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|Núcleo de Estudantes de Direito da Universidade Lusíada do Porto| Teoria Geral do Negócio Jurídico

O facto jurídico:
Noção: é todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente relevante, ou seja,
produtor de efeitos jurídicos / contrario de factos ajurídicos que são factos da vida real
irrelevantes ou indiferentes ao qual a ordem jurídica não liga quaisquer consequências
(exemplo, um convite para um passeio).

Classificação dos factos jurídicos:


a) Factos jurídicos voluntários e involuntários: factos jurídicos voluntários ou
actos jurídicos são os factos jurídicos resultantes da manifestação ou actuação
da vontade humana enquanto elemento juridicamente relevante, exemplo
testamento ou contrato. Factos jurídicos involuntários ou naturais: são
estranhos a qualquer processo volitivo, ou porque resultam de causas de ordem
natural (exemplo, morte natural de um animal) ou porque a sua eventual
voluntariedade não tem qualquer relevância jurídica (exemplo o nascimento).
b) Factos jurídicos lícitos e ilícitos: trata-se de uma classificação dos factos
jurídicos voluntários ou actos jurídicos, factos jurídicos lícitos: facto conforme a
ordem jurídica e por ela tutelado ou garantido. Factos jurídicos ilícitos: facto
contrário à ordem jurídica, e por ela reprovado e sancionado.
c) Negócios jurídicos e simples actos jurídicos: estamos no domínio dos factos
jurídicos voluntários. Negócios jurídicos: são factos voluntários cujo núcleo
essencial é integrado por uma ou mais declarações de vontade tendentes a
produzir determinados efeitos jurídicos que coincidem ou tendencialmente
coincidem com a vontade das partes os efeitos dos negócios jurídicos produzem-
se ex voluntate exemplo, contratos. Actos jurídicos: são factos voluntários
cujos efeitos se produzem mesmo que não tenham sido previstos ou queridos
pelos seus autores, embora muitas vezes haja concordância entre a vontade
destes e os referidos efeitos. Os efeitos dos simples actos jurídicos produzem-se
ex lege. Exemplo: ocupação de animais bravos (caça e pesca) ou de animais e
coisas móveis perdidas – 1318º, interpelação do devedor – 805º/1,
estabelecimento do domicílio – 82ºss.
d) Quase negócios jurídicos e operações jurídicas: distinção feita dentro dos
simples actos jurídicos. Quase-negócios jurídicos ou actos jurídicos quase
negociais: traduzem-se na manifestação exterior de uma vontade (exemplo,
interpelação do devedor – 805º/1. Operações jurídicas: traduzem-se na
efectivação ou realização de um resultado material ou factual a que a lei liga
determinados efeitos jurídicos, exemplo, ocupação de animais bravios – 1318º.

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Também são designados por actos materiais; actos reais (“realakten”) ou actos
exteriores.
e) Factos ilícitos negociais e extranegociais: falamos de ilícitos civis: violam
interesses particulares / contrário de ilícitos penais que violam interesses gerais
da comunidade. Ilícito negocial: resulta da violação da parte de um devedor de
uma obrigação, perante um certo credor resultante normalmente de um contrato.
Ilícito extranegocial: resulta da violação de um dever geral de abstenção que se
impunha perante um direito absoluto. Porquê ilícito negocial ou extranegocial e
não contratual ou extracontratual? É mais rigoroso desta forma, visto que o
ilícito contratual existe tanto quando não se cumpre uma obrigação resultante de
um contrato, como da violação resultante de um negócio unilateral.
f) Delitos e quase-delitos civis: delito é o mesmo que acto ilícito. Delito é
praticado com dolo, ou seja, com intenção de provocar esse resultado. Quase –
delitos  é praticado com negligência, ou seja, com omissão de um dever de
cuidado ou diligência. Bastante importante saber para efeitos da
responsabilidade civil  artigo 494º.

Efeitos dos factos jurídicos: os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos que
consistem que consistem fundamentalmente numa aquisição, modificação ou extinção de
relações jurídicas.

Aquisição de direitos: pensamos no lado activo da relação jurídica;

a) Noção: é a ligação de um direito a um determinado sujeito. Diz-se que o sujeito adquire


um direito, quando esse direito se a liga a esse sujeito.
Aquisição de direitos e constituição de direitos são duas coisas diferentes.
Constituição de direitos: é o aparecimento de um direito pela primeira vez na ordem
jurídica, é a criação de um direito que não existia anteriormente. Toda a constituição implica a
sua aquisição, visto não haverem direitos sem sujeito. Mas nem toda a aquisição envolve a
constituição de direitos exemplo, aquisição derivada translativa.

b) Aquisição originária e aquisição derivada:

Aquisição derivada: aquisição em que o direito que se adquire depende não só do facto
aquisitivo mas também do direito anterior, exemplo, aquisição de propriedade através do
contrato de compra e venda. Existe uma tripla dependência  (1) existência (o direito tem de
existir); (2) conteúdo (se na compra e venda o vendedor tinha um direito mas apenas o de

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usufruto este não pode transferir um direito mais amplo que não tem; (3) objecto ou área
de incidência (imagine-se que o alienante era apenas comproprietário, tendo apenas uma
fracção, só poderá transferir essa fracção, como tal não pode ter um objecto mais vasto do que o
direito anterior).

Aquisição originária: aquisição em que o direito que se adquire depende apenas do facto
aquisitivo (facto jurídico que o fez nascer), não dependendo da existência ou da extensão de um
direito anterior, que poderá até não existir. Exemplo: usucapião  1287º seguintes; ocupação de
coisas móveis  1318º seguintes; no caso de caça e pesca 1319º nem sequer há um direito
anterior e em todos eles o direito do adquirente não foi adquirido por causa do direito anterior,
mas apenas dele.

c) Modalidades de aquisição derivada: translativa, constitutiva e restitutiva:

Translativa: o direito que se adquire tem exactamente o mesmo conteúdo ou extensão do


direito anterior. O direito que se adquire é o mesmo que estava na esfera jurídica do
transmitente (compra e venda, por exemplo).
Constitutiva: o direito que se adquire tem um conteúdo ou extensão inferior ao direito
anterior, o direito que se adquire é menos extenso que o direito anterior. Exemplo, o proprietário
de um prédio constituir um usufruto a favor de outrem.
Restitutiva: o titular de um direito real limitado demite-se dele, restituindo-se o direito à
sua plenitude inicial, deixando de estar comprimido, retoma a dimensão inicial, exemplo, a
destruição de um usufruto, passando a ser um direito de propriedade pleno novamente.

d) Distinção entre aquisição derivada e sucessão:

Sucessão: é o subingresso de alguém num direito de outrem, coincide apenas com a


aquisição derivada translativa.
Quando falamos em sucessão referimo-nos aos direitos e também às dívidas, enquanto a
aquisição rigorosamente só diz respeito a direitos. As dívidas não se adquirem, mas sim
assumem-se daí a epígrafe do artigo 595º. Podemos utilizar sucessão num sentido amplo (tanto
mortis causa como inter vivos) e aí o titular anterior do direito designa-se por autor, antecessor
ou causante e o adquirente por sucessor ou causado.
Mas frequentemente utiliza-se sucessão num sentido estrito, designando apenas a sucessão
mortis causa aí o autor da sucessão é designado por hereditando ou de cuius e os sucessores ou
causados por herdeiro ou legatário conforme sucedam na totalidade ou numa quota do
património ou em bens ou valores determinados.

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e) A transmissão de direitos:

A transmissão de direitos equivale à aquisição derivada translativa. No entanto, num sentido


amplo pode-se utilizar a expressão transmissão de direitos para qualquer forma de aquisição
derivada. A transmissão, tal como a sucessão refere-se tanto aos direitos, como às dívidas.

f)Importância da distinção entre aquisição derivada e aquisição originária: enquanto


que na aquisição originária a extensão do direito adquirido depende apenas do facto ou titulo
aquisitivo, na aquisição derivada a extensão do direito do adquirente depende do conteúdo do
facto aquisitivo e depende ainda da amplitude do direito do transmitente, não podendo este
transmitir mais direitos do que os que tem, segundo a velha máxima nemo pluris iuris in alium
transferre potest quam ipse habet (ninguém pode transferir para outrem mais direitos de que o
próprio tem). É esta a regra fundamental da aquisição derivada. Logo se A vende a B uma coisa
da qual não era proprietário, esse acto é nulo com fundamento legal no artigo 892º e ss  venda
de coisa alheia.

No entanto, este princípio comporta excepções, ou seja, situações em que o adquirente pode
obter um direito que não pertencia ao transmitente ou é mais amplo do que aquele que pertencia
a esse mesmo transmitente.
a) Instituto do registo predial e registos similares: as pessoas devem inscrever, com o
fim de lhes dar publicidade os diversos actos inerentes a bens imóveis e outros bens
indicados. O nosso registo predial é:
i. Um registo de aquisições (não de pessoas como é o caso do registo
civil);
ii. É facultativo: a sua inobservância não é uma infracção de um dever,
mas apenas a inobservância de um simples ónus do adquirente;
iii. É declarativo, é mera condição de eficácia da aquisição e não condição
da sua validade como acontece com os registos constitutivos, caso do
Alemão. A aquisição sem registo não deixa de ser válida e enquanto
não há registo prevalece inteiramente a primeira aquisição de acordo
com a regra prior in tempore, potior in iure, só fugindo a isto a
constituição de hipoteca em que o registo é constitutivo e como tal
condição de validade.
Do registo decorrem três tipos de efeitos:
1- Efeito imediato ou automático do registo: é a presunção de titularidade do direito;

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2- Efeitos laterais do registo: todos os previstos na lei independentemente dos outros


dois efeitos (ex. art. 291º)
3- Efeito central do registo: artigo 4º, 5º e 6º do código de registo predial  enquanto
não for registado, embora a aquisição produza efeitos inter partes, estes efeitos não
se poderão opor a terceiros quando não haja tal aquisição sido registada (“os factos
sujeitos a registo só produzem efeitos contra terceiros depois da data do registo”).
Assim, quanto aos bens sujeitos a registo, não se aplica a regra da prioridade ou
prevalência da transmissão mas a regra da prioridade do registo.

A--------------B

C
Assim, se B adquire um bem sujeito a registo mas não o regista e C adquire o
mesmo bem (sendo C terceiro para efeitos de registo), e o regista, aplica-se a regra da
prioridade do registo, e não da aquisição do direito sobre o bem, de modo que, embora A já
não seja proprietário do bem, se verifica uma situação de aquisição a non domino (aquisição
de um bem que já não era titulado por A) – logo, há uma excepção ao princípio do nemo
plus iuris.

Mas quem são os terceiros para efeitos de registo predial?

Trata-se de uma noção que até aos anos 60 era bastante pacífica na nossa jurisprudência e
na nossa doutrina, mas que se viu a partir desses mesmos anos (60) bastante conturbada. Algo
que permanece até aos nossos dias.
Escola de Coimbra, defendida por Manuel de Andrade, Mota Pinto e Orlando de Carvalho
diz que terceiros para efeitos de registo são os que do mesmo autor ou transmitente adquirem
sobre o mesmo bem direitos total ou parcialmente incompatíveis ou conflituantes. É a chamada
estrutura da aquisição triangular, já que apenas poderá haver um proprietário. Quem não fosse o
proprietário segundo a regra do nemus pluris iuris nada podia transmitir e como tal quem com
ele contratou nada poderá obter. Pois quem adquiriu a domino, ainda que não tenha registado é
sempre preferido a quem adquire a non domino. Pressupõe-se, assim, que o transmitente é o
mesmo, segundo este esquema.

A B (nr)

C (r)

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Fora isto, nada mais se exige para a inoponibilidade a terceiros, nem se a aquisição é inter
vivos ou mortis causa, nem se a aquisição é gratuita ou onerosa, nem se o registo é feito com o
conhecimento de aquisição conflituante não inscrita ou com o desconhecimento da mesma.

