanço e a inscrição
infância da humanidade, marcada pelo pensamento Ordem e Progresso, termos que melhor expressam o
mágico e pela fantasia. pensamento positivista.
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O movimento surgiu no País durante o Segundo


Reinado, com os estudantes que viajavam para a França,
e teve influência na Proclamação da República. Muitas
instituições nascidas da República do País trazem a marca
da corrente desse pensamento: as Constituições, a
liberdade religiosa, a independência do Estado em relação
à esfera religiosa, o espírito de solidariedade continental,
os princípios das Forças Armadas, a liberdade de
imprensa e de cátedra.
No Brasil, houve dois movimentos positivistas: um
primeiro, liderado por Pierre Laffitte, chamado Positi-
vismo Ortodoxo, de inspiração mais religiosa e que
contou com grande participação de militares; e um
segundo, liderado por Émile Littre, conhecido como
A Proclamação da República do Brasil foi uma realização política de
Positivismo Heterodoxo, mais concentrado no Nordeste inspiração positivista.
(Recife) e que seguia uma orientação mais científica. Os
dois movimentos correspondem a dois períodos do TEXTO: INVASÃO POSITIVISTA
trabalho de Comte: o ortodoxo, no período mais final e o
QUIROGA, Consuelo. Invasão Positivista no Marxismo:
heterodoxo, relacionado com os primeiros estudos de manifestações no ensino da metodologia no Serviço Social. São
Comte, datando do surgimento da Sociologia. Paulo: Cortez, 1991, pág. 49-52

Ao equiparar o estudo da sociedade ao estudo da


natureza, toma como modelo a ciência natural e, mais
especificamente, a Biologia. Desta, advém muitos dos
conceitos que marcam a Física social, ou a Sociologia,
como os de hierarquia, consenso, órgão, função, estática,
dinâmica, enfim, as ideia de fenômenos interdependentes
dentro de um sistema funcional, organicamente composto.
Essa identificação do estudo da sociedade ao estudo
da natureza, que leva a primeira à busca de leis sociais
análogas às leis da Física (entende-se aqui uma
interpretação estática desta ciência), elimina o papel da
prática social como elemento gerador de mudanças na
sociedade. “A prática social, especialmente no que se
refere à transformação do sistema social, fora assim
suprimida pela fatalidade. A sociedade era concebida por
leis racionais que funcionavam com necessidade natural.”
(Marcuse)
A sociedade tem uma ordem natural que não muda e
à qual o homem deve submeter-se. Essa posição de
submissão aos princípios das leis invariáveis da sociedade
leva a uma posição de resignação grandemente enfatizada
na obra de Comte. Para Comte, “o espírito positivo tende
a consolidar a ordem pelo desenvolvimento racional de
uma sábia resignação diante dos males políticos
incuráveis” (Morais Filho, Auguste Comte: sociologia. São
Paulo: Ática, 1983, p. 31). A pregação da resignação facilita
a aceitação de leis naturais que consolidam a ordem
vigente, justificadora da autoridade reinante e facilitadora
da proteção dos interesses – riqueza e poder –
hegemônicos naquele momento histórico.
Os fenômenos econômicos são muitas vezes
apontados por Comte como expressão dessas leis sociais
Coronel Benjamim Constant: um positivista no Brasil. naturais invariáveis, por coincidência, referindo-se,
principalmente, ao caso da concentração de capital.

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Com o objetivo de fortalecimento da ordem social No estado teológico, predominam as criações


combate-se qualquer doutrina revolucionária e todas as espontâneas, não sujeitas à prova; no metafísico, a
forças se concentram numa renovação moral da socie- dominância é das abstrações e de princípios racionais e, no
dade. A mudança da sociedade passa fundamentalmente positivo, o alicerce está numa apreciação firme da realidade
por um refazer dos costumes, uma reforma intelectual do externa, enunciando-se as relações entre os fenômenos.
homem, e menos pela transformação de suas instituições. Assim, tanto a determinação das leis naturais e
A sociedade se modifica através da visão de PROGRESSO eternas como agora, a visão de evolução da sociedade e
como um mecanismo da própria ORDEM, sem destruição da história sob a ótica positivista aniquilam a prática social
da ordenação vigente, num processo evolutivo. Como dos homens, transformadora da sociedade.
afirma Marcuse: “o positivismo está, pois, interessado em Esta ideia dos três estágios combinada com a
ajudar a ‘transformar a agitação política em uma cruzada transposição de teses do Darwinismo para a sociedade
filosófica’ que suprimiria tendências radicais que eram originou o que ficou conhecido como Darwinismo social.
afinal de contas incompatíveis com qualquer sadia No campo da Biologia, Darwin afirmava que as
concepção da história”. O citado autor continua, buscando diversas espécies de seres vivos se transformam
mostrar que o progresso é, em si, ordem – não é continuamente com a finalidade de se aperfeiçoar para
revolução, mas evolução. garantir a sobrevivência. Em consequência, os orga-
A ideia de ORDEM e PROGRESSO (lema de nossa nismos tendem a se adaptar cada vez melhor ao
bandeira), em Comte, vem de sua visão dos fenômenos ambiente, criando formas mais complexas e avançadas
da sociedade. Para ele, todo ser vivo pode ser estudado de existência, que possibilitam, pela competição natural,
sob uma dimensão estática e uma dinâmica, que a sobrevivência dos seres mais aptos e evoluídos.
apreciaram a sociedade em repouso e em movimento. Tais ideias, transpostas para a análise da sociedade,
Relaciona essas duas dimensões à anatomia e à fisiologia. resultaram no DARWINISMO SOCIAL, isto é, o princípio
A visão de ordem tem sua origem na noção de de que as sociedades se modificam e se desenvolvem
ESTÁTICA, que estuda a existência, suas condições e a num mesmo sentido e que tais transformações repre-
estrutura que a gera. Corresponde à compreensão da sentariam sempre a passagem de um estágio inferior para
existência naquilo que ela oferece de fixo, de estrutural. outro superior, em que o organismo social se mostraria
A Sociologia dinâmica se preocupa com o mais evoluído, mais adaptado e mais complexo. Esse tipo
entendimento do movimento, do desenvolvimento, da de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos –
atividade da vida coletiva, correspondendo à noção de sociedades e indivíduos – mais fortes e mais evoluídos.
PROGRESSO. Essa dimensão da dinâmica social é o que Estava criado assim o suporte teórico para justificar
vai distinguir, marcadamente, a Sociologia da Biologia, ou no século XIX o domínio colonialista de nações europeias
seja, “a ideia-mãe do progresso contínuo ou, antes, do sobre povos da América, da África, da Oceania e da Ásia.
desenvolvimento gradual da humanidade”. (Morais Filho, Os principais cientistas sociais positivistas, combi-
p. 134). Em última instância, torna-se necessário melhorar nando as concepções organicistas e evolucionistas
as condições de vida das classes menos favorecidas, sem inspiradas na perspectiva de Darwin, entendiam que as
incomodar a ordem econômico-política da sociedade. O sociedades tradicionais encontradas nos continentes
desenvolvimento histórico dá-se, portanto, pela evolução citados acima não eram senão “fósseis vivos”, exem-
organizada, regida por leis naturais, ou seja, PROGRESSO plares de estágios anteriores, “primitivos”, do passado da
HISTÓRICO É ORDEM. humanidade. Assim, as sociedades mais simples e de
A lei dos três estados de Comte demonstra essa visão tecnologia menos avançada deveriam evoluir em direção
do desenvolvimento histórico da sociedade. Para ele, essa a níveis de maior complexidade e progresso na escala da
grande lei explica o “desenvolvimento total da inteligência evolução social, até atingir o “topo”: a sociedade industrial
humana em suas diversas esferas de atividade”, europeia. Porém essa explicação aparentemente “cientí-
destacando que essa e todos os conhecimentos passam fica” para justificar a intervenção europeia nesses
sucessivamente por três estados históricos distintos: o continentes era, por sua vez, incapaz de explicar o que
teológico, o metafísico, ou abstrato, e o científico, ou ocorria na própria Europa. Lá, os frutos do progresso não
positivo. Esses três estados se expressam não apenas nas eram igualmente distribuídos, nem todos participavam
formas por que, sucessivamente, toda investigação passa, igualmente das conquistas da civilização. Como o
como também pela própria evolução da humanidade. positivismo explicava essa distorção?
Assim se expressa Comte: “(...) ora, cada um de nós Glossário
contemplando sua própria história, não se lembra de que
Heterodoxo: Que faz oposição a uma doutrina, postura
foi sucessivamente, no que concerne às noções mais
ou opinião tradicional.
importantes, teólogo em sua infância, metafísico em sua
juventude e físico na sua virilidade”. Ortodoxo: Que está conforme a uma doutrina definida e
tradicional.
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A Questão do Método em Ciência Social


História e Positivismo
A QUESTÃO DO MÉTODO EM CIÊNCIA SOCIAL HISTÓRIA E POSITIVISMO
Alberto Lins Caldas
José Maurício F. Mazzucco Professor de Teoria da História – UFRO
Centro de Hermenêutica do Presente – UFRO
A ciência social, como toda ciência, conta, em
princípio, com um método distinto daquele próprio da O Positivismo em História se restringe, hoje, à
tradição e reflexão filosófica. Foram filósofos que chamada “História Oficial”, à “História de Segundo Grau”,
desenvolveram a noção de método em produção de a alguns historiadores regionais, a certa mentalidade, mas
conhecimento. Dois modelos mais importantes se não gerou uma tendência coerente e forte, não gerou uma
destacam: o método indutivo e o dedutivo. História, mas tão somente desvios. Sua aplicabilidade seria
Durante o Renascimento, Francis Bacon (1561- estranha a todas as concepções de História.
1626) foi o maior representante do modelo da indução. O “Positivismo clássico” esconde por traz dos
Segundo este, o conhecimento resultaria da “dados objetivos” a sua matriz ideológica, o seu fazer.
experimentação empírica, em que a observação Sua concepção geral é a de que a sociedade é regulada
sistemática de casos particulares para então chegar à por leis naturais que são imutáveis e não dependem do
formação de generalizações sobre os objetos estudados. arbítrio; a consequência lógico-epistemológica é a de que
O método indutivo é o modelo priorizado pela produção os métodos e técnicas aplicados no estudo da sociedade
científica. Já o método dedutivo teve como maior devem ser os mesmos das Ciências Naturais, o
representante o filósofo René Descartes (1596-1650), conhecimento objetivo que estabelece o que é Ciência,
para quem o conhecimento era baseado no científico, metodológico, possível e impossível, real e
encadeamento lógico de hipóteses racionais, em outros irreal; a metodologia da História não apenas seria a
termos, o saber parte da formulação de generalizações mesma das Ciências Naturais como também deveria
que devem ser válidas e aplicadas aos casos particulares. estudar seu “objeto” da mesma maneira, sem “juízos de
A Sociologia faz uso principalmente do método indutivo;
valor”, com a esperada neutralidade (o passado já passou,
enquanto a Filosofia Social se apropria mais do dedutivo.
nada temos que nos inserir nele), dissecando os “fatos”
Isso não significa que ambos os métodos não sejam
como se fossem objetos; a separação entre Juízos de
aplicados pela ciência ou pela filosofia, trata-se de uma
Valor e Fatos é imprescindível; sem implicações políticas,
questão de prioridade.
a finalidade da Ciência (da História) é constatar, descrever
Dizer que todos os homens nascem iguais, por
e prever. A descritividade descompromissada, reproduzin-
exemplo, pode ser uma verdade para a expressão de um
do a realidade, torna-se o estilo preferido e necessário.
filósofo ou de um teólogo, mas provavelmente, não terá
teor empírico para uma abordagem científica, uma vez Com isso o sujeito encontra o objeto, desencava, escava
que o homem nasce em um mundo social marcado pelas e o traz a luz. A separação entre o cientista e seu “objeto
desigualdades. Contudo, isso não invalida, na fala de um de estudo” é condição inescapável.
pensamento dedutivo, a afirmação de que os homens O positivismo não se encontra em estado puro em
nascem iguais e o sociólogo o sabe. Isso também nenhuma concepção de História, nem mesmo no século
significa que o sociólogo poderá afirmar que os homens XIX. Esse segmento lógico arruinaria completamente
nascem iguais, mas não estará professando o seu qualquer pretensão historiográfica e até mesmo um
trabalho como cientista, mas expressando um juízo de projeto científico que tivesse a “sociedade” e suas
valor filosófico do qual tem direito. Isso não é virtualidades contraditórias e dispersivas como objeto.
interessante? Mas fragmentos dela estão como não dito em muitas
“Escolas de História”, escondidos como generalidades,
universalidades, naturalizações, esquecimentos, adesões,
procedimentos.
Com algumas clivagens positivistas dentro da História
cremos de que a função básica do historiador é recons-
truir os fatos. Esses fatos não se relacionam com o
historiador. Sua posição é neutra, ou científica, separando

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ele mesmo e o sistema imaginário do seu tempo daquilo principalmente porque suas razões são funcionais. Sua
que passou. Sujeito e objeto mantêm uma relação lógica é “industrial”. As operações que lhe cabem são
“naturalizante”, de compreensão causa-efeito, como somente aquelas que permitem a construção, a utilização
duas entidades, como se os “objetos” não fossem social do conhecimento visivelmente como poder. Sua
criação viva de uma “comunidade”, de indivíduos, não eficácia (verdade, objetividade, aplicabilidade) provém
fossem expressões do próprio sujeito, como duas exatamente dessa objetificação.
entidades separadas, não fossem ficcionais. A História, que poderia ser a antítese dessa
Outra postura é que a história é o real, sociedade, concepção científica do mundo, luta desesperadamente
existência, sistema de fenômenos existentes em sua pela glória inútil de ser considerada Ciência. Uma História
globalidade, os homens em movimento a humanidade e científica seria ridícula e seu exercício, além de matá-la,
seu trajeto. Essa existência deixa documentos do seu anularia qualquer possibilidade de compreensão desse
movimento, que serão recompostos (a história está nos fenômeno perverso e contraditório que é o ser social. O
documentos: os fatos estão nos documentos) pela método da História, coerente com seu pretenso “objeto
História. O historiador é o cientista que extrairá a história de estudo”, não poderá jamais ser científica em qualquer
condensada, escondida, espalhada nos documentos. dos seus momentos, o que não exclui nem o rigor nem a
Uma terceira postura é que a Filosofia e toda reflexão capacidade de compreensão e consciência das dimen-
deve ser afastada da operação, pois afetaria a “matéria sões fundamentais do existir.
refinada”, que é “o que aconteceu”, onde não estavam Essa “História Positivista” não será aquela que será
nem o presente nem o historiador. desmoralizada e dissolvida pelos Annales, uma História
A transformação de tudo em “objeto da ciência” da mais séria, científica, mas sem os limites desse tipo de
mentalidade positiva esconde a transformação de tudo História que se tornou “saber oficial” e ainda hoje é a
em objeto. Sem o histórico processo de objetificação, forma concentrada das “Histórias do Segundo Grau
sem objetificar, o pensamento científico fica inoperante,

1. Sobre a história do nascimento da sociologia, é possível afirmar: c) a Revolução Industrial promoveu grandes transformações na
a) Os primeiros sociólogos estavam cientes de que não era possível sociedade, como a urbanização e o aparecimento da classe operária,
elaborar uma ciência semelhante às ciências naturais e que, portanto, incitando um grupo de intelectuais a se preocupar com o estudo da
era necessário criar um método próprio da sociologia. sociedade.
b) A função única da sociologia é buscar soluções para os problemas d) a sociologia nasceu na Antiga Grécia, com Platão e Sócrates.
sociais impostos pela ascensão do capitalismo. e) essa ciência se estabeleceu com o positivismo que relativiza o
c) A Revolução Industrial foi o contexto histórico em que nasceu a conhecimento científico, reconhecendo os limites dessa nova forma
sociologia, determinando inclusive a necessidade do aparecimento de saber.
de intelectuais que compreendessem as grandes transformações
que com ela ocorriam na sociedade da época. RESOLUÇÃO:
Resposta: C
d) Ela nasceu do interesse específico e do esforço de um intelectual
que acreditou ser necessário elaborar uma filosofia social, já que
nunca o ser humano havia, até então, teorizado o tecido social.
e) A Revolução Industrial não pode, por si só, justificar o surgimento 3. A ciência, portanto, não nasceu como uma forma entre outras de
da sociologia, pois ela propiciou bem-estar material para as saber, mas como a única competente e capaz de expressar a verdade,
sociedades europeias, solucionando, de fato, muitos dos problemas e por isso pode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso, o
sociais que havia antes. mito da ciência.
RESOLUÇÃO: Representa bem essa posição intelectual:
Resposta: C a) a sociologia moderna.
b) o positivismo.
2. A sociologia nasceu em um determinado período histórico do c) a sociologia da Grécia Antiga.
ocidente. Podemos, assim, lembrar que d) o pensamento metafísico e religioso.
a) a II Guerra Mundial foi o grande ensejo para o surgimento da e) a sociologia marxista e as ideias acerca do socialismo científico.
sociologia, que sempre teve um compromisso político com as idéias
socialistas. RESOLUÇÃO:
b) desde o seu surgimento, a produção sociológica não teve posicio- Resposta: B
namento político algum, pois, enquanto ciência, a sociologia mantém
rigorosa neutralidade.

8–
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4. Sobre o estudo da sociologia, julgue as afirmativas abaixo: 7. Se a lei da gravidade ou a da inércia são leis da natureza – não se
I. Teorias sociológicas não são doutrinas sociais, pois essas não pode questioná-las, não se pode mudá-las, e só resta conhecê-las para
resultam de um trabalho científico de observações. melhor viver – , do mesmo modo, a sociedade, a vida coletiva, deve ter
II. A sociologia é definida como uma técnica de controle social, sempre suas leis próprias, independentes da vontade humana, que precisam ser
a serviço do Estado, que procura promover o bem-estar social e conhecidas. A física newtoniana descobriu as leis da gravidade e da
exercer o poder político. inércia dos corpos. Cabe à sociologia, na visão de Durkheim, descobrir
III. As doutrinas sociais e as técnicas de controle podem ser objeto de as leis da vida social.
estudo do sociólogo e os conhecimentos acumulados ou (RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação, RJ: DP&A, 2000, p.21).
desvelados pela sociologia podem contribuir para a prática política de
A visão sociológica de Durkheim, apresentada pelo autor do texto acima,
administração da sociedade.
tem como fundamento a concepção
São verdadeiras apenas:
a) sociointeracionista. b) materialista-histórica.
a) I e II b) I e III c) II e III d) II e) III
c) positivista. d) construtivista.
RESOLUÇÃO: e) estruturalista.
Resposta: B
RESOLUÇÃO:
5. Os discursos ou as teorias científicas são desenvolvidos por um Resposta: C
conjunto de técnicas e de experimentos no intuito de compreender ou 8. Leia e assinale a única alternativa falsa sobre a concepção positivista
resolver um problema anteriormente apresentado. A sociologia, por de Comte.
exemplo, possui entre as suas diferentes missões o objetivo de a) Comte tomava a história especificamente europeia como a história
investigar os problemas sociais que vivenciamos durante o nosso universal O modelo único de sociedade e de história era aquele visto
cotidiano. Levando isso em consideração, qual das respostas abaixo é na sociedade industrial e cientificista da Europa Ocidental.
a correta? b) Para Comte, havia uma vocação natural e universal para o desen-
a) O senso comum corresponde à popularização e à massificação das volvimento científico e a história da humanidade era o desenvol-
descobertas científicas após uma ampla divulgação. vimento da natureza humana, rumo à instauração da ordem.
b) O senso comum corresponde aos conhecimentos produzidos c) Comte considerava-se um anunciador, um profeta de uma nova
individualmente e que ainda não passaram por uma validação religião positiva, baseada em revelações sobrenaturais e místicas.
científica. d) Comte acreditava estar vivendo uma época de transição de uma
c) O senso comum pode ser considerado um sinônimo da ignorância da cultura teológica para uma científica e de uma organização social
população e uma justificativa para o atraso econômico. militar para uma industrial, e via nessa transição um caminho natural
d) O senso comum corresponde a um conhecimento não científico para o estabelecimento da ordem.
utilizado como solução para os problemas cotidianos; geralmente ele e) Comte afirmava que os cientistas substituiriam os sacerdotes e que
é pouco elaborado e sem um conhecimento profundo. a reforma da sociedade teria como condição fundamental a reforma
e) O senso comum e o conhecimento científico correspondem a duas intelectual.
formas de entendimento excludentes e possuidoras de fronteiras
intransponíveis. RESOLUÇÃO:
Resposta: C
RESOLUÇÃO:
Resposta: D 9. Ao equiparar o estudo da sociedade ao estudo da natureza, toma
como modelo a ciência natural e, mais especificamente, a Biologia.
6. Leia o texto:
Desta, advem muitos dos conceitos que marcam a Física social, ou a
“Estudar a sociedade é estudar as relações sociais, e as relações
Sociologia, como os de hierarquia, consenso, órgão, função, estática,
sociais não constituem uma realidade física imediatamente perceptível.
dinâmica, enfim, as ideias de fenômenos interdependentes dentro de
Podemos ver as ações, o comportamento dos homens, mas não
um sistema funcional, organicamente composto. Assim, Comte não rei-
podemos ver as relações sociais”.
vindicou um método próprio para as ciências sociais. Isso significa que
Assinale a alternativa que melhor complementa a ideia do pequeno
I. essa identificação do estudo da sociedade ao estudo da natureza
texto.
leva a primeira à busca de leis sociais análogas às leis da Física.
a) Portanto é impossível fazer sociologia com objetividade científica.
II. Comte percebe o aspecto sempre dinâmico da sociedade, consi-
b) Pode até mesmo acontecer que as ações humanas, em vez de
derando-a a partir de seus elementos em constante transformação.
revelar, ocultem as relações entre indivíduos, grupos e categorias
III. os fenômenos econômicos são muitas vezes apontados por Comte
sociais.
como expressão de leis sociais naturais invariáveis, por coincidência,
c) Ao sociólogo convém, portanto, uma qualificação em Psicologia, sem
referindo-se, principalmente, ao caso da concentração de capital.
a qual não poderá garantir rigor científico.
São verdadeiras:
d) Torna-se absurda a ideia de neutralidade científica, pois o pesquisador
a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III
procurará sempre o seu objeto de estudo com uma intencionalidade
d) Apenas I e III e) Apenas I
evidente.
e) Cabe ao sociólogo a tarefa de buscar soluções para os problemas RESOLUÇÃO:
sociais, partindo de ideias universais e valores humanitários. Resposta: D

RESOLUÇÃO:
Resposta: B

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1. Sobre o surgimento da Sociologia, analise as proposições abaixo. 4. Não cabe ao sociólogo estudar fatos isolados, o que é feito pelo
I. Os primeiros sociólogos pretendiam uma ciência semelhante às historiador, mas fatos marcados pela repetição do fenômeno. Em outros
ciências naturais, por isso mesmo, a característica mais clara da termos, para que seja detectado um fenômeno de interesse sociológico
Sociologia nascente era a preocupação com a cientificidade. a) tal fenômeno deve apresentar alguma regularidade.
II. A Sociologia nasceu da vontade ou genialidade intelectual de dois b) dados estatísticos se tornam inúteis para a Sociologia.
intelectuais e sem o esforço deles, essa forma de conhecimento não c) é preciso observar a veracidade do fato isolado ocorrido.
existiria. d) faz-se necessário colocá-lo sob a análise correspondente às ciências
III. A Sociologia nasceu num momento histórico específico, repleto de naturais.
conflitos e contradições sociais. Trata-se da Revolução Industrial que e) deve-se ignorar fatos históricos.
trouxe grandes mudanças na história da civilização ocidental.
IV. Desde o seu nascimento até os dias atuais, a Sociologia tem o único
papel de propor soluções para os problemas sociais e, portanto, 5. “Observar a realidade social; adotar ou elaborar categorias e
problema social e problema sociológico possuem o mesmo conceito. conceitos e produzir teorias e proposições”. Essa sequência de ações
São coerentes pode ser intitulada:
a) apenas I e II. a) Método indutivo.
b) apenas I e III. b) Como trabalha o sociólogo.
c) apenas II e III. c) Filosofia do Positivismo.
d) apenas III e IV. d) Grandes temas da Sociologia.
e) apenas II. e) Objeto de estudo da Sociologia.

2. Não é possível definir o objeto da Sociologia em poucas linhas. Os


próprios clássicos não compartilham as mesmas noções de sociedade 6. A Sociologia nasceu, não da vontade de um filósofo ou pensador
e têm diferentes concepções de um objeto da Sociologia. Cada isolado, mas de um determinado período histórico e num panorama
pensador tende a construir ou a se apropriar de categorias científicas social e cultural em transformação. Comente o quadro histórico que
distintas. Tais divergências propiciou o surgimento da Sociologia.
a) não empobrecem essa área do conhecimento, ao contrário, tornam-
na mais interessante e complexa, pois as ciências sociais trabalham
com múltiplas interpretações e contribuições. 7. O que se entende por cientificismo?
b) impossibilitaram o desenvolvimento de uma ciência de verdade,
pois as divergências dificultaram o estabelecimento de um discurso
coerente, sem o qual não existe o conteúdo científico. 8. O que estuda a Sociologia?
c) provocaram conflitos e guerras principalmente entre os sociólogos
que defendiam o sistema capitalista e os que acreditavam no
socialismo. 9. Que consequências advém, segundo o texto de Consuelo Quiroga,
d) transformaram a Sociologia em um mero discurso ideológico, ou da adoção do modelo das ciências naturais pelo estudo dos fenômenos
seja, irrefletido e dogmático. sociais conforme faz o Positivismo?
e) promoveram o surgimento de outras ciências, como a Psicologia e
a Antropologia, cada qual com um entendimento diferente e
inconciliável. 10. Que relação o texto estabelece entre o Positivismo e o Darwinismo?

3. As abordagens sociológicas não podem partir de especulações livres


de gabinete, tampouco podem contar com observações casuais de 11. Que crítica o texto faz ao conceito positivista de progresso e
fenômenos sociais isolados. Isso significa que civilização como auge da evolução social?
a) a sociologia não depende da observação propriamente científica
como ocorre com as chamadas ciências naturais.
b) o conteúdo teórico é necessário e é o suficiente para a elaboração 12. A ciência, portanto, não nasceu como uma forma entre outras de
de uma pesquisa sociológica. saber, mas como a única competente e capaz de expressar a verdade,
c) a ciência se distingue da filosofia quanto ao método, sendo na e por isso pode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso, o
primeira, mais rigoroso em relação à observação dos fatos e mito da ciência.
experimentação. Representa bem essa posição intelectual:
d) somente a abordagem científica tem valor, devendo-se descartar a) A Sociologia moderna.
qualquer especulação e observação casual. Assim, não se deve b) O Positivismo.
confiar em outras formas de conhecimento. c) A Sociologia da Grécia Antiga.
e) a observação casual dos fenômenos isolados é mais confiável que d) o pensamento metafísico e religioso.
as especulações de gabinete. e) A Sociologia marxista e as ideias acerca do socialismo científico.

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13. A ciência, portanto, não nasceu como uma forma entre outras de 18. Elabore um breve comentário sobre a presença do Positivismo no
saber, mas como a única competente e capaz de expressar a verdade, Brasil.
e por isso pode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso, o
mito da ciência. 19. Qual é o tema central do texto de Consuelo Quiroga?
O termo mito empregado no texto (Vide texto nas páginas 5 e 6)
a) confirma a colocação da primeira parte da frase.
b) revela que a ciência é a única forma confiável de saber. 20. Segundo Comte, o compromisso da sociologia era o de compreender
c) revela o cientificismo próprio das ideias positivistas dominantes pela e acelerar o motor natural da história rumo à ordem. Para fazer conhecer
ocasião do nascimento da Sociologia. esse caminho, desenvolveu a lei dos três estados, associando-os a três
d) expressa ser impossível confiar no conhecimento científico. idades da humanidade:
e) mostra que a ciência social nascente era fundamentada nos antigos A – A idade ___________, em que o homem explica os fenômenos
mitos, a exemplo dos gregos, que acreditavam em explicações atribuindo-os a seres ou forças que se equivalem aos próprios
dogmáticas como explicações dos fenômenos naturais. homens. Trata-se da infância da humanidade, marcada pelo
pensamento mágico e fantasia.
14. Uma colocação teórica do Positivismo (movimento cultural do século B – A idade ____________, em que o homem invoca entidades abstratas
XIX) era: como a natureza. Trata-se de um avanço, pois as ideias substituem
a) A ordem social militar e religiosa era mais evoluída do que a ordem os deuses e desenvolve-se a abstração filosófica.
social industrial e científica. C – A idade _____________, em que o homem renuncia a descobrir as
b) O progresso e o esclarecimento científico trariam a ordem social e a causas dos fatos e se satisfaz em buscar as leis que os governam,
solução da desarmonia entre os homens. sendo a etapa definitiva.
c) A ciência não é a única, tampouco a melhor forma de conhecimento
produzido pelos homens. A alternativa que expõe em ordem correta as idades do homem segundo
d) A sociedade industrial produziria uma classe de excluídos, a filosofia de Comte é:
aumentando as tensões sociais. a) positiva, metafísica e religiosa.
e) O desenvolvimento científico é insuficiente para estabelecer a ordem b) mística, positiva e religiosa.
social. c) teológica, metafísica e positiva.
d) religiosa, científica e positiva.
15. Os primeiros sociólogos pretendiam descobrir as leis gerais da
e) filosófica, mítica e científica.
sociedade, e hoje, menos pretensiosamente, a Sociologia quer formular
generalizações sobre a realidade.
Isso significa que 21. Assinale a única alternativa que não corresponde a uma ideia
a) descobrir leis universais é melhor do que generalizar. defendida pelo pensador Auguste Comte.
b) houve uma involução da Sociologia. a) O pensar científico e a cultura industrial serão substituídos pelo
c) não se devem elaborar teorias sociais, mas descobrir que princípios pensar teológico e pela sociedade militar e estas propiciarão a ordem
regem a sociedade. social.
d) a teoria científica não se aplica aos estudos da sociedade. b) Assim como não há liberdade de consciência na Matemática ou na
e) a teoria social não é realidade social, mas uma interpretação da Astronomia, não pode haver também em matéria de Sociologia.
realidade social. c) A história da humanidade é o desenvolvimento da natureza humana.
d) A Sociologia é a ciência positiva da sociedade.
16. Para o pensamento positivista, qual seria o papel da Sociologia?
e) A Sociologia parte de leis mais gerais, das leis fundamentais da
evolução humana.
17. Comte acreditou ter fundado uma nova religião. Comente como era
essa nova religião.

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1) B 2) A 3) C 4) A 5) B 12) B 13)C 14)B 15)E

6) A sociologia nasceu da necessidade de interpretação de um 16) O papel de encontrar leis gerais e universais que seriam a base
conjunto de transformações culturais e sociais advindas de de regulamentação da vida em sociedade. Para Comte, a
um período de revoluções nos séculos XVIII e XIX como a Sociologia deveria buscar os acontecimentos constantes e
Industrial, as revoluções burguesas, a Revolução Francesa e repetitivos da natureza.
rápida urbanização. 17) Uma religião não metafísica, sem revelações e sem o conceito
do sobrenatural. Seria uma religião positiva, pregando a busca
7) Filosofia que desacredita em qualquer elaboração de saber do homem total sobre uma base unicamente moral.
que não seja pela via do pensamento científico e do método
indutivo.
18) O movimento surgiu no País durante o Segundo Reinado, com
8) A Sociologia estuda os processos sociais, os fenômenos sociais, os estudantes que viajavam para a França e teve influência na
os movimentos, os conflitos, as instituições e as ações dos Proclamação da República. Muitas instituições nascidas da
homens que levem em consideração a existência dos outros. República do País trazem a marca da corrente desse pensa-
mento: as Constituições, a liberdade religiosa, o espírito de
9) Elimina o papel da prática social como elemento gerador de solidariedade continental, os princípios das Forças Armadas,
mudanças na sociedade. A sociedade passa a ter uma ordem a liberdade de imprensa e de cátedra. Alguns nomes entre os
natural que não muda e à qual o homem deve submeter-se. positivistas no Brasil são: coronel Benjamim Constant,
Essa posição de submissão aos princípios das leis invariáveis marechal Cândido Rondon, Nísia Floresta Augusta, Miguel
da sociedade leva a uma posição de resignação. Perde-se a Lemos, Euclides da Cunha, Júlio de Castilhos e Roquette-
visão da sociedade como realidade dinâmica. Pinto.

10) Comte acreditava que havia uma evolução dos homens em 19) O texto elabora uma crítica ao positivismo, principalmente
três estágios. Essa concepção teria sido inspirada pelas ideias pelo método semelhante adotado pelas ciências naturais.
do evolucionismo biológico de Charles Darwin e foi chamado
de darwinismo social. 20) C 21)A

11) A autora comenta que os frutos do progresso não eram igual-


mente distribuídos, nem todos participavam igualmente das
conquistas da civilização.

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MÓDULO 2 A Sociologia de Émile Durkheim

1. Introdução Para Durkheim, a sociedade não era a simples soma


de indivíduos. Entendia-a como uma realidade exterior
Durkheim (1858-1917) nasceu em Epinal, na Alsácia ao indivíduo, dotada de um poder de coerção. A
e descendia de uma família de rabinos. Estudou Filosofia sociedade seria, então, uma individualidade psíquica,
na Escola Superior de Paris, terminando seus estudos na resultante da combinação de consciências individuais,
Alemanha. Lecionou na Sorbonne, onde reuniu um grupo mas que se constituía numa entidade distinta: a cons-
de cientistas, incluindo o seu secretário e sobrinho, o ciência coletiva. A isso se chama de exterioridade do
antropólogo Marcel Mauss. Tal grupo ficou conhecido ser social. Adiante, veremos que poucos compartilham
como Escola Sociológica Francesa. Suas principais obras dessa ótica. Para o clássico Max Weber, por exemplo, a
foram As Regras do Método Sociológico, Da Divisão do sociedade seria um processo interno ao homem.
Trabalho Social e O Suicídio. Durkheim destacou-se Segundo Durkheim, o tecido social só se organizaria
também na sociologia da educação e da religião. A França, através de uma consciência coletiva e por isso não
que em sua época já era um Estado constituído, fora palco bastava falar em uma simples soma de pessoas. Via a
de uma revolução burguesa (Revolução Francesa) que sociedade como um sistema formado pela associação e
possibilitara um acúmulo de reflexões acerca de seus que representava uma realidade específica, com
efeitos. Foi na França, ainda, que Auguste Comte divulgou caracteres próprios. Esse aspecto de exterioridade é
seus estudos e este teve a mais clara influência sobre fundamental para compreender a categoria durkheimiana
Durkheim. de fato social.

Émile Durkheim.

2. O Conceito de Sociedade
3. O caráter impositivo do Fato Social
Durante muito tempo, filósofos escreveram sobre o Para conhecer um pouco do pensamento de
contrato social, supondo que os homens viviam num Durkheim, é imprescindível expor um conceito que está
passado remoto originalmente em estado de natureza e presente em toda a sua obra. Em 1895, ele publica As
teriam renunciado à liberdade para viver em sociedade. Regras do Método Sociológico, e nessa importante obra
Os sociólogos, em geral, não concordam com essa visão. definiu o objeto de estudo da Sociologia: o fato social.
Émile Durkheim defendeu o primado da sociedade sobre Para o indivíduo, o fato social se apresentaria como
o indivíduo. Em outros termos, não há homem sem uma realidade preexistente, independente e exterior. O
sociedade, pois o homem é essencialmente um ser primeiro caráter de um fato social seria o poder de
social.

– 13
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coerção, não necessariamente percebido como coerção mecânica precede historicamente à orgânica e aqui
pelos membros da sociedade. O indivíduo, explica encontramos um elemento importante na sociologia
Durkheim, ao nascer, não escolherá o idioma ou as durkheimiana: o indivíduo não vem historicamente em
normas de comportamento, pois tudo isso já está definido primeiro lugar. O que isso significa? Que a sociedade não
de acordo com a sociedade em que venha a nascer. Em resulta, como pensavam os filósofos, de um contrato
tais circunstâncias de existência social, o homem prova, social, em que os indivíduos precisaram, por conveniência,
então, da força de coerção da sociedade. renunciar a um suposto estado de liberdade. Ao contrário,
Esse poder de coerção levará a sociedade a fazer uso de a teoria de Durkheim prova que não há homem sem
sanções que podem ser legais ou espontâneas. Nesse sociedade. O primado da sociedade sobre o indivíduo
sentido, a punição para os que se rebelarem contra as ocupa posição central na sociologia de Durkheim e prova
normas ou se comportarem questionando-as, portanto, que o indivíduo nasce da sociedade e não a sociedade dos
poderá aparecer em forma de lei penal juridicamente indivíduos. Concluindo, o homem é um ser social.
estabelecida (legal) ou pela simples reprovação, em que
o infrator, por exemplo, se sentirá alvo de risos
(espontânea).
Durkheim trazia forte influência dos positivistas e
acreditava na objetividade do fato social. O pesquisador,
portanto, para cumprir a exigência de rigor científico,
deveria tomar uma distância e manter neutralidade de seu
objeto de estudo (fato social) e conservar a objetividade
de sua análise sociológica. Verifica-se que para o pensador
em questão o fato social é um fenômeno passível de
observação. Em outros termos, assim como um
determinado ser vivo é um objeto de estudo exterior e
palpável para um biólogo, tendo esse ser diante de si, o
fato social se ofereceria com a mesma objetividade para
o sociólogo. Como o próprio Durkheim dizia, “os fatos
sociais são coisas”.
5. O Suicídio
4. Solidariedade Mecânica e Orgânica
Segundo Durkheim, o suicídio interessa ao sociólogo
Vimos que, para Durkheim, a sociedade era mais que de forma não psicológica, mas de forma social. Procura
uma soma de indivíduos e apresentava, portanto, um padrões do fenômeno em diversas sociedades e adota
caráter de sistema. Tal sistema consistia em um tecido um método comparativo. Segundo Durkheim, há quatro
solidário e o sociólogo francês via nos conflitos apenas tipos de suicídio:
uma anomalia da solidariedade.
As sociedades teriam conhecido duas formas de O suicídio egoísta: resulta de uma individualização
solidariedade: a mecânica e a orgânica. excessiva cujo grau de integração do indivíduo na
A primeira (a mecânica), segundo Durkheim, seria sociedade não se apresenta suficientemente forte.
uma solidariedade por semelhança, em que os membros
de uma coletividade compartilham os mesmos senti- O suicídio altruísta: o suicídio altruísta, ao contrário,
mentos e reconhecem os mesmos valores como sagra- resulta de uma individualização insuficiente. É o caso do
dos. Nessas sociedades, os indivíduos não se dis- ritual do sepuku do samurai no antigo Japão; ou das
tinguem muito uns dos outros e as consciências indi- mulheres que na antiga Índia eram enterradas com os
viduais se assemelham muito à consciência coletiva. A maridos. Um exemplo atual seria o suicídio dos homens-
outra forma de solidariedade é a orgânica, em que os bombas terroristas, como ocorre em alguns conflitos do
membros se diferenciam em consciência e o consenso Oriente Médio.
aparece como uma unidade coerente, mas construído
sobre as diferenciações. Nas sociedades de solidariedade O suicídio anômico: o suicídio anômico é o que mais
orgânica, os homens se expressam com maior liberdade interessa a Durkheim. Essa forma de suicídio se relaciona
com uma situação de desregramento, típica dos períodos
de crença, com maior autonomia de ação; enquanto na
de crise, que impede o indivíduo de encontrar uma
anterior (a mecânica), a consciência coletiva abrange a
solução bem definida para os seus problemas, situação
maior parte das consciências individuais.
que favorece um sucessivo acumular de fracassos e
Para Durkheim, a organização da solidariedade
decepções propícias ao suicídio.

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O suicídio fatalista: o último tipo de suicídio é o Glossário


suicídio fatalista. Embora Durkheim o visse como de pouca
relevância contemporânea, ele acreditava que isso acontece Anomalia: Aquilo que desvia da norma, irregularidade.
quando um indivíduo é regulado demais pela sociedade. A
opressão do indivíduo resulta em um sentimento de Coerção: Repressão, ato de coagir, exercer força sobre.
impotência diante do destino ou da sociedade.
Durkheim analisou as condições sociais propícias ao Solidariedade: Interdependência humana, sentimento
suicídio. Pela observação de estatísticas, ele concluiu que que leva a auxiliar o outro.
o suicídio era mais frequente nas comunidades
protestantes que nas comunidades católicas, fenômeno
que explicou através da noção de integração religiosa.
Verificou também que o suicídio ocorria menos entre os
indivíduos casados que entre solteiros situação que,
segundo ele, se explicaria através da noção de integração
familiar. Além disso, notou que a taxa de suicídios
diminuía em períodos de grandes acontecimentos
políticos, em que aumentava a coesão sociopolítica em
torno da ideia de nacionalidade. Isso não quer dizer que o
suicídio seja ontologicamente um fato social, ele o é
enquanto a Sociologia o encara da maneira pautada pelo
exposto pelo sociólogo. Torna-se um fato social a partir
do momento em que se pode enquadrá-lo nos termos do
objeto típico da Sociologia. Segundo Durkheim, mesmo
que os homens se percebam como indivíduos com
liberdade de escolha, seus comportamentos são O sepuku é, para Durkheim, um exemplo de suicídio altruísta e
frequentemente padronizados e moldados socialmente. socialmente aceito.

A relação Educação e Sociedade

A Relação Educação e Sociedade momentos históricos, que adquirem certa generalidade e


com isso uma natureza própria, tornando-se assim coisas
Alberto Noé exteriores aos indivíduos. A criança só pode conhecer o
dever através de seus pais e mestres. É preciso que estes
(...) sejam para ela a encarnação e a personificação do dever.
Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social, Isto é, que a autoridade moral seja a qualidade
e a educação é considerada como o fato social, isto é, se fundamental do educador. A autoridade não é violenta, ela
impõe, coercitivamente, como uma norma jurídica ou consiste em certa ascendência moral. Liberdade e
como uma lei. Desta maneira a ação educativa permitirá autoridade não são termos excludentes, eles se implicam.
uma maior integração do indivíduo e também permitirá A liberdade é filha da autoridade bem compreendida. Pois,
uma forte identificação com o sistema social. ser livre não consiste em fazer aquilo que se tem vontade,
Durkheim rejeita a posição psicologista. Para ele, os e sim em se ser dono de si próprio, em saber agir
conteúdos da educação são independentes das vontades segundo a razão e cumprir com o dever. E justamente a
individuais, são as normas e os valores desenvolvidos por autoridade de mestre deve ser empregada em dotar a
uma sociedade o [sic] grupo social em determinados criança desse domínio sobre si mesma (...)

– 15
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1. Identifique a proposição que expressa claramente a sociologia de 3. (FGV-adaptada) – Em sua obra O Suicídio, Émile Durkheim afirma
Émile Durkheim. que há um tipo de suicídio no qual "se o homem se mata não é porque
a) A sociologia deve considerar a intersubjetividade. Os códigos reivindique esse direito, mas é porque tem esse dever". Seriam
culturais estão registrados em indivíduos e são compartilhados. exemplos desse tipo de suicídio os japoneses camicases e os vários
Portanto, a sociedade é um processo e não passível de observação. tipos de homens-bomba. Qual é esse tipo de suicídio?
b) “Na produção social da sua existência, os homens travam relações a) O suicídio egoísta.
determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; essas b) O suicídio altruísta.
relações de produção correspondem a um determinado grau de c) O suicídio fatalista.
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais”. Funda-se, d) O suicídio anômico.
portanto, a dialética materialista. e) suicídio anônimo.
c) “... a ação social significa uma ação que, quanto ao sentido visado
pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, RESOLUÇÃO:
Resposta: B
orientando-se por este em seu curso”. Temos aí o método da
sociologia compreensiva.
d) O núcleo teórico desse pensamento sociológico está no conceito de 4. Fato social difere de fato histórico porque
processo social. Estudar a sociedade significa analisar a interação, a a) não tem teor científico.
assimilação, a acomodação, a competição e o conflito. Assim, pouca b) é marcado pela repetição e regularidade do fenômeno.
importância dá-se à abordagem macroestrutural. As sociedades c) a Sociologia não se distingue da História.
complexas constituem como que conchas de retalhos compostas d) o fato social é um fenômeno isolado.
de uma multiplicidade de mundos sociais: o das categorias e) o fato social não tem o mesmo grau de veracidade e autenticidade
profissionais, desocupados de ruas, boêmios da noite, moradores do fato histórico.
de cortiços, por exemplo.
e) “... a sociedade não é a simples soma de indivíduos, e sim sistema RESOLUÇÃO:
formado pela associação, que representa uma realidade específica Resposta: B
com seus caracteres próprios... Agregando-se, penetrando-se,
fundindo-se, as almas individuais dão nascimento a um ser, psíquico
se quisermos, mas que constitui individualidade psíquica de novo
5. Para Durkheim, a organização da solidariedade mecânica precede
gênero”. Assim a sociedade é uma realidade dada e externa ao
historicamente à orgânica e isso mostra que o indivíduo não vem
indivíduo.
historicamente em primeiro lugar. Isso significa que
a) pode haver homens sem sociedade.
RESOLUÇÃO:
Resposta: E b) a sociedade resulta da origem histórica de um contrato social.
c) a sociedade tem o primado sobre o indivíduo.
d) a sociedade nasce do indivíduo.
2. (FGV) – Em seu estudo sobre a divisão do trabalho social, Durkheim e) homens nem sempre viveram em sociedade.
investiga a função da divisão do trabalho no mundo moderno. É correto
RESOLUÇÃO:
afirmar que um dos principais objetivos do autor nessa obra foi
Resposta: C
investigar:
a) como a divisão do trabalho proporciona o desenvolvimento
econômico na sociedade moderna. 6. Leia as colocações abaixo e assinale a alternativa que agrupa as
b) o efeito moral da divisão do trabalho na sociedade moderna. coerentes com a sociologia durkheimiana.
c) as consequências negativas da divisão de gênero provocada pela I. A sociedade é um tecido formado por relações de solidariedade que
divisão do trabalho na sociedade moderna. pode ser mecânica ou orgânica.
d) o enfraquecimento da divisão do trabalho na sociedade moderna. II. Nas sociedades de solidariedade mecânica, os indivíduos revelam
e) como a divisão do trabalho contribui para a igualdade de condições diferenças e constroem consensos resultantes do exercício
entre os indivíduos na sociedade moderna. democrático.
III. O indivíduo precede a sociedade e em tal primado (do indivíduo)
RESOLUÇÃO:
sustenta-se a teoria dos contratos sociais.
Resposta: B
a) I e II apenas. b) I e III apenas. c) II apenas.
d) I apenas. e) III apenas.

RESOLUÇÃO:
Resposta: D

16 –
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1. Para Durkheim, a sociedade: 7. Sobre a sociologia de Durkheim, podemos afirmar:


I. É dotada de um poder de coerção. I. Elaborou importantes conceitos como classe social e estudou as
II. É uma realidade interior ao homem. relações de exploração.
III. Resulta de um original contrato social. II. Limitou-se a copiar seu professor Auguste Comte e, portanto, não
IV. Forma uma consciência coletiva exterior aos indivíduos. avançou quase nada no desenvolvimento da Sociologia.
São verdadeiras apenas III. Acreditou que o papel da Sociologia fosse o de descobrir as leis
a) I e II. b) I e III. c) II e III. gerais da sociedade.
d) II e IV. e) I e IV. IV. A Sociologia deveria ser objetiva e trabalhar com a objetividade do
fato social.
2. O indivíduo, explica Durkheim, ao nascer, não escolherá o idioma ou São coerentes apenas:
as normas de comportamento, pois que tudo isso já está definido de a) I e II. b) II e III. c) I e III.
acordo com a sociedade em que venha a nascer. Nesse sentido, para d) III e IV. e) II e IV.
Durkheim:
a) O indivíduo é dotado de grande autonomia diante do ser social. 8. Segundo Durkheim, a sociedade de solidariedade mecânica
b) A sociedade é caminho para transcender a condição de liberdade. I. veio depois historicamente da orgânica.
c) O indivíduo é dotado de exterioridade. II. é constituída por indivíduos relacionados por grande semelhança.
d) A sociedade é dotada de coerção. III. é formada por indivíduos com formas diversas de sentir e de pensar.
e) Os fatos sociais são sempre normas.
É (são) verdadeira(s) apenas
3. Assim como um determinado ser vivo é um objeto de estudo a) I e II. b) II e III. c) II.
exterior e palpável para um biólogo, tendo esse ser diante de si, segundo d) III. e) I e III.
Durkheim, o fato social se ofereceria com a mesma objetividade para o
sociólogo. Isso sugere: 9. Segundo Durkheim, a sociedade de solidariedade orgânica:
a) A subjetividade do trabalho sociológico. I. Coincide com as sociedades tribais.
b) A ruptura que Durkheim estabeleceu com o Positivismo. II. É constituída por pessoas com formas semelhantes de pensar e de
c) A preocupação cientificista de Durkheim. sentir.
d) A prioridade que Durkheim deu ao método dedutivo. III. Tem o consenso construído sobre as diferenças.
e) O conceito de interioridade da consciência coletiva.
É (são) verdadeira(s) apenas
4. Na vertente contra os filósofos contratualistas, os sociólogos, em a) I e II. b) III. c) II e III.
geral, acreditam que: d) II. e) I e III.
I. A vida em sociedade tem um fim em si mesmo.
II. Não há homens sem sociedade. 10. Explique a objetividade do fato social para Durkheim.
III. Os indivíduos constituem uma realidade independente da sociedade.
São verdadeiras
11. O que prova o primado da sociedade sobre o indivíduo para
a) apenas I e II. b) apenas I e III. c) apenas I. Durkheim e o que isso significa?
d) apenas II e III. e) apenas III.

5. Durante muito tempo, filósofos estudaram a questão da sociabilidade 12. O sociólogo é, sobretudo
humana, supondo que os homens viviam num passado remoto a) um solucionador dos problemas sociais.
originalmente em estado de natureza e teriam renunciado à liberdade b) um funcionário do poder público.
para viver em sociedade. Esses filósofos foram conhecidos como: c) um cientista.
a) Contratualistas, como Hobbes. d) um técnico.
b) Racionalistas, como Descartes. e) um agente político e questionador das relações humanas.
c) Empiricistas, como Locke.
d) Sofistas, como Protágoras.
e) Metafísicos, como Agostinho. 13. Segundo Durkheim, fato social é:
a) O mesmo que fato histórico.
6. O primado da sociedade sobre o indivíduo significa que b) Marcado pela exterioridade (ao indivíduo) e pela objetividade.
a) as primeiras sociedades foram organizadas por indivíduos que c) O mesmo que ação social.
renunciaram a viver em estado de natureza e liberdade. d) Uma realidade subjetiva e interior ao homem.
b) os indivíduos existiam antes da formação social. e) O objeto da Sociologia, porém de difícil apreensão devido ao aspecto
c) os homens se organizaram em sociedade para alcançar vantagens, subjetivo da sociedade.
como a segurança da propriedade privada.
d) os indivíduos nascem da sociedade e não a sociedade dos indivíduos.
e) a sociedade é uma realidade subjetiva e histórica.

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1) E 2) D 3) C 4) A precede historicamente à orgânica e isso mostra que o indivíduo


não vem historicamente em primeiro lugar. Isso significa que não
5) A 6) D 7) D 8) C 9) B
há homem sem sociedade. Significa também que o indivíduo nasce
10) Durkheim acreditava na objetividade do fato social. O da sociedade e não a sociedade dos indivíduos.
pesquisador devia tomar uma distância e neutralidade de seu
objeto de estudo (fato social) e conservar a objetividade de sua 12) C 13) B
análise sociológica. O fato social seria um fenômeno passível de
observação. Como o próprio Durkheim dizia, os fatos sociais são
coisas.
11) Para Durkheim, a organização da solidariedade mecânica

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MÓDULO 3 O Pensamento de Karl Marx


1. Introdução

Karl Marx (1818-1883) nasceu em Treves, Alemanha.


Estudou na Universidade de Berlim e doutorou-se em
Filosofia em Iena. Em 1842, mudou-se para Paris, onde
conheceu Friedrich Engels, seu parceiro de textos e
ideias. Foi expulso da França e morou em Bruxelas,
participando da Liga dos Comunistas. Em 1848 escreveu
O Manifesto do Partido Comunista, obra de cunho mais
político que científico, mas de grande importância
histórica e que teria originado o chamado marxismo. Sua
obra mostrou uma preocupação em lançar as bases
científicas para o pensamento socialista, e politicamente,
defendeu a causa operária, marca que acompanhará
toda e qualquer tendência ou postura que se tenha
intitulado de marxista. Malogrado o projeto de revolução
social, em 1848, mudou-se para Londres. Com isso,
podemos perceber que conhecia de perto boa e
importante parcela da sociedade industrial europeia. Entre
seus livros, destacam-se A Ideologia Alemã, Miséria da
Filosofia, Para a Crítica da Economia Política e O Capital.
Marx viveu numa Europa próspera e conturbada.
Percebeu e estudou as contradições do desenvol-
vimento do capitalismo e sua obra apontava para uma
possibilidade de superação dos conflitos e contradições
desse modo de produção que acumulava e concentrava
Friedrich Engels foi o principal colaborador e companheiro intelectual
riqueza nas mãos de poucos. Marx teve e ainda tem uma
de Marx.
grande quantidade de seguidores na intelectualidade e
entre políticos em todo o mundo.
2. Relações de Produção e Classe social

Para Marx, a sociedade não era um tecido solidário


como queria Durkheim, mas uma organização baseada
nas relações de produção. Na produção social da sua
existência, dizia Marx, os homens travam relações
determinadas, necessárias e independentes de sua
vontade. Tais relações de produção correspondem a um
grau de desenvolvimento das forças produtivas. Esse
desenvolvimento seria, então, o movimento próprio da
história. O motor da história, portanto, é a contradição,
pois cada modo de produção – que Marx entendia como
etapas evolutivas (modo de produção asiático, antigo,
feudal e burguês) – trazia em si um princípio contraditório
e por isso o pensamento marxista é um pensar dialético.
Chamou essa teoria de materialismo dialético ou
histórico. Para Marx, a história não era um processo
conduzido pela vontade dos homens, mas determinada,
sobretudo pela forma como os homens produzem e
reproduzem sua riqueza material. Percebia nessa ordem
das coisas, as relações de conflito, principalmente entre
as classes sociais, que apresentavam posições e
Karl Marx deixou enormes influências nas sucessivas gerações de interesses diferentes. Para Marx, existiam duas classes
intelectuais.
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sociais: a classe dominante e a dominada. Na 3. Teoria da Alienação


sociedade de produção capitalista, a classe dominante
está representada pela burguesia que detém os meios de Para Marx, a classe dominada vivencia uma comple-
produção (donos de fábricas, por exemplo) e a classe xa experiência de alienação. A indústria, a condição de
dominada, pelo proletariado (a classe operária e assalariado e a propriedade privada condenam a classe
camponesa) que, nada possuindo, vende a sua força de operária a uma situação de alienação, pois ela está
trabalho como se fosse uma mercadoria. separada do fruto do seu trabalho que é o bem por ela
As classes sociais são opostas e interdependentes. produzido e que pertence ao patrão. A consciência
Só existem proprietários que acumulam riqueza porque também se encontra alienada, pois os operários não
há uma massa de despossuídos. necessariamente se apercebem dessa condição de
Para Marx e Engels, a sociedade, portanto, seria um exploração.
tecido repleto de nós, ou melhor, de relações de conflito Politicamente, também ocorre uma experiência
e luta de classes. Ao contrário de Durkheim, para eles alienante. O princípio da representatividade pressupõe
não bastava a constatação de uma consciência coletiva. um Estado imparcial e que represente o conjunto de toda
Na ótica marxista, não é a consciência dos homens que a sociedade. Para Marx, isso não acontece no capitalismo,
determina a sua existência, mas, ao contrário, a existência já que o Estado, na verdade, representa diretamente os
social é que determina a sua consciência. Além disso, não interesses da classe dominante.
pode haver uma única e externa consciência coletiva, Enquanto para Durkheim, a divisão social do trabalho
como pensava Durkheim, porque, segundo Marx, a gerava uma solidariedade, para Marx, tal divisão implica
consciência é no mínimo, consciência de classe. Em outra situação de conflito e alienação: uma classe
outros termos, a consciência de um indivíduo da classe privilegiada tem acesso ao conhecimento filosófico e
dominante será diferente da consciência daquele esse pensar parcial e classista torna-se o pensamento
pertencente à classe dominada. dominante e a visão geral da sociedade como um todo.
Concluindo, os valores de uma sociedade, os Assim, a própria ciência, ou a própria sociologia, pode ser
sentimentos, a forma de pensar e de interpretar o mundo, um saber que produz alienação.
seja pela arte, pelo senso comum ou pela filosofia, a Segundo o pensamento marxista, o primeiro passo
forma de agir em sociedade são reflexos das relações de para tirar o homem da condição de alienação e de
produção. exploração é fazer a crítica radical ao modo de produção
Convém colocar que o método de Marx teve influên- vigente e daí trabalhar no sentido de acelerar o advento
cia da dialética do filósofo George Hegel (1770-1831), para de uma nova sociedade sem classes. Esse advento,
quem a história era um todo coeso, um processo de segundo Marx, já está inscrito na contradição do sistema
desenvolvimento, cuja dinâmica se dava por forças capitalista.
antagônicas (contrárias) do conhecimento e do espírito
humano, às quais chamou de tese e antítese. Da relação
de conflito das duas surgia, então, uma síntese que se
constituía, por sua vez, em uma nova tese. Marx criticou
Hegel por julgá-lo idealista, ou seja, o que Marx
reformulou ou corrigiu na dialética hegeliana, a seu ver,
nessa teoria foi a ideia de que o embate das forças de
oposição ocorreria na esfera da realidade material, ou
seja, na forma de produção.

O Marxismo percebe as contradições sociais e focaliza a luta de A imagem de Laurent Courau evoca a relação entre mídia e alienação.
classes.

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4. O Capital ao valor do trabalho que recebe em forma de salário. Em


outros termos, o valor produzido durante o sobretrabalho
Para conhecer melhor o pensamento de Marx, faz-se é mais-valia. O trabalho, portanto, rende um valor extra
imprescindível um contato com a sua obra O Capital ao dono da empresa, e esse, de certa forma, apropria-se
(1867). Essa obra compreende três livros, o primeiro fora de um valor excedente que em princípio é do trabalhador.
publicado em vida e os volumes II e III são publicações Fica evidente que o aumento da produtividade, pelo
póstumas, inacabados e compilados por Engels. avanço tecnológico, por exemplo, promove uma evolução
N’ O Capital, Marx analisa a essência do capitalismo da mais-valia.
que é a lógica do lucro e da propriedade privada. A obra
inicia expondo dois tipos de troca: um primeiro em que a
mercadoria é trocada por mercadoria, sendo uma troca
imediatamente inteligível e humana; um segundo tipo que
é a troca que vai do dinheiro para o dinheiro, passando
pela mercadoria, sendo que no fim da troca, espera-se ter
conseguido mais dinheiro do que aquele inicial.
Denotando a produção de um lucro. Essa segunda forma
de troca é a marca do capitalismo. A grande questão de
Marx é descobrir como ocorre esse processo, ou ainda,
como é possível produtores e comerciantes lucrarem?
Outra maneira de formular o problema da obra: qual é a
fonte do lucro? Marx acredita ter encontrado a resposta, Marx estudou o modo de produção capitalista e suas contradições.
desenvolvendo a teoria da mais-valia.
6. Concluindo
5. A mais-valia
O Capital (primeiro volume) é publicado em 1867, o
Através da teoria da mais-valia, Marx demonstra que segundo volume, em 1885 e o terceiro, só em 1889. Após
tudo é trocado pelo seu valor e, no entanto, existe uma a morte do pensador, Engels continuou velando pela obra.
fonte de lucro. Para chegar a explicar a mais-valia, O terceiro volume não completa a sua obra, ao menos,
precisamos expor três proposições. não o plano original. Marx pretendia escrever um quarto
Proposição primeira: o valor de qualquer mercado- volume, no qual queria expor suas ideias sobre uma
ria é proporcional a uma quantidade de valor de trabalho mecânica mistificadora dos movimentos econômicos.
social nela embutido. Trata-se da teoria do valor-trabalho. Depois de Marx, o socialismo adquiriu consistência
Para Marx o único valor quantificável é a quantidade de científica. Encontramos em seu pensamento uma
valor-trabalho e por isso sabemos que um determinado profunda compreensão do processo econômico e da
objeto tem efetivamente mais valor que outro. influência sobre a vida dos homens, colocando de lado,
Proposição segunda: o valor-trabalho pode ser hoje, o determinismo econômico de sua obra, princi-
medido como valor de mercadoria. Já vimos que o palmente em razão da época em que viveu, não mais
operário assalariado é o que vende a sua força de trabalho aceito inclusive por muitos marxistas.
como se ela fosse uma mercadoria, isso quer dizer que o Trata-se de um autor polêmico, criticado de forma
salário pago ao trabalhador deve equivaler ao valor de legítima e irônica, essa última, perigosa porque expõe os
trabalho social embutido na mercadoria, de acordo com a abusos da especulação intelectual. Marx via no socialismo
proposição primeira. Porém, em se tratando de trocas uma necessidade histórica. Após sua morte, foi implatado
sociais, o salário deve corresponder à quantia que garanta no Leste Europeu sem sucesso, assim como em outros
a sobrevivência do trabalhador e de sua família. países. O resultado das experiências socialistas, em geral,
Proposição terceira: o tempo de trabalho necessário foi um fracasso. O socialismo foi um sonho de inspiração
para o operário produzir um valor igual ao que recebe sob humanista e iluminista que malogrou. Marx elaborou um
a forma de salário é inferior à duração de seu trabalho de pensamento universal e sustentou uma visão de homem
fato. Assim, um operário precisará, por suposição, de universal e muitos cientistas sociais e filósofos valorizam
quatro horas de trabalho para receber o valor que garanta essa face de sua produção intelectual. O fim do
a sua sobrevivência, que corresponde ao seu salário, mas socialismo real na URSS e na Europa Oriental não
ele, na verdade, trabalha nove horas. Uma parte do significou, para alguns, o fim do pensamento socialista;
tempo, ele trabalha para si e a outra, para o patrão. A ou para outros, o fim da sua ameaça.
mais-valia é exatamente a quantidade de valor produzido Faz-se necessário compreender hoje que a história
pelo operário além do trabalho necessário correspondente não se conclui em qualquer manifestação particular, nem

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em uma sociedade socialista, tampouco em uma Glossário


capitalista. Como pensa, em geral, o marxismo, o esforço
para reproduzir um modo de produção econômico Alienação: Perda da razão, loucura, submissão cega a
acarreta alterações nas forças em oposição. Faz-se, valores e instituições com inconsciência da realidade.
portanto, necessário continuar a desenvolver a crítica dos Produto da ação humana que torna o homem estranho a
modelos sociais e econômicos que os homens si próprio.
estabelecem, por sua vontade ou não, procurando
propostas de superação das mazelas sociais. Dialética: Argumentação habilidosa (Platão), pensamento
ou método filosófico e científico que leva em considera-
ção as contradições da realidade.

Conceitos básicos do Marxismo

Definir claramente o sentido de Socialismo, hoje em dia, três correntes, admite o próprio Marx, a elaboração de suas
não constitui tarefa das mais simples. Essa dificuldade pode ideias teria sido impossível. São elas: a dialética, a economia
ser creditada à utilização ampla e diversificada deste termo, política inglesa e o socialismo. Para Marx o movimento dialético
que acabou por gerar um terreno bastante propício a não possui por base algo espiritual, mas sim algo material. O
confusões. Constantemente encontramos afirmações de que materialismo dialético é o conceito central da filosofia marxista,
os comunistas lutam pelo socialismo, assim como também o mas Marx não se contentou em introduzir esta importante
fazem os anarquistas, os anarcossindicalistas, os social- modificação apenas no terreno da Filosofia. Ele adentrou no
democratas e até mesmo os próprios socialistas. A leitura de terreno da História e ali desenvolveu uma teoria científica: O
jornais vai nos informar que os governos cubano, vietnamita, materialismo histórico. O materialismo histórico, a concepção
alemão, austríaco, inglês, francês, sueco entre outros, procla- materialista da história desenvolvida por Marx e Engels, é uma
mam-se socialistas. Caberia então perguntar o que é vem a ser ruptura à História como vinha sendo estudada até então. A
este conceito, tão vasto, que consegue englobar coisas tão história idealista que dominava até aquela época chamava-se
díspares. de História da Humanidade ou História da Civilização a algo que
A História das Ideias Socialistas possui alguns cortes de não passava de mera sequência ordenada de fatos históricos
importância. O primeiro deles é entre os socialistas utópicos e relativos às religiões, impérios, reinados, imperadores, reis etc.
os socialistas científicos, marcado pela introdução das ideias Para Marx as coisas não funcionavam desta maneira. Em
de Marx e Engels no universo das propostas de construção da primeiro lugar, como materialista, interessava-lhe descobrir a
nova sociedade. O avanço das ideias marxistas consegue dar base material daquelas sociedades, religiões, impérios etc. A
maior homogeneidade ao movimento socialista internacional. ele importava saber qual era a base econômica que sustentava
Pela primeira vez, de países diferentes, quando pensavam em estas sociedades: quem produzia, como produzia, com que
socialismo, estavam pensando numa mesma sociedade – produzia, para quem produzia e assim por diante. Foi visando
aquela preconizada por Marx – e numa mesma maneira de isto que ele se lançou ao estudo da Economia Política, tomando
chegar ao poder. como ponto de partida a escola inglesa cujos expoentes
máximos eram Adam Smith e David Ricardo. Em segundo lugar
As ideias de Karl Marx e Friedrich Engels
uma vez que a base filosófica de todo o pensamento marxista
As teses apresentadas por Marx e Engels levaram a uma (e, portanto, também de sua visão de história) era o
total modificação do caminho que vinha sendo percorrido pelas materialismo dialético, Marx queria mostrar o movimento da
ideias socialistas e constituíram a base do socialismo moderno. história das civilizações enquanto movimento dialético.
Apesar de obras anteriores, é o Manifesto do Partido Comunista A teoria de História de Marx e Engels foi elaborada a partir
que inova definitivamente o ideário socialista. A partir de sua de uma questão bastante simples. Examinando o desenvol-
publicação em 1848, tanto Marx quanto Engels aprofundaram e vimento histórico da humanidade, pode-se facilmente notar que
detalharam, em suas demais obras, suas concepções sobre a a filosofia, a religião, a moral, o direito, a indústria, o comércio
nova sociedade e sobre a História da humanidade. etc., bem como as instituições onde estes valores são repre-
Antes de qualquer coisa, devemos fugir à ideia de que sentados, não são sempre entendidos pelos homens da
anteriormente a Marx existissem apenas trevas. O que há de mesma maneira. Este fato é evidente: A religião na Grécia não
genial no trabalho de Marx é sua aguçada visão da História e é vista da mesma maneira que a religião em nossos dias, assim
dos movimentos sociais e a utilização de instrumentos de como a moral existente durante o Império Romano não é a
análise que ele próprio criou. Marx se serve de três principais mesma moral existente durante a Idade Média.
correntes do pensamento que se vinham desenvolvendo, na
O texto acima foi (adaptado) de: O que é Socialismo. Escrito por
Europa, no século passado, coloca-as em relação umas com
Arnaldo Spindel. Editora Brasiliense, 4.a edição
as outras e as completa em suas obras. Sem a inspiração nestas
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Comunismo anos 70, que atingiu seu ponto máximo na “mutação” do último
Amanda Coelho Sanches período. Resta saber se o PCF está à altura para investir em um
espaço político que no momento lhe escapa.
As ideias básicas de Karl Marx estão expressas Alguns acreditam nisso, como o historiador Roger Marteli,
principalmente no livro O Capital e n’O Manifesto Comunista, membro ativo do PCF, que escreve um livro com título
obra que escreveu com Friedrich Engels, economista alemão. iconoclasta: Le communisme est um bon parti, dites-lui oui 2 (O
Marx acreditava que a única forma de alcançar uma sociedade comunismo é um bom partido. Diga sim, para ele.) Marteli é
feliz e harmoniosa seria com os trabalhadores no poder. Em daqueles que refletem há muito tempo sobre o inexorável
parte, suas ideias eram uma reação às duras condições de vida declínio do comunismo na ausência de uma renovação à altura
dos trabalhadores no século XIX, na França, na Inglaterra e na do desafio. Aliás, ele consagra grande parte de sua obra a um
Alemanha. Os trabalhadores das fábricas e das minas eram mal enfoque histórico-político da questão, inseparável da crise do
pagos e tinham de trabalhar muitas horas sob condições modelo tal como foi aplicado no Leste e como se expressou no
desumanas. Marx estava convencido que a vitória do cenário nacional. Ele aponta a especificidade própria do
comunismo era inevitável. Afirmava que a história segue certas movimento operário francês, que nunca foi uma simples cópia
leis imutáveis, à medida que avança de um estágio a outro. Cada do sistema soviético.
estágio caracteriza-se por lutas que conduzem a um estágio
superior de desenvolvimento. O comunismo, segundo Marx, é Um comunismo reconstruído
o último e mais alto estágio de desenvolvimento. Para Marx, a
chave para a compreensão dos estágios do desenvolvimento é Esta lembrança permite ao autor ressaltar que o declínio do
a relação entre as diferentes classes de indivíduos na produção PCF vem de muito longe. Segundo ele, para resolver a crise
de bens. Afirmava que o dono da riqueza é a classe dirigente estrutural seria necessário uma mudança completa para chegar
ao que ele denomina “ um comunismo político da nova
porque usa o poder econômico e político para impor sua vontade
geração”. Martelli imagina uma revolução na revolução,
ao povo. Para ele, a luta de classes é o meio pelo qual a história
passagem obrigatória para desenvolver um projeto novo para
progride. Marx achava que a classe dirigente jamais iria abrir
sua teoria, suas práticas, sua organização, seu simbolismo.
mão do poder por livre e espontânea vontade e que, assim, a
Amplo programa, sedutor em seu enunciado, mas que
luta e a violência eram inevitáveis.
necessitaria ser definido em seu conteúdo. Se ele é um
daqueles que permanecem céticos sobre a atual evolução do
O futuro incerto do comunismo
PCF, Martelli não deixa de apostar em um “comunismo
reconstruído”, definitivamente despido das ilusões do passado.
Em sucessivas eleições, o Partido Comunista Francês teve
Um outro historiador, Alain Ruscio, conhecido por seus
um desempenho abaixo de seus patamares históricos. Essa
trabalhos sobre o colonialismo, confronta-se de uma forma mais
decadência aparentemente inexorável de seu potencial
pessoal à realidade do comunismo3. Ele foi membro do PCF.
militante e de seu apelo político é questionada por três livros
Não é mais, mas permanece visceralmente anticapitalista. Ele
lançados recentemente
relata sua trajetória pessoal, a de um homem que cruzou com
(Le Monde Diplomatique)
espíritos generosos, a de um militante que se chocou com a
lógica do aparelho partidário, a de um revoltado que conserva
Em sucessivas eleições, o Partido Comunista Francês (PCF)
intactas suas iras da juventude. A sua maneira, original, o autor
atingiu patamares historicamente baixos. Seu potencial militante
propõe um testemunho que interessará a todos aqueles que
não é mais o que era. Teria perdido toda a oportunidade de se
recusam ver no capitalismo o fim da História.
recuperar? Ao contrário das opiniões correntes, os
pesquisadores Marie-Claire Lavabre e François Platone1
(Trad.: Celeste Marcondes)
insistem nos trunfos comunistas: um número de militantes
certamente em baixa constante, mas sem equivalente em 1 - O que resta do PCF ? Revista Autrement, Paris, 2003.
outras formações políticas e com perfil em sintonia com a
evolução do assalariado na sociedade francesa (ascensão dos 2- O comunismo é um bom partido. Diga sim, para ele. La
funcionários e executivos, em detrimento dos operários
Dispute, Paris, 2003.
tradicionais); uma implantação local que provoca ciúmes entre
os Verdes e os da extrema esquerda. Os pesquisadores
3 - Nós e eu, grandeza e servidão comunista. Edição
destacam igualmente a nova imagem do PCF na opinião pública
Tirésias.Paris, 2003.
depois da ruptura com o modelo soviético, desde o findar dos

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1. “... Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, 4. Na sociedade de produção capitalista, a classe dominante está
é, pelo contrário, a sua existência que determina a sua consciência”. A representada pela burguesia que detém os meios de produção (donos
reflexão acima pode ser considerada expressão do método: de fábricas, por exemplo) e a classe dominada, pelo proletariado (a
a) Materialismo dialético. classe operária e camponesa) que, nada possuindo, vende a sua força
b) Sociologia compreensiva. de trabalho como se fosse uma mercadoria. Tal concepção teórica é do
c) Método dedutivo. clássico:
d) Positivismo. a) Max Weber. b) Émile Durkheim.
e) Funcionalismo. c) Karl Marx. d) Auguste Comte.
e) Émile Rousseau.
RESOLUÇÃO:
Resposta: A RESOLUÇÃO:
Resposta: C
2. Leia as colocações abaixo:
I. Anunciar a autodestruição do capitalismo e incitar os homens a
contribuirem para a realização desse destino já traçado.
5. (UFPB - adaptada) – Leia o texto abaixo:
II. O motor do movimento histórico é a contradição e esta se encontra
no desenvolvimento das forças produtivas. “[...] o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto,
III. A consciência dos homens não é resultante da realidade objetiva, de toda a História, é que os homens devem estar em condições de
mas, ao contrário, o mundo material e objetivamente dado e fruto viver para poder ‘fazer história’. Mas, para viver, é preciso antes de tudo
da consciência. comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro
São colocações coerentes com o pensamento dialético de Karl Marx: ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a
a) I, II e III. b) Apenas I e II. satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e
c) Apenas II e III. d) Apenas I e III. de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda
e) Apenas II. história, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprido
todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens
RESOLUÇÃO: vivos.”
Resposta: B (MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1987, p. 39.)

