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Concurso de normas e Concurso de crimes:

Primeiramente se estamos perante concurso de normas e havendo concurso


de normas, há normas que são parecidas em benefício de outras. Se no final
tivermos uma norma então é por essa razão que o agente vai ser
responsabilizado. O agente não é punido cumulativamente. Mas podemos
chegar ao final com 2 ou mais normas, isto se o concurso tiver bem feito, e aí
estamos no concurso de crimes. Aqui o agente é punido cumulativamente.
Há várias normas para a resolução de uma situação de facto, mas apenas uma
se aplica. Há um concurso aparente ou falso concurso.
No concurso de crimes há várias normas que são colocadas à resolução
daquele caso e todas se aplicam (cumulativamente). Contrariamente aqui,
estamos perante um verdadeiro concurso.
O artigo 131º CP está a punir a ação de matar e o resultado morte. Podemos
ter uma ação de matar sem morte, e podemos ter morte sem ação de matar.
EXEMPLO: tentativa de homicídio. Na ação de matar estão incluídas as
ofensas à integridade física. Quando se pune o homicídio, já se puniu, na ação
de matar a violência utilizada para provocar a morte. Porque se fossemos punir
pelo 131º e pelo 143º CP estávamos a punir duas vezes pelo mesmo (ne bis in
idem - proibição da dupla incriminação), ninguém pode ser julgado e
condenado mais do que uma vez pelo mesmo facto. Ou seja, estávamos a
punir cumulativamente pelas ofensas. Neste caso, o agente seria punido pelo
131º CP porque o que consta do 143º CP está incluído no 131º CP.
Concurso de normas:
Relação de especialidade relação de sobreposição. Há aqui uma relação
de especialidade porque ao punirmos por C, também estamos a punir por A.
Porque a norma geral está contida na especial. EXEMPLO: artigo 131º (geral)
artigo 132º (especial). EXEMPLO: no caso do artigo 132º alínea a) CP
estávamos a punir pelo 131º (homicídio) e ainda punir pelo 132º por ser o pai.
Ou seja, estávamos a punir duplamente quando o artigo 132º já inclui o 131º
com o acréscimo. Neste caso, em face da relação de especialidade o 131º
“cai”, porque a norma especial derroga a geral.Geralmente ao nível do
concurso de normas, de uma forma ou de outra, um dos critérios é ir buscar a
norma que prevê a pena mais grave. Isto porque, a norma mais grave engloba
mais coisaa. Seja nas relações de subsidiariedade, seja nas de consumação,
mas não nas de especialidade. Isto porque, nestas aplicamos sempre a norma
especial que, por vezes, contém uma pena menos grave que a norma geral
EXEMPLO: art 131º e 133º aplica-se sempre a norma especial, nas relações
de especialidade. Numa relação de especialidade confrontámos as normas,
verificamos se uma é inteiramente consumida pela outra e se lhe acrescentava
alguma coisa. Se sim, estamos no âmbito de uma relação de especialidade e
aplicamos a norma especial. Se a norma não estiver contida inteiramente então
não há relação de especialidade.
Relação de subsidiariedade  neste caso, há uma relação de interceção.
Duas normas que tem uma parte não comum à outra, mas ambas tem uma
parte comum às duas normas. Se a parcela que podemos punir, cabe na parte
de A e de B, então significa que está preenchida a norma A e a norma B. E se
podemos em concurso efetivo então estamos a punir duas vezes pelo mesmo
comportamento. O problema coloca-se quando o facto se situa na zona de
interseção. E se se enquadra nessa zona, significa que o resto facto dá por
preenchidas duas normas e neste caso há concurso de normas, logo não
podemos punir, cumulativamente, pelas 2 normas.
Ao nível da subsidiariedade temos: Lei primária, estabelece a pena mais grave;
Lei subsidiária, estabelece a pena menos grave
Neste caso, a lei primária derroga a lei subsidiária. O problema é identificar a
relação de subsidiariedade. Temos de ver qual a norma que tem a pena mais
grave e é essa que aplicamos. Existem dois tipos de subsidiariedade: Explicita
(ou expressa) –prevista na EXEMPLO: 375º/379º/150º nº2/ 292º CP), o próprio
legislador diz que o agente é punido com esta pena, se pena mais grave lhe
não couber. Implícita – não está prevista na lei. É preciso usar raciocínios,
interpretar judicialmente. EXEMPLO: A mata um lince ibérico propriedade de B
A preenche a norma do artigo 212º na parte do critério de dano, mata uma
coisa que é propriedade alheia, mas ao mesmo tempo preenche o art 272º por
destruir exemplares protegidos. Neste caso, o mesmo comportamento surge no
espaço comum, logo há relação de subsidiariedade, no caso, implícita porque o
legislador não se refere a ela expressamente. Outro caso é a relação de
subsidiariamente entre as ofensas corporais graves do artigo 144º/1 CP e a
mutilação genital feminina, artigo 144º-A.
