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O facto jurídico:
Noção: é todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente relevante, ou seja,
produtor de efeitos jurídicos / contrario de factos ajurídicos que são factos da vida real
irrelevantes ou indiferentes ao qual a ordem jurídica não liga quaisquer consequências
(exemplo, um convite para um passeio).
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Também são designados por actos materiais; actos reais (“realakten”) ou actos
exteriores.
e) Factos ilícitos negociais e extranegociais: falamos de ilícitos civis: violam
interesses particulares / contrário de ilícitos penais que violam interesses gerais
da comunidade. Ilícito negocial: resulta da violação da parte de um devedor de
uma obrigação, perante um certo credor resultante normalmente de um contrato.
Ilícito extranegocial: resulta da violação de um dever geral de abstenção que se
impunha perante um direito absoluto. Porquê ilícito negocial ou extranegocial e
não contratual ou extracontratual? É mais rigoroso desta forma, visto que o
ilícito contratual existe tanto quando não se cumpre uma obrigação resultante de
um contrato, como da violação resultante de um negócio unilateral.
f) Delitos e quase-delitos civis: delito é o mesmo que acto ilícito. Delito é
praticado com dolo, ou seja, com intenção de provocar esse resultado. Quase –
delitos é praticado com negligência, ou seja, com omissão de um dever de
cuidado ou diligência. Bastante importante saber para efeitos da
responsabilidade civil artigo 494º.
Efeitos dos factos jurídicos: os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos que
consistem que consistem fundamentalmente numa aquisição, modificação ou extinção de
relações jurídicas.
Aquisição derivada: aquisição em que o direito que se adquire depende não só do facto
aquisitivo mas também do direito anterior, exemplo, aquisição de propriedade através do
contrato de compra e venda. Existe uma tripla dependência (1) existência (o direito tem de
existir); (2) conteúdo (se na compra e venda o vendedor tinha um direito mas apenas o de
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usufruto este não pode transferir um direito mais amplo que não tem; (3) objecto ou área
de incidência (imagine-se que o alienante era apenas comproprietário, tendo apenas uma
fracção, só poderá transferir essa fracção, como tal não pode ter um objecto mais vasto do que o
direito anterior).
Aquisição originária: aquisição em que o direito que se adquire depende apenas do facto
aquisitivo (facto jurídico que o fez nascer), não dependendo da existência ou da extensão de um
direito anterior, que poderá até não existir. Exemplo: usucapião 1287º seguintes; ocupação de
coisas móveis 1318º seguintes; no caso de caça e pesca 1319º nem sequer há um direito
anterior e em todos eles o direito do adquirente não foi adquirido por causa do direito anterior,
mas apenas dele.
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e) A transmissão de direitos:
No entanto, este princípio comporta excepções, ou seja, situações em que o adquirente pode
obter um direito que não pertencia ao transmitente ou é mais amplo do que aquele que pertencia
a esse mesmo transmitente.
a) Instituto do registo predial e registos similares: as pessoas devem inscrever, com o
fim de lhes dar publicidade os diversos actos inerentes a bens imóveis e outros bens
indicados. O nosso registo predial é:
i. Um registo de aquisições (não de pessoas como é o caso do registo
civil);
ii. É facultativo: a sua inobservância não é uma infracção de um dever,
mas apenas a inobservância de um simples ónus do adquirente;
iii. É declarativo, é mera condição de eficácia da aquisição e não condição
da sua validade como acontece com os registos constitutivos, caso do
Alemão. A aquisição sem registo não deixa de ser válida e enquanto
não há registo prevalece inteiramente a primeira aquisição de acordo
com a regra prior in tempore, potior in iure, só fugindo a isto a
constituição de hipoteca em que o registo é constitutivo e como tal
condição de validade.
Do registo decorrem três tipos de efeitos:
1- Efeito imediato ou automático do registo: é a presunção de titularidade do direito;
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A--------------B
C
Assim, se B adquire um bem sujeito a registo mas não o regista e C adquire o
mesmo bem (sendo C terceiro para efeitos de registo), e o regista, aplica-se a regra da
prioridade do registo, e não da aquisição do direito sobre o bem, de modo que, embora A já
não seja proprietário do bem, se verifica uma situação de aquisição a non domino (aquisição
de um bem que já não era titulado por A) – logo, há uma excepção ao princípio do nemo
plus iuris.
Trata-se de uma noção que até aos anos 60 era bastante pacífica na nossa jurisprudência e
na nossa doutrina, mas que se viu a partir desses mesmos anos (60) bastante conturbada. Algo
que permanece até aos nossos dias.
Escola de Coimbra, defendida por Manuel de Andrade, Mota Pinto e Orlando de Carvalho
diz que terceiros para efeitos de registo são os que do mesmo autor ou transmitente adquirem
sobre o mesmo bem direitos total ou parcialmente incompatíveis ou conflituantes. É a chamada
estrutura da aquisição triangular, já que apenas poderá haver um proprietário. Quem não fosse o
proprietário segundo a regra do nemus pluris iuris nada podia transmitir e como tal quem com
ele contratou nada poderá obter. Pois quem adquiriu a domino, ainda que não tenha registado é
sempre preferido a quem adquire a non domino. Pressupõe-se, assim, que o transmitente é o
mesmo, segundo este esquema.
A B (nr)
C (r)
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Fora isto, nada mais se exige para a inoponibilidade a terceiros, nem se a aquisição é inter
vivos ou mortis causa, nem se a aquisição é gratuita ou onerosa, nem se o registo é feito com o
conhecimento de aquisição conflituante não inscrita ou com o desconhecimento da mesma.
A posição da Escola de Lisboa defendida por Oliveira Ascensão e por Meneses Cordeiro é
mais restritiva. Para estes, terceiros para efeitos de registo são apenas os que adquirem a título
oneroso e de boa fé, ou seja, com o desconhecimento da aquisição conflituante. Doutor Orlando
de Carvalho e Doutor Mota Pinto consideram esta restrição inadmissível e subversiva da função
do registo e a segurança que o mesmo trás ao tráfego jurídico. No que diz respeito à boa fé e
defendido que tal traria o caos à segurança que se pretende no comércio jurídico, trazendo ao
adquirente delongas, incertezas e gastos tendentes a provar que desconhecia uma alienação
anterior. Má fé psicológica que é algo, muito difícil de provar. No que diz respeito à
onerosidade da aquisição o Doutor Orlando de Carvalho diz-nos que não tem aqui qualquer
sentido pois não tem qualquer relevo no quadro da oponibilidade dos direitos.
