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Comercial

1º teste:
Atos do comercio e especificidade da disciplina comercial:
• Divida dos cônjuges e solidariedade passiva.

Especificidades da fiança mercantil:


• O estabelecimento comercial/empresa, isto é, no âmbito da entrega, trespasse, locação;
Na entrega, trespasse e locação ter em consideração o problema da autorização e da comunicação, nos
casos em que o estabelecimento está situado em prédio arrendado e também o problema da obrigação
da não concorrência.

O Direito Comercial é o sistema jurídico - normativo que disciplina de modo especial os atos de comercio e os
comerciantes. Abrange a atividade mercantil e em particular o comercio (atividade de intermediação de trocas).
É considerado um ramo do direito privado, regulando este a organização dos sujeitos (singulares e coletivos)
privados e as relações estabelecidas entres eles e entidades publicas aquando como particulares, é
inquestionável que o direito mercantil é fundamentalmente direito privado.

Qualificação de uma matéria como mercantil

Consiste em saber em que casos é que se aplica o direito comercial, isto é, perante que situações em concreto
que o regime se há-de aplicar (o do direito civil ou direito comercial), sendo assim necessário encontrar critérios
Exemplos de casos práticos:
• A adquire um imóvel para arrendar (1) em janeiro de 2018. Observadas as finalidades legais, arrendou ao
B (2) por 5 anos para que instala-se a ourivesaria. B adquiriu vários relógios para revenda (3) e contraiu
empréstimo (4) junto de um banco no valor de 30 mil euros e deu como garantia o estabelecimento (5).
➥ A questão que se coloca é saber se todos os atos são comerciais: todos os sublinhados são atos de
comercio.

• F, comerciante de tecidos, comprou fatos de carnaval para alugar.


Realizou uma doação de 1.000€, com fins publicitários, comprou uma máquina de lavar a roupa.
Emprestou a B para comprar ações numa sociedade anónima desportiva.
➥ Serão todos os atos comerciais? Existe um regime especial dos atos comerciais e existe atos de comercio
especiais que tem um regime próprio (compra e venda, depósitos, transporte - diferente do direito civil).
Assim, existe um regime especial cimun aos atos de comercio geral, além dos atos comerciais:
1. Regime das obrigações comerciais quando temos uma pluralidade de sujeitos passivos, mas é
necessário primeiro saber se se trata ou não de um ato mercantil;
2. Regime de dividas de comerciantes casados;
3. Regime de juros (mora);
4. Para qualificar alguns sujeitos como comerciantes é necessário verificar se praticam atos de comercio;
5. Alguns atos só são comerciais (acessórios), se tiverem atos comerciais principais.

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O código de DC apresenta dois artigos relevantes para qualificar um matéria como comercial e determinam
o âmbito de aplicação do direito comercial: art.2º e art.230º.

Vejamos o art.2º quando este prevê “acharem especialmente regulados neste Código”
(1º requisito), não ficamos por aqui, temos que estar receptivos que há outras leis comerciais, como as
sociedades comerciais, registo comercial, etc.
Assim aplica-se o direito comercial, quando forem preenchidos os pressupostos do direito comercial, por
exemplo:
1. na compra e venda só é aplicada as disposições do código comercial quando esta é realizada por
revenda;

2. ou o penhor só será mercantil se a divida que esta garantir provir de um ato de natureza mercantil.

O art.2º refere o facto de os atos comerciais não poderem ser “de natureza exclusivamente civil” (2º
requisito). Importa referir que não importa se estamos em matéria civil ou não, isto é, pode estar regulada
no Código Civil, pois o que importa aqui é a natureza do ato e não onde está regulado.
Vejamos os exemplos:
1. Filipe, comerciante de tecidos, tem agora trabalhadores e concede-lhes uma gratificação. Esta
gratificação, tem natureza mercantil porque está conexado com a atividade mercantil, pois foi dada uma
gratificação devido ao sucesso da atividade mercantil.
2. Filipe, comerciante de tecidos, faz uma doação à Comissão de Festas e foi posto um cartaz com o seu
nome, significando que Filipe fez uma doação para fins publicitários. Assim concluímos que esta natureza
não é exclusivamente civil, tem natureza mercantil.

Num terceiro momento, temos o facto de um ato é subjectivamente comercial “se o contrário do próprio ato
não resultar” (3º requisito).
Tem que resultar uma ligação da conexão com o comercio: Filipe, comerciante, compra uma máquina de lavar
para uso próprio;
Assim sendo, se do próprio ato resultar uma ligação com o comercio, o ato é comercial: Filipe, comerciante,
compra uma máquina de lavar e diz ao vendedor que é para ser utilizada na sua empresa - aqui o ato é comercial,
porque há conexão com o comercio; mas se o Filipe nada disser quanto à finalidade da maquina de lavar,
quando nada resulta desse ato, o ato é igualmente comercial.
Tem que resultar do próprio ato um conexão com o comercio, caso contrário, o 3º requisto da 2ª parte do
art.2º do código comercial, não se encontra preenchido e, assim, não estamos perante um ato comercial.

TIPOS DE ATOS COMERCIAIS:

• Atos do comércio autónomos : são os qualificados de mercantis por si mesmo, independentemente da


ligação a outros atos de atividades comerciais. Ex: art.101º +231º+394º+397º+403º
• Atos de comercio acessório: estes devem a sua comercializado ao facto de se ligarem ou conexionarem a
atos mercantis.

