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UNIVERSIDADE DE BELAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECONÓMICAS

TEXTO DE APOIO:

HISTÓRIA ECONÓMICA E SOCIAL

ALBERTO CHALO JOVETA1

ANO ACADÉMICO: 2021/2022


CURSO DE LICENCIATURA EM CONTABILIDADE E GESTÃO
ANO CURRICULAR: 2º ANO
CARGA HORÁRIA SEMANAL: 2H 00

LUANDA

2022

1
Licenciado en Ciência da Educação, opção; Ensino da História, pelo ISCED de Luanda.
Actualmente, é Professor da Escolas Públicas – Privado, há mais de 20 anos e Mestrando do 2º
Ano, do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social, no Instituto Superior
João Paulo II, Universidade Católica de Angola (UCAN), 2022/2023.
HISTÓRIA ECONÓMICA E SOCIAL

Texto de apoio, de História Económica e Soical,


apresentado aos Estudantes do 2º Ano curricular
da Faculadade de Ciências Económicas e Sociais,
Universidade de Belas, como requisito para os
apontamentos, avaliação formartiva e sumativa.

LUANDA

2022
3

Sumário

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................4
CAPÌTULO I – OS FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA COMO CIÊNCIA ........................6
1 1 Conceito de História ................................................................................................................ 9
1.2 Objectivo do estudo da História ............................................................................................ 12
1.3 Fontes Históricas ................................................................................................................... 13
1.4 Método da Crítica histórica ................................................................................................... 15
1.5 Papel dos modos de produção na periodização da História .................................................. 17
CAPÍTULO II - HISTÓRIA ECONÓMICA E SOCIAL ...................................................... 20
2. 1 Conceito de História económica .......................................................................................... 20
2.2 objectivo do estudo da história económica............................................................................ 21
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................... 22
4

INTRODUÇÃO
Pretende-se com essa análise de textos de apoio aprimorar o nosso
conhecimento sobre a disciplina de História Económica e Social que vai
demonstrar ser um ramo especializado da História, com os aportes da
Economia, Sociologia e as demais ciências. Mas, que a ciência?

O termo ciência é derivado do latim scientia, equivalente ao grego


episteme que significa conhecer, aprender. Em sentido lato, a ciência
consiste no conhecimento das causas; em sentido restrito, ciência significa o
conhecimento dos factos, adquiridos através dos processos da observação e
da experiência, com o fim de estabelecer as leis que os regem. Segundo
Appolinário (2007) a “ciência é o conjunto de conhecimentos racionais,
certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis,
que fazem referência a objectos da mesma natureza. O conceito de ciência
pressupõe um conjunto de propriedade sui generis, das quais pontificam a
existência de um objecto, método, objectivo e um ordenamento teórico e a
logicidade.

O surgimento da ciência, desde os primódios da humanidade por meio


dos registros históricos, pode-se constatar que os seres humanos sempre
fizeram indagações a respeito da vida, da natureza, da natureza, das
necessidades materiais de subsistência. Em cada época, a busca por respostas
a essas indagaçõs ocorreu de forma diversa. O modo de produção do
conhecimento continualmente dependeu de como a sociedade estava
organizada do ponto de vista social e económico. A produção das idéas
acontece em resposta aos imperativos da vida, relacionados à actividade
material, ao comércio entre os homens e sua consequente organização social.

Na idade Antiga, havia a preocupação de se conhecer a racionalidade,


dos fenómenos da natureza. Esses eram explicados por meio dos mitos e do
saber popular. Os filósofos da natureza, buscam respostas às indagações
5

sobre o mundo exercendo a contemplação e a observação. Neste sentido, a


organização social e económica dependia do trabalho dos escravos. Os
escravos trabalhavam para o bem-estar dos senhores e do imperador. Não se
comercializavam alimentos e produtos.