A posição da Escola de Lisboa defendida por Oliveira Ascensão e por Meneses Cordeiro é
mais restritiva. Para estes, terceiros para efeitos de registo são apenas os que adquirem a título
oneroso e de boa fé, ou seja, com o desconhecimento da aquisição conflituante. Doutor Orlando
de Carvalho e Doutor Mota Pinto consideram esta restrição inadmissível e subversiva da função
do registo e a segurança que o mesmo trás ao tráfego jurídico. No que diz respeito à boa fé e
defendido que tal traria o caos à segurança que se pretende no comércio jurídico, trazendo ao
adquirente delongas, incertezas e gastos tendentes a provar que desconhecia uma alienação
anterior. Má fé psicológica que é algo, muito difícil de provar. No que diz respeito à
onerosidade da aquisição o Doutor Orlando de Carvalho diz-nos que não tem aqui qualquer
sentido pois não tem qualquer relevo no quadro da oponibilidade dos direitos.
No que diz respeito à jurisprudência acerca deste assunto nos tempos mais próximos, o
acórdão de fixação de jurisprudência de 15/ 97 de 4 Julho do STJ veio sustentar a posição de
Coimbra, no entanto o acórdão de 8/99 de 10 Julho modificou as coisas e consolidou a posição
da escola de Lisboa com a exigência da boa-fé.

b) Regra geral da protecção de terceiros contra qualquer invalidade (nulidades e


anulabilidades) artigo 291º  este artigo estabelece um regime de inoponibilidade
da nulidade e anulação de negócios jurídicos anteriores com base nos seguintes
pressupostos cumulativos:
i. Estejam em causa bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo;
ii. Onerosidade da aquisição;
iii. Ser terceiro, são terceiros, aqueles que inseridos numa mesma cadeia de
transmissões linear e sucessiva, vêm a sua aquisição afectada por um
vício de um negócio precedente (não pode haver invalidade própria);
iv. Haja boa fé, sendo a boa fé determinada no nº3 do artigo 291º, como
ignorância não culposa das causas de invalidade dos actos anteriores à
aquisição do direito pelo terceiro, ou seja, tem de haver um
desconhecimento efectivo no momento da sua aquisição;
v. Ser um negócio nulo ou anulável – só funciona contra causas de
invalidade;
vi. A aquisição ter de ser registada antes do registo da acção  efeitos
laterais do registo;

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vii. A posição do terceiro só se consolida após 3 anos (espécie de


quarentena) do decurso do negócio inválido 291º/2 (se for numa
cadeia1 conta o ultimo negocio invalido) Embora no caso da
anulabilidade há sanção pelo decurso do tempo 287º/1.
c) Regra especial de protecção de terceiros contra nulidade decorrente de
simulação  artigo 243º, como resulta do artigo 240º os negócios simulados são
nulos. No entanto o artigo 243º/1 vem estabelecer um regime de inoponibilidade
desta nulidade com base numa simulação, desde que se preencham dois requisitos
cumulativos:
a. Ser terceiro. Inicialmente o Doutor Orlando de Carvalho defendia a mesma
definição de terceiros do artigo 291º. Autores da Escola de Coimbra como o
Doutor Manuel de Andrade e como Doutor Mota Pinto defendiam que terceiros
não seriam apenas os defendidos por Orlando de Carvalho, mas todos os que
vissem a sua posição jurídica afectada pela simulação (a que não sejam os
próprios simuladores ou os herdeiros após a morte). O Doutor Orlando de
Carvalho, nos últimos escritos, antes da sua morte parece ter evoluído para esta
concepção de terceiros para efeitos do artigo 241º defendida pelos restantes
autores da Escola de Coimbra;
b. Esteja de boa fé  o artigo 243º/2 , este só fala em ignorância da simulação e
não em desconhecimento sem culpa como vem no artigo 291º/3, ou seja, haverá
boa fé, ainda que com culpa do terceiro, ou seja, se houver possibilidade de ele
conhecer. Aqui a má fé superveniente não releva pois o momento considerado é
o da aquisição dos direitos 243º/2. Embora se considere sempre má fé a
aquisição por parte de terceiro após o registo da acção de simulação  243º/3.

ANEXO:

Coloca-se o problema de se saber se a simulação é inoponivel só aos terceiros de boa fé


prejudicados com a invalidação do negócio, ou seja, aos que com isso sofriam uma perda, ou
também aos terceiros que deixam de lucrar com a invalidação do negócio.
Corrente mais ampla defendida por Pires de Lima, Antunes Varela, Castro Mendes, Vaz
Serra, dizem que terceiros são também os que deixam de lucrar com a invalidação do negócio.

1
No caso: A (vicio)  B (vicio)  C D(boa fé) E (má fé). Orlando de Carvalho entende que se na
cadeia um dos adquirentes estivesse protegido os seus sucessivos adquirentes também o estavam,
beneficiando derivadamente da protecção  protecção intercorrente de terceiros na cadeia. Dr. Pinto
Monteiro tem grandes dúvidas, sobretudo quando o ulterior adquirente está de má fé beneficiando de um
mecanismo alheio, apesar da sua convicção psicológica contrária à lei.

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Baseiam-se na letra da lei, visto que o artigo 243º/1 nada diz e num elemento histórico visto o
anteprojecto conter essa restrição e o texto definitivo nada dizer.
Corrente mais restritiva defendida por Mota Pinto, Manuel de Andrade diz que será apenas
inoponivel aos terceiros que, com a invalidação do negócio sofram prejuízos. Invocam para isso
o elemento racional, atendendo ao fim do artigo 243º (que é de proteger a confiança de
terceiros) optam por uma solução mais justa que será a de impedir a invocação da simulação
que causa prejuízos e já não a que origina vantagens ou lucros (exemplo, no caso de uma venda
por 100 em que se declarou simuladamente 30, não pode invocar a sua qualidade de terceiro de
boa fé para preferir pelo preço declarado é-lhe oponível a nulidade, sendo admitido a preferir
pelo preço real.

Modificações de direitos:
Noção: tem lugar quando alterado ou mudado um elemento de um direito, permanece a
identidade do referido direito apesar da alteração ocorrida. Esta perduração significa que o
ordenamento jurídico continua a tratar o direito como se não tivesse existido uma alteração  o
direito é o mesmo.

Modalidades:

2
Modificação subjectiva: - há uma substituição dos sujeitos na titularidade do direito,
permanecendo a identidade objectiva do direito. Há uma sucessão no direito. Exemplo, é o que
acontece na cessão e na sub-rogação nos créditos – 577º ss e 589º ss; pode ainda resultar de uma
multiplicação dos sujeitos por adjunção (um novo devedor assume a obrigação para com o
credor mas o devedor anterior permanece vinculado);
Modificação objectiva: há uma modificação no conteúdo ou no objecto do direito
permanecendo o direito idêntico. Exemplo, modificação do conteúdo: concedido pelo credor
uma prorrogação do prazo para o cumprimento. Modificação do objecto: o devedor não
cumprindo culposamente a obrigação o seu dever de prestar é substituído por um dever de
indemnizar.

Extinção de direitos:

Noção: tem lugar quando um direito deixa de existir na esfera jurídica de uma pessoa,
extinção subjectiva ou perda de direitos: se o direito sobrevive em si, apenas mudando a pessoa
do seu titular, ou seja, o direito extinguiu-se para aquele sujeito mas subsiste na esfera jurídica
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Por substituição: quando o sujeito activo se substitui outro;
Multiplicação: a um sujeito activo se substituem vários;
Concentração: a vários sujeitos activos sucede um único.

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de outrem. Acontece sempre que tem lugar a uma sucessão. Extinção objectiva: se o direito
desaparece, deixando de existir para o seu titular ou para qualquer outra pessoa, exemplo a
destruição do objecto do direito.

a)Modalidades particulares da extinção de direitos:


 Prescrição extintiva: extinção de um direito que pode não ser acompanhado pela
aquisição correspondente. Tem a ver com objectivos de conveniência ou oportunidade social e
mesmo de segurança e exigibilidade, mais do que propriamente com objectivos de justiça. No
entanto, a justiça não lhe é estranha já que há a ponderação de uma inércia negligente do titular
do direito em exercita-lo o que faz presumir uma renúncia ou pelo menos o torna indigno da
certeza e segurança.
Prescrição aquisitiva ou usucapião: ao contrário da prescrição extintiva aqui adquirem-se
direitos reais.

Diferenças entre prescrição extintiva e caducidade: quando um direito deva ser exercido
durante certo prazo aplicam-se as regras da caducidade, salvo se a lei se referir expressamente à
prescrição – artigo 298º/2.
a) A prescrição extintiva é inderrogável como resulta do artigo 300º, enquanto que se
admitem estipulações convencionais acerca da caducidade artigo 330º;
b) A caducidade é apreciada oficiosamente pelo tribunal  artigo 333º, enquanto que a
prescrição tem de ser invocada, não podendo o tribunal oficiosamente supri-la 
artigo 303º;
c) A caducidade, em princípio, não comporta causas de suspensão nem de interrupção
artigo 328º, ao contrário da prescrição que se suspende e interrompe nos casos
previstos na lei  318º ss e 323º ss;
d) A caducidade só é impedida, em princípio, pela prática do acto  331, embora o
reconhecimento do direito contra quem deve ser exigido também impede a
caducidade. Por seu turno a prescrição se interrompe pela citação ou notificação
judicial  323º.
e) O prazo ordinário da prescrição 20 anos, art. 319º, prevendo a lei para certas
hipóteses uma prescrição de cinco anos  art. 310, havendo prazos mais curtos para
as chamadas prescrições presuntivas, se fundam numa presunção do cumprimento.
Enquanto que na caducidade não vem previstos na lei prazos normais, existem
prazos processuais, mas normalmente tem um carácter substantivo com amplitudes
muito variáveis  exemplo, o artigo 1786º.

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Conceito e elementos dos negócios jurídicos

I. Conceito e importância do negócio jurídico:


a. Negocio jurídico – facto voluntário, licito, cujo conteúdo essencial e
constituído por uma ou mais declarações de vontade dirigidas a realização de
certos efeitos práticos com a intenção de os alcançar sob tutela do direito e em
que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos correspondentes,
determinados, em geral em conformidade com a intenção manifestada pelo
declarante ou declarantes. A sua importância prende-se com o facto de ser o
instrumento principal de realização do princípio da autonomia da vontade, um
dos princípios fundamentais do nosso direito civil.

II. Natureza jurídica – diz respeito à relação que deve existir entre a vontade dos seus
autores e os efeitos produzidos pela ordem jurídica.
a. Teoria dos efeitos jurídicos: deve haver, exacta e completa correspondência
entre o conteúdo da vontade das partes e os efeitos jurídicos produzidos tais
como a lei os determina. Os próprios efeitos derivados de normas supletivas
resultariam da tácita vontade das partes. Críticas:
i. As partes, dos vários negócios não têm uma ideia completa e exacta de
todos os efeitos que o ordenamento jurídico atribui as suas declarações
de vontade. Se esta doutrina, fosse verdade só os juristas
completamente informados sobre o ordenamento poderiam celebrar
negócios jurídicos.
ii. As normas supletivas, só deixam de se aplicar quando uma vontade real
contaria for manifestada, não bastando provar-se que as partes não
consideraram o ponto ou até não teriam querido aquele regime.
b. Teoria dos efeitos práticos: basta que a declaração se dirija a certos efeitos
práticos ou empíricos sem carácter ilícito, fazendo a lei corresponder a esses
efeitos práticos, efeitos jurídicos concordantes. Critica: tal como esta doutrina
define o negócio jurídico este não se distingue de outros actos que não são
negócios jurídicos que se fiam na honorabilidade das partes, (exemplo,
empréstimo de honra).
c. Teoria dos efeitos práticos jurídicos: trata-se do ponto de vista correcto.
Quem realiza negócios jurídicos visa certos resultados práticos ou materiais e
quer realiza-los pela via jurídica. Tem, como tal, também uma vontade de
efeitos jurídicos, não se dirigindo apenas a efeitos práticos. Só que aqui não há

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uma representação completa dos efeitos jurídicos correspondentes aquela


vontade de efeitos práticos, basta uma representação global, pratica dos efeitos
jurídicos imediatos e fundamentais.
Por falta de intenção de efeitos jurídicos temos de distinguir os negócios jurídicos dos
chamados negócios de pura obsequiosidade, exemplo um convite para jantar.
Por falta de vontade de efeitos jurídicos há ainda que distinguir os negócios jurídicos dos
chamados “gentlemen agreements”  convenções sob matéria que é normalmente objecto de
matéria de negócios jurídicos, mas que estão desprovidos, no caso de intenção de efeitos
jurídicos, exemplo um empréstimo de honra.

III – Elementos dos negócios jurídicos:

1. Essenciais: podem ser aqueles relativos à existência do negócio jurídico, sem os quais o
mesmo não chegaria a ter existência material, falamos da declaração, dos sujeitos e do
conteúdo. Ainda, segundo a sistematização tradicional, que considera essenciais os
requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio. Falamos da capacidade
das partes e da sua legitimidade; a declaração de vontade sem vícios; idoneidade do
objecto jurídico  artigo 280º.
Podemos falar ainda de elementos essenciais no sentido dos elementos essenciais de cada
negócio típico ou inominado. São as características próprias de cada modalidade negocial,
exemplo locação artigo 1022º ss, em que temos 1- obrigação de proporcionar à outra parte o
solo de cada coisa 2- gozo esse que é temporário (diferente de compra e venda) 3- obrigação da
outra parte pagar a correspondente retribuição (diferente do comodato).
2. Naturais: são os efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas. Não é
necessário que as partes configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos,
exemplo artigo 885º.
3. Acidentais: são as cláusulas acessórias dos negócios jurídicos. Elas não caracterizam o
tipo negocial em abstracto mas tornam-se imprescindíveis para que o negócio concreto
produza os efeitos a que elas tendem, exemplo cláusula de juros.

Classificação dos negócios jurídicos:

1. Unilaterais e bilaterais:
a. Unilaterais: há uma só declaração de vontade (exemplo, testamento) ou
varias declarações de vontade paralelas formando um só grupo (exemplo,
procuração feita por duas pessoas a favor de um mesmo advogado);

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b. Contratos ou negócios jurídicos bilaterais: há duas ou mais declarações


de vontade, de conteúdo oposto mas convergente com a pretensão de um
resultado jurídico unitário. Há, assim, uma oferta ou proposta e a aceitação
que se concilia num consenso.

Características do regime dos negócios unilaterais:


a) É desnecessária a anuência da contraparte. A eficácia do negócio não careceu de
concordância de outrem;
b) Vigora o princípio da tipicidade ou do numerus clausus, sendo apenas admitidos os
negócios que estiverem especificamente previstos na lei artigo 457º.
c) É importante distinguir entre negócios unilaterais receptícios – a declaração só é
eficaz se for e quando for levada ao conhecimento de certa pessoa, exemplo
denuncia do arrendamento, artigo 1055º.
Negócios jurídicos não receptícios – basta a emissão da declaração sem ser necessária
comunicá-la a quem quer que seja, exemplo testamento.

