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O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO NO

SÉCULO DAS LUZES


No século XVIII, também conhecido como:

 o “Século das Luzes”,


 o “Século da Razão”,
 a “Era do Iluminismo”,
 a “Era da Ilustração”,
 o “Século Europeu” ou
 “O Grande Século”.

 A Europa foi palco de profundas


transformações, fruto de uma evolução mental e
intelectual, cujas bases se encontravam nos
séculos precedentes.
Verdadeira revolução doutrinária, as novas ideias e
os novos conceitos tiveram repercussão
desestabilizadora e de longo alcance nos domínios
social, político, econômico, religioso, científico e
artístico.
O processo histórico seria, assim, necessariamente
conturbado, uma vez que o antagonismo de visão
e de interesses levaria a uma confrontação entre as
novas concepções da Natureza, da Sociedade e do
Homem e as forças conservadoras das instituições,
das prerrogativas, dos privilégios e do
preconceito.
O absolutismo político, o direito divino do
Soberano, o imobilismo social, o “classicismo”
cultural e o poder da Igreja dominavam, ainda,
uma Sociedade, em todos os seus níveis, apegada
a valores e a ensinamentos do passado.
À preservação do status quo e ao imobilismo, se
contraporiam, no devido tempo, os ideais de
igualdade de direitos, educação universal e laica,
liberdade de pensamento e de expressão,
representação política, cidadania, noção de
progresso e de otimismo, racionalismo.
No século XVIII, em particular com os pensadores
do chamado “Iluminismo”, o âmbito da
contestação, de nítida tendência laica e
anticlerical, se ampliaria para o social e o político,
o que reforçaria a posição reivindicatória de
amplos setores intelectuais no sentido de tornar a
Ciência liberada e independente de orientação
teológica e metafísica.
O desenvolvimento científico no Século das luzes
se daria num contexto bastante diverso, com uma
reivindicação social e política, o que viria a ser a
grande modificação filosófica e conceitual
introduzida pelos pensadores do século XVIII.

É a partir do século do Iluminismo que a Ciência


estará definitivamente vinculada ao Homem e à
Sociedade e que o destino da Humanidade será
decidido nos laboratórios.
A História da Ciência no século XVIII não pode,
assim, limitar-se à mera sucessão das experiências
e da formulação das leis científicas nos vários
ramos, mas requer o entendimento preliminar da
evolução do pensamento filosófico e do espírito
científico no período, porquanto seriam decisivos
para o reconhecimento da prioridade da Ciência na
busca de uma compreensão racional dos
fenômenos naturais.
Condorcet ilustrou o ponto de vista iluminista ao
escrever que o mais importante (benefício), talvez,

“é o de ter destruído os preconceitos, corrigido, de


alguma maneira, a inteligência humana, forçada a
curvar-se às falsas direções que lhe imprimem as
crenças absurdas transmitidas para a infância de
cada geração, com os terrores da superstição e o
temor da tirania. Todos os erros em política, em
moral, têm por base erros filosóficos que, eles
mesmos, são ligados a erros físicos”.
Na primeira metade do século XIX, surgiria, um
movimento de reação ao racionalismo que viria a
predominar, eventualmente, na comunidade
artística.

Essa reação se manifestaria contra o


“cientificismo”, por meio do “romantismo” na
Literatura, Artes Plásticas e Música, bastante
difundido na França, Alemanha e Itália, da
chamada “Naturphilosophie” de Friedrich von
Scheling, de curta e limitada repercussão na
Alemanha, e do “idealismo”, de Georg Wilhelm
Friedrich Hegel.
Duas Revoluções de imenso significado histórico
foram iniciadas na Europa na segunda metade do
século XVIII: a Revolução Francesa,
preponderantemente social e política; e a
Revolução Industrial, na Inglaterra, nitidamente
econômica.
Resultaram de uma série de fatores, que as tornam
um marco divisório, do fim de uma era para o
início de outra no século seguinte, pelas
transformações de uma Europa, socialmente
feudal, economicamente agrícola, artesanal e
mercantilista, politicamente absolutista e
teologicamente dogmática, em uma Sociedade
ávida de liberdade de pensamento, de opinião e de
religião, de igualdade jurídica e de oportunidades,
de participação na vida pública.
O mapa político europeu continuaria a apresentar
importantes modificações ao longo do século
XVIII, em razão da instabilidade das fronteiras,
devido aos constantes conflitos entre os Reinos e
às suas inevitáveis consequências políticas.
A França, que exercera o predomínio político e
econômico no século XVII, se enfraqueceria e
perderia essa posição privilegiada para a
Inglaterra:

