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Noção:
Um direito real é o poder direto ou imediato sobre uma coisa que a ordem jurídica atribui a
uma pessoa para satisfazer interesses jurídico privados nos termos e limites legalmente
estabelecidos. Trata-se de um poder de domínio ou soberania que o seu titular exerce direta e
imediatamente sobre uma coisa certa e determinada sem a interferência de qualquer outra
pessoa a que corresponde um poder de non facere (abstenção).
Direito de propriedade:
Artigo 1302º ss, é o direito paradigmático dos direitos reais. É o direito real máximo, absoluto
e aplica-se aos outros direitos reais. Confere o “ius utendi”, “ius fruendi” e “ius abutendi”. Este
é um direito que é aplicado às coisas corpóreas, ou seja tudo aquilo que existe, móveis ou
imóveis, incluindo até os animais, artigo 135º -A que, embora tenhma deixado de ser coisas
são seres sencientes artigo 201º-B, ou seja não têm capacidade jurídica e aplicam-se-lhe as
mesmas regras, artigo 201º-D e 205º.
Direito de usufruto:
Artigo 1439º, é um direito muito forte que permite usar e fruir “ius utendi” e “ius fruendi”
temporária e plenamente de uma coisa. Há um proprietário cujos poderes acabam por ser
comprimidos, segundo o princípio da elasticidade, para que outra pessoa goze do direito. Nos
termos do artigo 1476º, o direito do usufruto caduca com a morte do usufrutuário, ou seja não
se transmite.
Direito de habitação:
Artigo 1484º, é um direito que apenas permite usar a coisa “ius fruendi”, ou seja onera o
direito de propriedade dos herdeiros, quando termina o direito de habitação, este re expande
se à sua dimensão original. Segundo o artigo 1488º o direito de uso e habitação é
intransmissível, ou seja, é preferível fazer um direito de uso e habitação ao invés de usufruto,
isto porque se pode fazer cessar mais facilmente.
Direito de superfície:
Artigo 1524º, é uma exceção ao princípio “superfícies solo cedit”, onde deixamos alguém
construir à superfície do nosso solo e o superficiário é dono da obra que está à superfície,
havendo desmembramento da propriedade física. Aqui a superfície não acede ao solo, na
condição desre direito ter sido contruído antes. Temos então o dono do terreno e o dono do
que está construído à superfície, havendo dois direitos da propriedade da mesma coisa. Deste
modo, quando acabar o direito de superfície, o dono do solo adquire a propriedade daquilo
que lá está
Características dos Direitos Reais
Eficácia Absoluta:
É a característica mais forte e específica dos Direitos Reais, são direitos de exclusão com
eficácia “erga omnes” o que se traduz na atribuição ao seu titular do poder de exercer o direito
em face de todos os outros, ou seja afastam toda a gente que não seja o titular do direito real
da coisa. Esta exclusão deverá ser analisada para cada situação concreta, pois não há interesse
em excluir o mundo todo “ius excludendi”, mas sim as pessoas que de certa forma podem
interferir com o poder de outrem. Os poderes reais, têm um poder direto e imediato sobre a
coisa, constituindo uma relação direta de ordenação ou de domínio, este poder direto e
imediato tem no lado passivo uma obrigação de abstenção de todas as outras pessoas de nada
devendo fazer para que possa impedir ou dificultar o exercício da soberania.
A eficácia absoluta tem duas características, a primeira é que não é característica só dos
direitos reais, artigo 407º CC, ou seja, só quando há entrega da coisa é que há estabilidade do
direito, a segunda é que nem todos os direitos reais gozam de eficácia absoluta, ou seja,
quando não seja feito o registo a um imóvel ou um móvel sujeito a registo, não é eficaz contra
terceiros (princípio da publicidade). Em Portugal, o registo não é declarativo, é constitutivo e
no caso de uma hipoteca o registo é condição e eficácia relativamente a terceiros, artigo 5º
CREGPRED.
Inerência:
Traduz a ligação íntima dos direitos reais às coisas que constituem os seus objectos e pelas
quais passa a satisfação das necessidades dos seus titulares. Exemplos:
1. Usufruto: Não há transmissibilidade no usufruto, caducando com a morte do seu
titular usufruto. Pode é haver eventualmente uma cedência do seu exercício (1444º).
Não há transformação do direito real, mas sim a sua cessação e criação de um novo
direito real.