A mutilação genital feminina pode revestir, segundo a OMS, quatro
modalidade. Durante muito tempo discutiu-se a relação destes artigos porque
parecia que a mutilação genital feminina já se encontrava no artigo 144º CP.
Mas afinal, o que faz o artigo 144º-A? No fundo, o que temos neste artigo, é
uma ofensa à integridade física grave que tem de ser praticada por uma certa e
determinada forma, que é a mutilação genital feminina. Todas as formas ditas
pela OMS levam, necessariamente ou eventualmente a problemas de
procriação, mas essencialmente a problemas de função sexual. Temos aqui
uma relação de especialidade porque todo o art 144º pelo menos nesta alínea
está np 144º-A. E o 144º-A acrescenta alguma coisa, que é o modus faciendi,
ou seja, no caso do 144º-A prejudica-se a função de procriação e de fruição
sexual da mulher através da própria mutilação. A questão é que a mutilação
genital feminina existe (e é isso que faz com que estejamos a colocar ao nível
da subsidiariedade), EXEMPLO, ao nível da excisão ela persiste e é punível
mesmo que em concreto não se verifique as situações da alínea a) do 144º CP.
Portanto, isso permite que possa haver uma relação de subsidiariedade entre a
mutilação genital feminina e as ofensas graves. Por outras palavras, há
ofensas à integridade física grave que não só a mutilação genital feminina.
Pode haver mutilação genital feminina não acompanhadas de ofensa à
integridade física grave e aí estamos fora do concurso se subsidiariedade. Se
houver mutilação genital feminina, através de várias modalidades previstas no
144º-A acompanhadas da privação da fruição sexual, de causar doença
particular, afetar capacidade de procriação então estamos no domínio da
subsidiariedade e aí aplicamos aquela que prevê a pena mais grave. No caso
aplicamos a mutilação genital feminina por ser a que reforça o ilícito que está
em causa. Por ser a mesma pena levanta críticas quanto à autonomização da
mutilação genital feminina. EXEMPLO: 375º “…se a pena mais grave lhe não
couber por força de outra disposição legal”  subsidiariedade
explicita/expressa
Artigo 292º CP “…se pena mais grave..”, mas se o condutou atropelar uma
pessoa e a matar, ainda que negligentemente passamos para o 137º CP .
significa que ele não pode ser punido cumulativamente porque a ação de matar
é ele estar bêbado. Passando a ser punido pela pena mais grave artigo 137º
CP.
Relação de consunção  A relação que existe entre estas normas é de mera
justaposição. As normas estão lado a lado, uma em relação à outra sem se
sobreporem. No máximo dos máximos podem chegar à mera tangência, pode
se tocar apenas, mas nunca levar à sobreposição, isto porque se tivermos na
sobreposição parcial estamos na subsidiariedade e se tivermos uma
sobreposição total estamos na especialidade. Estas são situações em que
nenhum A é B e nenhum B é A, o comportamento ou cai na norma A ou na
norma B. A mesma ação pode ser um fim em si mesmo ou pode ser apenas
um meio para atingir um outro fim EXEMPLO: ofensa à integridade física 
dou um soco em alguém. O soco que dei pode ser um fim em si mesmo, mas
aquele soco pode ser o primeiro de vários socos que acabarão quando a
pessoa estiver morta; EXEMPLO: A dá uma facada no B, essa agressão pode
ser um fim em si mesmo porque A resolveu vingar se de B, ou então aquela
facada é um ato instrumental, um meio para provocar a morte. Importa desde
logo saber o que o agente pretende com aquela ação, por isso é que há
determinadas situações em que é apenas uma forma, um meio e outras em
que é um fim em si mesmo. Se A é um fim em si mesmo, o problema fica
resolvido. O problema é se A é um meio para atingir B e se A é um meio
absoluto/necessário, indispensável e incontrolável para atingir B, então o
legislador quando manda punir A, manda punir o resultado de A e o percurso
ou a forma pela qual chegámos a B. Significa isto que neste caso quando o
legislador determina a punição de A está a punir o resultado na medida em que
foi instrumental para chegar ao B é o exemplo das ofensas à integridade física.
Quando o legislador pune o homicídio (matar outra pessoa), está a punir se a
morte de uma pessoa mas não só, porque se a pessoa morre com os
relâmpagos ou tremor de terra ninguém é punido, quando se pune o homicídio
de uma pessoa, portanto, quando punimos o homicídio punimos a ação de
matar (ação que levou à morte), mais o resultado morte. Nestas situações,
apesar de haver uma justaposição entre as normas, a verdade é que a norma
B está a integrar em si a norma A, na medida em que era instrumental,
portanto, a punibilidade de B corresponde em si à punibilidade de A. Temos
assim, a relação entre as normas instrumento (aquelas que ele se serve para
conseguir obter o resultado previsto na norma jurídica) as normas fim (aquelas
que tende a conduta do agente). Nas relações de consunção devemos punir
sempre pela norma que prevê a pena mais grave. Geralmente a norma que
prevê a pena mais grave é a norma fim porque a norma fim contém em si a
norma instrumento mais alguma coisa. Mas nem sempre é assim pois existem
casos em que a norma instrumento prevê uma pena mais grave do que aquela
que existe na norma fim. EXEMPLO: Burla e falsificação de documentos  A
falsifica documentos para através dos documentos falsos obter um benefício
que ele sabe que não tem direito, a norma fim é a burla, a norma instrumento é
a falsificação. Neste caso, a pena de falsificação é mais grave do que a burla,
como a regra é a que prevê a pena mais grave que se aplica, então se a pena
mais grave estiver na norma fim falamos de consumação pura; se a pena mais
grave estiver na norma instrumento é a norma instrumento que se aplica e
estamos perante uma consunção impura.
