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Direito Comercial e das Sociedades – exame

INTRODUÇÃO
1. Génese e evolução do Direito Comercial
O D. Comercial assume especial relevância para uma perceção mais rigorosa dos fenómenos jus-comerciais que na atualidade
se vão produzindo. Compreende-se o sentido e interesse de determinado contrato ou instituto jurídico teve anteriormente,
permitindo uma mais extensa assimilação de nuances da sua conformação atual, mas, também, por facilitar a antevisão de
caminhos que o D. Comercial trilhará no futuro.
Na Antiguidade, nomeadamente no Mar Mediterrâneo verificava-se um certo desenvolvimento das atividades comerciais,
contudo não existia D. Comercial. O D. Romano acolhe no âmbito do ius civile as matérias relacionadas com o comércio.
Só na Idade Média surgem os primeiros contornos de uma nova realidade no âmbito do D. Privado, quando a classe dos
comerciantes começa a reclamar a génese do ramo jurídico especial relativamente ao D. Civil.
Um dos fatores que contribuiu decisivamente para o surgimento e fortalecimento desta área do jurídico é a coesão que então
se verifica entre os comerciantes, unidos nas respetivas corporações de onde emanam regras específicas de caráter
consuetudinário e também, unidos no comum desejo da obtenção de lucro. A “internacionalização” surge como intensificadora
do D. Comercial, pois esbate as especificidades locais em prol do interesse transfronteiriço do desenvolvimento de tráfico
comercial.
Com o advento da idade Moderna surge como natural a tríplice preocupação de afirmação do poder régio perante determinadas
realidades sociais.

2. Caracterização do Direito Comercial


2.1. Conceito e autonomia do Direito Comercial
Conceito de D. Comercial- ramo do Direito que regula o regime jurídico-privado das empresas.
Ferrer Correia diz que o D. Comercial consiste naquele específico ramo do D. Privado que, centrando-se na empresa ou dela
irradiando, abrange ainda todos aqueles domínios em que se faça sentir a necessidade de uma regulamentação autónoma em
face dos princípios gerais do Direito Civil.

2.2. Breve definição de ato de comércio


Ato de comércio trata-se de um conceito nuclear do D. Comercial, pois acompanha e suporta muitas das matérias aí incluídas.
Para justificar isto é necessário recordar, que é comerciante em nome individual aquela pessoa singular que faz da prática de
atos de comércio profissão (art. 13.º, nº 1 CCom). Por outro lado, a importância da definição de ato de comércio decorre da
respetiva sujeição à legislação comercial que se adequa às especificidades das relações mercantis (art. 2.º CCom).
Assim, são comerciais todos os atos que se acharem regulados no CComercial. É o caso do mandato comercial (arts. 231.º ss),
das operações de banco (arts. 362.º ss) ou do contrato de compra e venda comercial (arts. 463.º ss). Estão incluídos neste
conceito todos os atos que se encontrem previstos na legislação avulsa de caráter comercial. É o que ocorre com o contrato de
locação financeira (DL nº 149/95, de 24 de junho), com o contrato da agência (DL nº 118/93, de 13 de abril) e com o contrato
de seguro (DL nº72/2008, de 16 de abril).
Porque a sua comercialidade advém de se encontrarem previstos em legislação comercial, independentemente de quem os
pratica, designam-se estes atos a que faz referência a primeira parte do art.º 2º. CCom como “atos de comércio subjetivos”.
São, também, todos os atos jurídicos praticados pelos comerciantes. Requisito prévio é o de que o respetivo sujeito jurídico
detenha o estatuto de comerciante. Se assim acontece, presume-se que tudo aquilo que pratica com dimensão jurídica se
relaciona de algum modo com a sua vida profissional, consubstanciada no desenvolvimento de uma atividade comercial. Uma
vez que radica esta qualificação no estatuto específico de quem exerce tais atos, e que só se consideram comerciais porque e
quando praticados por tal sujeito, classificam-se estes atos como “atos de comércio subjetivos”.
Estão excluídos do conceito de ato de comércio os atos de caráter “exclusivamente civil”, ou seja, aqueles que por essência
são civis, como os que constituem ou modificam relações na área do Direito da Família, do Direito das Sucessões, ou de
realidades não avaliáveis patrimonialmente. EXEMPLO: o casamento do comerciante, embora se trate de um contrato, não é
considerado ato de comércio.
O comerciante pode afastar determinado ato jurídico do regime comercial, ainda que tenha valor patrimonial, desde que faça
prova de que a respetiva causa não se encontra no desempenho da atividade comercial. Para o efeito, é necessário que tal
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circunstância tenha ficado clara no espírito da contraparte. Isto na senda da “teoria da impressão do declaratário” (art. 236.º
CC). EXEMPLO: um comerciante adquire um automóvel para a respetiva empresa e outro para necessidades de caráter
familiar, num meio social restrito, sendo o vendedor, inclusivamente, quem o persuade a adquirir os veículos para os respetivos
fins. Nesta situação, não parece difícil fazer a prova de que num dos casos se trata de um ato meramente civil.
2.3. Tipos de atos de comércio
a) Atos de comércio autónomos e atos de comércio acessórios
Atos de comércio autónomos- são os atos qualificados de mercantis por si mesmos, independentemente da sua ligação a atos
ou atividades mercantis.
Atos acessórios- são considerados comerciais quando conectados com um ato de comércio ou uma atividade comercial.
EXEMPLO: contrato de mandato (pois prescreve o legislador que este será considerado mercantil quando uma pessoa
encarrega de praticar um ou mais atos de comércio por ordem de outrem (art. 231.º CCom)). A fiança (art. 101.º) também pode
ser comercial, bem como o empréstimo (art.394.º) ou o depósito (art. 403.º).
b) Atos de comércio bilaterais e atos de comércio unilaterais
Atos de comércio bilaterais- são comerciais em relação a ambas as partes. EXEMPLO: Numa compra e venda podemos,
muito embora apenas em abstrato, destacar a compra da venda. Então, se um fabricante vende a outro comerciante bens que
este irá revender, este ato é comercial em relação aos dois sujeitos.
Atos de comércio unilaterais- são atos em que a comerciabilidade apenas se refere a um dos sujeitos. EXEMPLO: é o caso
típico do comerciante que comprou para revender determinados objetos que são adquiridos por um consumidor. Para este
último o ato é civil será de considerar a propósito a diferença entre o teor dos arts. 463.º e 464.º CCom.
Quanto ao regime jurídico a que estão sujeitos estes atos de comércio unilaterais ou mistos, determina o legislador, no art. 99.º
do CCom, a sua regulamentação pelas disposições da lei comercial quanto a todos os sujeitos contratantes. No entanto, se
houver regras que apenas se aplicam àqueles por causa de quem o ato é comercial, não são aplicáveis, por definição, aos não
comerciantes. É o caso paradigmático da solidariedade passiva (art. 100.º CCom).
2.4. Autonomização das disciplinas comerciais
A doutrina tem autonomizado realidades como o D. das Sociedades Comerciais, o D. da Concorrência, o D. dos Títulos de
Crédito, o D. da Propriedade Industrial, o D. Mobiliário, o D. Bancário e o D. dos Seguros. Trata-se de disciplinas jurídicas
que adquiriram certa autonomia. Todavia, não há razão para não as manter numa noção abrangente do D. Comercial.
2.5. Algumas especificidades do Direito Comercial e inerentes ao estatuto de comerciante
Relativamente a certas características o D. Comercial que lhe conferem autonomia relativamente ao D. Comum, cumpre
destacar a atenção à: “celeridade nas transações” (a questão de menor exigência de formalismos nas transações comerciais é
um importante fator do fluir negocial das empresas. Assim, a liberdade de forma que caracteriza o nosso ordenamento jurídico
(art. 219.º CC) sofre menos limitações no D. Comercial do que no Civil, procurando proteger-se a concessão de crédito e a
boa-fé nas relações mercantis), a sua “segurança” e a “proteção do credor” (quanto a este último aspeto verifica-se uma maior
proteção do devedor no D. Civil, mas uma proteção reforçada do credor nas relações de caráter comercial. É uma das suas
matrizes potenciando a confiança por parte dos comerciantes na celebração de negócios jurídicos.).
O teor dos arts. 96.º e 97.º CCom faz entender como o legislador procurou no final do século XIX atender às necessidades de
celeridade nas transações dos comerciantes. De facto, os títulos comercias são válidos independentemente do idioma em que
são exarados e os telegramas, cumprindo com os requisitos, têm força probatória idêntica à atribuída aos documentos
particulares.
Por outro lado, em muitos contratos era exigida escritura pública para a sua concretização (como o de constituição de
sociedades comerciais e o de trespasse), hoje são válidos celebrados mediante documento escrito. Exemplos da simplificação
progressiva dos processos negociais que envolvem comerciantes: sociedade na hora, sociedade online, marca na hora ou a
sucursal na hora.
Nos dias de hoje, existe o “comércio eletrónico” - consiste na utilização de meios informáticos nas transações comerciais,
constando a sua regulação fundamental do DL nº 7/2004, de 7 de janeiro.
No art. 3.º- entende por serviço da sociedade da informação qualquer serviço prestado à distância por via eletrónica, mediante
remuneração ou pelo menos no âmbito de uma atividade económica na sequência de pedido individual destinatário.
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Art. 21.º-nas comunicações publicitárias prestadas à distância, por via eletrónica, devem ser claramente identificados de modo
a serem apreendidos com facilidade por um destinatário comum a natureza publicitária, logo que a mensagem seja apresentada
no terminal e de forma ostensiva, o respetivo anunciante, as ofertas promocionais e os condicionalismos a que ficam
submetidos.
Liberdade de contratação mediante meios eletrónicos- está assegurada a validade e a eficácia de tais contratos e a
equiparação em matéria de exigência de forma escrita aos meios eletrónicos que assegurem idênticas garantias em matéria de
fidelidade, inteligibilidade e conservação (art. 25.º 1 e 26º 1).
Assim, consagra-se a validade de documento eletrónico como documento assinado quando satisfaça os requisitos legais acerca
da assinatura eletrónica e certificação (art. 26.º 2).
Os termos contratuais, as clausulas gerais e o aviso de receção deverão sempre ser comunicados para que o destinatário possa
armazenar e reproduzir (art. 31.º).
Art. 32.º- considera que a proposta de contratar a oferta de produtos ou serviços em linha quando contiver todos os elementos
necessários e em ordem a que o contrato se considere concluído com a aceitação do destinatário, se não representará um convite
a contratar.
A infração de algumas destas regras é uma contraordenação sancionável com coimas de 2500€ a 50000€. Pode ser aplicada a
sanção acessória de perda a favor do Estado dos bens usados para a prática das infrações e a sanção acessória de interdição do
exercício da atividade pelo período máximo de 6 anos (arts. 37.º e 38.º).
O phishing ou o spam são comunicações não solicitadas -> Lei nº 41/2004, de 18 de agosto, na versão conferida pela Lei nº
46/2012, de 29 de agosto.
Na análise acerca de aspetos particulares da realidade comercial versus civil, será de referir que enquanto regra nas obrigações
civis é a da “conjugação”, no Direito Comercial rege a “solidariedade passiva”. (art. 513.º CC e 100.º CCom). Neste
contexto, estamos perante uma obrigação solidária quando cada um dos devedores responde pela prestação integral e esta a
todos libera (512.º CC). Assim, aquele que procede à prestação tem direito de regresso relativamente aos demais (art. 514.º).
A solidariedade é relevante no que respeita às dívidas dos cônjuges, às dívidas de sócios das sociedades em nome coletivo e
às dívidas dos gerentes e administradores de sociedades comerciais.
Nas obrigações conjuntas ou obrigações parciárias, cada um dos devedores encontra-se apenas vinculado à prestação da sua
parte, apenas podendo cada um dos credes exigir de tal devedor a parte da prestação que lhe cabe. A prestação é realizada por
partes, prestando cada um dos devedores aquela a sua, não recebendo cada um dos credores mais do que aquilo que lhe compete.
Outra especificidade quanto ao deter-se o estatuto comerciante respeita ao instituto da “prescrição presuntiva” (art. 317.º b)
CC) que prescrevem no prazo de apenas 2 anos os créditos dos comerciantes pelos objetos vendidos a quem não seja
comerciante ou os não destine ao seu comércio, valendo para estes o regime geral de 20 anos (art. 309.º CC).
Prescrição comum- baseia-se no facto do não exercício do respetivo direito durante o tempo devido, podendo o devedor
depois de decorrido tal prazo recusar-se a cumprir a obrigação assumida (art. 304.º CC).
Prescrição presuntiva- presume-se que após certo tempo a obrigação terá sido devidamente cumprida depois de passado certo
tempo (art. 312.º CC). Neste caso, o objetivo é dispensar o devedor do ónus da prova de que efetivamente cumpriu a sua
obrigação. Deverá alegar o cumprimento da obrigação.
Quanto ao regime de juros verifica-se uma abordagem diferente quando estamos perante um credor comerciante e um credor
sem essa profissão. Assim, existem os juros legais (aqueles que são devidos por força de norma legal), os juros convencionais
(impõem-se por via da vontade das partes), juros remuneratórios ou compensatórios (têm lugar como compensação da
indisponibilidade temporária de determinado capital por parte de um sujeito jurídico) e os juros moratórios (indemnizam o
prejuízo causado pela mora do devedor no cumprimento de uma obrigação).
A taxa de juros de que beneficia um comerciante vem estipulado o critério fundamental da sua definição no art. 102.º,
parágrafos 3º, 4º e 5º do CCom.
No que se refere à análise de algumas distinções entre o regime do D.Comercial e do D.Civil: o contrato de compra e venda
enquanto que no Civil é nula a venda de bens alheios (art. 892.º CC), no Comercial é válida, ficando o vendedor obrigado a
adquiri por título legítimo a propriedade da coisa vendida e a fazer a entrega ao comprador, sob pena de responder por perdas
e danos (art. 467.º 2º e parágrafo único do CCom).
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3. As fontes do Direito Comercial


A fonte de Direito mais relevante nos ordenamentos jurídicos atuais é a lei, sendo a lei comercial, a referente às relações
jurídico-comerciais.
Encontram-se os ordenamentos jurídicos dos EM da UE bastante condicionados por todo o acervo da UE. Assim, as relações
económicas também sofrem, direta ou indiretamente, desta influência de caráter supranacional. Neste contexto, surgem as
regras sobre a liberdade de estabelecimento e de prestação de serviços. Mercado interno (art. 26.º TFUE), direito de
estabelecimento (arts. 49.º a 55.º TFUE), regulamento da livre prestação de serviços (arts. 56.º a 62.º TFUE).
No plano do DUE secundário ou derivado destacam-se os principais instrumentos jurídicos mediante os quais se procura atingir
os objetivos propostos nos tratados, ou seja, os regulamentos e diretivas (art. 288.º TFUE).
Destaca-se, também, a atualmente designada lex mercatoria, fundada no mercado internacional e através da qual se regressa à
origem do ius mercatorum. Consiste um conjunto de normas oriundas de organismos internacionais de D. Privado cujo objeto
de aplicação é a vida comercial.
Atualmente, intensifica-se o processo de estruturar um conjunto de normas que procura superar as divisões que a criação dos
estados modernos determinou. Centrado na empresa e nos seus interesses, assiste-se ao aprofundamento de um conjunto de
regras internacionalmente uniformes, por força dos usos do comércio internacional, da jurisprudência das câmaras arbitrais
internacionais e da difusão de práticas no mundo dos negócios.
O “costume” enquanto prática social reiterada acrescida da noção da sua obrigatoriedade, tem especial relevo como fonte de
Direito.

4. Interpretação da lei comercial e integração de lacunas


Uma vez identificada a fonte de direito, suscita-se um problema hermenêutico conducente a permitir retirar de tal fonte
normativa todo o seu sentido válido. Salienta-se o trabalho de interpretação das normas comerciais segue de perto os ditames
provenientes das regras gerais de interpretação (art. 9.ºCC).
Determina-se o decurso do D. Comum quando as regras específicas de D. Comercial não permitem colmatar determinada
lacuna. EXEMPLO: a noção de sociedade não está prevista na legislação comercial (CSC), que apenas define sociedade
comercial. Somos, então, envidados para o D. Civil (CC), o qual nos oferece o conceito em causa.
Se no âmbito das normas de D. Comercial for possível encontrar resposta para a questão suscitada é aí que centraremos
primeiramente a nossa atenção.

Parte I- Do Comerciante
Capítulo I- Aspetos gerais

1. Introdução
O comerciante é o sujeito dinamizador de toda a atividade comercial e graças ao qual surgiu o D. Comercial. É possível
descortinar duas categorias fundamentais (art. 13.º CCom):
- Comerciante em nome individual: Encontramos a figura do comerciante titular de um estabelecimento comercial dito
tradicional, a par daquele que explora a sua atividade económica através de um estabelecimento individual de responsabilidade
limitada.
- Sociedade comercial: há diversos tipos definidos pelo legislador: sociedade em nome coletivo, sociedade por quotas,
sociedade anónima e sociedade em comandita (art. 1.º CSC).

2. O estatuto de comerciante
2.1. Adoção de uma firma (art. 18.º, n. º1)
A importância de se assumir o estatuto de comerciante decorre do facto de tal profissional se encontrar sujeito a específicas
obrigações, como acontece com a adoção de uma firma, que consiste na designação mediante a qual se identifica o comerciante
no âmbito da sua atividade económica.
A aceitação pelo RNPC das firmas sugeridas pelos interessados obedece ao cumprimento de certos requisitos fundados:
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- No princípio da verdade: determina que os elementos componentes da firma não devem induzir em erro sobre a
identificação, natureza ou atividade do comerciante (art. 32.º do RRNPC, aprovado pelo DL n. º 129/98, de 13 de maio e art.
10.º, n. º 1 e n. º5, a) do CSC);
- No princípio da novidade (ou exclusivo): no processo de constituição da firma, esta deve ser distinta e não suscetível de
confusão com as já registadas no mesmo âmbito de exclusividade (art. 33.º 1 do RRNPC).
- No princípio da unidade: impõe-se o princípio de que a cada comerciante só pode corresponder uma única firma. (art. 38.º
1 RRNPC, é aplicável diretamente aos comerciantes em nome individual e por interpretação extensiva a todas as outras
entidades empresariais).

2.2. Ter escrituração mercantil (art. 18.º, n. º2 CCom)


O comerciante deve registar todos os factos que se relacionam com a sua atividade e a sua situação patrimonial. De acordo
com o CCom todo o comerciante é obrigado a ter escrituração mercantil efetuada de acordo com a lei, podendo o comerciante
escolher o modo de organização da escrituração mercantil. Atualmente, só são obrigatórios os livros de atas das reuniões dos
órgãos sociais.
A escrituração é relevante para determinados efeitos como a sua força probatória em situação conflitual ou em situações como
a da insolvência (arts. 29.º e ss CCom).
2.3. Fazer inscrever no registo comercial os atos a ele sujeitos
O Registo Comercial é um arquivo público, porque é propriedade do Estado e porque está aberto ao público, consistindo na
instituição administrativa que tem por objeto a publicidade oficial das situações jurídicas dos empresários nele inscritos.
O art. 1.º do CRC determina que o registo comercial se destina a dar publicidade à situação jurídica dos comerciantes em nome
individual, das sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma comercial e dos estabelecimentos individuais de
responsabilidade limitada, tendo como fim a segurança do comércio jurídico. Após o que individualizam os artigos seguintes
a sujeição a registo de certos factos relativos aos comerciantes em nome individual e às sociedades comerciais e civis em forma
comercial, respetivamente.
O Registo Comercial é público pelo que qualquer pessoa pode solicitar certidões dos atos de registo e dos documentos
arquivados, assim como obter informações verbais ou escritas sobre o respetivo conteúdo (art. 73.º CRC).
Os comerciantes em nome individual têm sujeitados a registo: o início, a alteração e a cessação da atividade, as modificações
do seu estado civil e regime de bens e a mudança de estabelecimento principal (art. 2.º CRC). As sociedades comerciais e
sociedades civis sob a forma comercial têm previsto o registo de inúmeras situações relativas à vida de tais entidades (art. 3.º
CRC).
O CRC determina o registo de certos factos inerentes às cooperativas, empresas públicas, agrupamentos complementares de
empresas, agrupamentos europeus de interesse económico e estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada. O
registo do contrato de sociedade comercial mostra-se importante, pois confere personalidade jurídica a tal sociedade, surgindo
com tal ato uma entidade jurídica autónoma e distinta da dos sócios (art. 5.º do CSC).
2.4. Dar balanço e prestar contas (art. 18.º, n. º4 CCom)
Todo o comerciante é obrigado a dar um balanço anual ao seu ativo e passivo nos 3 primeiros meses do ano imediato (art. 62.º
CCom). Neste particular dever-se-á atender às alterações introduzidas pelo DL nº 76-A/2006, de 29 de março.
A entrada em vigor do DL nº 98/2015, que transpõe a diretiva da UE nº 2013/34/EU, de 26 de junho de 2013, referente ao
relato financeiro das empresas. Esta norma visa a alteração do paradigma no que se refere à preparação das demonstrações
financeiras a nível europeu. Os objetivos do CE são a redução dos encargos administrativos e a simplificação de procedimentos
do relato financeiro, principalmente para as microempresas e tentar proporcionar uma maior clareza e comparabilidade na
análise das demonstrações financeiras das empresas da UE, tendo em atenção as operações intracomunitárias e potenciais
investidores.

3. Capacidade e incompatibilidade
Relativamente à capacidade para a prática de atos de comércio, pressuposto da atribuição do estatuto de comerciante (art. 13.º,
n. º1 CCom), deparamo-nos com a equiparação entre capacidade comercial e a capacidade civil. Toda a pessoa que for
civilmente capaz de se obrigar, poderá praticar atos de comércio (art.7.º CCom).
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Certos sujeitos jurídicos com capacidades de exercício de direitos estão impedidos ou limitados quanto ao exercício da
profissão de comerciante. É isto por força do desenvolvimento concreto de determinada atividade considerada incompatível
com o exercício do comércio (art. 14.º, n.º 2 CCom). Assim, por óbvio interesse de isenção no seu desempenho, encontram-se
certos titulares de cargos políticos e de altos cargos públicos, magistrados judiciais impedidos de exercer uma atividade
comercial.
Quanto ao Regime Jurídico de Incompatibilidades e Impedimentos dos Titulares de Cargos Políticos e Altos Cargos Públicos
foi aprovado pela Lei n. º64/93, de 26 de agosto, posteriormente alterada. Nos termos do art. 4.º, n. º1, os titulares de cargos
políticos exercem as suas funções em regime de exclusividade, sem prejuízo do disposto no Estatuto dos Deputados à AR e do
disposto no art. 6.º. Por outro lado, de acordo com o n.º 2 do mesmo art., a titularidade dos cargos a que se refere o número
anterior é incompatível com quaisquer outras funções profissionais remuneradas ou não, bem como com a integração em corpos
sociais de quaisquer pessoas coletivas de fins lucrativos.
No que respeita ao regime de incompatibilidade aquando da cessação de funções, determina o art. 5.º, n. º1 que os titulares de
órgãos de soberania e titulares de cargos políticos não podem exercer, pelo período de 3 anos cotado da data da cessação das
respetivas funções, cargos em empresas privadas que prossiga, atividades no setor por eles diretamente tutelado, desde que, no
período do respetivo mandato, tenham sido objeto de operações de privatização ou tenham beneficiado de incentivos
financeiros ou de sistemas de incentivo e benefícios fiscais de natureza contratual.
Relativamente às incompatibilidades dos juízes será de atender ao teor do Parecer do Conselho Superior dos tribunais
Administrativos Fiscais, de 13 de janeiro de 2013. O disposto no art. 216.º, n. º3 da CRP, refere que “os juízes em exercício
não podem desempenhar qualquer função, pública ou privada, salvo as funções docentes ou de investigação científica de
natureza jurídica, não remuneradas, nos termos da lei.”
Do ponto de vista da tutela de interesses de caráter particular, o gerente de um estabelecimento comercial não deve desenvolver
uma atividade em concorrência com a para a qual exerce a sua profissão (art. 253.º CCom). O mesmo se aplica aos gestores
das sociedades comerciais (art. 254.º, n. º1 CSC, quanto às sociedades por quotas), bem como aos sócios das sociedades em
nome coletivo (art. 180.º CSC) e das sociedades em comandita (art. 477.º CSC). Também, o agente comercial não deverá fazer
concorrência ao principal, nos termos do art. 9.º, n. º1 da Lei do Contrato da Agência.
A declaração de insolvência priva imediatamente o insolvente dos poderes de administração e de disposição dos bens
integrantes da massa insolvente, os quais passam a competir ao administrador da insolvência (art. 81.º, n. º1 CIRE). Uma vez
encerrado o processo, cessam todos os efeitos que resultam da declaração de insolvência, recuperando designadamente o
devedor o direito de disposição dos seus bens e a livre gestão dos seus negócios (art. 233.º, n. º1, a) CIRE). Por outro lado,
quando a insolvência é declarada culposa pode o comerciante ficar inibido do exercício pelo comércio pelo período de 2 a 10
anos (art.189.º, n. º2, c) CIRE).
Capítulo II- O comerciante em nome individual

1.Requisitos para a atribuição do estatuto de comerciante em nome individual


A designação de comerciante em “nome” individual surgiu como contraponto à sociedade em nome coletivo. Quando uma
pessoa singular pratica atos de comércio com caráter reiterado, autónomo e baseado numa organização, adquire a qualidade de
comerciante (art. 13.º, n. º1 CCom).
Quanto à adoção de firma, deverá o comerciante em nome individual adotar uma firma composta pelo seu nome, podendo
aditar-lhe uma alcunha ou expressão alusiva à atividade exercida (art. 38.º, n. º1 RRNPC). O comerciante pode acrescentar a
indicação de “Sucessor de“ ou “Herdeiro de” e a firma do estabelecimento que tenha adquirido. Assim, o comerciante deverá
proceder junto do Registo Nacional de Pessoas Coletivas ao pedido de admissibilidade da firma ou denominação caso pretenda
utilizar uma firma diferente do seu nome civil (DL n. º129/98, de 13 de maio).
O comerciante deverá declarar o início da atividade nas Finanças, bem como proceder à inscrição do início de atividade no
Ficheiro Central de Pessoas Coletivas e no Registo Comercial. Impõe-se a comunicação à delegação da Autoridade para as
Condições de Trabalho da área onde se situa o estabelecimento, o respetivo endereço, o ramo de atividade, o domicílio e o
número de trabalhadores.
DL n. º12/2013 de 25 de janeiro- procura provar a atribuição de prestação por cessação da atividade profissional aos membros
dos órgãos estatuários que exerçam funções administração e gerência e aos trabalhadores independentes com atividade
empresarial, comercial e industrial.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

Desemprego- toda a situação de perda de rendimentos decorrente do encerramento de empresa ou de cessação de atividade
profissional de forma involuntária do beneficiário com capacidade e disponibilidade para o trabalho e inscrito para emprego
no centro de emprego. Exclui-se a insolvência qualificada como culposa.
É a opção do legislador de apenas conceder este apoio a quem tenha a sua situação contributiva regularizada perante a
Segurança Social. Ora, tratando-se justamente das dívidas à Segurança Social as que conduzem muitas vezes a uma situação
de insolvência, parece um pouco contraditória quanto ao mérito tal opção legislativa (art. 7.º, c)). Sempre que o comerciante
tenha trabalhadores ao seu serviço deverá inscrever a empresa na Segurança Social, ficando responsável pelo pagamento das
respetivas contribuições.

