Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
__________________________________
Lição nº 1 e 2
Tema: Introdução
Sumário: Noção
Terminologia
Fontes
Características
1. NOÇÃO
Direito real é o poder directo e imediato sobre uma coisa que a ordem jurídica atribui a
uma pessoa para satisfazer interesses jurídico-privados nos termos e limites legalmente
fixados.
De direitos reais pode falar-se numa acepção objectiva e numa acepção subjectiva. Na
primeira fala-se dos Direitos Reais como a disciplina material das coisas corpóreas, um
predial, etc.). Não está em causa o conjunto de normas unificado num ramo de Direito,
Assim, quando se diz que o direito real é um direito absoluto ou um direito inerente a
uma coisa, a expressão direito real vem utilizada numa acepção subjectiva, de posição
jurídica que cabe a alguém relativamente a uma coisa (corpórea), embora se possa fazer
1
Alguns autores modernos cuidam de explicar isso dizendo que os juristas romanos apenas consideraram como
instituições jurídicas as personae, as res e as actiones, enquanto os outros autores pretendem que esta asserção está
longe de se confirmar seguramente nas fontes.
__________________________________
2. TERMINOLOGIA
coisas). Por conseguinte, na locução direitos reais, este adjectivo “reais” deriva de res, e
não de rex (rei). Porque o direito real é aquele que recai imediatamente sobre a coisa, e é
3. FONTES
no livro III do Código Civil (do artigo 1251.º ao artigo 1575.º). De fora deste livro, estão os
cretiditórios especiais e o direito de retenção) que se encontram no livro II, Direito das
e o pacto de preferência ambos com eficácia real no livro II (artigo 413.º e 421.º); o direito
Existem outras matérias do direito das coisas que estão regulamentadas fora do Código
Civil. Assim, podemos encontrar os registos: Código do Registo Predial e legislação que se
ocupa do registo das coisas móveis (registáveis) e no registo comercial, o Código do
Notariado e as Normas Constitucionais.
2
A segunda se aplica, com maior propriedade, ao estatuto das coisas, normas que contêm a definição e classificação
de coisas.
__________________________________
4. CARACTERÍSTICAS
Os direitos reais são direitos de exclusão e a sua eficácia é erga omnes, no sentido de que
podem ser feitos valer potencialmente contra qualquer um; o proprietário só tem de
É manifesto que, quer seja visto por um prisma estrutural, quer por um prisma de
oponibilidade, o direito real tem carácter absoluto, na medida em que não se estrutura
com base em qualquer relação jurídica, e por isso pode ser oposto erga omnes.
Como consequência do carácter absoluto do direito real resulta o facto de existir um dever
genérico de respeito desse direito por parte dos outros sujeitos, aos quais o titular do
direito pode sempre opor eficazmente o seu direito. Isto significa dizer que, os direitos
É neste sentido que se exprime que os direitos reais têm carácter absoluto, na medida
em que são oponíveis a qualquer pessoa que se pretenda ingerir no domínio reservado
ao seu titular.
Nos direitos reais de gozo, a oponibilidade erga omnes resulta das acções reais,
como a acção de reivindicação, artigos 1311.º a 1315.º do CC, que podem ser
utilizadas para defesa do direito, independentemente da demonstração da
irregularidade da aquisição por parte do possuidor ou detentor da coisa.
__________________________________
Nos direitos reais de aquisição, como a promessa real ou as preferências reais, o
clausus, artigo 1306.º do CC, e dela deduzem-se outras, como a Sequela e a Prevalência.
4.2. Sequela
significa que o direito persegue a coisa, onde quer que ela se encontre, mesmo que tenha
a coisa, independentemente de qual o seu actual possuidor ou detentor, mesmo que ela
Assim, quer a acção de reivindicação nos direitos reais de gozo, quer a execução nos
direitos reais de garantia, quer a aquisição nos direitos reais de aquisição, são sempre
transmitido para terceiro de boa fé. Pelo contrário, nos direitos de crédito, o credor não
pode atingir a coisa, a partir do momento em que ela sai do património do devedor.
A sequela é característica de todos direitos reais, e apenas destes. Haverá Sequela sempre
que o titular use de meios jurídicos para utilizar a coisa. Verificamos a Sequela na acção de
seu direito e a restituição do que lhe pertence, artigo 1311.º do CC, e pode manifestar-se
também através da acção confessória que constitui uma acção declarativa de simples
3
Os direitos reais de gozo conferem ao seu titular o poder ou faculdade de utilizar, total ou parcialmente, a coisa que
têm por objecto e, por vezes, também de se apropriar (total ou parcialmente) dos frutos produzidos.
__________________________________
apreciação, artigo 4.º, n.º 2, al. a) do CPC. Em outros casos, podemos verificar a sequela da
seguinte forma:
pertencer a um terceiro;
adquirir a coisa alienada por quem, num contrato-promessa com eficácia real,
artigo 413.º do CC, num pacto de preferência com eficácia real, artigo 421.º do CC
ou por força da lei, artigo 1380.º do CC, esteja vinculado a dar preferência e não
a) A alienação de imóvel precedida de negócio jurídico cujo vício justifica que seja
adquiridos por terceiro, de boa-fé e a título oneroso, sobre os mesmos bens não são
b) A prioridade do registo, a sequela também não existe quando a lei faz depender do
4.3. Prevalência
A prevalência significa que o direito real que primeiro se constituir prevalece sobre todos
os direitos reais de constituição ou registo posterior, bem como sobre todos os direitos de
4
Esta solução traduz um compromisso entre os interesses que justificam a invalidade do negócio e os legítimos
interesses de terceiros e do tráfico.
__________________________________
Consiste na prioridade dos direitos reais sobre os direitos de crédito e sobre os direitos
1. O privilégio mobilário geral: não incidindo sobre coisa certa e determinada, mas
artigo 735.º, n.º 2 do CC, confere ao seu titular a prevalência sobre os credores
comuns do devedor, artigo 733.º do CC. Se o seu titular for o Estado ou Autarquia
especiais que são direitos reais, artigo 736.º, 747.º, n.º 1, al. a) do CC.
gozo incompatíveis: prevalece o direito mais antigo, sem prejuízo das regras
primeiro adquirente, que não registou a sua aquisição, não prefere sobre o segundo
adquirente que tenha registado o seu direito, artigo 8.º e 9.º do Código do Registo
Predial.
__________________________________
especiais: não preferem sobre um direito real de garantia anteriormente constituído,
4.4. Inerência
Traduz a ligação íntima dos direitos reais às coisas que constituem os seus objectos e pelas
quais passa a satisfação das necessidades dos seus titulares. Não é juridicamente possível
de qualquer terceiro, artigo 1311.º, n.º 1 do CC, ao credor hipotecário de se pagar pelo
valor de certos imóveis, artigo 686.º do CC, ou ao titular de promessa real, de adquirir a
coisa onde ela estiver, artigo 413.º. esssa ligação é expressa pela ideia de inerência.
A inerência não se confunde com imediação nem com o poder directo: nos direitos de
garantia, ao credor interessa que o seu crédito seja pago com o valor da coisa e, nos
direitos reais de aquisição, o seu titular tem interesse em adquirir o direito sobre a coisa de