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A Europa no início do século XVIII

O século XVIII foi um período de intensas mudanças no continente


europeu, que podiam ser observadas nas mais variadas esferas da
sociedade.

No campo religioso, a Igreja Catolica, que perdera parte de sua influência devido à
Reforma Protestante do século XVI, vinha sendo cada vez mais questionada por suas
práticas, ideias e dogmas.

No campo social, aumentava a insatisfação das camadas mais baixas da população


contra os privilégios dos representantes da nobreza e do alto clero.

Do ponto de vista político, o que estava em xeque era o regime absolutis ta. De modo
geral, os reis concentravam em suas mãos os poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, gerando o descontentamento de amplos setores da sociedade.

Uma das poucas exceções a esse cenário era a Inglaterra. Ali, o


absolutismo havia chegado ao fim com a Revolução Gloriosa de 1688, e,
desde então, o país se tornara uma monarquia constitucional. Outra
exceção era o Reino dos Paises Baixos (atual Holanda), que adotara o
regime republicano e garantia, em seu territorio, a liberdade religiosa e os
direitos politicos da população civil.

Essa situação na Holanda fez, inclusive, com que muitas pessoas que sofriam
perseguições em outros paises da Europa se refugiassem ali. No Reino dos
Países Baixos, ideias que contrariavam os pensamentos da Igreja ou dos
monarcas absolutistas podiam ser discutidas livremente. Foi na Holanda que
viveram alguns dos precursores do movimento que promoveria grandes
mudanças na Europa do século XVIII

Descartes e Locke

Um desses precursores foi o francês René Descartes (1596-1650), que, entre


1628 e 1649, residiu na Holanda e ali publicou uma de suas obras mais
famosas: Discurso sobre o método. Nesse livro, o filósofo defende a ideia de
que, para se chegar a uma verdade, é necessário passar por um rigoroso
processo de investigação. Para Descartes, todas as ideias deveriam ser
questionadas, colocadas à prova, e somente aquelas que resistissem as
dúvidas poderiam ser tidas como verdadeiras. Considerado o pai da filosofia
moderna, para Descartes, a razão era o ponto de partida de todo o
conhecimento.

Outro pensador que viveu nos Países Baixos no século XVII foi o britânico John
Locke (1632-1704). Fugindo da repressão imposta pelo então governo
absolutista do rei Carlos II, o penúltimo do tipo na Inglaterra, ele resguardou-se
na Holanda em 1683. Locke é considerado um dos criadores do pensamento
liberal, e foi na Holanda que escreveu textos defendendo alguns dos elementos
essenciais de um regime democrático, tal como o entendemos ainda hoje.
Entre suas principais ideias estão: • O poder político advém do povo; • O Poder
Legislativo e o Poder Executivo não podem ficar nas

mesmas mãos; O Poder Legislativo deve ser formado por representantes


eleitos pelo povo e renovados periodicamente; As decisões do eleitorado e do
Parlamento devem ser tomadas por maioria e obedecidas por todos, mesmo
pelos que não concordam com elas.

Iluminismo na França
As ideias de Descartes e de Locke difundiram-se pela Europa,
influenciando muitas pessoas. A eles, juntaram-se outros pensadores
que também criticavam o absolutismo, pregavam o anticlericalismo e
acreditavam que o uso da razão era a melhor maneira de vencer a
ignorância e a superstição e de conquistar o conhecimento verdadeiro.
Para esses filósofos, o pensamento racional assegurava a liberdade, a
felicidade, o bem-estar social, o progresso da humanidade e, portanto,
deveria ser aplicado a todos os ramos do saber.

Esse movimento cultural que criticava o Antigo Regime alcançou o seu


auge no século XVIII e ficou conhecido como Iluminismo, Ilustração ou
Filosofia das Luzes. Essas denominações se justificavam no fato de que
seus representantes entendiam que a contradição entre o passado e o
presente era uma luta entre as trevas da ignorância e as luzes da razão.

O principal centro difusor do Iluminismo foi a França, de onde saíram


alguns dos mais influentes filósofos desse movimento. Um desses
pensadores foi o jurista Montesquieu, citado na abertura deste capítulo.
Montesquieu criticava os costumes morais, religiosos e políticos da
França. Para ele, as leis não deveriam ser elaboradas conforme os
desejos dos governantes, mas com base nos anseios da população. O
jurista achava fundamental limitar os poderes do rei. Para ele, tanto o
monarca quanto os órgãos do governo e da administração pública não
podiam desprezar os direitos individuais das pessoas, em especial a
vida, a liberdade e a propriedade.