2.Regime de responsabilidade por dívidas


a) Observações gerais
O comerciante assume em nome individual responsabilidades oriundas dos seus investimentos e dos seus negócios junto de
diversas entidades. Este sujeito responde com todo o seu património por todas as suas dívidas, independentemente da sua
origem. Significa esta asserção, sobre “confusão” patrimonial, que quer os bens do comerciante afetos à vida comercial, quer
aqueles que se encontram na órbita da sua vida pessoal ou familiar, poderão ser penhorados pelos seus credores civis ou
comerciais para verem satisfeito interesse económico subjacente aos seus créditos. O devedor responde pelo cumprimento das
obrigações com todos os seus bens suscetíveis de penhora (art. 601.º CC).
Os direitos de crédito são protegidos pela ordem jurídica através da designada garantia das obrigações, permitindo ao credor
concretizar os seus direitos.
O risco que corre o comerciante em nome individual de responder com todo o seu património, com as graves consequências
que daí podem advir para a sua vida pessoal e familiar, é o reverso da medalha no que tange às facilidades na concessão de
crédito de que o mesmo pode ser beneficiado.
Tanto os fornecedores de bens e serviços no que se refere ao modo de pagamento, como os bancos e outras entidades quanto
a apoio financeiro, terão em conta qual o acervo patrimonial que poderá responder pelo integral cumprimento das obrigações
contraídas pelo comerciante. Não são despiciendas as vantagens de caráter fiscal, bem como a simplificação formal ao início
ou encerramento da atividade.
b) O casamento e a responsabilidade por dívidas comerciais
Um comerciante em nome individual responde com todo o seu património pelas dívidas que contrai no âmbito da sua atividade.
Sucede que caso se encontre no estado civil de casado, observar-se-á, preenchidos os requisitos, uma ampliação do património
que responde pelas dívidas, ao abranger os bens comuns do casal e, inclusivamente, bens próprios do cônjuge do devedor.
Trata-se esta comunicabilidade das de uma circunstância que pode penalizar a vida pessoal e familiar do comerciante, mas que
a montante poderá ter contribuído para que outros agentes económicos concedessem crédito em melhores condições
contratuais.
Se a dívida for contraída por ambos os cônjuges ou por um deles com o consentimento do outro, decorre com naturalidade a
responsabilização do casal pela dívida em concreto contraída (art. 1691.º, n. º1, a) CC). Qualquer um dos cônjuges pode contrair
licitamente dívidas sem autorização do outro (art. 1690.º CC).
O critério essencial adotado pelo legislador para nestas circunstâncias serem responsabilizados ambos os membros do casal,
radica no benefício que este retira da atividade do cônjuge comerciante. O desenvolvimento de uma atividade comercial por
um comerciante tanto se repercutirá no património familiar quando se geram lucros como quando há prejuízos.
Caso o credor faça a competente prova poder-se-á responsabilizar ambos os cônjuges. Importa deter a nossa atenção num
preceito de caráter eminentemente comercial embutido em legislação civil (art. 1691.º, b) e c) CC). Serão da responsabilidade
de ambos os cônjuges as dívidas contraídas por qualquer deles no exercício do comércio, salvo se se provar que não foram
contraídas em proveito comum do casal, ou se vigorar entre eles o regime de separação de bens (art. 1691.º, n. º1, d) CC).
Colam-se 3 questões: se a dívida é comercial? Se a responsabilidade cabe exclusivamente ao comerciante ou ambos os
cônjuges? Quais os bens que responderão pelas dívidas? Importa saber se dívida foi gerada no âmbito de um ato de comércio
(subjetivo ou objetivo) ou de atividade comercial, sendo que em caso afirmativo a dívida será comercial. Determinado que
dívida é de jaez comercial, passamos à abordagem de quem é responsável pelo seu pagamento. Assim, se os três requisitos do
art. 1691.º, n. º1, d) CC estiverem reunidos presume-se que a dívida seja de ambos.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

O impacto fundamental desta norma reside na inversão do ónus da prova que compete neste caso ao comerciante ou ao seu
cônjuge. Ao credor bastará demonstrar que o devedor se trata de um comerciante em nome individual casaco e que a dívida é
de caráter comercial. Pode invocar-se que o regime de bens de casamento foi o de separação, o que afasta imediatamente a
aplicabilidade da alínea. Mesmo que o regime de bens seja o da comunhão de adquiridos (regime supletivo) ou de comunhão
geral, pode o comerciante invocar que a dívida, ainda que comercial, não foi contraída no exercício do seu comércio habitual,
mas sim num âmbito económico que o transcende.
À alegação e prova pelo credor de que a dívida foi contraída em real conexão com a atividade comercial do devedor podem os
cônjuges opor validamente que ainda que os outros requisitos da alínea d) estejam reunidos e dívida contraída no exercício do
seu comércio, não houve proveito comum do casal. Esta é talvez a presunção mais difícil de ilidir, tendo lugar normalmente
em situações de separação de facto sem que o cônjuge não comerciante receba qualquer vantagem patrimonial da atividade do
cônjuge comerciante.
Se a dívida é da exclusiva responsabilidade do comerciante, responderão os seus bens próprios e, caso não existam ou não
tenham valor suficiente, a sua menção nos bens comuns (art. 1696.º, n. º1 CC). Se a dívida em causa for da responsabilidade
de ambos os cônjuges, responderão os bens comuns do casal, e na falta ou insuficiência, solidariamente, os bens próprios de
qualquer um dos cônjuges (art.1695.º CC).
O CIRE prevê no seu art. 265.º a situação das dívidas comuns e próprias de cada um dos cônjuges.
c) O estabelecimento individual de responsabilidade limitada
A necessidade de limitar a resposta por dívidas do comerciante em nome individual ao património adstrito à sua atividade
económica. Assim, instituiu-se como possibilidade para o exercício de comércio o estabelecimento individual de
responsabilidade limitada nos termos do DL n. º248/86, de 25 de agosto.
Determina-se no art. 11.º, n. º1 que pelas dívidas resultantes de atividades compreendidas no objeto EIRL respondem apenas
os bens a estes afetados. A praxis comercial veio revelar escassa utilização deste esquema jurídico-organizacional por parte
dos comerciantes.
Afigura-se determinante o comando legal presente no art 11.º, n. º2, de acordo com o qual, em caso de falência do titular do
EIRL por causa relacionada com a atividade nele exercida, responde o falido com todo o seu património pelas dívidas
contraídas nesse exercício, desde que se prove que “o princípio da separação patrimonial não foi devidamente observado na
gestão do estabelecimento”. Tal poderá ter contribuído para o receio de que, em sede contenciosa, fosse o comerciante
condenado a responder com todo o seu património por dívidas comerciais.
Em muitos casos não é fácil fazer a prova perfeita separação entre o património afeto à vida mercantil e aquele que se destina
à satisfação de necessidades particulares (caráter particular). EXEMPLO: utilizar o mesmo veículo que se utiliza para trabalhar,
para levar as crianças à escola. OU o escritório da empresa funcionar numa assoalhada da casa de morada da família.
Aquilo que a observação da prática revelava era a continuação da utilização das sociedades por quotas fictícias, em que o
verdadeiro comerciante se ligava a 1 ou mais sócios (“sócios de favor”, muito frequentemente são parentes) de forma a limitar
responsabilidade (art. 197.º, n. º3 CSC).
Ainda que enfrentando o princípio de que a sociedade se constitui mediante contrato entre 2 ou mais pessoas (art. 980.º CC),
mas no sentido da “sociedade instituição” surgiu através do DL n. º257/96, de 31 de dezembro, a sociedade unipessoal por
quotas (arts. 270.º G e 197.º, n. º3 CSC). O estabelecimento individual de responsabilidade limitada pode transformar-se em
sociedade unipessoal por quotas, mediante declaração escrita do interessado (art. 270.º A, n. º5 CSC).
Por fim, deverá a firma nestes casos ser composta pelo nome do seu titular, com ou sem indicação da atividade exercida,
acrescendo a expressão “E.I.R.L.” ou “estabelecimento individual de responsabilidade limitada” (art. 40.º RRNPC).
Capítulo III- As Sociedades Comerciais

1. Enquadramento da figura
1.1. Origem e evolução
Na Idade Média surgiram as sociedades em nome coletivo (embora reguladas pela 1.ª vez no CC de 1833) e as sociedades em
comandita no sentido de congregar esforços e património de mais do que 1 pessoa. Nascem, depois, as sociedades anónimas
(séc. XVII), de responsabilidade limitada e destinadas sobretudo a grandes empreendimentos, o seu apogeu teve lugar no séc.
XIX fruto sobretudo da Revolução Industrial. Por fim, em 1892 na Alemanha, 1901 em Portugal, 1906 na Áustria e depois
difundindo-se pelo resto do mundo, são criadas as sociedades por quotas com vista a estancar a responsabilidade por dívidas
Direito Comercial e das Sociedades – exame

no caso das sociedades em nome coletivo e comandita e como “sociedades de pessoa”, por contraposição às sociedades
anónimas como “sociedades de capitais”.
As sociedades comerciais são institutos jurídico-económicos dinâmicos que ao longo dos tempos vão surgindo e se
transformando no sentido de melhor servir os concretos interesses dos empresários.
1.2. O conceito legal de sociedade comercial
Sociedade comercial- toda a entidade que tenha por objeto a prática de atos de comércio e adote o tipo de sociedade em nome
coletivo, sociedade por quotas, sociedade anónima ou sociedade em comandita (art. 1.º, n. º2 CSC).
O legislador comercial definiu a espécie “sociedade comercial”, mas não o género “sociedade”. Esta lacuna é colmatada
recorrendo ao D. Civil, no art. 980.º CC. Será sociedade a que deriva de um contrato em que 2 ou mais pessoas se obrigam a
contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que não seja de mera fruição, afim
de repartirem os lucros resultantes dessa atividade.
1.2.1. Pluralidade de pessoas: os sócios fundadores
O legislador por apresentar o conceito de sociedade como um contrato entre 2 ou mais pessoas. Consiste num contrato
multilateral em que os contraentes se obrigam entre si através de um feixe de vontades para a obtenção de um fim comum.
Em relação às sociedades comerciais, o art 7.º, n. º2 CSC permite que a sociedade seja constituída por apenas 1 pessoa. E como
cisão àquele princípio de contratualidade e, em prol, da ideia da “sociedade/instituição”, veio o legislador, como vimos, criar
a sociedade unipessoal por quotas através do DL n.º 257/96, de 31 de dezembro. Este subtipo é constituído apenas por 1 sócio,
podendo resultar da concentração na respetiva titularidade das quotas de uma sociedade por quotas (art. 270.º A, n.º 1 e 2 CSC).
O EIRL pode transformar-se numa sociedade unipessoal mediante declaração escrita do interessado (art. 270.º A, n.º 5 CSC).
Inversamente, a sociedade unipessoal por quotas pode transformar-se em sociedade plural por quotas, mediante divisão e
cessão de quota ou através de aumento de capital por entrada de um novo sócio (art. 270.º D CSC). A firma deve ser formada
pela palavra “unipessoal” antes da palavra “Limitada” (Lda.) (art. 270.º B CSC). No caso de ser uma sociedade desportiva
unipessoal por quotas a firma termina em SDUC Lda. (art. 6.º do DL n. º10/2013, 25 de janeiro).
Uma pessoa singular só pode ser sócia de uma única sociedade unipessoal (art. 270.º C, n. º1 CSC) e que os negócios jurídicos
celebrados entre o sócio único e a sociedade devem servir a prossecução do objeto da sociedade (art. 270.º F CSC) e também,
devem obedecer à forma legalmente prescrita e, em todos os casos, devem observar a forma escrita.
Está previsto legalmente que o sócio único exerce as competências das assembleias gerais, podendo nomear um gerente (art.
270.º E CSC). A outros aspetos do regime jurídico das sociedades unipessoais por quotas, como o relativo à responsabilidade
por dívidas, entre outros, o legislador remete para a regulação das sociedades por quotas plurais (art. 270.º G CSC).
Os arts. 488.º e ss CSC, determinam a referida norma que uma sociedade pode constituir uma sociedade anónima de cujas
ações ela seja a única titular.
1.1.2. Obrigação de contribuir com bens ou serviços
Outro aspeto constitutivo da sociedade é a contribuição com bens oi serviços para o desenvolvimento da atividade empresarial.
Os sócios são obrigados a entrar para a sociedade com bens suscetíveis de penhora (entende-se esta imposição legal uma vez
que poderá o património da sociedade, em última análise, responder por dívidas) ou com indústria nos casos permitidos por lei
(art 20.º, a) CSC).
Quanto às contribuições com indústria, que consistem em prestar serviços em prol do interesse societário, só é permitido nas
sociedades em nome coletivo (art. 176.º, n. º1 e 178.º CSC) e em comandita (art. 468.º CSC), no entanto, vedado no que se
refe às sociedades por quotas (art. 202.º 1 CSC) e às sociedades anónimas (art. 277.º 1 CSC). Tal é entendido, tendo em conta
o modo como os sócios respondem ou não por dívidas das sociedades.
As entradas dos sócios devem ser realizadas até ao momento da celebração do contrato de sociedade (art. 26.º). Se isto é assim
em termos absolutos para as entradas em espécie (bens diferentes de dinheiro, máquinas, veículos, imóveis e know how), já
quanto às entradas em dinheiro é possível o seu deferimento nos casos em que a lei o permite, até ao termo do 1.º exercício
económico a contar da data do registo definitivo do contrato da sociedade.
Os sócios podem estipular contratualmente o diferimento das entradas em dinheiro, tal acontece nas sociedades por quotas,
que sem prejuízo de estipulação contratual que preveja o diferimento da realização das entradas em dinheiro, os sócios devem
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declarar no ato constitutivo que já entregaram o valor das suas entradas ou que se comprometem a entregar até ao final do 1.º
exercício económico (art. 202.º, n. º4).
O pagamento das entradas diferidas tem de ser efetuado em datas certas ou ficar dependente de factos certos e determinados,
podendo, em qualquer circunstância, a prestação ser exigida a partir do momento em que se cumpra o período de 5 anos sobre
a celebração do contrato (art. 203.º). Quanto às sociedades anónimas, pode ser diferida a realização de 70% do valor nominal
das ações (art. 277.º, n. º2 CSC), por um prazo máximo de 5 anos (art. 258.º 1 CSC).
Nas entradas em espécie, a metodologia a adotar passar por um revisor oficial de contas (ROC) sem interesses na sociedade,
designado por deliberação dos sócios, estando impedidos de votar os sócios a quem respeitam as entradas (art. 28.º CSC). O
relatório deve referir-se a uma data não anterior em 90 dias à da celebração do contrato de sociedade (art. 28.º, n. º4 CSC) e
deverá ser posto à disposição dos sócios pelo menos 15 dias antes da celebração do contrato (art. 28.º, n. º5 CSC).
Ao instituir as SUQ o legislador não especificou o modus operandi relativamente a este subtipo de sociedades por quotas.
Então, as situações que o CSC não preveja serão reguladas, de acordo com o n. º2 do CSC, pelas normas deste código aplicáveis
aos casos análogos. Estamos perante uma lacuna da lei. Quando se fala na existência de um caso análogo, estamo-nos a referir
ao estipulado acerca dos sócios que solicitam a exoneração em caso de votarem contra determinada fusão de sociedades
comerciais. A contrapartida a atribuir pela sociedade será avaliada por um ROC designado por mútuo acordo ou, na falta deste,
por um ROC independente designado pela respetiva Ordem, a solicitação de qualquer dos interessados (art. 105.º, n. º2 CSC).
Tendo em vista não apenas a proteção de futuros sócios que poderão entrar para a SUQ, mas, em qualquer circunstância, dos
seus credores e os desígnios da fixação do capital social, afigura-se crucial a indicação de um ROC por parte da respetiva
Ordem atendendo à necessidade de independência e imparcialidade e, em suma, de proteção dos interesses referidos.
1.2.3. Objetivo imediato: exercício em comum de certa atividade económica, que não seja mera fruição.
No documento instituidor da sociedade comercial (pacto social ou estatutos) devem os sócios indicar qual o objeto da
sociedade, ou seja, qual a atividade(s) económica(s) que pretendem que a mesma venha a exercer. Os sócios podem deliberar
em Assembleia Geral o cessar de atividades que venham a ser exercidas assim como determinar o início de atividades ainda
não exercidas, mas previstas no pacto social (art. 11.º CSC). Elementos que devem constar no pacto social (art. 9.º CSC).
A atividade deve ser indicada de modo certo e rigoroso, não sendo suficiente afirmar genericamente, por exemplo, que a
sociedade se dedicará ao comércio e à indústria. Podemos definir a atividade económica como atividade produtiva seja de bens
materiais, seja de bens imateriais ou serviços, abrangendo os setores primário, secundário e terciário da economia. Por fi, deve
ser uma atividade que não seja de mera fruição (art. 980.º). EXEMPLO: 2 irmãos herdam um terreno rústico e uma padaria
podem dá-las em locação e receber as respetivas rendas. Neste caso, não se trata de uma sociedade. Se explorassem o terreno
rústico em atividade agrícola e a padaria, seria, então uma sociedade civil e uma sociedade comercial.
1.2.4. Objeto mediato: obtenção e repartição de lucros
A atividade societária consubstancia-se na repartição de lucros (art. 980.º CC), seja no final da vida da sociedade, seja
periodicamente durante a respetiva vigência. Todo o sócio tem direito a quinhoar os lucros (art. 21.º 1, a) CSC).
Para que haja distribuição de lucros é forçoso que estes sejam a montante gerados. Ordenamentos jurídicos há que determinam
como elemento essencial de uma sociedade a criação e a distribuição de lucros.
Relativamente às sociedades por quotas (art. 217.º, n. º1) que, excetuando qualquer cláusula contratual ou deliberação tomada
por maioria de ¾ dos votos correspondentes ao capital social, não pode deixar de ser distribuído aos sócios metade do lucro do
exercício que seja distribuível (art. 294.º 1 para as sociedades anónimas). Deste modo, o legislador visa acautelar os interesses
dos sócios com menor peso na sociedade, máxime os pequenos investidores nas sociedades anónimas.
Nestas sociedades com o capital em que o capital está distribuído por muitos acionistas é corrente que os acionistas detentores
de parte substancial do capital social consigam ser eleitos para os órgãos de administração da sociedade. Recebem uma
remuneração, dispõem de cartões de crédito, automóvel e outras vantagens patrimoniais. Poderá ser do seu interesse a não
distribuição de lucros distribuíveis correspondentes à constituição de reservas livres.
Quanto aos lucros e perdas de cada sócio serão calculados na proporção da respetiva participação no capital social (art. 22.º,
n. º1 e 2 CSC), excluindo-se o “pacto leonino” nos remos do art. 22.º, n. º3 do CSC, que considera nula a cláusula que exclui
um sócio da comunhão nos lucros ou o que isente de participar nas perdas da sociedade.
1.2.5. Objeto comercial
Direito Comercial e das Sociedades – exame

São comerciais as sociedades que tenham por objeto a prática de atos de comércio. É possível estender esta previsão a atividades
comerciais (art. 1.º 2 CSC). No que concerne às sociedades civis sob a forma comercial (EXEMPLO: certas sociedades de
revisores oficiais de contas não são consideradas comerciantes, não se aplicando a legislação comercial em geral) (art. 1.º, n.
º4 CSC).
As sociedades de profissionais podem ser sociedades civis ou assumir qualquer forma jurídica societária admissível segundo
a e lei comercial nacional, mas não podem constituir-se enquanto sociedades anónimas europeias. Relativamente às sociedades
de advogados e solicitadores apenas podem ser sociedades civis em forma civil.
1.2.6. Forma comercial
As sociedades comerciais deverão adotar o tipo sociedade em nome coletivo, sociedade anónima ou sociedade em comandita
(sociedade em comandita simples ou por ações). Assim, podem os fundadores escolher o tipo societário que considerem mais
apropriado para o seu projeto empresarial. Dentro de cada tipo legal a lei só define os contornos essenciais deixando grande
“margem de manobra” aos sócios para nos respetivos estatutos ou pacto social afeiçoarem a sociedade em causa aos seus
desideratos.

