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PRÁTICAS
Hoje vamos falar na acessão e ocupação. Houve uma alteração quanto aos
animais, o resto manteve-se.
Temos no artigo 1323º várias figuras, mas vamos começar pelo Nº1 que
estabelece um regime especial e assenta na convivência solidária, temos o dever
social de entregar aquilo que encontramos perdido, relacionado com a boa fé, se
alguém ocupa uma coisa que não lhe pertence, não adquire, deve entregar; mas
se apreender estamos perante uma forma de aquisição da posse, já relacionado
com Direito Penal (furto). Relativamente aos animais, (ver artigo), o professor
pensa que teremos aqui um dever voluntarista.
Até agora vimos deveres ligados à ocupação, mas onde ainda não há aquisição.
No Nº4 está subentendido que o animal deve ser entregue às autoridades
competentes, porque quem encontra não é obrigado a ficar com o animal.
Se ninguém reclamar o animal ou a coisa no espaço de um ano, aí há aquisição,
só aqui é que se adquire por ocupação.
Outra realidade que tem a ver com os Nºs 6 e 7: enquanto a indemnização não
lhe for paga pode reter a coisa, não esta obrigado a entregar a coisa , há aqui um
direito de retenção, que é um direito de garantia que se traduz no facto do
credor ficar com a coisa enquanto devedor não pagar as despesas relacionada
com essa coisa, o credor pode vender a coisa e com esse dinheiro pode ressarcir-
se. A retenção é um direito real.
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Direito diferente no Nº7 (maus tratos a animais) aqui não há direito real de
garantia, há, verdadeiramente um direito de guarda, só para prevenir danos,
logo há uma faculdade do achador não entregar o animal quando esteja em
causa a própria integridade do animal. A finalidade é a tutela do animal. Temos
um mero direito de crédito, e não real, que é atribuído a uma pessoa para tutelar
a integridade do animal.
Quanto à acessão:
(artigos 1325º e 1326º)
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uma tela que não são suas. Há na mesma junção de coisas distintas, mas pode
haver, também, trabalho sobre material alheio. Temos de ver, também, se há
boa ou má fé, porque os regimes também serão diferentes.
Será má fé o caso em que o adjuntor ignora que o bem junto ao seu é alheio.
Na boa fé a lei admite a acessão; a lei faz depender isso do valor (artigo 1333º,
n1) e faz também depender isso, também, de saber se é ou não possível a
separação dos bens, se for possível, a lei dá prioridade a esta separação.
Para nós, releva a acessão industrial. Também aqui temos regimes distintos.
Temos a junção de coisas móveis a coisas imóveis. E temos, também, a distinção
entre boa e má fé, há casos em que releva e outros casos em que não.
Caso mais geral é aquele em que alguém planta ou constrói com materiais
alheios em terreno próprio – artigo 1339º – a lei diz que adquire os
materiais, pagando o valor dos bens e uma eventual indemnização.
Artigo 1340º, nº4 quanto à noção de boa fé. Se o bem (terreno) era alheio ou se
foi autorizado.
Artigo 1340º se estiver de boa fé adquire o terreno (quando constrói em terreno
alheio) se foi autorizado pelo dono do terreno, o que por vezes é difícil o dono
provar que não deu autorização. Não se sabe bem a quem cabe o ónus da prova,
mas parece que será a quem acedeu, a quem obteve o consentimento.
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Para além da boa fé, a norma define, ainda, como critério de definição da
propriedade, o critério de maior valor – artigo 1340º, n1.
Vamos supor que o terreno antes das obras valia 100, como é que se
preenche este critério? O valor tem de ser, no mínimo, de 201, porque é a
diferença entre o antes e o após a obra, já que os 100 já lá estavam,
porque era o que o terreno valia. Se for de má fé, os critérios invertem-se
– artigo 1341º - o dono do terreno tem direito que a obra seja desfeita à
custa do acessor.
Há, ainda, uma 3ª hipótese: alguém que constrói em terreno alheio com
materiais alheios.
Mais uma vez, a lei estabelece o regime do artigo 1340º por remissão do artigo
1342º.
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Artigo 1349º direito com origem legal - servidão legal.
•Na demarcação também temos direitos com origem legal. A lei, por um lado,
quer que os vizinhos se entendam e, por outro lado, que se houver despesas que
sejam divididas pelos prédios confinantes.
Artigo 1376º o que está em causa é que a lei quer evitar o desmembramento de
prédios rústicos. É uma restrição ao direito de propriedade.
