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partir das necessidades, limitações e potencialidades do educando e de sua


circunstância. Entretanto, é urgente que mudemos esta atitude, pois só assim
chegaremos a uma outra dinâmica no agir educativo caracterizado, em seus valores e
objetivos, pelo reconhecimento de que os homens são mais importantes que o capital
(REZENDE, 1986), de que o tempo de cada homem concreto é limitado e o seu
desenvolvimento pessoal e social não pode esperar até o infinito.

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ATIVIDADES

A partir dos conceitos e tema estudados neste tópico, responda as questões abaixo:

1- Que definição de educação é explorada neste tópico e qual sua opinião sobre ela?

2 – Os valores e objetivos priorizados nas ações educativas possuem qual objetivo?

3 – Como deveriam ser definidos os valores e objetivos de uma ação educativa para o
homem no Brasil? Justifique sua resposta.

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2.2 Os Discursos: Ideológico, Pedagógico e Filosófico

2.2.1 Introdução

Prezado(a) estudante, nas Considerações Finais, do primeiro texto desta unidade,


afirmamos a “necessidade de se tomar a circunstância concreta do educando como o
núcleo central e a razão de toda a ação educativa que vise a promovê-lo; esta
necessidade, - dissemos ainda - no caso da educação brasileira, está longe de ser
atendida. Isto porque, desde o ponto de vista político dos governantes para a educação
até as discussões sobre educação no interior de cada escola, os valores e objetivos para a
ação pedagógica têm sido definidos mais à luz dos interesses do mercado ou deste ou
daquele plano econômico, dos alinhamentos ideológicos dos donos do poder, do que a
partir das necessidades, limitações e potencialidades do educando e de sua
circunstância.” No texto que você começa a ler agora, pretendemos, à luz das
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afirmações acima, mostrar como, em linhas gerais, o Discurso Ideológico (DI) invade e
contamina o Discurso Pedagógico (DP) ao longo da história da educação brasileira,
tornando justificável a presença do Discurso Filosófico (DF) na Educação como
contraponto do DI presente nela. Para tanto, organizamos este texto da seguinte forma:
primeiramente, caracterizamos o DI, em seguida, o referimos ao DP para, finalmente,
identificar e caracterizar o DF como importante ao DP, caso queiramos defini-lo como um
discurso comprometido com o saber e não com poder e a dominação.

2.2.2 O Discurso Ideológico

Propomos, aqui, que entendamos o DI como aquele que exprime a visão de mundo de uma
determinada classe social (dominante), pretendendo que esta visão seja a de todos. Neste
sentido, ele surge sempre a partir de um posicionamento da consciência frente à realidade
social, ou melhor, o processo social é que o impulsiona ou alimenta enquanto processo
teórico. Entretanto, o ideólogo (um intelectual, um partido, uma classe social, etc) não
reconhece as forças da realidade que impulsiona o seu discurso. Deste modo, o ideólogo,
embora ciente do que diz, ignora as forças que impulsiona seu discurso. Assim, ele pensa
que desenvolve um discurso livre e incondicionado; quando, na verdade, seu discurso é
determinado pela realidade social que o envolve.

O DI, baseado no falso perfil de discurso imparcial e incondicionado da realidade, coloca-


se, assim, como um discurso legítimo, verdadeiro e válido para todos. Daí a função ilusória
do DI; pois ele, mesmo sendo uma visão de certa classe social (dominante) sobre a
realidade, portanto, visão parcial e determinada, pretende-se como uma visão
indeterminada e universal do mundo, por isso mesmo, devendo ser válida e legítima para
todos. Ainda por este motivo, o DI apresenta-se, também, como um discurso dualista, visto
que define o seu ponto de vista como única verdade, sendo todo outro ponto de vista falso.
Deste modo, o DI tende a ver as coisas em preto e branco: ou algo é falso ou verdadeiro,
ou é claro ou é escuro. Nesta perspectiva, Serres (1990a) compara o DI à lua, pois
enquanto:

Na Terra, podemos enxergar de um lado do muro quando a fonte de luz


está no outro. Isso porque há atmosfera e o raio de luz se parte, se
difunde, se refrata de modo complexo e dá a volta ao muro. Na Lua, ao
contrário, onde não existe atmosfera, fica absolutamente claro de um
lado do muro e absolutamente escuro do outro. (p. 181).
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Tal como na lua onde aparece apenas o claro e o escuro, no DI aparece apenas o
verdadeiro e o falso. Contudo, ainda segundo Serres (1990a), comparando o conhecimento
com um modelo de visão, é preciso afirmar contra o DI, "que não se pode conhecer senão
na complexidade da atmosfera terrestre" (p. 181), na infinita possibilidade de nuanças entre
o claro e o escuro, o verdadeiro e o falso, o branco e o preto.

