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EXERCÍCIOS, HIPÓTESES PRÁTICAS, ANÁLISES DE

JURISPRUDÊNCIA

E EXAMES DE ANOS ANTERIORES

MATERIAL DE APOIO ÀS AULAS PRÁTICAS

Direito Comercial

1º CICLO
ANO LECTIVO 2017/2018
1º SEMESTRE
QUALIFICAÇÃO E ESTATUTO DO COMERCIANTE.

1. Belindo tem uma empresa que se dedica à instalação de sistemas de vigilância


de habitações. Recentemente conseguiu ficar como representação de uma
empresa nacional, titular de uma marca muito conhecida. Considerando que o
pontual cumprimento do contrato o obrigava a fazer alguns investimentos
iniciais, resolveu constituir com o cônjuge uma sociedade e mandou fazer uma
página de internet da sociedade, ABC - Sistemas de Vigilância, Lda, a Carlitos.
Celebrou depois, já com a sociedade constituída, como gerente desta, um
contrato de arrendamento de um espaço situado num Centro Comercial da cidade
e pediu a um Banco 2000 euros, a título de financiamento, entregando ao banco
uma livrança por si (Belindo) subscrita, em nome da sociedade e a título pessoal,
como avalista.

Nota: Não há compra e venda comercial, Há compras, e há vendas. Temos sempre de


analisar separadamente os sujeitos da situação jurídica (A vs. B). Ter em atenção as
normas qualificadoras e desqualificadoras, como o 463º e o 464º.
Esquema: 1º - norma qualificadora quanto às duas partes; 2º - identifico que tipo de ato
é; 3º qualifico como puro ou misto e as suas consequências.
Em casos de representação jurídica, o comerciante pode sempre agir em duas condições;
• Agindo em nome próprio
• Agindo em nome de outrem
Contratos de distribuição:
• Agência
• Franquia
• Concessão

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a) Como qualificaria o contrato celebrado entre Belindo (comerciante) e Carlitos
(comerciante ou particular) relativo à realização da página de internet da ABC,
Lda? É um contrato civil ou comercial?

Nota: Atos de comércio absolutos vs. Acessórios – Absolutos têm comercialidade


própria, acessórios extraem a sua comercialidade da relação de necessidade com um ato
de comércio absoluto.
Antes de mais, importa sublinhar que nesta hipótese sobrevêm três momentos
fundamentais:
• Pré-constituição societária;
• In-constituição societária;
• Pós-constituição societária.

Poderíamos estar perante um contrato civil (ºCC) de prestação de serviço.


Contudo, certos negócios são atos de comércio por acessoriedade (objetiva), por
conexão com outro ou outros atos de comércio. A razão da sua comercialidade é,
pelo menos em boa medida, o princípio de que o acessório segue o principal: se
um negócio principal tem caráter mercantil, os contratos que têm com ele alguma
relação de acessoriedade também possuem esse caráter mercantil.
Os atos de comércio ditos subjetivos (art. 2º II parte CCom), caracterizam-se
genericamente pela sua conexão com o exercício da atividade que constitui o
objeto do negócio ou empresa do comerciante - integrando-se portanto no
exercício do seu comércio, ainda que a título «acessório». Será por esta via que o
contrato celebrado entre B e C adquire a sua comercialidade – já que nada na
obrigação nos indica a sua natureza exclusivamente civil.
B será comerciante nos termos do artigo 13º nº1, enquanto pessoa singular capaz
de gozo e de exercício (constitua, ou não, um EIRL).
Para a TAC a sociedade só adquire comercialidade pelo registo, para a TJE poderá
gozar do estatuto ainda antes, no momento em que se começa as atividades. Neste
caso, a TJE já qualificaria como comerciante.
Qualificar B como comerciante com cada teoria. Qualificar, depois, C.

Desenvolvidamente…

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1º - Caracterizar, com traços distintivos, as duas teorias para qualificação, se a pergunta
não nos direcionar, no enunciado, para uma delas:
• Teoria dos atos de comércio (TAC) – um determinado ato é ato de comércio,
aplicando-se o regime mercantil, quando se acharem especialmente regulados no
Código (2º 1ª parte + norma especial, como o artigo 463º, quanto à compra para
revenda); Estas normas somente qualificam como comerciais os atos, já a
comercialidade enquanto estatuto dos sujeitos remete-se para o 13º. Atende-se, no
essencial, ao elemento operativo (primeiros atos comerciais objetivamente
caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira compra para revenda),
não ao elemento organizativo.
• Teoria jurídica da empresa (TJE) – Esta teoria diz-nos que a norma do 230º é que
é a norma fundamental quanto à qualificação comercial dos atos, ao passo que a
norma do artigo 2º nº1 é uma norma residual, somente quanto aos atos de
comércio ocasionais (230º + 2º nº1); O artigo 230º alarga o âmbito dos atos
objetivos – não são só os clássicos atos de intermediação nas trocas, mas todos os
atos elencados no 230º (core) e todas as atividades preparatórias da empresa
(acessórios). O 230º opera duas qualificações: estabelece os atos como comerciais
e classifica os sujeitos como comerciantes (Olavo Cunha), mas complementado
pelo artigo 13º. Esta posição antecipa a qualificação, atendendo ao elemento
organizativo em detrimento do elemento operativo (primeiros atos jurídicos tendo
em vista o ato comercial objetivamente caracterizador da atividade futura da
empresa – imagine-se, a compra e venda de automóveis usados -, como a
contratação de trabalhadores).

2º - Tratar separadamente todos os sujeitos que sejam partes na situação jurídica, se a


pergunta não se cingir a um sujeito em concreto;
3º - As questões deverão incidir sobre dois pontos de análise:
• O ato é qualificável como comercial para o sujeito sub judice?
• O sujeito é qualificável como comerciante para o ato sub judice?

(Isto significa que teremos quatro grandes questões (estas duas para cada sujeito), que
se tornarão oito ao todo, pois devem ser respondidas, na falta de explicitação, empregando
cada teoria separadamente); Assim sendo...
4º - Comecemos pela Teoria dos Atos de Comércio (TAC).

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5º - Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TAC?
(PRIMEIRA PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA)
• Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão
normativa da 1ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código”? Entende a doutrina, como o Professor
Coutinho de Abreu e o Professor Evaristo Mendes, que isto engloba:
o As correspondentes a atos de comércio «regulados» diretamente no
CCom;
o As previstas no artigo 230º;
o As correspondentes a atos de comércio regulados por normas avulsas, quer
se trate de normas que revogaram títulos do Código, quer se trate de
legislação comercial extravagante (por autoqualificação ou por
interpretação);
o As que correspondam a um pensamento analógico (legis – 10º/2 CC - ou
iuris – 10º/3) CC – NA TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO
CLÁSSICA NÃO HÁ ANALOGIA – estes Autores têm uma visão
modernista.
• (Cont.) Independentemente da modalidade onde se enquadre, a lógica desta
posição é sempre a seguinte: 2º nº1 1ªP + Norma Especial, codificada ou avulsa.
Atende-se, no essencial, ao elemento operativo (primeiros atos comerciais
objetivamente caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira compra
para revenda), não ao elemento organizativo, que atenderia, por exemplo, ao
arrendamento do local de trabalho.

• Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão


normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações
dos comerciantes (via 13º, segundo a TAC), que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar (ou das suas
circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar três questões…
o Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva
positiva)
o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)

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▪ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes
(menoridade, inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas
para exercer o comércio por si, por um EIRL ou por representante
(13º nº1); E profissionalidade, mediante a qualificação dos atos de
comércio que ele pratica (se qualfiicarmos estes atos como
comerciais – 463º - compra de sistemas de vigilância para revenda
com instalação, ou sendo uma comissão, por ele estar em
representação duma grande empresa, alegadamente);
▪ As Sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e
SE;
▪ Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
▪ Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
▪ As Cooperativas (230º);
▪ As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as
EPE;
▪ As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
o Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)
▪ Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
▪ Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos
(dependentes de uma relação pessoal: por ex., convenções
antenupciais e obrigação de alimentos);
▪ As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
▪ Os negócios mortis causa (discutível).
• (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação como
subjetivamente comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por essa via.

6º - Repetir toda esta exposição de qualificação do ato como comercial e do sujeito como
comerciante para o outro sujeito, ainda segundo a TAC.
7º - Partimos agora para a análise da questão sob o prisma da Teoria Jurídica da
Empresa (TJE).
8º - Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TJE?
(PRIMEIRA PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA)
9º - Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão
normativa do artigo 230º CCom (relembramos que para a TJE o artigo 230º é a norma

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qualificadora primária, operando o artigo 2º nº1 residualmente, somente quanto a atos de
comércio ocasionais) – “Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou coletivas,
que se propuserem: (…) ”. Esta posição antecipa a qualificação, atendendo ao elemento
organizativo em detrimento do elemento operativo.
• Se se confirmar a qualificação por esta norma, respondemos desde logo à
SEGUNDA QUESTÃO, uma vez que, segundo Olavo Cunha, o artigo 230º
qualifica tanto o ato como comercial como o sujeito que o pratica como
comerciante. Neste caso, o Professor Coutinho de Abreu entende que há um
princípio básico de que todos os contratos de prestação de serviços são comerciais,
nos termos do 230º nº2. É possível, mesmo por analogia! Mas isso depende da
qualificação de C como comerciante, um prestador de serviços (dentro de uma
organização), coisa que não sabemos. Se não for, não há qualificação pelo 230º,
e não poderá ser objetivamente comercial.
• Se não se confirmar, ou não perfilarmos a teoria do Professor Olavo Cunha…

10º - Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão


normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações dos
comerciantes (via 13º), que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do
próprio ato não resultar (ou das suas circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar
três questões…
• Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva positiva)
• Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)
o As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade,
inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas para exercer o
comércio por si, por um EIRL ou por representante (13º nº1);
o As sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e SE;
o Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
o Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
o As Cooperativas (230º);
o As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;
o As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
• Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)

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o Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
o Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos (dependentes de
uma relação pessoal: por ex., convenções antenupciais e obrigação de
alimentos);
o As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
o Os negócios mortis causa (discutível).
• (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação como
subjetivamente comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por essa via.

11º - Repetir toda esta exposição de qualificação do ato como comercial e do sujeito como
comerciante para o outro sujeito, ainda segundo a TJE.
12º - No final, deveremos, para cada teoria, aferir se estamos perante um ato objetivo
puro ou misto (unilateral ou bilateral), consoante seja comercial para uma ou ambas
as partes (art. 99º).
13º - Por fim, devemos extrair daí as necessárias consequências no que toca aos
direitos e obrigações das partes na relação contratual, comercial ou não.

R: Neste caso, o ato poderia ser comercial relativamente a B, nos termos da TAC e

b) Como qualificaria o contrato de arrendamento do espaço situado no Centro


Comercial?

Artigo 1109.º CC
Locação de estabelecimento
1 - A transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou de parte dele,
em conjunto com a exploração de um estabelecimento comercial ou industrial
nele instalado, rege-se pelas regras da presente subsecção, com as necessárias
adaptações.

Assim sendo, poderíamos estar perante um contrato civil.

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Contudo, há negócios que são comerciais pelo fim ou destino comercial do objeto
(mediato). É o caso dos arrendamentos comerciais - contratos tendentes a
proporcionar a alguém o gozo de um espaço para a instalação e funcionamento de
um estabelecimento mercantil - em face do Decreto 5411 (hoje, revogado: cfr. os
arts. 1108ss do CC) e boa parte dos atos de comércio acessórios.
Os atos de comércio ditos subjetivos (art. 2º II parte CCom), caracterizam-se
genericamente pela sua conexão com o exercício da atividade que constitui o
objeto do negócio ou empresa do comerciante - integrando-se portanto no
exercício do seu comércio, ainda que a título «acessório». Será por esta via que o
contrato celebrado entre B e C adquire a sua comercialidade – já que nada na
obrigação nos indica a sua natureza exclusivamente civil.
B e o cônjuge serão comerciantes nos termos do artigo 13º nº2, enquanto pessoa
coletiva.
TJE – 230º sendo norma de alargamento, ele assume que há muitos atos que são
intrinsecamente comerciais, como a intermediação nas trocas. O 230º não acha
que tudo consta dele! Ele diz que podem existir normas extravagantes, como neste
caso o CC. O 2º nº1 costuma ser tipicamente para atos de comércio ocasionais.

c) Como qualificaria o contrato de financiamento realizado com o banco?

TAC
Artigo 2º 1ª parte – Operação de banco 362º CCom para o banco (Empréstimo ou
Abertura de Crédito) e 394º (Empréstimo) para a contraparte, 396º só exige entre
dois comerciantes para efeitos de prova, não como requisito de comercialidade, o
único requisito é a coisa emprestada ser destinada ao comércio.

TJE
230º engloba esta atividade.

d) Como qualificaria a subscrição da livrança?


Debater a questão dos níveis de normas incluídas na interpretação atualista.
Debater a diferença entre atos de comércio causais/substanciais e
abstratos/formais (estes).

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A subscrição da livrança é qualificável como um ato comercial, por via do artigo
2º 1ª parte, enquanto atos de comércio regulados por normas avulsas, quer se trate de
normas que revogaram títulos do Código (É O CASO, ex-278º e ss.), quer se trate de
legislação comercial extravagante (por autoqualificação ou por interpretação);
O regime consta da LULL (75º e ss.).
Quer nos termos da TAC como TJE.
Também pela qualidade de comerciante da Sociedade que subscreveu, poderia ser
um ato subjetivamente comercial.

e) O contrato de financiamento está sujeito a forma especial?


Não, pois as exigências formais são pensadas para o tráfego extracomercial, por
imperativos de consciencialização e segurança jurídica. Neste caso, estamos perante dois
comerciantes que, presume-se, saberão com rigor as ações que tomam. Assim sendo,
imperam os interesses jurídicos de agilização do comércio.
Por tudo isso, o contrato de financiamento não está sujeito a qualquer forma ex
lege.
(366º) 396º CCom – No Direito Comercial impera o princípio da liberdade de
forma. As formalidades não são mais do que requisitos, em alguns casos, de eficácia, mas
não de perfeição ou regularidade do negócio.
EXCEÇÃO - DL 32765, de 29 de abril de 1943.

f) Belindo é comerciante?
Antes de mais, importa sublinhar que nesta hipótese sobrevêm três momentos
fundamentais:
• Pré-constituição societária;
• In-constituição societária;
• Pós-constituição societária.
Quanto ao momento pré-societário – 13º nº1 (TAC – elemento operativo), 230º - 13º nº2
(TJE – elemento organizativo);
Quanto ao momento in constituendo (sociedade irregular) – 13º nº2 (TAC), 230º - 13º nº2
(TJE);
Quanto ao momento societário – 13º nº2 (TAC), 230º - 13º nº2 (TJE).
Ou…

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B enquanto gerente – não é comerciante, age enquanto representante da sociedade
B enquanto sócio – depende da qualificação como sócio de responsabilidade limitada ou
ilimitada (neste caso, poderia ser).
B antes da constituição – TAC – 2º nº1 (compra e venda – 463º) e 13º nº1; TJE – 230º
nº2 (ou pela prestação de serviços ou pela comercialidade intrínseca, segundo POC).

2. Alberto é educador de infância estando casado com Elvira, que trabalha como
manicure num espaço cedido dentro de um supermercado. Como as suas vidas
não andam a correr muito bem, decidiram abandonar a sua anterior profissão e
tornarem-se empresários de pastelaria. Alberto é um excelente pasteleiro e tem
um amigo de infância que vive na província produzindo cereais de todo o tipo,
muito apetecíveis nas pastelarias lisboetas. Esse seu amigo (Cristiano) vem todos
os dias a Lisboa trazer os cereais encomendados por Alberto. A pastelaria foi
logo um enorme sucesso, mas este foi abruptamente interrompido pela instalação,
a 50m, de uma loja da “Padaria Portuguesa” que, por se integrar numa rede de
franchising, conseguia praticar preços muito competitivos; ficando o negócio de
Alberto em dificuldades. Suponha agora que a Padaria Portuguesa celebrou um
contrato com Cristiano nos termos do qual Cristiano forneceria cereais à Padaria
e se vinculava a comprar bolos e pão da Padaria Portuguesa, que iria revender
ao público na sua região, assumindo o compromisso de o fazer de acordo com a
política comercial da Padaria Portuguesa e sujeito ao controlo desta.

a) Cristiano é comerciante, de acordo com a TAC? E de acordo com a TJE?


Dois momentos:
• Fornecimento de cereais (Dominantemente, não, por qualquer teoria);
• Intermediação nas trocas (463º, por ambas as teorias)
A principal questão levantada por esta hipótese é a relativa à comercialidade da
atividade agrícola. Há atividades tradicionalmente não mercantis crescentemente
relevantes enquanto atividades económico-produtivas de mercado, como a atividade
agrícola (incluindo a silvicultura e a agropecuária).
Para tal, poderá ser-nos de utilidade a exegese do critério de delimitação no
§ 1º do artigo 230 do CCom: empresa mercantil é toda a organização produtiva de
mercado autónoma, capaz tipicamente de perdurar apesar da variação do respetivo

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dominus, em contraposição às atividades profissionais de exercício pessoal direto, e que
não seja acessória de outra, com a adicional exclusão, numa leitura tradicional do
preceito, das organizações produtivas agrícolas. Noutros termos, empresa comercial
é uma empresa stricto sensu, ou empresa capitalista, com exceção das empresas
agrícolas em sentido lato (incluindo a exploração florestal).
Nesta leitura tradicional, assume natural relevo o problema assinalado de saber
se uma SQ ou SA agrícola é comerciante ou não. Note-se, ainda, em face da
societarização das profissões liberais que começou nos anos 70 do século XX,
acompanhada de uma semi-empresarialização - sinal de adquirida e crescente relevância
socioeconómica sistémica, que culminou na recente Lei das sociedades profissionais e na
reformulação dos correspondentes estatutos profissionais dos ROC, dos advogados, etc.
(note-se que a advocacia se tornou em grande medida uma advocacia de empresa e que
as SROC também têm como clientes, no fundamental, organizações empresariais) -, o
mesmo problema se coloca neste campo. Noutros países, como a Alemanha e a Espanha,
tais pessoas jurídicas societárias, sendo Srl/SQ ou SA, são comerciantes, estando sujeitas
designadamente ao estatuto passivo deste. Em Portugal, não há razão para as coisas serem
diferentes ou, pelo menos, para deixar de entender as sociedades de direito mercantil com
objeto civil como equiparadas a comerciantes, para efeitos de ordenação sócio-
económica, designadamente para o efeito da aplicação do estatuto do comerciante.
Estamos, assim, em condições de responder à primeira e fundamental pergunta da
qualificação mercantil: numa interpretação atualista do CCom, à luz da Constituição
económica e das leis que a concretizam, atividade comercial é:
o Toda a atividade empresarial - ou seja, toda a atividade económica
tendente à criação de riqueza levada a cabo no quadro de uma autónoma
organização produtiva de mercado -, com exceção da atividade agrícola
(se se quiser manter a visão tradicional), e, ainda,
o Toda a restante atividade:
▪ Como tal qualificada no artigo 230 e demais legislação avulsa
(apesar de não ser exercida no quadro de uma empresa, como pode
acontecer por exemplo com um pequeno agente - art. 230.3º), ou
▪ Correspondente à prática de atos de comércio objetivos (ainda que
não empresarializada - como sucede com os pequenos
comerciantes em sentido económico), tal como resulta do livro II
do CCom.

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Quanto à atividade agrícola, com alguma divergência quanto à atividade
empresarializada, ela tem-se mantido fora do direito comercial, a não ser que se exerça a
opção pela constituição de uma sociedade de direito comercial. Militam nesse sentido:
• Tradição histórica;
• Características da produção ligada à terra (riscos climatéricos e
fitopatológicos – 230º nº1, não risco de capital);
• Características do mercado de produtos agrícolas;
• Imperativos constitucionais - A própria CRP reconhece a especificidade do
setor (arts. 93ss), porventura justificativo, como as profissões liberais
reguladas, de um ramo especial do direito - o direito agrário - no campo do
direito civil.
Pedro Pais de Vasconcelos é particularmente crítico quanto a esta visão de “não
comercialidade a priori”, defendendo que só deve ser conservada a qualificação civil
quanto não existir qualquer tipo de empresa comercial, mormente quando só se dediquem
ao cultivo da terra e/ou colheita de frutos.

Enveredando pelo solução, então, quanto a Cristiano…

1º - Caracterizar, com traços distintivos, as duas teorias para qualificação, se a pergunta


não nos direcionar, no enunciado, para uma delas:
• Teoria dos atos de comércio (TAC) – um determinado ato é ato de comércio,
aplicando-se o regime mercantil, quando se acharem especialmente regulados no
Código (2º 1ª parte + norma especial, como o artigo 463º, quanto à compra para
revenda); Estas normas somente qualificam como comerciais os atos, já a
comercialidade enquanto estatuto dos sujeitos remete-se para o 13º. Atende-se, no
essencial, ao elemento operativo (primeiros atos comerciais objetivamente
caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira compra para revenda),
não ao elemento organizativo.
• Teoria jurídica da empresa (TJE) – Esta teoria diz-nos que a norma do 230º é que
é a norma fundamental quanto à qualificação comercial dos atos, ao passo que a
norma do artigo 2º nº1 é uma norma residual, somente quanto aos atos de
comércio ocasionais (230º + 2º nº1); O artigo 230º alarga o âmbito dos atos
objetivos – não são só os clássicos atos de intermediação nas trocas, mas todos os

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atos elencados no 230º a todas as atividades preparatórias da empresa (core). O
230º opera duas qualificações: estabelece os atos como comerciais e classifica os
sujeitos como comerciantes (Olavo Cunha), mas complementado pelo artigo 13º.
Esta posição antecipa a qualificação, atendendo ao elemento organizativo em
detrimento do elemento operativo (primeiros atos jurídicos tendo em vista o ato
comercial objetivamente caracterizador da atividade futura da empresa, como a
contratação de trabalhadores).

o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA


PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)
▪ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes
(menoridade, inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas
para exercer o comércio por si, por um EIRL ou por representante
(13º nº1); E profissionalidade, mediante a qualificação dos atos de
comércio que ele pratica (se qualfiicarmos estes atos como
comerciais – 463º - compra de sistemas de vigilância para revenda
com instalação, ou sendo uma comissão, por ele estar em
representação duma grande empresa, alegadamente);
▪ As Sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e
SE;
▪ Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
▪ Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
▪ As Cooperativas (230º);
▪ As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as
EPE;
▪ As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
7º - Partimos agora para a análise da questão sob o prisma da Teoria Jurídica da
Empresa (TJE).
9º - Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão
normativa do artigo 230º CCom (relembramos que para TJE o artigo 230º é a norma
qualificadora primária, operando o artigo 2º nº1 residualmente, somente quanto a atos de
comércio ocasionais) – “Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou coletivas,

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que se propuserem: (…) ”. Esta posição antecipa a qualificação, atendendo ao elemento
organizativo em detrimento do elemento operativo.
• Se se confirmar a qualificação por esta norma, respondemos desde logo à
SEGUNDA QUESTÃO, uma vez que, segundo Olavo Cunha, o artigo 230º
qualifica tanto o ato como comercial como o sujeito que o pratica como
comerciante. Neste caso, o Professor Coutinho de Abreu entende que há um
princípio básico de que todos os contratos de prestação de serviços são
comerciaism, nos termos do 230º nº2. E´possível, mesmo por analogia! Mas isso
depende da qualificação de C como comerciante, um prestador de serviços (dentro
de uma organização), coisa que não sabemos. Se não for, não há qualificação pelo
230º, e não poderá ser objetivamente comercial. Neste caso operaria o 230º nº2.
• Se não se confirmar…

• Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA


PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)
o As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade,
inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas para exercer o
comércio por si, por um EIRL ou por representante (13º nº1);
o As sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e SE;
o Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
o Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
o As Cooperativas (230º);
o As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;
o As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
12º - No final, deveremos, para cada teoria, aferir se estamos perante um ato objetivo puro
ou misto (unilateral ou bilateral), consoante seja comercial para uma ou ambas as partes
(art. 99º).

Solução: Consoante a teoria que perfilemos:


• TAC – Cristiano será comerciante nos termos do artigo 13º nº1 ou nº2, consoante
a posição que tomemos acerca da comercialidade da atividade agrária.

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• TJE – Cristiano será comerciante nos termos do 230º nº2, em linha com o disposto
no artigo 13º, independentemente da posição que tomemos consoante à
comercialidade da atividade, ainda qur tudo implique um juízo casuístico.

b) E Alberto?
Enveredando pelo solução, então, quanto a Alberto…

1º - Caracterizar, com traços distintivos, as duas teorias para qualificação, se a pergunta


não nos direcionar, no enunciado, para uma delas:
• Teoria dos atos de comércio (TAC) – um determinado ato é ato de comércio,
aplicando-se o regime mercantil, quando se acharem especialmente regulados no
Código (2º 1ª parte + norma especial, como o artigo 463º, quanto à compra para
revenda); Estas normas somente qualificam como comerciais os atos, já a
comercialidade enquanto estatuto dos sujeitos remete-se para o 13º. Atende-se, no
essencial, ao elemento operativo (primeiros atos comerciais objetivamente
caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira compra para revenda),
não ao elemento organizativo.
• Teoria jurídica da empresa (TJE) – Esta teoria diz-nos que a norma do 230º é que
é a norma fundamental quanto à qualificação comercial dos atos, ao passo que a
norma do artigo 2º nº1 é uma norma residual, somente quanto aos atos de
comércio ocasionais (230º + 2º nº1); O artigo 230º alarga o âmbito dos atos
objetivos – não são só os clássicos atos de intermediação nas trocas, mas todos os
atos elencados no 230º a todas as atividades preparatórias da empresa (core). O
230º opera duas qualificações: estabelece os atos como comerciais e classifica os
sujeitos como comerciantes (Olavo Cunha), mas complementado pelo artigo 13º.
Esta posição antecipa a qualificação, atendendo ao elemento organizativo em
detrimento do elemento operativo (primeiros atos jurídicos tendo em vista o ato
comercial objetivamente caracterizador da atividade futura da empresa, como a
contratação de trabalhadores).

o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA


PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)

16
▪ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes
(menoridade, inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas
para exercer o comércio por si, por um EIRL ou por representante
(13º nº1); E profissionalidade, mediante a qualificação dos atos de
comércio que ele pratica (se qualfiicarmos estes atos como
comerciais – 463º - compra de sistemas de vigilância para revenda
com instalação, ou sendo uma comissão, por ele estar em
representação duma grande empresa, alegadamente);
▪ As Sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e
SE;
▪ Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
▪ Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
▪ As Cooperativas (230º);
▪ As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as
EPE;
▪ As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
7º - Partimos agora para a análise da questão sob o prisma da Teoria Jurídica da
Empresa (TJE).
9º - Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão
normativa do artigo 230º CCom (relembramos que para TJE o artigo 230º é a norma
qualificadora primária, operando o artigo 2º nº1 residualmente, somente quanto a atos de
comércio ocasionais) – “Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou coletivas,
que se propuserem: (…) ”. Esta posição antecipa a qualificação, atendendo ao elemento
organizativo em detrimento do elemento operativo.
• Se se confirmar a qualificação por esta norma, respondemos desde logo à
SEGUNDA QUESTÃO, uma vez que, segundo Olavo Cunha, o artigo 230º
qualifica tanto o ato como comercial como o sujeito que o pratica como
comerciante. Neste caso, o Professor Coutinho de Abreu entende que há um
princípio básico de que todos os contratos de prestação de serviços são
comerciaism, nos termos do 230º nº2. E´possível, mesmo por analogia! Mas isso
depende da qualificação de C como comerciante, um prestador de serviços (dentro
de uma organização), coisa que não sabemos. Se não for, não há qualificação pelo
230º, e não poderá ser objetivamente comercial.

17
• Se não se confirmar…

• Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA


PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)
o As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade,
inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas para exercer o
comércio por si, por um EIRL ou por representante (13º nº1);
o As sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e SE;
o Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
o Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
o As Cooperativas (230º);
o As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;
o As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
12º - No final, deveremos, para cada teoria, aferir se estamos perante um ato objetivo puro
ou misto (unilateral ou bilateral), consoante seja comercial para uma ou ambas as partes
(art. 99º).

Solução: Consoante a teoria que perfilemos:


• TAC –Alberto será comerciante nos termos do artigo 13º nº2
• TJE – Alberto será comerciante nos termos do 230º nº1 e nº2, em linha com o
disposto no artigo 13º, independentemente da posição que tomemos consoante à
comercialidade da atividade, ainda qur tudo implique um juízo casuístico.

3. António é proprietário de um táxi e exerce a atividade de taxista, juntamente com


um filho.
3.1 Os contratos que celebra com os clientes são comerciais? Justifique.
TAC – 2º 1ºP 366º e ss.;
TJE – 230º nº7 (2x qualificação) – extensível ao transporte aéreo.
Deveríamos debater a questão da pequena empresa/pequenos comercaintes.

18
• Pequenos comerciantes - o sistema objetivista do CCom, tal como está concebido,
deixa subsistir nas margens do sistema produtivo os chamados «pequenos
comerciantes», intermediários entre a oferta e a procura de bens, que desenvolvem a
sua atividade em pequena escala e sem níveis assinaláveis de organização, de crédito
(em geral, as compras e vendas são a contado), de investimento de capital e
correspondente risco: como é o caso dos vendedores de rua, ambulantes ou em
mercados municipais, sem «estabelecimento» próprio. Estão mais próximos do
«trabalho autónomo» do que de um verdadeiro exercício profissional de uma atividade
mercantil, mormente da atividade empresarial relevante para a instituição de um
sistema económico funcionante, promotor do desenvolvimento económico e social.
Quer dizer, o facto de exercerem a atividade de intermediação nas trocas não justifica
serem tratados como verdadeiros comerciantes ou «comerciantes plenos»,
designadamente, ficarem sujeitos ao estatuto jurídico passivo do comerciante. O
direito civil trata satisfatoriamente este tipo de situações.

3.2 A resposta seria diferente se ele tivesse uma frota de táxis?


Neste segundo caso:
a) Suponha que António comprou os livros (escrituração mercantil) necessários
à exploração do seu negócio. Comprou também dois táxis e contratou um
financiamento bancário para financiar essa aquisição.
Esses actos são comerciais? Justifique.
IMPORTA DISTINGUIR SEMPRE SE É 13º Nº1 (2 requisitos) e 13º Nº2 (automático
pós-registo).
Problema dos livros mercantis – debate sobre as questões de escrituração.
• Compra dos livros mercantis (31º e 368º CCom):
o Segundo a TAC (MODERNA):
▪ Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-
se-á na previsão normativa da 1ª parte do artigo 2º nº1 CCom –
“todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste
Código”? Entende a doutrina, como o Professor Coutinho de
Abreu e o Professor Evaristo Mendes, que isto engloba:
• As correspondentes a atos de comércio «regulados»
diretamente no CCom; - NÃO

19
• As previstas no artigo 230º; - NÃO
• As correspondentes a atos de comércio regulados por
normas avulsas, quer se trate de normas que revogaram
títulos do Código, quer se trate de legislação comercial
extravagante (por autoqualificação ou por interpretação); -
NÃO
• As que correspondam a um pensamento analógico (legis –
10º/2 CC - ou iuris – 10º/3) CC, a partir de um critério geral
de qualifcação mercantil – NA TEORIA DOS ATOS DE
COMÉRCIO CLÁSSICA NÃO HÁ ANALOGIA – NÃO

• Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão


normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações
dos comerciantes (via 13º, segundo a TAC), que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar (ou das suas
circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar três questões…
o Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva
positiva)
o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva)
▪ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes
(menoridade, inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas
para exercer o comércio por si, por um EIRL ou por representante
(13º nº1); E profissionalidade, mediante a qualificação dos atos de
comércio que ele pratica.
▪ As Sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA
e SE;
• Sabemos que o 13º nº2 qualifica como comerciais as sociedades comerciais. Mas
o que deveremos designar, para este efeito, como sociedade comercial? E
estaremos perante uma classe aberta ou fechada? Não é qualquer sociedade que
poderá receber tal qualificação, sendo apenas as correspondentes a determinados
modelos organizativos:
o SNC – Sociedades em Nome Coletivo;
o SCS – Sociedades em Comandita Simples;
o SQ/SuQ – Sociedades por Quotas e Sociedades unipessoais por quotas;

20
o SA – Sociedades Anónimas;
o SCA – Sociedades em Comandita por Ações;
o SE – Societas Europaea.
• (Cont.) e que se constituam, segundo um destes tipos, de um modo formal e
público, observando o processo constitutivo previsto no CSC e no CRCom (e
eventuais leis setoriais, incluindo o RSPE), que faz delas um sujeito de direito
pleno ou com plena capacidade jurídica (pessoa jurídica/pessoa coletiva). Esta
categoria deve ser, contudo, interpretada como uma classe aberta. Por isso, há
outras sociedades suscetíveis de - mediante o exercício profissional do comércio
- se tornarem comerciantes. Uma sociedade com objeto mercantil que não esteja
regular e definitivamente constituída como pessoa jurídica segundo o CSC pode,
ainda assim, ser qualificada como comerciante, enquanto:
o Sociedade mercantil em formação (se for ativada nesta condição), pelo 13º
nº2;
o Sociedade preliminar ativada, pelo 13º nº2;
o Sociedade irregular, pelo 13º nº1.
• (Cont.) Uma sociedade de direito mercantil em formação e uma sociedade
preliminar ativadas, bem como uma sociedade irregular (por definição também
uma sociedade ativada), são sujeitos de direito e têm capacidade jurídica bastante
para poderem, através do exercício de uma atividade mercantil (se for esse o seu
objeto), adquirir a qualidade de comerciantes; É no entanto duvidoso que possam
prevalecer-se da qualidade de comerciantes. – PODERÁ SER UMA DESTAS
OU UMA SC SIMPLES – 366º nº1 – presunção – 36º e ss. CSC e 31º CCom.

o Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)


NÃO É O CASO.
o (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação
como subjetivamente comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por
essa via.
• Segundo a TAC o ato poderá ser subjetivamente comercial por força do 13º nº1
(enquanto comerciante singular ou sociedade irregular) ou nº2 (enquanto
sociedade comercial, sociedade comercial preliminar ativada ou mercantil em
formação ativada).