3. Leia as proposições abaixo e assinale a alternativa que agrupa as


As análises históricas de Marx (1818-1883), pensador alemão, exer-
coerentes com o pensamento de Karl Marx.
ceram e ainda exercem grande influência nas ciências humanas e
I. O homem tornou-se alienado politicamente, pois o Estado não é um
sociais, entre elas, a História. Sobre a concepção marxista de História,
órgão político imparcial, como se supõe. Na sociedade capitalista, o
assinale a alternativa verdadeira.
Estado representa apenas os interesses da classe dominada, ou seja,
a) A concepção da luta de classes como motor da História foi atribuída
o proletariado.
indevidamente ao marxismo, para o qual as transformações
II. A indústria, a propriedade privada e o assalariamento alienavam ou
históricas decorrem apenas das ações dos indivíduos.
separavam o operário dos meios de produção (ferramentas, matéria- b) O marxismo defende, teoricamente, uma postura neutra do
prima e terra). historiador diante da sociedade e do conhecimento produzido sobre
III. A sociedade capitalista é dividida em duas classes: a dominada que ela, assim, nega validade prática a sua própria concepção.
vende a sua força de trabalho, entendida como mercadoria; e a c) As sociedades, para Marx, não podem ser compreendidas sem um
dominante, que possui os meios de produção. estudo pormenorizado de sua base econômica, e esse entendimento
IV. A divisão social do trabalho, no capitalismo, fez com que o significa a análise da sua organização material para a produção da
pensamento filosófico e o conhecimento fossem acessíveis a todos sobrevivência humana.
os grupos sociais. d) Os marxistas são ardorosos defensores do fim da história, pois essa
a) Apenas I e II. b) Apenas I e III. tese representa a culminância do desenvolvimento humano, com a
c) Apenas III e IV. d) Apenas II e III. glorificação da sociedade de mercado e da democracia liberal.
e) Apenas II e IV. e) A História, para Marx, não é feita por todos, tampouco pelos
trabalhadores, e essa concepção estava de acordo com a idéia,
RESOLUÇÃO:
bastante comum no século XIX, de uma História feita apenas pelos
Resposta: D
“grandes homens”.

RESOLUÇÃO:
Resposta: C

24 –
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6. (UEL) – Analise a figura a seguir.

7. A sociologia do conhecimento ganhou força a partir das obras de


Marx. Pode-se afirmar que essa área da sociologia tende a ser
a) dogmática.
b) vulnerável.
c) sintética.
(NOVAES, Carlos Eduardo. Capitalismo para principiantes. São Paulo: d) crítica.
Ática, 1995. p.123.) e) pouco analítica.

A figura ilustra, por meio da ironia, parte da crítica que a perspectiva RESOLUÇÃO:
sociológica baseada nas reflexões teóricas de Karl Marx (1818-1883) faz Resposta: D
ao caráter ideológico de certas noções de Estado. Sobre a relação entre
Estado e sociedade segundo Karl Marx, é correto afirmar:
a) A finalidade do Estado é o exercício da justiça entre os homens e, é
um bem indispensável à sociedade.
b) O Estado é um instrumento de dominação e representa, priori-
tariamente, os interesses dos setores hegemônicos das classes
dominantes.
c) O Estado tem por finalidade assegurar a felicidade dos cidadãos e
garantir, também, a liberdade individual dos homens.
d) O Estado visa atender, por meio da legislação, a vontade geral dos
cidadãos, assegurando, assim, a harmonia social.
e) Os regimes totalitários são condição essencial para que o Estado
represente, igualmente, os interesses das diversas classes sociais.

RESOLUÇÃO:
Resposta: B

1. Sobre Karl Marx, analise as proposições abaixo: d) É uma colocação que se preocupa em enraizar adequadamente as
I. Foi o fundador do socialismo científico, e acreditava estar dando um causas da exclusão social.
caráter teórico mais consistente às propostas socialistas.
II. Ele defendeu a causa burguesa e operária; escreveu O Capital, São verdadeiras apenas:
defendendo um capitalismo mais justo e igualitário. a) I e II. b) II e III. c) I e III.
III. Marx percebeu as contradições do sistema econômico e apontava d) III e IV. e) II e IV.
para uma superação.

3. Para Marx, a consciência social seria necessariamente fragmentada.


É (são) verdadeira(s) apenas
Por quê?
a) I e II. b) II. c) I e III.
a) Porque “cada um é cada um” e a interpretação do mundo é em
d) II e III. e) III.
grande parte pessoal.
b) Porque é, no mínimo, consciência de classe.
2. “Pobreza não é uma escolha do indivíduo nem uma condenação
c) Porque a consciência depende da cultura e do país em que se nasce
divina, é o resultado de forças sociais”. (Hebert Gans)
e se vive.
Sobre a frase é possível afirmar:
d) Porque a existência humana resulta de reflexões individuais, de
a) Está fundamentada no senso comum, como um ditado popular
acordo com as experiências pessoais.
destituído de rigor e coerência.
e) Porque a consciência coletiva se transforma com as condições
b) É coerente e está fazendo referência às causas históricas da pobreza.
históricas.
c) É uma afirmação baseada somente no ateísmo.

– 25
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4. A consciência de um indivíduo da classe dominante será diferente da a) pois o Estado, na verdade, representa diretamente os interesses da
consciência daquele pertencente à classe dominada. Portanto, para classe dominante.
Marx, o conceito de consciência b) pois o Estado representa os interesses da classe dominada.
a) se assemelha ao conceito de Durkheim, pois trata-se de consciência c) pois a população não se envolve em processos políticos.
social e coletiva. d) pois o Estado burguês é marcado pelo autoritarismo político.
b) se assemelha ao conceito de Durkheim, uma vez que para os dois e) pois a burguesia representa os interesses do Estado e os operários
pensadores, a consciência é sempre de classe. não se interessam por política.
c) diverge do conceito de Durkheim, pois para o primeiro, a consciên-
cia é um todo uniforme.
d) diverge do conceito de Durkheim pois para o primeiro a consciência 9. Para Durkheim, a consciência coletiva constituiria uma realidade
é fragmentada. homogênea e indiferenciada. Para Marx, a consciência social seria
e) está fundamentado na concepção positivista, com base na ideia de necessariamente fragmentada. Por quê? Comente, tecendo uma
solidariedade social. relação com o pensamento dialético marxista.

5. Para Marx, a história não era um processo conduzido pela vontade 10. Explique a teoria da alienação segundo Marx.
dos homens, mas determinada, sobretudo pela forma como os homens
produzem e reproduzem sua riqueza material. Assim, para esse autor
clássico: 11. Que relação existe entre o desenvolvimento tecnológico e a mais-

a) O ser humano é o sujeito e autor da história. valia?

b) O ser humano não tem possibilidades de interferir no processo


histórico.
12. O fim do socialismo soviético e do Leste Europeu representa o fim
c) A história é conduzida por grandes homens.
das ideias socialistas? Comente.
d) O motor da história é a vontade dos homens.
e) O desenvolvimento das forças produtivas é o motor da história.
13. Defina o conceito marxista de mais-valia.

6. Só existem proprietários que acumulam riqueza porque há uma 14. (UNESP) –


massa de despossuídos. Esse pensamento marxista implica a ideia TEXTO 1
contida na alternativa: Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos,
a) Para a formação de uma sociedade os pobres são necessários. se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, […] por que abrirá
b) Sempre houve e sempre haverá pessoas pobres. ele mão dessa liberdade, por que […] sujeitar-se-á ao domínio e con-
c) É da natureza humana o sentimento de ambição. trole de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora
d) O capitalismo se baseia na exploração do homem pelo homem. no estado de natureza tenha tal direito, a fruição […] da propriedade
e) A exploração do trabalho humano é condição natural das relações que possui nesse estado é muito insegura, muito arriscada. […] não é
sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com
humanas.
outros […], para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens
a que chamo de “propriedade”.
7. A condição de assalariado e a propriedade privada condenam o
operário a uma situação de alienação. Sobre isso leia e julgue as (John Locke. O segundo tratado sobre o governo.)

assertivas abaixo:
I. O trabalhador está separado do fruto do seu trabalho que é o bem TEXTO 2
por ele produzido e que pertence ao patrão. Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas,
II. Na sociedade de economia planejada, o trabalhador não possui o em nossa sociedade, a propriedade privada já foi abolida para nove
fruto do seu trabalho, pois tudo pertence ao governo que também é décimos da população; se ela existe para alguns poucos é precisamente
porque não existe para esses nove décimos. Acusai-nos, portanto, de
uma forma de propriedade privada.
querer abolir uma forma de propriedade cuja condição de existência é
III. Para Marx, a socialização dos meios de produção é o caminho para
a abolição de qualquer propriedade para a imensa maioria da sociedade.
acabar com a alienação.
Em suma, acusai-nos de abolir a vossa propriedade. Pois bem, é
É (são) verdadeira(s) apenas
exatamente isso o que temos em mente.
a) I e II. b) I e III. c) I.
d) II. e) III. (Karl Marx e Friedrich Engels. O manifesto comunista.)

Os textos citados indicam visões opostas e conflitantes sobre a


8. O princípio da representatividade pressupõe um Estado imparcial e organização da vida política e social. Responda quais foram os sistemas
que represente o conjunto de toda a sociedade. Para Marx, isso não políticos originados pelos dois textos e discorra brevemente sobre suas
acontece no capitalismo, divergências.

26 –
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1) C 2) E 3) B 4) D

5) E 6) D 7) B 8) A

9) Para Marx, a consciência dos homens é consciência de classe,


ou seja, a consciência de um indivíduo da classe dominante
será diferente daquele da classe dominada. Convém lembrar
que, para Marx, a consciência é passível de alienação.

10) A indústria, a condição de assalariado e a propriedade privada


condenam a classe operária a uma situação de alienação, pois
ela está separada do fruto do seu trabalho que é o bem por
ela produzido e que pertence ao patrão. A consciência
também se encontra alienada, pois os operários não
necessariamente se apercebem dessa condição de exploração.
Além disso, o princípio da representatividade pressupõe um
Estado imparcial e que represente o conjunto de toda a
sociedade. Para Marx, isso não acontece no capitalismo, já que
o Estado representa diretamente os interesses da classe
dominante.

11) O aumento da produtividade, pelo avanço tecnológico, por


exemplo, promove uma evolução da mais-valia.

12) Não. As ideias ou ideais socialistas e o método marxista perma-


necem vivos. Muitos afirmam que a experiência implantada nos
países que foram socialistas não foi a proposta colocada por Marx.

13) A mais-valia é a quantidade de valor produzido pelo operário


além do trabalho necessário correspondente ao valor do
trabalho que recebe em forma de salário. É o valor produzido
durante o sobretrabalho. O trabalho, portanto, rende um valor
extra ao dono da empresa, e esse se apropria de um valor
excedente que em princípio é do trabalhador.

14) John Locke representa o pensamento liberal que deu estrutura


ideológica ao desenvolvimento do capitalismo, baseado na
economia de mercado e na propriedade privada. Para Locke, a
propriedade privada é um direito natural, assim como a
própria vida e liberdade, e deve ser assegurada pelo contrato
social na consolidação do Estado.
Karl Marx, por sua vez, contesta a ideia liberal de que a
propriedade privada seja um direito natural, mas seria,
outrossim, um elemento enraizado na história e que
possibilitou a ascensão da burguesia como classe social
dominante no capitalismo. Portanto, para Marx, a lógica do
acúmulo do capital gera a exclusão social, o que levou esse
pensador a acreditar, como solução dessa contradição, no
advento natural e inevitável do socialismo.

– 27
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MÓDULO 4 A Sociologia de Max Weber


1. Introdução nesse sentido, foi um historicista. Para fazer sociologia,
ele descartou a noção de fato social, uma vez que não
Max Weber (1864-1920) nasceu em Erfurt, na aceitava uma objetividade do ser social. A sociedade,
Alemanha. Filho de burgueses liberais, Weber teve ampla pensava Weber, emerge na subjetividade da ação social
instrução e larga formação, sendo considerado um dos homens. Uma ação é social quando se leva em
erudito. Conhecia com profundidade a ciência do direito, consideração a existência dos outros e, portanto, nem
a arte, filosofia, história e sociologia. Foi professor em toda ação humana é necessariamente social. Assim, por
Berlim, e catedrático na Universidade de Heidelberg. Era exemplo, o choque de dois ciclistas não passa de um
um liberal e parlamentarista na esfera política, tendo fenômeno natural, mas torna-se uma ação social a
participado da comissão redatora da Constituição da tentativa de se desviar da bicicleta, pois, nesse caso,
República de Weimar. Qualificou-se em sociologia da levou-se em conta o outro. Não necessariamente os
religião com a sua tese A Ética Protestante e o Espírito do outros precisam estar presentes. Um homem educado,
Capitalismo. Escreveu também Economia e sociedade, por exemplo, não jogará lixo ou papéis no chão de uma
História Geral da Economia, entre outros. Diferente de sala, mesmo que se encontre só no ambiente, pois sabe
Durkheim, que trabalhou num país constituído (a França), que, mais tarde, esse lugar estará ocupado por outros e
Weber estudou e pensou a questão da nação alemã em então o abster-se de jogar um papel no chão é uma ação
pleno processo de formação de um Estado alemão. Talvez social.
por isso não entendesse a sociedade como algo dado, Weber não reconhece um caráter coercitivo da sociedade,
externo e evidente e, nesse sentido, discordava de como pensava Durkheim, pois as normas sociais se
Durkheim. encontram no indivíduo, sob a forma de motivação.
Assim, toda ação social carrega um significado que lhe é
atribuído pelos indivíduos e o papel do sociólogo é
exatamente o de compreender o sentido da ação. A
sociologia é “uma ciência que pretende compreender
interpretativamente a ação social e assim explicá-la
causalmente em seu curso e seus efeitos”. (Max Weber,
Economia e Sociedade)

Max Weber desenvolveu a sociologia compreensiva.


Weber queria compreender o sentido da ação social. (Taleban –
2. O Conceito de Ação Social Afeganistão)

Já vimos que, para Durkheim, a sociedade era um


3. O Método Compreensivo
elemento externo aos indivíduos, dado inclusive o seu
caráter coercitivo. Para Max Weber, ao contrário, não
Para Weber, toda ação social é uma ação com
existe uma oposição entre sociedade e indivíduo e ele
sequer desenvolveu uma teoria geral da sociedade. Não sentido. Cada indivíduo age motivado por algo que pode
acreditava em um conceito abstrato de sociedade, como ser uma tradição, um interesse racional ou por uma
algo em si, mas estudava as particularidades sociais e, emoção e é o motivo da ação que revela o seu sentido.

28 –
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Compete ao sociólogo compreender o sentido da ação


que lhe interessa. A ação social se decompõe revelando
o seu nexo, que pode ser de ordem política, religiosa ou
econômica. A sociedade, para o sociólogo aqui estudado,
se revela apenas aí, nos agentes da ação, que se
expressam por motivos internos e pessoais.
Mas tal tarefa encontra dificuldades, pois o cientista
também age com suas motivações e participa da
sociedade, que lhe pode aparecer como um objeto
externo. O sociólogo, pois, está impregnado do seu
objeto de estudo (já que pertence à sociedade estudada)
e, assim, uma imparcialidade objetiva se torna pouco
provável. Por isso, Weber preocupou-se em defender o
máximo de neutralidade científica possível, ou seja, o
cientista não pode permitir que sua pesquisa seja
perturbada pela defesa das ideias políticas, pessoais ou
Weber estudou e tipificou o conceito de autoridade.
pelas crenças do próprio cientista.

5. Sociologia da Religião
4. O Poder e Tipologia Weberiana (o tipo ideal)
Segundo Max Weber, é preciso conhecer a
Se para Durkheim, a sociedade era um tecido concepção global de existência de um agente para
solidário e para Marx, um campo de lutas e espaço de
compreender suas atitudes. Esse é o método weberiano
contradições, para Weber, a sociedade seria um proces-
para uma sociologia da religião. Para entender o
so de tensões. Além da categoria de ação social, Weber
comportamento de um homem, faz-se necessário
elaborou seu pensamento social com base no conceito
conhecer seus dogmas, sua visão de mundo, incluindo
de poder. Ele teorizou que o poder perpassa todos os
suas crenças e interpretações da existência. Recordemos
níveis de uma sociedade, pois a sociedade se constitui a
partir de uma relação de hierarquia. Não se entende aqui, o pensamento marxista. Segundo o materialismo
porém, poder no sentido estritamente econômico ou histórico, as relações entre os homens, as consciências,
político. Poder também não é sinônimo de autoridade, assim como toda produção cultural, seriam determinadas
mesmo porque nem sempre o poder é um exercício pelas relações de produção. É o que se costuma chamar
aceito pela sociedade. Quando o poder é aceito como de determinismo econômico. Max Weber, ao contrário,
legítimo, então ele coincide com a autoridade. Para que tentou mostrar que a concepção religiosa é um
seja legítima, a autoridade se sustenta em três tipos: a determinante da conduta econômica e que pode
autoridade tradicional, fundamentada no costume; a promover transformações na economia em dadas
autoridade carismática, baseada na crença de que o sociedades.
indivíduo que exerce tal poder seja portador de qualidades
excepcionais e a autoridade legal-racional,
fundamentada na atribuição formal.
Percebe-se aqui que Weber usou uma tipologia para
explicar a autoridade. Para estudar as ações sociais,
Weber utilizou a construção, como método científico, de
tipos ideais. Trata-se de construções teóricas e abstratas,
feitas a partir da realidade, mas acentuando as
características de distinção. O tipo ideal não é um modelo
original e perfeito, não representa rigidamente o real, mas
é o estereótipo que ajuda a classificar formas diferentes
em que aparecem os fenômenos estudados. Nesse caso,
uma autoridade, como um Papa, pode ter poder por
tradição, carisma e até “por vias legais”, pois passou por
um processo legal antes de ser o escolhido para a
instituição: o papado.

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6. Capitalismo para Weber experimentado como vocação. Ou seja, não se trabalha


simplesmente para se acumular capital, pois essa seria
Para Weber, assim como não se pode falar em uma uma motivação insuficiente. Trabalha-se porque o trabalho
sociedade, como algo abstrato, pois o que existe são é bom, portando um valor em si mesmo. Weber analisa,
sociedades, também não há um único capitalismo. Toda assim, a vocação, a virtude e a ascese do protestante e
sociedade capitalista apresenta singularidades, e, então, mostra como tal ethos contribuiu para que ocorresse o
há vários capitalismos. Já vimos que Weber era um acúmulo de capital. A ascese consiste em uma renúncia
historicista, e, portanto ele diria que o capitalismo japo- aos prazeres mundanos, condenados pela religião; assim,
nês, por exemplo, possui particularidades históricas e o protestante poupa e se autodisciplina para o trabalho. A
estruturais absolutamente próprias. Se alguém usasse o ética e a concepção de mundo protestante foram
termo a sociedade capitalista, Weber perguntaria: “De historicamente mais adequadas para apoiar o
que sociedade e de que capitalismo você está falando?” desenvolvimento de um racionalismo econômico do que
Por isso, ele aplicou o método da construção do tipo-ideal, o catolicismo. Ocorreu, portanto, uma afinidade entre
estudado na aula anterior, para definir o capitalismo. uma determinada visão de mundo sugerida pelo
Visto, então, sob um modelo ideal, com certas calvinismo e um determinado estilo de ação econômica.
características acentuadas, o capitalismo aos olhos de Weber lembra que o protestantismo inaugura certo
Weber seria marcado pela organização empresarial, pelo desencantamento do mundo, uma postura religiosa
objetivo de produzir o máximo de lucro e pela disciplina antimágica e antirritualista, que indiretamente apoia a
racional. Assim, uma empresa capitalista atinge seus investigação científica. O sociólogo também afirma que o
objetivos (de acumular lucro) por meio da organização mundo em que vive o homem capitalista é marcado pelo
burocrática. A burocracia, por sua vez, é definida como desencanto, em que o espaço sagrado que envolvia o
a organização de muitas pessoas que trabalham em mundo desapareceu. As coisas estão desencantadas e à
cooperação, de forma anônima, impessoal, ou seja, de disposição dos homens que produzem, consomem e
pessoas que exercem profissões separadas ou afastadas descartam.
de suas famílias e de suas individualidades. Para Weber, Ao estudar esta obra, é interessante opor, mais uma
a racionalização burocrática é a grande característica do vez, Weber a Marx. Para este último, a estrutura das
capitalismo. relações de produção tem um papel determinante da
cultura; já para Weber existe uma multicausalidade
(muitas causas, que se combinam para produzir deter-
minado efeito). A instância religiosa não é unilateralmente
o reflexo da superestrutura econômica, mas pode
inclusive ser um dos determinantes daquela. Vê-se, no
caso do calvinismo, uma realidade cultural contribuindo
para o sucesso da implantação de um novo modelo de
ação econômica: o capitalista.

Ilustração: Renato Alarcão.

7. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

Uma obra muito importante de Max Weber é A Ética


Protestante e o Espírito do Capitalismo, em que ele
propõe a hipótese de que a concepção de existência dos
protestantes gerou motivações que favoreceram o
desenvolvimento do capitalismo.
A religião associa-se ao corpo social não pelas
instituições, mas pelos valores que o indivíduo carrega e
transforma em motivações da ação social. Segundo essa
obra, a ética puritana protestante é motivada pelo trabalho
Calvino.

30 –
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João Calvino. Max contra Marx

JOÃO CALVINO sucede com os velhos, e os que sofrem de oftalmias, e


todos os que têm má visão, que, se lhes pusermos diante
O Calvinismo cristalizou a Reforma. Lutero e Zuínglio nem que seja o mais belo livro, embora eles reconheçam
tinham modificado radicalmente a antiga religião, mas, para que ali está escrita alguma coisa, mal conseguem juntar
além do vigoroso realce dado à Palavra de Deus, as crenças duas palavras, mas, se forem ajudados mediante a
reformadas careciam duma autoridade precisa, duma interposição de óculos, começarão a ler indistintamente,
direção organizada e duma filosofia lógica. João Calvino assim também a Escritura, reunindo todo o conhecimento
deu-lhes tudo isso e mais ainda. Ele foi um daqueles raros de Deus na nossa mente, doutro modo confusa, dispersa
caracteres em que o pensamento e a ação se conjugam e as trevas e mostra-nos claramente o verdadeiro Deus.”
que, se chegam a deixar marca, gravam-na profundamente Embora Calvino admitisse que a Escritura era totalmente
na História. A influência que ele exerceu desde a cidade de isenta de erro humano, salientou que “as Escrituras são
Genebra, que praticamente governou a partir de 1541 até a escola do Espírito Santo, onde nada é omitido que seja
a sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europa inteira e necessário e útil conhecer, e nada é ensinado, exceto
mais tarde pela América. aquilo que seja vantajoso saber”; e sustentou que o
Calvino nasceu na França, a 10 de julho de 1509, em Antigo Testamento era tão valioso quanto o Novo.
Noiyon, onde seu pai era notário apostólico e delegado “Ninguém pode receber sequer a mínima parcela de reta
fiscal. O pai era um respeitável membro da classe média, e sã doutrina se não passar a ser um discípulo das
que esperava que o seu segundo filho, João, seguisse a Escrituras e não as interpretar guiado pelo Espírito Santo.”
carreira eclesiástica; mas os seus antepassados mais É óbvio que a Igreja e o Estado devem ambos derivar
remotos tinham sido barqueiros em Pont-l’Evêque, no rio a sua autoridade da Escritura. Calvino distinguia, como
Oise. João Calvino estudou Teologia, e depois Direito, nas outros fizeram, entre a Igreja visível e a invisível. A
Universidades de Paris, Orleães e Bourges. segunda era formada por todos os que estavam predesti-
É incerto quando e como tenha Calvino abandonado nados à salvação. Afirmamos, escreveu ele na Instituição,
a fé dos seus maiores. Mais tarde ele escreveu: “Deus que por decreto eterno e imutável Deus já determinou de
sujeitou-me o coração à docilidade através duma conver- uma vez por todas quem Ele admitirá à salvação e quem
são repentina”. Sem dúvida que os seus interesses se Ele admitirá à destruição. Confirmamos que esse decreto,
foram desviando dos clássicos e das leis para o estudo pelo que respeita aos eleitos, fundamenta-se no Seu
dos Pais da Igreja e das Escrituras. As influências decreto desinteressado, totalmente independente dos
primordiais foram provavelmente as do Novo Testamento méritos humanos; mas para aqueles que ele destina à
grego de Erasmo e dos sermões de Lutero. O Testamen- condenação as portas da vida ficam fechadas por um
to grego revelou-lhe até que ponto a doutrina da Igreja se julgamento justo e perfeito. A teoria da predestinação de
tinha afastado da narração evangélica. Os escritos de Calvino nasceu da sua crença na presciência absoluta de
Lutero faziam realçar aquela ideia que germinava agora Deus, e da firme convicção, robustecida pelas suas leituras
na sua própria mente e que iria influenciar dali por diante de São Paulo e Santo Agostinho, de que o homem é
tudo o que ele fez, a de que o homem, carregado de incapaz de se salvar pelas suas próprias ações; somente
culpas, apresentando-se coberto de pecados perante o pode ser salvo pela imerecida graça de Deus, livremente
Deus perfeitamente bom, somente pode salvar-se pela concedida. Mas, se a Igreja é o grêmio dos predestinados
sua fé absoluta e sem restrições na misericórdia divina. ou eleitos, ela deve necessitar de alguma expressão
Calvino passou a escrever a obra que veio a ser o livro visível, ainda mesmo que imperfeita.
texto da Reforma Protestante, a sua Instituição da A autoridade da Igreja é puramente religiosa, assim
Religião Cristã, que continha as ideias fundamentais em como a autoridade do Estado é puramente política.
que assentava o calvinismo. Ao cabo de 23 anos da sua Calvino atribuiu uma autoridade de origem divina e
primeira publicação – 1536 – os seus seis capítulos chamou aos magistrados os ministros da justiça divina.
originais tinham aumentado para oitenta, mas as ideias Enquanto a Igreja lida com a vida da alma ou do homem
não tinham sofrido modificações sensíveis. Talvez que interior, os magistrados ocupam-se em estabelecer a
nenhum livro publicado no século XVI tenha produzido justiça, civil e exterior, da moralidade. Idealmente, o
efeitos de tão largo alcance. Estado não deve interferir na Igreja, embora deva fazer
Quais eram os fundamentos da sua crença? Tal como tudo aquilo que puder para ajudá-la, mas Igreja também
Lutero e Zuínglio, a Bíblia, a inspirada Palavra de Deus, não deve interferir no Estado.
constitui a base final de todas as suas ideias. “Tal como Os Regulamentos Eclesiásticos de Calvino estabe-

– 31
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leciam como devia ser governada e Igreja. Esta tinha duas se chocando e a religião frequentemente é responsa-
instituições dirigentes, o Venerável Ministério e o bilizada pelos fracassos da modernização e da democracia
Consistório. O primeiro, formado pelos pastores, no mundo muçulmano, o livro e as ideias de Weber
examinava os que se sentiam vocacionados para a merecem um novo olhar.
ordenação, apresentando depois ao Conselho para a O argumento de Weber se concentrou no protes-
aprovação aqueles a quem tinha escolhido; escutava os tantismo ascético. Ele disse que a doutrina calvinista da
sermões sobre a doutrina, e agia como censor moral. O predestinação levava os crentes a tentar demonstrar sua
Consistório, um conselho de seis ministros e doze situação de eleitos, o que faziam dedicando-se ao
anciãos escolhidos entre os membros dos três conselhos comércio e ao acúmulo material.
governativos, era de todos os instrumentos de governo Dessa maneira, o protestantismo criou uma ética do
de Calvino o de maior significado. Em teoria era um trabalho – isto é, a valorização do próprio trabalho, mais
tribunal da moral, mas a moralidade em Genebra não tinha que seus resultados – e demoliu a antiga doutrina
limites; o Consistório tomava conhecimento de todas as aristotélico-católica de que uma pessoa só deveria obter
formas de atividade, lidando com os vícios mais graves e riqueza suficiente para viver bem. Além disso, o
com as infrações mais banais. A sua disciplina era severa protestantismo advertiu seus fiéis para comportarem-se
e mantida por meio da excomunhão; as sentenças que moralmente fora dos limites da família, o que foi vital para
proferia eram muitas vezes rigorosas, mas não o eram criar um sistema de confiança social.
A tese de Max Weber causou polêmica desde o
invariavelmente. O adultério, o jogo, as pragas, a bebida,
momento de sua publicação. Vários estudiosos afirmaram
o dormir na altura dos sermões e todas as práticas
que estava empiricamente errada sobre o desempenho
suscetíveis de poderem ser consideradas católicas, tudo
econômico superior dos protestantes em relação ao dos
isso caía sob a sua alçada.
católicos; que as sociedades católicas tinham começado
Genebra tornou-se a central do mundo protestante.
a desenvolver o capitalismo moderno muito antes da
Refugiados protestantes de toda a Europa encontraram
Reforma; e que foi a Contrarreforma, mais que o
refrigério e ensino adentro das suas fronteiras, dando
catolicismo, que provocou o retrocesso econômico. O
rapidamente uma feição acentuadamente cosmopolita à economista alemão Werner Sombart afirmou ter
cidade. O ensino calvinista floresceu na sua universidade descoberto o equivalente funcional da ética protestante
e na Academia fundada por Calvino em 1559. A literatura no judaísmo; Robert Bellah o descobriu no budismo
impressa em Genebra inundou a Europa, quer através do tokugawa do Japão.
mercado livre, quer vendida por colporteurs clandestinos; É seguro dizer que a maioria dos economistas
os livros e folhetos eram de formato especial para se contemporâneos não leva a sério a hipótese de Weber ou
poderem transportar sem serem descobertos. qualquer outra teoria culturalista do crescimento
Quando em 1564 Calvino morreu, pôde no mínimo econômico. Muitos afirmam que a cultura é uma categoria
repousar com o seguro conhecimento de ter criado um residual em que os cientistas sociais preguiçosos se
dos mais importantes movimentos religiosos e políticos refugiam quando não conseguem desenvolver uma teoria
da história mundial. mais rigorosa.
Realmente, há motivos para ser cauteloso quanto a
Texto Retirado da Segunda Edição do Livro Renascimento e
Reforma, de V.H.H. Green. Publicações Dom Quixote, Portugal.
usar a cultura para explicar evoluções econômicas e
políticas. Os próprios textos de Weber sobre as outras
Max contra Marx grandes religiões do mundo e seu impacto na moderni-
zação servem como advertência.
Clássico de Max Weber que defende a religião como Seu livro “A Religião da China – Confucionismo e
premissa para o surgimento do capitalismo, “A Ética Taoísmo” (1916) dá uma visão muito pálida das
Protestante e o Espírito do Capitalismo”, que faz cem perspectivas de desenvolvimento econômico na China
anos, se sustenta hoje como análise da relação entre confucionista, cuja cultura, ele comenta, constitui um
cultura e modernidade. obstáculo apenas ligeiramente menor do que a japonesa
(Folha de São Paulo – Caderno Mais, 27.03.2005) para o surgimento do capitalismo moderno.
O que manteve a China e o Japão atrasados, hoje
Neste ano se comemora o centésimo aniversário do compreendemos, não foi a cultura, mas as instituições
mais famoso tratado sociológico já escrito, “A Ética sufocantes, uma política ruim e diretrizes erradas. Quando
Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber isso foi solucionado, ambas as sociedades avançaram. A
[1864-1920]. Foi um livro que deixou Karl Marx de ponta- cultura é apenas um de muitos fatores que determinam
cabeça. o sucesso de uma sociedade.
A religião, segundo Weber, não era uma ideologia Isso é algo que devemos lembrar quando escutamos
produzida por interesses econômicos (o ópio das massas, alegações de que a religião do Islã explica o terrorismo, a
como havia colocado Marx); era sobretudo o que havia falta de democracia ou outros fenômenos no Oriente
possibilitado o mundo capitalista moderno. Médio.
Na década atual, quando as culturas parecem estar
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Glossário

Ascese: Prática ou postura religiosa que nega os prazeres Historicista: é o que busca o processo de
do mundo para garantir conforto e bem-aventurança desenvolvimento histórico e entende como processo a
espiritual. Segue o sentido de ascender, como subir. partir de uma origem o fenômeno cultural. Não aceita,
portanto, explicações naturalizantes.
Ethos: (grego) Conjunto de hábitos, crenças e costumes
fundamentais. Atmosfera moral de uma sociedade ou Subjetividade: caráter daquilo que está dentro do
classe. De ethos origina-se a palavra ética. homem, em oposição ao objetivamente dado.

1. “... a ação social significa uma ação que, quanto ao sentido visado Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar
pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, que, para Weber,
orientando-se por este em seu curso”. A frase acima deve ser atribuída a) a ciência social, por tratar de um objeto cujas causas são infinitas, ao
a: invés de buscar compreendê-lo, deve limitar-se a descrever sua
a) Karl Marx b) Max Weber c) Émile Durkheim aparência.
d) Augusto Comte e) Friedrich Engels b) a ciência social revela que a infinitude das variáveis envolvidas na
geração dos fatos sociais permite a elaboração teórica totalizante a
RESOLUÇÃO: seu respeito.
Resposta: B
c) o conhecimento nas ciências sociais pode estabelecer parcialmente
as conexões internas de um objeto, portanto, é limitado para abordá-
lo em sua plenitude.
2. São colocações corretas sobre a sociologia de Max Weber.
d) alguns fenômenos sociais podem ser analisados cientificamente na
I. O cientista social é exterior ao seu objeto de estudo, no caso, o fato
sua totalidade porque são menos complexos do que outros nas
social.
conexões internas de suas causas.
II. O objeto da sociologia, na verdade, é o acontecimento e o cientista
e) o obstáculo para a ciência social estabelecer um conhecimento
deve desvendar as suas causas, daí a necessidade de se aplicar o
totalizante do objeto é o fato de desconsiderar contribuições de áreas
método compreensivo.
como a biologia e a psicologia, que tratam dos eventos físicos e
III. A sociedade de classes está condenada à extinção e uma sociali-
mentais.
zação dos meios de produção a substituirá.
IV. O tipo ideal é uma construção sociológica testada, depois aplicada RESOLUÇÃO:
a diferentes situações em que dado fenômeno pode ter ocorrido. Resposta: C
a) Apenas II e IV. b) Apenas I e III.
c) Apenas II e III. d) Apenas I e IV. 4. (UFMA) – Assinale a opção que contenha as categorias básicas da
e) Apenas III e IV. sociologia de Max Weber.
a) função social, tipo ideal, mais-valia
RESOLUÇÃO: b) expropriação, compreensão, fato patológico
Resposta: A c) ação social, materialismo, idealismo
d) vontade de poder, julgamento de valor, solidariedade mecânica
e) ação social , relação social, tipo ideal

RESOLUÇÃO:
3. (UEL) – Leia o texto a seguir, escrito por Max Weber (1864-1920), Resposta: E
que reflete sobre a relação entre ciência social e verdade:
“[...] nos é também impossível abraçar inteiramente a sequência de 5. Para Weber, o sociólogo está impregnado do seu objeto de estudo
todos os eventos físicos e mentais no espaço e no tempo, assim como (pois pertence à sociedade estudada) e, assim, uma imparcialidade
esgotar integralmente o mínimo elemento do real. De um lado, nosso objetiva se torna pouco provável. Por isso, Weber
conhecimento não é uma reprodução do real, porque ele pode somente a) preocupou-se em defender o máximo de neutralidade científica
transpô-lo, reconstruí-lo com a ajuda de conceitos, de outra parte, possível.
nenhum conceito e nem também a totalidade dos conceitos são b) mostrou a impossibilidade de buscar qualquer neutralidade política
perfeitamente adequados ao objeto ou ao mundo que eles se esforçam durante o exercício científico.
em explicar e compreender. Entre conceito e realidade existe um hiato c) defendeu o comprometimento político do sociólogo.
intransponível. Disso resulta que todo conhecimento, inclusive a ciência, d) elaborou conscientemente uma sociologia ideológica.
implica uma seleção, seguindo a orientação de nossa curiosidade e a e) defendeu uma posição pró-capitalismo e politicamente conser-
significação que damos a isto que tentamos apreender”. vadora.
(Traduzido de: FREUND, Julien. Max Weber. Paris:
PUF, 1969. p. 33.) RESOLUÇÃO:
Resposta: A

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6. (UNESP-2013) – “Religião sempre foi um negócio lucrativo.” b) kantiana, que preconiza a possibilidade de se atingir a maioridade
Assim começa uma reportagem da revista americana Forbes sobre os intelectual.
milionários bispos fundadores das maiores igrejas evangélicas do Brasil. c) cartesiana, que pressupõe a existência de Deus como condição
A revista fez um ranking com os líderes mais ricos. No topo da lista, essencial para o conhecimento racional.
está o bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna estimada em R$ 2 bi- d) dialético-materialista, baseada na necessidade de superação do
lhões, segundo a revista. Em seguida, vem Valdemiro Santiago, com trabalho alienado.
R$ 400 milhões; Silas Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, com e) teológico-católica, defensora da caridade e idealizadora de virtudes
R$ 250 milhões, e Estevan Hernandes Filho e a bispa Sônia, com associadas à pobreza.
R$ 120 milhões juntos. A Forbes também destaca o crescimento dos
evangélicos no Brasil – de 15,4% para 22,2% da população na última RESOLUÇÃO:
A concepção protestante prega o trabalho como uma virtude
década –, em detrimento dos católicos. Hoje, os católicos romanos
agradável a Deus, e o êxito econômico como resultado e evidência
somam 64,6% da população, ou 123 milhões de brasileiros. Os da presença da graça divina. Max Weber, em sua obra A Ética
evangélicos, por sua vez, já somam 42 milhões, em uma população Protestante e o Espírito do Capitalismo, por exemplo, indica como
total de 191 milhões de pessoas. a moral puritana favoreceu o acúmulo de capital nos EUA, em que
(Forbes lista os seis líderes milionários evangélicos no Brasil. uol.com.br, o trabalho era experienciado como vocação espiritual. Vê-se, hoje,
no mundo marcado por um paradigma de mercado, a ascensão das
19.01.2013. Adaptado.)
chamadas teologias da prosperidade econômica.
Resposta: A
Os fatos descritos na reportagem são compatíveis filosoficamente com
uma concepção
a) teológico-protestante, baseada na valorização do sacrifício pessoal
e da prosperidade material.

1. Identifique as correntes do pensamento sociológico, com base no III. Mas tal tarefa encontra dificuldades, pois o cientista também age
uso das categorias e assinale a alternativa que expõe corretamente a com suas motivações e participa da sociedade que lhe pode apare-
sequência os seus autores, respectivamente. cer como um objeto externo. O sociólogo, pois, está impregnado
do seu objeto de estudo (já que pertence à sociedade estudada) e,
Texto A
assim, uma imparcialidade objetiva se torna pouco provável.
“... a sociedade não é a simples soma de indivíduos, e sim um sistema
IV. Weber não acreditava em neutralidade científica, pois o cientista
formado pela associação, que representa uma realidade específica com
deve permitir que sua pesquisa seja portadora e orientada por ideias
seus caracteres próprios... Agregando-se, penetrando-se, fundindo-se,
políticas, pessoais ou pelas crenças do próprio cientista.
as almas individuais dão nascimento a um ser, psíquico se quisermos,
São verdadeiras apenas:
mas que constitui individualidade psíquica de novo gênero”.
a) I e II b) II, III e IV c) I, II e III
Texto B d) I, III e IV e) I e IV
“Na produção social da sua existência, os homens travam relações 3. “A sociologia é uma ciência que pretende compreender interpre-
determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; essas tativamente a ação social e assim explicá-la causalmente em seus
relações de produção correspondem a um determinado grau de cursos e efeitos”. (Max Weber)
desenvolvimento das suas forças produtivas materiais”.
O autor pretendeu afirmar que:
Texto C a) o sociólogo quer produzir um sistema explicativo que se adeque a
“... a ação social significa uma ação que, quanto ao sentido visado pelo qualquer realidade social estudada.
agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, b) o sociólogo deve ser um agente habilitado a trazer soluções para os
orientando-se por este em seu curso”. problemas sociais.
c) o sociólogo deve produzir um conhecimento crítico, capaz de
a) A – Max Weber; B – Karl Marx e C – Émile Durkheim.
enxergar as contradições da sociedade.
b) A – Karl Marx; B – Max Weber e C – Émile Durkheim.
d) o sociólogo quer compreender a causa e a motivação da ação social.
c) A – Émile Durkheim; B – Max Weber e C – Karl Marx.
e) a sociologia expõe um conhecimento politicamente comprometido.
d) A – Émile Durkheim; B – Karl Marx e C – Max Weber.
e) A – Karl Marx; B – Émile Durkheim e C – Max Weber. 4. Para Weber, assim como não se pode falar em uma sociedade como
2. Para Weber, toda ação social é uma ação com sentido. Assim, leia e algo abstrato, pois o que existe são sociedades, também não há um
julgue as assertivas abaixo. único capitalismo. Toda sociedade capitalista apresenta singularidades,
I. Cada indivíduo age motivado por algo que pode ser uma tradição, e, então, há vários capitalismos. Dessa forma, é possível afirmar que
um interesse racional ou por uma emoção e é o motivo da ação que Weber:
revela o seu sentido. Compete ao sociólogo compreender o sentido a) foi um historicista.
da ação que lhe interessa. b) foi um pensador que valorizou as sínteses.
II. A ação social se decompõe revelando o seu nexo que pode ser da c) não compreendeu bem o fenômeno do capitalismo, como será
ordem política, religiosa ou econômica. A sociedade, para o colocado pelos teóricos marxistas.
sociólogo aqui estudado, se revela apenas aí: nos agentes da ação d) valorizou formas outras de sociedade, como as socialistas.
que se expressam por motivos internos e pessoais. e) defendeu a universalidade das instituições.
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5. Os teóricos da sociologia trazem em suas análises contribuições c) Trabalha-se, segundo o livro, porque o trabalho é bom, portando um
diferentes e pontos de divergências. Sobre Weber e Marx, leia e julgue valor em si mesmo.
as proposições abaixo. d) Weber analisa, assim, a vocação, a virtude e a ascese do protestante
I. Ao estudar a obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, e mostra como tal ethos contribuiu para que ocorresse o acúmulo de
é interessante opor, mais uma vez, Weber a Marx. Para este último, capital. A ascese consiste em uma renúncia aos prazeres mundanos,
a estrutura das relações de produção tem um papel determinante da condenados pela religião; assim, o protestante poupa e se auto-
cultura; já para Weber existe uma multicausalidade (muitas causas, disciplina para o trabalho.
que se combinam para produzir determinado efeito). e) A ética e a concepção de mundo católico foram historicamente mais
II. A instância religiosa não é unilateralmente o reflexo da adequadas para apoiar o desenvolvimento de um racionalismo
superestrutura econômica, como queria Weber, mas, diria Marx, econômico do que o protestantismo. Ocorreu, portanto, uma
pode inclusive ser um dos determinantes daquela. afinidade entre uma determinada visão de mundo sugerida pela
III. Vê-se, no caso do calvinismo, uma realidade cultural contribuindo antiga teologia e um determinado estilo de ação econômica.
para o sucesso da implantação de um novo modelo de ação
econômica: o capitalista.
São verdadeiras: 7. Quais são as três formas de autoridade tipificadas por Max Weber?
a) Todas. b) I e II, apenas. c) II e III, apenas. Explique.
d) I e III, apenas. e) Apenas I.

6. Uma obra muito importante de Max Weber é A Ética Protestante e 8. Que relação existe entre a ética protestante e o capitalismo?
o Espírito do Capitalismo, em que ele propõe a hipótese de que a
concepção de existência dos protestantes gerou motivações que
9. Que oposição é possível fazer entre Marx e Weber com a publicação
favoreceram o desenvolvimento do capitalismo. Nesse sentido, leia as
de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo?
alternativas abaixo e assinale a única falsa.
a) A religião associa-se ao corpo social não pelas instituições, mas pelos
valores que o indivíduo carrega e transforma em motivações da ação
10. Para Durkheim, a sociedade é uma realidade objetiva e externa.
social.
Weber concorda com esse conceito? Comente.
b) Segundo essa obra, a ética puritana protestante é motivada pelo
trabalho experimentado como vocação. Ou seja, não se trabalha
simplesmente para acumular capital, pois essa seria uma motivação 11. Como Weber define o capitalismo?
insuficiente.

1) D 2) C 3) D 4) A 5) D 6) E 10) Não. Para Max Weber não existe uma oposição entre
sociedade e indivíduo e ele não chegou a desenvolver uma
7) A autoridade tradicional, fundamentada no costume; a
teoria geral da sociedade. Não acreditava em um conceito
autoridade carismática, baseada na crença de que o indivíduo
abstrato de sociedade, como algo em si, mas estudava as
que exerce tal poder é portador de qualidades excepcionais e
particularidades sociais. A sociedade emergia na subjetividade
a autoridade legal-racional, fundamentada na atribuição
formal. da ação social dos homens.

8) Weber analisa como a vocação, a virtude e a ascese do 11) Para Weber, não há um único capitalismo. Toda sociedade
protestante contribuíram para que ocorresse o acúmulo de capitalista apresenta singularidades, havendo vários capitalis-
capital. A ascese consiste em uma renúncia aos prazeres mos. Cada sociedade capitalista possui particularidades
mundanos, condenados pela religião; assim, o protestante históricas e estruturais absolutamente próprias. O capitalismo
poupa e se autodisciplina para o trabalho. A ética e a tipificado seria marcado pela organização empresarial, pelo
concepção de mundo protestante foram historicamente mais objetivo de produzir o máximo de lucro e pela disciplina
adequadas para apoiar o desenvolvimento de um racionalismo racional. Assim, uma empresa capitalista atinge seus objetivos
econômico do que o catolicismo. por meio da organização burocrática. Para ele, a racionalização
burocrática é a principal característica do capitalismo.

9) Segundo o pensamento marxista, as relações entre os


homens, as consciências, assim como toda produção cultural,
seriam determinadas pelas relações de produção. Max Weber,
ao contrário, tentou mostrar que a concepção religiosa é um
determinante da conduta econômica e que pode promover
transformações econômicas. Para Marx, a estrutura das
relações de produção tem um papel determinante da cultura;
já para Weber existe uma multicausalidade, vários fatores que
se combinam para produzir determinado efeito.

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MÓDULO 5 Conceito de Cultura

1. Introdução

No senso comum, diz-se que um homem é culto se


apresentar uma formação intelectual refinada, com bom
grau de instrução ou se tiver um domínio sobre duas ou
mais línguas. Assim, ao identificarmos um tipo culto de
pessoa, seria fácil reconhecer outro tipo, oposto àquele,
classificado como inculto. Costuma-se, nesse caso, usar
o conceito de cultura como erudição, mas não é esse o
conceito antropológico de cultura.
Entendemos aqui por cultura o universo da constru-
ção humana: conjunto de hábitos, normas, visão de Caligrafia chinesa.
mundo, linguagens, ritos, artefatos, símbolos, produção A escrita é um
artística e manifestação religiosa. A cultura de um código cultural de
comunicação humana.
determinado povo indígena, portanto, não é inferior ou
superior à nossa, mas diferente.
3. A cultura condiciona a visão de homem.

Cultura, um conceito antropológico


Por Roque de Barros Laraia.

Ruth Benedict escreveu em seu livro O Crisântemo e


a Espada que a cultura é como uma lente através da qual
o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes
usam lentes diversas e, portanto, têm visões
desencontradas das coisas (...)
A nossa herança cultural, desenvolvida através de
inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir
depreciativamente em relação ao comportamento
daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria
da comunidade. Por isso discriminamos o
Arte do povo maori da Nova Zelândia. O homem é produtor de cultura.
comportamento desviante (...)
2. Produtor de símbolos
O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem
moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais
O homem, diferentemente dos outros animais, e mesmo as posturas corporais são assim produtos de
relaciona-se com o mundo e com a natureza através de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação
símbolos e signos. A capacidade de simbolizar se de uma determinada cultura.
desenvolveu diante da necessidade ou vontade Fracas ao que foi dito acima, podemos entender o
especificamente humana de interpretar o mundo, fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser
atribuindo-lhe sentidos que aparentemente não possui. facilmente identificados por uma série de características,
Para viver em sociedade – lembrando que a vida social tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem
é essencial e inevitável – o homem também faz uso de mencionar evidências das diferenças linguísticas, o fato
signos e símbolos. A própria língua que utiliza para se de mais imediata observação empírica.
comunicar e que é ensinada encontra-se estruturada toda Mesmo o exercício de atividades consideradas como
por signos. A palavra, portanto, não passa de um signo da parte da fisiologia humana pode refletir diferenças de
cultura, pois ela significa algo, e uma dada palavra e seus cultura. Tomemos, por exemplo, o riso. Rir é uma
sentidos podem revelar muito dos aspectos da sociedade propriedade do homem e dos primatas superiores. O riso
(e da cultura) que a criou e que a utiliza. se expressa, primeiramente, através da contração de
Cultura seria, portanto, o complexo conjunto de determinados músculos da face e da emissão de um
símbolos construído por um povo de determinado tempo determinado som vocal. O riso exprime quase sempre
e espaço. Por conta da enorme possibilidade de um estado de alegria. Todos os homens riem, mas o
simbolizar, as culturas são múltiplas e diferentes. fazem de maneira diferente por motivos diversos (...)
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Resumindo, todos os homens são dotados do verdadeiro rito social, segundo o qual, em horas
mesmo equipamento anatômico, mas a utilização do determinadas, a família deve toda sentar-se à mesa (...)
mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente, O fato de que o homem vê o mundo através de sua
depende de um aprendizado e este consiste na cópia de cultura tem como consequência a propensão em
padrões que fazem parte da herança cultural do grupo (...) considerar o seu modo de vida como o mais correto e
As pessoas se chocam, apenas, porque as outras mais natural. Tal tendência, denominada de etnocen-
comem coisas diferentes, mas também pela maneira que trismo, é responsável em seus casos extremos pela
agem à mesa (...) ocorrência de numerosos conflitos sociais.
Em algumas sociedades o ato de comer pode ser
público, em outras, uma atividade privada. Alguns rituais
de boas maneiras exigem um forte arroto, após a Glossário:
refeição, como sinal de agrado da mesma. Tal fato, entre Erudição: instrução vasta e variada adquirida
nós, seria considerado, no mínimo, como indicador de má principalmente pelo hábito da leitura.
educação. Entre os latinos, o ato de comer é um Signo: sinal, marca, uma coisa que evoca outra.

A Linguagem Humana
Bei Yi
Moisés Braga Ribeiro

Um dos aspectos mais importantes da mente humana é a linguagem que emprega para entender o mundo,
comumente chamada de língua quando associada a uma comunidade linguística particular. A linguagem humana é
fundamentalmente diferente da linguagem animal, pois envolve a representação simbólica de conceitos e diversos
tipos de relações entre eles, possibilitando um número infinito de enunciados a partir de um número finito de símbolos.
A linguagem e o pensamento se misturam à medida que a capacidade de comunicação simbólica se desenvolve.
Uma criança começa a usar a linguagem para se comunicar com cerca de dois anos de idade. Seu conhecimento sobre
o mundo, antes baseado em experiências sensoriais e motoras, torna-se lentamente mais e mais simbólico.
A partir de então a criança não precisa mais aprender tudo através de suas próprias experiências – ela pode aprender
através da linguagem.

1. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, Sobre o texto de Roque Laraia, podemos afirmar que o seu tema
os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais central é
são produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação a) o riso nas diversas culturas.
de uma determinada cultura. b) o choque cultural.
(...) podemos entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes c) a diversidade cultural e o olhar humano.
podem ser facilmente identificados por uma série de características, tais d) as diferentes maneiras de se comportar à mesa.
como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar e) a tolerância cultural.
evidências das diferenças linguísticas, o fato de mais imediata
observação empírica. RESOLUÇÃO:
Resposta: C
Mesmo o exercício de atividades consideradas como parte da fisio-
logia humana pode refletir diferenças de cultura. Tomemos, por exemplo,
o riso. Rir é uma propriedade do homem e dos primatas superiores. O
riso se expressa, primeiramente, através da contração de determinados
músculos da face e da emissão de um determinado som vocal. O riso
exprime quase sempre um estado de alegria. Todos os homens riem,
mas o fazem de maneira diferente por motivos diversos (...)
Resumindo, todos os homens são dotados do mesmo equipamento
anatômico, mas a utilização deste, ao invés de ser determinada
geneticamente, depende de um aprendizado e este consiste na cópia de
padrões que fazem parte da herança cultural do grupo (...). (Laraia)

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2. “O alemão Franz Boaz foi o primeiro a ressaltar a importância do 4. Sobre o conceito de cultura, julgue as proposições abaixo.
estudo das diversas culturas em seu próprio contexto, a partir das suas I – No senso comum, diz-se que um homem é culto se apresentar
peculiaridades. Boaz ressaltava não haver cultura superior ou inferior. uma formação intelectual refinada, com bom grau de instrução.
Para ele, deveriam ser considerados os fatores históricos, naturais e Esse é o conceito antropológico de cultura.
linguísticos que influenciavam o desenvolvimento de cada cultura em II – Costuma-se usar o conceito de cultura como erudição, que signi-
particular.” fica o alto grau de instrução e domínio da cultura em que se vive.
(LUCCI, Elian A. e outros. Território e sociedade no mundo III – O conceito antropológico entende cultura como o universo da
globalizado: geografia geral e do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2010. construção humana: conjunto de hábitos, normas, visão de mundo,
Adaptado) linguagens, ritos, artefatos, símbolos, produção artística e
A abordagem apresentada no texto foi desenvolvida a partir do início do manifestação religiosa.
século XX e originou uma nova perspectiva das ciências sociais em IV – A cultura de um determinado povo indígena é inferior ou superior
relação ao estudo das culturas. à nossa, por ser diferente.
Essa perspectiva é denominada
São corretas apenas:
a) relativismo. b) materialismo.
a) I e II b) II e III c) II e IV
c) evolucionismo. d) etnocentrismo.
d) I e III e) III e IV
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO:
Resposta: A
Resposta: B

5. O complexo conjunto de símbolos construído por um povo em


3. (UFU) – O panorama cultural do Ocidente nas últimas décadas tem
determinado tempo e espaço, formando códigos que tecem os
sido marcado, entre outros aspectos, pela presença mais acentuada de
comportamentos humanos. Aqui se definiu:
múltiplos grupos identitários, o que se relaciona com as críticas ao
a) sociedade humana. b) constituição.
projeto da modernidade.
c) código Civil. d) cultura.
e) natureza e essência humana.
Sobre esse fenômeno, é correto afirmar:
a) o surgimento de uma diversidade cultural mais ampla é um fenô- RESOLUÇÃO:
meno social que reforça a validade das explicações científicas em Resposta: D
torno do determinismo biológico e do determinismo geográfico, os
quais embasam as interpretações sobre as variações de costumes
entre diferentes grupos.
6. “Não vemos o mundo como ele é, mas como nós somos”. (Anais Nin)
b) a modernidade ocidental se caracteriza por um projeto político,
Com essa frase, é possível afirmar:
filosófico e científico de unificação das identidades sociais, princí-
a) Jamais produzimos conhecimento que se aproxime da realidade.
pios estes que são reforçados a partir da segunda metade do século
b) A cultura em que nascemos influencia a nossa visão de mundo.
XX em decorrência das mudanças sociais em direção ao multicultu-
c) O mundo tem as cores de nossa cultura.
ralismo.
d) O mundo em si não existe e resulta apenas de nossas percepções
c) a valorização da diversidade cultural é uma mudança recente ocorrida
culturais.
no Ocidente, que se destaca pela ênfase na homogeneidade cultural,
e) A cultura e o mundo são tecidos pelo nosso olhar e jamais isso
pela defesa dos direitos individuais e pelo combate às políticas de
corresponde à realidade.
identidade, por entendê-las como forma de naturalização dos
costumes. RESOLUÇÃO:
d) os princípios da diversidade cultural e da valorização das diferenças, Resposta: B
com base na multiplicidade de identidades constituídas por
marcadores sociais − como, por exemplo, raça/etnia, gênero, sexua-
lidade, faixa etária, e outros − estão presentes na
7. Facilmente identificamos o portador de uma cultura diferente. Um
contemporaneidade.
elemento cultural de imediata percepção poderia ser
e) a defesa da diversidade cultural implica modificação de compor-
a) noção de autoridade e lógica.
tamentos, aumento dos preconceitos e da violência cultural contra as
b) papéis dos sexos e experiências de afeto.
culturas hegemônicas.
c) produção estética e vestimentas.
RESOLUÇÃO: d) concepção mítica e valores morais.
Resposta: D e) relações políticas e valores éticos.

RESOLUÇÃO:
Resposta: C

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8. (ENEM-2013) – No final do século XIX, as Grandes Sociedades 9. (UNESP-2013) – Segundo Franz Boas, as pessoas diferem porque
carnavalescas alcançaram ampla popularidade entre os foliões cariocas. suas culturas diferem. De fato, é assim que deveríamos nos referir a
Tais sociedades cultivavam um pretensioso objetivo em relação à elas: a cultura esquimó ou a cultura judaica, e não a raça esquimó ou a
comemoração carnavalesca em si mesma: com seus desfiles de carros raça judaica. Apesar de toda a ênfase que deu à cultura, Boas não era
enfeitados pelas principais ruas da cidade, pretendiam abolir o entrudo um relativista que acreditava que todas as culturas eram equivalentes,
(brincadeira que consistia em jogar água nos foliões) e outras práticas nem um empirista que acreditava na tábula rasa. Ele considerava a
difundidas entre a população desde os tempos coloniais, substituindo- civilização europeia superior às culturas tribais, insistindo apenas em
os por formas de diversão que consideravam mais civilizadas, inspiradas que todos os povos eram capazes de atingi-la. Não negava que devia
nos carnavais de Veneza. Contudo, ninguém parecia disposto a abrir existir uma natureza humana universal ou que poderia haver diferenças
mão de suas diversões para assistir ao carnaval das sociedades. O entre as pessoas de um mesmo grupo étnico. O que importava para
entrudo, na visão dos seus animados praticantes, poderia coexistir ele era a ideia de que todos os grupos étnicos são dotados das mesmas
perfeitamente com os desfiles. capacidades mentais básicas.
PEREIRA, C.S. Os senhores da alegria: a presença das mulheres nas Grandes (Steven Pinker. Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana,
Sociedades carnavalescas cariocas em fins do século XIX. In: CUNHA, M.C.P. 2004. Adaptado.)
Carnavais e outras festas: ensaios de história social da cultura. Campinas:
Unicamp; Cecult, 2002 (adaptado). Considerando o texto, é correto afirmar que, de acordo com o
Manifestações culturais como o carnaval também têm sua própria antropólogo Franz Boas,
história, sendo constantemente reinventadas ao longo do tempo. A a) os critérios para comparação entre as culturas são inteiramente
atuação das Grandes Sociedades, descrita no texto, mostra que o relativos.
carnaval representava um momento em que as b) a vida em estado de natureza é superior à vida civilizada.
a) distinções sociais eram deixadas de lado em nome da celebração. c) as diferenças culturais podem ser avaliadas por critérios
b) aspirações cosmopolitas da elite impediam a realização da festa fora universalistas.
dos clubes. d) as diferenças entre as culturas são biologicamente condicionadas.
c) liberdades individuais eram extintas pelas regras das autoridades e) o progresso cultural é uma ilusão etnocêntrica europeia.
públicas.
RESOLUÇÃO:
d) tradições populares se transformavam em matéria de disputas
Franz Boas foi um antropólogo culturalista, mas herdou influências
sociais. dos evolucionistas, pois, como destaca o texto no enunciado, ele
e) perseguições policiais tinham caráter xenófobo por repudiarem considerava a civilização europeia superior às culturas tribais. Além
tradições estrangeiras. disso, o texto nos lembra que Boas não era relativista, o que o
coloca entre pensadores universalistas; em outras palavras, as
RESOLUÇÃO: culturas são avaliadas, para esse antropólogo, a partir de
No texto, fala-se justamente de uma tradição carnavalesca popular referências universais.
do século XIX que se tentou abolir pelas Grandes Sociedades Resposta: C
inspiradas no modelo veneziano de se festejar o carnaval.
Resposta: D

1. Comente a seguinte colocação. II. Nossa herança cultural sempre nos condicionou a reagir deprecia-
“A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a tivamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora
partir do sistema a que pertence”. (Roque B. de Laraia) dos padrões aceitos pela maioria.
III. O modo de andar, de sentar, de rir ou comer pode refletir o universo
2. Julgue as seguintes proposições: da cultura de um indivíduo.
I. A participação do indivíduo em sua cultura é ilimitada, pois participa IV. A história da humanidade comprovou que determinada cultura
de todos os aspectos e elementos dela. resulta do nível de evolução em que se encontra o grupo social que
II. Nenhum sistema de socialização é perfeito e existem indivíduos a abraça.
mais ou menos socializados.
São coerentes:
III. Cada cultura elaborou seus próprios elementos e explicações do
mundo, sem qualquer influência de outras culturas, o que torna a) I e II b) I e III c) II e III
impossível a compreensão de uma cultura que não a própria. d) III e IV e) I e IV

São coerentes: 4. Julgue as seguintes proposições:


a) I e II b) II e III c) I e III I. A participação do indivíduo em sua cultura é ilimitada, pois participa
d) Todas e) apenas II
de todos os aspectos e elementos dela.
3. Sabemos que a cultura condiciona a visão que temos do mundo. II. Nenhum sistema de socialização é perfeito e existem indivíduos
Sobre isso, julgue as colocações abaixo. mais ou menos socializados.
I. A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. III. Cada cultura elaborou seus próprios elementos e explicações do
Homens de culturas diferentes usam as mesmas lentes, assim, a mundo, sem qualquer influência de outras culturas, o que torna
humanidade constitui uma unidade cultural. impossível a compreensão de uma cultura que não a própria.

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São coerentes: II. A humanidade é marcada pela homogeneidade cultural e a aparente


a) I e II. b) II e III. c) I e III. diversidade dá-se em função dos diferentes estágios evolutivos em
d) Todas. e) apenas II. que as sociedades se encontram.
III. Em geral, os homens sofrem de uma cegueira comportamental,
5. Um dos aspectos mais importantes da mente humana é a linguagem porque naturalizam seus costumes e não compreendem os
que emprega para entender o mundo, comumente chamada de língua costumes de outra cultura.
quando associada a uma comunidade linguística particular. A linguagem IV. Padrões de comportamento, crenças e hábitos são historicamente
humana é fundamentalmente diferente da linguagem animal, pois:
constituídos.
a) Envolve a representação simbólica de conceitos e diversos tipos de
São verdadeiras apenas:
relações entre eles, possibilitando um número infinito de enuncia-
a) I e II. b) I e III. c) II e III.
dos a partir de um número finito de símbolos.
d) I e IV. e) III e IV.
b) O animal não é portador dos códigos de linguagem e somente o
homem domina essa possibilidade de comunicação.
8. Sabemos que a cultura condiciona a visão que temos do mundo.
c) Trata-se de um código único e universal em que toda a humanidade
Sobre isso, julgue as colocações abaixo.
se compreende.
d) Obedece ao código genético e natural herdado pelos genitores. I. A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo.
e) Teve origem no hebraico, do qual surgiram todas as demais variações Homens de culturas diferentes usam as mesmas lentes, assim, a
de línguas faladas pelos homens. humanidade constitui uma unidade cultural.
II. Nossa herança cultural sempre nos condicionou a reagir
depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que
6. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem
como consequência a propensão para considerar o seu modo de vida agem fora dos padrões aceitos pela maioria.
como o mais correto e mais natural. Tal tendência é mais bem III. O modo de andar, de sentar, de rir ou comer pode refletir o universo
denominada de: da cultura de um indivíduo.
a) aculturação. b) xenofobia. c) preconceito. IV. A história da humanidade comprovou que determinada cultura
d) etnocentrismo. e) intolerância. resulta do nível de evolução em que se encontra o grupo social que
a abraça.
7. As pessoas se chocam, apenas, porque as outras comem coisas São coerentes:
diferentes, mas também pela maneira que agem à mesa (...) a) apenas I e II b) apenas I e III c) apenas II e III
Em algumas sociedades o ato de comer pode ser público, em outras, d) apenas III e IV e) apenas I e IV
uma atividade privada. Alguns rituais de boas maneiras exigem um forte
arroto, após a refeição, como sinal de agrado da mesma. Tal fato, entre 9. Para a antropologia cultural, o ponto fundamental de referência é:
nós, seria considerado, no mínimo como indicador de má educação. a) a dimensão filosófica do homem.
Entre os latinos, o ato de comer é um verdadeiro rito social, segundo o b) o elemento natural e universal das culturas.
qual, em horas determinadas, a família deve toda sentar-se à mesa (...). c) o grupo, e não a humanidade.
d) a evolução da História humana.
Sobre isso, julgue as colocações abaixo. e) a produção do mito, que não passa de uma elaboração pré-lógica do
I. O choque resulta do contato com uma cultura inferior, em razão dos pensamento.
rudimentos comportamentais dos indivíduos.