2. Os tipos sociais previstos pelo legislador comercial. Atenção específica à responsabilidade por dívidas.
2.1. A tipologia constante do CSC
O legislador impõe limites ao negócio jurídico e à liberdade contratual criadores de uma sociedade comercial. O primeiro:
consiste na determinação de que o sócio(s) fundadores têm forçosamente de adotar um dos tipos legais elencados no CSC.
Podem, no entanto, acordar dentro do tipo eleito toda a sorte de cláusulas que lhes aprouver, “personalizando” neste sentido o
respetivo pacto social, desde que não colidam com tais disposições estatuárias com normas legais de caráter imperativo. Esta
opção jurídica contribui para a segurança jurídica de todos os que pelas mais diversas razões se relacionem com uma sociedade.
Ao saber-se que estamos a negociar com uma sociedade comercial cujo regime jurídico essencial se ancora em determinado
tipo previsto na lei, encontramo-nos em condições de conhecer alguns dos direitos e obrigações fundamentais adstritos a tal
entidade.
Os tipos de sociedades: em nome coletivo (art. 175.º), por quotas (art. 197.º), anónimas (art. 271.º) e em comandita (art. 465.º).
2.1.1. Sociedade em nome coletivo
As sociedades em nome coletivo obrigam cada um dos sócios a responder individualmente em relação à sociedade e
solidariamente com os demais sócios (art. 175.º CSC). Os sócios só são chamados a responder por dívidas sociais após excutido
o património da sociedade, mas, caso respondam, fazem-no de modo solidário, o que significa que um dos devedores pode ter
de responder por toda a dívida, restando-lhe acionar os demais em sede de direito de regresso.
A firma da sociedade em nome coletivo deve individualizar todos os sócios ou indicar o nome ou firma de um deles e
acrescentar “& Companhia” ou outra expressão que exprima pluralidade de sócios (art. 177.º, n. º1 CSC).
O conteúdo do contrato procede à indicação de quais são as entradas de bens e quais são as entradas em indústria, sendo estas
últimas permitidas neste tipo social. Caso existam entradas em indústria será mister determinar qual o seu peso relativo no
âmbito do todo das entradas dos sócios tendo em vista a repartição de lucros e perda (art. 176.º e ver também o 178.º CSC)
Quando se verifica a existência de dívidas particulares dos sócios, os respetivos credores apenas poderão penhorar o respetivo
direito a lucros ou a sua quota de liquidação, mas não a sua participação social (art.183.º CSC).
O legislador determina a composição da gerência e deverão integrar este órgão todos os sócios (art.191.º CSC). Tal demonstra
ser natural tendo em conta a forma de responsabilidade por dívidas que caracteriza este tipo de sociedade. Uma vez que os
sócios poderão responder por dívidas da sociedade, afigura-se crucial que todos acompanhem e protagonizem as decisões
relativas à vida da sociedade que em dado momento integram. O regime aplicável a tudo o respeita ao funcionamento das
assembleias gerais das sociedades em nome coletivo seguirá, em termos gerais, aquele que o legislador consagrou para as
sociedades por quotas.
2.1.2. A sociedade por quotas
Nas sociedades por quotas no regime de responsabilidade por dívidas só o património social responde para com os credores
(art.179.º, n. º3 CSC). Será possível definir no contrato que um ou mais sócios podem responder perante os credores até
determinado montante. Tal normativo tem pouca adesão por parte dos fundadores atendendo a que uma ou mais relevantes
Direito Comercial e das Sociedades – exame

vantagens das sociedades por quotas é a segurança que a limitação da responsabilidade pelas dívidas sociais ao património da
sociedade representa (art.198.º CSC).
A opção da grande maioria dos empresários por este tipo de sociedades (as restantes são anónimas) deve ao art.197.º, n. º3
(sejam plurais ou unipessoais, de acordo com o estipulado no art.270.º G remetendo para o regime jurídico das sociedades por
quotas plurais). Este preceito legal, tem a sua fonte inspiradora no 13. 2º GmbHG alemão e por força da personalidade jurídica
das sociedades comerciais por quotas, seria supérfluo.
Por contraposição à limitação na responsabilidade por dívidas por parte dos sócios estes são solidariamente responsáveis por
todas as entradas estipuladas no contrato de sociedade (art. 197.º, n. º1 CSC). Por outro lado, (art. 204.º CSC) se o sócio mão
efetuar, no prazo fixado na interpelação, a prestação a que está obrigado (entre 30 a 60 dias, art. 203.º, n. º3 CSC), a sociedade
deve avisá-lo por carta registada de que a partir do 30º dia seguinte à receção da carta, fica sujeito a exclusão e a perda total ou
parcial da quota.
Veio o DL nº33/2011, de 7 de março, com vista a reduzir custos de contexto e de encargos administrativos, sobretudo para as
microempresas, alterar alguns preceitos do CSC (nomeadamente o facto de anteriormente existir um capital social mínimo de
5 mil € (art.201º CSC) e o valor mínimo de cada quota de 100€ (art.219.º CSC)). O legislador apresenta como um dos principais
objetivos do referido diploma que o capital social sociedades por quotas e unipessoais por quotas possa ser livremente fixado
pelos sócios, correspondendo à soma das quotas subscritas pelos mesmos, impondo o art.219.º, n. º3 CSC que os valores
nominais das quotas poderão ser diversos, mas nunca < 1€.
Nas sociedades por quotas com escasso capital social é natural que os bancos ou outros fornecedores imponham a prestação
de determinadas garantias aos gerentes ou aos sócios.
Art. 200.º CSC- contem as regras relativas à constituição da firma da sociedade por quotas. Determina aquele preceito que a
firma destas sociedades deverá ser formada pelo nome ou firma de algum(s) ou todos os sócios, ou por uma denominação
particular, terminando com a palavra “Limitada” / “Lda.”
Nas entradas dos sócios neste tipo de sociedade não é permitido entrar com indústria, sendo necessário a entrega de bens em
dinheiro ou em espécie (art. 202.º 1 CSC). As entradas em dinheiro poderão ser entregues até ao final do 1º exercício
económico, sendo possível protelar contratualmente a entrega de parte de tais entradas (art. 202º 4 e 6 CSC). No que respeita
ao protelamento de entradas em dinheiro o legislador impõe que tal decorra para datas certas ou fixar-se com base em factos
certos ou determinados (art. 203.º CSC).
Não será admissível acordar-se que se prestará certa entrega de dinheiro relativo a entradas no caso de se ganhar um prémio
da lotaria ou do euro milhões ou para quando se vencer uma ação proposta em tribunal. Já está legal a aposição de cláusula
que vincule um sócio a proceder à entrega de determinado montante no dia de determinado aniversário seu.
É um direito potestativo de qualquer sócio a exigência de prestação do valor estipulado decorridos 5 anos sobre a celebração
do contrato ou do aumento de capital, independentemente do prazo acordado no pacto social.
Acerca da forma de gestão da sociedade por quotas importa atender às regras atinentes à gerência e ao funcionamento das
assembleias gerais de sócios.
É obrigação dos gerentes prestar informações verdadeiras, completas e elucidativas no que concerne à gestão da respetiva
sociedade, este comportamento tem como destinatário qualquer sócio que solicite tal informação, podendo de igual modo
consultar todos os docs. Informativos que certa situação justifique na sede social (art. 214.º CSC).
Aso sociedades por quotas são habitualmente “sociedades de pessoas” é comum que a gerência seja integrada por alguns ou
por todos os sócios, detendo este órgão de gestão menos poderes em relação à assembleia geral de sócios constando com o que
ocorre com as sociedades anónimas. Está prevista a assunção dos poderes de gerência por todos os sócios, caso faltem
definitivamente todos os gerentes (art. 253.º CSC). A designação dos gerentes deverá ter lugar nos termos do próprio contrato
da sociedade, podendo ser eleitos em assembleia geral de sócios (art. 252.º 2 CSC). A duração da gerência é por tempo
indeterminado, apenas tendo o seu fim por destituição ou renúncia (art. 256.º CSC). Tal ocorre em sentido diverso do estipulado
para as sociedades anónimas em que a administração tem por regras tempo determinado. Os gerentes podem ser destituídos a
qualquer momento pelos sócios, devendo atender-se à questão por vezes complexa da estipulação de um direito especial à
gerência (art. 257.º CSC). Os gerentes podem renunciar ao seu cargo (art. 258.º CSC). Para além disso, se a gerência for
composta por mais do que um membro as decisões são tomadas por maioria (art.261.º CSC). As deliberações dos sócios, elenca
o art. 246.º todo o conjunto de matérias que são da sua responsabilidade exclusiva, não competindo aos gerentes.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

Ao nível do funcionamento das assembleias gerais, o legislador remete para o que se encontra consagrado acerca das sociedades
anónimas (arts. 246.º a 248.º CSC).
2.1.3. A sociedade anónima
As sociedades anónimas- designadas assim para realçar que o que prevalece neste tipo de sociedade é o investimento de capital
que nelas é feito pelos acionistas- o capital social está dividido em ações e cada sócio limita a sua responsabilidade ao valor
das ações que subscreveu (art. 271.º CSC). Apenas a sociedade responde pelas dívidas sociais (art. 2325.º CODICE). As ações
têm um valor nominal mínimo de 1cênt. (art. 276.º 3 CSC). O legislador impõe um capital social mínimo para a generalidade
das sociedades anónimas, no caso de 50mil € (n. º5). Quanto ao número de sócios mínimo é de 5 (art. 273.º 1 CSC), exceto
quanto a sociedades unipessoais.
A firma da sociedade anónima será formada em termos próximos aos da sociedade por quotas, consistindo o aditamento final
na expressão “sociedade anónima” ou “SA”. A sociedade anónima desportiva, impõe-se a indicação da respetiva modalidade
desportiva quando única, concluindo a abreviatura SAD (art. 6.º DL n. º10/2013, 25 de janeiro).
Como referido anteriormente, atendendo à limitação da responsabilidade por dívidas que caracteriza este tipo social, parece
crucial que o limite de 70% de protelamento se refira ao montante da entrada de cada acionista fundador.
Surgiu uma figura societária que é a sociedade anónima europeia, regulada pelo Regulamento (CE) n. º2157/2001 do Conselho,
de 8 de outubro de 2001 pelo Regime Jurídico das Sociedades Anónimas Europeias, aprovado pelo DL 2/2005, de 4 de janeiro.
A sociedade anónima europeia detém personalidade jurídica e apresenta o respetivo capital dividido em ações, sendo cada
acionista responsável até ao limite do capital subscrito. O capital social mínimo é de 120000€.
A entidade a que aqui nos referimos é considerada uma sociedade anónima regulada pelo Direito do EM onde tem a sua sede.
Consiste numa sociedade criada por entidades ligadas a mais do que um estado da UE, sendo que a respetiva sede estatutária
deverá localizar-se num desses estados e nele registada. A firma deverá ser precedida ou finalizada com a abreviatura SE, de
“Societas Europea” (arts. 1º e 11º, n. º1 do Regulamento (CE) n. º2157/2001 do Conselho da UE de 8 de outubro).
Será de realçar a importância da posição dos trabalhadores na respetiva constituição (DL N. º215/2005, de 13 de dezembro),
cuja audição e participação é um imperativo legal.
Tal facto conduz por vezes à inviabilização de projetos em concreto. Entre outras circunstâncias confluentes para este tipo de
situações sobressair a discrepância entre o estatuto laboral dos trabalhadores das diversas sociedades que se propõem constituir
a novel SE de acordo com o específico EM a que respeitam.
A sociedade anónima tem uma fisionomia específica e razão do seu sucesso na atualidade, que este modo de desenvolver uma
atividade de caráter empresarial assenta numa entidade com personalidade jurídica e se caracteriza pela limitada
responsabilidade dos acionistas. Mas uma vez que corporiza uma efetiva “divisão interna do trabalho”, sendo a
responsabilidade pela respetiva gestão atribuída a uma estrutura orgânica de funcionamento colegial.
Verifica-se neste tipo social uma incorporação jurídica de quem é acionista num valor mobiliário que consiste na ação,
encontrando-se dispersa a propriedade da sociedade por todos os sócios que detêm o capital.
2.1.4. A sociedade em comandita
Nas sociedades em comandita o legislador estabelece a existência de 2 tipos sócios: os comanditários que respondem apenas
pela sua entrada e fazem parte da sociedade como meros investidores e os sócios comanditados que respondem ilimitadamente
por dívidas, subsidiariamente em relação à sociedade e solidariamente entre si (art.465.º, n. º1 CSC). Materializa-se o
financiamento na entrada para a sociedade de “sócios capitalistas” a par dos “sócios empresários”.
Existem dois subtipos (art. 465.º, n. º3 CSC): as sociedades em comandita simples às quais se aplica com caráter subsidiário a
legislação aprovada para as sociedades em nome coletivo (art.474.º) e as sociedades em comandita por ações às quais se aplica
a legislação relativa às sociedades anónimas (art. 478.º). Assim, a firma da sociedade em comandita, é formada pelo nome ou
firma de um dos sócios comanditados e o aditamento “em Comandita”, ou “& Comandita”, “em Comandita por Ações” ou “&
Comandita por Ações”.
Quanto ao tipo de entrada verifica-se uma diferença entre as regras que se aplicam aos sócios de cada uma das categorias
indicadas, uma vez que se aplicam aos sócios comanditários apenas poderão consistir em bens em espécie ou dinheiro, podendo
as dos sócios comanditados consistir em indústria (art. 468.º CSC).
Na gerência das sociedades impõem-se como princípio, que serão os sócios comanditados quem integra tal órgão. Bem se
compreende esta estipulação considerando a diversa forma de responsabilidade sobre os sócios. É possível acordar-se
Direito Comercial e das Sociedades – exame

contratualmente que determinado sócio comanditário incorpore a gerência, podendo esta inclusivamente delegar os respetivos
poderes em sócios comanditários ou em terceiros estranhos à sociedade em causa (art.470.º CSC).
2.2. A cooperativa: associação ou sociedade?
Discute-se a natureza jurídica da cooperativa quanto à existência ou não de finalidade lucrativa. Se a historicamente a sua
génese se encontra ligada ao interesse mutualista de colaboração entre cooperantes, um pouco por contraposição ao interesse
lucrativo das sociedades comerciais, hoje dá-se uma aproximação entre estas realidades. O Código Cooperativo (Lei
nº119/2015 de 31 de agosto) mantém-se ambiguidade sobre o tema.
O seu art. 2.º refere que as cooperativas são pessoas coletivas autónomas, de livre constituição, de capital e composição
variáveis através da cooperação e entreajuda dos seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins
lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles. No art. 9.º sobre o direito
subsidiário consagra-se que para colmatar lacunas do C Cooperativo pode recorrer-se ao CSC, nomeadamente aos preceitos
aplicáveis às sociedades anónimas, que são entidades com fim lucrativo.
Importa considerar que uma das inovações do diploma que aprovou C Cooperativo, de caráter em certa medida discutível por
desvirtuar o espírito que preside à existência, constituição e funcionamento das cooperativas (art. 20.º que prevê a existência
de “membros investidores”). No n. º1 determina que os estatutos podem prever a admissão de membros investidores, cuja soma
total das entradas não pode ser >30% das entradas realizadas na cooperativa. No n.º 2 aduz que a admissão referida no número
anterior pode ser feita através de subscrição de títulos de capital ou de subscrição de títulos de investimento.
No que tange à questão do “cooperativismo” debate-se a questão da localização sistemática desta realidade em confronto com
as clássicas sociedades comerciais. Assume especial relevância o facto de que estas têm como objetivo final a obtenção e
distribuição de lucros, finalidade mediata que tradicionalmente não se tem associado aos desideratos das cooperativas. Nos
últimos tempos tem-se verificado um interessado recrudescer da utilização deste formado jurídico-empresarial, não apenas no
âmbito de áreas económico-sociais tradicionalmente por ele abraçadas, como a agricultura, mas curiosamente em áreas de
inovação tecnológica de ponta ou bem de cariz ambiental.
Os novos e inovadores projetos empresariais demonstram que tal formato de pessoa coletiva pode servir para que se obtenha
a um tempo a prossecução de finalidades tipicamente empresariais e de incremento patrimonial, mas, concomitantemente de
preocupação social com os cooperadores e com quem se relaciona direta ou indiretamente com o projeto cooperativo em
questão e com o coletivo.
Importa recordar a inserção das sociedades cooperativas na versão inicial do CComercial e aposição que em sede de direito
positivo certos ordenamentos jurídicos atuais elegem para regulamentar tal realidade económico-social. Insere-se a regulação
das cooperativas, justamente designadas como “sociedades cooperativas”, a par das demais formas societárias. Cremos que a
ratio que conduz a tal opção pela clara convicção de que o elo comum a tais realidades é o desejo de implementação e
desenvolvimento de uma atividade de índole empresarial, seja na prestação de serviços de variada jaez.
É importante concatenar as semelhanças e dissensões que estes tipos sociais apresentam acerca das virtualidades que cada um
deles consubstancia e, permitindo a jusante conhecer qual a opção mais adequada aos concretos propósitos empresariais não
apenas quanto ao “que fazer”, mas sobretudo ao “como fazer”.
A definição de sociedade comercial como entidade em seio da qual se procura lograr a criação e distribuição de lucros, já
aquando da regulação específica do tipo “sociedade cooperativa” se utiliza a expressão “repartição dos excedentes líquidos do
exercício”.
A ideia do “one man, one vote” como forma democrática de gestão na definição de objetivos e formas concretas de os atingir,
conforma de igual modo uma diferente projeção pessoal quanto ao que se pretende enquanto modus operandi deste organismo
vivo em que consiste uma empresa cooperativa. A ideia estabelecida por determinados legisladores. A ideia estabelecida por
determinados legisladores de que neste tipo social a atividade pretendida se desenvolve “com base na cooperação e entreajuda
dos sócios”. É interessante a utilização do vocábulo “sócios”, o que não admira considerando que etimologicamente a expressão
designa os companheiros que mediante o esforço comum desenvolvem uma atividade conducente a atingir determinados
objetivos que os une.
Ramos do setor cooperativo- consumo, comercialização, agrícola, crédito, habitação e construção, produção operária,
artesanato, pescas, cultura, serviços, ensino e solidariedade social. A firma das cooperativas deve ter a palavra “cooperativa”
e terminar em CRL ou CRI, consoante seja cooperativa de responsabilidade limitada ou cooperativa de responsabilidade
ilimitada.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

2.3. Figuras afins


A atividade económica tem diversas formas de “colaboração empresarial”, umas de caráter mais duradouro e intenso, outras
mais pontuais e menos comprometidas. Os objetivos que se pretendem alcançar com a constituição destas entidades variam e
daí a opção por uma em detrimento das demais. Estas realidades consistem sempre numa forma de potenciar sinergias que o
entrelaçar de experiências e especializações no mundo das atividades empresariais vai gerando. Matriz comum é a de que não
se consubstancia esta opção por uma fusão de sociedades comerciais, mantendo cada uma das integrantes a sua autonomia
jurídica e individualidade.
2.3.1. A associação em participação
A associação em participação consiste (art. 21.º do DL n.º 231/81, 28 de julho) na associação de uma pessoa a uma atividade
económica exercida por outra, ficando a 1ª a participar nos lucros ou nos lucros e perdas que resultam desse exercício para a
2ª. Em muitos casos, o associante consiste num fundo financeiro que adere a um projeto empresarial protagonizado por
determinada empresa, injetando capital e retirando parte dos eventuais lucros gerados. Não se pode confundir este contrato de
cooperação empresarial com o de associação à quota. Neste último caso, o contrato é celebrado entre um terceiro e um sócio
de uma sociedade e não com a própria sociedade, ficando a beneficiar diretamente dos lucros da sociedade, mas apenas dos
que forem entregues ao sócio devedor.
2.3.2. A associação à quota
EXEMPLO: um sócio de uma sociedade contrai uma dívida particular e tem dificuldade em solver o débito, vem, então, a
doutrina referindo a associação à quota como um contrato mediante o qual o sócio de uma sociedade cede a um terceiro todos
ou parte dos direitos patrimoniais que integram a sua quota ou parte social. Tal contrato estava previsto no art. 1271.º do CC
de 1867 ≠ do atual que não apresenta um preceito idêntico, mas ao abrigo do princípio da liberdade contratual (art. 405.º CC)
é admissível um negócio jurídico deste tipo. O terceiro não fará parte da sociedade não podendo votas nas assembleias-gerais
nem ser eleito para os corpos sociais.
Refira-se que muito embora a designação deste tipo contatual pareça cingir-se apenas aos sócios de uma sociedade por quotas,
é admissível em qualquer tipo social
2.3.3. Consórcio (joint venture)
Consórcio (art. 1.º do referido diploma legal) - é o contrato pelo qual 2 ou mais pessoas singulares ou coletivas que exercem
uma atividade económica se obrigam entre si a realizar certa atividade ou efetuar certa contribuição com o fim de prosseguir
qualquer dos objetos referidos no art. 2.º. O que se pretende com a constituição de um consórcio é a realização de uma obra,
uma ponte, uma estrada, uma escola ou um hospital. Enquanto durara a realização da obra cada empresa contribui com os seus
conhecimentos e experiência (arquitetura, engenharia, construção civil, etc.). Após a concretização do objeto que foi a ração
do consórcio este desfaz-se, retomando cada empresa à sua atividade específica.
2.3.4. Agrupamento Complementar de Empresas
Esta modalidade organizativa está regulada na Lei n.º 4/73, de 4 de jun. No preâmbulo prevê-se que as pessoas
singulares/coletivas e as sociedades podem agrupar-se, sem prejuízo da sua personalidade jurídica, a fim de melhorar as
condições de exercício ou de resultado das suas atividades económicas (Base I,1). Os argumentos complementares de empresas
não podem ter por fim principal a realização e partilha de lucros e constituir-se-ão com ou sem capital próprio (Base II,1).
Neste tipo de cooperação empresarial as integrantes não perdem a sua autonomia, beneficiando do aproveitamento de sinergias
que a ação em comum convola.
2.3.5. Agrupamento Europeu de Interesse Económico
A referência ao sistema de colaboração empresarial transnacional ou comunitário está estabelecido pelo Regulamento (CEE)
n. º2137/85 do Conselho, de 25 de julho 1985. No art. 1.º estipula-se que os Agrupamentos Europeus de Interesse Económico
constituir-se-ão nas condições, segundo as modalidades e com os efeitos previstos no presente regulamento. Quem pretenda
constituir um agrupamento deve concluir um contrato e proceder ao registo (art. 6.º). A alternativa a esta organização
empresarial de âmbito europeu é a sociedade anónima europeia (SE), não se escamoteando que são realidades substancialmente
diversas, sendo a densidade do compromisso jurídico-económico muito + relevante nas SE, como vimos supra, resultam da
fusão de diversas sociedades anónimas oriundas de vários EM da UE.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

2.3.6. Sociedades Gestores de Participações Sociais (SGPS)


SGPS- têm por único objeto contratual a gestão de participações sociais noutras sociedades, como forma indireta de exercício
de atividades económicas (art. 1.º do DL n. º495/88 de 30 de dez). Podem revestir a forma de sociedades anónimas ou
sociedades por quotas podendo adquirir e deter quotas ou ações de quaisquer sociedades.
2.3.7. Sociedades Coligadas e Grupos de Sociedades
SGPS- não se desenvolve diretamente uma atividade económica, mas através de outras sociedades.
Sociedades coligadas- todas elas desenvolvem diretamente uma atividade económica. Não se pode confundir as sociedades
coligadas com a fusão de sociedades, neste caso há a concentração numa só entidade jurídica de realidades jurídico-económicas
anteriormente autónomas, enquanto que as sociedades coligadas mantêm cada uma a sua individualmente jurídica.
O legislador elenca no âmbito das “sociedades coligadas”, que desenvolvem uma atividade numa lógica comum, as que se
encontram em relação de simples participação, em relação de participações recíprocas, em relação de domínio e em relação de
grupo (sentido estrito) (art. 482.º CSC). Esta distinção conforma a diversa forma e intensidade de ligação entre as sociedades
em questão (art. 483.º e ss).
Sociedades em relação de grupo- haverá que distinguir os grupos constituídos por domínio total, os contratos de grupo
paritário e os contratos de subordinação.
A apreciação anual da situação das sociedades obrigadas à consolidação de contas sobre o facto de que os órgãos competentes
devem apreciar as contas, no prazo de 5 meses (art. 508.º- A n. º2 CSC).
2.4. As sociedades comerciais nos ordenamentos jurídicos estrangeiros
2.4.1. Espanha - Prevê-se a possibilidade de tipos sociais que apresentam semelhanças com os tipos existentes em PT.
Sociedad anónima corresponde sociedade anónima; sociedad colectiva assemelha-se à sociedade em nome coletivo; sociedad
de responsabilitad limitada identifica-se com a sociedade por quotas; sociedad comanditaria assemelha-se à sociedade em
comandita; sociedad limitada nueva empresa pode ser constituída por 1 até 5 pessoas, sendo de responsabilidade limitada,
apresentando algumas semelhanças coma sociedade unipessoal por quotas.
2.4.2. Itália - Distinguem-se as societá di persone (societá semplice- próximas das sociedades civis, societá in nome coletivo
e as societá in accomandita semplice) das societá di capitali (societá per azioni- sociedades anónimas- societá in accomandita
per azioni e societá a responsabilità limitata- sociedade por quotas).
2.4.3. Alemanha - Como na Itália, na Alemanha faz-se uma distinção entre as sociedades de pessoas (sociedade civil (GbR);
sociedade em nome coletivo (oHG); sociedade em comandita (KG)) e as sociedades de capitais (sociedade de responsabilidade
limitada (GmbH); sociedade por quotas e sociedade anónima (AG)).
2.4.4. EUA – Verifica-se uma situação semelhante à que conhecemos da Inglaterra com as partnerships e as corporations.
Haverá que proceder à distinção entre as public corporation com atinências às sociedades anónimas e as close corporation
com afinidades com as sociedades por quotas.

