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Orgs.
Emerson Campos Gonçalves
Robson Loureiro
Mariana Passos Ramalhete
Copyright © 2020 Nepefil/Ufes. Este e-book é de distribuição gratuita. O conteúdo de
cada capítulo é de responsabilidade exclusiva de seus autores. A reprodução total
ou parcial é proibida sem a expressa autorização dos autores e/ou organizadores.
É certo que a pergunta não tem lá muitos mistérios e, nos idos deste
interminável 2020, qualquer um que ainda prefira livros que correntes
do tio do Zap conseguirá responder que é claro que foi...
O ovo.
Da serpente.
Do fascismo.
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NEGACIONISMO CIENTÍFICO NA
PANDEMIA DA COVID-19: ELOGIO
AO CONHECIMENTO E À ESCOLA
Robson Loureiro
Pós-Doutor em Filosofia pela University College
Dublin (2013-2014) e pela Universität Leipzig (2018).
Doutor em Educação pelo PPGE/UFSC com estágio
sanduíche na University of Nottingham. Coordenador
do Nepefil/Ufes e professor na Universidade Federal
do Espírito Santo.
robbsonn@uol.com.br
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INTRODUÇÃO
e pudéssemos caracterizar o contexto cultural
S contemporâneo, dos últimos vinte anos deste início de século
XXI, pode-se facilmente considerar que se trata de uma época
na qual o obscurantismo se fortalece e parece mimetizar o também
paradoxal contexto relativo ao Renascimento europeu, quando
cosmovisões (misticismos, filosofia natural, teologias etc.) díspares
disputavam um lugar de poder, em face do domínio da poderosa
estrutura da Igreja Católica e, a partir do século XVI, das Igrejas
Protestantes. A fé dogmática, a opinião fundamentada na dimensão
tácita de uma experiência ancorada na crença oriunda do pensamento
ordinário e de senso comum, naquele contexto renascentista, começou
a ser abalada pela dúvida, pela crítica, pelo debate público que pôs em
xeque o dogmatismo fundamentalista que orientava movimentos
místicos, religiosos e a coletividade na sua quase totalidade. A disputa
apenas começava e por isso era fundamental distinguir magia, feitiçaria,
ocultismo, misticismo daquilo que começava a se constituir como um
novo tipo de conhecimento, que veio a ser conhecido como ciência
moderna. Desde então, mesmo com a consolidação da ciência, o conflito
não deixou de existir. Evento ilustrativo é o movimento negacionista (da
ciência, do conhecimento científico), que é anterior à pandemia do
Covid-19 e, como alerta Michiko Kakutami (2018), é bem possível que
inicialmente ele tenha surgido no interior da própria academia. A partir
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entre o fazer ciência e os milagres divinos, pode ter a ver com a famosa
frase de Galileu: a matemática é o alfabeto que Deus usou para escrever
o universo? (ROSSI, 2001; JAPIASSÚ, 1996; CHAUI, 1996; SAGAN, 1996;
RONAN, 1987) e, ainda que no discurso, as academias surgidas no período
da Renascença europeia sustentassem a ideia de que eram espaços
autônomos, de livre criação, circulação e debate de ideias desvinculadas
das diretrizes religiosas das universidades (ROSSI, 2001), parte
considerável do solo intelectual que alimentou a constituição da ciência
moderna foi fertilizado por teses oriundas da crença no mistério divino;
2) boa parte dos principais personagens responsáveis pela origem da
ciência moderna, tinha um vínculo tanto com a Igreja, como é o caso do
polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), que apesar de ser formado em
direito, matemática e medicina, era cônego da Igreja Católica; Johannes
Kepler (1571-1630), que além de matemático, teria incorporado
argumentos teológicos às suas teses astronômicas, motivado pela
convicção de que Deus havia criado o mundo conforme um programa
inteligível, acessível à razão. Esse é o caso da obra Mysterium
Cosmographicum (1596). Na ocasião, ele considerou que havia revelado
o plano geométrico de Deus para o Universo, pois este era uma imagem
daquele, sendo que o Sol corresponderia ao Pai, a esfera estelar o Filho
e o espaço intermediário entre eles o Espírito Santo.
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português, demiurgo é traduzido por deus, e não artífice. Sem contar que
a leitura que se tem de Platão, no mundo ocidental, em geral é aquela
desenvolvida pelo Apóstolo São Paulo e pela Patrística, ou seja, pelos
primeiros padres doutores da Igreja, dentre eles Santo Agostinho. Mais
uma vez, fica posto, então, o vínculo entre matemática, filosofia e
teologia/religião – cristã. Com efeito, é preciso atentar para o fato de
que, tal como observa Ronan (1987),
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MERCADO: O DEUS
lém de tantos outros elementos, tais como formação familiar,
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Em certa medida isso é compreensível, em particular em uma sociedade como a
brasileira. Durante séculos a escola, os estudos e o conhecimento erudito estiveram nas
mãos dos religiosos, das elites econômicas e políticas, de pequenos grupos, da classe
social dirigente. Qualquer pessoa que estudasse para além do nível fundamental e médio
já era considerada especial, com direitos especiais. Nas primeiras décadas do século
XXI, com o processo de massificação (que não significa democratização socialmente
qualificada) da educação, tem-se início a um processo de ruptura com as estruturas
congeladas do tecido social que impediam de as pessoas terem acesso à educação
formal. Sociedades com baixos índices de analfabetismo e com alto nível de inclusão da
população jovem na universidade tendem a diminuir formas conservadoras e
reacionárias de condutas no âmbito público. A famosa frase sabe com quem você está
falando, que é muitíssimo bem conhecida no Brasil e em vários países da América Latina,
é um bom exemplo de como, em uma sociedade com estruturas arcaicas, com alto nível
de exclusão social, lida com o patrimônio cultural (público) da humanidade. Sabe com
quem você está falando indica a soberba do indivíduo semiformado, pois o
esclarecimento (a ciência, o conhecimento erudito) lhe serve para ofuscar sua
capacidade de discernimento, de autorreflexão crítica e dessa forma se sentir um ser
completo e superior aos demais. Quando essa conduta é cristalizada, quando se
sensocomuniza as práticas abusivas, estas tornam-se hábitos, tabus, medidas certas,
normas, padrão, modelos que quase nunca são questionados, incomodados e
reproduzidos por todos, indistintamente.
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exemplo: para que a canoa exista é fundamental que ela (quem a produz)
negue a forma árvore. Contudo, a árvore continuará contida na forma
canoa. O reconhecimento de Fábia implica na negação de Júnia, de
Maria, ou seja, a rigor essa negação implica na afirmação de que Fábia
é não Júnia, não Maria. A negação, nesse caso, significa o
reconhecimento do outro como o não eu que forma aquilo que, em tese
se é ou se pensa que é. Essa é uma negação por assimilação,
incorporação.
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- Mostre-me – você diz. Eu o levo até a minha garagem. Você olha para
dentro e vê uma escada de mão, latas de tinta vazias, um velho triciclo,
mas nada de dragão.
E assim por diante. Eu me oponho a todo teste físico que você propõe
com uma explicação especial do porquê não vai funcionar.
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Sobre o conceito de semiformação conferir em: ADORNO, Theodor W. Teoria da
semiformação. In: PUCCI, B.; LASTÓRIA, L. A. C. N.; ZUIN, A. A. S. (Orgs.). Teoria crítica e
inconformismo: novas perspectivas de pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2010, p.
7-40.
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A burguesia tornou-se a classe hegemônica porque soube concretizar o sonho do
esclarecimento contido no mito: dominar a natureza e a si próprio. A astúcia do homem
burguês, já presente em Ulisses, foi capaz de reintroduzir formas antigas de produção
social da existência. Afinal, por que a escravidão ressurgiu mais de mil anos após o seu
fim no mundo antigo? A ciência só foi possível avançar porque dela milhões sempre
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Difícil imaginar uma pessoa que hoje consiga viver nesse mundo sem ser afetada pelos
resultados da apropriação privada do conhecimento científico, mesmo que seja a
contragosto. São poucas as comunidades humanas que atualmente produzem seus
próprios alimentos, sua vestimenta, seus utensílios, locais de moradia, por exemplo.
Quem vive em um meio urbano pode desejar não sofrer o impacto dos resultados da
ciência, mas, se tem onde morar, a residência provavelmente tem água encanada,
energia elétrica, fogão, geladeira, televisão, paredes, ferro que sustenta, vigas e colunas
etc. Todo vestuário, os alimentos, o ônibus, o automóvel, a motocicleta ou a bicicleta que
utiliza para se locomover, a água potável que se bebe. Tudo ao nosso redor está repleto
dessa objetivação humana, ou seja, contém o resultado do conhecimento científico. E,
tudo isso é um conhecimento que se desenvolveu na Era Moderna, mas que na Era
Contemporânea (Pós Revolução Francesa) recebeu novas contribuições. Contudo, a
rigor, os princípios básicos ainda continuam sendo aqueles produzidos pela Física
Clássica, por exemplo.
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que patrocina a pesquisa?). Mas, ele próprio concorda que essas razões
ficam muito atrás de outra, apresentada por Alan Cromer, professor de
física da Universidade de Boston. Cromer surpreendeu-se com a
quantidade de alunos que, em seu curso de física, eram incapazes de
compreender os conceitos mais elementares da área. Sua tese, para que
isso aconteça, é que a ciência é difícil porque ela representa um
conhecimento novo. A espécie humana tem em torno de 100 mil anos de
idade e o método científico ainda adotado teve início apenas há alguns
séculos e, mesmo assim, a grande totalidade das pessoas não teve
tampouco terá acesso ao método, ao conhecimento científico nos
próximos cem anos. Isso pode ser comparado à escrita, que tem mais de
cinco mil anos, e ainda hoje existem milhões de analfabetos no mundo
(SAGAN, 1996, p. 300-301).
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Ainda que também a ideia de humanidade seja uma espécie de metafísica, pois, a rigor,
o que é, efetivamente isso que denominamos de humanidade? Aonde ela está? É uma
ficção, uma utopia?
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“[...] a consciência ingênua é, por essência, aquela que não tem consciência dos fatores
e condições que a determinam. A consciência crítica é, por essência, aquela que tem
clara consciência dos fatores e condições que a determinam” (PINTO, 1960, p. 83).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
ponto de partida da reflexão aqui proposta foi a
O problematização do movimento negacionista da ciência, em
especial o movimento antivacina. O ano de 2020, desde o
anúncio da pandemia do vírus SARS-CoV-2 (Covid-19), feito pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), vai ser um marco na história do
pensamento e das práticas sociais. Ainda que no pós-pandemia 2020
nada se transforme, não resta dúvidas de que inúmeras
problematizações, boa parte delas constitutivas de respeitadas
tradições teóricas que desde o início do século XX têm refletido e
contribuído para se ampliar o pensamento relativo à relação entre
ciência, tecnologia e sociedade, enfim, tudo sugere que à fortuna crítica
até então realizada serão acrescentados ainda mais contribuições que
podem criar as condições de possibilidades para dar início à tão
necessária transformação nos modelos hegemônicos de produção social
da existência. Nesse sentido, ao longo deste artigo, apresentei o
argumento segundo o qual na construção das principais teses que dão
origem à ciência moderna, os autores do Renascimento ainda estavam
vinculados tanto à tradição da metafísica, operada pela filosofia clássica
grega, quanto ao conhecimento místico-teológico. Por conseguinte, essa
relação é que contribuiu para, em certo sentido, no imaginário social o
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cientista ser concebido ora como um feiticeiro, ora como deus. Isso é
agravado com o fato de que o conhecimento científico tem sido
apropriado pelos grandes conglomerados empresariais capitalistas, que
dele necessitam para dar vazão à criação/produção ilimitada da
tecnologia responsável pela ampliação do lucro – lê-se exploração da
classe que vive do trabalho. Em outros termos, aquele antigo imaginário,
do cientista concebido com feiticeiro, ou mesmo deus, agora está
implícito na ideia de que a ciência, base da tecnologia (e vice-versa), é
fundamental para ampliar a vida do deus mercado.