• Atos formalmente comerciais: são esquemas negociais que, utilizáveis (por comerciantes ou não) quer
para a realização de operações mercantis, quer para a realização de operações económicas que não são
atos de comercio nem se inserem na atividade mercantil, estão contudo regulados na lei mercantil,
merecendo portanto a qualificação de atos comerciais. Ex: A, não comerciante, vende a B, não
comerciante, um automóvel destinado a uso próprio. O € não é logo pago e s parte convencionam uma
letra de câmbio, sacada por A e aceite por B - este negócio está previsto em lei mercantil, sendo assim atos
comerciais.
• Atos substancialmente comerciais: são aqueles que pela sua própria natureza são comerciais. Ex: fábrica
para venda de automóveis

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• Atos bilateralmente comerciais: são atos cuja comercialidade se verifica em relação a ambas as partes
(sujeitos). Ex: A, produtora de automóveis, vende, no quadro de um contrato de concessão comercial, x
automóveis ao seu concessionário B - a venda é um ato comercial e a compra é também um ato comercial
- art.463º,nº1.
• Atos unilateralmente comerciais: são atos cuja comercialidade se verifica em relação a uma das partes.
Ex: E, professor, compra a B um automóvel para seu uso e da sua família - a venda é objetivamente
comercial (art.463º,nº3) e a compra é civil (art.464º,nº1). estão, normalmente, sujeitos à disciplina
mercantil, tal como está previsto no art.99º. O Regime da Solidariedade só se verifica, por conseguinte,
relativamente àqueles “por cujo respeito o ato é mercantil”, ou seja, este regime não é extensivo aos não
comerciantes, quanto aos contratos que, em relação a estes, não constituem atos mercantis.
Ex: Dois comerciantes, num único contrato, compram 4 peças de artesanato a dois artesãos - o ato é
unilateralmente comercial, pois a compra é mercantil pelo art. 403º, nº1 e a compra é civil pelo art. 464º,
nº3. O art.100º é apenas aplicado àquele ou àqueles por cujo respeito, o ato é mercantil;
Agora imaginemos o facto de A e B venderem a C e D um automóvel para revenda, nestes casos já se
aplica o regime da solidariedade porque o ato é comercial em relação a C e D.

COMERCIANTES

Sabemos que os sujeitos dos atos comerciais e das relações jurídico-mercantis podem ser comerciantes ou não
comerciantes. O art.6º estabelece os sujeitos, singulares ou coletivos, com capacidade civil de exercício
possuem igualmente capacidade comercial de exercício, podem praticar atos de comercio.

• Pessoas singulares
Nos termos dos arts.13º e 7º. Para serem comerciais, as pessoas, tem que ter capacidade para praticar atos de
comercio, ou seja, capacidade de exercício. Por outro lado, o art.13º, há-de concordar com o art.7º, relativo à
capacidade de exercício.
Sendo assim, os incapazes não poderiam nunca ser comerciantes - porém, não é assim. O requisito previsto no
art.13º, tem que ser compreendido com algumas restrições, ou seja, os incapazes que exerçam o comercio
através de representantes legais devidamente autorizados pelo Ministério Público, devem ser considerados
comerciantes, têm estatuto de comerciante. Têm que fazer do comercio, profissão.

• Pessoas coletivas
O art.13º,nº2 prevê ainda a sociedades comerciais.
Além das sociedades comerciais, outras pessoas coletivas podem ser comerciantes, nomeadamente,
entidades publicas empresariais (EPE), dos agrupamentos complementares de empresas (ACE),
agrupamentos europeus de interesse económico (AEIE) e cooperativas - desde que tenham como objectivo a
prática de atividades comerciais ou outros atos comerciais.

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SENTIDO DA QUALIFICALÇÃO DE UM ATO COMO COMERCIAL

• Solidariedade passiva: No direito civil, estabelece-se no caso de pluralidade de devedores, como


princípio geral, a regra da conjunção, a contrario sensu, do art. 513º CC. Diversamente, no direito
comercial, o art. 100º C.Com. estipula como regra a solidariedade.
São dois os pressupostos para que se aplique a solidariedade:
- que a obrigação seja mercantil (aquela que deriva de um ato de comércio);
- que haja mais do que um devedor (pluralidade de devedores).
No tocante à natureza mercantil da obrigação, interessa-nos o conceito de ato de comércio emergente do
art. 2º C.Com., pois é por via deste que tal natureza é aferida. Qualquer um dos devedores encontra-se
vinculado à realização integral da prestação perante o credor (art. 512º, nº1, 1ª parte cc). Caso um dos
devedores realize a prestação na íntegra, a consequência é a da liberação de todos os devedores (art. 512º/
1, 1ªparte CC). Em razão da liberação dos outros condevedores provocada pelo cumprimento integral do
devedor, este adquire um direito de regresso sobre todos os outros. Em princípio vale a regra da
proporcionalidade. A regra da solidariedade nas obrigações comercias tem, todavia, natureza supletiva.
Do art. 100º C.Com., consagra um regime de exceção, que então, determinará a aplicação da disciplina da
conjunção. A norma consagra dois requisitos cumulativos para efeito da sua aplicabilidade:
- os devedores são sujeitos “não comerciantes” – o art. 13º C.Com., diz-nos quem são os comerciantes. A
contrario sensu retira-se que todos os outros sujeitos que não integram o leque normativo não têm essa
qualidade.
- os contratos que “não constituem atos comerciais” em relação aos não comerciantes – a norma reporta-se
aqui aos atos de comércio unilaterais, ou seja, aqueles que são mercantis apenas em relação a uma das
partes (art. 99º C.Com.).
Quando se trata de dois comerciantes que adquirem algo para uso próprio, não é um ato mercantil em
relação a eles e o importante é a natureza do ato, logo neste caso não se deve aplicar o art.100º - o regime
da solidariedade só se aplica ao lado passivo (devedor). Ex:
1. A (estudante) vende jóia a B + C que compram para uso próprio - neste caso, trata-se de um ato civil,
logo não se aplica o art.100º.
2. A (estudante) venda a jóia, para revenda, a B + C que compram para uso próprio - o ato é mercantil em
relação a A, é unilateralmente comercial. Nos termos do art.99º, sendo o ato unilateralmente comercial,
aplica-se o regime do art.100º. Porém, é necessário fazer uma interpretação corretiva do art.100º,
importando assim a qualidade do ato e não a qualidade do sujeito.

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• Dívidas do comerciante casado comunicáveis ao outro cônjuge: Aqui suscita-se a questão de saber em
que medida o cônjuge do comerciante pode vir a ser responsabilizado se o comerciante casado contrai
uma dívida sem a sua aquiescência. A temática é abordada no art. 1691º/1 d) CC. O regime previsto tem
como justificação primacial a proteção do comércio em geral, seja porque os credores que contratam com
os comerciantes ficam mais garantidos, seja porque se facilita aos comerciantes, desta forma, a obtenção
de crédito.
A comunicabilidade da dívida pressupõe quatro requisitos cumulativos:
1. que a dívida foi contraída pelo comerciante casado sem o consentimento do outro cônjuge: primeiro aspeto a
considerar é o do sujeito em causa ser comerciante (em nome individual) tendo nessa qualidade contraído
a divida);
O segundo aspeto, é o comerciante em causa ser casado ao tempo em constituiu a dívida. O que importar
é que a divida ocorra na pendência do casamento (art. 1690º,nº2 cc);
O terceiro aspecto relaciona-se com o facto de a divida ter sido contraída sem o consentimento, tácito ou
expresso, do outro cônjuge.