Conclusão Num momento em que aparecer várias normas a concurso (2 ou
mais normas) temos de combinar as normas e passá-las pelo curso das
relações que vimos (subsidiariedade, especialidade, consunção). Norma A e
norma B
o Existe entre elas uma relação de ESPECIALIDADE?
 Se sim, problema resolvido. Aplicamos a especial.
o Se não, vamos ver se existe de SUBSIDIARIEDADE?
 Se sim, aplicamos a norma que prevê a pena mais grave.
o Se não, vamos ver se existe de CONSUNÇÃO?
 Se uma é instrumento de outra. Se sim, vamos ver a que
prevê a pena mais grave. De for a norma fim, estamos
perante uma consunção pura; se for a norma instrumental,
estamos perante uma consunção impura.
Se chegarmos à conclusão de que também não há uma relação de consunção
então estamos perante um concurso de crimes (e não de normas), sendo o
agente punido cumulativamente por ambas as normas. Aqui não estamos a
violar o “ne bis in idem”.
Concurso de crimes  Os concursos de crimes acontecem quando,
esgotadas as possibilidades do concurso de normas, continuamos com mais do
que uma norma. Assim, há várias normas a concorrer para a resolução do
caso, todas elas são necessárias para a sua correta configuração jurídica e,
portanto, todas elas se aplicam. Há um verdadeiro concurso de crimes.
Determinação da pena  temos de ver qual a pena abstratamente aplicável
para o crime. Depois temos de determinar 71º 72º vão determinar
circunstancias que deponham contra o favor do agente. Ao fixar a pena, o
Tribunal tem de pensar na questão da culpa do agente (grau de censura de
conduta e de reprovação social) e das exigências de prevenção (prevenção
especial e prevenção geral positivas). No final o agente sera punido por uma
única pena 77º. Se for apenas um crime está resolvido. Se for vários crimes é
pelo somatório das penas individuais (cumulo material). Quando este somatório
ultrapasse os 25 anos (cumulo jurídico) o juiz “conta” pelo limite dos 25 anos.
Em seguida, obtida a pena, o tribunal vai pegar e ter atenção à ressocialização
e à culpa.
Pressupostos da teoria da infração penal: 1º ação  O direito penal é o dos
comportamentos humanos, e, como tal, a acção é o primeiro pressuposto da
responsabilidade criminal, e exige um comportamento humano e voluntário. No
direito civil, a vontade de acção significa a vontade de executar determinado
comportamento, e é em si absolutamente neutra. Contrariamente, a vontade de
declaração pressupõe que, além de ter a vontade de acção, tenha a
consciência e a vontade e de estar a emitir uma determinada declaração
negocial (246º CC). Na coacção física, nem sequer há vontade de acção. Na
falta de consciência da declaração, há vontade de acção, mas não há vontade
de declaração. Fala-se ainda da vontade funcional, que é a vontade, através de
uma acção e uma declaração, de querer produzir determinados efeitos jurídicos
(ex. negócios simulados). Por sua vez, quando se fala em acção no direito
penal, o que se está a exigir e que o comportamento em causa seja
acompanhado dessa vontade de praticar determinado comportamento, sem
considerar a vontade de acção, de declaração, nem funcional. Assim, a acção
relevante para o direito penal tem de ser uma acção acompanhada de vontade
de acção; ou seja, apenas revelam para o direito penal os comportamentos
voluntários (dominados ou domináveis pela vontade) – actio libera in causa
(acções livres na causa). Estas acções são aqueles comportamentos que não
domináveis no momento em que aconteceram, contudo, o agente é
responsável de culposamente se ter colocado na incapacidade de os dominar
(ex. um agulheiro da estação de comboio que adormece e provoca um acidente
por não ter realizado a sua função não é responsável pelo que aconteceu
naquele momento, mas é responsabilizado pelo facto de ter havido um
momento em que ele pode decidir se se deixava adormecer ou não). Apenas o
Homem é susceptível de vontade ou falta dela, não podendo falar da vontade
dos animais no sentido jurídico, uma vez que o direito é única e exclusivamente
para as pessoas já que estas são as únicas que têm personalidade jurídica.