3. Constituição de sociedades comerciais


3.1. Forma e formalidades: distinção
Constituição das sociedades comerciais- proceder à distinção entre o que significa a forma do negócio jurídico e em que
consistem as formalidades que tal realidade pode implicar (este conceito prende-se com o modo de exteriorização do negócio
jurídico). Tal realidade negocial pode manifestar-se verbal ou consensualmente, por mero doc escrito, mediante doc particular
autenticado ou por escritura pública.
Atos acessórios- conformados pelas formalidades e chamados assim porque se encontram de algum modo conectados com o
negócio, mas dele não fazem parte integrante, nem com ele se identificando.
As formalidades podem ocorrer anteriormente, a par da celebração ou em momento posterior à concretização do negócio.
EXEMPLO: indicar o momento em que o notário verifica a identidade dos outorgantes, procedendo após isso à leitura em voz
alta do teor do doc em causa, explicando os aspetos em seu critério + complexos do seu conteúdo.
3.2. Forma
Direito Comercial e das Sociedades – exame

Anteriormente impunha-se a celebração do contrato por meio de escritura pública; o art. 7.º CSC determina que isso só ocorre
quando se entrar para a sociedade com um bem que disponha tal formalidade, ver art. 875.º CC; restantes casos é suficiente
um doc escrito.
Os efeitos jurídicos do contrato da sociedade são determinados pelos estatutos ou pacto social e pela lei. No caso das sociedades
unipessoais se trata de um ato jurídico unilateral de constituição da sociedade.
Devem constar os estatutos os requisitos previstos no art. 9.º CSC. Entre eles: referir o nome ou firma dos sócios, o tipo de
sociedade, o capital social, a participação de cada sócio bem como o montante já entregue, a especificação dos bens em espécie
assim como do respetivo valor.
A sociedade constituída entre cônjuges é permitida desde que apenas um dos cônjuges assuma responsabilidade ilimitada (art.
8.º, n. º1 CSC). É possível que um casal constitua uma sociedade por quotas ou anónima, mas não uma sociedade em nome
coletivo. Na sociedade em comandita é possível desde que apenas um dos membros do casal seja sócio comandito
3.3. Formalidades: modo tradicional, constituição imediata de sociedades (“sociedades na hora”) e sociedade online
3 modos de constituir uma sociedade comercial:
- “Processo tradicional” - caracteriza-se pela necessidade de deslocação dos promotores da sociedade a diversas entidades
oficiais. Inicia-se coma redução a escrito do contrato de sociedade ou ato constitutivo e reconhecimento presencial das
assinaturas, obrigatório ir ao cartório notarial para escritura pública, apenas se o bem com que se entrou para a empresa
sociedade assim o obrigar. Impõe-se o contacto com o Registo Nacional de Pessoas Coletivas com vista à obtenção do
Certificado de Admissibilidade da Firma, o NIPC e o Cartão de identificação da pessoa coletiva. Numa repartição das finanças
processa-se a atribuição do número fiscal de contribuinte e a declaração de início de atividade. Depois, tem de ir à seg. Social
e da Autoridade para as condições de Trabalho. Por fim, é necessário proceder ao registo comercial (arts. 5.º e 18.º/3 CSC e
CRC) e a publicações (arts. 3..º, a), 70.º 1 a) e 2 e 71.º CRC; 167.º CSC).
- Regime de constituição imediata de sociedade (“empresa na hora”) – DL nº 111/2005, de 8 de julho, cria um regime de
constituição imediata de sociedades comerciais e civis em forma comercial do tipo por quotas e anónima (art. 1.º), não se
aplicando às sociedades europeias (art. 2º c). A firma pode ser constituída por expressão de fantasia previamente criada e
reserva a favor do estado ou apresentação de certificado e admissibilidade de firma emitido pelo RNPC; opção por pacto ou
ato constitutivo de modelo aprovado pelo presi do instituto dos registos e do notariado (art. 3.º). O procedimento deve ter início
e termo no mesmo dia, através de atendimento presencial único (art. 5.º). os interessados formulam o pedido junto do serviço
competente, verificando-se a capacidade, a identidade e os poderes de representação. Os sócios declaram que o depósito das
entradas em dinheiro será realizado no prazo de 5 dias úteis, caso ainda não o tenham feito. Podem entregar imediatamente a
declaração de início de atividade para efeitos fiscais, devendo os serviços fiscais notificar a SS de tal facto por via eletrónica
(art. 6.º e 7.º). concluído o procedimento de constituição da sociedade, o serviço competente de imediato aos representantes, a
título gratuito, uma competente entrega de imediato aos representantes, a título gratuito, uma certidão do pacto ou ato
constitutivo e do registo deste último (art. 12.º).
- Regime especial de constituição online de sociedades (“empresa online”) – DL nº 125/2006, de 29 de junho- regula a
constituição de sociedades comerciais e civis sob a forma comercial, do tipo por quotas e anónima, através de sítio na internet
(art. 1.º). Não se aplica às sociedades cujo capital seja realizado com recurso a entradas em espécie em que para a transmissão
dos bens com os sócios entram para a sociedade, seja exigida forma mais solene do que a forma escrita, bem como às SE (art.
2.º). A entrega dos dados e doc devem ser efetuadas mediante autenticação eletrónica ou aposição de uma assinatura eletrónica
(art. 5.º). advogados e solicitadores podem intervir (art. 7.º). a validação do pedido de constituição só é considerado validamente
submetido após a emissão de um comprovativo eletrónico que identifique a data e hora em que o pedido foi concluído (art.
10.º). O prazo de apreciação é, em certos casos, 2 dias. Os procedimentos subsequentes: prevê-se a comunicação do código de
acesso do cartão eletrónico da empresa e do n.º de identificação da sociedade na SS e envio posterior do cartão da empresa a
título gratuito (art.12.º).
3.4. Licenciamento
Depois da concessão da sociedade é necessário que esta seja licenciada para desenvolver a sua atividade, é um processo moroso,
contudo é possível constituir sociedades no espaço de cerca de 1h ou online.
Par diminuir os efeitos desta obrigação têm sido tomadas medidas legais que tornem mais expedita a concessão de licenças.
Foi aprovado o “licenciamento zero” para a área da restauração ou de bebidas, de comércio de bens, de prestação de serviços
ou de armazenagem, que permite ao comerciante iniciar logo a sua atividade, sendo posterior a fiscalização pelas autoridades
Direito Comercial e das Sociedades – exame

no sentido de conceder o negar a licença. Esta medida procura diminuir gastos de caráter administrativos sobre empresários,
pois eliminam as licenças, autorizações, vistorias e condicionamentos prévios substituindo-os pelas fiscalizações “a posteriori”.
Foi instituído o Sistema da Indústria Responsável que estabelece os procedimentos necessários ao desenvolvimento de uma
atividade de caráter industrial e à constituição de Zonas Empresariais Responsáveis. Objetivos: salvaguardar a saúde pública
e dos trabalhadores, a qualidade do ambiente e de um correto ordenamento do território e a simplificação dos procedimentos
da AP.
3.5. As sociedades aparentes
Pode ocorrer que 2 ou + pessoas, tendo em vista obter determinado tipo de vantagens, criem junto de 3.ºs a convicção de que
integram uma sociedade comercial, que não pretendem constituir. A afirmação de que certo negócio jurídico é celebrado por
uma sociedade comercial confere > segurança à contraparte dada a eventual pujança económico-financeira que tais entidades
patenteiam.
As eventuais dívidas, os aparentes sócios (ou sócio único) não poderão invocar em seu proveito a existência de tal sociedade
e inerente desresponsabilização (art. 36.º CSC).
3.6. As sociedades irregulares
São sociedades que no respetivo processo de constituição (ainda) não cumpriram os requisitos formais legalmente previstos.
Em tal situação verifica-se a manifesta intenção de constituir uma sociedade comercial.
Será de destacar a sociedade comercial que inicia a sua atividade antes de formalizado o respetivo contrato de constituição (art.
36.º, nº 2 CSC) e a sociedade comercial que começa a desenvolver a sua atividade entre a celebração do contrato e o seu registo
definitivo (art. 40.º CSC).
Pelos negócios realizados em nome de uma sociedade por quotas, anónima ou em comandita por ações, respondem ilimitada
e solidariamente todos aqueles que no negócio agirem em representação da sociedade, assim como aqueles que autorizem esses
negócios. Os sócios respondem até às importâncias das entradas a que se obrigam, acrescidas do que tenham recebido a título
de lucros ou de distribuição de reservas.
3.7. As sociedades comerciais estrangeiras a operar em Portugal
3.7.1. Apreciações iniciais
Crescente globalização da economia e o desenvolvimento do comércio eletrónico
De acordo com o CSC (art. 4.º), uma sociedade com sede efetiva em determinado Estado, e que exerça uma atividade comercial
em PT que se prolongue por + de um ano, tem a obrigação de instituir uma representação permanente e de registá-las nos
termos previstos nas leis nacionais.
Mencionar as regras específicas da UE que se relacionam com esta situação, conferindo especial atenção à liberdade de
prestação de serviços e de estabelecimento. Importará saber, depois, se com a adição do n. º4 ao art. 4.º CSC estarão as
sociedades comerciais de EM da UE isentas da obrigação de instituição de uma representação permanente em PT.
A realidade em questão foi regulada pela primeira vez em PT pelas “Ordenações Afonsinas” que estipulavam em 1433 regras
precisas sobre esse tipo de operação comercial. O DTO sofreu grande evolução até aos nossos dias, sendo de assinalar que o
fenómeno teve um incremento substancial a partir de 1986 com a integração de PT nas então designadas Comunidades
Europeias, atualmente UE.
O desenvolvimento transnacional das sociedades consiste num aspeto fundamental no sentido da construção do mercado
interno da UE.
3.7.2. Os problemas que o comércio transnacional suscita
A atividade em determinado país de sociedades comerciais que a exercem sem o respetivo registo pode causar problemas:
menor proteção dos consumidores, dos fornecedores, dos credores, dos direitos de personalidade, da correta concorrência…
É importante a existência de regras que defendam os direitos e os interesses de todos aqueles que se possam ver p0rejudicados
pela atuação das grandes companhias multinacionais. A questão afigura-se + complexa mediante as transações que se
desenvolvem através do comércio eletrónico (As novas tecnologias modificam e dinamizam as instituições jurídicas e muito em
Direito Comercial e das Sociedades – exame

especial as comerciais). A Diretiva 2000/31/CE do PE e do C, de 8 de junho, transposta para PT, visa facilitar a construção do
mercado interno da UE e proteger a segurança jurídica e a confiança dos consumidores europeus.
Dados concretos: de 2008 a 2012 1.4% da atividade de sociedades estrangeiras em PT, em relação ao total das sociedades com
sede noutro país, esta percentagem representava 21.8% do volume de negócios celebrados em PT por sociedades não
financeiras (quinta parte). Cada sociedade estrangeira dava trabalho, em média, a 66.5 trabalhadores, enquanto as portuguesas
Empregavam somente 6.8 pessoas.
3.7.3. Análise de Direito positivo
3.7.3.1. A questão
Às sociedades comerciais que integram relações jurídicas de diversa complexidade é necessário aplicar uma determinada lei
que regule os aspetos fundamentais, desde o seu surgimento até à sua extinção.
Por outro lado, a problemática que a ação de empresas em país distinto do da sua sede apresenta coenvolve questões que, ab
initio, se integram no DIP.
Como refere a doutrina, a questão deverá ser analisada em 2 planos: aspeto interno: haverá que determinar o regime jurídico
de realidades como a constituição, o funcionamento ad intra ou a extinção, sendo conveniente submetê-las a uma única lei;
aspeto interno: é conveniente atender à regulamentação da atividade da sociedade estrageira.
Art. 3.º- as sociedades comerciais têm como lei pessoal a lei do Estado onde se encontre a sua sede principal e efetiva da sua
administração (sede real e ñ estatuária). Art. 4.º- refere que são estrangeiras as sociedades comerciais que não tenham a “sede
efetiva em PT”. Para efeitos de insolvência é determinante no âmbito da UE e CIP.
Este critério apresenta a vantagem de atribuir o estatuto de acordo com a efetiva conexão entre a sociedade e uma ordem
jurídica, com suficiente estabilidade e respeito pela autonomia da pessoa coletiva, mas a desvantagem de insegurança jurídica
sempre que um possível interessado não possa aceder à informação sobre o local onde as atividades sociais se realizam.
3.7.3.2. Artigo 4.º nº1 do CSC
a) A proteção de terceiros
Art. 4.º, n.º1 CSC- ler
As normas que fazem parte do referido dispositivo legal visam a proteção dos interesses de terceiros no comércio jurídico
local. Antes da sua publicação verificava-se certa insegurança jurídica, pois os destinatários de prod.s e serviços tinham
dificuldade logística e financeira para demandar uma entidade com sede num país extremamente distante, sendo complicado
obter dados quer permitiam promover uma ação judicial.
Em concreto não será fácil saber a quem se deve dirigir a vítima de um derrame de produtos químicos, um consumidor por
produtos defeituosos, uma pessoa que trabalhou em determinada sociedade comercial, um empresário que sofre concorrência
desleal ou por sociedade que não cumpre as regras da concorrência impostas pela UE.
A atividade das sociedades comerciais é de caráter privado, contudo assume relevância de ordem pública sendo oponível erga
omnes, daí a necessidade de regulamentar a atuação das sociedades estrangeiras noutro país.
b) A representação da sociedade comercial estrangeira
A sociedade é representada por pessoas físicas. Ainda que se aceite uma entidade coletiva como membro da administração
(esta será representada por uma pessoa física). Gerentes, administradores, mandatários ou pelos próprios trabalhadores.
A representação no âmbito das transações económicas é um processo jurídico para que uma pessoa intervenha em atos ou
negócios jurídicos declarando a sua própria vontade, para que esta produza os seus efeitos na esfera pessoal ou patrimonial de
outra. Nas médias e grandes empresas a > parte das relações jurídicas estabelecem-se através de representantes.
A representação permanente é constituída por aqueles que possam representar e vincular a sociedade estrangeira,
independentemente de se qualificar como uma filial, uma sucursal, um escritório ou outra realidade.
Acerca da forma do contrato do modo como se manifesta ou declara a vontade das partes a regra é liberdade de forma. De
modo escrito ou verbal o determinante é que o representado expresse a sua vontade de que certa entidade o represente e vincule
em certos negócios jurídicos. O representante deve declarar em nome de quem atua.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

c) A representação permanente
Para o legislador determinadas sociedades comerciais estrangeiras que atuem em PT deverão constituir uma representação
permanente. O facto determinante é que a atividade se prolongue por + de 1 ano, assim, uma sociedade que começa a atuar
pontualmente em PT não precisa de representação permanente, somente se a sua atividade exceder o prazo de 1 ano. Uma
sociedade que desde logo pretenda atuar em PT por mais de 1 ano deve criar, ab initio, uma representação permanente.
d) O conceito de “atividade”
A atividade é uma característica ontológica do ser-se comerciante.
O que se afigura determinante é que a prática da atividade se produza em condições de concorrência com os comerciantes
locais para o mesmo tipo de produtos ou serviços tendo como destinatária o mesmo tipo de clientela. Este é o critério adotado
pela doutrina para determinar se se trata de liberdade de estabelecimento ou de liberdade de prestação de serviços. Considera-
se que se trata de liberdade de estabelecimento quando está em causa a captação continuada de clientela no Estado recetor.
A competitividade internacional pode definir-se como a capacidade que tem uma empresa para alcançar > e melhor rendimento
sobre os seus competidores nos mercados estrangeiros e preservar as condições que sustentam os seus rendimentos atuais e
futuros.
e) Obrigação de registo de representação permanente
O mais habitual é a criação de filiais e sucursais, mas podem ser outras (delegações/ escritórios de representação) desde que
fique claro exempli causa na sua firma, que se trata de representantes de uma sociedade comercial estrangeira.
Diferenças:
Filial: Sucursal:

- Goza de personalidade jurídica; - ñ goza de personalidade jurídica, pois é parte integrante


da sociedade com. estrangeira;
- Tem autonomia jurídica e património autónomo;
- Estabelecimentos secundários dotados de repre.
- Rege-se pelos seus próprios estatutos e órgãos de gov. e
permanente, criados por uma soc.com. estrangeira no
admi;
território de um Estado para aí desenvolver atividades
- Ñ é completamente autónoma do ponto de vista próprias do seu objeto;
económico nem da gestão relativamente à soc. mãe que a
- Detêm certa autonomia de gestão;
controla.
- A entidade que responde pelas dívidas é a soc.com.

“sucursal à hora” - DL n.73/2008, de 16 de abril defende que a sucursal como representação permanente em PT de entidades
estrangeiras pode ser constituída de modo mais simplificado e num único dia. Permite a disponibilidade de um registo
comercial em Inglês.
3.7.3.3. Incumprimento das obrigações legais. Responsabilidade por dívidas.
Art. 4.º, n. º2 e 3 CSC- consequências do incumprimento de tal norma legal. Afeta também as soc.com. que tenham uma repre.
permanente, mas que não a tenham registado.
Número 2- sociedade que não cumpra o determinado na disposição anterior fica obrigada pelos atos praticados em seu nome
em PT, respondendo solidariamente com ela as pessoas que os tenham praticado e os gerentes ou administradores da soc.
O objetivo do legislador é a tutela de terceiros que celebrem contratos com a soc. incumpridora. Ao responsabilizar não apenas
a soc.com. estrangeira pelas obrigações constituídas em seu nome e aqueles que praticaram os atos.
Todos os que atuaram em nome da sociedade têm/devem ter conhecimento de que não foi cumprido o legalmente disposto,
justificando-se a sua responsabilidade. O representante tem legitimidade passiva e ativa em Tribunal em representação da soc.
A falta de representação permanente e o seu registo é imputável aos administradores ou gerentes da soc a quem compete
promover os 2 atos.
A responsabilidade é de caráter objetivo e não mediante a prova da culpabilidade ou com o ónus de provar a inocência. É o
que ocorre no estipulado nos art.72.º CSC e 24.º LGT. Esta responsabilidade radica uma medida compulsória sobre os gestores
da soc.com. de modo a que, de forma diligente, procedam de acordo com o que estabelece a lei para estes casos.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

3.7.3.4. Incumprimento das obrigações legais: cessação da atividade em PT e liquidação do património


O tribunal pode ordenar a requerimento de qualquer interessado ou do MP, que a sociedade que não cumpra o disposto no n.º
1 art. 4.º ponha termo à sua atividade em PT e liquide o património aqui existente. As pessoas singulares que não se encontram
de modo legal num país têm que abandoná-lo, de igual modo se passa com as sociedades comerciais.
Quanto ao poder/dever do representante do Estado de solicitar em tribunal a aplicação desta norma atende à proteção do
interesse público, da legalidade e da economia nacional.
É razoável um credor solicitar a liquidação do património da soc. existente em PT como meio de ressarcir os danos patrimoniais
sofridos, já parece exceder a medida do seu interesse a previsão legal de que possa pretender a extinção da atividade da soc.
estrangeira. O tribunal PT deverá decidir de acordo com a estrita satisfação dos interesses em presença, não decretando a
cessação da atividade da sociedade em caso de que não o considere necessário.
A sociedade que cumpra as obrigações (Art. 4.º, 1 CSC) poderá ser declarada insolvente. A sociedades que têm relação com
vários EM da UEE o respetivo processo de insolvência deverá decorrer no EM. Uma sociedade com sucursais em vários EM,
mas com o seu CIP situado em PT, vê a sua insolvência ser decretada em PT de acordo com as leis pt.
O CIP é onde se situa a administração, o conjunto de atividades estratégicas, executivas e administrativas relativamente a
contabilidade, IT, marketing, etc. É um conceito difícil de concretizar e a jurisprudência do TJUE tem-se pronunciado sobre o
assunto.
3.7.3.5. A UE e as Liberdades de circulação
Art. 3.º TUE- promoção da paz, os valores da UE e o bem-estar dos seus povos (desideratos mediatos); consagração do mercado
interno e a UEM (instrumentos imediatos).
O princípio da não descriminação- os cidadãos dos EM deverão ser tratados segundo as mesmas condições jurídicas
(“tratamento nacional” art. 18.º TFUE”)
Compreende um espaço sem fronteiras internas em que a livre circulação de mercadorias, de pessoas, dos serviços e dos capitais
seja uma realidade (art. 26.º TFUE).
a) Análise geral
Liberdade de circulação de mercadorias (art. 28.º 1 TFUE); prevê-se a cooperação aduaneira e a proibição das restrições
quantitativas entre EM; livre circulação de pessoas; (art. 49.º e 50.º 2 a) TFUE); liberdade de circulação e construção do
mercado interno (art. 56., 57.º TFUE); livre circulação de capitais (art. 63.º e 66.º TFUE).
Acórdãos: Acórdão Uberseering art. 43.º e 48.º (atuais 49.º e 54.º TFUE); Acórdão Inspire Art; Acórdão Innoventif; Acórdão
Impacto azul; Acórdão Daily Mail; Acórdão Centros;
b) A liberdade de prestação de serviços e de estabelecimento e o n.º 4 do CSC. Reflexão sobre a sua interpretação
3.8. Contrato promessa da sociedade
Através do qual se vinculam as partes a celebrar no futuro um contrato de sociedade, devendo, neste caso, os promitentes
sócios celebrar o contrato por escrito (Art. 410.º 1 e 2 CC).
Interessa saber se estarão os promitentes contratantes sujeitos a execução específica, sendo obrigados a celebrar o contrato
prometido estando sujeitos a sentença que produza os efeitos negociais do faltoso (art. 830.º, n.º1 CC). Nesta norma, in fine,
prevê que tal não será aplicável quando isso se oponha da obrigação assumida.
Não parece crucial obrigar 2 pessoas a seres sócias contra vontade pelo que isso representaria de problemas para o
desenvolvimento das relações sociais. De facto, o caráter intuitu personae da sociedade não conduz a outra solução. Os danos
ocorridos e provados deverão ser ressarcidos por parte de quem falta à obrigação assumida.
4. Efeitos da constituição da sociedade comercial.
4.1. Aquisição de personalidade jurídica
Art. 5.º CSC- as sociedades gozam de personalidade jurídica, ou seja, existem enquanto pessoa jurídica autónoma distinta da
dos sócios sobre os bens sociais.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

Acrescem direitos de natureza extrapatrimonial como o de ser eleito para os cargos sociais, o de participar mediante o voto na
formação da vontade coletiva, o de fiscalizar a ação dos administradores ou gerentes, o de impugnar nas deliberações tomadas
nas reuniões de sócios ou nas assembleias gerais em oposição à lei ou aos estatutos.
Como consequência da personalidade jurídica da sociedade ela é que é titular de direitos e obrigações e responde por dívidas
com o seu património (art. 601.º CC), sendo possível um sócio celebrar negócios com a sociedade, como ocorre com os
suprimentos. A sociedade mantém a sua identidade ainda que se dê a respetiva transformação em tipo legal (arts. 130.º e ssCSC)
A doutrina a chamar a atenção para o instituto da “desconcentração da personalidade jurídica” da soc.com. e consequente
subjetividade jurídica.
Atendendo ao abuso de DTO que conforma a utilização dessa fig. jurídico-comercial, deve chegar-se à essência de certos atos
jurídicos, como seja a constituição de uma soc.com. violadora da obrigação implícita de não concorrência após um trespasse/
a venda de bens a uma soc. constituída por alguns filhos, sem autorização dos demais, violando art. 877.º CC.
4.2. A autonomia patrimonial das sociedades comerciais
A personalidade jurídica pressupõe a autonomia patrimonial da soc. A capacidade para se obrigar supõe a existência de algo
que possa obrigar-se.
Autonomia patrimonial:
Perfeita- quando por dívidas dos sócios nunca responde o acervo social. Perante certos tipos sociais, como a soc. por quotas
ou da soc. anónimas apenas o património social responde por dívidas geradas pela própria soc. (arts. 197.º 3 e 271.º CSC).
Imperfeita- quando a soc. em nome coletivo e a soc. em comandita detêm um regime jurídico que prevê a possibilidade de os
sócios, ainda que subsidiariamente em relação à soc., responderem por dividas sociais.
4.3. A capacidade jurídica das sociedades comerciais
A capacidade jurídica das soc.com. é o conjunto de direitos e obrigações de que uma soc.com. pode ser titular.
A atribuição de personalidade jurídica às pessoas coletivas e os poderes que lhe são conferidos.
A respeito das soc.com., considera há muito tempo a doutrina, que estas têm individualidade jurídica diferente da dos sócios
(art.108.º CC).
Estipula claramente o legislador que as soc.com., a partir da data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem
“gozam de personalidade jurídica” (art. 5.º CSC). A prévia celebração do contrato de soc. é um pressuposto importante no
processo de aquisição de personalidade jurídica por parte das soc.com.
Princípio da especialidade- no que se refere à capacidade de gozo das pessoas coletivas (art.160.ºCC)- objeto social.
N.º 1, 2, 3 e 4 primeira parte respeitam à capacidade dos órgãos sociais e o n.º5 à responsabilidade da soc. pelos atos praticados
pelos seus representantes.
Art. 160.º CC- a capacidade relaciona-se com a finalidade imediata/ objeto social, no art. 6.º, n.º1 CSC a capacidade prende-
se com a finalidade mediata ou teleológica que é o fim lucrativo. (art.980.º).
Não são legais os negócios jurídicos em que existe um espírito de liberdade e não prestações de ambas as partes e correspetiva
equivalência ou equilíbrio entre elas.
A capacidade das soc.com. compreende os direitos e as obrigações necessários ou convenientes à prossecução do seu fim
(art.6.º 1CSC).
Art. 6.º, n.º2 CSC- liberdades que sejam consideradas usuais, de acordo com as circunstâncias da época e as próprias condições
da soc., não são contrárias ao fim desta. Foi o legislador sensível à realidade de que por vezes o comerciante procede a
transmissões patrimoniais a favor de outrem sem que se possa considerar que vão propriamente contra o fim último, antes o
potenciando indiretamente. É o que ocorre com o mecenato quando uma soc. colabora na prossecução de um evento de índole
fazendo-se desse facto a devida publicidade. Para além das eventuais vantagens de caráter fiscal, tal conduta, embora implique
uma saída de património da soc., vai em última análise em benefício da soc. Quando uma soc. concede bolsas de estudos a
alunos, quando oferece uma viagem aos melhores clientes ou quando patrocina uma soc. desportiva, tais decisões irão direta
ou indiretamente em prol dos interesses societários.
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O legislador limita estas liberalidades às que se considerem usuais, ou seja as que se reveem numa prática social reiterada por
parte dos comerciantes.
5. Desenvolvimento das atividades sociais
5.1. Direitos e deveres gerais dos sócios

