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Um direito especial
O direito comercial é considerado especial (de forma a distinguir-se do direito civil – direito
comum). A relação de especialidade ocorre quando, perante um complexo normativo que se
dirija a uma generalidade de situações jurídicas, um segundo complexo, mais restrito, mas mais
intenso, contemple uma situação que, de outro modo, respeitaria ao primeiro, dispensando-lhe
um tratamento particularmente adequado.
A adequação pode resultar de normas diferenciadas que estabeleçam situações diversas ou de
regras complementadoras que precisem, num ou noutro sentido, soluções deixadas em aberto
pelo direito comum. Pode-se assim dizer que a especialidade é relativa e que se impõem
quando perante duas áreas normativas é possível estabelecer uma relação geral/especial
(ex: direito comercial é especial em relação ao direito civil ou ao direito bancário).
Permite também uma aplicação subsidiária do direito civil. Embora haja áreas comerciais
importantes que não têm, subjacente, qualquer regra civil (ex: títulos de crédito). As próprias
sociedades comerciais e os denominados grupos de sociedades apresentam regras que
transcendem o direito civil.
A especialidade, resulta assim de níveis regulares mais gerais e, sobretudo, da própria
materialidade das regras consideradas.
Qualquer ramo jurídico, para mais especial, pode ser sempre configurado num sistema
subjetivo: regulando o comércio, regulam-se os comerciantes.
Atos de Comércio
MC: conjunto das situações jurídicas comerciais que se regem pelas normas competentes de
direito mercantil.
Ao abrigo do art.1º (CComercial), a lei comercial rege os atos de comércio, explicitando o que
é um ato de comércio no art.2º (CComercial) no qual “serão considerados atos de comércio…
todos os contratos e obrigações dos comerciantes…”. Podem ser:
o Contratos Comerciais
o Atos Unilaterais
o Atos strictu sensu – aqueles que já não se analisassem em atuações humana, mas apenas
em eventualidades que se desencadeassem efeitos de direito (ex: endosso)
o Factos jurídicos strictu sensu (ex: abalroação de um navio)
Teoria da Acessoriedade
A presente teoria não é uma realidade, pois não consta da lei. É sim uma teoria defendida por
Cunha Gonçalves segundo a qual a generalidade dos atos acessórios de atos de comércio são
comerciais.
A lógica da Teoria da Acessoriedade é que o Código tem um conjunto de regras que associa a
comercialidade à acessoriedade ao ato de comércio, logo tudo que é acessório é comercial.
Todas as regras que prevêem atos de comércio por acessoriedade, extrai-se o princípio geral e
este princípio seria aplicado (recorria-se assim à analogia iuris).
Questão
A enumeração implícita dos atos de comércio resultante do art.2º/1ª parte (CComercial) é
exemplificativa ou taxativa? Atos não regulados legislativamente, ou previstos em leis cujo
carácter (comercial ou outro) não é declarado (direta ou indiretamente) podem ser qualificados
comerciais por analogia com atos previstos em lei mercantil?
Este problema, que tem dividido a doutrina portuguesa, não se resolve recorrendo ao art.3º
(CComercial), cuja norma, admite o recurso à analogia para regular atos já qualificados
como comerciais. Porém a presente questão diz respeito a lacunas de regulação e não a
lacunas de qualificação.
Tese da Inadmissibilidade da qualificação de atos mercantis por analogia:
Defensores
Invocam três argumentos principais:
o Letra da Lei: “serão considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código, e, além deles…”
É um enunciado que, além dos atos subjetivos de comércio, apenas permitiria como
atos comerciais os “especialmente regulados” em lei mercantil.
o Razão Histórica: A 1ªparte do art.2º (CComercial) foi inspirada no 2º parágrafo do art.2º
do Código Comercial Espanhol (“serán reputados atos de comercio los compreendidos
en este Codigo y cualesquiera otros de naturaleza análoga”) – e a parte final deste
parágrafo foi deliberadamente afastada da nossa lei.
o Certeza e Segurança Jurídica: Dado o regime especial e as implicações dos atos de
comércio, seria atentar contra o valor jurídico da segurança permitir a analogia na
determinação de atos mercantis.
Coutinho de Abreu: Não concorda, alegando que a letra do art.2º não é concludente. Ou seja,
não diz que, além dos subjetivos, são atos de comércio apenas os especialmente regulados em
lei comercial. Segundo, a conceção subjetivista-histórica da interpretação da lei está
cessada/perimida. O argumento da certeza jurídica já pesou muito mais do que agora (visto
que foi extinta a jurisdição mercantil) e, porque o valor da justiça ou razoabilidade há de
sobrelevar.
Para qualificar atos como comerciais, é legítimo, recorrer à analogia? Analogia Legis e/ou
Analogia Iuris?
O recurso à analogia legis não levantará grandes dúvidas. A questão levanta-se sim
relativamente à analogia iuris.
A analogia iuris, consiste, na aplicação de “princípios gerais” obtidos através de induções
lógico-generalizadoras de uma série de normas legais a casos omissos.
Ora, quem defenda a existência de um conceito unitário de ato de comércio irá defender o
recurso à analogia iuris. Porém não havendo um conceito unitário de ato comercial, não será
possível extrair (vários) “princípios gerais” de (vários) grupos de normas qualificadoras (por
razões idênticas ou similares) de diversos atos como atos de comércio – possibilitando o recurso
à analogia iuris?
Coutinho de Abreu, admite o recurso à analogia iuris nos seguintes casos:
o Empresas de Construção (art.230º/6, CComercial): Este artigo refere-se somente a
“casas”, contudo, não serão então comerciais as empresas construtoras de edifícios no
mais sentido amplos, bem como de outras obras (vias de comunicação, barragens,
molhes…?). A norma deve assim ser estendida analogicamente (analogia legis)
àquelas outras empresas de construção.
o Contrato de Agência: contrato no qual uma das partes se obriga a promover por
conta da outra a celebração de contratos, de modo autónomo e estável e mediante
retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa zona ou determinado círculo de clientes.
Os Comerciantes
O Código Comercial principia, no seu art.1º, com uma profissão de fé objetivista: declara
reger atos de comércio, sejam ou não comerciantes as pessoas que neles intervenham. Porém, no
art.2º, prevê a especial categoria dos atos subjetivamente comerciais, isto é, daqueles que o
são por serem praticados por comerciantes ou por a estes respeitarem.
Toda a pessoa civilmente capaz de se obrigar pode praticar atos de comércio (art.7º,
CComercial). Mas nem todo o que pratica atos de comércio é comerciante.
A profissão do comércio é proibida a determinadas entidades referidas no art.14º
(CComercial), havendo ainda que contar com diversa legislação especial. A decisão de
considerar uma pessoa como comerciante tem relevo para a determinação dos atos de
comércio subjetivos. Segundo o art.18º (CComercial), os comerciantes são especialmente
obrigados:
- Adotar uma firma
- Ter inscrição mercantil
- Fazer inscrever no registo comercial os atos a ele sujeitos
- Dar balanço e a prestar contas
- Inibições: atingem seletivamente determinadas pessoas, por factos que elas hajam
perpetrado ou por situações nas quais se achem incursas.
A inibição é diversa da incompatibilidade, pois não está em causa o exercício de
nenhum cargo, mas uma ocorrência relativa, própria do inibido. Esta não
desaparece com a cessão do exercício de quaisquer funções (ao contrário da
incompatibilidade) mas, apenas, de acordo com certos mecanismos legais (pode ser
aplicada por um juiz).
Não pode haver sociedades comerciais “sob forma civil”. Resta concluir que todas as
sociedades que tenham por objeto a prática de atos comerciais assumem uma das formas
tipificadas no CSC e são comerciantes. A lei não exige, para a qualificação como “comercial”,
que o objeto social se reporte exclusiva ou, sequer, predominantemente, à prática de atos
comerciais. Estes poderão estar previstos apenas como parte do objeto social ou, até, como algo
de acessório.
As sociedades comerciais adquirem a personalidade no momento do registo definitivo do
ato constitutivo (art.5º, CSC). Tornam-se comerciantes nesse momento. Teoricamente pode,
pois, haver “comerciantes” que nunca tenham praticado qualquer ato comercial: a sua
comercialidade, prevista na lei, tem o sentido de uma aptidão de princípio para os praticar.