Características do regime dos negócios bilaterais:


a) Não se trata de dois negócios unilaterais, já que cada uma das declarações é
emitida em vista do acordo;
b) A proposta de contrato é irrevogável depois de chegar ao conhecimento do
destinatário artigo 230º, mantendo-se durante os lapsos de tempo
referidos no artigo 228º (diferente do código de 1867) em que a proposta
era revogável, embora o proponente que se retractasse incorresse em
responsabilidade pré-contratual, responsabilidade essa ainda hoje admitida
no artigo 227º. (É o chamado dano da confiança, que resulta de lesão do
interesse contratual negativo, devendo-se colocar o lesado na situação em
que estaria se não tem chegado a depositar uma confiança que foi frustrada
na celebração de um contrato válido e eficaz).
c) Coloca-se o problema de saber qual o momento da sua perfeição, visto que
o mesmo é integrado por duas declarações de vontade:
i. Doutrina da aceitação: o contrato está perfeito quando o
destinatário da proposta declarou aceitar a oferta que lhe foi
feita;
ii. Doutrina da expedição: o contrato está perfeito quando o
destinatário expediu por qualquer meio a sua aceitação;

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iii. Doutrina da recepção: o contrato está perfeito quando a


resposta contendo a aceitação chega à esfera de acção do
proponente;
iv. Doutrina da percepção: o contrato só está perfeito quando o
proponente tomou conhecimento efectivo da aceitação.
O artigo 224º vai consagrar no nosso direito a doutrina da recepção.

Dentro dos contratos há que distinguir entre:


 Contratos unilaterais: geram obrigações apenas para uma parte (exemplo, doação);
 Contratos bilaterais ou sinalagmáticos: geram obrigações para ambas as partes,
obrigações ligadas entre si por um nexo de causalidade ou correspectividade (exemplo, compra
e venda).

Importância:
a) Só nos contratos bilaterais há excepção de não cumprimento do contrato, 428º;
b) A faculdade de resolução com fundamento em impossibilidade de cumprimento ou mora
existe nos contratos bilaterais (condição resolutiva tácita) 801º/2 e pode também ter lugar em
alguns contratos unilaterais, exemplo: arts. 1140º e 1150º.

Autores falam dos contratos bilaterais imperfeitos, nestes há inicialmente apenas obrigações
para uma das partes, surgindo eventualmente mais tarde obrigações para a outra parte, em
virtude do cumprimento das primeiras e em dados termos. Nestes contratos não há excepção de
não cumprimento do contrato e também não há condição resolutiva tácita. Exemplo: mandato e
o depósito gratuito – artigo 1157º e ss e artigos 1185º e ss.

Negócios inter vivos e mortis causa:


- Inter vivos: destinam-se a produzir efeitos em vida das partes, trata-se da generalidade dos
negócios jurídicos;
- Mortis causa: destinam-se a produzir efeitos depois da morte do declarante ou depois da
morte de alguma das partes (exemplo, testamento).

Características:
1- Nos negócios mortis causa há uma prevalência dos interesses do declarante sobre o
interesse na protecção da confiança do declaratário, ao contrário dos negócios inter vivos em
que há uma tutela das expectativas da parte que se encontra em face da declaração negocial;
2- O testamento é claramente um negócio mortis causa;

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As doações por morte são, em princípio nulas – artigo 946º como quaisquer outros pactos
ou contratos sucessórios – 2028º/2. Estes são objecto de uma conversão legal em disposições
testamentárias – 946º/2.
Certos pactos sucessórios contidos em convenções antenupciais são válidos – artigo 1700º.
Em relação a estes, as disposições a favor de um dos esposados feitas pelo outro ou por terceiro
são negócios híbridos ou mistos já que têm características de negócio mortis causa já que só se
verifica transferência de bens depois da morte, no entanto há uma restrição de poderes feita ao
disponente, algo que é típico dos negócios inter vivos – artigo 1701º.
As disposições a favor de terceiros feitas pelos esposados são negócios mortis causa se o
terceiro não interveio na convenção antenupcial – artigo 1704º e serão negócios híbridos se ele
interveio como aceitante – artigo 1705º.

Negócios consensuais ou não solenes e negócios formais ou solenes:


Formais ou solenes: são aqueles para os quais a lei prescreve a necessidade de observância
de determinada forma, o acatamento de determinados formalismos ou de determinadas
solenidades e, sem o qual o negócio jurídico é invalido – artigo 220º.
Não solenes: são aqueles em que a validade do negócio jurídico, não está dependente, de
qualquer requisito formal, podendo ser realizado por qualquer comportamento (…).
O princípio geral do nosso código em matéria de formalismo negocial é o da liberdade
declarativa ou liberdade de forma (artigo 219º). Quanto nos casos excepcionais em que a lei
prescrever uma certa forma e esta não for observada a declaração negocial é nula  artigo 220º.

Forma: determinada figuração exterior permitida pela lei ou pela vontade comum das
partes para a respectiva declaração de vontade.

Modalidades:
a) Documento autêntico – artigo 363º/2: exemplo venda de imóveis (875º)
b) Documento autenticado – artigo 363º/3: em que há confirmação de determinado
negócio jurídico através do notário
c) Documento particular – artigo 363º/2 (2ª parte): exemplo contrato-promessa (artigo
410º/2)

Negócios Reais quanto à constituição e quanto aos efeitos:

São aqueles negócios em que se exige, além das declarações de vontade das partes a prática
anterior ou simultânea de um certo acto material de entrega de uma coisa como elemento da
estrutura do negócio jurídico e não como efeito do contrato, exemplo o depósito ou o mútuo.

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Negócios obrigacionais, reais, familiares e sucessórios: o critério desta classificação diz


respeito à natureza da relação jurídica constituída, modificada ou extinta pelo negócio jurídico.
Nos negócios sucessórios o princípio da liberdade contratual sofre importantes restrições
resultantes de algumas normas imperativas (exemplo, testamento);
Nos negócios familiares pessoais: a liberdade contratual está praticamente excluída,
podendo os interessados celebrar ou não o negócio mas não podendo fixar-lhe livremente o
conteúdo ou celebrar contratos diferentes dos previstos na lei: princípio da tipicidade ou do
numerus clausus (casamento, adopção);
Nos negócios familiares patrimoniais: existe em maior escala a liberdade de convenção,
embora com algumas restrições (exemplo, convenções antenupciais);
Nos negócios reais o princípio da liberdade contratual sofre considerável limitação derivada
do princípio da tipicidade ou do numerus clausus – artigo 1306º;
Nos negócios obrigacionais: é neste domínio em que mais se afirma o princípio da liberdade
negocial quanto aos contratos, no que respeita aos negócios unilaterais vigora o princípio da
tipicidade, art. 457º.

Negócios patrimoniais e negócios pessoais: o critério desta classificação é também o da


natureza da relação jurídica a que o negócio se refere.
Pessoais: resulta a constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas de carácter
pessoal, exemplo, casamento, adopção.
Neste domínio há o predomínio de normas imperativas. Há também um predomínio da
vontade real, psicológica do declarante sobre a vontade declarada.
Patrimoniais: resulta a constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas de
carácter patrimonial, ou seja, avaliáveis em dinheiro, exemplo – compra e venda.
Há o predomínio do princípio da liberdade contratual.
Aqui há o predomínio da vontade declarada sobre a vontade real, de forma a tutelar a
confiança do declaratário e também os interesses do tráfico jurídico – artigo 236º/1.

Negócios onerosos e negócios gratuitos:


Importância da distinção: manifesta-se, por exemplo em matéria de impugnação pauliana
(artigo 612º), também para a protecção do terceiro adquirente de boa fé contra qualquer
invalidade de negócio jurídico anterior. (artigo 291º,etc)

A distinção tem como critério o conteúdo e finalidade do negócio

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Negócios onerosos ou a título oneroso: pressupõe atribuições patrimoniais de ambas as


partes, existindo, segundo a perspectiva destas, um nexo ou relação de correspectividade entre
as atribuições patrimoniais. Cada uma das partes faz, assim, uma atribuição patrimonial que
considera retribuída ou contrabalançada pela atribuição da contraparte. Cada uma das
atribuições é a contrapartida da outra.
Não é necessário um equilíbrio das atribuições patrimoniais consideradas pelo seu valor
objectivo, o que releva é a vontade ou intenção das partes, é, assim, uma avaliação subjectiva, já
que objectivamente elas podem não ser equivalentes por várias razões, como por exemplo o
valor afectivo de um objecto ex: arrendamento e aluguer.
Negócios gratuitos ou a titulo gratuito: uma das partes tem a intenção de efectuar uma
atribuição patrimonial a favor de outra sem contrapartida ou correspectivo, sem a pretensão de
nenhum equivalente económico. A outra parte age com a consciência e vontade de receber essa
vantagem sem proporcionar um sacrifício correspondente. Actua-se, assim, com a intenção de
proporcionar uma vantagem à outra parte, o chamado animus donandi ou animus beneficiandi
exemplo, a doação e depósitos gratuitos.
 Existem certas figuras negociais que se podem apresentar como onerosas ou gratuitas,
exemplo, cessão de créditos – 577º.
É possível a existência de contratos unilaterais onerosos (exemplo, mutuo oneroso – artigo
1145º, é que aqui a correspectividade não se estabelece entre duas obrigações, mas entre uma
prestação contemporânea (entrega do dinheiro para ser utilizado) e uma obrigação (a de restituir
o capital e pagar os juros).
Contratos comutativos e contratos aleatórios: trata-se de uma subdivisão dentro dos
contratos onerosos.
Comutativos: cada uma das partes sabe que esperar do efeito do contrato, dar e recebe (…)
Aleatórios: as partes submetem-se a uma álea, a um risco, a uma sorte, a uma possibilidade
de ganhar ou perder.
Pode haver:
a) Uma só prestação dependendo de um facto incerto, a determinação de quem a realizará
(exemplo, aposta);
b) Pode haver uma prestação certa e outra incerta, de maior montante do que aquele (ex.
seguro de incêndio);
c) Pode haver duas prestações certas na sua existência, mas uma delas incerta quanto ao
momento da sua verificação e ao seu montante (ex. seguro de vida).

Os contratos de jogo e aposta não são contratos válidos, nem constituem fontes de
obrigações civis, no entanto quando lícitos são fonte de obrigações naturais – artigo 1245º,

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exceptuando-se as competições desportivas com relação às pessoas que nelas tomarem parte –
1246º e outras excepções previstas em legislação especial – artigo 1247º.

Negócios parciários: são uma subespécie dos negócios onerosos.


Contrato pelo qual uma pessoa promete uma certa prestação em troca de uma participação
nos proventos que a contraparte obtenha por força daquela prestação. Exemplo, parceria
pecuária – 1121º.

Negócios de mera administração e negócios de disposição


Utilidade desta distinção: há uma restrição, por força da lei ou de sentença, dos poderes de
gestão patrimonial dos administradores de bens alheios, ou de bens próprios e alheios, ou até de
bens próprios (ex. inabilitações), aos actos de mera administração ou de ordinária administração
ex. administração de bens – artigos 1922º, 1967º e ss, Inabilitações – artigo 153º e 154º.
Por vezes a lei qualifica ela própria certos negócios jurídicos como actos de administração
ordinária ou então de disposição. Veja-se o caso do artigo 1024º em que a lei qualifica como
acto de administração ordinária a locação num prazo inferior a 6 anos.
Outras vezes a lei concretiza, fazendo uma enumeração de certos actos que são permitidos
ou vedados ao administrador – exemplo, artigos 1889º, 1937º e 1938º.
No entanto, a lei muitas vezes restringe os poderes de certas pessoas a actos de ordinária
administração sem qualquer especificação. Quando a lei não esclarece através de uma definição
ou de uma enumeração quais os actos que integram uma dada categoria teremos de nos guiar
pelos interesses que estão em jogo e o sentido das normas que espelham esses mesmos
interesses3.
Assim, actos de mera administração são os correspondentes a uma gestão concedida e
limitada, com exclusão dos actos arriscados (que podem originar grandes lucros e também
prejuízos elevados) que afectam a substância dos bens. São, assim, os actos que correspondem a
uma actuação prudente, dirigida a manter o património e a aproveitar as suas virtualidades
normais de desenvolvimento. São, assim, actos de mera administração:
a) Actos de conservação dos bens administrados: actos destinados a fazer quaisquer
reparações necessárias, nesses bens tendentes a evitar a sua deterioração ou destruição;
b) Actos tendentes, a prover à frutificação normal: essa frutificação é a pelo modo habitual
para os bens administrados (ex. actos destinados a prover ao cultivo de uma terra nos termos
usuais ao seu arrendamento).

3
Assim, no caso de administradores de bens alheios a lei atende à falta de interesse pessoal do
administrador que o pode induzir a correr riscos que não correria se os bens fossem seus. No caso de
limitação de poderes de alguém sobre o seu próprio património a lei considera deficiências físicas e
mentais que implicam alta probabilidade de a pessoa concluir negócios muito prejudiciais para os seus
próprios interesses.