Guerra da Holanda, Guerra de Sucessão da


Espanha e Guerra da Liga de Augsburgo); de Luiz
XV (1715-1774: Guerra de Sucessão da Áustria e
Guerra dos Sete Anos); e de Luiz XVI
(participação na Guerra de Independência das 13
colônias norte-americanas), que esgotaram a
economia nacional e comprometeram seu
império colonial, a despeito de ganhos
territoriais no continente.
Na segunda metade do século XVIII, alguns
monarcas, por influência das ideias liberais
preconizadas pelo Iluminismo, impuseram em
seus países algumas medidas racionais e
equitativas de Governo, com o objetivo de prover
a prosperidade do Reino e o bem-estar da
população.
Inovações tecnológicas em máquinas

Em 1733, John Kay inventou a “lançadeira de


tear”; James Hargreaves inventaria, em 1765,
máquina capaz de produzir oito fios
simultaneamente, aperfeiçoada, em 1769, por
Richard Arkwright, e, novamente, em 1779, por
Samuel Crompton. O tear mecânico seria
desenvolvido por Edmund Cartwright, em 1785,
permitindo uma produção equivalente a 200
operários. O americano Eli Whitney (1765-1825)
projetou, em 1793, uma máquina de descaroçar
algodão .
No setor metalúrgico

Abraham Darby, que, em 1709, substituiria o


carvão vegetal pelo coque, e Henry Cort, que, em
1782, descobriu o processo de “pudlagem” para
fabricar o ferro fundido.
Na área da energia

Thomas Newcomen inovou, em 1712, com a


fabricação de uma máquina a vapor, a qual seria
aperfeiçoada por James Watt, em 1764, com seu
emprego na tecelagem de algodão, em 1785.
Robert Fulton, em 1807, construiria um navio a
vapor, e George Stephenson, em 1814, idealizaria
a locomotiva a vapor.
Os caminhos de terra seriam melhorados
substancialmente a partir de 1806 com a técnica
de pavimentação com pedra britada, desenvolvida
pelo escocês John McAdam (1756-1836).
A Primeira Revolução Industrial se estenderia, a
partir do início do século XIX, à França, à
Alemanha, às Províncias Unidas e aos países
escandinavos, para atingir, depois, a maioria dos
países europeus e os Estados Unidos da América,
cujas economias, com exceção da Holanda, eram
fundamentalmente agrícolas.
A Revolução Industrial, ao atender aos interesses
da classe burguesa, seria a grande força por traz do
expansionismo colonial, do fortalecimento do
sistema capitalista, do grande avanço tecnológico,
do desenvolvimento do conhecimento científico e
das profundas transformações das estruturas
sociais e políticas nos séculos seguintes.
No terreno religioso, o poder espiritual, político e
social das diversas Igrejas Cristãs (Católica,
Protestantes, Ortodoxas) continuava tão forte e
dominante como nos séculos anteriores, apesar do
crescente anticlericalismo e ceticismo nos meios
intelectuais de vários países.
Na área da Ciência, o desenvolvimento de
conceitos, teorias, doutrinas e princípios
científicos, e deste modo, o próprio progresso da
Ciência, foi comprometido e seria prejudicado
pelas restrições, oposição e resistência das Igrejas
a tudo que pudesse, de alguma maneira,
representar perigo para o exercício, presente e
futuro, de seu poder, e que pudesse demonstrar
falsidades em seus ensinamentos dogmáticos.
No campo artístico, ocorreu um extraordinário
desenvolvimento das Artes e das Letras, em todas
as suas manifestações, como, aliás, já acontecera
no século precedente.