No que diz respeito à jurisprudência acerca deste assunto nos tempos mais próximos, o
acórdão de fixação de jurisprudência de 15/ 97 de 4 Julho do STJ veio sustentar a posição de
Coimbra, no entanto o acórdão de 8/99 de 10 Julho modificou as coisas e consolidou a posição
da escola de Lisboa com a exigência da boa-fé.
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ANEXO:
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No caso: A (vicio) B (vicio) C D(boa fé) E (má fé). Orlando de Carvalho entende que se na
cadeia um dos adquirentes estivesse protegido os seus sucessivos adquirentes também o estavam,
beneficiando derivadamente da protecção protecção intercorrente de terceiros na cadeia. Dr. Pinto
Monteiro tem grandes dúvidas, sobretudo quando o ulterior adquirente está de má fé beneficiando de um
mecanismo alheio, apesar da sua convicção psicológica contrária à lei.
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Baseiam-se na letra da lei, visto que o artigo 243º/1 nada diz e num elemento histórico visto o
anteprojecto conter essa restrição e o texto definitivo nada dizer.
Corrente mais restritiva defendida por Mota Pinto, Manuel de Andrade diz que será apenas
inoponivel aos terceiros que, com a invalidação do negócio sofram prejuízos. Invocam para isso
o elemento racional, atendendo ao fim do artigo 243º (que é de proteger a confiança de
terceiros) optam por uma solução mais justa que será a de impedir a invocação da simulação
que causa prejuízos e já não a que origina vantagens ou lucros (exemplo, no caso de uma venda
por 100 em que se declarou simuladamente 30, não pode invocar a sua qualidade de terceiro de
boa fé para preferir pelo preço declarado é-lhe oponível a nulidade, sendo admitido a preferir
pelo preço real.
Modificações de direitos:
Noção: tem lugar quando alterado ou mudado um elemento de um direito, permanece a
identidade do referido direito apesar da alteração ocorrida. Esta perduração significa que o
ordenamento jurídico continua a tratar o direito como se não tivesse existido uma alteração o
direito é o mesmo.
Modalidades:
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Modificação subjectiva: - há uma substituição dos sujeitos na titularidade do direito,
permanecendo a identidade objectiva do direito. Há uma sucessão no direito. Exemplo, é o que
acontece na cessão e na sub-rogação nos créditos – 577º ss e 589º ss; pode ainda resultar de uma
multiplicação dos sujeitos por adjunção (um novo devedor assume a obrigação para com o
credor mas o devedor anterior permanece vinculado);
Modificação objectiva: há uma modificação no conteúdo ou no objecto do direito
permanecendo o direito idêntico. Exemplo, modificação do conteúdo: concedido pelo credor
uma prorrogação do prazo para o cumprimento. Modificação do objecto: o devedor não
cumprindo culposamente a obrigação o seu dever de prestar é substituído por um dever de
indemnizar.
Extinção de direitos:
Noção: tem lugar quando um direito deixa de existir na esfera jurídica de uma pessoa,
extinção subjectiva ou perda de direitos: se o direito sobrevive em si, apenas mudando a pessoa
do seu titular, ou seja, o direito extinguiu-se para aquele sujeito mas subsiste na esfera jurídica
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Por substituição: quando o sujeito activo se substitui outro;
Multiplicação: a um sujeito activo se substituem vários;
Concentração: a vários sujeitos activos sucede um único.
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de outrem. Acontece sempre que tem lugar a uma sucessão. Extinção objectiva: se o direito
desaparece, deixando de existir para o seu titular ou para qualquer outra pessoa, exemplo a
destruição do objecto do direito.
Diferenças entre prescrição extintiva e caducidade: quando um direito deva ser exercido
durante certo prazo aplicam-se as regras da caducidade, salvo se a lei se referir expressamente à
prescrição – artigo 298º/2.
a) A prescrição extintiva é inderrogável como resulta do artigo 300º, enquanto que se
admitem estipulações convencionais acerca da caducidade artigo 330º;
b) A caducidade é apreciada oficiosamente pelo tribunal artigo 333º, enquanto que a
prescrição tem de ser invocada, não podendo o tribunal oficiosamente supri-la
artigo 303º;
c) A caducidade, em princípio, não comporta causas de suspensão nem de interrupção
artigo 328º, ao contrário da prescrição que se suspende e interrompe nos casos
previstos na lei 318º ss e 323º ss;
d) A caducidade só é impedida, em princípio, pela prática do acto 331, embora o
reconhecimento do direito contra quem deve ser exigido também impede a
caducidade. Por seu turno a prescrição se interrompe pela citação ou notificação
judicial 323º.
e) O prazo ordinário da prescrição 20 anos, art. 319º, prevendo a lei para certas
hipóteses uma prescrição de cinco anos art. 310, havendo prazos mais curtos para
as chamadas prescrições presuntivas, se fundam numa presunção do cumprimento.
Enquanto que na caducidade não vem previstos na lei prazos normais, existem
prazos processuais, mas normalmente tem um carácter substantivo com amplitudes
muito variáveis exemplo, o artigo 1786º.
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II. Natureza jurídica – diz respeito à relação que deve existir entre a vontade dos seus
autores e os efeitos produzidos pela ordem jurídica.
a. Teoria dos efeitos jurídicos: deve haver, exacta e completa correspondência
entre o conteúdo da vontade das partes e os efeitos jurídicos produzidos tais
como a lei os determina. Os próprios efeitos derivados de normas supletivas
resultariam da tácita vontade das partes. Críticas:
i. As partes, dos vários negócios não têm uma ideia completa e exacta de
todos os efeitos que o ordenamento jurídico atribui as suas declarações
de vontade. Se esta doutrina, fosse verdade só os juristas
completamente informados sobre o ordenamento poderiam celebrar
negócios jurídicos.
ii. As normas supletivas, só deixam de se aplicar quando uma vontade real
contaria for manifestada, não bastando provar-se que as partes não
consideraram o ponto ou até não teriam querido aquele regime.
b. Teoria dos efeitos práticos: basta que a declaração se dirija a certos efeitos
práticos ou empíricos sem carácter ilícito, fazendo a lei corresponder a esses
efeitos práticos, efeitos jurídicos concordantes. Critica: tal como esta doutrina
define o negócio jurídico este não se distingue de outros actos que não são
negócios jurídicos que se fiam na honorabilidade das partes, (exemplo,
empréstimo de honra).
c. Teoria dos efeitos práticos jurídicos: trata-se do ponto de vista correcto.