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Actos de disposição são os actos que afectam a substância do património administrado, que
alteram a forma ou a composição desse capital administrado, que atingem a raiz dos bens,
ultrapassando os parâmetros de uma actuação prudente e comedida. São, assim, actos de
disposição:
a)Actos de frutificação anormal: como é o caso da transformação de um Pinhal em Vinha;
b) Actos tendentes a prover ao melhoramento do património administrado, desde que não
sejam feitos com os rendimentos existentes da administração: como é o caso da abertura de um
poço ou cercar o muro a um prédio rústico sem qualquer necessidade disso.
c) As alienações onerosas: actos que envolvem a transferência da propriedade para outrem
(compra e venda, troca). No entanto, nem todas as alienações onerosas são actos de disposição.
Só o são as que afectam a substância dos bens (ex. não é acto de disposição o corte e venda de
20 pinheiros secos que nada estavam a fazer no pinhal).
d) Onerações: trata-se da imposição de um ónus real sobre um determinado prédio (ex.
constituição de uma servidão de passagem).
e) Doações: tratam-se de liberalidades de alienação sem contrapartida.

Elementos essenciais do negócio jurídico:

I- Capacidade e legitimidade: são requisitos gerais de validade dos negócios jurídicos.


Capacidade negocial de gozo: susceptibilidade de um sujeito jurídico ser titular de direitos e
obrigações derivados de negócios jurídicos. Constitui, a regra geral e contrapõe-se-lhe a
incapacidade negocial de gozo – proibição absoluta de titularidade de tais relações, dirigida a
certas pessoas – os incapazes, que assim se vêm impedidos de realizar determinados negócios
jurídicos. Gera, em regra, uma nulidade e é insuprível pela representação legal ou pela
assistência.
Capacidade negocial de exercício: aptidão para celebrar, modificar ou extinguir negócios
jurídicos, por actividade própria ou através de um representante voluntário. A regra geral é a de
que um maior de 18 anos tem capacidade de exercício, contrapõe-se-lhe a incapacidade negocial
de exercício: impedimento ou proibição não absoluto de realizar determinados negócios
jurídicos. Gera, em regra, uma anulabilidade e é suprível pelos institutos da representação ou
assistência.
Legitimidade: relação existente entre o sujeito e o objecto do negócio que justifica que o
primeiro se ocupe juridicamente do objecto, em geral por ser titular dos interesses cuja
modelação é visada pelo negócio. Haverá ilegitimidade negocial: quando falta essa relação face
ao objecto que é detida por terceiro, cujo interesse a lei protege, de tal forma que o sujeito não
pode afectar esse direito ou obrigação.

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II- Declaração negocial:

A) Noções gerais: é um elemento integrante do negócio jurídico, conduzindo a sua falta à


inexistência material do negócio. O código civil regula a declaração negocial nos artigos 217º e
ss.

 Declaração negocial: é o comportamento de uma pessoa (por palavras escritas ou


faladas ou até sinais) que segundo os usos da vida, convenção dos interessados ou até de
disposição legal apareça como destinado a exteriorizar um certo conteúdo de vontade negocial,
ou em todo o caso, o revela e traduz sendo a vontade negocial: a intenção de realizar certos
efeitos práticos com ânimo de que sejam juridicamente tutelados e vinculantes pela ordem
jurídica. Dá-se aqui claramente um conceito objectivista de declaração negocial, sendo a sua
nota principal não um elemento interior como a vontade efectiva ou psicológica, mas num
elemento exterior no comportamento declarativo. A função da declaração negocial consiste em
exteriorizar a vontade psicológica do declarante e torná-la cognoscível para o declaratário. Ora,
hoje o direito civil coloca na sua primeira linha de protecção as expectativas dos declaratários e
a segurança do comércio jurídico, daí que a nossa lei dê prioridade ao elemento objectivo – ao
comportamento exteriorizado pelo declarante do que a sua vontade psicológica. Neste sentido
claramente o Doutor Mota Pinto, o Doutor Manuel Andrade e o Doutor Capelo de Sousa.

 Elementos constitutivos:
a) A declaração propriamente dita: elemento externo, consiste no comportamento
declarativo;
b) A vontade – elemento interno, consiste no querer concreto, na realidade volitiva que
normalmente existirá e coincidirá com o sentido objectivo da declaração. Esta vontade real pode
decompor-se em três sub elementos:
1- A vontade de acção (Handlugswille) – consiste na consciência e intenção livre de realizar
um comportamento declarativo. Exemplo: não existe vontade de acção quando uma pessoa por
acto reflexo ou distraidamente faz um gesto e este aparece como uma declaração negocial, ou
quando uma pessoa é coagida a realizar um negócio;
2- A vontade da declaração: (Erklanvnjswille) ou vontade da relevância negocial da acção
(Geltunjswille): consiste em o declarante atribuir ao comportamento querido o significado de
uma declaração negocial. Este sub elemento só está presente se o declarante tiver a consciência
e a vontade de que o seu comportamento tenha significado negocial vinculativo, exemplo: pode
faltar vontade da declaração se uma pessoa julgando assinar uma simples ficha para o arquivo
de um banco assina uma declaração negocial. Se um indivíduo num leilão faz um gesto de

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saudação a um amigo e isso é entendido como oferta de uma certa importância, sem que a
pessoa se aperceba disso.
3- Vontade negocial: vontade do conteúdo da declaração ou intenção do resultado
(Geschftswille): consiste na vontade de celebrar um negócio jurídico de conteúdo coincidente
com o significado exterior da declaração. É uma vontade efectiva correspondente ao negócio
concreto que aparece exteriormente declarada. Exemplo: pode haver desvio na vontade negocial
quando uma pessoa atribui aos termos da declaração um sentido diverso do que é exteriormente
captado, exemplo uma pessoa quando quer comprar a quinta da Regaleira e erradamente declara
que quer comprar a quinta da Gusteira pensando erradamente ser este o seu nome (erro no
nome).

Vimos que pode haver uma falta de vontade de acção, uma falta de vontade da declaração e
um desvio na vontade negocial. São estes os casos de divergência entre a vontade e a
declaração. Essa divergência pode ainda resultar de um desvio da vontade de acção: um lapsus
linguae ou lapsus calami, exemplo a pessoa quer escrever quinta da Regaleira, ou prédio é o
nº20 e por lapso engana-se a escrever ou falar e sai-lhe quinta da Regaleira nº30.

 Declaração negocial expressa e declaração negocial tácita: o princípio da liberdade


declarativa envolve a possibilidade de se realizarem validamente declarações negociais não só
expressas, como também tácitas – artigo 217º/1. No entanto, por vezes a lei exige que a
declaração negocial seja expressa caso dos artigos 731º, 957º e 1737º.
A distinção consagrada na lei no artigo 217º é a proposta pela teoria subjectiva expressa:
quando feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio directo de expressão da vontade (217º/
1 – 1ª parte).
Tácita: quando do seu conteúdo directo se infere? Um outro, ou seja, a declaração negocial
destina-se a um certo fim mas implica e torna cognoscível um regulamento sobre outro ponto.
Trata-se de uma dedução de facto que com toda a probabilidade revela essa declaração negocial
(217º/1). Trata-se de um meio indirecto ou lateral de afirmação de uma determinada vontade, É
necessário que os factos sejam inequívocos, trata-se de uma probabilidade, mas de uma
probabilidade total.
Exemplo: aceitação expressa da herança feita por palavras ou por escrito; aceitação tácita: a
pessoa toma conta dos bens, paga o imposto sucessivo, paga dívidas da herança  são factos
que com toda a probabilidade fazem com que haja uma declaração de vontade no sentido de
aceitação da herança.

A declaração tácita é compatível com a existência de um negócio formal  artigo 217º/2,


exemplo – testamento em que não há declaração expressa de atribuição de um determinado

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legado, mas por uma declaração de vontade do testador chega-se a essa conclusão. Em
conformidade com o critério de interpretação dos negócios jurídicos consagrado no artigo 236º
conclui-mos que no que respeita a uma declaração tácita em que dum comportamento se pode
concluir um certo sentido negocial, tal não exige a consciência subjectiva por parte do autor
desse significado implícito (bastando) que objectivamente ele possa ser deduzido do
comportamento do declarante.

O silêncio como meio declarativo: a questão é a de saber se o silêncio entendido não


apenas como um nada dizer, mas como um nada fazer pode considerar-se uma declaração tácita
no sentido de aceitação de propostas negociais.
O artigo 218º dá-nos essa resposta – só vale quando esse valor lhe seja atribuído por lei, uso
ou convenção. Em princípio, então, o silêncio não vale como declaração negocial. Repudia-se o
velho princípio do Direito Canónico: qui tacet consentire videtur (quem cala consente)  isto
seria inaceitável visto que violaria a autonomia das pessoas, dando-lhes sempre o ónus de
responder a qualquer proposta de contrato. Poder-se-ia também aproveitar a impossibilidade de
responder das pessoas, por diversas razões, para se captarem aceitações negociais.
Também é afastada a ideia de que o silêncio vale como declaração quando o silenciante
podia e devia falar – qui tacet consentire vidatem ubi loqui potuit ao debuit, o saber se devia ou
não falar não é claro e mesmo se houvesse o dever de falar, não se deve concluir do silêncio
uma certa declaração, mas apenas a verificação de um incumprimento do dever de falar
susceptível de incorrer o silenciante na obrigação de reparar os danos causados a outrem pela
frustração da sua confiança em receber uma resposta – dano da confiança ou interesse contratual
negativo.
Só tem valor como declaração quando a lei, convenção negocial ou o uso lho atribuam,
caso do artigo 923º/2.
No que respeita às mercadorias recebidas pelas pessoas, quando remetidas com a proposta,
há legislação que protege o destinatário, que não é obrigado a recambia-las, devendo apenas
restitui-las se o proponente as mandar buscar, estando na sua conservação apenas obrigado a
abster-se de as deteoriar por dolo ou negligência.

Declarações negociais presumidas e declarações negociais fictas:

Declaração negocial presumida: quando a lei liga a determinado comportamento o


significado de exprimir uma determinada vontade negocial, podendo ilidir-se tal presunção
mediante prova em contrário – artigo 350º/2 – 1ª parte (presunção tantum iuris). Temos como
exemplos: os artigos 923º/2 e 1054º.

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O regime regra é o das presunções legais poderem ser elididas por prova em contrário, só
assim não sendo quando a lei proibir – 350º/2.

Protesto e reserva:

Protesto: o autor de um certo comportamento declarativo, por recear que lhe seja imputado,
por interpretação, um certo sentido vai afirmar-se abertamente não ser esse o seu intuito. É no
fundo uma contradeclaração.
Reserva: modalidade de protesto em que se especifica que um certo comportamento, não
significa renúncia a um direito próprio ou reconhecimento de um direito alheio – exemplo, a
vítima de um acidente recebe do causador uma soma em dinheiro, mas declara que isso não
significa a renúncia a receber o montante total dos danos.

A forma da declaração negocial:


Vantagens do formalismo negocial:

a) Assegura uma maior reflexão das partes. Nos negócios formais, o tempo que vai desde a
decisão de concluir o negócio e a sua celebração permite repensar o negócio, livrando as partes
da precipitação e da ligeireza;
b) Separa os termos definitivos do negócio da fase pré – contratual, ou seja, da negociação;
c) Permite uma formulação mais precisa e completa da vontade das partes;
d) Dá um maior grau de certeza sobre a celebração do negócio e os seus termos evitando-se
a falibilidade da prova por testemunhas;
e) Dá publicidade ao acto o que é importante para terceiros.

Inconvenientes do formalismo negocial:

a) Redução da fluência e celeridade do comércio jurídico;


b) Embaraça a conclusão válida dos negócios, com demoras, incómodos e despesas;
c) Pode levar a eventuais injustiças, devido a uma desvinculação de uma das partes do
negócio com fundamento em nulidade por vício de forma, apesar de essa mesma parte ter
querido o acto negocial.

I – Modalidades da forma negocial. Princípio da liberdade formal:

No nosso direito civil vale o princípio da liberdade de forma consagrada no artigo 219º.
Existem, no entanto, importantes excepções a este princípio consagradas no nosso código como

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regulamentação especial, caso do 875º em que se estabelece a obrigação de celebrar escritura


pública.
Forma legal: quando o formalismo exigível para certo negócio é imposto pela lei;
Forma convencional: quando o formalismo exigível resulta de uma estipulação ou negócio
jurídico das partes; algo que deriva do principio da liberdade contratual – artigo 405º;
Forma voluntária: forma adoptada pelas partes sem que a lei ou convenção anterior a isso
as obrigasse.

O facto de os particulares, verem as suas estipulações reconhecidas acerca da forma do


negócio, tal não significa que os mesmos possam afastar, por acordo, normas legais que exigem
para certos actos requisitos formais já que são normas imperativas. Assim, as partes poderão
utilizar a forma convencional em negócios que a lei não exige forma ou exige uma solenidade
menos forte.