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Por fim, mas não por último, três questões que a meu ver são
de suma relevância na composição dos elementos essenciais do ato de
refletir sobre o fenômeno relativo ao movimento negacionista da ciência
e suas consequências: a contribuição da intelligentsia da agenda pós-
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argumento forte etc. Aqui jaz a ideia de que o sujeito crítico não aceita,
passiva e ingenuamente, nem o evidente do fenômeno, nem as
enunciações teóricas que sobre esse se formulam. Na medida do
possível, e em condições reais, por meio do pensamento crítico tem-se
condições de explicitar a coerência interna e a montagem lógica do que
se nos apresenta. Com isso pode-se considerar que a autonomia
intelectual refere-se a alguém que é capaz de avaliar, de modo racional,
as variantes teóricas da sua área de atuação e com isso escolher, diante
de situações diversas, qual esquema teórico é mais apropriado; porque
e como montar um argumento mais qualificado e assim apresentar uma
objeção sobre determinada questão. O sujeito crítico assimila certos
parâmetros argumentativos de pensamento. Ele pode agir
autonomamente a partir deles.
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A. A. S. (Orgs.). Teoria crítica e inconformismo: novas perspectivas de pesquisa.
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SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no
escuro. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
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Wilberth Salgueiro
Professor Titular de Literatura Brasileira na
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Mestre e Doutor em Letras pela UFRJ, realizou pós-
doutoramento em Literatura Comparada
(UFRJ/2006) e em Literatura Brasileira (USP/2014).
Neste livro também colabora com “’Canção da
desesperança’, de Mara Coradello”.
wilberthcfs@gmail.com
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INTRODUÇÃO
os últimos meses vimos o novo coronavírus se espalhar por
N todos os continentes povoados da Terra. O que se pensou ser
uma epidemia de baixa letalidade e que rapidamente se
extinguiria, como o SARS e a gripe aviária ocorrida no começo deste
milênio, rapidamente alcançou proporções globais de uma pandemia
altamente funesta.
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Levando em consideração a limitação da aplicação do conceito de justiça como
equidade, a efetivação de tal consenso não se dá sob todas e quaisquer condições, mas
apenas diante daquilo que Rawls chama de ‘pluralismo razoável’. Em seu livro O
liberalismo político, Rawls escreve: “O fato do pluralismo razoável não é uma condição
desafortunada da vida humana, como poderíamos dizer do pluralismo como tal, que
admite doutrinas que não são apenas irracionais, mas absurdas e agressivas. Ao
articular uma concepção política de tal maneira que ela possa conquistar um consenso
sobreposto, não a adaptamos à irracionalidade existente, mas ao fato do pluralismo
razoável, que resulta do exercício livre da razão humana em condições de liberdade”
(RAWLS, O liberalismo político, p. 190)
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A ideia de “véu da ignorância” é apresentada no Capítulo III da Teoria. A restrição prática
pode ser melhor representada por um modelo abstrato que o próprio Rawls oferece: “O
objetivo é usar a noção de justiça procedimental pura como fundamento da teoria. De
modo algum, devemos anular os efeitos das contingências especificas que colocam os
homens em posição de disputa, tentando-os a explorar as circunstâncias naturais e
sociais em seu próprio benefício. Com esse propósito, assumo que as partes se situam
atrás de um véu de ignorância. Elas não sabem como as várias alternativas irão afetar
o seu caso particular, e são obrigadas a avaliar os princípios unicamente com base nas
considerações gerais” (RAWLS, 2008, p. 147).
9
É importante ressaltar que tanto a posição originária quanto o véu da ignorância são
artifícios de representação e devem ser considerados como meros experimentos
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mentais, ou seja, “guias para a intuição”, e não situações reais (RAWLS, 2008, p. 149). O
sucesso na consolidação da ideia de posição original e véu da ignorância para a
estrutura básica da sociedade teria como consequência a elaboração de princípios de
justiça equitativa amplamente aceitos, a despeito das diversas concepções de justiça
proveniente das doutrinas filosóficas, morais e religiosas, isto é, uma concepção política
de justiça social.
10
Apesar de sua relevância para a discussão contemporânea sobre política e justiça
social, o núcleo ético do pensamento de Rawls é oriundo de uma tradição mais antiga.
Embora o filósofo não fosse religioso, nota-se que sua filosofia está essencialmente
ligada à “regra de ouro” da tradição judaico-cristã, sintetizada na máxima “não faça com
os outros o que não quer que seja feito com você” (vide Tobias 4:16; Matheus 7:12).
Todavia, apesar das raízes morais da teoria de Rawls, é provável que a presença oculta
da “regra de ouro” em sua proposta não seja derivada de nenhum aspecto religioso, mas
da ética dos deveres de Kant, sobretudo de seu imperativo categórico, tendo em vista a
influência do filósofo alemão sobre o americano. Para mais sobre a influência de Kant
em Rawls, veja Taylor (2011).
11
A possibilidade de agravamento da crise que venha a levar os médicos a terem que
decidir a quem será disponibilizado tratamento adequado parece já ter chegado no
horizonte italiano, conforme indica matéria do jornal O Globo de 13 de março deste ano
(BARIFOUSE, Coronavírus: médicos podem ter de fazer escolha de Sofia por quem vai
viver na Itália, 2020).
limitação –, o que tem feito com que muitos optem por outros olhares
filosóficos quanto às questões que envolvem a relação entre justiça
social e coronavírus.
12
Alasdair MacIntyre, Charles Taylor, Michael Walzer são alguns exemplos de
pensadores que abordam a noção de justiça social sob essa ótica. Ainda que a definição
não seja de todo exata, é comum encontrarmos a classificação de tais pensadores como
sendo “comunitaristas”. Will Kylmlicka (2007), um filósofo canadense conhecido por suas
pesquisas sobre multiculturalismo, distingue importantes diferenças entre os autores
ditos comunitaristas, dividindo-os em nostálgicos/conservadores e
saudosistas/progressistas. Os primeiros lamentam o declínio da comunidade como
resultado da crescente ênfase na escolha individual e nos diversos modos de vida, e
tentam resgatar a concepção de bem comum. Possuem, assim, algum ponto de contato
com os conservadores tradicionalistas e podem também ser classificados como
republicanos (ou cívico-republicanismo, nos termos de Michael Sandel). Já os
comunitaristas progressistas tendem a aceitar a liberdade individual e a diversidade,
tomando os laços comunitários como bases para emergência de grupos sociais e novas
subjetividades.
Contrário a Rawls, Sandel afirma que a ideia de justiça social não deve
partir de um “vácuo hipotético” – como pressuposto pela “posição
originária” e pelo “véu de ignorância” –, mas estar enraizada em valores
prévios presentes na comunidade. De acordo com Sandel, não é possível
estabelecer uma teoria da justiça tendo como pressuposto a existência
de indivíduos desenraizados, abstratos, sem vínculos com o mundo real
ou livres de qualquer influência histórico-cultural.14 As reflexões sobre
justiça devem levar em conta o papel dos valores e tradições culturais
de cada comunidade e esta, para Sandel, é a maneira mais eficiente de
abordar os problemas práticos relacionados aos desafios de justiça
social.
13
No referido livro, Michael Sandel critica os pressupostos liberais de Rawls e expõe uma
teoria da justiça baseada no “bem comum”, isto é, na noção de que todos derivam sua
identidade da comunidade em geral. Os direitos individuais contam, mas não mais do que
as normas e valores comunitários. A crítica baseada em um “lugar comum” recebeu, à
época, a alcunha de comunitarismo. Todavia, anos depois, em seu livro Democracy
Discontent – America in Search of a Public Philosophy (1996), Sandel modifica algumas
terminologias e, no lugar de se classificar como um comunitarista, prefere o uso do
termo “cívico-republicano”.
14
Um dos elementos centrais da crítica de Sandel à teoria liberal é a compreensão de
um ‘Self desencarnado’. Sandel utiliza essa expressão para se referir à ausência de uma
abordagem da contingência das emoções, valores e traços distintivos de cada indivíduo
e comunidade dentro de uma sociedade democrática justa. Em The Procedural Republic
and the Unencumbered Self (1984), ao descrever a posição original, Sandel sugere que
a autocompreensão do sujeito na teoria liberal pressupõe determinada imagem. “Esta é
a imagem do sujeito desencarnado, um sujeito entendido como anterior e independente
de propósitos e finalidades”. (SANDEL, 1984, p. 87).
15
Para os liberais tradicionais, a ideia de uma comunidade é normalmente vista como
sendo apenas uma manifestação de uma interseção das teias de interesses que definem
os indivíduos. Por outro lado, tanto a visão cívico-republicana de Sandel quanto à
tradição comunitarista do liberalismo – aos moldes de Walzer e Nancy Frazer – tendem
a afirmar que tais laços são manifestações próprias da comunidade, isto é, um evento
de primazia comunitária.
16
Para exemplificação mais nítida e explicação mais detalhada dessa influência, ver o
livro The Lost Soul of American Politics, de John Patrick Diggins (1984).
17
“Ninguém me procurou e disse: 'Como cidadão sênior, você está disposto a arriscar sua
sobrevivência em troca de manter a América que toda América ama para seus filhos e
netos? Se essa é a troca, estou dentro” (KNODEL, Jamie. Texas Lt. Gov. Dan Patrick
suggests he, other seniors willing to die to get economy going again. NBC News, 2020).
18
O cálculo utilitário [felicific calculus] idealizado por Bentham em sua obra An
Introduction to the Principles of Morals and Legislation (1789) é aprimorado por John
Stuart Mill em seus escritos. Mill passa a considerar a influência dos sentimentos para
realização do cálculo, tais como senso de dever, simpatia, desejo de boa reputação e
mesmo filantropia. Desse modo, Mill reitera que "sentimentos de sociabilidade, o desejo
de estar em união com as demais criaturas" (MILL, 1971, p. 34) são tomados como
princípios de nossa natureza, tão determinantes quanto nossos impulsos antissociais.