1) Os elementos de uma cultura fazem parte de um sistema cultural específico e só podem ser compreendidos na lógica própria daquele
sistema. Assim, um gesto ou uma crença totalmente incoerente para a nossa cultura fará absoluto sentido em outra.

2) E 3) C 4) E 5) A 6) D 7) E 8) C 9) C

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MÓDULO 6 Consciência, Alienação e Ideologia

CONSCIÊNCIA E ALIENAÇÃO indivíduo da classe dominante será diferente da


consciência daquele pertencente à classe dominada.
1. Introdução Para Marx, a história não era um processo conduzido
pela vontade dos homens, mas determinada, sobretudo,
Uma questão presente na história do pensamento pela forma como os homens produzem e reproduzem sua
sociológico é a que aborda a formação da consciência riqueza material. Percebia nessa ordem das coisas, as
humana. Para alguns a consciência social forma um todo relações de conflito, principalmente entre as classes
indivisível e externo ao indivíduo; para outros, ela é sociais, que apresentavam posições e interesses dife-
fragmentada e não confiável. rentes. Segundo esse pensador, existiam duas classes
Ligada ao tema da consciência, emerge o problema sociais: a classe dominante e a dominada. Na sociedade
da alienação, estudado principalmente pelos marxistas. de produção capitalista, a classe dominante está repre-
Não há como pensar a relação entre indivíduo e sociedade sentada pela burguesia, que detém os meios de produção
sem estudar um pouco sobre esses temas, e veremos que (donos de fábricas, por exemplo), e a classe dominada,
os sociólogos não compartilham a mesma opinião. pelo proletariado (a classe operária e camponesa) que,
nada possuindo, vende a sua força de trabalho como se
fosse uma mercadoria. As classes sociais são opostas e
interdependentes. Só existem proprietários que
acumulam riqueza porque há uma massa de
despossuídos. A isso chamamos de pensamento dialético
marxista.

O Brasil e os conflitos de classe estão representados na charge.

Laurent Courau. A mídia contribui para a formação da consciência 3. Teoria da Alienação


humana.
Para Marx, a classe dominada vivencia uma complexa
2. Os clássicos experiência de alienação. A indústria, a condição de
assalariado e a propriedade privada condenam o operário
Vimos no módulo 2 que para Durkheim a sociedade a uma situação de alienação, pois ela está separada do
não era a simples soma de indivíduos, mas uma realidade fruto do seu trabalho, que é o bem por ela produzido e
exterior ao indivíduo e dotada de um poder de coerção. que pertence ao patrão. A consciência também se
Vista como uma entidade psíquica exterior ao homem, a encontra alienada, pois os operários não necessariamente
sociedade resultaria da combinação de consciências se apercebem dessa condição de exploração.
individuais, formando a consciência coletiva, sobre a qual Politicamente, também ocorre uma experiência
se forma o tecido social. Já para Marx, não bastava a alienante. O princípio da representatividade pressupõe um
constatação de uma consciência coletiva. Na ótica Estado imparcial e que represente o conjunto de toda a
marxista, não é a consciência dos homens que determina sociedade. Para Marx, isso não acontece no capitalismo,
a sua existência, mas, ao contrário, a existência social é já que o Estado, na verdade, representa diretamente os
que determina a sua consciência. Além disso, não pode interesses da classe dominante.
haver uma única e externa consciência coletiva, como Enquanto para Durkheim a divisão social do trabalho
pensava Durkheim, porque, segundo Marx, a consciência gerava uma solidariedade, para Marx tal divisão implicava
é, no mínimo, consciência de classe, e por isso, outra situação de conflito e alienação: uma classe
fragmentada. Em outros termos, a consciência de um privilegiada tem acesso ao conhecimento filosófico e esse
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pensar parcial e classista torna-se o pensamento O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá
dominante e a visão geral da sociedade como um todo. adquirir quase nada do que está exposto no comércio,
Assim, a própria ciência, ou a própria sociologia, pode ser mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquanto
um saber que produz alienação. indivíduo e sim como classe social, quem produziu tudo
Segundo o pensamento marxista, o primeiro passo aquilo com seu trabalho e que não pode ter os produtos
para tirar o homem da condição de alienação e de porque o preço deles é muito mais alto do que o preço
exploração é fazer a crítica radical ao modo de produção dele, trabalhador, isto é, o seu salário.
vigente e daí trabalhar no sentido de acelerar o advento de Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho,
uma nova sociedade sem classes. Esse advento, mostrar aos outros as coisas que ele fabrica, ou, se
segundo Marx, já está inscrito na contradição do sistema comerciário, que ele vende, aceitando não possuí-las,
capitalista. como se isso fosse muito justo e natural. As mercadorias
deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e
4. Texto: As três formas da alienação social passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas
(como a propaganda as mostra e oferece). Na primeira
Podemos falar em três grandes formas de alienação forma de alienação econômica, o trabalhador está
existentes nas sociedades modernas ou capitalistas: separado de seu trabalho - este é alguma coisa que tem
1. A alienação social, na qual os humanos não se um preço; é um outro (alienus), que não o trabalhador.
reconhecem como produtores das instituições sociopo- Na segunda forma da alienação econômica, as
líticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam pas- mercadorias não permitem que o trabalhador se
sivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, reconheça nelas. Estão separadas dele, são exteriores a
divino ou racional, ou se rebelam individualmente, ele e podem mais do que ele. As mercadorias são um
julgando que, por sua própria vontade e inteligência, igualmente um outro, que não o trabalhador.
podem mais do que a realidade que os condiciona. Nos 3. A alienação intelectual, resultante da separação
dois casos, a sociedade é o outro (alienus), algo externo social entre trabalho material (que produz mercadorias) e
a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder trabalho intelectual (que produz ideias). A divisão social
total ou nenhum poder sobre nós. entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o
2. A alienação econômica, na qual os produtores não trabalho material é uma tarefa que não exige conheci-
se reconhecem como produtores, nem se reconhecem mentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o
nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos
sociedades modernas, a alienação econômica é dupla: conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os
– Em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:
social, vendem sua força de trabalho aos proprietários do – Primeiro, esquecem ou ignoram que suas ideias
capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a
bancos, das escolas, dos hospitais, das frotas de que pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam,
automóveis, de ônibus ou de aviões etc.). Vendendo sua ao contrário, que são ideias universais, válidas para todos,
força de trabalho no mercado da compra e venda de em todos os tempos e lugares.
trabalho, os trabalhadores são mercadorias e, como toda – Segundo, esquecem ou ignoram que as ideias são
mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário. Entre- produzidas por eles para explicar a realidade, passam a
tanto, os trabalhadores não percebem que foram crer que elas se encontram gravadas na própria realidade
reduzidos à condição de coisas que produzem coisas; não e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a
percebem que foram desumanizados e coisificados. forma de teorias gerais.
– Em segundo lugar, os trabalhadores produzem – Terceiro, esquecendo ou ignorando a origem social
alimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos de das ideias e seu próprio trabalho para criá-las, acreditam
consumo (pela indústria), instrumentos para a produção que as ideias existem em si e por si mesmas, criam a
de outros trabalhos (máquinas), condições para a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a
realização de outros trabalhos (transporte de matérias- pouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas
primas, de produtos e de trabalhadores). A mercadoria- as outras, são causas e efeitos umas das outras e que
trabalhador produz mercadorias. Estas, ao deixarem as somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas.
fazendas, as usinas, as fábricas, os escritórios e entrarem As ideias se tornam separadas de seus autores, externas
nas lojas, nas feiras, nos supermercados, nos shoppings a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro.
centers parecem ali estar porque lá foram colocadas (não As três grandes formas da alienação (social, eco-
pensamos no trabalho humano que nelas está cristalizado nômica e intelectual) são a causa do surgimento, da
e não pensamos no trabalho humano realizado para que implantação e do fortalecimento da ideologia.
chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também (CHAUÍ, Marilena. O Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.)
recebem um preço.
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Glossário 6. O Problema com a Ideologia


Alienação: Perda da razão, loucura, submissão cega a
valores e instituições com inconsciência da realidade. Áreas diversas do conhecimento, como a sociologia,
Produto da ação humana que torna o homem estranho a a filosofia e a educação esbarram com o problema da
si próprio. ideologia. Muitos pensadores identificam na ideologia o
Dialética: Argumentação habilidosa (Platão), pensamento ato de distorcer a visão da realidade com o objetivo de
ou método filosófico e científico que leva em reproduzir uma relação de dominação (econômica ou
consideração as contradições da realidade. política). A ideologia, nesse sentido, seria uma visão
fechada e irrefletida, e por isso mesmo, geralmente
apresenta-se como um pensamento rígido, doutrinário e
instrumental. Uma ideologia é vista aqui como fórmula
dogmática, pronta, no sentido de fabricada e que tudo
explica e esgota.
Em geral, podemos dizer que, no sentido aqui
Alienation,
Ricky empregado, uma ideologia visa à estrutura inconsciente,
Romain. O tal qual ocorre com as propagandas que incitam o
quadro indivíduo ao consumismo.
representa a Para outros autores, a ideologia representa apenas
condição
um referencial teórico. Uma espécie de coerência, capaz
alienada de
seres de dar consistência e conteúdo ao discurso ou à reflexão.
humanos. Ao ler um texto, portanto, cujo autor utiliza o conceito
ideologia, é preciso perceber em que sentido ele emprega
o termo.
IDEOLOGIA
No Brasil, a filósofa Marilena Chauí teorizou bem o
5. Introdução problema da ideologia e transcrevemos abaixo o seu
pensamento acerca do tema.
O termo “ideologia” adquiriu diferentes sentidos na
história das Ciências Humanas. No sentido mais amplo e
7. Texto: A ideologia
muito empregado pelo senso comum, significa um
conjunto de ideias. Para alguns pensadores, ideologia é
A alienação social se exprime numa “teoria” do
uma forma perversa de exercício de poder, adquirindo um
conhecimento espontânea, formando o senso comum da
sentido pejorativo. Ideologia pode ser entendida como
sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explica-
uma espécie de cimento cultural apropriado por um
ções e justificativas para a realidade tal como é
determinado grupo de pessoas.
diretamente percebida e vivida.
No conceito marxista, por exemplo, o termo ideologia
Um exemplo desse senso comum aparece no caso
está vinculado à ideia de alienação da consciência, pois
da “explicação da pobreza, em que o pobre é pobre por
se trata de um instrumento nas mãos da classe
sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade
dominante para escamotear a realidade.
divina ou por inferioridade natural. Esse senso comum
social, na verdade, é o resultado de uma elaboração
intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou
intelectuais da sociedade – sacerdotes, filósofos, cien-
tistas, professores, escritores, jornalistas, artistas –, que
descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista
da classe a que pertencem e que é a classe dominante de
sua sociedade. Essa elaboração intelectual incorporada
pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o
ponto de vista, as opiniões e as ideias de uma das classes
sociais – a dominante e dirigente – tornam-se o ponto de
vista e a opinião de todas as classes e de toda a
sociedade.
A função principal da ideologia é ocultar e dissimular
as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de
A imagem sugere a manipulação de homens. A indivisão e de diferenças naturais entre os seres
ideologia pode ser vista como uma forma de humanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes,
escamotear a verdade pelo que ela tem de irrefletida.
somos levados a crer que somos todos iguais porque
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participamos da ideia de “humanidade”, ou da ideia de família e chefe militar, a função reprodutora da mulher
“nação” e “pátria”, ou da ideia de “raça” etc. Diferenças tornou-se imprescindível, trazendo como consequência
naturais: somos levados a crer que as desigualdades sua designação prioritária para a maternidade.
sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela Estabelecidas essas condições sociais, era preciso
divisão social das classes, mas por diferenças individuais persuadir as mulheres de que seu lugar e sua função não
dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força provinham do modo de organização social, mas da
de vontade maior ou menor etc. Natureza, e eram excelentes e desejáveis. Para isso,
A produção ideológica da ilusão social tem como montou-se a ideologia do “ser feminino” e da “função
finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem feminina” como naturais e não como históricos e sociais.
as condições em que vivem, julgando-as naturais, Como se observa, uma vez implantada uma ideologia,
normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las passamos a tomar os efeitos pelas causas.
ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há A segunda maneira de operar da ideologia é a
uma contradição profunda entre as condições reais em produção do imaginário social, através da imaginação
que vivemos e as ideias. reprodutora. Recolhendo as imagens diretas e imediatas
Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos da experiência social (isto é, do modo como vivemos as
cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos relações sociais), a ideologia as reproduz, mas
sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, transformando-as num conjunto coerente, lógico e
sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de sistemático de ideias que funcionam em dois registros:
rua não têm direitos; os idosos não têm direitos; os como representações da realidade (sistema explicativo ou
direitos culturais das crianças nas escolas públicas são teórico) e como normas e regras de conduta e
inferiores aos das crianças que estão em escolas comportamento (sistema prescritivo de normas e
particulares, pois o ensino não é de mesma qualidade em valores). Representações, normas e valores formam um
ambas; os negros e índios são discriminados como tecido de imagens que explicam toda a realidade e
inferiores; os homossexuais são perseguidos como prescrevem para toda a sociedade o que ela deve e como
pervertidos etc. deve pensar, falar, sentir e agir. A ideologia assegura, a
A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, todos, modos de entender a realidade e de se comportar
pagar as dívidas e contribuir com os impostos já nos faz nela ou diante dela, eliminando dúvidas, ansiedades,
cidadãos, sem considerar as condições concretas que angústias, admirações, ocultando as contradições da vida
fazem alguns serem mais cidadãos do que outros. A social, bem como as contradições entre esta e as ideias
função da ideologia é impedir-nos de pensar nessas que supostamente a explicam e controlam.
coisas. Enfim, uma terceira maneira de operação da ideologia
é o silêncio. Um imaginário social se parece com uma
Os procedimentos da ideologia frase onde nem tudo é dito, nem pode ser dito, porque,
se tudo fosse dito, a frase perderia a coerência, tornar-se-
Como procede a ideologia para obter esse fantástico ia incoerente e contraditória e ninguém acreditaria nela.
resultado? Em primeiro lugar, opera por inversão, isto é, A coerência e a unidade do imaginário social ou ideologia
coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas vêm, portanto, do que é silenciado (e, sob esse aspecto,
últimas em efeitos. Ela opera como o inconsciente: este a ideologia opera exatamente como o inconsciente
fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica ideias e falsas descrito pela psicanálise).
causalidades. Por exemplo, a ideologia afirma que o adultério é
Por exemplo, o senso comum social afirma que a crime (tanto assim que homens que matam suas esposas
mulher é um ser frágil, sensitivo, intuitivo, feito para as e os amantes delas são considerados inocentes porque
doçuras do lar e da maternidade e que, por isso, foi praticaram um ato em nome da honra), que a virgindade
destinada, por natureza, para a vida doméstica, o cuidado feminina é preciosa e que o homossexualismo é uma
do marido e da família. Assim o “ser feminino” é colocado perversão e uma doença grave (tão grave que, para
como causa da “função social feminina”. alguns, Deus resolveu punir os homossexuais enviando
Ora, historicamente, o que ocorreu foi exatamente o a peste, isto é, a Aids).
contrário: na divisão sexual-social do trabalho e na divisão
dos poderes no interior da família, atribuiu-se à mulher Glossário
um lugar levando-se em conta o lugar masculino: como Escamotear: promover uma ilusão, esconder a verdade.
este era o lugar do domínio, da autoridade e do poder,
deu-se à mulher o lugar subordinado e auxiliar, a função
complementar e, visto que o número de braços para o
trabalho e para a guerra aumentava o poderio do chefe da

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1. “... Não é a consciência dos homens que determina a sua existência, II. Veiculam subliminarmente a crença da supremacia dos brancos,
é, pelo contrário, a sua existência que determina a sua consciência”. A enquanto suposta raça mais forte e inteligente em face dos demais
reflexão acima pode ser considerada expressão do método grupos étnicos do planeta.
a) Materialismo dialético. b) Sociologia compreensiva. III. Defendem a ideologia da igualdade necessária entre as classes, sem
c) Método dedutivo. d) Positivismo. a qual o mundo não poderia viver em paz e em harmonia.
e) Funcionalismo. IV. Reconhecem que os verdadeiros super-heróis não precisam de
superpoderes, desde que sejam pessoas boas e altruístas.
RESOLUÇÃO: Resposta: A

Assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
2. Para Marilena Chauí, a alienação intelectual é formada:
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
a) Pela venda da força de trabalho.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
b) Pela divisão entre o trabalho intelectual e o trabalho material.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
c) Pela ignorância de que as ideias têm origem natural.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
d) Pela impossibilidade de consumo por parte da classe operária. RESOLUÇÃO: Resposta: A
e) Por que os trabalhadores percebem que foram reduzidos a coisas.
RESOLUÇÃO: Resposta: B
6. Em uma aula de Filosofia, o professor trabalha com os textos
apresentados a seguir.
"Não podemos esquecer que toda prática social tem como ponto de
3. “Crianças de alta renda herdam saberes, cuja rentabilidade escolar partida a ideologia. Ela impregna tudo, até a própria ciência. Por isso é
é tanto maior quanto mais frequentemente esses imponderáveis de preciso cuidado ao filosofar, porque, sem o percebermos, podemos
atitude são atribuídos ao dom natural”. (P. Bourdieu) estar sendo governados pela ideologia, ideias que, a priori, já estão em
Isso acontece devido: nossas mentes". TELES, Maria Luiza S. Filosofia para jovens, Petrópolis:
a) a uma estratégia ideológica. Vozes, 1996, p. 70.
b) ao processo de aculturação. (http://www.escolainterativa.com.br)
c) à aquisição de capital social. "Meu partido
d) à incorporação lenta de capital cultural. É um coração partido
e) ao fato de se ter nascido com uma inteligência privilegiada. E as ilusões
RESOLUÇÃO: Resposta: A Estão todas perdidas
(...)
Meus heróis
4. São frases coerentes com o texto de M. Chauí: Morreram de overdose
I. A ideologia obstrui a reflexão e a percepção da realidade. Meus inimigos
II. O silêncio é o melhor antídoto contra os males da ideologia. Estão no poder
III.O imaginário social e o senso comum são espaços em que operam Ideologia!
as ideologias. Eu quero uma prá viver".
IV. Questões morais não apresentam jamais qualquer ligação com Cazuza e Roberto Frejat. (CD "O poeta está vivo")

questões ideológicas.
São coerentes: O professor pede a três estudantes uma definição do tema central da
a) apenas I e III. b) apenas II e III. c) apenas I e IV. aula e recebe as seguintes respostas:
d) apenas II e IV. e) apenas I e II. Ana – Ideologia é um sistema de ideias para explicar a realidade, e todos
nós precisamos de uma.
RESOLUÇÃO: Resposta: A Rodrigo – A ideologia governa, como um partido, o nosso pensamento
e a nossa ação. A filosofia pode revelar esta forma de comando.
Carlos – Ideologia é uma maneira de conhecer a verdade e a falsidade
das coisas, que pode ser verdadeira ou falsa, boa ou negativa.
5. O Super-Homem ganha poderes pelos efeitos dos raios solares, mas
tem uma fraqueza: o minério criptonita. O Homem-Aranha adquire
Dos textos apresentados e das respostas obtidas, conclui-se que
habilidades depois da picada de um aracnídeo. O Quarteto-Fantástico
a) Carlos define a temática de maneira coerente e justificada.
nasce dos efeitos de uma tempestade cósmica. Um a um, os elementos
b) Rodrigo foi o único a definir a proposta temática do professor.
da natureza tornam-se importantes para o nascimento de vários super-
c) Ana não articula, em sua definição, os dois textos propostos em aula.
heróis. Porém, mais do que superpoderosos, esses heróis de Histórias
d) Ana e Carlos não definem a temática central da aula.
em Quadrinhos (HQ) também “escondem um segredo”:
e) Ana e Rodrigo definem, com coerência, a proposta temática da aula.
I. Reforçam a ideologia de uma nação soberana, a estadunidense,
protegida dos inimigos, o que a credenciaria como mantenedora da RESOLUÇÃO: Resposta: B
liberdade mundial.

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1. Para Marx, a consciência social seria necessariamente fragmentada. a) O ser humano é o sujeito e autor da história.
Por quê? b) O ser humano não tem possibilidades de interferir no processo
a) Porque “cada um é cada um” e a interpretação do mundo é em histórico.
grande parte pessoal. c) A história é conduzida por grandes homens.
b) Porque é, no mínimo, consciência de classe. d) O motor da história é a vontade dos homens.
c) Porque a consciência depende da cultura e do país em que se nasce e) O desenvolvimento das forças produtivas é o motor da história.
e se vive.
d) Porque a existência humana resulta de reflexões individuais, de 6. Só existem proprietários que acumulam riqueza porque há uma
acordo com as experiências pessoais. massa de despossuídos. Esse pensamento marxista implica a ideia
e) Porque a consciência coletiva se transforma com as condições contida na alternativa:
históricas. a) Para a formação de uma sociedade, os pobres são necessários.
b) Sempre houve e sempre haverá pessoas pobres.
2. “... esquecendo ou ignorando a origem social das ideias e seu próprio
c) É da natureza humana o sentimento de ambição.
trabalho para criá-las, acreditam que as ideias existem em si e por si
d) O capitalismo se baseia na exploração do homem pelo homem.
mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a
e) A exploração do trabalho humano é condição natural das relações
pouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas as outras,
humanas.
são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos
delas ou instrumentos delas. As ideias se tornam separadas de seus
7. A condição de assalariado e a propriedade privada condenam o
autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro”.
operário a uma situação de alienação. Sobre isso leia e julgue as
(M. Chauí)
assertivas abaixo:
Analise as assertivas e assinale a alternativa que agrupa as coerentes
I. O trabalhador está separado do fruto do seu trabalho, que é o bem
com o pensamento da filósofa.
por ele produzido e que pertence ao patrão.
I. O texto refere-se a uma forma de alienação intelectual.
II. Na sociedade de economia planejada, o trabalhador não possui o
II. Naturaliza-se o mundo das ideias, ou seja, passa-se a aceitá-las sem
fruto do seu trabalho, pois tudo pertence ao governo que também
questionamento, porque, presume-se, são naturais, ignorando a sua
é uma forma de propriedade privada.
origem histórica e social.
III. Com esse processo, adquire-se autonomia de pensamento. III. Para Marx, a socialização dos meios de produção é o caminho para
São corretas (apenas): acabar com a alienação.
a) Todas. b) I e III. c) II e III. d) I. e) I e II. São verdadeiras (é verdadeira) apenas:
a) I e II. b) I e III. c) I. d) II. e) III.
3. A consciência de um indivíduo da classe dominante será diferente da
consciência daquele pertencente à classe dominada. Portanto, para 8. O princípio da representatividade pressupõe um Estado imparcial e
Marx, o conceito de consciência: que represente o conjunto de toda a sociedade. Para Marx, isso não
a) se assemelha ao conceito de Durkheim, pois trata-se de consciência acontece no capitalismo:
social e coletiva. a) Pois o Estado, na verdade, representa diretamente os interesses da
b) se assemelha ao conceito de Durkheim, uma vez que, para os dois classe dominante.
pensadores, a consciência é sempre de classe. b) Pois o Estado representa os interesses da classe dominada.
c) diverge do conceito durkheimiano, pois, para o primeiro, a c) Pois a população não se envolve em processos políticos.
consciência é um todo uniforme. d) Pois o Estado burguês é marcado pelo autoritarismo político.
d) diverge do conceito de Durkheim pois para o primeiro a consciência e) Pois a burguesia representa os interesses do Estado e os operários
é fragmentada. não se interessam por política.
e) está fundamentado na concepção positivista, com base na ideia de
solidariedade social. 9. Para Durkheim, a consciência coletiva constituiria uma realidade
homogênea e indiferenciada. Para Marx, a consciência social seria
4. Na sociedade de produção capitalista, a classe dominante está necessariamente fragmentada. Por quê? Comente, tecendo uma relação
representada pela burguesia, que detém os meios de produção (donos com o pensamento dialético marxista.
de fábricas, por exemplo), e a classe dominada, pelo proletariado (a
classe operária e camponesa) que, nada possuindo, vende a sua força
de trabalho como se fosse uma mercadoria. Tal concepção teórica é do 10. Comente a colocação abaixo:
clássico: “...esquecendo ou ignorando a origem social das ideias e seu próprio
a) Max Weber. b) Émile Durkheim. trabalho para criá-las, acreditam que as ideias existem em si e por si
c) Karl Marx. d) Augusto Comte. mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a
e) Émile Rousseau. pouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas as outras,
são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos
5. Para Marx, a história não era um processo conduzido pela vontade delas ou instrumentos delas. As ideias se tornam separadas de seus
dos homens, mas determinada, sobretudo, pela forma como os homens autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro”.
produzem e reproduzem sua riqueza material. Assim, para esse autor
(M. Chauí)
clássico:

46 –
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11. Ao ler o texto de M. Chauí, percebe-se que, para essa autora, verdade, de inferioridade de intelecto, cultural e social.
naturalizar é fazer uso de ideologia. Comente. IV. Para entender a pobreza é preciso enraizar o problema, ou seja,
entendê-lo no seu percurso histórico.
12. Para Marilena Chauí, ideologia e realidade não coincidem, pois: V. Sempre houve e sempre haverá pobres, pois é da natureza humana
a) A realidade é inapreensível. a ambição de acumular riqueza.
b) A realidade está sempre camuflada de ideologia. São verdadeiras e coerentes com uma visão sociológica moderna
c) A ideologia é um conhecimento espontâneo do senso comum. (apenas):
d) A ideologia é um conjunto de ideias e as ideias jamais conseguem a) I e II. b) I e III. c) III e IV. d) II e IV. e) I e IV.
representar a realidade.
e) Ideologia é elaborada pelo intelecto, enquanto a realidade é 17. O termo ideologia está vinculado à ideia de alienação da consciência,
apreendida pelo senso comum. pois:
a) Trata-se de um instrumento nas mãos da classe dominante para
13. As ideologias são explicações e justificativas imaginadas da realidade escamotear a realidade.
e, portanto: b) Trata-se de um conjunto coerente de ideias.
a) Legitimam a realidade, reproduzindo-a. c) Trata-se de uma operação intelectual inofensiva do senso comum.
b) Elucidam a verdade acerca dos fenômenos naturais e culturais. d) Trata-se de uma interpretação marxista da realidade.
c) Retratam a realidade de forma coerente e sem outras e) Trata-se de uma manifestação intelectual elaborada por classes
consequências. subalternas.
d) São explicações inofensivas do senso comum, elaboradas pelo
imaginário popular. 18. Observe a figura e assinale a alternativa que a interpreta melhor.
e) São criadas espontaneamente sem qualquer interferência da
inteligência humana.

14. A ideologia tem por finalidade fazer com que as classes sociais
aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais,
corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las
realmente, sem questioná-las, sem levar em conta que há uma
contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as
ideias. Ao invés de naturalizar os fatos sociais, seria necessário um
entendimento das circunstâncias históricas que os originaram. Nesse
sentido, podemos dizer que:
a) A ideologia é o processo de desnaturalizar a realidade.
b) A ideologia funciona como uma luz que mostra a verdade natural dos
fenômenos sociais.
c) Naturalizar é fazer uso da ideologia.
d) É um equívoco supor que a realidade independe da ideologia.
e) O conhecimento deve abarcar ideologicamente a realidade para
perceber a coerência e naturalidade dos processos sociais. a) A imagem sugere a manipulação que a classe dominada exerce
sobre a dominante.
15. Sobre a relação entre ideologia e realidade, leia e julgue as
b) A imagem sugere a manipulação de homens. A ideologia pode ser
proposições abaixo.
vista como uma forma de escamotear a verdade pelo que ela tem de
I. A ideologia obstrui a reflexão e a percepção da realidade.
irrefletida.
II. O silêncio é o melhor antídoto contra os males da ideologia.
c) A imagem sugere a influência que a mídia exerce sobre o comporta-
III. O imaginário social e o senso comum são espaços em que operam
mento, dando-lhes mais informação e autonomia de conhecimento.
as ideologias.
d) A imagem reflete os movimentos autônomos que expressam certa
IV. Questões morais não apresentam jamais qualquer ligação com
liberdade por parte daqueles que se deixam conduzir por ideologias.
questões ideológicas.
e) A imagem revela que as relações humanas são sempre frutos de
São coerentes:
manipulações do poder.
a) apenas I e III. b) apenas II e III.
c) apenas I e IV. d) apenas II e IV. 19. A ideologia tem um papel conservador porque:
e) apenas I e II. a) Reproduz a ordem necessária para assegurar uma sociedade sem
conflitos.
16. Há pessoas que explicam a pobreza atribuindo culpa própria b) Conserva as relações sociais estáveis, sem grandes alterações
(preguiça ou e ignorância), vontade divina ou inferioridade natural. Sobre indesejáveis do ponto de vista da ordem e justiça.
isso, julgue as assertivas abaixo. c) É contra os modismos da modernidade.
I. Atribuir à culpa pessoal é coerente, pois, de fato, a riqueza sempre d) Reproduz estruturas sociais tradicionais, valorizando aspectos da
resulta de méritos e esforços pessoais. cultura que podem se esgotar com o avanço do progresso.
II. Nos três casos está-se fazendo uso de ideologia, pois ignora-se as e) É a elaboração intelectual da classe dominante que reproduz o poder
raízes sociais e históricas da pobreza. quando é incorporada pelo senso comum.
III. Falar em inferioridade natural é um equívoco, pois trata-se, na

– 47
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20. Sobre a questão da ideologia, leia e julgue as assertivas abaixo. 21. O problema da ideologia esbarra com a questão do tabu. Assinale a
I. A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões alternativa que expressa melhor essa afirmação.
sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças a) A ideologia escamoteia a realidade.
naturais. b) O discurso ideológico não resulta da reflexão filosófica.
II. A indivisão significa que, apesar da divisão de classes, somos c) A ideologia pode ser acompanhada da reflexão social e coerente da
levados a crer que somos todos iguais. realidade.
III. A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer d) A sociologia pode fazer uso da ideologia política.
com que todas as classes sociais percebam as condições em que e) Acredita-se que certos assuntos não devem ser questionados.
vivem, julgando-as injustas.

São verdadeiras (é) apenas: 22. Cite exemplos em que pode estar operando uma ideologia.
a) I e II. b) II e III. c) I e III. d) II. e) III.

1) B 2) E 3) D 4) C conhecê-las realmente, sem questioná-las, sem levar em conta


que há uma contradição profunda entre as condições reais em
5) E 6) D 7) B 8) A que vivemos e as ideias. Ao invés de naturalizar oe fatos
sociais, seria necessário um entendimento das circustâncias
9) Para Marx, a consciência dos homens é consciência de classe, históricas que os originaram.
ou seja, a consciência de um indivíduo da classe dominante
será diferente daquele da classe dominada. Convém lembrar 12) C 13) A 14) C 15) A
que para Marx a consciência é passível de alienação.
16) D 17) A 18) B 19) E
10) O texto refere-se a uma forma de alienação intelectual.
Naturaliza-se o mundo das ideias, ou seja, passa-se a aceitá- 20) A 21) E
las sem questionamento, porque, presume-se, são naturais,
ignorando a sua origem histórica e social. Perde-se o conceito 22) (sugestão) Dizer que o dinheiro não traz felicidade, embora de
de autonomia de pensamento. certa forma seja verdade, parece soar como estímulo para um
contentamento com a situação de pobreza.
11) A ideologia tem por finalidade fazer com que as classes sociais O racismo, outro exemplo, é uma construção histórica, mas
aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, acreditar na inferioridade natural de uma raça é fazer uso de
normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou ideologia que objetiva a dominação de um grupo sobre outro.

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MÓDULO 7 Status, Papel e Mobilidade Social

1. Introdução

Para melhor articular a ciência social, torna-se


necessário o domínio de categorias científicas próprias.
Nesse capítulo estão colocados alguns conceitos básicos
da sociologia e todos foram colhidos do livro Introdução à
Sociologia, de Sebastião Vila Nova, com algumas
adequações de linguagem e de exemplo.
Note-se que alguns conceitos adquirem um sentido
mais amplo e diferente de quando usados pelo senso
comum. O termo status, por exemplo, é comumente
identificado com a ideia de privilégio social ou posição de
destaque na sociedade. Em sociologia, veremos que
todos os indivíduos possuem status.

Todos na sociedade ocupam um status. Foto: Mariana Cavalcanti


2. Status Social
3. Papel Social
Toda sociedade é formado por um sistema de status
ou posições. Status é a localização do indivíduo na A cada status ocupado pelo indivíduo corresponde
hierarquia social, de acordo com a sua participação na um papel social. Papel é o conjunto de expectativas de
distribuição desigual de riqueza, de prestígio e poder. comportamento padronizado em relação a cada uma das
Onde quer que exista desigualdade de status, tende a posições existentes em uma sociedade. Em outros
haver alguma forma de manifestação de poder. termos, papel é o comportamento esperado dos indiví-
É próprio da condição social do homem ocupar duos em determinados status. O papel é, portanto, a
posições com direitos e deveres preestabelecidos expressão comportamental do status, a sua concretização
independentemente dos indivíduos. Onde quer que esteja em ações.
o indivíduo na sociedade, ele estará ocupando alguma Dizer que uma pessoa desempenha um ou mais
posição. O homem, portanto, é um animal que ocupa papéis sociais implica dizer que ele é um ator social. Isso
posições. É comum, na linguagem cotidiana, o emprego não significa que o indivíduo que assume um papel seja
do termo status mais ou menos como sinônimo de um hipócrita, ou ainda, que o comportamento social seja
prestígio; contudo, todas as pessoas ocupam inevita- inautêntico. Trata-se de uma metáfora: o papel é repre-
velmente posições na sociedade, quer sejam superiores sentado de acordo com as expectativas da sociedade.
ou inferiores. Ter status, portanto, não significa ter muito Que comportamento se espera de um professor em sala
prestígio ou poder, mas possuir uma posição específica de aula? Poderá uma autoridade militar usar a mesma
na hierarquia social. severidade exigida na hierarquia militar em suas relações
Um indivíduo pode ocupar várias posições. Dentro do de família? Claro que a vida social exige constante
grupo familiar, terá um determinado status; na empresa, representação e o comportamento humano tende a variar
outro. É possível que um homem seja o último na de acordo com o ambiente, objetivos, status e papel que
hierarquia da empresa em que trabalha, mas que seja se esteja representando. O modo pessoal e o perfil
uma autoridade importante na comunidade religiosa que
psicológico de cada indivíduo não são objetos específicos
frequenta, por exemplo.
de estudo da sociologia, pois a esta interessam os
Os status são ocupados pelos indivíduos, mas são
fenômenos que se repetem e são previsíveis.
fatos que independem deles. Em outros termos, os
indivíduos não são os seus status. Isso torna compreen-
4. Estratificação Social
sível que uma autoridade política, por exemplo, afirme não
ser o presidente, mas estar presidente.
Estratificação social é o processo ou o estado de
Convém aqui distinguir prestígio de estima. O
localização hierárquica dos indivíduos em setores
prestígio de um médico é determinado pelo seu status, já
relativamente homogêneos da população quanto aos
a sua estima depende do desempenho pessoal enquanto
interesses, ao estilo de vida e às oportunidades, segundo
médico.
– 49
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a sua participação na desigual distribuição de recom-


pensas socialmente valorizadas (riqueza, poder e 5. Mobilidade Social
prestígio).
A sociedade de classes é um tipo de estratificação. Mobilidade social é a locomoção dos indivíduos no
Na Índia, em que existe o sistema de castas (divisão sistema de posições da sua sociedade. A mobilidade
baseada nas profissões), e na Europa medieval encon- pode ser horizontal ou vertical. Horizontal, quando o
tramos sociedades estamentais. São modelos em que indivíduo muda o status, mas permanece na mesma
não existe a mobilidade social. camada social; vertical, quando a mudança de status
Não se pode afirmar que todas as sociedades implica em mudança de camada, podendo ser
conheçam a estratificação social. Todas as sociedades ascendente ou descendente. Mudar de emprego não
conhecem algum tipo de desigualdade, mas nem todas necessariamente implica mudança de oportunidade,
conhecem a estratificação. Desigualdade de direitos e de porém, por vezes, as oportunidades de vida podem
deveres e diferenciação de posições não implicam aumentar ou diminuir.
estratificação. Esta é apenas um tipo complexo de As oportunidades de mudança de status variam de
desigualdade. Nas sociedades tribais, a estratificação é sociedade para sociedade. Nas sociedades tradicionais
muito rara. aristocráticas, essas possibilidades são muito reduzidas.
A estratificação social só existe quando surgem Já as sociedades secularizadas, isto é, de organização
amplos setores da população detentores de interesses, social predominantemente racional, utilitária e nas quais a
formas de participação na produção de bens econômicos, tradição é de menor importância, tendem a dar mais
qualidade e volume de consumo, estilo de vida e oportunidades de mudança de status aos seus membros.
oportunidades de vida, relativamente homogêneos, de De qualquer forma, em nossa sociedade moderna,
modo a formarem unidades sociais identificáveis como classista, a possibilidade de mudança pode criar a ilusão
tais e dispostas em uma hierarquia culturalmente de uma sociedade de fato economicamente democrática,
convencionada. Nas sociedades tribais, em geral, quando, na verdade, sabe-se que as oportunidades de
encontramos uma distribuição igualitária de bens mudança na estratificação são raras e difíceis.
econômicos e por isso não são sociedades estratificadas.

O país das surpresas

Ao contrário do que muitos imaginam, o Brasil, conhecido faziam parte da elite, o que significa que os outros 82%
por seus altos índices de desigualdade, é também a terra das ascenderam recentemente, no intervalo de apenas uma
oportunidades, o que lhe permite ser o campeão mundial da geração, por mérito ou esforço próprio. Desse total, cerca de
mobilidade social, diz professor da USP. 20% são filhos de agricultores – na maioria, analfabetos –,
ANDRÉ CHAVES DE MELO enquanto 16% são membros de famílias em que o pai era
trabalhador da construção civil (serventes e pedreiros). Mas, de
Apesar de ser um dos campeões mundiais no quesito uma maneira geral, mais da metade dos membros da elite
desigualdade, paradoxalmente o Brasil é o país que apresenta, brasileira atual são descendentes de trabalhadores braçais ou
ao mesmo tempo, o mais alto índice de mobilidade social. Essa manuais. “A mobilidade social brasileira é tão grande que
é uma das principais conclusões obtidas pelo sociólogo José impressiona meus colegas sociólogos do mundo todo”, afirma
Pastore, professor da Faculdade de Economia, Administração e Pastore. (...)
Contabilidade (FEA) da USP, especialista em relações do trabalho Mobilidade coletiva – Existem diferentes conceitos de
e desenvolvimento, que tem se dedicado ao tema por mais de mobilidade social. O utilizado por Pastore considera a
três décadas, tendo, inclusive, em 1999, publicado um livro movimentação das pessoas pelas classes sociais, enquanto há
sobre a questão em que são apresentados os resultados de outro que prioriza o impacto dos benefícios coletivos ao longo
suas pesquisas, em parceria com Nelson do Valle Silva, dos anos na melhoria da qualidade de vida de uma sociedade,
intitulado Mobilidade social no Brasil (Makron Books). Ao tais como as iniciativas nas áreas da educação e da saúde,
concentrar, em um de seus trabalhos, seu olhar sobre a camada também conhecido como mobilidade coletiva. Partindo dessa
mais rica da população, formada por 5% dos brasileiros – com concepção, recentemente a Organização das Nações Unidas
maior renda e melhor nível educacional –, Pastore descobriu (ONU) divulgou uma pesquisa em que o Brasil aparece como o
dados surpreendentes, como o fato de que apenas 18% dos país onde, coletivamente, as pessoas mais melhoraram de vida
que formam o topo da sociedade possuem antepassados que já nos últimos 28 anos. Para chegar a esse resultado, a pesquisa

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levou em consideração a taxa de analfabetismo, a taxa de baixo grau de escolaridade e que a maioria conseguiu obter o
matrícula no Ensino Fundamental, a longevidade da população, diploma universitário.
o Produto Interno Bruto (PIB) e a renda per capita dos países. Educação e posição social – De acordo com Menezes, o
Ambos os estudos são complementares, pois enquanto Pastore grande desafio para o aumento da mobilidade social a partir da
analisa as chances de alguém progredir contornando as educação é a ampliação das vagas de nível superior. “As
limitações sociais impostas pela renda familiar, pela escolaridade universidades públicas ainda podem aumentar suas vagas, mas
dos pais e pelas condições macroeconômicas, a ONU analisa há limites nesse processo”, afirma. “Uma das melhores
se o conjunto de habitantes de cada país está vivendo em soluções é a ampliação do financiamento dos estudos dos
condições mais dignas. jovens de baixa renda por meio do crédito educativo, em que
Para Naércio Menezes Filho, também professor da FEA, o os estudantes podem pagar, após se formarem e conseguirem
Brasil cresceu muito em termos econômicos nas décadas de emprego, um empréstimo concedido a juros bem baixos, usado
60, 70 e 80, o que permitiu aos ricos ficarem mais ricos e aos para pagar as mensalidades do curso e para seu sustento nesse
pobres melhorarem de vida. “O que acontece é que a elite período”, defende. “Nos últimos anos houve ampliação das
brasileira cresceu, incorporando pessoas de origem humilde e vagas nas universidades e no Ensino Médio de maneira
preservando seus integrantes mais antigos”, afirma. “As proba- proporcional, o que levou à preservação do gargalo, ou seja, da
bilidades de uma pessoa com pais ricos e bem-educados não situação em que não há vagas em quantidade suficiente para
conseguir se manter na mesma situação são pequenas, suprir a demanda gerada pelos alunos que obtêm o diploma do
enquanto as chances de alguém de origem modesta ascender Ensino Médio. É uma solução para essa equação que
também são menores, apesar de existirem.” precisamos conseguir.” (...)
Segundo Menezes, se considerarmos que mobilidade social Outra característica que chama a atenção na mobilidade
inclui a troca de posições de cima para baixo e vice-versa, a social brasileira é que, aqui, muitas vezes a pessoa parte de um
mobilidade social no Brasil é pequena. Mas, se a metodologia de ponto muito baixo da pirâmide social e consegue chegar até o
pesquisa levar em conta o movimento de baixo para cima, a topo, enquanto em outros países, principalmente nos ricos, as
mobilidade social brasileira aparecerá como um fenômeno social pessoas normalmente partem de uma situação um pouco
grande. “O conceito de mobilidade social varia conforme a melhor, do meio do caminho. A cultura do consumo também
metodologia empregada nos estudos.” Apesar de os mais ricos está relacionada. Pesquisas mostram que o consumismo da
dificilmente perderem sua posição social, o estudo de Pastore e população norte-americana aquece a economia, gerando
Silva e o da ONU apontam que a sociedade brasileira produziu, oportunidades para novos empreendedores, tendência que,
pelos menos nas últimas três décadas, portas de acesso para os consideradas as devidas proporções, existe em outros países
mais pobres poderem atingir melhores condições de vida. Entre novos, notadamente nos do continente americano, do qual o
esses mecanismos, a educação, principalmente a de nível Brasil faz parte. No caso dos países da Europa Ocidental, em
superior, aparece em lugar de destaque. Levantamento feito por razão da menor propensão ao consumo e da excelente
Pastore mostra que 95% dos ocupantes dos cargos do primeiro distribuição de renda, a mobilidade social acaba sendo
escalão do governo federal vêm de famílias cujos pais possuem extremamente baixa.

1. Observando os conceitos de status e papéis sociais é possível 2. Sobre a ideia de papel e status sociais, marque a alternativa incorreta:
chegar à ideia a respeito das relações sociais, que, por sua vez, pode ser a) Chamamos de papéis sociais as regras de condutas ou normas que
explicada como: são esperadas pela sociedade em relação as posições ocupadas
a) noção de individualidade desenvolvida em cada pessoa. pelas pessoas dentro dos diversos momentos de convivência.
b) comunicação entre membros de uma sociedade. b) Os papéis sociais são explicados como o conjunto de expectativas
c) reflexão filosófica e social a respeito da essência de um sistema associadas a um determinado status social.
social. c) O status de um indivíduo pode ser notado em razão da sua profissão
d) as formas de relacionamentos insertas nas atividades industriais das ou do seu lugar na hierarquia familiar.
sociedades modernas. d) O “status” seria a posição de uma pessoa em um sistema, enquanto
e) as possíveis ocorrências de segregação étnica existentes nas diversas o “papel” seria a dinâmica do espaço.
sociedades. e) O status social seria toda e qualquer conduta estabelecida pelas
normas de um sistema social em relação aos diversos papéis,
RESOLUÇÃO:
Resposta: B ou seja, posições que ocupamos nos diversos espaços existentes.

RESOLUÇÃO:
Resposta: E

– 51
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3. O Termo “relações sociais” está ligado 7. No conceito sociológico, ter status é


a) ao processo de interação entre diversos atores sociais em a) possuir bens. b) possuir prestígio.
determinados papeis sociais. c) possuir estima pessoal. d) possuir poder.
b) somente à comunicação das pessoas. e) ocupar uma posição hierárquica.
c) a questões profissionais dos atores sociais.
RESOLUÇÃO:
d) a um entendimento dos homens em sociedade a respeito da Resposta: E
produção de riquezas.

RESOLUÇÃO:
Resposta: A

4. Sobre o conceito de status, julgue as assertivas abaixo e assinale a


alternativa que agrupa somente as verdadeiras. 8. (ENEM-2013)
I – Toda sociedade é formado por um sistema de status ou posições. TEXTO I
II – Status é a localização do indivíduo na hierarquia social, de acordo Ela acorda tarde depois de ter ido ao teatro e à dança; ela lê romances,
com a sua participação na distribuição desigual de riqueza, de além de desperdiçar o tempo a olhar para a rua da sua janela ou da sua
prestígio e poder. varanda; passa horas no toucador a arrumar o seu complicado penteado;
III – Onde quer que exista igualdade de status, tende a haver alguma um número igual de horas praticando piano e mais outras na sua aula de
forma de manifestação de poder.
francês ou de dança.
IV – Status define uma posição perene (permanente e definitiva), Comentário do Padre Lopes da Gama acerca dos costumes femininos (1839)
inseparável e própria que cada indivíduo possui ao nascer numa apud SILVA, T. V. Z. Mulheres, cultura e literatura brasileira. Ipotasi –
determinada sociedade. Revista de Estudos Literários. Juiz de Fora, v. 2. n. 2, 1998.
a) I e III b) I e II c) II e IV
d) III e IV e) I e IV TEXTO II
As janelas e portas gradeadas com treliças não eram cadeias confessas,
RESOLUÇÃO:
positivas; mas eram, pelo aspecto e pelo seu destino, grandes gaiolas,
Resposta: B
onde os pais e maridos zelavam, sonegadas à sociedade, as filhas e as
esposas.
MACEDO, J. M. Memórias da Rua do Ouvidor (1878). Disponível em:
5. O modo pessoal e o perfil psicológico de cada indivíduo, analisando www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 maio 2013 (adaptado).
a forma como cada um desempenha seus papéis, não são objetos
específicos de estudo da sociologia, pois A representação social do feminino comum aos dois textos é o(a)
a) a psicologia e a sociologia divergem e não chegam a um acordo a) submissão de gênero, apoiada pela concepção patriarcal de família.
teórico. b) acesso aos produtos de beleza, decorrência da abertura dos portos.
b) a esta cabem apenas os fenômenos isolados e singulares. c) ampliação do espaço de entretenimento, voltado às distintas classes
c) a esta interessam os fenômenos que se repetem e previsíveis. sociais.
d) a esta cabem apenas os estudos dos problemas sociais, como a d) proteção da honra, mediada pela disputa masculina em relação às
violência e a fome. damas da corte.
e) esta ciência é muito recente e ainda não possui critérios confiáveis e) valorização do casamento cristão, respaldado pelos interesses
de análise nesse caso. vinculados à herança.
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO:
Resposta: C
Os textos enfatizam aspectos comportamentais do papel da
mulher em sociedades tradicionais: no texto I, a visão construída
de mulher ideal, educada e arrumada, porém controlada e
sonegada à sociedade, o que é enfatizada no texto II.
6. Prestígio e estima são conceitos Resposta: A
a) semelhantes. São conceitos iguais que definem o status de uma
pessoa.
b) diferentes, o prestígio de uma pessoa é determinado pelo seu status,
já a sua estima, depende do seu desempenho pessoal.
c) diferentes. O prestígio é meramente econômico e a estima está
restrita aos círculos familiares.
d) diferentes, pois a estima é a atenção pública que um indivíduo
consegue reter e prestígio depende exclusivamente da sua posição
econômica e de poder aquisitivo.
e) são conceitos contrários e não complementares.
RESOLUÇÃO:
Resposta: B

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1. Sobre o conceito sociológico de status social, é correto afirmar que: 5. Que comportamento se espera de um professor em sala de aula?
a) Todo indivíduo ocupa um único status na sociedade em que vive. Poderá uma autoridade militar usar a mesma severidade exigida na
b) Um indivíduo ocupa permanentemente o seu status. hierarquia militar em suas relações de família? Dessa questão conclui-
c) Status significa possuir elevado padrão de vida e consumo. se que
d) Desigualdade de status tende a gerar relações de dominação ou poder. a) o papel é representado de acordo com as expectativas da sociedade.
e) Nem todos os indivíduos possuem status na sociedade. b) a sociedade, para funcionar, exige uma estrutura social hierarquizada
e estratificada.
2. Existem diferentes conceitos de mobilidade social. O utilizado por
c) o conceito de desigualdade de status revela as relações de classe da
Pastore considera a movimentação das pessoas pelas classes sociais,
sociedade capitalista.
enquanto há outro que prioriza o impacto dos benefícios coletivos ao longo
d) a sociedade moderna vive uma crise da noção de autoridade e papel
dos anos na melhoria da qualidade de vida de uma sociedade, tais como
as iniciativas nas áreas da educação e da saúde, também conhecido como social.
mobilidade coletiva. Partindo dessa concepção, recentemente a e) numa sociedade moderna, as relações de autoridade são diluídas e
Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou uma pesquisa em que o a estratificação social diminui com o advento da tecnologia e progresso.
Brasil aparece como o país onde, coletivamente, as pessoas mais
melhoraram de vida nos últimos 28 anos. Para chegar a esse resultado, a 6. Os status são ocupados pelos indivíduos, mas são fatos que inde-
pesquisa levou em consideração a taxa de analfabetismo, a taxa de pendem deles. Isso significa que:
matrícula no ensino fundamental, a longevidade da população, o Produto a) Os indivíduos já nascem com o status social.
Interno Bruto (PIB) e a renda per capita dos países. Assim, o melhor índice b) O status é único e o indivíduo o carrega para sempre.
para se chegar a essa conclusão seria: c) O status é definido pelos bens que se possui.
a) O PIB per capita. d) Os indivíduos não são os seus status.
b) O Produto Nacional Bruto. e) O homem é definido pelo que tem e não pelo que é.
c) O Índice de Desenvolvimento Humano.
d) O padrão de consumo da classe dominante. 7. Estratificação social é o processo, ou o estado de localização hierár-
e) A balança comercial do país. quica dos indivíduos em setores relativamente homogêneos da popu-
lação quanto aos interesses, ao estilo de vida e às oportunidades,
3. “As probabilidades de uma pessoa com pais ricos e bem-educados segundo a sua participação na desigual distribuição de recompensas
não conseguir se manter na mesma situação são pequenas, enquanto socialmente valorizadas (riqueza, poder e prestígio). Partindo dessa
as chances de alguém de origem modesta ascender também são colocação, julgue as assertivas abaixo e assinale a alternativa que agrupa
menores, apesar de existirem.” (Naércio Menezes Filho) as verdadeiras.
A partir do texto é possível afirmar que: I. A sociedade de classes é um tipo de estratificação.
a) Vivemos uma meritocracia, ou seja, cada cidadão possui o que de II. Na Índia, em que existe o sistema de castas (divisão baseada nas
fato merece pelo seu desempenho e esforço pessoal. profissões), e na Europa medieval encontramos sociedades esta-
b) Vivemos numa sociedade estamental, ou seja, em que não ocorre a mentais. São modelos em que a mobilidade social é intensa.
mobilidade social. III. Todas as sociedades conhecem a estratificação social.
c) O capitalismo é um sistema que facilita a mobilidade social. IV. Todas as sociedades conhecem algum tipo de desigualdade, mas
d) As relações sociais do sistema capitalista são democráticas à medida nem todas conhecem a estratificação.
que se vê coesão entre classes e intensa mobilidade social. V. Desigualdade de direitos e de deveres e diferenciação de posições
e) Apesar de a mobilidade social existir, ela é dificultada pela estrutura não implicam estratificação.
econômica, que tende a reproduzir o sistema desigual. a) I, II e III. b) II e IV. c) I, IV e V.
d) II, III e V. e) III, IV e V.
4. A desigualdade é um conceito mais amplo. Em muitas sociedades,
por exemplo, existem desigualdades de prestígio de acordo com a idade 8. “Ao contrário do que muitos imaginam, o Brasil, conhecido por seus
ou o gênero. Porém, a estratificação refere-se a um tipo de desigualdade altos índices de desigualdade, é também a terra das oportunidades, o
especificamente de condição econômica. Uma sociedade está estratifi- que lhe permite ser o campeão mundial da mobilidade social, diz
cada quando apresenta grupos de pessoas que ocupam mais ou menos professor da USP”.
a mesma condição de poder aquisitivo e privilégios econômicos, Assim, pode-se dizer que o Brasil;
estabelecendo diferentes classes. A partir da leitura do texto, julgue as a) é uma autêntica democracia econômica.
assertivas abaixo: b) é o país que mais cresceu economicamente nas últimas décadas.
I. O conceito de desigualdade e estratificação são similares. c) é um país de paradoxos e contradições.
II. A desigualdade implica sempre diferenças econômicas. d) é um país socialmente igualitário.
III. A estratificação implica diferenças de poder aquisitivo. e) é um país equitativo, ou seja, que oferece chances iguais para todos.
IV. Quando o texto fala de grupos de pessoas que ocupam mais ou
menos a mesma condição de poder econômico, está se referindo à 9. Em nossa sociedade moderna, classista, a possibilidade de mudança
sociedade de classes. pode criar a ilusão de uma sociedade de fato economicamente
São verdadeiras apenas: democrática, quando, na verdade, sabe-se que as oportunidades de
a) I e II. b) I e III. c) II e IV. mudança na estratificação são raras e difíceis.
d) III e IV. e) I e IV.
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Leia e julgue as duas proposições abaixo com base no texto. 10. Leia as definições abaixo.
I. A sociedade de classes raramente possui um sistema justo, já que I. É a localização do indivíduo na hierarquia social, de acordo com a sua
as chances de projeção econômica de indivíduo são muito desiguais. participação na distribuição desigual de riqueza, de prestígio e poder.
II. Nas sociedades tradicionais aristocráticas, as possibilidades de II. É o conjunto de expectativas de comportamento padronizado em
mobilização social são muito reduzidas. Já as sociedades secula- relação a cada uma das posições existentes em uma sociedade.
rizadas, isto é, de organização social predominantemente racional, Os conceitos definidos em I e II são, respectivamente:
utilitária e nas quais a tradição é de menor importância, tendem a a) Papel e status. b) Status e papel.
dar mais oportunidades de mudança de status aos seus membros. c) Estratificação e mobilidade. d) Prestígio e estima.
e) Estima e prestígio.
Assinale a alternativa:
a) Se a primeira for falsa e a segunda verdadeira. 11. Explique a diferença do conceito de status e papel social.
b) Se a primeira for verdadeira e a segunda, falsa.
12. Todas as pessoas têm status? Explique.
c) Se as duas forem falsas.
d) Se as duas forem verdadeiras, porém contraditórias.
13. Diferencie o conceito desigualdade e estratificação.
e) Se as duas forem verdadeiras e a primeira estiver relativizando a
segunda. 14. Em que sociedades as condições de mobilidade social são mais
difíceis?

1) D 2) C 3) E 4) D 5) A

6) D 7) C 8) C 9) E 10) B

11) Status é a localização do indivíduo na hierarquia social, de


acordo com a sua participação na distribuição desigual de
riqueza, de prestígio e poder. A cada status ocupado pelo
indivíduo corresponde um papel social. Papel é o conjunto de
expectativas de comportamento padronizado em relação a
cada uma das posições existentes em uma sociedade.

12) Sim. É comum, na linguagem cotidiana, o emprego do termo


status como sinônimo de prestígio, mas, em sociologia, o
conceito é mais amplo. Todas as pessoas ocupam
inevitavelmente posições na sociedade, quer sejam superiores
ou inferiores. Ter status, portanto, não significa ter muito
prestígio ou poder, mas possuir uma posição específica na
hierarquia social.

13) A desigualdade é um conceito mais amplo. Em muitas socie-


dades, por exemplo, existem desigualdades de prestígio de
acordo com a idade ou o gênero. Porém, a estratificação
refere-se a um tipo de desigualdade especificamente de
condição econômica. Uma sociedade está estratificada
quando apresenta grupos de pessoas que ocupam mais ou
menos a mesma condição de poder aquisitivo e privilégios
econômicos, estabelecendo diferentes classes.

14) Nas sociedades tradicionais aristocráticas.

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MÓDULO 8 Estigma, preconceito, minoria social, raça, etnia e racismo


ESTIGMA, PRECONCEITO E MINORIA SOCIAL Estigma é um termo recorrente na Medicina e
Biologia, pois se trata de marcas e sinais físicos aparentes
1. Introdução que restaram de uma doença ou deficiência. Em
Sociologia, o termo adquire uma dimensão mais
A questão do preconceito sempre foi muito polêmica,
complexa. Uma pessoa carrega um estigma quando, por
mas esse debate tornou-se obrigatório e o silêncio sobre
algum motivo, é portador, em sua história pessoal, de algo
o assunto pode ser uma forma de se reproduzir posturas
que o pode tornar alvo de preconceito.
preconceituosas que emergem constantemente nas
relações sociais.
A Constituição Federal do Brasil, de 1988, tornou
criminosa qualquer postura de preconceito racial e grupos
de construção de identidade têm-se fortalecido na luta
contra toda expressão de discriminação.
Vivemos em um mundo cada vez mais marcado pela
diversidade, pelo multiculturalismo e pela convivência
entre grupos étnicos diferentes. A construção de uma
sociedade mais justa conta com o trabalho de segregação
e superação das posturas preconceituosas. Assim,
políticas de inclusão social contam, sobretudo, com a
dissolução dos nós da discriminação que têm origem
histórica.

2. Desnaturalizar

O senso comum comete o erro de naturalizar


comportamentos e aspectos da cultura que, na verdade,
são resultantes de processos históricos. Em outros A diversidade torna-se motivo de discriminação.
termos, a ideologia e o senso comum naturalizam a
realidade, escondendo a sua origem temporal e espacial.
Desta forma, acredita-se, ser natural a existência de ricos 4. Texto
e pobres, ou justifica-se o racismo com base nas próprias
diferenças de cor e aspectos físicos dos seres humanos. A violência do estigma e do preconceito à luz da
É um lugar-comum dizer que todos os homens são representação social
ambiciosos, tornando a ambição uma verdade universal-
mente válida, e aí se deixa escapar a construção cultural Por Mary Rangel
dos sentimentos humanos, como a ambição, o ciúme ou (Texto adaptado)
o amor romântico.
Desnaturalizar a realidade social significa recusar “A representação social é uma forma de conhecimen-
argumentos que justificam injustiças e isso se faz através to prático, de senso comum, que circula na sociedade.
do resgate dos conteúdos históricos pertinentes. Esse conhecimento é constituído de conceitos e imagens
sobre pessoas, papéis, fenômenos do cotidiano.
3. Três categorias fundamentais As pessoas constroem suas representações nos seus
Minoria, em Sociologia, é todo grupo social, racial, grupos sociais, através das conversas, das visões, das
cultural ou de nacionalidade, autoconsciente, em busca de crenças que veiculam.
melhor status compartilhando do mesmo habitat, Assim, os conceitos e imagens vão sendo aceitos,
economia, ordem política e social com outro grupo (racial, naturalizados, considerados verdadeiros, embora sejam
cultural ou de nacionalidade), que é dominante (ecológica, apenas representações. Muitos dos preconceitos, dos
econômica, política ou socialmente) e que não aceita os estigmas, das exclusões de pessoas, decorreram desse
membros do primeiro em igualdade de condições. processo e dos equívocos que podem gerar.
Preconceito é a atitude social que surge em O confronto das representações com a realidade, quando
condições de conflito com a finalidade de auxiliar a submetido a uma análise crítica e fundamentada, pode
manutenção do status ameaçado. demonstrar esses equívocos.

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Quando se discute violência, como fator de ameaça à tentes, mais abertos e flexíveis e, portanto mais
vida, não se pode omitir ou dispensar a discussão de humanos. Encontros como o da ‘Sociedade Viva’ (O
conceitos que podem gerá-la. Esse, sem dúvida, é o caso Ministério da Saúde promoveu, durante o ano de 2003,
dos conceitos de estigma, exclusão, ironia, indiferença, uma série de encontros para a discussão da violência e
preconceito. da saúde no Centro Cultural de Saúde, sediado no Rio de
A construção, aceitação e divulgação do preconceito Janeiro. A questão da violência a partir de estigmas e
e do estigma já são, em si, formas de violência, que ge- preconceitos foi um dos temas desses encontros.) são
ram mais violência. Essa construção é realizada por ho- oportunidades expressivas, relevantes, para as ressignifi-
mens, seres pensantes, capazes de raciocínio e de cações que se fazem necessárias, prementes, para os
intenções. avanços da vida, da convivência e da consciência social.
É preciso, portanto, compreender melhor o estigma e As novas ressignificações por uma vida, uma
o preconceito. O estigma é uma marca, um rótulo que se convivência e uma consciência social mais inclusivas
atribui a pessoas com certos atributos que se incluem em requerem, sobretudo, atitudes que assumam um dos
determinadas classes ou categorias diversas, porém valores mais expressivos dos tempos contemporâneos: a
comuns na perspectiva de desqualificação social. Os aceitação da pluralidade e, portanto, das diferenças, das
rótulos dos estigmas decorrem de preconceitos, ou seja, especificidades, das singularidades.
de ideias preconcebidas, cristalizadas, consolidadas no Mais uma vez recorrendo à análise crítica e
pensamento, crenças, expectativas socioindividuais. fundamentada, que aproxima visões e consciências das
Assim, percorrendo vários campos das ações e circunstâncias reais da vida, observa-se que cada
relações sociais, os estigmas alcançam tanto os pobres e indivíduo é singular, é diferente, é único em suas
os meninos de rua, como os portadores de HIV, os que características; respeitá-lo, qualificá-lo, acolhê-lo, não é
apresentam necessidades especiais (físicas, mentais, uma concessão, mas sim um direito; esse direito é social,
psicológicas) e os homossexuais. E os conceitos prévios é político, é de cidadania.”
ou previamente estabelecidos antecedem os atributos ou
características pessoais a que se referem.
Desse modo, os atributos ou características que
justificam o estigma são previamente avaliados, com RAÇA, ETNIA E RACISMO
pouca ou nenhuma oportunidade de análise crítica e
consciente, que os associe às circunstâncias reais da vida A criatividade só pode ter origem na diferença.
e das relações humanas, sociais. Consequentemente, o (Yiehudi Menuhin – um dos maiores violinistas da história)
preconceito é inflexível, rígido, imóvel, prejudicial à
discussão, ao exame fundamentado e à revisão do que 5. Introdução
está preconcebido.
Os que constroem ou aceitam preconceitos, cons- A ideia de raça surgiu aproximadamente no século
troem e aceitam estigmas. Ambos – preconceitos e XVIII, antecedida por vagas noções de descendência
estigmas – promovem e naturalizam palavras ou ações formuladas na Bíblia. Raça, portanto, é uma categoria
violentas. Por conseguinte, essa construção pode ser a construída há pouco tempo e não tem muita relação com
origem e o início da violência. a natureza humana, mas com interpretações acerca da
Sabe-se que a violência não se define somente no diversidade. No século XIX, o referencial teórico dos
homens era baseado no conceito de progresso, evolução
plano físico; apenas a sua visibilidade pode ser maior
e civilização e acreditava-se que esses conceitos fossem
nesse plano. Essa observação se justifica quando se
verdades universais e naturais. Assim, a desigualdade
constata que violências como a ironia, a omissão e
humana também deveria ter uma origem natural e a
indiferença não recebem, no meio social, os mesmos
noção de raça tornou-se uma explicação biológica para a
limites, restrições ou punições que os atos físicos de
diversidade cultural e humana.
violência. Entretanto, essas ‘armas’ de repercussão A sociedade brasileira, fortemente miscigenada, tem
psicológica e emocional são de efeito tão ou mais características de uma sociedade “racializada”, ou seja,
profundo que o das armas que atingem e ferem o corpo, em que a questão das raças ainda está muito presente e
porque as ‘armas brancas’ da ironia ferem um valor colocá-la em debate é tarefa necessária, sem a qual não
precioso do ser humano: a autoestima. se constituirá um país mais justo e melhor. Vê-se, no
A luta e o remédio contra o preconceito e o estigma Brasil e no mundo, que o cotidiano está repleto de
encontram-se nas análises críticas e situadas que atitudes preconceituosas e racistas e que, muitas vezes,
encaminham novos significados, ou seja, que argumen- são encaradas com certa naturalidade.
tam e apoiam ressignificações. Dessas ressignificações
podem surgir novos conceitos, mais reais, mais consis-

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Faz parte de nosso jargão histórico dizer que o Brasil


foi formado por três raças, omitindo muitas vezes o fato
de ser ele um país pluriétnico. Esta multiplicidade étnica
já existia muito antes da chegada de Cabral. As popu-
lações indígenas, de origem asiática, eram constituídas
de centenas de etnias, o que significava uma enorme
diversidade linguística e cultural, basta dizer que ainda
hoje existem mais de duzentas etnias indígenas.
Por outro lado, sabe-se que as populações de origem
africana que vieram para o Brasil pertenciam a inúmeras
etnias portadoras de costumes, crenças e idiomas
diferentes que muito contribuíram para a formação da
cultura brasileira. No entanto, hoje, é muito difícil falar em
uma etnia afro, tendo em vista que o intenso processo de
aculturação praticamente extinguiu as línguas de origem
africana – embora muitas de suas palavras incorporaram-
se ao idioma nacional – e também fez desaparecer as
A diversidade étnica e cultural enriquece a existência humana. identidades étnicas originais.
Finalmente, a população branca também não é
Considerando que o nosso país traz uma herança originária de uma mesma etnia. Os primeiros colonizado-
escravocrata em sua história recente, os números a res vieram de Portugal, mas a partir da segunda metade
seguir revelam que a questão racial não está solucionada do século XIX, o País foi palco de um grande processo
e escondê-la significa compactuar com a situação e imigratório, sendo que muitos dos imigrantes europeus
contribuir para reproduzi-la. que aqui chegaram se identificavam muito mais por meio
Os negros e pardos, no Brasil, são menos da metade de suas identidades étnicas do que nacionais. Basta
da população, mas 64% dos pobres e 69% dos indigentes lembrar, como exemplo, que quando a imigração italiana
são negros. Com o mesmo nível de formação de um se iniciou no Brasil, a Itália mal tinha completado a sua
branco, o trabalhador negro ganha 53,99% a menos. A unificação como Estado-nação. A partir do início do século
mulher negra recebe um salário 49,47% menor que o de XX, um novo contingente de etnias asiáticas chegou ao
uma branca. Vinte e sete por cento dos estudantes da Brasil.
população negra, entre 11 e 14 anos, estão entre o 6.º e Esta grande diversidade étnica que constituiu o País,
9.º ano, enquanto entre os brancos, o índice é de 44%. A longe de ser um problema, resultou em uma riqueza
taxa de analfabetismo é três vezes maior entre os negros. cultural que se expressa por intermédio das artes – da
Uma visão científica e rigorosa não permite natura- música principalmente –, da culinária, das crenças, do
lizar tais dados, ou seja, faz-se necessário perceber que tal próprio modo de ser dos brasileiros etc. O mais importan-
situação resulta de um processo histórico e que urge a te fator de unidade nacional foi a língua, este português
adoção de políticas e posturas capazes de alterar esse falado no Brasil, diferente do de Portugal porque foi
quadro. formado pela adição de palavras originárias das muitas
etnias que formam o País.”
6. Conceito de Etnia e Cultura Brasileira

Por Roque de Barros Laraia (antropólogo)


(Texto adaptado)
“Falar em etnia brasileira é uma forma de simplifi-
cação, pois o Brasil foi historicamente constituído a partir
da fusão de muitas etnias. Mas o que é uma etnia? Em
primeiro lugar, o conceito de etnia é diferente do conceito
de raça. Enquanto o que caracteriza a etnia são fatores
culturais, como tradição, língua e identidade, o que
distingue raça são fatores biológicos como a cor da pele,
o formato da cabeça, o tipo de cabelo etc. Assim, os
membros de uma etnia compartilham de valores culturais
próprios e se comunicam por meio de uma língua que é
também própria. As pessoas que constituem essa
O Brasil é um país marcado pela miscigenação.
população se identificam, e são reconhecidas pelos
outros como membros da etnia.