As sociedades que tenham por objeto, exclusivamente a prática de atos não-comerciais são
sociedades civis (podendo seguir o esquema dos artigos 980º e seg. do CC): são sociedades sob
forma civil/sociedades civis puras.
Estas podem por via do art.1º/4 (CSC) adotar um dos tipos legais de sociedades comerciais:
são as sociedades civis sob forma comercial. Embora civis, regem-se pela lei das sociedades
comerciais. Só não são operacionais para dar azo a atos subjetivamente comerciais –
art.13º/2/2ªparte.
Associações e Fundações
O exercício do comércio por parte de pessoas coletivas exige cautelas:
- Para defesa dos próprios envolvidos no substrato
- Funcionamento das pessoas coletivas em causa, para tutela dos terceiros que, com elas,
contratem e para defesa do próprio mercado.
Atualmente, para prosseguir tal objetivo, a fórmula mais conseguida são as sociedades
comerciais. Seria assim de esperar que todas as pessoas coletivas que se dedicassem ao
comércio incorressem em normas paralelas às do art.1º/3 (CSC): devessem assumir a forma de
sociedades comerciais, adotando um dos tipos previstos no CSC. Tal não acontece devido:
- Formação Fragmentária do Direito Privado : há esquemas de pessoas coletivas não
societárias que se dedicam com mais ou menos intensidade ao comércio e que, por
consignação na lei civil não obtêm a forma societária.
- Falta no Direito Comercial, de tipos de pessoas coletivas que correspondam aos
interesses geridos pelas associações e pelas fundações e concretamente: de um tipo
“comercial” igualitário do tipo “associação” e de um tipo “comercial” fundacional.
Há assim que admitir que as pessoas coletivas, concretamente as associações e fundações civis,
podem praticar atos de comércio objetivos e aplica-se assim o disposto no art.7º
(CComercial).
Profissionais Liberais
Os profissionais liberais não são considerados comerciantes. Na generalidade, estes dirigem
empresas de pequena, média ou até grande dimensão.
Ex: um escritório de advocacia ou um consultório médico colocam os seus serviços no mercado,
dispõem de uma organização de meios materiais e humanos para produzir os serviços e têm um
intuito lucrativo. Também os farmacêuticos fazem outro tanto, embora com a particularidade de,
mais do que serviços, venderem bens.
MC: são profissionais liberais os que trabalhem com autonomia no âmbito de profissões
enquadradas por ordens profissionais. Todavia admite-se graduações – encontramos
profissionais liberais que dirigem autênticas empresas, em moldes próximos do comerciais.
Aqui torna-se possível aplicar-se determinadas normas comerciais (tudo depende da natureza
da situação considerada).
A Empresa
Conceito polissémico e com vários sentidos, podendo entender-se como objeto de direitos ou
sujeito dos mesmos. Ainda poder se como atividade.
A empresa surge assim como um conceito-quadro de grande extensão e particular
versatilidade:
o Sujeito: que atue nessa qualidade e suscetível de direitos e obrigações.
- Empresa-sujeito: conjunto de destinatários de normas comerciais
o Complexo de bens e direitos capaz de suportar a atuação dos interessados (objeto)
- Empresa-objeto: estabelecimento dotado de direção humana
o Atividade: levar a cabo uma empresa (expressão a cair em desuso)
o Interesse (sentido objetivo): relação entre o sujeito com necessidades e os bens aptos a
satisfazê-las.
Coutinho de Abreu: “são comerciais as empresas cujo objeto se traduza na realização de atos
(ou atividades) objetivamente mercantis”.
o Objetiva: quando dirige a certas pessoas regras de atuação para com as empresas
- Consiste nos deveres impostos aos responsáveis por todas as entidades acima
referidas (pessoas singulares – superiores e auxiliares)
- Permite ao legislador determinar medidas em relação às organizações
produtivas, sem ter de explicitar tratar-se de conjuntos articulados e dirigidos
de meios-humanos e materiais.
Concretização
A empresa é assim um conceito-quadro disponível para o legislador e para a prática
jurídica, sempre que caiba referir realidades produtivas sem pormenores técnicos. As grandes
linhas da sua concretização são:
1. Empresa-sujeito e a empresa-objeto
2. Direito das Empresas
3. Empresa como sublinguagem comunicativa
4. Empresa como conceito geral-concreto
O Estabelecimento Comercial
A empresa surge como um conceito-quadro de grande extensão e particular versatilidade.
No CComercial, o estabelecimento surge em duas aceções:
o Como armazém ou loja (arts.95º/2 e 263º, CComercial)
o Como conjunto de coisas materiais ou corpóreas (art.425º, CComercial)
A noção geral adotada de estabelecimento já não se encontra no CComercial, mas sim no
CC. É exemplo os seguintes artigos: 316º; 317º; 495º/2; 1559º; 1560º/1/a; 1682-A/1/b;
1938º/1/f; 1940º; 1962º/1.
O estabelecimento traduz-se num conjunto de coisas corpóreas e incorpóreas devidamente
organizado para a prática do comércio. Corresponde a uma ideia de empresa sem o elemento
humano e de direção.
Elementos do Estabelecimento
O estabelecimento comercial abrange elementos bastante variados. Em comum, têm apenas
o facto de se encontrarem interligados para a prática do comércio. Pode distinguir-se, no
estabelecimento:
o Ativo: compreende o conjunto de direitos e outras posições equiparáveis, afetas ao
exercício do comércio
o Passivo: corresponde às adstrições ou obrigações contraídas pelo comerciante, por
esse mesmo exercício
No respeitante ao ativo, o estabelecimento abrange:
o Coisas corpóreas:
- direitos relativos a imóveis (reais de gozo – como a propriedade/usufruto –
como os pessoais de gozo – direito ao arrendamento)
- direitos relativos móveis (mercadorias, matérias-primas, maquinaria, mobília e
instrumentos de trabalho ou auxiliares, escrituração, computadores, livros,
documentos, ficheiros e títulos de crédito)
- Ficam assim abrangidas, quaisquer coisas que, estando no comércio, sejam,
pelo comerciante, afetas a esse exercício
o Coisas incorpóreas:
- Obras literárias ou artísticas que se incluam no estabelecimento
- Inventos (patentes)
- Marcas
- Direito à firma ou nome do estabelecimento e outros aspetos que, embora à
partida não-patrimoniais, consintam, todavia, uma comercialidade limitada.
- Coisas incorpóreas (direitos a prestações provenientes de posições contratuais
– ex: contratos de trabalho, contratos de prestação de serviços, agência, franquia
e contratos relativos a bens vitais como água, eletricidade, gás, internet,
telefone)
o Aviamento e Clientela:
- Aviamento: corresponde à mais-valia que o Estabelecimento representa em
relação à soma dos elementos que o componham, isoladamente tomados
(aptidão funcional e produtiva do estabelecimento – para gerar lucro).
Coutinho de Abreu: É um bem exterior ao processo produtivo e à respetiva
estrutura empresarial sustentadora
- Clientela: equivale ao conjunto, real ou potencial, de pessoas dispostas a
contratar com o estabelecimento considerado, nele adquirindo bens ou
serviços.
Coutinho de Abreu: não é elemento (algo constituinte ou componente da
empresa) – não por não ser objeto de um direito real ou absoluto, nem objeto
autónomo de tutela jurídica, mas por não ser um meio ou instrumento
estrutural-funcionalmente inserido na organização produtiva que é a empresa,
sendo antes algo de consequente ao funcionamento da “máquina produtiva”.
O aviamento e a clientela não constituem, como tais, objeto de direitos subjetivos.
Correspondem a posições ativas e são objeto de regras de tutela que influenciam/podem
influenciar o valor do Estabelecimento e, sendo este transmitido, vão com ele.
Ex: indemnização de clientela prevista na hipótese de cessação do contrato de agência e
aplicável a outros negócios de distribuição.
O Estabelecimento é a unidade jurídica objetiva – sendo classificado como uma coisa móvel.
O Estabelecimento comercial é uma unidade jurídica fundada em organização de meios que
constitui um instrumento de exercício relativamente estável e autónomo de uma atividade
comercial, em que há coexistência entre um direito de propriedade sobre o todo (o
Estabelecimento) e os direitos (de propriedade ou não) sobre as suas partes.
É estabelecimento a organização produtiva apta a funcionar, mas que ainda não entrou em
funcionamento – não possuindo clientela efetiva?