Na Idade Média ou no pensamento medieval, a resposta a todas as


indagações passava pela existência de Deus, criador do mundo. O universo
era considerado estático e, a terra, o seu centro. Somente mais tarde, após 10
séculos, a partir do século XVI, com a crise económica a que provocou a
transição do feudalismo para o capitalismo e o fortalecimento da burguesia,
a fé deixou de ser considerada suficiente para explicação dos fenómenos e
dar respostas às inquietações do momento. No final da Idade Média e início
do século XVII, Galileu Galilei (1564-1642), físico, matemático e filósofo
italiano provocou uma crise ao questionar a capacidade da fé de dar solução
aos questionamentos do homem. Galileu pôs em dúvida a concepção estática
do universo quando afirmou que era o sol o seu centro, e não a terra. A partir
daí passou-se a utilizar a razão e a experimentação, em contraposição à fé,
para dar soluções aos poblemas. Portanto, foi na Idade moderna que surgiu
a ciência.
6

CAPÌTULO I – OS FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA COMO


CIÊNCIA
Então, que a História? Pode-se definir História não somente como
simples ciência do passado, mas como o resultado de um vai e vem constante
do historiador do passado ao presente e do presente ao passado; por outro,
dizer que a história é a ciência da mudança, que não existe assim, história
imóvel, e que esta especificidade da história será uma das grandes diferença
da sua natureza e da sua função em relação às outras ciências do homem e
da sociedade. E para que o trabalho do historiador resulte e para que a
História se faça é necessário o testemunho, a crítica do documento, o
questíonário, os dados e a sua interpretação. Porém, a História é a
interpretação dialéctica dos factos histórico. Os testemunhos nada são sem a
interpretação do historiador. Os factos históricos apenas se tornam história
através da explicação que ele lhes dá.

Etimologicamente, história é uma palavra de origem grega «histo ou


historeo» a qual significa «sei isto, ou eu sei», também quer dizer «eu vi ou
aprender inquerindo». Narra-se que o pai da históra é o Heródoto, que foi o
primeiro a fazer uma pesquisa rigorosa e sistemática em torno desta
disciplina. Segundo ele, o termo história significa investigação. Os gregos
pensavam que não se podia saber nada a não ser que se tivesse visto com os
próprios olhos, ou feito uma averiguação. “É na segunda metade do século
V a.C, no pequeno mundo egeu onde tinha desabrochado a arte dos poetas
trágicos e despertava a especulação dos filósofos, que nasce a história.

Heródoto (aprox. 485-425), de quem se repete à porfia, desde Cícero,


foi contemporâneo de Eurípides e de Sócrates. Cícero define a história
como o testemunho dos tempos passados, a luz que elucida e faz entender a
verdade a nossa memória que está na vida das experiências dos outros para
a humanidade. Heródoto é-o seguramente, e disso advertiu os seus leitores:
7

quero, diz ele, «impedir que caiam no esquecimento as grandes façanhas


realizadas pelos gregos e os bárbaros» durante as Guerras Médicas (490-
470). E para tanto empreendeu o relato do que se passou no império persa e
nas cidades gregas desde o início do reinado de Círo, em 549 a.C. Com a
História da Guerra do Peloponeso, de Tucícides (aprox.460-395), nascem
simultaneamente o método e a inteligência do historiador. Ele, faz da
História uma ciência humana objectiva, baseada em fontes críticadas”.2

Na segunda metade do século XVI, aparecem em França, os teóricos


da História perfeita e completa, durante a espantosa modernidade. Assim,
nasce o método para facilitar o conhecimento histórico, Jean Bodin definiu,
em 1566, a História como ciência humana «narração exacta das acções
passadas». Com o progresso da erudição e o nascimento do método – René
Descartes, em 1637, com a sua obra: «Discurso do método» - fazem dos
séculos historiográficos XVII e XVIII séculos felizes. Descartes, define
quatro regras do método, a saber: Primeira, o critério da verdade é a
evidência ou seja, a clareza e a distinção; Segunda, o método é a análise que
consiste na decomposição para tornar claro o que está implicado em qualquer
problema. Terceiro, consiste em conduzir por ordem o pensamento,
começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de conhecer, para
progressivamente chegar-se ao conhecimento verdadeiro. A última regra
consiste em fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais
que se fique seguro de que nada se omitiu.

Todavia, a História não é uma ciência exacta ou da natureza como, a


Matemática, Física, Quimíca ou a Anatómia, a Biologia, a Botânica etc, pois
ela pertence ao universo das ciências humanas e sociais, (mas antes estava
vinculada a Filosofia).