2. que a dívida foi contraída em proveito comum do casal: o proveito comum é de qualquer tipo (económico,
moral, intelectual,…). O objectivo do comerciante a contrair a dívida deve ter sido em beneficio do casal;
o critério de uma pessoa normal e razoável é que deve ser usado para aferir a ligação entre o ato
praticado e o fim existente. O credor do comerciante está especialmente tutelado à luz desta norma, já que
não há ónus de prova quanto ao proveito comum do casal para efeito de responsabilização do cônjuge do
comerciante.

3. que entre os cônjuges vigora um regime de comunhão: vigorando o regime de comunhão de bens, então a
divida é possível de ser comunicável, sendo necessário estar preenchidos todos os pressupostos aqui em
analise. A mera circunstancia de vigorar o regime de separação de bens (art. 1691º, nº1, al.d) CCom.),
significa que, a divida do comerciante casado não é, por esse facto, comunicável com outro cônjuge.

4. que a dívida foi contraída no exercício do seu comércio: as dividas comerciais são as emergentes de atos de
comercio, nos termos do art.2º CCom e, portanto, a norma pressupõe a prática de um ato de comercio. O
ato praticado pelo comerciante deve sê-lo no quadro da sua actividade mercantil, estando em conexão,
em ligação com a mesma.
Quando as dividas contraídas pelo cônjuge comerciante, quer as suas dividas, classificadas como
comerciais, podem não estar em ligação com o sei comercio. Dito isto, regulado no art.15º, que as dividas
comerciais do comerciante casado, do ponto de vista do seu credor, beneficiam da prescrição que forma
contraídas no seu quadro. Donde o credor apenas tem que alegar que a divida foi contraída no exercício
do seu comercio. Cabe, posteriormente, ao cônjuge do comerciante demonstrar que efetivamente a divida
não foi contraída em ligação com o comercio do seu cônjuge, que não derivou da sua atividade comercial.
Vejamos exemplos:
1. Comerciante casado (titular de um confeitaria) adquire a um particular um quadro para a sua casa - do
ponto de vista da qualificação do ato, sabemos que é um ato subjectivamente mercantil. Logo, ao credor
do comerciante basta fazer prova que o devedor é um comerciante casado e que a divida é mercantil para provar a
comunicabilidade da doida ao cônjuge.
2. Subscrição de uma letra ou livrança pelo comerciante casado, configura um ato objetivamente comercial,
pelo que a divida daí emergente será havida como mercantil, beneficiando, o credor cambiário, da
proteção emergente do art. 1691º, nº1, al.d) cc. + 15º CCom.

Consequências:
1. Em primeiro, atinge os bens comuns do casal;
2. Na falta deste, respondem solidariamente os bens próprios de qualquer dos cônjuges.

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CASOS PRÁTICOS

I.
A, proprietário do imóvel X, arrenda-o a B. B vai instalar um EC que se dedica à restauração. A exigiu um
fiador (garantia) que é C.
Entretanto, B vende a D o restaurante.
Quid iuris?
Trata-se de um ato comercial sujeito ao direito comercial, trata-se de um arrendamento mercantil.
Quanto ao fiador, trata-se de uma fiança mercantil, no sentido em que é classificada como um ato
mercantil por acessoriedade, pois trata-se de um arrendamento mercantil e a fiança é seu acessória, o que
faça com que tenha consequências da fiança civil.
Passado um tempo, B vende aquele restaurante a C, tratando-se de um trespasse, pois vende o
restaurante que funciona num imóvel arrendado. A questão que se coloca: pode B vender a D, sem autorização
do senhorio? D pode fazer o trespasse, porque é dado prevalência aos interesses mercantis. Assim, a fiança,
em regra, cai com o trespasse porque o C pode não conhecer D e a fiança tem caracter pessoal, assim perde-
se o fiador, o que é possível no direito comercial e no direito civil não.

a) D, por razões de doença, não consegue explorar o espaço e faz uma locação do estabelecimento
comercial a E por 5 anos, estando E a explorar pagando uma remuneração a D. O senhorio vive no
andar de cima e começa a ver E (locatário) a entrar e a sair, mas o arrendatário continua a ser D.
Há um direito de natureza obrigacional de E, de explorar o imóvel, mas aqui também não seria
necessário a autorização do senhorio, mas é necessário que sejam feitas comunicações e essas tem prazo.

b) No 3º ano, E decide abrir um restaurante próprio ali próximo e encontra-se a explorar 2 restaurantes ao
mesmo tempo e à medida que o contrato vai acabando, E vai ganhando a clientela e vai começar a investir
cada vez mais. O que pode D fazer?
Nos termos do contrato de locação, quando terminar a locação, E tem de entregar tudo o que
recebeu do proprietário, assim E está obrigado a devolver tudo, designadamente em temos da clientela e, no
caso de não conseguir, há uma infração do contrato de locação. D pode também pedir resolução do contrato,
indemnização ou mandar encerrar o estabelecimento.

c) Imagina agora o caso: D é o dono do estabelecimento comercial e tem dividas. Há um processo para fazer
e F nomeia a penhora do estabelecimento comercial.
Nestes casos, a penhora funciona diferente por se tratar de um estabelecimento comercial. Será que
a penhora que decorre durante o momento em que está em decurso a locação, afeta e se afeta, em quê? O
que pode E fazer que nada tem haver com as dividas? Pode recorrer ao embargo de terceiros.

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II.
Abel tinha adquirido um imóvel para arrendar. Em janeiro de 2009, proporcionou a B, pelo prazo de 5 anos,
o gozo do imóvel para instalar uma joalharia. Entretanto B adquiriu para vender uma grande quantia de
relógios. Para proceder à aquisição dos relógios, contraiu um empréstimo no valor de 30 mil euros, dando
como garantia o estabelecimento comercial. Mais tarde comprou uma carrinha luxuosa.
Quid iuris?