Em 1748, Montesquieu publicou o espírito das leis, uma obra na qual defende
essas ideias e prega a separação dos poderes em três esferas distintas:
Legislativo, Executivo e Judiciário. Nesse sentido, o jurista francês dá um
passo adiante em relação às ideias defendidas no século XVII por Locke, uma
vez que este não propunha a existência do Poder Judiciário.

Outro importante nome do periodo foi Jean-Jacques Rousseau


(1712-1778). O pensador suíço fez as criticas mais radicais contra o
absolutismo, chegando a defender a necessidade de uma revolução
para pôr fim a esse regime.
Rousseau não só pregava o fim da monarquia absolutista, como entendia que
essa forma de governo deveria ser substituída por uma república democrática,
capaz de assegurar a liberdade individual de todas as pessoas. Para ele, os
principios de liberdade e igualdade social deveriam ser os pilares fundamentais
de um Estado democrático. Na opinião de Rousseau, cabia ao Estado a tarefa
de seguir as leis elaboradas pelo Poder Legislativo e, ao mesmo tempo, exigir
que todos cumprissem a legislação em vigor.

Liberalismo econômico
Os pensadores iluministas também contribuíram com novas ideias no campo da
Economia. Um dos principais nomes foi o escocês Adam Smith (1723-1790) que, em
1776, publicou sua obra mais conhecida, A riqueza das nações,

Esse livro foi escrito em um momento em que, apesar do início da Revolução


Industrial, que fomentava os primeiros passos do capitalismo na Europa, ainda
vigorava no continente a prática da política mercantilista. Para os seguidores
do mercantilismo, era fundamental a intervenção do Estado na economia
visando ao fortalecimento econômico das nações. Seus seguidores
acreditavam que o governo deveria adotar políticas protecionistas,
estabelecendo barreiras alfandegarias e medidas de apoio à exportação, bem
como impedir a livre-iniciativa dos indivíduos.

Com o advento do Iluminismo, as propostas mercantilistas passaram a ser


questionadas. Alguns pensadores pregavam reformas que ampliassem a
liberdade de mercado e diminuíssem a intervenção do Estado na economia.
Em A riqueza das nações, Adam Smith, por exemplo, defendia que o
desenvolvimento econômico das nações só poderia ser alcançado se existisse
uma completa liberdade de mercado. Ou seja, o Estado deveria permitir a livre
concorrência e o livre estabelecimento de preço das mercadorias. Essa defesa
da liberdade comercial passou a ser conhecida pelo nome de liberalismo
econômico.

Adam Smith defendia a ideia de que as relações entre os produtores e os


consumidores fossem reguladas naturalmente pelo mercado, por meio da
chamada "lei da oferta e da procura". De acordo com esse principio, sempre
que há uma grande procura por determinado produto, seu preço tende a subir;
da mesma maneira, se a procura é pequena, o preço tende a cair. Para Adam
Smith, tentar estabelecer um preço fixo ou impedir o livre trabalho dos
individuos atrapalharia o desenvolvimento natural e racional do mercado.

A difusão das ideias iluministas


O momento de transição entre o século XVII e XVIII, época em que surgiu e se
consolidou o pensamento iluminista na Europa, foi também a época em que as
universidades deixaram de ser o único espaço da educação superior.
Começaram a surgir instituições alternativas que traziam um ensino de nivel
superior menos tradicional.
Nesses espaços, membros da burguesia e da nobreza estudavam disciplinas
como Matemática, Filosofia, Historia e Linguas. Em algumas dessas
academias, também eram discutidas as novas ideias a respeito de como o
Estado deveria ser organizado.

Pouco a pouco, o interesse pelas ideias iluministas ultrapassou as fronteiras


das universidades e academias de ensino e chegou a um número maior de
interessados, como comerciantes, médicos, advogados e funcionários públicos.

Esses individuos começaram a se reunir em espaços menos formais, como


salões, cafés, clubes de leitura ou até mesmo em casas de representantes da
nobreza ou da burguesia, para debater as propostas de mudanças politicas,
sociais e econômicas trazidas pelos pensadores iluministas.