2
CARBONELL, Charles-Olivier (1981) Históriografia, Presses Universitaires de France, op cit, pp 11-
20
8

A História surgiu como ciência quando se desenvolveram os critérios


e procedimentos de crítica e análise das fontes, em finais do século XVIII e
início do século XIX. Por um lado, as expressões «ciências humanas» e
«ciências sociais» são muitas vezes usadas indistintamente. Assim sendo, o
conceito de ciências humanas tem uma acepção mais lata – englobando, além
das ciências sociais propriamente dita, disciplinas como a Filosofia, é um
conhecimento, uma forma de saber, podemos concluir que a filosofia estuda
toda a realidade ou, pelo menos, procura oferecer uma explicação completa
e exaustiva de uma esfera particular da realidade - a Literatura, estuda as
letras e as produções literárias e a Arte, estuda as regras e preceitos para a
executar com perfeição as obras; a Ética, estudo da origem e da natureza da
lei moral, da virtude e da felicidade – ao passo que, por «ciências sociais»
se estende um grupo variado de disciplinas cuja sistematização e
desenvolvimento metodológico lhes têm granjeado um certo grau de
cientificidade. Estão nestas circunstância, entre outras, a História, estuda os
factos; a Geografia, estuda os lugares; a Arqueologia, estudo das
civilizações antigas com base nos vestígios descobertos; a Antropologia,
estuda o homem; Cronologia, estudo, das datas; a Filologia/Linguística,
estudo das línguas; a Etnologia, estuda a cultura dos povos; a Estatística,
ciência das enumerações; a Epigrafia, estudo das inscrições; a Paleografia,
interessa-se pela escrita antiga; a Psicologia, estudo da psíque, da natureza
humana e das suas faculdades; a Política estudo da origem e estrutura do
Estado; a Sociologia, estudo dos fenómenos sociais; a Economia, estudo das
actividades em que os homens se empregam para produzir, trocar e consumir
bens escassos e serviços que satisfazem suas necessidades. A Economia
como ciência, trata dos actos e fenómenos económicos traduzidos em
relações constantes, que representam as leis económicas. Dito de outra
maneira, a económia estuda os fenómenos económicos e as inter-relações
humanas permanentes, que representam as leis económicas. Tem como
9

objecto a actividade económica exercida pelo homem em busca dos bens


naturais e dos serviços aptos à satisfação das suas necessidades e desejos.

Nesta senda, os diversos ramos do conhecimento científico não são


isoláveis, em última análise, todos eles focam a mesma realidade – o homem
e o mundo em que se insere – ainda que ela apresente diversas facetas, a
exigirem, consequentemente, múltiplas perspectivas de análise. Dessa
maneira, os historiadores aprenderam a dialogar com os seus colegas das
Ciências Sociais, num casamento de mútuas vantagens.

Portanto, as Ciência auxiliares ou complementares da História, são de


grande importância, justamente na formulação de hipóteses orientadoras de
pesquisa e na sofisticação da sua própria perspectiva sobre seu objecto. A
partir daí, a interdisciplinaridade tornou-se palavra de ordem, uma vantagem
reivindicada por cada pesquisa e cada nova área que surge.

1 1 Conceito de História
A história é uma ciência dos homens na sociedade, é também a ciência
dos homens na sociedade no tempo; e também não deixa de ser uma ciência
humana, num duplo sentido: não estuda quaisquer sociedades, mas sociedade
humanas; em alguns casos estuda personalidades e individuos, através de
biografias. O historiador deve ter a paixão de compreender, o que implica
que renuncie, tanto quanto possível, ao juízo de valor. Segundo, J. Le Goff,
elucida: «a melhor prova de que a história é uma ciência, é o facto de
precisar, um objecto, de técnicas, de método e de ser ensinada» A história
recorre ao método experimental clássico, cuja a fase essencial é
eperimentação, pois uma metodologia consideravelmente rigorosa e sujeita
a regras de crítica e controlo.3

3
Cf, MENDES, José M. Amado (1993), A História como ciência: Fontes, Metodologia e Teorização – 3ª
Edição, Coimbra Editora.
10