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Outros regimes especiais de restrição do direito de propriedade:
Por exemplo: os pais com um terreno não o podem dividir pelos filhos como
herança, mas se quiserem vender, são atribuídos aos vizinhos direitos de
preferência, de modo a aumentar a unidade de cultura (isto não se aplica se
houverem fins de construção). São nulos os atos de fracionamento, em nome da
tutela do direito de propriedade, a lei estabelece um regime de nulidades mistas
– 1379º, há prazo para invocar (3 anos) e nem todos a podem invocar, só o MP e
os vizinhos preferentes, são, então, 2 exceções ao regime de nulidade.
Portaria 219/2016 vem fixar aquilo que se entende como unidade de cultura
fixada para cada zona do país.
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Se lermos o artigo 1403º, parece que há um direito sobre a coisa – “direito
de propriedade”. Mas no Nº2 diz-se “direitos dos consortes”. Ficamos sem
saber se há um único direito ou se existem vários.
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•Direito de usufruto – artigos 1439º e sgts. Os direito reais estão sujeitos a
grandes limitações.
A ordenação que a lei estabelece, quanto aos direitos de gozo, é uma indicação
de ordem crescente.
Com efeito, o direito mais denso, a seguir à propriedade, é o direito de usufruto.
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Relativamente ao direito de usufruto ainda, chamar atenção para normas dos
artigos 1451º e 1452º, que têm de ser bem interpretadas, um sobre coisas
consumíveis (artigo 208º parece contrário à salvaguarda da forma de substância,
parece que se trata de uma anomalia, se a lei proibisse o usufruto das coisas
consumíveis não poderia haver usufruto do estabelecimento comercial; quando
se fala das coisas estimadas fala-se do valor que elas valem. Aqui ou há
devolução das coisas, ou devolução do valor.) e outro sobre coisas deterioráveis
(que são coisas suscetíveis de diminuírem de valor com o uso, são parcialmente
consumíveis; quando há usufruto sobre estas coisas só é obrigado a entregar as
coisas como elas estavam no fim do usufruto).
Artigos 1457º e 1458º aqui não é possível separar os bens. Isto só é admissível,
do ponto de vista jurídico, porque não é possível explorar a mina sem mexer no
solo, a lei admite esta figura com base numa ficção jurídica, as pedreiras e minas
são tratados como objetos autónomos e distintos do direito do proprietário.
A admissibilidade do usufruto de minas a pedreiras supõe, por parte do
ordenamento jurídico, um desmembramento do objeto face ao solo. Ligado ao
carácter temporário do usufruto, a norma do 1460º, a constituição de servidões
são servidões a termo.
São tratadas pela lei como uma coisa simples ou uma pluralidade de
coisas? É claro que podemos dizer que, tendo destino unitário, parece que
podem ser tratadas como uma coisa só, no entanto, esta ideia de unidade
de fim talvez não seja suficientemente densa para daí extrair que se trata
de uma coisa simples e não de coisas em conjunto. Aqui vamos seguir a
opinião de que sobre cada coisa existe um direito.
Outro aspeto que caracteriza é o nº2 do artigo 206º o facto de cada coisa puder
ser objeto de relações jurídicas próprias o que confere individualidade
económica e jurídica, o que nos permite afirmar que, ao conferir esta
possibilidade de autonomia, parece que a lei está a considerar mais as coisas per
si do que no conjunto. O valor das coisas é igual ao somatório de cada coisa.
Cada coisa, um direito.
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Artigo 1462º, vemos a teoria unitária, no Nº2 já não conta o número de
unidades, a lei já unifica a universalidade (unificação da universalidade).
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A norma é inconstitucional, por violação do artigo 13º nº 2 da CRP.
CASOS PRÁTICOS:
•B—C:
Aquisição originária por esbulho, B é mero detentor, tem corpus, mas não tem
animus, nem sequer quer possuir, logo não a poderá transmitir, há usurpação.
C tem uma posse não titulada (artigo 1259ºCC), porque não se funda em
qualquer negócio jurídico e, não é a contrario não confundir, só o seria caso
existisse negócio jurídico que não desse posse titulada, apenas está prevista para
a aquisição derivada e não originária), havendo uma presunção iuris tantum de
má fé, esta presunção é relativa, ou seja, ilidível, exceto quando é adquirida por
violência – artigo 1260º, nºs 2 e 3.
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Mas quando é que a posse se torna cognoscivel? A lei fala de quando a posse é
cognoscivel para terceiros.
•C—D:
aquisição derivada por tradição real explícita material, pois há uma tradição, e
direta – artigo 1263º, b).
Trata-se de uma posse titulada, logo presume-se de boa fé (presunção relativa,
para a invertermos teríamos de provar que D sabia que a coisa era furtada,
teríamos posse titulada de má fé ).