2. Servidões: As servidões em Portugal são servidões prediais e não há em Portugal a
figura da servidão pessoal. Assim, as servidões prediais não são em proveito de um
titular, mas sim de um outro prédio, independentemente de quem for seu titular
(1543º). Desta forma, a servidão não é transmissível dado que existe por referência a
dois prédios. Pode-se mudar a configuração: onde havia uma servidão de passagem a
pé pode ser alterada para uma passagem de carro; o que não se pode mudar é o
prédio, dado que o direito real é inerente à coisa.
Outras características:
A violação: na violação dos direitos reais em geral, como há uma obrigação de abstenção
(obrigação passiva universal de não fazer), geralmente resultam de um comportamento
positivo (ação - alguém que invade o meu prédio, que tenta obstruir o meu direito de
passagem, que construiu e destruiu a minha servidão de vistas, …).
Por sua vez, a violação de um direito de crédito resulta de um não cumprir (omissão -
prestação de facto positivo ou prestação de coisa).
Aquisição por usucapião: os direitos reais de gozo têm de forma geral a aquisição por
usucapião, ao contrário dos direitos pessoais (um arrendamento cujo contrato é nulo não pode
vir a invocar usucapião caso more no local há 20 anos). Os direitos reais que não se adquirem
por usucapião são o direito de uso e habitação (direito pessoal que visa satisfazer as
necessidades do seu titular), bem como as servidões não aparentes:
Servidões não aparentes são as que não aparecem, não é visível. Exemplo: se alguém
disser que andou a passar pelo terreno e não haja sinais visíveis da passagem, poderá
vir a invocar uma servidão não aparente.
Permanência: a ordenação dos direitos reais tem de ser estável, segura, sendo um aspeto
importante. Isto deve-se ao facto de os direitos reais durarem muito tempo (a propriedade de
uma casa dura enquanto existir casa, independentemente de se ser ou não sempre o mesmo
titular do direito; esse direito permanece sempre). Assim, a permanência dos direitos reais
opõe-se à transitoriedade dos direitos de crédito.
Existem, contudo, algumas críticas que se relacionam com a perpetuidade (há direitos reais
que são temporários, como o usufruto) e a estabilidade (há direitos reais que se extinguem
pelo seu exercício, como os direitos reais de garantia e de aquisição. Outro motivo é o da
transitoriedade, uma vez que existem obrigações que permanecem no tempo (ex: obrigação
de não concorrência).
Tutela forte: as características dos direitos reais conferem-lhe uma tutela forte, o que resulta
da sua oponibilidade a terceiros e das restantes características. A sua tutela é tão forte que até
são usados na proteção aos créditos (venda com reserva de propriedade – 409º, leasing).
Princípios Estruturantes
Princípios do lado interno – poder de usar a coisa
1. Princípio da Coisificação:
O direito real deve versar sobre coisas e não sobre pessoas ou bens não coisificáveis: uma
pessoa não pode ser propriedade de outra, nem a minha força de trabalho pode pertencer a
outrem (bem não coisificável).
Este princípio foi posto em crise com o novo estatuto jurídico dos animais por causa da
sua validade hermenêutica (no sentido de se querer dizer que os animais não são
coisas). Mais do que soluções concretas, assegurou-se com esta revisão de que os
animais não sejam tratados como coisas (inserção do Subtítulo I-A – Dos animais, entre
o título das pessoas e das coisas). Surgem os artigos 201º-B, 201º-C e 201-D que vêm
concretizar esta autonomização. No entanto, a 201º-D vem indicar que, na falta de lei
especial, se aplicam aos animais as disposições relativas às coisas. São, então,
suscetíveis de serem objeto de um contrato do comodato, locação ou até objeto de
direito de propriedade (1305º-A). Esta alteração aplica-se a todos os animais, não
apenas aos animais de companhia.
2. Princípio da Especialidade (ou individualização):
O objeto dos direitos reais deve ser uma coisa certa e determinada e, portanto, ter existência
atual. Não se é proprietário de uma coisa futura (coisas que ainda não existem ou as que não
existem na nossa ordem jurídica) – 408º/2.
Os privilégios creditórios (733º ss) mobiliários podem ser do tipo gerais (736º ss) ou especiais
(738º ss). Os privilégios creditórios mobiliários gerais incidem sobre todo o património de um
devedor não são garantias reais, sendo estes apenas os privilégios creditórios imobiliários ou
mobiliários especiais, uma vez que o objeto real é uma coisa certa e determinada e atual.