- Sim, se já se revelar (minimamente) apto para realizar um fim económico-
produtivo jurídico-comercialmente qualificado – apto para garantir clientela
que lhe permita ter aviamento.
- Já existe bem jurídico novo, uma organização produtiva não redutível a bens
meramente agregados.
- Possui já capacidade produtiva (e lucrativa, em geral), aptidão para
realizar o fim para que foi criado – há já aviamento (sendo que a clientela,
quando exista, é apenas uma das manifestações – ou índices – do aviamento de
um estabelecimento)
No caso de um incêndio que destrua o estabelecimento, ele ainda subsiste, pois, os bens que
restam (firma, contratos de trabalho, alguns bens, relações com clientes) exprimem a
permanência (em estado mais ou menos latente) de uma concreta organização produtiva
qualificável como estabelecimento.
- O Direito tutela a continuação desses elementos na esfera patrimonial do sujeito.
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O usufruto do estabelecimento
Sobre o estabelecimento comercial pode recair o direito de usufruto. Nessa altura e nos
termos gerais, o usufrutuário poderá aproveitar plenamente o estabelecimento, sem alterar
a sua forma ou substância – 1439ºCC.
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A Firma
Complementada com o Registo Nacional de Pessoas Coletivas (DL 129/98)
A firma é originalmente o nome comercial: o nome que o comerciante utiliza no exercício do
seu comércio. O direito à firma, é hoje, distinto do direito ao nome. O direito ao nome acentua,
mau graúdo, a vertente da nacionalidade, enquanto que o direito à firma tende para um
direito a um bem imaterial.
Todavia as suas conexões são ainda evidentes para que a doutrina o considere como um direito
misto: um direito de personalidade reportado, também a bens imateriais patrimoniais. A
sua transmissibilidade é, assim, possível.
Quando implique o nome de uma pessoa, a firma torna-se transmissível, no essencial,
apenas com a autorização do visado.
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Habitualmente diz-se que a firma é o nome comercial dos comerciantes, o sinal que os
individualiza ou identifica (é uma noção insuficiente). Com efeito, além de identificar
comerciantes, a firma individualiza alguns não-comerciantes:
o Sociedades civis de tipo comercial (art.37º, RNPC + arts. 1º, 4º e 9º/1/c, CSC)
o Agrupamento Complementar de Empresas com objetivo civil (têm firma tanto os ACE
comerciantes como os não comerciantes)
o Pode individualizar empresários individuais não comerciantes
Por outro lado, alguns comerciantes são identificados, não por uma firma, mas por uma
denominação.
Todos os comerciantes devem adotar firma ou denominação (art.18º/1, CComercial + arts do
ACE, EPE, AEIE e cooperativas). É das firmas e denominações dos comerciantes, dos sinais
distintivos dos comerciantes que trataremos.
Firma significa assinar, significa assinatura. A obrigação de adotar uma firma tem como
conteúdo o dever de o comerciante adotar uma assinatura especificamente destinada aos atos do
seu comércio.
Esta firma especificamente mercantil tem a vantagem de permitir distinguir os atos que o
comerciante assina nessa qualidade e no exercício do seu comércio daqueles que assina
fora de tal exercício. Assim, o comerciante, quando casa, não assina o assento de casamento
com a sua firma mercantil, mas já o faz quando compra ou vende as mercadorias do seu
comércio.
Esta é uma vantagem importante no que respeita à segurança jurídica, pois a imputação de
um ato ao património de um comerciante é muito facilitada no caso de uso de firma.
Atualmente, a firma desempenha a função de identificação do comerciante (é o seu nome
comercial). O conceito geral de firma comporta assim duas espécies:
o Firma-nome: é composta pelo nome do comerciante, completo ou abreviado (pode
ser ainda acrescido de uma referência indicativa do seu comércio – ex: António José da
Silva, Vinhos e Petiscos).
o Firma-denominação: é formada pela indicação do tipo de comércio exercido (Banco
de Poupança)
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O Regime da Firma
O regime da firma toma corpo através de alguns princípios tradicionais, que vieram a
encontrar consagração legislativa. Aparentemente o RNPC apenas indica dois princípios
reitores (princípio da verdade e o princípio da novidade – arts.32º e 33º, respetivamente) sendo
os restantes resultantes da doutrina.
Princípio da Autonomia Privada, com Limitações Genéricas
A escolha da firma cabe ao comerciante, tanto a decisão de assumir uma firma (que é
obrigatória para quem pretenda exercer o comércio) como a concreta composição da firma em
causa.
o Firmas pessoais (nome das pessoas singulares – art.38º, RNPC)
o Firmas materiais (reportam-se a objetos ou atividades que retratem a exploração
comercial a exercer por quem as use)
o Firmas de fantasia (não têm qualquer representação imediata)
o Firmas mistas (combinam elementos de pelo menos duas das anteriores)
Princípio da Verdade
A firma deve retratar a realidade a que se reporta (vertente positiva), ou, pelo menos, não
deve transmitir algo que não lhe corresponda (vertente negativa) – art.32º (RNPC).
- PPV: orienta a firma no sentido de não induzir em erro quanto ao seu titular e ao
respetivo comércio
Princípio da Estabilidade
Construído por via doutrinária, diz-nos que quando a firma está identificada com uma
empresa ou um estabelecimento, conserva-se e não pode ser alterada.
o Transferia-se a firma com a transferência do estabelecimento (art.44º, RNPC)
o O princípio da estabilidade entra em conflito com o da verdade, prevalecendo este
último (porque o direito português ainda está muito imbuído na ideia de firma como
“nome” – o que deveria ser repensado pois é um bem comercial)
O Direito à Firma
O direito à firma, com todas as suas prerrogativas, depende do seu registo definitivo no
RNPC (art.35º/1)
- Para as pessoas coletivas é necessário um certificado de admissibilidade de firma
(art.45º/1, RNPC)
Todos os obrigados a ter firma devem requerer a inscrição, em virtude do princípio da
obrigatoriedade.
- Se não o fizerem, o art.12º/1 (RNPC) permite que esta seja feita oficiosamente.
Tem que se aferir se pode haver essa firma (no RNPC), que é sinal distintivo dos
comerciantes (há regras quanto à composição das firmas de diversas entidades que se
encontram reguladas no DL 129/98 - ex: art.36º)
Proibição de fundos comuns (art.20º) não tem a ver com a repartição dos lucros
e perdas, visa apenas facilitar a definição das relações entre as partes
Termo do Consórcio
O consórcio dá lugar a uma situação jurídica duradoura, daí que se fixem esquemas de
cessação, sem os quais ela tenderia a eternizar-se no tempo.
Exoneração dos membros (art.9º)
Corresponde a posição potestativa que o consorciado tenha de pôr cobro nos seus
compromissos, excluindo-se do consórcio.
o Impossibilidade superveniente de realizar as suas obrigações , a qual é liberatória
(portanto absoluta, objetiva e definitiva)
o Comportamento de um consorciado que traduza a um incumprimento perante o outro
bem como uma impossibilidade em relação, também, a outro membro, sem que seja
possível utilizar o esquema de resolução.
Resolução do contrato (art.10º)
Consiste numa posição potestativa que o consorciado tenha de excluir os outros do
consórcio.
o A jurisprudência tem admitido que quando haja apenas dois elementos, a resolução
pode ser oral.
Extinção do consórcio (art.11º)
Natureza Parciária
A associação em participação é um negócio tipicamente parciário. É patrimonial, oneroso, e
a contrapartida da prestação do associado é uma parte do resultado do negócio . Tipicamente, o
associado participa, pois, no risco do negócio embora não participe na sua gestão. Pode
participar nos lucros e nas perdas, ou só nos lucros.
Quando a participação do associado é em dinheiro, quando este aporta capital ao negócio
do associante, a associação em participação desempenha uma função de financiamento. O
contrato aproxima-se então muito do chamado mútuo parciário, ou confunde-se mesmo com ele.
Semelhante à associação em participação é a associação à quota. A diferença deste contrato
em relação ao anterior está na posição do associante que é tipicamente o titular de uma
participação social que associa um outro àquela participação, mantendo-se a respetiva
titularidade apenas no associante e oculta a posição do associado.
Associações como esta podem ser contratadas, com base no princípio da autonomia privada,
em relação a praticamente todas as posições jurídicas no comércio (ex: posição do
empreiteiro, de transportador ou de editor).
