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Processo saúde e doença

FICR
Facilitador: Prof. Me. Roberto Siqueira

Saúde coletiva
Problematizando
É possível uma pessoa que nunca fumou ter câncer de Pulmão?
Problematizando

“Meus exames estão perfeitos, mas eu não me sinto bem e meu


médico diz que não estou saudável, não sei como isso é
possível”.
Processo saúde-doença
O termo saúde é derivado do latim salus,
que designava o principal atributo dos
íntegros, intactos, inteiros.

Por sua vez, o termo salus deriva do


grego holos, que possui um sentido
de totalidade
Processo saúde-doença

Esse processo que busca


identificar as variáveis que
envolvem o processo de
adoecimento de um indivíduo ou
da população recebe o nome de
processo saúde-doença.

(ALMEIDA FILHO, 2000).


Processo saúde-doença
A definição de saúde na antiguidade remetia às questões religiosas e sobrenaturais. Para
algumas civilizações, a alma poderia se separar do corpo devido a ações dos deuses ou dos
próprios inimigos terrenos, assim, a pessoa adoecia quando estava tomada por espíritos ou
almas estranhas.

Em algumas crenças, o próprio demônio poderia possuir a pessoa, e nesses casos os


tratamentos consistiam em expulsar as almas e demônios dos corpos, utilizando as práticas de
exorcismo. No entanto, a ingestão de substâncias ou a aspiração de vapores (que
desagradariam às almas) também consistiam em práticas utilizadas nessa época
(HEGENBERG, 1998).
Processo saúde-doença
Hipócrates (460 e 370 a.C.), considerado o pai da Medicina, afasta as explicações mágicas e
religiosas da doença, atribuindo para essa as causas naturais e sua origem supostamente divina
reflete a ignorância humana” (SCLIAR, 2007).

Assim, as causas naturais ou o desequilíbrio entre os fluidos corporais eram, para Hipócrates,
os causadores das doenças. Considerava ainda a avaliação do paciente como um todo, além de
outros fatores, como o clima, a maneira de viver, e os hábitos alimentares interferindo nesse
equilíbrio e ocasionando a doença, a partir desse desequilibrando (PEREIRA, 2006).
Processo saúde-doença
Tratado De ares, águas e lugares

Passou a relacionar a moradia, a água para beber

e os ventos, com a saúde e a doença.

Hipócrates afastava a ideia do sobrenatural e, por

meio de observações empíricas, verificou a


Hipócrates, considerado o pai da medicina, 460-370 a. C.
importância do ambiente, do trabalho, da

sazonalidade e da posição social na saúde.


Processo saúde-doença
Tratado De ares, águas e lugares

É uma das obras mais importantes de Hipócrates que, ao invés de atribuir uma origem divina às

doenças, discute suas causas ambientais.

Nesse tratado, Hipócrates apresenta suas teorias sobre a influência do meio ambiente nas

doenças humanas e sobre algumas peculiaridades físicas e espirituais dos habitantes de

diferentes regiões.
Processo saúde-doença

Com o avanço da ciência e o invento do microscópio, novos estudos foram realizados utilizando-
se desse equipamento, assim, os estudos microscópicos, como o de Louis Pasteur (1822-1895),
revelaram a existência de microrganismos que causavam doenças. Nos estudos de Koch (1873-
1910), o bacilo da tuberculose e a bactéria da cólera foram isolados e analisados, reafirmando
assim o conceito de doença à presença de um agente externo.

Esses estudos possibilitaram também o desenvolvimento de soros e vacinas, revelando a


possibilidade da prevenção e da cura de algumas doenças (SCLIAR, 2007).
Processo saúde-doença
No século XIX, o médico inglês John Snow (1813-1858) realizou o primeiro e grande estudo
sobre epidemiologia. Partindo dos casos de óbito por diarreia distribuída na população de
Londres, o referido médico epidemiologista relacionou-os com as empresas de distribuição de
água da cidade, associando-os, mais tarde, à descoberta da cólera.

Após a Segunda Guerra Mundial, em 7 de abril de 1948, criou-se a Organização Mundial da


Saúde (OMS) (desde então, o dia 7 de abril é considerado o Dia Mundial da Saúde). A OMS
divulgou um conceito de saúde que passou a ser a principal referência desse termo, assim,
“Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de enfermidade” (SCLIAR, 2007).
Processo saúde-doença

Nessa concepção, utilizada até os dias de hoje, a saúde abrange os conceitos:

Da biologia (herança genética e os processos biológicos inerentes à vida);


O meio ambiente (o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho);
O estilo de vida (fumar ou deixar de fumar, beber ou não, praticar ou não exercícios, entre
outros);
E a organização da assistência à saúde, como a assistência médica, os serviços
ambulatoriais, hospitalares e os medicamentos (SCLIAR, 2007).
História “saúde-doença”

1 Teoria miasmática, que foi, até o século XIX - acreditava-se que as


doenças seriam originadas da inalação de gases fétidos no ar,
provenientes da decomposição de matéria orgânica de plantas e
2 animais.