Quer se conceba a História como ciência que estuda os factos, cujo o


objecto de estudo é, por definição investigação, quer também se considere
que é o homem e o tempo. O homem, objecto de múltiplas ciências sociais,
será mister em todo caso, explicar a idéia que se tenha das divergências, entre
os autores, acerca do que é a história induzem, obviamente, a dar dela
múltiplas e variadas definições. Já foi considerada como sendo uma arte,
forma literária, narrativa. Considerar a história uma arte, uma forma literária
ou uma narrativa fundamenta-se nos seguintes pressupostos: o essencial, em
história, é a forma, a exposição, a narrativa é vista como a essência da
história, pelo que história e conto se identificam. Mas, as respostas místicas
são explicações que podem contentar a fantasia, embora não sejam
verdadeiras. O mito é uma representação fantástica da realidade delineada,
espontaneamente pelo mecanismo mental do homem. Já as respostas
históricas, procuram satisfazer à razão, mas são sempre explicações
incompletas, parciais e fragmentárias. Com efeito, ainda que fosse possível,
seria fastidioso e até desnecessário apresentar, neste lugar, todas as aludidas
definições.Vejamos, como alguns historiadores consagrados e muitos
conhecidos definiram a história.

Para Georges Lefebvre, a história é a memória do género humano,


que lhe dá consciência de si mesmo, isto é, da sua identidade no tempo, desde
a sua origem; é por consequência o relato do que, no passado, deixou marca
na recordação dos homens. Torna-se claro que, quanto mais uma sociedade,
como um grupo, deseja fortalecer a sua identidade, mais atribuirá à sua
história.

Joseph Ki-Zerbo, define a História como a memória colectiva. De


acordo com este autor: «Um povo sem História é uma comunidade sem
memória, e torna-se facilmente sujeito a todos os géneros de exacções,
justificáveis moralmente por parte dos exploradores. Outrossim, estamos
11

convencidos de que um povo não pode verdadeiramente alcançar o


desenvolvimento económico e enfrentar o seu futuro sem ter uma visão do
seu próprio passado.4

March Bloch (1886-1944) sublinhava: a “História é a ciência dos


homens no tempo”. Acrescentaríamos o espaço, ainda que não
expressamente referida, é também imprescindível, já que está sempre de
forma explícita ou implícita no estudo de qualquer tema. Já, Karl Marx
(1818-1883), no seu Manifesto Comunista (1848), ele entende que a história
de toda a sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes. Homem
livre e escravos, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de confraria e
companheiro, numa palavra: opressores e oprimidos, sempre estiveram em
oposição constante; travaram uma luta sem tréguas, ora disfarçada, ora
aberta, que em todos os casos terminou ou por uma transformação
revolucionária da sociedade inteira, ou pela ruína das diferentes classes em
luta. (Manifesto Comunista, pp, 161-162). Marx e seu amigo Friedrich
Engels (1820-1895) não foram verdadeiramente historiadores. Mas,
podemos afirmar que eles fundaram, um método de análise do real e uma
Filosofia da História. Tal como Charles Darwin descobriu a lei da evolução
na história humana. A teoria de K. Marx, afirma que são os homens que
fazem a história, mas fazem-na em condições reais e pré-estabelecidas e não
dentro das condições ideais que sonhamos.5

4
KI-ZERBO, Joseph (1999) História da África Negra volume I, edição nº 106014/7168, Europa-
América, p.36.
5
CARBONEL, Charles-Olivier, Ibidem, pp 59-98.
12

1.2 Objectivo do estudo da História


O historiador tunisino Ibn Kaldun (1332-1406), na sua obra história
dos berberes, eleva-se no seu tempo por apresentar uma autêntica filosofia
da história, associando a uma reflexão metodológica de grande modernidade
uma explicação global da história dos impérios e reinos árabes. Para Ibn
Kaldun o objectivo da história é informar sobre o estudo social do homem, a
civilização, costumes, manifestações do espírito de corpo, diferenças de
poder e de força entre os homens… trabalho, riqueza, ciência e artes. Ele
funda um método para distinguir o verdadeiro do falso. O seu método, (antes
ignorados pelos europeus), foi progressivamente utilizado mais tarde na
historiografia da Europa renascente.