Isso se observou, sobretudo, na Peninsula Itálica, na França e na Inglaterra. O


próprio Montesquieu, por exemplo, participava de um desses encontros
regulares que acontecia na casa da baronesa Claudine de Tencin (1682-1749).
Outro salão famoso por debater as ideias iluministas era organizado pela
madame Jeanne Julie de Lespinasse (1732-1776). Entre seus frequentadores,
encontrava-se o filósofo, matemático e fisico francês Jean d'Alembert (1717-
1783). Entre 1751 e 1772, d'Alembert editou uma das obras mais importantes
do Iluminismo, a Enciclopédia (veja o Para ir além a seguir).

Despotismo esclarecido
Com a difusão das ideias iluministas pela Europa, diversos monarcas também
entraram em contato com esse pensamento. Eram reis absolutistas que decidiram, de
alguma forma, pôr em prática certos principios do Iluminismo, sem, no entanto, abrir
mão de seus poderes. Esse tipo de governo ficou conhecido como despotismo
esclarecido ou absolutismo ilustrado. Foram os casos, por exemplo, do rei Frederico II
(Prussia), da rainha Catarina, a Grande (Russia), da rainha Maria Teresa (Austria) e
do rei Carlos VI (Espanha).

Um dos pensadores que mais influenciou esses monarcas foi o filóso


foiluminista francês François-Marie Arouet (1694-1778), mais conhecido
como Voltaire, que se tornou, inclusive, conselheiro do rei Frederico II.

Diferentemente de outros pensadores de seu tempo, como Montesquieu e Rousseau,


Voltaire defendia o absolutismo monárquico. Acreditava, porém, que o rei precisava
"lançar as luzes sobre o povo inculto" e garantir o progresso das ciências, da arte e da
economia.

Para ele, o poder absoluto do rei deveria ser empregado para alcançar um progresso
cultural e social, capaz de atender aos interesses de seus súditos. Para isso, Voltaire
pregava a importancia de combater o dero e também todos os nobres que fizessem
oposição aos monarcas. Ao mesmo tempo, julgava fundamental reparar as finanças
públicas, promover reformas educacionais, estimular o saber e apoiar o comércio
controlado pela burguesia

Os monarcas que adotaram alguns principios iluministas ficaram conhecidos


como despotas esclarecidos. De modo geral, esses reis e rainhas procuraram
racionalizar a cobrança de impostos, modernizar as instituições do Estado -
como as forças armadas e a educação - incentivar a produção artistica e
cientifica e realizar reformas judiciais, acabando muitas vezes com os
privilégios da nobreza.

Revolução científica
Como você viu no começo deste capítulo, os iluministas defendiam a ideia de
que um rigoroso processo de investigação era o caminho para se alcançar a
verdade dos fatos. Esse tipo de pensamento influenciou, de maneira
significativa, o trabalho de cientistas - na época, chamados de filósofos naturais
-, que procuravam respostas para os mais variados tipos de dúvidas, como:
"Do que é composta a matéria?": "Qual é a idade do planeta Terra?"; "Do que é
composto o ar?".

Por ser um trabalho amparado na ciência, as descobertas desses cientistas


confrontavam-se muitas vezes com o pensamento da Igreja Católica, que se
baseava na crença e na fé.

Precursores do Iluminismo nas ciências


Ainda no século XVII, um dos precursores do Iluminismo, o astrônomo Galileu
Galilei (1564-1642), defendeu a descoberta feita no século XVI pelo astrônomo
e matemático Nicolau Copérnico (1473- 1543) de que a Terra girava ao redor
do Sol. Devido a essa afirmação, em 1633, Galileu, foi levado a julgamento,
vendo-se obrigado a negá-la, assim como outras ideias que estavam em
desacordo com o pensamento da Igreja. Mesmo negando sua ideia, acabou
condenado a viver em prisão domiciliar.

Outro precursor do Iluminismo nas ciências foi o físico britânico Isaac Newton
(1643-1727), responsável por descobrir a gravidade e as leis da Física que
regem os movimentos dos corpos.

Com Newton, a ciência se tornou mais precisa e matemática. O britânico


defendia a importância de o cientista lançar hipóteses, porém estas precisavam
ser testadas matematicamente e verificadas na prática para serem
consideradas verdadeiras.

Pode-se dizer que esses procedimentos baseados no rigor científico


acabaram se tornando um padrão para pesquisadores dos mais variados
campos do conhecimento e são observados até os dias atuais.