Quem realiza negócios jurídicos visa certos resultados práticos ou materiais e
quer realiza-los pela via jurídica. Tem, como tal, também uma vontade de
efeitos jurídicos, não se dirigindo apenas a efeitos práticos. Só que aqui não há
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1. Essenciais: podem ser aqueles relativos à existência do negócio jurídico, sem os quais o
mesmo não chegaria a ter existência material, falamos da declaração, dos sujeitos e do
conteúdo. Ainda, segundo a sistematização tradicional, que considera essenciais os
requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio. Falamos da capacidade
das partes e da sua legitimidade; a declaração de vontade sem vícios; idoneidade do
objecto jurídico artigo 280º.
Podemos falar ainda de elementos essenciais no sentido dos elementos essenciais de cada
negócio típico ou inominado. São as características próprias de cada modalidade negocial,
exemplo locação artigo 1022º ss, em que temos 1- obrigação de proporcionar à outra parte o
solo de cada coisa 2- gozo esse que é temporário (diferente de compra e venda) 3- obrigação da
outra parte pagar a correspondente retribuição (diferente do comodato).
2. Naturais: são os efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas. Não é
necessário que as partes configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos,
exemplo artigo 885º.
3. Acidentais: são as cláusulas acessórias dos negócios jurídicos. Elas não caracterizam o
tipo negocial em abstracto mas tornam-se imprescindíveis para que o negócio concreto
produza os efeitos a que elas tendem, exemplo cláusula de juros.
1. Unilaterais e bilaterais:
a. Unilaterais: há uma só declaração de vontade (exemplo, testamento) ou
varias declarações de vontade paralelas formando um só grupo (exemplo,
procuração feita por duas pessoas a favor de um mesmo advogado);
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Importância:
a) Só nos contratos bilaterais há excepção de não cumprimento do contrato, 428º;
b) A faculdade de resolução com fundamento em impossibilidade de cumprimento ou mora
existe nos contratos bilaterais (condição resolutiva tácita) 801º/2 e pode também ter lugar em
alguns contratos unilaterais, exemplo: arts. 1140º e 1150º.
Autores falam dos contratos bilaterais imperfeitos, nestes há inicialmente apenas obrigações
para uma das partes, surgindo eventualmente mais tarde obrigações para a outra parte, em
virtude do cumprimento das primeiras e em dados termos. Nestes contratos não há excepção de
não cumprimento do contrato e também não há condição resolutiva tácita. Exemplo: mandato e
o depósito gratuito – artigo 1157º e ss e artigos 1185º e ss.
Características:
1- Nos negócios mortis causa há uma prevalência dos interesses do declarante sobre o
interesse na protecção da confiança do declaratário, ao contrário dos negócios inter vivos em
que há uma tutela das expectativas da parte que se encontra em face da declaração negocial;
2- O testamento é claramente um negócio mortis causa;
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As doações por morte são, em princípio nulas – artigo 946º como quaisquer outros pactos
ou contratos sucessórios – 2028º/2. Estes são objecto de uma conversão legal em disposições
testamentárias – 946º/2.
Certos pactos sucessórios contidos em convenções antenupciais são válidos – artigo 1700º.
Em relação a estes, as disposições a favor de um dos esposados feitas pelo outro ou por terceiro
são negócios híbridos ou mistos já que têm características de negócio mortis causa já que só se
verifica transferência de bens depois da morte, no entanto há uma restrição de poderes feita ao
disponente, algo que é típico dos negócios inter vivos – artigo 1701º.
As disposições a favor de terceiros feitas pelos esposados são negócios mortis causa se o
terceiro não interveio na convenção antenupcial – artigo 1704º e serão negócios híbridos se ele
interveio como aceitante – artigo 1705º.
Forma: determinada figuração exterior permitida pela lei ou pela vontade comum das
partes para a respectiva declaração de vontade.
Modalidades:
a) Documento autêntico – artigo 363º/2: exemplo venda de imóveis (875º)
b) Documento autenticado – artigo 363º/3: em que há confirmação de determinado
negócio jurídico através do notário
c) Documento particular – artigo 363º/2 (2ª parte): exemplo contrato-promessa (artigo
410º/2)
São aqueles negócios em que se exige, além das declarações de vontade das partes a prática
anterior ou simultânea de um certo acto material de entrega de uma coisa como elemento da
estrutura do negócio jurídico e não como efeito do contrato, exemplo o depósito ou o mútuo.
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Os contratos de jogo e aposta não são contratos válidos, nem constituem fontes de
obrigações civis, no entanto quando lícitos são fonte de obrigações naturais – artigo 1245º,
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exceptuando-se as competições desportivas com relação às pessoas que nelas tomarem parte –
1246º e outras excepções previstas em legislação especial – artigo 1247º.
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Assim, no caso de administradores de bens alheios a lei atende à falta de interesse pessoal do
administrador que o pode induzir a correr riscos que não correria se os bens fossem seus. No caso de
limitação de poderes de alguém sobre o seu próprio património a lei considera deficiências físicas e
mentais que implicam alta probabilidade de a pessoa concluir negócios muito prejudiciais para os seus
próprios interesses.
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Actos de disposição são os actos que afectam a substância do património administrado, que
alteram a forma ou a composição desse capital administrado, que atingem a raiz dos bens,
ultrapassando os parâmetros de uma actuação prudente e comedida. São, assim, actos de
disposição:
a)Actos de frutificação anormal: como é o caso da transformação de um Pinhal em Vinha;
b) Actos tendentes a prover ao melhoramento do património administrado, desde que não
sejam feitos com os rendimentos existentes da administração: como é o caso da abertura de um
poço ou cercar o muro a um prédio rústico sem qualquer necessidade disso.
c) As alienações onerosas: actos que envolvem a transferência da propriedade para outrem
(compra e venda, troca). No entanto, nem todas as alienações onerosas são actos de disposição.