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7. Texto: Racismo muitos casos a diferença da cor da pele é uma barreira


muito mais determinante para a comunicação entre as
Por Ana Sofia Ribeiro Durão pessoas do que a própria diferença linguística, isto pode
(Texto adaptado) ser considerado um fenômeno antinatural, uma vez que
não vemos na natureza os animais preocupados com as
“O racismo é a tendência do pensamento, ou do diferenças de pelagem ou penas.
modo de pensar em que se dá grande importância à
A diferença de cor entre as pessoas tem uma explica-
noção da existência de raças humanas distintas e
superiores umas às outras. Onde existe a convicção de ção científica para a qual o homem não contribui mini-
que alguns indivíduos e sua relação entre características mamente: a maior ou menor concentração de melanina da
físicas hereditárias, e determinados traços de caráter e pele, que torna a pele da pessoa mais o menos escura.”
inteligência ou manifestações culturais, são superiores a "O racismo começa quando a diferença, real ou
outros. imaginária, é usada para justificar uma agressão. Uma
O racismo não é uma teoria científica, mas um agressão que assenta na incapacidade para compreen-
conjunto de opiniões preconcebidas onde a principal der o outro, para aceitar as diferenças e para se
função é valorizar as diferenças biológicas entre os seres empenhar no diálogo".
humanos, em que alguns acreditam ser superiores aos Mário Soares, ex-presidente de Portugal
outros de acordo com sua matriz racial. A crença da
existência de raças superiores e inferiores foi utilizada
muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de Legislação que proíbe as descriminações no exercício de
determinados povos por outros, e os genocídios que direitos, por motivos baseados na raça, cor nacionalidade
ocorreram durante toda a história da humanidade. ou origem étnica: Lei n.º 134/99, de 28 de Agosto de 1999;
Os racistas definem uma raça como sendo um grupo Decreto-Lei n.º 111/2000, de 4 de Julho de 2000.
de pessoas que têm a mesma ascendência. Diferenciam
as raças com base em características físicas como a cor
de pele e o aspecto do cabelo. Investigações recentes
provam que a ‘raça’ é um conceito inventado. A noção de
‘raça’ não possui qualquer fundamento biológico. A
palavra ‘racismo’ é igualmente usada para descrever um
comportamento abusivo ou agressivo para com os
membros de uma ‘raça inferior’.
O racismo reveste-se de várias formas nos diversos
países, consoante a sua história, cultura e outros fatores
sociais. Uma forma relativamente recente de racismo, por
vezes denominada ‘diferenciação étnica ou cultural’,
defende que todas as raças e culturas são iguais, mas não
deveriam se misturar, de maneira a conservar a sua
originalidade. Não há nenhuma prova científica da
existência de raças diferentes. A biologia só identificou
uma raça: a raça humana.
A importância que o homem dá à cor da pele do seu O conceito de raça não é natural, mas ao contrário, trata-se de uma
semelhante é deveras preocupante. Na realidade, em construção humana.

1. Assinale a alternativa que melhor define o conceito de raça. 2. Podemos afirmar que o conceito de etnia
(http://humanascom.blogspot.com.br/2010/10/questoes-sociologia- a) é discriminatório.
etnia-e-raca.html - adaptados) b) define diferenças culturais e genéticas.
a) características físicas e genéticas. c) envolve afinidades culturais e linguísticas.
b) afinidades linguísticas e culturais. d) classifica pessoas segundo traços genéticos.
c) cor da pele, tipo de cabelo e gênero. e) iguala os povos.
d) a classificação de grupos sociais em superior e inferior.
e) o desejo de um povo dominar outro povo. RESOLUÇÃO:
Resposta: C
RESOLUÇÃO:
Resposta: A

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3. Sobre os conceitos de etnia e raça, podemos afirmar que 7. Classifique os casos seguintes em
a) serviram para justificar a dominação de uns povos por outros. (E) ETNOCENTRISMO
b) defendem a harmonia entre os povos de diferentes culturas. (S) SEGREGAÇÃO
c) o primeiro valoriza a cultura e o segundo discrimina. (R) RACISMO
d) são diferentes e opostos em seus objetivos. ( ) Era assim há alguns anos: havia banheiros para brancos e banheiros
e) são iguais. para negros; a praia era dividida da mesma forma; jamais um negro
pensaria em casar-se com um branco. Estávamos separados.
RESOLUÇÃO: ( ) A Igreja dizia no século XVI que os negros africanos eram
Resposta: C
descendentes de Caim, em quem Deus teria colocado uma marca.
Ou então, eram descendentes de Cam, filho de Noé, em quem este
teria lançado uma maldição para ser escravo de seus irmãos. Por
isso e tudo mais, os negros foram considerados inferiores, dignos
de trabalhos forçados.
( ) Os europeus diziam: somos civilizados e temos a obrigação de levar
4. A segregação racial
a nossa cultura aos povos atrasados. Estavam falando da África e
a) foi exemplificada pelo apartheid na África do Sul.
da Ásia – era o neocolonialismo ou imperialismo do século XIX.
b) contribuiu para a democracia entre os povos.
( ) Quando os europeus chegaram à América e mantiveram os
c) valoriza as diferenças étnicas.
primeiros contatos com os nativos, entenderam que precisavam
d) diminui as diferenças.
catequizá-los (ensinar a religião) e ensinar seu modo de vida, pois
e) é de caráter pacífico.
julgaram a cultura deles inferior. Daí veio sofrimento, dor e morte.
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO:
Resposta: A
Resposta: S, R, E, E

8. (UNESP-2013) – Hoje, a melhor ciência informa que as etnias são


variações cosméticas do núcleo genético humano, incapazes sozinhas
de determinar a superioridade de um indivíduo ou grupo sobre outros.
Segundo o médico Sérgio Pena, não somos todos iguais, somos
igualmente diferentes. É uma beleza, do ponto de vista da antropologia
genética, esperar que, um dia, ela ajude a desvendar o enigma clássico
5. O racismo (preconceito de cor) no Brasil
da condição humana que é a eterna desconfiança do outro, do diferente,
a) tem relação direta com o preconceito contra os homossexuais.
do estrangeiro. O DNA nada sabe desse sentimento. No seu coração
b) termina com a promulgação da Constituição de 1988.
genético, a espécie humana é tão mais forte e sadia quanto mais
c) tem origem com a escravidão do negro africano.
variações apresenta.
d) surge no século XIX, com o apartheid.
(Fábio Altman. Unidos pelo futebol … e pelo DNA.
e) está crescendo cada dia mais.
Veja, 09.06.2010. Adaptado.)
RESOLUÇÃO:
Resposta: C Esta reportagem aborda o tema das diferenças entre as etnias humanas
sob um ponto de vista contrastante em relação a outras abordagens
vigentes ao longo da história. Em termos éticos, trata-se de uma
abordagem promissora, pois
a) opõe-se às teorias antropológicas que criticaram o etnocentrismo
ocidental em seu papel de justificação ideológica do colonialismo.
b) apresenta argumentos científicos que provam o caráter prejudicial
6. O etnocentrismo está relacionado, mais especificamente, como
da miscigenação para o progresso da humanidade.
preconceito
c) fornece uma fundamentação científica para justificar estereótipos
a) cultural. b) sexual. c) regional.
racistas presentes no pensamento cotidiano e no senso comum.
d) físico. e) de cor.
d) permite um questionamento radical dos ideais universalistas
RESOLUÇÃO: inspiradores de políticas de preservação dos direitos humanos.
Resposta: A e) estabelece uma ruptura com teorias eugenistas que defenderam a
purificação racial como meio de aperfeiçoamento da humanidade.

RESOLUÇÃO:
A abordagem científica apresentada afirma que as etnias são
incapazes de determinar a superioridade genética e que quanto
mais diversa a espécie humana, mais saudável ela será. Isso
estabelece uma ruptura com as teorias eugenistas que pregavam
a superioridade de um grupo sobre outros.
Resposta: E

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9. (UNESP-2013) – A República Islâmica do Irã abençoa e incentiva A dimensão política da transformação sugerida no texto teve como
operações de troca de sexo, em nome de uma política que considera condição necessária a
todo cidadão não heterossexual como espírito nascido no corpo errado. a) ampliação da noção de cidadania.
Com ao menos 50 cirurgias por ano, o país é recordista mundial em b) reformulação de concepções religiosas.
mudança de sexo, após a Tailândia. Oficialmente, gays não existem no c) manutenção de ideologias conservadoras.
país. Ficou famosa a frase do presidente Mahmoud Ahmadinejad dita a d) implantação de cotas nas listas partidárias.
uma plateia de estudantes nos EUA em 2007, de que “não há e) alteração da composição étnica da população.
homossexuais no Irã”. A homossexualidade nem consta da lei. Mas
sodomia é passível de execução. […] Uma transexual operada RESOLUÇÃO:
O texto refere-se a uma transformação que ocorreu na sociedade
confidenciou um sentimento amplamente compartilhado em silêncio:
estadunidense, em que a opção sexual dos cidadãos passa a ser
“Não teria mutilado meu corpo se a sociedade tivesse me aceitado do respeitada e deixa de ser obstáculo ao exercício político.
jeito que eu nasci”. Resposta: A
(Samy Adghirny. Operação antigay. Folha de S.Paulo,
13.01.2013.)

O incentivo a cirurgias de troca de sexo no Irã é motivado por


a) tabus sexuais decorrentes do fundamentalismo religioso
hegemônico naquele país.
b) critérios de natureza científica que definem o que é uma
“sexualidade normal”.
c) uma política governamental fundamentada em princípios liberais de
cidadania. 11. (UNESP) – O hormônio testosterona está ligado ao egoísmo,
d) influências ocidentais ocasionadas pelo processo de globalização segundo uma pesquisa inglesa. Em testes feitos por cientistas da
cultural pela internet. University College London, na Grã-Bretanha, mulheres que tomaram
e) pressões exercidas pelos movimentos sociais homossexuais pelo doses do hormônio masculino mostraram comportamento egocêntrico
direito à cirurgia. quando tinham de lidar com problemas em pares.
Quando os pesquisadores ministraram placebo às voluntárias antes dos
RESOLUÇÃO: testes, elas cooperaram entre si. O estudo ajuda a explicar como os
O grande número de cirurgias para mudança de sexo no Irã não
hormônios moldam o comportamento humano.
resulta de uma tolerância em relação à opção sexual do indivíduo,
mas pela explicação religiosa de que espíritos nasceram em corpos (Testosterona pode induzir comportamento egoísta. Veja, 01.02.2012.)
errados. Assim, as cirurgias de mudança de sexo permitem
reproduzir a suposição de que não há homossexuais no país.
O pressuposto fundamental assumido pela pesquisa citada para explicar
Resposta: A
o comportamento humano pode ser identificado com
a) as diferenças sociais de gênero.
b) o determinismo biológico.
c) os fatores de natureza histórica.
d) os determinismos materiais da sociedade.
e) a autonomia ética do indivíduo.

RESOLUÇÃO:
O hormônio masculino, na pesquisa, apareceu como determinação
biológica às inclinações egocêntricas.
Resposta: B

10. (ENEM-2013) – Tenho 44 anos e presenciei uma transformação


impressionante na condição de homens e mulheres gays nos Estados
Unidos. Quando nasci, relações homossexuais eram ilegais em todos os
Estados Unidos, menos Illinois. Gays e lésbicas não podiam trabalhar
no governo federal. Não havia nenhum político abertamente gay. Alguns
homossexuais não assumidos ocupavam posições de poder, mas a
tendência era eles tormarem as coisas ainda piores para seus
semelhantes.
ROSS, A. Na máquina do tempo. Época, ed. 766, 28 jan. 2013.

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1. “A construção de uma sociedade mais justa conta com o trabalho de 6. Leia as proposições abaixo e assinale as verdadeiras. Em seguida,
dessegregação e superação das posturas preconceituosas”. assinale a alternativa que agrupa as verdadeiras.
O sentido do termo dessegregar aqui empregado é: I. Preconceito é atitude social que surge em condições de conflito com
a) Desagregar. b) Dividir. a finalidade de auxiliar a manutenção do status ameaçado.
c) Agregar. d) Acabar com a segregação. II. Estigma é um termo recorrente na Medicina e Biologia, pois se trata
e) Afastar. de marcas e sinais físicos aparentes que restaram de uma doença ou
deficiência.
2. Assinale a alternativa que completa corretamente a frase seguinte: III. Em Sociologia, o termo estigma adquire uma dimensão mais
“Assim, políticas de inclusão social contam, sobretudo, com a complexa. Uma pessoa carrega um estigma quando, por algum
dissolução dos nós da discriminação que tem _________________.” motivo, é portador, em sua história pessoal, de algo que o pode
a) origem natural b) origem geográfica tornar alvo de preconceito.
c) origem étnica d) origem histórica IV. Os conceitos e imagens vão sendo construídos, aceitos, natura-
e) origem física e racial lizados, considerados verdadeiros, e de fato são representações fiéis
da realidade. Muitos dos preconceitos, dos estigmas, das exclusões
3. Em entrevista a Caio Caramico Soares, José de Souza Martins de pessoas, decorreram desse processo e merecem certo crédito,
declara: "A minha crítica da concepção de exclusão e da ideologia que pois são construídos sobre relações e experiências reais.
dela decorre é para proclamar que nelas se oculta o verdadeiro problema V. Quando se discute temas como a violência, como fator de ameaça
a ser debatido e a ser resolvido: as formas perversas de inclusão social à vida, deve-se omitir ou dispensar a discussão de conceitos que
que decorrem de um modelo de reprodução ampliada do capital, que, no podem gerá-la, para evitar o uso de preconceitos.
limite, produz escravidão, desenraizamentos, pobreza e também ilusões
São verdadeiras apenas:
de inserção social. Não há propriamente exclusão, e sim formas
a) I, II e IV. b) I, III e V. c) I, II e III.
anômalas e injustas de inclusão."
d) II, IV e V. e) III, IV e V.
(Folha de S. Paulo, 15/09/2002)

7. “A construção, aceitação e divulgação do preconceito e do estigma


Segundo a declaração do sociólogo brasileiro José de Souza Martins,
já são, em si, processos violentos, que geram violência. Essa construção
podemos afirmar que:
é realizada por homens, seres pensantes, capazes de raciocínio e de
I. Quando fala em desenraizamento, está fazendo referência à
intenções.”
naturalização, que não percebe as raízes históricas dos fenômenos.
A colocação acima pretende:
II. Não existe e nunca houve a inserção social, trata-se de uma ilusão.
a) Imputar responsabilidade aos homens que reproduzem preconceitos.
III. A ideologia faz parecer o sistema econômico mais justo do que é.
b) Mostrar que os homens que usam olhares preconceituosos são
IV. A inclusão social é perversa e não deve ocorrer.
vítimas de violência.
São verdadeiras e coerentes apenas: c) Indicar que aceitar o preconceito é uma atitude de homens
a) I e II. b) II e III. c) IIII e IV. inteligentes.
d) I e III. e) I e IV. d) Lembrar que seres pensantes e de intenções constroem
naturalmente preconceitos.
4. “Desnaturalizar a realidade social significa recusar argumentos que e) Indicar que a divulgação de violência é uma forma de preconceito.
justificam injustiças, e isso se faz através do resgate dos conteúdos
históricos pertinentes.” 8. Por que a autora (Rangel) afirma que o preconceito é inflexível?
Podemos, assim, dizer que o olhar sociológico adequado é de
a) naturalização. b) preconceito. 9. O que a autora pretende afirmar ao empregar a palavra ressigni-
c) ideologia. d) alienação. ficações?
e) enraizamento.
10. Segundo o texto de Ana S. Durão, existe uma tendência hoje
5. “Todo grupo social, racial, cultural ou de nacionalidade, autocons- afirmando que todas as raças são iguais, mas que não deveriam se
ciente, em procura de melhor status compartilhado do mesmo habitat, misturar, para permitir a preservação das raças originais. O que a autora
economia, ordem política e social com outro grupo (racial, cultural ou de pensa sobre tal tendência? Justifique.
nacionalidade), que é dominante (ecológica, econômica, política ou
socialmente) e que não aceita os membros do primeiro em igualdade de 11. Elabore uma reflexão pessoal relacionando a ideia de diferenças e
condições.” igualdade.
Tal conceito define o termo:
a) Cultura. 12. O homem vê mundo através da sua cultura e considera o seu modo
b) Minoria social. de vida como o mais correto e natural. Trata-se de um fenômeno
c) Preconceito e discriminação. universal denominado:
d) Etnia. a) etnocentrismo. b) antropocentrismo.
e) Raça. c) padrão de comportamento. d) apatia cultural.
e) aculturação.

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13. Os membros compartilham valores culturais próprios e se c) aos povos negros que formavam o povo autóctone (originário)
comunicam por meio de uma língua que é também própria. As pessoas dessas terras.
que constituem essa população se identificam, e são reconhecidas pelos d) às diversas etnias indígenas dessas terras.
outros. Os membros, dessa forma, fazem parte de e) à composição das raças negras, brancas, índias e amarelas.
a) uma raça. b) uma mesma origem física.
c) uma etnia. d) uma condição existencial idêntica. 17. “As populações indígenas, de origem asiática, eram constituídas de
e) um país ou Estado. centenas de etnias, o que significava uma enorme diversidade linguís-
tica e cultural basta dizer que ainda hoje existem mais de duzentas
14. “Os negros e pardos, no Brasil, são menos da metade da população, etnias indígenas.
mas 64% dos pobres e 69% dos indigentes são negros. Com o mesmo
Por outro lado, sabe-se que as populações de origem africana que
nível de formação de um branco, o trabalhador negro ganha 53,99% a
vieram para o Brasil pertenciam a inúmeras etnias portadoras de
menos. A mulher negra recebe um salário 49,47% menor que o de uma
costumes, crenças e idiomas diferentes que muito contribuíram para a
branca. Vinte e sete por cento dos estudantes da população negra, entre
formação da cultura brasileira. No entanto, hoje, é muito difícil falar em
11 e 14 anos, estão entre o 6.º e 9.º ano, enquanto entre os brancos, o
índice é de 44%. A taxa de analfabetismo é três vezes maior entre os uma etnia afro, tendo em vista que o intenso processo de aculturação
negros.” praticamente extinguiu as línguas de origem africana – embora muitas
de suas palavras incorporaram-se ao idioma nacional – e também fez
Os dados acima sugerem: desaparecer as identidades étnicas originais.
a) Os povos descendentes da tropicalidade climática, como índios e Finalmente, a população branca também não é originária de uma
afrodescendentes possuem uma inabilidade constitutiva para o mesma etnia. Os primeiros colonizadores vieram de Portugal, mas a
desenvolvimento econômico. partir da segunda metade do século XIX, o País foi palco de um grande
b) Os negros, no Brasil, herdaram historicamente uma condição social processo imigratório, sendo que muitos dos imigrantes europeus que
desfavorável, o que justifica as diferenças verificadas nos dados
aqui chegaram se identificavam muito mais por meio de suas
acima, e, portanto, não há muito o que se possa fazer de imediato
identidades étnicas do que nacionais. Basta lembrar, como exemplo,
para reverter a situação.
que quando a imigração italiana se iniciou no Brasil, a Itália mal tinha
c) A geografia moderna já não aceita a explicação climática como
completado a sua unificação como Estado-nação. A partir do início do
justificativa para o subdesenvolvimento, e, portanto, as razões para
explicar os dados acima devem ser encontrados nos argumentos de século XX, um novo contingente de etnias asiáticas chegou ao Brasil.”
diferença racial.
d) As reais causas que podem explicar e justificar as diferenças A partir do texto, é possível concluir que:
verificadas nos dados acima estão nas produções culturais dos povos a) O Brasil é economicamente inviável, em parte, devido à falta de
negros e africanos, e não nas questões raciais. identidade nacional homogênea.
e) Uma visão científica e rigorosa não permite naturalizar tais dados, ou b) O Brasil é um país pluriétnico.
seja, faz-se necessário perceber que tal situação resulta de um c) As diversas raças que formam o Brasil originaram a formação de um
processo histórico e que urge a adoção de políticas e posturas povo miscigenado e sem identidade.
capazes de alterar esse quadro. d) As diversas raças que formam o país são responsáveis pela
heterogeneidade conflituosa, apesar do corrente discurso a respeito
15. Sobre a questão de raça e etnia, julgue as assertivas abaixo e de uma suposta democracia racial brasileira. Prova disso é a restrita
assinale a alternativa que agrupa as verdadeiras. miscigenação que ocorre no País.
I. Falar em etnia brasileira é uma forma de simplificação, pois o Brasil e) Há, no Brasil, forte miscigenação e ampla democracia racial.
foi historicamente constituído a partir da fusão de muitas etnias.
II. O conceito de etnia é diferente do conceito de raça. Enquanto o que 18. Sobre a questão da formação étnica nacional, julgue as assertivas
caracteriza a etnia são fatores culturais, como tradição, língua e abaixo.
identidade, o que distingue raça são fatores biológicos como a cor da I. O Brasil é constituído de grande diversidade étnica e racial, o que
pele, o formato da cabeça, o tipo de cabelo etc. contribui para a formação de uma cultura amorfa, sem tradições.
III. Assim, os membros de uma raça compartilham de valores culturais II. Esta grande diversidade étnica que constituiu o País, longe de ser
próprios e se comunicam por meio de uma língua que é também um problema, resultou em uma riqueza cultural que se expressa por
própria. intermédio das artes – da música principalmente –, da culinária, das
IV. As pessoas que constituem essa população se identificam, e são crenças, do próprio modo de ser dos brasileiros etc.
reconhecidas pelos outros como membros de certa raça. III. O Brasil possui alguns cadinhos culturais muito raros e ricos, como
a) apenas I e II. b) apenas I e III. c) apenas II e IV. na Bahia e no Maranhão.
d) apenas III e IV. e) apenas I e IV. IV. A presença de europeus ajudou a escapar da pobreza cultural
herdada das demais etnias.

16. “Faz parte de nosso jargão histórico dizer que o Brasil foi formado por
Assinale a alternativa que agrupa corretamente as verdadeiras.
três raças, omitindo muitas vezes o fato de ser ele um país pluriétnico.
a) I e II apenas. b) I e III apenas
Esta multiplicidade étnica já existia muito antes da chegada de Cabral.”
c) II e III apenas. d) II e IV apenas.
O texto refere-se
e) III e IV apenas.
a) aos imigrantes que habitam o país há séculos.
b) aos invasores holandeses e franceses.

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19. É a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dá 22. Com base nas leituras desta aula, julgue as proposições abaixo,
grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e colocando V para as verdadeiras e F para as falsas.
superiores umas às outras. Trata-se do: I. Raça e etnia são sinônimas e fazem referência à ( )
a) Etnocentrismo. b) Evolucionismo. diversidade das espécies humanas.
c) Estigma. d) Racismo.
e) Fascismo e Nazismo. II. Raça é uma categoria consistente e científica para ( )
explicar a natureza humana.
20. Leia o texto abaixo e relacione-o com o item 2 da aula, intitulado
III. Segundo muitos biólogos, há uma única raça: a raça ( )
Desnaturalizar. humana.
“Assim, os conceitos e imagens vão sendo aceitos, naturalizados,
considerados verdadeiros, embora sejam apenas representações. IV. O Brasil possui índices sociais que revelam que os ( )
Muitos dos preconceitos, dos estigmas, das exclusões de pessoas, afrodescendentes são portadores de um estigma social.
decorreram desse processo e dos equívocos que podem gerar”.
(M. Rangel)
23. Afirma-se que o Brasil é um país formado por três raças, mas
21. Sobre o texto de M. Rangel, julgue as afirmativas abaixo, colocando segundo o professor Roque Laraia, o Brasil é um país pluriétnico antes
V para as verdadeiras e F para as falsas. mesmo do seu descobrimento. Comente com base no texto de Laraia.

I. Representação social é o contrário de senso comum. ( )

II. O preconceito é uma expressão de violência. ( )

III. A ironia, omissão e indiferença são armas de ( )


repercussão emocional com efeitos mais suaves se
comparados com aqueles provocados por armas que
ferem o corpo.

IV. O preconceito corrói a autoestima do sujeito, o que ( )


pode promover um efeito desastroso para a sua história
pessoal.

1) D 2) D 3) D 12) A 13)C 14)E 15)A 16)D

4) E 5) B 6) C 7) A 17) B 18)C 19)D

8) Porque os atributos ou características que justificam o 20) A ideologia e o senso comum naturalizam a realidade, escon-
estigma são previamente avaliados, com pouca ou nenhuma dendo sua origem histórica e cultural. Assim, desnaturalizar
oportunidade de análise crítica e consciente, que os associe a realidade social significa recusar argumentos que justificam
às circunstâncias reais da vida e das relações humanas, as injustiças, e isso se faz através do resgate dos conteúdos
sociais. históricos pertinentes.

9) Das ressignificações podem surgir novos conceitos, mais reais, 21) Resposta: F V F V
consistentes, abertos e flexíveis e, portanto, mais humanos.
Novas ressignificações, por uma vida e uma consciência social
mais inclusivas, requerem atitudes que assumam a aceitação 22) Resposta: F F V V
da pluralidade e, portanto, das diferenças, das especificidades
e das singularidades.
23) O autor não leva em consideração a categoria raça, mas a de
10) Segundo a autora, a proposta é incoerente, pois não existe etnia, que faz referência à cultura e não aos aspectos
nenhuma prova científica que sustenta a categoria de raça biológicos. Os grupos indígenas brasileiros são de diversas
original ou raça pura. etnias, assim como os brancos e negros. Para Laraia, a
diversidade étnica do nosso país resultou numa grande
11) Espera-se que o aluno compreenda que a construção de uma riqueza do tecido cultural, particularmente na formação da
sociedade mais justa, marcada pela equidade, saiba incorporar língua nacional.
as diferenças culturais, biológicas e existenciais, por exemplo.

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MÓDULO 9 Responsabilidade Social e Políticas de Inclusão

1. Introdução 2. Sociologia da empresa e responsabilidade social


das empresas
O cidadão e as instituições em geral possuem
deveres e obrigações para com a sociedade. Nos últimos Por Ana Maria Kirschner (socióloga)
anos, tem crescido a consciência e o trabalho em torno da (Texto adaptado)
responsabilidade social por parte das empresas de capital
“Até os anos 1980 as ciências sociais não se
privado. aproximavam muito das empresas, seja para tomá-las
O desenvolvimento da ciência ecológica contribuiu como objeto de estudo, seja para tentar intervir sobre o
para aumentar a preocupação com o meio ambiente. mundo social das empresas. A partir de meados da déca-
Certas atividades industriais ou a implantação de uma da de 1980, esta situação se reverte. A sociedade passa
fábrica pode provocar um impacto sobre atividades a interpelar a empresa, que aparece mais na mídia, agora
econômicas das populações locais. Assim, seria um de forma mais favorável, não mais apontada apenas como
exemplo de responsabilidade social se a fábrica criasse o lócus onde se dá a exploração do trabalho pelo capital.
um projeto para minimizar tais impactos, desenvolvendo Nos anos 1990, associações e fórum empresariais, assim
alternativas de sobrevivência das pessoas que viviam e como empresários isoladamente discutem a função social
trabalhavam no local antes das instalações fabris e se da empresa e a sua responsabilidade social.
A noção de responsabilidade social da empresa está
esforçasse para estabelecer um novo cenário no local.
na moda na linguagem empresarial e da administração,
porém ainda não tem um substrato conceitual dando
margem, portanto a muitos equívocos. Esta imprecisão é
tão mais séria porque estamos vivendo uma época em
que a sociedade interpela as empresas e simultanea-
mente os empresários sentem necessidade de melhorar
sua imagem pública promovendo debates sobre ações
sociais e intervindo de fato no social. (...)
As empresas têm um triplo projeto: realizar um
produto, obter lucro e assegurar a coerência dos
indivíduos que a compõem. Se a empresa falhar em um
destes pontos, sua existência fica comprometida.
Segundo o sociólogo Michel Liu, a empresa deve ser
considerada como um sistema aberto, pois conjuga as
noções de autonomia e dependência em relação aos
ambientes em que se insere. As trocas com o meio são
necessárias e contínuas. Liu utiliza o conceito de fronteira
seletiva para analisar a relação empresa/sociedade: se por
Mãos Terra, EUVI Marketing. Sustentabilidade é a conciliação entre um lado, a empresa sofre diferentes tipos de
progresso e proteção ambiental. constrangimentos do meio em que atua – econômicos,
técnicos, políticos, culturais, entre outros – ela devolve à
A empresa passaria a se preocupar com os impactos sociedade algo diferente daquilo que recebe. Seus
sociais e naturais, desenvolvendo projetos para compen- funcionários são pessoas que trazem as mais distintas
sar os prejuízos. Assim, podemos afirmar que o chamado culturas e formações e que juntas, devem dar sua parte
desenvolvimento sustentável é um aspecto da para que a empresa realize seu triplo projeto. Ou seja, os
responsabilidade social. membros de uma empresa formam um coletivo que
Uma empresa poderá patrocinar e desenvolver apresentam uma identidade e uma cultura próprias. Isto
porque a empresa é criadora do social, no sentido daquilo
programas de inclusão social, de educação, qualificação,
que une os indivíduos e constitui uma sociedade.
incentivar um esporte ou outra área cultural.
Atualmente já dispomos de instrumento para conhecer a
Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão força e a coesão das estruturas sociais. É o modelo SIC,
ética que tem a organização de suas partes interessadas, desenvolvido pelo sociólogo de empresa Renaud
com o objetivo de minimizar impactos negativos no meio Sainsaulieu, a partir da observação de milhares de empre-
ambiente e na comunidade local. A ideia é estabelecer sas estudadas. Este modelo permite conhecer as
um canal de diálogo entre as partes interessadas e regulações sociais observadas entre estruturas, interação
envolvidas, com a percepção clara de que todos ganham, e cultura. O modelo da sociologia de empresa – SIC –
inclusive os empresários, investindo recursos em possibilita a identificação dos atores e das situações que
preocupações sociais e ambientais. eles estão vivendo e conhecer as relações entre os atores.
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Pela ótica da Sociologia, as empresas são constru- função dos valores e lógicas coletivas que permeiam as
ções sociais no sentido clássico do termo, e que questões práticas sociais.
como eficiência, competitividade e qualidade podem ser A mobilização dos recursos humanos para fins
vistas a partir do papel social que cabe às empresas econômicos depende não só das capacidades profis-
assumir em tempos de globalização e reformas para o sionais, mas também das regulações das relações sociais
mercado. de produção de forma a suscitar a complementaridade
A empresa contemporânea não se limita a gerir e das ações coletivas, a solidariedade, a comunicação e a
manter recursos econômicos, técnicos e humanos, como criatividade no seio do sistema social.”
foi o caso até alguns anos atrás. Hoje, a invenção e
desenvolvimento de novos recursos se impõem como POLÍTICAS DE INCLUSÃO SOCIAL
exigência de sobrevivência econômica. Uma das chaves
1. Introdução
para resolver este problema é a qualidade da estrutura
social das relações humanas de trabalho, pois esta é uma Políticas de inclusão social consistem em ações
das fontes cruciais de criatividade. positivas de combate à exclusão social e econômica de
Ao contrário do que sugeriria uma abordagem que pessoas muito pobres, de baixo grau de instrução,
visse na empresa um agente passivo ante a sociedade portadoras de deficiências físicas ou ainda pertencentes
em que está inserida, não se trata de uma adaptação a alguma minoria social. Assim, espera-se poder oferecer
mecânica da empresa às imposições econômicas e condições dignas de vida e maiores possibilidades de
técnicas que vêm de fora: os atores no seio da organiza- participação social a todos.
ção têm sempre escolhas possíveis; eles constroem uma Para realizar tal empresa humanitária, foram elabo-
organização cujo resultado é sancionado pelo exterior. (...) radas leis, políticas e programas voltados ao atendimento
imediato de excluídos, contando com a participação do
setor público, privado e da sociedade civil.
Nos últimos anos, por exemplo, no Brasil, foram
criadas leis que facilitam a vida da terceira idade e de
deficientes físicos. Até recentemente, não se via a
circulação de coletivos em condições de transportar
cadeiras de rodas, ou banheiros especiais para deficientes
físicos. Hoje, são criados e exigidos mecanismos que
adaptem os deficientes aos sistemas socias, facilitando
sua frequência a instituições comuns e, quando neces-
sário ou aconselhável, são criados sistemas especiais
separados.
Há uma preocupação e esforço no sentido de inserir
cidadãos, antes excluídos, naturalmente, desenvolvendo
habilidades de circulação, programas de educação, siste-
mas de acesso à cultura, lazer e atividades profissionais.
Além disso, a legislação condena qualquer forma de
discriminação e segregação.
No Brasil, a Lei Federal n.° 7853, de 24 de outubro de
1989, assegura os direitos básicos dos portadores de
deficiência. Em seu artigo 8.° constitui como crime punível
com reclusão (prisão) de 1 a 4 anos e multa, quem:
1. Recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem
As práticas econômicas devem levar em consideração o aspecto justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento
socioambiental.
de ensino de qualquer curso ou grau, público ou
A Sociologia da Empresa vai além dos modelos que privado, porque é portador de deficiência.
definem o espaço fabril como espaço de relações 2. Impedir o acesso a qualquer cargo público porque é
antagônicas de classe. A empresa tem uma função portador de deficiência.
identificadora na sociedade e constitui, portanto, verda- 3. Negar trabalho ou emprego, porque é portador de
deira instituição social: ela instaura um conjunto de deficiência.
relações sociais e culturais e produz, assim, identidades 4. Recusar, retardar ou dificultar a internação hospitalar
novas. Nela se desenvolvem relações de oposições e de ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar ou
alianças e o ator vivencia as relações de trabalho de forma ambulatória, quando possível, à pessoa portadora de
interativa e estratégica. deficiência.
A Sociologia da Empresa rompe com os modelos que A inclusão social consiste, portanto, na construção de
interpretam as estratégias dos atores apenas em termos uma sociedade nova, alterando a mentalidade de todas
das oportunidades de poder, que omitem da análise a as pessoas. O Brasil é considerado um dos países com

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mais avançada legislação nesse esforço. O destaque está dispersaram por todo o mundo ocidental na constituição
na acessibilidade por parte de pessoas com deficiências. do capitalismo, em suas múltiplas contradições sociais.
A chamada lei de acessibilidade está no Decreto Federal Para tentar superar as mazelas sociais e promover a
5296/2004. Porém, muitas pessoas desconhecem as leis inclusão e a justiça, a partir dos anos 1990, o Brasil tem
e outras vivem ainda à margem das políticas de inclusão sido alvo em potencial dos programas de ações
social. afirmativas que visam a reconhecer e corrigir situações
de direitos negados socialmente ao longo da história.
As ações afirmativas vêm sofrendo críticas por uma
pequena parcela da sociedade brasileira (a elite), que há
muito tempo vêm acumulando riquezas e oportunidades.
O que o negro e os outros segmentos excluídos da
participação e usufruto dos bens, riquezas e oportunida-
des querem é o direito à cidadania, à cultura, à educação,
ao trabalho digno e à participação das políticas públicas de
caráter social. Os programas de ações afirmativas são, na
verdade, políticas de correção de desigualdades sociais e
formas de efetivação de direitos. Portanto, defender as
ações afirmativas é de fato se posicionar contra o mito da
democracia racial e da exclusão social existente no Brasil.
É preciso agir a partir da raiz do problema para
erradicar a situação de exclusão social. O programa de
cotas para negros e afrodescendentes é uma das ações
afirmativas de caráter radical, pois mexe com privilégios
estabelecidos por determinados segmentos da sociedade
brasileira.
‘Ações afirmativas são medidas especiais e tempo-
rárias, tomadas pelo Estado e/ou pela iniciativa privada,
espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo de
eliminar desigualdades historicamente acumuladas,
garantindo a igualdade de oportunidade e tratamento,
bem como compensar perdas provocadas pela
discriminação e marginalização, por motivos raciais,
étnicos, religiosos, de gênero e outros.’
(Ministério da Justiça, 1996, GTI População Negra).

As políticas afirmativas visam a reconhecer as


Coreografia de inclusão: programa desenvolvido pela Universidade
diversidades entre a população negra e não negra, no
Paranaense.
sentido de direcionar os esforços para minimizar e,
gradativamente, diminuir as distâncias socioeconômicas
2. Texto 1:
que permeiam a vida social brasileira...”
Ações afirmativas e políticas públicas de inclusão 3. Texto 2:
social
Sobre exclusão social e política de inclusão.
Por João do Nascimento Por Henrique Rattner
“Karl Marx, historiador alemão (1818 – 1883), um dos “Os programas oficiais e das ONGs encaram o
teóricos do socialismo científico, afirmou durante sua problema da exclusão de modo parcial, privilegiando ora
vida: ‘A sociedade capitalista é antes de tudo uma a geração de renda (bolsa de escola, cesta básica etc.),
sociedade de classes’ e ‘A história do homem é a própria ora a questão de emprego via frentes de trabalho,
luta de classes’. Sendo assim, o conflito social interclas- particularmente no Nordeste flagelado pelas secas
ses gera a apropriação dos bens e oportunidades sociais recorrentes. Nenhum desses programas atinge o objetivo
por alguns segmentos; é a partir da análise do de inclusão social, no sentido mais lato e profundo da
pensamento de Marx e dos propósitos capitalistas que palavra, por omitir a dimensão central do fenômeno – a
vigoram no Brasil a mais de 400 anos, que se insere a perda de autoestima e de identidade de pertencer a um
exploração do povo afrodescendente como mera grupo social organizado.
ferramenta de utilidade material, força de trabalho e bem A inclusão torna-se viável somente quando, através
comercializável; sem o devido reconhecimento do da participação em ações coletivas, os excluídos são
desmantelamento de centenas de milhares de etnias que capazes de recuperar sua dignidade e conseguem – além
compunham o território do continente africano e que se de emprego e renda – acesso à moradia decente,

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facilidades culturais e serviços sociais, como educação e admissão nas esferas de decisão, inclusive com a
saúde. alocação de recursos dos orçamentos governamentais.
Esta tarefa ultrapassa o âmbito estreito dos progra- Assim, é possível prever um longo período de poder
mas de filantropia desenvolvidos por ONGs e exige o dual em que as autoridades e instituições tradicionais
engajamento contínuo do poder público através de procurem manter o status quo na defesa dos interesses
políticas proativas e preventivas, sobretudo na área das classes proprietárias e da tecnocracia a elas aliada.
econômica, em nível federal, que permeiem as ações dos Por outro lado, as múltiplas organizações da sociedade
governos estaduais e municipais. civil, adquirindo saber e experiência no manejo e na
As políticas ao nível macro, executadas pelas diver- defesa das causas públicas, conquistam maior autonomia
sas instâncias do poder público, não devem ser concebi- e autoconfiança na sua capacidade de gerir o próprio
das como competitivas ou substitutivas dos programas e destino no processo de transformação social e política
projetos realizados pelas ONGs e outras entidades da (...)”
sociedade civil. Ambos são necessários e complementa-
res à condição de que não haja cooptação ou aprovei- Glossário
tamento dos programas desenvolvidos para fins
político-partidários. Desenvolvimento sustentável: Conceito que
Em retrospectiva, nas últimas décadas percebe-se o propõe uma conciliação entre desenvolvimento econômi-
avanço gradual da sociedade civil nas disputas sobre sua co e proteção ambiental.

1. “Ao contrário do que sugeriria uma abordagem que visse na A iniciativa, realizada em parceria com o Instituto Ruaviva, prevê o
empresa um agente passivo ante a sociedade em que está inserta, não envio de SMS para o celular dos franqueados, alertando para a chegada
se trata de uma adaptação mecânica da empresa às imposições da data. As mensagens são repassadas para as consultoras que, por sua
econômicas e técnicas que vêm de fora...” vez, mobilizam também os consumidores. A ferramenta eletrônica de
(A. M. Kirschner) comunicação foi escolhida para não gerar papel durante a mobilização.
A conclusão desse argumento está na alternativa: “A ideia é pulverizar o movimento e incentivar a sociedade a adotar
a) Os atores no seio de uma empresa competem e se destacam pelas transportes alternativos, como a caminhada, a bicicleta ou a carona
habilidades conquistadas ao longo da história pessoal de cada solidária. É cada um fazendo a sua parte para diminuir os impactos no
agente. Assim, tal competitividade promove um avanço das forças planeta, deixando-o ainda mais belo”, diz Malu Nunes, gerente de
humanas de produção. Responsabilidade Social Corporativa da empresa.
b) Os atores no seio da organização empresarial têm sempre escolhas O “Dia Sem Carro” faz parte da ação “O Mundo Mais Belo” de 2010
possíveis, pois eles constroem uma organização cujo resultado é – uma iniciativa da marca, criada no ano anterior, para tratar e discutir
sancionado pelo exterior. Assim, a empresa instaura um conjunto de assuntos relacionados à Educação Ambiental. A ação do Boticário está
relações sociais e culturais e produz, assim, identidades novas. Nela alinhada ao movimento mundial Dia Sem Carro, criado na França há 12
se desenvolvem relações de oposições e de alianças e o ator anos e que chegou ao Brasil em 2001.
vivencia as relações de trabalho de forma interativa e estratégica.
Refletindo um pouco sobre a notícia, julgue as assertivas abaixo:
c) A organização empresarial estabelece relações humanas que
I. As questões ambientais são relativamente novas e já estão
independem das vontades pessoais dos indivíduos, estando à mercê
presentes nos programas de partidos políticos, empresas, entidades
das necessidades de se acumular lucros e de sobrevivência.
religiosas e ONGs.
d) As empresas geram relações de solidariedade, e isso ao contrário
II. A iniciativa conta anualmente com a ampla participação de todos os
do que se imagina, pois estabelece princípios fortes de interdepen-
cidadãos, de todas as classes no Brasil.
dência social, sem a sombra dos interesses mesquinhos que
III. O “dia sem carro” proposto pela empresa em questão é a solução
ameaçam o progresso de todo o organismo.
pronta para o enorme volume dos problemas ambientais que
e) Os atores e agentes que compõem uma organização empresarial
ocorrem hoje nas cidades grandes.
estabelecem relações de solidariedade nos sindicatos livres, em que
IV. O projeto possui naturalmente um papel divulgador da marca, porém
a presença dos senhores detentores dos meios de produção não se
poderia ter o efeito incentivador, projetando um modelo de cultura de
faz sentir.
contenção previstos para o futuro.
São verdadeiras:
RESOLUÇÃO:
Resposta: B a) I e II b) I e III c) II e IV d) III e IV e) I e IV

RESOLUÇÃO:
2. A maior franquia de perfumaria e cosméticos do mundo escolheu
Resposta: E
uma forma sustentável para festejar o aniversário. A proposta do
Boticário é incentivar os mais de 900 franqueados e cerca de 15 mil
funcionários a deixar seus automóveis na garagem e usar transportes
alternativos durante o dia 22 de março, data em que a empresa
comemora 33 anos de atividades.

– 67
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3. Leia as notícias e assinale a alternativa correta: 5. Se a proteção ambiental está ligada à preservação do ambiente e
I. O programa Minas sem lixões divulga nesta semana os vencedores dos recursos naturais, e a sustentabilidade econômica está ligada à
do prêmio Sustentabilidade e Gestão Ambiental Municipal de Resí- procura de soluções duradoiras e sustentáveis para o desenvolvimento
duos Sólidos Urbanos. Entre as iniciativas, está o Projeto Carrocei- econômico, então a esfera sociopolítica poderá ser representada como
ros, realizado em Belo Horizonte. No total, foram enviadas 12 o “elemento humano” na equação do desenvolvimento sustentável.
propostas, com foco na inclusão social e na não geração de resíduos, O desenvolvimento social e a sustentabilidade sociopolítica são
reuso e reciclagem. conceitos relacionados, mas não são completamente intercambiáveis.
II. Ainda sob a sombra da crise financeira internacional, o Instituto Carlos É importante perceber a relação interdependente entre ambos e o seu
Roberto Hansen optou por manter uma estrutura enxuta e ampliar o impacto no conceito geral do desenvolvimento sustentável.
volume de recursos destinados às ações de responsabilidade social A maioria de nós está familiarizada com o conceito de desenvolvimento
em 2009. A iniciativa ousada teve como resultado a expansão de 40% social, nas suas múltiplas vertentes. No seio de qualquer sociedade,
do número de beneficiados pelas ações da entidade. existem oportunidades de “melhorar” as suas partes constituintes, de
diversas maneiras. É importante conseguir harmonizar as relações entre
a) Ambas propõem programas de sustentabilidade especificamente de
esses elementos sociais, muitas vezes em oposição.
preocupação ambiental.
b) A notícia II usa o termo “iniciativa ousada” devido à consciente
Essa proposta pode ser mais bem denominada de
impraticabilidade da proposta.
a) sustentabilidade social.
c) O Instituto Carlos Roberto Hansen destinará 40% dos seus
b) desenvolvimento pleno.
faturamentos e lucros aos programas de responsabilidade social.
c) desenvolvimento sustentável.
d) As propostas adotam uma visão sistêmica, ou seja, a preocupação
d) ecodesenvolvimento.
sócioambiental implica uma percepção do sistema social e ambiental
e) questão ambiental.
como estruturas de partes solidárias e interdependentes.
e) A notícia I está inserta na ideia de desenvolvimento insustentável, RESOLUÇÃO:
único capaz de propor soluções imediatas e definitivas para os Resposta: A
problemas ambientais.

RESOLUÇÃO:
Resposta: D

4. As transformações socioeconômicas dos últimos 20 anos têm 6. As políticas afirmativas visam


afetado profundamente o comportamento de empresas até então a) ignorar as diferenças étnicas, desvalorizando os discursos que de-
acostumadas à pura e exclusiva maximização do lucro. Se por um lado fendem a sobrevivência das tradições culturais que nos diferenciam.
o setor privado tem cada vez mais lugar de destaque na criação de b) reconhecer as diversidades entre a população negra e não negra, no
riqueza; por outro lado, é bem sabido que com grande poder, vem sentido de direcionar os esforços para minimizar e gradativamente
grande responsabilidade. Em função da capacidade criativa já existente, diminuir as distâncias socioeconômicas que permeiam a vida social
e dos recursos financeiros e humanos já disponíveis, empresas têm brasileira.
uma intrínseca responsabilidade social. Portanto, podemos afirmar: c) construir uma sociedade igualitária, em que não se reconheçam e
a) A responsabilidade da empresa é inversamente proporcional à não sejam respeitadas as diferenças.
importância de seu desempenho no mercado. d) esconder os preconceitos que de fato existem na sociedade, e
b) Nos últimos 20 anos, as empresas só tem trabalhado com a portanto, tais políticas são inúteis e infrutíferas.
preocupação de maximizar seus lucros. e) acentuar as diferenças e desigualdades, de forma que todas as raças
c) Os recursos humanos e financeiros disponíveis nas empresas tenham seus espaços exclusivos de circulação e expressão.
aumentam e viabilizam a prática da responsabilidade social.
RESOLUÇÃO:
d) A responsabilidade social das empresas dificulta o bom desempe- Resposta: B
nho de seus lucros e, por isso, muitas empresas não desenvolvem
projetos dessa ordem.
e) O setor privado é o único responsável pelo acúmulo de capital e o
único setor capaz de assumir responsabilidades diante das questões
sociais.

RESOLUÇÃO:
Resposta: C

68 –
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1. “A falta de conhecimento da sociedade, em geral, faz com que a 5. “A Sociologia da Empresa vai além dos modelos que definem o
deficiência seja considerada uma doença crônica, um peso ou um espaço fabril como espaço de relações antagônicas de classe. A
problema. O estigma da deficiência é grave: transformando as pessoas empresa tem uma função identificadora na sociedade e constitui,
cegas, surdas e com deficiências mentais ou físicas em seres incapazes, portanto, verdadeira instituição social: ela instaura um conjunto de
indefesos, sem direitos, sempre deixados para o segundo lugar na relações sociais e culturais e produz, assim, identidades novas. Nela se
ordem das coisas. É necessário muito esforço para superar este estigma.” desenvolvem relações de oposições e de alianças e o ator vivencia as
(Maria Regina Cazzaniga Maciel). relações de trabalho de forma interativa e estratégica. A Sociologia da
Empresa rompe com os modelos que interpretam as estratégias dos
Comente o sentido do texto acima.
atores apenas em termos das oportunidades de poder, que omitem da
análise a função dos valores e lógicas coletivas que permeiam as
2. Certa empresa passa a se preocupar com os impactos sociais e
práticas sociais.”
naturais, desenvolvendo projetos para compensar os prejuízos. Assim,
podemos afirmar que:
Na lógica do texto, podemos concluir que
I. O chamado desenvolvimento sustentável é um aspecto da
a) a Sociologia deve sempre ressaltar as relações de classe que
responsabilidade social.
definem o espaço social de uma empresa.
II. O desenvolvimento da ciência ecológica contribuiu para diminuir a
b) a empresa deve incentivar o desenvolvimento da Sociologia dentro
preocupação com o meio ambiente.
do seu espaço físico e humano.
III. A preocupação com questões sociais e ambientais por parte das
c) a gestão dos recursos humanos numa empresa deve incluir a
empresas resulta de uma postura hipócrita, pois sempre haverá
solidariedade, a criatividade e a comunicação.
interesses econômicos por trás dos projetos de responsabilidade
d) a competitividade deve ser incentivada a fim de que se alcance
social.
maiores resultados positivos nas relações de produção.
IV. A ideia é estabelecer um canal de diálogo entre as partes interes-
e) a empresa pode criar um sistema de gestão que valorize o seu capital
sadas e envolvidas, com a percepção clara de que todos ganham,
objetivado.
inclusive os empresários, investindo recursos com preocupações
sociais e ambientais.
6. Sobre as políticas de inclusão social, leia e julgue as assertivas
São verdadeiras apenas: abaixo.
a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV. I. Políticas de inclusão social consistem em ações positivas de
combate à exclusão social e econômica de pessoas muito pobres, de
3. Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão ética que baixo grau de instrução, portadoras de deficiências físicas ou ainda
tem a organização com suas partes interessadas, com o objetivo de: pertencentes a alguma minoria social. Assim, espera-se poder
a) aumentar a margem de lucro, tendo em vista que o mercado e o oferecer condições dignas de vida e maiores possibilidades de
cliente aprovam tais forma de gestão. participação social a todos.
b) atender às exigência legais de gestão ambiental. II. Para realizar tal empresa humanitária, não se faz necessária a
c) minimizar impactos negativos no meio ambiente e na comunidade elaboração de leis que acabariam apenas por burocratizar e dificultar
local. o desenvolvimento espontâneo de tais políticas, suficientemente
d) evitar desperdícios dos recursos adquiridos como capital pela baseadas em princípios humanitários.
empresa. III. Nos últimos anos, no Brasil, foram criadas leis que facilitam a vida da
e) maximizar os fins, minimizando os meios, ou seja, buscar ampliar a terceira idade e de deficientes físicos. Até recentemente, não se via
margem dos lucros, diminuindo ao máximo os investimentos. a circulação de coletivos em condições de transportar cadeiras de
rodas, ou banheiros especiais para deficientes físicos.
4. Até os anos 1980 as ciências sociais não se aproximavam muito das IV. Hoje, são criados e exigidos mecanismos que adaptem os
empresas, seja para tomá-las como objeto de estudo, seja para tentar deficientes aos sistemas socias, facilitando a frequência de
intervir sobre o mundo social das empresas. A partir de meados da instituições comuns e, quando necessário ou aconselhável, são
década de 1980, esta situação se reverte. A sociedade passa a interpelar criados sistemas especiais separados.
a empresa e isso significa que
a) a empresa aparece mais na mídia como o lócus onde se dá a São verdadeiras:
exploração do trabalho pelo capital. a) Todas. b) Apenas I e II. c) Apenas II, III e IV.
b) a empresa aparece mais na mídia através das propagandas que d) Apenas I, III e IV. e) Apenas III e IV.
vendem a imagem de seus produtos ao consumidor.
c) a empresa é abordada pelos setores civil e público com a 7. No Brasil, a Lei Federal n.° 7853, de 24 de outubro de 1989,
preocupação de fiscalizar suas funções comerciais e de produção. assegura os direitos básicos dos portadores de deficiência. Em seu
d) a partir dos anos 1990, a empresa passou a ser vista como a vilã das artigo 8.º constitui como crime punível com reclusão (prisão) de 1 a
mazelas sociais e ambientais do mundo capitalista. 4 anos e multa, quem:
e) a sociedade passa a interpelar a empresa, que aparece mais na 1. Recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a
mídia, agora de forma mais favorável, assim, coloca-se em questão inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso
a função social da empresa e suas possibilidades. ou grau, público ou privado, porque é portador de deficiência.
2. Impedir o acesso a qualquer cargo público porque é portador de
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deficiência. 9. “O conceito de inclusão nos ensina não a tolerar, respeitar ou


3. Negar trabalho ou emprego, porque é portador de deficiência. entender a deficiência, mas sim a legitimá-la, como condição inerente ao
4. Recusar, retardar ou dificultar a internação hospitalar ou deixar de ‘conjunto humanidade’...”
prestar assistência médico-hospitalar ou ambulatória, quando (Cláudia Werneck)
possível, a pessoa portadora de deficiência.
5. Não estiver diretamente envolvido na colaboração ativa com Por que a autora afirma que inclusão social não nos ensina a tolerar?
projetos de políticas de inclusão social. a) O termo tolerar é de fato ambíguo. Pode significar aceitar ou
aguentar. A autora sugere com a frase acima que a política de
Assinale a alternativa que aponta entre as cinco acima, única condição inclusão vai além da simples compreensão de uma suposta
falsa e que não consta na Lei 7 853. infelicidade do outro. A deficiência passa a ser vista com uma das
a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 e) 5 muitas condições humanas dentro da diversidade e múltiplas
possibilidades de existência autenticamente humana.
8. Sobre as políticas de inclusão no Brasil, é correto afirmar que: b) A compeensão da condição humana implica convivência e
a) A inclusão social consiste na reconstrução de uma sociedade antiga, intolerância. É um equívoco julgar que as relações humanas estejam,
pois houve época em que deficientes eram respeitados e possuíam por qualquer momento, isoladas da experiência da intolerância. A
grandes chances de projeção social. autora, portanto, se revela realista.
b) O Brasil é considerado um dos países mais atrasados no que diz c) A intolerância tece as relações entre os homens e pode ser
respeito à legislação de políticas de inclusão. transformada em convivência se soubermos, não tolerar, mas aceitar
c) No Brasil, muitas pessoas desconhecem as leis e outras vivem ainda a condição do outro.
à margem das políticas de inclusão social. d) Na verdade, a autora quis expressar a ideia de que não devemos
d) Segundo as leis brasileiras, a sociedade civil não deve intervir tolerar o preconceito em relação aos portadores de deficiências, a
diretamente em questões de inclusão, pois tais políticas cabem aos quem devemos respeito e entendimento.
órgão públicos competentes e que contam com profissionais e) Tolerar já é por si próprio uma política suficiente no trato com o outro,
qualificados. com o diferente e com a deficiência que o outro possa trazer, por
e) No Brasil, ainda não há uma real preocupação com as políticas de desventura.
inclusão social.

1) Ocorre que o potencial e as habilidades de pessoas com


deficiências são pouco valorizados nas suas comunidades de
origem, que, obviamente, possuem pouco esclarecimento a
respeito de tais deficiências.

2) E 3) C 4) E 5) C

6) D 7) E 8) C 9) A

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MÓDULO 10 Globalização, Sociedade e Cultura


1. Introdução significativamente e redesenham o palco em que se
disputam poderes e influências.
Globalização é a interligação do mundo, ou o processo Essa nova fase do capitalismo define-se por um
de aprofundamento da integração mundial, particula- mundo ordenado de forma multipolar, com a atuação
rmente econômica, com repercussões no plano social, marcante das transnacionais e formação de blocos
cultural e político. econômicos.
No final do século XX, surgiram novas tecnologias,
Texto
que aceleraram o processo de produção, de informação e
comercial. Um exemplo desse fenômeno histórico seria a O lado perverso da globalização na sociedade da
internet. informação
Trata-se de uma nova fase de produção capitalista e
de sua expansão baseada na formação de uma “aldeia Por Maria Elza Miranda Ataíde
global”. Ocorre a invasão de mercadorias, informação, (Texto adaptado)
pessoas, serviços e tecnologias de várias partes do INTRODUÇÃO
mundo em diversos lugares e vice-versa.
Pode-se dizer que o mundo está em processo de “Passados alguns anos da entrada do Brasil na era da
globalização desde o início da história. As viagens, as globalização podemos constatar a mudança de
guerras, a expansão marítima estão inseridas num paradigmas econômicos, políticos e sociais.
processo de mundialização. Porém, o fenômeno a que O objetivo do desenvolvimento econômico é o
hoje chamamos de globalização é um processo mais aumento contínuo do bem estar do povo, proporcionando
recente e muito específico. O colapso do mundo a satisfação de necessidades básicas e minimizando
socialista e o fim da Guerra Fria inauguram uma nova desigualdades de acesso a bens e serviços.
ordem mundial. A globalização prometia abertura de mercado e
igualdade de oportunidades para todos. Isto significaria
Vê-se um processo de homogeneização dos centros
que todos os indivíduos fariam ou poderiam fazer parte
urbanos, a expansão das corporações, o fortalecimento
de um mesmo mundo, de uma mesma realidade. A de-
das organizações supranacionais e a reorganização das
mocracia pressupõe uma sociedade livre, com igualdade
estruturas sociais e culturais.
de direitos e deveres ou, no mínimo, sem grandes
desigualdades entre os cidadãos. A globalização estaria
permitindo as mesmas oportunidades para todos? Ou
estaria privilegiando pequenos grupos? Em um rápido
balanço de final de século, que conclusões podemos
elencar?

Alguns resultados do processo de globalização

O Programa das Nações Unidas para o Desenvol-


vimento (PNUD) divulgou um relatório sobre o desenvol-
vimento humano no qual revela um quadro bastante
negativo no período de 1990 a 1995, período este que
podemos relacionar com os primeiros resultados do
processo de globalização. Segundo este relatório, o nível
de pobreza aumentou no mundo. Antes concentrava-se
na América Latina, no sul da Ásia e na África. Hoje,
sabemos que os países da Europa Oriental e os da antiga
Manuel Esteves. O mundo na era global. União Soviética engrossam a lista dos excluídos. Até os
países ricos viram o índice de pobreza subir de forma
Uma característica da globalização é a insaciabilidade alarmante.
de acúmulo de capital a baixos custos e no prazo de O desemprego alcançou níveis iguais aos dos anos
tempo mais curto possível. Aqui entra a ação dos agentes 30, e a desigualdade de renda cresceu ainda mais. O
especulativos, conhecidos como smart money ou hot mercado tornou-se mais agressivo com a globalização da
money (respectivamente, dinheiro esperto e dinheiro economia. O capital estrangeiro entrou no Brasil. O
quente). Os fluxos de capitais internacionais crescem monopólio agoniza. O governo brasileiro lança uma
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política de privatização. As privatizações, sob a alegação caminha para uma ausência total de desejo, pois os
de reduzir o tamanho dos Estados, desejam mesmo é velhos paradigmas estão sendo quebrados, porém
poupá-los de realizar cortes de pessoal. Portanto, a não estamos construindo outros no lugar. Há uma
globalização e a informatização significam a privatização total ausência de ícones na sociedade pós-moderna.
do máximo de empresas estatais para promover o
enxugamento do Estado e gerar o enfraquecimento dos III. O perigo da construção de uma sociedade alienada.
trabalhadores pelo terror do desemprego. Nas grandes empresas fala-se muito sobre a questão
As empresas brasileiras, para se tornarem competiti- da transversalidade, associada à questão da qualidade
vas e sobreviver nesta economia globalizada, tiveram de total (a velha reengenharia , lembra-se?). Este modelo
introduzir modificações em suas estratégias de neoliberal imperialista, seria melhor definível como
“Transversalidade Ideológica”. Missão, declaração de
competição e crescimento. Muitas desapareceram, ou
propósito, lema da empresa, seja qualquer que for o
estão fechando suas portas. O desemprego aumenta a
título que se emprega a esta modalidade, nada mais
cada dia.”
é do que a tentativa de desviar o homem dos temas
centrais, reais e necessários à sua sobrevivência,
senão alienar, principalmente os países do terceiro
mundo, para os temas centrais que interessam tão
somente aos imperialistas.

IV. O perigo da construção de uma sociedade de consu-


mo adicto. O vício do consumismo. O importante é o
ter e o consumir e não o ser e existir. O direito do
cidadão virou direito do consumidor. Tudo agora está
girando pela questão do patrocinador (...)