5.1.1. Deveres de entrada


A obrigações dos sócios determina o art. 20.º a) CSC a de entrar para a soc. com bens suscetíveis de penhora e, se legalmente
permitido, com indústria.
5.1.2. Prestações acessórias
Prestações acessórias- obrigações acordadas inicialmente no pacto de sociedade que podem consistir em qualquer ato ou
atividade do sócio que vá em prol dos objetivos sociais.
Estas prestações podem consistir na construção das instalações necessárias ao desenvolvimento da atividade empresarial a que
a sociedade se propõe ou o fornecimento de certos bens ou serviços ligados a anterior profissão desempenhadas por
determinado sócio.
Arts. 209.º CSC- soc. por quotas/ 287.º CSC- soc. anónimas. Estas prestações podem ser onerosas ou gratuitas e o seu
incumprimento não determina a exclusão do sócio da sociedade.
5.1.3. Prestações suplementares
A obrigação de prestações suplementares exclusivas das soc. por quotas de acordo com alguns requisitos consagrados (art.210.º
e ss).
Embora situado em termos sistemáticos esta realidade do direito societário no conjunto de normas que rege as soc. por quotas
em sede de interpretação extensiva, aplicar igualmente às soc. anónimas. Não se vislumbra argumentos relevantes em sentido
contrário.
As mesmas deverão constar obrigatoriamente do contrato de soc. e consistir em dinheiro. Impõe-se que a obrigação concreta
de prestar suplementos derive de deliberação dos sócios (art. 210.º 1 e 211.º 1 CSC). Estas prestações não são devidos juros
remuneratórios pois poder-se-ia colocar em causa o princípio da conservação do capital social por se destruírem juros em anos
em que as contas de exercício demonstrassem a existência de prejuízos (art.210.º5 CSC).
A importância deste compromisso e a necessidade da sua ponderação cuidada reside no facto de que caso o sócio não
corresponda, quando solicitado, à prestação suplementar a que se obrigou poderá ser excluído da soc. e a perda total ou parcial
da quota (art.212.º, 204.º e 205.º CSC).
Quanto à restituição das prestações suplementares, que tal só ocorrerá se a situação líquida não ficar inferior à soma do capital
social e reservas e o sócio tenha liberado a sua quota (art.213.º CSC).
5.1.4. O contrato de suprimento
À prestação de suprimentos que consistem (art.243.º CSC) no contrato pelo qual o sócio empresta à soc. dinheiro ou outra
coisa fungível, ficando aquela obrigada a restituir outro tanto do mesmo género ou qualidade.
Poderão os suprimentos consistir na convenção mediante a qual determinado sócio concorda com o deferimento do vencimento
de créditos seus sobre a soc. O crédito deve ter caráter de permanência, constituindo um indício de permanência o acordo de
um prazo superior a 1 ano. A finalidade deste tipo contratual consiste num relevante meio de acesso ao crédito por parte de
soc.com. que, de outro modo, não o obteriam ou em que tal ocorreria com custos elevados junto da banca.
A obrigação de prestação de suprimentos diversamente do que ocorre com os suplementos, não é necessária a sua previsão no
pacto social, nem sequer a existência de uma deliberação dos sócios, sendo a sua celebração competência normal de gerência
ou da administração em sede de gestão corrente.
A questão da obrigatoriedade ou ausência dela, por parte da soc. devedora, de pagamento de juros remuneratórios, face ao
silêncio da lei tem a doutrina procedido à sua análise. No caso do contrato de mútuo se reconhece a sua tendencial onerosidade
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(art. 1145.º 1 CC), considera-se que quanto ao contrato de suprimento, que consiste numa contribuição ou num auxílio que o
sócio faz à soc. a que pertence, sem convenção escrita que o estipule de modo inequívoco não haverá obrigação de juros (art.
102.º CCom).
Em caso de insolvência da soc.com. os suprimentos encontram-se legalmente concatenados na classe dos créditos subordinados
naqueles que apenas são pagos após o cumprimento da satisfação dos créditos das demais classes (art. 47.º 4 b) e 48.º g) CIRE).
5.2. Aquisição e distribuição dos lucros
Elementos essenciais de qualquer soc. (art. 980.º CC)
O legislador determina como um dos dtos dos sócios o de quinhoar nos lucros (art.21.º CSC). A percentagem de lucros a
distribuir por cada sócio encontra-se vinculada, salvo convenção em contrário, ao valor da participação de cada 1 no capital da
respetiva soc. (art. 22.º CSC). O legislador refere-se a lucros do exercício que não deverão ser distribuídos e que abordaremos
mais adiante acerca da conservação do capital social (art.33.º CSC).
Determina-se uma parte dos lucros de exercício que deverão ser obrigatoriamente distribuídos pelos sócios (art.217.º CSC-
soc. por quotas; art.294.º- soc. anónimas).
5.3. As perdas sociais
Suportar as perdas da soc. está a cargo dos sócios.
Poder-se-ão considerar perdas sociais ou prejuízos a diminuição do património da soc.com. relativamente às entradas com que
o projeto empresarial teve início, ou seja, o património com que se arriscou aquando da sua constituição. Estas perdas podem
ter consequências concretas na diminuição da distribuição de lucros, no menor valor das reservas e em certos tipos de soc.com.,
na responsabilização dos sócios pelo pagamento das dívidas geradas por tal circunstância.
Como ocorre com os lucros, deverão as perdas de cada sócio ser calculadas por regra em função da respetiva participação
social. Se apenas se fizer referência à parte dos lucros nos estatutos constituintes da soc.com. em causa, serão as perdas
concomitantemente calculadas. A proibição de aposição de cláusula que conforme verdadeiro pacto leonino como poderá
ocorrer caso de se afaste um sócio dos lucros ou isente de perdas.
5.4. O património e o capital social
5.4.1. Distinção dos conceitos
Património- é o conjunto de relações jurídicas com valor económico, isto é, avaliável em dinheiro de que é sujeito ativo e
passivo uma soc.com. É possível considerar o património da soc.com., designado como “capital próprio” (ativo menos
passivo), como um dos seus essentialia negotii (art. 980.º CC).
Capital social- consiste num valor ideal e abstrato que representa a soma das entradas dos sócios, sendo, como tal,
impenhorável, diversamente do que sucede com o património que poderá ser vendido para que se proceda ao pagamento de
dívidas.
Convirá aduzir que o capital social é um valor tendencialmente imutável, servindo de referência para certos parâmetros como
a existência de lucros ou de perdas.
5.4.2. Capital social mínimo. Análise do seu interesse atual
Nas soc. civis e nas soc. em nome coletivo e comandita não é obrigatória a existência de capital social. Tal decorre do facto de
a resposta por dívidas poder incluir o património dos sócios.
Quanto à soc. de responsabilidade limitada (SA e SpQ) a existência de um capital social visa proteger terceiros que se
relacionem com a soc. em causa. No que se refere ao financiamento. Quanto à conservação que visa impedir ou limitar o
esvaziamento do património de soc. num contexto em que apenas elas e não os sócios respondem por dívidas.
5.4.3. A conservação do capital social
Ao capital social compete determinar a posição relativa dos sócios quanto a direitos, como direito a dividendos, direito de
participação em assembleias gerais e direito de voto, e deveres, como o dever de entrada, perdas e outros.
Inicialmente património e capital social são coincidentes, permite conhecer se a soc. está a obter lucros ou prejuízos
comparando o que se arriscou no início da atividade e a situação patrimonial da soc. findo cada exercício económico. Visa
proteger os sócios e os credores da sociedade.
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Assenta na proibição de distribuir pelos sócios bens da sociedade quando a situação líquida desta for inferior à soma do capital
social e reservas que a lei ou contrato não permitam distribuir aos sócios ou se tornasse inferior a esta soma em consequência
da distribuição (art. 62.º CSC). Não podem ser distribuídos aos sócios os lucros do exercício necessários para cobrir prejuízos
transitados ou para formar ou reconstruir reservas impostas pela lei ou pelo contrato da soc. (art. 33.º CSC).
O legislador pune as condutas contrárias ao estatuído nestes preceitos, obrigando os sócios a restituir à soc. os bens que dela
tenham recebido com violação do disposto na lei, a não ser que desconhecessem a irregularidade ou a não devessem conhecer
(art. 34.º CSC). A conservação do capital social consiste na necessidade de manter uma proporção determinada entre o CP e o
CS (art. 35.º CSC).
A palavra-passe é “informação”, desde logo informação aos sócios. Resultando das contas de exercício ou de contas
intercalares que metade do CP se encontre perdido ou havendo fundadas razões para admitir que essa perda se verifica, devem
os gerentes ou administradores convocar ou requerer a convocação de imediato uma AG a fim de nela se informar os sócios
da situação e de estes tomarem medidas julgadas convenientes.
Do aviso convocatório da AG constarão da ordem de trabalhos, pelo menos, a dissolução da soc., a redução, do CS para
montante não inferior ao CP e a realização pelos sócios de entradas para reforço da cobertura de capital.
Visa-se informar terceiros sobre a situação real da sociedade. Sucede que a razão de esta norma na prática se tratar de “letra
morta” consiste no facto de que se a soc. já se encontra numa situação económico-financeira difícil ainda mais ficará se se
informar os potenciais interessados em celebrar negócios vantajosos para a soc. de que esta se encontra em tal situação.
Art. 523.º CSC. O gestor que não cumpra o comando legal presente no art. 35.º, n.º1 e 2, fica sujeito a uma oena de prisão até
3meses e multa até 90 dias.
Outra vertente da intangibilidade do CS reside em que tendencialmente se verifica a inalterabilidade do CS. Excecionalmente
pode ter lugar um aumento de CS (arts. 87.º ss CSC) ou redução de CS (art. 94.º ss CSC).
5.5. As reservas
Consubstanciam-se as reservas em valores que os sócios não querem ou não podem distribuir.
Reservas legais- impostas pela lei (art. 295.º- soc. anónimas, aplicável às soc. por quotas por força do art. 218.º CSC, que 5%
dos lucros de exercício deverão destinar-se à constituição de reservas até que as mesmas perfaçam 20% do CS. Quanto às soc.
por quotas, determina-se que o limite da reserva legal nunca será inferior a 2500€.)
Reservas estatuárias- previstas no próprio pacto social (Art. 33.º, n.º1 CSC).
Reservas facultativas ou livres- consistem em lucros não distribuídos por deliberação anual dos sócios.
Reservas contratuais- resultam de contratos celebrados entre a soc e terceiros, como investidores, entidade públicas ou bancos,
regulando-se mediante o estipulado no respetivo contrato.
Reservas ocultas- resultam de uma subvalorização do ativo ou de uma sobrevalorização do passivo. Estas reservas mão podem
ser distribuídas pelos sócios uma vez que não resultam do balanço (art. 33.º, n. º3).
5.6. Os órgãos de gestão

Nos órgãos de gestão executivos, designam-se por “gerência” nas:


-soc. em nome coletivo- são gerentes todos os sócios da soc. (art.191.º CSC);
-soc. por quotas- são geridas e representadas por um ou mais gerentes, não sendo obrigatoriamente sócios, podem convidar
estranhos à soc. para a respetiva gerência desde que sejam pessoas singulares com capacidade jurídica plena (art. 252.º CSC);
-soc. em comandita- são gerentes apenas os sócios comanditados face à sua responsabilidade por dívidas. Art. 470.º- o pacto
social poderá determinar que 1/+ sócios comanditários sejam gerentes.
- soc. anónimas- o legislador prevê 3 possibilidades que podem ser adotadas pelos fundadores (art. 278.º CSC): conselho de
administração e conselho fiscal; conselho de administração; compreendendo uma comissão de auditoria, e revisor oficial de
contas; conselho de administração executivo, conselho geral e de supervisão e revisor oficial de contas.
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A duração do mandato dos gerentes das soc. por quitas são designados por tempo indeterminado (art.256.º CSC). O mandato
dos administradores das soc. anónimas não pode execer os 4 anos civis, embora renovável (art. 391.º n.º3 CSC).
5.6.1.1. Obrigações genéricas dos gerentes e administradores
a) O art. 64.º do CSC
Deverão os gerentes ou administradores revelar uma disponibilidade, competência técnica e o conhecimento acerca da
atividade da soc. que se adequem ao teor das suas funções.
b) A responsabilidade civil e fiscal dos respetivos membros
art. 72.º 1 CSC- determina que os gerentes ou administradores respondem para com a respetiva soc. caso, por atos ou omissões
praticados com preterição dos deveres legais ou contratuais, tenham resultado danos causados no património daquela entidade.
O ónus da prova de que agiram sem culpa cabe a tais gestores. O legislador proteger os interesses patrimoniais dos credores
da sociedade, impondo a responsabilização dos gestores para com aqueles quando, pela inobservância culposa das disposições
legais ou contratuais destinadas à respetiva proteção, o património social se torne insuficiente para a satisfação dos respetivos
créditos (Art. 78.º 1 CSC).
Quando a sociedade ou os sócios o não façam, poderão os credores sociais exercer, nos termos dos arts. 606.º a 609.º CC, o
direito de indemnização de que a soc. seja titular (art. 78.º 2 CSC).
Art. 24.º da Lei Geral Tributária nos termos do qual “os administradores, diretores e outras pessoas que exerçam, ainda que
somente de facto, funções de administração ou gestão em pessoas coletivas e entes fiscalmente equiparados são
subsidiariamente responsáveis em relação a estas e solidariamente entre si: ver na pág 134 as cláusulas.
Art. 396.º CSC a obrigação de cada administrador caucionar a sua responsabilidade por alguma das formas que a lei prevê, no
mínimo de 250000 euros para as soc. emitentes de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado e
para as soc. que cumpram os critérios da alínea a) do n.º2 do art. 413.º (“grandes soc.). Para as demais soc.com. o valor previsto
para a caução a prestar pelos administradores será de 50000 euros.
A caução pode ser substituída por um contrato de seguro, a favor dos titulares de indemnizações, cujos encargos não podem
ser suportados pela soc., e, estamos em crer, por uma garantia autónoma a acordar junto de uma entidade bancária.
O administrador poderá levantar a caução prestada no final do ano civil seguinte àquele em que cesse as suas funções por
qualquer causa.
5.6.1.2. Competências da gerência no âmbito das sociedades por quotas
Nas soc. em nome coletivo a gerência é composta forçosamente por todos os sócios, já no que respeita às soc. por quotas a soc.
poderá ser administrada e representada por gerentes escolhidos de entre terceiros relativamente à soc. (art. 252.º CSC).
O legislador determina a impossibilidade de concorrência com a sociedade por parte dos respetivos gerentes, a não ser que
coisa diversa seja legitimamente convencionada. Na destituição dos gerentes poderão os sócios, a todo o tempo, deliberar nesse
sentido (art. 257.º CSC).
Poderá o contrato soc. exigir para a deliberação de destituição uma maioria qualificada de votos, a não ser que se trate de
destituição fundada em justa causa, podendo, neste caso, ser deliberada por maioria simples. Com razões que fundamentem
justa causa de destituição de gerentes exemplifica o legislador com a violação grave dos respetivos deveres e a sua incapacidade
para o exercício normal das suas funções.
O direito de renunciar à gerência compete aos gerentes, sendo suficiente para o efeito a comunicação de tal intenção por escrito
à soc., que se tornará efetiva 8 dias depois de recebida por aquela. É necessário invocar justa causa, sob pena de obrigação de
indemnização em benefício da soc. pelos prejuízos causados, salvo se esta for avisada com a antecedência conveniente
(art.258.º CSC).
Haverá que invocar que a soc.com., como pessoa jurídica que é, deverá ser representada, neste caso pelos gerentes, os quais,
mandatários da prossecução dos objetivos sociais, atuam em nome dela, vinculando-a com terceiros (art. 260.º CSC).
5.6.1.3. Competências do Administrador, do Conselho de Administração ou da Direção no âmbito das sociedades
anónimas
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O legislador elenca um numerus clausus de tipos sociais, podendo os sócios fundadores escolherem aquele que creem melhor
servirá os interesses sociais, igualmente em relação às formas de administração da sociedade opta o legislador por uma situação
intermédia.
Não impõe o legislador uma única forma de gestão de tal soc., mas não deixa à vontade discricionária dos acionistas a forma
de organização. De facto, após um período de maior rigidez, oferece o CSC 3 possibilidades de estrutura de administração das
soc. anónimas, que permitirão aos interessados optar pela que considerem mais adequada.
O legislador propõe 3 fórmulas de organização administrativa e fiscal: a) conselho de administração e conselho fiscal; b)
conselho de administração, compreendendo uma comissão de auditoria, e revisor oficial de contas; c) conselho de
administração executivo, conselho geral e de supervisão e revisor oficial de contas (art. 278.º CSC).
As competências do conselho de administração, consistem em gerir as atividades da soc., subordinado à vontade dos acionistas,
mas representando com plenos poderes a soc. (art. 405.º CSC). Os poderes de gestão do conselho de administração
consubstanciam-se em tudo o que respeita genericamente é administração da soc., as diversas áreas de atuação estão no art.
406.º CSC).
5.6.2. órgão deliberativo: a assembleia geral de sócios
Está prevista a faculdade de reunião em AG sem observância de formalidades prévias, desde que todos os sócios estejam
presentes e todos manifestem a vontade de que a assembleia se constitua e delibere sobre determinada matéria (art. 54.º CSC).
Apenas se poderá deliberar sobre assuntos que constem da ordem do dia indicados expressamente na convocatória da AG (art.
377.º n.º 5 e) e nº8). Caso não se cumpra esta imposição legal a deliberação violadora será anulável nos termos art. 58.º 1 e 4
a) CSC.
Nas soc. unipessoais o sócio único exerce as competências das AG, devendo as suas decisões com natureza igual às
deliberações da AG ser registadas por atas por ele assinadas (art. 270.º E CSC).
Dada a unipessoalidade pode aceitar-se a existência da respetiva convocatória no sentido de que o sócio único assegure a
presença em tal assembleia de entidades como o fiscal único, caso exista, ou os gerentes, a fim de lhe prestarem os
esclarecimentos considerados pertinentes. Nestas não há deliberações, mas sim decisões.
a) Impugnação das deliberações sociais
Formada uma deliberação social é natural que a mesma seja cumprida, quer com efeitos internos, quer com efeitos externos.
Por vezes, nem todos os sócios ficam satisfeitos, por não concordarem com a deliberação ou por ilegalidade da mesma.
Se determinada deliberação carecia do consentimento por parte de um sócio será tal deliberação ineficaz relativamente a tal
sócio (art. 55.º CSC).
Art. 56.º a 62.º prescrevem as regras relativas a deliberações nulas e anuláveis.
b) Funcionamento. Convocatória e presidência dos trabalhos.
Importa considerar o âmbito das deliberações das AG. Estas deliberam sobre aquilo que a lei ou o contrato determinarem, e,
por exclusão, tudo o que não competir a outros órgãos (art. 373.º 2 CSC).
A convocatória das AG das soc. anónimas compete ao presidente da mesa, devendo ser publicada para conhecimento de todos
os acionistas interessados (art. 377.º CSC).
Nas soc. por quotas a convocatória das AG compete a qualquer um dos gerentes, sendo presididas pelo sócio que detiver maior
fração de capital ou, em caso de igualdade, pelo sócio mais velho (art. 248.º n.º3 e 4 CSC).
As soc. anónimas pode ter lugar por carta registada ou através do sítio do MJ quando com a anuência dos destinatários mediante
correio eletrónico. No caso das soc. por quotas a convocatória deve ser feita por meio de carta registada, expedida com
antecedência mínima de 15 dias (art. 248.º 3 CSC).
A publicitação deverá ser feita por carta ou meios eletrónicos. Deverá conter os elementos presentes no art. 337.º 5.
AG anual- o art. 376.º determina que a AG dos acionistas deve reunir no prazo de 3 meses a contar da data do encerramento
de exercício ou no prazo de 5 meses a contar da mesma data quando se tratar de soc. que devam apresentar contas consolidadas
ou apliquem o método da equivalência patrimonial a fim de: consultar art. 376.º
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O local da reunião da AG deve ser a sede da soc., podendo decorrer igualmente através de meios telemáticos- art. 377.º 6 e
248.º 1 CSC.
No art. 383.º a AG pode deliberar, em primeira convocação, sobre alteração do contrato de soc., fusão, cisão, transformação,
dissolução da soc. ou outros assuntos para os quais a lei exija maioria qualificada, devem estar presentes/representados
acionistas que detenham ações correspondentes a, pelo menos, 1/3 do CS.
A deliberação sobre alguma das referidas matérias deve ser aprovada por 2/3 dos votos emitidos, quer a assembleia reúna em
primeira quer em segunda convocação.
c) Atas das assembleias gerais
Fazem prova das deliberações ali tomadas, para além de doc. Onde constem as decisões por escrito. (art. 63.º CSC). Deve
conter: identificação da soc.; lugar, dia e hora da reunião; nome do presi.; nome dos sócios presentes; valor nominal da respetiva
participação socia; ordem do dia; teor das decisões tomada; resultado das votações; sentido das declarações dos sócios.
A importância delas decorre de permitir aos sócios mesmo os que não estiveram presentes na AG, conhecer as respetivas
decisões. É o doc. Com base no qual gerentes e administradores devem cumprir as deliberações, vinculando a soc. em diversos
negócios jurídicos ou noutras situações.
d) A figura do Secretário nas sociedades anónimas com ações cotadas em bolsa- regime previsto no art. 446.º A e ss do CSC
e) Os acordos parassociais
No âmbito de uma soc.com., nomeadamente, de uma soc. anónima, podem ser celebrados acordos parassociais entre os sócios
mediante os quais se estabelece, por exemplo, uma conformação quanto ao sentido de voto de certas questões ou o direito de
preferência em caso de alienação de participações sociais.
Art. 17.º CSC- os acordos parassociais celebrados entre todos ou alguns sócios pelos quais estes, nessa qualidade, se obrigam
a uma conduta não proibida por lei, têm efeito entre os intervenientes, mas com base neles não podem ser impugnados atos da
soc. ou dos sócios para com a soc.
Art. 83.º CSC- o sócio que tenha por força de disposições do contrato de soc., o direito de designar um gestor, sem que todos
os sócios deliberem sobre essa designação, responde solidariamente com a pessoa por ele designada, sempre que esta for
responsável para com a soc. ou os sócios e se verifique culpa na escolha da pessoa designada.
5.6.3. Órgãos de fiscalização
Após um exercício social os membros dos órgãos de gestão devem elaborar as contas das soc. para apreciação pelos sócios.
Devem apresentar um relatório de gestão que descreva e sintetize os principais aspetos da vida societária no exercício em
questão (art. 376.º e 451.º e 246.º e) CSC).
Os doc. devem ser apresentados à AG no prazo de 3 meses a partir do final do exercício. O art. 376.º CSC defende que a AG
deve deliberar sobre o relatório de gestão e as contas do exercício; deliberar sobre a proposta de aplicação de resultados;
proceder à apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade; proceder às eleições que sejam da sua competência.
Acerca da competência para a fiscalização de soc.com. será de ressaltar que o contrato de soc. poderá determinar que a soc.
tenha um conselho fiscal, que se rege pelo disposto a esse respeito para as soc. anónimas. Na soc. por quotas em que haja
revisor oficial de contas ou conselho fiscal compete ao revisor oficial de contas ou a qualquer membro do conselho fiscal
comunicar imediatamente, por carta registada, os factos que considere reveladores de graves dificuldades na prossecução do
objeto da soc.
6. A alteração do contrato de sociedade. Análise em especial do aumento e da redução do capital social
Podem ocorrer determinados factos que conduzem à necessidade de alteração do contrato tal como foi inicialmente acordado.
Por deliberação dos sócios, é possível modificar ou suprimir algumas das cláusulas ou introduzir uma nova (art.85.ºCSC).
Regras gerais das obrigações: os contratos devem ser pontualmente cumpridos e só se podem modificar ou extinguir por mútuo
consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos na lei (art. 406.º 1 CC). Um caso em que a lei prevê a alteração contratual
sem consentimento forçoso de todos os contraentes concerne a certos tipos de soc.
Nas soc. em nome coletivo a decisão tem de ser tomada por unanimidade (art. 194.º CSC), nos restantes tipos pode ocorrer
mediante decisão por maioria qualificada. Soc. por quotas maioria de ¾ dos votos correspondentes ao CS ou por n.º + elevado
exigido pelo contrato de soc. (art. 265.º CSC). Soc. anónima é necessário um quórum determinado para que a assembleia possa
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deliberar sobre o tema em questão, impõe-se a presença de acionistas que detenham ações correspondentes a, pelo menos, 1/3
do capital (art. 383.º, n. º2 CSC). Observado o referido quórum deverá a alteração do contrato ser deliberada por 2/3 dos votos
emitidos (art. 386.º n. º3 CSC). Nas soc. em comandita a deliberação em apreço deverá ser tomada por todos os sócios
comanditados e por sócios comanditários que representem, pelo menos, 2/3 do capital possuído por estes, exceto se o contrato
de soc. prescindir da referida unanimidade ou aumente a mencionada maioria (art. 476.º CSC).
7. A fusão das sociedades comerciais
2/+ soc. podem fundir-se numa. (fusões- Art. 97.º e ss CSC; cisões- art. 118.º e ss CSC).
Fusão-incorporação- a fusão realiza-se mediante a transferência global do património de 1/+ soc. para outra e a atribuição dos
sócios daquelas partes, ações ou quotas desta (art. 97.º, n. º4 a) CSC).
Fusão-concentração- a fusão realiza-se mediante a constituição de uma nova soc., para a qual se transformem globalmente os
patrimónios das soc. fundidas, sendo aos sócios destas atribuídas partes, ações ou quotas da nova soc. (art. 97.º, n. º4 b) CSC).
8. A cisão das sociedades comerciais
Pode consubstanciar-se em destacar parte do seu património para com ela constituir outra soc., em dissolver e dividir o seu
património, sendo cada uma das partes resultantes destinada a constituir uma nova soc., ou, a destacar partes do seu património
em 2/+ partes, para as fundir com soc. já existentes ou com partes do património de outras soc., separadas por idênticos
processos e com igual finalidade (art. 118.º CSC).
9. A transformação de sociedades comerciais
Uma soc.com. constituída, registada e adquirida a personalidade jurídica, adquire vida própria e estabilidade enquanto entidade,
apesar de existirem a entrada e saída de sócios, aumento e diminuição de capital ou alteração do objeto social. Este princípio
mantém-se válido ainda que ocorra a modificação de tipo social, que se designa legalmente por transformação da soc.com.
Uma soc. unipessoal por quotas pode transformar-se em soc. por quotas plural por ingresso de novos sócios. Em função
nomeadamente dos negócios sociais e eventual carência de investidores, pode esta mesma soc. passar a anónima. Desde que
foi criada consiste rigorosamente na mesma soc., na mesma entidade (art. 130.º CSC).
O legislador impõe certos requisitos para a transformação em atenção à proteção de certos interesses. Assim, não pode uma
soc, transformar-se em tipo diverso se o capital não estiver integralmente liberado ou se não estiverem totalmente realizadas
as entradas convencionadas no contrato.
Não poderá ocorrer legalmente a transformação social se o balanço da soc. a transformar mostrar que o valor do seu património
é inferior à soma do capital e reserva legal, etc… (art. 131.º CSC)
A administração proponente deverá apresentar um relatório justificativo da transformação, o qual é acompanhado do balanço
do último exercício e do contrato de soc. que regerá a vida da sociedade após a transformação. (art. 132.º CSC).
10. Extinção da sociedade comercial
Por diversas razões pode cessar a existência de uma soc.com. com as consequências que daí advêm. Estamos a referir o processo
de extinção da soc.com., tratando-se efetivamente não de um ato isolado, mas de um conjunto encadeado de atos com uma
finalidade concreta. Divide-se em 2 momentos: a dissolução da sociedade e a liquidação do seu património.
10.1. A dissolução
É possível prever-se no próprio contrato as + diversas causas para a dissolução da soc. Entre elas: a estipulação de um prazo
para a duração da soc. É permitido aos sócios a qualquer momento determinar a dissolução da soc., variando a maioria dos
votos mínimo consoante o tipo de soc. (arts. 194.º; 270.º; 383.º, n. º2 e 386.º 3; 473.º CSC).
Pode alcançar-se a realização do objeto contratual deixando de ter razão para existir a soc. em causa. Também ocorre que o
objeto social se torne ilícito por decisão legal posterior (art. 141.º CSC). O art. 142.º CSC prevê outras causas de dissolução da
soc.
O serviço de registo competente deve instaurar oficiosamente o procedimento administrativo de dissolução quando durante 2
anos consecutivos, a soc. não tenha procedido ao depósito dos doc. de prestação de contas e a administração tributária tenha
comunicado ao serviço de registo competente a omissão de entrega a declaração fiscal de rendimentos por igual período (art.
143.º CSC).
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10.2. A liquidação do património