Além do mais, se estamos caracterizando o DI como aquele que fixa seu ponto de vista
sobre o mundo como se ele fosse a visão completa do mundo (Weltanschauung); é preciso
considerar, ainda, contra o DI, que, por definição, não existe ponto de vista de onde tudo
seja visível. Logo, universalizando seu ponto de vista, o DI faz desaparecer outros pontos
de vista sobre a realidade, ocultando, assim, a própria realidade, à medida que ela só se
torna visível a partir de seu ponto de vista. Contudo, mais uma vez, contra o DI, é preciso
considerar que, como ensina-nos Marías (1983), "a realidade, como uma paisagem, tem
infinitas perspectivas, todas elas igualmente verídicas e autênticas" (p. 177). Daí, a única
perspectiva falsa ser esta que se pretende única.

Ademais, porque pretende impor seu ponto de vista como único, o DI realiza uma inversão
no seguinte sentido: ele abstrai do todo o seu ponto de vista e pretende que esta perspectiva
particular seja universal, ou seja, o DI põe o particular como se fosse o universal, põe a
parte como se fosse o todo. Ao operar esta inversão, ele se assevera como um discurso do
poder. Pois, enquanto visão de mundo de uma classe social, ele tenta abafar as outras
visões e se colocar como se fosse a única. Em sua face política e, supostamente, universal,
o DI visa justificar as relações de dominação, afirmando-as como se fossem inerentes ao
processo social, tal como aparecem numa visão "científica" e "imparcial" da realidade.

Uma vez caracterizado, em largos traços, o DI, cumpre, agora, perguntar: como é que ele
invade o espaço da educação e contamina o DP?

2.2.3 O Discurso Pedagógico e o Discurso Ideológico

O DP pode ser abordado pelo menos em três planos diferentes: o plano 1) do que se diz
sobre educação (plano teórico), 2) do que se faz em educação (plano prático) e 3) do que se
legisla à educação (plano legal).
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Estes três planos se implicam mutuamente: se a teoria nasce da prática e a ela retorna
iluminando-a, por sua vez, é também pela prática que se corrige a teoria, ademais,
enquanto atividade no seio de uma sociedade, a prática educativa não escapa da instância
político-jurídica que normatiza, gerencia e controla a vida social.

O Estado, através dos ministérios e das secretarias legisla, regulamenta e controla o


trabalho pedagógico (CHAUÍ, 1980). Assim, a legislação, entendida aqui como o ponto de
vista do Estado sobre a educação, faz a ponte entre o DP no plano legal e o DP no plano
prático. Mas, se se entende a legislação como o ponto de vista do Estado sobre a educação,
por sua vez, entenda-se o Estado como representante da classe hegemônica. Daí a
pergunta, o que pretende o Estado com a legislação? Não seria a legislação um instrumento
usado pelo Estado para impor seu ponto de vista sobre a educação? Em caso afirmativo,
através da legislação, as concepções ideológicas dominantes do DP no plano legal não
invadiriam, assim, o DP enquanto atividade prática e teórica? Por outras palavras, a
legislação serviria, assim, de ponte entre as concepções ideológicas dominantes e o
"aparelho escolar" (SEVERINO, 1986, p. 55), contaminado-o com a ideologia da classe
dominante, levando-o a reproduzi-la.

Os vários momentos da educação brasileira, em suas grandes linhas ideológicas,


confirmam o DP como reprodutor do discurso das classes dominantes. Neste sentido, do
ponto de vista do DI dominante no DP, a história da educação brasileira pode ser dividida,
grosso modo, em três períodos: 1) de 1500 à 1889; 2) de 1889 à 1964; 3) de 1964 à ...
(Severino, 1986, p. 61). No primeiro período, predomina no DP o DI da Igreja Católica; no
segundo, prevalece o DI do liberalismo e no terceiro, o DI tecnológico (SEVERINO, 1986,
p. 62).