II – Âmbito da forma exigida:

a) Na forma legal: abrange as cláusulas essenciais do negócio jurídico, bem como as


cláusulas acessórias anteriores ou contemporâneas, sob pena de nulidade artigo 221º/1. Há,
no entanto, uma excepção na segunda parte deste artigo reconhecendo-se a validade de
estipulações verbais, anteriores ou contemporâneas ao documento exigido desde que se
verifiquem cumulativamente as seguintes condições:
1- Que se trate de cláusulas acessórias, não devendo ser estipulações essenciais, que devem
completar o documento indo para além do seu conteúdo mas nunca o contradizendo;
2- Não sejam abrangidos pela razão de ser da exigência de documento;
3- Que se prove que as cláusulas acessórias correspondem à vontade das partes. (há uma
presunção do documento formal ser completo, pelo que, na dúvida sobre a existência de uma
estipulação acessória é de decidir pela sua não existência. É também inadmissível a prova por
testemunhas se tiver por objecto convenções contrárias ou adicionais ao conteúdo de
documentos autênticos e particulares – artigo 394º. Assim, as estipulações não formalizadas,
anteriores ou contemporâneas só produzirão efeitos se houver lugar a confissão ou forem
provadas por documento, mesmo que menos solene: exemplo, carta. Quanto às estipulações
posteriores ao documento estão dispensadas de forma legal prescrita para a declaração se as
razões da exigência especial da lei não lhes forem aplicáveis – artigo 221º/2.

b) Na forma voluntária: não abrange, em princípio, as estipulações acessórias anteriores


ou contemporâneas ao escrito, tal como acontece para as estipulações posteriores ao documento
– artigo 222º.

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c) Na forma convencional: está prevista no artigo 223º.

Inobservância de forma legal:

Formalidades ad substantiam: exigidas para a validade do negócio, são insubstituíveis por


outro género de prova, gerando a sua falta a nulidade do negócio – artigo 364º/1;
Formalidades ad probationem: são meramente probatórias, a sua falta pode ser suprida por
outros meios de prova mais difíceis de conseguir – ex: confissão – artigo 364º/2.

a) Inobservância da forma legal: o código civil liga à inobservância da forma legal a


nulidade – artigo 220º. Poderá parecer injusto a nulidade de uma compra em que o comprador já
pagou o preço e o vendedor já o recebeu, em que este não seria obrigado a restituir a
importância recebida ou o primeiro não seria obrigado a restituir a coisa vendida, mas tal não se
verifica, pois uma vez declarado nulo o negócio deverá ser restituído tudo o que tiver sido
prestado em virtude do negócio viciado – artigo 289º.

Nos casos em que a lei determine outra consequência, a nulidade deixará de ser a sanção
para a inobservância da forma legal – artigo 220º. A doutrina tem colocado o problema de saber
se a possibilidade de invocação da nulidade por vício de forma não pode ser excluída por
aplicação da cláusula geral de boa-fé ou do abuso de direito – artigo 334º, ou seja, deverá
admitir-se a invocação de nulidade com fundamento em vício de forma, quando essa invocação
por uma das partes constitua um abuso de direito? Exemplo, arguição da nulidade, com
fundamento em vicio de forma por um contraente que a provocou ou que criou na contraparte a
expectativa de que a nulidade jamais seria arguida. Manuel de Andrade defende a
improcedência da arguição de nulidade nos casos de manifesto abuso de direito. Larenz por seu
lado, acha que as normas imperativas não podem ser postas em causa, compensando a injustiça
com a obrigação de indemnizar por parte do autor do abuso. Mota Pinto coloca o valor social da
segurança jurídica acima de um critério de justiça de cada caso, afirmando a nulidade dos
negócios afectados por vício de forma, sendo que haverá lugar a indemnização ex vi artigo 227º
(…).

b) Inobservância da forma convencional: a este respeito rege o artigo 223º que se limita a
estabelecer presunções que podem ser elididas mediante prova em contrário – artigo 350º. Essas
presunções são duas:
1- Se a convenção foi estipulada antes da conclusão do negócio, consagra-se uma presunção
de essencialidade, em que as partes apenas se querem vincular através da forma convencionada.

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Ela tem carácter constitutivo. Aquando da sua inobservância Mota Pinto diz que o negócio é
ineficaz enquanto que Vaz Serra diz que o negócio não está concluído entre as partes – artigo
223º/1.
2- Se a convenção é contemporânea ou posterior ao negócio, sendo que na primeira hipótese
haja fundamento para admitir que as partes se quiseram vincular desde logo, presume-se que as
partes não quiseram substituir o negócio mas apenas facilitar a prova consolidando o acto ou
tornando o conteúdo do negócio mais claro ou outro qualquer efeito – artigo 223º/2. Como tal a
sua inobservância não têm quaisquer consequências sobre o negócio.

c) Inobservância de forma voluntária: a sua inobservância não tem quaisquer


consequências.

I – Interpretação dos negócios jurídicos: (não confundir com interpretação das leis
artigo 9º);

O negócio jurídico contem uma ordem normativa, pela qual, as partes, através das
declarações de vontade, pautam a sua conduta.
Interpretação: actividade dirigida a fixar o sentido e o alcance dos negócios, segundo as
respectivas declarações de vontade, ou seja, trata-se de determinar o sentido e o alcance do
conteúdo das declarações de vontade e consequentemente dos efeitos que o negócio visa
produzir.
Ela não pode ser abandonada ao senso empírico, deve ser pautada por regras ou critérios
cuja sua formulação é o objecto da teoria da interpretação que tem critérios convertidos em
verdadeiras normas jurídicas – 236º ss.
Para haver declaração a interpretar temos de estar no domínio da autonomia da vontade
privada das partes que tem:
a) Elemento subjectivo: acto de vontade, acto determinante ou conteúdo da vontade real –
fonte geradora de efeitos jurídicos;
b) Elemento objectivo: acto social de comunicação, aquele a quem a declaração negocial se
destina ou a conhece.
Isto dá origem a posições subjectivistas, o intérprete deve investigar através de todos os
meios adequados a vontade real do declarante, sendo que o negócio valerá com o sentido
subjectivo, ou seja, com o sentido querido pelo autor da declaração.

Posições objectivistas: o intérprete não procura a vontade real do declarante, mas procura
um sentido exteriorizado ou cognoscível através de certos elementos objectivos. Trata-se de
uma interpretação normativa e não de uma interpretação psicológica.

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Dentre as doutrinas objectivistas merece referência a teoria da impressão do destinatário:


declaração deve valer com o sentido que 1 destinatário razoável, colocado na posição concreta
do real destinatário lhe atribuiria, vai considerar-se o real declaratário nas condições concretas
em que se encontra e com os elementos que conhece, mais os que uma pessoa razoável
(normalmente esclarecida, zelosa e sagaz – o bónus pater famílias, teria conhecido e figura-se
em raciocínios sobre essas circunstancias, como o teria feito um declaratário razoável.
Trata-se da posição mais justa, já que tutela a legitima confiança do declaratário, é também
a mais fácil, rápida e confere maior segurança ao comércio jurídico. Posição adoptada pelo
nosso código no artigo 236º/1.
Este sentido que corresponde à impressão do destinatário sofre, no entanto uma limitação
(defendida por Larenz e Ferrer Correia): para que tal sentido possa relevar, torna-se necessário
que seja possível a sua imputação ao declarante, isto é, que este pudesse razoavelmente contar
com ele – artigo 236º/1 parte final. Considera-se que só seja justificado fazer responder o
declarante por um sentido que não deu à declaração, se este sentido lhe era imputável 
limitação subjectivista.

Esta teoria, da impressão do destinatário envolve um ónus da adequada manifestação da


vontade por parte do declarante. Este deve escolher os meios convenientes para exprimir um
sentido que não seja reconhecido ou cognoscível pelo declaratário. Assim, se o declarante se
move em circunstâncias especiais deve tomar a iniciativa de se expressar convenientemente
para o sentido ser correctamente apreendido.

Outra excepção é a consagrada no artigo 236º/2, de acordo com a máxima julsa demostratio
non nocet estabelece que sempre que o declaratário conheça a vontade real do declarante, é de
acordo com o ultimo que vale a declaração. Assim, o sentido querido pelo declarante releva
mesmo quando a declaração é ambígua ou inexacta se o declaratário conhecer o seu sentido.
Tendo em atenção, no entanto, as limitações para os negócios formais previstos no artigo
238º/2.

Não haverá declaração negocial se faltar a vontade de acção – artigo 246º.


Quando a interpretação leve a um resultado duvidoso, deveremos atender ao artigo 237º,
prevalecendo nos negócios gratuitos o sentido menos gravoso para o disponente e nos onerosos
o que conduzir ao maior equilíbrio das prestações. Se, no entanto, a dúvida for insanável
devemos aplicar por analogia o artigo 224º/3, sendo a declaração ineficaz.
Nos contratos de adesão, defende-se o princípio de que na dúvida deve interpretar-se contra
o emitente das condições gerais pré-ordenadas.

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A doutrina tradicional sofre certos desvios que se traduzem:

a) Maior objectivismo: é o que sucede nos negócios formais. Nestes o sentido objectivo
corresponde à impressão do destinatário, não pode valer se não tiver um mínimo de
correspondência, embora imperfeita, no texto do documento – artigo 238º/1. A consequência,
defende Manuel de Andrade é a nulidade em sede interpretativa, pois o que temos é um
problema de vício de forma (o sentido não está formalizado) cuja sanção correspondente é a
nulidade – artigo 220º. Admite-se, no entanto, que um sentido não traduzido no documento
possa valer desde que:
Corresponder à vontade real e concordante das partes, mesmo no caso de impropriedade
das expressões utilizadas, é a falsa demonstrato non nocet – artigo 238º/2;
 Não oposição a essa validade das razões determinantes da forma do negócio (certeza e
segurança ou interesses de terceiros) – artigo 238º/2 (parte final);
b) Maior subjectivismo: é o caso das disposições testamentárias. Na sua interpretação
consagra-se o sentido subjectivo, em que vale a vontade real do testador, estando esta
condicionada pelo contexto do testamento – artigo 2187º - o significado decisivo é o que o
testador quis dizer. Na pesquisa desta vontade do testador é admitido o recurso à prova
complementar, ou seja, elementos ou circunstâncias estranhas aos termos do testamento,
fundadas em qualquer dos meios de prova geralmente admitidos (esclarecimentos orais ou
escritos, anotações pessoais, etc). Exige-se, no entanto, que a vontade assim reconstituída tenha
um mínimo de correspondência, ainda que imperfeita no contexto. Limitação dada pelo teor do
documento que manifesta o carácter solene do negócio testamentário – artigo 2187º/2. Podemos
retirar deste artigo as seguintes conclusões:
1- Invalidade de um sentido contrário ao texto do testamento, ainda que alicerçado noutros
meios probatórios;
2- Admissibilidade das disposições testamentárias tácitas – artigo 217º/2;
3- O testador pode utilizar no testamento um termo numa acepção pessoal, inteiramente fora
dos usos gerais da língua, mas desde que dê a entender por qualquer forma no testamento (com
essa expressão entre aspas ou seguida de reticências) ou que se prove que a significação
anómala era utilizada habitualmente pelo testador – exemplo: A diz que deixa a sua biblioteca a
B, se se provar que A não tinha biblioteca e que utilizava essa expressão para significar
garrafeira é valido esse legado  há aqui um mínimo de correspondência no testamento. Já
haverá nulidade do testamento se o testador usou termos numa acepção extravagante que estava
fora dos seus próprios hábitos de linguagem, ou incorreu em erro na declaração. Com a
excepção de no testamento constarem outras referencias que levem a considerar (clarificar)
patente o significado extravagante ou o erro (na ultima hipótese rege o artigo 2203º) exemplo: A
quis deixar os seus bens a Clara e escreveu (a quem eduquei), foi ele quem a educou durante 15

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anos, escreveu “ se se apurar que a única pessoa que A educou foi Clara é patente que A queria
referir-se a Clara e aí já surgirá efeitos) (o exemplo está meio confuso, mas dá para perceber).

Integração dos negócios jurídicos: o problema é o de saber qual a regulamentação das


questões não previstas pelas partes, nem resultantes de disposição legal imperativa ou supletiva,
mas exigida pela resolução do litígio entre as partes e que estas deveriam ter previsto aquando
do ordenamento negocial das suas relações. Nestes casos o artigo 239º remete em primeiro lugar
para a vontade hipotética das partes, ou seja, a vontade que teriam tido caso tivessem previsto o
ponto omisso. Esta integração deve ser determinada para cada negócio e não para os vários tipos
de negócios. No entanto, o juiz dever-se-á afastar da vontade hipotética quando a solução que as
partes teriam estipulado contrarie os ditames da boa fé. Neste caso a declaração deve ser
integrada de acordo com as exigências da boa fé (entenda-se boa fé objectiva) – regras de
honradez e honestidade que as partes devem pôr na celebração e conclusão dos negócios. As
próprias normas supletivas poderão, em casos excepcionais, não se aplicar por contrariarem o
comando da boa – fé – artigo 334º. É de referir que há prioridade da aplicação do direito
supletivo sobre o problema da integração negocial, tudo porque o direito supletivo obedece à
resolução de interesses gerais e porque esta vontade hipotética não é verdadeiramente
manifestada por qualquer das partes. Assim, havendo norma supletiva não há verdadeiramente
uma lacuna, daí o artigo 239º referir “na falta de disposição legal”.
Certos problemas, mesmo que seja evidente a prova da vontade hipotética das partes não
podem ser equacionadas e resolvidos em sede de integração. A integração não pode conduzir a
uma ampliação do objecto negocial que foi pretendido pelas partes, ou seja, não pode ir contra o
que está expressamente no contrato, exemplo: A vende a B uma tonelada de açúcar pelo preço
de x, não pode agora pretender-se a entrega de uma tonelada e meia pelo mesmo preço, mesmo
que se prove que no momento do contrato A teria vendido e B teria comprado mais esses 0,5
toneladas, se a questão tem sido abordada.