Esse aperfeiçoamento em relação às ideias de Bentham e dos utilitaristas predecessores
é o que permite a Mill elaborar a ideia de que a pluralidade de interesses individuais
deixa de constituir um problema à medida que os sujeitos são esclarecidos quanto ao
fato de seus interesses particulares estarem, na verdade, entrelaçados e vinculados aos
interesses da humanidade como um todo. Logo, Mill desenvolve seu argumento em
direção a um determinado "senso de unidade", que poderia ser cultivado não só como
sentimento, mas também como parâmetro para a ação individual e do qual poderiam ser
derivados princípios de força persuasiva e eficácia equivalentes a uma moral religiosa
(Idem, p. 35). O ideal sugerido consiste, portanto, em um indivíduo capaz de agir
orientado não por seus interesses rasos, imediatos, mas por certo "interesse bem
compreendido", irrevogavelmente vinculado ao interesse coletivo
19
EXAME. Bolsonaro diz que colapso não deve acontecer e chama Dória de lunático.
Março de 2020.
20
THE NEW YORK TIMES. Trump Says Coronavirus Cure Cannot ‘Be Worse Than the
Problem Itself’. 23 de março de 2020.
21
LINDNER; TURTELI. “Infelizmente algumas mortes terão. Paciência.” diz Bolsonaro ao
pedir o fim do isolamento. 27 de março de 2020.
22
ibidem.
23
A partir disso, os autores atingem uma aporia que indica precisamente a
indissociabilidade entre o pensamento esclarecido e a possibilidade de regressão: “A
aporia com que nos defrontamos em nosso trabalho revela-se assim como o primeiro
objeto a investigar: a autodestruição do esclarecimento. Não alimentamos dúvida
nenhuma - e nisto consiste nossa petitio principii - de que a liberdade na sociedade é
inseparável do pensamento esclarecedor. Contudo, acreditamos ter reconhecido com a
mesma clareza que o próprio conceito deste pensamento, tanto quanto as formas
históricas concretas, as instituições da sociedade com as quais está entrelaçado, contém
o germe para a regressão que hoje tem lugar por toda parte. Se o esclarecimento não
acolhe dentro de si a reflexão sobre este elemento regressivo, está selando seu próprio
destino. Abandonando a seus inimigos a reflexão sobre o elemento destrutivo do
progresso, o pensamento cegamente pragmatizado perde seu caráter superador e, por
isto, também sua relação com a verdade” (ADORNO; HORKHEIMER, 1986, p. 13).
24
Cabe mencionar que as abordagens teóricas sobre justiça social mencionadas
aqui não são as únicas correntes econômico-filosóficas que foram colocadas sobre a
mesa durante o período pandemia. A ideia de renda básica universal (ou de cidadania),
por exemplo, vem sendo bastante discutida e suas raízes remontam a Marquês de
Condorcet, Thomas Paine, Charles Fourier, e no próprio Mill, tendo encontrado adeptos
entre Bertrand Russell Milton Friedman, dentre outros. Além da renda básica universal,
a taxação das grandes fortunas também vem sendo amplamente debatida, sendo uma
ideia enraizada no marxismo pós-1950 e no keynesianismo (este último alimenta a ideia
de ampliação do investimento público face à pandemia). O marxismo "tradicional" (ou
ortodoxo) também vem ganhando alguma força, ainda que pequena, no discurso a
respeito das condições de trabalho dos empregados em serviços essenciais e na rejeição
ao consumismo. As ideias de auto-organização tiradas de teóricos anarquistas como
Bakunin, Kropotkin e Murray Bookchin têm inspirado os movimentos sociais, ONGs e
organizações supranacionais (como algumas agências da ONU, em especial a OIT e a
FAO). Obviamente, todas as questões mencionadas acima possuem relevada importância
para pensamos no cenário atual e merecem uma análise qualificada. Todavia, tendo em
vista o espaço disponível para tratamento das questões, optou-se aqui por manter o foco
O QUE ESPERAR?
comum vermos os problemas morais por uma lente utilitária
É e, em seguida, ao encontrar a necessidade de decisões éticas
questionáveis (como a morte de inocentes, por exemplo),
rejeitá-la porque tal lente simplesmente conflita com a regra de ouro
do “não faça com os outros o que não quer que seja feito com você”. Esse
“passo atrás” para com a visão utilitária, contudo, não é postura adotada
por todos, sobretudo em situações de calamidade.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T.W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos.
Trad. Guido Antonio de Almeida. 2.ed. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1986.
BARIFOUSE, Rafael. Coronavírus: médicos podem ter de fazer escolha de Sofia por
quem vai viver na Itália. G1. 2020. Disponível em:
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/13/coronavirus-medicos-
podem-ter-de-fazer-escolha-de-sofia-por-quem-vai-viver-na-italia.ghtml . Acesso
em 30 de abril de 2020.
BENTHAM, Jeremy. "An introduction to the principles of morals and
legislation", in BENTHAM, Jeremy. The principles of morals and legislation, New York,
Hafner Press. 1948.
DIGGINS, John Patrick. The Lost Soul of American Politics. Nova Iorque. Basic Books, Inc.
Publisers, 1984. 366p
EXAME. Bolsonaro diz que colapso não deve acontecer e chama Dória de lunático. 22 de
março de 2020. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/bolsonaro-diz-que-
colapso-nao-deve-acontecer-e-chama-doria-de-lunatico/ . Acesso em 30 de abril de
2020.
KNODEL, Jamie. Texas Lt. Gov. Dan Patrick suggests he, other seniors willing to die to
get economy going again. NBC News, 2020. Disponível em:
https://www.nbcnews.com/news/us-news/texas-lt-gov-dan-patrick-suggests-he-
other-seniors-willing-n1167341 . Acesso em 30 de abril de 2020.
KYMLICKA, Will. Community and Multiculturalism. In Goodin, Robert E., Pettit, Philip and
Pogge, Thomas. A Companion to contemporary political philosophy. Vol. II. 2a ed. Cap. 20.
Oxford: Blackwell, 2007.
LINDNER, Julia; TURTELLI, Camila. “Infelizmente algumas mortes terão. Paciência.” diz
Bolsonaro ao pedir o fim do isolamento. Estadão. 27 mar.de 2020. Disponível em:
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,infelizmente-algumas-mortes-terao-
paciencia-diz-bolsonaro-ao-pedir-o-fim-do-isolamento,70003250982 . Acesso em 30
de abril de 2020.
MILL, James. Essay on government. In: LIVELY, R.; REES, J. (eds.), Utilitarian logic and
politics, Oxford, Clarendon Press. 1971.
RAWLS, John. O Liberalismo Político. São Paulo. Editora Ática, 2000. 430p.
RAWLS, J. Uma Teoria da Justiça. 3. ed. Tradução de Jussara Simões. São Paulo: Martins
Fontes, 2008. 764p.
SANDEL, Michael. Democracy’s Discontent: America's search for a new public philosophy.
Belknap Press. Massachusetts. 1996a
SANDEL, Michael. America's search for a new public philosophy. in The Atlantic Monthly.
Massachusetts. 1996b. pag. 57 – 74
THE NEW YORK TIMES. Trump Says Coronavirus Cure Cannot ‘Be Worse Than the Problem
Itself’. 23 de março de 2020. Disponível em:
https://www.nytimes.com/2020/03/23/us/politics/trump-coronavirus-restrictions.html .
Acesso em 30 de abril de 2020.
VICISSITUDES DA PLUTOCRACIA
SEMIDEMOCRÁTICA BRASILEIRA
a cena fascista no cenário Bolsonaro-pandemia
Hudson Ribeiro
Doutorando em Educação pelo PPGE/Ufes,
professor da SEDU-ES e escritor do Instituto
Diferença Ontológica.
hudsribeiro@hotmail.com
Márcio Vaccari
Professor de História da Escola Monteiro e
chargista.
marciovaccari@yahoo.com.br
Vitor Cei
Doutor em Estudos Literários pela UFMG, professor
do DLL/PPGL/Ufes e pesquisador do Instituto
Diferença Ontológica.
vitorcei@gmail.com
1.
O capital dorme no Norte e acorda no Sul.
2.
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
3.
brasil dois mil e treze
as jornadas desvirtuam
lutas populares
4.
vem dois mil e quatorze
horrores eleitorais
garras da elite
5.
dois mil e dezesseis
golpe rápido a galope
direita farsante
6.
eis dois mil e dezoito
bote da naja fascista
desrazão brutal
7.
dois mil e dezenove
besta fera líder vil
rebanho insano
8.
dois mil e vinte chega
patíbulo pandemia
capital desnudo
9.
O capital? Dorme no Norte e acorda no Sul.
O capital dorme no Norte e acorda no Sul.
10.
11.
Em terras brasileiras, Jair Messias Bolsonaro, eleito
presidente da República em novembro de 2018, faz as
vezes de despertador. Considerado pela crítica política
mundial como um fascista a serviço dos interesses
econômicos estadunidenses, o experimentado político
representa um fenômeno admirável de prestidigitação
psicossocial. Manejando habilmente um estilo chulo de se
comunicar, Bolsonaro destila sem trégua uma pauta moral
eivada de ódio, baseada em justificativas as mais
simplórias possíveis, alheias a qualquer parâmetro
reconhecido pelas comunidades científica e filosófica, e,
pasmemo-nos, capaz de arrebanhar cerca de 30% da
população, incluindo-se aí aquelas parcelas impactadas
material e simbolicamente por suas ações:
desempregados, trabalhadores informais, trabalhadores
uberizados, pobres, mulheres, negros, indígenas,
nordestinos, comunidade LGBTQI – atualmente, doentes de
COVID-19 – entre outros grupos ostensivamente
discriminados.
12.
13.
14.
A tentativa de compreensão do caso tornou comum entre
revolucionários e reformistas de esquerda a pergunta
pelos motivos do sucesso alcançado pelo líder, batizado
pelo conjunto de adoradores como “Mito”. Como explicar a
adesão apaixonada de quase um terço das brasileiras e
dos brasileiros a um político que se mostrou
absolutamente inoperante em 30 anos de mandatos no
15.
16.
Jamais deixou de haver no Brasil escravocrato-
latifundiarista pós-“redemocratização” (1985), cidadãos e
cidadãs saudosos da ditadura militar (1964-1985) – de
10+6+1.
Também baratas comemoram vitórias de inseticidas.
Tontas!
18.
Antecedentes - Em 2013, a exemplo das manifestações
populares que vinham ocorrendo desde 2008 em mais de
100 países ao redor do mundo, o acirramento das
contradições inerentes às relações entre Capital e
Trabalho/ Mercadoria e Direitos Sociais ganha expressão
nas ruas de milhares de cidades brasileiras. A partir dos
levantes, intitulados Jornadas de Junho ou Revoltas de
Junho, desloca-se o valor da política nas relações
cotidianas da população. Vem à tona uma polarização
explícita. Surgem nomenclaturas como coxinhas e
mortadelas, designando, respectivamente, manifestantes
de direita e militantes de esquerda. As Jornadas, iniciadas
pelo Movimento Passe Livre, em São Paulo, sob a pauta do
19.