As Artes se inspiraram no modo de vida das


cortes, criaram de acordo com a magnificência dos
palácios, produziram para o entretenimento e
diversão da aristocracia e se colocaram a serviço
dos patrocinadores. A arte decorativa, o
mobiliário, a tapeçaria e o vestuário refletiam o
gosto de uma classe preocupada em ostentar.
Temas religiosos e da vida cortesã predominaram
na criação artística, por meio dos estilos Barroco,
rococó e neoclássico; o romantismo, como
expressão artística, só apareceria no final do
século XVIII.
A Ciência no Século das Luzes

A preciosa herança científica seria da maior


importância para o grande salto conceitual e
experimental ocorrido na Ciência no século XVIII.

Intelectuais, pensadores e filósofos naturais


saberiam utilizar o acervo cultural acumulado,
adaptando-o, para adequá-lo a uma nova e
diferente visão do Mundo, da Sociedade e do
Homem.
Academias de Ciência, com o patrocínio do
soberano, foram criadas (Berlim, 1700; Uppsala,
1710; Bolonha, 1714; São Petersburgo, 1725;
Estocolmo, 1739; Madri e Bruxelas, 1772); a
Academia de Paris, reorganizada em 1699, seria
desativada pela Revolução Francesa e incorporada
ao recém- -criado Instituto de França (1794).
Associações particulares foram fundadas, como a
Sociedade Lunar (1766), em Birmingham (Watt,
Priestley, Erasmus Darwin); a Sociedade de
Manchester (1781), presidida, durante anos, por
John Dalton; e a Sociedade Filosófica, de
Edimburgo, com sessões regulares a partir de
1783 (David Hume, Adam Smith, Joseph Black,
James Hutton).
Notáveis pesquisas, experimentações e
descobertas permitiram importante progresso na
Matemática (Cálculo, Geometria), na Astronomia
(Astronomia de posição, Sistema Solar) e na
Física (Mecânica, Eletricidade, Calor), ciências
com maior acervo herdado de séculos passados,
devido às contribuições de eminentes cientistas,
como, entre outros, Euler, Lagrange, Monge,
Laplace, Bradley, Lalande, Herschel, Du Fay, os
Bernoullis, Cavendish, Franklin, Coulomb, Volta e
Thompson.
A fundação da Química Moderna, por Lavoisier,
como Ciência independente e autônoma, sujeita à
metodologia científica e livre dos ranços
alquímicos, seria um acontecimento de alto
significado na História da Ciência.

Avanço no estudo analítico, descritivo e conceitual


da História Natural, com o tratamento estritamente
científico da Geologia, da Botânica e da Zoologia
(as duas últimas formariam a Biologia).
O século XVIII ocupa um lugar central no
processo evolutivo da Ciência, reexaminando suas
bases conceituais, delineando seu amplo âmbito de
atuação, libertando-a de preconceitos, colocando-a
a serviço do Homem e da Sociedade e criando
uma nova mentalidade, e desenvolvendo um
espírito científico laico e positivo.
O Sistema Métrico Decimal

A medição de comprimentos, áreas, volumes e


pesos é fundamental nas aplicações da
Matemática, tanto em outras Ciências como a
Física, a Astronomia, a Química e a Geografia
quanto no comércio e na indústria.
A Forma da Terra

Segundo Newton, a velocidade de rotação da


superfície da Terra aumentava constantemente, de
zero nos polos até pouco mais de 1600 km por
hora no equador. A força centrífuga cresceria
proporcionalmente a esse aumento, e, assim,
teoricamente, a Terra seria um esferoide achatado
nos polos, plana ao nível dos mesmos e saliente no
equador. Huygens era da mesma opinião.
Ciência e Tecnologia