Divergência entre a vontade e a declaração:

I- Noções gerais: normalmente há coincidência entre a vontade (elemento interno) e a


declaração negocial (elemento externo). No entanto, pode haver dois tipos de vícios:
a) Na formulação da vontade (divergência entre a vontade real e a declaração – entre o
querido e aquilo que foi declarado;
b) Na formação da vontade: a vontade não foi formada livre e esclarecidamente, há uma
divergência entre a vontade hipotética e a vontade real.

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Divergência entre a vontade real e a declaração pode ser:


a) Intencional: quando o declarante emite, consciente e livremente uma declaração com um
sentido objectivo diverso da sua vontade real
b) Não intencional: quando o declarante não se apercebe da divergência ou porque é forçado
irresistivelmente a emitir uma declaração diferente da sua vontade real.

Intencional Não intencional

Simulação Erro, (…)


Reserva mental Falta consciência do
Declarações não sérias declaratário
Coacção física

Analisemos o aspecto teleológico dos interesses em jogo:

O Interesse do declarante reclamando o princípio da autonomia da vontade aponta para a


sua não vinculação ao sentido objectivo da declaração que não coincide com a sua vontade real,
apontando para a invalidade do negócio.
O interesse do declaratário aponta para a tutela da confiança e para a irrelevância da
divergência. Há a pretensão da protecção das legítimas expectativas. Tal como para a auto-
responsabilidade do declarante.
O interesse de terceiros também concorre aqui, terceiros aos quais podem derivar direitos
ou que podem ter adquirido direitos quer do declarante, quer do declaratário.
Releva ainda o interesse geral do comércio jurídico que aponta para a segurança e
celeridade no tráfego e, como tal, para as legítimas expectativas do declaratário.
Interesses fundamentais para a validade e produção dos efeitos da declaração.

Teorias que visam resolver o problema:

a) Teoria da vontade: defende a invalidade do negócio logo que haja uma divergência
entre a vontade e a declaração sem necessidade de mais requisitos – Savigny;
b) Teoria da culpa in contrahendo: acrescenta à teoria anterior a obrigação de indemnizar
por parte do declarante se houve ou dolo deste e boa fé do declaratário. Cobre o interesse

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contratual negativo ou interesse da confiança, repondo o declaratário lesado na situação em que


estaria se não tivesse concluído o negócio. Ihering,
c) Teoria da responsabilidade: assenta na teoria anterior, mas no caso de dolo ou culpa do
declarante, estando o declaratário de boa – fé o negócio é válido. Começa o declarante a
responder pela aparência exterior da sua vontade, como se de facto a tivesse querido.
d) Teoria da declaração: dá relevo fundamental à declaração, ao que foi exteriormente
manifestado, com as seguintes modalidades:
1- A mais extrema em que há uma adesão rígida à expressão literal;
2- A chamada doutrina da confiança, a divergência só produz a invalidade se for conhecida
ou cognoscível do declaratário.
3- A doutrina da aparência eficaz, limita a doutrina da confiança apenas aos casos em que o
declaratário confiou efectivamente nesse sentido (exclui-se os casos em que ele confiou num
terceiro sentido)

Não há, no entanto, uma teoria que se possa aplicar às várias modalidades de divergência.
Não são idênticas as soluções mais razoáveis específicas de cada uma das várias divergências
entre o “querido” e o “declarado”.

I – A simulação:
 Noção e elementos: trata-se da principal divergência entre a vontade real e a declaração
negocial.
Simulação: é a divergência intencional entre a vontade real do declarante e a declaração
negocial. Divergência procedente de acordo entre o declarante e o declaratário e determinada
pelo intuito de enganar terceiros – artigo 240º/1.
Temos três elementos:
a) Intencionalidade da divergência;
b) Acordo entre declarante e declaratário, chamado acordo simulatório;
c)Intuito de enganar terceiros.

Modalidades e seu regime:

Simulação inocente: há apenas um mero intuito de enganar terceiros, sem os prejudicar


(animus decipiendi). Realizada sobretudo por razões sociais (ex. A doa a B um faqueiro de prata
havendo entre eles acordo de devolução, tudo para crer a C e D, seus vizinhos, que A é muito
rico)  é rara.

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Simulação fraudulenta: há não só o intuito de enganar terceiros, como também o de os


prejudicar ou de contornar uma norma legal imperativa (animus nocendi), exemplo: venda
efectuada por um devedor a um comprador fictício, de forma a enganar os seus credores;
exemplo 2 – venda de imóvel simulado um preço inferior ao real para prejudicar a fazenda
nacional ou simulando um preço superior para prejudicar um preferente, etc.

Simulação absoluta: as partes fingem celebrar um negócio jurídico e na realidade não


querem celebrar nenhum negócio jurídico. Há apenas o negócio simulado e por detrás dele nada
mais. Simulação relativa: as partes fingem celebrar um certo negócio jurídico e na realidade
querem um outro negócio jurídico de tipo ou conteúdo diverso. Por detrás do negócio simulado
há um negócio dissimulado ou oculto.

Efeitos da simulação absoluta: a simulação importa a nulidade do negócio simulado –


artigo 240º/2. Aqui não há que defender as expectativas do declaratário já que este tem
conhecimento e intervém no acordo simulatório. Apenas os interesses de terceiros de boa fé que
tenham confiado na validade do negócio exigem ponderação.
Nulidade que pode ser invocada por qualquer interessado, de acordo com o artigo 286º, até
pelos próprios simuladores, ainda que a simulação seja fraudulenta como resulta do artigo 242º/
1, pode ser deduzida tanto por via de acção como por via de excepção artigo 287º/2, pode ser
arguida a todo tempo quer o negócio esteja ou não cumprido.

No caso da simulação, não poderá haver, regra geral, usucapião, pois o adquirente é um
possuidor precário – artigo 1253º/c – com a excepção do artigo 1290º.

Modalidades da simulação relativa:


Subjectiva: são simulados os próprios sujeitos do negócio jurídico, é o que acontece com a
interposição fictícia de pessoas: A quer dar um prédio a B, mas finge doar a C para este
posteriormente doar a B, havendo conluio entre os três. Pode-se fazer isto para fugir aos artigos
953º e 2196º.
Supressão de um sujeito real: faz – se uma venda de A a B e outra de B a C, mas para pagar
uma só SISA os três sujeitos concordam em documentar numa só escritura uma só venda de A a
C.
Não confundir com a interposição real: o interposto actua em nome próprio mas no interesse
e por conta de outrem, por força de um acordo entre ele e só um dos sujeitos (ex. A está
interessado num bem que B não lhe vende, vai acordar com C no sentido deste comprar o bem a
A e depois lhos vender) – não havendo conluio entre os três sujeitos, não há simulação mas um

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mandato sem representação, mesmo que a outra parte saiba que o interposto não actua em nome
próprio – artigo 1180º.

Objectiva: é simulado o conteúdo do negócio e pode ser:


Sobre a natureza do negócio: o negócio simulado é de um tipo jurídico diverso ao
negócio dissimulado (ex. finge-se uma venda e quer-se uma doação);
Sobre o valor do negócio: há divergência relativa ao montante da venda, fingiu-se um
preço superior ou inferior ao preço real.

Efeitos da simulação relativa: tal como a simulação absoluta, o negócio simulado está
ferido de nulidade – artigo 240º/2.
Quanto ao negócio dissimulado aplica-se o artigo 241º e este será objecto do tratamento
jurídico que lhe caberia se tivesse sido concluído sem dissimulação. Assim, o negócio
dissimulado poderá ser válido e eficaz como poderá ser inválido consoante que aconteceria se o
negócio tivesse sido abertamente concluído.

Efeitos da simulação quanto aos negócios formais:

A lei estabelece um regime especial para os negócios formais no artigo 241º/2. Nesta
questão a doutrina divide-se, quando o negócio dissimulado é de carácter formal:
Doutor Mota Pinto defende que o negócio dissimulado será nulo por vício de forma se este
não respeitar o formalismo exigido, mesmo que a sua forma fique satisfeita com as solenidades
próprias do negócio simulado. Baseia-se no argumento literal da lei “só é válido se tiver sido
observada a forma exigida por lei” nada dizendo para o caso de as razões de formalismo do
negócio dissimulado se acharem satisfeitas com a observância de solenidades do negócio
simulado e no argumento racional de que a forma legal não visa dar só a conhecer a transmissão
dos bens, mas também a coisa da sua transmissão. Admite-se uma excepção para o caso de as
partes fazerem constar das declarações uma contradeclaração – um escrito de reserva com os
requisitos formais exigidos para esse negócio (algo que nos parece absurdo porque ao fazer isso,
por exemplo numa escritura pública tal traria a descoberto o negócio simulado e o notário não
celebraria o negócio).
Doutor Orlando de Carvalho, Pires de Lima, Antunes Varela e Manuel de Andrade
defendem uma outra posição, defendendo que o negócio dissimulado não deveria ser nulo se as
razões que estão na base da exigência da sua forma ficarem satisfeitas com a observância das
solenidades próprias do negócio simulado. Há como que um aproveitar da forma do negócio
simulado sempre que esta coincidir com a forma do negócio dissimulado.

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Legitimidade da invocação da simulação: o artigo 242º/1 atribui legitimidade aos


próprios simuladores para a arguição da nulidade mesmo sendo a simulação fraudulenta. Algo
que, no entanto, sofre uma apreciável restrição indirecta por força do artigo 394º/2 onde se
estatui a inadmissibilidade da prova testemunhal no acordo simulatório e do negócio
dissimulado. A prova é quase restringida à prova documental e à confissão, estando
inadmissíveis a prova testemunhal e a prova por presunções em virtude do artigo 351º (julgo).
A nulidade do negócio simulado, tal como todas as nulidades, pode ser invocadas por
qualquer interessado e declarada ex officio pelo tribunal – artigo 286º. Após a morte do de cuius
os herdeiros legitimários, como quaisquer outros herdeiros podem arguir a nulidade dos actos
simulados praticados pelo de cuius. Só que intervêm como sucessores do simulador e não como
terceiros.
Em vida do hereditando o artigo 242º/2 permite aos herdeiros agir em vida do autor da
sucessão contra os negócios por ele simuladamente feitos com intenção de os prejudicar, não
bastando que provoque graves prejuízos.
São terceiros interessados na nulidade: a) fazenda nacional; b) os preferentes; c) os credores
(mesmo que não haja insolvência – artigo 605º/1.

Conflitos entre terceiros de boa fé: são possíveis conflitos entre terceiros que
pretendem arguir a nulidade do negócio e terceiros cujos interesses exigem que o negócio seja
considerado como válido. O código não tem normas explícitas sobre estes conflitos. Vejamos
algumas hipóteses:
1- Conflito entre credores comuns do alienante simulado e credores comuns do simulado
adquirente: Manuel de Andrade defende que se deve dar preferência aos últimos;
2- Conflito entre credores comuns do simulado alienante e subadquirentes do simulado
adquirente: devem prevalecer os interesses dos últimos como diz Manuel de Andrade.
3- Conflito entre subadquirentes do simulado alienante e subadquirentes do simulado
adquirente: sendo aquisições tidas como válidas, trata-se de um problema de incompatibilidades
entre direitos reais adquiridos do mesmo transmitente – prevalece a venda mais antiga ou a que
primeiro foi registada.

Prova da simulação: a prova do acordo simulatório e do negócio dissimulado por


terceiros é livre, podendo ser feita por qualquer um dos meios admitidos na lei: confissão,
documentos, testemunhas, presunções, etc.
Reserva Mental: o declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade
real, sem qualquer conluio com o declaratário, visando enganar este. Está prevista no artigo
244º/1. São duas as notas que a definem:
a) Emissão de uma declaração contrária à vontade real;

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b) Intuito de enganar o declaratário.


 Apenas com intuito de enganar: ex. A declara a B fazer-lhe uma doação, sem que na
realidade tenha essa intenção, pois visa apenas dissuadir B do suicídio pela sua grave situação
económica;
Fraudulenta: para além do intuito de enganar, há ainda intenção de prejudicar (ex. A
declara comprar a B um automóvel para o enganar, não tendo intenção de fazer qualquer
compra, tendo feito a declaração por julgar erradamente que a lei exige escritura pública para a
venda do automóvel e que depois podia arguir a nulidade).

Os efeitos desta figura são determinados pelo artigo 244º/2.

A declaração negocial emitida com a reserva ocultada ao declaratário é, em princípio válida,


salvaguardando, assim, condições de justiça e de segurança do comércio jurídico e da confiança
da contraparte.

O negócio será, no entanto, nulo se o declaratário teve conhecimento da reserva. Aqui não
há confiança a proteger. Não bastará para a relevância da reserva a sua cognoscibilidade, sendo
necessário o seu efectivo conhecimento. Terá, no caso de ser nulo, os efeitos da simulação.

Existe uma excepção colocada pela doutrina, por exemplo nos casos em que se tenta
dissuadir de um suicídio ou de um acto patrimonialmente ruinoso. Aqui aplicar-se-á a cláusula
geral do abuso de direito – artigo 334º, visto que excede os limites da boa fé e dos bons
costumes a pretensão do declaratário no sentido da validade dessa declaração, neste sentido
Mota Pinto e Orlando de Carvalho.