3 A era microbiana se consagrou a partir da segunda metade do século


XIX, com os estudos e descobertas realizadas por Robert Koch e Louis
Pasteur.

4 A descoberta dos microrganismos desencadeou uma nova forma de


enxergar saúde, baseando-se na unicausalidade das doenças. A causa
estava relacionada aos agentes etiológicos. Nascia então a Teoria
Microbiana/Unicausal (PEREIRA, 2006).
História “saúde-doença”
O modelo biomédico – Carrega a ideia do homem como uma
1 máquina e as doenças como avarias.

2 • A saúde é vista como ausência de doença e a cura começa a


ser enxergada como eliminação dos sintomas.
3 • O foco é altamente especializado na doença

(ser humano visto de forma fragmentada e não como um todo);

4 • Hospitalocêntrico

• Centrado no profissional médico

• Uso excessivo de tecnologias duras.


História “saúde-doença”
O modelo biomédico – No século XX, passou a utilizar-se o termo de
centro de saúde se referindo a um agrupamento de serviços médicos, de
1 enfermagem e de assistência sanitária em funcionamento em um único imóvel

2 Esse conceito foi impulsionado amplamente pela Universidade Johns


Hopkins, com intenso fomento da Fundação Rockefeller, e chegou ao
Brasil no início da década de 1920, trazido pelos bolsistas dessa
3 fundação para promover, no exterior, o estímulo à saúde pública, o
ensino, a pesquisa e a filantropia.

4 Apesar do modelo de atenção primária em saúde ter sido estabelecido


na década de 1960, os centros de saúde possuíam foco nas ações de
prevenção e promoção da saúde, apesar de, em alguns casos,
realizarem cuidados voltados para a recuperação.
História “saúde-doença”
Territórios definidos

Educação em saúde

Os centros de saúde possuem


diversos pontos de convergência com o
contemporâneo Programa de Saúde Foco na família, exames
da Família, hoje, Estratégia de Saúde periódicos e acompanhamento da
da Família – ESF. criança e gestante

Vigilância sanitária

Prioridade sobre população vulnerável


e doenças transmissíveis, vacinação,
conselho comunitário e visita domiciliar.
Conceitos de saúde e doença

Hoje, além das ações de prevenção e assistência,


considera-se cada vez mais importante atuar sobre
os fatores determinantes da saúde.
Carta de Ottawa

A Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá,


em novembro de 1986, apresenta neste documento sua Carta de Intenções, que seguramente
contribuirá para se atingir Saúde para Todos no Ano 2000 e anos subsequentes.

Carta de Ottawa (1986) - [...] o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal,
assim como uma importante dimensão da qualidade de vida. Fatores políticos, econômicos, sociais,
culturais, ambientais, comportamentais e biológicos podem tanto favorecer como prejudicar a saúde.
As condições e os recursos fundamentais para a saúde são: Paz – Habitação – Educação –
Alimentação – Renda - ecossistema estável – recursos sustentáveis - justiça social e equidade. O
incremento nas condições de saúde requer uma base sólida nestes pré-requisitos básicos.
Conceitos de saúde e doença

Não existe um limite preciso entre a saúde e a doença, existe uma reciprocidade entre ambas.
Os mesmos fatores de sobrevivência do ser humano como alimento, a água, o ar, entre outros,
podem estar presentes em excesso ou podem não existir (falta de), sendo causadores de
doença (CAPONI, 2009). O que você considera normal pode não ser normal para o outro,
portanto não existe rigidez no processo.

O limite de normalidade e patologia ocorre de maneira particular em cada indivíduo


O processo saúde-doença representa, então, o conjunto de relações e variáveis que produz e
condiciona o estado de saúde e doença de uma população, considerando que essa se
modifica ao longo da história, de acordo com o desenvolvimento científico (GUALDA;
BERGAMASCO, 2004).

A esse conjunto de relações e variáveis soma-se o ambiente, sendo esse considerado como: o
local em que as pessoas moram, trabalham e se relacionam, nos quais exercem influências e
são afetadas por ele.
Reflita sobre a seguinte situação: “Uma família formada por 04 adultos e 03 crianças,
habitando uma casa, de apenas 02 cômodos, compondo cozinha e quarto, sendo o banheiro
externo”.

Provavelmente essa família apresentará conflitos, problemas que atingirão sua saúde
mental; esse quarto, na maioria das vezes, é pequeno, úmido e sem ventilação, o que o
torna insalubre. Essas prováveis características do local poderão acarretar doenças
respiratórias, como bronquite, pneumonias, tuberculose, entre outras.