Só o são as que afectam a substância dos bens (ex. não é acto de disposição o corte e venda de
20 pinheiros secos que nada estavam a fazer no pinhal).
d) Onerações: trata-se da imposição de um ónus real sobre um determinado prédio (ex.
constituição de uma servidão de passagem).
e) Doações: tratam-se de liberalidades de alienação sem contrapartida.
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Elementos constitutivos:
a) A declaração propriamente dita: elemento externo, consiste no comportamento
declarativo;
b) A vontade – elemento interno, consiste no querer concreto, na realidade volitiva que
normalmente existirá e coincidirá com o sentido objectivo da declaração. Esta vontade real pode
decompor-se em três sub elementos:
1- A vontade de acção (Handlugswille) – consiste na consciência e intenção livre de realizar
um comportamento declarativo. Exemplo: não existe vontade de acção quando uma pessoa por
acto reflexo ou distraidamente faz um gesto e este aparece como uma declaração negocial, ou
quando uma pessoa é coagida a realizar um negócio;
2- A vontade da declaração: (Erklanvnjswille) ou vontade da relevância negocial da acção
(Geltunjswille): consiste em o declarante atribuir ao comportamento querido o significado de
uma declaração negocial. Este sub elemento só está presente se o declarante tiver a consciência
e a vontade de que o seu comportamento tenha significado negocial vinculativo, exemplo: pode
faltar vontade da declaração se uma pessoa julgando assinar uma simples ficha para o arquivo
de um banco assina uma declaração negocial. Se um indivíduo num leilão faz um gesto de
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saudação a um amigo e isso é entendido como oferta de uma certa importância, sem que a
pessoa se aperceba disso.
3- Vontade negocial: vontade do conteúdo da declaração ou intenção do resultado
(Geschftswille): consiste na vontade de celebrar um negócio jurídico de conteúdo coincidente
com o significado exterior da declaração. É uma vontade efectiva correspondente ao negócio
concreto que aparece exteriormente declarada. Exemplo: pode haver desvio na vontade negocial
quando uma pessoa atribui aos termos da declaração um sentido diverso do que é exteriormente
captado, exemplo uma pessoa quando quer comprar a quinta da Regaleira e erradamente declara
que quer comprar a quinta da Gusteira pensando erradamente ser este o seu nome (erro no
nome).
Vimos que pode haver uma falta de vontade de acção, uma falta de vontade da declaração e
um desvio na vontade negocial. São estes os casos de divergência entre a vontade e a
declaração. Essa divergência pode ainda resultar de um desvio da vontade de acção: um lapsus
linguae ou lapsus calami, exemplo a pessoa quer escrever quinta da Regaleira, ou prédio é o
nº20 e por lapso engana-se a escrever ou falar e sai-lhe quinta da Regaleira nº30.
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legado, mas por uma declaração de vontade do testador chega-se a essa conclusão. Em
conformidade com o critério de interpretação dos negócios jurídicos consagrado no artigo 236º
conclui-mos que no que respeita a uma declaração tácita em que dum comportamento se pode
concluir um certo sentido negocial, tal não exige a consciência subjectiva por parte do autor
desse significado implícito (bastando) que objectivamente ele possa ser deduzido do
comportamento do declarante.
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O regime regra é o das presunções legais poderem ser elididas por prova em contrário, só
assim não sendo quando a lei proibir – 350º/2.
Protesto e reserva:
Protesto: o autor de um certo comportamento declarativo, por recear que lhe seja imputado,
por interpretação, um certo sentido vai afirmar-se abertamente não ser esse o seu intuito. É no
fundo uma contradeclaração.
Reserva: modalidade de protesto em que se especifica que um certo comportamento, não
significa renúncia a um direito próprio ou reconhecimento de um direito alheio – exemplo, a
vítima de um acidente recebe do causador uma soma em dinheiro, mas declara que isso não
significa a renúncia a receber o montante total dos danos.
a) Assegura uma maior reflexão das partes. Nos negócios formais, o tempo que vai desde a
decisão de concluir o negócio e a sua celebração permite repensar o negócio, livrando as partes
da precipitação e da ligeireza;
b) Separa os termos definitivos do negócio da fase pré – contratual, ou seja, da negociação;
c) Permite uma formulação mais precisa e completa da vontade das partes;
d) Dá um maior grau de certeza sobre a celebração do negócio e os seus termos evitando-se
a falibilidade da prova por testemunhas;
e) Dá publicidade ao acto o que é importante para terceiros.
No nosso direito civil vale o princípio da liberdade de forma consagrada no artigo 219º.
Existem, no entanto, importantes excepções a este princípio consagradas no nosso código como
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Nos casos em que a lei determine outra consequência, a nulidade deixará de ser a sanção
para a inobservância da forma legal – artigo 220º. A doutrina tem colocado o problema de saber
se a possibilidade de invocação da nulidade por vício de forma não pode ser excluída por
aplicação da cláusula geral de boa-fé ou do abuso de direito – artigo 334º, ou seja, deverá
admitir-se a invocação de nulidade com fundamento em vício de forma, quando essa invocação
por uma das partes constitua um abuso de direito? Exemplo, arguição da nulidade, com
fundamento em vicio de forma por um contraente que a provocou ou que criou na contraparte a
expectativa de que a nulidade jamais seria arguida. Manuel de Andrade defende a
improcedência da arguição de nulidade nos casos de manifesto abuso de direito. Larenz por seu
lado, acha que as normas imperativas não podem ser postas em causa, compensando a injustiça
com a obrigação de indemnizar por parte do autor do abuso. Mota Pinto coloca o valor social da
segurança jurídica acima de um critério de justiça de cada caso, afirmando a nulidade dos
negócios afectados por vício de forma, sendo que haverá lugar a indemnização ex vi artigo 227º
(…).
b) Inobservância da forma convencional: a este respeito rege o artigo 223º que se limita a
estabelecer presunções que podem ser elididas mediante prova em contrário – artigo 350º. Essas
presunções são duas:
1- Se a convenção foi estipulada antes da conclusão do negócio, consagra-se uma presunção
de essencialidade, em que as partes apenas se querem vincular através da forma convencionada.
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Ela tem carácter constitutivo. Aquando da sua inobservância Mota Pinto diz que o negócio é
ineficaz enquanto que Vaz Serra diz que o negócio não está concluído entre as partes – artigo
223º/1.