21
Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TJE? (PRIMEIRA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA)
9º - Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão
normativa do artigo 230º CCom (relembramos que para TJE o artigo 230º é a norma
qualificadora primária, operando o artigo 2º nº1 residualmente, somente quanto a atos de
comércio ocasionais) – “Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou coletivas,
que se propuserem: (…) ”. Esta posição antecipa a qualificação, atendendo ao elemento
organizativo em detrimento do elemento operativo.
• Se se confirmar a qualificação por esta norma, respondemos desde logo à
SEGUNDA QUESTÃO, uma vez que, segundo Olavo Cunha, o artigo 230º
qualifica tanto o ato como comercial como o sujeito que o pratica como
comerciante. Neste caso, o Professor Coutinho de Abreu entende que há um
princípio básico de que todos os contratos de prestação de serviços são comerciais,
nos termos do 230º nº2. E´possível, mesmo por analogia! Mas isso depende da
qualificação de C como comerciante, um prestador de serviços (dentro de uma
organização), coisa que não sabemos. Se não for, não há qualificação pelo 230º,
e não poderá ser objetivamente comercial. – SIM, É UM ATO
OBJETIVAMENTE COMERCIAL NOS TERMOS DO ARTIGO 230º, 7º
PARÁGRAFO, AINDA QUE SOMENTE SE “PROPONHA A”
TRANSPORTAR REGULARMENTE (…).
• Se não se confirmar…

10º - Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão


normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações dos
comerciantes (via 13º), que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do
próprio ato não resultar (ou das suas circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar
três questões…
• Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva positiva)
• Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)
o As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade,
inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas para exercer o
comércio por si, por um EIRL ou por representante (13º nº1);

22
o As sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e SE;
o Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
o Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
o As Cooperativas (230º);
o As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;
o As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
• Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)
o Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
o Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos (dependentes de
uma relação pessoal: por ex., convenções antenupciais e obrigação de
alimentos);
o As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
o Os negócios mortis causa (discutível).
Em suma…
TAC - Não é objetivamente comercial. É subjetivamente comercial nos termos do
13º nº1 ou nº2, enquanto sociedade comercial constituída, irregular, preliminar
ativada ou mercantil em formação ativada.
TJE - É subjetivamente comercial, nos termos do 230º §7 (e objetivamente, se
entendermos como atos preparatórios – elemento organizativo, fora do core).

Do outro lado, também era ato e sujeito comercial quem vende os livros.

• Empréstimo/Mútuo/Financiamento
TAC – É um ato objetivamente comercial, nos termos do artigo 2º nº1 e 394º
(requisitos, ok), referir 396º
TJE – É um ato objetivamente comercial nos termos do 230º e do 394º e
subjetivamente comercial, nos termos do 230º §7 (elemento organizativo)
Do outro lado também era comercial (banco)

• Compra dos dois táxis


TAC – É um ato objetivamente comercial nos termos do artigo 2º nº1 e do 463º §1.
TJE – É um ato objetivamente comercial nos termos do 230º §7 (elemento
organizativo).

23
b) Suponha que António, num local distante do seu negócio e sem referir que
era empresário, celebrou um contrato de arrendamento de um andar, por um
mês, durante o período normal de férias.
Este acto é comercial? Justifique.
o Segundo a TAC (MODERNA):
▪ Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-
se-á na previsão normativa da 1ª parte do artigo 2º nº1 CCom –
“todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste
Código”? Entende a doutrina, como o Professor Coutinho de
Abreu e o Professor Evaristo Mendes, que isto engloba:
• As correspondentes a atos de comércio «regulados»
diretamente no CCom; - NÃO
• As previstas no artigo 230º; - NÃO
• As correspondentes a atos de comércio regulados por
normas avulsas, quer se trate de normas que revogaram
títulos do Código, quer se trate de legislação comercial
extravagante (por autoqualificação ou por interpretação); -
NÃO – 1108º CC NÃO QUALIFICA, POIS O
ARRENDAMENTO NÃO É COMERCIAL
• As que correspondam a um pensamento analógico (legis –
10º/2 CC - ou iuris – 10º/3) CC, a partir de um critério geral
de qualifcação mercantil – NA TEORIA DOS ATOS DE
COMÉRCIO CLÁSSICA NÃO HÁ ANALOGIA – NÃO

• Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão


normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações
dos comerciantes (via 13º, segundo a TAC), que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar (ou das suas
circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar três questões…
o Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva
positiva)

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o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)
▪ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes
(menoridade, inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas
para exercer o comércio por si, por um EIRL ou por representante
(13º nº1); E profissionalidade, mediante a qualificação dos atos de
comércio que ele pratica (se qualfiicarmos estes atos como
comerciais – 463º - compra de sistemas de vigilância para revenda
com instalação, ou sendo uma comissão, por ele estar em
representação duma grande empresa, alegadamente);
▪ As Sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e
SE;
▪ Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
▪ Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
▪ As Cooperativas (230º);
▪ As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as
EPE;
▪ As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
o Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)
▪ Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
▪ Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos
(dependentes de uma relação pessoal: por ex., convenções
antenupciais e obrigação de alimentos);
▪ As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
▪ Os negócios mortis causa (discutível).
• O artigo 2º, 2ª parte abrangerá apenas certos negócios ou obrigações
respeitantes ao exercício do seu comércio, ou também os respeitantes à sua
vida ou atividade civil? Para resolver tais situações temos a parte final do artigo:
estando em causa negócios ou obrigações que não sejam civis por natureza (isto
é, que sejam comercializáveis), considera-se que os mesmos respeitam ao
comércio do comerciante, salvo se dos seus termos ou circunstâncias resultar que
eles lhe são estranhos, respeitam à sua esfera particular. Apesar do teor literal do

25
preceito, sugerindo de algum modo que a parte final é para os atos de comércio
acessórios (subjetivamente), não há razão para semelhante restrição. Por exemplo,
relativamente a um comerciante de automóveis, devem ter igual tratamento um
negócio de aquisição de um automóvel ou um contrato de mútuo. Concretizando,
suponha-se que o comerciante singular A explora um stand de automóveis, novos
e usados. Certa vez, comprou a um particular um automóvel usado destinado a
uma coleção privada, que também possuía, assinando o contrato com o seu nome
pessoal abreviado, que também era a sua firma. Sendo ele comerciante, não
resultando dos termos do negócio e das demais circunstâncias se ele atuou como
comerciante ou como particular, considera-se que ele atuou na qualidade de
comerciante e que o contrato respeita ao seu comércio. O que o torna um ato de
comércio misto.

PELA TJE TAMBÉM NÃO HAVERIA RESPOSTA (230º + NORMA ESPECIAL)

Artigo 2º 2ª parte, atos de natureza exclusivamente civil e circunstâncias do negócio


– NÃO É ATO COMERCIAL OBJ. OU SUBJETIVO. CIRCUNSTÂNCIA
REVELAM QUE NÃO É OU, ALIÁS, NÃO REVELAM QUE É (2º nº2, in fine
oculto, descoberto pela interpretação) – nenhuma teoria permite a qualificação.

c) Suponha agora que António, sem aludir à qualidade de comerciante mas


perante quem sabia que ele era comerciante, encomendou pelo telefone um
computador.
O acto é comercial? Justifique.
o Segundo a TAC (MODERNA):
▪ Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-
se-á na previsão normativa da 1ª parte do artigo 2º nº1 CCom –
“todos aqueles que se acharem especialmente regulados neste
Código”? Entende a doutrina, como o Professor Coutinho de
Abreu e o Professor Evaristo Mendes, que isto engloba:
• As correspondentes a atos de comércio «regulados»
diretamente no CCom; - NÃO
• As previstas no artigo 230º; - NÃO

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• As correspondentes a atos de comércio regulados por
normas avulsas, quer se trate de normas que revogaram
títulos do Código, quer se trate de legislação comercial
extravagante (por autoqualificação ou por interpretação); -
NÃO
• As que correspondam a um pensamento analógico (legis –
10º/2 CC - ou iuris – 10º/3) CC, a partir de um critério geral
de qualifcação mercantil – NA TEORIA DOS ATOS DE
COMÉRCIO CLÁSSICA NÃO HÁ ANALOGIA – NÃO

• Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão


normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações
dos comerciantes (via 13º, segundo a TAC), que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar (ou das suas
circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar três questões…
o Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva
positiva)
o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva)
▪ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes
(menoridade, inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas
para exercer o comércio por si, por um EIRL ou por representante
(13º nº1); E profissionalidade, mediante a qualificação dos atos de
comércio que ele pratica (se qualfiicarmos estes atos como
comerciais – 463º - compra de sistemas de vigilância para revenda
com instalação, ou sendo uma comissão, por ele estar em
representação duma grande empresa, alegadamente);
▪ As Sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA
e SE;
• Sociedade preliminar
• Sociedade em formação ativada
• Sociedade irregular (13º nº1…)
▪ Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
▪ Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
▪ As Cooperativas (230º);

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▪ As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as
EPE;
▪ As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
o Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)
▪ Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
▪ Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos
(dependentes de uma relação pessoal: por ex., convenções
antenupciais e obrigação de alimentos);
▪ As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
▪ Os negócios mortis causa (discutível).
• O artigo 2º, 2ª parte abrangerá apenas certos negócios ou obrigações
respeitantes ao exercício do seu comércio, ou também os respeitantes à sua
vida ou atividade civil? Para resolver tais situações temos a parte final do artigo:
estando em causa negócios ou obrigações que não sejam civis por natureza (isto
é, que sejam comercializáveis), considera-se que os mesmos respeitam ao
comércio do comerciante, salvo se dos seus termos ou circunstâncias resultar que
eles lhe são estranhos, respeitam à sua esfera particular. Apesar do teor literal do
preceito, sugerindo de algum modo que a parte final é para os atos de comércio
acessórios (subjetivamente), não há razão para semelhante restrição. Por exemplo,
relativamente a um comerciante de automóveis, devem ter igual tratamento um
negócio de aquisição de um automóvel ou um contrato de mútuo. Concretizando,
suponha-se que o comerciante singular A explora um stand de automóveis, novos
e usados. Certa vez, comprou a um particular um automóvel usado destinado a
uma coleção privada, que também possuía, assinando o contrato com o seu nome
pessoal abreviado, que também era a sua firma. Sendo ele comerciante, não
resultando dos termos do negócio e das demais circunstâncias se ele atuou como
comerciante ou como particular, considera-se que ele atuou na qualidade de
comerciante e que o contrato respeita ao seu comércio. O que o torna um ato de
comércio misto.

TAC – É um ato subjetivamente comercial nos termos do artigo 2º 2ª parte e do 13º


nº1 ou nº2 (CIRCUNSTÂNCIAS NÃO INDICAM O CONTRÁRIO – presunção
jure et de jure).

28
TJE – É um ato objetivamente comercial nos termos do 230º §7 (elemento
organizativo – para quem o entenda), mas sempre, subjetivamente, sempre.
Ele não esclarece se é ou não pessoal, isso poderia acionar as exceções do 2º nº2.
464º poderia desqualificar se ele referisse.

ABRIR SEMPRE HIPÓTESES QUANDO REQUISITOS FIQUEM


EM ABERTO.

4. António, comerciante de eletrodomésticos, comprou cinco torradeiras e uma


carrinha de transporte de mercadorias.
a) Os negócios celebrados por António são comerciais?
• Cinco torradeiras…
o Segundo a TAC – 2º nº1 + 463º - SIM
o Segundo a TJE – 230º + 463º - SIM
• Carrinha de transporte de mercadorias…
o Segundo a TAC – 2º nº2 + 13º (salvo exceções de cada um, mas não parece
haver circunstâncias que relevem) ( contrato de transporte nos termos do
366º?)
o Segundo a TJE – 230º (elemento organizativo) ou 230º + 10º nº3 CC
(prestador de serviço de entregas ao domicílio, por exemplo) – subjetivo.
Hipótese assume que A é comerciante.
Hipótese deixa em aberto exceções do 2º nº2, logo temos de as considerar.

b) Suponha que Bernardo, cliente da loja de António (Comerciante?), comprou


uma torradeira para a sua casa nova. O acto praticado por Bernardo é
comercial? Justifique.

Nada qualifica – mais, 464º nº1 desqualifica. É um negócio civil.


Se fosse comerciante, teria sido acionada a cláusula do 2º nº2 – para uso pessoal.

29
5. Carlos, comerciante de artigos desportivos, comprou 100 camisolas do Benfica,
50 porta-chaves do Sporting, tendo ainda encomendado ao mesmo fornecedor 1000
patins em linha com o símbolo do Futebol Clube do Porto.
a) Os negócios celebrados por Carlos são comerciais?
Nota: “Encomenda” – já comprou? Não comprou? Mandou fazer? Indiferente! A compra
e venda de bens móveis é um NJ consensual quanto à sua constituição.
Todos os artigos seguem o mesmo regime:
• Relativamente a Carlos…
o Segundo a TAC – 2º nº1 + 463º - SIM
o Segundo a TJE – 230º + 463º - SIM
• Relativamente ao fornecedor…
o Segundo a TAC – 2º nº1 + 230º nº1 e nº2 - SIM
o Segundo a TJE – 230º nº1 e nº2 - SIM
b) Suponha que Fernando comprou a Carlos duas camisolas, dois porta chaves
e dois patins em linha para os seus filhos, devendo o preço dos mesmos ser
pago daqui a dois dias. As compras realizadas por Fernando são
comerciais?
Nota: NJ consensual - Pagamento do preço não é requisito de perfeição do NJ, mas sim
um efeito.
• Relativamente a Carlos…
o Segundo a TAC – 2º nº1 + 463º - SIM
o Segundo a TJE – 230º + 463º - SIM
• Relativamente a Fernando…
o Segundo a TAC –NÃO – norma desqualififcadora – 464º nº1
o Segundo a TJE – NÃO – norma desqualificadora – 464º nº1
▪ Temos informação que Fernando seja comerciante? 2º nº2?

c) Se o preço não for pago na data devida qual o valor dos juros?
102º Ccom – Juros de mora.
No que respeita ao regime mercantil geral das obrigações comerciais, realçam-se três
aspetos, a que já se aludiu na exposição precedente:
• Solidariedade passiva;

30
• Juros moratórios;
• Garantia patrimonial do crédito quando o devedor seja um comerciante casado
com comunhão de bens.
Em todos os casos, estamos perante afloramentos do princípio de tutela do credor e,
portanto, do crédito. Por partes:
• Juros de mora (102º CCom) – na falta de estipulação contratual, temos várias
taxas legais supletivas potencialmente aplicáveis: taxa de juro civil geral e taxas
majoradas de 6% no caso das dívidas cambiárias e de valor variável para dívidas
relacionadas com a atividade produtiva. Dispõe-se, designadamente, nos §§ 3 e 4
do CCom: § 3.º «Os juros moratórios legais e os estabelecidos sem determinação
de taxa ou quantitativo, relativamente aos créditos de que sejam titulares empresas
comerciais, singulares ou coletivas, são os fixados em portaria conjunta dos
Ministros das Finanças e da Justiça. § 4.º A taxa de juro referida no parágrafo
anterior não poderá ser inferior ao valor da taxa de juro aplicada pelo Banco
Central Europeu (…). Da aplicação deste regime resulta uma taxa de juros
moratórios superior à taxa legal supletiva dos juros civis. Segundo o teor do
preceito, se o titular do crédito for um empresário mercantil (ou titular de empresa
mercantil), aplica-se esta taxa agravada de juros comerciais. No § 5.º, por sua vez,
estabelece-se: «No caso de transações comerciais sujeitas ao Decreto-Lei n.º
62/2013, de 10 de maio, a taxa de juro referida no parágrafo terceiro não poderá
ser inferior ao valor da taxa de juro aplicada pelo Banco Central Europeu à sua
mais recente operação principal de refinanciamento efetuada antes do 1.º dia de
janeiro ou julho, consoante se esteja, respetivamente, no 1.º ou no 2.º semestre do
ano civil, acrescida de oito pontos percentuais. A distinção dos campos de
aplicação tem interesse porque a taxa do § 5 é ligeiramente superior à dos §§ 3 e
4. Quer dizer: este § 5 (como o DL), por um lado, não se aplica apenas a dívidas
comerciais em sentido jurídico (tem um campo de aplicação mais vasto); por
outro lado, existem créditos de que são titulares empresários mercantis

relacionados com o seu comércio (créditos comerciais, ainda que


correspondentes a atos de comércio mistos, comerciais apenas por
parte do credor) que se compreendem nos §§ 3 e 4. Constam deste
último caso, designadamente:

31
o i) Dívidas dos consumidores (se estes §§ forem de interpretar
no sentido de as abranger);
o ii) Créditos bancários (decorrentes de mútuos, aberturas de crédito,
descontos, etc.);
o iii) Dívidas cambiárias. Quanto a estas últimas, pode suscitar-se, no
entanto, o problema de saber se não será de aplicar o § 5 quando o devedor
seja um profissional e subjacente esteja uma «transação comercial» no
sentido do DL.

• (Cont.) Ou seja, à generalidade das dívidas comerciais em


sentido jurídico cujo credor seja um empresário
mercantil aplica-se uma taxa de juros de mora mercantis
de primeiro nível (§§ 3 e 4) e às que provenham da venda de bens ou
prestação de serviços aplica-se uma taxa mais agravada (§ 5), taxa esta de que
também beneficiam não comerciantes.

1ª passo – ato misto 99º.


2º passo – 102º - será convencional? Não, será legal? Não. Será “de direito vencer-
se”? CC diz que são juros de mora – 806º. Ver todos os requisitos do 102º.
3º passo – qual a taxa de juros pela compra civil?
Solução: o valor dos juros será o que resulta da aplicação do 102º §3 e 4. Nunca
poderia ser aplicado o 3§ e 5§, pois o Decreto-Lei 62/2013 exclui-o do âmbito de
aplicação no 2º nº1 al. a).
Segundo o Professor Evaristo Mendes e da Professora Fátima Gomes, sendo um ato
misto, é enquadrável no 3 e 4 – Ana Costa Afonso rejeita ente entendimento. Engracia
Antunes coloca dúvidas.

STJ – 04/06/2013
AC. Rel. Coimbra 19/10/2010

32
6. António, empresário mercantil, e Carlos, agricultor, compraram a um particular
(Bernardo) uma carrinha por 50 000 euros. Duarte ficou fiador de António. Se nada
for pago, quanto pode Bernardo exigir de cada um?

No que respeita ao regime mercantil geral das obrigações comerciais, realçam-se


três aspetos, a que já se aludiu na exposição precedente: a solidariedade passiva, os juros
moratórios e a garantia patrimonial do crédito quando o devedor seja um comerciante
casado com comunhão de bens. Em todos os casos, estamos perante afloramentos do
princípio de tutela do credor e, portanto, do crédito. Por partes:
• Solidariedade passiva das obrigações (100º CCom) – O artigo 513º do CC, por
sua vez, determina: «A solidariedade de devedores ou credores só existe quando
resulte da lei ou da vontade das partes»; o que significa que a regra geral das
obrigações contratuais civis é a da conjunção. No Direito Comercial, observamos
um regime especial. Nas obrigações comerciais os co-obrigados são solidários,
salva estipulação em contrário. Esta disposição não é extensiva aos não
comerciantes quanto aos contratos que, em relação a estes, não constituírem
atos comerciais. Logo, temos duas regras: uma civil - segundo a qual os
coobrigados respondem conjuntamente -, e uma mercantil: os co-obrigados
mercantis respondem solidariamente, ou seja, cada um responde perante o credor
pela totalidade da dívida. Mas, como decorre do preceito, a regra da solidariedade
comporta exceções: só se aplica a não comerciante se a obrigação emergir de
contrato comercial em relação a ele. O que representa, simultaneamente, uma
limitação à regra do artigo 99º, segundo a qual aos atos de comércio mistos se
aplica o regime mercantil, compreendendo-se na ressalva aí contemplada.
Estamos perante uma regra da solidariedade que só é aplicável àquele ou àqueles
por cujo respeito o ato é mercantil (2 hipóteses - comerciantes enquanto tais e não
comerciantes que sejam partes em atos de comércio objetivos, comerciais quanto
a eles). Releva, aqui, uma consequência deste postulado:
o Na mesma linha de reforço do crédito e facilitação da cobrança de dívidas,
a obrigação do fiador de obrigação mercantil também é solidária, no
sentido de que este responde em primeira linha perante o credor como se
fosse um coobrigado solidário (101º). Afasta-se, assim, o benefício da
excussão prévia do património do devedor principal, constante do artigo

33
638º CC (solidariedade está em contraposição a subsidiariedade, não a
conjunção). Há que entenda que a explicação da regra também se pode ver
no artigo 627º nº2 CC (acessoriedade da fiança em relação à dívida
afiançada): se a dívida principal é mercantil, aplica-se a regra mercantil da
solidariedade das obrigações comerciais; e o regime da fiança, como
negócio acessório, segue o principal.

Assumindo que António é comerciante…


Problema do comerciante agricultor – 230º §1 e 464º §2. Não estará solidariamente
obrigado, a não ser que se constitua societariamente. Estamos perante um ato de domércio
misto (99º), o que indiciaria que, à partida, o regime da soldiariedade lhe seria extensível
– contudo, o artigo 100º consagra uma exceção a este entendimento - só se aplica a não
comerciante se a obrigação emergir de contrato comercial em relação a ele, neste caso,
Carlos, o agricultor. Não é este o caso. Logo, teremos solidariedade entre o comerciante
e o fiador, mas conjunção face ao agricultor.
Assim, Bernardo poderá exigir a totalidade da dívida de António e de Duarte, mas de
Carlos apenas a sua quota-parte na obrigação conjunta.

7. António, comerciante singular de automóveis usados, casado sob o regime da


comunhão de adquiridos com Berta, contraiu um empréstimo bancário no valor de
100 000 euros para ampliar as instalações do seu estabelecimento. Não tendo sido
pago o empréstimo, qual a garantia patrimonial do crédito do banco?
No que respeita ao regime mercantil geral das obrigações comerciais, realçam-se três aspetos, a
que já se aludiu na exposição precedente: a solidariedade passiva, os juros moratórios e a garantia
patrimonial do crédito quando o devedor seja um comerciante casado com comunhão de
bens. Em todos os casos, estamos perante afloramentos do princípio de tutela do credor e,
portanto, do crédito. Por partes:
• Garantia patrimonial do crédito quando o devedor seja um comerciante
casado num regime de comunhão de bens (15º) – A norma fundamental consta
do artigo 1691º nº1 al. d) CC, que estabelece: «São da responsabilidade de ambos
os cônjuges (...) as dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do
comércio, salvo se se provar que não foram contraídas em proveito comum do
casal ou se vigorar entre os cônjuges o regime de separação de bens». O artigo
15º do CCom, por sua vez, dispõe: «As dívidas comerciais do cônjuge

34
comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio». Por
conseguinte, tratando-se de um devedor comerciante, há uma presunção de que a
sua dívida - sendo comercial, ainda que, por hipótese, por parte do credor -
respeita ao exercício do seu comércio (artigo 15º); logo, é uma dívida
comunicável ao cônjuge, salvo prova de que não beneficia o casal [1691º nº1 al.
d) CC); com a ulterior consequência de que a sua garantia patrimonial é
constituída, em primeira linha, pelos bens comuns do casal e, subsidiariamente,
pelos bens próprios de cada cônjuge (art. 1695 nº1 CC). Decorre daqui que, para
efetivar esta garantia, basta ao credor provar dois elementos:
o Que a dívida é comercial, ainda que pelo seu lado;
o Que o devedor é comerciante e casado num regime de comunhão de bens.
• (Cont.) Em face do artigo 2º 2ª parte é duvidoso que o artigo 15º, na atual redação,
tenha utilidade. Na verdade, a norma do artigo 1691º nº1 al. d) CC fala nas
“dívidas contraídas por um cônjuge comerciante no exercício do seu comércio”,
isto é, relacionadas com ele, e, sendo ele casado num regime de comunhão de
bens, são da responsabilidade do casal (porque se presume que foram contraídas
em proveito comum). Do artigo 2º 2ª parte, por sua vez, decorre, quanto aos
comerciantes singulares: uma dívida contraída por um comerciante
considera-se relativa ao seu comércio (contraída na qualidade de
comerciante – ato subjetivo de comércio) e, portanto, comercial, salvo se das
circunstâncias resultar que ela é estranha a esse comércio (respeita à vida
civil do comerciante – caso excecional). Portanto, aplicando o artigo 2º 2ª
parte, basta ao credor provar que o devedor é comerciante e já se considera
que a dívida respeita ao exercício do seu comércio, preenchendo-se a hipótese
do artigo 1691º nº1 al. d) do CC. Só não será assim, se o devedor ou o seu
cônjuge provarem, nos termos deste artigo 2º 2ª parte, que dos termos do negócio
de que decorre a dívida ou das circunstâncias acompanhantes do mesmo resultava
serem esse negócio e a dívida estranhos ao seu comércio.

8. Antonieta, recentemente nomeada conselheira do STA e que já tomou posse, decidiu


suprir a falta dos subsídios de férias e Natal através de algum ganho que consiga obter

35
em negócio de venda de bijuteria de qualidade, pelo que encetou a procura de espaço
compatível na Av. da Liberdade em Lisboa. Para realizar o seu projecto, convidou a
filha de Bernardete, sua amiga de infância, miúda talentosa que frequenta o 10º ano do
ensino profissionalizante de artes, de seu nome Carlita. Antonieta e Carlita rapidamente
se entendem e desenvolvem o seu projecto para a A&C biju, redigindo um acordo escrito,
tendo combinado que Antonieta entrava com o investimento e Carlita com o seu talento
artístico para criar as peças e vender. Para o investimento inicial, Antonieta recorre a
um empréstimo bancário de 100.000 euros, concedido pelo Banco da Moda, SA. O
montante obtido ficou titulado por livrança em branco subscrita pela Antonieta e com o
aval da Bernardete e da Carlita. Entretanto, Antonieta e Carlita encontraram um espaço
engraçado para implementar a A&C biju, na Av. da Liberdade e que havia sido utilizado
como loja de comercialização de rebuçados, mas estava agora para “trespasse” pelos
antigos proprietários da loja. A loja integra-se num imóvel que pertence a Etelvina e
ainda tem algum equipamento móvel, embora estivesse encerrada faz já dois anos.
Iniciado o funcionamento do negócio da A&C biju, o sucesso foi de tal ordem que
Antonieta e Carlita decidiram registar a marca e encontrar parceiros disponíveis para
promover a venda dos seus produtos por novos territórios, em especial, para Angola.
Conhecida esta intenção, logo surgiu uma empresária famosa interessada no negócio.
Tendo em conta o caso acima apresentado, diga:
a) Antonieta e Carlita são comerciantes, de acordo com a TJE?
b) A&C biju é comerciante, de acordo com a TJE?

230º não qualifica atos preparatórios como comerciais. Utiliza os atos preparatórios para
qualificar quem os pratica como comerciantes.

9. Analise as várias questões suscitadas pelo Acórdão STJ de 6/07/2011 (Relator


GABRIEL CATARINO), n. convencional 450/04.3TCLRS.L1S1, disponível em
www.dgsi.pt

36
ESTABELECIMENTO COMERCIAL E EMPRESA.
TRANSMISSÃO

1
A, titular de um pequeno motel, com 8 empregados, situado em local de que C é o locador,
vendeu-o a B, com todo o activo e passivo, por 20 000 euros, apesar de a situação líquida
ser ligeiramente negativa.
C, notificado do negócio, propôs acção de despejo contra B, alegando que o negócio fora
simulado, e deduziu como pedido subsidiário a entrega do imóvel, por se considerar
titular de um direito de preferência.
Quid iuris ?

Definição de estabelecimento comercial – estaremos perante uma empresa ou EC?


Assumimos que sim, segundo os seus critérios: POC.
Estamos perante um contrato de trespasse.
O trespasse, originalmente na versão original do CC de 1966, era regulado nos artigos
1083º a 1120º do CC (1109º e 1112º e 1118º CC – arrendamento para fins não
habitacionais). Na década de 90 transitou para o RAU, em 2006 para o NRAU e hoje
surge regulado num Anexo do NRAU, dedicado à republicação de certos artigos do CC,
1112º por exemplo. A sua inserção junto do regime do arrendamento resulta de razões
históricas.
O trespasse é definido - articulando o entendimento dos Professores Coutinho de Abreu
e Francisco Barona - como um contrato de transmissão direta e definitiva da
propriedade de um estabelecimento ou empresa por negócio entre vivos.
Neste âmbito, não importa qualificar o estabelecimento como comercial ou civil, uma vez
que tanto poderá haver trespasse de estabelecimento comecial como de estabelecimento
civil (1112º nº1 a) CC).
Ainda assim, o Novo Regime Jurídico da Instalação e Funcionamento dos
Estabelecimentos Hoteleiros permitiria a qualificação da exploração do mótel como
atividade comercial para efeitos do artigo 2º 1ª parte – qualificação como ato objetivo de
comércio, quer pela TAC como pela TJE – 230º + Lei especial).

37
Esta qualificação deveria, contudo, ser devidamente equacionada, posto que a referência
a “pequeno motel” poderá indiciar que estejamos perante um pequeno comerciante, o que
faria a sua atividade económica cair na esfera civil. Critérios – Caráter do risco de capital
e contitnuação da empresa independentemente do titular. Poderá ser, ou não, mas é
indiferente.
Tratemos dos âmbitos de entrega.
O âmbito mínimo de entrega corresponde aos bens necessários ou essenciais para
identificar ou exprimir a empresa objeto do negócio na transmissão de um concreto
estabelecimento. É impossível definir em abstrato os elementos que integram este leque.
Importa proceder a uma análise casuística.
Os elementos naturais de entrega são aqueles que se transmitem ex silentio.
É possível enumerar os elementos que habitualmente compõem o âmbito natural de
entrega:
Meios empresariais do trespassante a título de propriedade:
• Logotipos e marcas
• Máquinas
• Utensílios
• Mobiliário
• Matérias-primas
• Mercadorias
• Inventos patenteados
• Modelos de utilidade
• Desenhos ou modelos
• Prédios ( a doutrina divide-se quanto à sua admissibilidade – “problema do direito
ao local” - Orlando de Carvalho nega, enquanto Coutinho de Abreu, Barbosa de
Magalhães, Ferrer Correia, Evaristo Mendes e Fátima Gomes defendem que
sempre que de um contrato de trespasse não se faça menção à transmissão do
prédio e não se conclua, por interpretação do negócio, que ele foi excluído, deve
concuir-se que a propriedade do mesmo foi (naturalmente) transmitida, pela
habitual conexão endógena entre o EC e o local) – SÓ PARA OS CASOS EM
QUE O TRESPASSANTE É O DONO DO LOCAL/EC TRESPASSADO. A
título de? Ferrer Correia propõe visões diversas, reais e obrigacionais…
o Propriedade?