Desta forma as exigências das acções penalmente relevantes são:- ser uma
acção humana;- ser uma acção voluntária (dominado ou dominável pela
vontade). Entram no conceito de não acção do direito penal tudo aquilo que
não forem comportamentos humanos e voluntários (dominado ou dominável).
Nestes casos, as acções não serão penalmente relevantes. Factos não
humanos: actos de animais ou efeito das forças na natureza (ex. rajada de
vento forte empurra alguém contra um objecto, assim danificando-o; aquaplano
que causa um acidente de um automóvel que está em perfeitas condições de
condução e respeita código da estrada, …);Factos não voluntários: Vis
absoluta (coação absoluta), coacção física, força irresistível, actos reflexos ou
actos em curto circuito (estímulos que, por um instinto de sobrevivência, fazem
reagir de forma automática). Esta acção pode ser um comportamento por
acção ou um comportamento por omissão. No direito penal punem-se as
acções e as omissões (486º CC). No caso das omissões, podemos ser
responsabilizados por ter deixado morrer alguém, quando podíamos ter evitado
essa morte. Todos estamos proibidos de matar, e se o fizermos, somos
responsabilizados criminalmente; mas quanto à obrigação de não deixar
morrer, só alguns estão obrigados a que isso não aconteça (10º). - Numa praia,
uma criança que se encontra a afogar-se, as únicas pessoas que têm dever
jurídico que pessoalmente os obrigue a evitar que a criança morra são o
nadador-salvador ou os pais (ou aqueles a quem os pais tenham transmitido
essa obrigação - pais do amigo, babysitter, professor, …). As restantes
pessoas que estão a assistir na praia podem eventualmente ser acusados por
omissão de auxílio (200º), mas não o serão pelo crime de homicídio.Em suma,
no direito penal a acção é decomponível em acção e omissão, no entanto os
termos da responsabilidade penal são diversos consoante estamos perante
uma acção ou um a omissão. Em relação ainda às omissões, no direito penal
analisa-se ainda o exaurimento do tipo ou a consumação do crime, onde a
questão se relaciona em saber quando é que o crime por omissão se encontra
consumado. Assim, temos as:Omissões puras ou próprias: quando o agente
é punido pela omissão de um comportamento, independentemente das
consequências que daí advenham (200º). Aqui está em questão o facto de
alguém poder prestar auxílio a outrem numa situação de calamidade, acidente,
… e não o fazer. Existe um dever geral de auxílio (e não o dever que
pessoalmente obriga aquela pessoa ao auxílio, como nas omissões impuras).
Ex. um médico que tem o vizinho que lhe bate à porta e pede socorrer a sua
esposa, mas o médico pede para esperar. Quando finalmente chega para
prestar auxílio, a doente já está no hospital a ser socorrida. Este médico terá de
ser responsabilizado, mesmo que a vizinha saia incólume desta situação ou
morra (284º). Omissões impuras ou impróprias: a consumação do crime
exige que daquela omissão advenha um determinado resultado (10º/2). Se
nestes casos o resultado não acontecer, podemos estar perante uma tentativa.
Tipicidade  Este requisito existe para verificar se, perante a
responsabilidade criminal, aquela acção humana e voluntária que foi
individualizada ao nível do conceito da acção seja uma das que estão
declaradas numa norma penal – princípio da legalidade penal e princípio da
precedência da lei (nullum crimen sine lege, nullum poena sine lege, 29º CRP e
1º CP). Ou seja, há uma demonstração de que um comportamento individual e
concreto que foi individualizado ao nível da acção está previsto numa norma
penal geral e abstracta, havendo, assim, a garantia do funcionamento do
princípio da legalidade penal. A tipicidade divide-se entre a tipicidade objectiva
e a tipicidade subjectiva, conforme definido pela teoria dos finalistas. Isto
significa que a descrição geral e abstracta do hipotético comportamento social
é uma descrição feita objectivamente e subjectivamente. Assim, para que a
tipicidade se verifique, a acção humana e voluntária terá de ser
simultaneamente objectiva e subjectivamente típica. Quando se fala em tipo,
refere-sce ao tipo de crime, que se distingue em três configurações: Tipo em
sentido amplo: quando é uma acção típica, lícita, culposa e punível; ou seja,
corresponde ao comportamento punível. Uma acção só é típica quando esse
comportamento for punível. Tipo em sentido intermédio: a conduta do agente
é típica quando for uma acção típica, lícita e culposa; ou seja, é típica por lei e
declarada punível por lei, mas que pode em concreto não ser punível porque,
por exemplo, prescreveu a responsabilidade criminal. Tipo em sentido
restrito: corresponde ao conceito da acção típica ou da mera correspondência
entre o comportamento individual e concreto do agente e do comportamento
geral e abstracto da norma. Por defeito, quando se fala no conceito de tipo,
fala-se do conceito de tipo em sentido restrito.
Tipicidade objetiva  Na tipicidade objectiva encontramos a descrição
objectiva da conduta do agente, desconsiderando a sua motivação, vontade,
capacidade ou reconhecimento de representação, … atendendo apenas àquilo
que o agente fez e as consequências do seu comportamento.