2.2.3.1 O predomínio do DI do Catolicismo no DP brasileiro de 1500 a 1889

Como afirma Severino (1986), no período indicado acima, a “História da Educação [...]
está intimamente ligada à presença e à atuação da Igreja Católica" (p. 62). A Igreja
Católica, por sua vez, está tão intimamente vinculada ao Estado, que passa a atuar como
uma "autêntica instituição estatal” (p. 65).
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Assim, no período em questão, a ideologia católica serviu sob medida aos objetivos do
Estado junto à classe dominada. Não importava o destino profissional ou social do
educando, importava somente formá-lo como bom cristão. Segue daí que, a aristocracia
agrária pôde gerir, sem maiores problemas, a exploração colonizadora, contando, para isso,
com uma grande massa de escravos e trabalhadores pobres "educados" pela igreja católica.

Com a vinda de Dom João para o Brasil, a sociedade brasileira foi se tornando mais
estratificada, dando origem a uma camada média (intelectuais, pequenos comerciantes, etc)
que desempenhará importante papel político e social na fase seguinte.

2.2.3.2 A consolidação da ideologia liberal: 1889-1964

Neste período o Estado, em sua política educacional, abandona gradualmente a ideologia


católica enquanto passa a assumir a ideologia liberal da burguesia leiga ascendente. Tal
processo se deu de forma conflitiva, com o embate dos defensores das duas ideologias
sendo mediado pelo Estado que, mesmo não tendo mais interesse na ideologia católica,
não podia dispensar uma aliada tão forte como ela.

A partir de 1930, o confronto entre as duas facções ideológicas se acirra, com cada uma
delas querendo fazer valer a sua proposta pedagógica perante o estado.

No largo período histórico que vai de 1930 a 1945, persiste o conflito entre as duas facções
ideológicas, cada qual representando uma ala da classe dominante: a ideologia católica
vinculada à oligarquia agrária e a ideologia liberal vinculada à burguesia urbano-industrial.

A partir de 1945, a facção liberal, insistindo sempre numa educação baseada num
humanismo científico e em processos ativos de aprendizagem, passa a prevalecer
proclamando a necessidade da renovação da escola como condição do progresso e
democratização do país. "A reconstrução educacional seria instrumento para a
reconstrução social." (SEVERINO, 1986, p. 81).

Em 1960, a concepção liberal de educação e de mundo constituía, em última análise, o


pano de fundo do cenário educacional brasileiro. A ideologia liberal serviria de ponte para
a nova ideologia que se delinearia a partir de 1964.
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Os dois períodos tematizados até aqui têm em comum o fato de nunca terem questionado o
sistema vigente. Portanto, de 1500 a 1964, a educação brasileira continuou reproduzindo e
legitimando, pelo menos em termos de educação oficial, a estrutura social vigente.

2.2.3.3 A supremacia da ideologia tecnológica de 1964 a ?

A mudança de regime em 1964 significou também uma reorientação ideológica para o país
e para a educação em especial. Os militares pretendiam modernizar o país e inseri-lo na
divisão internacional do trabalho no sistema capitalista. Para tal propósito, a educação
deveria dar a sua contribuição. Assim, tão logo os militares se instalaram no poder,
surgiram os acordos do Brasil com os EUA (MEC-USAID) para a reestruturação do
sistema educacional brasileiro, visando reorganizar a educação em função do crescimento
econômico do país.

A ideologia tecnológica passa, assim, a orientar os caminhos da educação brasileira. Daí


por diante, tratava-se, acima de tudo, de formar técnicos para o progresso da nação. O que
se cobrava do sistema educacional era "a produtividade, o baixo custo da mão-de-obra
técnica, disciplinada e dócil, adequada às necessidades da manutenção da ordem vigente."
(SEVERINO, 1986, p. 92).

As escolas transformaram-se, assim, em indústrias para a produção em série de técnicos,


não cabendo a elas discutir o sentido ou a finalidade última da educação e da escola numa
sociedade, mas somente atender às demandas da sociedade capitalista.

Assim, concluindo este breve e panorâmico passeio pela história da educação brasileira, na
perspectiva do DI dominante no DP, pode-se afirmar que o DP não fez outra coisa senão
reproduzir o DI da classe dominante.

Todavia, se neste aporte histórico se enfatizou o DP como reprodutor do DI, isto não quer
dizer que o DP não possa produzir um discurso contra-ideológico e comprometido com a
verdade da realidade brasileira.

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Saiba mais...
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Para aprofundar a afirmação do parágrafo acima, leia:

CUNHA, Luiz Antonio. O golpe na educação. 5 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.