38
o Usufruto?
o Arrendamento?
o Comodato?
Meios empresarias na disponibilidade do trespassante a título obrigacional:
• Contratos de trabalho (285º CT)
• Transmissão da posição de arrendatário (Coutinho de Abreu, Pereira Coelho e
Evaristo Mendes consideram que também se transmite - cessão da posição
contratual) – em prédio arrendado ou alocado dispensa-se a autorização do
senhorio - 1112º, fugindo à regra geral de onde se extrairia a necessidade de
consentimento – 424º e ss. e 1059º nº1. Basta que se comunique, fazendo uma
notificação, sujeita a prazo de 15 dias (1038º g)) – 1112º nº2 – provando que
haveria simulação, não haveria trespasse. Se não, haveria trespasse. E se não
houve notificação? Seria trespasse ineficaz por violação do 1112º nº3. Sendo
ineficaz, aplica-se o 1083º nº2 al. e) CC, existindo fundamento para resolução do
contrato de arrendamento.
• Transmissão da posição de locatário financeiro

Âmbito convencional de entrega e seus elementos, apenas trnamissíveis por meio de


estipulação:
• Firma, logotipo ou marca quando neles figure nome individual, firma ou
denominação do titular do estabelecimento
• Créditos do trespassante ligados à exploração da empresa mas cujos objetos não
sejam meios do estabelecimento não devem considerar-se, dissemos já, elementos
ou meios empresariais (577º CC)
• Posições contratuais e débitos daí resultantes (424º e ss. CC)
• Transmissão singular de dívidas (assunção de dívidas) – 595º - só com acordo
entre os trespassante e o trespassário e ratificação e declaração expressa dos
credores, ou por acordo entre o trespassário e os credores, com ou sem
consentimento do trespassante. Se faltar a ratificação, o negócio deverá ser
interpretado pro creditoris, numa co-assunção solidária de dívidas pelo
trespassante e trespassário. Há casos de exceção:
o 285º nº1 e nº2 CT – ordenados e coimas laborais
o 209º nº2 CRCSPSS – segurança social

39
o EIRL.
Quanto à simulação de trespasse para haver direito de arrendatário – 1112º nº2 a) e b) –
indícios de inexistência de trespasse, para facilitiar impugnação judicial – indícios de
pacto simulatório – não cabe aqui, pode-se justificar o preço pela dimensão da clietela e
do negócio, adotando uma noção ampla do estabelecimento (dimensão de mercado vs,
interpretação restrita – elementos corpóreos). Com um conceção restrita haverá,
facilmente, simulação.
Quanto ao direito de preferência (1091º e 1112º nº4 CC) – exige-se (416º - prazo, com
todos os elementos que aí se exigem):
• Assunção de todos os direitos e obrigações do arrendatário referentes ao EC
• Continuação da atividade empresarial com todas as qualidades do arrendatário
• No mesmo local
Poderia haver destruição do contrato de arrendamento e intentar ação de despejo.

2
Alberto, industrial de sumos e refrigerantes, casado com Berta, adquiriu em 31 de Julho
de 2008 a Carlos, agricultor e fornecedor de matérias-primas, 100 toneladas de frutas
para a produção de sumos naturais, pelo preço de € 50.000,00, que o adquirente ficou
de pagar em cinco prestações iguais.
Para garantia do pagamento das duas últimas prestações, a vencerem-se,
respectivamente, em 31 de Dezembro de 2008 e 31 de Janeiro de 2009, Alberto aceita
uma letra sacada por Carlos a favor de uma sociedade de rações credora de Carlos, a
“Douro Valor – Rações, SA”, e saca um cheque em branco, que deverá ser preenchido
com a data de 5 de Fevereiro de 2009, se a última quantia não fosse pontualmente paga,
em 31 de Janeiro de 2009.
Entretanto, e para distribuição dos seus sumos, Alberto celebra com Etelvino, dono de
uma pequena mercearia, situada num imóvel pertencente a Felisberta, um contrato pelo
qual Etelvino lhe cede o gozo da loja (incluindo o respectivo activo e passivo), a título
definitivo, mediante o pagamento de € 100.000,00.
a) Suponha que Felisberta pretende intentar uma acção de despejo contra Alberto,
invocando que houve uma cessão não autorizada da posição de arrendatário. Quid
Iuris?

40
Meios empresarias na disponibilidade do trespassante a título obrigacional:
• Contratos de trabalho (285º CT)
• Transmissão da posição de arrendatário (Coutinho de Abreu, Pereira Coelho
e Evaristo Mendes consideram que também se transmite - cessão da posição
contratual) – em prédio arrendado ou alocado dispensa-se a autorização do
senhorio - 1112º, fugindo à regra geral de onde se extrairia a necessidade de
consentimento – 424º e ss. e 1059º nº1. Basta que se comunique, fazendo uma
notificação, sujeita a prazo de 15 dias (1038º g)) – 1112º nº2 – provando que
haveria simulação, não haveria trespasse. Se não, haveria trespasse. E se não
houve notificação? Seria trespasse ineficaz por violação do 1112º nº3. Sendo
ineficaz, aplica-se o 1083º nº2 al. e) CC, existindo fundamento para resolução
do contrato de arrendamento.
• Transmissão da posição de locatário financeiro

b) Caso Irene (terceiro) tivesse um crédito contra Etelvino (trespassante) resultante


de um fornecimento de bebidas que não foi pago, contra quem poderá Irene fazer
valer agora o seu crédito?

Âmbito convencional de entrega e seus elementos, apenas trnamissíveis por meio de


estipulação:
• Firma, logotipo ou marca quando neles figure nome individual, firma ou
denominação do titular do estabelecimento
• Créditos do trespassante ligados à exploração da empresa mas cujos objetos não
sejam meios do estabelecimento não devem considerar-se, dissemos já, elementos
ou meios empresariais (577º CC)
• Posições contratuais e débitos daí resultantes (424º e ss. CC)
• Transmissão singular de dívidas (assunção de dívidas) – 595º - só com acordo
entre os trespassante (ETELVINO) e o trespassário (ALBERTO) e
ratificação com declaração expressa dos credores (IRENE), ou por acordo
entre o trespassário e os credores (ALBERTO E IRENE), com ou sem

41
consentimento do trespassante (ETELVINO). Se faltar a ratificação
(IRENE) na primeira hipótese, o negócio deverá ser interpretado pro
creditoris, numa co-assunção solidária de dívidas pelo trespassante e
trespassário (ETELVINO E ALBERTO). Há casos de exceção:
o 285º nº1 e nº2 CT – ordenados e coimas laborais
o 209º nº2 CRCSPSS – segurança social
o EIRL.

3
A, titular de uma papelaria na cidade de Braga, relativamente conhecida mas já com
certo aspecto «fora de moda» - chamada «papelaria da arcada» -, vendeu-a a B, com
todo o activo e passivo, por 50 000 euros. No momento da venda, da contabilidade
constava um activo de 30 000 euros e um passivo de 20 000.
Passados dois meses, foi aberta pela sociedade C, a 50 metros do local, uma outra
papelaria, designada «papelaria moderna». A sociedade pertence maioritariamente a A.
Quid iuris ?

A resposta seria diferente se a segunda papelaria tivesse sido aberta pelo próprio A?
E pelo cônjuge?
E se fosse o cônjuge o sócio maioritário da sociedade?

Definição de estabelecimento comercial – segundo o Professor Francisco Barona, o EC é


o conjunto de bens (coisas ou direitos) ou serviços predispostos pelo empresário que serve
de suporte para uma atividade produtiva de mercado, englobando elementos corpóreos e
incorpóreos dentro da chamada dimensão técnico-produtiva, aliada à dimensão de
mercado. O trespasse passa a relacionar dois patrimónios, numa relação de objetividade.
Então, estaremos perante um EC?
Assumimos que sim, pois preenche a definição e os critérios de comercialidade (463º 1§
- compra para revenda – neste caso, de material de papelaria – 2º nº1 e nº2), quer pela
TAC quer pela TJE.
Não é que releve, uma vez que o trespasse tanto opera quanto a EC como a
estabelecimentos não comerciais (1112º nº1 al. a)).
Estamos perante um contrato de trespasse (oneroso e inter vivos).

42
O trespasse, originalmente na versão original do CC de 1966, era regulado nos artigos
1083º a 1120º do CC (1109º e 1112º e 1118º CC – arrendamento para fins não
habitacionais). Na década de 90 transitou para o RAU, em 2006 para o NRAU e hoje
surge regulado num Anexo do NRAU, dedicado à republicação de certos artigos do CC,
1112º por exemplo. A sua inserção junto do regime do arrendamento resulta de razões
históricas.
O trespasse é definido - articulando o entendimento dos Professores Coutinho de Abreu
e Francisco Barona - como um contrato de transmissão direta e definitiva da
propriedade de um estabelecimento ou empresa por negócio entre vivos.
O contrato de trespasse, nos termos do 1112º nº3, exige a sua redução a escrito particular,
mesmo que envolva a transmissão da propriedade do prédio, no trespasse de local próprio
(CA), ainda que a maioria da doutrina exija escritura pública ou documento particular
autenticado. Não faria sentido que para diversos elementos necessários da transmissão,
como a transmissão da firma, da marca ou do logótipo a lei exigi-se forma escrita, mas
para um contrato de maior amplitude que o abranja, tal fosse dispensado (44º nº1 e nº4
RRNPC e 31º nº5, nº6 e 304º-P nº3). O mesmo se diga para o trespasse de farmácias (18º
nº4 DL 307/2007).
Tratemos dos âmbitos de entrega.
O âmbito mínimo de entrega corresponde aos bens necessários ou essenciais para
identificar ou exprimir a empresa objeto do negócio na transmissão de um concreto
estabelecimento. Sem e entrega de todos os elementos mínimos, o que se transmite é o
conjunto de bens que integram o estabelecimento, mas não o estabelecimento em si. É
impossível definir em abstrato os elementos que integram este leque. Importa proceder a
uma análise casuística.
Teremos duas modalidades de âmbitos de entrega:
• Obrigatório/Natural (ex silentio)/Imperativo/Legal/Mínimo;
• Convencional/Máximo.
É possível enumerar os elementos que habitualmente compõem o âmbito de entrega:
Âmbito mínimo e elementos naturais de entrega, que se transmitem
necessariamente…
• Meios empresariais do trespassante a título de propriedade:

43
o Elementos relativos à propriedade industrial: Logotipos e marcas;
Inventos patenteados; Modelos de utilidade; Desenhos ou modelos (304º-
P nº3 CPI, exceto 31º nº5, em parte);
o Elemento corpóreos: Máquinas; Utensílios; Mobiliário; Matérias-primas;
Mercadorias, etc. (empresa enquanto bem jurídico complexo-unitário)
o Prédios - para os casos de trespasse de local próprio ( a doutrina divide-
se quanto à sua admissibilidade – Orlando de Carvalho nega, enquanto
Coutinho de Abreu, Barbosa de Magalhães, Ferrer Correia, Evaristo
Mendes e Fátima Gomes defendem que sempre que de um contrato de
trespasse não se faça menção à transmissão do prédio e não se conclua,
por interpretação do negócio, que ele foi excluído, deve concuir-se que a
propriedade do mesmo foi (naturalmente) transmitida – “direito ao local”);
Francisco Barona faz depender este direito da ligação instrínseca entre o
Estabelecimento e o local onde o trespassante o desenvolvia – ex. campo
de golfe, hotel vs. Loja de meias).
o Know-how da empresa (requisito da imissão do adquirente na posse)
• Meios empresarias na disponibilidade do trespassante a título obrigacional:
o Contratos de trabalho (285º nº1 CT) – posição de empregador
o Cessão da posição contratual de arrendatário – para os casos de trespasse
de local arrendadao (Coutinho de Abreu, Pereira Coelho e Evaristo
Mendes consideram que também se transmite - cessão da posição
contratual) – em prédio arrendado ou alocado dispensa-se a autorização
do senhorio - 1112º, fugindo à regra geral de onde se extrairia a
necessidade de consentimento – 424º e ss. e 1059º nº1. Basta que se
comunique, fazendo uma notificação, sujeita a prazo de 15 dias (1038º g))
– 1112º nº2 – provando que haveria simulação, não haveria trespasse. Se
não, haveria trespasse. E se não houve notificação? Seria trespasse
ineficaz por violação do 1112º nº3. Sendo ineficaz, aplica-se o 1083º nº2
al. e) CC, existindo fundamento para resolução do contrato de
arrendamento. A lei protege o interesse das partes do contrato de trespasse,
os interesses comerciais, em detrimento do interesse do senhorio.
o Transmissão da posição de locatário financeiro (11º nº1 DL 149/95)
o Seguros relaticos à atividade desenvolvida

44
Âmbito e elementos convencionais de entrega, apenas trnamissíveis por meio de
estipulação…
• Firma, logotipo ou marca quando neles figure nome individual, firma ou
denominação do titular do estabelecimento (44º nº1 RRNPC e 31º nº5 CPI)
• Cessão de posições contratuais ligadas à exploração da empresa mas cujos objetos
imediatos não sejam elementos do estabelecimento e débitos resultantes da
exploração do estabelecimento (424º e ss. CC – regime geral, que exige a
confirmação de terceiros – o que torna esta situação muito rara) – exceção →
posição de arrendatário, segundo a maioria da doutrina.
• Cessão de créditos do trespassante ligados à exploração da empresa mas cujos
objetos não sejam meios do estabelecimento não devem considerar-se, dissemos
já, elementos ou meios empresariais (577º, atenção ao 583º CC)
• Transmissão singular de dívidas (assunção de dívidas – 595º) - só com acordo
entre os trespassante e o trespassário e ratificação e declaração expressa dos
credores, ou por acordo entre o trespassário e os credores, com ou sem
consentimento do trespassante. Se faltar a ratificação, o negócio deverá ser
interpretado pro creditoris, numa co-assunção solidária de dívidas pelo
trespassante e trespassário. Por conseguinte, ainda que no escrito se diga, como é
habitual, que o estabelecimento é trespassado com todo o seu ativo e passivo, esse
facto, por si só, não significa assunção pelo trespassário de dívidas do trespassante
relativas ao estabelecimento, pois exiege-se sempre uma palavra dos credores, ou
como ratificação, ou como acordo direto com o trespassário. A antiga
jurisprudência que, conceptualmente, dizia que passava todo o ativo e passivo,
estava errada. Há casos de exceção (âmbito de entrega legal imperativo):
o 285º nº1 e nº2 CT – ordenados e coimas laborais
o 209º nº2 CRCSPSS – segurança social
o Dìvidas relativas ao EIRL
Elementos excluídos do âmbito natural e convencional:
• Patentes, modelos de utilidade, desenhos ou modelos objeto de licenças de
exploração (32º nº1 e nº8 CPI)
• Máquinas, veículos, móveis emprestados (1059º nº2 e 1139º f) CC)
Debrucemo-nos sobre o problema relativo à obrigação implícita de não concorrência.
Esta obrigação decorre, desde há muito, implicitamente, de todos os negócios de

45
alienação de empresas (sem necessidade de estipulação ad-hoc), sendo reconhecida pela
doutrina e jurisprudência da maior parte dos ordenamentos jurídicos (i.e. obrigação de
abstenção).
O trespassante de estabelecimento, e eventualmente, outras pessoas mais, ficam
obrigados, ao longo de um certo espaço e durante um determinado periodo de tempo, a
não concorrer com o trespassário ou seus futuros adquirentes, desde logo, com atividade
idêntica ou similar à exercida no estabelecimento trespassado.
Fundamentos: princípio da boa-fé, equidade, bons usos do comércio, garantia contra
evição, dever de o alienante entregar a coisa assegurando o seu gozo pacífico (fundamento
maior).
A empresa é um bem complexo, englobando múltiplos valores de organização e de
exploração. Normalmente, o alienante ou os seus representantes conhecem as
características fundamentais da empresa e das suas relações com terceiros. Seria, pois,
particularmente sensível a sua concorrência com este EC (concorrência diferencial)
– esta razão de ser permite, assim, que se abra exceções para os casos em que se demonstre
que estes elementos não são do conhecimento do alienante (Hubmann). Nuno Aureliano
e Pais de Vasconcelos chegam, mesmo, a negar a existência de uma qualquer obrigação
de não concorrência (argumentando com uma analogia com o regime do contrato de
agência – 9º do DL 178/88 de 3 de julho -, com o 136º CT e com o 61º nº1 CRP.
Francisco Barona diz que a sua aceitação depende do conceito de EC que
adotarmos:
• Conceito restrito – dimensão técnico-produtiva/corpórea – não admissão da
obrigação.
• Conceito amplo – dimensão de mercado – admissão da obrigação de
abstenção, já que o trespassário pagou pela dimensão de mercado do
estabelecimento;
Esta obrigação pode provir da generalidade dos negócios incluídos no conceito de
trespasse: venda (voluntária, executiva, falencial), na permuta, na realização de entrada
social na dação em cumprimento, na doação.
Por tudo isto, compreendemos que o trespassante ficará vinculado.
Contudo, para além do trespassante, outras pessoas poderão ficar vinculadas pela
obrigação implícita de não concorrência. De que pessoas estamos a falar?

46
• Cônjuge do trespassante (independentemente da qualidade do bem ou do regime
de bens)
• Filhos do trespassante, quando com ele tenham colaborado na exploração do EC
transmitido, ou qualquer amigo ou familiar próximo que tenha acesso a
conhecimentos de privilégio.
• Sócios da empresa trespassante, concretamente, aqueles que detenham
conhecimentos relativos à empresa trespassada que possam conduzir a uma
concorrência diferencial, ou por exercerem funções ao nível da administração ou
por deterem o controlo maioritário e efetivo da sociedade.
Os sujeitos ativos credores desta obrigação implícita de não concorrência contam-se entre
o primeiro trespassário mas também (enquanto a obrigação dever durar) os eventuais
sucessivos trespassários (credores do primeiro trespassante seja de outros trespassários-
trespassantes)
Naturalmente, que esta obrigação não se perfila em termos absolutos. Tem limites:
• Objetivos – Não ficam proibidos de exercer qualquer atividade económica, mas
somente de (re)iniciar (exceções para o caso de já praticarem à data do trespasse)
o exercício de modo sistemático ou profissional de uma atividade concorrente
com a exercida através da empresa trespassada de uma atividade económica no
todo ou em parte igual ou sucedânea da inicial.
• Espaciais – Limitados ao raio de ação do estabelecimento trespassado (dimensão
de mercado – raio de irradiação da influência)
• Temporais – Durante tempo suficiente para se consolidarem os valores de
organização e/ou de exploração da empresa transmitida na esfera de um
adquirente-empresário raazoavelmente diligente. A doutrina e a jurisprudência
estabeleceu um limite entre 2 a 5 anos. 2 anos, porque é o que a lei prevê para o
contrato de agência; 5, porque é o máximo que tem sido usado em outros
ordenamentos jurídicos da UE.
Quais são as consequências da violação dessa obrigação? O credor da mesma poderá
exercer os direitos decorrentes do regime do não cumprimento de obrigações (798º e ss,
CC), como interpor ação de cumprimento (817º), requerer uma sanção pecuniária
compulsória (829º-A), ou exigir que o novo estabelecimento do obrigado seja encerrado
(829º nº1) – ainda que com divergências doutrinárias, desde logo, de AV e PL.

47
Sublinhemos que esta obrigação é convencionalmente disponível, pelo que, por
estipulação expressa, poderá ser livremente afastada.

Assim sendo…
A, enquanto sócio maioritário da sociedade C, está adstrito a uma obrigação implícita
de não concorrência decorrente do contrato de trespasse celebrado entre ele e B.
Neste caso, aparentam ter sido violados todos os limites da obrigação: temporais, pela
referência a “2 meses depois”; espaciais, pela referência a “50 metros do local”; objetivos,
por ter sido aberta “outra papelaria, a Papelaria Moderna” – o que nos remete diretamente
para os conhecimento específicos do trespassante, que, melhor que ninguém, saberia que
o EC tinha a má fama de estar “fora de moda”.
Consequências da sua violação pela abertura de outra papelaria a 50 metros do EC
trespassado – regime geral do não cumprimento das obrigações – 798º e ss. CC,
nomeadamente: 817º, 829º nº1 e 829º-A.

A resposta seria diferente se a segunda papelaria tivesse sido aberta pelo próprio
A?
Não, a resposta seria precisamente idêntica. A obrigação implícita de não concorrência
tanto onera A enquanto agente singular trespassante, como enquanto agente coletivo
mediante o controlo maioritário do capital social da Sociedade C.

E pelo cônjuge ?
Não, a resposta seria precisamente idêntica. A obrigação implícita de não concorrência
tanto onera A enquanto agente singular trespassante, como todos os sujeitos do seu círculo
íntimo e de influência mais próximo – na sua esfera mais privada situa-se, naturalmente,
o cônjuge.

E se fosse o cônjuge o sócio maioritário da sociedade ?


Não, a resposta seria precisamente idêntica. A obrigação implícita de não concorrência
tanto onera A enquanto agente singular trespassante, como todos os sujeitos do seu círculo
íntimo e de influência mais próximo – na sua esfera mais privada situa-se, naturalmente,
o cônjuge. A distinção entre a conduta negativa do cônjuge enquanto agente singular e
enquanto agente coletivo comandando a sociedade que detém maioritariamente não se
justifica à luz dos principios e teleologia que preside à obrigação implícita de não

48
concorrência – a esfera de conhecimentos privilegiados mantém-se, independentemente
da subjetividade comercial pela qual o trespassante obrigado se revista.

4
A, titular de um estabelecimento a funcionar em local arrendado, vendeu-o por €50.000,
assumindo o comprador, ainda, um passivo líquido de €20.000. Executado o negócio e
notificado do mesmo, o senhorio propôs uma acção de despejo, invocando que, “como
os próprios valores indicavam”, o contrato era simulado; apenas haveria a transmissão
da posição de arrendatário, encoberta por certos bens sem valor económico apreciável.
Quid iuris ?

E se, em vez da simulação, tivesse havido mudança de ramo (compreendida no âmbito


abstractamente definida pelo contrato de arrendamento)?

Estamos no âmbito de aplicação do 1112º nº2 a) CC.


Em caso de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial instalado em
prédio arrendado, o trespassante-arrendatário pode ceder a sua posição de arrendatário ao
trespassário sem necessidade de autorização do senhorio. O negócio está sujeito ao
regime geral dos artigos 424º e ss. CC (1059º nº2), salvo as disposições especiais do
capítulo (1022º e ss.). Uma das disposições especiais mais importantes é a do artigo 1112º
nº1 al. a) onde se dispensa a autorização do senhorio para a transmissão inter vivos da
posição de arrendatário nos casos de trespasse de estabelecimento comercial ou industrial.
Esta norma visa agilizar e defender a circulação negocial dos EC e, eventualmente, a sua
própria manutenção, pois a necessidade de autorização poderia revelar-se extremamente
limitadora. É protegido, assim, essencialmente, o interesse do trespassante (até pela
maximização do valor de realização da venda do EC) e do trespassário em adquirir EC
valiosos e funcionais – bem como o interesse geral no desenvolvimento do tecido
empresarial.
O 1112º nº2 a) parece indiciar que basta que o trespasse não transmita algum
elemento do EC, para o negócio se enfermar de um vício de invalidade e, como tal, não
se falaria em trespasse mas em mera cessão da posição contratual de arrendatário, que
padeceria da falta de consentimento do senhorio, o que dará fundamento de resolução do

49
contrato de arrendamento ao mesmo (1083º nº2 e)). Contudo, sabemos que este regime
somente se aplica ao âmbito mínimo ou essencial de entrega. Assim, não basta ao
senhorio alegar que falta um desses elementos enumerados, mas que sem esse
determinado elemento, no caso concreto, não subsiste EC para ser trespassado, pelo que
nunca poderá ter sido negociado um trespasse, mas sim uma simulação de trespasse
(240º), onde o negócio dissimulado seria a cessão da posição contratual de arrendatário,
ainda que pudesse existir a transmissão da propriedade sobre grande parte dos bens, a
outro título, como de compra e venda.
Neste caso, nada nos faz assumir que estaremos perante uma simulação de trespasse, mas
tudo dependerá da conceção de EC que optemos por adotar:
• Conceito amplo (moderno, hoje o mais correto) – dimensão de mercado –
dificilmente se provará a simulação, uma vez que um preço elevado aliado a uma
assunção de dívidas poderá justificar-se pelo potencial de mercado do EC.
• Conceito restrito (clássico, hoje anacrónico) – dimensão técnico-produtiva ou
corpórea – facilmente se admite a simulação, pois rejeita-se a relevância da
clientela na avaliação objetiva do valor do EC.

E se, em vez da simulação, tivesse havido mudança de ramo (compreendida no âmbito


abstractamente definida pelo contrato de arrendamento)?

Neste caso, entraríamos no âmbito de aplicação do 1112º nº2 al. b).


Nos termos deste artigo, fica claro que, para efeitos do nº2 al. b) do 1112º, considera-se
não haver trespasse quando, no momento do negócio, havia intenção de dar a outros
destino ao prédio; o cessionário da posição de arrendatário tinha em vista não a
continuação do mesmo EC, mas sim a constituição, no mesmo prédio, de EC novo, com
ou sem aproveitamento dos respetivos bens, ou a aplicação do imóvel a fins não
comerciais ou industriais, como a habitação. O destino pode ser revelado por:
• Declarações expressas no contrato de trespasse;
• Declarações externas mas concomitantes;
• Factos objetivos posteriores (hipótese mais comum).
Quais as consequências jurídicas da mudança de ramo, ainda que inserida no âmbito
abstratamente definido pelo contrato de arrendamento? Alguma doutrina defende que
ocorre uma sobreposição de soluções jurídicas entre o 1083º nº2 c) e o 1112º nº2 b) e nº5

50
(Janúario Gomes, Olinda Garcia, Sousa Ribeiro). Coutinho de Abreu defende que o 1112º
nº5, ainda que não isento de críticas, cria, de facto, um fundamento autónomo de
resolução contratual.
Assim, apesar da mudança do ramo, houve trespasse, pois a hipótese não se enquadra na
previsão do 1112º nº2 b), já que este ramo ainda se enquadra no admitido pelo contrato
de arrendamento. Sim, poderá ser-lhe dado um uso distinto do original, mas não um uso
interdito pelas partes (1067º nº2, 1027 e 1028º). Assim sendo, não há qualquer
fundamento de resolução pelo 1083º nº2 c). Contudo, o artigo 1112º nº5 confere ao
senhorio um fundamento autónomo de resolução contratual: a lei concede ao trespassante
e ao trespassário o benefício consagrado no 1112º nº1 al a), onde se dispensa a autorização
do senhorio na cessão da posição contratual de arrendatário, a fim de a facilitar. Contudo,
se o EC cuja circulação se promoveu não se mantiver, poderá o senhorio interferir na
relação arendatícia, resolvendo o contrato.
A partir daqui tudo depende do momento em que ocorra essa alteração do destino:
• No momento do trespasse – cessão ilícita – 1112º nº2 b) – não haverá resolução;
• Em momento posterior ao trespasse – afetação posterior – 1112º nº5 – resolução.

5
A, marceneiro com estabelecimento aberto ao público em local arrendado e exercendo
directamente a profissão sem quaisquer ajudantes e conforme práticas ancestrais,
vendeu-o, em 2010, a B, tendo notificado da transmissão o senhorio, juiz de profissão.
Este pretende exercer o direito de preferência. Quid iuris?

Definição de estabelecimento comercial – segundo o Professor Francisco Barona, o EC é


o conjunto de bens ou serviços predispostos pelo empresário que serve de suporte para
uma atividade produtiva de mercado, englobando elementos corpóreos e incorpóreos
dentro da chamada dimensão técnico-produtiva, bem como uma dimensão de mercado.
Então, estaremos perante um EC?
Assumimos que não, pois para além de estarmos perante um pequeno comerciante – que
escapa à órbita do direito comercial -, estamos perante uma hipótese de atividade sujeita
a normas expressamente desqualificadoras – 230º nº1 - 230º 1§ e 464º 3§.

51
Não é que releve, uma vez que o trespasse tanto opera quanto a EC como a
estabelecimentos não comerciais (1112º nº1 al a) CC).
Estamos perante um contrato de trespasse.
O trespasse, originalmente na versão original do CC de 1966, era regulado nos artigos
1083º a 1120º do CC (1109º e 1112º e 1118º CC – arrendamento para fins não
habitacionais). Na década de 90 transitou para o RAU, em 2006 para o NRAU e hoje
surge regulado num Anexo do NRAU, dedicado à republicação de certos artigos do CC,
1112º por exemplo. A sua inserção junto do regime do arrendamento resulta de razões
históricas.
O trespasse é definido - articulando o entendimento dos Professores Coutinho de Abreu
e Francisco Barona - como um contrato de transmissão direta e definitiva da propriedade
de um estabelecimento ou empresa por negócio entre vivos.
Quanto ao direito de preferência (1091º e 1112º nº4 CC) – exige-se (416º - prazo, com
todos os elementos que aí se exigem):
• Trespasse, com compra e venda ou dação em cumprimento
• Assunção de todos os direitos e obrigações do arrendatário referentes ao EC
• Continuação da atividade empresarial com todas as qualidades do arrendatário
• No mesmo local
Sendo o senhorio juiz de profissão, estará sujeito ao Estatuto dos Magistrados Judiciais,
nos termos da lei n.º 21/85, de 30 de julho com as alterações introduzidas até à Lei n.º
9/2011, de 12-04 ou ao Lei n.º 47/86, de 15 de Outubro (Estatuto do Ministério Público),
consoante seja magistrado da qualidade tal ou tal – no seguimento do 14º nº2. Relevam,
nomeadamente, as seguintes disposições:
Artigo 13.º
Incompatibilidades
1 - Os magistrados judiciais, excepto os aposentados e os que se encontrem na situação
de
licença sem vencimento de longa duração, não podem desempenhar qualquer outra
função
pública ou privada de natureza profissional, salvo as funções docentes ou de
investigação
científica de natureza jurídica, não remuneradas, e ainda funções directivas em
organizações

52
sindicais da magistratura judicial.
Assim como:
Artigo 81.º
Incompatibilidades
1 - É incompatível com o desempenho do cargo de magistrado do Ministério Público o
exercício de qualquer outra função pública ou privada de índole profissional, salvo
funções docentes ou de investigação científica de natureza jurídica ou funções directivas
em organizações representativas da magistratura do Ministério Público. Isto demonstra
que o senhorio nunca poderá exercer a atividade profissional de marceneiro enquanto
desempenhar a função de juiz, seja magistrado judicial, seja magistrado do ministério
público.

Posto isto, claro fica que o senhorio nunca poderia cumprir os requisitos legais para
interposição do direito de preferência, pois estaria interditado de prosesguir a atividade
profissional de marceneiro.
Contudo, não é absolutamente linear que ele tenha de manter o EC aberto, se satisfizer
todos os outros interesses do trespassário…
Estamos perante impedimentos relativos - uma pessoa singular pode, por razões de
interesse público (proteção de função ou profissão pública), estar afetada por uma
incompatibilidade: o cargo que desempenha é inconciliável com o exercício do comércio.
Se isso for desrespeitado, para além das consequências verificáveis no plano da função
ou profissão protegida, obstará à sua qualificação como comerciante? A questão é
controvertida, mas, com razão, maioritariamente tem resposta negativa: ele pode, ainda
assim, tornar-se comerciante.
Entidades do artigo 14º - proíbe-se o exercício do comércio de forma profissional às
entidades de fim ideal e a pessoas que por lei o não devam fazer, via de regra para
preservação de um outro estatuto e da respetiva independência (incompatibilidades
legais). Existe aqui, pelo menos literalmente, uma diferença: o Estado, as autarquias, etc.,
não podem ter a qualidade de comerciantes, ou seja, não são qualificáveis como tais e
portanto não se lhes aplica, ao menos em princípio, o estatuto de comerciante. As
entidades de fim ideal e as pessoas abrangidas por incompatibilidades legais, embora o
possam fazer juridicamente, não devem exercer a profissão, ficando numa situação
irregular se o fizerem (comerciantes irregulares). Por conseguinte, só quanto às
entidades do primeiro grupo é certo que não podem ser comerciantes.

53
6
Alberto é educador de infância estando casado com Elvira, que trabalha como manicure
num espaço cedido dentro de um supermercado. Como as suas vidas não andam a correr
muito bem, decidiram abandonar a sua anterior profissão e tornarem-se empresários de
pastelaria.
Alberto é um excelente pasteleiro e tem um amigo de infância que vive na província
produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis nas pastelarias lisboetas. Esse seu
amigo (Cristiano) vem todos os dias a Lisboa trazer os cereais encomendados por
Alberto.
A pastelaria foi logo um enorme sucesso, mas o sucesso foi abruptamente interrompido
pela instalação, paredes meias, de uma loja da “Padaria Portuguesa”, que, por se
integrar numa rede de franchising, conseguia praticar preços muito competitivos.
Confrontado com o facto, Alberto pensa que o melhor a fazer é comunicar ao senhorio
que vai ceder a utilização do espaço da sua pastelaria à “Padaria Portuguesa”, para
que esta expanda o seu espaço comercial e assim o seu negócio.

a) Na sua opinião, o senhorio tem alguma forma de reagir perante esta situação?

b) Admita que o senhorio goza do direito de preferência na aquisição da pastelaria


de Alberto. Isso significa que assume as dívidas que Alberto tinha para com
fornecedores, bancos e trabalhadores?