Classificação dicotómica dos tipos quanto aos seus elementos
constitutivos  1ª Quanto à qualidade do agente: Nesta matéria, os crimes
podem ser comuns e específicos; os específicos podem ainda ser específicos
próprios ou específicos impróprios. Este critério tem em atenção aqueles que
podem cometer aquele crime. Ex: comparar o 200º com o 284º. Em ambos os
casos alguém está a não auxiliar outra pessoa que se encontra numa situação
de perigo; a diferença é que no 200º essa pessoa é qualquer pessoa, é um
“quem”, no 284º esse alguém é o médico. Significa que existem crimes que
podem ser praticados por qualquer pessoa e crimes que só podem ser
praticados por pessoas dotadas de determinadas ou investidas em
determinadas funções; Ex: 372º, 373º só podem ser cometidos por aqueles que
tem a qualidade de funcionário (386º quem é o funcionário); 370º o advogado
ou o solicitador.
2ª Relação entre a conduta e o evento (resultado): Importa aqui distinguir duas
categorias de crimes, os crimes de resultado e os crimes de mera atividade. Os
crimes de mera atividade ou crimes formais são aqueles que para estarem
consumados basta que o agente pratique uma ação, independentemente dos
resultados que daí advenham; os crimes de resultado são aqueles que só
estão consumados quando o agente praticar uma determinada ação e dessa
determinada ação advier como sua consequência um determinado resultado.
Atenção, os crimes só estão consumados quando dessa ação advier um
determinado resultado e não que o agente só é punido quando dessa ação
advier um resultado. Isso é diferente, no caso do homicídio, o crime de
homicídio só está consumado quando a vítima morrer, mas o autor pode ser
punido mesmo que a vítima não morra a título de tentativa. Não é isso que está
aqui em discussão e sim consumação. Quando é que se dá a consumação e o
que é necessário para a consumação? Ou seja, a consumação basta-se pela
prática de uma ação ou a consumação exige que dessa ação advenha um
determinado resultado, uma determinada consequência ou um determinado
evento? Esta distinção é importante, desde logo, porque os crimes de resultado
são os únicos que admitem a punibilidade da tentativa; uma outra
consequência é que apenas os crimes de resultado, para efeitos do artigo 10º
admitem a equiparação das omissões às ações. Significa que quando o crime é
um crime de mera atividade ou exista a prática daquela ação e o agente é
punido, ou, se não existe, por aquele crime não é punido. Quando o crime
exige um certo resultado é punida não apenas a ação que produz o resultado
como a omissão da ação que se tivesse sido praticada impediria o resultado de
acontecer.
3º Estrutura do comportamento (ação típica): Aqui temos crimes por ação e
crimes por omissão. Já os debatemos quando estudamos o conceito de ação.
Em alguns casos o legislador pune a ação quando impõe que não façamos e
há casos em que pune a omissão quando impõe que façamos. Se o legislador
está a punir o facere é porque nos impunha um non facere. Se o crime é um
crime por omissão significa que o legislador está a punir um non facere e se ele
pune o non facere significa que nos impunha uma obrigação de facere. Ex:
131º ele pune a ação de matar porque impunha que não matássemos.
4º Grau de lesão do bem jurídico: Crimes de dano e crimes de perigo. Está em
causa saber se a estrutura típica e o comportamento típico exigem que o bem
jurídico seja danificado ou destruído (dano) ou se se basta pela mera
colocação em perigo (perigo) desse mesmo bem jurídico. Não confundir este
critério com o 2º, não tem a ver. Podemos ter crimes de mera atividade que são
crimes de dano e podemos ter crimes de resultado que são crimes de perigo.
Há crimes que só estão consumados ou cuja conduta típica exige uma efetiva
destruição do próprio bem jurídico – Ex: crime de homicídio; há outros crimes
cujos comportamentos não implicam um dano, mas em que o legislador se
basta porque esses bens jurídicos sejam constituídos numa situação de perigo
– Ex: 138º Exposição ou abandono (2 crimes diferentes, crime de exposição ou
crime de abandono). Enquanto que o crime de homicídio para estar consumado
exige a verificação do dano morte, no artigo 138º para estar consumado basta-
se que alguém coloque outra pessoa, expondo-a ou abandonando-a a uma
situação de perigo mesmo que ela venha a ser resgatada e nada lhe venha a
acontecer. Ex: 291º Basta a produção de um perigo, não exige que se atropele
alguém. Exige que a condução seja perigosa e esse perigo tem de acontecer.
É um crime de perigo e de resultado.