V. O perigo da construção de uma sociedade


individualista. A relação de competição é tão grande,
que fica difícil identificar sociologicamente onde há
conflito e competição. Estamos evoluindo para lei da
selva. Meu pai falava sobre a lei do MURICI: Cada um
A globalização pode estar acentuando as desigualdades sociais no mundo. cuida de si. Quando era criança não entendia muito o
que ele queria dizer com isto, e ainda não sei se
Os Perigos da Globalização entendi plenamente, mas seja o que for estamos
vivendo momentos em que as relações humanas não
Por Vanderlei de Barros Rosas (professor) tem valor algum, a não ser na base de troca. A
pergunta básica é: O que eu vou ganhar com isso?
(Texto adaptado)
Este individualismo acerbado tem trazido terríveis
danos à nossa sociedade. Precisamos resgatar
I. O perigo da construção de uma sociedade hedonista.
valores como cooperação, amizade, companheirismo,
O prazer pelo prazer. Sexo, drogas e música
reciprocidade etc.
(antigamente era Rock, agora é Funk) são objetivos
prioritários para nossa juventude. Fico assustado
VI. O perigo da construção de uma sociedade tecnologi-
quando ouço nos meios de comunicação de massas
cêntrica. Desde Descartes passamos a dotar o falso
músicas com apologias ao crime organizado, drogas
mito da racionalidade humana como veículo de
e a prática de sexo livre em grupo. Tais músicas
domínio da explicação do mundo. Isto tomou força
fazem sucesso porque encontram guarita em um
com o racionalismo Kantiano, onde a razão passa,
mundo globalizado, onde o ser humano tem
através do turbilhão a ser o instrumento da visão e
procurado satisfazer suas necessidades básicas
entendimento do mundo. O Iluminismo, permeado
através de suas realizações de prazer. Creio que até
desta tão grande razão, perpetuou tais conceitos,
Freud ficaria assustado com tanto libido social.
culminando com Augusto Comte através de sua
II. O perigo da construção de uma sociedade niilista. A filosofia positivista, quando coloca o estágio tecnoló-
ausência total de referencial. Deleuze, filósofo gico como sendo o final do processo evolutivo do
francês, apontou uma crítica que Nietzsche fez à homem (Mito-Filosia-Ciência). O tecnicismo e o cien-
filosofia de Schopenhauer. Para Schopenhauer existe tificismo em que estamos mergulhados tende a um
um nada de Vontade, enquanto para Nietzsche existe processo de desumanização das relações humanas.
a vontade do Nada. Hoje estamos vivemos mais um Estamos nos relacionando mais com máquinas do
negativismo schopenhauerano do que o niilismo que com seres humanos. A máquina é o fim, o
proposto por Nietzsche, que apropriou-se deste homem o meio. Devemos usar a máquina e amar o
conceito da religião budista. Nossa sociedade ser humano, inverter esta ordem causa problemas.
72 –
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VII. O perigo da construção de uma sociedade amoral. isso fala-se em processos de destradicionalização e de
Diante das recentes descobertas científicas, principal- desterritorialização. O professor e sociólogo Renato Ortiz
mente na área biogenética, o homem precisa, mais (Mundialização e Cultura, Brasiliense 1998) que utiliza os
do que nunca, estabelecer referenciais, condutas e termos acima, não acredita, porém, numa homogeneiza-
posturas éticas para que não venhamos a proceder ção, mas em processos de reinterpretação das culturas
contra a própria natureza humana (se é que existe e tradições. Ortiz fala em novos estilos de vida, marcadas
uma natureza humana no homem). A clonagem, as pela aceleração do tempo e da redução do espaço
informações do mapeamento genético, os geográfico. Assim, a nova ordem inaugura uma cultura
transgênicos, e outras novas descobertas colocam o fast food, que não significa uma americanização da cultura
homem na crucial questão: Qual é o limite do global. Não há, portanto, segundo o autor citado, um
homem? Numa sociedade onde o capitalismo movimento de unicidade cultural.
instaurou-se com único modelo econômico, onde o
imperialismo oprime os mais fracos, onde o prazer
está pelo prazer, onde a pornografia (principalmente a
pedofilia) tem crescido assustadoramente e onde o Apresentação de música étnica (world music) na Holanda, em
comércio de narcóticos é o mais rentável, o que Maastricht.
devemos esperar desta sociedade?
Texto
VIII.O perigo da construção de uma sociedade com perda
de identidade cultural. O imperialismo do Primeiro Efeitos culturais da globalização
Mundo ocorre principalmente através do processo de
globalização. Tal domínio começa a se estabelecer Por Antonio Inácio Andrioli
através da linguagem, onde aportuguesamos várias (doutorando em Ciências Sociais na Universidade de
expressões importadas: Deletar, scanear etc. Não sou Osnabrück – Alemanha)
xenófobo, aquele que tem aversão ao que é
estrangeiro, mas acredito na valorização daquilo que “ ‘Nós vivemos na era da globalização, tudo conver-
é nosso culturalmente, até como princípio de ge, os limites vão desaparecendo’. Quem não ouviu, no
preservação de nossa identidade cultural. Também mínimo, uma destas expressões nos últimos anos? A
globalização é um chavão de nosso tempo, uma
não sou tão radical, pois se formos considerar a
discussão que está na moda, onde opiniões fatalistas
cultura brasileira como sendo nossa identidade
conflitam com afirmações críticas, e o temor de uma
cultural, precisamos resgatar o tupi-guarani nas homogeneização está no centro do debate. Suposições
escolas e reavaliarmos a cultura afro-europeia. de uma sociedade mundial, de uma paz mundial ou,
simplesmente, de uma economia mundial, surgem segui-
Concluo, se é que podemos concluir um assunto desta damente, cujas consequências levariam a processos de
natureza, com uma pequena comparação: Um certo unificação e adaptação, aos mesmos modelos de
homem decidiu derrubar sua velha casa onde foi criado consumo e a uma massificação cultural. Mas há que se
desde sua infância, e de um dia para outro demoliu tudo, perguntar: trata-se apenas de conceitos em disputa ou há
porém não planejou a sua nova morada, ficando ao algo que aponte, de fato, nesta direção? Quais são, afinal,
relento. Assim estamos vivendo nesta era da pós- os efeitos culturais da globalização?
modernidade, com terríveis consequências deste mundo O processo de constituição de uma economia de
caráter mundial não é nada novo. Já no Período Colonial
globalizado, onde estamos perdendo não somente nossa
houve tentativas de integrar espaços intercontinentais
morada, mas principalmente nossa identidade. O que será
num único império, quando a ideia de ‘dominar o mundo’
do futuro ? Só o futuro dirá.” ficou cada vez mais próxima. Por outro lado, a integração
das diferentes culturas e povos como ‘um mundo’ já foi
Globalização e Cultura desejada há muito tempo e continua como meta para
muitas gerações. Sob esta ótica, o conceito de globaliza-
Introdução ção poderia ter um duplo sentido, se ele não fosse tão
marcado pelo desenvolvimento neoliberal da política
É evidente que a globalização registra profundas internacional.
marcas sobre a cultura. É observável a mudança e Conforme o sociólogo alemão Ulrich Beck, com o
inovação de padrões de comportamentos, assim como termo globalização são identificados processos que têm
uma exposição às influências culturais externas em cada por consequência a subjugação e a ligação transversal dos
cultura nacional e local. Tornou-se, inclusive, um lugar- Estados nacionais e sua soberania através de atores
comum afirmar que a globalização homogeneizará as transnacionais, suas oportunidades de mercado,
culturas, extinguindo as tradições e as localidades. Por orientações, identidades e redes. Por isso, ouvimos falar

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de defensores da globalização e de críticos à globalização, exclusão de muitos grupos na sociedade e a separação


num conflito pelo qual diferentes organizações se tornam entre camadas sociais têm contribuído para que a tão
cada vez mais conhecidas. Neste sentido, não se trata de propalada integração entre diferentes povos não se
um conflito stricto sensu sobre a globalização, mas sobre efetive; pelo contrário, isso tem levado a um processo de
a prepotência e a mundialização do capital. Esse atomização da sociedade. O valor está no fragmento, de
processo, da forma como ele atualmente vem modo que o engajamento político da maioria ocorre de
acontecendo, não deveria sequer ser chamado de forma isolada como, por exemplo, o feminismo, o
globalização, já que atinge o globo de forma diferenciada movimento ambientalista, movimentos contra a
e exclui a sua maior parte – se observarmos a circulação discriminação ética e sexual etc. Tudo isso sem que se
mundial de capital, podemos constatar que a maioria da perceba um fio condutor que possa unificar as lutas
população mundial (na Ásia, na África e na América Latina) isoladas num projeto coletivo de sociedade. Nessa
permanece excluída. perspectiva fala-se de um ‘fim das utopias’, que se
combina com uma nova forma de relativismo: ‘a verdade
Essa forma de globalização significa a predominância em si não existe; a maioria a define’.
da economia de mercado e do livre mercado, uma No que se refere à educação, cresce a sobrevalori-
situação em que o máximo possível é mercantilizado e zação do pragmatismo, da eficiência meramente técnica
privatizado, com o agravante do desmonte social. e do conformismo. O mais importante é a formação
Concretamente, isso leva ao domínio mundial do sistema profissional, concebida como único meio de acesso ao
financeiro, à redução do espaço de ação para os gover- mercado de trabalho. A ideia é a de que, com uma melhor
nos – os países são obrigados a aderir ao neoliberalismo qualificação técnica, se tenha maiores possibilidades de
– ao aprofundamento da divisão internacional do trabalho conseguir um emprego num mercado de trabalho em
e da concorrência e, não por último, à crise de endivi- declínio. Em consequência a isso, a reflexão sobre os
damento dos Estados nacionais. Condições para que essa problemas da sociedade assume cada vez menos
globalização pudesse se desenvolver foram a importância; e valores como engajamento, mobilização
interconexão mundial dos meios de comunicação e a social, solidariedade e comunidade perdem seus
equiparação da oferta de mercadorias, das moedas significados. Importante é o luxo, o lucro, o egocentrismo,
nacionais e das línguas, o que se deu de forma progres- a ‘liberdade do indivíduo’ e um lugar no ‘bem-estar dos
siva nas últimas décadas. A concentração do capital e o poucos’. Esses valores são difundidos pelos grandes
crescente abismo entre ricos e pobres (48 empresários meios de comunicação e os jovens são, nisto, os mais
possuem a mesma renda de 600 milhões de outras atingidos. A diminuição do sujeito/indivíduo surge como
pessoas em conjunto) e o crescimento do desemprego decorrência, pois o ser humano é cada vez mais encara-
(1,2 bilhões de pessoas no mundo) e da pobreza (800 do como coisa e estimulado a satisfazer prazeres
milhões de pessoas passam fome) são os principais supérfluos. Os excluídos são descartados sem perspecti-
problemas sociais da globalização neoliberal e que vêm va e encontram cada vez menos espaço na sociedade
ganhando cada vez mais significado. que, afinal de contas, está voltada aos consumidores,
É evidente que essa situação tem efeitos sobre a enquanto o acesso público é continuamente reduzido.
cultura da humanidade, especialmente nos países pobres,
onde os contrastes sociais são ainda mais perceptíveis. Por outro lado, há reações que se desenvolvem
Em primeiro lugar, podemos falar de uma espécie de internacionalmente contra essa tendência. A ampliação
conformidade e adaptação. Em função da exigência de das possibilidades de comunicação tem contribuído para
competitividade, cada um se vê como adversário dos que protestos isolados pudessem se encontrar e consti-
outros e pretende lutar pela manutenção de seu lugar de tuir redes. O lema: ‘pensar globalmente e agir localmen-
trabalho. Os excluídos são taxados de incompetentes e te’ pôde ser superado, de forma que uma ação global se
os pobres tendem a ser responsabilizados pela sua tornou possível, o que alterou a visão de mundo e os limi-
própria pobreza. Paralelamente a isso, surge nos países tes de tempo e espaço. Para além das diferenças étnicas,
industrializados uma nova forma de extremismo de religiosas e linguísticas dos povos, podemos falar de uma
direita, de forma que a xenofobia e a violência aparecem nova divisão do mundo: de um lado, uma minoria que é
entrelaçadas com a luta por espaços de trabalho. É claro beneficiada pela globalização neoliberal e, de outro, a
que a violência surge também como reação dos maioria que é prejudicada com a ampliação do livre
excluídos, e a lógica do sistema, baseada na competição, mercado. Esse conflito está no centro do debate atual da
desenvolve uma crescente ‘cultura da violência’ na humanidade, cujos efeitos caracterizam o espírito do
sociedade. Também não podemos esquecer que o próprio nosso tempo e influenciarão a cultura da humanidade
crime organizado oferece oportunidades de trabalho e futura. Se a imagem das futuras gerações será fragmen-
segurança aos excluídos. tada ou mais homogeneizada ainda não se sabe, mas a
possibilidade de uma crescente desumanização é muito
Embora tenham sido desenvolvidos e disponibilizados grande.”
mais meios de comunicação, presenciamos um crescente
isolamento dos indivíduos, de forma que as alternativas Glossário
de socialização têm sido, paradoxalmente, reduzidas. A Paradigma: referencial teórico.
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1. São características do mundo globalizado ou da nova ordem mundial: 4. (UERJ-Adaptada) – No admirável mundo novo das oportunidades
I. Fortalecimento do conceito de soberania do Estado. fugazes e das seguranças frágeis, a sabedoria popular foi rápida em
II. Formação de uma ordem multipolar marcada pela disputa econômica perceber os novos requisitos. Em 1994, um cartaz espalhado pelas ruas
e de mercados. de Berlim ridicularizava a lealdade a estruturas que não eram mais
III. Formação de blocos militares como a OTAN. capazes de conter as realidades do mundo: “Seu Cristo é judeu. Seu
IV. Democratização econômica e de informação, diminuindo a distância carro é japonês. Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega. Seu café,
entre ricos e pobres. brasileiro. Seu feriado, turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras,
latinas. Só o seu vizinho é estrangeiro”.
São coerentes (apenas): Zygmunt Bauman. Adaptado de Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
a) Todas. b) I e III. c) II. d) IV. e) III e IV.
A alteração de valores culturais em diversas sociedades é um dos
RESOLUÇÃO: efeitos da globalização da economia.
Resposta: C O cartaz citado no texto ironiza uma referência cultural que pode ser
associada ao conceito de
a) localismo.
2. “Para existir enquanto língua mundial, o inglês deve nativizar-se, b) nacionalismo.
adaptando-se aos padrões das culturas específicas. A diversidade de c) regionalismo.
usos determina estilos e registros particulares.” d) eurocentrismo.
(Renato Ortiz, Mundialização e Cultura) e) globalização.

Disso decorre RESOLUÇÃO:


a) que a globalização implica padronização. Resposta: B
b) a perda total das identidades e culturas nacionais.
c) que a mundialização não se identifica com a uniformidade.
d) a homogeneidade e a pasteurização das culturas locais.
5. (UEMA) – Observe a charge.
e) a americanização do estilo de vida.

RESOLUÇÃO:
Resposta: C

3. “Essa forma de globalização significa a predominância da economia


de mercado e do livre mercado, uma situação em que o máximo
possível é mercantilizado e privatizado, com o agravante do desmonte
social. Concretamente, isso leva ao domínio mundial do sistema
financeiro, à redução do espaço de ação para os governos – os países
são obrigados a aderir ao neoliberalismo – ao aprofundamento da divisão
internacional do trabalho e da concorrência e, não por último, à crise de
endividamento dos Estados nacionais“.
(Antonio Andrioli)

www.conexãoambiental.zip.net/arch.
Segundo o texto, é possível afirmar que
a) o processo causará uma concentração de capital e crescente abismo
De acordo com o observado, assinale a alternativa que contenha,
entre ricos e pobres.
respectivamente, a abrangência e o principal fator gerador da crise
b) o processo causará a formação de Estados nacionais totalitários e
econômica atual.
endividados.
a) Regional, provocada pelo fordismo.
c) o processo levará a uma perda do espaço privado, diante da
b) Global, ocasionada pela internacionalização do capitalismo financeiro.
valorização crescente do espaço público.
c) Local, provocada pela dinamização da economia urbana.
d) o processo causará um maior entrosamento entre todas as
d) Global , provocada pela falta de matérias-primas e mão de obra
economias nacionais, caracterizando efetivamente a globalização.
especializada.
e) o processo trará maior acesso à informação, permitindo maior
e) Global, provocada pela crise do petróleo.
competitividade social, definindo uma verdadeira meritocracia social.
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: Resposta: B
Resposta: A

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6. (UFRN/RN) – A globalização faz parte do processo de expansão do 8. ... Esta temática articula-se com outra igualmente central no âmbito
capitalismo, que atinge as diversas esferas da sociedade, em escala da globalização cultural: o de saber até que ponto a globalização acarreta
planetária. a homogeneização. Se para alguns autores a especificidade das culturas
Sobre a globalização, é correto afirmar que se trata de um processo locais e nacionais está em risco, para outros, a globalização tanto produz
a) o qual, embora apresente tendência à homogeneização do espaço homogeneização como diversidade.
mundial, é seletivo e excludente. No domínio cultural, o consenso neoliberal é muito seletivo. Os
b) o qual, embora apresente tendência à fragmentação do espaço fenômenos culturais só lhe interessam na medida em que se tornam
mundial, tem reduzido as desigualdades socioeconômicas. mercadorias que como tal devem seguir o trilho da globalização
c) o qual eleva a produção da riqueza e conduz à distribuição equitativa econômica.
de renda entre os países do mundo.
d) o qual reduz a competitividade entre os países e ameniza os conflitos Segundo o texto:
nacionalistas. a) A globalização tende apenas a homogeneizar as culturas.
b) A globalização gera apenas diversidade.
RESOLUÇÃO: c) A cultura se submete à lógica do mercado.
Resposta: A d) A cultura pouco é afetada pela globalização.
e) A globalização tende a uniformizar padrões de comportamento.

RESOLUÇÃO:
Resposta: C

9. A afirmação de identidades é o outro lado da moeda do caráter


7. As novas tecnologias digitais de comunicação e informação econômico da globalização. A globalização pressupõe a ideia de
possibilitam uma integração econômica mundial de características e desterritorialização e desinstitucionalização, em um movimento em
alcance sem precedentes. Porém, esse processo é acompanhado por direção a um mundo sem fronteiras. A falta destas, no entanto, implica
profundos sentimentos de desconexão, insegurança e segregação. Por a perda das referências. São elas que tornam o sujeito, ao mesmo
outro lado, as tecnologias não favorecem somente os interesses do tempo, igual entre iguais e diferentes entre todos, já que a pertinência
grande mercado, inclusive o cultural. Elas também proporcionam novos a um território significa pertinência a um elo de identificação e a
fluxos de experimentação artística e oportunidades de valorização de pertinência a uma instituição – seja ela política, social ou,
tradições culturais específicas, combinada ao uso criativo dos mais especificamente, cultural – significa compartilhamento de crenças,
recentes recursos científicos e tecnológicos. Nesse sentido, o PNC convicções ou ideais.
(Plano Nacional de Cultura) busca contemplar as dinâmicas emergentes
no mundo contemporâneo, sem deixar de atender às manifestações Assinale a alternativa que revela o conteúdo central do pequeno texto
históricas e consolidadas. Essa ideia e o texto acima.
a) vão contra a ideia de reinterpretação das culturas como marca da a) Desterritorialização das culturas.
mundialização. b) Identidade e globalização.
b) vão de encontro à ideia de homogeneização da cultura. c) A perda de referências globais.
c) fortalecem a ideia de uma americanização e pasteurização da cultura. d) Caráter econômico da globalização.
d) vão contra a ideia de pobreza cultural como consequência da e) Desinstitucionalização dos mercados globais.
globalização.
e) vão de encontro a um perigoso nacionalismo intolerante em relação RESOLUÇÃO:
Resposta: B
à globalização.

RESOLUÇÃO:
Resposta: D

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1. Quais as consequências que a globalização está imprimindo no 6. A globalização é um chavão de nosso tempo, uma discussão que
tempo, no espaço e nas culturas? está na moda, onde opiniões fatalistas conflitam com afirmações
críticas, e o temor de uma homogeneização está no centro do debate.
2. Os termos destradicionalização e desterritorialização, utilizados pelo A frase acima:
sociólogo brasileiro Renato Ortiz dizem respeito a) Definiu perfeitamente o fenômeno da globalização.
a) às tendências de homogeneização das culturas resultantes da b) Propôs uma abordagem científica e imparcial da globalização.
globalização. c) É alarmante e não faz qualquer referência à realidade.
b) às tendências de desagregação total das tradições e importação de d) Elabora uma abordagem histórica sobre o mundo do pós-Guerra Fria.
modelos culturais norte-americanos. e) Apenas introduz o tema complexo da globalização e seu conceito.
c) respectivamente à perda do território como referência geográfica e
à desagregação dos elementos culturais. 7. “Na China, após a flexibilização de sua economia comunista
d) aos efeitos e impactos da mundialização sobre as culturas locais. centralmente planejada para uma nova economia socialista de mercado,
e) aos movimentos de resistências antiglobalização das sociedades e uma relativa abertura de alguns de seus mercados, a porcentagem de
locais. pessoas vivendo com menos de US$2 caiu 50,1%, contra um aumento
de 2,2% na África subsaariana. Na América Latina, houve redução de
3. Segundo o professor Renato Ortiz e conforme as tendências verifi- 22% das pessoas vivendo em pobreza extrema de 1981 até 2002.”
cadas, a globalização está promovendo qual efeito sobre a cultura? O termo flexibilização, empregado no texto em referência à China,
a) Reinterpretação das tradições. significa
b) Homogeneização cultural. a) a adoção de características econômicas de capitalismo, apesar do
c) Diminuição do consumo dos bens culturais. comando socialista.
d) Desvalorização das culturas oriundas das regiões pobres. b) a adoção de características de socialização dos meios de produção
e) Total desagregação das tradições. num país que já implantara a economia de mercado em 1949.
c) a adoção de uma política de controle de natalidade mais flexível para
4. Leia e selecione a alternativa que agrupa corretamente os itens que garantir uma mão de obra abundante e muito barata.
representam impactos e transformações nos hábitos e nas culturas d) a adoção de um modelo político mais democrático.
causadas pela globalização. e) a adoção de um sistema pluripartidário com sindicalização dos
I. Desaceleração do tempo, com maior tempo livre para o consumo. trabalhadores como medida de atração de capital externo.
II. Expansão do espaço geográfico, com maior distanciamento entre as
diversas localidades do mundo, promovida pelo desenvolvimento 8. Como as legislações trabalhistas dos países em desenvolvimento,
dos meios de transporte. em geral, dão menos proteção social, geram precárias condições de
III. Criação de novos hábitos de consumo, além do surgimento dos trabalho e as empresas pagam salários muito baixos a seus
espaços virtuais de compra. trabalhadores, o custo de produção nesses países é relativamente
IV. Unicidade cultural. menor, reduzindo a competitividade das empresas localizadas nos
V. Novos estilos de vida e de comunicação, com relações sociais países desenvolvidos. Um possível resultado disso é
menos estáveis e menos duradouras. a) a transferência de tecnologia dos países emergentes para os mais
ricos.
a) I, II, III e V. b) II, IV e V. c) III e V. b) o deslocamento das empresas para esses países e o aumento da
d) I, II e III. e) II e IV. taxa de desemprego nos países desenvolvidos.
c) a alteração na forma de produzir, diminuindo a preocupação em
5. Até recentemente, por exemplo, a imagem do cowboy era associada agregar valor ou reduzir custos.
especificamente ao Texas americano; o samurai, à história passada do d) deslocamento de empresas e migrantes dos países ricos para os
Japão, mas hoje é possível ver essas “tradições” em qualquer parte do pobres.
mundo. Tornou-se possível provar comida em sistema de fast food e) a centralização geográfica dos centros de produção e financeiros.
oriunda de qualquer parte do mundo e em várias localidades do mundo.
9. É verdade que a realidade se nos apresenta preocupante: altas taxas
Esse processo pode melhor ser definido pela categoria de de desemprego, presença do desemprego estrutural, intensificação do
a) desterritorialização das culturas. ritmo de trabalho, crescimento do trabalho temporário e de tempo
b) destradicionalização. parcial, polarização em termos de qualificação e para os que
c) americanização. permanecem no emprego a chamada "síndrome dos sobreviventes",
d) desagregação cultural. angústia e medo, sentimentos que acompanham os não demitidos.
e) imperialismo cultural. Entretanto, as novas tecnologias podem ser exploradas em suas
dimensões positivas como na eliminação das funções rotineiras,
repetitivas e degradantes, fonte de doenças e de insatisfação, tanto na
esfera do trabalho fabril quanto na esfera dos serviços; ou como na

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realização de um trabalho polivalente, multifuncional, favorecendo a III. Está havendo claramente uma redistribuição das funções econômi-
utilização do pensamento abstrato, permitindo uma maior interação do cas no mundo. Um mesmo produto final é feito com materiais, peças
trabalhador com a máquina, já que o trabalho informático supõe essa e componentes produzidos em várias partes do planeta. Produzem-
interação. Sobretudo, haveria a possibilidade de reduzir ainda mais o se os componentes onde os custos são mais adequados. E os
tempo de trabalho necessário ao ganho para sobrevivência. fatores que implicam os custos de produção incluem as exigências
O título mais adequado para o texto acima é: ambientais do país em que está instalada a fábrica. Este fato tem
provocado em muitos casos um processo de "migração" industrial.
a) O desemprego nos países emergentes.
Indústrias são rapidamente montadas em locais onde fatores como
b) A síndrome dos sobreviventes num mundo globalizado.
disponibilidade de mão de obra, salários, impostos, facilidades de
c) Aspectos negativos e positivos dos avanços tecnológicos de
transporte e exigências ambientais, entre outros, permitem a
produção.
otimização de custos. Como a produção de componentes é feita em
d) Redução na jornada de trabalho. escala global, alimentando indústrias de montagem em várias partes
e) Globalização e exclusão social. do mundo, pequenas variações de custos produzem, no final,
notáveis resultados financeiros.
10. Abertura de mercados ao comércio internacional, migração de IV. A medida mais eficaz para evitar ou minimizar os efeitos deletérios
capitais, uniformização e expansão tecnológica, tudo isso, capitaneado dessas e de outras consequências da globalização sobre o meio
por uma frenética expansão dos meios de comunicação, parecem ser ambiente seria a adoção, por todos os países, de legislações
forças incontroláveis a mudar hábitos e conceitos, procedimentos e ambientais com níveis equivalentes de exigências. O fortalecimento
das instituições de meio ambiente, principalmente dos órgãos
instituições. Nosso mundo aparenta estar cada vez menor, mais restrito,
encarregados de implementar e manter o cumprimento das leis, é
com todos os seus cantos explorados e expostos à curiosidade e à ação
igualmente fundamental. Para isto, seriam necessárias, além de
humana. É a globalização em seu sentido mais amplo, cujos reflexos se
ações dos governos dos países em desenvolvimento, assistência
fazem sentir nos aspectos mais diversos de nossa vida. econômica e técnica das nações mais ricas.

São verdadeiras:
Sobre esse tema, leia e julgue as proposições abaixo.
a) I e II apenas. b) II e III apenas. c) I e IV apenas.
I. As circunstâncias atuais parecem indicar que a globalização da
d) III e IV apenas. e) II e IV apenas.
economia, com todas as suas consequências sociais e culturais, é
um fenômeno que irá durar pouco tempo, devido às rápidas
11. A globalização pode ser descrita como um processo de difusão de
transformações do mundo atual. O fim da bipolaridade ideológica no
ideias e valores, de formas de produção e de trocas comerciais que
cenário internacional, a saturação dos mercados dos países mais
atravessam e rompem as fronteiras nacionais. As opções abaixo
ricos e a ação dos meios de comunicação, aliados a um crescente
apresentam exemplos da teia global, à exceção
fortalecimento do poder das corporações e inversa redução do poder
a) da intensa velocidade de propagação de ideias e da instantaneidade
estatal (pelo menos nos países que não constituem potências de
na transmissão dos acontecimentos mundiais.
primeira ordem) são apenas alguns dos fatores que permitem esse b) da ampliação dos fluxos de bens e de informações que circulam e
prognóstico. O meio ambiente, em todos os seus componentes, interagem em escala mundial.
pouco tem sido afetado pelo processo de globalização da economia. c) da retração do controle territorial do Estado-nação devido ao
II. Os impactos da globalização da economia sobre o meio ambiente alargamento da ação das grandes corporações.
decorrem principalmente de seus efeitos sobre os sistemas d) da simetria dos circuitos da mídia e da informação eletrônica com
produtivos e sobre os hábitos de consumo das populações. Todos os uma recíproca fertilização cultural e democratização do capital.
efeitos da globalização são negativos. e) do aumento da velocidade e da eficiência dos sistemas multimodais
de transportes e comunicações.

1) Ocorre uma redução do espaço geográfico e uma aceleração 2) D 3) A 4) C 5) A


do tempo, pelo desenvolvimento dos transportes e meios de
comunicação. Alguns autores, como o sociólogo Renato Ortiz, 6) E 7) A 8) B 9) C
afirmam estar acontecendo um processo de
desterritorialização dos elementos culturais, isto é, a perda da 10) D 11)D
definição de um espaço geográfico específico de um
determinado elemento cultural. Assim, por exemplo, a
imagem do cowboy já não se refere somente ao Texas
americano, mas a uma cultura rural globalizada.

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MÓDULO 11 Modernidade, Pós-Modernidade e Multiculturalismo

1. Introdução 2. O que é a pós-modernidade

Chamamos de modernidade a atmosfera cultural que Pós-modernidade é a condição sociocultural e estética


permeou o desenvolvimento do capitalismo na sua fase do capitalismo contemporâneo, também denominado pós-
de acúmulo de capital e de ascensão da burguesia. Alguns industrial ou financeiro. Alguns autores se opõem ao uso da
autores marcam o início da modernidade na expansão expressão, pois afirmam não perceber efetivas rupturas
marítima ocorrida na Revolução Comercial; outros no com a modernidade, por isso o filósofo francês Gilles
advento do racionalismo filosófico do século XVII ou no Lipovetsky prefere o termo hipermodernidade.
Iluminismo. Os pilares da modernidade são: a crença no Para François Lyotard, “condição pós-moderna”
conceito de progresso; na noção do sujeito e na caracteriza-se pelo fim das metanarrativas. Os grandes
racionalidade humana. O tempo era percebido como esquemas explicativos teriam caído em descrédito e não
um todo, pois a noção de progresso dava uma estrutura haveria mais garantias, pois nem mesmo a ciência pode
à história e, sobretudo, o homem era visto como um hoje ser considerada como a fonte da verdade e certezas.
projeto para a emancipação, no sentido que o progresso O sociólogo polonês Zygmunt Bauman prefere usar a
acabaria resolvendo as mazelas sociais e existenciais da expressão modernidade líquida: uma realidade ambígua,
humanidade. multiforme, na qual, como escerveu Marx, tudo o que é
Enquanto projeto cultural, a modernidade apresenta sólido se desmancha no ar. Já o filósofo alemão Jurgen
ambiguidades, pois, se trouxe bem-estar material, Habermas afirma que a pós-Modernidade traz tendências
conforto para muitas pessoas, não resolveu muitos políticas e culturais neoconservadoras, determinadas a
problemas fundamentais da humanidade. O avanço combater os ideais iluministas.
tecnológico e as revoluções industriais colaboraram para As principais características da pós-modernidade são:
desenhar um tecido social repleto de nós: como as o fim da crença no conceito de progresso e da visão total
desigualdades, a intolerância e os impactos ambientais. da história, portanto, a chamada fragmentação do tempo,
Assim, é evidente que tal quadro exigia um novo olhar em que os fatos são vistos apenas como episódios
sobre o mundo e sobre a condição humana. Por outro isolados; a valorização do efêmero, o individualismo; o
lado, as constantes mudanças no modo de produção consumismo e a ética hedonista. No plano estético e da
capitalista redefiniram contextos culturais e estilos de produção artísitca – geralmente emprega-se o termo pós-
vida. Muitos autores passaram a chamar de pós- modernismo – ocorre a valorização da forma sem
modernidade essas mudanças comportamentais, teóri- conteúdo.
cas e estéticas que marcam a atual fase do capitalismo.
3. Texto

O lugar do coletivo na pós-modernidade

Por Nete Benevides (mestra em Artes Cênicas, arte-


educadora, atriz e diretora teatral)
“Por que será que apesar de todas as facilidades da
vida moderna o homem contemporâneo não consegue
estabelecer laços afetivos que lhe produzam satisfação
pessoal? Por que será que mesmo diante de tantos
avanços científicos e tecnológicos ele ainda se acha
angustiado?
Na obra O mal-estar da pós-modernidade, o sociólogo
polonês Zygmunt Bauman, argumenta que, isso
A arte pós-moderna acontece, sobretudo, porque corresponde à característica
valoriza a forma, da pós-modernidade, uma sociedade marcada pelo
sem conteúdo. capitalismo pós-industrial, consumo exacerbado, movi-
A imagem sugere um mento constante, efemeridade e fragilidade dos laços
culto ao consumismo: afetivos entre as pessoas. O impacto desses fenômenos
característica da nos relacionamentos afetivos interfere nas relações
pós-modernidade.
transformando-as ‘em amores líquidos’, reflete Bauman,

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que amparado nas ideias dos pensadores franceses mesmo. Assim, como no domínio desse mito reina a
Jacques Derrida e Emmanuel Lévinas, vai chamar atenção ambiguidade, a narrativa fragmentada e a magia como
para a baixa cotação da alteridade dos indivíduos que metáfora, a pós-modernidade, em sua particularidade,
vivem este tempo, para o irreconhecimento do outro em também, deve aliar contrários fazendo-os entrar em
todas as relações de um modo geral, permitindo, dessa sinergia e permitindo uma originalidade ao seu tempo
forma, o ‘bloqueio’ de um exercício cotidiano que envolva histórico. Desse modo, as culturas se interpenetram e
questões éticas como, tolerância, respeito, solidariedade, suas diversas temporalidades contaminam as formas de
etc. ser e pensar e, neste sentido, a história registra uma
Assim, substitui-se o ‘investimento’ no amor e no mitologia plural e diversificada.
outro pela prática das ‘redes de relações’, uma vez que, A socialidade maffesoliana se remete a um sentimen-
conforme afirma o sociólogo Michel Maffesoli em sua to de comunidade que é marcada, predominantemente,
obra A Contemplação do Mundo, as cidades contempo- pelo corpo coletivo sobre o individual. No estilo pós-
râneas desta sociedade são povoadas por tribos. moderno o particular se apaga para dar lugar ao típico,
Maffesoli defende que na sua pluralidade de origens e podendo se observar nesse cenário, por exemplo, o ‘tipo
comportamentos, as sociedades não nascem da redução musical’, ‘tipo político’, ‘tipo guru’ etc. O viver social como
da diversidade até chegar a um elemento centralizador estilo de um tempo, está permeado por imagens e
único, mas da conjunção de elementos díspares, que simbolismos que constituem a vida em uma grande ou
formam uma grande ‘colcha de retalhos’.
banal aventura, aonde coexistem emoção e razão;
Se na sociedade pós-moderna destaca-se fundamen-
tornando mais próximas as experiências vividas-em-
talmente o movimento cotidiano de entrar e sair das
comum. Este processo ético-estético coloca em jogo uma
‘redes de relações’, esta prática não permite que as
‘paixão operante’ cuja vitalidade constitui a base de toda
relações humanas possam amadurecer e nem exigir dos
‘socialidade’ ou solidariedade de base.
indivíduos um ‘investimento afetivo’. Tudo isso provoca:
a incapacidade de se manter laços duradouros, a A solidariedade de base reafirma o ethos do viver
substituição da durabilidade pela transitoriedade e pela comum, aglutinando os indivíduos pela vontade de
novidade, o encurtamento do período de tempo entre o ‘ligação’ instaurada pelo simples fato de estar junto,
desejo de sua realização e a utilidade e desejabilidade das envolvidos pela ‘banalidade’ da vida cotidiana. Este
posses de sua inutilidade e rejeição. sentimento de agregação, este compartilhar, acentua,
Neste cenário, Zygmunt Bauman observa que, a conforme Maffesoli, o caráter ético da emoção estética;
‘síndrome do consumismo’ nos conduz à presença de ele faz com que o pertencimento aos grupos, ou as
reciprocidade entre velocidade de aquisição e lixo, tudo o ‘tribos’, se transformem no ‘cimento’ que sustenta a vida
que vem a ser descartado. Porém, a pós-modernidade social. Portanto, esta ‘argamassa’ que fundamenta a
‘não se fundamenta em distinções precisas e simples, comunidade também está apoiada por elementos
mas em uma complexidade que integra tudo e seu ‘objetos’ e concretos, são eles: a ação militante, os
contrário’ destaca Maffesoli, naquela obra, acrescentando grandes eventos culturais, a moda, a caridade, a ação
que o estilo de um homem ou de um determinado grupo voluntária etc. Todavia, esses elementos devem ser
nada mais é que a cristalização da época em que este reconhecidos como pretextos cuja função é possibilitar e
homem vive, o que lhe permite servir de revelador da legitimar a relação de alguém por outrem.
complexidade social deste quadro geral que exprime, Além disso, essa estruturação de base, ou socialida-
sincronicamente, a vida social. de de base, está igualmente vinculada aos ‘palcos’ onde
Esse estilo funciona como uma linguagem comum e se desenrolam as cenas da vida cotidiana: os shoppings,
nos remete à compreensão do social como interação e eventos esportivos e culturais, mega-eventos religiosos,
como vivência de momentos em que é partilhado o a vida nos condomínios e as relações de vizinhança de
convívio entre as pessoas e onde se estabelece laços e toda a ordem. São esses ‘cenários’ que ajudam a compor
uniões que se criam e permanecem presentes na memória as formas que caracterizam a vida social, lembrando que
das pessoas. Essa ideia compreende as atitudes emocio- formas e conteúdos são uma e mesma coisa.
nais, as formas de pensar e agir e nos fazem entender, É preciso concordar com Michel Maffesoli quando
nesse quadro social, a relação que se estabelece entre afirma a ligação existente entre a emoção estética e a
subjetividade, intersubjetividade e intrassubjetividade.
socialidade (ou solidariedade de base), porque é esta relação
A vida social, de acordo com Michel Maffesoli, é uma
que possibilita a emergência de um viver ético-estético-
sequência de copresença, ou como disse Rimbaud: ‘Eu
afetivo, que surge da ambiência comunitária e se fortalece
é um outro’, pois é preciso partir da alteridade, que se
pelos princípios de simpatia social. Trata-se mesmo de
acha no âmago do eu, para compreender a sociedade pós-
empatia porque tal sentimento pode ser compartilhado
moderna, sobretudo porque apesar do pensamento
através da generosidade de espírito, da proximidade e da
racional ainda nortear o comportamento e as atitudes dos
correspondência mútua entre as pessoas.
homens que têm o poder de dizer e fazer, esta sociedade
A noção de empatia ressalta a emoção comunitária;
traz na essência de sua caminhada características que lhe
isto é, um movimento em direção ao outro que assinala a
associa a temática de Dionísio, deus grego da
disponibilidade de compartilhar experiências que brotam
versatilidade, do jogo, do trágico e do desperdício de si
das razões e das sensações do ‘pluralismo societal’.
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Portanto, esta orientação em direção ao outro, esta se fosse possível estabelecer a supremacia de um código,
correspondência social, é acentuada pela ideia de empatia principalmente, quando compreendemos que a ideia
e se constitui em característica exemplar do ‘estetismo’, central da trajetória do ‘aprender a viver’ possui a mesma
ou estilo-estético-afetivo. dimensão filosófica de se ‘aprender a morrer’ – angústia
O estilo-estético-afetivo exalta a ideia de um maior do homem.”
sentimento de religare aos sentidos sociais, ou ainda, de Glossário
‘religação’ ao outro; por isso permite pensar uma ética-
estética nascida da vida de todo dia, isto é, dos Ética hedonista: doutrina moral que considera ser
significados dos vivenciados-comum na qual ética é um o prazer a finalidade da vida: há pessoas que professam
compromisso ‘sem obrigação nem sanção’, nenhuma naturalmente o hedonismo. — O termo hedonismo vem
outra obrigação que não seja aquela de se agregar, ‘de ser da palavra grega hedoné que significa prazer.
membro do corpo coletivo’ e neste sentido, conforme
Maffesoli, o estilo estético: ‘ao se tornar atento à
globalidade das coisas, à reversibilidade dos diversos A articulação social da diferença, da perspectiva da
elementos dessa globalidade, e à conjunção do material minoria, é uma negociação complexa, em andamento,
com o imaterial, tende a favorecer um estar-junto que não que procura conferir autoridade aos hibridismos culturais
que emergem em momentos de transformação histórica.
busca um objetivo a ser atingido, não está voltado para o
devir, mas empenha-se, simplesmente, em usufruir dos (Homi Bhabha)
bens deste mundo, em cultivar aquilo que Michel MULTICULTURALISMO
Foucoult chamava de ‘cuidado de si’ ou ‘uso dos
prazeres’, em buscar, no quadro reduzido das tribos, 4. INTRODUÇÃO
encontrar o outro e partilhar com ele algumas emoções e
sentimentos comuns. No balanço cíclico dos valores Já vimos que a globalização imprime profundas
sociais, assiste-se ao retorno do ideal comunitário, em mudanças nas relações sociais e sobre a cultura. As
detrimento do ideal societário. Uma tal pulsão comunitária constantes migrações intercontinentais e internacionais
é encontrada no que chamei de tribalismo pós-moderno, colocam em convivência pessoas de culturas diversas e
cujos efeitos se fazem sentir tanto nas efervescências a política atual orienta-nos a um comportamento de
juvenis, quanto na multiplicação das agregações que tolerância e entendimento mútuo. Multiculturalismo é um
foram elaboradas a partir dos gostos sexuais, culturais, termo que revela a coexistência de múltiplas culturas num
religiosos ou até mesmo políticos. Agregações que não mesmo lugar, isto é, descreve uma sociedade feita de
mais se devem a uma programação racional, mas, ao pessoas de “mundos” diferentes. O multiculturalismo,
invés disso, repousam sobre o desejo de estar com o portanto, implica um trabalho de assimilação das minorias,
semelhante, com o risco de excluir o diferente. É a em que seus agentes representantes sejam
‘homossocialidade’, que predomina em todos os publicamente reconhecidos, combatendo formas de
domínios e que não deixa nada indene: a política torna-se discriminação.
uma história de clãs, a universidade ou a imprensa O Canadá e a Austrália são exemplos comuns de
fragmentam-se em igrejinhas concorrentes e opostas, as multiculturalismo. Já o Brasil é uma sociedade marcada
instituições, sejam elas quais forem, dividem-se em pela forte miscigenação étnica e sincretismo dos
grupos, mais ou menos hostis, com muita frequência em elementos culturais.
luta entre si.’ O multiculturalismo está em oposição ao etnocentris-
(Maffesoli, 1995, p.54.) mo e ao monoculturalismo, típico das sociedades naciona-
listas e com forte sentimento de solidariedade fechada.
Então, qual é mesmo o lugar do coletivo na pós- Há um movimento multicultural de resistência à
modernidade? Do mesmo modo que na Idade Média homogeneidade cultural, daí a preocupação em defender
observamos o ‘estilo teológico’ e durante a modernidade a sobrevivência das tradições culturais diversas.
verificamos o ‘estilo econômico’, na pós-modernidade Trata-se de um projeto de enriquecimento e abertura
vem sendo elaborado o ‘estilo estético’ e uma nova de novas e diversas possibilidades, como confirmam o
ordem se esboça. É a partir dessa ordem que se deve sociólogo Michel Wieviorka e o historiador Serge
buscar, conforme Nietzsche, ‘a profundidade na superfície Gruzinski, ao demonstrarem que o hibridismo e a malea-
das coisas’. Para isso, é necessário olhar novamente para bilidade das culturas são fatores positivos de inovação.
as coisas e, nesse novo olhar buscar uma identificação Charles Taylor, autor de Multiculturalismo, diferença e
(que é um conceito mais ‘móvel’ que a identidade) com as democracia atesta que toda a política identitária não
várias culturas e ‘tribos’, apreendendo e apreciando cada deveria ultrapassar a liberdade individual. Indivíduos são
coisa a partir da nossa coerência interna e não a partir de
únicos e não poderiam ser categorizados. Taylor definiu a
um julgamento exterior que dita o que ela deve ser, como
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democracia como a política do reconhecimento do outro, homossexuais, populações latino-americanas (‘hispanos’


ou seja, da diversidade. De fato, não há democracia sem ou chicanos) e migrantes em geral se fazem presentes
o direito e o respeito às diferenças. como atores políticos a partir da marcação de diferenças
Alguns grupos sociais contestam o multiculturalismo, de gênero, culturais e étnicas. A cultura torna-se
pois enxergam nele mais um mal da globalização. Porém, instrumento de definição de políticas de inclusão social –
na atualidade, a convivência com a diversidade é as ‘políticas compensatórias’ ou as ‘ações afirmativas’ –
inevitável e faz-se necessária uma postura política bem que tomam os mais diversos setores da vida social. Cotas
orientada. paras minorias, educação bilingue, programas de apoio
aos grupos marginalizados, ações antirracistas e
antidiscriminatórias são experimentadas em toda a parte.
No campo das artes, o multiculturalismo assume
formas muito variadas, ainda que possua sempre caráter
engajado e intervencionista, definido em função da
experiência social do artista: sua origem, pertencimento
de classe, opção sexual etc. Arte e vida, imbricadas desde
pelo menos as vanguardas históricas – no dadaísmo, por
exemplo – tornam-se agora termos inseparáveis: a vida é
que dita os contornos da arte, que pode ser negra, gay,
feminista, chicana etc. Os artistas falam de um lugar, que
A imagem expressa é o dos não WASP (white anglo-saxon protestant/anglo-
a aversão que
saxão branco protestante); as mulheres falam a partir da
alguns grupos
devotam contra condição feminina, assim como os afro-descendentes, os
o multiculturalismo, hispânicos, os índios etc. Nos Estados Unidos – onde o
afirmando que multiculturalismo é definido e teorizado por intelectuais
o mundo não é de origem terceiro-mundista, atuantes nas universidades
um supermercado norte-americanas –, as relações entre produção artística e
de culturas.
política se estreitam na década de 1970, basta lembrar a
5. Texto criação, em 1969, do Art Workers Coalition – AWC
[Coalizão dos Trabalhadores de Arte], em Nova York, e do
Multiculturalismo, Enciclopédia Itaú Cultural
(Adaptado) simpósio organizado pela revista Artforum, ‘O artista e a
política’. Protestos contra a Guerra do Vietnã, defesa dos
“Definição: Hibridismo, diversidade étnica e racial, direitos civis e do direito do artista em relação ao modo de
novas identidades políticas e culturais: estes são termos exibição dos seus trabalhos são tópicos de uma pauta
diretamente relacionados ao rótulo multiculturalismo. Se mais extensa formulada pelo AWC. Uma das exigências
a diversidade cultural acompanha a história da dos membros da coalizão – entre eles, a crítica Lucy
humanidade, o acento político nas diferenças culturais Pippard e os artistas Takis (1925), Hans Haacke (1935) e
data da intensificação dos processos de globalização Carl Andre (1935) – é a presença de um porto-riquenho
econômica que anunciam, segundo os analistas, uma nova no conselho de qualquer museu e galeria que exiba arte
fase do capitalismo, denominada por autores como Ernest porto-riquenha.
Mandel de ‘capitalismo tardio’ e por outros, como Daniel Esse cenário sofrerá reconfigurações significativas
Bell, de ‘sociedade pós-industrial’. A despeito das sob o impacto do movimento feminista, que redesenha
querelas acerca das origens dessa nova fase, o fato é que os contornos de parte da produção artística e da crítica de
as discussões acerca do multiculturalismo acompanham arte. A Women Artists in Revolution – WAR, formado a
os debates sobre o pós-modernismo e sobre os efeitos da partir do AWC, o Conselho de Artistas Mulheres de Los
pós-colonização na cena contemporânea, o que se verifica Angeles (1971), a defesa de uma crítica feminista da
de forma mais evidente a partir dos anos 1970, sobretudo história da arte, entre outros, introduzem novas questões
nos Estados Unidos. A globalização do capital e a nos debates sobre arte, que influenciam novas
circulação intensificada de informações, com a ajuda de produções. A instalação O jantar (1974-1979), de Judy
novas tecnologias, longe de uniformizar o planeta (como Chicago (1939), por exemplo, tenta recuperar ‘uma
propalado por certas interpretações fatalistas), trazem história simbólica das realizações e lutas das mulheres’.
consigo a afirmação de identidades locais e regionais, Tentativas de tematizar as necessidades e desejos das
assim como a formação de sujeitos políticos que mulheres, por sua vez, aparecem em obras como Deus
reivindicam, a partir das garantias igualitárias, o direito à dando à luz (1968) de Monica Sjoo (1942). Críticas às
diferença. Mulheres, negros (ou afro-americanos), ortodoxias de críticos, curadores, museus e galerias se

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fazem visíveis em trabalhos como A morte do patriarcado complexidade. País de raízes mestiças, e que não
/A lição de anatomia de A.I.R. (1976), de Mary Beth constitui historicamente minorias que se organizam como
Edelson, também autora da série Grandes deusas (1975). comunidades apartadas do conjunto – os migrantes
O cruzamento das identidades feminino e negro é acabaram assimilados à sociedade nacional –, o Brasil
explorado em diversas obras. Nas performances de parece ficar à margem dessas discussões até a década
Adrian Piper (1948), por exemplo, a artista adota uma de 1980, quando do fortalecimento e visibilidade das
identidade andrógina e culturalmente ambígua (Eu sou a chamadas minorias étnicas, raciais e culturais. A pressão
localização #2, 1975), inspirada nas discussões levadas a dos novos atores sociais reverbera diretamente no texto
cabo pelo feminismo e pelo movimento negro, este da Constituição de 1988, considerada um marco em
também muito presente na arte contemporânea, termos da admissão do nosso pluralismo étnico. Os
sobretudo na literatura (Toni Morrison e Cornel West, por efeitos dessas formas renovadas de engajamento podem
exemplo) e na música (o hip-hop e o rap). No campo das ser observados no campo da produção artística,
artes visuais, o grafite surge como meio privilegiado de sobretudo da literatura (fala-se uma ‘escrita feminina’, em
expressão dos jovens pobres, em geral negros, das ‘vozes negras’, em uma literatura de tom homoerótico
periferias de Nova York. Se boa parte dessa produção não etc.). Na música jovem, das periferias urbanas, define-se
possui autoria definida, alguns nomes se notabilizam no o espaço de uma cultura negra: o funk, o rap, o hip- hop.
gênero, por exemplo, o de Jean-Michel Basquiat (1960- O campo das artes visuais sofre o impacto dessas
1988). Original de uma família haitiana, Basquiat enraíza problemáticas – a experiência das minorias aparece
sua arte na experiência da exclusão social, no universo tematizada em um ou outro artista –, ainda que pareça
dos migrantes e no repertório cultural dos afro- difícil localizar aí uma produção de cunho multicultural
americanos. Sua arte enfatiza as ligações do grafite com com contornos definidos.”
o hip-hop e com o mundo underground dos pichadores.
O Movimento Chicano (1965-1975), originário da luta
contra a discriminação dos imigrantes mexicanos nos
Estados Unidos, deve ser lembrado em função de seu
ativismo artístico, revelando novos artistas e promovendo
a criação de centros culturais ‘mexicanos-americanos’ e
hispânicos. Diversos artistas – norte-americanos de
origem hispânica ou migrantes radicados nos Estados
Unidos – trazem os debates sobre a diversidade cultural
e produção de identidades para as obras que realizam. A
chamada arte gay conhece maior notoriedade em função
do impacto da AIDS no mundo artístico de Nova York e
da atuação de grupos como o Act-up e o Gran Fury, nas
décadas de 1980 e 1990.
Os efeitos dos debates sobre o multiculturalismo no
Brasil mereceriam uma discussão à parte, dada a sua O multiculturalismo implica convivência e respeito às diferenças.

1. São elementos da cultura contemporânea que acusam, segundo 2. Leia o texto:


alguns autores, o advento da pós-modernidade: “Se na sociedade pós-moderna destaca-se fundamentalmente o
I. História como entidade unitária. movimento cotidiano de entrar e sair das ‘redes de relações’, esta
II. Colapso da ideia de progresso. prática não permite que as relações humanas possam amadurecer e
III. Morte dos meios de comunicação de massa. nem exigir dos indivíduos um ‘investimento afetivo’.”
IV. Suposta ou possível crise das ideologias. (Nete Benevides)
V. Valorização do conceito de sujeito histórico. Disso advém
VI. Esvaziamento de sentido da busca da verdade e do justo. a) a incapacidade de se manter laços duradouros.
b) a formação de uma rede social solidária.
São coerentes apenas c) uma cultura baseada no consumismo e no coletivismo.
a) I, II, III e IV. b) II, III e IV. c) III, IV e V. d) a crença na noção de temporalidade total.
d) II, IV e VI. e) I, III e V. e) a coesão das relações humanas baseada num “cimento” racional.

RESOLUÇÃO: RESOLUÇÃO:
Resposta: D Resposta: A

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3. “Blade Runner é uma parábola de ficção científica em que temas 5. Sobre a questão multicultural e o Brasil, julgue as proposições abaixo,
pós-modernos situados num contexto de acumulação flexível (...) são assinalando as coerentes com a realidade.
explorados com todo o poder de imaginação que o cinema pode I. A miscigenação cultural e racial no País diluiu as minorias e hoje elas
mobilizar. O conflito ocorre entre pessoas que vivem em escalas de inexistem.
tempo distintas e que, como resultado, veem e vivem o mundo de II. A Constituição de 1988 é um marco no processo de formação de
maneira bem diferente." uma sociedade plural.
III. No Brasil, a pluralidade costuma aparecer em expressões artísticas,
(Harvey, David. A Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1999). em que se fundem elementos das culturas populares, étnicas e das
tribos da periferia urbana.
Sobre a pós-modernidade, é correto afirmar:
a) Pós-modernidade se refere às condições socioeconômicas e cultu- São coerentes:
rais do capitalismo pós-industrial, que acentuam o individualismo, o a) II e III. b) I e III. c) Todas.
consumismo e promovem a compressão do espaço e do tempo. d) I e II e) apenas I
b) Enquanto movimento estético, o termo denota um compromisso de
RESOLUÇÃO:
resgate do pensamento iluminista e de princípios funcionais rígidos
Resposta: A
sobre o uso do tempo.
c) Pós-modernidade se refere à era da produção fordista, que
aumentou a velocidade da produção das mercadorias, graças à 6. O multiculturalismo está em oposição ao etnocentrismo e ao
implantação da linha de montagem, produção em série e do monoculturalismo típico das sociedades
consumo de massa. a) globalizadas e insertas na chamada aldeia global.
d) A pós-modernidade chega ao Brasil no esteio da política de b) cosmopolitas e modernas.
industrialização baseada na substituição de importações, redirecio- c) nacionalistas e com forte sentimento de solidariedade fechada.
nando a concepção tradicional do sistema produtivo e do uso do d) capitalistas, em que ocorre a exploração do trabalho.
tempo. e) socialistas.
e) O movimento que dá início à pós-modernidade se apóia na defesa
dos princípios tayloristas de produção, baseados no planejamento e RESOLUÇÃO:
na divisão flexível do trabalho. Resposta: C

RESOLUÇÃO:
Resposta: A 7. Sobre o multiculturalismo, leia as proposições abaixo.
I. Há opositores ao multiculturalismo que veem nele uma fonte de
conflitos e uma consequência da globalização.
II. Movimentos artísticos, como o dadaísmo , contribuem para o
4. O termo Big Brother, um reality show que atualmente dá nome a advento do multiculturalismo, pois questionam tradições estéticas
um programa de televisão exibido em vários países, refere-se a(o) e abrem novas possibilidades de expressão.
a) obra do escritor Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, que traz a III. O mundo multicultural dificulta o fenômeno do hibridismo cultural.
proposição de uma sociedade na qual, apesar dos conflitos, as
pessoas poderiam constituir comunidades baseadas em uma utopia São verdadeiras:
fraternal. a) Todas. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) apenas I.
b) obra do escritor inglês George Orwell, que revela a preocupação com
o controle crescente da sociedade pelo Estado. RESOLUÇÃO:
c) obra de George Orwell, cuja preocupação central é desmistificar a Resposta: B
“era das celebridades”, como um tipo de controle social da esfera
privada, especialmente da vida íntima.
d) obra do escritor Aldous Huxley que aborda a privatização da esfera 8. O hibridismo cultural significa
pública. a) a convivência pacífica de pessoas portadoras de diferentes tradições
e) livro intitulado Admirável Mundo Novo, uma utopia às avessas, que religiosas.
aponta os riscos de uma sociedade em que predominam b) o advento de uma sociedade pós-moderna, repleta de tribos em
“celebridades” e tudo se reduz ao “espetáculo”. conflito.
c) a formação de um novo tecido cultural com múltiplas influências.
RESOLUÇÃO d) a formação de um espaço de diálogo intercultural com o objetivo de
Resposta: B diminuir os conflitos políticos ou religiosos.
e) o contrário de multiculturalismo.

RESOLUÇÃO:
Resposta: C

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9. (UNESP) – A modernidade não pertence a cultura nenhuma, mas 10. (UNESP) – O marketing religioso objetiva identificar as necessidades
surge sempre CONTRA uma cultura particular, como uma fenda, uma de espírito e de conhecimento dos adeptos de uma determinada religião,
fissura no tecido desta. Assim, na Europa, a modernidade não surge oferecendo uma linha de produtos e serviços específicos para
como um desenvolvimento da cultura cristã, mas como uma crítica a determinado segmento religioso e linguagem inerente ao tipo de
esta, feita por indivíduos como Copérnico, Montaigne, Bruno, Descartes, pregação veiculada. A pessoa que se sente vazia num mundo capitalista
indivíduos que, na medida em que a criticavam, já dela se separavam, e individualista busca refúgio através de uma religião. Identificar o público
já dela se desenraizavam. A crítica faz parte da razão que, não que mais frequenta o templo e o bairro onde o mesmo está situado, o
pertencendo a cultura particular nenhuma, está em princípio disponível nível de escolaridade, renda, hábitos, demais dados dos perfis
a todos os seres humanos e culturas. Entendida desse modo, a demográficos e psicográficos são considerados num planejamento de
modernidade não consiste numa etapa da história da Europa ou do marketing de uma linha de produtos religiosos.
mundo, mas numa postura crítica ante a cultura, postura que é capaz de (Fernando Rebouças. Marketing religioso.
surgir em diferentes momentos e regiões do mundo, como na Atenas www.infoescola.com, 04.01.2010. Adaptado.)
de Péricles, na Índia do imperador Ashoka ou no Brasil de hoje.
(Antonio Cícero. Resenha sobre o livro “O Roubo da História”. O fenômeno descrito pode ser explicado por tendências de
Folha de S. Paulo, 01.11.2008. Adaptado) a) instrumentalização e mercantilização da fé religiosa.
b) crítica religiosa à massificação de produtos de consumo.
Com a leitura do texto, a modernidade pode ser entendida como c) recuperação das práticas religiosas tradicionais.
a) uma tendência filosófica especificamente europeia e ocidental de d) indiferença das igrejas e religiões frente às demandas de mercado.
crítica cultural e religiosa. e) rejeição de ferramentas administrativas no âmbito religioso.
b) uma tendência oposta a diversas formas de desenvolvimento da
autonomia individual. RESOLUÇÃO:
c) um conjunto de princípios morais absolutos, dotados de Na sociedade de consumo se estabelece em termos de padrão
cultural o paradigma de mercado, em que todos os valores e
fundamentação teológica e cristã.
práticas humanas parecem se inserir na lógica do mercado. Nesse
d) um movimento amplo de propagação da crítica racional a diversas sentido, assiste-se a uma expansão das chamadas teologias da
formas de preconceito. prosperidade, em que, não só o fiel é identificado como portador da
e) um movimento filosófico desconectado dos princípios racionais do graça pelo desempenho enquanto consumidor, mas também as
iluminismo europeu. próprias instituições fazem uso das técnicas típicas do mercado
para atrair fiéis e frequentadores.
Resposta: A
RESOLUÇÃO:
O autor não associa a modernidade a um único contexto histórico,
especificamente europeu mas a uma tendência intelectual crítica,
racional e autônoma que surge em diversos momentos da história
ou em qualquer lugar do mundo para contestar padrões culturais
tradicionais fundamentados em preconceitos.
Resposta: D

1. “A sociedade urbana pós-moderna seria constituída por tribos que a) características da pós-modernidade.
agrupam pessoas de comportamentos e estéticas afins, em que se b) marcas culturais da sociedade plural contemporânea.
estabelecem redes de relações efêmeras e instáveis. A sociedade pós- c) pilares da modernidade.
moderna se assemelha mais a uma complexa ‘colcha de retalhos’ do d) crenças que questionam o projeto cultural da modernidade.
que a um ‘tecido único’.” e) características do multiculturalismo.
(Nete Benevides)
Assim, podemos afirmar que 3. Assinale a alternativa que expõe o período histórico mais adequado
a) as relações se estabelecem mais por uma pulsão de comunitarismo para marcar o início da modernidade, enquanto projeto cultural.
do que por um ideal de sociedade. a) Pós-II Guerra.
b) recupera-se o ideal de solidariedade humana. b) Início da Globalização.
c) a pós modernidade gera uma saída dos constrangimentos e dos c) O Iluminismo.
interesses do mercado, estabelecendo as tribos humanas, que d) A Terceira Revolução Industrial.
mantém redes de relações afetivas duradouras. e) A publicação dos livos de Nietzsche.
d) as tribos urbanas se tornaram uma opção de ideal para as sociedade
4. O tempo era percebido como um todo, pois a noção de progresso
do futuro.
dava uma estrutura à história e, sobretudo, o homem era visto como
e) as tribos urbanas são isentas de corpos ideológicos e expressões
um projeto para a emancipação, no sentido que o progresso acabaria
artísticas ou estéticas.
resolvendo as mazelas sociais e existenciais da humanidade. Sobre isso,
2. A crença no sujeito como ser destinado à emancipação, na noção leia e julgue as assertivas abaixo. Essa concepção
de progresso e na razão humana são I. é típica da pós-modernidade.

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II. representa o fim das metanarrativas. III. A afirmação das identidades pode ser analisada como resultado das
III. expressa o projeto cultural da modernidade. tendências da globalização, particularmente como tentativa de
IV. foi a estrutura cultural que acompanhou o desenvolvimento da estabelecer princípios de igualdade.
sociedade capitalista. IV. O texto acima faz referência ao conceito numérico ou matemático de
São verdadeiras: minoria.
a) I e II. b) II e III. c) III e IV. São coerentes apenas:
d) II e IV. e) I e III. a) II e III. b) I e III. c) Todas. d) I e II. e) I e IV.

5. Para François Lyotard, a condição pós-moderna caracteriza-se pelo


fim das metanarrativas. Isso significa que: 10. A afirmação de identidades é o outro lado da moeda do caráter
I. Os grandes esquemas explicativos teriam caído em descrédito e não econômico da globalização. A globalização pressupõe a ideia de
haveria mais garantias, pois nem mesmo a ciência pode hoje ser desterritorialização e desinstitucionalização, em um movimento em
considerada como a fonte da verdade e certezas. direção a um mundo sem fronteiras. A falta dessas, no entanto, implica
II. A noção de progresso adquiriu grande crédito. na perda das referências. São elas que tornam o sujeito, ao mesmo
III. A pós-modernidade tende a fragmentar o tempo, em que os fatos tempo, igual entre iguais e diferentes entre todos, já que a pertinência
são vistos apenas como episódios isolados. a um território significa pertinência a um elo de identificação e a
IV. Ocorre a desvalorização do efêmero, do individualismo; do pertinência a uma instituição – seja ela política social ou, especifi-
consumismo e da ética hedonista. camente, cultural – significa compartilhamento de crenças, convicções
São verdadeiras apenas: ou ideais.
a) I e II. b) II e III. c) III e IV. Assinale a alternativa que revela o conteúdo central do pequeno texto
d) II e IV. e) I e III. acima.
a) Desterritorialização das culturas.
6. A atmosfera cultural que permeou o desenvolvimento do capitalis-
b) Identidade e globalização.
mo, na sua fase de acúmulo de capital e de ascensão da burguesia.
c) A perda de referências globais.
a) Pós-modernidade. b) Multiculturalismo. c) Globalização.
d) Modernidade. e) Mercantilismo. d) Caráter econômico da globalização.
e) Desinstitucionalização dos mercados globais.
7. São concepções da modernidade, exceto
a) o tempo como um todo. 11. No senso comum, a globalização está associada à uniformização a
b) o progresso dava uma estrutura à história. todos os níveis (na música, na arte, na televisão e no cinema, nos
c) o homem como um projeto para a emancipação. comportamentos etc.), num processo a que poderíamos, com alguma
d) o culto ao efêmero. propriedade, chamar de “Mc-Donaldização” (uma vez que os
e) o acúmulo de capital. restaurantes McDonald’s são semelhantes em todo o mundo).
No entanto, é justo dizer que esta visão não é inteiramente correta, já
8. O avanço tecnológico e as revoluções industriais colaboraram para
desenhar um tecido social repleto de nós: as desigualdades, a que, ao mesmo tempo, produz-se maior diversidade de conteúdos.
intolerância e os impactos ambientais, por exemplo. Assim, é evidente Hoje, o consumidor comum tem ao dispor igualmente mais restaurantes
que tal quadro exigia um novo olhar sobre o mundo e sobre a condição italianos, franceses, chineses, indianos, brasileiros, africanos. . . , tal
humana. Por outro lado, as constantes mudanças no modo de produção como o espectador tem mais telenovelas portuguesas do que antes, e
capitalista redefiniram contextos culturais e estilos de vida. Leia e julgue mais livros e discos de autores nacionais. O processo de globalização
as proposições abaixo. cultural é contraditório e é duvidoso dizer que haja uma tendência para
I. O quadro acima tenta mostrar o advento da pós-modernidade. a uniformidade se instalar, pelo menos sem que possa ser desafiada.
II. O texto revela contradições do projeto cultural da modernidade. Assim, podemos dizer que estaria ocorrendo
III. A pós-modernidade é uma ruptura total e consciente com a a) uma homogeneização das culturas.
modernidade, tentando corrigir suas contradições e fracassos. b) uma desconcentração geográfica da cultura americana.
É (são) coerente (s): c) uma divulgação global das culturas locais e a comercialização desses
a) Apenas II e III. b) Apenas I e III. c) Todas. elementos.
d) Apenas I e II. e) Apenas I. d) uma perda definitiva das tradições.
e) uma pasteurização dos estilos de vida.
9. A globalização do capital e a circulação intensificada de informações,
com a ajuda de novas tecnologias, longe de uniformizar o planeta, 12. Os movimentos sociais contemporâneos são complexos, por
trazem consigo a afirmação de identidades locais e regionais, assim confrontarem a estrutura social vigente. Por isso, necessitam compor
como a formação de sujeitos políticos que reivindicam, a partir das forças organizando-se em rede. Nesse contexto, a rede atua como
garantias igualitárias, o direito à diferença. Mulheres, negros (ou afro- a) instrumento de solidariedade política entre grupos que questionam
americanos), homossexuais e migrantes em geral se fazem presentes as desigualdades da globalização.
como atores políticos a partir da marcação de diferenças de gênero, b) elemento de análise dos grupos que sugere os caminhos para atingir
culturais e étnicas. as mudanças.
Leia e julgue as proposições. c) meio de fortalecer uma ação questionadora organizada para formar
I. O texto mostra a relação existente entre globalização e identidade uma consciência de cidadania.
cultural. d) forma de criação de parcerias internacionais para potencializar a
II. A criação das identidades emergiu como necessidade humana intervenção política.
apenas com o advento da globalização, pois essa tende a homoge- e) mecanismo de suporte financeiro de organizações que controlam as
neizar as culturas. políticas dos lugares.

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13. É evidente que essa situação tem efeitos sobre a cultura da humani- 15. As novas tecnologias digitais de comunicação e informação
dade, especialmente nos países pobres, onde os contrastes sociais são possibilitam uma integração econômica mundial de características e
ainda mais perceptíveis. Sobre isso, analise e julgue as assertivas abaixo. alcance sem precedentes. Porém, este processo é acompanhado por
I. Em primeiro lugar, podemos falar de uma espécie de conformidade profundos sentimentos de desconexão, insegurança e segregação. Por
e adaptação. Em função da exigência de competitividade, cada um outro lado, as tecnologias não favorecem somente os interesses do
se vê como adversário dos outros e pretende lutar pela manutenção grande mercado, inclusive o cultural. Elas também proporcionam novos
de seu lugar de trabalho. fluxos de experimentação artística e oportunidades de valorização de
II. Os excluídos não são percebidos como responsáveis e o sistema tradições culturais específicas, combinada ao uso criativo dos mais
recentes recursos científicos e tecnológicos. Neste sentido, o PNC
tende a ser responsabilizados pela pobreza.
(Plano Nacional de Cultura) busca contemplar as dinâmicas emergentes
III. Paralelamente a isso, surge nos países industrializados uma nova
no mundo contemporâneo, sem deixar de atender às manifestações
forma de extremismo de direita, de forma que a xenofobia e a
históricas e consolidadas. Essa ideia e o texto
violência aparecem entrelaçadas com a luta por espaços de trabalho.
a) vão contra a ideia de reinterpretação das culturas como marca da
É claro que a violência surge também como reação dos excluídos, e
mundialização.
a lógica do sistema, baseada na competição, desenvolve uma
b) vão ao encontro da ideia de homogeneização da cultura.
crescente “cultura da violência” na sociedade.
c) fortalecem a ideia de uma americanização e pasteurização da cultura.
IV. Também não podemos esquecer que o próprio crime organizado
d) vão contra a ideia de pobreza cultural como consequência da
oferece oportunidades de trabalho e segurança aos excluídos. De
globalização.
forma que esse fenômeno não deve ser criticado, mas compreen-
e) vão de encontro a um perigoso nacionalismo intolerante em relação
dido como solução justa para os que não tiveram oportunidade de
à globalização.
inserção no sistema competitivo convencional.
São verdadeiras apenas:
a) I e II. b) II e III. c) I e III. d) III e IV. e) II e IV. 16. A coexistência de múltiplas culturas num mesmo lugar descreve
uma sociedade feita de por pessoas de “mundos” diferentes. Trata-se
14. O multiculturalismo e a transculturalidade são as perspectivas para do conceito de:
abordarmos os novos contextos. Apesar de sermos forçados a constatar
a) Multiculturalsimo. b) Globalização.
a presença do fundamentalismo como ator dos novos confrontos
c) Homogeinização cultural. d) Pós-modernidade.
(ideológicos, políticos, militares...), identificamos, por contraposição, o
e) Modernidade.
cosmopolitismo (a abertura ao outro, a visão abrangente do mundo) e o
relativismo (a ausência de preconceitos a priori para olhar o outro). Sobre
17. O multiculturalismo implica um trabalho de assimilação das minorias,
esses temas, julgue as proposições abaixo.
e isso significa
I. O multiculturalismo é uma experiência inexistente em um país como
a) um aumento da população absoluta.
os EUA que impõe sua forma de interpretar o mundo e a produção
b) um combate às formas de discriminação.
cultural.
c) a instauração de um tecido social feito de conflitos.
II. O multiculturalismo só existe em países em que houve intenso
d) o estabelecimento de uma estrutura social de classes.
processo de miscigenação entre as raças, como o Brasil.
e) o advento definitivo da globalização.
III. A globalização tende a aumentar o fenômeno do cosmopolitismo e
da transculturalidade.
18. Que consequências a pós-modernidade imprime sobre o tecido
IV. O mundo moderno e globalizado tende a gerar reações de resistên-
social segundo a autora Nete Benevides?
cia que podem se manifestar sob a forma do fundamentalismo, do
nacionalismo e da intolerância.
19. Segundo o texto dessa aula, que relação existe entre globalização e
São verdadeiras apenas
identidade cultural?
a) I e II. b) II e III. c) I e IV. d) III e IV. e) II e IV

1) A 2) C 3) C 4) C A sociedade pós-moderna se assemelha mais a uma complexa


“colcha de retalhos” do que a um “tecido único”. Assim, as
5) E 6) D 7) D 8) D relações se estabelecem mais por uma pulsão de
comunitarismo do que por um ideal de sociedade.

9) B 10) B 11) C 12) A


19) A globalização do capital e a circulação intensificada de
informações, com a ajuda de novas tecnologias, longe de
13) C 14) D 15) D 16) A
uniformizar o planeta, trazem consigo a afirmação de
identidades locais e regionais, assim como a formação de
17) B sujeitos políticos que reivindicam, a partir das garantias
igualitárias, o direito à diferença. Mulheres, negros (ou afro-
18) A sociedade urbana pós-moderna seria constituída por tribos americanos), homossexuais e migrantes em geral se fazem
que agrupam pessoas de comportamentos e estéticas afins, em presentes como atores políticos a partir da marcação de
que se estabelecem redes de relações efêmeras e instáveis. diferenças de gênero, culturais e étnicas.

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MÓDULO 12 Criminalidade e Violência


1. Introdução quanto à seletividade de nosso sistema penal que alcança
A Sociologia da Violência e da Criminalidade estuda melhor e mais depressa pobres, negros e nordestinos
os fenômenos da violência e da criminalidade a partir de (migrantes depauperados) e quanto à arrogância e descaso
um foco sociológico, considerando-os, portanto, em de boa parte de nossas elites e governantes para com os
relação com o todo, ou seja, com as estruturas sociais e direitos em geral e especialmente os direitos humanos das
culturais, e não como fenômenos isolados. A sociologia classes subalternas. Os nossos negros, nordestinos
deve, assim, transcender o senso comum, sobretudo (sobretudo fora do Nordeste), índios, homossexuais,
porque são temas do cotidiano e sobre os quais as população de rua, estão, todos, de fato (e não de direito, é
pessoas formulam opiniões e pensamentos. claro) à margem da cidadania e sofrem a violência da
Violência e criminalidade são fenômenos distintos. discriminação social, mais ou menos ostensiva, que vai
Existem crimes que não são violentos e atos violentos desde a mera suspeita até julgamentos/conde-
que não são necessariamente criminosos, ao menos aos nações/execuções penais bastante influenciadas por
olhos das leis específicas de um determinado Estado. preconceitos e injustiças sociais. As cidades faveladas,
Consideremos, por exemplo, uma guerra ou revolução quilombadas ou mocambadas que hoje se defrontam com
considerada legítima pela maioria das pessoas nossas ‘cidades europeias’ (em potencial guerrilha urbana)
pertencentes ao grupo que as originou, ou ainda o uso é realidade gêmea daquela outra que tem relegado, não é
legítimo da coerção que o Estado detém, segundo o de agora, a segurança pública, em todo País, a uma atuação
sociólogo Max Weber, para manter a ordem social. Outro autofágica (porque pobre em prevenção e seriedade
exemplo de violência socialmente aceita é aquela que se política, mas rica em autodestruição) e, portanto,
vê em alguns esportes como as lutas de boxe e as lutas socialmente explosiva (porque ao descomprometer até o
marciais do oriente. Portanto violência e criminalidade, mero soldado PM, profissionalmente subutilizado, sub-
embora possam e costumem estar associadas, são remunerado, compromete com o crime novos
fenômenos diferentes. contingentes de excluídos e exploradores...).
Interessa à sociologia os fenômenos de vandalismo, A violência e o crime (violência reprimida formalmen-
homicídios, suicídios, teorias do Direito, de criminologia, te pela lei), todavia, são comportamentos sociais ineren-
guerras e conflitos sociais. A análise científica, porém, é tes à natureza humana; cada sociedade estabelece até
priorizada, colocando temporariamente de lado juízos de que ponto há de tolerar a violência. Assim o limite à
valor ou sentimentos de indignação. O olhar sociológico, violência não é apenas legal, mas, sobretudo social. A
por outro lado, percebe como violência os fenômenos da existência do crime é fato social normal (Durkheim),
exclusão, preconceito e pobreza. embora sempre abominável e logo punível seu autor;
anormal e patologia social é o crime em taxas altas. O
crime para a sociedade é como a célula doente para o
organismo humano, sempre há e haverá a célula maligna
que é controlada e contida pela defesa orgânica, a doença
estará caracterizada com a alta taxa destas unidades
mórbidas, porém cada célula doente merece, por si só,
tratamento. Dir-se-ia, com precisão, que a violência,
quando guiada por valores éticos-sociais, não pode ser
descartada, é, pois, um mal necessário e ainda inerente
ao nosso estágio evolucional (...)”