Em 2018, 57,8 milhões de eleitores, influenciados por
notícias falsas e motivados por afetos como ódio e
ressentimento, elegeram um presidente da República que
personifica o machismo, o racismo, o autoritarismo, a
tortura... Em junho de 2020, cerca de 32% da população
considera o desgoverno da barbárie bom ou ótimo. As
mesmas pesquisas mostram que cerca de 46% dos
brasileiros confiam em Bolsonaro. Como esse fenômeno
começou? Poderíamos fazer uma extensa retrospectiva e
dizer que o bolsonarismo surgiu em 1988, quando Jair
Messias Bolsonaro foi eleito vereador no Rio de Janeiro. No
20.
21.
As estratégias e táticas dos bolsonaristas assemelham-se
àquelas dos agitadores fascistas norte-americanos
descritas por Theodor Adorno no ensaio “Teoria freudiana
e o padrão da propaganda fascista”. Eles usam técnicas
manipuladoras e se aproveitam do descontentamento, dos
medos e dos ressentimentos de parcelas da população,
criando inimigos que corporificam a “força do mal” que
22.
Enquanto o guru Olavo de Carvalho atua na Internet,
usando a retórica do ódio para fomentar a “guerra cultural
bolsonarista” (ROCHA, 2020), a Frente Parlamentar
Evangélica atua no Congresso Nacional, desempenhando
uma função policial, pois o seu principal objetivo é garantir
o acompanhamento e a avaliação de todos os projetos de
lei em tramitação na Câmara Federal a fim de evitar a
aprovação daqueles contrários à moralidade cristã mais
conservadora. Assim, se opõe a temas como Direitos
Humanos, Multiculturalismo, educação sexual,
igualdade racial e de gênero, direito ao aborto, eutanásia,
descriminalização do uso de drogas e casamento civil
entre pessoas do mesmo sexo. E os militares ocupam cada
vez mais cargos no governo. As Forças Armadas servem
ao bolsonarismo, como tropas fiéis, ou servem-se do
bolsonarismo, manipulando-o para alcançar objetivos
próprios? Eis a questão.
23.
24.
Enquanto as entidades científicas de todo o mundo
recomendavam o afastamento social, o bolsonarista
Aloísio Falqueto, infectologista e professor do Centro
Biomédico da Universidade Federal do Espírito Santo, em
manifestação de rua pró-Bolsonaro, ocorrida em Vila Velha
(ES) no dia 3 de maio de 2020, afirmou: “Não existe no
mundo nenhuma prova científica de que esse isolamento
total barra a transmissão de vírus de alta infectividade.
Essa é a verdade, e ponto final.” Após a fala, um dos
25.
27.
Estudo preliminar para a tela Bolsonarismo, luta de
classes e pandemia.
28.
29.
Fazendo as vezes de massa órfã de amor paterno, a horda
bolsonarista vive em estado de desesperada indigência
frente ao risco de perda do líder – cuja inconsequência e
imaturidade psíquica geraram nos últimos meses em torno
de 30 pedidos de impeachment. Trata-se de ininterrupta
antecipação do pânico, conjugada com uma perseverante
resistência a ele. A proteção ao líder representa
30.
O bolsonarismo se vale da ideologização tácita de todo e
qualquer discurso alheio à extrema direita como tática de
negação do diálogo, do contraditório, da argumentação e
como justificativa para a trolagem ostensiva. Questão do
gozo no idêntico, eliminando-se a diferença.
32. ENTREVISTA I
Professor Emerson Campos, a partir de seus estudos sobre
a Escala F, elaborada por Theodor Adorno e colaboradores
em Estudos sobre a personalidade autoritária, que
avaliação o senhor faz sobre a corrente consideração de
que o bolsonarismo é eivado de características fascistas?
Trata-se de afirmação cientificamente abalizada ou, ao
contrário, não se aplica ao movimento de extrema direita
em curso no Brasil?
33. ENTREVISTA II
Professor Robson Loureiro, como as pesquisas sobre
indústria cultural, desenvolvidas pelo senhor ao longo dos
últimos 25 anos, se colocam no movimento de
interpretação da posição da mídia corporativa brasileira
na construção do bolsonarismo?
37.
39.
40.
42.
Por trás destes traços mais aparentes, está a disputa pela forma
produtiva no mundo: a reconfiguração das relações de produção
com o emprego de inteligência artificial na automatização das
linhas produtivas, que vem sendo liderada pela China. Esta nova
forma produtiva é compatível com a uberização (trabalho
intermitente) como relação de trabalho imposta às parcelas da
classe trabalhador expulsas do emprego estável, seja ele formal
ou informal. Estão por trás dos traços mais visíveis da crise,
portanto, os diferenciais de produtividade entre EUA e China; a
deslocalização das unidades produtivas estadunidenses em
direção à Ásia; a impossibilidade de retomada das taxas de lucro
nos EUA desde a generalização da crise em 2008; a não detenção
pelos EUA de tecnologias fundamentais para a transformação
das relações de trabalho e automatização das linhas de
produção, como o 5g; a centralização de capital. (GOUVÊA, 2020,
p. 20)
47. FREUD I
Em Psicologia das massas e análise do eu, Freud investiga
o fato de que o indivíduo, ao participar de um agrupamento
coletivo, isto é, de uma “massa psicológica”, “pensa, sente
e age de modo completamente distinto do esperado”
(FREUD, 2011, p. 17). A definição de massa, a compreensão
48. FREUD II
Psicologia das massas e análise do eu desperta analogias.
Afinada ao processo de deslegitimação do bolsonarismo, a
leitura faz Jair Messias Bolsonaro aparecer como o pai
amoroso que une a massa carente de afeto. Na massa, o
vapor de presente
mal resiliente
facada no tempo
do será da gente
na tinta da pele
a grimpa da febre
assopra catrinas
na vela da lebre
calafrio mórbido
pútrido estripo
expele o que insiste
agônico em riste
corpo febril
corpo fabril
corpo covil
corpo nihil
REFERÊNCIAS
BORGES, Jorge. Ficções. Trad. Carlos Nejar. São Paulo: Globo, 2001.
CEI, Vitor; DANNER, Leno; OLIVEIRA, Marcus Vinicius Xavier de; BORGES,
David G. (orgs). O que resta das jornadas de junho. Porto Alegre: Editora
Fi, 2017.
KRIEGER, Edu. “Cajuína, paródia com Edu Krieger”. YouTube, 28 mai. 2020.
Disponível em: <https://youtu.be/OI0GP7p4KsM>. Acesso em: 03 jul. 2020.
ENCONTROS GRAVADOS
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor W. Teoria da semiformação. In: PUCCI, B.; ZUIN, A.A.S.; LASTÓRIA,
L.A.C.B. (Orgs.). Teoria crítica e inconformismo: novas perspectivas de pesquisa.
Campinas: Autores Associados, 2010.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade
neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
______. Hiperativos: abaixo a cultura do déficit de atenção. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2016.
Fernando Soares
Poeta. Autor do livro de poesia "Alguns Versos"
(Editora Cartonera).
fernando-soares02@hotmail.com
Ele não
pode durar...
Ele não
Palavrão; demissão...
“Passar a boiada”,
25
Disponível em: http://congresso2020.ufba.br/#schedule. Acesso em 28 de maio de
2020.
26
Disponível em: https://www.youtube.com/user/webtvufba. Acesso em 28 de maio de
2020.
27
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6w0vELx0EvE. Acesso em 29 de
maio de 2020.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor. Minima Moralia. Tradução de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 2017.
______. Rua de mão única: infância berlinense: 1900. Tradução de João Barrento. Belo
Horizonte: Autêntica, 2013b.
28
Parte das reflexões deste ensaio foi apresentada
em maio de 2018, na V Semana de Letras - Língua
e Literatura: resistências na Educação, no Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia (Ifes),
campus Vitória.
PALAVRAS INICIAIS
alter Benjamin, ao ponderar Sobre o conceito de História, em
W Magia e Técnica, Arte e Política, obra cuja publicação original
se deu em 1936, assegura que “A tradição dos oprimidos nos
ensina que o “estado de exceção” em que vivemos é, na verdade, a regra
geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a
essa verdade.” Márcia Tiburi, no livro Como conversar com um fascista,
assevera que “[...] Juros sociais e políticos não cessam de ser cobrados
historicamente. O autoritarismo finge não existir o tempo histórico e
prega em nome de interesses imediatos”. A filósofa traz à baila uma
constatação embaraçosa e incômoda: discursos de ódio, simplórios,
rasteiros, violentos e imediatos custam. No contexto em que vivemos,
alguém paga. E caro.
sucessão ao trono por seu filho mimado e mandão, este que, por criar
leis absurdamente autoritárias, impôs a mudez coletiva ao povo.
O ENREDO
D
e 1964 a 1985, o Brasil vivenciou um dos períodos mais
tenebrosos e arrogantes de sua história: a Ditadura Militar.
Instaurado sob golpe, esse período foi caracterizado pela repressão,
cerceamento de liberdades individuais, tortura e morte (inclusive de
crianças), entrega de empresas ao capital estrangeiro, aumento da
dívida externa, perseguição, violência e censura. No ensaio Cultura e
Política, 1964-1969, Roberto Schwarcz chama a atenção para as práticas
de aniquilamento da cultura viva do momento, sobretudo para que esta
não chegue à “massa operária e camponesa”. Isso significa, por exemplo,
a amiúde perserguição ao setor cultural, vislumbrada na troca e censura
de professores, escritores, músicos, livros, editores, dentre outros.
29
UOL. Mandetta afirma que Bolsonaro tentou alterar a bula da cloroquina por decreto.
UOL. 2020. Disponível em: <https://atarde.uol.com.br/politica/noticias/2128105-
mandetta-afirma-que-bolsonaro-tentou-alterar-a-bula-da-cloroquina-por-decreto>.
Acesso: 22 maio 2020.
30
OLIVEIRA, Elida. MP que permite a Weintraub escolher reitores temporários durante a
pandemia pode atingir 19 universidades e institutos federais em 2020. G1. 2020.
Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/06/10/mp-que-permite-a-
weintraub-escolher-reitores-temporarios-durante-a-pandemia-pode-atingir-19-
universidades-e-institutos-federais-em-2020.ghtml>. Acesso: 10 jun. 2020.
31
CAMARGOS, DANIEL. Decreto que reduz proteção da Mata Atlântica espera assinatura
de Bolsonaro. UOL. 2020. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/meio-
ambiente/ultimas-noticias/reporter-brasil/2020/06/12/decreto-que-reduz-protecao-
da-mata-atlantica-espera-assinatura-de-bolsonaro.htm>. Acesso: 12 jun. 2020.
32
Todos os decretos do governo federal publicados no ano de 2020 podem ser
consultados em: <http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-
1/decretos1/2020-decretos>.
33
GAZETA DO POVO. Bolsonaro compartilha vídeo sobre artigo 142 com defesa de
intervenção militar. Gazeta do Povo. 2020. Disponível em:
<https://www.gazetadopovo.com.br/republica/breves/bolsonaro-video-artigo-142-
defesa-de-intervencao-militar/>. Acesso: 29 maio 2020.
34
CBN. Bolsonaro se desentende com ex-apoiadora, ataca OMS e critica quem acredita
na imprensa. CBN. 2020. Disponível em:
<https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/304468/bolsonaro-se-desentende-
com-ex-apoiadora-ataca-oms.htm>. Acesso: 11 jun. 2020.