5º Modo de formação: Temos os crimes de forma livre e os crimes de forma
vinculada. Os crimes de forma livre são aqueles que a ação típica pode ser
qualquer uma desde que consiga produzir o resultado. Ex: homicídio. Para que
seja punido pelo homicídio tem de matar de uma forma capaz de provocar a
morte (esfaqueamento, tiro, afogamento, asfixia, etc.). Os crimes de forma
vinculada são aqueles em que os crimes só são punidos se praticados de
determinada forma. 6º Modo da perfeição: Temos os crimes consumados e os
crimes tentados. Os crimes consumados são aqueles em que a previsão típica
se preenche na sua totalidade. Os crimes tentados são aqueles em que a ação
típica é praticada, mas ela por causa independente da nossa vontade não
produz o resultado e ficamos pela tentativa. 7º Momento da consumação:
Crimes instantâneos, crimes duradouros e crimes continuados. Os crimes
instantâneos são aqueles que se consumam num determinado lapso de tempo.
Ex. homicídio. Quando é que se consuma o homicídio? No momento da morte.
Os crimes duradouros são aqueles em que a ação de consumação é suscetível
de se protelar no tempo. Ex. Sequestro. Este crime começa com o início da
privação da liberdade e termina quando a vítima é devolvida à liberdade.
Significa que no crime de sequestro o momento da consumação pode ser 1, 2,
20 anos. É o tempo que durar a privação da liberdade. O crime continuado está
previsto no artigo 30º e como já vimos é uma ficção jurídica porque se traduz
na combinação de várias parcelas individuais que o legislador tratará como um
só crime.
Dano vs resultado  Tendencialmente (mas não necessariamente assim) os
crimes de resultado são crimes de dano e os crimes de perigo são crimes de
mera atividade. Por exemplo, crimes de dano que são, simultaneamente,
crimes de resultado, como o homicídio. Este é de resultado porque além da
ação praticada pelo agente, que é típica, exige-se que dessa ação advenha um
resultado típico que é a morte. É necessário que além da ação de matar haja a
produção do resultado que é a morte. Por sua vez, esse resultado exigido pelo
tipo é um dano e não apenas um perigo. É um dano do bem jurídico vida e não
apenas uma colocação em perigo do próprio bem jurídico.
Dano vs mera atividade  Há situações em que determinados crimes podem
ser crimes de dano e apenas crimes de mera atividade. Ex: 190º violação de
domicílio – é de mera atividade porque está consumado com a simples entrada
no domicílio; e de dano porque se o bem jurídico é a privacidade do nosso
domicílio a entrada nela sem consentimento implica uma lesão desse mesmo
bem jurídico.
Perigo vs resultado  Situações em que o crime pode ser de resultado e
apenas de perigo, Ex: 289º Condução perigosa, o crime só está consumado
quando à ação típica do agente se seguir a produção do resultado que é o
efetivo perigo. Também no 291º. Os crimes de perigo concreto são, por
natureza, crimes de perigo e crimes de resultado
Perigo vs mera atividade  Casos em que o legislador pune a possibilidade
de perigo, não sendo exigido que aquele perigo produza um resultado. Ex: 292º
basta conduzir com 1.2 g/l. Um crime não poder ser ao mesmo tempo de dano
e perigo nem de mera atividade e resultado.
A resolve assaltar a casa de B. Já no seu interior é surpreendido pelo
proprietário, que tenta detê-lo.
Para poder pôr-se em fuga, A agride B, com um ferro na cabeça.
B sobrevive depois de 3 meses de incapacidade para o trabalho (baixa
médica). A conseguiu furtar duas valiosas salvas de prata que
ulteriormente lhe foram apreendidas e devolvidas a B.
a) Quais as normas aplicáveis aos crimes praticados?
190º - Violação de domicílio ou perturbação da vida privada: 190º/1;190º/3;
203º + 22º - Tentativa de furto simples: 203º/2 – tentativa é punível, excepção
ao 23º/1;203º - Furto simples consumado; 204º + 22º - Tentativa de furto
qualificado: 204º/1, al. a) + 22º 204º/1, al. f) + 22º 204º – Furto qualificado
consumado: 204º/1, al. a); 204º/1, al. f); 210º/1 + 22º - Tentativa de roubo:
210º/1 – Roubo consumado: 210º/2, als. a) e b) + 22º - Tentativa de roubo
qualificado: 210º/2, als. a) e b) – Roubo qualificado consumado; 143º/1 Ofensa
à integridade física simples; Não há tentativa de ofensa à integridade física
simples porque o 143º não o prevê expressamente e também porque a pena é
até igual a três anos, inferior ao estabelecido no 23º. 144º, al. b) + 22º -
Tentativa de ofensa à integridade física grave; 144º, al. b) - Ofensa à
integridade física grave consumado; 131º + 22º - Tentativa de homicídio
simples;132º, al. g) + 22º - Tentativa de homicídio qualificado;
b) Resolva o concurso de normas.