Jessicabrandao.files – A violência está no cotidiano das sociedades


modernas e complexas.

2. Texto
Por Luiz Otavio O. Amaral (Advogado, professor de
Direito da Universidade Católica de Brasília, autor de obras
e ensaios jurídicos.)
“É de se fugir do lugar-comum e não menos verdadeiro
de que a violência (inclusive a institucional) marca As relações sociais que reproduzem exclusão e miséria são uma forma
indelevelmente nossa formação social. O mesmo se diga explícita de violência.

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Cultura da violência e situação de guerra Exemplos disso aconteceram em 1993, no Rio de


Reportagem- Editorial Carlos Vogot (www.comciencia.br) Janeiro, quando à chacina da Candelária seguiu-se a de
Vigário Geral e o pânico se instaurou entre a população
“No Brasil, a violência não é um fenômeno recente. da cidade, cuja sensação era de que não havia mais em
‘A sociedade brasileira tradicional, a partir de um quem confiar. ‘Em 1994, as ações criminais e as reações
complexo equilíbrio de hierarquia e individualismos, da sociedade atingiram um grau extremo de exacerbação.
desenvolveu, associado a um sistema de trocas, A governabilidade foi comprometida, abrindo espaço para
reciprocidade na desigualdade e patronagem, o uso da
tendências anárquicas, e mesmo criminosas, nas
violência, mais ou menos legítimo, por parte de atores
polícias’, escreve Rubem César Fernandes, presidente da
sociais bem definidos’, analisa Gilberto Velho. Neste
contexto, a manipulação do poder, a corrupção e o uso da ONG Viva Rio, no texto O Rio reagiu.
força são (dentro de certos limites) aceitos, tolerados e A violência é nutrida pela corrupção, que atinge todos
mesmo valorizados, tendo papel fundamental na os níveis da administração pública, gerando uma
manutenção do sistema social. Pode-se dizer que a generalizada falta de credibilidade e de confiança nas
violência foi, de certo modo, legitimada historicamente na autoridades, levando os indivíduos a se defenderem por
sociedade brasileira. si próprios ou, mais grave, a quererem fazer justiça com
‘No entanto’, pondera o antropólogo, ‘o panorama as próprias mãos. ‘Perdem-se referências simbólicas
atual apresenta algumas características que alteram e significativas, perdem-se expectativas de convivência
agravam o quadro tradicional’. A criminalidade exacerbada social elementares’, diz Gilberto Velho. Por isso, segundo
nos coloca praticamente em pé de igualdade com países ele, embora tenha raízes na pobreza e na miséria, a
que estão em guerra civil. violência não é apenas um fenômeno socioeconômico. É
também ético-moral.”

1. Sobre o primeiro texto, de Luiz O. O. Amaral, é possível afirmar que III. As cidades europeias são, de acordo com o texto, quilomboladas e
a) o sistema penal brasileiro funciona de forma equitativa para todos mocambadas.
os grupos sociais. IV. A violência urbana resulta de processos acumulativos de displicên-
b) as cidades faveladas, quilombadas ou mocambadas se defrontam cia política.
com nossas ‘cidades europeias’, em que a violência é inexistente, São coerentes apenas:
devido à bem aplicada segurança pública. a) I e II b) II e III c) II e IV
c) violência e crime são comportamentos sociais inerentes à natureza d) III e IV e) I e IV
humana; cada sociedade estabelece até que ponto há de tolerar a RESOLUÇÃO:
violência e o limite à violência não é apenas legal, mas, sobretudo Resposta: E
social.
d) a violência não é inerente à natureza humana. Trata-se de um
componente cultural e socialmente ensinado.
e) a violência é sempre contrária aos valores ético-sociais.
RESOLUÇÃO:
Resposta: C
3. A violência e o crime (violência reprimida formalmente pela lei),
todavia, são comportamentos sociais inerentes à natureza humana; cada
sociedade estabelece até que ponto há de tolerar a violência. Assim, o
limite à violência não é apenas legal, mas, sobretudo social. A existência
2. As cidades faveladas, quilombadas ou mocambadas que hoje se
do crime é fato social normal, embora sempre abominável e logo punível
defrontam com nossas ‘cidades europeias’ (em potencial guerrilha
seu autor; anormal e patologia social é o crime em taxas altas. O crime
urbana) são uma realidade gêmea daquela outra que tem relegado, não
para a sociedade é como a célula doente para o organismo humano,
é de agora, a segurança pública, em todo País, a uma atuação autofágica
sempre há e haverá a célula maligna que é controlada e contida pela
(porque pobre em prevenção e seriedade política, mas rica em
defesa orgânica; a doença estará caracterizada com a alta taxa dessas
autodestruição) e, portanto, socialmente explosiva (porque ao
unidades mórbidas, porém cada célula doente merece, por si só,
descomprometer até o mero soldado PM, profissionalmente subutili-
tratamento. Essa concepção está presente na sociologia de:
zado, sub-remunerado, compromete com o crime novos contingentes
a) Max Weber b) Karl Marx c) Augusto Comte
de excluídos e exploradores...)”. Julgue as assertivas abaixo, tendo em
d) Émile Durkheim e) Pierre Bourdieu
vista o texto anterior, seus conhecimentos e sua reflexão.
RESOLUÇÃO:
I. A cidade brasileira é espaço de convivência marcada por desigual-
Resposta: D
dades que trazem as marcas da violência.
II. Não se pode imputar aos agentes públicos de administração
quaisquer responsabilidades pelo caos urbano. Trata-se de um
processo natural de macrocefalia, típica das grandes cidades.

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4. Dir-se-ia, com precisão, que a violência, quando guiada por valores 7. Sobre o problema da violência, leia e julgue as assertivas abaixo.
ético-sociais, não pode ser descartada, é, pois, um mal necessário e I. Violência é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo
ainda inerente ao nosso estágio evolucional (...) Com isso, o autor da ou objeto. Invade a autonomia, integridade física ou psicológica e
frase pretendeu afirmar que mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário
a) sempre haverá violência. ou esperado. O termo deriva do latim violentia (que por sua vez é amplo,
b) a violência é uma forma de convívio recomendada. é qualquer comportamento que deriva de vis, força, vigor); aplicação de
c) não há sociedade estruturada sobre relações solidárias. força, vigor, contra qualquer coisa ou ente.
d) sempre houve a exclusão social. A ambição é parte da natureza II. Assim, violência diferencia-se de força, palavras que costumam estar
humana. próximas na língua e no pensamento cotidiano. Enquanto força
e) a violência pode ser um meio de controlar e organizar uma sociedade designa, em sua acepção filosófica, energia ou "firmeza" de algo,
estruturada por tensões. violência caracteriza-se pela ação corrupta, impaciente e baseada na
RESOLUÇÃO: ira, que não convence ou busca convencer o outro, simplesmente o
Resposta: E agride.
III. Existe violência explícita quando há ruptura de normas ou moral
sociais estabelecidas a esse respeito: Trata-se de um conceito
absoluto, não variando entre sociedades. Por exemplo, rituais de
5. No Brasil, a violência não é um fenômeno recente. Sobre isso, julgue iniciação em certas sociedades tradicionais ou do oriente são tão
as assertivas abaixo. violentos quanto os crimes cometidos na sociedade moderna.
I. A sociedade brasileira tradicional, a partir de um complexo equilíbrio Estão corretas (apenas):
de hierarquia e individualismos, desenvolveu, associado a um sistema a) Todas. b) I e II. c) I e III. d) I. e) II e III.
de trocas, reciprocidade na desigualdade e na patronagem; com isso,
ensejou-se o uso da violência, mais ou menos legítimo, por parte de RESOLUÇÃO:
Resposta: B
atores sociais bem definidos.
II. Neste contexto, a manipulação de poder, a corrupção e o uso da força
são (dentro de certos limites) aceitos, tolerados e mesmo valorizados,
tendo papel fundamental na manutenção do sistema social.
III. Pode-se dizer que a violência foi, de certo modo, legitimada
historicamente na sociedade brasileira.
IV. O panorama atual apresenta algumas características que alteram e
agravam o quadro tradicional. A criminalidade exacerbada nos coloca
praticamente em pé de igualdade com países que estão em guerra 8. Já foram realizados diversos estudos sobre a relação entre violência
civil. na mídia e comportamento agressivo, mas até agora não há nenhuma
Estão corretas (apenas): evidência conclusiva dessa relação. A televisão e o cinema são aponta-
a) Todas. b) I, II e IV. c) I e III. dos como irradiadores desses comportamentos, na medida em que
d) III e IV e) I, II e III poderiam influenciar um indivíduo ou grupo.
RESOLUÇÃO: Isso significa que
Resposta: A I. o senso comum tende a imputar à mídia responsabilidade pelo
aumento da violência, mas não há ainda provas concretas dessa
relação;
II. não há provas concretas sobre a relação entre mídia e violência
devido à falta de estudos acerca dessa questão;
6. Violência e crueldade são fenômenos distintos. Sobre essa distinção, III. a mídia de informação, como o telejornalismo, retrata imparcialmente
é verdadeiro afirmar que os fenômenos sociais e não pode ser responsabilizada pela
a) a violência é menos aceita socialmente, em geral, do que a disseminação de atos de violência.
crueldade. Estão corretas apenas:
b) não há qualquer forma aceitável de violência ou de crueldade. A a) Todas. b) I e II c) I e III. d) I. e) II e III.
violência é um problema de patologia individual; enquanto a RESOLUÇÃO:
crueldade resulta de estímulos externos, como a mídia. Resposta: D
c) a crueldade é um fenômeno psicótico, enquanto a violência tem uma
dimensão sociológica.
d) crueldade e violência constituem aspectos da natureza humana e
são socialmente mais ou menos aceitáveis.
e) ambos são aspectos mais ligados a questões culturais do que
especificamente à singularidade humana.
RESOLUÇÃO:
Resposta: C

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9. Essa forma de violência consiste em um comportamento não físico TEXTO 2


específico por parte do agressor, seja este agressor um indivíduo ou um Na Índia, a violência contra as mulheres tomou uma nova e mais
grupo específico num dado momento ou situação. perversa forma, a partir do cruzamento de duas linhas: as estruturas
Muitas vezes, o tratamento desumano, tais como rejeição, deprecia- patriarcais tradicionais e as estruturas capitalistas emergentes.
ção, indiferença, discriminação, desrespeito, punições (exageradas) Precisamos pensar nas relações entre a violência do sistema econômico
podem ser considerados graves tipos de violência. Essa modalidade e a violência contra as mulheres.
muitas vezes não deixa (inicialmente) marcas visíveis no indivíduo, mas (Vandana Shiva, filósofa indiana. No continuum da violência.
pode levar a graves estados emocionais. Muitos destes estados podem O Estado de S.Paulo, 12.01.2013. Adaptado.)
tornar-se irrecuperáveis em um indivíduo, de qualquer idade.
As crianças são mais expostas a esse tipo de violência, haja vista Os textos referem-se ao fato ocorrido na Índia em dezembro de 2012.
que dispõem de menos recursos que lhe assegurem a proteção. O Pela leitura atenta dos textos, podemos afirmar que:
ambiente familiar e a escola têm sido os locais mais reportados. Pais e a) segundo a filósofa, fatos como esse explicam-se pela confluência
parentes próximos podem desencadear uma situação conflituosa que de fatores históricos e econômicos de exclusão social.
envolva a criança, por exemplo. Na escola, colegas, professores ou b) para a filósofa, a violência contra as mulheres na Índia deve-se
mesmo a instituição escolar como um todo podem ser os causadores exclusivamente ao neoliberalismo econômico.
de situações de constrangimento. c) as duas interpretações sugerem que a prevenção de tais atos
Essa modalidade de violência pode ser definida como violentos depende do resgate de valores religiosos.
a) violência psicológica. b) crueldade. c) criminosa. d) sob a ótica do advogado, esse fato ocorreu em virtude do
d) violência doméstica. e) violência urbana. desrespeito aos direitos humanos.
RESOLUÇÃO: e) as duas interpretações limitam-se a reproduzir preconceitos de
Resposta: A gênero socialmente hegemônicos naquele país.

10. (UNESP-2013) RESOLUÇÃO:


TEXTO 1 A filósofa indiana afirma que a nova forma de violência apresenta
Sobre o estupro coletivo de uma estudante de 23 anos em Nova duas origens: uma histórica, identificada nas estruturas patriarcais
Déli, o advogado que defende os suspeitos declarou: “Até o momento tradicionais; e outra, econômica, que é a exclusão social promovida
pelo sistema capitalista emergente.
eu não vi um único exemplo de estupro de uma mulher respeitável”.
Resposta: A
Sobre esta declaração, o advogado garantiu que não tentou difamar a
vítima. “Eu só disse que as mulheres são respeitadas na Índia, sejam
mães, irmãs, amigas, mas diga-me que país respeita uma prostituta?!”
(Advogado de acusados de estupro na Índia denuncia confissão
forçada.http://noticias.uol.com.br. Adaptado.)

1. A sociologia tem diversas áreas de estudo e interesse. A violência é 3. Existem crimes que não são violentos e atos violentos que não são
um de seus objetos de estudo. Interessa especificamente ao sociólogo: necessariamente criminosos. Disso decorre que
I. as relações entre estruturas sociais, cultura e violência. a) a violência é de interesse do olhar sociológico; enquanto a
II. o problema da violência doméstica. criminalidade é pesquisada pela ciência do Direito.
III. a relação entre estruturas políticas, conflitos sociais e movimentos b) a violência revela índices muito maiores do que os da criminalidade.
populares. c) o vandalismo é um fenômeno específico de violência; enquanto o
IV. teorias do Direito em criminalidade. homicídio, de criminalidade.
V. desigualdades, discriminação e exclusão como formas de violência. d) a diferença está sobretudo visível na origem social do agente que
VI. crueldade humana como psicopatologia. faz uso da violência ou do criminoso.
e) violência e criminalidade são fenômenos distintos, embora possam
Estão corretas: ocorrer juntos.
a) Todas. b) Apenas I, II, III, IV e V.
c) Apenas I, III, IV, V e VI. d) Apenas I, II, III, V e VI. 4. A estrutura social com a qual se formou o Brasil foi marcada pela
e) Apenas I, III e V. escravatura, patriarcalidade, sistema latifundiário e profundas
desigualdades. Assim, podemos afirmar que:
2. Sobre o problema da violência, é possível afirmar que I. Há uma herança histórica da violência no País.
a) não há como elaborar uma abordagem científica dessa questão. II. Todo descendente de excluídos e escravos tem naturalmente um
b) o problema da exclusão explica e justifica atos de violência no coeficiente acentuado para se tornar um agente da violência e
cotidiano de uma sociedade como a nossa. criminalidade.
c) segundo Max Weber, o Estado possui o monopólio legítimo da III. Não há qualquer relação entre esses dados históricos e a questão
violência. da violência no Brasil.
d) não existem formas de violência socialmente aceitas. IV. O sistema colonial teve tendências autoritárias e reproduziu
e) violência e criminalidade são fenômenos distintos e são vistos como estruturas sociais violentas, como a escravidão.
fenômenos relacionados apenas pelo senso comum, em que não há São coerentes apenas:
análise ou reflexão. a) I e II b) II e III c) II e IV d) III e IV e) I e IV
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5. “A violência é nutrida pela corrupção, gerando uma generalizada falta II. Cada sociedade avalia até que ponto pode tolerar eventos de
de confiança nas autoridades.” violência.
Como consequência, temos III. Devido a sua influência no positivismo, dentro do paralelo que
a) uma população espontaneamente inclinada à corrupção e ao erro. traçava entre organismo biológico e sociedade, entendia a violência
b) um direito garantido ao Estado, segundo Max Weber, que é o uso e o crime como formas de anomalia e patologia social.
legítimo da violência. IV. Para ele, o Estado teria o monopólio legítimo da violência.
c) uma prova de que os processos democráticos facilitadores da
São coerentes:
participação popular são destinados ao fracasso.
a) Todas. b) I, II e III, apenas. c) II e IV, apenas.
d) uma tendência a aumentar os investimentos em segurança privada
d) II, III e IV, apenas. e) I e IV, apenas.
por parte da população mais abastada.
e) a consolidação de um estado de direito.
9. Sobre o problema da delinquência, analise as assertivas abaixo:
I. É aquela que se revela nas ações fora da lei socialmente reconhe-
6. “A violência não é apenas um fenômeno sócio-econômico. É também
ético-moral.” cida. A análise deste tipo de ação necessita passar pela
Isso significa compreensão da violência estrutural, que não só confronta os
a) que as condições sócio-econômicas não servem para compreender indivíduos uns com os outros, mas também os corrompe e
o fenômeno da violência. impulsiona ao delito.
b) que o meio social e a origem familiar podem justificar uma II. A desigualdade, a alienação do trabalho e nas relações, o menospre-
personalidade inclinada à violência e ao crime. zo de valores e normas em função do lucro, o consumismo, o culto
c) que o estudo da condição econômica e da origem social é à força e o machismo são alguns dos fatores que contribuem para a
insuficiente para entender o problema da violência. expansão da delinquência. Portanto, sadismos, sequestros, guerras
d) que embora a origem social de uma pessoa possa justificar atos de entre quadrilhas, delitos sob a ação do álcool e de drogas, roubos e
violência, não os pode explicar. furtos devem ser compreendidos dentro do marco referencial da
e) que a violência é um problema exclusivamente de ordem moral. violência estrutural, dentro de especificidades históricas.
III. Contribuindo para a reflexão acadêmica sobre o tema, recomenda-se
7. “Nosso sistema penal alcança melhor e mais depressa pobres, a seguinte postura metodológica relacional e dialética: em primeiro
negros e nordestinos (migrantes depauperados).” lugar, evitar adotar uma perspectiva histórica na análise sociológica
Trata-se de um problema relacionado ao (s) conceito (s) de e persistir em uma discussão de viés valorativo e normativo, ou seja,
a) injustiça e impunidade. um discurso a favor ou contra, que facilita o entendimento do
b) origem social dos criminosos. fenômeno.
c) determinação das condições sociais sobre o comportamento ético. IV. A violência é um desafio para a sociedade, e não apenas um mal. Ela
d) classes sociais e criminalidade. pode, inclusive, ser elemento de mudanças, ou um indício de
e) equidade e estado de direito.
necessidade de mudanças.

8. Èmile Durkheim desenvolveu uma teoria sobre a violência. Leia e É (são) coerente(s):
julgue os itens abaixo. a) Todas. b) Apenas I, II e IV.
I. Violência e crimes são fenômenos “normais” ou frequentes em c) Apenas I e III. d) Apenas II, III e IV.
determinadas sociedades. e) Apenas II.

1) B 2) C 3) E 4) E 5) D 6) C 7) A 8) B 9) B

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MÓDULO 13 Sociologia do Trabalho


1. Introdução

A Sociologia do Trabalho estuda as relações sociais


de trabalho, os fenômenos resultantes de tais relações e
o papel dos sujeitos ou agentes envolvidos nas relações
e ambientes de trabalho, como fábricas e sindicatos.
Alguns autores, como Karl Marx e o filósofo italiano
Antonio Gramsci, entendem o trabalho como essência da
condição humana, pois o homem não consegue viver em
estado de natureza, necessitando transformá-la. Assim, o
homem constrói artefatos para se adequar ao mundo e o
faz através do trabalho. O trabalho, assim entendido,
estabelece e impõe relações sociais que interessam ao Os homens estabelecem relações necessárias para realizar o trabalho.
olhar sociológico. Contudo, por muito tempo, o trabalho
foi considerado uma atividade depreciável. É possível que 2. Texto
essa visão tenha surgido exatamente por ter se
debruçado um olhar sobre a forma alienada e explorada do O trabalho enquanto dimensão contraditória da
trabalho humano, que produz uma existência humana potencialidade humana na trajetória de
indigna, como acontece com a escravidão. reestruturação produtiva.
A palavra trabalho teria surgido do vocábulo Tripalium, (adaptado)
que significava na antiguidade latina um castigo a se
aplicar aos escravos preguiçosos. Os gregos antigos Por Jane Maria dos Santos
também depreciavam essa atividade e achavam que
somente o ócio criativo era digno dos homens livres e O trabalho enquanto contradição
caberia aos escravos a atividade do trabalho e achavam
isso muito natural. O sociólogo Max Weber escreveu A “Ao analisarmos a temática do trabalho, deparamo-
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, em que nos com um paradoxo, uma contradição: ao mesmo
mostra que o trabalho, de acordo com a concepção moral tempo em que o trabalho constrói o homem, ele também
dos protestantes, seria uma virtude agradável a Deus, o destrói. Dessa maneira, primeiramente iremos analisar
abandonando a ideia de castigo. Isso teria, por exemplo, de que modo o trabalho é um fator positivo para a
contribuído para o acúmulo de capital nos EUA. estruturação dos homens e dos grupos sociais e de que
Por outro lado, outros pensadores também passaram modo o trabalho é um fator de negação da potencialidade
a entender a dimensão humana e universal do trabalho, humana.
valorizando-o, principalmente a partir do século XIX. As
O trabalho e sua dimensão positiva
escravaturas são progressivamente substituídas pela
forma assalariada de trabalho, em que a exploração não Iniciemos então com a positividade do trabalho, que se
deixa de estar presente. Contudo, o trabalho assalariado encontra em seu sentido ontológico. O trabalho é a forma
estaria mais de acordo com os princípios da democracia fundante do ser social, forma primeira ou protoforma da
e do Humanismo. atividade humana, da práxis (Antunes, 2002). Nesse
A Sociologia estuda as implicâncias sociais da relação sentido, o trabalho se torna humano através da atividade
de trabalho com as ferramentas, com a técnica e a de intercâmbio entre o homem e a natureza, no qual ele a
tecnologia moderna. A Sociologia observa as transfor- transforma de acordo com as suas necessidades e
mações que derivam da passagem do trabalho com simultaneamente ele também se transforma.
simples ferramentas individuais durante o período O trabalho é também uma atividade essencialmente
humana, devido ao fato de que ele é dotado de teleologia:
artesanal do processo de produção, ao trabalho industrial
projeto que é previamente planejado de modo intencional
com grandes máquinas e ao trabalho no mundo da
pela mente do homem, como ser da práxis, visando uma
informatização e da informação. Assim, as ciências sociais
determinada finalidade. Esse é o fator que diferencia o
acompanham as transformações históricas que ocorreram trabalho humano do trabalho de todos os outros animais:
e ocorrem durante as Revoluções Industriais, assim como ele é intencional.
as mudanças nas relações sociais que são produzidas Enquanto o homem adapta a natureza em função da
pelas diversas formas de trabalho. satisfação das suas necessidades, o animal adapta-se à
natureza, desfrutando das condições que ela lhe oferece.
– 93
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Se pensarmos no pássaro joão-de-barro, ou na abelha, ou alienação no sistema capitalista. O trabalhador produz algo
na aranha etc., eles sempre constroem suas moradias do estranho, que não é seu, que ele não pode possuir, que
mesmo modo, através de seu trabalho, que nunca se ele não consegue se ver como produtor direto desse
complexifica e que é resultado da objetividade de um determinado algo e produz para alguém estranho (que
instinto. Já os homens executam construções que a cada geralmente é o detentor dos meios de produção), que na
dia que passa vão sendo cada vez mais complexas, na maioria das vezes ele nem conhece (Antunes, 2002).
medida em que o homem vai aperfeiçoando-as em suas Assim, esse trabalhador proletário, que vive do seu
projeções mentais. Ou seja, a construção realizada por trabalho e para o seu trabalho, é transformado pelas
um homem é resultado da objetividade de sua relações sociais e pelas relações de produção em mera
subjetividade e também é influenciada pelas relações mercadoria. Ele é cada vez mais explorado e sempre
sociais às quais ele é constantemente submetido. Assim, desvinculado do produto de seu trabalho quando está
através do trabalho, os homens vão produzindo produzindo para o ‘outro’.
historicamente a sua existência e suas relações sociais. Há então, um processo de humanização da coisa e
Essa é a positividade do trabalho humano criativo. coisificação do homem, criando o fetichismo da merca-
Portanto, a positividade do trabalho o revela como doria e a consequente desumanização dos indivíduos
uma atividade que funda o homem como ser social, que envolvidos em tal processo. A coisa, ou seja, o produto,
é calcada no princípio da criatividade. Nesse sentido, adquire uma certa ‘humanização’, uma vida própria. Já os
podemos perceber sua dimensão qualitativa, que se trabalhadores que produziram a coisa, são cada vez mais
distingue pela habilidade que é própria e inerente a toda desumanizados em detrimento do que produziram. Sua
e qualquer produção de bens socialmente úteis, realizada subjetividade e importância enquanto ser humano são
pelo homem. descartadas. Apenas o que interessa para os detentores
dos meios de produção, é a força de trabalho dos
A dimensão do trabalho como fator de negação trabalhadores. E para os trabalhadores, alienados pelo
da potencialidade humana processo de trabalho no qual eles estão inseridos,
somente interessa a mínima quantia que eles recebem
para prover o sustento deles e de suas respectivas
Prosseguiremos então com o trabalho como fator de
famílias.
negação da potencialidade humana. Na nossa sociedade Portanto, a dimensão negativa do trabalho o revela
capitalista, os homens produzem historicamente sua como fator de coisificação da potencialidade humana no
existência através do trabalho (Marx, 2002). Para que isso capitalismo, como atividade que foi transformada em
aconteça, através do trabalho que eles executam e labor, sacrifício, objetificação, devido à sobreposição de
também de acordo com sua história, eles são divididos sua dimensão quantitativa em relação à qualitativa.
socialmente entre duas classes que apresentam Ambas dimensões se distinguem apenas pelo ‘quantum’
interesses antagônicos. socialmente materializado na mercadoria, que é o que
Uma classe é a dos proprietários dos meios de prevalece no capitalismo. Todo esse contexto traz como
produção, ou seja, dos capitalistas, e a outra é a dos consequências o fato de o trabalhador não se reconhecer
possuidores apenas de sua força de trabalho, que são os enquanto sujeito do produto de seu trabalho, que acaba
proletários. A relação entre ambas expressa uma notável por negar sua dimensão de ser social, e também pelo fato
de seu trabalho pertencer a outrem e não a ele mesmo
relação de desigualdade social e econômica. Como
(Antunes, 2002).
exemplos dessa afirmação, temos dois fenômenos: o
primeiro é que o trabalhador proletário trabalha sob o
controle do capitalista e o segundo é que o produto A reestruturação produtiva e o mundo do
produzido diretamente pelo proletário não é propriedade trabalho
dele, mas sim dos capitalistas (Antunes, 2002). Podemos perceber que o capitalismo se nutre
Por conseguinte, o resultado final do trabalho não fundamentalmente da exploração dos trabalhadores. Em
pertence ao trabalhador; o trabalho, então, tem caráter momentos de crise, os capitalistas tentam recuperar os
exterior ao do trabalhador. Essa é, então, uma lucros perdidos às custas de explorar mais ainda os
manifestação de alienação. Para o trabalhador proletário, trabalhadores, o que agrava ainda mais a situação.
o trabalho é algo penoso, que o remete ao sacrifício. Então, o sistema capitalista é atingido em todo o seu
Assim, as condições que regem o capitalismo e conjunto pela crise econômica e consequentemente
determinam o processo de trabalho causam a alienação acaba criando as condições objetivas de sua ruína. Os
do trabalhador. Consequentemente o proletário não modelos de organização da produção surgem como
consegue se reconhecer enquanto sujeito do produto do alternativas às crises econômicas do capitalismo. Com o
seu trabalho, pois ele não decide nem mesmo sobre o passar do tempo, esses modelos vão se tornando
que, como, para que e para quem produzir. insuficientes e incapazes de conter as contradições
Nas relações de produção a alienação acontece de inerentes ao sistema.
vários modos e o estranhamento é a forma específica de
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Nessa perspectiva, daremos continuidade à discus- do trabalho ‘economizando tempo’, assegurando


são através da análise dos modelos de organização da definitivamente o controle do tempo do trabalhador pela
produção que surgem como alternativas às crises classe dominante.
econômicas do capitalismo. A alienação do trabalhador tenta se apresentar como
Consequentemente, a partir do momento em que um um dos subprodutos da ‘administração científica’. Ao se
determinado modelo vai entrando em decadência, outro alienar, ele perde o sentido da totalidade em relação ao
modelo surge como resposta à crise, acarretando processo produtivo, e por conseguinte, do produto. O
transformações no processo produtivo. O próprio modelo trabalhador individualmente está fragmentado, sendo
denominado ‘fordismo’, surge como alternativa a uma das executor de uma tarefa simples e rotineira. A
crises do capitalismo e acaba se tornando um modelo mecanização da produção reduziu o trabalho a um ciclo
padrão de organização do trabalho e um modo de de movimentos repetitivos.
regulação das relações na economia. Assenta-se nos princípios do ‘taylorismo’, como a
O fordismo foi criado em 1913, por Henry Ford, e produção em massa e em série, consolidação do operário-
trouxe consigo inovações tecnológicas, novas formas massa, onde o trabalho de um depende do outro,
diferenciadas de gestão e novos princípios de organização padronização do processo de trabalho e também do
da produção (Gounet, 2002). produto. Dessa perspectiva, o modelo assume outra
Essa modificação na produção realizada por Ford racionalização: o parcelamento das tarefas e consequen-
ocorre porque ele tinha em mente fabricar um veículo de temente o parcelamento do saber. Com isso, o operário
preço relativamente baixo (que para isso deveria ser executa apenas uma função específica e não conhece
produzido de modo padronizado), de forma que fosse mais a execução de todas as operações do processo de
comprado em massa. A ideia surgiu em função do antigo produção. Além disso também foi racionalizado o tempo,
regime de trabalho, que produzia os carros lentamente através da introdução do cronômetro, para regular o
devido ao fato deles serem compostos por múltiplas tempo de trabalho e os movimentos dos trabalhadores.
peças e, por isso, como produtos finais, custavam muito Assim a produção torna-se padronizada, rotinizada e
caro (Gounet, 2002). hierarquizada (divisão social do trabalho), acarretando a
Ford modifica todo o processo de produção, aplicando desqualificação dos operários na execução de seus
em sua fábrica os métodos elaborados por Friedrich respectivos trabalhos.
Taylor, que em seu conjunto são denominados Enfim, o modelo de organização da produção
‘taylorismo’, que diz respeito à organização científica do ‘taylorista’ reduziu o homem a gestos e movimentos, sem
trabalho (Gounet, 2002). capacidade de desenvolver atividades mentais, que
O ‘taylorismo’ é essencialmente uma técnica social depois de uma aprendizagem rápida, funcionava como
de dominação, elaborada por Friedrich Taylor, tendo como uma máquina. O homem, de acordo com esse modelo de
principal característica a individualização dos salários. Seja organização da produção, podia ser programado, sem
através do salário por peça produzida, seja através de possibilidades de alterações, em função da experiência,
prêmios adicionais, forma explícita de introduzir a das condicionantes ambientais, técnicas e
competição entre os trabalhadores, objetivando o organizacionais. A redução do trabalho mental também é
aumento da produtividade do trabalho e evitando qualquer enfatizada na medida em que a superespecialização da
perda de tempo na produção. Com fundamentação em o tarefa levou a simplificação do trabalho a um nível
que move o mundo é o dinheiro, se a pessoa não recebe elevado, desprovendo o indivíduo de sua capacidade
ela não produz, a remuneração é um incentivo, assim os pensante.
incentivos seriam sempre financeiros. A natureza genérica do ‘fordismo’ é também uma
As determinações das tarefas não deveriam ficar a marca característica da divisão do trabalho, da aplicação
cargo dos operários, mas deveriam ser estudadas, dos métodos ‘tayloristas’ e da atribuição de funções
classificadas e sistematizadas por cientistas do trabalho, parcelares dotadas de conteúdo praticamente nulo a
no caso, a gerência. Como ideia do planejamento para ter trabalhadores de uma maneira permanente, rotineira e
uma cientificidade, ciência no sentido positivista, com monótona. Nesse sentido, enquanto Ford se ateve a
determinados conceitos de base empírica, o operário inovações e incrementações tecnológicas da produção,
deve apenas realizar as instruções, submeter-se às Taylor se ateve as inovações e incrementações no âmbito
ordens impostas pela hierarquia da fábrica. Segundo os da gestão da produção, visando mudanças na relação do
princípios do ‘taylorismo’ cada tarefa e cada movimento gestor com o trabalhador (Silva, 2001).
de cada trabalhador possuem uma ciência, um saber fazer O primeiro passo de Ford visando a produção em
profissional. massa, foi de racionalizar ao máximo as operações
Assim havia métodos como: método de racionalizar a efetuadas pelos operários para combater desperdícios,
produção, logo, de possibilitar o aumento da produtividade fundamentando-se nos princípios ‘tayloristas’ e da esteira

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rolante, que possibilitava a ligação dos trabalhos


individuais sucessivos, gerando uma produção fluida
(Gounet, 2002).
A eficiência do ‘fordismo’ exige escassas doses de
qualificação dos trabalhadores e de envolvimento dos
mesmos com o sucesso da produção e da empresa;
exige-se dos trabalhadores que cumpram as tarefas de
conteúdo prescritas pelos gestores da produção.
Consequentemente o ritmo do trabalho foi intensifi-
cado com a diminuição do tempo morto da jornada de
trabalho. Ao falarmos sobre essa caracterização do
‘fordismo’, a teoria é ilustrada pelas imagens do clássico
filme Tempos modernos, o qual trata de forma bastante
cômica (embora não deixe de ser trágica), todas essas
implementações na organização da produção que as
O filme Tempos Modernos mostra a rotina no rordismo. (Chaplin na
fábricas começam a assumir, buscando a eficácia e a foto).
rigidez. Visando obter maior intensidade no processo de
A princípio, para obter mão de obra suficiente para a trabalho, o ‘fordismo’ retoma e desenvolve o ‘taylorismo’,
produção em massa, Ford atrai trabalhadores para sua por meio de esteiras nos diversos segmentos do
fábrica através de um significativo aumento de salário. processo de trabalho, assegurando o deslocamento das
Mas somente receberia esse salário o operário que matérias-primas em transformação; e pela fixação dos
comprovasse ter boa conduta, distante de certas trabalhadores em seus postos de trabalho. Deste modo,
vicissitudes como beber e fumar. Com essa tática ele é garantida que a cadência de trabalho passe a ser
consegue atrair mão de obra para a fábrica, mas não paga regulada de maneira mecânica e externa ao trabalhador.
esse salário para muitos operários, alegando que não Podemos, portanto, caracterizar o ‘fordismo’ como
deram boas provas de uma conduta disciplinada (Gounet, produção em massa rígida, alicerçada no trabalho vivo
2002). (Vieira, 2001).
Dessa maneira, Ford estava concretizando os Crises econômicas são características do sistema
fundamentos básicos desse modelo: aumento da capitalista, diante de sua crescente incapacidade de não
produtividade, dos salários reais dos trabalhadores e do conseguir conter por si só suas contradições. Então,
consumo de massa. surgem como resposta, transformações no processo
À luz do filme Tempos modernos conseguimos produtivo através de um modelo de acumulação flexível,
compreender melhor a dinâmica dos modelos ‘fordista’ e um novo modelo de organização da produção
‘taylorista’, quando nele são expressas cenas de denominado ‘toyotismo’.
intensificação do ritmo de trabalho, racionalização do Chama-se ‘toyotismo’, porque ele foi desenvolvido e
tempo, hierarquização, fragmentação do processo de implantado na fábrica da Toyota, situada no Japão. Esse
trabalho, que geram o trabalho como fator de negação da modelo tem dupla origem. A primeira foi diante da
potencialidade humana e consequentemente causa necessidade de implantar o ‘fordismo’ no Japão, no
manifestações de alienação no sentido de alheamento e intuito de beneficiar a produção e promover uma
desumanização dos trabalhadores. progressiva lucratividade. Mas Ohno, presidente da
Já no filme A classe operária vai ao paraíso, tornam- Toyota, não admitiu essa ideia. Desse modo, ele propôs
se claramente explícitas as manifestações de alienação observar as experiências norte-americanas em relação ao
dentro de uma fábrica e a precarização do trabalho que ‘fordismo’, não para copiá-las e sim para através delas,
nela ocorre de forma generalizada; a exigência do perfil utilizar a pesquisa e a criatividade para elaborar um
de um operário padrão que cumpre cotas; um ritmo de modelo que se adaptasse à situação do Japão, que era
trabalho enlouquecido; a influência negativa do trabalho de produzir pequenas quantidades de vários modelos de
na subjetividade dos operários, que afeta até mesmo suas produtos. E a segunda, foi que as empresas do Japão
relações íntimas e interpessoais; a impregnação do tempo sofriam o constante risco de desaparecer, perante a
de trabalho ao tempo livre do trabalhador; e como ponto competitividade com as empresas norte-americanas, se
positivo, a tentativa constante e persistente de lutar pelo nenhuma atitude fosse tomada para superá-las (Gounet).
estabelecimento de uma forte unidade sindical, mas que Devido ao limitado e pequeno espaço geográfico
não consegue ser objetivada. japonês, todo o desperdício deveria ser combatido e, para
isso a fábrica Toyota foi organizada em torno de quatro
operações: transporte, produção, estocagem e controle

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de qualidade. Apenas a produção é que agregava valor ao de montagem e instaurando uma nova forma de gestão da
produto e os outros três, por gerarem custos, foram força de trabalho. Deste modo, uma característica central
limitados ao máximo (Gounet, 2002). do ‘toyotismo’ é a vigência da “manipulação” do
Assim, o ‘toyotismo’ é: ‘Um sistema de organização consentimento operário, objetivada em um conjunto de
da produção baseado em uma resposta imediata às inovações organizacionais, institucionais (e relacionais) no
variações da demanda e que exige, portanto, uma complexo de produção de mercadorias, que permitem
organização flexível do trabalho (inclusive dos ‘superar’ os limites postos pelo ‘taylorismo’/ ‘fordismo’.
trabalhadores)’ (idem p. 29). As mudanças trazidas pela adoção de princípios como
Ao invés de produzir em série, como no ‘fordismo’, autonomia e liberdade para o trabalhador a fim de
aumentar a produtividade, representariam a mais fina
esse modelo visava produzir de acordo com a demanda
essência do ‘toyotismo’. Entretanto, algumas caracterís-
vários modelos, mas cada um em pequena quantidade. ticas desses novos modelos contrapunham-se ao estilo
Ou seja, somente se produziria o que era vendido e clássico da linha de montagem enquanto esquema
haveria uma supressão dos estoques – just in time. produtivo. O rompimento com os antigos padrões de
As principais características do ‘toyotismo’ em gestão da força de trabalho representaria o rompimento
relação à produção, é que ela é flexível, devendo ser com o passado, com a burocracia e com a hierarquia e
determinada pelo consumo e pronta para suprir a caberia aos gestores construir uma nova empresa, carac-
demanda do mesmo, apresentando também diversidade terizada pela interação, comunicação, solidariedade,
de produtos. Além disso, a organização do processo de cooperação, integração e pela flexibilidade. A grande
trabalho ‘toyotista’, diferentemente da verticalização tentativa é de fazer o indivíduo se identificar com a
organização e seus objetivos.
‘fordista’, é marcado pela horizontalização, sendo cada vez
Dentro do ‘toyotismo’, é o próprio indivíduo que deve
mais intensificado. Os trabalhadores são progres-
encontrar seus limites, seu papel, seu espaço dentro da
sivamente flexibilizados em relação às horas extras.
organização. O controle organizacional ganha novos
Consequentemente o trabalho temporário e a subcontrata-
contornos, e as permissões e proibições tornam-se
ção predominam nas relações trabalhistas. Em suma,
internalizadas pelo trabalhador. Com a diminuição da
podemos perceber que o que determina a produção nesse
supervisão, da vigilância constante, é ele que vai se
modelo de organização de produção, é o consumo.
A produção é organizada através do método kanban, autorregular.
baseado num sistema de cartazes colocados em caixas Além da incorporação do autocontrole não há um
que orientam as encomendas conforme a demanda, que supervisor imediato de quem se possa reclamar ou
geralmente era utilizado nos supermercados, nos quais escapar, assim a resistência do indivíduo pode se dar
os produtos somente são repostos quando eles são através da manifestação de doenças do trabalho, como
vendidos (Gounet, 2002). os distúrbios mentais e estresse.
Com toda essa flexibilização da produção, a Juntamente com a internalização do controle, há a
organização do trabalho é também flexibilizada: a relação cobrança, por parte dos dirigentes empresariais, do
‘fordista’ um homem/uma máquina é rompida e agora o envolvimento com a implantação de mudanças e do
trabalhador torna-se polivalente (ou seja, opera várias
desenvolvimento da adaptabilidade e de uma certa
máquinas ao mesmo tempo) e ao invés do trabalho ser
fragmentado, ele agora é executado por equipes ou pelos integração em relação à empresa.
CCQ’s – Círculos de Controle de Qualidade (Silva, 2001). Num paradoxo, o discurso empresarial fala com
Segundo T. Gounet, o ‘toyotismo’ e sua respectiva frequência no trabalho em equipe, mas o gerenciamento
eficiência eram também caracterizados pelos cinco zeros: torna-se cada vez mais individual e individualista. O
zero atraso, zero estoques, zero defeitos, zero panes e processo de individualização do coletivo de trabalhadores
zero papéis. enfraquece a noção de classe operária, na qual um é o
O trabalho é constantemente flexibilizado e é vigia do outro, não mais o colega, o companheiro.
intensificado ao máximo; é contratado um mínimo de Novas políticas de recursos humanos são
operários, que executam o máximo de horas extras; o implantadas nas organizações, podendo constituir riscos
sindicato é totalmente vinculado ao patrão; a contratação
mentais significativos. Se por um lado a carga física de
de trabalhadores é reduzida (agora os operários ou são
subcontratados ou são temporários, dependendo das trabalho reduz-se com a ampliação da automação, a carga
condições e das demandas do mercado); há a implan- psíquica, pode elevar-se, levando os trabalhadores a um
tação da terceirização, que provoca a segmentação dos estado de tensão e conflitos internos constantes. Dentro
trabalhadores, a precarização do trabalho e o enfraque- desse novo modelo de organização, busca-se construir
cimento dos sindicatos, em que direitos trabalhistas são um novo trabalhador e uma nova gestão da força de
flexibilizados ou até mesmo eliminados. trabalho.
Ora, é o ‘toyotismo’ que irá propiciar, com um maior Para a Gerência da Qualidade Total, o produto de
poder ideológico, no campo organizacional, os apelos à melhor qualidade é aquele que atende às necessidades
administração participativa, destacando-se o sindicalismo de
do cliente. Assim o propósito da empresa seja assumido
participação e os CCQ’s; reconstituindo, para isso, a linha
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por todos sem precisar fazer chamadas, não pode traba- hibridizações desses e de outros modelos de gestão e de
lhar só com metas quantitativas e sim buscar a qualidade organização da produção (Antunes, 2002).
total constante, e que este propósito da empresa seja Com a flexibilização do trabalho e dos trabalhadores e
assumido por todos. de todas as características que lhes são inerentes, os
À empresa deve atender as necessidades e desejos direitos do trabalho são desregulamentados, desquali-
ficados, desorganizados e precarizados. As formas
do cliente, para isso deve melhorar de forma contínua
contratualizadas da força de trabalho são também
seus processos, de modo a favorecer a qualidade e precarizadas: o vínculo empregatício formal vem sofrendo
produtividade. uma ofensiva cada vez maior (Antunes, 2002).
O clima organizacional da empresa é enfatizado, Consequentemente, há o enfraquecimento dos
deixando claro que todos os funcionários devem participar sindicatos devido a sua perda de representatividade com
dos desafios que a empresa enfrenta, destruindo as a diminuição do número de trabalhadores formais.
barreiras entre os departamentos, deve-se trabalhar em E os trabalhadores precarizados muitas vezes nem têm
equipe, pois a transformação da empresa é competência representação sindical. Há, então, a crise contemporânea
de todos. Sendo assim a empresa deve estar bem- do sindicalismo: crescente individualização de trabalho,
estruturada e harmônica para produzir com qualidade. resignação social, fortíssima corrente que desregulamenta
e flexibiliza o limitado mercado de trabalho, os sindicatos
Na verdade, o aspecto original do ‘toyotismo’ é
deixam de ser combativos para serem defensivos (há uma
articular a continuidade da racionalização do trabalho, institucionalização sindical) etc (Antunes, 2002).
intrínseca ao ‘taylorismo’ e ‘fordismo’, com as novas E uma das mais graves consequências que todo esse
necessidades da acumulação capitalista (Antunes, 2001). contexto acarreta é a desumanização dos múltiplos
Todos os modelos de organização da produção sujeitos que são os trabalhadores assalariados. A
referem-se ao planejamento e organização do processo submissão dos mesmos a um trabalho imposto, assalaria-
de trabalho de forma que possibilite o aumento de do, sacrificado, estranho e irreconhecível a eles acaba
produção e diminuição dos custos, gerando assim maior produzindo a alienação.
produtividade, o que significa ampliar o excedente (mais- Na maioria das vezes, através do trabalho alienado,
valia). Ou seja, eles buscam uma organização racional do esses sujeitos conseguem apenas prover insuficien-
trabalho em dados objetivos, mensuráveis, por isso, temente suas necessidades básicas. Afinal esse
trabalham com controle estatístico do processo de trabalhador está trabalhando para outro, não sendo dono
trabalho, organização metódica com base nesse controle. de sua própria atividade. Por isso, o trabalho torna-se para
Buscam diminuir o excedente e com isso que o lucro ele uma força estranha, no sentido que ele vai satisfazer
aumente. e beneficiar outro indivíduo e não ele mesmo.
Esses modelos têm, portanto, um eixo comum, Podemos perceber, que a tendência atual é que o
ressaltado por esses processos aqui enfatizados. Todos trabalho seja caracterizado como uma dimensão negativa
eles afirmam ser generalizados, universais e aplicáveis do homem e de sua potencialidade. Dessa maneira, os
em qualquer processo de trabalho; todos eles trabalham trabalhadores contemporâneos acabam sendo
com a ideia da padronização da produção. submetidos apenas a esse trabalho negativo, que não traz
consigo uma consequência benéfica para aqueles que o
As mudanças no mundo do trabalho executa.
Contudo, as mudanças no mundo do trabalho acabam
Todas as medidas trazidas pelos modelos de organi-
revelando que:
zação da produção inerentes ao sistema capitalista
De fato, o processo de reestruturação produtiva, que
afetaram fortemente a classe trabalhadora e o seu
movimento sindical e operário. Paralelamente, esse con- se ancora em novas formas de regulação do trabalho,
texto traz consigo um processo de mudanças em nossa baseia-se sobretudo na flexibilização da produção como
sociedade, que nos leva a pensar sobre as mudanças no ingrediente fundamental para a intensificação do trabalho,
mundo do trabalho. a desregulamentação dos direitos sociais dos
É na década de 1980 que ocorrem profundas trabalhadores, o enfraquecimento do sindicalismo
transformações no mundo do trabalho. Segundo Ricardo combativo e a desverticalização da produção (Silva, 2001).
Antunes, foi nela que a classe-que-vive-do-trabalho sofre Paralelamente à progressiva dimensão negativa do
a mais aguda crise desse século, que atingiu tanto a sua trabalho, sua dimensão positiva, que o expressa enquanto
materialidade, quanto a sua subjetividade.
atividade intencional e criativa, é proporcionalmente
As mudanças que ocorrem no mundo do trabalho não
prejudicada e minimizada, devido às mudanças ocorridas
nos fazem perceber a continuidade que há entre o
‘fordismo’/’taylorismo’ e o ‘toyotismo’. Antes de tudo, constantemente no mundo do trabalho.
devemos perceber que ambos são padrões de Podemos concluir, portanto, que depois desse breve
acumulação e que contribuem para as mudanças no percurso, constatamos que essa contradição que o
mundo do trabalho. trabalho traz historicamente consigo se torna cada vez
Também na década de 1980, começam a ocorrer mais acentuada, de acordo com os modelos de
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organização da produção que vão surgindo no contexto


da reestruturação produtiva. Nesse sentido, a situação
aqui analisada expressa que a contradição dessa
dualidade de dimensões acaba reforçando a negativa e
em detrimento da positiva. Tudo isso porque o sistema
capitalista de produção, tendo em vista seu próprio
benefício, está atento apenas para as questões objetivas
que regem em função de uma lucratividade cada vez
maior e as condições subjetivas são desconsideradas”
Operários almoçando no alto da construção.

O Trabalho na Sociedade Tupinambá

O Trabalho na Sociedade Tupinambá restauração das forças . Constatou também um envelhe-


cimento precoce das mulheres que não dispunham desse
(resumo – adaptado)
ócio todo para restaurarem-se.
Por Marco Cruz Abbeville considerava a caça e a pesca um ótimo
passatempo. Já o Pe. Antônio Montoya afirmava que,
“José de Anchieta em suas Cartas, pág. 378, assim comparativamente, as mulheres trabalhavam muito mais.
referiu-se aos tupinambás: ‘Se deixam morrer de tristeza Desde crianças menores de sete anos, auxiliando a
e nojo vendo-se escravo, sendo eles livres’. amassar o barro e tecer, até as adultas que catavam
O Dr. Koshiba fala em termos de ‘sociedade do piolhos de todos, além de todas as tarefas domésticas
tempo livre’, uma vez que 5 horas diárias de trabalho que realizavam, chegando às uainuy [mais de 40 anos],
eram suficientes para eles’. que se dedicavam à cerâmica e eram encarregadas das
Léry, no famoso diálogo com um tupinambá, escutou carnes dos sacrifícios e, finalmente, as anciãs que
deste: ‘Temos pais, mães e filhos a quem amamos mas auxiliavam a recolher as flechas durante as batalhas.
estamos certos de que depois da nossa morte a terra que O homem deixava por conta da mulher o carrega-
nos nutriu também os nutrirá. ‘Por isso, descansamos mento do equipamento e das crianças, pois precisava
sem maiores cuidados’. ficar livre para defendê-las dos animais ferozes e dos
Um velho ditado grego dizia: ‘Se quer fazer Pítocles ataques surpresa dos inimigos. As mulheres somente na
feliz não lhe aumente os bens, mas diminua seus gravidez tinham suas tarefas moderadas.
desejos’. Outra característica da sociedade tupinambá
Na sociedade de consumo atual a ânsia do ter o novo segundo Evreux é que nunca desistem de trabalhar,
objeto, a tecnologia de ponta, é insaciável e até mesmo seguindo o princípio: ‘cada um trabalha segundo suas
angustiante. forças, mesmo na velhice’.
Como já disse nosso redator, José Correia Batista em Como vimos, morrer de angústia por estar
seu primeiro livro, ‘... acabaremos tendo que retornar aos escravizado não é que o índio seja preguiçoso, mas
índios’. Por que não? rejeitava o trabalho imposto. A propósito, a escravidão
O ócio dos silvícolas foi menosprezado como entre os índios não chegou a desenvolver novas camadas
‘tendências inatas’ ao Dolce far niente, entretanto, sociais. Achavam um absurdo deixar um inimigo vivo. Só
Helbert Baldus estudando os tapirapés conclui que o foram aprender a exploração de mão de obra alheia com
‘ócio’ deles não era exagerado, mas necessário para a os brancos.”

1. “O trabalho é a forma fundante do ser social, forma primeira ou o qual não se estabelece possibilidade de alguma sobrevivência.
protoforma da atividade humana, da práxis.” b) O trabalho representa sempre estado de alienação. A exploração do
(Jane M. dos Santos) homem pelo homem é emergência do trabalho.
c) O trabalho pode tornar-se alienação quando não exercido
Assinale a alternativa que dá sentido à frase.
espontaneamente.
a) O trabalho é condição essencial e universal da existência humana, sem
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d) A sociedade é constituída de relações tensas de conflito e relações III. Produção especializada significa produzir um só produto em massa,
de trabalho que expressam exploração. ou em série, apoiando-se no trabalho especializado e em uma
e) Sempre houve trabalho, desde o início da história da humanidade, e tecnologia que aumente a produtividade por operário.
foi a partir dele que se estabeleceram as desigualdades sociais. IV. O taylorismo foi muito benéfico à organização dos trabalhadores
europeus que, por isso, criaram vários sindicatos e várias leis de
RESOLUÇÃO:
proteção ao trabalhador.
Resposta: A
V. Tanto o taylorismo como o fordismo só chegaram ao Brasil em 1980.
Assinale a alternativa correta.
2. A positividade do trabalho o revela como uma atividade que funda o
a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
homem como ser social, que é calcada no princípio da criatividade. Por
b) Somente as afirmativas I e V são verdadeiras.
meio do trabalho, construímos historicamente nossa existência e nossas
c) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
relações sociais. Pode-se dizer que o trabalho original torna o homem
d) Somente as afirmativas III, IV e V são verdadeiras.
livre, pois ele o planeja e o executa por sua vontade. Dessa forma,
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
podemos afirmar:
I. O trabalho não alienado é aquele fundante do ser social. Assim, o RESOLUÇÃO: Resposta: A
homem estabelece relações e afirma sua humanidade pelo trabalho.
II. Há uma antropologia que valoriza o trabalho, fundamentada na 5. Responder à questão com base no texto e nas afirmativas abaixo.
concepção grega de que o trabalho é realização dos cidadãos e seres
livres. “O desemprego acentua a crise nas grandes cidades e se expressa no
III. Só há um tipo de trabalho: aquele que é executado e planejado aumento da criminalidade e na formação de guetos geográficos e
segundo a vontade do próprio homem livre. culturais. Ele é também fonte da instabilidade política e da descrença
Assinale a alternativa que expõe a (as) correta (corretas): nas instituições e nos partidos tradicionais, o que alimenta os novos
a) Todas b) I e III c) I e II d) Apenas I e) Apenas III grupos extremistas europeus.”
RESOLUÇÃO: (Panorama do Mundo, 1999.)
Resposta: D O texto refere-se
I. à globalização, que provocou uma movimentação mais acentuada
das indústrias que necessitam de mão-de-obra para países
3. (PUC-Rio) – As últimas décadas do século XX assistiram a uma periféricos, reduzindo o número de empregos na Europa.
revolução nos sistemas de produção e de trabalho. II. à revolução técnico-científica, que desenvolveu a informática e a
robótica, aumentando as taxas de desemprego.
As opções abaixo apresentam algumas das consequências dessas III. aos grupos extremistas neoliberais, que se fecham em guetos
mudanças, à exceção: geográficos para defenderem a permanência de latinos clandestinos
a) da substituição do trabalho humano por robôs flexíveis e em países ricos europeus.
programados. IV. ao crescente aumento do ramo manufatureiro na Europa, que tende
b) da substituição, na ocupação da mão-de-obra, do setor de serviços a aprofundar a crise do desemprego, pois este ramo necessita de
pelo setor industrial. menores investimentos em tecnologia.
c) do comando de sistemas de produção por computadores e Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente estão corretas
programas avançados. a) I, II e III. b) I e II. c) I e III. d) II e IV. e) III e IV.
d) da produção altamente concentrada combinada com uma flexível
integração de empresas subcontratadas. RESOLUÇÃO: Resposta: B
e) do redimensionamento da escala de produção em função de mega-
6. A posição central ocupada pela técnica é fundamental para explicar
mercados ou mercados mundiais.
a atual fase do capitalismo em que se insere o pós-fordismo.
RESOLUÇÃO: Esta nova forma de organização da produção promove o seguinte
Resposta: B conjunto de consequências:
a) retração do setor de comércio e prestação de serviços. Ampliação de
um mercado consumidor seletivo, diversificado e requintado.
b) intensificação das estratégias de produção e consumo em nível
4. (UDESC) – Para otimizar a produção fabril no século XIX, duas teorias
internacional. Redução do fluxo de informação e dos veículos de
se destacaram: o taylorismo (Winslow Taylor – 1856-1915) e o fordismo
propaganda.
(Henry Ford – 1863-1947).
c) redução da distância entre os estabelecimentos industriais e
Leia e analise as afirmativas sobre os desdobramentos concretos dessas comerciais. Acelerado ritmo de inovações do produto com mercados
teorias. pouco especializados.
I. O taylorismo propunha uma série de normas para elevar a d) crescente terceirização das atividades de apoio à produção e à
produtividade, por meio da maximização da eficiência da mão-de- distribuição. Elevados níveis de concentração de capitais com
obra, aprimorando a racionalização do trabalho e pagando prêmios formação de conglomerados. Qualificação do trabalhador.
pela produtividade. e) manutenção dos direitos trabalhistas e fortalecimentos dos
II. O fordismo impunha uma série de normas para aumentar a eficiência sindicatos.
econômica de uma empresa. Entre elas, exigia que a produção fosse
RESOLUÇÃO: Resposta: D
especializada e verticalizada.

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7. Leia as informações e responda ao teste. c) redução do custo da produção associada às potencialidades de


consumo dos próprios operários das fábricas
TAYLORISMO d) máxima utilização do tempo de trabalho do operário relacionada à
– separação do trabalho por tarefas e níveis hierárquicos despreocupação com os contratos trabalhistas
– racionalização da produção e) qualificação do trabalhador e alta robotização
– controle do tempo
– estabelecimento de níveis mínimos de produtividade RESOLUÇÃO:
Resposta: C
FORDISMO
– produção e consumo em massa
– extrema especialização do trabalho 8. Com a flexibilização da produção do pós-fordismo ou do toyotismo,
– rígida padronização da produção o que ocorre com o trabalho humano?
– linha de montagem I. Com a flexibilização do trabalho e dos trabalhadores e de todas as
suas características que lhes são inerentes, os direitos do trabalho
PÓS-FORDISMO são desregulamentados, desqualificados, desorganizados e precari-
– estratégias de produção e consumo em escala planetária zados.
– valorização da pesquisa científica II. As formas contratualizadas da força de trabalho são também
– desenvolvimento de novas tecnologias precarizadas: o vínculo empregatício formal vem sofrendo uma
– flexibilização dos contratos de trabalho ofensiva cada vez maior.
Pelas características dos modelos produtivos do momento da 2.ª Revo- III. Crescente emprego de mão de obra braçal, sem garantias de melhor
lução Industrial, é possível afirmar que o fordismo absorveu certos sucesso de carreira para os mais qualificados.
aspectos do taylorismo, incorporando novas características.
Essa afirmação se justifica, dentre outras razões, porque os objetivos
Assinale a alternativa que expõe a (as) correta (corretas):
a) Todas b) I e III c) I e II d) Apenas I e) Apenas III
do fordismo, principalmente, pressupunham:
a) elevada qualificação intelectual do trabalhador ligada ao controle de
RESOLUÇÃO:
tarefas sofisticadas Resposta: C
b) altos ganhos de produtividade vinculados a estratégias flexíveis de
divisão do trabalho na linha de montagem

1. Que princípio positivo pode ser encontrado no trabalho humano? 7. “O trabalho é a forma fundante do ser social, forma primeira ou
protoforma da atividade humana, da práxis”.
(Antunes apud Jane M. dos Santos)
2. Há uma dimensão do trabalho que aparece como fator de negação
da potencialidade humana. Assim, responda:
Explique o sentido dessas palavras.
a) Como se estabelece essa dimensão negativa?
b) O que resulta dessa dimensão?

8. Se o trabalho é condição universal dos homens e essencial à


3. “Assim esse trabalhador proletário, que vive do seu trabalho e para sobrevivência, como se explica que tantas pessoas sobrevivam sem
o seu trabalho, é transformado pelas relações sociais e pelas relações trabalhar?
de produção em mera mercadoria. Ele é cada vez mais explorado e
sempre desvinculado do produto de seu trabalho quando está
produzindo para o ‘outro’.” 9. Que consequências o fordismo trouxe para as formas de trabalho e
(Jane N. dos Santos) de conhecimento?
O conceito que melhor define a ideia no texto anterior é:
a) Exploração. b) Classe social.
c) Alienação d) Mercado de trabalho. 10. Com a flexibilização da produção do pós-fordismo ou do toyotismo,
e) Capital humano o que ocorre com o trabalho humano?

11. Que consequências o fordismo trouxe para as formas de trabalho e


4. Defina fordismo, taylorismo e explique a relação entre os dois.
de conhecimento?
I. O parcelamento das tarefas e consequentemente o parcelamento
5. Que consequências o fordismo trouxe para as formas de trabalho e do saber.
de conhecimento? II. O operário executaria diferentes funções e conheceria mais a
execução de todas as operações do processo de produção.
6. Com a flexibilização da produção do pós-fordismo ou do toyotismo,
III. Além disso, também foi racionalizado o tempo, com a introdução do
o que ocorre com o trabalho humano?
cronômetro, para regular o tempo de trabalho e os movimentos dos
trabalhadores.
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IV. Assim, a produção torna-se menos padronizada, menos rotinizada e 14. “A divisão do trabalho e a mecanização complementam-se e
hierarquizada (divisão social do trabalho), acarretando a qualificação reforçam-se mutuamente. (...) somente com a introdução da maquinaria,
dos operários na execução de seus respectivos trabalhos. com seu ritmo constante, é possível realizar o sonho – ou o pesadelo –
de uma administração exata do tempo e dos movimentos do operário,
São verdadeiras: sem a onerosa necessidade de colocar um capataz e um cronometrador
a) I e II b) I e III c) II e III d)III e IV e) I e IV atrás de cada um.”

ENGUITA, Mariano F. “Tecnologia e sociedade: a ideologia da


racionalidade técnica, a organização do trabalho e a educação”.
12. É essencialmente uma técnica social de dominação, tendo como In: SILVA, Tomaz T. da (org.) Trabalho, Educação e Prática Social. Porto
principal característica a individualização dos salários. Seja através do Alegre: Artes Médicas, 1991. p.235.
salário por peça produzida, seja através de prêmios adicionais, forma
explícita de introduzir a competição entre os trabalhadores, objetivando Tomando como referência a citação acima, podemos afirmar que
o aumento da produtividade do trabalho e evitando qualquer perda de I. o taylorismo, concepção produtivista desenvolvida por Frederick
tempo na produção. Trata-se do Taylor nos Estados Unidos, entre o final do século XIX e início do
a) taylorismo. século XX, tinha como características o controle sobre os gestos e
b) fordismo. comportamentos do trabalhador, com o intuito de evitar o

c) toyotismo. "desperdício de tempo" e a decomposição da produção em movi-


mentos monótonos, causando tédio e idiotização do trabalhador.
d) acumulação flexível do Just in Time.
II. o fordismo, desenvolvido por Henry Ford, seguiu a trilha aberta por
e) pós-fordismo.
Taylor ao utilizar a linha de montagem na fabricação em massa de
automóveis, ao fixar o operário em um mesmo posto, subordinando-
13. Leia as informações e responda o teste. o à máquina.
III. no mundo contemporâneo, a chamada "desindustrialização" –
TAYLORISMO processo de utilização da microeletrônica para a criação de novos
– separação do trabalho por tarefas e níveis hierárquicos postos de trabalho – substituiu os antigos robôs, provocando a
– racionalização da produção diminuição do desemprego, melhorando a distribuição de renda em
– controle do tempo países emergentes como o Brasil e criando novas oportunidades de
– estabelecimento de níveis mínimos de produtividade lazer aos trabalhadores.

FORDISMO Assinale
– produção e consumo em massa a) se apenas I e II são corretas.
– extrema especialização do trabalho b) se apenas I é correta.
– rígida padronização da produção c) se apenas II é correta.
– linha de montagem d) se apenas II e III são corretas.
e) se todas são corretas.
PÓS-FORDISMO
– estratégias de produção e consumo em escala planetária
– valorização da pesquisa científica 15. Há uma dimensão do trabalho que aparece como fator de negação
– desenvolvimento de novas tecnologias da potencialidade humana. Nesse sentido, assinale a errada:
– flexibilização dos contratos de trabalho
a) Estabelece-se através da sociedade de classes. Uma classe é a dos
proprietários dos meios de produção, ou seja, dos capitalistas, e a
A posição central ocupada pela técnica é fundamental para explicar
outra é a dos possuidores apenas de sua força de trabalho, que são
a atual fase do capitalismo em que se insere o pós-fordismo.
os proletários.
Esta nova forma de organização da produção promove o seguinte
b) Trata-se de uma forma de desigualdade social e econômica. Como
conjunto de consequências:
exemplos dessa afirmação, temos dois fenômenos: o primeiro é que
a) retração do setor de comércio e prestação de serviços. Ampliação de
o trabalhador proletário trabalha sob o controle do capitalista e o
um mercado consumidor seletivo, diversificado e sofisticado.
segundo é que o produto produzido diretamente pelo proletário não
b) intensificação das estratégias de produção e consumo em nível
é propriedade dele, mas sim dos capitalistas.
internacional. Redução do fluxo de informação e dos veículos de
c) O resultado final do trabalho não pertence ao trabalhador; o trabalho
propaganda.
então tem caráter exterior ao do trabalhador. Essa é, então, uma
c) redução da distância entre os estabelecimentos industriais e
manifestação de alienação.
comerciais. Acelerado ritmo de inovações do produto com mercados
d) Para o trabalhador proletário, o trabalho é algo penoso, que o remete
pouco especializados.
ao sacrifício.
d) crescente terceirização das atividades de apoio à produção e à
e) O proletário se reconhece enquanto sujeito do produto do seu traba-
distribuição. Elevados níveis de concentração de capitais com
lho, pois ele decide sobre o que, como, para que e para quem produzir.
formação de conglomerados. Qualificação do trabalhador.
e) manutenção dos direitos trabalhistas e fortalecimentos dos sindicatos.

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16. Pelo trabalho, o homem aprende a conhecer as suas próprias forças a) O trabalho enobrece o homem.
e limitações, desenvolve a inteligência, as habilidades, impõe-se uma b) Toda forma de trabalho liberta o homem.
disciplina, relaciona-se com os companheiros e vive os afetos de toda c) O homem se faz a si mesmo por meio do trabalho não alienado.
relação. Nesse sentido, dizemos que o homem se autoproduz, pois ele d) Não há liberdade sem emprego.
se modifica e se constrói a partir de sua ação. E nesse movimento tece e) A ação do homem impõe uma disciplina de trabalho que lhe permite
sua liberdade. a autoconstrução e tece a liberdade já dada.
Interprete o texto e, utilizando seus conhecimentos e conceitos já
estudados, assinale a correta.