Quanto ao direito de preferência (1091º e 1112º nº4 CC) – exige-se (416º - prazo, com
todos os elementos que aí se exigem):
• Trespasse, com compra e venda ou dação em cumprimento
• Assunção de todos os direitos e obrigações do arrendatário referentes ao EC
• Continuação da atividade empresarial com todas as qualidades do arrendatário

54
• No mesmo local
E…
Teremos duas modalidades de âmbitos de entrega:
• Obrigatório/Natural (ex silentio)/Imperativo/Legal/Mínimo;
• Convencional/Máximo.
É possível enumerar os elementos que habitualmente compõem o âmbito de entrega:
Âmbito e elementos naturais de entrega ou imperativos, que se transmitem
necessariamente…
Meios empresariais do trespassante a título de propriedade:
• Logotipos e marcas
• Máquinas
• Utensílios
• Mobiliário
• Matérias-primas
• Mercadorias
• Inventos patenteados
• Modelis de utilidade
• Desenhos ou modelos
• Prédios ( a doutrina divide-se quanto à sua admissibilidade – Orlando de Carvalho
nega, enquanto Coutinho de Abreu, Barbosa de Magalhães, Ferrer Correia,
Evaristo Mendes e Fátima Gomes defendem que sempre que de um contrato de
trespasse não se faça menção à transmissão do prédio e não se conclua, por
interpretação do negócio, que ele foi excluído, deve concuir-se que a propriedade
do mesmo foi (naturalmente) transmitida)
Meios empresarias na disponibilidade do trespassante a título obrigacional:
• Contratos de trabalho (285º CT)
• Transmissão da posição de arrendatário (Coutinho de Abreu, Pereira Coelho e
Evaristo Mendes consideram que também se transmite cessão da posição
contratual) – em prédio arrendado ou alocado dispensa-se a autorização do
senhorio - 1112º, fugindo à regra geral de onde se extrairia a necessidade de
consentimento – 424º e ss. e 1059º nº1. Basta que se comunique, fazendo uma
notificação, sujeita a prazo de 15 dias (1038º g)) – 1112º nº2 – provando que
haveria simulação, não haveria trespasse. Se não, haveria trespasse. E se não

55
houve notificação? Seria trespasse ineficaz por violação do 1112º nº3. Sendo
ineficaz, aplica-se o 1083º nº2 al. e) CC, existindo fundamento para resolução do
contrato de arrendamento.
• Transmissão da posição de locatário financeiro
Âmbito e elementos convencionais de entrega, que apenas se trnamistem por meio de
estipulação…
• Firma, logotipo ou marca quando neles figure nome individual, firma ou
denominação do titular do estabelecimento
• Posições contratuais e débitos daí resultantes (424º e ss. CC – regime geral, que
exige a confirmação de terceiros)
• Créditos do trespassante ligados à exploração da empresa mas cujos objetos não
sejam meios do estabelecimento não devem considerar-se, dissemos já, elementos
ou meios empresariais (577º CC)
• Transmissão singular de dívidas (assunção de dívidas) – 595º - só com acordo
entre os trespassante e o trespassário e ratificação e declaração expressa dos
credores, ou por acordo entre o trespassário e os credores, com ou sem
consentimento do trespassante. Se faltar a ratificação, o negócio deverá ser
interpretado pro creditoris, numa co-assunção solidária de dívidas pelo
trespassante e trespassário. - SIM
o Há casos de exceção:
▪ 285º nº1 e nº2 CT – ordenados e coimas laborais - SIM
▪ 209º nº2 CRCSPSS – segurança social
▪ EIRL

56
7
A Farmácia da Palma, Lda - ver acórdão 868/11.5TBTMR.C1 de 01/04/2014 TRC -
, titular de uma farmácia, que funciona num local arrendado, celebrou com o Laboratório
Phama Y, SA, um contrato de fornecimento de medicamentos, a executar à medida das
necessidades da primeira.
A certa altura, a Farmácia da Palma, Lda encomendou um lote de vacinas para a gripe
sazonal, facturada em 1 de Dezembro de 2013, por 35.000 €. Em função do pagamento
do preço, aceitou uma letra nesse valor, com vencimento a 23 de Janeiro de 2014.
A 22 de Janeiro de 2014, Farmácia da Palma, Lda, recebeu a encomenda e verificou
que parte das vacinas não estavam boas, porque durante o transporte não haviam sido
conservadas à temperatura ideal (Cumprimento defeituoso).
A Farmácia da Palma, Lda comunicou imediatamente tal facto ao Laboratório Phama
Y, SA, na pessoa do seu administrador, José Cautela, e este disse-lhe que ainda assim
teriam de pagar o preço da totalidade do lote de vacinas, uma vez que o Laboratório
Phama Y, SA havia endossado a letra à Cooperativa dos Laboratórios de farmácia
Unidas, CRL, e este a havia descontado num Banco.
Segundo o entendimento do Laboratório Phama Y, SA, era-lhe devido o pagamento
do preço, acrescido de juros, uma vez que a factura estava já vencida.
Tendo em conta os dados da hipótese, diga se o contrato celebrado entre a Farmácia da
Palma, Lda e o Laboratório Phama Y, SA é um contrato comercial, analisando os
deveres das partes e os argumentos invocados pelo Laboratório Phama Y, SA quanto:
• ao valor da dívida
• sua exigibilidade
• taxa de juros aplicável
• a data a partir da qual esses juros seriam contados.

Relativamente ao caráter comercial do contrato…


1º - Caracterizar, com traços distintivos, as duas teorias para qualificação, se a pergunta
não nos direcionar, no enunciado, para uma delas:
• Teoria dos atos de comércio (TAC) – um determinado ato é ato de comércio,
aplicando-se o regime mercantil, quando se acharem especialmente regulados no

57
Código (2º 1ª parte + norma especial, como o artigo 463º, quanto à compra para
revenda); Estas normas somente qualificam como comerciais os atos, já a
comercialidade enquanto estatuto dos sujeitos remete-se para o 13º. Atende-se, no
essencial, ao elemento operativo (primeiros atos comerciais objetivamente
caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira compra para revenda),
não ao elemento organizativo.
• Teoria jurídica da empresa (TJE) – Esta teoria diz-nos que a norma do 230º é que
é a norma fundamental quanto à qualificação comercial dos atos, ao passo que a
norma do artigo 2º nº1 é uma norma residual, somente quanto aos atos de
comércio ocasionais (230º + 2º nº1); O artigo 230º alarga o âmbito dos atos
objetivos – não são só os clássicos atos de intermediação nas trocas, mas todos os
atos elencados no 230º a todas as atividades preparatórias da empresa (core). O
230º opera duas qualificações: estabelece os atos como comerciais e classifica os
sujeitos como comerciantes (Olavo Cunha), mas complementado pelo artigo 13º.
Esta posição antecipa a qualificação, atendendo ao elemento organizativo em
detrimento do elemento operativo (primeiros atos jurídicos tendo em vista o ato
comercial objetivamente caracterizador da atividade futura da empresa, como a
contratação de trabalhadores).
2º - Tratar separadamente todos os sujeitos que sejam partes na situação jurídica, se a
pergunta não se cingir a um sujeito em concreto;
3º - As questões deverão incidir sobre dois pontos de análise:
• O ato é qualificável como comercial para o sujeito sub judice?
• O sujeito é qualificável como comerciante para o ato sub judice?
(Isto significa que teremos quatro grandes questões (estas duas para cada sujeito), que se
tornarão oito ao todo, pois devem ser respondidas, na falta de explicitação, empregando
cada teoria separadamente); Assim sendo...
4º - Comecemos pela Teoria dos Atos de Comércio (TAC).
5º - Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TAC?
(PRIMEIRA PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA)
• Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão
normativa da 1ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código”? Entende a doutrina, como o Professor
Coutinho de Abreu e o Professor Evaristo Mendes, que isto engloba:

58
o As correspondentes a atos de comércio «regulados» diretamente no
CCom;
o As previstas no artigo 230º; - SIM, 230 §2 ou 463º §1 –
BILATERALMENTE COMERCIAL – não se aplica o regime do 99º.
o As correspondentes a atos de comércio regulados por normas avulsas, quer
se trate de normas que revogaram títulos do Código, quer se trate de
legislação comercial extravagante (por autoqualificação ou por
interpretação);
o As que correspondam a um pensamento analógico (legis – 10º/2 CC - ou
iuris – 10º/3) CC – NA TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO NÃO HÁ
ANALOGIA.
• (Cont.) Independentemente da modalidade onde se enquadre, a lógica desta
posição é sempre a seguinte: 2º nº1 1ªP + Norma Especial, codificada ou avulsa.
Atende-se, no essencial, ao elemento operativo (primeiros atos comerciais
objetivamente caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira compra
para revenda), não ao elemento organizativo.
• Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão
normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações
dos comerciantes (via 13º, segundo a TAC), que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar (ou das suas
circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar três questões…
o Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva
positiva)
o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)
▪ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes
(menoridade, inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas
para exercer o comércio por si, por um EIRL ou por representante
(13º nº1); E profissionalidade, mediante a qualificação dos atos de
comércio que ele pratica (se qualfiicarmos estes atos como
comerciais – 463º - compra de sistemas de vigilância para revenda

59
com instalação, ou sendo uma comissão, por ele estar em
representação duma grande empresa, alegadamente);
▪ As Sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e
SE; - As Lda são Sociedades por quotas de responsabilidade
limitada (197º e ss. CSC); As SA também são Sociedades, desta
feita Sociedades Anónimas (271º e ss. CSC) – Ambos os sujeitos
são comerciantes enquanto Sociedades Comerciais,
preenchendo o âmbito do artigo 1º nº1 e nº2. – os atos de
comércio derivam do 230º §2 e do 463º §1.
▪ Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);
▪ Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
▪ As Cooperativas (230º);
▪ As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as
EPE;
▪ As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
o Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)
▪ Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
▪ Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos
(dependentes de uma relação pessoal: por ex., convenções
antenupciais e obrigação de alimentos);
▪ As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
▪ Os negócios mortis causa (discutível).
• (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação como
subjetivamente comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por essa via.
6º - Repetir toda esta exposição de qualificação do ato como comercial e do sujeito como
comerciante \para o outro sujeito, ainda segundo a TAC.
7º - Partimos agora para a análise da questão sob o prisma da Teoria Jurídica da
Empresa (TJE).
8º - Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TJE?
(PRIMEIRA PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA)
9º - Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na
previsão normativa do artigo 230º Ccom - SIM (relembramos que para TJE o artigo
230º é a norma qualificadora primária, operando o artigo 2º nº1 residualmente, somente

60
quanto a atos de comércio ocasionais) – “Haver-se-ão por comerciais as empresas,
singulares ou coletivas, que se propuserem: (…) ”. Esta posição antecipa a qualificação,
atendendo ao elemento organizativo em detrimento do elemento operativo.
• Se se confirmar a qualificação por esta norma, respondemos desde logo à
SEGUNDA QUESTÃO, uma vez que, segundo Olavo Cunha, o artigo 230º
qualifica tanto o ato como comercial como o sujeito que o pratica como
comerciante. Neste caso, o Professor Coutinho de Abreu entende que há um
princípio básico de que todos os contratos de prestação de serviços são
comerciaism, nos termos do 230º nº2. E´possível, mesmo por analogia! Mas isso
depende da qualificação de C como comerciante, um prestador de serviços (dentro
de uma organização), coisa que não sabemos. Se não for, não há qualificação pelo
230º, e não poderá ser objetivamente comercial.
• Se não se confirmar…
10º - Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão
normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações dos
comerciantes (via 13º), que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do
próprio ato não resultar (ou das suas circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar
três questões…
• Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva positiva)
• Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)
o As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade,
inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas para exercer o
comércio por si, por um EIRL ou por representante (13º nº1);
▪ As sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e
SE; As Lda são Sociedades por quotas de responsabilidade
limitada (197º e ss. CSC); As SA também são Sociedades, desta
feita Sociedades Anónimas (271º e ss. CSC) – Ambos os sujeitos
são comerciantes enquanto Sociedades Comerciais,
preenchendo o âmbito do artigo 1º nº1 e nº2. – os atos de
comércio derivam do 230º §2 e do 463º §1.
o Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);

61
o Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);
o As Cooperativas (230º);
o As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;
o As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).
• Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)
o Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);
o Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos (dependentes de
uma relação pessoal: por ex., convenções antenupciais e obrigação de
alimentos);
o As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);
o Os negócios mortis causa (discutível).
• (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação como
subjetivamente comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por essa via.
11º - Repetir toda esta exposição de qualificação do ato como comercial e do sujeito como
comerciante para o outro sujeito, ainda segundo a TJE.
12º - No final, deveremos, para cada teoria, aferir se estamos perante um ato objetivo puro
ou misto (unilateral ou bilateral), consoante seja comercial para uma ou ambas as partes
(art. 99º).
RESUMINDO, temos que:
Contrato é objetivamente comercial para a Farmácia da Palma Lda?
• TAC – Sim (2º nº1 + 230 §2 ou 463 §1)
• TJE – Sim (230º §2 ou 230º + 463º §1)
Contrato é objetivamente comercial para a Laboratório Phama Y SA?
• TAC – Sim (230 §2)
• TJE – Sim (230 §2)
Contrato é subjetivamente comercial para a Farmácia da Palma Lda?
• TAC – Sim (2º nº2 – 13º nº2 – SQ)
• TJE – Sim (230º §2, dupla qualificação ou 13º nº2 – SA)

Relativamente aos deveres das partes…


Para além de todos os deveres resultantes do estatuto do comerciante…
• Regime dívidas dos cônjuges (art. 15 do CCom/ art. 1691.1d) do CC);

62
• Juros de mora (art. 102 §§ 3/4 e 5 do CCom); - 5 – DL – 2º sim, 3º confirmar
definições, 4º nº c) – MAS ATENÇÃO ÀS DATAS, se fosse anterior ao DL, já não!
• Solidariedade passiva das obrigações (art. 100º do CCom), extensível à fiança (art.
101º CCom);
• Forma do mútuo (art. 396 do CCom)
• Eficácia do penhor (art. 400 do CCom);
• Qualificação de negócios e créditos como comerciais, potencialmente sujeitos a
regras distintas do regime civil (art. 2 II, melhor analisado adiante).
• Regras especiais relativas à representação jurídica dos comerciantes, através de
gerentes e auxiliares seus (arts. 248ss do CCom e 115º nº3 CT);
• Direito de saque (278º CCom);
• Regime de especial da insolvência (CIRE);
• Disposição fundamental do artigo 18º do CCom: Os comerciantes são
especialmente obrigados:

Relativamente aos argumentos invocados pelo Laboratório Phama Y, SA quanto:


• ao valor da dívida
• sua exigibilidade
• taxa de juros aplicável
• a data a partir da qual esses juros seriam contados.
“,Na pessoa do seu administrador, José Cautela, este disse-lhe que ainda assim teriam
de pagar o preço da totalidade do lote de vacinas, uma vez que o Laboratório Phama Y,
SA havia endossado a letra à Cooperativa dos Laboratórios de farmácia Unidas, CRL, e
este a havia descontado num Banco. Segundo o entendimento do Laboratório Phama Y,
SA, era-lhe devido o pagamento do preço, acrescido de juros, uma vez que a factura
estava já vencida. A Farmácia da Palma, Lda encomendou um lote de vacinas para a
gripe sazonal, facturada em 1 de Dezembro de 2013, por 35.000 €. Em função do
pagamento do preço, aceitou uma letra nesse valor, com vencimento a 23 de Janeiro de
2014.”
A letra bancária é um título de crédito. Trata-se, por isso, de um documento escrito e
assinado pelas partes que contém um crédito em dinheiro e que se movimenta por endosso
ou desconto. São também títulos de crédito, entre outros, a livrança e o cheque.

63
Existe a possibilidade de o sacador da letra efetuar o desconto bancário de letras, que
é um mecanismo que lhe permite receber previamente o valor total de uma letra bancária
de um Banco, através do pagamento de juros e comissões convencionadas. Nesse
momento, a Instituição Financeira passa a ser a tomadora da letra bancária. Todavia, se o
devedor (sacado) entrar em incumprimento, é o credor (sacador) e não o Banco que
suportará na totalidade as correspondentes perdas.
O desconto de letra bancária é sobretudo um mecanismo que permite transformar um
direito de crédito em dinheiro imediato (liquidez), sem ter que esperar pela data de
vencimento da letra.
A Letra é um instrumento muito antigo e muito importante para a concessão de
crédito a comerciantes e empresas. Efetivamente, uma das causas para a enorme
importância prática deste instrumento é a possibilidade de se poder prestar aval
pessoal por parte de terceiros (sobretudo, os sócios de uma empresa em relação a essa
empresa).
Ora, uma das características da letra bancária é a de que a posse do título em
conformidade com a Lei permite que o portador da letra possa cobrar o direito que emerge
do título de crédito.
Assim, aquele que pode cobrar a letra é o portador ou tomador (NESTE CASO, O
BANCO); por sua vez, aquele que dá a ordem de pagamento é o sacador ; por último,
aquele a quem é dada a ordem de pagamento é o sacado.
Desta característica da legitimação decorre que o portador não precisa de provar a
titularidade do direito cartular, uma vez que esta se presume; por isso, o devedor (sacado)
não pode recusar o pagamento de uma letra bancária ao portador sem entrar
em incumprimento contratual.
Mais, o devedor não precisa de aferir se o tomador do título de crédito é ou não o
legítimo titular do direito. Com efeito, ao efetuar o pagamento da letra bancária ao
portador na data de vencimento, o devedor (sacado) fica totalmente desonerado de todas
as obrigações decorrentes da letra, não lhe podendo ser exigido que pague outra vez a
letra por eventualmente ter pago à pessoa errada. Assim, o devedor (sacado) fica com a
garantia de que o pagamento que efetuar não pode ser qualificado como cumprimento
feito a terceiro.
A Letra é criada através do saque. Existem dois tipos de saque:

64
• 1) – Saque à ordem do sacador (arts. 1º, n. 6º, e 3º da LULL); – neste caso o
sacador é o primeiro titular da letra, que a pode transmitir, designadamente por
endosso (entrega do título com uma declaração de transmissão a favor de um
endossado).
• 2) – Saque para o tomador ou à ordem deste (art.º 1º, n. 6º); – neste caso, o sacador
não fica titular da letra, porque o primeiro titular é o tomador; tornando-se o saque,
em regra, eficaz, enquanto negócio jurídico a favor de terceiro, com a entrega do
título a este, ou seja, com a sua emissão. Emissão é, grosso modo, o ato pelo qual
o criador de um título voluntariamente o coloca no tráfico, fora da sua esfera
jurídica. No caso das letras e cheques, implica em regra a entrega voluntária do
título ao tomador, sendo o saque a favor deste ou à sua ordem, ou a um primeiro
endossado do sacador, se o saque for à ordem deste.
23. A forma de transmissão da letra especialmente prevista na LU é o endosso (arts.
11º e seguintes). A transmissão da letra sem ser por endosso - isto é, a transmissão de
direito comum (cfr. o art.º 20º) - é uma transmissão em certo sentido fraca. Duas
razões apontam nessa direção:
• 1) – Por um lado, é uma transmissão que não beneficia da tutela cambiária
prevista na LULL (cfr. o art. 16º);
• 2) – Por outro lado, em caso de conflito com uma transmissão cambiária (ou
por endosso), cede, em princípio, perante ela. É esse o sentido da Lei e pode
ver-se aqui uma manifestação do mencionado princípio da incorporação, que,
segundo o entendimento geral, caracteriza os títulos de crédito.
Mesmo quando a letra circula por endosso, no nosso direito, o endosso – quando se trata
de endosso translativo, porque há outras modalidades (cfr. os arts. 18º e 19º da LULL) –
é um elemento de um contrato translativo ou da sua execução. Ou melhor, é a
representação ou projecção cartular (isto é, no título) desse contrato.
Exemplo: Sacador ------------------------- E1 ------------ P (banco)
|
sacado (Aceitante)
Está aqui retratado um saque à ordem do sacador, seguido de um endosso pelo
mesmo sacador. Subjacente à ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado através
da letra (e subjacente também ao aceite) está – vamos admitir - uma compra e venda, na
qual o sacador assumiu a posição de vendedor, credor do preço. A relação estabelecida

65
entre o sacador e o seu endossado (E1) resultou igualmente de um contrato de compra e
venda. O sacador endossou a letra a E1, utilizando-a como moeda de troca, para pagar o
preço estipulado nesse contrato (ou em função desse pagamento), ficando legalmente
garante do pagamento pontual do título pelo sacado no vencimento (art.º 9º da LULL). O
E1, por sua vez, endossou a letra ao banco, seu portador, ao abrigo ou em execução de
um contrato de desconto. O banco entregou-lhe o valor actual (valor de troca ou valor
descontado) da letra e ficou com ela para cobrar no vencimento o respectivo valor facial;
garantindo-lhe o E1, seu endossante, o bom fim do título, isto é, o seu pagamento pontual
pelo sacado no vencimento (art.º 15º da LULL). O endosso é em certa medida, no
primeiro caso, uma expressão, no título, do subjacente contrato de compra e venda e, no
segundo caso, do contrato de desconto.
24. Com o aceite, o sacado constitui-se obrigado cambiário, isto é, obriga-se a pagar a
letra a quem a apresentar a pagamento (artº 28º da LULL). Na sua essência, a letra aceita
continua a ser uma ordem de pagamento legalmente garantida – agora confirmada pelo
seu destinatário. Ser a letra legalmente garantida significa que o sacador, ao emitir ou
mobilizar o título, é garante do seu pagamento pontual, sendo responsável pelo seu
eventual não pagamento; e isto por força da lei, não da sua vontade. Os restantes
subscritores, com excepção do aceitante, se houver aceite, são, em princípio, igualmente
garantes perante o portador. No entanto, isto não é um mecanismo obrigacional: o sacador
nem promete o pagamento da letra, nem assume qualquer obrigação de a fazer pagar pelo
sacado. O que ele faz é dar uma ordem de pagamento a este. Só se constituindo obrigado
de regresso, por força da garantia que a lei lhe impõe, na eventualidade de o pagamento
da letra não ser feito pontualmente, no vencimento; ou, não estando a letra aceite, se este
vier a ser recusado.
25. Especificamente, em geral a obrigação de regresso só surge se se verificarem certos
pressupostos:
• 1º - a) Apresentação atempada da letra a pagamento e recusa deste; ou b)
apresentação da letra a aceite e respectiva recusa. O aceite inválido equivale à
recusa de aceite.
• 2º Apresentação atempada a protesto de letra cujo pagamento ou aceite hajam sido
recusados (artsº 43 e seguintes da LULL).
O protesto é, em Portugal, uma prova notarial de que a letra foi apresentada a pagamento
(ou aceite) e que tal pagamento (ou aceite) foi recusado (art.º 44º da LULL e arts. 119ºss

66
do CódNot). Evaristo Mendes (FDL 1990-1991) 14 26. Ao lado dos garantes legais da
letra, prevê a lei ainda a existência de garantes voluntários: os avalistas (artsºs 30º e
seguintes da LULL). Tal como sucede com o sacador e os endossantes, também os
avalistas se limitam a assegurar a produção de um resultado: o pagamento pontual da letra
(em princípio pelo sacado) no vencimento da mesma. Não assumem, com o seu aval,
nenhuma obrigação de pagar. Apenas se tornam obrigados na eventualidade de a letra
cair no regresso por falta desse pagamento (ou de aceite), o que não sucede com a
generalidade dos títulos emitidos. Só no âmbito da relação obrigacional de regresso, se
ela vier a constituir-se, o portador fica, portanto, titular de um direito de crédito contra
eles.
27. A letra é um título de crédito. Afirmar que a letra é um título de crédito pode, porém,
levar ao engano, na medida em que, por um lado, o «direito» inscrito num título desta
natureza não tem que ser um direito de crédito e, por outro lado, como se observou, a
essência da letra - «rectius», de uma letra normal, não desacreditada – reside numa ordem
de pagamento, legalmente garantida a partir da emissão, a favor de alguém. O mesmo se
diga, nomeadamente, das ações das sociedades anónimas: nem sempre o seu titular é um
credor. É-o, por exemplo, quando há lucros a distribuir pelos acionistas; mas, uma vez os
lucros distribuídos, o titular das ações não é por esse facto titular de um direito de crédito.
Mesmo quando exista tal situação credora, a essência da posição jurídica inscrita no título
apresenta natureza distinta. Salienta-se esta ideia: a afirmação corrente de que a letra é
um «título de crédito» - e, inclusive, um título de crédito «stricto sensu» - tem de ser
entendida cuidadosamente. Com efeito, na sua circulação normal (que vai da emissão, em
princípio, até ao vencimento e que, na generalidade das letras, é a única existente), ela só
é um título incorporador de um crédito quando está devidamente aceita (arts. 21º e segs.
da LULL, máxime, 28º); e, mesmo neste caso, tal crédito não se confunde com a posição
jurídica de beneficiário de uma ordem de pagamento legalmente garantida que a
caracteriza – acresce à mesma. Apenas as letras desacreditadas – mormente aquelas que
caem no regresso – são letras obrigacionais, títulos de crédito em sentido restrito.
PORTANTO:
Laboratório Phama Y (3º e 9º), SA havia endossado (11º, 12º, 13º, 14º e 15º) a letra à
Cooperativa dos Laboratórios de farmácia Unidas, CRL, e este a havia descontado num
Banco. Segundo o entendimento do Laboratório Phama Y, SA, era-lhe devido o
pagamento do preço, acrescido de juros, uma vez que a factura estava já vencida.

67
8
Suponha que António vende, por acordo escrito, a Bento, seu amigo de infância, mas em
relação ao qual guarda ressentimentos por ter sido vítima de bulling, acções de uma
sociedade anónima, em relação à qual não haviam sido emitidos os documentos de
representação das acções,. A alienação envolve 45% do capital social e António havia
contraído um crédito bancário para a sua aquisição, tendo o banco financiador exigido
ficar com o penhor das participações sociais.
Na venda que faz a Bento, António não só não indica que se financiou no banco, como
também omite qualquer referência ao penhor.
As partes assinam um documento intitulado “contrato de compra e venda de participações
sociais”, por 200.000 euros, e, na altura em que Bento exige à sociedade os títulos das
acções, estes vêem a ser-lhe entregues com uma anotação que indica terem sido dados em
penhor em favor do Banco.
Quid iuris?

Banco----A-----B

Negócio celebrado entre o Banco e A - O negócio entre o Banco e A é um ato de


comércio. O financiamento é uma operação de banco (art. 362º) e é para ser utilizado para
um ato de comércio (art. 394º). O penhor é comercial – art. 397º - a dívida que está a
garantir tem de ter origem comercial. A regra neste tipo de penhor, ao contrário do regime
civil, é de que não tem de haver entrega da coisa – art. 398º. (é ainda de referir o art.
399º+ art. 23º/3 CSC[2] + CVM).
O DL nº 29883 de 117/08/1939 regula o penhor bancário e afirma que o penhor
constituído em favor de créditos bancários não necessita que haja entrega da coisa.

Fenómeno de levereged buyout - Ocorreu também um fenómeno de leveraged buyout que


consiste numa técnica jurídica de aquisição de empresas societárias, em que o adquirente

68
(António), não possui o capital ou liquidez suficiente para realizar a compra, pelo que
recorre a financiamento de um terceiro (Banco) e oferece-lhe como garantia o património
da empresa adquirida (penhor sobre as participações adquiridas). Basicamente a
sociedade adquirida suporta o custo da sua aquisição.
As ações vendidas a António encontram-se empenhadas – A é o titular das mesmas, sobre
as quais foi constituído um penhor.

Conceito de transmissão indireta- Neste caso, Bento é investido da titularidade


económica da sociedade, decorrente da aquisição de uma posição de controlo sobre o
capital social da empresa (transmissão indireta/ share deal). Para tal considera-se ser
necessário (Prof. Engrácia Antunes), que a transmissão das ações invista o adquirente na
titularidade controlo da sociedade (o não que ocorre – 45% do capital do banco não é
suficiente, se a sociedade não tiver o capital disperso – os 55% estão com outra pessoa) e
que à luz das regras gerais de interpretação seja possível concluir que tenha sido a vontade
das partes transferir a empresa e que essa seja a causa negocial do contrato de compra e
venda de ações.

Compra e venda de participações sociais - O negócio celebrado pode-se considerar uma


compra e venda de participações sociais previstas no art. 463º/5. O objeto desta compra
acabam por ser direitos sobre a empresa, independentemente da participação em causa
ser maioritária ou minoritária.

Soluções - As ações foram penhoradas, dado que António pagou o valor devido ao banco;
qual a situação de Bento?

Venda de bem onerado – O regime do direito civil prevê que a verificação de


circunstâncias submetidas a ónus ou limitações determina a aplicação dor regime da
venda de bens onerados. A aplicação deste regime à aquisição de participações sociais
tem de ser adaptado ao contexto empresarial. Os profs. António Pinto Monteiro, Paulo
Mota Pinto, Calvão da Silva e Coutinho de Abreu consideram que pode haver uma
aplicação deve ser feita de forma ponderada. Os profs. Antunes Varela, Galvão Telles,
Rita Amaral Cabral defendem a aplicação do regime da culpa in contrahendo, porque
sempre que o alienante soubesse ou devesse saber do vício, devia prevenir o adquirente
nos termos do disposto do art. 227º.

69
Para efeitos das garantias legais, dever-se-á tratar esta matéria de acordo com art. 905º
CC, como o direito transmitido estava sujeito a uma limitação que excedia os limites
normais dos direitos da mesma categoria (tinha um penhor constituído), o contrato
celebrado por António e Bento será anulável por dolo, caso os seus pressupostos se
verifiquem (art. 253º/1), podendo haver lugar a uma indeminização, pelo art. 908º.
· Acórdão STJ, de 21/02/1991 – Entende que houve erro sobre os motivos, na
situação em que após a a cessão de quotas foi detetado pelos compradores uma penhora
sobre o equipamento da empresa, sendo que os alienantes sabiam que os compradores
descoconehciam desse facto. PODE-SE TAMBÉM APLICAR ESTE REGIME SE FOR
NECESSÁRIO.
· Regime mais flexível porque permite a alteração do contrrato mediante redução do
preço acordado.

Transmissão indireta da empresa – share deal (por contraposição ao asset deal


(transmissão direta)
A --------------------- B ------------------------- C
Houve duas compras para revenda de ações (463º nº5) – ambos atos de comércio (TAC e
TJE)
Houve um contrato de financiamento com penhor comercial (362º e 394º + 397º, 399º,
23º nº3 CSC e CVM)

Se o estabelecimento for da propriedade de uma sociedade comercial, é mais fácil para


as partes fazer um NJ em que o dono do estabelecimento é o sócio maioritário da empresa.
o Share deal – SE for uma sociedade, em vez de a alienar por completo,
pode apenas fazer uma alienação de ações representativas do capital da
empresa.
As partes não se resumem a dizer que pretendem comprar ou vender a maioria das quotas
ou as ações do sócio controlado. Mas se a perspetiva das partes é de adquirir, ainda que
de forma indireta, o estabelecimento, é natural que quem compra queira saber o que está
dentro da sociedade. Assim, as partes fazem um processo de auditoria levado a cabo pelo
comprador; análise à documentação da empresa e perceber quem são os fornecedores, os
clientes, a atividade, etc.. É a propósito disso que se determina se há contingências (ex.:
dívidas ao Fisco, à Segurança Social, a trabalhadores).

70
Nestes processos, estes negócios de due diligence revelam que o que as partes quiseram
foi a de adquirir, de modo indireto, a empresa. A transmissão do estabelecimento pode
fazer-se por via direta (asset deal) ou de modo indireto (tranmissão do controlo das partes
sociais).

71
PROPRIEDADE INDUSTRIAL E CONCORRÊNCIA

1
Uma empresa de produtos de cerâmica (A) lançou no mercado uma peça que, contra as
expectativas - porque a peça não tinha nada aparentemente de especial -, foi um êxito de
vendas. B, concorrente de A, levou a peça a um fabricante de moldes da Marinha Grande,
mandando fazer um molde para a mesma e lançou-a também no mercado.
Quid iuris?