No dizer do alemão Leopoldo Von Ranke (1795-1886) – os


historiadores buscam conhecer aquilo que realmente aconteceu. Na segunda
metade do século XIX, descreve-se o sentido, o caminho e o objectivo da
história: reino do Espírito (Hegel), triunfo da liberdade (Michelet), fim da
alienação (Marx), apoteose da Evolução (Quinet), Comte e as suas três
idades (teológica, metafísica e positiva). “No estádio teológico, as ideias
religiosas e a crença da sociedade era uma expressão da vontade de Deus,
era o guia do pensamento. No estádio metafísico, que se afirmou pela época
do Renascimento, a sociedade começou a ser vista em termos naturais, e não
sobrenaturais. O estádio positivo, desencadeado pelas descobertas e feitos de
Copérnico, Galileu e Newton, encorajou a aplicação de técnicas científicas
ao mundo social.”6

Em suma, a finalidade da história vária consoante a perspectiva e


ideologia adoptadas e o próprio empenhamento do Historiador na actividade
socio-profissional: assim, à história têm-se apontado, entre outras, as
seguintes finalidades, pedagógica, a história «mestra da vida»; teológica, a

6
GIDDENS, Anthony, (2009), Sociologia, 7ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa p. 8
13

história como meio de preparar um mundo melhor; gnosiológica, a história


visando somente a procura da verdade. Ela também consiste, como todas
ciências sociais e humanas, em constatar os factos, analisá-los e aproximá-
los a realidade histórica;. Ou seja, contar o que realmente aconteceu e
acontece na vida dos homens num determinado tempo e espaço.

1.3 Fontes Históricas


Os vestígios deixados pelos pensamento e actos dos homens de
outrora, designam-se genericamente de fontes ou documentos. Quanto a
intencionalidade, podemos classificá-las em três partes: documentos
figurados ou matériais (restos arqueólogicos, sinais pré-históricos, restos
fósseis, vestuários, utensílios doméstico, túmulos, monumentos - artísticos,
arquitectónicos, industriais e comemorativos – moedas, medalhas, braões,
fortalezas, vias); documentos escritos - bibliografia (publicações
periódicas, coleções, livros leis, revistas, cartas, decretos, tratados), a
tradição oral ou fontes orais – um relato ou tesmunho transmitido
oralmente de geração á geração, sobretudo, pelos mais velhos. Por exemplo:
canções, música, danças, lendas, provérbios, desporto/jogos, crenças
religiosas, filosofia etc. A tradição oral é uma fonte respeitada e valorizada
mais pelos historiadores africanos. Em Angola, por exemplo, a tradição oral
transmite-se principalmente através dos ritos de iniciação e das diversas
formas de educação. Pode ser ao ar livre, nas reuniões com os velhos ou
sábios, à noite, à volta da fogueira ou privadamente, nas escolas de iniciação.

Parafraseando, o PE, ALTUNA, Raul, a «tradição oral é uma


bilioteca, o arquivo, o ritual, a enciclopédia, o tratado, o códico, a ontologia
poética e proverbial, o momanceiro, o tratado teológico, as danças, a
escultura, os jogos, a música e filosofia. A palavra da tradição, legada pelos
antepassados, é instrumento maior do pensamento, da emotividade e da
acção. Não existe pensamento nem emoção sem imagem verbal… A cultura
14

bantu e a negro-africana brotam, expandem-se e permanecem pela palavra e


nada se mantém nem vive sem ela. Por isso, o bantu vive falando e escutando.
Dizia L. Achille que «o silêncio não é negro». Conversar, narrar, trocar
notícias e impressões, constituem um dos seus mais agradáveis prazeres. A
aldeia, aconchegada junto à fogueira, fala; os homens reunidos falam e as
mulheres falam; e isto durante horas, lenta, harmoniosa e gozosamente. O
visitante, sempre bem recebido, fala, conta as novidades e escuta, enriquece.
A África negra ainda dispõe de tempo para conversar e escutar, para saborear
o prazer de sintonizar com outro. Como os seres, está hierarquizados, calam
e assimilam quando fala um mais velho, um ancião e o chefe, calam e
contactam com a realidade mística quando falam o curandeiro e o adivinho.
O feiticeiro pode pronunciar palavras maléficas, desintegradoras da vida, e
o adivinho conhece as contra palavras, que anulam influxos nefastos ou
geram harmonia. A tradição oral, por meio da palavra, sustenta a política,
económica e social, dinamiza as expressões religiosas.7

Entretanto, qualquer sinal acima exemplificado, fornece ao historiador


ensinamento sobre a vida dos homens no passado, mas somente é válido após
ter sido submetido à dúvida métodica – tratamento e a crítica histórica.