2- Se a convenção é contemporânea ou posterior ao negócio, sendo que na primeira hipótese
haja fundamento para admitir que as partes se quiseram vincular desde logo, presume-se que as
partes não quiseram substituir o negócio mas apenas facilitar a prova consolidando o acto ou
tornando o conteúdo do negócio mais claro ou outro qualquer efeito – artigo 223º/2. Como tal a
sua inobservância não têm quaisquer consequências sobre o negócio.
I – Interpretação dos negócios jurídicos: (não confundir com interpretação das leis
artigo 9º);
O negócio jurídico contem uma ordem normativa, pela qual, as partes, através das
declarações de vontade, pautam a sua conduta.
Interpretação: actividade dirigida a fixar o sentido e o alcance dos negócios, segundo as
respectivas declarações de vontade, ou seja, trata-se de determinar o sentido e o alcance do
conteúdo das declarações de vontade e consequentemente dos efeitos que o negócio visa
produzir.
Ela não pode ser abandonada ao senso empírico, deve ser pautada por regras ou critérios
cuja sua formulação é o objecto da teoria da interpretação que tem critérios convertidos em
verdadeiras normas jurídicas – 236º ss.
Para haver declaração a interpretar temos de estar no domínio da autonomia da vontade
privada das partes que tem:
a) Elemento subjectivo: acto de vontade, acto determinante ou conteúdo da vontade real –
fonte geradora de efeitos jurídicos;
b) Elemento objectivo: acto social de comunicação, aquele a quem a declaração negocial se
destina ou a conhece.
Isto dá origem a posições subjectivistas, o intérprete deve investigar através de todos os
meios adequados a vontade real do declarante, sendo que o negócio valerá com o sentido
subjectivo, ou seja, com o sentido querido pelo autor da declaração.
Posições objectivistas: o intérprete não procura a vontade real do declarante, mas procura
um sentido exteriorizado ou cognoscível através de certos elementos objectivos. Trata-se de
uma interpretação normativa e não de uma interpretação psicológica.
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Outra excepção é a consagrada no artigo 236º/2, de acordo com a máxima julsa demostratio
non nocet estabelece que sempre que o declaratário conheça a vontade real do declarante, é de
acordo com o ultimo que vale a declaração. Assim, o sentido querido pelo declarante releva
mesmo quando a declaração é ambígua ou inexacta se o declaratário conhecer o seu sentido.
Tendo em atenção, no entanto, as limitações para os negócios formais previstos no artigo
238º/2.
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a) Maior objectivismo: é o que sucede nos negócios formais. Nestes o sentido objectivo
corresponde à impressão do destinatário, não pode valer se não tiver um mínimo de
correspondência, embora imperfeita, no texto do documento – artigo 238º/1. A consequência,
defende Manuel de Andrade é a nulidade em sede interpretativa, pois o que temos é um
problema de vício de forma (o sentido não está formalizado) cuja sanção correspondente é a
nulidade – artigo 220º. Admite-se, no entanto, que um sentido não traduzido no documento
possa valer desde que:
Corresponder à vontade real e concordante das partes, mesmo no caso de impropriedade
das expressões utilizadas, é a falsa demonstrato non nocet – artigo 238º/2;
Não oposição a essa validade das razões determinantes da forma do negócio (certeza e
segurança ou interesses de terceiros) – artigo 238º/2 (parte final);
b) Maior subjectivismo: é o caso das disposições testamentárias. Na sua interpretação
consagra-se o sentido subjectivo, em que vale a vontade real do testador, estando esta
condicionada pelo contexto do testamento – artigo 2187º - o significado decisivo é o que o
testador quis dizer. Na pesquisa desta vontade do testador é admitido o recurso à prova
complementar, ou seja, elementos ou circunstâncias estranhas aos termos do testamento,
fundadas em qualquer dos meios de prova geralmente admitidos (esclarecimentos orais ou
escritos, anotações pessoais, etc). Exige-se, no entanto, que a vontade assim reconstituída tenha
um mínimo de correspondência, ainda que imperfeita no contexto. Limitação dada pelo teor do
documento que manifesta o carácter solene do negócio testamentário – artigo 2187º/2. Podemos
retirar deste artigo as seguintes conclusões:
1- Invalidade de um sentido contrário ao texto do testamento, ainda que alicerçado noutros
meios probatórios;
2- Admissibilidade das disposições testamentárias tácitas – artigo 217º/2;
3- O testador pode utilizar no testamento um termo numa acepção pessoal, inteiramente fora
dos usos gerais da língua, mas desde que dê a entender por qualquer forma no testamento (com
essa expressão entre aspas ou seguida de reticências) ou que se prove que a significação
anómala era utilizada habitualmente pelo testador – exemplo: A diz que deixa a sua biblioteca a
B, se se provar que A não tinha biblioteca e que utilizava essa expressão para significar
garrafeira é valido esse legado há aqui um mínimo de correspondência no testamento. Já
haverá nulidade do testamento se o testador usou termos numa acepção extravagante que estava
fora dos seus próprios hábitos de linguagem, ou incorreu em erro na declaração. Com a
excepção de no testamento constarem outras referencias que levem a considerar (clarificar)
patente o significado extravagante ou o erro (na ultima hipótese rege o artigo 2203º) exemplo: A
quis deixar os seus bens a Clara e escreveu (a quem eduquei), foi ele quem a educou durante 15
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anos, escreveu “ se se apurar que a única pessoa que A educou foi Clara é patente que A queria
referir-se a Clara e aí já surgirá efeitos) (o exemplo está meio confuso, mas dá para perceber).
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a) Teoria da vontade: defende a invalidade do negócio logo que haja uma divergência
entre a vontade e a declaração sem necessidade de mais requisitos – Savigny;
b) Teoria da culpa in contrahendo: acrescenta à teoria anterior a obrigação de indemnizar
por parte do declarante se houve ou dolo deste e boa fé do declaratário. Cobre o interesse
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Não há, no entanto, uma teoria que se possa aplicar às várias modalidades de divergência.
Não são idênticas as soluções mais razoáveis específicas de cada uma das várias divergências
entre o “querido” e o “declarado”.
I – A simulação:
Noção e elementos: trata-se da principal divergência entre a vontade real e a declaração
negocial.