No século XVII, um grande número de notáveis


filósofos naturais participou, direta e
decisivamente, do extraordinário avanço
tecnológico, por meio da invenção, inovação e
aperfeiçoamento de uma série de instrumentos
científicos de precisão e medição, necessários para
o aprimoramento e exatidão da pesquisa.
Galileu, Kepler, Oughtred, Gascoigne, Pascal,
Torricelli, Guericke, Huygens, Leibniz, Amontons,
Papin e Newton foram cientistas envolvidos
diretamente no aprimoramento dos instrumentos
utilizados em suas pesquisas.
Galileu, Kepler, Oughtred, Gascoigne, Pascal,
Torricelli, Guericke, Huygens, Leibniz, Amontons,
Papin e Newton foram cientistas envolvidos
diretamente no aprimoramento dos instrumentos
utilizados em suas pesquisas.
Artesãos, como Jensen (microscópio) e
Lippershey (luneta), e engenheiros como Savery
(bomba a vapor) e Jethro Tull (semeadeira)
contribuíram, igualmente, com suas invenções,
tanto para o avanço das pesquisas científicas,
quanto para o desenvolvimento econômico e a
posterior “revolução industrial”.
Ao término do século, os seis principais
instrumentos científicos:

 Microscópio;
 Telescópio;
 Barômetro;
 Termômetro;
 relógio de precisão;
 bomba pneumática.
No século XVIII, o progresso tecnológico foi
deixado principalmente ao trabalho, ao esforço e à
capacidade inventiva de engenheiros, artesãos e
práticos, que souberam inovar e aperfeiçoar os
instrumentos desenvolvidos no século anterior.
Matemática

Após a invenção da Geometria analítica por René


Descartes, o desenvolvimento do conhecimento
matemático culminaria com as obras de Isaac
Newton e Gottfried Wilhelm Leibniz sobre o
Cálculo integral e diferencial, invenção que
dominaria os estudos matemáticos no século
XVIII.
Astronomia

O extraordinário avanço no conhecimento do


Universo, e de suas leis (Galileu, Kepler), foi
coroado com a criação, por Newton, da “Mecânica
Celeste”, definida por Kovalevsky como a
“aplicação das Leis da Mecânica universal ao
estudo dos movimentos e dos equilíbrios dos
corpos celestes que sofrem a ação das forças cuja
origem é gravitacional.
Física

Evolução das pesquisas dos diversos fenômenos


físicos (Luz, Som, Calor, Magnetismo,
Eletricidade), o “atomismo”, ressurgido a partir
das obras de Pierre Gassendi.

A Física, no século XVIII, teve seu maior


desenvolvimento a partir de meados do século,
beneficiando-se de contribuições de engenheiros e
técnicos, envolvidos em aperfeiçoamento e
inovação de máquinas e instrumentos, agentes da
Primeira Revolução Industrial.
Química

O século XVIII correspondeu, assim, ao período


crucial de formação de uma nova Ciência positiva,
que se seguiu ao período de transição do século
anterior. A incapacidade da Alquimia de
interpretar uma série de fenômenos químicos se
revelara um estorvo ao progresso do entendimento
do processo químico, o que tornou imperiosa a
necessidade de formulação de uma teoria
alternativa capaz de explicar certos fenômenos,
cada vez mais intrigantes, como o da combustão e
o da formação de sais.
História natural

A grande importância do debate, ainda que


inconclusivo, nos campos da Geologia e das
Ciências biológicas (Fisiologia animal e vegetal)
no Século das Luzes, foi trazer à discussão temas
tabus, assuntos já aparentemente resolvidos com
as explicações teológicas. Origem e idade da
Terra, fósseis, formação das espécies, reprodução
animal, geração espontânea, entre outros, seriam
temas conflitivos que dominariam boa parte da
controvérsia, dividindo os naturalistas em campos
opostos.

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