Tendo em conta o art.2º CCom, é necessário verificar se os atos são objetivamente mercantis ou
subjetivamente, sendo que são atos objetivamente mercantis quando o código os classifica como tais,
independentemente de ser ou não realizados por um comerciante.
Num primeiro momento, temos a compra e venda de um imóvel para arrendar. Trata-se de um ato
objectivamente comercial por analogia quer por referencia ao art. 463º,nº1 CCom., quer por referencia ao art.
481º CCom.
Em janeiro de 2009, A e B celebraram um contrato de arrendamento. Trata-se de um ato
objectivamente mercantil, pois B vai explorar uma atividade mercantil e, embora este regime apenas se
encontre consagrado no art.1108º CC, não lhe é retirada a natureza mercantil.
B adquire uma quantia de relógios para revenda, consagrada no art. 463º,nº1 CCom e como tal é um
ato objectivamente mercantil. Esta é uma das partes que diferencia a compra e venda civil da mercantil: a civil é para
uso proprio, a mercantil é para revenda.
Num quarto momento temo uma contração de um empréstimo bancário, ou seja, ato de comercio
por acessoriedade, pois o empréstimo é realizado para que o seu dinheiro se destine a um ato comercial que
é a compra e revenda de relógios. Assim, trata-se de um ato mercantil nos termos do art. 394º CCom.
Num momento posterior, estamos perante a figura jurídica da penhor, tal como estabelece o art.397º
CCom. Estamos perante um caso de dupla acessoriedade, porque o empréstimo é um ato mercantil de
acessoriedade pois o direito destina-se a um ato mercantil. O que o penhor tem de particular, é que incide
sobre um estabelecimento comercial, que através da conjunção dos arts. 204º e 205º CC, se trata de um bem
móvel. O penhor mercantil, por regra, não implica a entrega da coisa, ao contrario do penhor civil, que
implica. Neste caso em concreto, há um diploma de 1932 que estabelece expressamente que no penhor
mercantil não é necessário a entrega da coisa, porque o banco não tem interesse em gerir um centro
comercial.
Por fim, compra uma carrinha luxuosa, não estamos assim perante um ato objectivamente
mercantil, pois não está previsto em lado nenhum. Trata-se então de um ato subjetivamente comercial,
porque B é comercial e não é um ato de natureza exclusivamente civil (casamento sucessões), sendo que o
terceiro requisito também esta cumprido, ou seja, está definido a finalidade que é comercial.

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III.
Manuel, comerciante, adquiriu uma maquia de lavar e secar industrial que mandou instalar em sua casa
para utilização domestica.
Classifique a natureza do ato descrito.

(??? - art264º???). O principio da especialidade impõe que quando se trata de um ato comercial, se aplica o
regime do direito comercial. Assim, para saber se é ou não um ato comercial, é necessário verificar de acordo
com o art.2º CCom, que classifica os atos como objectivamente (1ªparte) e subjetivamente (2ªparte)
mercantis. Assim, aquela 1ª parte do art.2º CCom define que são atos objectivamente mercantis todos
aqueles que se encontrem consagrados naquele Código, logo teremos que verificar se tal ato se encontra
consagrado no Código. Porém o art. 264º CCom estabelece que se este ato não se trata de um ato comercial,
logo nem precisamos de verificar a 2ª parte do art.2º, porque o art.264º CCom é especial face ao art.2º .

Imaginemos que não existia este artigo, era necessário recorrer ao art.2º, 2ª parte que contem 3 requisitos:
• se o sujeito é comerciante - o que se verifica;
• O ato não ter natureza exclusivamente civil - em principio, só serão objeto do direito comercial os
contratos bilaterais - também se verifica;
• Se o contrario do próprio ato não resultar - ainda que este contrato não seja de natureza exclusivamente
civil, no caso concreto, Manuel quis com ele um efeito civil
Concluímos que não é um ato comercial porque apesar de se verificar os primeiros dois requisitos, o último
não se verifica e tem que estar verificados cumulativamente.

IV.
A, B e C, retalhistas do setor alimentar, compraram para revenda, a D uma grande quantidade de bacalhau
no valor de 15 mil euros.
O pagamento do preço realizar-se-ia três meses depois. Decorrido o período em questão e não e não tendo
sido paga a quantia em causa, D, intenta uma ação contra o A, pedindo a condenação deste no pagamento
do montante em causa.
a) A sua pretensão terá êxito?
Trata-se de um ato objetivamente comercial, pela 1ª parte do art.2º CCom, uma vez que se trata de
um contrato que está previsto na lei, ou seja, compra e venda para revenda, prevista no art.463º, nº1. Trata-se
ainda de um ato bilateralmente comercial, porque é um ato comercial face ao lado ativo e lado passivo.
Como estamos perante uma pluralidade passiva, é necessário verificar se o art.100º CCom se aplica,
ou seja, se o D terá que demandar A,B e C. Assim estamos perante uma obrigação comercial, uma vez que
esta resulta de uma atividade de comercio e estamos ainda perante co-obrigados. O legislador optou pelo
regime da solidariedade para que haja um reforço de crédito, isto é, facilitá-lo e uma mais segurança para o
credor. Assim, D pode demandar qualquer um dele, sendo que optou por A, tendo este que pagar a
totalidade da divida, ficando com o direito de regresso de B e C.

b) A sua resposta seria a mesma se A, B e C tivessem adquirido a mercadoria para seu consumo?
Neste caso, o ato não é objectivamente comercial, dado que A, B e C não compraram para revenda e
também não é um ato subjetivamente comercial porque não tem qualquer conexão com o direito comercial,
assim não se trata de um ato comercial face a A, B e C. Porém, é um ato comercial face a D, porque D é
comerciante, segundo consta do art.13º ccom, pois trata-se de uma atividade que ele pratica regularmente e
trata-se de um ato objectivamente comercial, nos termos da 1ª parte di art.2º ccom, visto que está a revender
algo que comprou, tratando-se assim de um ato unilateralmente comercial. Perante o art.99º, verifica-se que
aos atos unilateralmente comerciais também se aplica o regime comercial. Assim é necessário verificar se
neste caso concreto, se aplica ou não o art.100º, do regime da solidariedade. Caso seja feita um interpretação
literal, D vai poder utilizar o art.100º CCom, dado que A, B e C são comerciantes, mesmo que o ato não está
conexo com o comercial face a A, B e C. Logo D vai ter de demandar cada um deles.