Pluralidade de associados
Nada impede que seja contratada uma pluralidade de associados (art. 22º, DL nº231/81).
Neste caso, segundo o texto legal, não se presume a solidariedade entre eles, embora possa
ser convencionada.
Importa distinguir situações diversas consoante o associante celebra uma só associação com
uma pluralidade de associados ou uma pluralidade de associações, cada uma com um ou mais
associados:
No primeiro caso existe apenas um contrato com uma parte plural associada, já no segundo,
há uma pluralidade de contratos de associação em participação. Em concreto, só a
interpretação contratual pode permitir a distinção. Na falta de estipulação, as posições jurídicas
dos vários associados são independentes.
Forma
A associação em participação não carece de forma especial, salva a que for eventualmente
exigida para a entrada do associado (art.23º, DL nº231/81). Este regime é consentâneo com o
carácter tipicamente reservado da associação em participação, cuja existência é mantida fora
do conhecimento do mercado e de outras pessoas para além das partes.
Participação do Associante
O associante está contratualmente vinculado a exercer a atividade à qual associam o
associado. Na associação em participação comercial, o associante é tipicamente um
empresário que exerce a sua empresa com o seu estabelecimento. É para este seu exercício
que associa o associado, que contribui com capital, com bens ou com outras utilidades.
Além do dever de satisfazer a participação do associado, o associante está ainda vinculado ao
dever de boa gestão, de diligência, de não concorrência e de informação no que respeita à
gestão do negócio ou da empresa objeto a que respeita a associação (art.26º, DL nº231/81).
A violação destes deveres pelo associante constitui uma justa causa de resolução do
contrato por parte do associado, cabendo-lhe ainda a indemnização dos correspondentes
prejuízos (art.30º, DL nº231/81).
Extinção da associação
A associação em participação extingue-se nos casos previstos do art.27º (DL nº231/81). Estes
casos correspondem ao esgotamento ou impossibilidade do objeto, pela confusão entre
associante e associado, por resolução do contrato, pela vontade dos sucessores em caso de morte
de um dos contraentes e pela extinção de um dos contraentes ou ainda pela falência ou
insolvência do associante.
O contrato de associação em participação extingue-se também por resolução (art.30º, DL
nº231/81). Embora a lei não o refira, também pode ser extinto por denúncia, mediante pré-
aviso, nos termos gerais, quando o contrato for celebrado sem prazo e não tenha por objeto um
negócio determinado e delimitado no tempo.
Prestação de Contas
Tem uma importância central, na associação em participação, a prestação de contas.
O associante tem o dever de prestar contas ao associado com o fim de lhe permitir
controlar a liquidação da sua participação (art.31º, DL nº 231/81). As contas devem ser
prestadas quando convencionado. Quando a associação tiver por objeto um negócio
determinado, as contas devem ser prestadas no seu termo. Quando o objeto for uma atuação
prolongada e de duração indeterminada, as contas costumam ser prestadas anualmente, no termo
do exercício fiscal.
PPV: não encontra razão para o art.31º/2/2ª parte e não encontra fundamento para a
imperatividade desta.
Quando não sejam prestadas ou haja divergências quanto às contas, as partes a têm à sua
disposição o processo especial de prestação de contas regulados pelos arts.941º e seg. do
CPC.
Natureza da Associação em Participação
Distingue-se do entendimento societário, pois a sociedade postula um exercício comum de
certa atividade económica (art.980º, CC) – o que falta na associação em participação.
o MC: a dogmática das sociedades comerciais é diferente. São lógicas distintas e as
sociedades, embora se prendam a uma ideia de organização voluntária, postulando
esquemas de adjunção muito mais vincados e muito diferentes.
No entanto, não há apenas uma troca de contributo pela participação nos lucros (noção
comutativa) – a lei postula uma pequena organização entre as partes.
Raúl Ventura + STJ = Associação em Participação é um contrato com elementos associativos =
Contrato de Organização
o MC: a associação em participação, por razões dogmáticas e sistemáticas, deve ser tida
como um “ato comercial objetivo”, inserindo-se e passando pelo Direito Comercial,
antes de apelar ao Civil.
Contratos de Distribuição
Os contratos de distribuição consistem nos circuitos económicos de distribuição dos bens,
desde o produtor e até ao consumidor final, são dobrados por esquemas jurídicos destinados a
legitimá-los, fixando os direitos e os deveres das partes envolvidas.
- Todas as relações e fases têm vicissitudes, pois existem muitos intervenientes pelo
meio (muitos distribuidores intermediários), havendo um processo de distribuição
mais complexo do que o normal.
O Código Comercial não tem autonomizado os diversos contratos de distribuição,
regulando-os em muitos figuras relativamente recentes (de inspiração norte-americanas). Logo,
as lacunas são colmatadas:
- Recorrendo à analogia, a partir das normas efetivamente existentes (normalmente
dedicadas ao contrato paradigmático da agência)
- Base em cláusulas contratuais gerais, devidamente sindicadas pela prática.
A comercialização dos bens e a sua distribuição na sociedade pode ser feita de forma:
o Distribuição Direta: o bem passa diretamente do produtor ao consumidor, ainda que
através de representantes, de comissários ou de mediadores
A Agência
Generalidades
O contrato de agência não é apenas um contrato de distribuição, mas sim um contrato de
representação comercial que passou a ser a referência para os outros contratos de
distribuição que não estão tipificados (concessão, franquia, etc).
Ao abrigo do art.1º (DL nº178/86), o contrato de agência, é o contrato pelo qual uma das partes
se obriga a promover por conta da outra a celebração de contratos, de modo autónomo e estável
e mediante retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa zona ou determinado círculo de clientes.
- O contrato de agência surge ainda no mundo europeu, através da Diretiva nº
86/653/CEE, relativa à coordenação do Direitos dos EM’s sobre os agentes
comerciais uma vez que o agente é um veículo privilegiado para colocar as mercadorias
para além das fronteiras podendo ainda a agência bulir com questões de concorrência. A
diretriz tem ainda um cuidado especial em subordinar as partes à lealdade e à BF.
Do art.1º (DL nº178/86), temos como elementos fundamentais:
o Dever de promover, por conta de outrem, a celebração de contratos:
Estabilidade
Há uma durabilidade na relação principal-agente. O principal exerce a sua atividade
de modo estável e contrata um agente não para uma operação isolada, mas antes para
um número indefinido de operações.
Os contraentes vinculam-se por certo período de tempo.
António Pinto Monteiro: a estabilidade é compatível com a fixação
de prazos curtos, podendo mesmo limitar-se a eficácia do contrato
de agência a certos períodos ou épocas do ano (a atividade do agente
não se pode limitar à prática de um ato isolado, devendo ser uma
atividade com continuidade, dentro do período de tempo por que o
contrato foi celebrado).
Relação contratual duradoura que não se extingue por um ato de
cumprimento.
Daí não se confundir com a mediação em que há contrato para certo ato concreto
terminando após este.
o Mediante retribuição
A agência tem de ser um contrato oneroso. A retribuição determina-se,
fundamentalmente com base no volume de negócios conseguido pelo agente,
assumindo um carácter variável, sob a forma de comissão ou percentagem (art.15º a
18º).
MC: A agência será, pois, uma prestação de serviço, mais particularmente uma
modalidade de mandato. O agente, terá (diferentemente do mandatário que possui uma
autonomia total) de acatar as instruções do principal (instruções concretizadoras e não
inovatórias). A agência é um contrato oneroso.
Forma
O contrato de agência parece não estar sujeito a qualquer forma. Contudo, o art.1º/1 atribui, a
cada parte, o direito de exigir da outra, um documento assinado com o conteúdo do
contrato (visando assim a proteção do agente) sob pena de nulidade do contrato por falta de
forma.
Logo, os contratos de agência assumem forma escrita e as cláusulas devem assumir a
forma escrita.
Circunscrição Geográfica
Esta não é elemento essencial do contrato de agência e é opção dos contraentes. A
delimitação pode ser feita segundo o critério geográfico ou em função de um círculo de clientes
específicos (ou até a qualidade de clientes, quando se trata de grossistas, retalhistas, etc).