1º CPI – função da PI
2º CPI – âmbito material
3º nº1 CPI – âmbito pessoal
A propriedade industrial encontra-se no Código da Propriedade Industrial compreende os
direitos privativos e concorrência desleal. A propriedade industrial tem como função a
garantia da lealdade da concorrência através da atribuição de direitos privativos.
4º nº1 CPI – direitos privativos (princípio da territorialidade).
Os direitos privativos estão regulados pelo art. 1313º do CC e estão sujeitos ao princípio
da tipicidade. Estes direitos têm uma relevância socioeconómica, pelo que há um instituto
público (INPI) que os gere. Estes são constituídos através de um ato de concessão, que
adquire eficácia mediante o registo. Podem ser concedidos pelo Instituto Europeu da
Propriedade Intelectual da EU.
51º nº1 CPI (52º não). – ambos não.
A invenção não é uma mera descoberta de algo que já existe. A invenção é uma regra de
aproveitamento das forças da Natureza e da atuação humana sobre as mesmas. Tornar
uma invenção patente significa:

72
▪ A invenção é nova – Que não seja conhecida em parte nenhuma do
Mundo no momento em que se requer o registo da mesma. Acaba por
não estar compreenda no estado da técnica, na medida em que não foi
usada nem regulada publicamente.
▪ Atividade inventiva – Tem de ter uma certo grau de criatividade. A
invenção tem que dar um passo na técnica, e não pode ser óbvia para
um perito médio da área.
▪ Suscetíveis de aplicação industrial – Promoção na indústria
enquanto forma de desenvolvimento tecnológico.
As invenções podem ser de (51º):
▪ Produtos (nº2)
▪ Processos (ocorre na indústria químico-farmacêutica – 115º e ss. CPI)
(nº2)
▪ Segundo uso – Pode correr que uma determinada substância tem outra
finalidade para além da que já tinha (por exemplo, ocorre várias vezes
novos usos para finalidades médico-terapêuticas). Se não se tratar de
uma invenção biológica ou terapêutica (da indústria farmacêutica), o
inventor pode optar por uma patente (tutela forte) ou através de modelo
de utilidade (tutela mais fraca) (nº3)
A patente atribui ao respetivo titular um direito de aproveitamento económico exclusivo
da invenção patenteada – art. 101º - em qualquer parte o território português (4º). O
pedido de patente tem de ser aprofundado, sob pena de ser declarado nulo.
A patente confere ao titular o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de
proceder ao fabrico, oferta, armazenagem, introdução no comércio ou utilização de um
produto objeto de patente – limitação da atividade de terceiros.
A duração da patente é de 20 anos – art. 99º. Há tutela penal (art. 320º), bem como
complementar (através da concorrência desleal). Quanto a esta última, por exemplo um
medicamento, suponhamos que a patente termina este ano, podem surgir medicamentos
genéricos, até antes do final da patente.
Não estamos perante qualquer criação intelectual técnica, mas estética – modelo ou
desenho.
Quanto aos direitos privativos, de onde se sublinha o efeito de bloqueio, há duas grandes
matérias:
➢ Sinais distintivos (222º e ss.):

73
o Individuais - Marcas, logótipos, recompensas e firma
o Coletivos – Denominações de origem, marcas coletivas, indicações
geográficas
➢ Criações intelectuais (Invenções)– 51º e ss.):
o Técnicas – Patentes, modelos de utilidade, configurações de
semicondutores
o Estéticas (conceito alargado para abranger toda a aparência dos produtos)
– modelo ou desenho (173º e ss.)
Esta matéria está regulada na Lei 19/2012 (Lei da Concorrência). Se a atividade envolver
mais do que um estado da União, aplica-se o regulamento 139/2004. Desse diploma
constam os ilícitos concorrenciais:
▪ Acordos, práticas concertadas e decisões de associações de empresas que têm
como efeito impedir, falsear ou restringir a concorrência, designadamente a
fixação de preços, repartição dos mercados, etc. – art. 9º. Apesar de haver um
ilícito, tal pode ser justificado através do balanço socioeconómico, na medida em
que pode haver vantagens nestes procedimentos, que podem justificar o que
aparentemente era um ilícito.
▪ Abuso de posição dominante – art. 11º. Aplica-se ao domínio das relações
horizontais.
▪ Abuso de dependência económica – art. 12º. Aplica-se ao domínio das relações
verticais.
Como não há referência ao registo (proteção máxima – 176º e ss. 184º e ss., 199º e
ss.)… 317º e ss. (Proteção mínima)
A concorrência desleal surge:
▪ Relações interprofissionais – art. 317º e 331º
o Cláusula geral – art. 317º nº1 - São atos de concorrência desleal atos
contrários às normas e usos honestos de ramo da atividade económica
o Há ilícitos especificados (“nomeadamente”):
• Atos de confusão;
• Atos de descrédito ou depreciação – Alguém funda a sua posição
concorrencial numa campanha difamatória do concorrente;
• Atos de aproveitamento de crédito, bom nome e reputação alheio
– Alguém utiliza o mérito de outrem;

74
• Atos enganosos (não confusórios).
o Há outros ilícitos que cabem na cláusula geral:
o Atos de apropriação direta dos resultados da atividade alheia
– Ex: pegar numa determinada peça e no seu molde e copiá-la,
fabricando-a em série.
o Concorrência parasitária – O concorrente B pode imitar o A, num
determinado produto, mas não sistematicamente. Tal pode
dificultar a conquista de mercado por parte de A.
o Incitamento à rutura contratual;
o Atos de obstrução;
o Aquisição de vantagem concorrencial mediante a violação de
normas – Supondo duas empresas em que A cumpre todas as
obrigações legais e B não cumpre nenhuma das regras. A estrutura
de recursos da empresa B é superior à de A, podendo recorrer a
mercados mais baratos. É uma questão que se discute em Portugal
há muitos anos, e tem sido a orientação negativa a prevalecer, ao
contrário do que ocorre em outros ordenamentos.
• Relações de consumo – CPub (5º, 14º e 16º)

Consequências – 321º e ss. (322º) e 331º.

2
A empresa italiana A encomendou a uma empresa portuguesa B a feitura de 1000 peças
de vestuário de certo modelo que lhe entregou, para o efeito, com a obrigação de o
devolver uma vez satisfeita a encomenda.
B achou o artigo apelativo, pelo que produziu 2000 peças e pôs à venda 1000 delas em
Portugal, no Brasil e em Espanha.
Quid iuris?
Concorrência desleal.

1º - CPI
2º - Proteção qualificada – identificar modalidade de direito privativo:
• Sinais distintivos:

75
o Individuais - Marcas, logótipos, recompensas e firma
o Coletivos – Denominações de origem, marcas coletivas, indicações
geográficas
• Invenção ou inovação (criação intelectual):
o Técnica (patente, modelos de utilidade e semicondutores)
o Estética (desenhos e modelos) (= a exercício anterior)
• Há registo?
o Sim – Proteção qualificada
o Não – Proteção mínima – 317º e ss. (concorrência desleal) 321º e ss.
(crime) e 331º e ss. (contra ordenação)

Proteção pelo registo – modalidades – 4º CUP e 12º CPI:


Nível nacional - CPI
Nível comunitário – Regulamento 6/2002
Nível internacional – CUP e TRIPS
Como não há referência ao registo (proteção máxima – 176º e ss. 184º e ss., 199º e
ss.)… 317º e ss. (Proteção mínima)
A concorrência desleal surge:
▪ Relações interprofissionais – art. 317º e 331º
o Cláusula geral – art. 317º nº1 - São atos de concorrência desleal atos
contrários às normas e usos honestos de ramo da atividade económica
o Há ilícitos especificados (“nomeadamente”):
• Atos de confusão;
• Atos de descrédito ou depreciação – Alguém funda a sua posição
concorrencial numa campanha difamatória do concorrente;
• Atos de aproveitamento de crédito, bom nome e reputação alheio
– Alguém utiliza o mérito de outrem;
• Atos enganosos (não confusórios).
o Há outros ilícitos que cabem na cláusula geral:
o Atos de apropriação direta dos resultados da atividade alheia
– Ex: pegar numa determinada peça e no seu molde e copiá-la,
fabricando-a em série.

76
o Concorrência parasitária – O concorrente B pode imitar o A, num
determinado produto, mas não sistematicamente. Tal pode
dificultar a conquista de mercado por parte de A.
o Incitamento à rutura contratual;
o Atos de obstrução;
o Aquisição de vantagem concorrencial mediante a violação de
normas – Supondo duas empresas em que A cumpre todas as
obrigações legais e B não cumpre nenhuma das regras. A estrutura
de recursos da empresa B é superior à de A, podendo recorrer a
mercados mais baratos. É uma questão que se discute em Portugal
há muitos anos, e tem sido a orientação negativa a prevalecer, ao
contrário do que ocorre em outros ordenamentos.
• Relações de consumo – CPub (5º, 14º e 16º)

Consequências – 321º e ss. (322º) e 331º.

3
Um grande fabricante e comerciante de tapetes (A) encomendou a um grupo de
bordadeiras de Arraiolos 20 exemplares de dois tapetes com uma decoração moderna e
apelativa, concebida por um dos seus desenhadores.
Um concorrente de A convenceu as bordadeiras a fazerem-lhe também 20 exemplares de
um deles, que colocou à venda nos EUA e exibiu numa feira em Xangai.
Quid iuris?
Ver CPI e Lei da Concorrência (que não se aplica).
1º - CPI
2º - Proteção qualificada – identificar modalidade de direito privativo:
• Sinais distintivos:
o Individuais - Marcas, logótipos, recompensas e firma
o Coletivos – Denominações de origem, marcas coletivas, indicações
geográficas
• Invenção ou inovação (criação intelectual):
o Técnica (patente, modelos de utilidade e semicondutores)

77
o Estética (desenhos e modelos) (= a exercício anterior)
• Há registo?
o Sim – Proteção qualificada
o Não – Proteção mínima – 317º e ss. (concorrência desleal) 321º e ss.
(crime) e 331º e ss. (contra ordenação)
200º - a proteção do cpi não preclude a proteção eventual pelo cdadc.
Como não há referência ao registo (proteção máxima – 176º e ss. 184º e ss., 199º e
ss.)… 317º e ss. (Proteção mínima)
A concorrência desleal surge:
▪ Relações interprofissionais – art. 317º e 331º
o Cláusula geral – art. 317º nº1 - São atos de concorrência desleal atos
contrários às normas e usos honestos de ramo da atividade económica
o Há ilícitos especificados (“nomeadamente”):
• Atos de confusão;
• Atos de descrédito ou depreciação – Alguém funda a sua posição
concorrencial numa campanha difamatória do concorrente;
• Atos de aproveitamento de crédito, bom nome e reputação alheio
– Alguém utiliza o mérito de outrem;
• Atos enganosos (não confusórios).
o Há outros ilícitos que cabem na cláusula geral:
o Atos de apropriação direta dos resultados da atividade alheia
– Ex: pegar numa determinada peça e no seu molde e copiá-la,
fabricando-a em série.
o Concorrência parasitária – O concorrente B pode imitar o A, num
determinado produto, mas não sistematicamente. Tal pode
dificultar a conquista de mercado por parte de A.
o Incitamento à rutura contratual;
o Atos de obstrução;
o Aquisição de vantagem concorrencial mediante a violação de
normas – Supondo duas empresas em que A cumpre todas as
obrigações legais e B não cumpre nenhuma das regras. A estrutura
de recursos da empresa B é superior à de A, podendo recorrer a
mercados mais baratos. É uma questão que se discute em Portugal

78
há muitos anos, e tem sido a orientação negativa a prevalecer, ao
contrário do que ocorre em outros ordenamentos.
• Relações de consumo – CPub (5º, 14º e 16º)

Consequências – 321º e ss. (322º) e 331º.

4
A empresa de colchões, almofadas e artigos (M) semelhantes fez registar em Portugal a
marca Molaflex e mais uma série de outras marcas todas com o elemento flex. As
empresas concorrentes B e C solicitaram em momentos diferentes o registo das seguintes
marcas: Flexsuper e Lusoflex.
O registo foi em ambos os casos contestado. Como pensa que os tribunais portugueses
decidiram os casos?

Primeiro, tratemos do plano das relações interprofissionais…

QUANTO À M (MARCA ORIGINAL)

1º - CPI
2º - Proteção qualificada – identificar modalidade de direito privativo:
• Sinais distintivos:
o Individuais - Marcas, logótipos, recompensas e firma
o Coletivos – Denominações de origem, marcas coletivas, indicações
geográficas
• Invenção ou inovação (criação intelectual):
o Técnica (patente, modelos de utilidade e semicondutores)
o Estética (desenhos e modelos) (= a exercício anterior)
• Há registo?
o Sim – Proteção qualificada
o Não – Proteção mínima – 317º e ss. (concorrência desleal) 321º e ss.
(crime) e 331º e ss. (contra ordenação)
1º - verificar requisitos da constituição da marca:

79
• Capacidade distintiva (222º e 223º) -OK
o Específicos
o Descritivos
o Genéricos
• Verdade (238º d)) -OK
• Licitude (238º) -OK
• Novidade/Especialidade (239º nº1 al. A)) -OK
2º - Direito ao registo da marca – 225º; Processo – 233º e ss. Modalidades de empresários:
• Industriais e fabricantes
• Comerciantes
• Agricultores e produtores
• Criadores ou artífices
• Prestadores de serviços
3º - Ausência de qualquer fundamento para recusa do registo – não há
4º - Direitos conferidos pelo registo – 224º:
• 31º e 32º (transmissão)
• 262º e 264º (transmissão)
• 236º e 237º (pedido e processo de registo)
• 338º-I (providência cautelar)
• 255º e ss. (efeitos do R) – nomeadamente, 258º (245º) – DIREITO DE AÇÃO.
5º - consequências da violação desse(s) direito(s):
• 321º e ss. (323º?) – responsabilidade civil e penal

QUANTO ÀS DUAS OUTRAS EMPRESAS (IMITADORAS)

1º - CPI
2º - Proteção qualificada – identificar modalidade de direito privativo:
• Sinais distintivos:
o Individuais - Marcas, logótipos, recompensas e firma
o Coletivos – Denominações de origem, marcas coletivas, indicações
geográficas
• Invenção ou inovação (criação intelectual):
o Técnica (patente, modelos de utilidade e semicondutores)

80
o Estética (desenhos e modelos) (= a exercício anterior)
• Há registo?
o Sim – Proteção qualificada
o Não – Proteção mínima – 317º e ss. (concorrência desleal) 321º e ss.
(crime) e 331º e ss. (contra ordenação)
o (Como não sabemos, teremos de abrir hipóteses)

1º - verificar requisitos da constituição da marca:


• Capacidade distintiva (222º e 223º): -OK
o Específicos – 223º nº1 c)
o Descritivos - 223º nº1 c)
o Genéricos - 223º nº1 c)
• Verdade (238º d)) -OK
• Licitude (238º) -OK
• Novidade/Especialidade (239º nº1 al. A)) – PODERÁ ESTAR VIOLADO –
haverá uma marca anterioremente registada? Sim. Haverá um serviço ou produto
idêntico ou afim? Sim, para além de serem produtos concorrentes, têm antureza
idêntica e finalidades iguais. Haverá risco de erro ou confusão?
o Atendendo ao tipo de consumidores (intermédios e finais)
o Atendendo ao grau de semelhança entre as marcas e entre os produtos
assinalados (mais ou menos semelhantes)
o Atendendo à força e notoriedade da marca registada (quanto maior
consoante a força da marca registada imitada)
2º - Direito ao registo da marca – 225º; Processo – 233º e ss. Modalidades de empresários:
• Industriais e fabricantes
• Comerciantes
• Agricultores e produtores
• Criadores ou artífices
• Prestadores de serviços
3º - Ausência de qualquer fundamento para recusa do registo – 238º e 239º - PARECE
HAVER – 239º Nº1 A) E 240º, 241º, 242º - ISTO OPERA QUER TENHA HAVIDO
REGISTO, QUER NÃO TENHA – POIS SE TIVER HAVIDO, ESTE SERÁ

81
ANULÁVEL NOS TERMOS DO 266º Nº1, E SE NÃO TIVER HAVIDO, DEVE SER
RECUSADO, NOS TERMOS DO 239º E DO 240º, 241º E 242º.
O conceito de imitação e usurpação do 245º também está preenchido, com todos os seus
requisitos cumulativos (nº1 a), b) e c)).

De seguida, tratemos do plano das relações de consumo…


Ver: CPub:
• 5º, 11º (SIM), 16º (SIM)

5
A empresa de perfumes A colocou à venda nas suas lojas uma gama de perfumes de baixo
preço, considerados iguais aos de uma marca reputada da empresa B, tendo os vendedores
uma tabela de correspondência que exibiam aos clientes numa zona reservada da loja,
quando estes mostravam interesse nisso.
Esta prática suscita algum problema?
(cfr. o caso L'Oréal v. Bellure, decidido pelo TJUE em 2009)

C-487/07 L’Oréal SA a.o. v Bellure NV a.o., judgment of 18 June 2009

The Court of Justice defines the conditions under which the owner of a trade mark may
prohibit a third party from making use of a sign identical or similar to that trade mark in
the context of comparative advertising. L’Oréal and certain other companies produce
and market fine fragrances and are proprietors of a number of well-known trade marks.
Malaika and Starion market in the United Kingdom imitations of those perfumes which
are produced by Bellure. The bottles and packaging used to market those imitations are
generally similar in appearance to those used by L’Oréal, which are protected by word
and figurative marks. In addition, Malaika and Starion use comparison lists, which are
provided to retailers, and which indicate the word mark of the fine fragrance of which
the perfume being marketed is an imitation. L’Oréal and the other companies involved
brought an action for counterfeiting before the High Court of Justice (England & Wales)
against Bellure, Malaika and Starion. The High Court of Justice referred to the Court of
Justice the question of the interpretation of certain provisions of Directive 89/104/EEC

82
on trade marks and Directive 84/450/EEC concerning misleading and comparative
advertising. As regards the use of packaging and bottles similar to those of the fragrances
marketed by L’Oréal, the Court rules that the owner of a well-known trade mark may
prohibit a third party from using a sign similar to that trade mark where that third party
seeks to ride on the coat-tails of the mark in order to benefit from the power of attraction,
the reputation and the prestige of that mark and to exploit, without paying any financial
compensation, the marketing effort expended by the proprietor of the mark in order to
create and maintain the mark’s image. By acting in that manner, the third party takes
unfair advantage of the trade mark, even where there is no likelihood of confusion or
detriment to the distinctive character or the repute of the mark. The existence of such
abuse of a similar sign must be examined in the light of a general assessment, taking
account in particular of the strength of the reputation and the degree of distinctive
character of the mark, the degree of similarity between the marks at issue and the nature
and degree of proximity of the goods concerned. In the present case, Malaika and Starion
obtained a commercial advantage from the fact that, in marketing their ‘downmarket’
imitations, they use packaging and bottles similar to those used by L’Oréal for its fine
fragrances. Moreover, the similarity was created intentionally in order to create an
association in the mind of the public with the aim of facilitating the marketing of the
products. In those circumstances, account must be taken of the fact that the use of
packaging and bottles similar to those of the fragrances that are being imitated is
intended to take advantage, for promotional purposes, of the distinctive character and
the repute of the marks under which those fragrances are marketed. Regarding the
comparison lists of perfumes, the Court notes that, unless the use by an advertiser, in
comparative advertising, of a sign identical or similar to the trade mark of a competitor
satisfies all the conditions of legality laid down in Directive 84/450/EEC, it may be
prohibited under Directive 89/104/EEC on trade marks. It observes, for the first time,
that under that directive the proprietor of the trade mark is entitled to prevent the use by
a third party of a sign identical with that mark even where such use is not capable of
jeopardising the essential function of the mark, which is to indicate the origin of the goods
or services, provided that such use affects or is liable to affect one of the other functions
of the mark, in particular the functions of communication, investment or advertising. The
Court then examines the question whether the comparison lists of perfumes satisfy the
condition of legality laid down in Directive 84/450/EEC prohibiting the advertiser from
stating, in the comparative advertising, that the product it is marketing is an imitation or

83
replica of the product or service bearing the trade mark. It observes that not only are
advertisements which explicitly evoke the idea of imitation or reproduction prohibited,
but also those which, having regard to their overall presentation and economic context,
are capable of implicitly communicating such an idea to the public at whom they are
directed. In the case at issue, the comparison lists in fact present the products marketed
by the advertiser as being imitations of products bearing a protected mark. The Court
finds that the advantage gained by the advertiser as a result of such unlawful comparative
advertising must be considered to be an ‘advantage taken unfairly’ of the reputation of
the mark, which is also contrary to the requirements laid down by Directive 84/450/EEC.

Primeiro, tratemos do plano das relações interprofissionais…

Quanto à marca B (marca de notória e de prestígio)

1º - CPI
2º - Proteção qualificada – identificar modalidade de direito privativo:
• Sinais distintivos:
o Individuais - Marcas, logótipos, recompensas e firma
o Coletivos – Denominações de origem, marcas coletivas, indicações
geográficas
• Invenção ou inovação (criação intelectual):
o Técnica (patente, modelos de utilidade e semicondutores)
o Estética (desenhos e modelos)
• Há registo?
o Sim – Proteção qualificada
o Não – Proteção mínima – 317º e ss. (concorrência desleal) 321º e ss.
(crime) e 331º e ss. (contra ordenação)
1º - verificar requisitos da constituição da marca:
• Capacidade distintiva (222º e 223º)
o Específicos
o Descritivos
o Genéricos

84
• Verdade (238º d))
• Licitude (238º)
• Novidade/Especialidade (239º nº1 al. A))
2º - Direito ao registo da marca – 225º; Processo – 233º e ss. Modalidades de empresários:
• Industriais e fabricantes
• Comerciantes
• Agricultores e produtores
• Criadores ou artífices
• Prestadores de serviços
3º - Ausência de qualquer fundamento para recusa do registo – 238º e 239º
4º - Direitos conferidos pelo registo – 224º:
• 31º e 32º (transmissão)
• 262º e 264º (transmissão)
• 236º e 237º (pedido e processo de registo)
• 338º-I (providência cautelar)
• 255º e ss. (efeitos do R) – nomeadamente, 258º (245º) – DIREITO DE AÇÃO.
5º - consequências da violação desse(s) direito(s):
Podem e devem ser accionados os meios de tutela:
• Administrativa – recusa ou anulabilidade do registo (239º, 241º, 242º, 266º - não
há hipótese de haver uso sério)
• Penal – 323º
• Civil – 338º - A-P – 316º)
• Complementar – 239º nº1 c) e 317º, via concorrência desleal (317º nº1 a), c),
outros, como a apropriação direta dos resultados de atividade alheia)

Quanto à marca A (marca de imitações)

1º - CPI
2º - Proteção qualificada – identificar modalidade de direito privativo:
• Sinais distintivos:
o Individuais - Marcas, logótipos, recompensas e firma
o Coletivos – Denominações de origem, marcas coletivas, indicações
geográficas

85
• Invenção ou inovação (criação intelectual):
o Técnica (patente, modelos de utilidade e semicondutores)
o Estética (desenhos e modelos)
• Há registo?
o Sim – Proteção qualificada
o Não – Proteção mínima – 317º e ss. (concorrência desleal) 321º e ss.
(crime) e 331º e ss. (contra ordenação)
• (Como não sabemos, teremos de abrir hipóteses)
1º - verificar requisitos da constituição da marca:
• Capacidade distintiva (222º e 223º):
o Específicos – 223º nº1 c)
o Descritivos - 223º nº1 c)
o Genéricos - 223º nº1 c)
• Verdade (238º d))
• Licitude (238º)
• Novidade/Especialidade (239º nº1 al. A)) – PODERÁ ESTAR VIOLADO –
haverá uma marca anterioremente registada? Sim. Haverá um serviço ou produto
idêntico ou afim? Sim, para além de serem produtos concorrentes, têm antureza
idêntica e finalidades iguais. Haverá risco de erro ou confusão?
o Atendendo ao tipo de consumidores (intermédios e finais)
o Atendendo ao grau de semelhança entre as marcas e entre os produtos
assinalados (mais ou menos semelhantes)
o Atendendo à força e notoriedade da marca registada (quanto maior
consoante a força da marca registada imitada)
2º - Direito ao registo da marca – 225º; Processo – 233º e ss. Modalidades de empresários:
• Industriais e fabricantes
• Comerciantes
• Agricultores e produtores
• Criadores ou artífices
• Prestadores de serviços
3º - Ausência de qualquer fundamento para recusa do registo – 238º e 239º - PARECE
HAVER – 239º Nº1 A) E 240º, 241º, 242º - ISTO OPERA QUER TENHA HAVIDO
REGISTO, QUER NÃO TENHA – POIS SE TIVER HAVIDO, ESTE SERÁ

86
ANULÁVEL NOS TERMOS DO 266º Nº1, E SE NÃO TIVER HAVIDO, DEVE SER
RECUSADO, NOS TERMOS DO 239º E DO 240º, 241º E 242º.
O conceito de imitação e usurpação do 245º também está preenchido, com todos os seus
requisitos cumulativos (nº1 a), b) e c)).

De seguida, tratemos do plano das relações de consumo…


Ver: CPub:
• 5º, 11º (SIM), 16º (SIM)
4º - Direitos conferidos pelo registo – 224º:
• 31º e 32º (transmissão)
• 262º e 264º (transmissão)
• 236º e 237º (pedido e processo de registo)
• 338º-I (providência cautelar)
• 255º e ss. (efeitos do R) – nomeadamente, 258º (245º) – DIREITO DE AÇÃO.
5º - consequências da violação desse(s) direito(s):
Podem e devem ser accionados os meios de tutela:
• Administrativa – recusa ou anulabilidade do registo (239º, 241º, 242º, 266º - não
há hipótese de haver uso sério)
• Penal – 323º
• Civil – 338º - A-P – 316º)
• Complementar – 239º nº1 c) e 317º, via concorrência desleal (317º nº1 a), c),
outros, como a apropriação direta dos resultados de atividade alheia)

6
A empresa A tem duas gamas de produtos que assinala com as marcas Z e V a primeira
das quais muito conhecida no Norte do país (Z). A empresa concorrente B tem gamas
semelhantes, que assinada com a marca Y, dotada de uma forte implantação no Sul do

87
país e nos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Dada a dificuldade de penetração da
marca V no mercado, A decidiu concentrar a atividade na gama de produtos da marca
Z, vendendo a V à B.
Este contrato suscita alguma objeção?

Transmissão da marca – 31º - 262º nº1.


Nem toda a doutrina admite que as marcas têm função de garantia de qualidade.

INSOLVÊNCIA

88
1
António, Bernardo e Carlos, gerentes da sociedade “Devedores e companhia Lda.”,
foram interpelados por Dionísio, trabalhador da sociedade, para procederem ao
pagamento de salários em atraso há mais de 6 meses dos 50 trabalhadores da sociedade.
Nessa data, Carlos constatou que:
(i) Bernardo, que tinha o pelouro financeiro da sociedade, não procedia ao
pagamento dos impostos da sociedade há mais de um ano e acabara de fugir para Espanha
com a sua mulher, levando boa parte dos saldos das contas bancárias;
(ii) António tinha escondido num armazém de uma propriedade sua no Alentejo
grande parte da maquinaria que deveria estar nas instalações fabris da sociedade;
(iii) O passivo da empresa há muito que havia superado o activo.

Pergunta-se:
a) O que poderá ou deverá fazer Carlos perante aquela situação?

1º - Estaremos perante um sujeito passivo de insolvência? 2º nº1 al. A) CIRE - SIM

2º - Haverá uma situação de insolvência? – 3º nº1 e nº2 – SIM (único pressuposto do


processo)

3º - Poderá Carlos requerer a declaração de insolvência? – 19º e 20º nº1 g) iii) – SIM
(legitimidade)

4º - Deverá Carlos requerer a declaração de insolvência? – 18º nº1 (nº3 e 20º g) iii)) –
SIM

5º - Como poderá Carlos fazê-lo? – 23º nº2 a) (Petição inicial) + 24º (elementos
necessários)

6º - Se Carlos não o fizer, a insolvência poderá considerar-se culposa (186º nº3 al. a) –
presunção ilidível de culpa)

b) Bernardo e António poderão vir a sofrer pessoalmente pelos factos que


praticaram?

89
Quando a insolvência é fortuita, não há nenhuma sanção aplicável ao devedor (por razões
de mercado – “limpeza” do mercado das empresas ineficientes). Se for culposa (foi o
devedor que se colocou naquela situação), tal pode ter relevância.

As cosequências pessoais dividem-se entre:

• Profissionais e Civis – 186º nº2 a) e b) e 189º nº2 c) e d) e e) CIRE

• Penais – 227º ou 228º CP

• Patrimoniais – Reversão da respondabilidade dos administradores

c) Suponha que Bernardo, dois anos antes, havia alienado parte substancial do
património da empresa a dois sobrinhos, ao primo e à sogra. O que poderá
suceder a estes negócios?

Requerida e declarada a insolvência, todos os bens do devedor são considerados – art.


46º. Supondo que o devedor um ano antes da insolvência tinha começado a dissipar os
bens e quando a empresa vem a ser declarada insolvente, já praticamente não tem bens.
Há um prazo em que os atos praticados ficam sob suspeita de terem sido prejudicais para
a situação de insolvência. Daí se prever a resolução em benefício da massa – arts. 120º e
sgts – que visa fazer regressar ao património do devedor os bens que foram dispostos no
período de suspeita (atos prejudicais à massa, praticados 2 anos antes do início do
processo e que o terceiro esteja de má fé).
Esta resolução tem efeitos retroativos (126º) e ai levar à reintegração dos bens na massa
insolvente, e se o terceiro estava de má-fé tiver um crédito quanto à massa, este será um
crédito subordinado (art. 8º).
Há também a resolução incondicional (art. 121º - 1ª via da hipótese), em que se dispensa
os pressupostos anteriores, em que os casos per si fazem com que opere esta resolução,
dado o caráter evidente da prejudicialidade.

90
A sociedade comercial Granja Amarela, S.A. (“GA”) já viveu melhores dias. O
empréstimo hipotecário a 20 anos que contratou com o Banco Hércules (“BH”) faz sentir
mensalmente o seu peso, bem como a pressão dos fornecedores, face ao constante atraso
nos pagamentos. O seu único activo é a herdade amarela, cujo potencial agrícola diminuiu
muitíssimo, após a construção de uma incineradora gigantesca, no terreno vizinho. Há
quem sugira que a herdade agrícola deixou de ter valor comercial…
Podem os credores da GA requerer a declaração de insolvência? Qual a ordem de
satisfação dos seguintes créditos: o crédito do BH; os honorários do Dr. Coelho, que foi
nomeado administrador da insolvência; o crédito da Sementes Ilíada, S.A. (“SI”), pela
venda de sementes de girassol à GA?

Podem os credores da GA requerer a declaração de insolvência?


1º . Há situação de insolvência – 3º nº2
2º - Dever de requerimento de apresentação da situação de insolvência – 18º
3º - Terão legitimidade os credores – 20º nº1 b) (ler a alínea bem) – não constando do 20º
g), parece ser uma presunção ilidível pelo devedor, fruto das dívidas ao:
• Banco Hécules; e aos
• Fornecedores
Qual a ordem de satisfação dos seguintes créditos:
• Crédito do BH – empréstimo hipotecário a 20 anos (47º nº4 al. A)) – créditos
sobre a insolvência.
• Honorários do Dr. Coelho – administrador de insolvência (60º e 51º nº1 al. B) –
crédito sobre a massa e ele é credor sobre a massa (46º nº1 – dívidas da massa são
pagas com precipuidade sobre as demais – 172º nº1)
• Créditos da Sementes Ilíada, S.A. – créditos comuns (fora do 47º), também não
são subordinados.
1º - Dr. Coelho (dívida da insolvência ou crédito sobre a massa)
2º - Banco Hércules (crédito sobre a insolvência – crédito garantindo)
3º - Sementes Ilíada, S.A. (crédito sobre a insolvência – crédito comum)
Ordem normal: garantidos, privilégiados, comuns, subordinados (172º - 184º)

91
A Luxury Hotels, S.A. é detentora de um hotel de 5 estrelas em Lisboa, tem 50
empregados e é dona do edifício onde está instalado o Hotel. A Luxury Hotels, S.A., em
2009, contraiu um financiamento junto do Banco Prime, S.A., tendo dado o referido
edifício em hipoteca para garantia do referido financiamento. Em Maio de 2011, a
Luxury Hotels, S.A. viu a sua situação financeira agravar-se, tendo o Banco proposto
uma reestruturação da dívida que passava, num primeiro momento, pela entrega do
edifício hipotecado ao Banco em dação em cumprimento para extinção do financiamento,
seguido, num segundo momento, da celebração entre o Banco e a Luxury Hotels, S.A.
de um contrato, a 15 anos, pelo qual a Luxury Hotels, S.A. ficava com o gozo do edifício
mediante o pagamento de uma renda anual vantajosa.
Supondo que em Janeiro de 2012, na sequência do agravamento da situação financeira,
foi declarada a insolvência da “Luxury Hotels, S.A.”, tendo um conjunto de
trabalhadores questionado o negócio celebrado entre o Banco Prime, S.A. e a Luxury
Hotels, S.A., nomeadamente por o mesmo ter privado o património da insolvente do
referido edifício, qual o meio jurídico adequado para que o negócio questionado pelos
trabalhadores possa ser posto em causa e por quem?

Requerida e declarada a insolvência, todos os bens do devedor são considerados – art.


46º. Supondo que o devedor um ano antes da insolvência tinha começado a dissipar os
bens. Quando a empresa vem a ser declarada insolvente, já praticamente não tem bens.
Há um prazo em que os atos praticados ficam sob suspeita de terem sido prejudicais para
a situação de insolvência. Daí se prever a resolução em benefício da massa – arts. 120º e
sgts – que visa fazer regressar ao património do devedor os bens que foram dispostos no
período de suspeita (atos prejudicais à massa, praticados 2 anos antes do início do
processo e que o terceiro esteja de má fé).
Esta resolução tem efeitos retroativos e ai levar à reintegração dos bens na massa
insolvente, e se o terceiro estava de má-fé tiver um crédito quanto á massa, este será um
crédito subordinado (art. 8º).
Há também a resolução incondicional (art. 121º), em que se dispensa os pressupostos
anteriores, em que os casos per si fazem com que opere esta resolução, dado o caráter
evidente da prejudicialidade.
Nos termos do artigo 125º, esta resolução pode ser impugnada.
No artigo 123º fala-se do prazo para a resolução em benefício da massa.