7
ALTUNA, PE. Raul Ruiz de Asúa (2006), Cultura tradicional Banta, Inst. Miss. Filhas de São Paulo –
Angola, pp 88-90.
15

1.4 Método da Crítica histórica


Etimologicamente, método significa o caminho a seguir para chegar a
um fim. Já do ponto de vista científico, representa a aplicação de um
conjunto de processos racionais para a investigação e demonstração da
verdade. A história utiliza os mesmos métodos empregados pelas demais
ciências sociais, isto é, o dedutivo ou analítico e o indutivo ou de observação.

O método dedutivo é utilizado quando se pretende apresentar o que de


geral ou existe nos fenómenos. O método indutivo, indiferentemente do
abstrato, utiliza-se da observação dos factos particulares, daí partindo para
as proposições gerais ou para as verdades gerais; ele se eleva do
conhecimento dos factos ao das lei. Em suma, o método dedutivo
corresponde à análise; e o método indutivo verifica, observa, generaliza e
supõe; é denominado método experimental; o dedutivo é analítico.

A título de exemplo, a Escola Clássica ou liberal atríbuia aos


fenómenos económenos o duplo carácter de permanência e universalidade,
enquanto a Escola Histórica, fundada pelos económistas Roscher,
Hildebrand e Knies, procurou fundamentar as suas conclusões pela análise
das transformações continuadas e seguidas das instituições sociais. Utiliza.se
da observação dos factos passados, notadamente da História Económica e
Social dos diferentes povos, Como, em tal país e em tal época, a agrícultura,
o comércio e a indústria em pequena escala se organizavam? Como
funcionavam as corporações e as guildas? Quais eram as condições de vida
dos operários e dos camponeses? E portanto, como estava constituído as
classes sociais?8

Por outro lado, Charles-Victor Langlois e Charles Seignobos,


definem a crítica histórica como parte da ciência histórica que tem por fim

8
GASTALDI, J. Petrelli (2005), Elementos de Economia Política, 19 edição – São Paulo, pp. 22-25.
16

determinar o valor dos documentos e dos seus testemunhos. O método da


crítica histórica, também é conhecido de método histórico ou crítica.

Langlois e Seignobos distinguem duas fases principais no trabalho do


historiador. Primeiro, consiste em elaborar o inventário dos materiais
disponíveis e recolher os documentos; uma técnica particular, na Alemanha
deram-lhe o nome de heurítica. Segundo, segue-se a erudição e a análise de
conteúdo, pois, é necessário tratar os documentos de uma série de operações
críticas:

 Crítica externa ou crítica de autenticidade, obedece a fase


heurística. Esta crítica é a que ocupa dos arquivos, inventários
descrivos, das fontes ou da recolha documental.Pode-se
subdividir-se em duas operações: a crítica de proveniência e a
crítica de restituição.
 Crítica interna ou a crítica da crítica da credibilidade,
obedece a fase hermenêutica. Esta crítica é a que se ocupa do
testemunho ou da mensagem ou seja da interpretação do
conteúdo de um determinado documento. Pode subdividir-se
em cinco operações: a crítica de interpretação, a crítica de
competência, a crítica de veracidade, a crítica de rigor e a crítica
da verificação dos testemunho.

Em suma, em primeiro lugar, a crítica externa se preocupa em


procurar a fonte ou a recolher os documentos. Estando salvo o documento,
registado, classificado, convém submetê-lo a uma série de operações
analítica. Em seguida, examinar se se trata de um original, de uma cópia, de
uma falsificaçõo. Em segundo, a crítica interna se preocupa com a
hermenêutica, é estudo da compreensão; impõe frequentemente recurso a
um estudo linguístico, a fim de determinar o valor das palavras ou das frases.
17

Assim, nas obras redigidas em latim, o significado dos termos pode variar
segundo as épocas.

1.5 Papel dos modos de produção na periodização da História


A história conhece vários modo de produção ou regimes económicos,
nomeadamente: a comunidade primitiva, o regime esclavagista, o regime
feudal e burguês moderno, o sistema capitalista e o sistema socialista. Karl
Marx, define o «modo de produção como estrutura determinada e
determinante da vida política, jurídica, económica e social». Marx, distingue
as etapas da história humana em quatro modos de produção, sendo cada uma
delas caracterizada por tipo de relações entre os homens que trabalham: o
modo de produção antigo é caracterizado pela escravatura, o modo de
produção feudal pela servidão, o modo de produção burguês ou capitalista
pelo trabalho assalariado e o modo de produção asiático.