Esta delimitação pode ser associada a uma cláusula de exclusivo, nos termos do art.4º (DL
nº178/66) na qual o principal não deve, no círculo que caiba ao agente, contratar qualquer outro
agente, quando este possa exercer atividades em concorrência com o primeiro.
No silêncio do contrato, o principal não está impedido de utilizar, ainda que dentro
da mesma zona ou círculo de clientes, outros agentes para o exercício de atividades
concorrentes
No silêncio do contrato, o agente está impedido de exercer, por conta própria ou de
outrem, atividades concorrentes (direito exclusivo a favor do principal – direito do
principal não ter o seu agente a exercer funções concorrentes) não está dependente de
qualquer acordo
Não há um direito de exclusivo recíproco: o agente beneficia do exclusivo perante o
principal quando há acordo escrito. O principal beneficia de que o agente se abstenha
de práticas concorrentes mesmo na omissão do contrato.
A qualidade de agente exclusivo não obsta a que o principal utilize outros agentes, desde
que se trate de ramo diverso daquele que foi confiado ao primeiro ou caso sejam utilizados
fora da zona ou do círculo de clientes do agente exclusivo.
Isto implica que o agente, no silêncio das partes, pode exercer outras atividades e até
concorrentes, desde que o faça fora da zona ou do círculo de clientes que lhe foi
confiado.
Se for atuação esporádica e ocasional, em que os clientes propõem contrato diretamente ao
principal, este pode celebrar contratos, na zona reservada ao agente.
Subagentes
Ao abrigo do art. 5º (DL nº178/66), em paralelo com o disposto para o mandato (art. 1165º, CC)
o agente pode recorrer a auxiliares e a substitutos (subagentes). Esta ideia decorre da
autonomia (característica fundamental da agência).
- Agente disfruta da liberdade de ser ele próprio a determinar o conteúdo, modo e
tempo da sua atividade, bem como da sua organização
- MC: o contrato de agência como prestação autónoma de serviços implica uma
margem lata de concretização (vantagem de permitir ao agente procurar, nas
condições de mercado, as melhores soluções para a execução do que lhe compita).
Art.5º/2: O agente atua em face dos subagente como o seu principal.
Cessação
A cessação do contrato de agência comporta cautelas especiais, uma vez que retrata um
momento de vulnerabilidade do agente. Encontra-se regulada nos artigos 24º a 36º (DL nº
178/86).
O art.25º, enumera as formas de cessação do contrato de agência:
o Acordo das partes ou distrate: O mútuo acordo é sempre possível, desde que
comporte a forma escrita (art.25º)
o Caducidade: tem a ver com a sobrevivência de um facto extintivo. O art. 26º enumera
o termo do prazo, a condição e a morte ou extinção do agente.
Na falta do prazo, o contrato tem-se como celebrado por tempo indeterminado
(art.27º/1). E por tempo indeterminado se tem por celebrado o contrato que, não
obstante o decurso do respetivo prazo, continue a ser executado pelas partes.
O termo do prazo deve coincidir com o último dia do mês – art. 28º/2 – salvo
estipulação em contrário.
Estes prazos têm um duplo alcance: são supletivos e mínimos. Funcionam sempre que
as partes nada digam e não podem, por elas, ser encurtados.
Art.28º/3: As partes podem sim, fixar prazos mais longos, o prazo a observar pelo
principal não pode ser inferior ao do agente (quando este último seja superior, deve o
primeiro alinhar autonomamente)
A indemnização da Clientela
Conclusões da aula teórica lecionada pela Prof. Carolina Nagy Correia (08/11/2023)
A Indemnização da Clientela no Contrato de Agência
Temos o contrato de agência que termina e no qual o agente conseguiu, durante o contrato,
angariar muita clientela. O principal continua assim a ter benefícios pela clientela angariada
pelo agente, deve ser este repensado?
A indemnização encontra-se prevista no art.33º da Lei do Contrato de Agência. No art.33º
vem invocar sumariamente quais são os critérios que o agente possui após a cessação do
contrato. Trata-se de uma indemnização devida ao agente, sempre e após apenas da cessação
do contrato de agência seja por um lado qual for a formação de cessação do contrato de
agência ou nos termos do qual um contrato oneroso.
A forma de cessação de contrato e o tempo durante o qual existiu o contrato entre as
partes não interferem com a indemnização. Também não releva se já houve outra
indemnização por cessação do contrato.
A indemnização por clientela resulta dos benefícios que o principal continua a usufruir
devido ao trabalho exercido pelo agente em angariar clientela.
- Pinto Monteiro diz que a indemnização da clientela não é uma verdadeira
indemnização do direito civil, devendo chamar-se compensação. Não estamos
perante uma verdadeira indemnização porque ela não está dependente da prova de
danos (a indemnização do âmbito do direito civil está sempre dependente da existência
de danos, não havendo danos não há indemnização) sofridos pelo agente (reconhecido
pela jurisprudência – AC. 09/1979, p. ex).
Não estamos perante uma verdadeira indemnização, só contado para esta os
benefícios resultantes da vigência do contrato que durante este eram de benefício
comum (agente e principal ) e após a cessação do contrato os benefícios passam a ser
só do principal (devendo o agente ser compensado por tal).
É uma compensação que se aproxima mais do ESC (art.473º, CC), pois temos um
benefício que passa para o principal, mas que foi angariado pelo agente, devendo ser
este a possuir o benefício e não o principal, devendo assim este último compensar o
agente do benefício que obteve sem razão. Mesmo que o agente não possua danos
(podendo este ainda obter um dano proveniente de um lucro cessante) há sempre
benefício para o principal abrindo lugar a uma compensação.
A lei do contrato de agência advém de uma diretiva da EU 86/53 relativa à formação do
direito do EM sobre a indemnização. O art.17º deixa espaço aos EM’s para eles próprios
quererem adotar mais uma linha/ideia de compensação ou de indemnização propriamente dita
(há EM’s que adotam as duas).
- A doutrina alemã segue esta linha da compensação (e não da indemnização)
- A doutrina francesa tem uma componente recessarcitória (interesse ressarcível)
- A doutrina portuguesa aproxima-se mais do ESC
Existem determinados requisitos positivos e negativos para apurar a sua existência.
Relativamente aos requisitos:
Positivos:
o Art.33º: requisito que aparece no art.33º/1, só aplicamos a indemnização de
clientela quando cessar o contrato (independentemente da forma de cessação).
o Art.33º/1/a: O agente tem que ter angariado novos clientes para o principal ou pelo
menos ter aumentado substancialmente a clientela (aqueles clientes que já existiam
compraram mais no negócio).
- Pinto Monteiro: tenho um agente que tem uma base de clientes reconhecida no
início do contrato. Contudo estes clientes estavam descontentes com o
principal, sendo assim esta base de clientes pouco segura. Portanto o agente
esforçou-se muito e conseguiu que eles ficassem.
Pode assim haver espaço a indemnização neste caso, em que não houve novos
clientes nem expansão do negócio, apenas manteve os antigos?
O benefício aqui ser ter existido a manutenção de clientes, ao qual sem o
agente não teria sido possível mantê-los (art.33º/1/b). Nos termos do
art.33º/1/a consiste em mantê-los sem terem ido embora.
Não é necessário que se verifiquem de forma efetiva, bastando para o efeito que se verifique
que estes se podem vir a ocorrer. Quando cessa o contrato podemos não saber quais serão os
benefícios que o principal vai obter (art.33º/1/d).
Relativamente aos benefícios não é necessário que estes já se tenham concretizado,
bastando um juízo de prognose para a sua constituição. Não tem que ser o principal a obter
os benefícios diretamente (ex: o principal tem ao seu serviço outros agentes e por isso fá-lo
através de outro agente ou concessionário ou outro tipo de contrato de distribuição - Ou seja,
quando estamos a avaliar os benefícios olhamos numa perspetiva global, não só no contrato de
agência, podendo-se dar em outros tipos de contratos presentes).
Não há benefícios, após a cessação do contrato, se o principal alterar o negócio.
Negativos
É uma exceção à indemnização de clientela.
o Art.33º/1/c: no caso de o principal ter acordado com o agente que lhe vai continuar
a pagar, após o termo do contrato, um preço de garantia que o conduza à
adquirição de clientes (é convencional – cláusula de contrato de acordo). Sendo esta
uma indeminização convencional, o agente, não recebe mais outra indemnização pelos
benefícios que o principal tenha (só recebe a convencional).