Simulação: é a divergência intencional entre a vontade real do declarante e a declaração
negocial. Divergência procedente de acordo entre o declarante e o declaratário e determinada
pelo intuito de enganar terceiros – artigo 240º/1.
Temos três elementos:
a) Intencionalidade da divergência;
b) Acordo entre declarante e declaratário, chamado acordo simulatório;
c)Intuito de enganar terceiros.
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No caso da simulação, não poderá haver, regra geral, usucapião, pois o adquirente é um
possuidor precário – artigo 1253º/c – com a excepção do artigo 1290º.
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mandato sem representação, mesmo que a outra parte saiba que o interposto não actua em nome
próprio – artigo 1180º.
Efeitos da simulação relativa: tal como a simulação absoluta, o negócio simulado está
ferido de nulidade – artigo 240º/2.
Quanto ao negócio dissimulado aplica-se o artigo 241º e este será objecto do tratamento
jurídico que lhe caberia se tivesse sido concluído sem dissimulação. Assim, o negócio
dissimulado poderá ser válido e eficaz como poderá ser inválido consoante que aconteceria se o
negócio tivesse sido abertamente concluído.
A lei estabelece um regime especial para os negócios formais no artigo 241º/2. Nesta
questão a doutrina divide-se, quando o negócio dissimulado é de carácter formal:
Doutor Mota Pinto defende que o negócio dissimulado será nulo por vício de forma se este
não respeitar o formalismo exigido, mesmo que a sua forma fique satisfeita com as solenidades
próprias do negócio simulado. Baseia-se no argumento literal da lei “só é válido se tiver sido
observada a forma exigida por lei” nada dizendo para o caso de as razões de formalismo do
negócio dissimulado se acharem satisfeitas com a observância de solenidades do negócio
simulado e no argumento racional de que a forma legal não visa dar só a conhecer a transmissão
dos bens, mas também a coisa da sua transmissão. Admite-se uma excepção para o caso de as
partes fazerem constar das declarações uma contradeclaração – um escrito de reserva com os
requisitos formais exigidos para esse negócio (algo que nos parece absurdo porque ao fazer isso,
por exemplo numa escritura pública tal traria a descoberto o negócio simulado e o notário não
celebraria o negócio).
Doutor Orlando de Carvalho, Pires de Lima, Antunes Varela e Manuel de Andrade
defendem uma outra posição, defendendo que o negócio dissimulado não deveria ser nulo se as
razões que estão na base da exigência da sua forma ficarem satisfeitas com a observância das
solenidades próprias do negócio simulado. Há como que um aproveitar da forma do negócio
simulado sempre que esta coincidir com a forma do negócio dissimulado.
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Conflitos entre terceiros de boa fé: são possíveis conflitos entre terceiros que
pretendem arguir a nulidade do negócio e terceiros cujos interesses exigem que o negócio seja
considerado como válido. O código não tem normas explícitas sobre estes conflitos. Vejamos
algumas hipóteses:
1- Conflito entre credores comuns do alienante simulado e credores comuns do simulado
adquirente: Manuel de Andrade defende que se deve dar preferência aos últimos;
2- Conflito entre credores comuns do simulado alienante e subadquirentes do simulado
adquirente: devem prevalecer os interesses dos últimos como diz Manuel de Andrade.
3- Conflito entre subadquirentes do simulado alienante e subadquirentes do simulado
adquirente: sendo aquisições tidas como válidas, trata-se de um problema de incompatibilidades
entre direitos reais adquiridos do mesmo transmitente – prevalece a venda mais antiga ou a que
primeiro foi registada.
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O negócio será, no entanto, nulo se o declaratário teve conhecimento da reserva. Aqui não
há confiança a proteger. Não bastará para a relevância da reserva a sua cognoscibilidade, sendo
necessário o seu efectivo conhecimento. Terá, no caso de ser nulo, os efeitos da simulação.
Existe uma excepção colocada pela doutrina, por exemplo nos casos em que se tenta
dissuadir de um suicídio ou de um acto patrimonialmente ruinoso. Aqui aplicar-se-á a cláusula
geral do abuso de direito – artigo 334º, visto que excede os limites da boa fé e dos bons
costumes a pretensão do declaratário no sentido da validade dessa declaração, neste sentido
Mota Pinto e Orlando de Carvalho.
Declaração não séria: o declarante emite uma declaração não coincidente com a sua
vontade real, sem o intuito de enganar qualquer pessoa, procedendo-se na expectativa de que a
falta de seriedade não passe despercebida. Podem ser declarações jocosas, cómicas, didácticas,
publicitárias, etc. Na chamada graça malévola apesar de ter uma finalidade também jocosa ela é
reserva mental e não declaração não seria porque se espera que a outra parte, caía no engano.
Em princípio carece de qualquer efeito – artigo 245º/1, porque não chega a haver uma
verdadeira declaração, se o declaratário conhecia a falta de seriedade ou pelo menos esta era
exteriormente perceptível.
O artigo 245º/2 estabelece um regime especial no caso da declaração ser feita em
circunstâncias que induzem o declaratário a aceitar justificadamente a sua seriedade. Neste caso
a declaração também não tem qualquer efeito, no entanto há responsabilidade do declarante pelo
interesse negativo ou confiança – responsabilidade pré-negocial.
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No caso de erro – obstáculo o princípio geral consta do artigo 247º, exigindo-se para a
anulação que o declaratário, conhece-se, ou não devesse ignorar a essencialidade para o
declarante do elemento sobre que incidiu o erro.
Mota Pinto critica este requisito dizendo que facilita os interesses do declarante para anular
o negócio, sacrificando-se em demasia os interesses do declaratário e os do comércio jurídico,
dizendo que se deveria ir mais além exigindo o conhecimento ou a cognoscibilidade do erro.
No entanto, se o erro fosse conhecido, o problema não se resolveria em sede de erro –
obstáculo, mas em sede interpretativa – artigo 236º/2. Deslocar-se-ia para uma área de validade,
deixando uma área de invalidade do artigo 247º. Se o erro é apenas cognoscível o caso será
resolvido em sede de erro – obstáculo se for relevante o que tornará o negócio inválido e será
resolvido em sede interpretativa se o erro é irrelevante.
Mota Pinto defende que nalguns casos, em que a aplicação do artigo 247º lese com extrema
injustiça os interesses do declaratário, poder-se-ia obstar à anulação com base em abuso de
direito – 334º.