35
URIBE, Gustavo; DELLA COLETTA, Ricardo; TEIXEIRA, Mateus. 'Quem manda sou eu', diz
Bolsonaro ao anunciar recurso contra decisão do STF que barrou Ramagem na PF. UOL.
2020. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/bolsonaro-
desautoriza-agu-e-diz-que-recorrera-ao-supremo-de-decisao-que-barrou-
ramagem-na-pf.shtml>. Acesso: 30 abr. 2020.
36
UOL. Bolsonaro incentiva invasão a hospitais para checar ocupação. UOL. 2020.
Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-
noticias/ansa/2020/06/12/bolsonaro-incentiva-invasao-a-hospitais-para-checar-
ocupacao.htm>. Acesso: 12 jun. 2020.
37
TEÓFILO, Sarah. Em vídeo, Bolsonaro diz querer população toda armada contra
'ditadura'. Correio Braziliense. 2020. Disponível em:
<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/05/22/interna_politic
a,857515/em-video-bolsonaro-diz-querer-populacao-toda-armada-contra-
ditadura.shtml>. Acesso: 24 maio 2020.
38
MODELLI, Lais; MATOS, Thais. Como a pandemia de coronavírus impacta de maneira
mais severa a vida das mulheres em todo o mundo. G1. Disponível em:
<https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/04/19/como-a-pandemia-de-
coronavirus-impacta-de-maneira-mais-severa-a-vida-das-mulheres-em-todo-o-
mundo.ghtml>. Acesso: 19 abr. 2020.
39
DE MELO, Maria Luisa. Primeira vítima do RJ era doméstica e pegou coronavírus da
patroa no Leblon. UOL. 2020. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-
noticias/redacao/2020/03/19/primeira-vitima-do-rj-era-domestica-e-pegou-
coronavirus-da-patroa.htm>. Acesso: 30 mar. 2020.
40
COELHO, Henrique; JUNIOR, Eudes; PEIXOTO, Guilherme. Menino de 14 anos morre
durante operação das polícias Federal e Civil no Complexo do Salgueiro, RJ. G1. 2020.
Disponível: < https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/19/menino-de-14-
anos-e-baleado-durante-operacao-no-complexo-do-salgueiro-rj.ghtml>. Acesso: 20
maio 2020. G1 SÃO PAULO. Dois policiais militares de folga são apontados como
suspeitos da morte de adolescente de 15 anos na Zona Sul de SP, diz DHPP. G1 SP.
Disponível em: < https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/16/dois-policiais-
militares-de-folga-sao-apontados-como-suspeitos-da-morte-de-adolescente-de-15-
anos-na-zona-sul-de-sp-diz-dhpp.ghtml>. Acesso: 16 jun. 2020.
41
O GLOBO. Polícia indicia por homicídio patroa da mãe de menino que caiu do 9º andar
no Recife. O GLOBO. 2020. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/policia-
indicia-por-homicidio-patroa-da-mae-de-menino-que-caiu-do-9-andar-no-recife-
24462723>. Acesso: 05 jun. 2020.
42
CORREIO BRAZILIENSE. Levantamento mostra que mulheres são minoria nas cúpulas
dos partidos. CORREIO BRAZILIENSE. 2020. Disponível em:
<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2019/06/21/interna_politica
,764686/mulheres-sao-minoria-nas-cupulas-dos-partidos.shtml>. Acesso: 05 jun. 2020.
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 2012.
BRUM, Eliane. Brasil sofre de fetiche da farda. Jornal El País. 2020. Disponível:
<https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-05-27/brasil-sofre-de-fetiche-da-farda.html>.
Acesso em 28 maio 2020.
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1970.
MACHADO, Ana Maria. Silenciosa Algazarra. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 290
p.
ROCHA, Ruth. O reizinho mandão. 27. ed. São Paulo: Salamandra, 2013. 40 p. (Série: O
reizinho mandão). Ilustrações de Walter Ono.
SAFATLE, Vladimir. A esquerda que não teme dizer seu nome. 1. Ed. São Paulo: Três
Estrelas, 2013.
SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar: ensaios selecionados. São Paulo: Companhia
das Letras, 2014.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019.
TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir Pinheiro. O que resta da ditadura: a exceção brasileira.
Boitempo Editorial, 2015.
TIBURI, Márcia. Como conversar com um fascista. Rio de Janeiro: Record, 2015.
TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009. Tradução de Caio
Meira.
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a Literatura Infantil Brasileira. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2009.
LISTA DE DESFAZERES43
43
Poesia publicada originalmente no projeto Pão e Poesia, de
Sabará (MG).
LISTA DE DESFAZERES
Os beijos ficam
para a próxima encarnação.
TEMPOS DE COVÍDEOS E O
IMAGINÁRIO DA GUERRA44
44
Este texto foi escrito no momento de pandemia do Covid-
19. A proposta foi escrever um conto, sem nenhuma
preocupação com a verdade e com os fatos científicos. Todos
os personagens são fictícios.
parecia ter caído uma bomba atômica, que espalhou pelo mundo, um
desejo de justiça.
Bastante noticiado pela grande mídia, viu nas capas dos jornais
a formação de um Centro de Campanha de Combate ao Covídeo do
desafeto, operação lobo-guará. Seus dias de príncipe estavam contados.
O Deputado Renan Lima enviou um áudio informando que precisava
Isolad@s
ESTADO DE DIREITO OU DE
MISÉRIA? EIS A QUESTÃO.
OS MOVIMENTOS SOCIAIS, A
DEMOCRACIA E UMA NOVA
SOCIABILIDADE.
Alline Garcia
Possui licenciatura em Filosofia pela Universidade
Federal do Espírito Santo (Ufes). É pesquisadora do
Nepefil/Ufes. Entre outros tópicos, investiga a dialética
materialista na fase tardia de Theodor Adorno e no
jovem Marx.
alline-filosofia@hotmail.com
PREFÁCIO
presente ensaio insere-se na constelação das reflexões
O fomentadas no debate público e acadêmico neste período
pandêmico (COVID-19), a partir de uma perspectiva crítica,
prospectiva e acessível aos mais diversos estratos de leitores/leitoras com
interesse na discussão. As humanidades apresentam diagnósticos para a
atual crise civilizatória sob os mais diversos prismas do fenômeno - que é
amplo e congruente em suas convergências enquanto pandemia -, ou seja,
incide em diversas esferas da sociedade, como a ambiental, política,
econômica e social.
45
Cf: MARINI, Ruy. Dialética da Dependência. Rio de Janeiro, Editora Expressão Popular, 2005.
46
Cf: https://quilombacao.wordpress.com/quem-somos/.
47
Cf: PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo: Companhia
das Letras, 2011, MOURA, Clóvis. Dialética radical do Brasil negro. 2ª ed. São Paulo: Fundação
Maurício Grabois; Anita Garibaldi, 2014, GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo:
Fundação Perseu Abramo, 2010.
48
Definições já clássicas sobre os movimentos sociais citam como suas características
básicas o seguinte: possuem identidade, têm opositor e articulam ou fundamentam-se em um
projeto de vida e de sociedade. Historicamente, observa-se que têm contribuído para
organizar e conscientizar a sociedade; apresentam conjuntos de demandas via práticas de
pressão/mobilização; têm certa continuidade e permanência. Não são só reativos, movidos
apenas pelas necessidades (fome ou qualquer forma de opressão); podem surgir e
desenvolver- -se também a partir de uma reflexão sobre sua própria experiência. Na
atualidade, apresentam um ideário civilizatório que coloca como horizonte a construção de
uma sociedade democrática (GOHN, 2011. p.4). Conferir as obras de Maria da glória Gohn sobre
a sociologia dos movimentos sociais: Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e
contemporâneos, Edições Loyola São Paulo: 1997, Novas teorias dos movimentos sociais, São
Paulo: Edições Loyola: 2008.
49
As políticas públicas são frutos de processos ideacionais, por meio dos quais se definem os
problemas que devem merecer atenção pública e as formas de solução desses problemas.
Essas ideias surgem e se transformam por meio de experiências práticas ao longo do tempo
e em diferentes localidades e níveis. Tais experiências não somente produzem informações
“técnicas” sobre a adequação de uma definição de problema ou sobre a viabilidade de uma
solução, mas também geram recursos e relacionamentos para defender e implementar ideias
específicas (Abers e Keck, 2013; Ansell, 2011; Hajer e Wagenaar, 2003; Zittoun, 2014). Por fim, a
construção das políticas tem uma dimensão relacional, na medida em que seus resultados
dependem das interações entre atores políticos e sociais estratégicos, em condições
institucionais e conjunturais dadas (Tatagiba, Abers, Silva. 2018).
50
“Art. 1º É instituída, a partir de 2005, a renda básica de cidadania, que se constituirá no direito
de todos os brasileiros residentes no País e estrangeiros residentes há pelo menos 5 (cinco)
frentes "Brasil Popular e Povo sem Medo", que reuniu diversos movimentos
sociais e centrais políticas em nome de um projeto democrático que amenize
as consequências da crise sanitária e econômica, conforme consta na
apresentação do documento. Em Vitória (ES), os movimentos sociais vêm
atuando nas mais variadas frentes de combate/amenização das
desigualdades ampliadas durante a pandemia nos grupos mais vulneráveis,
a exemplo disso, podemos citar a "Unidade Negra Capixaba de Combate à
Covid-19" que reuniu diversos coletivos, representantes religiosos das
religiões de matriz africana, professores, agentes comunitários, dentre
muitos outros grupos vinculados ao movimento negro capixaba para a
elaboração de uma carta e de um baixo-assinado52 reivindicando ao governo
do Estado decreto de lockdown até a diminuição da curva de contágio, entre
outras medidas de prevenção e cuidado da população negra. O coletivo de
53
mulheres "Juntas e seguras” lançou uma cartilha informativa para o
enfrentamento de violência doméstica contra mulheres durante o isolamento
social. O Levante popular da juventude/ES54 também atuou junto às periferias
da Grande Vitória com a campanha "NÓS POR NÓS" na distribuição de cestas
básicas e materiais de higiene, foram mais de duas toneladas de alimentos
doados, contemplando mais de 150 famílias em situação de vulnerabilidade.
52
Cf:GOBBO, Elaine Entidades do Movimento Negro realizam protesto nesta quinta no Centro
de Vitória, 02 de Junho, 2020, Disponível:https://www.seculodiario.com.br/saude/entidades-
do-movimento-negro-realizam-protesto-nesta-quinta-no-centro-de-vitoria, Acesso em: 10
de Julho, 2020.
53
Cf: www.juntaseseguras.com.br.
54
Cf campanha NÓS POR NÓS na região da Grande Vitória pelo Instagram: @levantees.
55
Cf: http://forumdanatureza.org.br/sobreoforum/.
REFERÊNCIAS
ABDALLA, Maurício. O princípio da cooperação: em busca de uma nova racionalidade. Ed
Paulus, 2ºed, São Paulo, 2004.
ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo. In SADER, Emir & GENTILI, Pablo (orgs.) Pós-
neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
BRASIL, Lei Nº 10835, de 8 de janeiro, de 2004. Dispõe sobre a renda básica de cidadania e
outras providências, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2004/Lei/L10.835.
BORÓN, Atílio. A sociedade civil depois do dilúvio neoliberal. In SADER, Emir & GENTILI, Pablo
(orgs.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1995.
FONTES, Virgínia. Capitalismo, crises e conjuntura. São Paulo, n. 130, p. 409-425, dez. 2017
https://doi.org/10.1590/0101-6628.116.
HEGEL, Friedrich. Enciclopédia das ciências filosóficas em compêndio. Trad: Paulo Meneses,
São Paulo, Loyola, 1995.
____. Fenomenologia do Espírito. Trad: Paulo Meneses. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
____. Novas teorias dos movimentos sociais. São Paulo: Edições Loyola: 2008.
____. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. Edições Loyola,
São Paulo, 1997.
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2010.
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. Trad: Rubens Enderle e Leonardo de Deus,
2ª ed. revista, São Paulo, Boitempo, 2010.
____. Sobre a questão judaica. Trad: Nélio Schneider, São Paulo, Boitempo, 2010.
MARINI, Ruy. Dialética da Dependência. Rio de Janeiro, Editora Expressão Popular, 2005.
MOURA, Clóvis. Dialética radical do Brasil negro. 2ª ed. São Paulo: Fundação Maurício Grabois;
Anita Garibaldi, 2014.
NOBRE, Marcos. Como nasce o novo. São Paulo: Ed. Todavia, 2018.
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
IMAGINANDO O FIM DO
CAPITALISMO
Poema do beco
(Manuel Bandeira)
que ele deixe para trás qualquer esperança – como se tivéssemos adentrado
no inferno de Dante.
Diante desse quadro, Žižek, por mais que tenha tido fascínio pelos
filmes distópicos, vai buscar em um filme de outro gênero a alegoria-chave
do que o coronavírus pode representar para as sociedades capitalistas.
Trata-se de Kill Bill, o filme de Tarantino de artes marciais e com pitadas de
faroeste. Argumenta:
Beatrix Kiddo finalmente está em face de Bill. Ela lhe aplica um golpe
lendário das artes marciais. Um golpe que necessariamente se demora para
ter todos os efeitos concretizados. Seria possível que a crise atual seja esse
golpe que só se revelará mortal mais adiante? Isto é, o coronavírus não torna
ainda mais evidentes as falhas e dificuldades do sistema capitalista em
construir uma sociedade justa? Além de, é claro, evidenciar a crise ecológica
iminente? É esse, afinal, o sentido do questionamento feito por Žižek.
apontar para uma discussão anterior, que diz respeito ao modo como a
ideologia e a imaginação aparecem na indústria cultural e na arte de
vanguarda. Para tanto, tomo como referência a filosofia do integrante da
Escola de Frankfurt Theodor Adorno, que foi leitura importante para a
constituição do pensamento do próprio Jameson.
A frase muito repisada de Adorno sobre Auschwitz não faz jus à sua
reflexão sobre arte, espalhada por vários textos dedicados à música, à
literatura, e, em particular, à sua Teoria estética publicada inacabada e
apenas postumamente. De acordo com isso, parece ser relevante
lembrarmos da passagem da Dialética negativa em que Adorno se retifica,
pensando na importância da expressão de sofrimento: “O sofrimento
perenizante tem tanto direito à expressão quanto o martirizado tem de
berrar; por isso, é bem provável que tenha sido falso afirmar que depois de
Auschwitz não é mais possível escrever nenhum poema” (ADORNO, 2009, p.
300).
arte deve ser relaxante, distrair dos problemas ou mesmo configurar uma
sociedade utópica e libertada. É em sintonia com essa concepção que vimos
surgir editais de fomento da cultura que querem deliberadamente
contemplar projetos que não se relacionam com a pandemia. Ou mesmo uma
Secretária da Cultura que defende a leveza na arte. Com isso, não há fomento
ou incentivo para aqueles que buscar expressar as dores relacionadas ao
covid-19. E isso é o pior que poderíamos fazer pela memória dos que se foram
e daqueles que sofrem as tensões impostas pela quarentena.
CINECLUBE ABISMO
m janeiro de 2020, ministrei uma disciplina de verão para a Pós-
E Graduação em Letras e para a Graduação em Filosofia da UFES,
sobre Žižek e o cinema. A partir desse encontro, tive a seguinte
ideia em conjunto com colegas e ex-alunos: a de organizar um grupo de
estudos sobre a Teoria estética, de Adorno, e usar uma das salas da
universidade para sediar o encontro. Com a emergência do coronavírus,
tivemos todos que nos adaptar a uma nova realidade. Disso surgiu uma
segunda ideia: a de fazermos discussões sobre filmes relacionados à
pandemia, distopias e catástrofes.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento : fragmentos filosóficos.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985.
ADORNO, Theodor Wiesengrund. Dialética negativa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.
ŽIŽEK, Slavoj. Lacrimae rerum: ensaios sobre o cinema moderno. São Paulo: Boitempo, 2009.
ŽIŽEK, Slavoj. Pandemia: Covid-19 e a reinvenção do comunismo. São Paulo: Boitempo, 2020.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (Coríntios, 13: 7)
Quieto.
Solitários e acompanhados de
ansiedade&incerteza
56
Este ensaio foi publicado originalmente no site de notícias
sobre geopolítica e relações internacionais Fora!, em 10 de
abril de 2020. O Original está disponível em
https://fora.global/2020/04/10/analise-a-uniao-europeia-
ira-sobreviver-ao-coronavirus/.
57
https://www.bbc.com/news/world-europe-52211650.
58
https://www.dn.pt/poder/discurso-de-ministro-holandes-e-repugnante-diz-costa-
11992373.html.
59
https://www.dn.pt/mundo/covid-19-rei-de-espanha-disse-a-marcelo-reconhecer-o-
discurso-de-costa-sobre-holanda-12031359.html.
60
https://amp.theguardian.com/world/2020/apr/05/spanish-pm-survival-eu-rests-
response-coronavirus-crisis.
61
https://www.youtube.com/watch?v=mPJKLuJA6NQ&feature=youtu.be.
62
https://www.youtube.com/watch?v=7E74Y0ylrFY.
63
https://fora.global/2019/10/30/reino-unido-impasse-do-brexit-leva-a-novas-eleicoes-em-
12-de-dezembro/.
64
https://fora.global/2019/12/05/franca-greves-contra-pacote-de-reformas-paralisam-o-
pais/.
65
https://fora.global/2019/11/11/espanha-eleicoes-gerais-podem-dificultar-formacao-de-
novo-governo/.
66
https://fora.global/2019/11/27/europa-nova-presidente-da-comissao-europeia-promete-
agenda-ambiciosa/.
67
https://dailybrief.oxan.com/Analysis/DB251718/COVID-19-threatens-to-fragment-the-EU-
further.
68
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/04-abr-2020/as-escolhas-da-europa--12027828.html.
69
https://www.theguardian.com/commentisfree/2020/apr/10/coronavirus-crisis-truth-eu-
union-financial-rescue.
70
https://www.gisreportsonline.com/opinion-macrons-european-defense-initiative-can-
work,defense,3132.html.
71
https://fora.global/2020/03/30/hungria-parlamento-aprova-que-viktor-orban-governe-
por-decreto/.
DESCONFINADOS
Thiago Verissimo.
Possui graduação em Letras-português (2004),
mestrado (2008) e doutorado (2017) em Letras -
ênfase: estudos literários - pela Universidade Federal
do Espírito Santo (Ufes). Atualmente é professor da
Faculdade Europeia de Vitória (Faev) e funcionário da
Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo
(Sedu).
thiagocverissimo@gmail.com
INTRODUÇÃO
m meados de janeiro de 2020, o mundo foi bombardeado por
E informações acerca da epidemia por um novo coronavírus na
província chinesa de Wuhan, primeiro epicentro da doença.
Rapidamente se tornou uma pandemia atingindo diversos países e
continentes. Mesmo se tratando de uma matéria de saúde pública, a política
não descansa, afinal esta movimenta a polis e enquanto houver comunidade
haverão conflitos.
72
Ainda não existe uma versão em português para a obra, cujo título pode ser traduzido como
“Stasis: guerra civil como paradigma político”.
73
“The unification of the multitude of citizens in a single person is something like a perspectival
illusion; political representation is only an optical representation (but no less effective on
account of this)”.
74
Na obra O Príncipe, Maquiavel apresenta a relação de conflitos de desejos entre o povo e os
grandes. No referido trecho, constante no capítulo IX, o filósofo florentino explica que o desejo
do povo é viver livremente e não ser oprimido pelos grandes, enquanto os grandes desejam o
poder para governar e oprimir o povo. (Cf. Cardoso, 2019).
Outra questão que merece reflexão é uma das medidas adotadas pelo
governo brasileiro, a saber a que garantiu o pagamento de Auxílio
Emergencial75 no valor de R$ 600,00 para os cidadãos que se enquadram em
determinadas categorias socioeconômicas76. Ao que parece não houve uma
75
“É um benefício financeiro destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores
individuais (MEI), autônomos e desempregados, e tem por objetivo fornecer proteção
emergencial no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia do Coronavírus -
COVID 19” (CAIXA, 2020).
76
“Tem direito ao benefício o cidadão maior de 18 anos, ou mãe com menos de 18, que atenda
a todos os seguintes requisitos: pertença à família cuja renda mensal por pessoa não
ultrapasse meio salário mínimo (R$ 522,50), ou cuja renda familiar total seja de até 3 (três)
salários mínimos (R$ 3.135,00); e que não esteja recebendo benefício previdenciário ou
assistencial, seguro-desemprego ou outro programa de transferência de renda federal,
exceto o Bolsa Família; que não tenha recebido em 2018 rendimentos tributáveis acima de R$
28.559,70 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e nove reais e setenta centavos); esteja
desempregado ou exerça atividade na condição de: microempreendedores individuais (MEI);
contribuinte individual da Previdência Social; Trabalhador Informal, de qualquer natureza,
inclusive o intermitente inativo” (CAIXA, 2020).
deixar claro quanto a esta última questão é que ela retrata a falta de
pertencimento com o mundo no qual se vive, com as comunidades e
realidades às margens das suas. Como construir um “mundo novo”, a partir
desse presente, com “novas” relações entre os seres humanos e com novos
compromissos do poder público para com a população? As medidas atuais
são eficientes? Dunker esclarece:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessas condições [de crise], a consciência filosófica
sempre foi interpelada com vistas a uma tarefa que
pertence essencialmente à sua esfera de
responsabilidade espiritual: aquela que consiste em
formular um diagnóstico crítico do presente, lastreado
em rememoração histórica, com o propósito de aportar
alguma clareza em momentos sombrios e de incerteza,
quando a tomada de decisões torna-se urgente e
inexorável […] Ora, este é justamente o cenário no qual
se desenrola o drama da reflexão ética contemporânea
(GIACOIA, 2018, p. 139-140, colchetes meus).