O cálculo da indemnização da clientela, a quantia que será paga por convenção é muito
menor daquela que seria paga por norma (segundo a lei), o que interessa é que as
quantias pagas não sejam meramente simbólicas.
Renuncia antecipada de direitos: ex, o principal enganou o agente, colocando no contrato de
agência, afirmando que paga cinco euros p/mês após a cessação do contrato. Estes cinco
euros por mês não equivale ao benefício que o principal adquirirá com a adquirição de nova
clientela. O principal estabelece assim esta cláusula de forma a impedir o agente de
requerer uma indemnização pela via normal. No presente caso a cláusula seria nula.
o Cessação do contrato não poder ser imputável ao agente (art.33º/3): se a cessação do
contrato for imputável ao agente não há lugar a indemnização de clientela.
Esta tem disposição imperativa, nos contratos de agência pensa-se numa parte mais forte
(principal que possui mais poder) e uma parte mais fraca (agente). As normas imperativas
preveem proteger a parte mais fraca (não neste caso a proteção de terceiros).
Quanto à natureza injuntiva desta disposição, esta natureza imperativa é questionável
porque há vários casos em que não há parte mais fraca, no qual o distribuidor pode ter
certo poder, equacionando perante determinado caso e dados se entre o principal e o agente
continuar a tutela do agente distribuidor ser uma tutela bastante mais acrescida que o normal
haja no caso em concreta uma desvalorização monetária inferior.
Se o contrato tiver cessado por causas imputáveis ao agente, não há indemnização de
clientela (transposição do art.18º da diretiva).
Prazo para a indemnização (art.33º/4)
O prazo é de um 1 ano para o pagamento que implica o vencimento imediato e a entrada
em mora do principal. Intenta a ação judicial respetivamente.
Art.16º
Art.16º/1: não tem aplicação quando falamos de contratos concluídos após a cessação dos
contratos de agência angariados pelo agente. Esta cessação está incluída no âmbito de
indemnização da clientela.
Art.16º/3: o agente tem direito a determinadas comissões/garantias quando cabe a ele a
preparação/negociação dos contratos e a conclusão dos contratos deu-se apenas devido à
atividade do agente.
Contrapondo com o art.33º não se aplica o art.16º/1 quando esses contratos tenham sido
celebrados após a cessação do contrato de agência (aplicando-se as normas legais de
indemnização da clientela).
Art.34º
Segundo o presente artigo, o limite máximo de indemnização é de um ano (art.17º/2, diretiva
da EU) e o agente receberá em princípio o menor de dois valores (relativo à atividade ou
indemnização atual -?).
Quanto ao cálculo baseado na equidade é necessário ver qual a média auferida nos últimos
cinco anos. Será necessário ter em consideração quais os benefícios que o principal adquire
com a extinção do contrato. Se mantivesse o contrato o que é que se ganhava e quais são
efetivamente as perdas que o principal tem por não ter o contrato de agência em vigor.
É feito um juízo de prognose quer em conta às perdas e aos ganhos. Deve ser tomada em
conta a prognose da intervenção dos clientes (atividade dos clientes em relação à empresa, ou o
que quer que seja).
Tem que se ter em consideração e descontar os juros de antecipação do pagamento. É
descontado do valor a parte relativa à taxa negativa de juro derivada da antecipação.
ML vem adicionar outros critérios relevantes para a indemnização de clientela segundo a
equidade:
o Duração do contrato: a longa duração beneficia o agente, sendo um critério para
aumentar a compensação/remuneração do agente
o Infrações contratuais: podem ser tidas em conta para a indemnização
o Poupança de despesas do agente: se o agente se tenha deslocado pelo país para
angariar mais clientela, deve ser tido em conta que o principal pagou de antemão estas
despesas ao agente.
Estes critérios são relevantes para determinar o cálculo da indemnização.
Para ML são também considerados outros fatores como a publicidade que se fazia a favor
do agente, a força atrativa da marca usada pelo principal (ex: sociedade de advogados, onde
o advogado trabalha na VdA, os advogados daqui tentam angariar clientes para a VdA, mas
sendo a VdA, uma grande sociedade consegue angariar mais clientes pela sua marca e de forma
mais facilitada do que sociedades mais pequenas - Aqui a indemnização de clientela não deve
ser muito elevada, porque não houve tanto esforço).
Pinto Monteiro, questiona se o contrato cessar por razões imputáveis ao agente é uma coisa e
se cessar por iniciativa do agente (não por incumprimento seu), faz sentido haver indemnização
de clientela devido à iniciativa do agente?
Faz sentido, pois o facto de o agente querer sair de uma relação contratual não o deve
penalizar de receber uma indemnização porque ele adquiriu clientela na mesma. Essa ratio
continua a existir.
A Concessão
É um contrato atípico e inominado.
Segundo Pinto Monteiro, a concessão é um contrato-quadro em que o concedente se obriga
a vender ao concessionário, para este revender, determinadas quotas de bens, aceitando
certas obrigações (de respeito à organização, política comercial e assistência aos clientes) e
sujeitando-se a um certo controlo e fiscalização do concedente)
- Este contrato é juridicamente atípico e é no regime da agência que se
integram as suas lacunas, vendo caso a caso se há analogia de situações que
justifique a aplicação da sua aplicação
O contrato de concessão opera em áreas que exigem investimentos significativos e que o
produtor dos bens ou serviços a distribuir não queira ou não possa, ele próprio, efetuar.
Corresponde, tendencialmente, a esquemas destinados a distribuir produtos de elevado valor
(ex: veículos automóveis).
Na concessão, um produtor fixa, com um distribuidor (o concessionário) um quadro de
distribuição que se norteia pelos seguintes parâmetros:
o Comerciante (concessionário) insere-se na rede de distribuição do produtor
o Adquire o produto em jogo, junto do produtor e obriga-se a vendê-lo, em seu
próprio nome, na área do contrato
A concessão pode, depois, ser enriquecida com numerosas outras cláusulas.
Designadamente, o concessionário pode ficar adstrito a determinadas metas, à efetivação de
certos investimentos ou à utilização de marcas ou de insígnias que identifiquem o produto em
jogo.
A concessão é um contrato que estabelece relações duradouras, no âmbito das quais o
concessionário opera iure proprio (pode ainda operar como promessa genérica de aquisição e
de venda de produtos, com diversas prestações de facere em anexo). É um contrato-quadro, cujo
âmbito vão, depois e na execução, surgir outros contratos entre as duas partes.
O contrato de concessão, implica uma distribuição a nível internacional, sendo ainda nessa
circunstância, complementado com elementos internacionais privados.
Este contrato difere de outros contratos:
o Difere da agência (art.1º, DL 178/66): concessionário age por conta própria
o Difere do mandato (art.1157º, CC) : concessionário age por conta própria e
adstringe-se a atividades materiais e jurídicas
o Difere do contrato de trabalho (art. 1152º, CC)
o Difere da comissão (art.266º, CComercial) e da sociedade (art. 980º, CC)
o Difere do consórcio: concessionário e concedente não têm propriamente uma
atividade comum e antes se verifica que os beneficiários agem por si
o Difere da mediação: concessionário não se obriga a promover qualquer
aproximação e contrata ele próprio
o Difere da transmissão de saber fazer ( know how): uma pessoa transmite a outra a
Contrat
tecnologia ou, em geral, os conhecimentos aplicados necessários para concretizar
os
determinada tarefa, não patenteados (está presente na concessão)
Atípico
o Difere do contrato de franquia: dominado pela autorização para usar certas marcas
ou insígnias e para utilizar especiais esquemas de comercialização. A fiscalização do
franqueador é mais intensa do que a do concedente.
Como o contrato de concessão é atípico, ele muitas vezes inclui cláusulas próprias de
figuras “afins”, de tal modo que a distinção pode não ser linear e ser problemática.
Regime da Concessão
O contrato de concessão não tem base legal direta, sendo assim uma figura assente na
autonomia privada. À partida, trata-se de um contrato que não está sujeito a qualquer forma
solene. Pode ser meramente verbal ou pode resultar de condutas concludentes. O seu
regime resultará, da interpretação e da integração do texto que tenha sido subscrito pelas partes.
No que as partes tenham deixado em aberto, haverá que recorrer à analogia. O direito
comparado estabelece, neste domínio, o recurso ao regime da agência.