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É na perspectiva de um DP descontaminado do DI e comprometido com a realidade


brasileiras de imensas desigualdades e injustiças, que o DF pode ser útil e salutar ao
educador, servindo-lhe de instrumento para a explicitar a inverdade que o DI impinge ao
DP, transformando-o num mero instrumento para a estratégia de dominação.

Assim, para que se possa compreender melhor o DF como instrumento de desvelação do


DI embutido no DP, passemos ao estudo do DF.

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Saiba mais...

Sobre as relações entre ideologia e educação, em:

CHAUÍ, Marilena de Souza. Ideologia e educação. Educação & Sociedade. São Paulo,
n.5, p.24-40, jan. 1980.

CRITELLI, Dulce Mara. Educação e dominação cultural: tentativa de reflexão


ontológica. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1981.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Educação, ideologia e contra-ideologia. São Paulo :


EPU, 1986.

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Dica de filme

Para discutir o poder do DI no DP, assista ao filme:

 A ONDA
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- Ficha Técnica: Direção: Dennis Gansel. Pais: Alemanha. Gênero: Drama.


Lançamento: 2008. Duração: 117 minutos. Disponível em
<http://cinema.cineclick.uol.com.br >. Acesso em 31 de agosto de 2011.

- Sinopse: Baseado em uma história real o filme "A Onda" mostra como é possível a
criação de doutrinas ideológicas em sala de aula, não só no passado, mas atualmente.
O filme que foi adaptado do ensaio The Third Wave (A Terceira Onda), do professor de
História Ron Jones, no qual relata sua experiência numa escola da Califórnia (EUA), em
1967, na tentativa de explicar na prática como Hitler e o Partido Nazista chegaram ao
poder na Alemanha. Disponível em
<http://www.nomundoenoslivros.com/2010/08/filme-onda.html >. Acesso em 31 de
agosto de 2011.

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2.2.4 O Discurso Filosófico

O que constitui a especificidade do DF? Qual a sua "marca registrada”? O que o


caracteriza fundamentalmente? Enfim, qual a essência do DF?

O DF se distingue pela radicalidade de suas questões, pelo rigor com que persegue uma
possível resposta e pela universalidade da verdade que pretende encontrar. Um bom
exemplo do DF assim caracterizado (radical, rigoroso e universal) é o texto Meditações do
filósofo francês, René Descartes (1596-1650).

Nas Meditações, Descartes (1970, p. 26) tem um propósito radical: "começar tudo de novo
desde os fundamentos, visando estabelecer algo de firme e constante nas ciências". Ao
fazer da dúvida o seu caminho seguro (Méthodos), Descartes persegue de modo rigoroso
seu objetivo, até que, finalmente, atinge o Cogito como o fundamento universal de todo
saber epistemológico.

Mas as Meditações desvenda-nos também uma outra característica importante do DF: é um


discurso sem pressupostos, ou seja, que não admite nenhuma verdade incontestável a partir
da qual se começaria a filosofar. Trata-se, como dizia Descartes (IDEM), de "começar tudo
de novo desde os fundamentos", sem nada pressupor, negligenciando o adquirido e
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correndo o risco de abrir um caminho que não conduza a parte alguma. Por aí se vê que
não é no sossego do espírito que frui de suas antigas verdades que o discurso filosófico
germina, mas na coragem de constantemente empreender novos começos, de enveredar-se
em "tentativas onde se atola e de onde (muitas vezes) sai após esforços gastos em pura
perda" (LEFORT, 1992, p. 251; 1964, p. 341. Parênteses nossos).

Entretanto, para além da radicalidade, da rigorosidade, da universalidade e da ausência de


pressupostos, haveria outras características do DF?

Merleau-Ponty, filósofo francês (1908-1961), afirma em seu texto, Elogio da Filosofia


(1979) que "o filósofo se reconhece pela posse inseparável do gosto pela evidência e pelo
sentido da ambigüidade" (p. 2). Decorre daí que, o DF, embora pretenda habitar na
evidência, abrigue sempre o sentido da ambigüidade, o que nos permite caracterizá-lo
também um discurso ambíguo.

Mas por que o DF é um discurso ambíguo? Ainda segundo Merleau-Ponty (1979), pode-se
dizer que, é porque o filósofo é aquele que recusa "o direito de se instalar na posse do saber
absoluto" (p. 2). Daí o dizer filosófico ser ambíguo, ser uma mescla de sombra e de luz,
enfim, ser este "movimento que leva incessantemente do saber à ignorância, da ignorância
ao saber" (IDEM). O que faz da filosofia, não "um „ponto de vista superior‟ de onde se
abarquem todas as perspectivas locais" (MERLEAU-PONTY, 1991, p. 22), mas este
constante reaprendizado do olhar para o mundo.