77
Aqui faço referência ao método socrático denominado maiêutica.
REFERÊNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Tradução de Iraci D. Poleti. 2ª ed. - São Paulo: Boitempo,
2004.
______. Stasis: a civil war as a political paradigm. Tradução de Nicholas Horen. Stanford
University Press: Califórnia. 2015.
GOVERNO DO ES. “Governador anuncia prorrogação da suspensão das aulas presenciais até
31 de agosto”, em 24 de julho de 2020. Disponível em:
<https://www.es.gov.br/Noticia/governador-anuncia-prorrogacao-da-suspensao-das-aulas-
presenciais-ate-31-de-agosto>. Acesso em 26/07/2020.
ISTOÉ. “Coronavírus: favelas do Rio de Janeiro se preparam para o pior”, 23 de março de 2020.
Disponível em: <https://istoe.com.br/coronavirus-favelas-do-rio-de-janeiro-se-preparam-
para-o-pior/>. Acesso em 09/06/2020.
______. “Alemanha se protege de ofensiva de Trump por potencial vacina contra o coronavírus”,
16 de março de 2020. Disponível em: <https://istoe.com.br/alemanha-se-protege-de-ofensiva-
de-trump-por-potencial-vacina-contra-o-coronavirus/>. Acesso em 17/06/2020.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Tradução de Lívio Xavier. 4ª ed. – São Paulo: EDIPRO, 2015 (Série
Clássicos Edipro).
RIBEIRO, Renato Janine. Ao leitor sem medo: Hobbes escrevendo contra o seu tempo. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 2ª ed. 2004.
PANDEMIA E PANDEMÔNIO
NEOFASCISTA: O MICROFASCISMO
BRASILEIRO EM TEMPOS DE
COVID-19
78
Cf. STANLEY, 2018.
79
Sobre o conceito de pandemônio na obra de John Milton, vide nota de rodapé nº. 83.
80
Obviamente há um significante impacto econômico, embora não seja o caso de entrar
nesta seara aqui.
81
Mais à frente, explicamos melhor os conceitos de microfísica social e microfascismo.
82
Conta Paxton que (2007, p. 15-16) “Ao fim da Primeira Guerra Mundial, Mussolini cunhou
o termo fascismo para descrever o estado de ânimo do pequeno bando de ex-soldados
nacionalistas e de revolucionários sindicalistas pró-guerra que vinha se reunindo ao seu
redor. Mesmo então, ele não possuía o monopólio da palavra fascio, que continuou sendo
de uso geral entre grupos ativistas de diversos matizes políticos. Oficialmente, o
fascismo nasceu em Milão, em um domingo, 23 de março de 1919. Naquela manhã, pouco
mais de cem pessoas, entre elas veteranos de guerra, sindicalistas que haviam apoiado
a guerra e intelectuais futuristas, além de alguns repórteres e um certo número de
meros curiosos, encontraram-se na sala de reuniões da Aliança Industrial e Comercial
de Milão, [...] para ‘declarar guerra ao socialismo (...) razão de este ter-se oposto ao
nacionalismo’. Nessa ocasião, Mussolini chamou seu movimento de Fasci de
Combattimento, o que significa, aproximadamente, ‘fraternidades de combate’.”
83
Como estamos a abordar a Poética de Aristóteles, nada mais apropriado do que
resgatar o conceito de pandemônio – palavra composta pelos termos gregos pân
(“todos”) e daimónion (“demônios”) –, encontrado na obra Paraíso Perdido, de autoria do
escritor e poeta inglês John Milton (1608-1674). Trata-se de um poema épico que retrata
a visão cristã da origem do mundo e dos homens, no qual é narrada a rebelião de Satã
e sua expulsão do paraíso, que o leva a convocar uma assembleia de demônios (leia-se:
pandemônio). Segundo Milton, o pandemônio designa o palácio de Satã erguido no
inferno, onde os pares infernais ali se assentam em conselho.
84
Conforme destaca Chauí (2000, p. 9), “Se também dizemos mito fundador é porque, à
maneira de toda fundatio, esse mito impõe um vínculo interno com o passado como
origem, isto é, com um passado que não cessa nunca, que se conserva permanente
presente e, por isso mesmo, não permite o trabalho da diferença temporal e da
compreensão do presente enquanto tal” (2000, p. 9); tratamos melhor disto mais à frente.
85
No total, são seis os elementos, partes ou momentos que constituem a tragédia em
Aristóteles (mito, caracteres, elocução, pensamento, espetáculo e música).
Por sua vez, como fica a costura destes três elementos que
extraímos da tragédia aristotélica sob a inflexão antropológica da chave
de leitura aqui proposta? Vejamos: o mito e sua elocução em tempos de
pandemia da Covid-19, amplifica socialmente o pandemônio político
como espetáculo, isto é, um surto de histeria coletiva que reúne pessoas
na forma de associações e manifestações políticas de agentes da
86
No capítulo IV da Poética, diz ele: “Ao homem é natural imitar desde a infância – e
nisso difere ele dos outros seres, por ser capaz da imitação e por aprender, por meio da
imitação, os primeiros conhecimentos” (ARISTÓTELES, 2004, p. 40). A ciência moderna
sabe que o mimetismo não é algo exclusivo dos seres humanos, outras espécies como
os primatas ou até mesmo algumas aves, são capazes de realizar imitação e obter
aprendizado a partir desta, mesmo que de maneira profundamente limitada com relação
à espécie humana.
87
Conforme explica Leandro Konder (2009), o autoritarismo por si só não significa
fascismo.
88
Também o Jason Stanley, explica essa dinâmica em sua obra Como funciona o
fascismo: a política do “nós” e “eles” (2018).
que o seu país vai de mal a pior”. Dessa maneira, surge a demanda por
um mito antropomorfizado (um messias político) que pudesse “salvar” o
Brasil da pecha petista da corrupção e da “ameaça comunista”, sob a
missão de uma limpeza moral, diante da qual a pandemia do coronavírus
facilmente é desacreditada por esta narrativa política mitológica sob a
mítica ideológica do negacionismo científico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Covid-19, doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2,
A ganha força com a ousadia da ignorância e do egoísmo
humano totalizado na loucura da razão econômica capitalista
vivenciada pelos indivíduos sob a mítica das práticas discursivas
microfascistas. Neste contexto, diante da pluralidade de mediações que
constituem a crise contemporânea, com a chegada do elemento
pandêmico temos também uma determinação biológica socialmente
estabelecida entre, de um lado, o conteúdo das relações sociais, e de
outro, a complexidade dos processos de subjetivação que determinam a
forma das pessoas vivenciarem politicamente em suas práticas
discursivas, este conteúdo sob narrativas mitológicas de base
microfascista.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor W. A Teoria Freudiana e o Padrão da Propaganda Fascista. In: Blog da
Boitempo, publicado em 25. out. 2018. Disponível em: <<
https://blogdaboitempo.com.br/2018/10/25/adorno-a-psicanalise-da-adesao-ao-
fascismo/ >> Acesso em: 30. abril. 2020.
ARISTÓTELES. Poética. In: Aristóteles – Vida e obra. São Paulo: Editora Nova Cultural,
2004 (Coleção Os Pensadores), p. 32-75.
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O RESSURGIMENTO DA
IRRACIONALIDADE E O
SILENCIAMENTO DE VIDAS NA
PANDEMIA PELA COVID-19 NO
BRASIL
Kênia Faria Brant
Doutoranda em Educação (PPGE/Ufes), Mestra em
Estudos de Linguagens (Cefet-MG) e graduada em
Artes Visuais (UNIMONTES-MG). Pesquisadora no
Nepefil/Ufes e professora de Arte do IFMG – campus
Governador Valadares.
kenia.brant@ifmg.edu.br
89
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PANDEMIA E ISOLAMENTO:
[R]EVOLUÇÕES NO LIMITE DO CAOS
TEORIA DO CAOS
A teoria do caos, em tese, preceitua que pequenas alterações nas
condições iniciais de um determinado evento podem provocar reações
altamente desproporcionais no seu estado final. Foi a partir dos estudos do
meteorologista Edward Lorenz, na década de 1960, que a noção de
imprevisibilidade passou a permear o pensamento científico e servir como
base teórica para tentar identificar uma aparente ordem — influenciada por
leis precisas — em meio à aparente desordem do caos, que é quando não
se consegue observar claramente um padrão de comportamento entre os
elementos do sistema.
de cada grupo social, todos os elementos que compõem esse sistema aberto,
adaptativo e complexo, estão em constantes interações interna e externa,
nos níveis micro e macro, e evoluindo.
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COVID-19 E PÓS-VERDADE:
O ESCÁRNIO DA RACIONALIDADE
TÉCNICO-INSTRUMENTAL
91
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1995.
92
O coronavírus foi declarado uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no
último 11 de março, quando mais de 4,2 mil pessoas já haviam morrido da doença ao redor do
globo.
93
É importante tomar o conceito de necropolítica no sentido exato proposto por Achille
Mbembe a partir de sua releitura em Foucault, isso é, como a política de morte, a política que
vai direcionar todas as ações do estado para privilegiar a sobrevivência dos indivíduos de
alguns grupos sociais e aceitar a morte dos indivíduos de outros grupos (MBEMBE, Achille.
Necropolítica. São Paulo: N-1 edições, 2018).
94
Da 'gripezinha' ao 'e daí?', confira as reações de Bolsonaro enquanto aumentavam as mortes
pela pandemia no Brasil. Reportagem de O Globo publicada em 30 de abril de 2020.
95
Capitão Cloroquina venceu: mais gente nas ruas, novo recorde de mortes. Coluna Balaio do
Kotscho no Portal Uol publicada em 09 de abril de 2020.
96
Vídeo da entrevista disponível no Youtube em <https://youtu.be/qIDyw9QKIvw>. Acesso em 21
de maio de 2020.
97
ADORNO, T. W.; et al. The authoritarian personality. New York: Harper & Brothers, 1950.
98
Prova da persistência dessas condições é o discurso proferido pelo ex-secretário da Cultura
do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, em 16 de janeiro de 2020, quando, ao lançar o Prêmio
Nacional das Artes, replicou a estética (trilha sonora, aparência, disposição dos elementos no
vídeo, tom de voz) e um extenso trecho da mensagem divulgada por Goebbels antes de iniciar
a queima de livros na Alemanha nazista.
99
Lo stato d’eccezione provocato da un’emergenza immotivata. Texto de Giorgio Agamben em
Il Manifesto publicado em 26 de fevereiro de 2020.
100
Soma-se a essa discussão a “tréplica” de Giorgio Agamben, intitulada Chiarimenti
(Esclarecimentos, em tradução livre), publicada em no site da editora Quodlibet em 17 de
março de 2020.
101
Monitor and punish? Yes, please! Texto de Slavoj Žižek em The Philosophical Salon publicado
em 16 de março de 2020.
102
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos
filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
103
TÜRCKE, Christoph. Sociedade excitada: filosofia da sensação. Tradução de Antônio Zuin (et
al.). Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2010.
na idade mídia. Conferência: Filosofia, teoria social e Estado de exceção. 01-05 de out. de 2018.