- Ora, relativamente ao regime português, quanto ao que não for estabelecido,
recorre-se analogicamente ao regime da Agência (conforme o disposto no
art.4º do Preâmbulo do DL 178/86) sendo este o instrumento fundamental
para acudir a lacunas que surjam em contratos de concessão
Especificidades
É possível detetar, no tocante ao regime e ao funcionamento prático da concessão, algumas
especificidades:
o A concessão postula uma relação de confiança (não se aplica assim o prazo
admonitório do art.808º/1/2ª parte, CC)
o O regime de exclusividade não é necessário e para existir tem de ser acordado. A
exclusividade não é, ainda e só por si, contrária às regras da concorrência, tão-pouco é
suficiente para provar a concessão
o A concessão pode envolver a formação profissional do pessoal do concessionário
A concessão, nos seus elementos úteis, deve ser provada por quem, dela se queira prevalecer.
Quanto à sua duração:
o Não havendo prazo, ela só pode ser denunciada com um pré-aviso sob pena de dar
azo a um dever de indemnizar
Indemnização de Clientela1
Há uma transposição automática do regime da agência: a analogia teria de ser verificada. Já se
entendeu que a indemnização da clientela teria uma natureza social (isso obrigaria a verificar
se o concessionário se inseriu mesmo na organização do concedente e se ele é digno de tutela).
A compensação da clientela é uma compensação prevista pela clientela angariada, desde
que se verifiquem os demais pressupostos da lei e haja analogia. Havendo lei, não se aplicam as
regras do ESC.
Além da indemnização de clientela, a interrupção abruta de uma concessão pode obrigar à
retoma dos stocks, havendo danos não-patrimoniais.
Pode ainda impor-se uma indemnização por investimentos feitos pelo concessionário,
incluindo em formação profissional e que se venham a perder e caberá indemnizar pelas
maiores despesas (despedimentos coletivos, restituição de subsídios ao Estado e
incumprimentos ocasionados junto de fornecedores).
1
As normas sobre a indemnização de clientela, na agência, não tem aplicação automática (há
sempre que ponderar os requisitos e a analogia).
A Franquia (Franchising)
No contrato de franquia, uma pessoa (o franqueador) concede a outra (o franqueado) dentro
de uma certa área, cumulativamente ou não:
o Utilização de marcas, nomes ou insígnias comerciais
o Utilização de patentes, técnicas empresariais ou processos de fabrico
o Assistência, acompanhamento e determinados serviços
o Mercadorias e outros bens, para distribuição
Segundo Pinto Monteiro, franquiado é o comerciante que atua em nome e por conta
própria, estando adstrito ao plano delineado pelo franquiador e executa-o, surgindo aos
olhos do público, ao distribuir os bens com a imagem empresarial do franquiador.
A ideia de franquia andava inicialmente em torno do privilégio/liberdade, pois o franquiador
permite ao franquiado o acesso à área que, em princípio, lhe estariam vedadas (utilização
das marcas, nomes, insígnias, patentes e outras técnicas de que o franqueador tenha o
exclusivo). Mais tarde a franquia enriqueceu-se com elementos próprios de distribuição de
bens e serviços.
Esta surgiu nos EUA, e tornou-se um esquema próprio de expansão internacional de
empreendimentos. Tem sucesso devido:
o Às possibilidades abertas pela publicidade, no tocante à divulgação de marcas e
estilos de vida
o À mobilidade crescente dos consumidores, que facilita uma oferta uniforme de
bens
o Aumento dos rendimentos
Direitos do Franqueador
o Retribuição da percentagem do produto das vendas
o Poderes de fiscalização quanto a especificações e qualidades do produto vendido sob a
sua marca
o Poderes de aprovação ou fiscalização no que toca a pontos de venda, a sua
configuração, etc
o Poderes no domínio da cessão da posição contratual e da renovação do contrato
o Receber a contrapartida dos bens ou serviços que forneça
Obrigações do Franqueado
o Pagamento de certas retribuições
o Lançamento e desenvolvimento da sua atividade dentro de certa circunscrição
o Manutenção da qualidade dos serviços ou produtos do franqueador
o Sigilo quanto a conhecimentos recebidos do franqueador
o Comparticipação em despesas de publicidade
o Certas cláusulas de não-concorrência
Direitos do Franqueado
o Uso da marca, insígnia ou nome comercial do franqueador
o Utilização de conhecimentos, técnicas, etc. do franqueador
o Auxílio do franqueador no lançamento, manutenção e desenvolvimento da sua
atividade, recebendo indicações
o Fornecimentos acordados
2
Há ingerência do franquiador na atividade pois há um fornecimento de “know-how”,
assistência, métodos, planos de mercado, conhecimentos tecnológicos e etc
Cessação da Franquia
O contrato de franquia dá lugar a uma situação duradoura. Na sua cessação, há que observar
os quadros competentes, com relevo para a resolução (unilateral e justificada) e a denúncia
(unilateral e discricionária).
Pelo que o modelo de cessação aplicável é o da agência (com as adaptações necessárias). A
cessação não pode, pela natureza das coisas, ser retroativa.
Como especialidade, verifica-se que o franqueado fica numa patente subordinação
económica, sendo-lhe por vezes exigidos investimentos significativos, em nome de uma
situação que o franqueador poderá fazer cessar se o contrato lho permitir.
Ora os contratos de franquia são fixados unilateralmente pelos franqueadores que, muitas
vezes recorrem para o efeito a cláusulas contratuais gerais.
- Coloca-se assim aqui o problema da tutela do franqueado, no qual embora
economicamente subordinado, o franqueado é juridicamente autónomo:
não se justificaria, por isso, o recurso a uma tutela de tipo laboral.
Impor-se-ia, contudo, alguma proteção: a do contrato de agência. No entanto, a indemnização
de clientela só é aplicável na medida em que ela exista – muitas vezes a clientela é angariada
pelo franqueador, dado o peso da sua marca e publicidade; o franqueado pouco receberá por
isso o contrato de franquia deve ser conjugado com as orientações vindas do DUE e com as
regulações vindas do Direito da Concorrência.
Aspetos Práticos
A franquia coloca problemas de interpretação contratual pois esta deve ser feita numa
lógica empresarial, em termos de funcionamento, de modo a apreender-se a lógica de grupo
onde o franqueado pretende inserir-se.
- Pode também haver uma coordenada societária – essa natureza mista permite
fazer apelo aos mais diversos contratos, prevalecendo o sentido dado pelas
partes ao negócio.
Indemnização de Clientela
Concessão
Um acórdão de uniformização de jurisprudência, o concessionário tem direito à indemnização
de clientela (aplica-se analogicamente o art.33º, do DL do contrato de agência desde que
estejam preenchidos os pressupostos provando não só que o concessionário adquiriu clientela e
que o concedente beneficiou). Este acórdão de uniformização de jurisprudência não vincula,
mas admite recurso (condicionando assim os tribunais inferiores, exercendo um grande poder de
facto).
Em termos de prova dos requisitos, é mais complicada porque na agência é fácil, pois quem
celebra os contratos e quem sabe quem são os clientes é o principal (contrariamente aos
contratos de concessão).
Prof. Ferreira Pinto: tem uma decisão mais crítica da indemnização da clientela a favor do
concessionário. A remuneração do agente é ao negócio. Na concessão a remuneração do
concessionário é o lucro pelo que pagou pelo carro e o preço que ganhou dos clientes. Recusa
assim a aplicação analógica do art.33º do DL.
Franquia
Quanto à franquia, o franquiado não tem direito à indemnização de clientela. Pois o trabalho do
franquiado na clientela é menor (um Big Mac é igual em qualquer McDonalds).
Art.31º tem um prazo muito curtíssimo de caducidade para resolver o contrato e a indemnização
de clientela igual.
A ia (Manual ML)
A insolvência traduz a situação daquele que está impossibilitado de cumprir as suas
obrigações, normalmente por ausência da necessária liquidez em momento determinado, ou em
certos casos porque o total das suas responsabilidades excede os bens de que pode dispor para
as satisfazer.
- Encontra consagração legal no art.1º (CIRE)
- É um problema com que qualquer sociedade se tem de deparar uma vez que
permite o recurso ao crédito
A partir do momento em que se reconhece a legitimidade de diferir para o futuro o cumprimento
de obrigações, também se gera a possibilidade de esse cumprimento não vir efetivamente a
ser possível nesse momento futuro.