A importância da ciência no século XVIII


Cada vez mais, a ciência ocupava papel de destaque na sociedade europeia,
tornando-se tão importante quanto a Filosofia, a arte ou a religião, por exemplo.
Na virada do século XVII para o XVIII, surgiram sociedades científicas, como a
Sociedade Real de Londres (que foi fundada em 1660 e chegou a ser presidida
pelo destacado cien tista inglês Isaac Newton) e a Academia de Ciências, de
Paris (1666). Ao longo do século XVIII, já existiam também grupos de
aficionados por ciencias, que se reuniam regularmente para discutir as
novidades científicas e tecnológicas da época, além de realizarem
experimentos e demonstrações (veja a seção Zoom na página seguinte).

Um desses grupos foi a Sociedade Lunar, criada na cidade de Derby, na


Inglaterra, cujos encontros aconteciam uma vez por mês, na segunda-feira
mais próxima da lua cheia. Um de seus frequentadores mais renomados era
James Watt, inventor da máquina a vapor - equipamento que acelerou o
processo da Revolução Industrial do século XVIII.

Inovações científicas
Oséculo XVIII assistiu a uma proliferação de avanços científicos nos mais
variados campos do saber. Na área da Biologia, por exemplo, o sueco Carlos
Lineu (1707-1778) lançou as bases da chamada taxonomia modema, a ciência
que busca identificar, denominar e classificar os organismos.

Adotando um processo racional de classificação, Lineu dividiu as espécies animais e


vegetais em subgrupos. As espécies eram classificadas nesses subgrupos de acordo
com as caracteristicas fisicas semelhantes. Lineu classificou mais de 6 mil espécies de
plantas e 4 mil de animais

Ao desenvolver esse trabalho, o cientista sueco também estabeleceu que todas as


espécies seriam reconhecidas por dois nomes em latim, facilitando sua identificação
em qualquer lugar do planeta. Por exemplo: o nome cientifico do gato e Felis catus, já
o do milho é Zea mays. Embora esse sistema classificatório tenha passado por
algumas modificações ao longo do tempo, ele é utilizado até os dias atuais.

Os avanços obtidos no século XVIII permitiram também o de senvolvimento de


instrumentos astronômicos mais potentes, com os quais foi possível mapear o
céu de maneira eficaz. Em 1780, o astronomo alemão William Herschel (1738-
1822) construiu um telescópio de 12 metros de comprimento contendo um
espelho de 1.2 metro de largura. Com esse instrumento, Herschel descobriu a
existência de um novo planeta do Sistema Solar, Urano, além de duas novas
luas de Saturno e outras duas de Urano.

Na área da Química, o escocês Joseph Black (1728-1799), tornou-se o primeiro


cientista a identificar um gás - o gás carbônico - que batizou com o nome de ar fixo".
Em 1754, o britânico Henry Cavendish (1731-1810) conseguiu isolar outro gás, o
hidrogênio, que ele chamou de "ar inflamável". O hidrogênio foi o segundo gás a ser
identificado e o primeiro elemento gasoso a ser isolado.

Em suas pesquisas, Cavendish observou que o hidrogênio tinha


densidade menor que a do ar. Essa descoberta permitiu ao francês
Jacques Charles (1746-1823) inventar, em 1783, um balão que utilizava
o hidrogênio para voar. Em sua viagem inaugural, o balão voou 16
quilômetros pelos céus de Paris. Hoje, os balões utilizam gás hélio, pois
o hidrogênio é muito explosivo.
Uma das descobertas mais reveladoras do período, porém, foi a respeito de
como acontecia a combustão. Essa explicação coube ao químico francês
Antoine Lavoisier (1743-1794) que, em 1778, publicou o resultado de suas
pesquisas. Em razão de suas pesquisas labora toriais, Lavoisier é considerado
o fundador da Química moderna.

As mulheres também se envolveram com sucesso nas pesquisas científicas do


período. Em 1721, por exemplo, a britânica Mary Wortley Montagu (1689-1762)
foi a primeira a promover a inoculação do vírus da variola em pessoas para
combatê-la. Na época, as epidemias de varíola eram muito comuns na Europa,
e a doença, quando não matava, deixava cicatrizes na pele do paciente e podia
provocar a cegueira. O trabalho de Montagu foi decisivo para que, décadas
mais tarde, se criasse a primeira vacina contra a doença.

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