Notas do congresso.
106
Para ilustrar essa perspectiva, basta verificar a tentativa do Ministério da Educação de
impor o regime de Educação à Distância em substituição às aulas presenciais, ação que
serviria de piloto para, num futuro não muito distante, enfraquecer ainda mais o labor docente
e a autonomia das universidades públicas.
107
ADORNO, Theodor W. Palavras e sinais: modelos críticos 2. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995.
108
O jornalismo como antifilosofia e a formação de indivíduos potencialmente fascistas na
sociedade excitada: uma análise dos comentários sobre o golpe de 2016 em Veja e Carta
Capital. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Espírito
Santo (PPGE/Ufes).
em xeque. E esse risco os donos de jornal não querem, preferem que não haja
reflexão, preferem o jornalismo como antifilosofia.
É certo que esse cenário de dor, onde não conseguimos sequer dizer
quem são nossos mortos, nos obriga a almejar uma reconstrução. É certo que
um outro mundo é preciso, um novo projeto de humanidade. Mais solidário,
com relações outras que não o capital especulativo, o mercado e a ganância
de banqueiros e barões da mídia. Reforço: a crise que nos atinge deixa como
única certeza a necessidade da reconstrução. As opções são múltiplas, mas
os caminhos principais me parecem esses dois: buscar a utopia e a esperança
de uma outra sociedade (sem classes) ou aumentar a aposta nos erros que
nos conduziram ao infortúnio atual. Sigo com a esperança desde já.
“CANÇÃO DA DESESPERANÇA”,
DE MARA CORADELLO109
Wilberth Salgueiro
Professor Titular de Literatura Brasileira na Universidade
Federal do Espírito Santo (Ufes). Mestre e Doutor em
Letras pela UFRJ, realizou pós-doutoramento em
Literatura Comparada (UFRJ/2006) e em Literatura
Brasileira (USP/2014). Neste livro também colabora com
“’Soneto contra o vírus e os viris”.
wilberthcfs@gmail.com
109
Texto publicado originalmente no Jornal Rascunho, em maio
de 2020.
atualiza a cada mórbido gráfico diário, a melancolia demora mais e mais (não
há tempo que seja bastante para elaboração do luto).
Eis que, entretanto, a flor vence a náusea: “A todos vocês e para mim:
desejo vida / Não desejo sobrevida, desejo vida: / dignidade, ‘andar
tranquilamente no país em que nasceu’, a segurança de fazer e acontecer,
sonhos na medida do real, ‘amantes de manhã, trabalhadores à tarde, poetas
à noite’, na sua soleira apenas os sonhos, desejos de alcançar o impossível e
não apenas, um pão”. Se o vírus coroa a morte, no poema há de reinar a vida,
muito além de qualquer migalha de pão. No citado “Rap da felicidade”, Cidinho
e Doca cantam em tom de revolução: “O povo tem a força, só precisa
descobrir / Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui”. A poeta e os
compositores se unem no desejo de felicidade, de poder popular, seja diante
de um corrosivo e invisível vírus, seja diante de um negacionista e visível
presidente.
A QUERELA DO CORONAVÍRUS:
SOBRE A FALTA DE ECONOMIA
POLÍTICA NO DEBATE A RESPEITO
DA SOCIEDADE PÓS-PANDEMIA110
110
Este capítulo é uma versão encurtada de um manuscrito
maior, em processo de publicação. Aqui está presente somente
a terceira parte do manuscrito original, que contém reflexões
próprias; as duas primeiras consistem na apresentação da
interpretação de diversos autores – mencionados na
introdução – a respeito da pandemia.
INTRODUÇÃO
Durante a pandemia que assolou o mundo nos últimos meses,
diversos intelectuais de renome se manifestaram em publicações
acadêmicas e na mídia a respeito dos riscos e expectativas trazidos pelo
cenário pós-pandemia, por vezes com um enfoque ético ou fenomenológico-
existencial, e por vezes com enfoque de cunho mais político.
Não apenas por seus efeitos sobre a saúde pública, mas também
devido às consequências políticas e econômicas da pandemia, diversos
intelectuais proeminentes teceram considerações a respeito dos efeitos de
curto, médio e longo prazos decorrentes da doença, que passou a se
configurar como uma crise de proporções globais. Em 25 de fevereiro de
2020, Giorgio Agamben escreveu um artigo de imprensa para o periódico
italiano Il Manifesto (AGAMBEN, 2020b), tendo sido respondido por Jean-Luc
EM CASA lendo a p. 406
Isolad@s
Trata-se do mesmo artigo publicado como capítulo neste livro, ao qual tive acesso antes de
111
sua publicação. O prof. Mulinari foi gentil em enviar uma versão preliminar de seu texto, para
o qual solicitou revisão e considerações teóricas a respeito.
112
A série pode ser consultada no endereço das colunas de opinião do Jornal Económico:
https://jornaleconomico.sapo.pt/categoria/opiniao. A partir do oitavo ensaio, os autores
começaram a abordar o tema das desigualdades e do desemprego. Ressalte-se que o prof.
Barata teve acesso a uma versão preliminar e mais longa deste texto logo após a publicação
de seu sétimo ensaio, em meados de maio, e nela constavam inúmeras críticas devido aos
114
Para o aspecto revolucionário do marxismo, já bem conhecido, ver MARX; ENGELS, 1998. A
posição revolucionária de Marx e Engels é ecoada em LENIN, 2015, e em TROTSKY, 1986. Para
o anarquismo, ver BAKUNIN, 1970, com especial atenção às páginas 16-17. A posição adotada
por Bakunin nesta obra é ecoada em escritos de anarquistas que foram seus contemporâneos
e continuadores, como Piotr Kropotkin, Errico Malatesta e Emma Goldman – mas a discussão
pormenorizada da postura revolucionária de autores anarquistas não faz parte do escopo
deste artigo. Para a relação entre marxismo e teologia, ver ARON, 1962.
115
A consulta direta aos escritos dos principais líderes históricos fascistas fundamenta esta
conjectura; ver HITLER, 1939; MUSSOLINI, 1933.
116
Walter Benjamin compara o capitalismo a uma religião de culto incessante em BENJAMIN,
2013. O manuscrito incompleto do filósofo alemão teve inspiração em Weber, que explora as
aproximações entre a ética protestante e o sistema capitalista em WEBER, 2004. Para uma
discussão sobre os escritos de ambos os autores em contraste, ver LÖWY, 2009.
que na América Latina a média é muito mais baixa. As pessoas que vivem
nestas regiões podem, certamente, se comunicar mesmo evitando o contato
físico. Em outras partes do globo os percentuais caem drasticamente: 51,6%
no mundo árabe; 48,4% na região da Ásia e Pacífico; 28,2% na África. A média
mundial nos países considerados desenvolvidos gira em torno de 86,6%,
enquanto nos países em desenvolvimento é de 47% e, nos países menos
desenvolvidos, precisamente os que mais necessitam – e se beneficiariam –
de uma reformulação no sistema político-econômico global, 19,1%. Há ainda
diferenças de classe e de gênero que afetam a inclusão digital. Nas zonas
rurais de países em desenvolvimento ou de países pouco desenvolvidos,
mesmo a população que vive dentro do alcance das redes de
telecomunicações frequentemente não possui meios para acessá-las, seja
por falta de equipamentos eletrônicos ou pela impossibilidade de assinar
pacotes de dados (ITU, 2019).
117
Boaventura escreve: “Na minha concepção, o Sul não designa um espaço geográfico.
Designa um espaço-tempo político, social e cultural” (SANTOS, 2020, p. 15). Ver também
SANTOS; MENESES, 2014.
118
Para uma introdução à dinâmica das relações entre centro e periferia na geopolítica e no
comércio global que auxilia a sustentar a reflexão apresentada, ver MABOGUNJE, 1980.
119
“Die moderne Staatsgewalt ist nur ein Ausschuß, der die gemeinschaftlichen Geschäfte der
ganzen Bourgeoisklasse verwaltet” (MARX; ENGELS, 1977, p. 464).
120
“Frequentemente se assume que a Teoria Geral é um tratado esquerdista, um chamado para
governo grande e impostos altos. Na realidade, a chegada da economia keynesiana nas salas
de aula dos Estados Unidos foi atrasada por um caso sórdido de macartismo acadêmico. [...]
Mas Keynes não era socialista – ele veio para salvar o capitalismo, não enterrá-lo” (tradução
livre). Introdução escrita por Paul Krugman para KEYNES, 2018, p. XXVI-XXVII.
121
Friedman se refere à ideia como “imposto de renda negativo”.
Ou Jappe:
122
“Quem não trabalha não come” e “a civilização não tem lugar para os ociosos” são frases
de Lênin e Henry Ford, respectivamente, lembradas de forma crítica por Bruno Lamas em seu
prefácio de KURZ, 2018, p. 5.
123
Uma reflexão semelhante a respeito do deslocamento de foco dos movimentos sociais pode
ser encontrada em JAPPE, 2014. Os conceitos de base e superestrutura foram desenvolvidos
por inúmeros teóricos, embora nem sempre a partir desta mesma terminologia; para uma
introdução a este tipo de relação em Weber, ver SCAFF, 1984. Para uma introdução com foco
em Gramsci, ver MORERA, 1990. Nos escritos de Marx a relação pode ser encontrada em MARX,
2008.
mortífero sofrido pelo sistema atual irá manifestar seus efeitos a posteriori.
Tal hipótese certamente não pode ser excluída, mas tampouco a hipótese de
que a corrida por uma reconstrução econômica no pós-pandemia, o aumento
de medidas de controle contra a disseminação de patógenos – seja o SARS-
Cov-2 ou outros quaisquer –, a securitização124 de questões de saúde pública
e assistência social, ou de produção de equipamentos hospitalares, e o
renovado prestígio de lideranças políticas e de “especialistas” chancelados
pelo discurso científico podem, igualmente, desferir um duro golpe em
qualquer perspectiva de ruptura com o neoliberalismo nas próximas
décadas. Qualquer tentativa de refutar uma destas duas hipóteses seria
similar a tentar desmontar e estudar o motor de um veículo enquanto ele se
encontra em movimento. É extremamente desafiador – e talvez sequer seja
realmente útil – realizar um exercício de futurologia em um cenário tão
incerto. Talvez a conclusão que possa ser extraída da querela entre
intelectuais a respeito do coronavírus seja a de que é necessário mais do que
um conjunto de reflexões ético-fenomenológicas ou existenciais a respeito
dos sentimentos experimentados pelas pessoas para a elaboração de
124
Nas relações internacionais, securitização é o processo pelo qual atores estatais
transformam assuntos que não são necessariamente essenciais para a sobrevivência de um
Estado em questões de “segurança”; assuntos securitizados com sucesso recebem
quantidades desproporcionais de atenção e recursos (inclusive, muitas vezes, recursos do
aparato repressivo de Estado), em comparação com assuntos não securitizados que causam
mais danos humanos. O termo foi criado por Ole Wæver, professor da Universidade de
Copenhagen, em 1993, tendo se popularizado desde então. Para uma introdução ao conceito,
ver WILLIAMS, 2003.
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