Com esse exemplo, pode-se observar que os fatores ambientais da moradia, assim como as
relações econômicas, as relações sociais e as condições biológicas de cada um, podem ter
interferência na vida das pessoas, causando ou não doenças.
Modelos explicativos
em saúde

 Modelo Biomédico  Modelo da história natural


Modelos explicativos em saúde
 Modelo Biomédico

Conceito de saúde:
Saúde é quando há a ausência de doenças, condição que é inadequada para o
conhecimento atual

O modelo biomédico, permitiu um grande avanço nas


especialidades, mas acabou perdendo o entendimento do
ser humano em sua totalidade.
Modelos explicativos em saúde
 Modelo da história natural

Proposto em 1953 por Edwin Gurney Clark, professor de epidemiologia

A história natural da doença busca explicações a partir de um modelo multicausal e possui


uma estruturação explicativa a partir da tríade causal: agente, hospedeiro e o meio

Agente

E o meio Hospedeiro
Modelos explicativos em saúde
 Modelo da história natural

A descrição do surgimento ininterrupto de uma doença em um homem desde a exposição aos


agentes infecciosos até a reabilitação, recuperação ou a morte é a história natural da doença.

Quais são os períodos do processo saúde-doença?


Há duas fases no desenvolvimento da história natural da doença:
Pré-patogênico ou epidemiológico: antes de o indivíduo adoecer. Diz respeito à interação entre
os fatores do agente, do hospedeiro e do meio ambiente.
Patogênico: quando o indivíduo já manifesta os sintomas da doença e deve ser tratado.
Modelos explicativos em saúde
 Modelo da história natural

Quais as 4 fases da história natural das doenças?


Período inicial da patogênese ou de incubação
Período prodrômico*
Período manifestação clínicas
Evolução (cura, cronicidade).

Período prodrômico*: Sucede o período de incubação e apresenta sinais e sintomas


inespecíficos (4 a 7 dias), o que dificulta o diagnóstico nesse período
Figura – Modelo da História Natural da Doença
Modelos explicativos em saúde
 Modelo da história natural

A compreensão do modelo da história natural da doença permite um importante passo


para a saúde, que é a determinação dos níveis de prevenção.
Modelos explicativos em saúde
 Modelo da história natural

Níveis de prevenção
Segundo os propositores desse modelo, a perspectiva de prevenção deve estar presente em
qualquer momento no qual seja possível algum tipo de intervenção para evitar o adoecimento
ou amenizar as consequências em um indivíduo já doente.

Para tanto, foram estabelecidos três níveis de prevenção: primária, secundária e terciária.
A Figura mostra os níveis de medida de prevenção de acordo com o modelo da História Natural da
Doença, sendo que a prevenção pode ser classificada em níveis primário, secundário e terciário.

Período Pré-patológico Período Patológico

Primária: a prevenção é feita antes


mesmo da doença, ou seja, no
período pré-patogênico.

Secundária: são as ações de quando


o curso da doença se encontra na
fase patológica.

Terciária: remete às ações para a fase


final do processo e visa a desenvolver
a adaptação da pessoa a condições
irremediáveis, ou seja, a reabilitação;
para tanto, será necessária a ação da
fisioterapia etc (PEREIRA, 2006).
Modelos explicativos em saúde
 Modelo Biopsicossocial

• Anos 70
• Necessidade de reintegração da dimensão
psicossocial às práticas de saúde.
• Contraposição ao modelo biomédico, com a
contribuição de diversas áreas do conhecimento.
Modelos explicativos em saúde
 Modelo Biopsicossocial

• Atenção tanto para o desempenho clínico quanto para


as habilidades de comunicação, com destaque para a
humanização no atendimento dentro do modelo de
atenção à saúde.
• Reconhece os determinantes da saúde.
• Necessidade de cuidar das pessoas e não “curar
doentes”.
• Investimento na Estratégia de Saúde da Família.*
Problematizando
É possível uma pessoa que nunca fumou ter câncer de Pulmão?
Há de se convir que o hábito de fumar contribua e muito para o desenvolvimento do câncer de
pulmão, mas não é a única causa. Assim como pessoas que nunca fumaram também podem
desenvolver o câncer de pulmão.

Veja que, com esse exemplo, afastando a causa (hábito de fumar) a pessoa ainda tem chance
de desenvolver a doença. O mesmo acontece com várias outras doenças que podem ter
múltiplas causas. A causa se dá pela exposição a fatores de riscos, sendo esses
correspondentes à história familiar, estilos de vida, hábito de fumar, entre outros (PEREIRA,
2006).

A Teoria da Multicausalidade oferece respostas mais adequadas, principalmente às doenças


crônico-degenerativas, pois, diferente das doenças infecciosas, tem várias etiologias e algumas
doenças ainda permanecem com etiologias obscuras, carecendo de estudos e respostas.
Recapitulando
Conceito de saúde e doença

Conceito de saúde e doença ao longo do tempo

Função da tríade causal das doenças


Unicausalidade e Multicausalidade

A história natural das doenças Determinação dos níveis de prevenção


Referências
ALMEIDA-FILHO, N; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à epidemiologia. 4. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2006, 296p.

JEKEL, J. F; KATZ, D. L; ELMORE, J.G. Epidemiologia, bioestatística e medicina preventiva. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2005, 432p.

PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf

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