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Aula 1 – Bioética – 10/06/2021

BIOÉTICA – INTRODUÇÃO:
 Bioética: vida + valores morais e princípios ideais do comportamento humano
 Origens da filosofia grega => pensadores tratavam das questões do comportamento
humano -> ética.
 A primeira definição de bioética:
 O Prof. Van Rensselaer Potter manifestou preocupação pelo problema ambiental e pela
repercussão do modelo de progresso que se difundia na década de 60. O seu
pensamento bioético foi claramente influenciado pelas ideias de Aldo Leopold e Albert
Schweitzer.
 “Temos uma grande necessidade de uma ética da terra, uma ética para a vida selvagem,
uma ética de populações, uma ética de consumo, uma ética urbana, uma ética
internacional, uma ética geriátrica e assim por diante... Todas elas envolvem a bioética.”
 As influências de Potter:
 Albert Schweitzer (1875 – 1965) -> “Uma ética que nos obrigue apenas a preocupar-nos
com os homens e a sociedade é incompleta. Somente aquela que é universal e nos obriga
a cuidar de todos os seres vivos, é que nos coloca verdadeiramente em contato com o
universo e a vontade nele manifestada.”
 Aldo Leopold (1887 – 1948) -> Prof. Aldo Leopold lançou as bases para a Ética Ecológica,
que inspiraria Potter a lançar o termo Bioética, em 1970. Escreveu os 1ºs textos que
abrangiam eticamente os aspectos da vida do planeta (a que Potter mais tarde chamaria
de Ética Global.”
 O percurso histórico da bioética:
 Em 1971, Potter volta a utilizar o termo Bioética para dizer que é “a ponte entre a ciência
e as humanidades.”
 Em 1988 Potter elabora nova versão de Bioética: A Bioética Global, isto é: “A Bioética é a
combinação da biologia com conhecimentos humanísticos diversos constituindo uma
ciência que estabelece um sistema de prioridades médicas e ambientais para uma
sobrevivência aceitável.”
 Seguiram-se vários autores, entre os quais salientamos: Reich, Roy, Durant, Engelhardt,
Comte-Sponville. E surge então:
 Por Potter, em 1998, a definição de Bioética Profunda. Tratou-se de uma aplicação do
conceito proposto pelo Prof. Arne Naess (Ecologia Profunda) à Bioética.
 Definição de Bioética Profunda: é a nova ciência ética que combina a humildade,
responsabilidade e uma competência interdisciplinar, intercultural e que potencializa o
senso de humanidade.
 Daí para cá muitos autores têm definido “Bioética”... eis uma das últimas:
 Onora O’Neill (em: “Autonomy and Trust in Bioethics.” (Cambridge – 2002): Bioética é
um campo de encontro para numerosas disciplinas, discursos e organizações envolvidas
em questões levantadas por questões éticas, legais e sociais trazidas pelos avanços da
medicina, ciência e biotecnologia.
 Evolução do conceito de bioética:
 Três estágios:
 Bioética Ponte – 1970
 Bioética Global – 1988
 Bioética Profunda – 1998
 Bioética Ponte – 1970:
 Características:
 Visão mais restrita dos problemas éticos, ligados à assistência e à pesquisa em saúde.
 Principais estudiosos: Prof. Warren Reich e Le Roy Walters, ambos do Kennedy
Institute, da Universidade de Georgetown-Washington (criado em 1970 por Joseph e
Rose Kennedy – Institute for Study of Human Reproduction and Bioethies).
 Bioética Global – 1988:
 Características:
 Visão abrangente dos problemas do mundo, incluindo questões da saúde e da ecologia,
numa proposta pluralista e globalizante, como na obra do Prof. Tristan Engelhardt.
 Bioética Profunda – 1998:
 Em 1998, Potter propõe que a Bioética está atualmente no 3º estágio de evolução de seu
conteúdo, configurado no que ele chamou de Bioética Profunda.
 Características:
 Visão abrangente dos problemas mundiais, incluídos a Ecologia e os Direitos Humanos,
acolhidos na Convenção sobre Bioética e Direitos Humanos, firmada em Paris em 2005.
 Esta denominação foi utilizada pela primeira vez pelo Prof. Peter Whitehouse,
aplicando à Bioética o conceito de Ecologia Profunda, do filósofo norueguês Arne
Naess.
 Características fundamentais:
 Abrangência
 Pluralismo
 Interdisciplinaridade
 Abertura
 Incorporação crítica de novos conhecimentos em todas as suas propostas de definição.
 Dilemas bioéticos:
 “A Bioética é uma ética aplicada que se ocupa do uso correto das novas tecnologias na
área das ciências médicas e da solução adequada dos dilemas morais por elas
apresentados”. => Principialismo
 Principialismo:
 Conjunto de princípios, de referenciais, de meios, que contribuem para orientar a
reflexão e a efetivação da ação ética.
 Origem: EUA – Relatório de Belmont e Beauchamp e Childress
 Atualmente tem abrangência mundial
 Relatório Belmont, redigido pela Comissão Nacional criada pelo Congresso Norte-
Americano, em 1974 e assinado no Centro de Conveções Belmont, da Universidade de
Elkridge, no Estado de Mariland.
 O Relatório Belmont apresentou três princípios basilares da Bioética, inspirado na
Convenção de Helsinque: autonomia, beneficência e justiça.
 Houve a necessidade de um quarto princípio. Hoje: 1) Respeito da autonomia; 2) Não-
maleficência; 3) Beneficência; 4) Justiça
 Princípios básicos, evidentes e incontestáveis que fundamentam a vida moral.
 Obrigatórios numa primeira consideração.
 Princípio da Autonomia:
 Autonomia => Capacidade de pensar, decidir e agir de modo livre e independente
 “Sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano.”
 Respeito à pessoa autônoma:
 Capaz de deliberar e agir de acordo com suas convicções
 Considerar suas opiniões e escolhas e evitar a obstrução de suas ações
 Proteção às pessoas com autonomia diminuída:
 Indivíduos mentalmente comprometidos, pessoas institucionalizadas (prisioneiros), etc.
 Princípio da Beneficência:
 Beneficência => Fazer o bem
 Obrigação moral de agir para o benefício do outro
 Deve-se fazer o bem ao outro independente de deseja-lo ou não.
 “Usarei meu poder para ajudar os doentes com o melhor de minha habilidade e
julgamento; abster-me-ei de causar danos ou de enganar a qualquer homem com ele.”
(Hipócrates)
 Princípio da Não-maleficência:
 Não causar dano intencional, não prejudicar.
 “Usarei meu poder para ajudar os doentes com o melhor de minha habilidade e
julgamento; abster-me-ei de causar danos ou de enganar a qualquer homem com ele.”
(Hipócrates)
 Evolução do Principialismo:
 O princípio da não-maleficência é introduzido na Bioética pelos oncologistas norte-
americanos Tom Beauchamp e James Childress, na obra “Principles of Biomedical Ethics.”
(1977)
 Noção de não-maleficência: “As obrigações de não-maleficência são obrigadações de não
prejudicar e de não impor riscos de dano.”
 “Não devemos infligir mal ou dano.”
 O Principialismo é um conjunto de postulados básicos que, mesmo não possuindo um
caráter de princípios absolutos, serve para ordenar as discussões bioéticas.
 A vantagem do Principialismo é ser operacional, facilitando a análise dos casos, e
constitui-se num componente necessário do debate bioético.