Para resolver o concurso de normas, teremos de analisar as relações entre as
mesmas de forma a perceber quais as normas que deverão ser mantidas ou
descartadas. Desta forma, temos que: 190º/1 vs 190º/3: relação de
especialidade, onde 190º/1 é a norma geral e 190º/3 é a norma especial. Neste
tipo de relações, a pena a aplicar é sempre a da norma especial. 203º + 22º vs
203º: estamos perante uma relação de consunção, onde o crime consumado
do 203º (norma fim) consome o crime tentado do 203º + 22º (norma
instrumento). Portanto, há uma consunção pura onde a norma fim prevê uma
pena mais grave do que a norma instrumento. 204º/1, als. a) e f) + 22º vs
204º/1 als. a) e f): mais uma vez, estamos perante uma relação de consunção,
onde o crime consumado do 204º/1, als a) e f) (norma fim) consome o crime
tentado do 204º/1, als a) e f) + 22º (norma instrumento). Portanto, há uma
consunção pura onde a norma fim prevê uma pena mais grave do que a norma
instrumento. 203º vs 204º/1, als a) e f): há uma relação de especialidade, onde
o 204º/1, als a) a f) é a norma especial e o 203º a norma geral. Desta forma, a
norma especial derroga a norma geral – 204º/1, als a) e f). 204º/1, als a) e f) vs
190º/3: existe aqui uma relação de consunção, onde a violação de domicílio foi
instrumental para o furto que aconteceu, significando que o 204º/1, als. a) e f)
consome o 190º/3 numa consunção pura. 210º/1 + 22º vs 210º/1: estamos
perante uma relação de consunção, onde o crime consumado do 210º/1
(norma fim) consome o crime tentado do 210º/1 + 22º (norma instrumento).
Portanto, há uma consunção pura onde a norma fim prevê uma pena mais
grave do que a norma instrumento. 210º/2, als. a) e b) + 22º vs 210º/2, als. a) e
b): estamos perante uma relação de consunção, onde o crime consumado do
210º/2, als. a) e b) (norma fim) consome o crime tentado do 210º/2, als. a) e b)
+ 22º (norma instrumento). Portanto, há uma consunção pura onde a norma fim
prevê uma pena mais grave do que a norma instrumento. 210º/1 vs 210º/2, als.
a) e b): há uma relação de especialidade, onde o 210º/2, als. a) e b) é a norma
especial e o 210º/1 a norma geral. Desta forma, a norma especial derroga a
norma geral – 210º/2, als a) e b). 210º/2, als. a) e b) vs 204º/1, als. a) e f): no
204º/1, als. a) e f) estamos a punir uma subtração, o furto, o facto do furto ter
sido de valor elevado e o facto de esta Acão ter sido efetuada entrando
ilegitimamente na habitação de uma pessoa. Pelo 210º/2, al. b) considera-se
que todo o ilícito do furto está contido já no ilícito do roubo. Desta forma, pode
ser discutível estarmos perante uma relação de subsidiariedade e uma relação
de consunção. A ser uma relação de subsidiariedade, terá uma relação de
subsidiariedade implícita dado que o legislador não a refere expressamente.
Considera-se, de facto, haver uma relação de subsidiariedade implícita e não
uma de consunção, uma vez que, conforme analisado, existe uma clara
sobreposição entre o furto qualificado e o roubo qualificado, continuando a
haver situações de roubo que não são furto, nomeadamente as em que não há
subtracção, mas constrangimento à entrega. Da mesma forma que há
situações de furto que não são roubo (subtracção e recurso à violência). A
solução neste caso passa por aplicar a norma mais grave, que se
consubstancia no 210º/2, als a) e b). 144º, al. b) + 22º vs 144º, al. b): estamos
perante uma relação de consunção, onde o crime consumado do 144º, al. b)
(norma fim) consome o crime tentado do 144º, al. b) + 22º (norma instrumento).
Portanto, há uma consunção pura onde a norma fim prevê uma pena mais
grave do que a norma instrumento. 143º/1 vs 144º, al. b): há uma relação de
especialidade, onde o 144º, al. b) é a norma especial e o 143º/1 a norma geral.
Desta forma, a norma especial derroga a norma geral – 144º, al. b).
131º + 22º vs 132º, al. g) + 22º: havendo dolo eventual de homicídio, há uma
tentativa de homicídio simples (14º/3 e 131º + 22º). No entanto, como se
verídica uma relação de especialidade entre o 131º + 22º e o 132º, al. g) + 22º,
este prefere à norma geral do 131º + 22º. Sobram então três normas nesta
fase: - relativamente à violação da propriedade, um crime de roubo qualificado
consumado (210º/2, als. a) e b)), - um crime de ofensa à integridade física
grave consumado (144º, al. b)),- um crime de homicídio qualificado tentado
(132º, al. g) + 22º). Analisando estes três crimes, teremos de descartar o crime
do 144º, al. b), uma vez que este já está a ser punido no 210º/2 no que se
refere à violência do roubo, estando também a ser punido como ato de
execução na tentativa de homicídio (132º, al. g) + 22º). Portanto, seja de uma
forma ou de outra, o 144º, al. b) é consumido, verificando-se uma relação de
consunção pura. Quanto às normas remanescentes, na verdade verifica-se
uma sobreposição no que respeita à violência física. Ao verificar o que está a
ser punido no 210º/2, als. a) e b) e o que está a ser punido na tentativa do
132º, ainda existe uma zona de sobreposição que é o referente à parte das
ofensas à integridade física. No entanto, não é possível afastar nenhuma
destas normas sob pena de a decisão que viermos a aplicar não abranger todo
o ilícito praticado. Teremos de optar entre o punir cumulativamente pelas duas
normas e em abstrato punirmos duas vezes pela violência física, ou então punir
apenas por uma das normas e, nesse caso seria pelo 132, al. g) + 22º,
deixando de punir a ofensa à propriedade em que se traduziu em roubo.