92
120º nº6 (outro caso é 122º). – não se aplica.
121º nº1 f) – aplica-se pela via do 120º nº3 (dispensa prazo)
3 pressupostos estão preenchidos? Má-fé? Debatível. Aceitando
que é…
Legitimidade – 123º - A doutrina debate se a competência é
exclusiva ou não do administrador de insolvência. Menezes Leitão
e a maioria da doutrina diz que sim (princípio do tratamento
igualitário dos credores), ainda que haja dúvidas, quando haja
constantes intimações de terceiros ao administrador de insolvência.
Atenção à articulação entre o 126º nº2 e 123º.
127º não se pode opor.

VER: 81º E SS.

4
Faça uma síntese das principais conclusões que se podem retirar dos Acórdão do STJ,
processo 3415/14.3TCLRS-C.L1.S1, de 21/6/2016 (RELATOR JÚLIO GOMES), e do
acórdão do proc. 3377/15.OT8STR.E1.S1, DE 21/6/2016 (RELATORA ANA PAULA
BOULAROT), disponíveis em www.dgsi.pt

93
Títulos de crédito e Valores Mobiliários

1. Felisberto é docente do secundário e está casado com Etelvina, que trabalha num
centro comercial a promover negócios de adesão a cartões de crédito de uma
conhecida Instituição bancária. Insatisfeitos com o que auferem, decidiram abrir
um restaurante, e Felisberto abandonou o ensino, aproveitando a oportunidade
oferecida pelo Estado português de «rescisões» amigáveis. Um amigo do casal,
Guido, que tem uma pequena exploração agrícola, fornece-lhes os bens
necessários à preparação das refeições, a pagar a 180 dias. Para desenvolver o
negócio, Felisberto contraiu crédito de 20.000 euros junto de um fornecedor
(Helder), tendo sido acordado que o reembolso seria feito a partir de 2 de
Dezembro de 2013. Felisberto e Helder combinaram que o negócio seria
acompanhado da emissão e subscrição de títulos de crédito em branco, pelo que
Felisberto entregou a Helder uma letra e uma livrança, autorizando-o a
preencher cada um dos títulos até ao valor máximo de 10.000 euros, e a apor
neles como data de vencimento em 3 dezembro de 2013. Helder, que entretanto
enfrentava dificuldades no seu negócio, em Setembro de 2013, preencheu a letra
por 15.000 euros e descontou-a no Banco do Fomento. Helder preencheu também
a livrança e endossou-a à sua prima Chiquinha, tendo ambos combinado que
iriam inserir o valor de 12.000 euros, com vista a poderem retirar algum proveito
de Felisberto. Chiquinha, com o título na sua posse, endossou-o a David, já que
assim liquidava a dívida que tinha para com ele pela emissão do certificado
energético da sua casa, que também se vencia em 3 de Dezembro de 2013.

Trata-se de uma letra, um título de crédito, com âmbito definido na LULL. O art.º 1 .º
refere-se aos requisitos. Se alguns destes estiverem por preencher, trata-se de uma letra
em branco – houve um preenchimento abusivo ou preenchimento não conforme com os
acordos de preenchimento.
• Letra em branco – há doutrina que diz que não basta sacar a letra e assiná-la, sendo
necessário haver um ato voluntário de colocar em circulação. Vemos essa intenção

94
através do acordo. Se não houver esse acordo, não há vontade de colocar em circulação.
Há o risco de dizer que ia preencher 10.000€, preencherem como se fosse 15.000€
(preenchimento abusivo) e irá ter de pagar isso.
• Letra incompleta – ex.: título de crédito sem preenchimento do valor, sendo a pessoa
desapossada desse título e sendo preenchido o valor por outra pessoa. Aqui, não há
vontade de colocar em circulação.
• Letra – é uma ordem de pagamento do sacador para o sacado. O sacador é o que faz o
saque – este exige que se pague algo a um terceiro (o portador) ou ao próprio sacador.
o Elementos do art.º 1.º:
 Palavra-letra – se não houver isto, não há acordo nem preenchimento que valha.
 Mandato puro e simples – ordem de pagamento.
 Época do pagamento – vencimento.
 Indicação do lugar.
 Nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser pago – beneficiário ou
tomador.
 Assinatura de quem passa a letra – sacador.
Não há assinatura do sacado, porque isso consubstancia a aceitação. Só
depois de aceitar é que o sacado fica obrigado.
Relação triangular entre sacador, sacado (a partir do aceite, torna-se aceitante e
fica obrigado) e beneficiário (que pode ser outrem, um 3.º, ou o próprio sacador).
 O sacador aqui é H. O sacado é F. O beneficiário é o E.
 O banco passa a ser o portador, sendo ele que pode exigir ao F, sacado e
aceitante, o pagamento do montante que está na letra.
 O sacador pode ficar como:
• Garante da ordem que deu. Isto porque, quando endossa ao banco, diz
que deu a F e ele vai cumprir, dando isso como garantia do pagamento da sua
dívida.
• O endosso pode ser feito até ao momento da apresentação a pagamento
ou no vencimento. 20º a contrario
• Se a letra já tiver sido protestada, ainda pode ser feito o endosso? 20º
O desconto bancário é uma operação de banco, mas consubstancia-se num endosso a
favor do banco. O banco passa a ser o portador da letra. Na prática, H endossou a letra ao
banco. Admitindo que a letra valia 15.0000€. H recebe esse valor? Não, recebe menos.

95
Recebe 15.000€ menos a taxa que o banco lhe vai cobrar. Essa diferença que não vai
receber é o preço que vai pagar por receber o dinheiro de modo antecipado. É o preço do
serviço do banco (comissão de antecipação, taxas de descontos por serviços bancários).
O banco fica com a letra. Vai a F e pede que lhe pague os 15.000€. É portador legítimo,
nos termos do art.º 16.º. A DOUTRINA entende que a série ininterrupta de endossos se
trata de verificar que há assinaturas das pessoas a quem é endossado (não tem de se
verificar a veracidade da assinatura).
O endosso em branco é aquele que não tem o nome da pessoa a quem foi endossado – o
portador daquela altura assina, sem dizer quem é a pessoa a quem será feito o endosso.
Ou seja, nestas situações, presume-se que é o titular legítimo quem tem a letra na mão no
momento – funciona como um título ao portador. Depois o único risco é o de
preenchimento abusivo.
Neste caso, acordaram que a letra era de 10.000€ e H preencheu por 15.000€, havendo
um preenchimento abusivo.
• Como o banco estava de boa-fé, poderia opor ao sacado esse montante mais
elevado.
o Pelo art.º 10.º, F poderia opor ao banco o preenchimento abusivo da letra.
Mas só se o banco estivesse de má-fé é que poderia opor isso a F – ou seja, teria
de haver dolo ou negligência grave. Aqui, nada nos indica que seja o caso.
o A JURISPRUDÊNCIA (ACÓRDÃO STJ DE 20/10/2015) tem
entendido que, quando há preenchimento abusivo, a sua oponibilidade tem de ser
dividida em:
 Quando o portador que exige o pagamento é o inicial – não há
forma de dizer que não está de má-fé, porque fazia parte do acordo. •
Logo, aqui, F poderia opor o excesso.
 Quando o portador não é o inicial – temos de ver em que termos
recebeu a letra.
• Se recebeu a letra já preenchida pelo portador inicial –
em princípio estará de boa-fé, não lhe sendo oponível este
preenchimento abusivo.
o Só será oponível se o sacado/aceitante conseguir provar
que este tinha ou deveria ter conhecimento do preenchimento
abusivo.

96
• F poderia intentar contra H uma ação de responsabilidade civil contratual.
o Aciona H por 5.000€, não pelos 15.000€. Aciona pelo excesso. O
preenchimento abusivo não exclui o sacado de pagar os 10.000€. Logo, neste caso
concreto, F poderia reagir contra H da forma referida, já que o portador na altura
era o banco e não o inicial, tendo já recebido a letra preenchida pelo portador
inicial.

• Livrança – É uma promessa de pagamento, emitida pelo devedor na relação


abusiva (arts.º 75.º e ss. LULL). É o subscritor. Aqui, já não temos uma relação
triangular.
o Art.º 77.º diz que é aplicável o art.º 10.º sobre a letra em branco.
o Conluio entre H e C, conhecendo-se.
 F pode opor a C o pagamento por preenchimento
abusivo, não tendo de pagar.
o D estaria de boa-fé, pelos dados da hipótese.
 D pode pedir os 12.000€ a F.
 Se fosse C, não podia. F podia dizer que não pagava e
invocar preenchimento abusivo.
 Se D pedir a F o pagamento dos 12.000€ e F recusar,
pode D pedir o pagamento da quantia a mais alguém? Sim, a C,
por ser endossante, assim como H. Os endossantes são sempre
garantes dos endossatários posteriores a eles, a menos que exista
uma cláusula não à ordem que proiba o endosso a partir daí (deixa
de se responsabilizar pelos endossos daí para a frente).
 Logo, D pode pedir a F, C e H.
o F pode reagir contra C e H
EVARISTO MENDES entende que o título de crédito só nasce quando é todo preenchido.
Se for de acordo com o acordo de cumprimento, é válido; senão, não nasceu bem. Por
isso é que entende que será sempre oponível por preenchimento abusivo.

97
2. ARMINDO, cartoonista de profissão, casado com BELA, comerciante de cristais
decorativos, ilustrou em co-autoria com CRISTINA, escritora, um livro de anedotas.
Querendo publicá-lo, os dois autores acordaram com a sociedade “Charlie, Lda” a
edição de 500 exemplares, tendo ficado combinado que eles suportariam todos os custos
relativos à produção e à distribuição do livro, no montante de € 8 000, a pagar na data
da edição. Para garantir o compromisso, ARMINDO e CRISTINA firmaram uma
livrança, avalizada por BELA, sem indicação do beneficiário, com a data de vencimento
por preencher. Admitindo que, antes de a edição estar concluída, a editora preencheu e
descontou a livrança num banco, apondo nela uma data de vencimento a 3 meses da data
(altura em que previra terminar a edição), por necessitar de liquidez para satisfazer
compromissos urgentes, refira:

a) Quem é hoje o portador do título de crédito? Identifique e descreva a relação


subjacente à aquisição da livrança pelo actual portador.

Trata-se de uma livrança – uma promessa de pagamento. É aplicável o regime da letra


com as devidas adaptações.
Há falta de um requisito essencial: indicação do beneficiário. Nos termos do art.º 76.º, a
livrança não produz efeitos como livrança, podendo ser outra coisa qualquer, mas não
existindo aqui uma relação cambiária.
A DOUTRINA entende que não existe livrança ao portador, que seria o que aconteceria
quando se fizesse título de crédito sem identificação do beneficiário (ainda que, mais à
frente, haja endosso em branco). Entendem que o campo pode não estar preenchido, mas
ser válida como letra ou livrança em branco, havendo acordo para o preenchimento.
Entendem que os elementos essencialíssimos para que possam existir letras ou livranças
em branco válidas são:
• Palavra-letra;
• Assinatura do subscritor ou sacador;
• Acordo de preenchimento.
O portador do título de crédito é o banco, por força da transmissão da livrança via
endosso, por força dos arts.º 11.º e ss. e 16.º e ss. da LULL. Assim, haverá um desconto
bancário (relação subjacente).

98
b) Caso a livrança não seja paga no vencimento, o que pode o portador fazer?

Há vários tipos de vencimento que a letra ou livrança podem ter (4 tipos, em concreto –
art.º 33.º LULL). Tendo a data de vencimento ficado por preencher, mas dizendo a
hipótese que havia uma data de vencimento a 3 meses da data, seria um vencimento a
certo termo de data, por ser um termo depois de uma data (3 meses depois de uma
determinada data).
Como é que funciona a apresentação da letra a pagamento? Pode ser apresentada no dia
do vencimento ou nos 2 dias úteis seguintes – art.º 38.º.
Ocorrendo uma recusa de pagamento pelo obrigado (art.º 78.º - co-subscritores; aqui, A
e C), a livrança entra na fase de regresso, tendo requisitos:
1. Apresentação pontual a pagamento (tem de se apresentar a pagamento dentro de prazo);
2. Recusa de pagamento pelo obrigado;
3. Lavrar protesto, dentro do prazo (art.º 44.º).
• Prazo de 2 dias úteis seguintes aos dias em que a letra é pagável.
o Ex.: A letra vence-se 2.ª feira. Nos termos do art.º 38.º, temos o dia do
vencimento mais dois dias úteis. Logo, o prazo para lavrar o protesto é 5.ª e 6.ª, podendo
fazer-se até esse último dia. 3 + 2 dias = 5 dias.
NOTA: Em bom rigor, não é bem assim que funciona. Entende-se que pagável é
a data de vencimento, pelo que o prazo para lavrar o protesto será o mesmo prazo do art.º
38.º, os 3 dias iniciais (pelo que seria na 4.ª feira). O problema é que se se deixar até ao
último momento do último dia pode ocorrer que já não haja um notário disponível.
Há DOUTRINA que entende que, para letras com circulação exclusivamente
nacional, poderá ser feita a interpretação mais extensiva, dos 5 dias.
• O banco poderia protestar a falta de pagamento, constituindo-se um direito sobre
os subscritores. Remissão do art.º 77.º.
• Pode accionar todos eles e solidariamente e individualmente, pelos arts.º 47.º e
48.º (o sacador, o sacado, avalistas e endossantes anteriores).
Ou seja, o que pode o portador fazer? Tem de fazer todos estes passos bem para entrar
em fase de regresso e depois pede ao sacado, se não pagar, o pagamento da letra e juros
e despesas (art.º 48.º) – a quantia que está na letra, juros de mora e despesas (ex.: despesas
para fazer o protesto).

99
Ex.: Um endossante paga. O que é que depois pode fazer? Exigir aos outros o direito de
regresso – art.º 49.º. Despesas que tiver feito por causa daquele pagamento que teve de
fazer.
O art.º 45.º prevê obrigação de avisos – quando se vai ao notário lavrar o protesto, em
regra, levam-se estas cartas de avisos. A falta de aviso tem como consequência a eventual
responsabilidade civil, mas mantêm-se os direitos.
O art.º 52.º refere-se ao direito de ressaque.

c) Supondo que CRISTINA paga a livrança ao portador, que direitos lhe assistem
contra ARMINDO?

C é uma subscritora. No final dos ciclos, vai sempre dar ao subscritor ou ao aceitante,
alguém terá sempre que pagar no fim.
Depois resolve-se pela relação material subjacente.
• A subscrição de uma livrança é um ato de comércio formal. É uma obrigação comercial.
O art.º 100.º do CCom determina que haverá solidariedade quando estejam em causa
comerciantes. Mas se praticarem um ato de comércio mas não forem comerciantes,
aplica-se? É solidário? A solidariedade do art.º 47.º determina que são todos
solidariamente responsáveis para com o portador. Em bom rigor, o 1.º obrigado é o
aceitante ou subscritor e não o endossante – é neste sentido que se utiliza a solidariedade
imprópria. O aceitante ou o subscritor serão solidários entre si.
Necessidade de protesto para demandar o avalista.

d) E se o pagamento for feito por BELA?

Significaria que os obrigados da livrança não pagaram e nesse sentido, pelo direito de
regresso, a responsabilidade seria de B, de acordo com o art. 47º, mediante verificação
dos pressupostos. Deve-se discutir a necessidade de protesto ou não. A prof. Fátima
Gomes defende o tratamento unitário do regime do aval.
Bela deu o seu aval a A e C. A editora é o beneficiário.
Se ela pagar, é sub-rogada nos direitos emergentes do título – art. 32º (3ª parte) e 49º. Se
houver protesto há lugar ao pagamento das despesas do mesmo.

100
Será que o avalista pode invocar a violação do acordo de preenchimento? Parte da
jurisprudência tem entendido que quando o avalista é parte do acordo, será possível a
invocação da violação. O problema coloca-se ao nível da prova, porque o avalista terá de
provar que é parte e que o preenchimento foi abusivo.

e) Explique em que consiste o aval, em favor de quem ele é dado e a sua diferença
face à fiança.

O aval é o ato pelo qual, mediante assinatura aposta na letra, uma pessoa se constitui, em
favor de determinado subscritor da letra (sacador, sacado e endossante), garante o seu
pagamento, nos termos do art. 30º/1. Visa garantir o pontual pagamento da letra pelo
sacado. Na falta e verificação do resultado, mediante protesto (fazer prova de que não foi
paga a letra em tempo, havendo recusa), o avalista fica obrigado a pagar a quantia
indicada na letra. A responsabilidade do avalista está dependente da constituição em favor
do portador de uma relação obrigacional de regresso. É uma garantia pessoal cambiária
(só incide sobre dívidas cambiárias, ao contrário da fiança). É também autónomo face à
obrigação.
A doutrina e a jurisprudência dominantes têm defendido a desnecessidade de protesto,
com base no art. 32º/1, reconduzindo o aval a uma fiança, sendo uma garantia acessória
do crédito.
A fiança é acessória da obrigação principal. O fiador goza em princípio do benefício da
excussão prévia, exceto se for uma obrigação comercial (art. 101º).

f) Se, em vez de uma livrança, fosse uma letra, sacada por Charlie, Lda e aceite por
ARMINDO e CRISTINA, com aval de BELA, sem indicação do avalizado, a
resposta d) seria igual?

O sacador neste caso será Charlie, e os sacados são Armindo e Cristina. Se há um aval
sem indicação, presume-se que pertence ao sacador (no caso da livrança seria do
subscritor - art. 77º).

2. AXL, Lda, titular de uma empresa de confeções, encomendou à ZCK, SA 6 rolos


de fio de algodão egípcio, com pagamento a 90 dias, no valor de 50 000 euros.
Para representação do negócio, a Z sacou sobre A uma letra de câmbio neste valor,

101
com vencimento a 90 dias da data. A letra foi aceite e descontada no banco XLI,
SA. No momento do vencimento, A não pagou, porque o fio tinha defeito,
partindo facilmente e não permitindo que o tecido ficasse completamente liso.
Quid iuris?
Caindo a letra no regresso, qual a taxa de juros moratórios aplicável?

As letras são títulos de crédito abstrato, pelo que o que serve de título económico à ordem
de pagamento é o direito de crédito (que justifica a ordem de pagamento e que a mesma
seja aceite). Se o negócio constitutivo do direito de crédito, estiver por algum motivo
viciado, tal é irrelevante, porque o saque é válido, independentemente da existência de
causa ou não, o que demonstra que este título é abstrato. A lei Uniforme não referencia
isto em parte nenhuma, mas a lei relativa ao cheque, afirma no art. 3º que a validade do
mesmo não é afetado.
Quanto aos juros, há que distinguir entre juros remuneratórios (art. 5º da LULL) e
moratórios (art. 48º). A letra é devida. Em caso de cumprimento tardio, a lei impõe o
pagamento de juros de mora, solução acolhida no art. 48º da LULL, que fixa uma taxa de
juro de 6%. Porém o artigo remete para a portaria de 2013, pelo que nas letras e livranças
pode-se aplicar taxas de 7-8%. Tal justificava-se pelo facto de que se devia considerar
estas normas revogadas, porque a norma do art. 48º era de 1934 e havia taxas atuais
superiores. Para além disso, a convenção europeia (?) que dispôs sobre isto afirma que os
EM poderiam optar, sendo que Portugal optou pela segunda vertente.
O prof. Acha que para o comum das letras se aplica a taxa geral, mas suscita a questão de
saber se não se aplica a taxa do art. 102º/3 do Código Comercial.
A jurisprudência diverge quanto a este tema.
O art. 52º confere um direito de ressaque, que é uma faculdade atribuída ao portador a
quem a letra não foi paga pontualmente de emitir uma nova letra sobre o obrigado da letra
não paga e protestada.

3. Abc, Lda celebrou com o banco X, SA um contrato de abertura de crédito até 200
000 euros em conta corrente e com cláusula de revolving. Para reforçar a sua
posição credora, o banco solicitou à A uma livrança em branco, avalizada pelos
três sócios, que lhe foi entregue. Passados dois anos, quando a dívida da sociedade
se elevava a 100 000 euros, o sócio B comunicou ao banco a cessão da sua quota
aos outros sócios, solicitando que o seu nome fosse riscado da livrança. O banco

102
não respondeu a B, mas solicitou à sociedade um reforço da garantia, sob pena de
não lhe conceder mais crédito. Os sócios deram-lhe em penhor a quota que era do
cedente. Passados mais três anos, a situação económico-financeira da sociedade
deteriorouse e ela não pagou uma parte do crédito utilizado, que ascendia agora a
190 000 euros. Em face disso, o banco preencheu a livrança por 205 000 euros
(incorporando nela os juros convencionados) e apresentou-a a pagamento. Não
tendo ela sido paga, propôs ação executiva contra todos os subscritores, incluindo
o ex-sócio.
Quid iuris?

Neste caso, coloca-se a questão de saber se o sócio pode ser avalista ou não, apesar de já
não se encontrar na sociedade.
À luz do princípio da independência e autonomia do próprio aval, o que ocorreu foi a
cessação da sua quota, mas continuou sempre a ser arte do aval prestado. Por isso, o banco
ao intentar a ação executiva, o sócio pode ser responsável também.
Acórdão de Uniformização de 4/2013 – Diz que tendo o aval sido prestado de forma
irrestrita e ilimitada, não é admissível a recusa do seu avalista, na sociedade enderençada,
ainda que a sua participação social tenha cessado. Este acórdão foi criticado pela doutrina.
O prof. Evaristo defende que o sócio que avaliza não vai ao encontro da figura tradicional
do aval da LULL, devendo ser responsabilizado pelo montante existente no momento em
que sai da sociedade e comunica a cessação da sua quota.

4. Sentido que estava próximo da morte, A doou a um de três filhos, B, um lote de


ações tituladas nominativas de uma sociedade da qual B era administrador,
assinando um documento nesse sentido, informando-o de que os títulos estavam
depositados no banco Z. Falecido o A, os irmãos de B incluíram as ações na
partilha, por considerarem que elas não estavam «endossadas» a favor deste e
portanto o papel que ele exibia não tinha valor.
Quid iuris?

Preenche o âmbito de aplicação formal do Código, porque se tratam de ações, e material


(art. 2º)
Nos valores mobiliários nominativos o emitente tem a faculdade de conhecer a todo o
tempo a identidade dos titulares – art. 52º/1 CVM. Já não existem ações ao portador.

103
Neste caso, como estamos perante uma ação titulada, a mesma não se encontrará num
sistema centralizado (não se aplica o art. 105º). De acordo com o art. 102º, os valores
titulados transmitem-se por declaração de transmissão, escrita no título (endosso), a favor
do transmissário, seguida de registo, junto do emitente (Sociedade) ou do intermediário
financeiro. Portanto, se o documento não tiver sido registado, não teria qualquer valor
(art. 102º/5). Aqui havia uma declaração de transmissão a favor do transmissário, mas
nada indica que tenha havido registo, que é requisito constitutivo. Assim sendo, as
pretensões dos irmãos não podem proceder. Não há nenhuma forma legal exigida, porque
o interesse é de agilizar o comércio.
Pode ocorrer uma transmissão por morte, nos termos do art. 102º/3, o que não terá
ocorrido neste caso.

CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO

104
1. Diana está convicta de ter descoberto a pólvora. Uma pequena pastelaria em
Chaves faz umas deliciosas empadas de perdiz, totalmente desconhecidas em
Lisboa. Diana comprometeu-se perante a Empada Transmontana, Lda (“ET”) a
encontrar restaurantes e pastelarias em Lisboa, assim como boas charcutarias que
comprem as deliciosas empadas. Em contrapartida, a ET partilhará com Diana 10% do
valor faturado em Lisboa. Mal Diana começou a sua atividade, o sucesso foi estrondoso.
Ao ponto de, duas semanas volvidas, aET deixar de atender os telefonemas de Diana, ou
fornecer dados precisos sobre os transportes de empadas. A ET tinha contratado uma
outra entidade, com mais recursos humanos e técnicos, para conquistar os mercados
nacionais e internacionais e não quer saber mais da nossa amiga.

Diana está desolada. Não formara ainda uma clientela estável para a ET, mas investira
muito nesta nova atividade: um arrendamento no centro de Lisboa, um computador,
cartões-de-visita, entre outros dispêndios. Menos mal que continua a conduzir o belíssimo
carro que a ET lhe emprestara, para visitar clientes.

Quid iuris?

Enquadrando na matéria dos contratos de distribuição, será um contrato de agência, na


medida em que o art.º 1.º do DL n.º 178/86 se enquadra nesta configuração de contrato.

Quais os traços essenciais do contrato de agência? Às vezes entre a agência, a


concessão e a franquia não é clara a distinção, pelo que assim é mais fácil de distinguir.

1. O agente tem autonomia, pelo que difere do contrato de trabalho.


2. É um contrato estável.
3. Oneroso, mediante retribuição.
4. Promoção por conta da outra parte e no seu interesse, da celebração dos
negócios. O agente pode ter ou não poder para celebrar esses contratos, ou
seja, pode ou não ter poderes de representação, dependendo de o principal
lhos conferir ou não.
5. Pode haver limitação geográfica.

A remuneração está regulada nos arts.º 16.º e 18.º do DL.

O art.º 4.º refere-se ao agente exclusivo – depende do acordo escrito das partes que haja
uma exclusividade a favor do agente. Na hipótese nada é referido em termos de claúsula
de exclusividade entre ET e D, pelo que a ET poderia contratar com outra sociedade.

Violação dos direitos da agente, D, ao não lhe atenderem as chamadas e não permitindo
a venda das restantes empadas – art.º 13.º.

105
Houve alguma cessação do contrato? O art.º 27.º determina convenção do prazo do
contrato; não havendo informação, será por tempo indeterminado. Não foi por
caducidade, porque é por tempo indeterminado, nem é por acordo. A denúncia tem de ser
feita por escrito e com aviso prévio. Aqui, não houve nenhum ato unilateral por escrito
por parte da ET nem por parte de D. Fundamento para D resolver o contrato, pela violação
das obrigações do art.º 13.º e pelo art.º 30.º/al.a), por incumprimento de obrigações.
Indemnização pela resolução.

Quanto à indemnização de clientela, não estão presentes todos os requisitos, não se


aplicando o art.º 33.º, já que se diz que D ainda não tinha clientela fixa.

Despesas do computador e arrendamento do prédio: não pode ser ressarcida, pelo art.º
20.º. Pelo art.º 36.º, D terá de restituir o carro, mas pode fazê-lo apenas depois do
pagamento do que lhe é devido, podendo exercer direito de retenção, pelo art.º 35.º.

2. SUZANA, TAMARA E URSULA combinaram entre si desenvolver um


negócio de criação e comercialização de um colar, a que atribuíram a
marca “STU”, a qual registaram imediatamente. O colar seria produzido, segundo
as indicações das três amigas, pela titular de uma fábrica de ornamentos, a ABC,
Lda.

Considerando o sucesso da peça, em Portugal, as três amigas pensaram em


internacionalizar a sua empresa.

Nesse sentido, SUZANA fez um périplo pela Europa à procura do local ideal,
identificado no Luxemburgo. Passados alguns meses depois de se instalar por
lá, SUZANAreconsiderou a sua participação no negócio e decidiu dedicar-se ao
lazer apenas.

SUZANA, TAMARA E URSULA, confrontadas com a decisão


de SUZANA, decidiram vender o seu negócio a VANESSA, que assumiu o
encargo de pagar as dívidas vencidas (100.000,00 euros) e vincendas (50.000,00
euros), no prazo de 1 ano.

Decorrido o prazo combinado, continuam por regularizar 75.000,00 de dívida a


um único fornecedor, ARMANDO.

106
A venda a V foi venda de participações sociais, pelo art.º 463.º/5? Vendem que
sociedade? A STU não é uma sociedade, é uma marca. Aliás, quando se diz que decidiram
vender o negócio, a primeira coisa em que se pensa é num trespasse. Para ser venda de
participações sociais, teria que haver venda de quotas, ações, da participação numa
sociedade, etc.

Entretanto, SUZANA arrependeu-se da sua decisão e resolveu criar no


Luxemburgo uma nova empresa dedicada à criação e comercialização de
pulseiras, sob a marca “SuzLUX”.

Tendo em conta a experiência adquirida com o negócio anteriormente exercido


com as suas amigas, SUZANA, conseguiu colocar as suas pulseiras à venda junto
das lojas onde anteriormente se vendiam os colares “STU”. Ao mesmo
tempo, SUZANA mandou fazer uma página de publicidade online, igual à usada
pela VANESSA.

Questão da obrigação tácita de não concorrência. Há princípio de liberdade e iniciativa


económica, mas temos de ver que também existe o princípio da boa-fé. O alienante não
pode prejudicar o negócio do trespassário. Mas aqui não há qualquer prejuízo, não
havendo violação do princípio da não concorrência, até porque os produtos vendidos são
diferentes.

Simultaneamente, SUZANA celebrou um contrato com a XY, SA, com vista à


comercialização das pulseiras no mercado norte-americano. O contrato foi
celebrado oralmente de acordo com as seguintes condições: obrigação de comprar
500 pulseiras por ano; obrigação de revender as pulseiras no mercado escolhido,
de acordo com um plano de marketing definido e revisto pela SUZANA, e com
os custos repartidos entre SUZANA e a XY, SA; direito de revenda das pulseiras
com caráter de exclusividade pela XY, SA.

i. Caracterize o contrato celebrado entre SUZANA, e a XY, SA.

Contrato de concessão comercial. Obrigação de compra para revenda – o concessionário


assume um risco, de não conseguir depois vender os produtos e ter de ficar com o
material; logo, o concessionário tem um risco maior. Atua de acordo com as orientações
que lhe são dadas pelo concedente. S, concedente, fixa com um distribuidor, a XY, S.A., a
venda de produtos, sob determinadas condições. O concessionário tem obrigação de
revender (aqui, as 500 pulseiras por ano), assumindo o risco da mesma.

107
Tenderíamos a dizer que é contrato de concessão comercial, sendo seus elementos
típicos:

1. O concessionário tem obrigação de comprar e o concedente tem obrigação de


vender os produtos ao concessionário.
2. O concessionário assume o risco, com a obrigação de comprar ao concedente.
3. O concessionário atua em nome próprio e no seu próprio interesse.
1. O agente, na agência, promove ou aumenta clientela ou volume de
negócios para interesse do principal – os negócios celebrados na
sequência da atuação do agente são do principal. Atua em nome e no
interesse do principal.
4. A remuneração do concessionário é o lucro que tem com a venda dos
produtos, que entretanto comprou ao principal.
1. A remuneração típica do agente é uma comissão sobre o volume de
vendas ou a clientela angariada.
5. Há uma relação estável entre o concessionário e o concedente? Sim. Há um
contrato de concessão, que é um contrato-quadro, e depois são feitos várias
compras e vendas de produtos.
6. Em relação à autonomia do concessionário, é total? Não, o concedente pode
fixar um quadro de atuação e determinar vários critérios. O concessionário
tem uma autonomia jurídica e económica, mas é relativa. Está integrado na
rede do concedente, podendo ter de concertar promoções com ele, a imagem
que usa é a dele, etc.

Porque é que não é um contrato de franquia? Sendo que S tem sutonomia para definir
a sua estratégia de marketing, no contrato de franquia isso não ocorreria; o plano de
estratégia de mercado teria de ser definido pelo franqueador. Mais ainda, há uma
obrigação de comprar x pulseiras por ano. Mas poderia ser confundido com uma franquia
de distribuição, que compra produtos e revende (ex.: caso da Bennetton).

Regime legal aplicável ao contrato de concessão:

1. Vontade das partes;


2. Na falta disso, por analogia, se ela existir, o regime do contrato de agência
(incluindo, nomeadamente, a indemnização de clientela).
1. Mas a questão dos stocks, p.e., não é resolvida pelo contrato de
agência, porque neste não há stocks – o agente não se obriga a
comprar nada ao principal; vende diretamente aos clientes.

ii. Admita agora que SUZANA não está satisfeita com a promoção das suas
pulseiras no mercado norte-americano, devido ao mau desempenho da XY, SA, e
pretende dar por terminado de imediato o contrato celebrado.

108
a) Acha que a XY, SA tem algum fundamento para reclamar uma
indemnização?

Questiona-se se aos contratos de concessão são aplicáveis as regras de indemnização do


contrato de agência, por analogia. Este regime está contido na Lei do Contrato de
Agência.

Indemnização de clientela: NOTA: Acaba por não ser verdadeiramente uma


indemnização, mas sim uma recompensação, uma retribuição para o futuro. Pode ser
cumulada, em determinadas situações, com a indemnização nos termos gerais.