NOTA: o art.100º tem requisitos cumulativos: não ser comerciante + atos não sejam comerciais em relação a
eles. Porém, hoje em dia, não é necessário que os devedores sejam comerciantes, mas a qualidade do ato.

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DOMÍNIO EM QUE SE VAI APLICAR O ART.100º:

A, proprietário de um imóvel, arrenda um imóvel durante 5 anos mediante pagamento mensal de 1000€, a
B + C. A certa altura, B e C deixam de pagar a renda e o senhorio quer interpor uma ação contra B.
Pode ou não fazê-lo?
R.: Estamos perante um arrendamento mercantil, ato objetivamente comercial (previsto no cc), logo deriva
daqui uma obrigação comercial e pode ser exigida apenas a um dos co-arrendatários - art. 100º.

DOMÍNIO EM QUE SE VAI APLICAR O ART.100º + FIANÇA COMERCIAL:


Imaginando o mesmo exemplo, mas o senhorio agora exige fiador (D)?
R.: a fiança é uma garantia pessoal que incide sobre todo o património do garante, enquanto que a
garantia real, é sobre um determinado bem ou conjunto de bens. A fiança civil segue um regime diferente da
fiança comercial. Vejamos:
- Nos termos do direito civil, o fiador tem o beneficio de excenssão prévia, ou seja, o fiador só responde depois de
o credor ter “esgotado” o património do devedor. Assim, só depois do credor demandar os devedores e o
património não chegar, é aí que se pode demandar o fiador, salvo convenção em contrario.

- No direito comercial, a fiança é um ato comercial por acessoriedade. O art.101º é uma norma imperativa, ao
contraio do art.100º ccom, que pode ser afastado. Não é relevante se é ou não comerciante.
o art. 100º é chamado de responsabilidade solidária imperfeita (é imperativo na fiança), porque o credor pode
demandar quem quiser. Assim, se o credor demandar só o D, porque B e C são só devedores e D fiador, D pode
agir contra B e C e exigir o pagamento integral. Aqui o fiador não goza do benéfico de excurssão prévia, assim é
obrigado ao pagamento caso seja demandado.

V.
Manuel celebrou com Maria um contrato de compra e venda de um automóvel para revender no âmbito das
sua atividade comercial. Para garantia do cumprimento, Manuel constituiu uma fiança a favor de Maria
tendo, dessa forma, Joaquim assumido a qualidade de fiador.
No âmbito do contrato de fiança, ficou expressamente assumido que Joaquim beneficiava da excurssão
prévia.
Perante o incumprimento de m, Maria demanda Joaquim que se defende alegando que para além de não se
demonstrar excutido o património de Manuel, este nem sequer foi demandado.

Trata-se de um ato objectivamente comercial, nos termos do art.2º, 1ª parte, pois esta ato encontra-se
previsto neste Código, mais concretamente no art. 463º,nº1.
A relação de garantia é, em regra, aquela em que um terceiro assume a qualidade de garante em
relação à relação principal. Assim, a fiança é dependente da compra e venda, porque o garante assume-se
para a satisfação do crédito, logo todos os vícios da relação principal afetam a relação acessória.
A garantia pode ser: real (se for sobre determinado e certo objecto - ex: hipoteca - coisas imóveis;
penhor - coisas móveis) e pessoal (tem uma posição equivalente ao devedor principal, pois todo o património
do devedor fica afeto à realização do crédito). A fiança é a típica garantia pessoal, estando descrita no cc em
como alguém que se obriga à satisfação de um crédito de um terceiro, através do seu património. Para
efeitos da execução da garantia pessoal, o credor primeiro demanda o devedor principal e só pode demanda
o fiador quando o património do devedor principal está esgotado e não é suficiente para a satisfação do
credito.
A fiança é subsidiária, pois o fiador beneficia do beneficio de excurssão prévia - direito que é dado
ao fiador, mas este pode renunciar a este direito, tratando-se de uma fiança solidária (devedor e fiador
podem ser demandados em conjuntos ou separadamente, para a totalidade da divida). Neste caso, a fiança
trata-se de um ato de comercio acessório, porque está dependente de um contrato de compra e venda. O
art.101º estabelece que, ao contrario do cc, Joaquim não tem qualquer beneficia de excussão previa, porque a
regra é da solidariedade e esta não pode ser contrariada, porque trata-se de uma norma imperativa, o que

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significa que o regime não pode ser alterado por vontade das partes, assim caso haja uma clausula que
contrarie a norma, esta clausula é nula. Assim sendo, maria pode demandar autonomamente ou em
conjunto com o Manuel e Joaquim pela totalidade da divida, dado que Joaquim é devedor solidário com
Manuel.

VI.
A sociedade António e Inácio, Lda. vendeu, em 2017, a Belchior, comerciante, uma das suas lojas de
electrodomésticos , situado no centro de Braga, pelo preço de 100 mil euros. No momento da celebração do
contrato foram apenas pagos 50 mil euros. O remanescente do preço devia ser em 5 prestações semanais.
Carlota, professora primária, assumiu por escrito a obrigação de fiadora do adquirente.
Belchior não pagou o preço. A sociedade credora intentou uma ação contra Carlota, acrescida de juros
moratórias contratualmente estipulados à taxa de 20%.
Pode Carlota fugir deste pagamento?

Trata-se de um ato objetivamente comercial, estabelecido no art.2º,1ªparte ccom, pois trata-se de um