Cada modo de produção na história da humanidade equivale uma


grande fase de organização social, correspondente:

 Antiguidade, do ano 4000 a.C até a queda do Império Romano do


Ocidente no ano 476 d. C. Nessa fase situa-se as seguintes
civilizações Egipto, China, Mesopotâmia, Babilónia, Assíria e
abrangendo as civilizações grego-romana.
 Idade Média, do ano 500 a 1500, período conhecido por era medieval
ou feudalismo.
 Tempos Modernos, do ano 1500 até 1789, data Revolução Francesa.
 Época Contemporânea, do ano 1789, compreende a Revolução
Industrial até a actualidade
Segundo Marx, na produção social da sua existência, os homens
entram em relações de produção que correspondem a um grau de
desenvolvimento determinado das suas forças produtivas materiais. O que se
por forças produtivas? Marx, sublinha: «as forças produtivas compreende as
18

fontes de energia (madeira, carvão, petróleo etc), as matérias-primas


(algodão, borracha, minério de ferro etc), as máquinas (moinho-de-vento,
máquina a vapor, cadeia de montagem, ferramentas de todos os géneros);
Comportam também trabalhadores e os conhecimentos científicos e técnicos.
Em suma, as forças produtivas são os materiais e seres humanos.

No segundo conceito, Marx fala-nos das relações de produção, remete


para as relações sociais que os homens estabelecem entre si a fim de
produzirem e se dividirem entre si os bens e os serviços. Como eram as
relaçõe de produção na sociedades rurais e na sociedade industriais do
ocidente?

Na sociedade rurais do ocidente medieval são relações de produção: o


âmbito do domínio senhorial, com a repartição das terras entre reservas e as
dependências do feudo, o sistema de trabalho gratuito, recebimento das
taxas, mas também os diversos estatutos dos camponeses – servos, forros,
colonos, proprietários de alódio –e a organização da comunidade aldeã, com
rotação das culturas, os pastos, as charnecas e os bosques comunais.

Na sociedades industriais do ocidente contemporâneo são relações de


produção: a propriedade dos capitais, autorizando a tomada das decisões, a
escolha dos investimentos, a divisão dos lucros, tal como o funcionamento
das empresas, com a hierarquia do pessoal, disciplina de oficina, ordenação
das normas e dos horários; a situação dos operários, variado segundo a grelha
dos salários, o processo de emprego e de despedimento, a importância dos
sindicatos.

Podemos concluir, para Marx, a sociedade e a história reveram duas


estruturas: Uma infra-estrutura, é base de tudo, que é constituída pelas forças
produtivas e as relações de produção, por outra palavras, pelas técnicas e as
condições de produção; Segunda, a super-estrutura. isto é, as instituições
políticas, o poder jurídico, as religiões, a filosofia e as ideologias. A
19

sociedade é pois, expressão dum certo tipo de técnica: segundo uma fórmula
conhecida, «o moinho de água produziu a sociedade feudal, a máquina a
vapor fez nascer a sociedade burguesa». Assim, existe sempre uma classe
dominante que possui os instrumentos de produção e uma classe dominada
que os maneja. O operário vende a sua força de trabalho ao produtor e pelo
seu trabalho aumenta o valor dos objectos que fabrica. No preço de venda do
objecto, há, segundo Marx, uma parte que representa a amortização do
capital, outra o preço das matérias-primas, uma terceira para o salário
indispensável à manutenção mínima da vida do operário, e a quarta, há pois
um sobre-trabalho, e uma porção do trabalho do operário de que este é
espoliado, o qual regressa ao capital. Esta porção do trabalho não pago é o
que Marx chama a mais-valia.
20

CAPÍTULO II - HISTÓRIA ECONÓMICA E SOCIAL


2. 1 Conceito de História económica
A Nova História nasceu em França em 1929, com a criação da revista
Annales, por Lucien Febvre e Marc Bloch, G. Lefevre e Fernand Braudel.
Com efeito, a grande depressão nos anos trinta, incita os contemporâneos a
interrogarem-se sobre a alternância dos tempos da expansão e dos tempos de
recessão nas actividades económicas, com registro de flutuações nos preços
dos béns e serviços no mercado.