Tem como pressupostos:

1. Que o distribuidor tenha aumentado a clientela ou o volume de negócios, com


um esforço efetivo da sua parte (que tenha angariado novos clientes ou
aumentado o volume de negócios):
1. Isto não se verifica no contrato de concessão, já que o
concessionário tem a sua própria clientela, porque estabelecem
relações diretas com os consumidores finais.
2. Que o principal venha a beneficiar deles consideravelmente, depois da
cessação do contrato:
1. Existe um juízo de prógnose e o juiz deve concluir, para determinar
esta indemnização, que o principal ou o concedente beneficiam
deles, depois da cessação do contrato.
3. Que o distribuidor deixa de receber a retribuição por esses contratos;
4. Que o contrato não tenha terminado por causa imputável ao agente.

Há 3 posições doutrinárias sobre este tema, da possibilidade de aplicação analógica deste


regime:

1. Tese que não admite, por ser norma excecional, o que não permite a sua
aplicação analógica.
2. Tese que admite que basta que haja estas características essenciais nestes
contratos, dizendo os presupostos da analogia, para se considerar que pode
haver aplicação à concessão e à franquia a indemnização, por analogia iuris,
sempre que se verificassem estes pressupostos. Criação de regras que seriam
as que o legislador teria criado, dentro do espírito do sistema.
3. Tese intermédia e maioritária – tem de ser uma analogia legis, ou seja, tem de
se verificar caso a caso se estão verificados os pressupostos da indemnização
para o contrato de concessão ou de franquia. Aplicação de normas com a
mesma razão de decidir (ratio decidendi).

Em princípio, não terá direito, até porque no enunciado se refere que terá havido um mau
desempenho do concessionário, logo, não terá contribuído para aumentar a clientela.

109
Pode haver indemnização nos termos gerais? Se, por alguma razão, S resolver ou deixar
de cumprir o contrato, causando danos à XY, pode haver uma indemnização dos termos
gerais.

b) E Pode a XY, SA, exigir a SUZANA que lhe recompre todas as pulseiras
detidas em stock que não possam ser vendidas depois do termo do contrato?

Por regra, o concessionário assume um risco de mercado, podendo não conseguir


revender todos os produtos que comprou ao concedente. O problema coloca-se quando o
concessionário fica com os bens em stock, acabando o contrato sem conseguir escoar
todos os produtos.

Porque é que o concessionário não pode vender os bens que ficam em stock? Os
produtos são dele, estã em seu nome; quando o consumidor compra bens com ele,
compra-os a ele. Deixa de poder representar a marca e vender os bens, por cessação do
contrato.

NOTA: Há acórdãos que consideram que há obrigação de retoma do stock – o que


significa é que o concedente retoma os bens e devolve o dinheiro ao concessionário.
Entende-se, em aguma jurisprudência, que isto só ocorre quando o contrato tenha cessado
por causa imputável ao concedente. Há vários entendimentos, já que a questão não surge
regulada juridicamente (não há nenhum regime do contrato de agência que possa ser
aplicado analogicamente) e difere em relação à sensibilidade do juiz a quem o caso é
apresentado.

Há 3 possibibilidades:

1. A resposta mais evidente seria a da perda dos valores dos stocks, porque o
concessionário perdeu a possibilidade de representar o concedente; seria ainda
mais lógico quando o fim do contrato se deve a causa imputável ao
concessionário. Aí o concessionário assume totalmente a perda do stock.
2. Nos casos em que o contrato termina por causa imputável ao concedente, p.e.,
a doutrina assume que caberá ao concessionário formular um pedido de
indemnização face ao concedente e incluir aí o valor do stock e dos prejuízos
sofridos.
3. A questão mais difícil ocorre quando o contrato termina por não não
imputável a nenhuma das partes, nomeadamente por decurso do tempo.
Quando sobram stocks, o que se faz, sabendo que o concessionário já não tem
legitimidade para os vender? Quando se vinculou a comprar aquela
quantidade, fê-lo numa perspetiva de estar em condições de poder continuar a
vender os produtos. Pode ocorrer, por razões de mercado (que são, em regra,

110
imprevisíveis), que os concessionários não consigam vender, não sendo
imputável a nenhuma das partes. Há uma de duas soluções:
▪ Prorrogação do contrato pelo tempo necessário à
alienação do stock – Considerar que o contrato de
concessão se prorroga pelo tempo necessário a que o
concessionário escoe aqueles bens (prorrogação por
motivos muito restritos). Se o mercado permitia
escoar 1000 unidades por ano e passa a escoar só
600, vai-se prorrogar mais uns meses para vender os
restantes. Mas isso pode não ser viável porque o
concedente não quer mantê-lo, por ter em mente
contrato com outro.
▪ Princípio da boa-fé – As obrigações de compra que o
concessionário assume para com o concedente são
obrigações de compra sob condição resolutiva, ou
seja, parte do princípio que o contrato não cede antes
dos bens serem vendidos. Senão, o concedente teria
de retomar os produtos de volta, que estavam na
esfera do concessionário.

3. Suponha que a Padaria Portuguesa celebra um contrato com Cristiano nos termos
do qual este, que vive na província produzindo cereais de todo o tipo, muito apetecíveis
nas pastelarias lisboetas, forneceria cereais à Padaria e se vinculava a comprar bolos e
pão da Padaria Portuguesa, que iria revender ao público na sua região, assumindo o
compromisso de o fazer de acordo com a política comercial da Padaria Portuguesa e
sujeito ao controlo desta.

1. Como qualificaria o contrato celebrado entre Cristiano e a Padaria


Portuguesa?

Contrato de distribuição, mais especificamente de franquia. Pode admitir aplicação


analógica do regime do contrato de agência. O franqueado tem uma menor autonomia em
comparação ao contrato de agência e de concessão. A Padaria Portuguesa é um
franqueador, que criou um modelo económico. Está em causa uma franquia de
distribuição, já que o franqueado passa a vender ao seu estabelecimento os produtos pré-
comercializados ou fabricados pelo próprio franqueador.

Elementos distintivos do contrato de franquia:

1. Para o franqueado puder usufruir, tem de haver uma entrada inicial (um entry-
fee, um upfront) e posteriores pagamentos de royalties – contrato oneroso
(como os outros, ainda que o pagamento seja diferente).

111
2. O franqueado está obrigado e tem o direito de usar, na plenitude a imagem do
franqueador (imagem, logótipo, marca, sinais distintivos, interior das lojas,
etc).
1. Na agência e na concessão, têm imagem própria.
3. O franqueador transmite o seu know-how ao franqueado. A autonomia do
franqueado é muito menor do que a do concessioário (por isso mesmo, há
quem diga, na doutrina, que a franquia é um upgrade da concessão).
1. Isto não sucede na concessão, especialmente na de automóveis.
4. Controlo e fiscalização mais apertadas pelo franqueador.

Pode ser um contrato de concessão?

1. C tem obrigação de comprar à Padaria Portugesa e a Padaria Portuguesa tem


obrigação de vender os produtos a C.
2. C assume o risco, com a obrigação de comprar ao concedente.

A hipótese não fala em transmissão de know-how, nem em royalties. Fala apenas numa
integração, que pode apontar para uma concessão; mas na parte final, quando falam de
controlo, aponta mais para a franquia (sendo que na concessão é menor, ainda que possa
haver envio de lista de clientela, alguns aspetos vinculados, etc.). Independentemente de
ser concessão ou franquia, é um ato comercial. Não poderíamos dar uma hipótese
unívoca, porque estão presentes elementos de ambos os contratos.

Quanto ao fornecimento de cereais que faz, pode não ser um contrato comercial.

NOTA: Sobre a forma, qual é? No DL dos contratos de agência, determina-se que há


direito a ser por forma escrita, mas ela não é obrigatória para a validade do contrato – art.º
1.º DL.

4. Efectue o estudo comparativo das soluções propostas nos acórdãos do STJ, proc.
2470/08.0TVLSB.L1.S1, de 12/5/2016 (RELATORA MARIA DA GRAÇA TRIGO),
proc. 6777/09.0TBMTPS.P1.S1, de 2/6/2016 (RELATOR ORLANDO AFONSO)
e proc. 3314/07.5TBVCT.G3.S1, de 21/04/2016 (RELATOR TAVARES DA
PAIVA), todos disponíveis emwww.dgsi.pt.

Proc. 2470/08.0TVLSB.L1.S1, de 12/5/2016 (RELATORA MARIA DA GRAÇA TRIGO):

112
Contrato de distribuição, de concessão, entre sociedade A e B. Questão de possibilidade de resolução
do contrato e indemnização de clientela.

1. Indemnização de clientela:

A alega que, tendo em conta as condições da sociedade, trabalhadores e intervenientes, a


indemnização determinada pela Relação não era suficiente. O STJ diz que esta indemnização
de clientela tem como objetivo repartir os lucros entre o agente e o principal.

Não tem por base os danos emergentes referidos por A.

Pressupostos que temos das aulas teóricas, para que haja essa indemnização.

Logo, há lugar a uma indemnização de clientela.

Proc. 6777/09.0TBMTPS.P1.S1, de 2/6/2016 (RELATOR ORLANDO AFONSO):

Empresa portuguesa e empresa italiana com contratos de distribuição desde 1988. Havia contrato mais
recente, de concessão comercial, em que a ré se obriga a vender produtos da autora, resultado uma
comissão de 50%. A venda tem de ser feita em seu nome e por sua conta.

Proc. 3314/07.5TBVCT.G3.S1, de 21/04/2016 (RELATOR TAVARES DA PAIVA):

Tema: Contrato de agência, resolução do NJ, incumprimento, indemnização, deveres de informação e


de comunicação.

Factos: Uma sociedade de consultores financeiros (dedicada à consultoria financeira, recrutamento e


gestão de recursos humanos, formação profissional, mediação comercial, serviços de publicidade e
marketing) intentou uma ação contra outra sociedade de consultores financeiros e a sua sócia gerente,
com base na violação de um contrato de agência celebrado entre as partes. Nesse contrato, outorgado
em 24 de agosto de 2005, “a autora nomeou a ré como sua agente, encarregando-a de promover, de
modo autónomo e independente, a celebração de contratos no âmbito da atividade por si desenvolvida”.
A autora obriga-se a pagar à 1.ª ré (sociedade), até ao dia 15 de cada mês, uma comissão de montante
variável em função dos contratos que esta angarie durante o mês anterior. Foram celebrados
aditamentos ao contrato por acordo das partes, entre 7 de outubro de 2005 e 3 de outubro de 2006. A
agente estava obrigada a celebrar contratos com empresas previamente determinadas pela autora e
tinha acesso à base de dados desta (através de uma utilização por ela supervisionada e regulada). A 1.ª

113
ré tinha obrigação de “recrutar todo o pessoal necessário para o desenvolvimento da respetiva atividade,
designadamente gestores de recursos humanos, gestores de clientes, consultores e rececionistas”;
deveria fazê-lo segundo as orientações da autora. O contrato tinha sido celebrado pelo prazo inicial de
5 anos, com a possibilidade de renovação sucessiva por períodos iguais. Nos termos deste contrato, a
1.ª ré, querendo rescindir, teria que comunicar à autora essa intenção, com um prazo mínimo de aviso
prévio de 180 dias em relação à data prevista de rescisão, tendo ainda obrigação de indemnizar a autora
a título de cláusula penal, no valor da fórmula 5.000€ x N.º de anos que faltaria para cumprir o contrato.
Na falta deste aviso prévio, haveria um acréscimo de 5.000€ de indemnização. Haveria ainda uma
obrigação de indemnização no valor de 30.000€ em caso de violação do compromisso de exclusividade.
A 2.ª ré, sócia-gerente, declara que tomou conhecimento e aceita estas cláusulas, tendo sido estes
documentos apenas apresentados na data da sua assinatura.

A 19 de março de 2007, as rés tiveram a iniciativa de fazer cessar, unilateralmente, o contrato de agência
celebrado com a autora. Conferiram uma antecedência de apenas 1 mês face à produção dos respetivos
efeitos.

A autora pede a condenação solidária das rés no pagamento da quantia estabelecida em cláusula penal
(montante de 20.000€, que seria ampliado para 30.000€ mais juros legais desde a citação até ao
pagamento). As rés contestam e deduzem uma reconvenção, pedindo a improcedência da ação e a
procedência do pedido reconvencional no montante de 78.000€ mais juros legais a contar da citação. O
Tribunal de 1.ª instância julga a ação improcedente e absolver as rés do pedido, julgando também
improcedente o pedido reconvencional. A autora decidiu recorrer para o Tribunal da Relação de
Guimarães, que negou provimento ao recurso e confirmou a decisão recorrida. A autora interpôs recurso
para o STJ.

Direito:

▪ A questão de mérito considerada relevante prende-se com a


possibilidade de aplicação do regime das Cláusulas Contratuais
Gerais ao contrato de agência.
▪ O contrato de agência é regulado pelo DL n.º 178/86, de 3 de
julho que, no art.º 1.º/1 caracteriza o contrato de agência como
sendo aquele através do qual “uma das partes (o agente) se
obriga a promover por conta da outra (o pincipal) a celebração
de contratos, de modo autónomo e estável, mediante
retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa zona ou
determinado número de clientes”. Trata-se de um contrato
bilateral e oneroso de que resultam para o agente e para o
agenciado (principal) obrigações recíprocas: o primeiro assume
a obrigação de promover por conta da outra parte a celebração
de contratos, que “ envolve toda uma complexa e multifacetada
actividade material de prospecção do mercado, de angariação
de clientes, de difusão de produtos e serviços, de negociação
etc., que antecede e prepara a conclusão dos contratos, mas na
qual o agente já não tem de intervir” ; o segundo obriga-se a
pagar a retribuição convencionada que se “ determina,
fundamentalmente com base no volume de negócios
conseguido pelo agente, revestindo assim um carácter variável,
sob a forma de comissão ou percentagem calculada sobre o

114
valor dos negócios, podendo cumular-se, no entanto, com
qualquer importância fixa acordada entre as partes (cfr. António
Pinto Monteiro Contratos de Distribuição Comercial, Coimbra
2001, pag. 84,85 e 96).
▪ O art.º 30.º determina que “o contrato de agência pode ser
resolvido por qualquer das partes: a) se a outra parte faltar ao
cumprimento das suas obrigações , quando, pela sua gravidade
ou reiteração , não seja exigível a subsistência do vinculo
contratual; b) se ocorrerem circunstâncias que tornem
impossível ou prejudiquem gravemente a realização do fim
contratual, em termos de não ser exigível que o contrato se
mantenha até expirar o prazo convencionado ou imposto em
caso de denúncia”.
▪ O art.º 32.º determina que, sem prejuízo do direito de resolver o
contrato, há direito de indemnização para qualquer uma das
partes nos termos gerais, pelos danos decorrentes do
incumprimento da contraparte. O art.º 810.º/1 do CC permite às
partes a possibilidade de fixar, por acordo, o montante da
indemnização exigível – cláusula penal. No caso concreto, terá
havido uma violação dos deveres de comunicação e de
informação (arts.º 5.º e 6.º do DL n. 446/85), já que as cláusulas
em questão terão sifo pré-estabelecidas pela autora, ou seja,
sem acordo das rés, o que implica a não consideração dessas
mesmas cláusulas.
▪ Quando numa relação contratual que se insira no âmbito dos
contratos de adesão e das CCG, se contrapõe um contratante
em massa e um consumidor normal, faz sentido que sobre o
primeiro exista um especial dever de comunicação e informação
sobre as cláusulas do contrato.
▪ Esta situação não se verifica neste caso concreto, pois as partes
encontram-se em igual qualidade, por serem ambos empresas
que se dedicam à atividade de consultoria financeira.
▪ Uma das Rés, sócia gerente da empresa, é uma empresária. Ora,
não podem estas duas rés ser alvo do mesmo procedimento
pré-contratual que o cidadão comum. Assim, no caso concreto,
para se considerar cumprido o dever de comunicação e de
informação, não se exigia à autora mais nada para além de
facultar a minuta do contrato momentos antes da sua
assinatura.
▪ Os tribunais de 1.ª instância e da Relação haviam considerado
uma das cláusulas como nula por apresentar montantes
desproporcionados de cláusulas penais. O STJ discorda,
considerando que para atender à proporcionalidade dos
montantes das cláusulas não seria suficiente considerar o
volume de remuneração da ré (sociedade), tendo ainda de se
ponderar os danos que a autora teria com a cessação do
contrato. Mais, se as rés pretendiam valer-se da desproporção
entre o valor das cláusulas penas e do dano causado à autora
com a cessação unilteral do contrato, impunha-se às rés, de
acordo com as regras do ónus da prova e tratando-se de uma
matéria de exceção, provar os factos que poderiam determinar
essa desproporção. O STJ entende, ao contrário do que haveria
sido determinado pelos anteriores tribunais, que não se verifica
essa desproporção. Logo, decide pela validade e
proporcionalidade das cláusulas penais contidas no contrato de
agência em apreciação. Desse modo, não se aplicaria o art.º
19.º/al.c) da Lei das CCG (DL n.º 446/85) (proibidas as
cláusulas que consagrem cláusulas penais desproporcionadas
aos danos a ressarcir), que enumera as cláusulas relativamente
proibidas.

Decisão: O problema é que a cláusula penal foi pré-estabelecida pela autora, sendo que deveria ter sido
acordada entre as partes, nos termos do art.º 810.º do CC. Logo, o STJ nega o pedido da autora e
mantém a decisão das instâncias inferiores, sendo a autora condenada no pagamento das custas.

115
FACULDADE DE DIREITO
DA UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
EXAMES DE DIREITO COMERCIAL

10 DE SETEMBRO DE 2013
I
A SOCIEDADE CONSTRUÇÕES MARAVILHA, SA (adiante apenas Sociedade),
iniciou a construção de um grande projecto imobiliário no Algarve, tendo para o efeito,
em Maio de 2010, encomendado diversos materiais de construção à empresa
SOCONSTROI, Lda, peças em madeira à marcenaria ZE FAZ, UNIPESSOAL, Lda e
celebrado protocolos de reciclagem dos resíduos resultantes da obra com o MONTE-
DESENVOLVIMENTO DO ALGARVE, ACE. Mais celebrou um contrato com a
empresa ALUGATUDO nos termos do qual procedeu ao aluguer de um conjunto de

116
viaturas automóveis necessárias para a deslocação dos trabalhadores durante 2 anos, o
tempo espectável de duração da obra.
Com a crise do imobiliário, a SOCIEDADE CONSTRUÇÕES MARAVILHA começou
a sentir dificuldades em pagar aos seus fornecedores, tendo aceite uma letra no valor de
€ 300.000, acordando com a SOCONSTROI que a mesma seria paga no dia 15 de
Fevereiro de 2013, data em que esperava receber o pagamento de um imóvel que então
vendera em Janeiro de 2011, como casa de férias, a um casal de ingleses. Esta letra foi
avalizada pelos respectivos sócios, ANTÓNIO e BENTO. Para além do aval, o sócio
ANTÓNIO emprestou à Sociedade a quantia de € 50.000,00 para reforço de tesouraria.
A SOCONSTROI descontou a letra, inserindo a cláusula “sem protesto”. A Sociedade
deu ainda de hipoteca o único imóvel de que era proprietária a favor do BANCO
GENEROSO para garantir um empréstimo por si contraído, no valor de €700.000,00,
valor que considerava necessário para completar a obra em curso.
a) Qualifique os contratos celebrados pela SOCIEDADE CONTRUÇÕES
MARAVILHA, os respectivos sujeitos e refira qual o regime aplicável a cada um desses
contratos.

b) Um dos veículos alugados despistou-se, tendo sofrido danos. Quem é responsável


pelos mesmos?

c) Perante a falta de pagamento da factura apresentada pela ZE FAZ UNIPESSOAL, Lda,


a qual não continha data de vencimento, quais os direitos desta última entidade?

d) Sabendo que a CONSTRUÇÕES MARAVILHAS se encontrava em dificuldades


financeiras, o portador da letra apresentou-a a pagamento na data de 15 de Janeiro de
2013. Identifique os vários intervenientes na relação cartular e refira se e quem está
obrigado a pagar.

e)Imagine que os sócios ANTÓNIO e BENTO pretendem vender a CONSTRUÇÕES


MARAVILHAS. Distinga as situações consoante esta venda seja efectivada através de
um share deal ou de um asset deal, quer do ponto de vista do regime aplicável quer das
formalidades inerentes.

117
f) Perante a falta de pagamento do seu crédito, a ZE FAZ Unipessoal requereu a
insolvência da CONSTRUÇÕES MARAVILHA. Pode fazê-lo? Em caso afirmativo,
como são graduados os credores e quais os seus direitos?

Exame Final
10 de Janeiro de 2014

Albertino, militar de profissão, titular de um arrendamento para actividades de


transformação de produtos agrícolas em sumos e compotas de fruta, relativo a um 1º andar
de um prédio urbano pertencente a Belinda, procurando novos negócios e novos
mercados, instalou no mesmo espaço, em 1 Janeiro de 2013, uma unidade de
embalamento de fruta não transformada.
Em 10 de Janeiro de 2014, Albertino vendeu a unidade de embalamento de fruta a
Cícero, casado com Deolinda.
O preço acordado foi de €200.000,00, tendo-se definido que o adquirente assumiria o
passivo existente à data no montante de €85.000,00.

1. Qualifique os sujeitos envolvidos na situação descrita, quanto à sua qualidade de


sujeitos de Direito Comercial.
2. Suponha que, executado o negócio e notificada do mesmo, Belinda pretende
propor uma acção de despejo. Procure identificar os fundamentos que poderiam
justificar a sua propositura. Diga se, em alternativa, ela tinha alguma outra forma
de defender o seu interesse/direito.
3. Suponha agora que o preço da venda acordado não foi pago. Diga qual será a
garantia patrimonial de que beneficia Albertino e qual a taxa de juros de mora
aplicável à mesma.
E se Elizabete, mãe de Cícero, tiver prestado uma fiança, a sua resposta seria a
mesma?
4. Suponha agora que Albertino acordou com Cícero em pagar o preço em 10
prestações, mensais e de igual valor, tendo por efeito desse acordo e em garantia
do pagamento, sacado uma letra sem indicação de data (de vencimento) e de
montante, tendo a mesma sido descontada por Albertino depois de Elizabete ter
prestado o seu aval por honra do aceitante.

118
Passado um mês, a letra foi apresentada a pagamento com o valor de €250.000,00
e não foi paga, em virtude de Albertino ter aberto um novo estabelecimento de
embalagem de fruta não transformada a 50 metros do local original. Explicite a
situação apresentada à luz dos conhecimentos adquiridos.
5. Admitindo que os negócios não sorriem a Cícero e que este transferiu grande
parte dos equipamentos para uma sociedade que detinha com mais uns amigos
denominada “Embalagens Invioláveis, S.A.”, explique que medidas poderão ser
tomadas e com que fundamento num cenário de insolvência de Cícero.
6. Se Albertino pretendesse expandir o seu negócio para um mercado não coberto
pelo seu âmbito de actuação conforme descrito no texto, indique se o poderia fazer
através de um contrato de agência e quais as vantagens/inconvenientes que daí
poderiam advir, sempre considerando a posição de Albertino.

Exame Final
28 de Dezembro de 2012

Leia com atenção o seguinte acórdão do TR do Porto (n. processo convencional


4204/07.7TBVNG.P1, e processo Proc. nº 4204/07.7TBVNG.P1), relatado por
SOARES DE OLIVEIRA1 e responda fundamentadamente às questões que lhe são
colocadas.
QUESTÕES:
1. Tendo em consideração o sumário elaborado pelo juiz relator da decisão judicial,
qual o/s principal(is) problema(s) jurídico(s) que se pode(m) deduzir estar
presente na questão controvertida e que se enquadra(m) nas matéria de Direito
Comercial?
2. O disposto no artigo 19º, 1 e 2, do DL n.º 86/89, de 3-4, e que determina:
“1 - A transmissão entre vivos de escola de condução é feita por escritura pública
e depende de autorização prévia da Direcção-Geral de Viação, a qual é

1
Disponível em anexo e em www.dgsi.pt

119
concedida sempre que o adquirente reúna os requisitos legalmente exigidos no
n.º 2 do artigo 2.º. 2 – A falta de autorização prévia a a que se refere o número
anterior determina a nulidade da transmissão”
é uma norma favorável à transmissão da empresa, enquanto objecto de negócio
jurídico?
3- Diga como se caracteriza uma sociedade unipessoal por quotas enquanto estrutura
jurídica de uma empresa.
4- A escola de condução a que se reporta o nosso caso é uma empresa comercial?
5- Admitindo que a cessão de quotas realizada foi válida e que o preço não foi
integralmente pago na data da sua realização, tendo sido subscrita uma livrança com
o valor do remanescente da dívida, que se venceria a 28 de dezembro de 2012, diga:
a) Qual a data em que a livrança teria de ser apresentada a pagamento;

b) Se o pagamento fosse recusado, qual o prazo para se fazer o protesto por falta de

pagamento
c) Qual a importância do protesto, considerando que a livrança não havia sido

transmitida pelo seu beneficiário


d) Admitindo que a cessão de quotas realizada pelo titular originário da sociedade

F…unipessoal, LDª tivesse sido válida, diga se o titular da referida quota única
podia constituir uma nova entidade dedicada ao mesmo objecto, passados 3
meses, e para actuar numa zona de mercado que se situa a 5 minutos do local da
escola pertença da sociedade F… unipessoal, LDª.

Exame Final
1 de Fevereiro de 2013

A Luxury Hotels, S.A. é detentora de um hotel de 5 estrelas em Lisboa, tem 50


empregados e é dona do edifício onde está instalado o Hotel. A Luxury Hotels, S.A., em
2009, contraiu um financiamento junto do Banco Prime, S.A., tendo dado o referido
edifício em hipoteca para garantia do referido financiamento. Em Maio de 2011, a
Luxury Hotels, S.A. viu a sua situação financeira agravar-se, tendo o Banco proposto
uma reestruturação da dívida que passava, num primeiro momento, pela entrega do
edifício hipotecado ao Banco em dação em cumprimento para extinção do financiamento,
seguido, num segundo momento, da celebração entre o Banco e a Luxury Hotels, S.A.

120
de um contrato, a 15 anos, pelo qual a Luxury Hotels, S.A. ficava com o gozo do edifício
mediante o pagamento de uma renda anual vantajosa.
Responda separada e fundamentadamente às seguintes questões:
1) O contrato de financiamento contraído em 2009 pela “Luxury Hotels, S.A.” é um acto
comercial? (2 valores)
2) A “Luxury Hotels, S.A.” é comerciante? E se o hotel fosse detido por Carminda, esta
seria comerciante? (2 valores)
3) Qualifique o contrato celebrado em Maio de 2011 entre o Banco Prime, S.A. e a
“Luxury Hotels, S.A.”, dizendo quais as consequências que do mesmo podem advir do
seu cumprimento integral, bem como do não cumprimento por parte da “Luxury Hotels,
S.A.” do pagamento atempado de uma renda anual. (2,5 valores)
4) Sabendo que a “Luxury Hotels, S.A.” pretende proteger a designação “Luxury Hotels”
em todos os produtos comercializados por si, incluindo na designação do Hotel, quais os
meios de protecção jurídica que lhe aconselharia? (2 valores)
5) pergunta inserida nos casos de insolvência
6. Supondo que a Luxury Hotels, S.A. havia alienado o Hotel a RH Hotels, S.A., pelo
valor de 1 milhão de euros e esta havia atribuído à Fashion Food, Lda, a gestão do
restaurante do Hotel, pergunta-se:
a) Como qualificaria cada um dos negócios celebrados? (3 valores)
b) Quem é o responsável pelo pagamento da dívida existente perante Carlos, fornecer de
mobiliário, no montante de 500 mil euros, resultante do fornecimento de colchões para
os quartos do Hotel, tendo ainda em conta que dois administradores da Luxury Hotels,
S.A. deram uma fiança pessoal ao pagamento do preço resultante do contrato de
fornecimento? (2,5 valores)
c) Sabendo que a Luxury Hotels, S.A. havia aceite uma letra perante a Chip and
Software, relativo ao fornecimento de computadores do Hotel, que fora descontada, e
avalizada por Antoine, e que não fora paga, que direitos tem o portador da letra? (3
valores)

1º SEMESTRE 2014-2015

121
Armindo, amante da natureza e em especial da vida marinha, faz mergulho no mar dos
Açores para captar fotografias e vendê-las para revistas da especialidade.
Um dia conhece Belmiro, que é titular de uma escola de fotografia e dispõe de um espaço
aberto ao público onde oferece cursos de fotografia, faz exposições e vende todo o
material necessário para a formação dos interessados e do público em geral.
Armindo e Belmiro combinam que o primeiro exporá na galeria do segundo as fotos
mais bonitas, acordando que, se algumas das fotos for vendida, Belmiro receberá um fee
de 10% do valor da venda. Caso não seja vendida nenhuma, Armindo terá de pagar a
Belmiro 500 euros pelo espaço da exposição. Combinaram ainda que as contas entre eles
seriam feitas segundo o regime de conta-corrente.
Na exposição do Natal, Armindo conseguiu vender 10 fotografias, pelo valor total de
4.000 euros, mas na exposição do Ano Novo Armindo não vendeu nenhuma.
Tendo de fazer face às despesas normais da escola de fotografia, Belmiro havia recorrido
ao crédito bancário e, para reforçar a posição do banco, entregou-lhe uma Letra por si
sacada sobre Armindo e por este aceite, com o valor de 500 euros. A letra havia sido
avalizada por Carlota, empregada da loja, pressionada por Belmiro, que a havia
ameaçado de despedimento se não o fizesse. Contrariada, Carlota deu o seu aval, tendo
assinado o título através da aposição nele do nome Carlita, a esposa de Belmiro, mas
devido à sua péssima caligrafia não se conseguia com facilidade perceber a diferença.
Apresentado o título a pagamento, o Armindo pretende invocar junto do banco que o
montante da sua dívida é inferior ao valor nela inscrito.
No decorrer destes eventos, e face à diminuição do volume de negócios da loja, Belmiro
celebra com a David & Companhia um negócio de doação da escola, indicando que com
a mesma se transmitem todos os créditos e dívidas existente à data da transmissão.