Posse pacifica e pública (não há ocultação). A posse adquirida é não titulada que
é presumida de má fé – artigo 1260º nº2 e 3.
•Quanto à possível posse de D, prazos de usucapião – artigo 1299º, isto é, 6
anos, pois encontra-se de má fé.
•A—B: posse primeiro violenta, depois pacífica, não titulada, pública, e de má fé.
É uma situação de mera detenção em relação a B (artigo 1253º, a)),
precisamente por ter ficado na esfera de disponibilidade fáctica de B, mas no
momento em que a situação ocorreu ele não tinha vontade, ou seja o animus (B
não queria agir como beneficiário nem ter poderes de facto sobre o bem – falta
natureza jurídica àquele recebimento do bem)
Tem o corpus, mas não o animus, mas o facto de B ter ficado com o bem não
quer dizer que ele tenha posse, dado que não existe animus.
Pela natureza do ato que foi a causa de aquisição, há mera detenção.
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Se a coação fosse ao contrário, de B para A: aquisição originária por usurpação
enquanto esbulho.
•B—C: C adquire através de B que sabia que não tinha poderes para tal. Estamos
perante uma situação de aquisição originária por usurpação, mais precisamente,
Inversão do título da posse, aqui já há um animus – inversão do título da posse
por ato do próprio detentor. B sabia que não tinha animus sobre o bem, mas
quando efetua a venda a C, ou seja, quando inverte o título da posse, é como se
desenvolvesse o animus que, juntamente com o corpus, lhe dão a posse.
•D—E: supondo que se continua a tratar de uma coisa móvel, temos uma
vontade de transmitir de D, que se assume possuidor quando vende a E,
acompanhada da entrega da coisa, fenómeno possessório.
Em relação a E, aquisição originária por inversão (implícita) do título da posse,
nomeadamente, inversão autónoma.
A posse é, ainda, não titulada, logo presume-se de má fé (artigo 1260º, n2).
Se não tem capacidade para entender e querer (este é o critério comum para a
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capacidade da posse, menos exigente que para a aquisição do direito), apesar de
ser maior de 18 anos, fica com a coisa na mesma, como já vimos, não adquire a
posse, por isso, E é mero detentor alínea c), 2ª parte, do artigo 1233º, há uma
aparência de ato jurídico. (no caso de coação física seria a alínea a).
Na falta de entrega da coisa, não há corpus.
•A--B:
Estamos perante uma simulação relativa – artigo 241º, nº1 do CC, visto que
aquilo que as partes queriam, na verdade, era a celebração de um comodato,
logo não há animus. Deste modo B é um mero detentor – artigo 1253º, c) do CC.
•B—C:
Estamos perante uma inversão do título da posse, uma vez que B era mero
detentor e agiu como se fosse possuidor constituindo um usufruto a favor de C.
Então, B adquire por via de aquisição originária. Temos uma posse não titulada
que se presume de má fé – artigo 1260º, nº2.
C adquire através de uma aquisição derivada - tradição real, explícita, material ou
simbólica. Estamos perante uma posse titulada pois, ainda que exista um vício
substancial, isso não influencia este caráter da posse. A posse será não titulada
se padecer de um vício de forma, no que se refere à forma de constituição do
usufruto (artigo 1440º).
•A–C:
Inversão do título da posse por ato de terceiro (A), a aquisição da posse de C é,
deste modo, originária.
C é possuidor em 2001 (pelo usufruto B—C), em termos de usufruto e, em 2003,
é possuidor em termos de propriedade de raiz.
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Ele adquire a posse, em termos de propriedade, em 2003, mas já era possuidor
em termos de usufruto em 2001, logo poderá adquirir por usucapião, nos termos
do artigo 1296º CC, dali a 20 anos, pois trata-se de um bem imóvel adquirido por
posse de má fé. Assim:
•em 2021 poderia usucapir o direito de usufruto
•em 2023 poderia usucapir o direito de propriedade.
Temos posses diferentes adquiridas em momentos diferentes, ele pode ter
interesse em invocar primeiro o usufruto, porque houve uma não
simultaneidade entre a posse do usufruto e a posse da propriedade.
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2004 e as ameaças mantiveram-se. Depois A morre em 2008 e sucede-lhe E (que
já é maior). Em 2007, mantendo-se os efeitos da coação moral, E doa a F.
Em 2007, F constitui usufruto a favor de A.
Resolução:
• Quanto a A:
Como estamos perante um bem móvel de elevado valor, deduzimos que foi
perdida, logo aplicamos o artigo 1323º. Não adquire por ocupação.