 Os quatro princípios, com a sua formulação elementar, proporcionam uma linguagem clara
e acessível, mesmo aos leigos, para o debate das questões, a deliberação e a decisão.
 Hipócrates: “Pratique duas coisas ao lidar com as doenças; auxilie ou não prejudique o
paciente.” => Princípio da Beneficência e da Não-Maleficência
 Princípio da Justiça:
 Justiça distributiva => distribuição justa, equitativa e apropriada na sociedade, de acordo
com normas que estruturam os termos da cooperação social.
 Capítulo V – Relação com pacientes e familiares:
 É vedado ao médico:
 Art. 32.: Deixar de usar todos os meios disponíveis de promoção de saúde e de
prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, cientificamente reconhecidos e a seu
alcance, em favor do paciente.
 “Bioética não é uma disciplina, nem mesmo uma nova disciplina. Ela se tornou um campo
de encontro para numerosas disciplinas, discursos e organizações envolvidas com
questões levantadas por questões éticas, legais e sociais trazidas pelos avanços da
medicina, ciência e biotecnologia.”
 Não é uma disciplina isolada -> envolve questões da vida relacionadas com diversas áreas
(Medicina, Nutrição, Biologia, Filosofia, Sociologia, Teologia, Antropologia, Ecologia,
Direito, Política).
 Reflexão ética sobre os seres vivos tais como eles se apresentam nas relações cotidianas
do mundo vivido e nos contextos teóricos, bem como práticos, da ciência e da pesquisa.
 Aplicada à vida humana e não humana. Abrange questões relacionadas com o meio
ambiente e o trato com animais.
 “Bioética nada mais é do que os deveres do ser humano para com o outro ser humano e
de todos para com a humanidade.” – André Comte-Sponville
 Capítulo I (Código de Ética Médica) – Princípios Fundamentais:
I – A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será
exercida sem discriminação de nenhuma natureza.
II – O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual
deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.
III – Para exercer a medicina com honra e dignidade, o médico necessita ter boas
condições de trabalho e ser remunerado de forma justa.
IV – Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da medicina, bem
como pelo prestígio e bom conceito da profissão.
V – Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do
progresso científico em benefício do paciente e da sociedade.
VI – O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu
benefício, mesmo depois da morte. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar
sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar
tentativas contra sua dignidade e integridade.
VII – O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar
serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas
as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando
sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente.
VIII – O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar
à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam
prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.
IX – A medicina não pode, em nenhuma circunstância ou forma, ser exercida como
comércio.
 Principais temas:
 Diagnóstico pré-natal; conselhos genéticos; eugenia fetal; terapia genética.
 Reprodução humana assistida em todas as suas modalidades e suas implicações técnicas
(bancos de esperma, bancos de embriões, mães de aluguel).
 Práticas abortivas, esterilização masculina e feminina.
 Terapia e manipulação genética em todas as suas formas.
 Experiências com animais.
 Experiências como seres humanos, embriões e cadáveres em qualquer fase do ciclo vital.
 Reanimação, eutanásia e direito a uma morte digna.
 Biogenética animal e vegetal.
 Investigação e desenvolvimento de armas biológicas e químicas.
 Informações clínicas e a sua comunicação ao paciente.

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