No artigo 248º consagra-se uma excepção no caso do declaratário aceitar o negócio como o
declarante queria a anulabilidade fundada em erro não procede. (ver o artigo 248º).
Segundo o artigo 249º o erro de cálculo ou escrita revelados no contexto da declaração ou
nas circunstâncias que a acompanham não dão lugar à anulabilidade mas apenas à rectificação
do negócio.
Pode haver o caso em que o declaratário compreendeu um terceiro sentido que não coincide
com o querido pelo declarante nem com o sentido declarado. Falamos neste caso, de dissenso.
O dissenso pode resultar de uma falta de acordo dos sentidos objectivos (ex. A declara
vender x e B declara comprar y) como consequência há quem defenda que:
a) O negócio é inexistente – Mota Pinto, Oliveira Ascensão e Carvalho Fernandes;
b) Que é nulo – Castro Mendes;
c) Que ele não foi concluído porque não houve acordo nos termos do artigo 232º;
Pode, no entanto, haver acordo dos sentidos objectivos mas desacordo entre as vontades
reais:
a) Uma só das partes atribuiu à sua declaração um sentido diverso do que tem
objectivamente – aplica-se a doutrina do erro – obstáculo,
b) Cada uma das partes atribui ao negócio um sentido diverso não coincidente com o seu
teor objectivo – hipótese acima transcrita. Aqui o dissenso tem interesse autónomo. Mota Pinto
defende que a declaração é anulável sem a exigência dos requisitos do artigo 247º.
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conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade para o declarante do elemento sobre que
incidiu o erro. Mota Pinto transporta as suas críticas face ao erro – obstáculo, nos mesmos
termos para este regime.
Existe uma excepção estabelecida no artigo 250º/2 – admitindo-se a anulação sempre que o
intermediário emite intencionalmente, ou seja, com dolo uma declaração diversa da vontade do
declarante. No entanto, o declarante deve suportar o risco de uma transmissão defeituosa ou de
uma deturpação ocorrida enquanto a declaração não chega à esfera do declaratário. (ex.
telegrafista transmite em vez da compra de 20 cavalos, a compra de 18, face à pequena
diferença o negócio deve-se considerar válido e o declarante deve suportar esse risco).
#
Vícios da vontade:
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Modalidades:
a) Erro sobre a pessoa do declaratário: erro sobre a identidade e erro sobre as qualidades
(exs. A contrata com B julgando que este é C; A contrata com B porque pensa erradamente que
este é filho de um seu amigo) – artigo 251º
b) Erro sobre o objecto do negócio: pode incidir sobre o objecto mediato - sobre a
identidade ou sobre as qualidades (ex. A compra um terreno julgando erradamente que ele tem
água); objecto imediato – sobre a natureza do negócio (ex. A contrata com B julgando que o
contrato tem os efeitos de locação quando afinal tem os efeitos de uma venda a prestações).
251º
c) Erro sobre os motivos do negócio: é uma noção residual, trata-se de um erro que recaía,
nos motivos determinantes da vontade, mas que não se refira à pessoa do declaratário nem ao
objecto do negócio. Nele podemos integrar o erro sobre pessoa de terceiros e o erro sobre os
fins ou objectivos de natureza subjectiva que motivam o declarante – artigo 252º.
a) Essencialidade: o erro tem de ser essencial, ou seja, tem que ter motivado a conclusão
do negócio em si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído. O erro tem de ser causa
da celebração do negócio e não apenas dos seus termos – o erro é essencial se sem ele não se
celebraria o negócio ou se celebraria um negócio com outro objecto ou de outro tipo ou com
outra pessoa.
Caso contrário o erro é incidental – influiu apenas nos termos do negócio pois o errante
contrataria, sempre, embora noutras condições. Este erro não releva tal como não releva o erro
indiferente em que mesmo sem ele o negócio teria sido concluído nos mesmos termos em que
foi. Para o caso do erro incidental Mota Pinto defende a aplicação analógica do 911º sendo o
negócio válido nos termos em que teria sido concluído sem o erro; O Doutor Mota Pinto e
também Carvalho Fernandes prevê a redução do negócio segundo os termos da norma geral –
artigo 292º.
b) Propriedade: o erro tem de ser próprio. Ele só é próprio quando incide sobre uma
circunstância que não seja a verificação de qualquer elemento legal da validade do negócio. O
erro será impróprio quando versa sobre os requisitos legais da forma negocial, capacidade do
errante, etc. (no entanto o erro sobre as qualidades da pessoa do declaratário é já erro sobre a
pessoa do negócio – ex. incapacidade do declaratário. Aqui o fundamento da invalidade não é o
erro mas o requisito legal cuja deficiência vicia o negócio.
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Erro sobre os motivos: o artigo 252º/1 permite a anulação desde que haja uma cláusula
verbal ou escrita, expressa ou tácita, no sentido de a validade ficar dependente da existência da
circunstância sobre que versou o erro. Não basta o conhecimento ou cognoscibilidade do erro
pois tal daria lugar a bastantes litígios que se repercutirão na celeridade e segurança jurídicas,
até porque as pessoas contratam pelos mais diversos motivos.
O artigo 252º/2 estabelece um regime especial para certos casos de erro sobre os motivos, se o
erro incidir sobre as circunstancias que constituem a base negocial, representação mental de
uma das partes, reconhecida pela outra, ou a representação comum de vários interessados acerca
da existência ou ocorrência de determinadas circunstancias, sobre a base das quais se funda a
vontade do agente. Nestes casos, haverá lugar á anulabilidade nos termos dos artigos 437º a
439º, erro relativamente ao qual se forma a base do negócio, com base no qual as partes fixaram
os pressupostos da contratação, erro normalmente bilateral sobre as condições fundamentais do
negócio jurídico que determinam ambas as partes, ou determina uma das partes e em que a outra
não poderia deixar de aceitar o condicionamento do negócio sem violação dos ditames da boa
fé.