trespasse consagrado no art.1112º cc e, embora esteja consagrado no cc, nada impede que seja um ato
objetivamente comercial, pois não é necessário que esteja previsto no ccom para ser considerado ato
comercial. Assim, de um ato comercial resultam obrigações mercantis e deste modo, a fiança é um ato
objectivamente comercial por acessoriedade (enquanto a fiança é objectivamente e subjetivamente mercantil
consoante o ato da qual ela resulta, o aval é também uma garantia pessoal, é sempre um ato objetivamente
mercantil porque é autónomo). A fiadora é uma professora primária, mas isso nada impede, porque o art.
101º ccom estabelece que não é necessário que o fiador seja comerciante. O art.101º é uma norma imperativa,
que significa que caso existam cláusulas contrarias ao seu disposto, estas são nulas mas o negócio é válido,
pois tenta-se aproveitar ao máximo o negocio.
A sociedade demandou a Carlota e pode fazê-lo, porque o art.101º consagra um regime de
solidariedade imprópria, o que significa que o fiador não goza do beneficio de excurssão prévia, tal como
acontece na fiança civil, a não ser que se tenha afastado pelas partes. O fiador, pode assim, na fiança
mercantil pedir o direito de regresso da totalidade do preço ao devedor, uma vez que o fiador não é devedor
e é sub-rogado à posição de credor (art.644º cc).
A questão que se coloca é se os juros podem ser convencionalmente fixados em 20%:
a taxa supletiva moratória do direito civil é de 4%, no direito comercial a taxa legal remoneratória é de 7%
ou 8%, caso se trate de transações comerciais (art.3º, al.d) DL 62/2013 + 102º, nº3 e 4).
a taxa de juros legal monetário é de 7% (art.102º, nº 3 e 4 - que foi introduzida pelo dl 62/2013).
Porém as partes estabelecem os juros de 20% e, na realidade, pode ser possível consagrar uma taxa mais alta
que 7%, ou seja, segundo o art. 102º, nº2 com remissão para o art. 1146º cc. Como não temos uma garantia
real dos 7%, carece 5 pontos percentuais e pode assim chegar aos 12% (art.1146, nº2). No limite, pode chegar
aos 16%, quando é estipulada uma clausula penal ou indemnizatória, porém, como tal, não está consagrada
o juro de 7% mais 5% e o valor dos juros é reduzido de 20% para 12% (art.1146º, nº2 cc).

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 10


VII.
Manuel comprou a Joaquim material eléctrico para revender no seu estabelecimento. Como garantia do
pagamento do preço foi constituída, por bento, uma fiança. O comprador e fiador confessaram-se devedores
desta quantia num documento autenticado para em caso de incumprimento, ser executado.
No prazo fixado para pagamento, o comprador não procedeu à satisfação do crédito e o devedor demandou
o comprador e o fiador para pagamento do prazo acrescido de juros de mora à taxa comercial desde da data
de vencimento da obrigação até efetivo e integral pagamento.
O fiador defendeu-se alegando que, para além de beneficiar da excurssão prévia, nunca se obrigou a pagar os
juros de qualquer outro montante para além do valor correspondente ao preço.
Imagine agora que ficou estipulado que o juro a pagar em caso de incumprimento era de 12% para além da
taxa legal. O devedor principal, na sua defesa, alega que aquela clausula de juro é anulável pelo que não
deve produzir qualquer tipo de efeito. Quid iuris?

A compra e venda é um negocio jurídico típico que produz 2 tipos de efeitos: reais e obrigacionais.
Tem um elemento subjetivo que lhe admite aplicar o código comercial que é a revenda, assim este negocio
tem de ser classificado como um ato de comercio, é um negocio típico do ccom. Tal como estabelece o art. 2º,
1ª parte ccom é um ato objectivamente comercial porque está previsto no art.463, nº1 ccom. Para um dos
efeitos obrigacionais (obrigação do comprador pagar o preço) foi constituído uma segunda relação jurídica
que a fiança, ou seja, uma garantia pessoal, garantindo assim o cumprimento da relação causal. A fiança é
objectivamente comercial por acessoriedade e tem regras especiais em relação à fiança, sendo aplicado o art.
101º ccom.
O comprador não cumpriu com a sua obrigação, pois não pagou o preço. O fiador, no direito civil,
goza do beneficio de excurssão prévia. Porém, a fiança, no direito comercial, é solidária e assim o fiador não
pode beneficiar de excurssão prévia, respondendo solidariamente com o comprador.
A questão que se coloca é de saber se o fiador é também obrigado a pagar os juros? A resposta é
dada pelo art. 634º cc, que estabelece que a fiança tem o conteúdo de pagamento de preço e cobra juros de
mora. Assim, o fiador terá que indemnizar pelo menos o juro legal (pagamento + juros).
As partes fixar clausula por escrito da qual constava que para alem da taxa legal de juro acrescia
12%. A taxa de juro é fixada legalmente ou a taxa pode ser fixada pelas partes nos termos do art. 102º, nº2
ccom com remissão ao art. 1146º cc. Este ultimo artigo, nº1, fixa um regime de obrigatoriedade, que
determina que o juro pode ser determinado pelas partes, mas há um limite máximo tendo esse limite
depende da existência subjacente ao negocio principal: tem que haver uma obrigação pecuniária e é
necessário ter em conta se existe um garantia real, sendo correspondente uma taxa de juro de 3% e 5% fixada
pelas partes. Significa que, no caso concreto, a taxa máxima era de 12% pois o nº3 estabelece a clausula
anulável, mas parcialmente, pelo que pode atingir os 10%, ou seja, é reduzida para 10%.

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 11


VIII.
Abel, proprietário de uma confeitaria, casado com Beatriz, comprou a crédito à sociedade Fototex, uma
fotocopiadora para revender a um amigo.
Explique quem e em que termos é responsável pelo pagamento da divida e sobre que bens, a sociedade
credora onde efectivar o seu direito.

Trata-se de um ato objetivamente comercial, nos termos do art. 2º, 1ª parte do ccom, uma vez que a
compra e venda para revenda encontra-se consagrada no art.463º, nº1 ccom e, deste modo, se enquadra na
definição de ato objetivamente comercial prevista no art.2º, 2ª parte do ccom e, consequentemente, a divida
resultou deste ato, é assim comercial.
É necessário verificar se existe ou não comunicabilidade da divida. Assim sendo, em conta a
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges prevista no art. 1671º cc e a legitimidade de cada um para
contrair dividas sem o consentimento do outro cônjuge, prevista no art. 1690º cc, é necessário assim aferir
em que termos pode ser responsabilizado o cônjuge do comerciante.
Ora, para que haja comunicabilidade da divida é necessário que se preencham quatro requisitos:
• A divida tenha sido contraída por um comerciante casado sem o consentimento do cônjuge, ou seja, a
divida tem que ser contraída por um comerciante na sua qualidade, durante a pendência do casamento e
sem o consentimento tácito ou expresso do seu cônjuge;
• Diz respeito ao facto de a divida ser contraída em proveito comum do casal. O proveito comum pode ser
de qualquer tipo (económico, mural) desde que traga benefícios para o casal e, de tal ato, não decorram
desvantagens. Caso o cônjuge do comerciante não queira acarretar com a divida, terá que provar que tal
ato comercial não foi em proveito comum do casal ;
• Facto de vigorar o regime da comunhão de bens, pois caso contrario, não existe comunicabilidade da
divida;
• Por ultimo, a divida tem que ser contraída no exercício do seu comercio. As dividas do cônjuge
comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio, dando assim uma maior proteção ao
credor do comerciante (neste caso, a sociedade Fototex) e cabendo ao cônjuge deste a prova de que a
divida não foi contraída no exército do seu comercio.
Neste caso a Beatriz teria que provar que mesmo se tratando de um ato objetivamente comercial, a
compra da fotocopiadora não te qualquer ligação com o comercio de Abel e, assim, uma vez que não
estavam cumpridos os requisitos todos, Beatriz não tinha qualquer responsabilidade.
Porém, o credor poderia tentar a via do art. 1691º,nº1, al.c) cc em vez do art.1691º, nº1, al.d) cc, que é
necessário conjugar com o nº3, cabendo assim ao credor provar o proveito comum do casal, caso o credor o
consiga fazer, a divida é de responsabilidade de ambos os cônjuges, respondendo assim os bens comuns do
casal e caso não cheguem, responde, solidariamente, os bens próprios de cada um , tal como estabelece o art.
1695º cc. Caso contrário, respondem os bens do cônjuge devedor e de seguida a sua meação dos bens
comuns (1696º).