Dissolvida a soc. segue-se a liquidação que consiste no apuramento do ativo, pagamento do passivo e partilha de eventual
saldo. A firma da soc. que se encontre em liquidação deve passar a conter a expressão “sociedade em liquidação” ou
“liquidação” (art. 146.º CSC).
Duração da liquidação- máximo 2 anos após a dissolução, podendo ser prorrogada por deliberação dos sócios por período não
superior a 1 ano. Caso se ultrapassem os prazos referidos sem ter lugar a liquidação do serviço do registo competente promove
oficiosamente a liquidação por via administrativa (art. 150.º CSC).
Os liquidatários da soc. são membros da administração da soc. (art. 151.º CSC), podem, quando autorizados pelos sócios,
continuar temporariamente com a atividade anterior da soc. (art. 152.º CSC).
Os liquidatários têm obrigação de ultimar os negócios pendentes, cumprir as obrigações, cobrar os créditos da soc, reduzir a
dinheiro o património residual e propor a partilha do saldo (art. 152.º n. º3 CSC). O ativo restante, após a satisfação dos credores
da soc., pode ser partilhado em espécie, sendo destinado em 1.º ao reembolso do montante das entradas realizadas (art. 156.º).
Uma vez encerrada a liquidação e extinta a soc., respondem os antigos sócios pelo passivo social não satisfeito ou acautelado,
até ao montante que receberam na partilha (art. 163.º, n. º1 CSC).
Este preceito não coloca em causa a ideia de “autonomia patrimonial perfeita” que vimos a caracterizar entidades como as soc.
por quotas ou anónimas. O que sucede é que se tratam de valores que não deveriam ter sido entregues ao sócios com lucros
finais caso se tivesse apurado em tempo a existência de determinados débitos sociais. Estes sócios não estão a pagar dívidas
da soc., estando apenas a restituir montantes “indevidamente” percebidos.
Terminada a liquidação do património social cessa a existência da soc. Tem lugar com o registo do contrato (art. 5.º CSC).
PARTE II- DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL

1. Notas iniciais
2. O trespasse
2.1. Introdução
Consiste este negócio jurídico na transmissão definitiva entre vivos de um estabelecimento comercial. Conforma uma efetiva
compra e venda, mas também se pode consubstanciar numa dação em cumprimentou, na entrada para uma soc.com. ou na
transmissão de parte substancial da participação numa soc.com.
Para que ocorra o trespasse poderão não seguir para o trespassário todos os elementos do estabelecimento objeto de tal contrato.
É necessária apenas a transmissão dos elementos essenciais do estabelecimento com./o acervo de bens que consubstancia o
chamado “âmbito necessário ou mínimo” - é a questão que varia de empresa para empresa, devendo ser considerado do ponto
de vista da clientela desse estab.com. Se para os seus clientes consiste no mesmo estab. E mantem-se a razão fundamental pela
qual a ele acorrem, trata-se de um forte indício de que teve lugar um trespasse.
“âmbito natural” – consiste no conjunto de elementos do estab.com. que segue para o novo titular quando nada se acorda
concretamente a seu propósito, nomeadamente não sendo excluídos convencionalmente.
“âmbito máximo/convencional” – caracteriza-se pelo conjunto de elementos do estab.com. que segue para o novo titular apenas
quando tal situação se refere concretamente no contrato de transmissão.
O legislador impõe que o contrato deve ser realizado por escrito e comunicado por escrito ao senhorio (art.1112.º 3 CC).
2.2. Regime do trespasse quanto ao imóvel arrendado

Prevê-se a transmissão da posição de arrendatário sem necessidade de autorização do senhorio (art. 1112.º 1 a CC) é uma
exceção prevista no art. 1038.º f) CC). Visa facilitar a circulação dos estab.com., que face a esta circunstância verão o seu valor
com. Incrementado. O trespassante deverá comunicar o facto ao senhorio no prazo de 15 dias após a sua verificação (art. 1038.º
g) CC).
Além do dto. a uma renda que se vai atualizando, é permitido ao senhorio denunciar o contrato de arrendamento mediante
comunicação ao arrendatário com antecedência não inferior a 2 anos sobre a data em que pretenda a cessação (art. 1101.º c)
CC).
Desde há muito que o senhorio goza de uma curiosidade prerrogativa consubstanciada no dto. de preferência por venda ou
dação (art. 1112.º n. º4 CC).
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Art. 416.º- o obrigado deve comunicar ao titular do dto. o projeto de venda e as cláusulas do respetivo contrato, entre as quais
emerge, o preço de alienação. O legislador estipula que o titular deve exercer o seu dto. dentro do prazo de 8 dias depois de
recebida a comunicação.
Para que se o senhorio se veja impedido de contrariar a celebração do negócio em causa é necessário que se trate de um efetivo
trespasse, do ponto de vista formal e da substância do negócio em causa.
Não há um verdadeiro trespasse quando se verifica alguma das situações do art. 1112.º, n. º2, a) e b) CC.
O legislador procura com normas precedentes impedir a fraude que decorre da eventual simulação de um trespasse,
dissimulando-se uma cessão da posição de arrendatário. Quando está em causa ceder a outrem a posição de arrendatário e não
o estab.com., não pode o locatário ceder a sua posição sem a autorização do senhorio. (art. 1038.º f) CC).
Art. 1112.º, n. º5 CC- estipula que após a transmissão do estab.com. seja dado outro destino ao prédio ou, de todo o modo, a
transmissão não continue o exercício da mesma profissão liberal, podendo o senhorio promover a resolução do contrato.
2.3. Regime do trespasse quanto aos contratos de trabalho.
Art. 285.º CT- os contratos de trabalho transmitem-se juntamente com o estabelecimento comercial. Poderá o adquirente do
estab.com. chegar a acordo com 1/+ trabalhadores mediante revogação do contrato de trabalho (art. 349.º CT). É natural propor-
se ao trabalhador uma compensação baseada na sua antiguidade ao serviço do empregador, situação a ser valorada pelo
trabalhador que pode ou não aceitar.
Transmite-se igualmente com a empresa a responsabilidade pelo pagamento de coimas aplicadas pela prática de
contraordenação laboral.
Responderá o trespassante, solidariamente com o trespassário, pelas dívidas aos trabalhadores vencidas até è data da
transmissão do estab.com., durante o ano subsequente a esta (art. 285.º n.º CT).
2.4. Regime do trespasse quanto às dívidas
Conclui-se que as dívidas não se transmitem necessariamente com o estab.com. podendo existir autorização do credor (art.
595.º 1 CC).
Pode ocorrer que o adquirente do estab.com. tenha interesse em que seja ele próprio a assumir certos débitos a fim de
estabelecer relações jurídico-comerciais com certas entidades, como sejam bancos ou fornecedores de bens. Deste pressuposto
decorre que o preço do trespasse será acomodado em função desta realidade; diminuindo na proporção das dívidas que se
transferem para a esfera jurídica do novo proprietário.
Tal transmissão depende da anuência de cada credor em concreto. Podem transmitir-se algumas dívidas sendo que outras se
mantêm na titularidade de quem as contraiu.
2.5. Regime do trespasse quanto à obrigação implícita de não concorrência
Tem-se invocado o disposto nas regras do contrato de compra e venda, que é o negócio jurídico em que se consubstancia um
trespasse, para sustentar esta obrigação que se constituir na esfera jurídica do trespassante como decorrência da celebração do
contrato de trespasse.
Art. 879.º b) CC- efeitos da compra e venda, a obrigação de entregar a coisa. Trespassar um estab.com. e reestabelecer-se de
modo a recuperar a clientela alienada corresponderia a uma não entrega na sua integralidade do objeto vendido.
Obrigação implícita- decorre do próprio contrato, como essentialia negotti, sem necessidade de se expressar, a obrigação de
entrega do bem nas condições que influenciou a definição do preço da transação.
Consideramos que o não cumprimento desta obrigação de abstenção tem concorrência conformaria um ato não concordante
com o princ. da boa fé no cumprimento das obrigações (art. 762.º n. º2 CC).
Esta obrigação está limitada no espaço, ou seja, a área geográfica de ação do estab.com. e captação de clientela do estab.com.
transmitido e está também limitada no tempo, isto é, o que for razoável para que o adquirente possa ter como consolidada a
sua clientela.
Sanções para a violação da obrigação de não concorrência: encerramento do estab.com. aberto em contravenção. Como estamos
perante uma obrigação de “não fazer” /omissão, faz sentido aplicar o disposto no art. 829.º n. º1 C, em que a demolição da obra
deverá corresponder ao encerramento do estabelecimento. Se este incumprimento contratual se traduzir na produção de
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prejuízos na esfera patrimonial do adquirente, tem este direito a exigir a responsabilidade respetiva (art. 798.º CC). Pode em
sede judicial solicitar as providências cautelares que se considerem adequadas à prevenção dos seus interesses patrimoniais,
como seja o encerramento do estab.com. até à decisão final do tribunal ou com o próprio impedimento da abertura prevista
publicitada.
A obrigação de não concorrência pode ser afastada convencionalmente, ou seja, por acordo entre trespassante e trespassário.
3. Locação de estabelecimento comercial ou cessão de exploração de estabelecimento comercial
3.1. Introdução
No caso da locação de estab.com. estamos perante um negócio jurídico de caráter temporário, embora igualmente oneroso.
O proprietário de um estabelecimento comercial, por razões de impedimento temporário e não se querendo “desfazer” do
negócio, permite que alguém explore o seu estab.com., sendo que este locatário auferirá os respetivos lucros que vão sendo
gerados na vigência do contrato, pagando ao locador, periodicamente e como contrapartida dessa vantagem patrimonial,
determinado montante contratualmente fixado.
Para se verificar uma verdadeira locação de estab.com. é necessário que se transfiram os elementos essenciais do estab. Em
questão e que não se vise destiná-lo a fim diverso daquele que vinha sendo prosseguido (arts. 1109.º e 1112.º n.º2 ambos CC).
Forma de celebração: é suficiente doc. escrito (art. 1109.º 1 e 1112.º 3 CC).
É obrigação do locador obter licença administrativa de autorização de funcionamento do estab.com., em ordem a uma plena
utilização empresarial e lucrativa por parte do locatário.
3.2. Regime da locação de estabelecimento comercial quanto ao imóvel arrendado
Art. 1109.º, n. º2 CC- prevê que a transferência temporária e onerosa de estab. Instalado em local arrendado não carece de
autorização do senhorio, devendo ser-lhe comunicada no prazo de 1 mês.
3.3. Regime da locação de estabelecimento comercial quanto aos contratos de trabalho
Os contratos de trabalho transmitem-se juntamente com o estab.com. para o cessionário (art. 285.º 3 CT)
3.4. Regime da locação de estabelecimento comercial quanto às dívidas
O passivo do estab.com. não se transmite necessariamente, não fazendo parte do respetivo âmbito natural. Poderá existir
autorização do credor para este efeito (art. 595.º CC).
3.5. Regime da locação de estabelecimento comercial quanto à obrigação implícita de não concorrência
No caso de locação de estab.com. o restabelecimento em tempo e local que permita o desvio de clientela é vedado, imperando
a obrigação implícita de não concorrência. (art. 1031.º b) e 1037º 1 CC- impõem ao locador o dever de entrega da coisa locada
e assegurar ao locatário o gozo daquela para os fins a que ela se destina).
Considera-se que o locatário poderá pôr em causa o aviamento do estab. locado caso se estabeleça por conta própria em
condições de fazer concorrência ao estab. locado. Após o termo do contrato de locação poderia ter desviado clientela
devolvendo um estab. empobrecido do ponto de vista da capacidade lucrativa.
4. A defesa da concorrência
No que se refere à proteção do estab.com. ou empresa em sentido objetivo impera a designada defesa da concorrência.
Como objetivos propostos pelo legislador da UE e transpostos para o nosso ordenamento jurídico temos a proteção aos
consumidores, das empresas e da economia nacional (proteção do mercado).
O legislador separou aquilo que defende como práticas individuais restritivas do comércio da defesa da concorrência
propriamente dita.
Quanto à primeira área referida, prevê-se uma série de situações entre as quais a proibição de aplicação de preços ou de
condições discriminatórios (art. 3.º), a transparência nas políticas de preços e condições de venda (art. 4.º), a recusa de venda
de bens ou de prestação de serviços (art. 6.º), as práticas negociais abusivas (art. 7.º) e a proibição do dumping (art. 5.º).
O legislador procura impedir que um consumidor acorra a uma grande superfície, incentivado pelo baixo preço dum produto,
sendo que o preço dos restantes produtos pode estar bastante inflacionado relativamente ao dos concorrentes.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

Estão previstas medidas cautelares com caráter de urgência e sem audição de interessados (art. 8.º, 10.º e 11.º).
A Lei da Concorrência “propriamente dita” veda/ limita os acordos e práticas concertadas entre empresas (art. 9.º e ss).
Abuso de dependência económica- arts. 11.º, 12.º
Este diploma tenta repor o equilíbrio nas relações comerciais entre produtores e distribuidores, evitando que estes proponham
prazos de pagamento muito prolongados e que os produtores se encontram na prática obrigados a aceitar, retirando-lhes
manifesta liquidez.
O legislador limita e regula as concentrações de empresas, fruto da fusão de soc.com. quando tal aplique distorção do mercado
(art. 36.º e ss).
São limitados os auxílios públicos às empresas nacionais com vista a que não saiam beneficiadas no âmbito de um mercado
concorrente a nível da UE (arts. 65.º e ss).
5. A concorrência desleal
As atuações que se opõem às normas e usos honestos consideram-se concorrência desleal (art. 311.º CPI). Para que um ato seja
considerado desleal é necessário a verificação de 3 requisitos: um ato de concorrência; que seja contrário às normas e usos
honestos; e que se integre em qualquer ramo de atividade.
Como consequência de tal atuação estão previstas sanções que vão desde uma coima de 5000€ a 100000€ caso consista numa
pessoa coletiva e de 1000€ a 3000€ se se tratar de uma pessoa singular (art. 330.º CPI).
6. Dos direitos de propriedade industrial
Todo o conjunto de realidades protegidas no âmbito do designado DPI assume uma considerável relevância nas economias
atuais.
Art. 1303.º CC- inclui no âmbito da propriedade intelectual os dtos. de autor e a propriedade industrial. Art. 316.CPI- determina
que a propriedade industrial tem as garantias estabelecidas por lei para a propriedade em geral.
Este sub-ramo desempenha a função de garantir a lealdade da concorrência, pela atribuição de dtos. privativos sobre os diversos
processos técnicos de produção e desenvolvimento da riqueza. (art. 1.º CPI).
Âmbito de aplicação do CPI- art. 3 CPI
A concessão de dtos. de propriedade industrial implica mera presunção jurídica dos requisitos da sua concessão (art. 3.º CPI).
Os referidos títulos devem conter os elementos necessários para uma perfeita identificação do dto. a que se referem (art. 7.º
CPI).
Legitimidade para praticar atos jurídicos junto do INPI- art. 9.º e 10.º CPI.
O pedido de patente, de modelo de utilidade ou de registo confere provisoriamente ao requerente, a partir da sua publicação
no Boletim da Propriedade Industrial, proteção idêntica à que seria atribuída pela cessão do dto (art. 5.º 1 CPI). Fundamentos
para recusa- art. 23.º CPI).
Na publicação os atos que devam ser publicados são levados ao conhecimento das partes e do público em geral mediante o
Boletim de Propriedade Industrial (art. 28.º CPI).
Transmissão- refere o legislador que os dtos. emergentes de patentes, modelos de utilidade, registos de topografias de produtos
semicondutores, desenhos ou modelos e marcas podem ser transmitidos, total ou parcialmente, a título gratuito ou oneroso. A
transmissão por atos entre vivos deverá ser provada por doc. escrito. (art. 30.º CPI).
Licença de autorização- prescreve-se que os dtos. referidos no parágrafo anterior podem ser objeto de licença de exploração,
total ou parcial, a título gratuito ou oneroso, em certa zona ou em todo o território nacional, por todo o tempo da sua duração
ou por prazo inferior. O contrato de licença encontra-se sujeito a forma escrita (art. 31.º CPI).
Na extinção dos dtos.- nulidade art. 32.º CPI; anulabilidade- art. 33.º CPI
Renuncia- art. 37.º CPI
Decisões que admitem recurso- art. 38.º CPI
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Tribunal arbitral- art. 47.º CPI


Podem ser objeto de patente as invenções novas, implicando atividade inventiva, caso sejam suscetíveis de aplicação industrial
(art. 50.º CPI). (Arts. 54.º e 55.) Considera-se que uma invenção implica capacidade inventiva quando para um perito na
especialidade não resultar de uma maneira evidente do estado de técnica (art. 54.º 2 CPI). Uma invenção é suscetível de
aplicação industrial se o seu objeto puder ser fabricado ou utilizado em qualquer género de indústria ou na agricultura (art. 54.º
3 CPI). Duração da patente- 20 anos desde a data do pedido (art. 100.º CPI); O seu titular tem o direito de usar nos seus produtos
a expressão “patenteado”, “patente n.º” ou “Pat. nº” (art. 101.º CPI)
Os modelos de utilidade visam a proteção das invenções por um procedimento mais simplificado e acelerado do que o das
patentes (art. 119.º CPI). A duração do modelo de utilidade é de 6 anos a contar da data do pedido (art. 142.º CPI). Pode utilizar
a expressão: “Modelo de utilidade nº” ou “UM nº” (art. 143.º).
“Topografias de produtos semicondutores”- consistem em circuitos integrados ou chips importantes para o fabrico de
computadores. (art. 153.º, 154.º) A duração do registo deste objeto de PI é de 10 anos (art. 162.º).
“Desenhos ou modelos”- designam a aparência de um prod. Resultante de características de linhas, contornos, cores, forma,
textura ou materiais do próprio prod. E da sua ornamentação (art. 173.º CPI).
“produto”- qualquer artigo industrial ou de artesanato (art. 174.º CPI).
“marca”- consiste num sinal distintivo de comércio de utilização voluntária, diversamente do que ocorre designadamente com
a firma que é de uso obrigatório. A atribuição de marcas ao prod. e o seu registo pode trazer importantes vantagens para o seu
titular (ex.: franchising). Podem solicitar o registo de marca: fabricantes; comerciantes, agricultores, artífices e os prestadores
de serviços (art. 211.º CPI). (arts. 210.º e 213.º). A duração do registo- art. 247.º CPI. Permite ao titular utilizar expressões:
“Marca Registada”, “M.R.” ou “R” (art. 248.º)
“recompensas”- consistem em condecorações de mérito atribuídas pelo Estado português ou estados estrangeiros (art. 270.º).
“logótipos”- consistem num sinal/conjunto de sinais suscetíveis de representação gráfica, por elementos nominativos,
figurativos ou pela combinação de ambos (art. 281.º CPI).
“denominações de origem e indicações geográficas”- consistem no nome de uma região que serva para identificar produtos
originários dessa região ou cuja qualidade se deve ao meio geográfico (art, 299.º n.º 1 e 2 ).
7. Insolvência
7.1. Introdução
Por intermédio do DL nº 53/2004, de 18 de março, foi aprovado o CIRE, mediante o qual, de certo modo, se regressou à ideia
de falência-liquidação, Refere-se no respetivo preâmbulo que “quando na massa insolvente esteja compreendida uma empresa
que não gerou os rendimentos necessários ao cumprimento das suas obrigações, a melhor satisfação dos credores pode passar
tanto pelo encerramento da empresa, como pela manutenção em atividade”. Acrescenta que é sempre da estimativa dos credores
que deve depender a última análise, a decisão de recuperar a empresa.
Fica na dependência da opinião dos credores a consideração de que uma empresa é viável, apesar das dificuldades que
atravessa, ou se melhor será o seu encerramento.
Uma das consequências da nova perspetiva legal é a eliminação de 2 processos (um de recuperação e outro de falência),
concentrando apenas num o de insolvência, todo o processo a ter lugar.
7.2. Situação de insolvência
Implica um processo de execução universal tendo como finalidade a liquidação do património de um devedor insolvente e a
repartição do produto obtido pelos credores. Pode consubstanciar-se este processo num plano de insolvência, que pode consistir
num plano de recuperação da empresa (art. 1.º CIRE).
Considera-se nesta situação quem esteja impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas, sendo equiparada à situação
de insolvência atual a que seja meramente iminente em caso de apresentação pelo devedor à insolvência.
Encontram-se nesta situação certas entidades quando PASSIVO>ATIVO (art. 3.º CIRE).
O legislador indica um vasto conjunto de entidades que podem ser sujeitos passivos da declaração de insolvência. (art. 2.º)
Conceito de empresa do CIRE- art. 5.º
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Os tribunais competentes quando está em causa uma empresa ou soc.com. são os de comércio ou as secções comerciais dos
tribunais comuns. As pessoas singulares serão competentes os tribunais comuns.
7.3. Declaração da situação de insolvência
Cabe ao devedor o impulso inicial de apresentação à insolvência, dentro dos 30 dias que sucedem ao conhecimento da situação
de insolvência (art. 18.º e 3.º, n.º 1) sob pena de a insolvência ser qualificada como culposa. Também pode requerer insolvência
quem for responsável pelas dívidas do devedor, qualquer credor e o MP (art. 20.º).
Factos- índice que podem conduzir ao requerimento da insolvência- art. 20.º)
No que concerne à petição inicial deverá conter a exposição dos factos que integram os pressupostos da declaração, concluindo
pela formulação do respetivo pedido (art. 23.º CIRE).

7.4. Créditos sobre a insolvência e créditos sobre a massa


Créditos da insolvência – vão criando até à data da declaração de insolvência do devedor.
Créditos de massa – constituem depois de declarada a insolvência. Ex. custas processuais, remunerações do administrador
de insolvência, dividas eu decorrem de atos de administração de administrador e insolvência (art.51º CIRE)
Facto relevante é o de que a satisfação dos créditos da massa precede a dos créditos da insolvência. De facto, determina
o artigo 172º do CIRE que anteriormente ao pagamento dos créditos sobre a insolvência são deduzidos da massa
insolvente os bens ou direitos necessários à satisfação das dividas desta, o que inclui as que constituirão até ao
encerramento do processo. Também se estipula que a massa insolvente se destina à satisfação dos credores da
insolvência, depois de pagas as suas próprias dividas (art. 46º CIRE)
Relativamente aos créditos sobre a insolvência agrupa-os o legislador em créditos garantidos, privilegiados, subordinados
e comuns (artigo 47° CIRE).
Quanto aos primeiros, beneficiam de garantias reais, caso da hipoteca sobre um imóvel (nomeadamente constituída a
favor de uma instituição de crédito) e de privilégios creditórios especiais, como ocorre com os créditos dos trabalhadores
relativamente ao imóvel onde desempenharam funções (artigo 3330 n° 1 b) do CF).
No que se refere à segunda categoria de créditos da insolvência encontram-se aqueles que beneficiam de privilégios
creditórios gerais sobre bens integrantes da massa insolvente. Ex. bens moveis da empresa em benefício dos
trabalhadores ou dos créditos de carater fiscal ou da SS, de que beneficia o Estado.
Créditos que não se enquadram em nenhuma categoria especifica – créditos comuns
Créditos subordinados – satisfeitos caso ainda exista património para o efeito apos a satisfação dos créditos referidos
anteriormente (art. 48º CIRE). Incluem-se créditos detidos por familiares ou que derivem de contratos de suprimento.