Há aquisição originária por esbulho.
Artigo 1323º, nº4, mas ainda não passou 1 ano, logo não pode fazer do relógio
seu. Trata-se de uma posse não titulada, presumida de má fé, pública e pacífica.
• Quanto a B:
B adquire por aquisição derivada por tradição real explícita, material e direta,
titulada e presumida de boa fé, pública e pacífica.
• Quanto a C:
C sucede B, logo há aquisição derivada por tradição ficta mortis causa. Posse
titulada e presumida de boa fé. É na mesma posse e não outra qualquer forma
autónoma. Tem as mesmas características de B.
• Quanto a D:
Aquisição derivada por tradição real explícita e material, porque se dá contra a
vontade do possuidor. A posse é violenta, titulada, mas presumida de má fé e
pública.
• Quanto a E:
É sucessor de A.
Vamos supor que E é menor e que tem representante legal: (E ,em 2008,
tem 10 anos) e que em 2007, F constitui usufruto a favor de A, que é
possuidor em termos de usufruto.
Temos aqui posses simultâneas em momentos diferentes de aquisição:
E tem 10 anos em 2008 e faz 18 em 2016.
2016 + 1 (artigo 320º, n1) = 2017.
Mas F adquire em 2011 e não em 2017, porque não há suspensão, porque
E não é proprietário e a suspensão corre a favor dos proprietários, no que
toca à usucapião, como também não corre contra o possuidor.
• Quanto a F:
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Está sob violência em relação a C. F em 2007 é possuidor. Há aquisição derivada
por tradição real explícita material direta. Posse titulada presumida de boa fé,
pacífica em relação a D e sob violência em relação a C, e é pública.
O facto de estar sob violência termina quando terminar a coação moral e os seus
efeitos.
Como, neste caso, as ameaças se mantiveram, o prazo de usucapião não se
conta – artigo 1300º.
Aplicamos o artigo 1300º, n2, logo F adquire por usucapião em 2011, mas temos
de ter em conta, também, o facto de estar de boa fé. No artigo 1300º a boa fé
será o desconhecimento que a posse anterior tinha sido adquirida de forma
violenta, tem de desconhecer que foi exercida de forma violenta.
Se F estava de má fé, ou seja, sabia que D tinha adquirido com violência, o prazo
de usucapião não corre, só corre quando cessar a violência. Nesta situação,
aplicamos o princípio geral, ou seja, não há usucapião contra quem está sob
violência.
• Quanto a A—B:
Artigo 929º, respeita os 5 anos. Depois da resolução, o imóvel volta para a esfera
jurídica do vendedor – artigo 927º. Logo em 2005 A readquire a propriedade.
• Quanto a B—C:
C desconhecia tudo o que se passou entre A e B, ignorava que o imóvel era
alheio.
Temos 3 vícios:
1º Há uma venda de bens alheios (artigo 892º), porque B não é titular do imóvel,
logo C não adquire.
Mas temos de ver a norma do artigo 894º que se aplica a A (relação A—C): esta
norma confere direito ao preço e direito de retenção (é uma garantia), não
confere nenhum direito de propriedade.
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A tem de pagar (o que C pagou a B pelo imóvel, tem de o ressarcir) ao adquirente
de boa fé para fazer cessar o seu (de C) direito de retenção e reaver o imóvel. A
boa fé de C é oponível a A, mas não confere direitos a C.
O que C pagou a B pelo imóvel, A pode exigir de B, porque A teve de ressarcir C.
Em 2007:
➔ A é proprietário;
➔ C é detentor.
Imaginemos agora que C registou e não houve vício de forma, nem coação
moral, mantendo-se o ano de 2006:
C, nestas condições, continuava sem adquirir, nada mudava face à nossa
hipótese inicial, porque o 291º não se aplica, pois C não é um 3º em 2006, dado
que em 2006 já havia qualquer relação entre A e B, B ia vender uma coisa que
não adquiriu de ninguém, não há cadeia de transmissão. Se fosse em 2004,
mantinha-se a cadeira de transmissão e seria uma situação diferente.
• Quanto a A—D:
A venda simulada é nula – artigo 240º, n1 e 2. D não é proprietário porque o
negócio é afetado por um duplo vício que vai afetar D—E. Este negócio também
enferma de um vício de forma e a nulidade deste negócio seria oponível a E, E
não era protegido face ao vício de forma, dado não estarem preenchidos
requisitos do artigo 291º.
• Quanto D—E:
Foi cumprida a forma legal – artigo 875º.
Há uma venda de bens alheios de D para E – artigo 892º – que é nula.
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