Não é outra coisa senão este movimento em duplo sentido (da ignorância ao saber e do
saber à ignorância) o que se verifica, por exemplo, no discurso de filósofos tais como
Platão, Husserl e, mesmo, Merleau-Ponty. Estes pensadores, na maturidade de suas
filosofias, mesmo quanto já eram considerados mestres, trilharam, novamente, o caminho
que leva do saber à ignorância, através da revisão crítica de seus pensamentos.

Assim, por que a filosofia não pretende manter o mundo deitado aos seus pés, por que ela
se aborrece no saber já pronto, na verdade reificada, é por isso que o discurso filosófico se
assevera também como um discurso crítico do pensamento sobre o próprio pensamento em
vistas de uma forma de pensar ainda mais radical, rigorosa e universal. Tal é o sentido dos
questionamentos de Foucault (1984a):
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[...] o que é filosofar hoje em dia - quero dizer, a atividade filosófica -


senão o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento? Se
não consistir em tentar saber de que maneira e até onde seria possível
pensar diferentemente em vez de legitimar o que já se sabe? (p. 13).

Mas o que faz o DF ser este dizer especulativo e crítico, que se move sempre na direção de
uma forma de pensar diferente? Na resposta a esta questão julgamos encontrar a essência
do DF, ou seja, o seu sentido fundamental, isto é, o sentido que justifica todas as
características que a ele foram referidas.

O DF é um discurso que se pretende radical, rigoroso, universal, dinâmico (movente),


aporético (indagador), crítico e ambíguo pela mesma razão que faz do filósofo um
philosophos. Trata-se sempre da amorosa amizade (philó) pela sabedoria (sophia). Porque
cultiva a amizade (e não a posse) da sabedoria, o dizer filosófico se institui com todas as
características nele verificadas. Na essência do DF é o amor à Verdade que vamos
encontrar. E é nesta medida que ele pode servir ao educador como instrumento para
descontaminar o DP do DI que abriga em seu íntimo mais profundo a ânsia pelo poder e a
pretensão de posse da Verdade.

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Saiba mais...

Sobre o discurso filosófico em:

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34,
2007.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Elogio da filosofia. Tradução de A.B.Teixeira. Lisboa :


Guimarães & C, 1979.

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2.2.5 Considerações Finais

Para terminar este texto, resta dizer que, é se tornando filosófico que o DP pode
desmascarar o DI nele incrustado; é se fazendo cheio de amor à Verdade, de amizade
amorosa pela Sabedoria, que o DP não se deixa contaminar pelo DI. Talvez este seja um
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dos caminhos pelo qual o DP pode atingir sua maioridade, deixando a inocência "a-crítica"
e dogmática de um mero veículo ou títere do DI, tornando-se responsável pelo seu próprio
dizer como um dizer próprio (CHAUÍ, 1980), contra-ideológico (SEVERINO, 1986) e
comprometido com a verdade da realidade em que se encontra inserido, com a busca do
sentido profundo que deve assumir perante esta verdade.

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Dica de filme

Para discutir as relações entre os discursos filosófico e político. Assista ao filme:

 GIORDANO BRUNO

- Ficha Técnica: Direção: Giuliano Montaldo. Pais: Itália. Gênero: Drama. Lançamento:
1973. Duração: 114 minutos.

- Sinopse: Giordano foi um dos grandes pensadores de Esquerda de sua época, num
momento onde o poder da Igreja Católica estava acima de tudo. Ao menor descuido,
qualquer um poderia ser acusado de herege e queimado em praça pública. Preso pela
inquisição, o filme conta o processo pelo qual passa Giordano até sua morte. Disponível
em <http://cinema.uol.com.br/resenha/giordano-bruno-1973.jhtm>. Acesso em 31 de
agosto de 2011.

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2.3 Entre a retórica e a dialética: onde situar a fala professor em sala


de aula?

Prezado(a) estudante, no segundo texto desta unidade, você viu que caracterizamos o
Discurso Ideológico como aquele comprometido com o poder, e o Discurso Filosófico
como aquele comprometido com o saber. No texto que lhe apresentamos agora, vamos
levar esta discussão sobre saber e poder, que no segundo texto foi abordada do ponto de
vista da história da educação, para dentro da sala de aula numa perspectiva de
abordagem filosófica do discurso do professor neste ambiente.

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