O Direito da Insolvência
O Direito da Insolvência abrange as consequências resultantes da impossibilidade do
cumprimento pelo devedor das suas obrigações:
o Situação do devedor
o Medidas de conservação e a liquidação do seu património
o Eventuais medidas de recuperação que venham a ser determinadas
o Determinação e a graduação dos direitos dos credores
o Satisfação (normalmente parcial) dos direitos dos credores
O Direito da Insolvência pode ser considerado como um complexo de normas jurídicas que
tutelam a situação do devedor insolvente e a satisfação dos direitos dos seus credores.
Abrange assim normas oriundas do direito comercial (devedores comerciais), direito civil (em
relação a outros devedores), DPC (relativo ao processo de insolvência), direito penal, direito
processual penal e direito internacional privado.
Segundo ML, é exagerado afirmar que falamos num ramo próprio do direito, este é sim direito
substantivo de natureza privada, constituindo um ramo próprio do direito da responsabilidade
patrimonial.
O Direito da Insolvência possui uma forte componente processual, dado que, por
necessidade de tutela dos direitos do devedor e dos credores envolvidos, é necessária a
intervenção do tribunal, coadjuvado pelos órgãos da insolvência.
O Processo da Insolvência
Existem as seguintes formulações do processo de Insolvência:
o Formulação restrita: consiste numa sequência ordenada de atos que se inicia com a
apresentação à insolvência (art.18º e 19º) ou o pedido da sua declaração (art.20º e
seg.) e se conclui com o pagamento aos credores (arts. 172º e seg.) ou com alguma
das outras causas de extinção do processo (art.230º/b/c/d/e)
A Situação de Insolvência
Ser insolvente significa ser incapaz de cumprir a suas obrigações, mas essa incapacidade tem
que ser certificada em determinado momento, através da declaração de insolvência.
Só que essa incapacidade de cumprimento pressupõe uma avaliação complexa que pode ser
realizada através de dois critérios principais:
o Critério do Fluxo de caixa ( cash flow): o devedor é insolvente logo que se torna
incapaz, por ausência de liquidez suficiente, de pagar as suas dívidas no momento
em que estas se vencem.
Para este critério, o facto de o seu ativo ser superior ao passivo é irrelevante, já que a
insolvência ocorre logo que se verifica a impossibilidade de pagar as dívidas que
surgem regularmente na sua atividade.
Trata-se de um critério simples, pois, excluindo os casos em que o devedor se encontra
de boa-fé em lítigio sobre as suas obrigações, o facto e não as pagar no momento do
vencimento indicia claramente a sua insolvência
3
Através do processo de insolvência, efetua-se a reunião de todos os credores em assembleia,
para os quais se institui a administração do património do devedor através de um administrador
de insolvência que, sob a fiscalização do tribunal, procura obter a melhor valorização possível
desse património e proceder à sua repartição pelos credores em termos igualitários.
Massa Insolvente
O âmbito e a função da massa insolvente encontram-se definidos no art.46º (CIRE). Esta
abrange todo o património do devedor à data da declaração de insolvência, bem como os
bens e direitos que este adquira na pendência do processo, só sendo, no entanto, os bens
isentos de penhora integrados na massa insolvente se o devedor voluntariamente os integrar e a
impenhorabilidade não for absoluta.
Quanto à sua função, esta destina-se primordialmente à satisfação das dívidas da própria
massa insolvente (art.51º, CIRE) e apenas depois dos créditos sobre a insolvência.
Em relação aos bens e direitos que compõem a massa insolvente, estes correspondem em
princípio à totalidade do património do devedor à data da declaração da insolvência
(art.601º, CC). Contudo, esta compreende ainda os bens que o devedor for adquirindo na
pendência do processo e, bem assim, aqueles que forem sendo reintegrados no mesmo, através
do exercício pelo administrador de insolvência da resolução em benefício da massa (art. 120º e
seg. CIRE).
- Bens sujeitos a penhora: só são integrados na massa insolvente se o devedor
voluntariamente os integrar e a impenhorabilidade não for absoluta
Composição
Totalidade do património do devedor à data da declaração de insolvência
o Bens dos Responsáveis Legais pelas Dívidas : Apesar de a lei não o referir,
naturalmente que se deverão considerar integrados na massa insolvente os bens
dos responsáveis legais das dívidas do insolvente, ou seja, das pessoas que respondem
pessoal e ilimitadamente pela generalidade das suas dívidas, ainda que a título
subsidiário (art. 6º/2 do CIRE)
Pessoas que se encontram nesta situação: Sócio único (art. 84º do CSC),
sócios em nome coletivo (art. 175º/1 do CSC), comanditos (art. 465º/1 do
CSC), gerentes e administradores de quaisquer sociedades quando, pela
inobservância culposa das disposições legais ou contratuais destinadas à sua
proteção, o património social se torne insuficiente para a satisfação dos créditos
(art. 78º/1 e 4º do CSC)
o Bens adquiridos na pendência do processo (art. 120º do CIRE): Por exemplo, uma
herança que o devedor receba no decurso do processo pertence à massa insolvente,
não podendo o devedor proceder ao seu repúdio (art. 2062º do CC), pois tal
representaria um ato de disposição dos seus bens, que lhe é vedado, dado que tais
capacidades se transferem para o administrador de insolvência
o Bens Excluídos
Nunca podem ser incluídos: Não entram na massa insolvente os bens
absoluta ou totalmente impenhoráveis (art. 822º do CPC) ou pertencentes ao
devedor, objeto de uma restrição de responsabilidade pelas suas obrigações (ex:
bens adquiridos em mandato de execução - art. 1184º CC)
o Podem ser exigidas diretamente: como não estão sujeitas ao processo de verificação
e graduação dos créditos, não tem de ser reclamadas (art.128º e ss. CIRE). Podendo
os credores exigir diretamente o seu pagamento ao administrador da insolvência
Créditos Garantidos
Créditos Privilegiados
Créditos Comuns
Créditos Subordinados
Créditos Sob Condição
Os Órgãos da Insolvência6
Tribunal
Falamos no tribunal comum, uma vez que os tribunais do comércio só são competentes se o
devedor for uma sociedade comercial ou a massa insolvente integrar uma empresa (art.89º/1,
LOFTJ)
Competência Territorial: É primordialmente atribuída ao tribunal da sede ou do domicílio
do devedor ou do autor da herança à data da morte, consoante os casos (art.7º/1, CIRE) do
devedor ou do autor da herança à data da morte, consoante os casos (art.7º/1, CIRE), sendo
igualmente competente o tribunal do lugar em que o devedor tenha o centro dos seus
principais interesses (art.7º/2, CIRE)
Administrador da Insolvência
O administrador é escolhido pelo juiz (art.52º, CIRE), de entre os administradores inscritos
na lista oficial, devendo essa escolha ser efetuada por processo informático que assegure a
aleatoriedade da escolha e a igualdade de distribuição nos processos (art.13º/2, Lei 22/2013).
Comissão de Credores
A comissão é nomeada pelo juiz, podendo ser composta por 3 a 5 membros efetivos e 2
suplentes, sendo o presidente o maior credor e devendo a escolha dos restantes assegurar a
adequada representação das várias classes de credores, com exceção dos credores
subordinados (art.66º/1, CIRE).
Assembleia de Credores
A reunião de todos os credores numa assembleia justifica-se, face ao cariz coletivo da
execução do processo de insolvência, que implica a necessidade de coordenação das
pretensões dos diversos credores, através de deliberações em que cada credor vota com base no
montante dos seus créditos.
5
Ver Sebenta Luísa (págs. 33 a 37)
6
Ver Sebenta Luísa (págs. 38 a 43)
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Conclusões (Prof. Ana Perestrelo de Oliveira)
Órgãos da Insolvência
- Tribunal
- Administrador da Insolvência (art.52º e seg. CIRE): é uma pessoa profissional
que é escolhida pelo tribunal. Substitui-se ao devedor na administração do
património, na liquidação e partilha. É quem vai organizar tudo.
- Comissão de Credores: é um órgão que não é obrigatório, mas sim eventual que
reúne vários representantes das diversas classes de credores e tem um papel de
fiscalização e cooperação com o administrador
- Assembleia de Credores: é o órgão que reúne todos os credores, harmonizando
a pretensão de todos os credores.
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