Declaração não séria: o declarante emite uma declaração não coincidente com a sua
vontade real, sem o intuito de enganar qualquer pessoa, procedendo-se na expectativa de que a
falta de seriedade não passe despercebida. Podem ser declarações jocosas, cómicas, didácticas,
publicitárias, etc. Na chamada graça malévola apesar de ter uma finalidade também jocosa ela é
reserva mental e não declaração não seria porque se espera que a outra parte, caía no engano.
Em princípio carece de qualquer efeito – artigo 245º/1, porque não chega a haver uma
verdadeira declaração, se o declaratário conhecia a falta de seriedade ou pelo menos esta era
exteriormente perceptível.
O artigo 245º/2 estabelece um regime especial no caso da declaração ser feita em
circunstâncias que induzem o declaratário a aceitar justificadamente a sua seriedade. Neste caso
a declaração também não tem qualquer efeito, no entanto há responsabilidade do declarante pelo
interesse negativo ou confiança – responsabilidade pré-negocial.

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Divergências não intencionais entre a vontade e a declaração:

I – Coação física ou coacção absoluta: o declarante é transformado num autómata, sendo


forçado a dizer ou a escrever o que não quer, não através de uma mera ameaça, mas pelo
emprego de uma força física irresistível que o instrumentaliza, e o leva, a adoptar o
comportamento (ex. torcer o braço de alguém para o obrigar a assinar um papel).
Distingue-se da coação relativa, porque nesta a liberdade está cercada, mas não
completamente excluída, ao contrário da coação absoluta em que o coagido não pode combater
esse mal. A coação física, comporta, nos termos do artigo 246º a ineficácia da declaração
negocial, esta não produz quaisquer efeitos. Não havendo dever de indemnização a cargo do
declarante.

II – Falta de consciência na declaração: o declarante emite uma declaração sem sequer


ter a consciência (a vontade de fazer uma declaração negocial, podendo até faltar
completamente a vontade de agir) – ex. negócio em estado de sonambulismo, ex. um indivíduo
que entra num leilão e faz um gesto para cumprimentar alguém que é tomado como um lance
sem que a pessoa se aperceba disso. O artigo 246º estatui que o negócio não produz quaisquer
efeitos, porque não há um comportamento humano consciente e voluntário, mas sim
involuntário e mesmo reflexo. Algo que a doutrina Alemã não aceita calmamente. Estabelece-
se, no entanto, no fim do artigo 246º que se o declarante tiver culpa na falta de consciência da
declaração, o declaratário tem o direito a ser indemnizado pela chamada responsabilidade pré-
negocial. Algo que Larenz e Canaris chamam de responsabilidade por uma aparência
jurídica (ex. no caso do leilão se o amigo que ele quer cumprimentar nem sequer estiver virado
para ele, mas ele acena com a mão à mesma e isso é tomado como um lance pelo leiloeiro).

III- Erro na declaração ou erro-obstáculo: o declarante emite a declaração divergente da


vontade real, sem ter consciência dessa falta de coincidência – caso do lapsus linguae ou lapsus
calami ou pelo chamado erro in predicando – atribuição às palavras de um significado diverso
do seu sentido objectivo.
É diferente das chamadas declarações sob o nome de outrem – nestas, ao contrário do erro –
no obstáculo não há qualquer comportamento por parte do sujeito a quem a declaração é
atribuída (A faz-se passar por B fazendo um negocio e falsificando a sua assinatura) – esta
hipótese estará sob o artigo 246º - através de uma aplicação analógica, o negócio será no entanto
eficaz relativamente ao declarante aparente se este o aprovar – falsa demonstratio non nocet.

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No caso de erro – obstáculo o princípio geral consta do artigo 247º, exigindo-se para a
anulação que o declaratário, conhece-se, ou não devesse ignorar a essencialidade para o
declarante do elemento sobre que incidiu o erro.
Mota Pinto critica este requisito dizendo que facilita os interesses do declarante para anular
o negócio, sacrificando-se em demasia os interesses do declaratário e os do comércio jurídico,
dizendo que se deveria ir mais além exigindo o conhecimento ou a cognoscibilidade do erro.
No entanto, se o erro fosse conhecido, o problema não se resolveria em sede de erro –
obstáculo, mas em sede interpretativa – artigo 236º/2. Deslocar-se-ia para uma área de validade,
deixando uma área de invalidade do artigo 247º. Se o erro é apenas cognoscível o caso será
resolvido em sede de erro – obstáculo se for relevante o que tornará o negócio inválido e será
resolvido em sede interpretativa se o erro é irrelevante.
Mota Pinto defende que nalguns casos, em que a aplicação do artigo 247º lese com extrema
injustiça os interesses do declaratário, poder-se-ia obstar à anulação com base em abuso de
direito – 334º.
No artigo 248º consagra-se uma excepção no caso do declaratário aceitar o negócio como o
declarante queria a anulabilidade fundada em erro não procede. (ver o artigo 248º).
Segundo o artigo 249º o erro de cálculo ou escrita revelados no contexto da declaração ou
nas circunstâncias que a acompanham não dão lugar à anulabilidade mas apenas à rectificação
do negócio.
Pode haver o caso em que o declaratário compreendeu um terceiro sentido que não coincide
com o querido pelo declarante nem com o sentido declarado. Falamos neste caso, de dissenso.
O dissenso pode resultar de uma falta de acordo dos sentidos objectivos (ex. A declara
vender x e B declara comprar y) como consequência há quem defenda que:
a) O negócio é inexistente – Mota Pinto, Oliveira Ascensão e Carvalho Fernandes;
b) Que é nulo – Castro Mendes;
c) Que ele não foi concluído porque não houve acordo nos termos do artigo 232º;

Pode, no entanto, haver acordo dos sentidos objectivos mas desacordo entre as vontades
reais:
a) Uma só das partes atribuiu à sua declaração um sentido diverso do que tem
objectivamente – aplica-se a doutrina do erro – obstáculo,
b) Cada uma das partes atribui ao negócio um sentido diverso não coincidente com o seu
teor objectivo – hipótese acima transcrita. Aqui o dissenso tem interesse autónomo. Mota Pinto
defende que a declaração é anulável sem a exigência dos requisitos do artigo 247º.

Erro na transmissão da declaração: hipótese prevista no artigo 250º que o regulamenta


o seu nº1 nos mesmos termos do erro – obstáculo, ou seja, é anulável se o declaratario

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conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade para o declarante do elemento sobre que
incidiu o erro. Mota Pinto transporta as suas críticas face ao erro – obstáculo, nos mesmos
termos para este regime.
Existe uma excepção estabelecida no artigo 250º/2 – admitindo-se a anulação sempre que o
intermediário emite intencionalmente, ou seja, com dolo uma declaração diversa da vontade do
declarante. No entanto, o declarante deve suportar o risco de uma transmissão defeituosa ou de
uma deturpação ocorrida enquanto a declaração não chega à esfera do declaratário. (ex.
telegrafista transmite em vez da compra de 20 cavalos, a compra de 18, face à pequena
diferença o negócio deve-se considerar válido e o declarante deve suportar esse risco).
#
Vícios da vontade:

Generalidades: trata-se de perturbações do processo formativo da vontade negocial, de


tal forma, que esta, embora concorde com a declaração é determinada por motivos considerados
como ilegítimos. Assim, o declarante diz o que queria dizer mas isso está inquinado por uma má
formação da vontade. Se ele conhecesse os termos e circunstâncias do negócio jurídico não
tomaria essa decisão mas uma outra ou então nem tomaria decisão nenhuma.

 O erro como vício da vontade:

Ignorância ou representação inexacta por parte do declarante de uma qualquer


circunstancia de facto ou de direito que foi determinante na formação da sua vontade negocial
de tal modo que se ele estivesse esclarecido acerca dessa circunstancia não teria realizado o
negócio ou não o teria realizado nos precisos termos em que o concluiu. É o que os Alemães
chamam de erro – motivo.

Distinção entre erro – vício / e erro obstáculo e / pressuposição:


O erro – vício é um erro na formação da vontade e diz respeito a circunstâncias anteriores
ou contemporâneas à conclusão do negócio. Há divergência entre a vontade real e a vontade
hipotética.
O erro obstáculo é um erro na formação da vontade – há divergência entre vontade real e a
declaração.
Pressuposição: convicção por parte do declarante de que certa circunstância se verificará
no futuro ou de que se manterá um certo estado de coisas. A alteração anormal das
circunstâncias constitui fundamento de resolução ou modificação do contrato previstos os
pressupostos / 437º (não é erro). (…)

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Modalidades:

a) Erro sobre a pessoa do declaratário: erro sobre a identidade e erro sobre as qualidades
(exs. A contrata com B julgando que este é C; A contrata com B porque pensa erradamente que
este é filho de um seu amigo) – artigo 251º
b) Erro sobre o objecto do negócio: pode incidir sobre o objecto mediato - sobre a
identidade ou sobre as qualidades (ex. A compra um terreno julgando erradamente que ele tem
água); objecto imediato – sobre a natureza do negócio (ex. A contrata com B julgando que o
contrato tem os efeitos de locação quando afinal tem os efeitos de uma venda a prestações).
251º
c) Erro sobre os motivos do negócio: é uma noção residual, trata-se de um erro que recaía,
nos motivos determinantes da vontade, mas que não se refira à pessoa do declaratário nem ao
objecto do negócio. Nele podemos integrar o erro sobre pessoa de terceiros e o erro sobre os
fins ou objectivos de natureza subjectiva que motivam o declarante – artigo 252º.

Condições gerais de relevância do erro – vicio como motivo de anulabilidade:

a) Essencialidade: o erro tem de ser essencial, ou seja, tem que ter motivado a conclusão
do negócio em si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído. O erro tem de ser causa
da celebração do negócio e não apenas dos seus termos – o erro é essencial se sem ele não se
celebraria o negócio ou se celebraria um negócio com outro objecto ou de outro tipo ou com
outra pessoa.
Caso contrário o erro é incidental – influiu apenas nos termos do negócio pois o errante
contrataria, sempre, embora noutras condições. Este erro não releva tal como não releva o erro
indiferente em que mesmo sem ele o negócio teria sido concluído nos mesmos termos em que
foi. Para o caso do erro incidental Mota Pinto defende a aplicação analógica do 911º sendo o
negócio válido nos termos em que teria sido concluído sem o erro; O Doutor Mota Pinto e
também Carvalho Fernandes prevê a redução do negócio segundo os termos da norma geral –
artigo 292º.

b) Propriedade: o erro tem de ser próprio. Ele só é próprio quando incide sobre uma
circunstância que não seja a verificação de qualquer elemento legal da validade do negócio. O
erro será impróprio quando versa sobre os requisitos legais da forma negocial, capacidade do
errante, etc. (no entanto o erro sobre as qualidades da pessoa do declaratário é já erro sobre a
pessoa do negócio – ex. incapacidade do declaratário. Aqui o fundamento da invalidade não é o
erro mas o requisito legal cuja deficiência vicia o negócio.

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Na vigência do Código de Seabra a doutrina considerava ainda:

a) Escusabilidade: necessidade de ausência de culpa da parte do errante. O erro indesculpável


ou grosseiro, segundo Cabral de Moncada e outros, não anularia o negócio, embora houvesse
doutrina (Manuel Andrade e Ferrer Correia) que defendesse que a anulabilidade ocorreria
mesmo no caso de erro culposo, pois a situação do contraente não enganado já é tomada em
conta ao permitir-se a anulação apenas quando se verifiquem certos requisitos especiais. Face ao
novo código este requisito é dispensável. No entanto, no caso de erro culposo, não obstante a
anulação, os interesses da outra parte estão protegidos pelo artigo 227º – responsabilidade pré –
negocial.

b)Individualidade ou singularidade: quando fosse exclusivamente do errante e não de toda a


gente em geral (Manuel de Andrade) afirmava o absurdo deste critério, já que quando o erro é
comum a uma generalidade de pessoas é que mais justificado se torna que o errante o possa
invocar para a anulação do negócio. Em face do nosso código essa exigência é ainda mais
indefensável. (invocavam o artigo 664º do código de Seabra, interpretavam à letra).

 Condições especiais de relevância do erro – vício como motivo de anulabilidade

Erro sobre os motivos: o artigo 252º/1 permite a anulação desde que haja uma cláusula
verbal ou escrita, expressa ou tácita, no sentido de a validade ficar dependente da existência da
circunstância sobre que versou o erro. Não basta o conhecimento ou cognoscibilidade do erro
pois tal daria lugar a bastantes litígios que se repercutirão na celeridade e segurança jurídicas,
até porque as pessoas contratam pelos mais diversos motivos.
O artigo 252º/2 estabelece um regime especial para certos casos de erro sobre os motivos, se o
erro incidir sobre as circunstancias que constituem a base negocial, representação mental de
uma das partes, reconhecida pela outra, ou a representação comum de vários interessados acerca
da existência ou ocorrência de determinadas circunstancias, sobre a base das quais se funda a
vontade do agente. Nestes casos, haverá lugar á anulabilidade nos termos dos artigos 437º a
439º, erro relativamente ao qual se forma a base do negócio, com base no qual as partes fixaram
os pressupostos da contratação, erro normalmente bilateral sobre as condições fundamentais do
negócio jurídico que determinam ambas as partes, ou determina uma das partes e em que a outra
não poderia deixar de aceitar o condicionamento do negócio sem violação dos ditames da boa
fé.
Não sendo o artigo autónomo, já que remete para o 437º, coloca-se a questão: terá lugar a
anulabilidade, como acontece nos demais erros vicio? Ou haverá lugar à resolução ou

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modificação do contrato nos termos da alteração superveniente das circunstâncias do artigo


437º? Ou seja, esta remissão é para os pressupostos ou para os pressupostos e para a sanção?
Mota Pinto defende que será só para os pressupostos, sendo a sanção a da anulabilidade pois no
caso de erro sobre a base negocial, o estado de coisas erradamente figurado é anterior ou
contemporâneo do negócio, ou seja, está na génese do negócio, não é uma vicissitude surgida
depois do negócio como acontece com a alteração superveniente das circunstâncias. O erro
sobre a base negocial é um vício na formação da vontade e não algo posterior.