1) A positividade do trabalho o revela como uma atividade que padronizada, rotinizada e hierarquizada (divisão social do
funda o homem como ser social, que é calcada no princípio da trabalho), acarretando a desqualificação dos operários na
criatividade. Através do trabalho, construímos historicamente execução de seus respectivos trabalhos.
nossa existência e nossas relações sociais. Pode-se dizer que
o trabalho original torna o homem livre, pois ele o planeja e o 6) Com a flexibilização do trabalho e dos trabalhadores e de
executa por sua vontade. todas as características que lhes são inerentes, os direitos do
trabalho são desregulamentados, desqualificados, desorgani-
2) a) Estabelece-se através da sociedade de classes. Uma classe zados e precarizados. As formas contratualizadas da força de
é a dos proprietários dos meios de produção, ou seja, dos trabalho são também precarizadas: o vínculo empregatício
capitalistas, e a outra é a dos possuidores apenas de sua formal vem sofrendo uma ofensiva cada vez maior.
força de trabalho, que são os proletários. Trata-se de uma
forma de desigualdade social e econômica. Como exemplos 7) Para o autor, o trabalho é condição essencial e universal da
dessa afirmação, temos dois fenômenos: o primeiro é que o existência humana, sem o qual não se estabelece qualquer
trabalhador proletário trabalha sob o controle do capitalista possibilidade de sobrevivência.
e o segundo é que o produto produzido diretamente pelo
proletário não é propriedade dele, mas sim dos capitalistas. 8) Há alguém que trabalha por essa pessoa, seja por
b) O resultado final do trabalho não pertence ao trabalhador; solidariedade, como os pais que trabalham pelos filhos; seja
o trabalho, então, tem caráter exterior ao do trabalhador. por exploração do trabalho alheio.
Essa é, então, uma manifestação de alienação. Para o
trabalhador proletário, o trabalho é algo penoso, que o 9) O parcelamento das tarefas e consequentemente o parcela-
remete ao sacrifício. O proletário não consegue se reconhe- mento do saber. O operário executaria apenas uma função
cer enquanto sujeito do produto do seu trabalho, pois ele específica e não conheceria mais a execução de todas as
não decide nem mesmo sobre o que, como, para que e para operações do processo de produção. Além disso, também foi
quem produzir. racionalizado o tempo, através da introdução do cronômetro,
para regular o tempo de trabalho e os movimentos dos
3) C trabalhadores. Assim a produção torna-se padronizada,
rotinizada e hierarquizada (divisão social do trabalho),
4) O fordismo foi criado em 1913, por Henry Ford. O princípio é a acarretando a desqualificação dos operários na execução de
produção em série e a exploração do trabalho humano seus respectivos trabalhos.
autômato. O ‘taylorismo’ é essencialmente uma técnica social
de dominação, elaborada por Friedrich Taylor, tendo como 10) Com a flexibilização do trabalho e dos trabalhadores e de
principal característica a individualização dos salários. Seja todas as características que lhes são inerentes, os direitos do
através do salário por peça produzida, seja através de prêmios trabalho são desregulamentados, desqualificados, desorgani-
adicionais, forma explícita de introduzir a competição entre os zados e precarizados. As formas contratualizadas da força de
trabalhadores, objetivando o aumento da produtividade do trabalho são também precarizadas: o vínculo empregatício
trabalho e evitando qualquer perda de tempo na produção. formal vem sofrendo uma ofensiva cada vez maior.
‘Taylorismo’, em geral, diz respeito à organização científica do
trabalho. Ford aplicou em sua fábrica os métodos elaborados 11) B
por Taylor, inaugurando uma forma mundial de produzir.
12) A

5) O parcelamento das tarefas e consequentemente o 13) D


parcelamento do saber. O operário executaria apenas uma
função específica e não conheceria mais a execução de todas 14) C
as operações do processo de produção. Além disso, também
foi racionalizado o tempo, através da introdução do 15) E
cronômetro, para regular o tempo de trabalho e os
movimentos dos trabalhadores. Assim a produção torna-se 16) C

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MÓDULO 14 Karl Mannheim e Pierre Bourdieu


O que se faz agora com as crianças é o que elas farão 2. A Sociologia do Conhecimento
depois com a sociedade.
Mannheim é considerado o fundador da Sociologia do
(Karl Mannheim)
Conhecimento. Segundo esse grande sociólogo, toda
produção de conhecimento não resulta apenas da
1. Karl mannheiM
consciência puramente teórica, mas, sobretudo de
elementos de natureza não teórica, provenientes da vida
Introdução
social e das influências e vontades a que o produtor,
Karl Mannheim nasceu em Budapeste na Hungria em enquanto indivíduo proveniente de uma realidade social,
1891 e faleceu em Londres em 1949. Apesar disso, pode está sujeito.
ser considerado um representante da sociologia alemã. Trata-se do pressuposto da determinação histórico-
social do conhecimento, em que a produção científica e a
Estudou em Berlim e em Heidelberg, onde foi aluno do
apreensão da realidade estão impregnadas de
professor Alfred Weber, irmão do renomado Max Weber.
“constelações” e “estilos de pensamento”: termos
Lecionou em Frankfurt até a ascensão do nazismo,
usados pelo sociólogo em questão. Esses termos
quando fugiu para Londres, vindo a lecionar na London
representam o conjunto de influências sob as quais os
School of Economics. Sua formação foi em Filosofia e
saberes são construídos e os referenciais que permitem
Sociologia, e, apesar de ter sido aluno de um Weber, foi o
enxergar e interpretar o mundo. Em outros termos, o
marxismo que marcou sobremaneira o seu pensamento.
conhecimento não é retrato da realidade, mas
Em parte, não acreditava nos processos revolucionários,
interpretação. Cabe à Sociologia do Conhecimento expor
senão nos pensamentos revolucionários, inspirados nas
e considerar as influências culturais de contexto que
utopias de uma sociedade melhor. Foi influenciado estão presentes nas teorias.
também pelo pragmatismo e pelo historicismo ingleses. Mannheim, por enfatizar que o conhecimento seria
Suas obras mais notáveis são: Ideologia e Utopia; e sobretudo ponto de vista e contextualização, foi acusado
Liberdade, Poder e Planejamento Democrático. de relativista.
Mannheim também deixou contribuições para a
Sociologia da Educação.

Cabe à Sociologia do Conhecimento estudar o contexto social e


histórico em que o conhecimento é sempre produzido.

3. Ideologia e Utopia

Em seu livro Ideologia e Utopia, Mannheim postula a


alternância de tendências históricas à conservação e à
mudança que geram, respectivamente, a ideologia e a
utopia. Isso significa que as ideologias são conservadoras,
para Mannheim, enquanto as utopias tendem a
transformar as sociedades, através de processos
Karl Mannheim é considerado o fundador da Sociologia do históricos que estabelecem valores originais e novas
Conhecimento. estruturas sociais.
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Há, de fato, em seu pensamento, uma contraposição Se tomarmos, porém, o pensamento liberal em suas
entre ideologia que tem uma função conservadora, pois origens, é possível fazer o mesmo raciocínio. Numa época
tende a conservar o status quo, e utopia que propõe em que predominava a sociedade feudal e a ideologia da
alterações nas formas vigentes de sociedade. Assim, nobreza e do clero era seu sustentáculo, as ideias liberais
cada fase da humanidade seria dominada por certo tipo de diziam respeito ao ‘não existente’, à transformação da
pensamento e a comparação entre vários estilos ordem social tradicional e sua superação pelo liberalismo,
pela ordem social do capital. O liberalismo foi
diferentes seria impossível. Em cada fase aparecem
revolucionário e, portanto, utópico. Mas tão logo derrotou
tendências conflitantes, apontando seja para a
o feudalismo e conquistou seu espaço, tornou-se uma
conservação, seja para a mudança. A adesão à primeira ideologia conservadora e perdeu seus traços utópicos.
tende a produzir ideologias e a adesão à segunda tende a Não podia ser diferente, pois se a burguesia levasse às
produzir utopias. A Sociologia do Conheciemto sugere um últimas consequências seu lema ‘Igualdade, Liberdade,
imanente conteúdo político dos discursos organizados e Fraternidade’, teria que negar-se a si própria. E nenhuma
aceitos, inclusive nas funções assumidas pelas ideologias classe social comete suicídio político.
e pelas utopias. O mesmo ocorreu com o ‘socialismo realmente
existente’: à sua vitória seguiu-se a necessidade de
conservar a ordem. Os revolucionários de hoje são os
conservadores de amanhã. Não é mero acaso que, seja
nas revoluções burguesas ou nas socialistas, surja a
crítica interna dos setores minoritários que almejam
empurrar a revolução para além dos limites dos que
desejam estabilizar o poder. A nova ordem precisa ser
negada para que a utopia permaneça; o não existente
continua a ser o objetivo a perseguir. No entanto, os
novos grupos e classes sociais no poder não podem
tolerar os que se mantêm utopistas. Suas cabeças devem
ser guilhotinadas, seus corpos são cravados pelas balas
dos fuzis dos camaradas da véspera; aos períodos
revolucionários seguem-se os tempos inquisitoriais.
Assim, os líderes bolcheviques tiveram que perseguir os
anarquistas e silenciar a oposição interna no partido; o
Segundo Mannheim, as ideologias produzem a conservação social; e
stalinismo e congêneres completou o serviço. A nova
as utopias, a transformação.
ortodoxia não tolera heresias.
A história parece dar razão a Karl Mannheim. Ele
4. Texto distingue ideologia e utopia. A primeira refere-se ao con-
junto de ideias que objetivam manter a ordem existente;
Ideologia e Utopia (trecho) a segunda, às ideias que fundamentam as ações pela
transformação desta. De acordo com Mannheim:
Por Antonio Ozaí da Silva ‘O conceito de ‘ideologia’ reflete uma das desco-
bertas emergentes do conflito político, que é a de que os
“Em geral, tomamos ideologia e utopia como sinô- grupos dominantes podem, em seu pensar, tornar-se tão
nimos. Por exemplo, nos referimos ao comunismo (socia- intensamente ligados por interesses a uma situação que
lismo) e, praticamente com o mesmo sentido, à utopia simplesmente não são mais capazes de ver certos fatos
comunista (socialista); da mesma forma, consideramos a que iriam solapar seu senso de dominação. Está implícita
ideologia anarquista como semelhante à utopia libertária. na palavra ‘ideologia’ a noção de que, em certas
Quando, porém, aludimos às ideologias de cunho situações, o inconsciente coletivo de certos grupos
obscurece a condição real da sociedade, tanto para si
conservador e/ou liberal, não estabelecemos vínculos
como para os demais, estabilizando-a, portanto.
com utopias. Na linguagem política corrente, essas
O conceito de pensar utópico reflete a descoberta
ideologias são concebidas como valores e ideias que oposta à primeira, que é a de que certos grupos oprimidos
legitimam e mantêm o status quo. Geralmente não estão intelectualmente interessados na destruição e na
falamos em ‘utopia conservadora’ e ‘utopia liberal’. transformação de uma dada condição da sociedade que,
Reservamos a expressão utopia para as ideologias mesmo involuntariamente, somente veem na situação os
contestatórias, as quais colocam-se como objetivo o elementos que tendem a negá-la. Seu pensamento é
revolucionamento da ordem social e, portanto, a cons- incapaz de diagnosticar corretamente uma situação
trução do ‘não existente’ a partir da negação do ‘existen- existente da sociedade. Eles não estão absolutamente
te’. Por isso, é mais comum falarmos em utopias preocupados com o que realmente existe; antes, em seu
comunista, socialista e anarquista. pensamento, buscam mudar a situação existente. Seu

– 105
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pensamento nunca é um diagnóstico da situação; têm sido centrais no pensamento filosófico de todos os
somente pode ser usado como uma orientação para a tempos, e é também crucial no pensamento social e
ação. Na mentalidade utópica, o inconsciente coletivo, político contemporâneo. Elas foram básicas para Marx,
guiado pela representação tendencial e pelo desejo de em sua crítica à ideologia e em sua tentativa de dar ao
ação, oculta determinados aspectos da realidade. Volta as método dialético hegeliano uma base empírica; para
costas a tudo que pudesse abalar sua crença ou paralisar Auguste Comte, com sua teoria dos ‘três estados’ de
seu desejo de mudar as coisas’. desenvolvimento da humanidade, do teológico ao
Ideologia e utopia são distinguidas pela relação que metafísico e ao científico; para Émile Durkheim, em seu
mantêm com a ordem social existente. Para que as ideias estudo sobre a formação de conceitos a partir de
desempenhem o papel utópico, isto é, adquiram um representações religiosas; para Max Weber, em suas
‘estado de espírito utópico’, é necessário que não apenas pesquisas históricas sobre as origens da racionalidade;
transcendam a ordem, mas que incorporem-se nos para Karl Mannheim, em seus ensaios sobre a ideologia
grupos sociais oprimidos e capazes de revolucionar a e a utopia; para Gramsci, em seus escritos sobre os
ordem. A mentalidade utópica, em suma, é revolucionária; intelectuais; e assim por diante.
a ideologia permanece atrelada ao existente.” A Sociologia do Conhecimento tem sua origem na
noção, estabelecida principalmente a partir de Marx, de
que as diversas formas de conhecimento não se
desenvolvem no vácuo social, em função da simples
acumulação de informações, conceitos e teorias. Existem
épocas e situações históricas que favorecem mais o
surgimento de certo tipo de estudos do que outros,
existem grupos sociais que, em determinadas circuns-
tâncias, são mais capazes de desenvolver certas formas
de conhecimento do que outras. Por que alguns países,
O conhecimento é algumas classes sociais, em algumas épocas históricas,
construído e tem foram capazes de desenvolver conhecimentos técnicos
sempre um imanente ou científicos de determinado tipo? Quais as condições
conteúdo político. sociais que favorecem o surgimento das grandes
religiões? Como surgem e como se transformam as
Ciência, Universidade e Ideologia: a Política do ideologias? Qual a prática social efetiva que permite o
Conhecimento surgimento das diversas formas de conhecimento? Como
estas diversas formas de conhecimento científico,
Por Simon Schwartzman (Apresentação) ideológico, religioso, de sentido comum se relacionam
entre si? Qual tem sido a função histórica da universidade
O que une as questões da ciência, da universidade e e da educação formal em seus diversos níveis no
da ideologia entre si é que todas fazem parte de um todo
desenvolvimento das diversas formas de conhecimento?
maior que é a política do conhecimento. Esta política pode
A preocupação com essas questões deixa de ser um
e deve ser pensada em dois sentidos. Por um lado, é
campo fértil para o entendimento da realidade social e se
necessário fazer algo com nossas instituições científicas,
torna uma fonte de confusão e caos conceitual quando
educacionais, artísticas e culturais, é necessária uma
se passa da busca de relações ao reducionismo da
política adequada da cultura e do conhecimento. Por outro
atividade de conhecimento ao nível dos interesses
lado, os cientistas, estudantes, professores, artistas,
econômicos e políticos dos diversos setores e classes
escritores e intelectuais constituem um grupo social
sociais. Com esse reducionismo, o problema do conhe-
extremamente ativo, ou seja, fazem política
cimento deixa de ser examinado em sua complexidade
constantemente.
social e epistemológica próprias, e passa a ser simples
Pensar nessas questões é enfrentar os temas mais
objeto de análise ideológica. Existem explicações
clássicos da sociologia do conhecimento. Como conhecer
sociológicas e intelectuais para a fascinação com esse
de forma adequada o mundo em que vivemos? Como
reducionismo. As razões intelectuais têm a ver com o
distinguir o conhecimento verdadeiro do falso? Qual o
ataque marxista ao conhecimento teórico, através do
papel do conhecimento na organização da sociedade no
conceito de práxis, que leva frequentemente a apagar as
progresso social, na conquista da felicidade humana?
linhas de demarcação entre o campo do conhecimento e
Qual a função política do conhecimento? Quais são os
o campo da ação político-partidária. As razões sociológicas
determinantes sociais dos diversos tipos de
referem-se ao papel político que os intelectuais buscam
conhecimento? Que é, afinal, o ‘conhecimento científico?’
desempenhar em suas sociedades, que os leva,
Como ele se diferencia do conhecimento prático, do
frequentemente, a se frustrarem e não se conformarem
conhecimento ideológico e da tecnologia? Qual a
com as limitações da atividade acadêmica.
relação entre o conhecimento e a ética? Essas questões
106 –
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O resultado da combinação desses dois fatores tem são da situação educacional moderna.
sido com frequência o desenvolvimento de concepções Para Mannhiem o pensamento social não pode
extremamente simplistas a respeito da organização da explicar a vida humana, mas apenas expressá-la. O papel
atividade do conhecimento em sociedades modernas, por da teoria, portanto, é compreender o que as pessoas
um lado; e, por outro, uma politização exacerbada da pensam sobre a sociedade e não o de propor explicações
problemática do conhecimento, que termina por colocar hipotéticas sobre ela.
em sério risco o próprio campo e autonomia da atividade O autor defendia uma sociedade que fosse
essencialmente democrática, uma democracia de bem-
intelectual. A moderna Sociologia do Conhecimento
estar social dirigida pelo planejamento racional e
desenvolve-se no espaço que ela trata de criar entre o
governada por cientistas.
extremo de uma concepção do conhecimento como Mannheim também admite que a racionalização da
atividade neutra e desgarrada do mundo dos homens e o vida levou a um declínio da educação voltada para a
outro extremo da ideia da fusão e da redução total de formação do homem integral, mas que o arejamento
todas as formas de conhecimento ao jogo de poder promovido pela democratização das relações sociais
político e econômico. O problema teórico da Sociologia do permitiu o surgimento de novas esperanças. Nesse
Conhecimento é estabelecer como o conhecimento tem sentido, embora o capitalismo tenha gerado desigual-
sido, de fato, condicionado, em seu conteúdo e em suas dades sociais, o interesse dos jovens das classes inferio-
condições de produção, nos diversos contextos sociais; res em ascender socialmente à elite traz ao processo
seu problema político tem sido o de explicitar as condições educacional as contribuições culturais das diferentes
que permitem o desenvolvimento de formas de camadas sociais e intercomunicação entre elas.
conhecimento dinâmicas, criativas, dotadas de riqueza e Percebeu a importância da sociologia na moderni-
profundidade, e socialmente relevantes. dade, para o estudo dos fenômenos educacionais,
justamente porque a vida baseada na tradição estava se
Pensar nos problemas do relacionamento entre
esgotando. Nas épocas históricas dominadas pela
conhecimento e política significa pensar em muitas das
tradição (pré-capitalista), a educação resumia-se a ajudar
questões mais cruciais de nossa sociedade, que confia na
a criança a ajustar-se à ordem social tradicionalmente
eventual vitória da Razão sobre as atuais desventuras pelas estabelecida. Valendo-se da influência da Psicanálise,
quais passamos. Chamar atenção para o aspecto político observa que tal processo era apenas de assimilação
da ciência, por exemplo, significa apostar na ideia de que a ‘inconsciente’, pela criança, do modelo da ordem vigente.
busca de conhecimento superior não é um simples Mas quanto mais a tradição vai sendo substituída pela
mecanismo cego que responde a processos autônomos e racionalização da vida, provocada pela consolidação da
não controlados de crescimento histórico, mas algo que sociedade industrial, mais os conteúdos educacionais
tem uma potencialidade de liberação humana e que devem ser transmitidos num processo ‘consciente’, em
merece, sempre, ser buscado e incentivado. Nesse que o educador se aperceba do meio social em que vive
sentido, a atividade científica e a liberdade intelectual e das mudanças pelas quais passa. Para ele, nem os
merecem e necessitam ser defendidas e estimuladas o objetivos do processo educacional, nem as metas podem
que não significa, obviamente, que não exista um amplo ser concebidos sem a consideração do contexto social,
espaço para escolhas, preferências e opções. A última pois eles são socialmente orientados.
Não concordava com a ideia de que a teoria pode
proposição mais geral, pois, que preside esses trabalhos é
existir apenas pela teoria. Achava que a sociologia poderia
que não existe, certamente, uma Razão hegeliana nem um
servir de base para o aprimoramento da educação.
futuro científico positivista a nos aguardar no fim da história;
‘Queremos compreender nosso tempo, as dificulda-
mas que, apesar disso, o conhecimento é melhor do que a
ignorância, e que esse valor deve ser explorado e des desta Era e como a educação sadia pode contribuir
maximizado em todos os momentos.” para a regeneração da sociedade e do homem’.
(MANNHEIM apud RODRIGUES, 2007, p.82).

Sociologia da Educação em Mannheim Regenerar de quê? Regenerar a sociedade e o


homem dos efeitos perversos que vêm embutidos no
Por Alberto Tosi Rodrigues processo de racionalização detectado por Weber. Valer-se
(Trechos do livro: Sociologia da Educação) da compreensão dos diferentes tipos históricos de
educação, construídos por Weber, para a montagem de
Mannheim e a Luz no Fim do Túnel uma pedagogia que dê conta de educar o homem
“Mannheim retoma a formulação de Weber sobre os moderno sem arrancar-lhe as possibilidades oferecidas
tipos de educação – pedagogias do cultivo e do treina- por uma formação integral.
Para Mannheim não há porque pensar que a
mento – e acrescenta a essa formulação a perspectiva de
pedagogia do cultivo está condenada à morte. Os modos
um programa para a mudança da educação.
de vida incutidos por esta educação, voltada para a cultura
Fugindo do pessimismo weberiano, o referido autor
e a erudição, estavam associados ao poder de certas
propõe a educadores e educandos que utilizem a
classes privilegiadas ‘que dispunham de lazer e de
sociologia como embasamento teórico para a compreen-
energias excedentes para cultivá-la’, e tais classes
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entraram em declínio com o desenvolvimento do capita- 5. Pierre Bourdieu e o Século XX


lismo e a ascensão da burguesia. Concorda Mannheim que
a educação especializada desintegra a personalidade e a Introdução
capacidade de compreender de modo mais completo o
mundo em que se vive. No entanto, argumenta que a Pierre Félix Bourdieu nasceu em Denguin em 1930 e
grande questão educacional da primeira metade do século faleceu em Paris em 2002. De origem simples e campe-
XX era saber se os valores veiculados por este tipo de sina, Pierre Bourdieu tornou-se, segundo muitos, o maior
formação são exclusivamente dessas classes ociosas ou sociólogo do século XX. Filósofo de formação, Bourdieu
se podem ser transferidos em alguma média às classes interessou-se por sociologia e antropologia durante uma
médias e aos trabalhadores. viagem de convocação militar à Argélia, onde teve contato
O elemento histórico decisivo na abertura das
com a sociedade cabila. Não há tema das ciências
possibilidades na sociedade atual é político: o advento da
democracia moderna. humanas que não tivesse sido criteriosamente trabalhado
por esse grande pensador. Deixou mais de 300 trabalhos
intelectuais e enfocou, em particular, o problema da
dominação e da miséria.
Bourdieu era avesso à filiação de escola em ciências
sociais e posicionou-se, sem contradições, entre os
grandes clássicos: Durkheim, Marx e Weber.
Em sua obra encontramos temas como educação,
cultura, literatura, arte, mídia, linguística e política: os
grandes temas que desenharam o século XX. Colocou-se
como crítico do neoliberalismo e da globalização,
mostrando as engrenagens que aí produziam a exclusão
social.
Em nosso caderno, destacamos duas abordagens
importantes em Bourdieu: a sociologia do gosto,
Para Mannheim, a Sociologia da Educação seria capaz de propor revelando que o gosto é produção da cultura e não, como
projetos pedagógicos para ampliar os horizontes humanos. se julga, expressão unicamente da apreciação pessoal; e
um texto sobre a educação, em que a educação aparece
O que seria essa ‘educação sadia’ para Mannheim? como sistema de reprodução das desigualdades.
Mannheim compreende que existem tendências no
sentido de criar padrões melhores de vida. Os movi- 6. Texto
mentos da juventude são responsáveis pelo desenvol-
vimento de um ideal de homem ‘sincero’, interessado Uma introdução a Pierre Bourdieu
numa relação mais autêntica com a natureza e com os (Revista CULT - Publicado em 14 de março de 2010)
outros. A Psicanálise é responsável por um novo padrão
de vida, com saúde mental, capaz de deixar o homem Pela discussão do gosto, Bourdieu denunciou
livre das repressões adquiridas na formação. as distorções na produção da cultura e na
A modernidade não tem apenas custos, ou ameaças sua difusão educacional
à liberdade. Ela traz também esperanças e valores sociais
solidários, abertos. Por Maria da Graça Jacintho Setton: professora de
‘A principal contribuição de todas as que a moderna
Sociologia na Faculdade de Educação da USP, autora
democracia é capaz de oferecer é a possibilidade de que
de Rotary Club: habitus, estilo de vida e sociabilidade (Ed.
todas as camadas sociais venham a contribuir com o
processo educacional. E a Sociologia é a disciplina, em Annablume) e organizadora dos artigos de Bourdieu
sua visão, capaz de fazer a síntese dessas contribuições. reunidos em A produção da crença: uma contribuição para
Por isso é tão importante, para ele, que a Sociologia sirva uma teoria dos bens simbólicos (Ed. Zouk).
de base à Pedagogia’. “Considerado um dos maiores sociólogos de língua
(RODRIGUES, 2007, p.83). francesa das últimas décadas, Pierre Bourdieu é um dos
mais importantes pensadores do século 20. Sua produção
Mannheim era um homem de seu tempo, em busca intelectual, desde a década de 1960, estende-se por uma
de um programa de estudos em Sociologia da Educação extensa variedade de objetos e temas de estudo. Embora
que possibilitasse a formulação de projetos educacionais contemporâneo, é tão respeitado quanto um clássico.
que ampliassem o horizonte do homem, que superasse Crítico mordaz dos mecanismos de reprodução das
as divisões em blocos políticos e ideológicos, que não o desigualdades sociais, Bourdieu construiu um importante
referencial no campo das ciências humanas.
satisfaziam. (...)”
No entanto, mesmo sendo reconhecida pela originali-
(p.83).
dade, a obra de Bourdieu é objeto de grande controvérsia.
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A maior parte de seus críticos, numa leitura parcial de localização dos grupos nessa estrutura social deriva da
seus trabalhos, classifica-o como um teórico da desigual distribuição de recursos e poderes de cada um
reprodução das desigualdades sociais. Não obstante, a de nós. Por recursos ou poderes, Bourdieu entende mais
reflexão de Bourdieu se destaca por uma singularidade. especificamente o capital econômico (renda, salários,
Para ele, os condicionamentos materiais e simbólicos imóveis), o capital cultural (saberes e conhecimentos
agem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa reconhecidos por diplomas e títulos), o capital social
relação de interdependência. Ou seja, a posição social ou (relações sociais que podem ser revertidas em capital,
o poder que detemos na sociedade não dependem
relações que podem ser capitalizadas) e por fim, mas não
apenas do volume de dinheiro que acumulamos ou de
por ordem de importância, o capital simbólico (o que
uma situação de prestígio que desfrutamos por possuir
escolaridade ou qualquer outra particularidade de vulgarmente chamamos prestígio e/ou honra).
destaque, mas está na articulação de sentidos que esses Assim, a posição de privilégio ou não privilégio
aspectos podem assumir em cada momento histórico. ocupada por um grupo ou indivíduo é definida de acordo
Para o autor, a sociologia deve aproveitar sua vasta com o volume e a composição de um ou mais capitais
herança acadêmica, apoiar-se nas teorias sociais adquiridos e ou incorporados ao longo de suas trajetórias
desenvolvidas pelos grandes pensadores das ciências sociais. O conjunto desses capitais seria compreendido
humanas, fazer uso de técnicas estatísticas e etnográficas a partir de um sistema de disposições de cultura (nas
e utilizar procedimentos metodológicos sérios e vigilantes suas dimensões material, simbólica e cultural, entre
para se fortalecer como ciência. outras), denominado por ele habitus.
Bourdieu fez de sua vida acadêmica e intelectual uma A sociologia, para Bourdieu, é uma ciência que
arma política e de sua sociologia uma sociologia engajada, incomoda, pois tende a interpretar os fenômenos sociais
profundamente comprometida com a denúncia dos de maneira crítica. Para os interesses desta introdução,
mecanismos de dominação em uma sociedade injusta.
vejamos apenas uma de suas muitas contribuições no
De acordo com sua perspectiva, a sociedade ocidental
campo da Sociologia da Cultura; mais especificamente, a
capitalista é uma sociedade hierarquizada, organizada
maneira pela qual Bourdieu interpreta a formação do
segundo uma divisão de poderes extremamente desigual.
Mas como se organizaria essa distribuição desigual de gosto cultural de cada um de nós, pondo em xeque um
poderes? dos consensos mais difundidos de nossa história cultural,
Como as formações sociais capitalistas conseguem o de que gosto não se discute.
manter os grupos sociais e os indivíduos hierarquizados?
Em outras palavras, como se perpetua uma situação de A produção do gosto
dominação entre os grupos sociais?
Posto isso, a sociologia de Bourdieu é mais que uma
sociologia da reprodução das diferenças, materiais ou
econômicas; é uma sociologia interpretativa do jogo de
poder das distinções econômicas e culturais de uma
sociedade hierarquizada. Aqui chamo atenção para um
aspecto de sua obra relativa à interpretação da produção
do gosto cultural. Bourdieu considera que o gosto e as
práticas de cultura de cada um de nós são resultados de
um feixe de condições específicas de socialização. É na
história das experiências de vida dos grupos e dos
indivíduos que podemos apreender a composição de
gosto e compreender as vantagens e desvantagens
materiais e simbólicas que assumem.
Nas décadas de 60 e 70 do século passado, Bourdieu
Bourdieu foi um sociólogo se envolve em uma série de pesquisas de caráter
politicamente ativo e preocupado com a coerência. qualitativo e quantitativo sobre a vida cultural, sobre as
práticas de lazer e de consumo de cultura entre os
Concepção relacional da sociedade europeus, sobretudo, entre os franceses.
Dessas experiências de investigação Bourdieu
É possível afirmar que Bourdieu tem uma concepção publica, em 1976, uma grande pesquisa intitulada
relacional e sistêmica do social. A estrutura social é vista Anatomia do gosto. Mais tarde, essa mesma pesquisa
como um sistema hierarquizado de poder e privilégio, passa a ser objeto de publicação de sua obra-prima,
determinado tanto pelas relações materiais e/ou lançada em 1979: o livro intitulado A distinção – crítica
econômicas (salário, renda) como pelas relações social do julgamento. Nessas duas obras, Bourdieu e uma
simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização) entre os equipe de pesquisadores tentam explicar e discutir a
indivíduos. Segundo esse ponto de vista, a diferente
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variação do gosto entre os segmentos sociais. Isto é, filmes, livros ou música, consagrados ou não
analisando a variedade das práticas culturais entre os pela cultura culta; uma tendência desenvolvida em cada
grupos, Bourdieu acaba por afirmar que o gosto cultural e um de nós, incorporada e que supõe uma interiorização e
os estilos de vida da burguesia, das camadas médias e identificação com certas informações e/ou saberes;
do operariado, ou seja, as maneiras de se relacionar com um capital, enfim, em uma versão simbólica, transvertido
as práticas da cultura desses sujeitos, estão em disposições de cultura, portanto, fruto de um trabalho
profundamente marcadas pelas trajetórias sociais vividas de assimilação, conquistado a custa de muito
por cada um deles. investimento, tempo, dinheiro e desembaraço no caso
Mais especificamente Bourdieu afirma que as dos grupos privilegiados.
práticas culturais são determinadas, em grande parte,
pelas trajetórias educativas e socializadoras dos agentes. O descompasso educacional
Dito com outras palavras, Bourdieu afirma, causando um
grande mal-estar na época, que o gosto cultural é produto Seria pertinente perguntar: qual o significado dessas
e fruto de um processo educativo, ambientado na família contribuições de Bourdieu para a interpretação das
e na escola e não fruto de uma sensibilidade inata dos culturas? Qual o significado da perspectiva crítica sobre a
agentes sociais. produção do gosto cultural nas sociedades capitalistas?
Para responder a essa questão, valeria fazer uma
‘Capital cultural incorporado’ pequena digressão. É sabido, entre os sociólogos da
educação, que todas as relações educativas e
Nesse sentido, Bourdieu põe em discussão, socializadoras são relações de comunicação. Isto é, a
desafiando várias autoridades, um consenso muito em mensagem comunicativa, mais propriamente o conjunto
voga, relativo à crença de que gosto e os estilos de vida de regras culturais disponibilizadas pela escola, sobretudo
seriam uma questão de foro íntimo. Para o autor, o gosto aquelas relativas às artes eruditas ou à cultura letrada
seria, ao contrário, o resultado de imbricadas relações de dependem da posse prévia de códigos de apreciação. Em
força poderosamente alicerçadas nas instituições outras palavras, a sensibilidade estética, a capacidade de
transmissoras de cultura da sociedade capitalista. assimilar e se identificar com um objeto artístico
Para fundamentar essa afirmação, Bourdieu argu- dependem fundamentalmente do acesso e, sobretudo,
menta que essas instituições seriam a família e a escola; de um aprendizado prévio de códigos e instrumentos de
seriam elas responsáveis pelas nossas competências apropriação, isto é, uma sensibilização anterior,
culturais ou gostos culturais. De um lado, chamou a aten- normalmente conquistada no seio familiar.
ção para o aprendizado precoce e insensível, efetuado Ora, diria Bourdieu, em uma sociedade hierarquizada
desde a primeira infância, no seio da família, e prolongado e injusta como a nossa, não são todas as famílias que
por um aprendizado escolar que o pressupõe e o possuem a bagagem culta e letrada para se apropriar e se
completa (aprendizado mais comum entre as elites). De identificar com os ensinamentos escolares. Alguns, os de
outro, destacou os aprendizados tardio, metódico e acele- origem social superior, terão certamente mais facilidade
rado, adquiridos nas instituições de ensino, fora do do que outros, pois já adquiriram parte desses
ambiente familiar, em tese um conhecimento aberto para ensinamentos em casa. Existiria uma aproximação e uma
todos. similaridade entre a cultura escolar e a cultura dos grupos
Assim, a distinção entre esses dois tipos de aprendi- sociais dominantes, pois estes há muitas gerações
zado, o familiar e o escolar, refere-se a duas maneiras de acumulam conhecimentos disponibilizados pela escola.
adquirir bens da cultura e com eles se habituar. Ou seja, Nesse sentido, o sistema de ensino que trata a todos
os aprendizados efetuados nos ambientes familiares igualmente, cobrando de todos o que só alguns detêm (a
seriam caracterizados pelo seu desprendimento e familiaridade com a cultura culta), não leva em
invisibilidade, garantindo a seu portador um certo consideração as diferenças de base determinadas pelas
desembaraço na apreensão e apreciação cultural; por sua desigualdades de origem social. Bourdieu detecta, então,
vez, o aprendizado escolar sistemático seria caracterizado um descompasso entre a competência cultural exigida e
por ser voluntário e consciente, garantindo a seu portador promovida pela escola e a competência cultural
uma familiaridade tardia com a produção cultural. apreendida nas famílias dos segmentos mais populares.
Essas duas formas de aprendizado, segundo Em síntese, para Bourdieu o sistema escolar, em vez
Bourdieu, seriam responsáveis pela formação do gosto de oferecer acesso democrático de uma competência
cultural dos indivíduos. Seria, especificamente, o que cultural específica para todos, tende a reforçar as
chamaríamos de “capital cultural incorporado”, uma distinções de capital cultural de seu público. Agindo dessa
dimensão do habitus de cada um; uma predisposição a forma, o sistema escolar limitaria o acesso e o pleno
gostar de determinados produtos da cultura, por exemplo, aproveitamento dos indivíduos pertencentes às famílias

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menos escolarizadas, pois cobraria deles o que eles não propriedade inata dos indivíduos. O gosto é produzido e é
têm, ou seja, um conhecimento cultural anterior, aquele resultado de um feixe de condições materiais e simbólicas
necessário para se realizar a contento o processo de acumuladas no percurso de nossa trajetória educativa. Para
transmissão de uma cultura culta. Essa cobrança escolar ele, o gosto cultural se adquire; mais do que isso, é
foi denominada por ele como uma violência resultado de diferenças de origem e de oportunidades
simbólica, pois imporia o reconhecimento e a legitimidade sociais e, portanto, deve ser denunciado enquanto tal.
de uma única forma de cultura, desconsiderando e Nesse sentido, as distinções do gosto cultural
inferiorizando a cultura dos segmentos populares. revelam, sobretudo, uma ordem social injusta, em que as
Assim, convertendo as desigualdades sociais, ou diferenças de cultura de origem podem ser transubstan-
seja, as diferenças de aprendizado anterior, em ciadas em diferenças entre o bom e o mau gosto numa
permanente estratégia de classificar hierarquicamente a
desigualdades de acesso à cultura culta, o sistema de
cultura dos segmentos sociais.
ensino tende a perpetuar a estrutura da distribuição
Para finalizar, seria interessante fazer algumas
do capital cultural, contribuindo para reproduzir e legitimar
ressalvas a esse pensamento. Pierre Bourdieu é ainda hoje
as diferenças de gosto entre os grupos sociais. Posto
respeitado como um dos fundadores do paradigma teórico
isso, as disposições exigidas pela escola, como por
acerca das práticas de cultura. Não obstante, uma série de
exemplo, as sensibilidades pelas letras ou pela estética trabalhos vem tentando atualizar suas contribuições,
visual ou musical, enfim, uma estética artística, privilégio admitindo a existência de outros espaços transmissores
de alguns poucos, tendem a intensificar as vantagens e legitimadores de um gosto cultural. Entre eles podemos
daqueles mais bem aquinhoados, material e destacar o poder das mídias ou, no caso especifico dos
culturalmente. jovens, seus grupos de pares. Nas sociedades modernas,
portanto, uma gama complexa de referências de cultura
partilharia com a escola e a família a formação do gosto
de todos os segmentos sociais.”

Sociologia da Educação para Educadores


Por José Maurício Fonzaghi Mazzucco

“Há uma área da Sociologia especificamente


preocupada com a realidade socioeducacional e podemos
chamá-la de Sociologia da Educação. Encontramos entre
os clássicos, essa preocupação.
Assim, interessa ao sociólogo os processos educacio-
nais de sociabilização, mas também a forma como o
sistema educacional funciona para reproduzir relações
sociais. Entre os clássicos, particularmente Durkheim
dedicou-se ao estudo da educação e escreveu os livros
Educação e Sociologia e A Evolução Pedagógica na
França e Educação Moral. Mannheim dedicou importante
obra acerca da educação e o pensamento marxista
produziu reflexões fundamentais sobre o papel
conservador e revolucionário da educação.
Para Durkheim, a função da educação é conservar a
sociedade. Segundo ele, a educação teria o papel de
superpor ao ser que somos ao nascer, individual e
associal, um ser inteiramente novo. Acreditava, porém,
que, para reproduzir a solidariedade social, nem todos os
indivíduos nasceriam para refletir. Seria sempre preciso,
pensava Durkheim, que houvessem homens de
sensibilidade e homens de ação, de tal forma que não
Para Bourdieu, o gosto e a apreciação da arte dependem de valores
caberia a todos o acesso a educação.
hierarquizados pela cultura.
Assim, o pensamento conservador justifica a
Distinções do gosto desigualdade social e de acesso ao conhecimento como
fenômeno natural. Nesse caso, porém, corre-se o risco
Com esse argumento Bourdieu põe em discussão um de se estar perdendo o fenômeno social na análise, pois
dos maiores consensos do século, qual seja, gosto não a desigualdade é tomada apenas como questão individual.
se discute. Ao contrário, para ele o gosto não é uma
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Atribui-se o fracasso ou o sucesso escolar à capacidade Verificou que a simples frequência escolar não era
ou incapacidade pessoal, parecendo, então, tratar-se de garantia de êxito na sociedade. A mera expansão do
questão de competência. O verdadeiro problema sistema escolar não seria suficiente para promover uma
permanece escondido. real reforma da sociedade, no sentido de concretizar a
O papel da sociologia é justamente o de desnatu- equidade social.
ralizar, expondo abordagens científicas, e, assim, Ocorreu uma nova forma de exclusão, mais sutil,
transcender o senso comum. Através da Sociologia da percebida mais tardiamente, dentro do próprio sistema
Educação é possível compreender que a educação se dá escolar. Chamou a esses novos excluídos, agora
no contexto de uma sociedade específica, e portanto, não estigmatizados pela frequência escolar, porque tiveram
há uma educação ideal, mas a educação adequada às ‘suas chances’, de os ‘excluídos do interior’.
necessidades históricas das sociedades. Ocorre dentro da escola uma seleção fundamentada
Existem diferentes teorias sociológicas, portanto, no capital cultural e no habitus que cada escolar porta e
existem também diferentes enfoques sobre o problema herda do meio social de origem. Tais critérios permane-
da educação. Na França, o mais expressivo sociólogo a se cem opacos aos próprios educadores. O aluno portador
dedicar ao estudo do sistema educacional, considerado de um privilegiado capital cultural, como viagens
por muitos, o maior sociólogo do século XX, foi Pierre realizadas, hábito da leitura, familiaridade com obras de
Bourdieu. No Brasil, um dos pioneiros na Sociologia da arte e intimidade com uma linguagem mais sofisticada, é
Educação foi Fernando Azevedo, signatário do Manifesto tomado diante das técnicas de avaliação, como
dos Pioneiros da Escola Nova em 1932, responsável pela naturalmente inteligente, dedicado e merecedor de um
Reforma do Ensino no então Distrito Federal (1927). Foi
futuro brilhante. Deixa-se escapar, nessa análise
ainda um dos intelectuais responsáveis pela fundação da
superficial e preconceituosa, a percepção sociológica da
Universidade de São Paulo – USP em 1934.
realidade. Não se percebe que se está reproduzindo os
Pierre Bourdieu mostrou como o sistema educacional
se tornou, no capitalismo, uma forma sutil de reprodução privilégios da classe dominante.
das desigualdades e dos privilégios. Mostrou como a O que tudo isso significa? Significa que a Sociologia
origem social do indivíduo se torna destino escolar. da educação não se destina aos sociólogos, mas deve
Segundo Bourdieu, a educação hoje mascara-se de interessar, sobretudo, a todos os envolvidos com o siste-
democracia e dificulta a mobilidade social. O aluno de ma educacional: agentes políticos, agentes da educação
baixa renda é acusado pelo seu fracasso na escola e não (mestres, gestores, psicólogos e pedagogos), pais etc.
são percebidas as condições sociais em que se O olhar sociológico permite identificar os mecanis-
desenvolve o aprendizado e em que funciona o sistema mos de reprodução das desigualdades e sem ele não há
de ensino. Assim, por outro lado, o êxito escolar não como projetar planos reais de reorganização do tecido
resultaria do dom natural da inteligência (o que constitui social. Não basta o argumento vazio da justiça e ética ou
uma ideologia), mas do capital cultural, ou seja, da a evocação da cidadania e dos direitos. Tampouco, pode-
bagagem de cultura que o estudante herda da família e se ainda encarar a Sociologia da Educação apenas como
do meio social e classe em que nasceu. Em outros mera exigência curricular. Há de se confiar a essa
termos, o sucesso na escola não é efeito de aptidões disciplina a tarefa de participar das políticas educacionais
naturais, mas de uma realidade objetivamente dada que e de orientar educadores às práticas mais coerentes de
o agente incorpora, tornando-a subjetiva. A esse proces- avaliação e de resgate do que a sociedade já tolheu aos
so de interiorização do que é objetivamente determinado, jovens educandos: cultura.”
Bourdieu chama de habitus. Um médico ou um advogado
bem-sucedido ou ainda, alguém de espírito
empreendedor pode julgar ser portador, por exemplo, de
uma vocação íntima, mas na verdade, trata-se de habitus
herdado do meio social (classe) e da família em forma de
capital cultural. A escola, conclui o sociólogo francês,
permanece sendo uma das instituições principais de
manutenção de privilégios.
Bourdieu conduziu suas investigações com rigorosa
postura de observação científica, utilizando o recurso da
coleta de dados, da construção de categorias e da
observação criteriosa, de forma que, muito do que
produziu nos anos 1970 permanece válido.
Bourdieu acompanhou o movimento de democrati-
zação do ensino e mostrou o equívoco (e mais
especificamente a função ideológica desse equívoco) de
se acreditar que o acesso à escola por parte da parcela
da população até então não frequentadora da escola,
formaria uma sociedade democrática e mais justa. Para Bourdieu, a educação é um mecanismo que reproduz as
desigualdades sociais.
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Bourdieu e a educação funcionando ainda, para Bento Prado Jr., ‘como chancela
Pelo sistema de ensino, as diferenças iniciais de de diferenças culturais e linguísticas já dadas, antes da
classe são transformadas em desigualdades de destino escolarização, no quadro da socialização primeira, que é
escolar e em forma específica de dominação. necessariamente diferencial, segundo a inscrição das
Por Ana Paula Hey e Afrânio Mendes Catani famílias nas diferentes classes sociais’.
“A partir dos anos 1960, e durante quase 45 anos, ‘O código linguístico da burguesia (com seus
Pierre Bourdieu produziu um conjunto de análises no cacoetes, idiotismos, suas particularidades) será
âmbito da Sociologia da Educação e da cultura que encontrado, pelos futuros notáveis, nas salas de aula,
influenciou decisivamente algumas gerações de como a linguagem da razão, da cultura, numa palavra,
intelectuais, obtendo o reconhecimento de pesquisa- como elemento ou horizonte da Verdade. O particular é
dores, estudantes e ativistas que atuam em várias outras arbitrariamente erigido em universal e o ‘capital cultural’
esferas da sociedade. Em Uma sociologia da produção adquirido na esfera doméstica, pelos filhos da burguesia,
do mundo cultural e escolar, introdução a Escritos de lhes assegura um privilégio considerável no destino
educação (1998), que reúne 12 textos do sociólogo escolar e profissional. No Destino, enfim’.
(“A Educação depois de 1968”, em Os Descaminhos da Educação,
francês, Maria A. Nogueira e Afrânio Catani escrevem o ed. Brasiliense).
seguinte: ‘Ao mesmo tempo em que colocava novos
A escola como reprodutora da dominação
questionamentos, sua obra fornecia respostas originais,
renovando o pensamento sociológico sobre as funções e A função do sistema de ensino é servir de instrumento
o funcionamento social dos sistemas de ensino nas de legitimação das desigualdades sociais. Longe de ser
sociedades contemporâneas, e sobre as relações que libertadora, a escola é conservadora e mantém a
mantêm os diferentes grupos sociais com a escola e com dominação dos dominantes sobre as classes populares,
o saber. Conceitos e categorias analíticas por ele sendo representada como um instrumento de reforço das
construídos constituem hoje moeda corrente da pesquisa desigualdades e como reprodutora cultural, pois há o
educacional, impregnando boa parte das análises acesso desigual à cultura segundo a origem de classe.
brasileiras sobre as condições de produção e de O filósofo idealista Alain (Émile Chartier, 1868-1951) foi
distribuição dos bens culturais e simbólicos, entre os professor durante décadas na Khâgne (classes preparatórias
quais se incluem os produtos escolares’. às Escolas Normais nas áreas de letras e filosofia, onde são
Bourdieu, em seus escritos, procurou questionar, nas recrutados os intelectuais de maior prestígio no campo
sociedades de classes, a temática que persegue muitos intelectual francês) do Lycée Henri IV (Paris) tendo, dentre
intelectuais: a compreensão de como e por que pequenos centenas de outros alunos, Raymond Aron, Simone Weill e
grupos de indivíduos conseguem se apoderar dos meios Georges Canguilhem. Em 1932, Alain escrevia em Propos
de dominação, permitindo nomear e representar a sur l éducation – Pédagogie enfantine, de maneira
realidade, construindo categorias, classificações e visões apologética, que ‘se pode perfeitamente dizer que não há
de mundo às quais todos os outros são obrigados a se pensamento a não ser na escola’.
referir. Compreender o mundo, para ele, converte-se em Bourdieu construirá sua trajetória analítica no domínio
poderoso instrumento de libertação – é esse da Sociologia da Educação procurando opor-se a um
procedimento que ele realiza, dentre outros domínios, no idealismo como o preconizado por Alain, em que a reflexão
educacional. é destituída de qualquer fundamento histórico, como na
A cultura vem a ser um sistema de significações velha tradição francesa. Em artigo de 1966, ‘A escola
hierarquizadas, tornando-se um móvel de lutas entre conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura’,
grupos sociais cuja finalidade é a de manter rompe com as explicações fundadas em aptidões naturais
distanciamentos distintivos entre classes sociais. A e individuais e critica o mito do ‘dom’, desvendando as
dominação cultural se expressa na fórmula segundo a condições sociais e culturais que permitiriam o
qual a cada posição na hierarquia social corresponde uma desenvolvimento desse mito. Desmonta, também, os
cultura específica (elitista, média, de massa), mecanismos através dos quais o sistema de ensino
caracterizadas respectivamente pela distinção, pela transforma as diferenças iniciais – resultado da transmissão
pretensão e pela privação. Definida por gostos e formas familiar da herança cultural – em desigualdades de destino
de apreciação estética, a cultura é central no processo de escolar. Explora a relação com o saber, em detrimento do
dominação; é a imposição da cultura dominante como saber em si mesmo, mostrando como os estudantes
sendo ‘a cultura’ que faz com que as classes dominadas provenientes de famílias desprovidas de capital cultural
atribuam sua situação subalterna à sua suposta apresentarão uma relação com as obras da cultura
deficiência cultural, e não à imposição pura e simples. O veiculadas pela escola que tende a ser interessada,
sistema de ensino desempenha papel de realce na laboriosa, tensa, esforçada, enquanto para os alunos
reprodução dessa relação de dominação cultural, originários de meios culturalmente privilegiados essa relação

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está marcada pelo diletantismo, desenvoltura, elegância, internalização dos sistemas classificatórios dominantes
facilidade verbal ‘natural’. Ao avaliar o desempenho dos no mundo social global.
alunos, a escola leva em conta, conscientemente ou não, Suas análises da educação, então, passam a pertencer
esse modo de aquisição e uso do saber. ao campo da sociologia do conhecimento e da sociologia do
Segundo Bourdieu, ‘para que sejam desfavorecidos poder, pois como ele mesmo afirma, longe de ser uma
os mais favorecidos, é necessário e suficiente que a escola ciência aplicada e adequada somente aos pedagogos, ela
ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, se situa na base de uma antropologia geral do poder e da
dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de legitimidade, porquanto se detém ‘nos mecanismos
avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das responsáveis pela reprodução das estruturas sociais e pela
diferentes classes sociais. Tratando todos os educandos, reprodução das estruturas mentais’.
por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguais Para Loïc Wacquant, Bourdieu oferece uma anatomia
em direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar da produção do novo capital [o cultural] e uma análise dos
sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura’. efeitos sociais de sua circulação nos vários campos
Bourdieu constrói seu esquema analítico relativo ao envolvidos no trabalho de dominação. Em La noblesse
sistema escolar e às relações não explícitas que o d État (A nobreza do Estado) comprova e reforça suas teses
ancoram em uma longa trajetória que envolve análises iniciais sobre o sistema de ensino e a ‘relação de colisão e
empíricas objetivas, centradas em estatísticas da situação colusão, de autonomia e cumplicidade, de distância e de
escolar francesa. Já em 1964, em Les étudiants et leurs dependência entre poder material e poder simbólico’. Sua
études (Os estudantes e seus estudos) e Les héritiers. sociologia da educação é, antes de tudo, uma ‘antropologia
Les étudiants et la culture (Os herdeiros. Os estudantes generativa dos poderes focada na contribuição especial
e a cultura), escritos com Jean-Claude Passeron, examina que as formas simbólicas dão à respectiva operação,
como os estudantes se relacionam com a estrutura do conversão e naturalização. (…) O interesse de Bourdieu
sistema escolar e como são nele representados, e pela escola deriva do papel que ele lhe atribui como
constata a desigual representação das diferentes classes garantidor da ordem social contemporânea via magia do
sociais no sistema superior. Investiga a cultura ‘legítima’, Estado que consagra as divisões sociais, inscrevendo-as
aquela das classes privilegiadas que é validada nos simultaneamente na objetividade das distribuições
exames escolares e nos diplomas outorgados, e o ensino, materiais e na subjetividade das classificações cognitivas’.
aquele que autentica um corpo de conhecimentos, de A apropriação do autor no campo educacional
saber-fazer e, sobretudo, de saber dizer, que constitui o brasileiro ocorre de forma mais incisiva no uso de suas
patrimônio das classes cultivadas. noções mais evidentes e, não raramente, desvinculadas
O fato de desvendar as desigualdades do ensino de sua epistemologia. É por isso que podemos encontrar
francês, tanto como sistema como em seu interior, signif- os ‘teóricos’ de Bourdieu, os ‘ativistas’ e, de forma menos
ica uma grande mudança no pressuposto já canonizado – usual, aqueles que se apropriam de sua ‘prática
principalmente com Durkheim, que personifica o ideal da epistemológica’. Constata-se a necessidade de re-
Terceira República (1870-1940), conhecida como A conhecer o autor, buscando o entendimento da teoria
República dos Professores –, em que a escola deveria sociológica que embasa suas noções mais conhecidas e
fornecer a educação para todos os indivíduos, proporcio- também mais banalizadas, assim como o sentido da
nando-lhes instrumentos que pudessem garantir sua percepção do mundo social que tal teoria informa.
liberdade, mas, também, sua ascensão social. Bourdieu nos ensina que toda prática humana encontra-se
Ao afirmar que o sistema escolar institui fronteiras imersa em uma ordem social, sobretudo essa categoria
sociais análogas àquelas que separavam a grande nobreza específica de práticas inerentes ao mundo acadêmico.
da pequena nobreza, e esta dos simples plebeus, ao Fazer uma sociologia da educação bourdieusiana,
instaurar uma ruptura entre os alunos das grandes escolas analisando o papel do sistema de ensino na consagração
e os das faculdades (ao analisar o campo universitário das divisões sociais e consolidando um novo modo de
francês e o papel das Grandes Écoles), Bourdieu desvela a dominação, torna-se um desafio até para os acadêmicos
crueza da desigualdade social e, ao mesmo tempo, como mais ousados.”
ela é simulada no sistema escolar e entranhada nas Ana Paula Hey é professora no Programa de Pós-
estruturas cognitivas dos participantes desse universo – Graduação em Educação da UMESP e autora do livro
professores, alunos, dirigentes. Esboço de uma sociologia do campo acadêmico: A
educação superior no Brasil (EDUFSCar/FAPESP).
Conhecimento e poder Afrânio Mendes Catani é professor na Faculdade de
Assim, a instituição escolar é vista como desempe- Educação da USP e pesquisador do CNPq. Organizou,
nhando uma grande função de produção de diferenças com Maria Alice Nogueira, Escritos de educação (Vozes),
cognitivas, uma vez que ajuda a produzir esquemas de reunindo ensaios de Pierre Bourdieu.
apreciação, percepção e ação do mundo social por via da
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1. A percepção sociopolítica em Karl Mannhein


2. Sociologia do Conhecimento
3. Pierre Bourdieu e a Violência Simbólica
A percepção sociopolítica em Karl Mannheim. natureza da sociedade tal como é, se somos capazes de
(Trecho) insinuar as medidas que, tomadas a tempo, poderão
Por Suzana J. de Oliveira Carmo tornar a sociedade aquilo que deve ser’.
Notadamente, convencido de que só o conhecimen-
“(...)
to concreto da sociedade é capaz de definir quais são ou
Analisando o cenário político em suas patologias, ao serão suas tendências políticas. Mannheim ressalta que,
mesmo passo, diagnosticando o contexto histórico da a sociedade não consegue sobreviver se fomenta
humanidade, Mannheim sugere um estudo inovador conformismo e conformidade, porque estas são
destas questões humanas, erigindo a existência de um características evidentes de algo monótono ou fadado à
observador empírico que se assemelha a um ‘revolu- inércia, e como tal, passível de se tornar obsoleto.
cionário’ (paciencioso por estratégia, mas, não inerte pela Conferindo verdade à doutrina precursora de Émile
dominação), em verdade, um ‘reformador’, retratado Durkheim, assinala que só as sociedades simples como
como um sujeito capaz de aplicar mecanismos e métodos as dos povos primitivos podem funcionar satisfatoria-
e, de empreender na melhor oportunidade não só teoria mente quando fundadas na homogeneidade e na
epistemológica, mas, primordialmente, novas técnicas de conformidade. Porque a integração social em toda a sua
remodelagem da sociedade. magnitude, jamais foi ou será alcançada por via de um
Assim, ainda que mantendo uma postura médica ao comportamento comum e uniforme, ou contrário, exige
exarar um diagnóstico científico dos evidentes males uma coordenação geral e complexa, de ideias e
sociais, Mannheim não se limitou ao diagnóstico do comportamentos variados. Desta forma, nos aclara que,
tempo ou da sociedade, sua tese vai além, e, se inspira não basta, para que haja vigor na sociedade, tampouco,
fundamentalmente em algo, por ele denominado como: para a manutenção do Estado, a existência fictícia ou
Conhecimento Ateórico. Noutras palavras, enfatiza uma abstrata do Princípio Democrático, quando sua materiali-
cognição que emerge da abordagem prática da zação ou percepção sinestésica, está em uma
experiência humana; advinda da imediata concreção dependência ávida de que antecedentemente ocorra a
histórica dos fatos. Porque para ele, seriam estes os dois satisfação de uma necessidade orgânica básica, que é a
fatores determinantes e que assinalam o rumo na marcha de Justiça Social. Lembrando que ‘a reivindicação de
dos acontecimentos. maior justiça não implica, forçosamente, uma concepção
Partindo da constatação de que a sociedade humana, mecânica de igualdade. Diferenças razoáveis de renda e
de fato e verdadeiramente, só pode revestir-se ou fundar- de acumulação de riqueza, para gerar o estímulo
se sob duas formas: edificação piramidal, onde na base necessário aos empreendimentos, podem ser mantidas
estão sedimentadas as massas e no ápice a minoria desde que não interfiram nas linhas mestras do
dominante (estrutura ditatorial); ou em plano horizontal, planejamento nem aumentem de molde a impedir a
organizada pelo planejamento de instituições e controlada cooperação entre as diferentes classes’. (...)
pela divisão do poder político (estrutura democrática). Fica, então, evidente que o funcionamento adequado
Mannheim, não vê nas técnicas de controle social, que do organismo social está sob a égide das atitudes e
tão costumeiramente são utilizadas pelos governos, uma decisões políticas, embora, o respaldo autorizante destas
essência boa ou ruim, vislumbra sim, uma vulnerabilidade tomadas de decisão seja conferido pela sociedade. De tal
em função da vontade humana daquele que as utiliza sob modo, o funcionamento da democracia está sujeito
o falso argumento de serem tão somente um mecanismo ironicamente ao consentimento democrático e à existên-
de contenção econômica, política ou social. Daí porque, cia da justiça social. E, este sistema de intercâmbio, este
na maioria das vezes, esta utilização, onde os verdadeiros circuito fluxo, retrata não só a viabilidade e manutenção do
objetivos estão camuflados, resulta em uma eficiência sistema como um todo, a priori, demarca que os insumos
antagônica, impondo à sociedade uma escravidão axiológicos que o alimentam, são de ordem ética.
intelectual, por institucionalizar crenças, credos e E, uma vez mais, de acordo com Mannheim, nem a
comportamentos que não correspondem à própria tolerância democrática nem a objetividade científica estão
natureza do cidadão, tampouco, ao exercício da cidadania. autorizadas a nos determinar abstinência às lutas que
Neste ponto, insurge a primeira afirmativa fulcrada no necessariamente devam ser travadas em prol daquilo que
conhecimento ateórico: ‘Só vale a pena estudar a julgamos ser verdadeiro. Apontando que, só uma

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democracia militante pode sobreviver em tempos de mente sociais que estão no seu cerne. Parte da premissa
desordem moral ou ética. A ideia de militância quando que a prática da ciência é também uma prática social e,
atrelada à democracia, significa a existência de uma portanto, histórica, residindo nisto a sua proximidade com
atitude de defesa dos procedimentos corretos, dos a subdisciplina da Sociologia do Conhecimento. A obra de
valores socioculturais, da decência, do respeito à Kuhn é, porém, mais próxima da Sociologia da Ciência,
cidadania etc. enquanto que a de Popper está mais próxima de
‘[...] que a liberdade e a democracia são necessaria- Metodologia e Epistemologia da Ciência.”
mente incompletas enquanto as oportunidades sociais
estiverem tolhidas pela desigualdade econômica, é Pierre Bourdieu e a Violência Simbólica
irresponsável não compreender quão grande realização
Por Pablo Silva Machado Bispo dos Santos
elas representam e que através delas podemos ampliar o
âmbito do progresso social’. (...)”
Um dos conceitos comentados e menos conhecidos
Sociologia do Conhecimento na obra de Pierre Bourdieu é o de violência simbólica.
(Extraído da Wikipedia) Criado com o objetivo de elucidar as relações de domi-
nação que não pressupõe a coerção física ocorridas entre
“Concebida como o estudo das condições sociais de
as pessoas e entre os grupos presentes no mundo social,
produção de conhecimento. Seu enfoque abarca as relações
o eminente sociólogo francês cunha esta noção, a qual
sociais envolvidas na produção do conhecimento. O objeto
corresponde a um tipo de violência que é exercida em
desse tipo de sociologia não se confunde aos da teoria do
parte com o consentimento de quem a sofre.
conhecimento ou epistemologia. É a gênese do
A raiz da violência simbólica estaria deste modo
conhecimento intelectual e dos usos no ambiente social.
presente nos símbolos e signos culturais, especialmente
Assim, consideram-se outros fatores determinantes da
no reconhecimento tácito da autoridade exercida por
produção de conhecimento que não os da consciência
certas pessoas e grupos de pessoas. Deste modo, a
puramente teórica, mas também de elementos de natureza
violência simbólica nem é percebida como violência, mas
não teórica, provenientes da vida social e das influências e
sim como uma espécie de interdição desenvolvida com
vontades a que o indivíduo está sujeito.
base em um respeito que ‘naturalmente’ se exerce de
A influência de tais fatores é de grande importância e
um para outro. Como exemplo disto temos a atitude
sua investigação é objeto da Sociologia do Conhecimento.
professoral, a qual pressupõe o uso legitimado de
Esta formulação teórica tem em vista que cada período
estratégias punitivas em relação aos alunos (como
histórico da humanidade é dominantemente influenciado
reprovações e castigos) que não se enquadram nos
por certo tipo de pensamento ou de formulações teóricas
moldes sociais da instituição escolar.
tidas como relevantes. Em cada momento histórico,
No que tange à concordância entre o dominado e o
tendências conflitantes apontando tanto para a
dominador, este aspecto da argumentação de Bourdieu é
conservação da ordem quanto para a sua transformação
muito pouco entendido, pois algumas pessoas entendem
surgiriam em vista dos interesses políticos e ideológicos
como se houvesse um acordo formalmente estabelecido
dos agentes envoltos na prática da produção do
no qual a dominação é reconhecida como legítima,
conhecimento.
quando na verdade esta se dá pela ação das forças sociais
A Sociologia do Conhecimento, tal como definida
e pela estrutura das normas internas do campo do mundo
anteriormente, difere da Teoria do Conhecimento pelo
social em que os indivíduos se inserem, e que de certa
fato de que esta última debruça-se sobre os problemas
maneira se incorporam (até mesmo corporalmente) em
comuns a todas as áreas do conhecimento científico
seus habitus.”
preocupando-se não com sua ‘gênese social’. Ao
contrário, a Teoria do Conhecimento está envolvida no Pequeno glossário da teoria de Bourdieu
desenvolvimento do conhecimento científico num nível
metateórico, confundindo-se, pois, com a Metodologia (Publicado em 14 de março de 2010, Revista CULT)
das Ciências no seu sentido forte: a fundamentação de
teorias. As obras de autores como Karl Popper e Thomas Os conceitos de Bourdieu, aqui expostos de maneira
Kuhn são exemplares a esse respeito. Thomas Kuhn, esquemática, devem ser compreendidos em sua
entretanto, está no limiar entre a pesquisa metodológica interdependência, ou seja, na relação de um ao outro. Como
de fundamentação de teorias e a Sociologia do Conheci- adverte o próprio autor, em Réponses: ‘noções como
mento. Sua principal obra, a Estrutura das Revoluções habitus, campo e capital podem ser definidos, mas
científicas, versa sobre problemas típicos da Metodologia somente no interior do sistema teórico que eles
e Epistemologia científicas ao mesmo tempo em que constituem, nunca isoladamente’.
considera o papel dos mecanismos e processos tipica- Eduardo Socha

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campo: noção que caracteriza a autonomia de certo corpórea, quanto simbólica, cultural, entre outras). O habitus
domínio de concorrência e disputa interna. Serve de vai, no entanto, além do indivíduo, diz respeito às estruturas
instrumento ao método relacional de análise das relacionais nas quais está inserido, possibilitando a
dominações e práticas específicas de um determinado compreensão tanto de sua posição num campo quanto seu
espaço social. Cada espaço corresponde, assim, a um conjunto de capitais. Bourdieu pretende, assim, superar a
campo específico – cultural, econômico, educacional, antinomia entre objetivismo (no caso, preponderância das
científico, jornalístico etc -, no qual são determinados a estruturas sociais sobre as ações do sujeito) e
posição social dos agentes e onde se revelam, por subjetivismo (primazia da ação do sujeito em relação às
exemplo, as figuras de “autoridade”, detentoras de maior determinações sociais) nas ciências humanas (ver
volume de capital. estratégia). Segundo Maria Drosila Vasconcelos, trata-se
de “uma matriz, determinada pela posição social do
capital: ampliando a concepção marxista, Bourdieu indivíduo que lhe permite pensar, ver e agir nas mais
entende por esse termo não apenas o acúmulo de bens variadas situações. O habitus traduz, dessa forma, estilos
e riquezas econômicas, mas todo recurso ou poder que de vida, julgamentos políticos, morais, estéticos. Ele é
se manifesta em uma atividade social. Assim, além do também um meio de ação que permite criar ou
capital econômico (renda, salários, imóveis), é decisivo desenvolver estratégias individuais ou coletivas.”
para o sociólogo a compreensão de capital cultural
(saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e papel da sociologia: para Bourdieu, “a sociologia não
títulos), capital social (relações sociais que podem ser mereceria talvez nenhuma hora de atenção se tivesse
convertidas em recursos de dominação). Em resumo, como objetivo apenas descobrir os fios que movem os
refere-se a um capital simbólico (aquilo que chamamos indivíduos que ela observa, se ela esquecesse que tem
prestígio ou honra e que permite identificar os agentes compromisso com os homens, justamente quando estes,
no espaço social). Ou seja, desigualdades sociais não à maneira das marionetes, participam de um jogo cujas
decorreriam somente de desigualdades econômicas, mas regras ignoram, enfim, se ela não tivesse como tarefa
também dos entraves causados, por exemplo, pelo deficit restituir o sentido dos próprios atos destes homens” (Le
de capital cultural no acesso a bens simbólicos. bal des célibataires, inédito no Brasil).

estratégia: em Coisas Ditas, Bourdieu afirma que “a sentido prático: origem das práticas rituais que estabe-
noção de estratégia é o instrumento de uma ruptura com lecem a coerência parcial em um determinado campo.
o ponto de vista objetivista e com a ação sem agente,
suposta pelo estruturalismo (que recorre por exemplo à violência simbólica: termo que explicaria a adesão dos
noção de inconsciente) [...] Ela é produto do sentido dominados em um campo: trata-se da dominação
prático.” consentida, pela aceitação das regras e crenças par-
tilhadas como se fossem “naturais”, e da incapacidade
habitus: sistema aberto de disposições, ações e crítica de reconhecer o caráter arbitrário de tais regras
percepções que os indivíduos adquirem com o tempo em impostas pelas autoridades dominantes de um campo.
suas experiências sociais (tanto na dimensão material,

1. Sobre a sociologia de Karl Mannheim, julgue as proposições que se 2. São categorias fundamentais na sociologia de Karl Mannheim:
seguem: a) Constelação e ponto de vista.
I. Em seu livro Ideologia e Utopia, postula a alternância de tendências b) Alienação e liberdade.
históricas à conservação e à mudança que geram, respectivamente, c) Ação social e compreensão.
a ideologia e a utopia. d) Fato social e coerção.
II. A sociologia do conhecimento denuncia a determinação histórico- e) Hegemonia e escola unitária.
social da produção intelectual, resultando nos estilos de
RESOLUÇÃO:
pensamento.
Resposta: A
III. Mannheim foi um opositor sem igual do relativismo, pois adotou uma
postura positivista diante da ciência e o ato do conhecimento
resultaria da consciência puramente teórica.
São coerentes apenas:
a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I. e) II.