7.5. intervenientes no processo


Quanto ao administrador de insolvência é a respetiva nomeação competência do juiz (art. 52º) Os administradores
exercem as suas funções por tempo indeterminado e sem limite máximo de processos, nos termos do artigo 3° da Lei no
32/2004, de 22 de julho e encontram-se sujeitos aos impedimentos e suspeições aplicáveis aos juízes, assim como às
regras gerais sobre incompatibilidades aplicáveis aos titulares de órgãos sociais das sociedades (art. 8º nº1 do referido
diploma).
Compete ao administrador de insolvência preparar o pagamento das dívidas do insolvente à custa das quantias em
dinheiro existentes na massa insolvente. Para o efeito, poderá alienar os respetivos bens.
Por outro lado, cabe a este agente da insolvência prover à conservação e frutificação dos direitos do insolvente e à
continuação da exploração da empresa, procurando evitar o agravamento da situação económica (art. 55º CIRE).
Poderá o juiz destituir o administrador de insolvência, ouvida a comissão de credores, o devedor e o próprio administrador
de insolvência e considerar que existe justa causa (artigo 56° GIRE). Pa além disso, o administrador responde pelos danos
causados se não cumprir, de modo culposo, as obrigações que lhe competem (artigo 59º)
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Por fim, consiste em a assembleia de credores num órgão integrado por todos os credores, cabendo a respetiva
presidência ao juiz (artigos 72º e 7o CIRE).
Entre outras competências, compete a este órgão da insolvência a decisão de encerramento ou de manutenção em
atividade do estabelecimento (art. 156º CIRE)
7.6. Efeitos da declaração de insolvência.
Relativamente aos efeitos da declaração de insolvência cumpre mencionar, desde logo, aqueles que se refletem na pessoa
do devedor. Neste âmbito importa sublinhar que a declaração de insolvência impede o devedor de exercer poderes de
administração e de disposição dos bens integrantes da massa insolvente. A respetiva competência é entregue ao
administrador de insolvência, qual assume a representação do devedor para todos os efeitos de carácter patrimonial que
interessem à insolvência (artigo 81º 1 e 4 CIRE).
Em relação aos negócios em curso podemos destaca o que ocorre quando o insolvente é locatário. Declarada a insolvência
o contrato de locação não se suspende, mas o administrador da insolvência pode denunciá-lo com uma antecedência de
70 dias (artigo 108° CIRE).
Já quando o insolvente é locador a declaração de insolvência não suspende a execução do contrato e apenas pode ser
denunciado no fim do prazo em curso (artigo 109° CIRE).
7.7. Verificação dos créditos. Restituição e separação de bens
Dentro do prazo determinado pela sentença de declaração insolvência devem os credores reclamar a verificação dos seus
créditos através de requerimento adequado, acompanhado de todos os documentos probatórios de que disponham.
(artigo 128° CIRE).
7.8. Administração e liquidação da massa insolvente.
No que se refere a providências conservatórias, uma vez proferida a sentença procede-se à apreensão dos elementos da
contabilidade e de todos os bens que integram a massa insolvente. Tal ocorre tais bens hajam sido arrestados,
penhorados, apreendidos ou cessão aos credores (artigo 149° CIRE).
Compete ao administrador de insolvência elaborar um inventário dos bens e direitos integrados na massa insolvente com
indicação do seu valor, natureza, características, lugar onde se encontram, direitos que os oneram e dados de
identificação registral (artigo 153° CIRE).
Por outro lado, deverá o administrador elaborar uma lista provisória dos credores que constem da contabilidade do
devedor indicando a natureza garantida, privilegiada, comum ou subordinada dos créditos (artigo 154° GIRE). É então o
momento de elaboração de um relatório, por parte do administrador de insolvência, contendo urna série de elemento
previstos no artigo 155° GIRE incluindo a indicação das perspetivas de manutenção da empresa.
No âmbito da assembleia de credores, terá lugar a apreciação do referido relatório tendo direito a pronunciar-se o
devedor, a comissão de credores e a comissão de trabalhadores. A assembleia delibera sobre o encerramento ou a
manutenção em atividade da empresa.
Transitada em julgado a sentença declaratória da insolvência e realizada a assembleia de apreciação do relatório, compete
ao administrador de insolvência proceder à venda dos bens apreendidos para a massa insolvente (art.158° CIRE).
No que se refere à empresa pode ser conveniente a sua alienação como um todo (artigo 162° CIRE).
7.9. Incidentes de qualificação da insolvência
qualificação da insolvência – a situação tiver sido criada ou agravada em consequência da atuação, dolosa ou com culpa
grave, do devedor, ou dos seus administradores, nos 3 anos anteriores ao processo de insolvência (art 185º e 186º)
Sucede muitas vezes na prática o gerente da sociedade começar a transferir património para uma sociedade A então
constituída, a sociedade B. Naturalmente, em caso de insolvência serão gravemente lesados o interesses patrimoniais dos
credores da sociedade A por força de atos intencionalmente praticados pelo devedor sem atender ao dever de
preservação de tais interesses. De sublinhar que se presume culpa grave quando os administradores não cumprirem o
dever de requerer a declaração de insolvência.
A sentença que declarar culposa a insolvência pode decretar a inabilitação de certas pessoas para o exercício do comércio
por um período de dois a dez anos.
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7.10. Encerramento do processo.


consequências do encerramento do processo - o termo de todos os efeitos decorrentes da declaraçao de insolvência,
recuperando o insolvente o direito de disposição dos seus bens e a livre gestão dos seus negócios. Cessam, por outro lado,
as atribuições da comissão de credores e do administrador de insolvência (art.233º CIRE).
7.11. Exoneração do Passivo Restante ou Fresh Start.
Relativamente às pessoas singulares prevê o CIRE, a partir do artigo 235°, a possibilidade de lhes ser concedida a
exoneração dos créditos sobre a insolvência que não forem pagos integralmente num prazo de cinco anos após o
encerramento do processo de insolvência.
Esta medida tem relevância especial em períodos de sobre-endividamento das pessoas singulares. O insolvente vai
pagando com parte dos seus rendimentos as dívidas que contraiu, mas ao fim do prazo referido consideram-se extintas a
generalidade das dívidas (artigo 245° CIRE).
Questão que tem sido discutida refere-se ao modo mais correto de interpretar a expressão do legislador "pessoas
singulares".
Será de referir que para que o insolvente possa beneficiar deste regime específico terá de cumprir certos e determinados
requisitos como é o caso, entre vários outros, de não ter beneficiado nos dez anos anteriores de um processo idêntico, o
requerimento de exoneração do passivo restante ser simultâneo à apresentação à insolvência e de o devedor que for,
entretanto, despedido não rejeite desrazoavelmente uma proposta de emprego.
Por fim, devemos significar que determinados tipos de dividas, como as de caráter fiscal, não se extinguem através deste
processo.
7.12. Processo Especial de Revitalização e Sistema de Recuperação de Empresas por Via Extrajudicial.
Foi instituído pela Lei nº 16/2012, de 20 de abril, o processo especial de revitalização (PER.) que tem em vista facultar ao
devedor que se encontre em situação económica difícil ou em situação de insolvência meramente iminente, mas que
ainda seja suscetível de recuperação, estabelecer negociações com os credores por forma a acordar com estes um
processo de revitalização.
Encontra-se em situação económica difícil o devedor que enfrentar dificuldade séria para cumprir pontualmente as suas
obrigações, designadamente por falta de liquidez ou por dificuldade no acesso ao crédito.
O processo tem início com uma manifestação de vontade do devedor e de, pelo menos, um dos seus credores, por meio
de declaração escrita, de encetarem negociações conducentes à revitalização daquele por meio de um plano de
revitalização (artigo 17° C CIRE).
O devedor deverá comunicar que pretende dar início às negociações conducentes à sua recuperação ao juiz do tribunal,
devendo este nomear um administrador judicial provisório. Deverá o devedor comunicar, por outro lado, a todos os seus
credores que não tenham subscrito a declaração mencionada anteriormente, que deu início a negociações com vista à
sua revitalização.
Findo o prazo de impugnações os declarantes dispõem de dois meses para concluir as negociações encetadas. Durante
tal prazo o devedor presta toda a informação pertinente aos seus credores e ao administrador judicial provisório.
O administrador judicial provisório participa nas negociações, orientando e fiscalizando o decurso dos trabalhos, devendo
assegurar que as partes não adotem expedientes dilatórios.
A decisão do devedor de comunicar ao juiz do tribunal competente que pretende dar início às negociações conducentes
à sua recuperação obsta à instauração de quaisquer ações para cobrança de dívidas contra ele (17° E).
Concluindo-se as negociações com a aprovação unânime do plano de recuperação conducente à revitalização do devedor,
em que intervenham todos os seus credores, este deve ser assinado por todos, sendo de imediato remetido ao processo,
para homologação ou recusa da mesma pelo juiz.
Concluindo-se as negociações com a aprovação do plano de recuperação conducente à revitalização do devedor, o
devedor remete o plano de recuperação aprovado ao tribunal (artigo 17° F).
Parte III – Contratos Comerciais
2. os contratos típicos e atípicos. Os contratos mistos
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Quanto aos designados contratos típicos encontram-se previstos e regulado pelo legislador, o qual conforma a sua
fisionomia típica, fixando, entre outros aspetos, os direitos e obrigações das partes.
Já a concessão de validade aos contratos carentes de tipicidade legal nos ordenamentos jurídicos modernos resulta do
princípio da liberdade contratual, que, por seu lado, é expressão da autonomia privada.
O princípio da liberdade contratual continua a ser uma referência fundamental para os diversos sistemas jurídicos atuais,
(artigo 405° CC) que dentro dos limites da lei, as partes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos contratos,
celebrar contratos diferentes dos previstos pelo legislador ou incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver. E acrescenta
que as partes podem ainda reunir no mesmo contrato regras de dois ou mais negócios, total ou parcialmente regulados
na lei, ou seja, os contrato mistos.
Com a evolução da vida mercantil dá-se lugar ao nascimento de novos contratos que não se podem enquadrar em nenhum
dos diversos tipos legais. Então, “o princípio da autonomia privada permite aos interessados prescindir em absoluto dos
moldes legais, ou modificá-los, ou criar novas figuras contratuais”.
Contratos atípicos stricto sensus, compostos por elementos essenciais que nada têm que ver com aqueles que
caracterizam algum tipo já existente. Contudo, continua a aceitar-se a existência de contratos atípicos como situação
normal no permanente processo histórico de cooperação entre os cidadãos, sobretudo por iniciativa dos empresários.
Tudo isto até ao reconhecimento por parte do legislador de que estas operações económicas são socialmente uteis e
merecedoras de que estas operações económicas são socialmente uteis e merecedoras de tutela jurídica, optando pela
sua tipificação legal, como sucedeu entre nós com o contrato de agência ou de locação financeira.
3. contratos nominados e inominados
No que se refere a contratos atípicos, não se trata necessariamente de contratos inominados, desde logo porque em
nosso entendimento já não se coloca forçosamente a identificação romanista entre contratos atípicos e contratos
inominados.
Ou seja, apenas aqueles que o legislador menciona, designando-os, serão considerados nominados. No entanto não
parece totalmente destituído de sentido considerar a maior parte dos contratos atípicos como negócios socialmente
nominados no processo de tipificação que resulta da sua celebração em concreto. Faz sentido considerar os contratos de
franchising (franquia) ou de factoring (cessão financeira) como contratos inominados.
Trata-se de um contrato atípico ou inominado, cuja origem jurídica ainda não está diretamente traçada na lei, sem que
possa ser considerado um contrato de arrendamento comercial, ou uma cessão de exploração de estabelecimento
comercial ou um contrato misto.
Por uma parte “é um erro identificar o “não nominado” com o “atípico”, em sentido absoluto, como se uma tipificação
não pudesse surgir senão mediante particulares denominações”
Por outra parte, um determinado contrato pode não ter uma regulamentação legal tipificadora, mas deter um nomen
iuris generalizadamente aceite no âmbito das relações económico-sociais e pelo legislador.
Capítulo II - O Contrato de compra e venda
Contrato de compra e venda – figura negocial mais relevante pela sua importância própria no âmbito da vida social, mas
também pela função integradora que o legislador lhe comete (art. 939º CC), detem igualmente a compra e venda
comercial na vida das empresas uma importância vital para o respetivo desenvolvimento.
Tal acorre, quer enquanto contrato fundamental para o exercício da atividade a que se dedica concretamente, como
sucede no que se refere aos contratos de distribuição, quer enquanto contrato de carater instrumental (seguro,
transporte).
Conceito contrato de compra e venda comercial – estaremos perante um contrato deste tipo quando determinado bem
foi adquirido com intenção de o revender (art.463º 1 e 464º1 CCom)
O contrato sera considerado um ato de comercio independente da profissão do adquirente (comerciante ou não),
relevando antes a intenção que motivou a tal compra.
Caso um bem seja adquirido para utilização e depois venha a ser vendido, a compra é civil. Exemplo: quando alguém
compra um veículo para seu uso e passados anos resolve vender tal bem a fim de adquirir um mais recente.
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Enquanto são proibidas as vendas de bens alheiros (art. 892º CC), são validas a vendas de bens por comerciantes ainda
que não sejam os titulares do bem vendido (Art. 467º CCom)
Outra curiosidade acerca do contrato de compra e venda comercial, em contraposição com o seu congénere civil, é que
enquanto no âmbito deste último são proibidas as vendas de bens alheios (artigo 892° CC), já são válidas a vendas de bens
por comerciantes ainda que não sejam os titulares do bem vendido, (artigo 467° 2° do CCom). Neste caso, visando a
celeridade das transações a lei considera válidos estes contratos, competindo ao vendedor adquirir a propriedade do bem
para o poder transmitir validamente para a titularidade do comprador final. A sanção para o não cumprimento deste
requisito legal será a resposta por perdas e danos, pela expetativa quebrada e eventual não celebração de outro contrato
vantajoso (artigo 467° do CCom).
Outra modalidade de contrato de compra e venda com finalidade de financiamento consiste na designada "venda a retro",
mediante a qual após a entrega do bem ao comprador detém o vendedor o direito potestativo de resolver o contrato (art.
927° CC).
zela pelas espectativas do vendedor ao impedir a estipulação de pagamento de dinheiro ao comprador ou de qualquer
outra vantagem para este, como contrapartida da resolução (art. 928° CC). - seria desvirtuada a lógica do instituto.
Última referenda para a venda a prestações, sendo forçosa a referência (art. 934° CC), nos termos do qual, uma vez
vendida a coisa a prestações com inclusão de uma cláusula de reserva de propriedade, e após a entrega dessa coisa ao
comprador, se se verificar a falta de pagamento de uma só prestação que não exceda a 1/8 parte do preço tal não
outorgará ao vendedor o direito de resolução do contrato em causa.
Quer haja reserva de propriedade ou não, não resultará nas circunstâncias referidas, a perda do benefício do prazo
relativamente às prestações seguintes.
Capítulo III - OS TITULOS DE CRÉDITO
1. notas iniciais
Considera-se título de crédito um documento que incorpora um direito literal e autónomo, que legitima o seu titular a
exerce-lo e serve de suporte à sua circulação.
2. letras de cambio
Consiste em a letra de cambio numa ordem de pagamento de um certo montante que é dada pelo emitente do título (o
sacador) a alguém que lhe deve uma quantia (o sacador), ordem que vai a favor de uma terceira pessoa (o tomador).
Porque ninguém se obriga por vontade alheia, o sacado só ficará obrigado mediante o designado aceite, assinando
transversalmente na letra em causa. Ao assumir o estatuto de aceitante, torna-se devedor do valor da letra.
O tomador, que é o beneficiário da letra, pode ser o próprio sacador, o qual, no ato de preenchimento, pode utilizar
expressões como "pague-se a nós ou à nossa ordem...".
Quanto à forma de circulação da letra de câmbio, possibilidade que está na essência deste instrumento jurídico-
empresarial, será de referir que esta se transmite por endosso para outro portador, sendo, deste modo, um título à ordem.
Ao analisar, agora, os designados negócios jurídicos cambiários temos o saque que corresponde à criação da letra e ordem
de pagamento por parte do sacador.
O aceite consiste na declaração de vontade mediante a qual o sacado assume a obrigação cambiária principal.
O aval é a garantia prestada por determinado sujeito jurídico que se torna responsável, ao exarar a expressão "bom para
aval" ou equivalente na letra ou respetivo anexo, da "mesma maneira que a pessoa por ele afiançada". Ou seja, trata-se
de uma responsabilidade solidária e não subsidiária, como na fiança. Naturalmente, o avalista que pagar o valor da letra
tem direito de regresso contra o aceitante.
certificação da falta de aceite ou de pagamento por parte de um notário - ocorre após apresentação a pagamento no dia
final do prazo ou num dos dois dias úteis seguintes
Considera-se "letra sem despesas" ou "letra sem protesto" quando não é necessário efetuar protesto notarial. Deste
modo.

• A reforma da letra pode ser evocada em duas aceções: a reforma do documento, quando se extravia ou destrói;
• a reforma do crédito, quando se estabelece nova data de pagamento.
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EXEMPLO: o montante constante da letra é no valor de 2 000€, o aceitante pode pagar 1 000€ sendo sacada sobre ele
uma letra de reforma no valor de 1 000€ com novo prazo de pagamento.
Quanto ao desconto é o contrato mediante o qual o tomador endossa a letra a um banco que antecipa o pagamento do
respetivo valor, descontando os juros remuneratórios até à data do vencimento (é um contrato atípico, embora com
breve referência no artigo 362° do CCom).
Já o redesconto é o contrato mediante o qual um banco comercial endossa a letra a outro banco, nomeadamente o Banco
Central, que antecipa o pagamento do respetivo valor, descontando os juros remuneratórios até à data do vencimento.
"letra de favor" - instrumento jurídico que se aproxima dos objetivos prosseguidos pela constituição de uma garantia.
De facto, neste tipo de letras não existe correspondência entre a obrigação cambiária e a relação cartular ou subjacente.
O favorecente aceita a letra para que o tomador a possa descontar no banco. Mas, como aceitou a letra, se esta entrar
em circulação o aceitante é obrigado a pagar, não podendo opor ao portador exceções fundadas na sua relação com o
sacador. Só na relação com o tomador favorecido é que se pode solicitar o reembolso.
Refira-se, a finalizar este ponto, que quando o aceitante cumpre a sua obrigação tem direito a receber a letra de câmbio
a que o pagamento diz respeito, bem como o respetivo documento de quitação.
3. A Livrança.
A livrança consiste numa promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada, sendo um título à ordem, ou seja,
transmitindo-se por endosso. A responsabilidade do subscritor de uma livrança é idêntica à de um aceitante de uma letra.
Relativamente a determinados aspetos não legislados de modo expresso acerca das livranças aplica-se a correspondente
regulamentação aprovada para as letras (nestes termos, ver o artigo 77° LULL).
A livrança deve ser sempre totalmente preenchida, mas ocorre na prática, sobretudo bancária, preencher apenas o espaço
da assinatura do subscritor _ criando o que se designa por "livrança em branco" (artigo 70° LULL).
A livrança em branco, isto é, não totalmente preenchida, funciona como garantia de cumprimento de uma obrigação.
Convém, de momento, tecer algumas considerações sobre a questão urna vez que tal prática tem lugar com grande
frequência no âmbito de contratos bancários, curando analisar o seu carácter abusivo.
Há um documento base (pacto ou convenção de preenchimento) que fundamenta os termos da subscrição de tal livrança,
afigura-se devidamente protegido o consumidor em sede probatória.
4. O Cheque.
O cheque incorpora o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada, consistindo, numa "ordem de
pagamento de certa quantia dada a um banqueiro”
O cheque deve ser apresentado a pagamento no prazo de oito dias, sob pena de possível revogação da ordem de
pagamento por parte do sacador.
Quanto ao modo de circulação do cheque, trata-se de um titulo à ordem ou ao portador, uma vez que tanto se pode
transmitir mediante endosso, como através de entrega real.
para duas possíveis modalidades que podem caracterizar a emissão de cheques: "cheques cruzado" e "cheque visado"
Com a forma de passar um cheque referida em primeiro lugar visa-se precaver certos riscos inerentes à sua circulação,
uma vez que o cheque cruzado só pode ser pago a um banqueiro ou a um cliente do banco sacado. Nestes termos, será
inválido o respetivo endosso.
Quanto ao modo de cruzamento do cheque efetua-se por meio de duas linhas paralelas traçadas na face do cheque (cf.
artigos. 37° e 38° LUC), ocorrendo na prática serem entregues aos clientes bancários cheques cruzados por decisão
unilateral do banco que os entrega.
Já quanto ao cheque visado é aquele que se consubstancia no facto de um determinado montante ficar cativo na conta
do sacador, conferindo ao portador a certeza de que o mesmo será pago pela instituição bancária sacada.
Verifica-se a existência de informação prestada aos clientes de certos estabelecimentos comerciais, como é o caso de
postos de abastecimento de combustível a veículos, no sentido de que apenas se aceitam para pagamento cheques
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visados. Assim, não podendo tal empresa negar o pagamento feito por cheque terá a certeza de que os cheques que
receba como contraprestação do serviço restado visão na conta bancária do sacador.
Convirá referir que o legislador regulou a restrição uso do cheque e a obrigatoriedade do seu pagamento
Além disso, as entidades que tenham sido objeto de rescisão de convenção de cheque são incluídas numa listagem de
utilizadores de cheque que oferecem risco a comunicar pelo Banco de Portugal a todas as instituições de crédito (artigo
3° 1). Quem fizer parte da referida lista estará impedido pelo prazo de dois anos de celebrar nova convenção de cheque.
No que se refere à polémica obrigação de pagamento do cheque, por parte das entidades bancárias, mesmo que não
exista provisão, ela ocorre quando o respetivo valor não for superior a 150 euros (artigo 8°).
Apenas em situações especiais, como falsificação ou furto do cheque, pode a instituição de crédito recusar o respetivo
pagamento. Tal disposição visa obstar à existência de uma quantidade excessiva de processos por cheques sem provisão.
O referido valor, por seu turno, afigura-se relevante quanto ao regime penal do cheque. Assim, é considerada crime, entre
outras situações previstas pelo legislador, a emissão de cheque de valor superior a 150 euros que não seja integralmente
pago por inexistência de provisão ou por irregularidade do saque.
As penas aplicáveis aos crimes de emissão de cheque sem provisão serão a de prisão até 3 anos ou de multa ou, se o
cheque for de valor elevado, pena de prisão até 5 anos ou pena de multa até 600 dias (artigo 11°). Por fim, será de
mencionar a previsão de sanções acessórias do crime de emissão de cheque sem provisão, como a interdição do uso de
cheque ou a publicidade da decisão condenatória (artigo 12°).
Capitulo IV – contratos de distribuição
1. Nota prévia.
No que se refere, atualmente, à colocação de produtos e serviços junto dos consumidores, verificamos que tal realidade
assume formas diversas, sendo possível falar, nomeadamente, de: distribuição direta e distribuição indireta.
Em tempos mais recuados procurava o fabricante ou produtor, ele próprio, colocar os seus produtos junto dos
consumidores finais mediante os seus trabalhadores, sucursais, filiais ou outras formas de organização empresarial. Com
a industrialização e produção de bens em grande quantidade, por um lado, e com o consumo em massa, por outro, tornou-
se progressivamente mais difícil para o produtor fazer chegar os seus produtos com eficácia junto dos mercados.
Foi começando o produtor a transmitir a tarefa de distribuição a outros comerciantes mediante o que se pode designar
por "distribuição indireta". Decorre esta designação do facto de que consiste numa realidade integrada por três sujeitos
(produtor, distribuidor e consumidor), atuando o distribuidor como intermediário entre o proutor e o consumidor.
Através desta forma de distribuição, procura o produtor concentrar-se na atividade produtiva, deixando a tarefa de
distribuição a quem o pode e sabe fazer melhor. Estabelece-se, assim, uma forte ligação económica entre estes agentes
económicos, beneficiando ambos de mútuas sinergias. O distribuidor beneficia de um produto com prestígio angariado
ao longo do tempo.
O produtor, por seu turno, usufrui do conhecimento que o distribuidor tem do mercado onde em concreto se pretende
colocar os produtos ou serviços. Este aspeto é relevante em qualquer circunstância, mas detém especial importância
quando se pretende penetrar em mercado estrangeiro.
Refira-se, porém, que não obstante esta junção de esforços na produção e colocação de produtos, ambos os sujeitos da
distribuição indireta mantêm a sua autonomia e independência jurídica. De facto, cada urna tem a sua personalidade
jurídica com os respetivos direitos e obrigações, os seus lucros e suas perdas, e inclusivamente, eventual insolvência.
Vamos, nos pontos seguintes, analisar os três tipos legais que com maior predominância se apresentam nos nossos
tempos no que à distribuição indireta de bens e serviços diz respeito: o contrato de agência, o contrato de concessão
comercia',. e o contrato de franchising.
2. O contrato de agência.
Paradigmático no que concerne ao fenómeno da distribuição é o contrato de agência, atualmente tipificado.
Consiste o contrato de agência no negócio jurídico pelo qual urna das partes se obriga a promover por conta da outra a
celebração de contratos, de modo autónomo e estável e mediante retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa zona ou
determinado círculo de clientes.
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Verificamos, pois, que mais que vender bens, a função do agente reside essencialmente em promover a celebração de
contratos, desenvolvendo para o efeito uma atividade de prospeção de mercado e de marketing no sentido de contribuir
para o aumento da clientela dos produtos do outro sujeito jurídico, designado como o 'principal".
Quanto à forma pela qual deve ser celebrado o contrato de agência, tem qualquer das partes direito de exigir da outra
um documento assinado por esta assinado que indique o conteúdo do contrato, bem como posteriores aditamentos ou
modificações.
No que se refere aos principiais deveres e direitos do agente e do principal, destaca-se, desde logo, uma atuação de
acordo com o princípio das boa-fé, o que é especialmente relevante no âmbito de um contrato de caráter duradouro e
em que há partilha de segredos do negócio e a necessidade de reforço da confiança mútua.
Quanto a algumas obrigações do agente, será de realçar a de respeitar as instruções do principal, a de fornecer as
informações que lhe forem solicitadas, a de esclarecer sobre a situação do mercado e a de prestar contas nos termos
acordados.
Tem direito o agente, por seu turno, a obter do principal informações indispensáveis para um bom desempenho da sua
função e, naturalmente, às comissões vencidas, respeitantes a todos os contratos celebrados mediante a sua
intermediação. Consiste a comissão na remuneração fundamental do agente, o que não impede a estipulação contratual
de um montante base.
No que se refere a esta retribuição de que é beneficiário o agente, deverá ser estabelecida pelas partes. Caso tal não
suceda; será calculada segundo os usos ou, na sua ausência, segundo a equidade. Veja-se no artigo seguinte a referência
ao direito à comissão pelos contratos promovidos e pelos concluídos com clientes angariados pelo agente.
Por outro lado, sendo um aspeto com grande relevância e aplicabilidade no contexto do tipo de contrato que agora
analisamos, pode o agente ter direito de exclusivo relativamente a certa área geográfica. Desse modo, não sofrerá
concorrência por parte de outro agente do principal em tal território e âmbito de clientela.
Será de referir, igualmente, o dever de segredo a que está sujeito o agente, mesmo após a cessação do contrato, não
podendo utilizar ou revelar a terceiros segredos da outra parte que lhe hajam sido confiados ou de que ele tenha tomado
conhecimento no exercício da sua atividade.
Também se encontra o agente obrigado a não fazer concorrência ao principal após a cessação do contrato se tal estiver
estipulado entre as partes, sendo que o prazo de tal obrigação não poderá exceder o período de dois anos,
circunscrevendo fiado ao agente.
Tema relevante quanto ao contrato de agência, como contrato continuado, refere-se à sua cessação. Pode terminar por
acordo entre as partes, por caducidade, por denúncia ou por resolução
Veio o legislador acautelar tal situação ao determinar que o agente deverá receber um montante pecuniário pelo esforço
de angariação de clientela desenvolvido enquanto durou o contrato. Consiste numa compensação pela "mais-valia"
proporcionada pelo distribuidor em benefício da contraparte, por fazer aumentar a notoriedade das marcas do "principal'.
Estipulou-se, em sede de indemnização de clientela, que o agente tem direito após a cessação do contrato por qualquer
forma a uma compensação pecuniária, desde que cumulativamente se encontrem preenchidos certos requisitos que o
legislador elenca no artigo 33°: que o agente tenha angariado novos clientes para a outra parte ou aumentado
substancialmente o volume de negócios com a clientela já existente; que a outra parte venha a beneficiar
consideravelmente, após a cessação do contrato, receber da atividade desenvolvida pelo agente; e que o agente deixe
qualquer retribuição por contratos negociados ou concluídos, após a cessação do contrato, com os clientes referidos
anteriormente.
Quanto ao cálculo da indemnização de clientela será concretizado em termos equitativos, não podendo exceder um valor
equivalente a uma indemnização anual, calculada a partir da média anual das remunerações recebidas pelo agente
durante os últimos cinco anos.
3. O contrato de concessão comercial.
É possível definir a concessão comercial como o contrato pelo qual um sujeito jurídica se obriga a vender a outro
determinada quantidade de bens. obrigando-se este a comprar aqueles bens para revenda.
Repare-se que o concessionário não se obriga apenas a comprar determinada quantidade de bens ao concedente. É do
interesse deste último sujeito que os bens sejam colocados no mercado, o que é relevante em certas áreas económicas
Direito Comercial e das Sociedades – exame