Foi neste contexto histórico que os historiadores franceses constituem


uma história económica - concebida mais como a história dos preços e das
moedas, das trocas, dos ritmos, dos ciclos, do que como a produção, dos seus
modos e dos seus meios.

E uma história social, que não se limita à história das classes e das
suas relações conflituais mas se estende à dos grupos e dos seus recontros
multiformes: a célula familiar, as comunidades rurais e urbanas, os círculos
de sociabilidades (academias, salões, cafés, sociedades desportivas).

De um modo simples pode afirmar-se que mais do que à história do


género, a História Económica e Social é à história do mundo que é necessário
recorrer para compreender a sua evolução. Segundo Marc Bloch, ela orienta-
se para a análise dos factos económicos, as transformações sociais e suas
mentalidades. Além disso, M. Bloch deseja que a história económica e social
se volte para o mundo contemporâneo, para compreender a sociedade nos
dias de hoje.

Um mundo em que, no horizonte dos anos vinte, o económico invade


o campo do político, em que a construção do socialismo passa pela
electrificação, estatização e planificação; a paz pelo reembolso das dívidas,
o pagamentos das reparações, o embargo de bens produtivos; a sobrevivência
das democracias pela difícil terapia das epidemias monetárias, dos défices de
21

balanços ou orçamentos, da Grande Depressão. Keynes, Poincaré, Hoover e


pouco depois, F. D. Roosevelt têm um ponto comum: propõem e fazem
políticas económicas.

Finalmente, um mundo em que as massas são interpeladas pela


História e convidadas a fazê-la: revoluções sociais, manifestações sociais,
organizações sociais, política social. A História Económica e Social, tem-se
dito, é essencialmente, a história dos preços, sendo os rendimentos resultante
do trabalho, por via dum arrendamento, da utilização dum imóvel, duma terra
ou dum capital.

2.2 objectivo do estudo da história económica


Actividades:

2.1 - O que se entende por História Económica e social?

2.2- Define os objectivos de estudo da História económica.


22

BIBLIOGRAFIA
ALTUNA, PE. Raul Ruiz de Asúa (2006), Cultura tradicional Banta,
Inst. Miss. Filhas de São Paulo –Angola.

ARON, Raymond (2007), As Etapas do Pensamento Sociológico, 8ª


edição – MIRASETE – Artes Gráfica.

BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé, As Escolas Históricas – Da Idade


Média aos Nossos Dias, 3ª edição Publicações Europa – América Lda, 2012.
CARBONELL, Charles-Olivier (1981) Históriografia, Presses
Universitaires de France.
GASTALDI, J. Petrelli (2005), Elementos de Economia Política, 19.
Edição – São Paulo: Saraiva.

GIDDENS, Anthony, (2009), Sociologia, 7ª edição, Fundação


Calouste Gulbenkian, Lisboa

KI-ZERBO, Joseph (1999) História da África Negra volume I, edição


nº 106014/7168, Europa-América.

MENDES, José M. Amado (1993), A História como ciência: Fontes,


Metodologia e Teorização – 3ª Edição, Coimbra Editora.
MONDIN, Battista (1977), Curso de Filosofia – os Filosófos do
Ocidente, 3ª edição, Editrice Massimo.
23

TEMAS PARA DISCUSSÕES E APRESENTAÇÃO INDIVIDUAL

1 - As primeiras actividades comerciais na humanidade

2. Desenvolvimento Económico da Antiguidade à Idade Média


2,1 Esclavagismo
2.2 O Feudalismo e suas principais características
2.3 Mercantilismo: nacionalismo e imperialismo económico

3. A Revolução Industrial
3.1 A evolução económica no mundo
3.2 As diferentes teorias económicas e sociais
3.2.1 Fisiocrasia
3.2.2 Capitalismo
3.2.2 Socialismo

3.3 A divisão Internacional do trabalho e da produção


3.4 Países com alto nível de desvolvimeno económico

3.5 Empresas multinacionais


3.6 As Guerras Comerciais

3.7 Países que alcançaram a independência depois da 2ª Guerra Mundial


3.8 A 1ª Guerra Mundial (1914-1918)
3.9 A 2ª Guerra Mundial (1939-1945)
3.9 A Guerra Fria (1ª, 2ª e 3ª mundo)
3.10 O tecido económico em Africa
3.11 África para os Africanos
3.12 Pan-africanismo

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