Não sendo o artigo autónomo, já que remete para o 437º, coloca-se a questão: terá lugar a
anulabilidade, como acontece nos demais erros vicio? Ou haverá lugar à resolução ou
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Erro sobre o objecto do negócio: o artigo 251º prevê que o negócio será anulável nos
termos do artigo 247º, ou seja, desde que o declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante do elemento sobre que incidiu o erro. Mota Pinto mantém as
suas críticas para este regime, que anteriormente fizera para o erro na declaração. Não se faz
qualquer delimitação das qualidades do objecto no artigo, no entanto, é necessário uma
delimitação, pois seria absurdo, por exemplo anular o negócio com fundamento no
desconhecimento de um preço mais barato noutro local. Serão, então qualidades do objecto: a) a
constituição material do objecto (ex. se é de ouro ou de prata); b) as condições factuais ou
jurídicas que pela sua natureza e duração evoluem no valor ou no préstimo desse objecto (ex. se
o objecto é usado ou não).
Erro sobre a pessoa do declaratário: está igualmente previsto no artigo 251º, remetendo a
sua anulabilidade para os termos do artigo 247º, na mesma maneira que o erro sobre o objecto
do negócio acima analisado.
Anulabilidade de todos eles: a) só pode ser invocada pelo errante, enganado, coagido ou
incapaz; b) só pode ser invocada no ano subsequente à cessão do vício, no entanto se o negócio
não estiver cumprido pode ser invocada a todo tempo; c) pode ser sanada por confirmação.
O Dolo:
A noção de dolo consta do artigo 253º/1. Trata-se de um erro determinado por um certo
comportamento da outra parte. Existirá dolo quando se verifique o emprego de qualquer
sugestão ou artificio com a intenção ou consciência de induzir ou manter em erro o autor da
declaração – dolo positivo ou comissivo, ou quando tenha lugar a dissimulação pelo declaratário
ou por terceiro do erro do declarante, há um dever de elucidar por força da lei, de estipulação
negocial das partes ou das concepções dominantes do comércio jurídico e o declaratário ou
terceiro não o fazer – dolo negativo ou omissivo.
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Não há dolo no caso de erro provocado por informações inexactas sem intenção ou
consciência de enganar, embora com negligência. No entanto, quem provocou o erro poderá
incorrer em responsabilidade civil. Segundo o artigo 253º/2 só haverá dolo quando exista dever
de elucidar por força da lei, de estipulação negocial ou das concepções dominantes no comércio
jurídico. Não será, portanto dolo, segundo o mesmo artigo as sugestões ou artifícios usuais
considerados legítimos segundo as concepções dominantes no comércio jurídico (exemplo, A
diz a B que o lote de acções vai subir proximamente – é algo que qualquer vendedor diz e se o
comprador cai é porque é ingénuo).
Modalidades:
Dolus malus: sugestões ou artifícios que alguém emprega com a intenção ou a consciência
de conduzir ou manter em erro, que não são usuais, bem como a dissimulação quando o dever
de elucidar o declarante resulta de lei, estipulação negocial ou das concepções dominantes do
comércio jurídico.
Só é relevante como fundamento de anulabilidade e de responsabilidade o dolus malus.
Dolo inocente: não há intuito de enganar.
Dolo fraudulento: há intuito ou consciência de prejudicar.
Dolo essencial: o enganado foi induzido pelo dolo a concluir o negócio em si mesmo e não
apenas nos termos em que foi concluído, sem dolo não se teria concluído qualquer negócio.
Dolo incidental: o enganado apenas foi influenciado quanto aos termos do negócio, ele
contrataria sempre, mas noutras condições. Não conduzirá este dolo necessariamente a anulação
como defendeu Mota Pinto anteriormente para o erro – vício.
- Dolo do declaratário:
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A coacção moral: consta do artigo 255º/1, o seu conceito, receio de um mal de que o
declarante foi ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração. É, então, a
perturbação da vontade traduzida no medo resultante de ameaça ilícita de um mal com o intuito
de extorquir a declaração negocial.
Só há vício quando a liberdade do coagido não foi totalmente excluída, quando lhe foram
deixadas possibilidades de escolha, embora a submissão à ameaça fosse a única escolha
possível. Assim, mesmo no caso de ameaça com arma de fogo ou no caso de emprego da
violência física como começo para compelir o negócio estaremos face a coação moral ou
relativa. Só cairemos no âmbito da coacção física ou absoluta quando a liberdade exterior do
coagido é totalmente excluída e ele é utilizado como verdadeiro autómato – exemplo assinatura
de um documento com a mão a ser conduzida por outrem com força irresistível).
Não basta o simples medo ou receio, a lei no artigo 255º/1 exclui o chamado temor
reverencial – receio de desagradar a certa pessoa a quem se deve respeito ou de quem se é
dependente.
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Se o dolo é exercido por um representante do declaratário ou por seus agentes a situação será tratada
como dolo do declaratário.
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A coacção moral origina a anulabilidade do negócio – artigo 256º, havendo lugar, segundo
Mota Pinto a responsabilidade pré – negocial do coactor – artigo 227º
a) (d) Ameaça de um mal grave, algo que é apreciado objectivamente, mas em relação aos
vários tipos de indivíduos;
b) (e) Justificado receio da consumação do mal, deve-se atender à viabilidade da sua
execução, à capacidade de resistência do tipo médio de indivíduo com as condições pessoais do
declarante.
Trata-se de um regime “menos apertado” que o dolo, isto porque se o coagido não poder
invocar a coacção não poderá invocar outro vício da vontade, enquanto que no dolo, se este não
poder ser invocado, há sempre possibilidade de invocar o erro simples.
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Na anulabilidade começa a contar o prazo não a partir do momento em que é feita a ameaça,
mas a partir do momento em que cessa a ameaça. No caso de ameaça de recorrer a vias judiciais
(Capelo de Sousa defende que a ameaça termina a partir da sentença da 1ª instancia).
O Estado de Necessidade: situação de receio ou temor gerada por um grave perigo, que
determina o necessitado a celebrar um negócio para superar o perigo em que se encontra, que
confere à outra parte benefícios excessivos ou injustificados. O facto que lhe dá origem pode ser
natural ou humano.
Confronto com a coacção: pode gerar confusão quando o estado de necessidade for
ocasionado por um facto humano (ex. alguém que tinha o dever jurídico ex. médico, ou um
imperativo moral de auxilio, só o prestando depois de exigir uma retribuição a que não tinha
direito). Há aqui um aproveitar-se da situação, sendo que quem se aproveite não provoca essa
situação, ao contrário da coacção em que a situação é criada pelo coactor.
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