corno seja a do ramo automóvel. De facto, não haverá melhor publicidade às qualidades de um veículo do que fazê-lo
circular.
Importa sublinhar que, diferentemente do que se passa no caso do agente, atua o concessionário em nome e por conta
própria, assumindo os riscos da comercialização.
O concessionário obriga-se, além disso, a prestações típicas do distribuidor: organização, política comercial, assistência
aos consumidores e sujeição a fiscalização pelo concedente
Quanto ao respetivo regime legal, tratando-se de um contrato atípico, embora socialmente típico (são raros os
ordenamentos jurídicos em que este contrato é típico), e dada a identidade de interesses que se manifesta relativamente
ao contrato de agência, aplica-se por analogia à concessão comercial, sempre que tal se justifique. De facto, se existem
aspetos que afastam ambos os modelos contratuais e em que não se verifica uma rigorosa analogia de interesses, é certo
que se consubstanciando formas de distribuição indireta de bens há diversos pontos de contacto.
No arresto em questão defendeu o juiz relator que o distribuidor não tem direito a indemnização de clientela quando o
contrato cesse por razões imputáveis a si próprio
Por fim, fazemos referência à questão do destino dos stocks no final do contrato
Será de referir, a este propósito, que, habitualmente, encontra-se o distribuidor obrigado a constituir stocks de bens para
fazer face às exigências rei do mercado. Cessando o contrato, porém, poderá o distribuidor deparar-se lar com
dificuldades em escoar estas mercadorias, inclusivamente por se encontrar impedido de as comercializar com a marca do
produtor.
É por este facto que o concessionário tem sempre muita precaução no sentido de apenas adquirir, dentro do acordado
contratualmente, os bens que julga poder colocar no mercado. Será de referir, também neste contexto, que não é rara a
celebração pelo concessionário de um contrato de seguro de crédito.
Resulta desta análise que o concessionário e, como veremos, o franquiador, assumem maior risco do que o agente, a
quem verdadeiramente
4. Contrato de franquia (franshing)
Será de enfatizar, inicialmente, que este modelo contratual se encontra ratos atualmente em grande expansão em todo
o mundo e, forçosamente, no que, nosso país. Considerando, no entanto, que não existe legislação nacional o da sobre
este contrato, a noção de contrato de franchising tem sido construída através da doutrina e da jurisprudência.
Assim, poder-se-á referir que se trata de um acordo entre dois agentes económicos autónomos, mediante o qual o
"franquiado" utiliza certos direitos de propriedade industrial (normalmente uma marca) de que o "franquiador" é titular,
comprometendo-se este a fornecer àquele todas as ato, informações técnicas necessárias a um bom desempenho
empresarial.
As principais modalidades são o franchising de distribuição (exemplo "Benetton" ou "Cenoura"), o franchising de produção
("Coca-Cola" ou à "Pepsi-Cola") o franchising de serviços ("McDonald" e "5 a Séc") e franchising misto de distribuição e
serviços ("Multióticas" que vende óculos e presta serviços médicos na área da oftalmologia).
Quanto ao regime legal do contrato de franchising, aplica-se o que referimos acerca do contrato de concessão e aplicação
analógica da regulamentação do contrato de agência.
De referir que na prática a integração económica dos dois agentes empresariais é de tal forma intensa que, por vezes, não
é fácil distinguir entre franquiador e franquiado
O franquiador controla a atividade do franquiado assegurando que são cumpridos os parâmetros por si definidos.
Normalmente o franquiador fornece ao franquiado um documento extenso com regras que este deve seguir. Se por um
lado é útil para o distribuidor por beneficiar de um nível de assistência técnica e de assessoria comercial de alto nível,
corre, todavia, o risco de ver fortemente restringida à sua autonomia de atuação.
Esta rede de distribuição, por permitir ao franquiado gozar desde logo de uma imagem com grande prestígio junto do
mercado, é atualmente uma forma muito comum de início de uma atividade empresarial Será de referir que
habitualmente deverá o franquiado pagar determinado montante pecuniário ao franquiador no início do contrato, para
além das royalties em função das vendas concretizadas.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

Quanto ao designado master franchise é um franquiado que detém o direito de exploração de determinada marca em
certo território, nomeadamente um país. Por sua vez, está autorizado a conceder nesse âmbito territorial sublicenças a
terceiros para que estes explorem a franquia.
Capitulo V - Os contratos bancários
1. Notas iniciais.
Refira-se que a escolha da designação encontra a sua razão de ser e critério balizador na entidade que polariza junto da
clientela e com caráter profissional a celebração de determinados contratos. Ora, esta entidade, com fundamental poder
de intervenção na economia, consiste efetivamente num "banco".
Assim, quando uma destas entidades intervém como sujeito jurídico de um contrato será este normalmente considerado
como bancário. Critério diverso, porém, será eleito para designar os contratos financeiros a que faremos alusão no
próximo capítulo. Aí, considerando a consistência e homogeneidade desses contratos, ainda que seja outorgado por um
banco enquanto parte será considerado como financeiro em virtude do objeto que lhes é comum e que reside num
financiamento. Um contrato como o mútuo bem ficaria no presente capítulo, mas pelas razões aduzidas será tratado
nesse capítulo.
A base de regulamentação da atividade financeira encontra-se prevista no Regime Geral das Instituições de Crédito e
Sociedades Financeiras (RGICSF), aprovado pelo Decreto-Lei n° 298/92, de 31 de dezembro com sucessivas alterações,
para além das regras específicas das instituição de crédito e das sociedades financeiras.
As instituições de crédito têm por função principal intermediar a concessão de crédito. De facto, recebem depósitos dos
aforradores, por exemplo particulares, concedendo por outra parte empréstimos a entidades, normalmente empresas,
carentes de meios financeiros para fazer face às suas necessidades de investimento. Dados os riscos assumidos e a
importância que o desempenho destas instituições detém no desenvolvimento económico do país.
Por outro lado, se nenhuma outra entidade pode desenvolver as atividades que são exclusivas dos bancos, já estes têm
expandido a sua área de intervenção para outros quadrantes, como a consultoria e o aluguer de cofres.
2. O contrato de abertura de conta.
Consiste a abertura de conta no contrato celebrado entre um banco e um cliente mediante o qual se dá início a uma
relação duradoura entre os dois, estabelecendo-se os termos dessa mesma relação ao definir os principais direitos e
obrigações das partes.
A este propósito convirá dizer que neste contexto é habitual ter lugar o que se designa por "relação corrente de negócios"
que consiste numa intensa e contínua ligação entre duas partes, tendo lugar prestações que, embora não consideradas
na sua individualidade contratual, emerge e tem como referência tal relacionamento.
Um exemplo típico de relação corrente de negócios é a que liga os bancos aos seus clientes. Imagine-se que alguém tem
habitualmente urna conta num banco, mas solicita ou recebe do seu gestor de conta informações sobre determinados
serviços que nada têm a ver com o depósito bancário em questão (ex: informação sobre investimentos ou concessão de
crédito).
Naturalmente que o serviço não aparece desgarrado da relação habitualmente existente entre as partes, através da qual
é criada uma situação de confiança na esfera do cliente, cuja lesão deve envolver responsabilidade civil pelos danos
causados”
Assim, à semelhança do que acontece com a culpa in contrahendo, essa vinculação específica pode ser fundamento para
que surjam deveres de proteção, deveres de informação e deveres de lealdade. A sua violação pode originar um dever de
indemnização.
O regime jurídico do contrato de abertura de conta assenta, no essencial, nas cláusulas contratuais gerais e nos usos
bancários.
Quanto ao ato de abertura, em concreto, passa pelo preenchimento de uma ficha assinada pelo cliente, com relevo para
as comunicações e ordens dirigidas ao banqueiro, nomeadamente através da utilização de cheques.
Mediante a celebração do contrato que aqui abordamos prevê-se um quadro para a constituição de depósitos bancários
e regula-se a designada conta corrente bancária a que prestaremos a nossa atenção no ponto seguinte. Preveem-se,
igualmente, regras sobre os seus movimentos, incluindo juros, comissões e despesas, convenção de cheques, emissão de
cartões e a concessão de crédito por descobertos em conta
Direito Comercial e das Sociedades – exame

Com importância prática verifica-se a atribuição do NIB (número de identificação bancário) e do IBAN (International Bank
Account Number), necessário para as transferências monetárias que não sejam feitas mediante utilização de um terminal
multibanco.
No que se refere às modalidades de abertura de conta pode ser individual ou coletiva, consoante seja aberta em nome
de uma ou de várias pessoas.
Neste último caso pode ser solidária (qualquer titular pode movimentar sozinho livremente a conta), conjunta (só pode
ser movimentada por todos os seus titulares, em simultâneo) ou mista (é necessária a movimentação por alguns titulares.
Por vezes impõe-se como obrigatória a assinatura de determinado titular como o tesoureiro de uma associação.
Aspeto importante a considerar é o chamado "direito à conta". não se afigura difícil compreender a situação de
menoridade na gestão do seu "dia a dia" daquele que vê negada a abertura de conta por parte de todos os bancos a que
acorra no sentido de celebrar tal contrato. E as instituições de crédito não estão obrigadas a abrir uma conta com quem
não lhes oferece confiança patrimonial.
6. O crédito documentário.
O crédito documentário é o contrato mediante o qual um banco paga um determinado montante, em nome de
determinado cliente, a outro sujeito jurídico uma vez entregues por este último certos documentos. Consiste o cliente,
normalmente, num comprador ou importador e a parte obrigada à entrega de documentação atinente aos bens
transacionados num vendedor ou exportador.
É um contrato atípico
É utilizado normalmente nas vendas internacionais, uma vez que a intervenção do banco gera confiança entre as partes
envolvidas no contrato de compra e venda ou de prestação de serviços. Eventualmente pode de igual modo ser parte do
processo negocial um banco de que é cliente o exportador.
O vendedor entrega ao banco do comprador documentos que comprovem o bom estado dos bens e de que foram
devidamente enviados para o comprador (guia de transporte), um seguro e uma fatura.
Tem lugar uma abertura de crédito a favor do comprador, por parte do banco interveniente na transação ou, então, é
necessário proceder ao correspondente depósito bancário.
7. As garantias bancárias.
Importa proceder à distinção entre o que são garantias acessórias e aquilo em que consistem as garantias autónomas.
Paradigma de garantia acessória é a fiança, a qual se encontra intimamente ligada à constituição e conformação da dívida
principal.
Assim, refere o legislador de modo inequívoco que a obrigação do fiador é acessória da que recai sobre o principal devedor
(artigo 627° 2 CC).
Por outro lado, a validade da fiança depende da validade da obrigação principal, nos termos dispostos no artigo 632° CC.
Aspeto igualmente revelador da acessoriedade que caracteriza a fiança é o facto de o respetivo conteúdo (direitos e
obrigações do fiador) se identificar plenamente com aquele que respeita à obrigação principal (artigo 634° CC).
Por fim, será oportuno realçar que, para além dos meios de defesa que são próprios do fiador, terá este direito a opor ao
respetivo credor aqueles que competem ao devedor (artigo 637° CC).
Já mediante a garantia bancária autónoma o garante compromete-se a pagar ao beneficiário o montante definido
contratualmente, independentemente das vicissitudes do contrato subjacente. O banco garante encontra-se obrigado ao
cumprimento da garantia não por obrigação alheia (como na fiança), mas sim por uma obrigação própria.
O estabelecimento desta garantia impõe a concessão eventual de um crédito equivalente ao do montante garantido,
tendo como contraprestação uma "comissão" a entregar ao banco.
Os sujeitos envolvidos são o garante (banco), o garantido (mandante/ /devedor) que é cliente do Banco e o beneficiário
(credor).
Será de referir que autonomia e automaticidade são coisas teoricamente distintas. A cláusula on first demand ou à
primeira solicitação determina que com a interpelação o cumprimento é imediatamente exigível. No âmbito desta
Direito Comercial e das Sociedades – exame

garantia o banco obriga-se a pagar a quantia solicitada sem discutir. Assim, a garantia, além de autónoma, opera de modo
automático.
Por fim, e quanto a um dos aspetos da finalidade económico-social destas garantias, assume particular relevo na prática
a assunção deste contrato como alternativa à imposição de prestação de uma caução pecuniária, como sucede nos casos
de empreitadas de obras públicas ou de administração executiva de sociedades anónimas.
8. As cartas de conforto.
As cartas de conforto consubstanciam-se numa recomendação feita a um banco por determinada entidade em favor de
outra, mediante a qual se procura "convencer" o destinatário das boas condições do garantido para cumprir um eventual
empréstimo monetário ou concessão de crédito. No entanto, não assume o garante a responsabilidade de cumprir a
obrigação eventualmente constituída caso o devedor não a cumpra, daí ser designada como urna "garantia imprópria".
Estas garantias têm lugar habitualmente no âmbito de atuação dos grupos de sociedades, sendo o garante a "sociedade-
mãe" e o garantido uma "sociedade-filha".
Como modalidades a carta de conforto pode ser fraca, media ou forte, consoante a intensidade das declarações
constantes da mesma. No entanto, aquelas que a doutrina designa como cartas de conforto fortes mais se parecem
verdadeiras garantias.
Capítulo VI - Os contratos financeiros
1. Observações iniciais.
o regime jurídico de certos contratos que têm como finalidade económico-social comum a concessão de "financiamento".
Assim, independentemente da entidade que celebre como objeto principal e com caráter profissional tais contratos, o
que aqui releva é saber se estamos perante um contrato mediante o qual se procede ao financiamento de certa entidade
(pessoa singular ou coletiva) com vista a facilitar a obtenção por ela de determinado objetivo.
2. O contrato de mútuo.
Quando um sujeito jurídico empresta a alguém determinada coisa fungível, que normalmente consiste em dinheiro,
ficando o segundo obrigado a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade, estamos perante a celebração de um
contrato de mútuo, previsto nos artigos 1142° a 1151° do Código Civil.
No que respeita à forma de celebração do contrato, impõe o artigo 1143° CC a assinatura de um documento pelo mutuário
quando o valor mutuado excede os 2 500 euros e a celebração de escritura pública ou documento particular autenticado
quando o valor excede os 25 000 euros. Até 2 500 euros, a contrário, trata-se de um contrato meramente consensual.
Em caso de dúvida presume o legislador que o contrato é oneroso, o que implica o pagamento de juros compensatórios
por parte do mutuário, para além, naturalmente, da devolução do valor mutuado.
quanto ao empréstimo mercantil, em que a respetiva qualificação depende de a coisa cedida se destinar a qualquer ato
comercial, é com naturalidade que se constata a sua natureza tendencialmente onerosa (cf. artigo 395° CCom).
quanto à forma de celebração do mútuo bancário, uma vez que veio o Decreto-Lei n° 32 765, de 29.04.1943, determinar
que "seja qual for o seu valor, quando feito por estabelecimentos bancários autorizados, pode provar-se por escrito
particular, ainda mesmo que a outra parte contratante não seja comerciante".
Atualmente, com a liberalização da economia e, consequentemente, da atividade bancária, pode ficar contratualmente
definido o fim a que o montante mutuado se destina (normalmente no caso de crédito para aquisição de imóvel), não
sendo, porém, obrigatório. Tal acontece com valores mais baixos, como sucede com o crédito ao consumo.
3. Contrato de Abertura de Crédito

É o contrato segundo o qual o banco se obriga a pôr à disposição de um cliente uma soma em dinheiro, por prazo
determinado ou indeterminado, obrigando-se este a devolver a importância, acrescida dos juros, ao se extinguir o
contrato. Este contrato afigura-se mais flexível do que o contrato mútuo, na perspetiva dos empréstimos.

No empréstimo de dinheiro o devedor fica obrigado, durante o período de amortização do capital emprestado, a pagar
juros remuneratórios sobre um montante. Na abertura de crédito o empresário apenas estará obrigado a pagar juros pelo
capital concretamente utilizado e durante o tempo de utilização.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

Existem duas modalidades de abertura de crédito:

• a abertura de crédito simples – o cliente só poderá usufruir uma vez do capital disponibilizado, ainda que em utilizações
parciais;

•a abertura em conta-corrente (a mais vulgar) – o cliente depois de reembolsar o banco, pode voltar a utilizar o montante
que resulta da diferença entre o teto estabelecido e o montante.

•a abertura de crédito documentário – assume especial destaque no âmbito dos negócios celebrados entre empresários
sediados em países distintos.

4. O crédito ao consumo

4.4. Regime Jurídico

4.4.1. Questões prévia: enunciação dos negócios jurídicos subsumíveis no conceito legal de crédito ao consumo

No art.4º/nº1/c) LCC, esclarece-se o significado a atribuir ao conceito de contrato de crédito no âmbito desse diploma,
entendendo-se como “o contrato pelo qual um credor concede ou promete conceder a um consumidor um crédito sob a
forma de diferimento de pagamento mútuo, utilizando o cartão de crédito ou qualquer outro acordo de financiamento
semelhante”.

a)O contrato de compra e venda a prestações

Consiste num subtipo negocial de um contrato de compra e venda em que o respetivo preço não é pago em simultâneo
com a entrega do bem, antes tendo lugar de modo diferido através de diversas prestações que na sua totalidade
compreendem o preço acordado.

b)O contrato de mútuo. Remissão

c)O contrato de crédito coligado

O contrato mútuo é o modelo clássico de cedência monetária para aplicação aos mais diversos fins (por exemplo, caso da
aquisição de um bem ou a prestação de um serviço), consistindo estas em operações económicas distintas daquele
contrato.

Para se tratar de um contrato de crédito coligado a um contrato de compra e venda ou de prestações de serviços
específicos, é necessário que o crédito concedido sirva exclusivamente para financiar o pagamento do preço do contrato
de fornecimento de bens ou de prestações de serviços específicos e, por outro lado, que ambos os contratos constituam
objetivamente uma unidade económica. Nomeadamente no caso em que o crédito ao consumidor for financiado pelo
fornecedor ou pelo prestador de serviços, ou, quando financiado por terceiro, se o credor recorrer ao fornecedor ou ao
prestador de serviços para preparar ou celebrar o contrato de crédito ou se o bem ou serviço estiverem expressamente
previstos no contrato de crédito.

d) A utilização do cartões de crédito

O cartão de crédito é definido como qualquer instrumento de pagamento, para uso eletrónico ou não, que seja emitido
por uma instituição de crédito ou por uma sociedade financeira que possibilite ao seu detentor a utilização de crédito
outorgado pela emitente, em especial para a aquisição de bens ou serviços.

e) O contrato de locação financeira (leasing)

Define contrato de locação financeira como aquele pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição, a ceder à
outa o gozo temporário de uma coisa, movel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação desta, e que o locatário
poderá comprar, decorrido o período acordado, por um preço nele determinado ou determinável mediante simples
aplicação de critérios nele fixados.

f) O contrato de aluguer de longa duração (ALD)

Neste contrato, como em outros análogos, o essencial da vida útil do bem locado se esgota durante a respetiva vigência,
sendo habitual acordar-se uma promessa unilateral de venda ou uma proposta irrevogável de venda.
Direito Comercial e das Sociedades – exame

g) O contrato de renting ou locação operacional

Consiste num acordo de vontades através do qual um sujeito jurídico se obriga a ceder temporariamente a outro uso de
determinado bem e, simultaneamente, a prestar certos serviços conducentes à respetiva manutenção e reparação,
mediante o pagamento de um montante periódico fixo como contraprestação.

4.4.2. As obrigações decorrentes da aplicação da LCC

Com vista à proteção da parte economicamente mais débil e menos informada, estabeleceu ao legislador todo um
conjunto de normas que balizam a celebração e cumprimento de qualquer contrato de crédito ao consumo.

a) Publicidade

Toda a comunicação comercial, incluindo a publicidade, em que um agente económico se proponha conceder credito ou
servir de intermediário para a celebração de contratos de credito deve indicar sempre a TAEG para cada modalidade de
credito a que essa comunicação se refere, mesmo que se apresente o credito como gratuito, sem juros ou utilize
expressões equivalentes.

b) Informações pré-contratuais

Consiste na obrigatoriedade a cargo do credor, e eventualmente do mediador de crédito, de prestar ao consumidor, na


data da apresentação da oferta de crédito ou previamente à celebração do contrato de credito, as informações
necessárias que lhe permitam comparar diferentes ofertas e, em consequência, tomar uma decisão esclarecida e
informada.

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