a) A divida tinha sido contraída quando os cônjuges se encontravam separados de facto


O facto de estarem separados de facto, não implica que seja afastado o proveito comum do casal, ou
seja, podem estar separados de facto e mesmo assim continuar a beneficiar do proveito comum. Assim
sendo, embora seja mais fácil de provar, Beatriz teria de provar na mesma que não existia proveito comum
do casal face aquela divida.

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 12


IX.
Manuel e Joaquim são casados em comunhão de adquiridos, dedicando-se Manuel à exploração de um
snack bar. No âmbito desta atividade, Manuel celebrou com uma sociedade comercial um contrato de
fornecimento de café para o seu estabelecimento, tendo-se circulado a um regime de exclusividade para
consumo da marca de café, fornecida pela aludida sociedade.
Na vigência do contrato, Manuel incumpriu o pacto de exclusividade e agora a empresa reclama a respetiva
indemnização.
Não tendo as partes chegado acordo, a sociedade comercial propôs uma ação contra Manuel e Joaquim para
ser ressarcida da indemnização alegadamente devida.
Quid iuris?

Trata-se de um ato subjetivamente comercial, nos termos do art.2º, 2ª parte do ccom, pois o ato é praticado
por um comerciante, não se trata de um ato de natureza exclusivamente civil e não resulta o contrário do
próprio ato, ou seja, era uma ligação com o comércio, assim sendo, a divida é comercial.
A pessoa que está adstrita a interesse do credor, é Manuel, mas como é casado com Joaquim, é possível que
vigore a responsabilidade comum de ambos os cônjuges, pois qualquer cônjuge pode contrair dividas sem o
consentimento do outro (art.1690º cc). Para que haja comunicabilidade da divida, é necessário que estejam
preenchidos os 4 requisitos, cabendo apenas ao credor provar que o comerciante é casado e o ato é
mercantil:
• A divida seja contraída por um comerciante casado sem o consentimento do outro - o que se verifica;
• Que a divida tenha sido contraída em proveito comum do casal - o que se presume, cabendo o ónus de
prova ao cônjuge do comerciante (Joaquim);
• Que esteja casados em comunhão de bens - o que se verifica também;
• Que a divid tenha sido contraída no exercício do seu comercio.
significa isto que a divida contraída por um, ainda que só vincule um, há uma comunicabilidade da
divida ao cônjuge, pois estão verificados quatro pressupostos.
Assim, nos termos do art. 1695º cc, respondem os bens comuns do casal e, caso estes não cheguem,
solidariamente, respondem os bens próprios de cada um.

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 13


X.
António adquiriu um estabelecimento comercial de restauração, cuja a exploração se deu a Manuel pelo
prazo de 2 anos e mediante o pagamento mensal de 500€.
1 ano depois da celebração do negocio, o proprietário do estabelecimento decidiu, aproveitando uma
oportunidade de negocio, adquirir um imóvel na sua rua contínua ao local onde se situa o restaurante e ai
abriu de próprio um restaurante que está a explorar.
Manuel sente-se prejudicado, uma vez que com a abertura daquele novo restaurante e sendo também de
cozinha medieval portuguesa, está a perder clientela.
António alega que não tem de garantir clientela no âmbito da cessação da exploração mas ainda que
tivesse a clientela, é sua, porque é o proprietário do restaurante.
Quid iuris?

O contrato celebrado entre A e M é um contrato de locação, previsto no art.1022º cc, em que alguém
permite o gozo de determinada coisa, mediante uma retribuição. No âmbito deste contrato, é necessário
verificar qual o objeto e, assim sendo, é o estabelecimento comercial.
Trata-se assim de uma coisa anómala, pois não é considerada uma coisa imóvel, embora, por vezes,
lhe sejam aplicadas determinadas disposições que dizem respeito às coisas imóveis. Não há assim uma
categoria para o estabelecimento comercial, sendo que encerra em si mesmo um conjunto de coisas
propriamente ditas e de direito.
O local onde se insere o estabelecimento comercial é o conjunto organizado ou coisas, mas aqui a
questão que se coloca é de saber se a clientela faz ou não parte dos elementos de estabelecimento comercial,
mas há casos em que é e como neste negocio o é, no âmbito disto, faz parte das obrigações do locado.
Vejamos, ele tem de garantir a clientela, nos termos do art. 1031º, al.b) cc, pois neste artigo
estabelece-se que o locador tem de assegurar o gozo da coisa para o fim a que se destina, o que significa que
a clientela está incluída e trata-se de uma obrigação a garantir pelo locador. Assim, inclui-se nas obrigações
do locador, a obrigação negativa de não concorrência (1037º, nº1), pois não podem ser praticados pelo locado
atos que impliquem a perda ou diminuição do uso de uma coisa.
Ora, o locatário dispõe de todos os meios de defesa da posse, mesmo que eles sejam oponíveis ao locador -
art. 1037º, nº2 cc.