Netses casos, vamos optar pela primeira solução, dado que, ao punir apenas
pelo 132º, al. g) + 22, a parte da violação da propriedade fica absolutamente
impune. Mas optando pela primeira opção, não temos de obrigatoriamente
punir duplamente as ofensas à integridade física, porque ao nível da
determinação da medida concreta da pena, o tribunal pode entrar em linha de
consideração com esse fator e, apesar de em abstrato punir pelos dois crimes,
resolver esse problema ao nível da determinação da medida concreta da pena.
Em conclusão, neste caso considera-se que, acabado o concurso de normas,
as duas normas finais não se encontram entre si em nenhuma das relações em
concurso, resultando num concurso de crimes.
c) Resolva o concurso de crimes.
Para resolver o concurso de crimes, deve-se calcular a pena para as normas
resultantes do concurso de normas, sendo: Crime de roubo qualificado
consumado (210º/2, als. a) e b): A pena abstratamente aplicável a este crime é
de prisão de três a quinze anos. Para tal, teremos de recorrer ao 71º, de forma
a utilizar os critérios aí definidos pelo legislador. Existe, neste caso, uma falta
de matéria, desconhecendo-se, por exemplo os antecedentes criminais, sua
personalidade, seu carácter, … (124º/1 e 128º/2 CPP). Ou seja, num processo
penal, a prova não abrange apenas os factos constitutivos do crime, como
também abrange as condições de punibilidade ou de não punibilidade (124º/1,
2.ª parte CPP), as circunstância relevantes para a determinação da pena
(124º/1, 3.ª parte CPP), as circunstâncias relativas à personalidade do agente e
ao seu carácter (28º/2, parte intermédia e parte final CPP) e as condições
pessoais do agente e a sua condição económica (71º/2, al. d) CP). O caso
prático penas refere que as salvas de prata foram devolvidas a B após a sua
apreensão, o que indicia que não foi por vontade própria que foram devolvidas.
Se o tivesse sido, seria tido em conta favoravelmente ao arguido como forma
de lhe atenuar a pena concretamente aplicável, o que significa que, ao devolver
voluntariamente, já se teria iniciado o processo de ressocialização. Também se
terá de ter em consideração o 72º, que confere uma atenuação especial (ou até
um possível agravamento) da pena face às circunstâncias enunciadas nas
alíneas do /2. Percebe-se, assim, que o momento da sentença é muito mais do
que a mera subsunção dos factos à norma, havendo muitos elementos a
considerar de forma a adequar a pena ao arguido. De qualquer forma, e face à
informação de que se dispõe, considera-se que seria adequada uma sentença
de sete anos e meio de prisão para este agente, considerando que preencheu
as duas alíneas do 210º/2. Crime de homicídio qualificado tentado (132º, al. g)
+ 22º): A pena abstractamente aplicável a este crime é de prisão de doze a
vinte e cinco anos. É, contudo, necessário aplicar-lhe o 23º/2 e 73º/1, als. a) e
b), passando, assim a uma pena de prisão de dois anos e cinco meses e
dezasseis anos e sete meses (aproximadamente).Repetem-se aqui os
problemas decorrentes da falta de matéria de facto analisadas supra. Contudo,
e com a informação que temos, há uma circunstância que funciona a favor do
agente que é o dolo eventual de homicídio, é verdade que a ofensa foi uma
ofensa significativa (pancada na cabeça com um ferro que levou B a uma baixa
médica durante três meses), não utilizou uma arma de fogo nem um método
especialmente perigoso (arma branca e afins), o golpe foi na cabeça e poderia
eventualmente ter sido noutra parte do corpo, … Considerando estes
elementos a favor e contra, estimar-se-ia uma pena de prisão de
aproximadamente 10 anos. Desta forma, o agente ficaria com uma pena de 17
anos e meio de prisão (cúmulo material). No que se refere ao cúmulo jurídico, a
partir daqui o tribunal vai voltar a analisar esta pena, verificando de situações
sobrepostas, uma vez que as necessidades de penas para efeitos de
ressocialização exigidas não se somam no tempo; ou seja, se o agente estiver
ressocializado para o primeiro crime, também o estará (pelo menos
parcialmente) para o segundo, não variando na razão direta do número de
crimes praticados. Naturalmente, o juiz depois de ter considerado os 7,5 anos
para o primeiro crime e 10 anos para o segundo crime, irá transformar essa
pena em cerca de 12 anos de prisão efectiva (esta pena não admite nenhuma
pena substitutiva).

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