RESOLUÇÃO:
Resposta: A

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3. “... Se houve algum dia um estudo interdisciplinar, este é a 6. A sociologia do conhecimento sugere um imanente conteúdo político
educação, sujeita a grave deformação se algum estudioso aplicar sua dos discursos organizados e aceitos, inclusive nas funções assumidas
lente de aumento apenas a uma parte dela.” pelas ideologias e pelas utopias.
(Mannheim) Assim:
Nesta frase, o sociólogo I. Cada fase, da humanidade seria dominada por certo tipo de
a) defendeu a interdisciplinaridade, mas a distinguiu do processo da pensamento e a comparação entre vários estilos diferentes seria
educação que deve ser orientada a partir da especificidade das impossível.
disciplinas. II. Em cada fase, aparecem tendências conflitantes, apontando seja
b) afirmou que a educação interdisciplinar constitui perigo capaz de para a conservação, seja para a mudança. A adesão à primeira tende
deformar os objetivos reais da educação. a produzir ideologias e a adesão à segunda tende a produzir utopias.
c) afirmou que a educação deve ser interdisciplinar para escapar da III. Não há, no pensamento de Mannheim, relação alguma entre o
deformação decorrente das especialização excessivas. movimento histórico das ideologias, das utopias e a sociologia do
d) defendeu a educação especializada e técnica própria da sociedade conhecimento.
moderna e apropriada a ela. São coerentes apenas:
e) espera que a interdisciplinaridade não venha a deformar o caráter a) I e II b) I e III c) II e III d) I e) II
dos educandos e os objetivos da educação. RESOLUÇÃO:
Resposta: A
RESOLUÇÃO:
Resposta: C

7. O liberalismo foi revolucionário e, portanto, utópico. Mas tão logo


derrotou o feudalismo e conquistou seu espaço, tornou-se uma ideologia
4. Cabe à sociologia do conhecimento expor e considerar as influências conservadora e perdeu seus traços utópicos. Esse fato, em relação à
culturais de contexto que estão presentes nas teorias. Isso está teoria de Mannheim, é
relacionado com as seguintes questões: a) um fato que comprova a ideia de que a questão da ideologia e da
I. Toda produção de conhecimento resulta sobretudo da consciência utopia comporta grande complexidade e contradição.
puramente teórica. b) uma evidente exemplificação do que o sociólogo postula em seu livro
II. Há influências provenientes da vida social e influências e vontades a Ideologia e Utopia.
que o produtor, enquanto indivíduo proveniente de uma realidade c) um aspecto que relativiza sua ideia de que as ideologias são
social, está sujeito. revolucionárias.
III. Trata-se do pressuposto da determinação histórico-social do d) um dado histórico que comprova o papel conservador das utopias.
conhecimento, em que a produção científica e a apreensão da e) uma prova de que os reacionários do passado podem tornar-se
realidade estão impregnadas de “constelações” e “estilos de revolucionários amanhã.
pensamento.
RESOLUÇÃO:
IV. O conhecimento é retrato da realidade, não interpretação. Cabe à Resposta: A
sociologia do conhecimento expor e considerar as influências
culturais de contexto que estão presentes nas teorias.
São verdadeiras:
a) I e II b) I e III c) II e III d) III e IV e) I e IV 8. Leia e julgue as proposições abaixo sobre a sociologia de Karl
RESOLUÇÃO: Mannheim.
Resposta: C I. Mannheim propõe a educadores e educandos que utilizem a
sociologia como embasamento teórico para a compreensão da
situação educacional moderna.
5. Em seu livro Ideologia e Utopia, Mannheim postula II. Para Mannheim o pensamento social não pode explicar a vida
a) que utopia e ideologia são sinônimos e estabelecem sonhos humana, mas apenas expressá-la.
realizáveis de um mundo melhor. III. O papel da teoria é compreender o que as pessoas pensam sobre a
b) a alternância de tendências históricas à conservação e à mudança que sociedade e não o de propor explicações hipotéticas sobre ela. Esse
geram, respectivamente, a ideologia e a utopia. sociólogo entendia que o conhecimento é construído sobre “pontos
c) uma teoria segundo a qual não deveria haver influências ideológicas de vista”.
nas produções científicas, assim, justifica-se a busca máxima de Estão (está) corretas (correta):
neutralidade. a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III
d) que as utopias são conservadoras, enquanto as ideologias tendem a d) Apenas I e III e) Apenas II
transformar as sociedades por processos históricos que estabelecem
valores originais e novas estruturas sociais. RESOLUÇÃO:
e) utopias são ideologias irrealizáveis e fantasiosas. Resposta: A

RESOLUÇÃO:
Resposta: B

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9. “... o sistema de ensino amplamente aberto a todos, e no entanto c) É preciso investir nas potencialidades naturais de cada cidadão para
estritamente reservado a alguns, consiga a façanha de reunir as legitimar uma ordem mais competitiva e mais justa.
aparências da ‘democratização’ com a realidade da reprodução (...) com d) A sociedade capitalista pode gerar uma educação mais coerente se
um efeito acentuado de legitimação social.” incluir todos os que nascem, de fato e comprovadamente, com
(Bourdieu) determinadas aptidões de aprendizado.
O texto refere-se de fato a um (uma) e) Um teste de vocação e de inteligência seria um caminho para o
a) processo democrático. Estado selecionar cérebros capacitados e portadores de um
b) estratégia ideológica. adequado capital cultural para ingressar nos melhores institutos de
c) processo de inflação de diplomas. ensino público de uma Nação.
d) organização de uma escola para todos.
RESOLUÇÃO:
e) processo de acumulação de capital cultural. Resposta: B
RESOLUÇÃO:
Resposta: B
13. “A entrada de frações, até então fracas utilizadoras da escola, na
corrida e na concorrência pelo título escolar, tem tido como efeito obrigar
10. Para Bourdieu, o sistema social antigo promovia uma exclusão clara;
as frações de classe, cuja reprodução era assegurada principal ou
enquanto hoje, o sistema com classificações imprecisas e confusas
exclusivamente pela escola, a intensificar seus investimentos para
favorece
manter a raridade relativa de seus diplomas e, correlativamente, sua
a) uma exclusão mais brutal. posição na estrutura de classe...”
b) uma democratização do acesso à inclusão. (P. Bourdieu)
c) uma percepção mais clara de quantos serão excluídos.
d) um maior ajustamento social, a partir de uma escolarização Segundo Bourdieu, e pela lógica do próprio texto, isso promove:
includente e equitativa, aspirando à dessegregação. a) uma democratização real e crescente na escolarização.
e) uma exclusão mais sutil. b) uma inflação de diplomas.
c) a organização de uma sociedade mais justa.
RESOLUÇÃO: d) a superação das contradições sociais.
Resposta: E
e) o desenvolvimento científico.

11. Pierre Bourdieu não enfatiza, em suas análises, o saber em si RESOLUÇÃO:


mesmo, mas a relação com o saber. Isso significa que Resposta: B
a) o ensino se torna um bem inalcançável para os desafortunados da
inteligência humana.
b) o modelo competitivo da ascensão individual é o recomendado, por 14. Sistema aberto de disposições, ações e percepções que os
considerar as aptidões e competências dos candidatos ao mercado indivíduos adquirem com o tempo em suas experiências sociais (tanto
de trabalho. na dimensão material, corpórea, quanto simbólica, cultural, entre outras).
c) a acumulação de capital cultural se torna o meio mais justo e legítimo Vai, no entanto, além do indivíduo, diz respeito às estruturas relacionais
para conduzir os candidatos ao mercado de trabalho, numa nas quais está inserto, possibilitando a compreensão tanto de sua
sociedade que valoriza a competição que estimula o desenvolvi- posição num campo quanto seu conjunto de capitais. Bourdieu
mento. pretende, assim, superar a antinomia entre objetivismo (no caso,
d) os educandos terão desempenhos diferentes diante do processo preponderância da estruturas sociais sobre as ações do sujeito) e subje-
escolar de acordo com a bagagem de capital cultural herdado pelo tivismo (primazia da ação do sujeito em relação às determinações
meio, classe e família. sociais) nas ciências humanas. O conceito bourdieuano aqui definido é:
e) além dos critérios internos de avaliação (vocabulário técnico, por a) Capital social b) Habitus c) Capital cultural
exemplo), o professor deve considerar critérios externos. d) Campo e) Estratégia

RESOLUÇÃO: RESOLUÇÃO:
Resposta: D Resposta: B

15. A cultura vem a ser um sistema de significações hierarquizadas,


12. “... enquanto não se tiver feito tudo para obrigar e autorizar a
tornando-se um móvel de lutas entre grupos sociais cuja finalidade é a
instituição escolar a desempenhar a função que lhe cabe, de fato e de
de manter distanciamentos distintivos entre classes sociais. O conceito
direito, ou seja, a de desenvolver em todos os membros da sociedade,
central aqui exposto é:
sem distinção, a aptidão para as práticas culturais que a sociedade
a) Classes sociais, de Max Weber
considera como as nobres”.
b) Ideologia de Mannheim
(Pierre Bourdieu).
c) Mass Culture, de Adorno
A colocação acima sugere a seguinte proposição: d) Capital cultural, de Bourdieu
a) Não há muitas esperanças na sociedade humana de conduzir a e) Sistemas de significações, de Mannheim
educação em um patamar mais legítimo de bem-estar social.
RESOLUÇÃO:
b) O conceito de equidade merece atenção na proposta de uma Resposta: D
educação voltada para um projeto social de bem-estar e justiça.

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16. Sobre a sociologia de Bourdieu, leia e julgue as proposições abaixo. III. O código linguístico da burguesia (com seus cacoetes, idiotismos,
I. A dominação cultural se expressa na fórmula segundo a qual a cada sua particularidade) será encontrado, pelos futuros notáveis, nas
posição na hierarquia social corresponde uma cultura específica salas de aula, como a linguagem da razão, da cultura, numa palavra,
(elitista, média, de massa), caracterizadas respectivamente pela como elemento ou horizonte da Verdade.
distinção, pela pretensão e pela privação. Definida por gostos e IV. O particular é arbitrariamente erigido em universal e o ‘capital
formas de apreciação estética, a cultura é central no processo de cultural’ adquirido na esfera doméstica, pelos filhos da burguesia,
dominação; é a imposição da cultura dominante como sendo “a lhes assegura um privilégio considerável no destino escolar, mas que
cultura” que faz com que as classes dominadas atribuam sua não repercute no profissional.
situação subalterna à sua suposta deficiência cultural, e não à
imposição pura e simples. São corretas:
II. O sistema de ensino desempenha papel de realce na superação a) I e II b) I e III c) II e III d) I e IV e) III e IV

dessa relação de dominação cultural, funcionando ainda “como


RESOLUÇÃO:
solução de diferenças culturais e linguísticas já dadas, antes da Resposta: B
escolarização, no quadro da socialização primeira, que é
necessariamente diferencial, segundo a inscrição das famílias nas
diferentes classes sociais. (…)

1. Qual é o significado do pressuposto, na sociologia de Mannheim, de significa apostar na ideia de que a busca de conhecimento superior
que há um conhecimento ateórico? não é um simples mecanismo cego que responde a processos
autônomos e não controlados de crescimento histórico, mas algo
que tem uma potencialidade de liberação humana e que merece,
2. Como operam, para Mannheim, as ideologias e as utopias? sempre, ser buscado e incentivado.
c) Nesse sentido, a atividade científica e a liberdade intelectual
merecem e necessitam ser defendidas e estimuladas, mas isso
3. Que relação existe, no pensamento de Mannheim, entre o
significa, obviamente, que não existe um amplo espaço para
movimento histórico das ideologias, das utopias e a sociologia do
escolhas, preferências e opções.
conhecimento?
d) A última proposição mais geral, pois, que preside esses trabalhos é
que não existe, certamente, uma razão hegeliana nem um futuro
4. Mannheim propõe a educadores e educandos que utilizem a científico positivista a nos aguardar no fim da história; mas que,
sociologia como embasamento teórico para a compreensão da situação apesar disso, o conhecimento é melhor do que a ignorância, e que
educacional moderna. Para Mannhiem o pensamento social não pode esse valor deve ser explorado e maximizado em todos os
explicar a vida humana, mas apenas expressá-la. O que isso significa?
momentos.
e) O problema teórico da sociologia do conhecimento é estabelecer
5. Leia e julgue as proposições sobre educação de acordo com a teoria como o conhecimento tem sido, de fato, condicionado, em seu
sociológica de Mannheim. conteúdo e em suas condições de produção, nos diversos contextos
I. Mannheim achava que a sociologia poderia servir de base para o sociais; seu problema político tem sido o de explicitar as condições
aprimoramento da educação. que permitem o desenvolvimento de formas de conhecimento
II. Segundo Mannheim, em concordância com Max Weber, a sociedade dinâmicas, criativas, dotadas de riqueza e profundidade, e
moderna passou por um processo de encantamento, o que levou a socialmente relevantes.
um declínio da educação como formadora integral do homem.
III. A sociologia da educação, esclarecendo os processos sociais,
possibilitaria a formulação de propostas pedagógicas capazes de
ampliar os horizontes do homem. 7. Por que alguns países, algumas classes sociais, em algumas épocas
Estão (está) corretas (correta): históricas, foram capazes de desenvolver conhecimentos técnicos ou
a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III científicos de determinado tipo? Quais as condições sociais que
d) Apenas I e III e) Apenas II favorecem o surgimento das grandes religiões? Como surgem e como
se transformam as ideologias? Qual a prática social efetiva que permite
o surgimento das diversas formas de conhecimento? Como estas
6. Sobre a sociologia do conhecimento, assinale a única alternativa diversas formas de conhecimento científico, ideológico, religioso, de
falsa. sentido comum se relacionam entre si? Qual tem sido a função histórica
a) Pensar nos problemas do relacionamento entre conhecimento e da universidade e da educação formal em seus diversos níveis no
política significa pensar em muitas das questões mais cruciais de desenvolvimento das diversas formas de conhecimento?
nossa sociedade, que confia na eventual vitória da Razão sobre as Essas questões
atuais desventuras pelas quais passamos. a) permanecem sem resposta.
b) Chamar atenção para o aspecto político da ciência, por exemplo, b) constituem objetos da sociologia do conhecimento.

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c) comprovam a inexistência de qualquer ligação entre conhecimento 14. Para o sociólogo José de Souza Martins, a imagem não tem
e circunstâncias. conteúdo independente. “Mas ela apresenta indícios de relações
d) relativizam a importância da sociologia do conhecimento. sociais, de mentalidades, de formas de consciência social e de maneiras
e) evidenciam a autonomia da atividade intelectual. de ver o mundo que tornam possível uma sociologia do conhecimento
visual. Uma das consequências dessa linha de pensamento é que o
8. “O conceito de “ideologia” reflete uma das descobertas emergentes fotógrafo passa a ser encarado como um intelectual, um produtor de
do conflito político, que é a de que os ______________ podem, em seu conhecimento”.
pensar, tornar-se tão intensamente ligados por interesses a uma Comente a afirmação de Martins.
situação que simplesmente não são mais capazes de ver certos fatos
que iriam solapar seu senso de dominação. Está implícita na palavra 15. Segundo Pierre Bourdieu, a função do sistema de ensino é servir de
“ideologia” a noção de que, em certas situações, o inconsciente coletivo instrumento de legitimação das desigualdades sociais. Longe de ser
de certos grupos obscurece a condição real da sociedade, tanto para si libertadora, a escola é conservadora e mantém a dominação dos
como para os demais, estabilizando-a portanto. O conceito que melhor dominantes sobre as classes populares, sendo representada como
completa a frase é: a) um caminho para a ascensão social da classe subalterna.
a) membros da classe subalterna b) intelectuais b) uma forma de estabelecer uma democratização dos bens culturais,
c) pesquisadores d) grupos dominantes originalmente concentrados nas mãos da classe dominante.
e) filósofos e sociólogos c) um instrumento de reforço das desigualdades e como reprodutora
cultural, pois há o acesso desigual à cultura segundo a origem de
9. A história parece dar razão a Karl Mannheim. Ele distingue ideologia classe.
e utopia. A primeira refere-se ao conjunto de ideias que objetivam d) um meio de assegurar o estabelecimento de uma sociedade mais
____________ a ordem existente; a segunda, às ideias que fundamentam equitativa.
as ações pela ______________ desta. e) um caminho para a parcial superação das desigualdades e para o
As palavras que respectivamente concluem o pensamento acima são: desenvolvimento de uma sociedade global bem informada.
a) alterar, manutenção
b) revolucionar, reprodução 16. Assinale a alternativa que não corresponde a uma análise do
c) reproduzir, conservação sociólogo Pierre Bourdieu acerca da educação na sociedade capitalista.
d) conservar, manutenção a) Existem estratégias ideológicas de reprodução do patrimônio que
e) manter, transformação legitimam os privilégios, naturalizando-os.
b) O êxito escolar resulta, de fato e sobretudo, de aptidões naturais que
10. Identifique as observações aceitáveis de acordo com a sociologia de constituem o capital humano.
Mannheim. c) Há uma hierarquia de bens simbólicos historicamente construída de
I. Toda produção de conhecimento não resulta apenas da consciência acordo com os interesses do capital.
puramente teórica. É fruto de influências sociais. d) A categoria marxista de classe social é fundamental para a exata
II. Pressuposto da determinação histórico-social do conhecimento: a compreensão do funcionamento da estrutura de ensino, como modo
produção científica e a apreensão da realidade estão impregnadas de reprodução das desigualdades.
de “constelações” e “estilos de pensamento.” e) A educação, na sociedade de classes, mascara-se de democracia e
III. Mannheim acusou a sociologia marxista de ser relativista e a dificulta a mobilidade social.
sociologia do conhecimento afastou-se definitivamente dessa
tendência. 17. “Mas todos esses fatores reunidos não podem justificar completa-
mente a hegemonia que a produção exerce sobre o mercado mundial.
Estão (está) corretas (correta): É a razão pela qual é necessário levar em consideração o papel de alguns
a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III dos responsáveis pelas estratégias de import-export, conceitualmente
d) Apenas I e III e) Apenas II mistificadores-mistificados, que podem veicular, sem seu conheci-
mento, a parte oculta – e, muitas vezes, maldita – dos produtos culturais
11. Para Bourdieu, o sistema de ensino no mundo tornou-se: que fazem circular.”
a) um sistema de reprodução da sociedade de privilegiados e excluídos. (Pierre Bourdieu)

b) um caminho confiável para o êxito econômico pessoal.


Assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento acima.
c) uma alternativa democrática para construir uma sociedade mais
a) O autor julga incompetentes os conceitos e categorias construídas
justa.
sobre o plano histórico e singular de uma sociedade. Melhor seria
d) uma ideologia da classe dominada.
construir categorias universais capazes de representar diversas
e) a única oportunidade de se conhecer a inteligência natural das
sociedades e culturas.
pessoas.
b) O autor valoriza o natural em detrimento (prejuízo) da abordagem
histórica.
12. Explique a expressão usada por Bourdieu: “Excluídos do Interior”.
c) Para o autor existe um imperialismo cultural que se reflete na
produção científica nas universidades de várias localidades do
13. Para Bourdieu, a luta de concorrência, preconizada pelo capitalismo,
mundo.
eterniza, não condições diferentes, mas a diferença das condições.
d) É necessário ocultar, segundo Bourdieu, as raízes históricas das
Reflita e comente o sentido dessa frase.
categorias científicas produzidas nas universidades.

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e) Os produtos de pesquisa norte-americana adquirem uma estatura 20. O habitus, para Bourdieu, representa a inércia do grupo. Conclui-se,
internacional recomendada, pois para se alcançar rigor científico, é portanto:
preciso encontrar categorias universais. I. a sua função é assegurar as práticas econômicas para além das
gerações.
18. Pierre Bourdieu construiu ou utilizou algumas categorias importantes II. que ele tende a reproduzir nos sucessores o que foi adquirido pelos
para traçar a sua sociologia. Assinale a alternativa que agrupa predecessores.
corretamente algumas dessas categorias. III. que o grupo se apropria do habitus e este é apropriado ao grupo.
I. Capital cultural
II. Historicidade São verdadeiras e coerentes:
III. Ideologia a) I, II e III
IV. Estratégias de reprodução de privilégios ou de patrimônio b) I e II somente.
V. Capital social c) II e III somente
d) I e III somente
a) Somente I, II e V. b) Somente I, III e IV. e) I somente.
c) I, II, III, IV e V. d) III, IV e V, somente.
e) I, II, III e V, somente. 21. Para Bourdieu, é a rede de ligações estáveis e duráveis que objetiva
uma solidariedade, entre agentes afins, capaz de proporcionar lucros
19. “Crianças de alta renda herdam saberes, cuja rentabilidade escolar materiais e simbólicos, não necessariamente de forma consciente. Trata-
é tanto maior quanto mais frequentemente esses imponderáveis de se do
atitude são atribuídos ao dom.” (P. Bourdieu) Isso acontece devido a) capital econômico.
a) a uma estratégia ideológica. b) capital cultural.
b) ao processo de aculturação. c) capital social.
c) à aquisição de capital social. d) capital objetivado e incorporado.
d) à incorporação rápida de capital cultural. e) capital institucionalizado.
e) ao fato de se ter nascido com uma inteligência privilegiada.

1) O conhecimento não resultaria apenas de uma consciência 12) São os excluídos dentro da escola. Com a democratização do
teórica pura e transparente, mas de um mundo de influências sistema de ensino, acreditou-se estar projetando uma nova
históricas e sociais. sociedade democrática. Bourdieu mostrou que o sistema
continua excluindo, pois se introduzem as contradições sociais
2) Haveria uma contraposição entre ideologia que tem uma na escola.
função conservadora, pois tende a conservar o status quo, e
utopia que propõe alterações nas formas vigentes de 13) O capitalismo tem um mecanismo que permite a mobilidade
sociedade. social, porém suas estruturas excessivamente competitivas e
desiguais (de chances diferentes) dificultam a mobilidade e
3) A sociologia do conheciemto sugere um imanente conteúdo reproduzem a sociedade dos privilégios.
político dos discursos organizados e aceitos, inclusive nos
papéis desempenhados pelas ideologias e pelas utopias. 14) Para Martins, uma fotografia não é apenas uma imagem, mas
4) O papel da teoria é compreender o que as pessoas pensam um conjunto imenso de subimagens que podem ser lidas pelo
sobre a sociedade e não o de propor explicações hipotéticas sociólogo – que inevitavelmente poderá tirar também dessa
sobre ela. Esse sociólogo entendia que o conhecimento é leitura muita informação sobre a mentalidade do fotógrafo e
construído sobre “pontos de vista”. sobre o mundo social em que as imagens foram produzidas.

5) D 6) C 7) B 15) C 16) B 17) C

8) D 9) E 10) B 18) C 19) A 20) A

21) C
11) A

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MÓDULO 15 Sociologia no Brasil

Os brancos diziam que em nenhum país do mundo sido o sociólogo em que me converti sem o meu passado
essa nefanda instituição foi tão doce como no Brasil. e sem a socialização pré e extraescolar que recebi,
Agora não me passa pela cabeça - não deve passar pela através das duras lições da vida”. Foi ajudante de barbea-
cabeça de ninguém - que essa nefanda instituição, como ria, engraxate e auxiliar de alfaiataria. Com apenas dez
os próprios brancos chamavam a escravidão, que ela anos de idade, quando os operários paulistanos saíram às
pudesse ser doce em algum lugar. Ela só pode ser doce ruas para festejar a Revolução de 1930, comandada por
da perspectiva de quem estivesse na casa-grande e não Getúlio Vargas, o futuro sociólogo se juntou às
na perspectiva de quem estivesse na senzala. manifestações populares portadoras de esperança.

(Florestan Fernandes) Em 1941, chegou à universidade, depois de se formar


no curso de madureza (supletivo, uma espécie de ensino
Afirmo que iniciei a minha aprendizagem sociológica tardio para adultos). Trabalhara como garçom num bar no
aos seis anos, quando precisei ganhar a vida como se centro de São Paulo – o Bidu – onde discutia história
fosse um adulto e penetrei, pelas vias da experiência antiga com frequentadores intelectuais. Foi também
concreta, no conhecimento do que é a convivência entregador de amostras de laboratório.
humana e a sociedade. Possui mais de 50 obras publicadas, dentre elas
(Florestan Fernandes) podemos citar:
• A Organização Social dos Tupinambás (1949).
1. Introdução • A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá
(1952)
Alguns pesquisadores dividem a história do • Método de Interpretação Funcionalista na Sociologia
pensamento social brasileiro em dois grandes períodos, e (1953)
a década de 1950 pode ser apontada como uma ruptura.
O primeiro período pode ser chamado de ensaísta e Vejamos ainda, adiante, no texto da professora Sylvia
conta com textos de historiadores, médicos, jornalistas, G. Garcia, alguns percursos da brilhante formação
advogados e engenheiros que interpretaram o Brasil sem acadêmica de Florestan.
grandes critérios científicos, o que não diminui o seu valor,
além de produzir grandes obras literárias. O principal
nome que se destaca nesse período é o de Euclides da
Cunha que escreveu Os Sertões.
O segundo período: o “científico”, inicia com a insti-
tucionalização das ciências sociais e com a elaboração de
textos trabalhados com maior rigor científico. Destaca-se
aqui o nome de Florestan Fernandes.
Florestan Fernandes foi sociólogo e político brasileiro,
nascido na cidade de São Paulo, considerado o fundador
da Sociologia Crítica no Brasil. Foi defensor da Escola
Pública e, sempre foi ligado aos movimentos sociais e
reivindicatórios e às organizações políticas de esquerda.
Foi preso político várias vezes, tornou-se Professor
Catedrático na USP, efetivado por concurso de títulos e
provas (1965). Lutou contra a ditadura militar e militou
politicamente. Estudou o problema dos negros no Brasil,
relacionando-o com a questão das classes sociais. Sua
vida é absolutamente comovente e merece um estudo a
parte.
A infância de Florestan foi marcada pela carestia e
dificuldades que ficariam registradas em sua obra,
particularmente na sua sensibilidade para com os
excluídos. Florestan era filho de lavadeira e abandonou Florestan foi um dos pais da sociologia científica
cedo os estudos para trabalhar e afirmou: “Eu nunca teria no Brasil

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Dois clássicos do chamado período ensaísta

Sérgio B. de Holanda lançou o livro Raízes do Brasil


em 1936. Foi um avanço teórico, pois a sua reflexão
abandonou o conceito de massa ou povo como alienado
e de fácil manipulação. Ao contrário, identificava, em sua
obra, o governo como um sistema retrógrado,
conservador e as elites econômicas como
indiferentes à pobreza. Embora não fosse marxista,
acreditou num processo de expansão democrática
fundada no pluralismo das instituições formadas do
cenário político-ideológico. Queria, assim, superar o
abismo entre elites e sociedade; Estado e coletividade.

Gilberto Freyre escreveu uma obra original e polêmica.

Freyre foi acusado, principalmente pelo sociólogo


Florestan Fernandes, de criar o mito brasileiro da
democracia racial. Para Florestan, esse mito permitiu às
camadas dominantes manterem seus privilégios sem
competição, nem confronto.

2. Texto

Biografia de Florestan Fernandes (1920-1995)

Por prof.a Sylvia Gemignani Garcia


(Departamento de Sociologia - FFLCH/USP)
Sérgio Buarque de Holanda viu no homem brasileiro o traço da
cordialidade.
“Em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia,
Um conceito muito importante que aparece em sua Ciências e Letras da USP, formando-se em Ciências
obra é o de homem cordial. Cordialidade não se refere Sociais. Iniciou sua carreira docente em 1945, como
aqui à gentileza, mas faz referência à raiz do termo: assistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeira
cardíaco, ou seja, do coração. A cordialidade do homem de Sociologia II. Na Escola Livre de Sociologia e Política,
brasileiro refere-se à dificuldade que se tem de lidar com obteve o título de mestre com a dissertação A
questões políticas e sociais de forma racional e de organização social dos tupinambás. Em 1951, defendeu,
considerar com impessoalidade a esfera pública. A na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, a
cordialidade consiste num traço cultural brasileiro que vê tese de doutoramento: A função social da guerra na
o mundo com paixão, numa subjetividade egocêntrica. sociedade tupinambá, posteriormente consagrado como
clássico da etnologia brasileira, que explora com maestria
Gilberto Freyre publicou Casa Grande & Senzala em o método funcionalista.
1933. Foi o grande opositor às interpretações racistas Uma linha de trabalho característica dos anos 50 foi o
(particularmente de Nina Rodrigues) e que sobrevalori- estudo das perspectivas teórico-metodológicas da
zavam a questão biológica. Introduziu, dessa forma, uma Sociologia. Seus ensaios mais importantes acerca da
análise culturalista para entender a formação dos povos fundamentação da sociologia como ciência serão,
no Brasil. Em outros termos: passou do paradigma racial posteriormente, reunidos no livro Fundamentos empíricos
para o cultural. Apesar do grande avanço, hoje, é da explicação sociológica. Seu comprometimento
compreendido como um autor conservador. Lê-se, em intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil,
sua obra, um aspecto positivo em relação à miscigena- entendido como requisito básico para a inserção do País
ção, não só biológico, mas sobretudo, cultural. Em Casa na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua
Grande & Senzala escreveu: “a miscigenação, que marcante atuação na Campanha de Defesa da Escola
largamente se praticou aqui, corrigiu a distância social que Pública, em finais da década, em prol do ensino público,
doutro modo se teria conservado enorme, entre a casa- laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão
grande e a mata tropical, a casa-grande e a senzala”. do mundo moderno.

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Durante o período, foi assistente catedrático, livre O nome de Florestan Fernandes está obrigatoria-
docente e professor titular na cadeira de Sociologia I, mente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na
substituindo o sociólogo e professor francês Roger América Latina. Sociólogo e professor universitário, com
Bastide em caráter interino até 1964, ano em que se mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o
efetivou na cátedra, com a tese A integração do negro na pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo
sociedade de classes. Como o título da obra permite de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e
entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.”
da sociedade nacional na civilização moderna, em um
programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de Movimento Negro e a Relação Classe/Raça
uma sociologia brasileira. Nesse âmbito, orientou dezenas
de dissertações e teses acerca dos processos de Por Claudio Reis (cientista social)
industrialização e mudança social no País e teorizou os
“Neste início de século, parece não haver dúvidas
dilemas do subdesenvolvimento capitalista. Inicialmente
sobre a consolidação do movimento negro no cenário das
no bojo dos debates em torno das reformas de base e,
lutas sociais do Brasil. Seu combate contra o racismo,
posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da
chega ao século XXI de modo bastante forte e atuante
reforma universitária coordenada pelos militares, produziu
numa demonstração de importância em relação ao
diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a
conjunto dos movimentos sociais. Graças a isso, a
questão da universidade pública, identificando os
discriminação racial, que é um dos principais problemas
obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da
estruturais da nação brasileira, ganhou uma ampla
ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na
visibilidade social. O que, de certa forma, forçou mais uma
periferia do capitalismo monopolista.
vez o debate sobre a questão racial no Brasil e a situação
Aposentado compulsoriamente pela ditadura militar
subalterna dos negros.
em 1969, foi Visiting Scholar na Universidade de Columbia,
Entretanto, esse avanço não se deu de modo harmô-
professor titular na Universidade de Toronto e Visiting
nico e consensual internamente. Em muitos momentos o
Professor na Universidade de Yale e, a partir de 1978,
próprio movimento negro demonstra fragilidades em
professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
relação à sua unidade. Principalmente sobre a questão
Em 1975, veio a público a obra A revolução burguesa no
que envolve a relação classe/raça. De um lado, existem
Brasil, que renova radicalmente concepções tradicionais e
setores defensores de uma luta antirracismo desvincu-
contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do
lada com a questão de classe, já que para eles, no Brasil
capitalismo no País, em uma análise tecida com diferentes
o elemento determinante para a situação social de um
perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar
indivíduo é muito mais racial do que classista. De outro,
problemas formulados em tom weberiano com
argumentam que no Brasil, assim como em qualquer
interpretações alinhadas à dialética marxista. No início de
outro país capitalista, a situação de classe interfere
1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
diretamente nas questões raciais. E neste sentido, a luta
Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre
antirracismo deve ser vinculada à luta de classes.
a experiência socialista em Cuba, a convite dos estudantes
Claro que essas duas posições, que permeiam
do Centro Acadêmico de Ciências Sociais.
muitos dos debates internos do movimento negro, não
Em suas análises sobre o socialismo, apropriou-se de
parecem ser de simples solução. Tanto uma quanto a
variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno,
outra, apresentam boas argumentações, com diversos
forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia
exemplos coerentes e legítimos. Todavia, ao invés de
a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de
caminharem para uma posição consensual, elas
concessões da esquerda. Em 1986 e em 1990, foi eleito
assumem, quase sempre, a forma da polarização-oposi-
deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. Tendo
ção. Demonstrando que classe e raça não são elementos
colaborado com a Folha de S. Paulo desde a década de 40,
fáceis de conciliação. A pergunta que se pode fazer é:
passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal
quais são os motivos para a existência dessa polarização
nesse jornal.
interna no movimento negro?
Florestan Fernandes foi um dos principais autores
brasileiros a se defrontar com essa questão. Sendo que
Florestan em
manifestação para ele a união desses dois elementos era fundamental
em frente ao para uma luta eficaz do movimento negro.
Congresso Encarregado de fazer um estudo sobre os negros no
Nacional Brasil para a UNESCO, Florestan, em 1951, passou a
durante a
Constituinte
pesquisar a relação raça e classe em São Paulo. Nesta
de 1988. ocasião, lançou-se ao confronto da ideia de que no Brasil
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existia uma ‘democracia racial’, fundamentada por segunda relaciona-se à ideia de que os negros fazem
Gilberto Freyre. Para o escritor pernambucano, a parte de uma raça inferior, não dotada de razão e
harmonia racial seria a contribuição brasileira para as civilidade, em relação aos brancos. Então o negro operário
relações sociais de outros povos. dos dias atuais carrega nas costas o peso de duas fortes
Por um lado, esse conflito poderia até ser justificado ideologias, produzidas pelo capital, a de que ele é
caso os negros da sociedade brasileira estivessem ‘mundano’ e ‘inferior’.
inseridos nas diversas classes sociais de modo Assim, os negros possuem uma tarefa dupla, a de
equilibrado, sem grandes assimetrias. Pois assim, não desvendar os motivos pelos quais são operários e
haveria como argumentar que o racismo é praticado também pelos quais são submetidos ao racismo pelas
independentemente da classe social. Isso poderia até elites em geral, mas fundamentalmente a branca. Tais
acontecer, quer dizer, haver práticas racistas indepen- reivindicações fazem parte de um profundo e amplo
dente da condição de classe dos negros. Talvez, os projeto de nação realmente revolucionário, pois tem como
Estados Unidos seja um bom exemplo disso. Mesmo que objetivo desmistificar a realidade criada pelas elites do
a eliminação do fator classe, ainda sim, seja arriscada.
Brasil. Portanto, os negros têm como tarefa ‘limpar’ da
Todavia, essa não é a realidade do Brasil. A grande maioria
dos negros brasileiros está inserida nas classes nação brasileira parte significativa das formas estranhadas
subalternas. E isso não é, de maneira alguma, uma de entender a sua sociabilidade. E neste sentido, um dos
novidade. Portanto, como não envolver a classe social na primeiros obstáculos a ser superado corresponde à teoria
questão do racismo? da existência de uma ‘democracia racial’.
Por outro lado, a situação do negro brasileiro foi, por Para Florestan, a desmistificação dessa ideia de
um bom tempo, desmerecida pelo movimento convivência pacífica entre as raças no Brasil, deveria ser
comunista. um dos primeiros passos que o movimento negro deveria
O próprio Partido Comunista Brasileiro, defendia a tese dar como forma de fortalecimento. Em seguida, ele
de que a questão do racismo era uma questão puramente deveria construir um movimento de oposição à ideologia
de classe. Tal postura, certamente, acabou distanciando o
dominante, criando assim suas bases político-culturais de
movimento negro das lutas de cunho classista. Mesmo
que, em muitos casos, essa grande parte da população combate não apenas ao racismo, mas também ao
estivesse inserida na estrutura da classe operária, ela não capitalismo. Na verdade, sua luta deve ser canalizada para
se sentia representada pelos órgãos comunistas na luta a conquista de uma ‘Segunda Abolição’ que parta de baixo
antirracismo. As privações que o negro sofria eram vistas para cima, ao contrário da Primeira.
apenas sob o ângulo do interior da fábrica, Combatendo além da elite branca, também a pequena
desconsiderando todo o aspecto repressivo lançado pela camada privilegiada negra. Esse pequeno grupo de negros
cultural racista da sociedade. que passou a integrar as camadas médias, que segundo
De certa maneira, o que acontece nos dias atuais Florestan são os ‘novos negros’, devem ser combatidos
referente à recusa de parte do movimento negro em
uma vez que, alcançado o conforto da vida burguesa, eles
considerar a questão de classe, assemelha-se ao que o
passaram a rejeitar e satanizar o movimento negro perante
movimento comunista fez tempos antes com a luta do
negro. Partindo das reflexões de Florestan, ambos, a sociedade. Tal processo de ida de alguns negros para as
estiveram ou estão em direções equivocadas. classes privilegiadas teve início na década de 1940,
Para ele, no Brasil classe e raça são dois elementos aprofundando-se posteriormente. O ‘novo negro’, na
explosivos e revolucionários e que por isso devem ser verdade, buscava a igualdade social por meio de um
unidos. Simbolicamente o 1.o de maio, dia do trabalho, e processo pacífico e gradual. Voltando-se para os interesses
20 de novembro, dedicado a Zumbi, representam os laços pequeno-burgueses e prontos a excluir de suas relações
econômicos, morais e políticos que prendem os os ‘negros inferiores’. Assim, a luta contra a subordinação
oprimidos entre si e subordinam todas as suas causas a do movimento passou a ficar em mãos exclusivas da
uma mesma bandeira revolucionária. Assim, os comunis-
grande maioria oprimida.
tas devem saber que o ‘preconceito e a discriminação
Aqui fica evidente que a chamada ‘democracia racial’
raciais estão presos a uma rede da exploração do homem
pelo homem e que o bombardeiro da identidade racial é não teve como alvo apenas as classe dominantes, em sua
o prelúdio ou o requisito da formação de uma população maioria branca, seus propósitos ideológicos também
excedente destinada, em massa, ao trabalho sujo e mal penetraram de modo devastador entre os negros. Em
pago...’ consequência, percebe-se o aprisionamento de parte
(Florestan) desses indivíduos em certos paradoxos que conduzem à
negação de si próprio. Não conseguindo se ver como de
A questão exposta pelo autor está centrada na ideia fato são vistos pelos brancos.
de que o operário negro necessita superar dois tipos de
De modo breve, essas são algumas questões postas
ideologias que as classes dominantes do capitalismo
criaram. A primeira corresponde à ideia de que o pobre por Florestan Fernandes que podem ajudar sobre a
não se torna rico devido tanto à sua vida mundana, quanto questão aqui posta, que é o de ressaltar algumas
à falta de parcimônia com relação aos seus ganhos. A determinações da relação raça/classe no interior do
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movimento negro. Mesmo que Florestan tenha feito A educação para o professor Florestan
essas análises no final da década de 1980, suas ideias (adaptado)
permanecem instigando e contribuindo para se pensar Por Bianca Wild
novas táticas teórico-políticas. De certa forma, suas ideias
ainda podem ajudar a entender o papel social e histórico Antonio Candido, intelectual amigo de Florestan por
que o movimento negro tem numa sociedade capitalista mais de 40 anos, costumava dividir a vida do amigo, como
como a brasileira. Também fornecem elementos que professor, em fases: a primeira fase é a do Florestan
desmistificam a polarização-oposição estrutural entre professor da década de 1940, aquele da construção do
classe operária/movimentos sociais, deixando clara a saber, que está construindo o seu e construindo a
possibilidade de saber dos outros; o Florestan da década
existência de equívocos de ambos os lados. Em outras
de 1950 é aquele que se apaixona perdidamente pela
palavras, para o autor, a estrutura da classe operária
explicação dos saberes do mundo, porque tendo ele os
brasileira é composta não somente pela questão social,
instrumentos necessários em suas mãos dedica-se a
mas também pela questão racial, o que concretiza a
aplicá-los para a compreensão dos problemas do mundo e
particularidade da luta de classes no Brasil. o grande terceiro momento de Florestan professor inicia-
E neste sentido, tenta traduzir suas especificidades se no final da década de 1950 e inicio da década de 1960,
nacionais em luta radical, buscando a particularidade do quando ele, tendo aplicado o seu saber na compreensão
processo de inovação social em âmbitos brasileiros. do mundo, transforma-o em poderosa arma de combate,
Mesmo que o crescimento do movimento negro claro que essas etapas distintas na realidade estão
esteja assentado, fundamentalmente, sobre lutas raciais misturadas, porque sempre esteve presente a terceira na
específicas – ou seja, em equívocos anteriores e bastante primeira e a primeira na terceira, afinal para Florestan, o
caros a ele, graças ao isolamento social provocado – saber estava em estado de construção constante, no que
estruturalmente raça e classe no Brasil estão intimamente todos também acreditamos assim como Florestan, é
ligadas. necessário educar e educar-se para a vida.
E as sugestões dadas por Florestan contribuem para Muitos educadores estavam envolvidos na criação de
se entender os motivos nos quais repousam essa um projeto que através do Estado-educador, privilegiasse
polarização-oposição entre classe/raça presente no a educação escolarizada, tornando o acesso e a
interior desse movimento. Primeiro pela recusa dos permanência cada vez maior nas classes mais baixas, ao
comunistas em tratarem a questão racial em suas mesmo tempo estava em andamento a aprovação da lei
verdadeiras dimensões. Segundo pela ‘cooptação’ de de diretrizes da educação nacional, que com o apoio das
elites, não suportavam essas propostas e neste momento
certa parte dos negros ao universo ideológico das elites.
nasce a campanha em defesa da escola pública, unindo
Ao que parece, a junção desses dois fatores criaram
diversos intelectuais além de outros segmentos da
o que hoje é facilmente percebível nos debates do
sociedade.
movimento negro sobre a relação classe/raça.
No meio intelectual uniram-se diferentes correntes de
Portanto, as tarefas desse movimento parecem ser pensamento educacional, os liberais idealistas, os liberais
muito mais complexas do que se possa imaginar, à pragmáticos e os socialistas, nesta encontravam-se
medida que trava uma batalha tanto externa contra as Florestan, Fernando Henrique Cardoso e Darcy Ribeiro.
desigualdades sociais e raciais, quanto interna para buscar Tendo a educação se apresentado como um dos
uma unidade de grupo realmente definido e coeso temas centrais da sua vida, Florestan atuou na campanha
perante a sociedade. Ao que tudo indica, a solução de e teve importante atuação na Assembleia Constituinte e
uma está intimamente ligada ao caráter da outra. Neste no processo de construção da LDB, sofrendo decepções
sentido, as formas assumidas pela luta política-ideológica no processo de constituição da Lei de Diretrizes e Bases
estão ligadas aos rumos teóricos pelos quais a relação da Educação e até com seu amigo Darcy Ribeiro, que
raça/classe se desenvolveram.” comete uma grande injustiça ao dizer a seguinte frase:
‘Florestan não se inquieta com o milhão de alunos do
proletariado infantil, que pagam caro para estudar à noite,
em escolas péssimas, montadas para fazer lucros
empresariais, enganando-os. Abandona-os à sua sorte’.
Afirmação esta, que soa praticamente como um insulto
contra Florestan, uma injúria contra quem sempre lutou
pelos menos favorecidos, que mobilizou diferentes seg-
mentos para a construção de um projeto democrático e
tentou incluir nas leis medidas que contemplassem a
educação popular, encontrando resistências nas comis-
sões. Considera também, que o projeto da câmara
Florestan entre índios xavantes em 1986. consolida o atual sistema de ensino e que continuaria a

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manter o Brasil na condição do ‘...país que oferece a seu permitido, que não ameaça a ideologia imposta.Florestan
povo a pior educação’. acreditava que, mesmo com as diferentes necessidades
Esse conflito vivido entre Florestan e Darcy Ribeiro existentes no contexto educacional brasileiro, era possível
foi aberto e ocupou notoriedade na mídia, persistindo até criar condições para que surgisse um exercício pleno e
próximo dos últimos dias da vida do professor. Florestan ativo da crítica e da democracia, pois a principal virtude
foi professor durante toda a sua vida, seu desejo era que de um intelectual é a rebeldia crítica e questionadora e a
os direitos humanos e a cidadania fossem respeitados e possibilidade do surgimento destes; para ele a transfor-
transmitidos aos alunos, ou melhor dizendo educandos, mação na educação era necessária, pois as concepções
para ele, buscar a compreensão daquilo que os alunos de ensino petrificam e cristalizam a aprendizagem na
vivenciam e direcioná-los corretamente, é imprescindível, torpe encenação unidirecional da imposição e transmis-
levando em consideração a formação do educando são curricular, onde hábitos, valores e condutas simples-
enquanto cidadão participante e pesquisador sobre a vida mente preparam indivíduos para atenderem aos
social como um todo, procurando assim compreender as interesses do mercado econômico.
diferentes maneiras que se interpreta as ações do próprio Tente imaginar Florestan hoje, o que ele acharia do
‘eu’ no espaço escolar onde atuam, como também em ensino alienador transmitido nas escolas onde não se pode
suas comunidades, e em maior escala em sua cidade, em questionar. Ou melhor, os educandos não são incentivados
seu estado e em seu país. a questionar. O que ele pensaria sobre o ensino técnico das
Florestan criticava a pedagogia tradicional e chamadas FAETECs e outras? Como reagiria diante do
condenava a postura de distanciamento dos educadores desvio de recursos gritantes da educação?
do real processo social, acreditando que estes deveriam Bom, mas para Florestan a sociedade está em
estar engajados na tarefa de transformação social, por constante construção até ser atingido um ideal, pois o
isso era um defensor permanente da escola pública, para ideal é o que esta por vir, é o que está a nossa frente, e é
ele não poderia existir Estado ou sociedade democrática principalmente pelo que lutamos, não o entendendo
sem uma educação democrática via escola pública como algo utópico no sentido de impossível de existir,
gratuita. mas sim do que existe, mas que só não está em vigência,
Como bom marxista que era, sempre defendeu uma não está acontecendo agora, mas que devemos nos
educação vinculada ao pensamento socialista, porque esforçar para atingi-lo e no qual se deve depositar e
entendia a classe trabalhadora como a principal força empenhar toda a esperança existente e a nossa ação para
revolucionária, e, portanto, seus membros deveriam estar se tornar real, acontecido; essa é a mensagem de
bem orientados, preparados, informados e principalmente Florestan, o desafio de realizar um diálogo de compe-
conscientes de seu papel e isto seria de responsabilidade tências em busca de uma igualdade em meio a todas as
da educação, logo entendia a educação como um fator de diferenças, uma exploração da diversidade fertilizada pela
mudança social, que tem como responsabilidade retirar os ética, por um esforço de afastar as falsas moralidades, o
educandos de um cotidiano a qual estão vinculados onde cinismo, a hipocrisia, a dominação e sempre de forma
o que se pretende fazer é apenas fazer valer o processo de humilde e corajosa ampliar o espaço humano nas
transmissão e imposição de um conhecimento estanque, sociedades, procurando superar os limites da realidade
totalmente distanciado da realidade e principalmente, imposta, desnudar e desvelar os preconceitos, descobrir
imposto pelo sistema. novos caminhos, novas possibilidades, trabalhando e
Para Florestan essa forma de ensino está amarrada afirmando a diferença, a diversidade e reconhecendo a
às tradições ligadas aos modelos dominantes de igualdade trilhando um caminho, uma senda, compreen-
construção de conhecimento, só é ensinado o que é dendo a sociedade como um projeto em construção.”

Algumas palavras de Florestan Fernandes

Algumas palavras de Florestan Fernandes comunista e que, afinal de contas, tentou, durante toda a
vida, manter uma coerência que liga a responsabilidade
Sou um marxista que acha que a solução para os intelectual à condição de socialista militante e
problemas dos países capitalistas está na revolução. Dizer revolucionário.
isso não é uma fanfarronice. É assumir, de forma (FERNANDES, Florestan. Que tipo de República?. 2.a ed. São Paulo :
explícita, o dever político mínimo que pesa sobre alguém Ed. Brasiliense, 1986.)
que é militante, embora não esteja em um partido
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Eu, felizmente, não cumpri o caminho comum entre tupinambás. Os que não tem nada que dividir repartem
imigrantes, de aspirar à ascensão social e adotar as com os outros as suas pessoas – o ponto de partida e de
técnicas das classes dominantes. Fiquei fiel a minha chegada da filosofia de folk dentro da qual organizei a
origem social . minha primeira forma de sabedoria sobre o homem, a
(Folha de S. Paulo, 22/01/95.) vida e o mundo.
(FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.
2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)
Eu tenho uma vida vivida. Isso é muito importante.
Agora, é preciso ver qual o horizonte intelectual da O menino que eu era vivia essa amalgamação
pessoa, porque a idade não é um valor. A pessoa pode convertendo-se em um ser humano de tipo especial,
viver vegetativamente ou de uma forma criadora, não fascinado pelo luxo de uns ou pela pompa dos que
importam as suas origens. desciam de carros com motoristas de libré, abrindo as
(Folha de S. Paulo, 22/01/95.) portas, diante do Teatro Municipal ou do Cine Paramount;
...a minha formação acadêmica superpôs-se a uma passando o dia a dia oscilando entre a fome e a fartura,
formação humana que ela não conseguiu destorcer nem trabalhando como se fosse adulto – o código de honra de
esterilizar. Portanto, ainda que isso pareça pouco ninguém evitava esse ‘fardo da criança’ – e tendo de
ortodoxo e antiintelectualista, afirmo que iniciei a minha admitir que a limpeza exigente de minha mãe não excluía
aprendizagem ‘sociológica’ aos seis anos, quando a presença das baratas, a roupa remendada e larga –
precisei ganhar a vida como se fosse um adulto e ganha de famílias generosas ou herdada dos mais velhos
penetrei, pelas vias da experiência concreta, no conheci- – a intolerância destes e a fuga pelo sonho. Em suma,
mento do que é a convivência humana e a sociedade, em para os que gostam de um toque artístico, um ‘mundo’
uma cidade na qual não prevalecia a ‘ordem das bicadas’, de Dickens ou de Carlitos, rebentado como uma floração
mas a ‘relação de presa’, pela qual o homem se de belle époque provinciana.
alimentava do homem, do mesmo modo que o tubarão (FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.
come a sardinha ou o gavião devora os animais de 2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)
pequeno porte. A criança estava perdida neste mundo
hostil e tinha de voltar-se para dentro de si mesma para A minha socialização plebeia poderia ser mais rica.
procurar nas ‘técnicas do corpo’ e nos ‘ardis dos frascos’ Porém, o submundo dentro do qual circulava, de engra-
os meios de autodefesa para a sobrevivência. Eu não xates, entregadores de carne, aprendizes de barbeiro ou
estava sozinho. Havia a minha mãe. Porém a soma de de alfaiates, balconistas de padarias, copeiros, garçons,
duas fraquezas não compõe uma força. Éramos varridos ajudantes de cozinheiro etc., fechava-se dentro de um
pela ‘tempestade da vida’ e o que nos salvou foi o nosso círculo pobre. Os seus componentes não acompanhavam
orgulho selvagem, que deitava raízes na concepção com ardor os conflitos operários e com frequência
agreste do mundo rústico, imperante nas pequenas formavam a própria opinião através das pessoas a que
aldeias do norte de Portugal, onde as pessoas se mediam serviam ou de jornais sensacionalistas.
com o lobo e se defendiam a pau do animal ou de outro (FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.
ser humano”. 2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)
(FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.
2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.) Apesar da minha condição de socialista militante, não
tentei vincular a estratégia de trabalho apontada
Se tinha pouco tempo para aproveitar a infância, nem exclusivamente ao marxismo. Tanto no plano do ensino
por isso deixava de sofrer o impacto humano da vida nas quanto no da pesquisa não procurei romper com o
trocinhas e de ter résteas de luz que vinham pela amizade ecletismo, herdado dos professores europeus e posto
que se forma através do companheirismo (nos grupos de por mim em uma outra órbita, com uma compreensão
folguedos, de amigos de vizinhança, dos colegas que se mais rigorosa da interdependência dos vários modelos de
dedicavam ao mesmo mister, como meninos de rua, explicação na Sociologia. Evoluí rapidamente, portanto,
engraxates, entregadores de carne, biscateiros, para um ecletismo balanceado e que convergia,
aprendizes de alfaiate e por aí afora). O caráter humano criticamente, para o significado lógico e empírico
chegou-me por essas frestas, pelas quais descobri que específico de cada solução metodológica e de cada
o ‘grande homem’ não é o que se impõe aos outros de contribuição teórica. Em termos operacionais, deixava o
cima para baixo ou através da história; é o homem que campo aberto para que os estudantes e os pesquisadores
estende a mão aos semelhantes e engole a própria jovens pudessem receber um treino sociológico capaz de
amargura para compartilhar a sua condição humana com prepará-los, de fato, para colocarem em prática a
os outros, dando-se a si próprio, como fariam os meus estratégia de trabalho mencionada. Pelo menos três

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campos da sociologia saíram privilegiados – o da Não me preparei para ser um universitário, mas fui
Sociologia Descritiva, o da Sociologia Comparada e o da universitário no sentido pleno da palavra. A tal ponto que
Sociologia Diferencial ou Histórica – e o adestramento quando deixei de ser universitário, fiquei desarvorado. Eu
sociológico precisaria cobrir, naturalmente, pelo menos não sei pra onde vou. Estou numa crise que é psicológica,
esses três campos. Não obstante, o caminho percorrido é moral e é política... (pois) ...perdi um ponto de referência
envolvia rupturas profundas. Primeiro, com minhas e de identidade que poderia ser muito vantajoso para
ambições científicas anteriores. De início, senti-me forte- minha sobrevivência e o meu trabalho.
mente inclinado a concentrar-me nos problemas teóricos (Entrevista de Florestan Fernandes. Transformação,
da Sociologia e vários dos meus ensaios revelam essa Assis, 1975. p.74.)
preocupação, pela qual, no fundo, o ‘colonizado’
procurava igualar-se ao ’colonizador’.
(FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.
2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)

1. Considerava-se um sociólogo militante, unindo a teoria à prática. Sua 2. No século XIX e início do século XX, foi elaborado um pensamento
obra foi influenciada pelos clássicos da disciplina, sobretudo por Karl social no Brasil para entender o País e buscar soluções viáveis de “cura
Marx. Nesse sentido, a busca de síntese entre a formalização teórica de seus males”. Sobre ele, podemos afirmar que
precisa (clássica) e a ação prática transformadora marcou toda a sua a) foi o período de institucionalização das Ciências Sociais no País.
vida. De formação nacional e “uspiana” e influenciado por Roger b) coincide com a chamada missão francesa que trouxe para o País
Bastide, estudou a integração do elemento negro na sociedade de intelectuais como Lèvi-Strauss e Bastide.
classes. Militou no Partido dos Trabalhadores como deputado federal. c) foi um período marcado pelo rigor científico e metodologia
Trata-se de: especificamente sociológica.
a) Fernando Henrique Cardoso. b) Gilberto Freyre. d) contou com a contribuição de advogados, médicos, literatos e
c) Sérgio Buarque de Holanda. d) Renato Ortiz. militares que se aventuraram em viagens pelo interior do País.
e) Florestan Fernandes. e) não teve qualquer valor enquanto legado intelectual, pois a “verdadeira
sociologia” surgiria apenas com a institucionalização das Ciências
RESOLUÇÃO: Sociais na USP e na Escola Superior de Sociologia e Política.
Resposta: E
RESOLUÇÃO:
Resposta: D

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3. A pressuposta passagem de uma sociologia brasileira ensaísta para 4. “... Se a ideia de uma ciência engajada parece ao olhar contempo-
uma sociologia acadêmica, institucionalizada e científica pode ser râneo um anacronismo, permanece válido afirmar a dimensão ética
identificada com o seguinte autor e professor: como algo constitutivo da formação das ciências sociais.”
a) Florestan Fernandes. b) Gilberto Freyre. (Lima, Nísia Trindade – Um Sertão chamado Brasil)
c) Euclides da Cunha. d) Nina Rodrigues.
e) Edgard Roquette-Pinto. Na frase acima, a autora defendeu
a) a neutralidade da ciência.
RESOLUÇÃO: b) o compromisso político do cientista.
Resposta: A c) o rigor científico.
d) a autonomia da ciência.
e) o espírito missionário dos higienistas brasileiros.

RESOLUÇÃO:
Resposta: B

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5. (UEL) – Leia o texto a seguir. 6. (UEL) – Leia o texto a seguir, que remete ao debate sobre questões
de gênero.
Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se A violência contra a mulher acontece cotidianamente e nem sempre
naturalizou entre nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios até ganha destaque na imprensa, afirmou a ministra da Secretaria de
onde coincidiram com a negação pura e simples de uma autoridade Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire [...]. “Quando surgem casos,
incômoda, confirmando nosso instintivo horror às hierarquias e principalmente com pessoas famosas, que chegam aos jornais, é que a
permitindo tratar com familiaridade os governantes. sociedade efetivamente se dá conta de que aquilo acontece
cotidianamente e não sai nos jornais. As mulheres são violentadas, são
(HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo:
subjugadas cotidianamente [...]”, afirmou a ministra. [...] “Eliza morreu
Companhia das Letras, 1995. p. 160.)
porque contrariou um homem que achou que lhe deveria impor um
castigo. Ela morreu como morrem tantas outras quando rompem
O trecho de Raízes do Brasil ilustra a interpretação de Sérgio Buarque
relacionamentos violentos”, disse a ministra.
de Holanda sobre a tradição política brasileira.
A esse respeito, considere as afirmativas a seguir. (“Violência contra as mulheres é diária, diz ministra”,
I. As mudanças políticas no Brasil ocorreram conservando elementos Agência Brasil, Brasília, 11 jul. 2010.)
patrimonialistas e paternalistas que dificultam a consolidação
democrática. Com base no texto e nos conhecimentos socioantropológicos sobre o
II. A política brasileira é tradicionalmente voltada para a recusa das tema, é correto afirmar:
relações hierárquicas, as quais são incompatíveis com regimes a) Questões de gênero são definidas a partir da classe social, razão pela
democráticos. qual são mais presentes nas camadas populares do que entre as
III. As relações pessoais entre governantes e governados inviabilizaram elites.
a instauração do fenômeno democrático no País com a mesma b) As identidades sociais masculina e feminina são configuradas a partir
solidez verificada nas nações que adotaram o liberalismo clássico. de características biológicas imutáveis presentes em cada um.
IV. A cordialidade, princípio da democracia, possibilitou que se c) As diferenças de gênero são determinadas no terreno econômico,
enraizassem, no País, práticas sociais opostas aos princípios do daí o fato de serem produto da sociedade capitalista.
clientelismo político. d) As experiências socialistas do século XX demonstram que nelas as
questões de gênero são resolvidas de modo a estabelecer a
Assinale a alternativa correta. igualdade real entre homens e mulheres.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. e) As relações de gênero são construídas socialmente e favorecem,
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. nas condições históricas atuais, a dominação masculina.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. RESOLUÇÃO:
Resposta: E
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

RESOLUÇÃO:
Resposta: B

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7. (UEL) – No dia 16 de junho de 2010, o Senado brasileiro aprovou o 8. O “preconceito e a discriminação raciais estão presos a uma rede
Estatuto da Igualdade Racial. Os senadores [...] suprimiram do texto o da exploração do homem pelo homem e que o bombardeio da
termo “fortalecer a identidade negra”, sob o argumento de que não identidade racial é prelúdio ou requisito da formação de uma população
existe no País uma identidade negra [...]. “O que existe é uma identidade excedente destinada, em massa, ao trabalho sujo e mal pago...”
brasileira. Apesar de existentes, o preconceito e a discriminação não (Florestan)
serviram para impedir a formação de uma sociedade plural, diversa e
miscigenada”, defende o relatório de Demóstenes Torres. Assim, Florestan
a) se opôs ao mito da democracia racial e inseriu o debate no problema
(Folha.com. Cotidiano, 16 jun. 2010. Disponível em: das classes sociais.
<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/751897-sem-cotas-estatuto-
b) afirmou que a própria questão operária noPaís seria sobretudo uma
da igualdaderacial- e-aprovado-na-ccj-do-senado.shtml>. Acesso em: 16
jun. 2010.) questão social e não racial.
c) afirmou que a democracia racial só não foi atingida devido às
Com base no texto e nos conhecimentos atuais sobre a questão desigualdades existentes entre as raças no País.
da identidade, é correto afirmar: d) pretendeu confirmar as teorias de Gilberto Freyre.
a) A identidade nacional brasileira é fruto de um processo histórico de e) sustentou que os EUA tinham os mesmos problemas raciais que o
realização da harmonia das relações sociais entre diferentes nosso país, deixando de lado as raízes históricas que os particu-
raças/etnias, por meio da miscigenação. larizavam.
b) A ideia de identidade nacional é um recurso discursivo desenraizado
RESOLUÇÃO:
do terreno da cultura e da política, sendo sua base de preocupação
Resposta: A
a realização de interesses individuais e privados.
c) Lutas identitárias são problemas típicos de países coloniais e de
tradição escravista, motivo da sua ausência em países
desenvolvidos, como a Alemanha e a França.
d) Embora pautadas na ação coletiva, as lutas identitárias, a exemplo
dos partidos políticos, colocam em segundo plano o indivíduo e suas
demandas imediatas.
e) As identidades nacionais são construídas socialmente, com base nas
relações de força desenvolvidas entre os grupos, com a tendência
comum de eleger, como universais, as características dos
dominantes.

RESOLUÇÃO:
Resposta: E

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9. Sobre a sociologia de Florestan Fernandes, leia e julgue as


proposições abaixo:
I. A questão exposta por Florestan está centrada na ideia de que o
operário negro necessita superar os tipos de ideologias que as
classes dominantes do capitalismo criaram.
II. A primeira ideologia corresponde à ideia de que o pobre não se torna
rico devido tanto à sua vida mundana, quanto à falta de parcimônia
com relação aos seus ganhos.
III. A segunda relaciona-se à ideia de que os negros não fazem parte
de uma raça inferior, sendo dotada de razão e civilidade, em relação
aos brancos.
IV. Então o negro operário dos dias atuais carrega nas costas o peso de
duas fortes ideologias, produzidas pelo capital, a de que ele é
“mundano” e “inferior”.

Assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

RESOLUÇÃO:
Resposta: D

134 –
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1. Que contribuição Florestan Fernandes deu ao estudo sobre a De acordo com o texto, é correto afirmar que o autor se refere à relação
questão sociológica dos negros no Brasil? entre
a) modernização, trabalho e capitalismo.
2. A questão exposta por Florestan está centrada na ideia de que o b) diversidade cultural, imigração e monocultura.
operário negro necessita superar dois tipos de ideologias que as classes c) blocos econômicos, agroindústria e concentração de renda.
dominantes do capitalismo criaram. Explique. d) latifúndio, produção em massa e empreendedorismo.
e) renda per capita, concentração regional e agronegócio.
3. Para Florestan, as concepções de ensino petrificam e cristalizam a
aprendizagem na torpe encenação unidirecional da imposição e 7. (UEL) – “A falta de coesão em nossa vida social não representa,
transmissão curricular, onde hábitos, valores e condutas simplesmente assim, um fenômeno moderno. E é por isso que erram profundamente
preparam indivíduos para atenderem aos interesses do mercado aqueles que imaginam na volta à tradição, a certa tradição, a única
econômico. Em contrapartida, o que o sociólogo brasileiro esperava da defesa possível contra nossa desordem. Os mandamentos e as
educação no País? ordenações que elaboraram esses eruditos são, em verdade, criações
engenhosas de espírito, destacadas do mundo e contrárias a ele. Nossa
4. Sobre a sociologia de Florestan Fernandes, leia e julgue as anarquia, nossa incapacidade de organização sólida não representam, a
proposições abaixo: seu ver, mais do que uma ausência da única ordem que lhes parece
I. Para Florestan, as concepções de ensino petrificam e cristalizam a necessária e eficaz. Se a considerarmos bem, a hierarquia que exaltam
aprendizagem na torpe encenação unidirecional da imposição e é que precisa de tal anarquia para se justificar e ganhar prestígio.”
transmissão curricular, na qual hábitos, valores e condutas (HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil.
simplesmente preparam indivíduos para atenderem aos interesses São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 33.)
do mercado econômico. A transformação na educação era
necessária. Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são
II. Mesmo com as diferentes necessidades existentes no contexto intelectuais da chamada “Geração de 30”, primeiro momento da
educacional brasileiro, era possível criar condições para que surgisse sociologia no Brasil como atividade autônoma, voltada para o
um exercício pleno e ativo da crítica e da democracia, pois a principal conhecimento sistemático e metódico da sociedade. Sobre as
virtude de um intelectual é a rebeldia crítica e questionadora. preocupações características dessa geração, considere as afirmativas a
III. Florestan criou o conceito de capital cultural para explicar as seguir.
desigualdades sociais reproduzidas pelo sistema educacional. I. Critica o processo de modernização e defende a preservação das
raízes rurais como o caminho mais desejável para a ordem e o
Estão (está) corretas (correta): progresso da sociedade brasileira.
a) Todas. b) Apenas I e II. c) Apenas II e III. II. Promove a desmistificação da retórica liberal vigente e a denúncia
d) Apenas I e III. e) Apenas II. da visão hierárquica e autoritária das elites brasileiras.
III. Exalta a produção intelectual erudita e escolástica dos bacharéis
5. Nas diferenças no acesso à educação e na distribuição desigual de como instrumento de transformação social.
rendas estão as marcas da discriminação social. A que segmentos da IV. Faz a defesa do cientificismo como instrumento de compreensão e
população essa afirmação se refere? explicação da sociedade brasileira.
a) Imigrantes.
b) Migrantes nordestinos. Estão corretas apenas as afirmativas:
c) Brancos durante o Império. a) I e III. b) I e IV. c) II e IV.
d) Jovens. d) I, II e III. e) II, III e IV.
e) Afrodescendentes.
8. Sobre a questão sociológica dos negros no Brasil, assinale a única
6. “O processo de integração econômica dos próximos decênios, se alternativa errada.
por um lado exigirá a ruptura de formas arcaicas de aproveitamento de a) Neste início de século, parece não haver dúvidas sobre a
recursos em certas regiões, por outro requererá uma visão de conjunto consolidação do movimento negro no cenário das lutas sociais do
do aproveitamento de recursos e fatores no País. A oferta crescente de Brasil. Seu combate contra o racismo chega ao século XXI de modo
alimentos nas zonas urbanas, exigida pela industrialização, a bastante forte e atuante. Florestan Fernandes foi um dos iniciadores
incorporação de novas terras e os translados inter-regionais de mão-de- desse dabate.
obra são aspectos de um mesmo problema de redistribuição geográfica b) A discriminação racial, que é um dos principais problemas estruturais
de fatores. Na medida em que avance essa redistribuição, a da nação brasileira, ganhou uma ampla visibilidade social. O que, de
incorporação de novas terras e recursos naturais permitirá um certa forma, forçou mais uma vez o debate sobre a questão racial
aproveitamento mais racional da mão-de-obra disponível no País, no Brasil e a situação subalterna dos negros.
mediante menores inversões de capital por unidade de produto.” c) Esse debate se deu de modo harmônico e consensual entre os
(FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. sociólogos. Em muitos momentos, porém, o movimento negro
São Paulo: Nacional, 1980. p. 242.) demonstra fragilidades em relação à sua unidade. Principalmente
sobre a questão que envolve a relação classe/raça.

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d) De um lado, entre os militantes, existem setores defensores de uma consensual, assume, quase sempre, a forma da polarização-
luta antirracismo desvinculada com a questão de classe, já que, para oposição, demonstrando que classe e raça não são elementos fáceis
eles, no Brasil o elemento determinante para a situação social de um de conciliação.
indivíduo é muito mais racial do que classista. De outro, argumentam
que no Brasil, assim como em qualquer outro país capitalista, a 9. Nas relações sociais no Brasil, há uma tensão constante entre o
situação de classe interfere diretamente nas questões raciais. E, distante e o próximo. Nesse sentido, a alteridade, geralmente, se situa
neste sentido, a luta antirracismo deve ser vinculada à luta de a) num espaço de ameaça ao conceito de humanidade abstrata.
classes. b) deslocado das relações sociais, mas num espaço adequado para a
e) Duas posições que permeiam muitos dos debates internos do convivência.
movimento negro não parecem ser simples de solução. Tanto uma c) num espaço geográfico sempre distante.
quanto a outra apresentam boas argumentações, com diversos d) ideologicamente naturalizado como o outro diferente (estranho).
exemplos coerentes e legítimos. O movimento social militante pela e) numa classificação étnica- racial que impossibilita o contato com o
questão dos negros, ao invés de caminhar para uma posição semelhante.

1) Florestan se opôs ao mito da democracia racial e inseriu o


debate no problema das classes sociais. A própria questão
operária no País não seria só uma questão social, mas
também uma questão racial. Assim, ele afirmou que o
“preconceito e a discriminação raciais estão presos a uma
rede da exploração do homem pelo homem e que o
bombardeiro da identidade racial é prelúdio ou o requisito da
formação de uma população excedente destinada, em massa,
ao trabalho sujo e mal pago...” (Florestan)

2) A primeira corresponde à ideia de que o pobre não se torna


rico devido tanto à sua vida mundana, quanto à falta de
parcimônia com relação aos seus ganhos. A segunda
relaciona-se à ideia de que os negros fazem parte de uma raça
inferior, não dotada de razão e civilidade, em relação aos
brancos. Então o negro operário dos dias atuais carrega nas
costas o peso de duas fortes ideologias, produzidas pelo
capital, a de que ele é “mundano” e “inferior”.

3) A transformação na educação era necessária. Mesmo com as


diferentes necessidades existentes no contexto educacional
brasileiro era possível criar condições para que surgisse um
exercício pleno e ativo da crítica e da democracia, pois a
principal virtude de um intelectual é a rebeldia crítica e
questionadora.

4) B

5) E

6) A

7) C

8) C

9) D

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