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 14


XI.
Manuel arrendou a Joaquim um imóvel de que era proprietário para o exercício da atividade de restauração.
O contrato foi celebrado a 1/1/2015 pelo prazo de 10 anos e com uma renda mensal de 300€, tendo sido
Maria constituída como fiadora.
Do contrato de arrendamento constava uma clausula em que em caso de trespasse a comunicação ao
senhorio seria feita com antecedência de 10 dias.
Em agosto de 2016, o inquilino morreu e sucedeu-lhe a mulher, Beatriz, que 3 meses depois, vendeu o
estabelecimento a Bento, cuja comunicação foi feita ao senhorio por carta simples e já depois do prazo
estabelecido no contrato.
Durante o período em que Beatriz esteve no estabelecimento comercial, não pagou qualquer renda.

a) Quem é responsável pelas rendas em atraso?


Manuel e Joaquim celebraram um contrato de arrendamento nos termos do art.1022º cc, em 2015, ao
que se aplica a NRAU e não os regimes transitórios, sendo que a renda estipulada foi de 500€, sendo Maria
constituída como fiadora.
A questão que se coloca aqui, é saber se Beatriz pode ou não suceder, porque há uma alteração
subjacente ao objeto. Porém, o art. 1113º, nº1, 1ª parte do cc, estabelece que o arrendamento comercial “não
caduca por morte” do inquilino. Desta sorte, o direito ao arrendamento comunica-se aos sucessores do
falecido (art. 1113º, nº1, 2ª parte cc). Por outro lado, os sucessores podem sempre renunciar à transferencia da
posição contratual, o qual terá que comunicar ao senhorio num prazo de 3 meses após a morte do
arrendatário comercial (art.1113º, nº1, 2ª parte cc). Assim, no caso de um sucessor querer continuar o
negocio, são lhe sucedidas os direitos, bem como as obrigações.
Uma das obrigações é o pagamento da renda, tal coo resulta do art.1038º, al.a) cc, o que significa que
a beatriz terá que pagar as rendas. Porém, quando Joaquim realizou o contrato de arrendamento já
constituía uma fiança que é uma garantia pessoal necessária da obrigação principal e a questão que se coloca
é saber se maria, a fiadora, terá que pagar as rendas. ora, a fiança é uma garantia pessoal , ou seja, a fiança
cai quando Joaquim morre, pois a fiança é uma garantia de muito risco e quando se extingue a pessoa da
qual resulta a obrigação principal, a fiança extingue-se. Logo, a única que tem que pagar é Beatriz.

b) Perante a venda do estabelecimento comercial, o que pode o senhorio fazer?


Beatriz vendeu o ec, o que é possível nos termos do art. 1112º, nº1, al.a) cc, tratando-se assim de um
trespasse pois trata-se da transmissão definitiva de um direito de propriedade sobre o estabelecimento
comercial inter vivos. Porém, para que o arrendatário transmita a sua posição, não é necessário o
consentimento do senhorio, mas é necessário que a tal transferencia da posição de arrendatário lhe seja
comunicada, de acordo com o art. 1112º, nº3 cc. assim, neste caso, não tendo sido comunicada, a
comunicação é ineficaz. É de notar que também não foi cumprido o prazo, uma vez que segundo a teoria da
receção, é de 30 dias e embora tenha sido comunicado um prazo de 10 dias, esse prazo é nulo, porque o
prazo de 30 dias é imperativo.
Assim, além da comunicação ser ineficaz, é nula por violação de uma norma imperativa. Tendo em
conta toda esta situação, o senhorio pode resolver o contrato nos termos do art.1083º, nº2, al.e) do cc.

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 15


XVI.
B pretende traspassar o estabelecimento comercial a C. Que figuras envolve o trespasse?

1º passo: comunicar ao senhorio para que ele exerça ou não o seu direito de preferencia (art.1112º cc), mas
caso não haja a transferência da posição de arrendatário não é necessário comunicação porque não faz
sentido o direito d preferência do senhorio.
Supondo que esta comunicação não é efetuada, nos termos do art.1410º cc, quando o senhorio toma
conhecimento pode interpor uma ação de preferencia, mesmo quando não seja individualmente feito.
Supondo que foi comunicado, se o senhorio não exercer o seu direito, este caduca no prazo de 8 dias.

2º passo: B ao realizar um contrato com C tem que ser através de forma escrita (art.1112º, nº1, al.a) cc). Aqui
não é necessário o consentimento do senhorio (isto é uma derrogação dos princípios contratuais, há um
desvio à regra do art. 424º cc, pois independentemente da vontade do senhorio, B pode trespassar a C o ec,
transmitindo-se a posição jurídica de arrendatário).

3º passo: comunicação ao senhorio.


No caso do contrato de trespasse não ser reduzido a escrito, escritura pública, é nulo por falta de forma e o
senhorio pode resolver o contrato (art.1083º, al.e) cc) e a comunicação tem que ser realizada no prazo de 30
dias. Caso a comunicação não tenha sido feita, o senhorio pode resolver o contrato nos termos doa rt.1083º,
al.e) cc por ineficácia.

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 16


X.
Sidónio deu de arrendamento a Antero o imóvel de que era proprietário pra a instalação de uma perfumaria.
O negócio foi celebrado em dezembro de 1972, pelo prazo de um ano.
Em janeiro de 2018, a perfumaria em causa foi penhorada na sequência executiva instaurada por um credor
de Antero.
Em março de 2018, Antero vendeu a perfumaria.
O senhorio, a 10 de maio de 2018, promove a denúncia do contrato de arrendamento ao abrigo do NRAU,
afirmando que a desocupação do locado é devida no dia 10 de maio de 2020.
Quid iuris?

O negocio celebrado por S e A é um contrato de arredamento mercantil de vinculismo máximo, uma vez que
o negócio foi celebrado antes de 1995, o que significa que vigora o regime vinculista, ou seja, as regras
destinavam-se a proteger a posição do arrendatário.

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 17


XI.
António e Belmiro são co-proprietários duma livraria instalada num prédio arrendado por Carlos.
Considere a hipótese de o contrato em causa ter sido celebrado no dia 2/6/1976.
A 22/12/2017, o estabelecimento em causa foi vendido em processo executivo.
A 2/1/2018, o senhorio vem promover a denuncia do contrato de arrendamento com o prazo de pré-aviso, tal
como constava do contrato celebrado com os co-proprietários A e B.
A denuncia é eficaz?

DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 18


DIREITO COMERCIAL - MARIA MIGUEL 19

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