Erro sobre o objecto do negócio: o artigo 251º prevê que o negócio será anulável nos
termos do artigo 247º, ou seja, desde que o declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante do elemento sobre que incidiu o erro. Mota Pinto mantém as
suas críticas para este regime, que anteriormente fizera para o erro na declaração. Não se faz
qualquer delimitação das qualidades do objecto no artigo, no entanto, é necessário uma
delimitação, pois seria absurdo, por exemplo anular o negócio com fundamento no
desconhecimento de um preço mais barato noutro local. Serão, então qualidades do objecto: a) a
constituição material do objecto (ex. se é de ouro ou de prata); b) as condições factuais ou
jurídicas que pela sua natureza e duração evoluem no valor ou no préstimo desse objecto (ex. se
o objecto é usado ou não).

Erro sobre a pessoa do declaratário: está igualmente previsto no artigo 251º, remetendo a
sua anulabilidade para os termos do artigo 247º, na mesma maneira que o erro sobre o objecto
do negócio acima analisado.

Anulabilidade de todos eles: a) só pode ser invocada pelo errante, enganado, coagido ou
incapaz; b) só pode ser invocada no ano subsequente à cessão do vício, no entanto se o negócio
não estiver cumprido pode ser invocada a todo tempo; c) pode ser sanada por confirmação.

O Dolo:

A noção de dolo consta do artigo 253º/1. Trata-se de um erro determinado por um certo
comportamento da outra parte. Existirá dolo quando se verifique o emprego de qualquer
sugestão ou artificio com a intenção ou consciência de induzir ou manter em erro o autor da
declaração – dolo positivo ou comissivo, ou quando tenha lugar a dissimulação pelo declaratário
ou por terceiro do erro do declarante, há um dever de elucidar por força da lei, de estipulação
negocial das partes ou das concepções dominantes do comércio jurídico e o declaratário ou
terceiro não o fazer – dolo negativo ou omissivo.

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Não há dolo no caso de erro provocado por informações inexactas sem intenção ou
consciência de enganar, embora com negligência. No entanto, quem provocou o erro poderá
incorrer em responsabilidade civil. Segundo o artigo 253º/2 só haverá dolo quando exista dever
de elucidar por força da lei, de estipulação negocial ou das concepções dominantes no comércio
jurídico. Não será, portanto dolo, segundo o mesmo artigo as sugestões ou artifícios usuais
considerados legítimos segundo as concepções dominantes no comércio jurídico (exemplo, A
diz a B que o lote de acções vai subir proximamente – é algo que qualquer vendedor diz e se o
comprador cai é porque é ingénuo).

Modalidades:

Dolus bonus: sugestões ou artifícios usuais e toleráveis (considerados legítimos),


concepções imperantes no comércio jurídico – artigo 253º/2.

Dolus malus: sugestões ou artifícios que alguém emprega com a intenção ou a consciência
de conduzir ou manter em erro, que não são usuais, bem como a dissimulação quando o dever
de elucidar o declarante resulta de lei, estipulação negocial ou das concepções dominantes do
comércio jurídico.
Só é relevante como fundamento de anulabilidade e de responsabilidade o dolus malus.
Dolo inocente: não há intuito de enganar.
Dolo fraudulento: há intuito ou consciência de prejudicar.
Dolo essencial: o enganado foi induzido pelo dolo a concluir o negócio em si mesmo e não
apenas nos termos em que foi concluído, sem dolo não se teria concluído qualquer negócio.
Dolo incidental: o enganado apenas foi influenciado quanto aos termos do negócio, ele
contrataria sempre, mas noutras condições. Não conduzirá este dolo necessariamente a anulação
como defendeu Mota Pinto anteriormente para o erro – vício.

 Efeitos: o principal efeito do dolo é a anulabilidade do negócio – artigo 254º/1, mas


acresce a responsabilidade pré-negocial do autor do dolo por ter dado origem à invalidade, com
o seu comportamento contrário as regras da boa – fé, durante os preliminares e a formação do
negócio – artigo 227º – responsabilidade pelo dano da confiança.

- Dolo do declaratário:

a) Tem de ser dolus malus – artigo 255º/2 a contrario sensu;


b) Tem de ser essencial ou determinante (o erro é que tem que ser essencial)
c) Ser dolo positivo ou negativo (tanto faz)

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d) Intenção de enganar o declarante de forma a induzi-lo ou a mante-lo na situação de erro –


artigo 253º/1;
Não é necessário que o dolo seja unilateral, o próprio dolo bilateral pode ser invocado como
fundamento de anulação – artigo 254º/1 (parte final).
Neste caso, o negócio é anulável dando lugar também a responsabilidade pré-negocial, neste
sentido Mota Pinto, Vaz Serra, Pires de Lima, Antunes Varela. Outros autores falam de
responsabilidade extra negocial por factos ilícitos – artigo 483º ss, neste sentido 4 Castro Mendes
e Carvalho Fernandes.

- Dolo de terceiro – artigo 254º/2:

Aplicam-se todos os outros requisitos e ainda:

- Se o declaratário conhece ou lhe foi cognoscível o dolo de terceiro o negócio será


totalmente anulável – artigo 254º/2 (1ª parte)
- Se o declaratário não conheceu, nem devia conhecer o dolo de terceiro o dolo só releva se
ao terceiro adveio, por força do negócio directamente algum direito (clausula a seu favor). 1- se
o terceiro, beneficiário foi o autor do dolo o negócio é anulável em relação a esse sujeito mas
não é anulável face ao declaratário – invalidade parcial; 2 – se o terceiro, beneficiário não foi o
autor do dolo o negócio é anulável em relação a ele se ele conhecia ou não devia ignorar o dolo.

 A coacção moral: consta do artigo 255º/1, o seu conceito, receio de um mal de que o
declarante foi ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração. É, então, a
perturbação da vontade traduzida no medo resultante de ameaça ilícita de um mal com o intuito
de extorquir a declaração negocial.
Só há vício quando a liberdade do coagido não foi totalmente excluída, quando lhe foram
deixadas possibilidades de escolha, embora a submissão à ameaça fosse a única escolha
possível. Assim, mesmo no caso de ameaça com arma de fogo ou no caso de emprego da
violência física como começo para compelir o negócio estaremos face a coação moral ou
relativa. Só cairemos no âmbito da coacção física ou absoluta quando a liberdade exterior do
coagido é totalmente excluída e ele é utilizado como verdadeiro autómato – exemplo assinatura
de um documento com a mão a ser conduzida por outrem com força irresistível).
Não basta o simples medo ou receio, a lei no artigo 255º/1 exclui o chamado temor
reverencial – receio de desagradar a certa pessoa a quem se deve respeito ou de quem se é
dependente.

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Se o dolo é exercido por um representante do declaratário ou por seus agentes a situação será tratada
como dolo do declaratário.

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A ameaça pode dizer respeito à pessoa, honra ou à fazenda do declarante ou de terceiro –


artigo 255º/2

A coacção moral origina a anulabilidade do negócio – artigo 256º, havendo lugar, segundo
Mota Pinto a responsabilidade pré – negocial do coactor – artigo 227º

Coação exercida pelo declaratário, só será anulável se:

a) Que se trate de uma coação essencial ou principal;


b) Intenção de extorquir a declaração – artigo 255º/1 e que a declaração tenha sido
efectivamente extorquida – 256º/1 (1ª parte)
c) Ilicitude da ameaça – artigo 255º/1, esta pode resultar:
c1) Ilegitimidade dos meios empregues (ex. ameaça de agressão, de morte, mesmo que o
autor da ameaça não pretenda senão a satisfação do seu direito)
c2) Ilegitimidade dos fins (ameaça de recurso às vias de direito como participação
criminosa, penhora, etc, para conseguir vantagens indevidas, também duma ameaça de exercício
abusivo extrajudicial de um direito exemplo: doação por um paralítico a quem ameaça
abandona-lo).
Não há coacção se há apenas a ameaça de um direito para conseguir a satisfação ou garantia
de um direito existente – artigo 255º/3.

Coação exercida por terceiro:

Provoca a anulabilidade do negócio e põe a cargo do coactor uma obrigação de indemnizar


o declarante e o declaratário se este não for cúmplice do terceiro.

São exigidos para esta coação os requisitos da coacção do declaratário e ainda:

a) (d) Ameaça de um mal grave, algo que é apreciado objectivamente, mas em relação aos
vários tipos de indivíduos;
b) (e) Justificado receio da consumação do mal, deve-se atender à viabilidade da sua
execução, à capacidade de resistência do tipo médio de indivíduo com as condições pessoais do
declarante.

Trata-se de um regime “menos apertado” que o dolo, isto porque se o coagido não poder
invocar a coacção não poderá invocar outro vício da vontade, enquanto que no dolo, se este não
poder ser invocado, há sempre possibilidade de invocar o erro simples.

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Na anulabilidade começa a contar o prazo não a partir do momento em que é feita a ameaça,
mas a partir do momento em que cessa a ameaça. No caso de ameaça de recorrer a vias judiciais
(Capelo de Sousa defende que a ameaça termina a partir da sentença da 1ª instancia).

 O Estado de Necessidade: situação de receio ou temor gerada por um grave perigo, que
determina o necessitado a celebrar um negócio para superar o perigo em que se encontra, que
confere à outra parte benefícios excessivos ou injustificados. O facto que lhe dá origem pode ser
natural ou humano.

Confronto com a coacção: pode gerar confusão quando o estado de necessidade for
ocasionado por um facto humano (ex. alguém que tinha o dever jurídico ex. médico, ou um
imperativo moral de auxilio, só o prestando depois de exigir uma retribuição a que não tinha
direito). Há aqui um aproveitar-se da situação, sendo que quem se aproveite não provoca essa
situação, ao contrário da coacção em que a situação é criada pelo coactor.

 Efeitos: o estado de necessidade deve subsumir-se ao artigo 282º onde se estatui a


anulabilidade dos negócios usurários.

Requisitos objectivos:  benefícios excessivos ou injustificados, desproporção manifesta


entre as prestações que ultrapasse o que pode ter alguma justificação.
Requisitos subjectivos:  a) - situação de necessidade, inexperiência, ligeireza,
dependência, estado mental ou fraqueza de carácter. b) – conhecimento da situação de
inferioridade e aproveitamento consciente para dela tirar benefícios.

No caso da pessoa que se aproveita conscientemente da situação de necessidade ter o dever de


auxiliar o necessitado (ex. médico que o é obrigado pelo seu código deontológico). Neste caso
parte da doutrina diz que ao faze-lo ele está a contribuir para a situação de perigo prolongando-
a, estará nesse caso a ameaçar daí ser considerado também coacção moral.
Mota Pinto defende ainda que tais negócios deverão ser nulos com fundamento em
contrariedade à lei ou ofensa aos bons costumes – artigo 280º.
Ordem pública – conjunto de princípios fundamentais subjacentes ao sistema jurídico que o
Estado e a sociedade estão interessados em que prevaleçam. Noção variável ao longo dos
tempos.
Bons costumes – variam com os tempos e lugares, abrangendo o conjunto de regras éticas
aceites pelas pessoas honestas, correctas, de boa – fé num dado ambiente e num dado momento.

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Incapacidade acidental: o artigo 257º prevê duas modalidades:


a) Incapacidade de entendimento;
b) Falta de livre exercício da vontade. Prevê-se a anulabilidade desde que se verifique um
requisito: a notoriedade ou o conhecimento da perturbação psíquica, tutelando-se, desta forma, a
confiança do declaratário. Essa notoriedade, é avaliada nos termos do artigo 257º/2 pelo
princípio do bónus pater famílias.

Elementos acidentais dos negócios jurídicos:

a) A condição – artigo 270º: subordinação pelas partes do negócio jurídico a um


acontecimento futuro de verificação incerta. Existem duas modalidades: condições
suspensivas: à verificação da condição fica subordinada a produção dos efeitos do negócio;
Condições resolutivas: a verificação da condição importa a destruição dos efeitos negociais.
Saber se uma condição é suspensiva ou resolutiva é um problema de interpretação do negócio
jurídico.

b) O termo: subordinação pelas partes do negócio jurídico a um acontecimento futuro de


verificação certa. Existem duas modalidades: termo suspensivo: neste caso fica subordinada a
própria produção dos efeitos do negócio jurídico nos termos do 278º. Termo resolutivo: os
efeitos produzem-se desde logo, mas cessam a partir de certo tempo.

c) O modo: cláusula acidental, pela qual nas doações e liberalidades testamentárias, o


disponente impõe ao beneficiário a obrigação de adoptar um certo comportamento, no interesse
do disponente, de terceiro ou do próprio beneficiário – artigos 963º e 2244º.

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