RESPONDA ÀS SEGUINTES QUESTÕES:


1. Os sujeitos indicados na hipótese são comerciantes? Justifique a sua resposta (3
valores)
2. Indique os actos de comércio que aparecem referidos no caso e a respectiva
regulamentação aplicável, sem a detalhar. (2 valores)
3. Indique qual o valor da(s) dívida(s) existente(s) entre Armindo e Belmiro, quando
é que a(s) mesma(s) se vence(m) e qual a taxa de juros aplicável. (2 valores)
4. Admitindo que é advogado de Armindo, o seu conselho seria no sentido de não
pagar a letra? Justifique. (2 valores)

122
5. Admitindo que a letra não foi paga, que direitos assistem ao Banco? Explique a
relação subjacente e a relação cartular que fazem do Banco o Portador do título.
(2 valores)
6. Chamadas a pagar o título, que defesa podem apresentar Carlita e Carlota? (2
valores)
7. Como qualificaria o negócio celebrado entre Belmiro e a David & Companhia e
qual o regime que lhe é aplicável? Indique se a pretensão das partes no sentido de
transmitir todos os créditos e dívidas existentes à data da transmissão é válida e
eficaz. (4 valores)
8. Admita agora que BELMIRO foi declarado insolvente e que o administrador da
insolvência pretende reagir contra o negócio celebrado com David & Companhia.
O que deve o administrador da insolvência fazer? (3 valores)

123
ANEXO
Disponível em www.dgsi.pt

Acórdãos Acórdão do Tribunal da Relação do Porto


TRP
Processo: 4204/07.7TBVNG.P1
Nº JTRP000
Convencional:
Relator: SOARES DE OLIVEIRA

Decisão TextoProc. nº 4204/07.7TBVNG.P1


Integral: Apelação n.º 1083/11
TRP – 5ª Secção

Acordam no tribunal da Relação do Porto

I – RELATÓRIO

1 –
B…, residente na Rua …, …, .º Dtº, Vila Nova de Gaia, veio intentar a
presente acção declarativa, sob a forma ordinária do processo comum
contra
C…, residente na Rua …, .., piso ., habitação ., Porto;
D…, residente na …, …., Porto; e
E…, residente na Rua …, …, …, Vila Nova de Gaia, pedindo que:
a) seja declarada a nulidade da cessão de quota titulada pela escritura
pública outorgada no 2º Cartório Notarial de Vila Nova de Gaia, em 29-
8-2000 (referida no nº 1 da petição inicial), por simulação e por violação
do disposto nos artigos 2º, 2, b), 4 e 7, a), b) e c), 4º e 19º do Decreto-Lei
n.º 86/98;
b) seja declarada a nulidade da divisão e cessão titulada pela escritura
pública referida nos nºs 18 e 19 da petição inicial, por simulação;
c) sejam os RR. condenados a reconhecer tais nulidades e ordenado o

124
cancelamento dos respectivos registos na Conservatória do Registo
Comercial competente;
d) seja declarado que o preço da cessão titulada pela 1ª escritura foi, à sua
data, de Esc. 56.000.000$00, a que corresponde o valor actual de e
279.326,82, e não o declarado de Esc. 1.000.000$00, correspondente a e
4.987,98;
e) seja o 1º R. condenado a restituir à A. a quantia de € 139.663,41,
acrescida de juros à taxa legal desde a citação e até integral pagamento.
Alega, para tanto, que:
- por escritura pública outorgada em 29 de Agosto de 2000 o primeiro R.
declarou ceder à A. a totalidade do capital social da sociedade F…, Ldª,
titulado por uma única quota de um milhão de escudos, pelo seu valor
nominal;
- tal declaração não corresponde à verdade, uma vez que o negócio da
cessão não foi celebrado apenas com a A.;
- a A. adquiriu metade do capital, pelo preço de Esc. 28.000.000$00, à
data, e a aquisição da outra metade do capital, foi negociada pelo 3º R.,
pessoa que mantém relações de negócios, desde há muitos anos, com os
1º e 2º RR.;
- a cessão teve o valor de Esc. 56.000.000$00, tendo a A. adquirido
efectivamente metade do capital e o 3º R. a outra metade, pagando, cada
um, Esc. 28.000.000$00;
- outorgada a escritura supra referida a vida social complicou-se porque a
A., levada a adquirir aquela quota, em seu nome, mas por sua conta e por
conta de outrem, não possuía as condições exigidas pelo artigo 2º, 2, b),
do DL n.º 86/98, de 3 de Abril, para ser única sócia ou sócia maioritária
da sociedade comercial;
- para contornar as questões legais advindas da falta dos requisitos na
pessoa da A. para aquela qualidade de única sócia, com o possível
cancelamento do alvará, e encerramento da Escola pela DGV, a solução
arranjada pelo 3º R. foi a divisão da única quota em duas e a cessão da
quota maioritária do capital ao 2º R., pai do 1º R., o que ocorreu por
escritura de divisão e cessão de quota de 27 de Setembro de 2001;

125
- nem a A., nem o 3º R. receberam do 2º R., qualquer quantia pela “cessão”
do capital que lhes dizia respeito;
- previamente àquela cessão, não foi solicitada à D.G.V. a autorização
prevista no artigo 19º, 1, do citado Decreto-Lei, e se o 1º R. tivesse pedido
tal autorização, como a A. não satisfazia os legais requisitos, a mesma não
tinha sido concedida e o negócio não se realizava;
- a falta da autorização determina a nulidade da transmissão.
2 –
Contestaram os RR. C… e D…, alegando a sua ilegitimidade passiva por
preterição do litisconsórcio necessário passivo (ausência dos respectivos
cônjuges), impugnando a matéria relativa à primeira cessão e
reconhecendo a simulação relativamente à segunda cessão.
3 –
Contestou, também, o R. E…, impugnando, na essencialidade, os factos
vertidos na P. I..
4 –
A A. replicou.
5 –
Invocando o disposto no artigo 508º-B, 1, a), do CPC (simplicidade do
processo), foi dispensada a Audiência Preliminar.
6 –
O processo foi saneado e seleccionados os factos que foram considerados
já assentes e os que passaram a integrar a Base Instrutória, tendo sido
julgada improcedente a arguida ilegitimidade passiva.
7 –
Teve lugar a Audiência Final que culminou com a Decisão de Facto de
fls. 358-360.
8 –
Foi proferida Sentença em cuja parte dispositiva se lê:
“Nos termos expostos, julgo parcialmente procedente a acção e, em
consequência:
1º declaro que o preço da cessão de quotas efectuada pela escritura
pública de 29 de Agosto de 2000, exarada de fls. 39 a 40 do livro de notas

126
nº149 B do Segundo Cartório Notarial de Vila Nova de Gaia foi de
cinquenta e seis milhões de escudos;
2º declaro a nulidade da escritura pública de cessão de quota e
modificação de sociedade de fls. 12 a 14 do livro de notas nº 569 A do
Quinto Cartório Notarial do Porto, efectuada em 26 de Setembro de 2001
e o cancelamento do seu registo comercial (inscrição 1-Ap.64/19980922
da sociedade comercial matriculada sob o nº………);
3º absolvo os RR do demais peticionado.”
9 –
A A. veio apelar desta Sentença, tendo, nas suas Alegações formulado as
CONCLUSÕES que se passam a transcrever:
«1- Em fundamento do pedido da alínea a) da petição a autora invoca,
por um lado, a simulação do preço e dos sujeitos intervenientes; e por
outro, a violação de normas imperativas sobre o regime da titularidade e
transmissão de escolas de condução.
2- A sentença julgou não verificada a simulação dos sujeitos
intervenientes, por falta de prova e interpretando os documentos juntos a
fls. 96-98, designados “Contrato promessa de compra e venda “ e
“Procuração”, como relativos a negócios simultâneos ou posteriores ao
contrato promessa celebrado pela autora com o réu C….
3- A autora discorda das respostas restritivas à matéria dos pontos 1,2, 3
e 4, e negativa do ponto 7 da Base Instrutória.
4- A testemunha G…, cuja credibilidade e razão de ciência não foram
postas em causa na audiência, nem na fundamentação, demonstrou
conhecer os termos em que foi negociada a cessão do capital da
sociedade, entre, de um lado, o réu C… e, do outro lado, o réu E… e a
autora;
5- Por ter tido conversas pessoais sobre o assunto, não só com a autora,
mas com o réu E… e com seu falecido pai, que são respectivamente seu
primo e seu tio.
6- Tendo ela mesma pago a parte do negócio - 28.500 contos - da autora.
7- Mais dizendo que essa quantia era para pagar a parte da autora, que
também ficava a pertencer à irmã da autora, H…; sendo a outra metade

127
do réu E…, ou dele e de seu falecido pai.
8- Sendo certo que a autora trabalhava como quadro administrativo na
empresa imobiliária do réu E… e de seu pai, havendo entre todos, além
das relações de parentesco e de trabalho, relações de amizade.
9- Ainda de acordo com o mesmo depoimento e o depoimento da
testemunha I…, a autora após a escritura de cessão de quota de
29.08.2000, manteve-se em funções na referida sociedade imobiliária,
porquanto o réu E… não queria que ela deixasse a empresa.
10- O que só fez já depois do pai deste réu ter falecido, e por insistência
de sua mãe, a testemunha G….
11- Tudo como resulta dos depoimentos gravados em sistema digital,
durante a audiência de julgamento.
12- Ter-se a autora mantido no local de trabalho, por insistência do réu,
em vez de tratar de gerir a empresa que adquirira, só faz sentido se algum
outro interesse existisse, daqueles para quem prestava serviço.
13- Neste contexto, os documentos de fls. 96-98 constituem uma forma de
o réu E… se ter acautelado, no futuro, quanto à sua parte no negócio.
14- E não, como os interpretou a sentença, titulando um negócio diferente
entre a autora e os demais intervenientes.
15- O depoimento da testemunha G… pelo conhecimento directo que
demonstrou ter dos factos anteriores ao negócio, e que não foi
contraditada por qualquer outro depoimento, deve ser atendido para
alterar as respostas aos mencionados pontos 1, 2, 3, 4 e 7, da Base
Instrutória.
16- E que tidos como provados fundamentam a simulação no que diz
respeito aos sujeitos processuais.
POR OUTRO LADO,
17- As normas legais sobre a titularidade de alvará e de escolas de
condução, são de natureza imperativa, destacando-se o teor do artigo 2º
e 19º do Decreto-Lei 86/89 e 6º e 7º do DR 5/98.
18- Sendo certo que o citado artigo 19, nº1 impõe a autorização prévia
para a transmissão entre vivos da escola de condução, e tendo em conta
o disposto na segunda parte da mesma norma, que remete para os

128
requisitos dos titulares do alvará, faz todo o sentido que a cessão total do
capital de uma sociedade detentora de escolas de condução esteja
também sujeita a autorização prévia, na medida em que implica a
transmissão do património social, incluindo as escolas.
19- Se assim não fosse entendido ficava aberta a porta para a aquisição,
por indivíduos que não cumprem os requisitos do art. 2º, sendo certo que
neste mesmo artigo há que atender ao disposto no seu nº 3.
20- Por alguma razão, também o nº 1 do artigo 7º do DR 5/98, impõe que
no pedido de autorização se identifiquem os sócios, gerentes e
administradores, no caso de o futuro adquirente ser pessoa colectiva.
21- Tendo em conta a matéria provada pelas respostas aos pontos 5, 12
e 13, que aliás determinou a outorga da escritura de divisão e cessão de
quota ao réu D… (Ver resposta conjunta aos pontos 8, 14 e 15), é de
concluir que se essa autorização tivesse sido pedida, o réu C… não a
tinha obtido, porquanto a autora não satisfazia os requisitos de
capacidade profissional.
22- O que reforça o entendimento que a prévia autorização se impõe
sempre que o negócio entre vivos implique a transmissão de uma escola
de condução, seja pela venda individualizada da escola, seja pela
transmissão total de um património social, através da cessão do capital.
23- Este deve ser o entendimento a retirar da razão de ser do conjunto de
normas imperativas que regulam esta matéria e por isso subtraídas ao
alcance, ou manipulação, dos interessados no negócio.
24- Tendo decidido de modo diverso o Sr. Juiz a quo fez errada
interpretação das referidas normas do Decreto-lei 86/98 e DR 5/98.»
Termina pedindo que seja declarada a nulidade da cessão de quota,
titulada pela escritura de 29-08-2000, celebrada entre a A. e o R. C….
10 –
Em Contra-Alegações formularam os RR. C… e D… as CONCLUSÕES
que também se transcrevem:
«1ª. Apesar de ter impugnado a matéria de facto, a Apelante não cumpriu
o disposto no artigo 685º-B, do Código de Processo Civil, segundo o qual
cabia-lhe o ónus de especificar os concretos meios probatórios que

129
impunham decisão diversa da recorrida; Quando seja possível a
identificação precisa e separada dos depoimentos, impõe o artigo 685º-B
do C.P.C., que o recorrente indique com exactidão as passagens da
gravação em que se funda, sem prejuízo da possibilidade de, por sua
iniciativa, proceder à respectiva transcrição e especifique os concretos
meios probatórios constantes dos autos ou do registo da prova que
considere determinantes da alteração pretendida.
2ª. Não tendo sido cumprido pela recorrente os ónus a seu cargo, deverá
ser rejeitado o recurso no que se refere à impugnação da matéria de
facto; Sem prescindir,
3ª. Do depoimento da testemunha G…, que é mãe da Recorrente, não
poderia o Tribunal dar resposta diversa aos factos nrs. 1, 2, 3, 4 e 7 da
Base Instrutória, sendo absurdo pretender extrair desse único
depoimento outro tipo de conclusões.
4ª. De resto, o tribunal a quo, conforme foi salientado na fundamentação
da decisão da matéria de facto, julgou tendo em conta esse depoimento
mas também a restante prova testemunhal e documental junta aos autos,
designadamente dos documentos de fls. 77 a 79 (contrato promessa de
cessão de quota entre Autora e Réu C…) e 93 a 94 e 96 a 98 (contrato
promessa de cessão de quotas e procuração entre Autora e E… e outros),
documentos que não são postos minimamente em causa pelo teor do
referido depoimento.
5ª. De resto, é completamente descabido e irrealista entender-se que
tenha ficado provado ter ocorrido qualquer acordo simulatório,
divergência entre a vontade real e a declarada ou intuito de enganar
terceiros, entre a Autora e o Réu E….
6ª. Acresce que do depoimento da testemunha J.., director da escola de
condução, alcança-se que a Recorrente sempre actuou como única dona
e gerente da sociedade, tendo até retirado àquele a autonomia que
dispunha, levando-o a apresentar a sua demissão;
7ª. Não tem também qualquer fundamento a pretensão da Recorrente em
ver declarada nula a transmissão de quotas da sociedade, por suposta
violação do disposto no artigo 19º, nº1 do DL nº 86/98, de 3 de Abril.

130
8ª. A decisão recorrida não merece aqui também qualquer censura, tendo
reiterado o entendimento que o próprio IMTT tem da citada disposição
legal, conforme deu conta através do Ofício 4954, datado de 2009/06/18,
junto aos autos a fls… em 23/06/2009.
9ª. A Recorrente confunde realidades diversas: uma coisa é a transmissão
de quotas ou alteração do contrato social que necessita de ser
comunicada aquele organismo, no prazo de 60 dias, conforme dispõe o
artigo 6º , nº2 do DR 5/98, de 9 de Abril, coisa diversa é a transmissão de
alvará que necessita de autorização prévia dos serviços competentes,
conforme dispõe o artigo 19º, nº1 do DL nº 86/98, de 3 de Abril.
10ª. No caso dos autos não ocorreu qualquer transmissão da titularidade
do alvará que sempre foi e continuou a ser da sociedade F…, Ldª:”, antes
e apenas ocorreu a transmissão dos titulares das quotas daquela
sociedade.
11ª. Esta interpretação é reforçada pelo elemento sistemático, na medida
em que o referido artigo 19º está inserido no capítulo IV do DL nº 86/98
com a seguinte epígrafe: “Da alienação de Escolas de Condução”, sendo
que a epígrafe do próprio artigo 19º é “Transmissão de Escolas de
Condução”.
12ª. As escolas de condução detidas pela sociedade ajuizada nos autos
nunca foram alienadas ou transmitidas. As escolas sempre foram detidas
pela mesma sociedade, apenas tendo mudado a titularidade do capital
social.
13ª. Ao contrário do que a Recorrente pretende, tal situação não
configura qualquer fraude à lei, uma vez que a sociedade tem
personalidade jurídica própria, distinta da dos seus sócios.»
Terminam pronunciando-se pela confirmação da Sentença recorrida.

II – FUNDAMENTAÇÃO

DE FACTO

A- Da Sentença constam como adquiridos para os autos os seguintes

131
FACTOS:

Por acordo escrito denominado CONTRATO PROMESSA DE CESSÃO


DE QUOTAS datado em 29 de Agosto de 1999 entre a A., na qualidade
de promitente cedente e K…, E… e H…, na qualidade de promitentes
cessionários, e cujas assinaturas foram presencialmente reconhecidas em
29 de Agosto de 2000, foi declarado o seguinte;
“(…) 1º A primeira outorgante é a única e actual sócia da sociedade F…,
Ldª (…)
2º O capital social daquela sociedade é de um milhão de escudos,
integralmente realizado, representado por uma quota de igual valor
nominal.
3ª A primeira outorgante promete transformar a referida sociedade numa
sociedade comercial por quotas de responsabilidade limitada.
4º A primeira outorgante promete ainda dividir a quota que detém na
referida sociedade em quatro de igual valor nominal, reservando uma para
ela outorgante.
5º Que pelo presente contrato, a primeira outorgante promete ceder a cada
um dos restantes outorgantes ou a quem eles indicarem uma quota de
escudos duzentos e cinquenta mil escudos por preço igual ao valor
nominal da mesma, com os correspondentes direitos e obrigações e livres
de quaisquer ónus ou encargos.
6º A primeira outorgante confessa já ter recebido dos restantes
outorgantes a totalidade daqueles preços de que dá a cada um a
correspondente quitação (…).
8º A escritura pública de transformação, divisão e cessão das quotas será
outorgada em Cartório Notarial, em dia e hora a designar por um dos
cessionários (…)” – A) dos Factos Assentes.

Por escritura pública denominada PROCURAÇÃO e celebrada em 30 de


Agosto de 2000, a A. declarou o seguinte:
“(…) Outorga como única sócia e gerente e em representação da
sociedade unipessoal denominada F…, LIMITADA (…)

132
Que na qualidade em que outorga constitui procuradores os senhores K…
(…) ENG. E… (…) e H… (…) a quem confere todos os poderes especiais
para transformarem a sociedade F…, LIMITADA", numa sociedade
comercial por quotas, e para dividirem aquela quota no valor nominal de
quatro mil novecentos e oitenta e sete euros e noventa e oito cêntimos ou
a que tiver na altura de tal divisão, em quatro quotas de igual valor,
reservando uma para si outorgante, podendo prometer ceder ou ceder a
cada um dos mandatários ou a terceiros uma quota de igual valor nominal
pelo preço e condições que acharem por convenientes, receberem o preço
e darem quitação, outorgarem e assinarem as respectivas escrituras, bem
como contratos promessa de cessão, requerer actos de registo comercial e
tudo o mais que se tomar preciso para os indicados fins, podendo também
renunciar em nome da mandante à gerência que a mesma vem exercendo
na referida sociedade.
A presente procuração é também outorgada para os mandatários
celebrarem negócios consigo mesmo, ficando desde já expressamente
dado o consentimento previsto no número 1 do artigo 2610 do Código
Civil, a qual, por ser também conferida no interesse dos mandatários, não
poderá ser revogada sem o acordo destes (…)” - B) dos Factos Assentes.

Por acordo escrito assinado pelo Réu C…, sua mulher L… e pela A., em
16 de Agosto de 2000 e denominado “CONTRATO PROMESSA DE
CESSÃO DE QUOTAS” aqueles declararam o seguinte:
“(…) OUTORGANTES:
1°) C…, casado, engenheiro, natural da freguesia de …, Castelo de Paiva,
portador do BI ……. emitido pelo SIC de Lisboa em 24/01196 e do
número de contribuinte ……… e residente na Rua … nº .. piso …, Porto,
como promitente cedente-----------------------------
2°) L…, casada, arquitecta, natural do Brasil, portadora do BI ……..
emitido pelo SIC do Porto em 20.09.99 e do número de contribuinte
……… e residente na rua… nº .. Piso …, Porto.-------------
3°) B…, divorciada, gestora de empresas, natural da freguesia …, Marco
de Canaveses, portadora do BI ……. emitido pelo SIC de Lisboa em

133
23.03.99 e do número de contribuinte ……… e residente na Rua …, nº
… - .° dtº, …, Vila Nova de Gala, como promitente cessionária.-----------
---
Pelo primeiro e terceira outorgante foi dito:-----------------------------
1° O primeiro outorgante é o único sócio da sociedade unipessoal que gira
sob a firma “F…, Ldª”-----------------------------(…)
4° O capital social é de escudos um mi1hão de escudos o qual se encontra
representado por uma quota de igual valor nominal. ------
5º Pelo presente contrato promessa o primeiro outorgante promete ceder
nesta data à terceira outorgante a referida quota pelo preço de escudos
57.000.000$00 (cinquenta e sete milhões de escudos)
6º Como sinal e princípio de pagamento do preço, entregou nesta data a
terceira outorgante ao primeiro outorgante a quantia de escudos
3.000.000$00 (três milhões de escudos) de que este lhe dá quitação. -----
-------------------------------------------------
7° Como primeiro reforço de sinal pago entregará a terceira outorgante ao
primeiro outorgante a quantia de escudos 16.000.000$00 (dezasseis
milhões de escudos) na data da celebração da escritura pública. -----------
----------------------------:-
8° Como segundo reforço de sinal pago entregará a terceira outorgante ao
primeiro outorgante a quantia de escudos 19.000.000$00 (dezanove
milhões de escudos), com vencimento nove meses após a celebração da
escritura pública, através de cheque, que só poderá ser submetido à
cobrança na data do vencimento. --------------------------
9º O restante preço convencionado de escudos 19.000.000$00 (dezanove
milhões de escudos), será pago pela terceira outorgante ao primeiro
outorgante dezoito meses após celebração da escritura pública, através de
cheque, que só poderá ser submetido à cobrança na data do vencimento. -
------------------------
10° A escritura pública de cessão de quota será outorgada no prazo de um
mês a contar da celebração deste contrato promessa. ------------------------
----------------------(…)
14° A falta de cumprimento de qualquer cláusula do presente contrato

134
promessa implicará a perda do sinal pago ou a sua restituição em dobro
conforme a culpa do incumprimento seja da terceira ou do primeiro
outorgante (…)” - C) dos Factos Assentes.

Por escritura pública celebrada no dia 29 de Agosto de 2000 denominada


CESSÃO DE QUOTAS, REDENOMINAÇÃO DE CAPITAL E
ALTERAÇÃO PARCIAL AO PACTO SOCIAL celebrada entre o R.
C…, na qualidade de PRIMEIRO outorgante e como único sócio e gerente
e em representação da sociedade unipessoal F…, LDª, com o capital social
de 1.000.000$00, igual ao valor nominal da sua quota, e a A. B…, na
qualidade de SEGUNDA outorgante, foi declarado o seguinte:
“(…) PELO PRIMEIRO OUTORGANTE FOI DECLARADO:
Que (…) cede aquela quota e, por conseguinte, a totalidade do capital
social da referida sociedade à segunda outorgante (…) pelo seu valor
nominal de um milhão de escudos, preço que já recebeu (…)
DISSE A SEGUNDA OUTORGANTE, que aceita a cessão (…)” - D)
dos Factos Assentes.

Por escritura pública celebrada no dia 27 de Setembro de 2001


denominada CESSÃO DE QUOTA, MODIFICAÇÃO DE SOCIEDADE
UNIPESSOAL EM SOCIEDADE POR QUOTAS PLURAL E
ALTERAÇÃO PARCIAL DO CONTRATO celebrada entre a A. B…, na
qualidade de PRIMEIRO outorgante e o R. D…, na qualidade de
SEGUNDO outorgante foi declarado o seguinte:
“(…) A primeira outorgante declarou:
Que é a sócia da sociedade F…, LDª (…) com o capital social de cinco
mil euros.
Que pela presente escritura e tendo em vista a modificação da sociedade
(…) divide aquele capital em duas quotas, sendo uma de dois mil
quatrocentos e cinquenta euros, que reserva para si, e uma de dois mil
quinhentos e cinquenta euros, que cede ao segundo outorgante.
Que aquela quota de dois mil quinhentos e cinquenta euros (…) é cedida
por preço igual ao valor nominal, que já recebeu (…)” - E) dos Factos

135
Assentes.

O R. C…, que é filho do R. D…, já então, como agora, exercia a sua


actividade profissional em estabelecimentos de inspecção de viaturas - F)
dos Factos Assentes.

O preço da cessão efectuada no dia 29 de Agosto de 2000 teve o valor de


56.000.000$00 – 1 da B.I.

O R. E… era examinador em centro de exame de condução - 2 da B.I.

Os pais da A. disponibilizaram-lhe parte da quantia necessária para o


negócio - 3 da B.I.

A parte do preço disponibilizado pelos pais da A. foi entregue ao R. D…


- 4 da B.I.

A A. não possuía experiência documentalmente comprovada de, pelo


menos, cinco anos consecutivos no ensino de condução na qualidade de
titular de alvará, de sócio, de gerente ou de administrador da entidade
titular do alvará, de instrutor, de subdirector ou de director de escola de
condução - 5 da B.I.

A A. sempre tinha trabalhado como quadro administrativo em empresa do


ramo imobiliário, pertencente ao R. E… e seu falecido pai - 6 da B.I.

Para contornar a falta dos requisitos da pessoa da A. aludidos no número


5) e o eventual cancelamento do alvará e encerramento das escolas pela
DGV, foi acordado entre a A. e o R. D… a divisão da única quota em duas
e a cessão da quota maioritária do capital ao último - 8, 14 e 15 da B.I.

Assim, foi celebrada a escritura de cessão em 27 de Setembro de 2001


sem qualquer contrapartida e sem que os intervenientes tivessem querido,

136
de facto, celebrar qualquer negócio - 9 e 18 da B.I.

Nem a A, nem o R. E… receberam do R. D… qualquer quantia pela


declarada cessão do capital – 10 da B.I.

E o R. D…, apesar de passar a figurar como sócio maioritário, nunca teve


qualquer intervenção na vida social – 11 da B.I.

Previamente à cessão titulada pela primeira escritura não foi solicitada à


D.G.V. qualquer autorização – 12 da B.I.

Poucos meses após a cessão de quota, foi o R D… contactado pela A.,


mostrando-se muito assustada, referiu-lhe ter sido intimada pela DGV a
fazer prova do preenchimento dos requisitos de capacidade profissional
que a lei prevê para os sócios maioritários das entidades detentoras de
alvará de escola de condução – 13 da B.I.

A sociedade, em Agosto de 2000, detinha uma frota de veículos e motos,


alguns novos, cujo valor era superior a € 100.000,00 – 19 da B.I.

A sociedade, hoje, possui ainda e apenas os mesmos veículos, com o valor


reduzido – 20 da B.I.

B – O Recurso e os Factos

A Apelante pretende impugnar, também, a Decisão de Facto relativa aos


pontos 1, 2, 3, 4 e 7 da B.I. que, no seu entender, deviam ter sido julgados
provados.
Para alteração dessa decisão invoca os depoimentos de G… e de I…,
transcreve umas frases dos mesmos depoimentos, mas sem que tenha
indicado com exactidão a passagem da gravação em que se funda.
Ora, essa indicação era possível face ao meio de gravação utilizado.
Porém, apesar desse meio utilizado, o Tribunal recorrido fez tábua rasa

137
do disposto no artigo 522º-C, 2, do CPC, nada ficando a constar da acta a
não ser a generalidade “depoimento gravado em suporte digital” em
relação a cada um dos depoimentos. Contudo, esta irregularidade não foi
invocada, pelo que, neste caso, nenhuma consequência tem.
Mas, o dispositivo em apreço exige que seja identificada, com precisão, a
passagem do depoimento, isto é, referir quando se inicia e termina o
respectivo depoimento e, dentro deste, o local exacto da gravação, o que
é perfeitamente possível na gravação digital, como aquela que temos
nestes autos.
A sanção para tal falta é a rejeição da impugnação da Decisão de Facto.
Pelo exposto não apreciaremos, pois, esse aspecto da Apelação.

Há, porém, uma alteração à Matéria de Facto que se impõe, que é feita ao
abrigo do disposto no artigo 712º, 1, a) e b), do CPC e diz respeito à data
do contrato-promessa referido em A) dos Factos Assentes (doc. junto de
fls. 93 a 94).
Na verdade, embora datado de 29-8-1999, esta data está errada, pelo
menos quanto ao ano, conforme se pode ver da identificação do
outorgante Eng. E…, que é aí referido como portador de B.I. emitido a 3-
4-2000 (ver fls. 93), cujo número e data de emissão estão notarialmente
confirmados a fls. 94, a 29-8-2000.
Logo, há que acrescentar à mencionada al. A) que “esse documento,
apesar de datado de 29-8-1999, foi elaborado depois de 3-4-2000 e até
29-8-2000”.

DE DIREITO

São duas as vertentes da Apelação no que ao Direito diz respeito e ambas


abrangidas no pedido de declaração de nulidade da escritura de cessão de
quota outorgada a 29-8-2000 e identificada no artigo 1º da P.I.:
a primeira diz respeito à simulação quanto aos sujeitos processuais;
a segunda diz respeito à falta de autorização prévia da Direcção Geral de
Viação para transmissão da quota.

138
Negócio Jurídico Simulado

Dispõe o artigo 240º do C. Civil: "1. Se, por acordo entre declarante e
declaratário, e no intuito de enganar terceiros, houver divergência entre
a declaração negocial e a vontade real do declarante, o negócio diz-se
simulado. 2. O negócio simulado é nulo".
A simulação é considerada a principal modalidade de divergência
intencional entre a vontade real e a declarada, sobretudo pela frequência
com que ocorre e pelos problemas do seu regime jurídico[1].
Como elementos (requisitos) para que ocorra a simulação referida naquele
dispositivo legal (a com relevância jurídica) são necessários os seguintes:
1) divergência entre a vontade real e a declarada; 2) acordo ou conluio
entre as partes; 3) intenção de enganar terceiros[2].
Estes elementos (requisitos) devem ser invocados e provados por quem
pretenda prevalecer-se da simulação ou de aspectos do seu regime[3]. Era
ao A., a quem o artigo 242º do C. Civil, cujo regime não prejudica o
disposto no artigo 286º do mesmo Código, confere legitimidade para
arguir a simulação, que incumbia provar a existência de acordo
simulatório entre os outorgantes das escrituras em referência, a
divergência entre a vontade real e a constante dessas mesmas escrituras e
que tudo isso foi feito com o intuito de enganar terceiros, por força do
disposto no artigo 342º, 1, do C. Civil.
Ora, dos factos provados não resulta a existência daqueles três requisitos.
Terá, pois, de improceder o pedido de declaração de nulidade, por
simulação, do contrato de cessão de quota em causa.

Falta de Autorização da DGV

A Apelante invoca em abono da sua posição o disposto no artigo 19º, 1 e


2, do DL n.º 86/89, de 3-4, aplicável ao caso em apreço por ter sido
transmitida a integralidade do capital social.
Determina o dispositivo invocado: “1 - A transmissão entre vivos de

139
escola de condução é feita por escritura pública e depende de autorização
prévia da Direcção-Geral de Viação, a qual é concedida sempre que o
adquirente reúna os requisitos legalmente exigidos no n.º 2 do artigo 2.º.
2 – A falta de autorização prévia a que se refere o número anterior
determina a nulidade da transmissão.”
No caso em apreço estamos perante a transmissão da quota de uma
sociedade unipessoal por quotas, tipo societário que se encontra previsto
e disciplinado no artigo 270º-A a 270º-G do C. S. C.
Neste tipo de sociedade toda a participação social pertence a uma só
pessoa.
A escola de condução fazia parte do património da sociedade. O que foi
transmitido foi a quota e não a escola de condução. O titular da escola
manteve-se o mesmo. Idêntica situação pode ocorrer com qualquer outro
tipo de sociedade quando é transmitida a totalidade do capital social.
O titular do alvará é a sociedade e não o sócio. Haverá, aqui, uma alteração
ao título constitutivo daquela.
No caso de transmissão do alvará há uma fiscalização prévia sobre a
manutenção dos pressupostos que foram exigidos para a concessão desse
alvará.
No caso de transmissão do capital social há uma fiscalização após aquela
transmissão, a qual terá lugar após a comunicação exigida pelo artigo 6º,
2 e 3, do DR n.º 5/98, de 9-4.
Neste caso, se é verificado a falta de manutenção dos pressupostos legais
para concessão do alvará, a DGV deve cancelar o alvará da escola de
condução nos termos do artigo 2º, 7, do DL 86/98, de 3-4.
Ora, no caso dos autos não ocorreu uma situação da qual resulte
directamente a nulidade, mas uma situação em que, aliada à declaração de
nulidade por simulação determinará a actuação da entidade competente
nos termos do mencionado artigo 2º, 7, do DL n.º 86/98.
Não colhe, pois, a argumentação da Recorrente quanto a esta questão, pois
que não ocorre a situação de possibilidade de fuga à Lei por ela
configurada.
Terá, pois, de improceder, também, esta pretensão da Recorrente.

140
III – DECISÃO

Por tudo o que exposto fica acordamos em julgar improcedente a


Apelação e em confirmar a Sentença recorrida.
Custas pela Recorrente.

Porto, 2012-03-12
José Alfredo de Vasconcelos Soares de Oliveira
Ana Paula Vasques de Carvalho
Manuel José Caimoto Jácome
____________________
[1] LUÍS CARVALHO FERNANDES, Teoria Geral do Direito Civil,
vol. II, 3ª ed., U. C. E., Lisboa, 2001, p. 280; HEINRICH E. HÖRSTER,
A Parte Geral do Código Civil Português, Teoria Geral do Direito,
reimpressão da edição de 1992, Almedina, Coimbra, 2000, p. 535.
[2] LUÍS CARVALHO FERNANDES, ob. e vol. cits., p. 281; ANTÓNIO
MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, I, Parte
Geral, T. I, Almedina, Coimbra, 1999, p. 555; HEINRICH E. HÖRSTER,
ob. cit., p. 535 e 536; CARLOS A. MOTA PINTO, Teoria Geral do
Direito Civil, 3ª ed., 11ª reimpressão, Coimbra Editora, 1996, p. 471 e
472; PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, Teoria Geral de Direito Civil,
vol. II, Almedina, Coimbra, 2002, p. 33.
[3] ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, ob. e t. cits., p. 555; e AC. DO
S. T. J., DE 4-6-1996, CJSTJ, IV (1996), II, p. 104.
____________________
Face ao acima escrito é possível elaborar o seguinte SUMÁRIO:

1 – Quando se transmite o alvará de uma escola de condução há uma


apreciação prévia pela entidade competente sobre o preenchimento dos
respectivos pressupostos pela escola que o adquire, carecendo, para que
não seja nula, da respectiva autorização – artigo 19º, 1 e 2, do DL n.º
86/89, de 3-4.

141
2 – Mas, quando ocorre a transmissão da quota de uma sociedade
unipessoal, que seja proprietária de uma escola de condução, a
apreciação sobre a manutenção dos pressupostos para ser titular desse
alvará é feita posteriormente, não carecendo aquela cessão de qualquer
autorização prévia para ser válida – artigos 6º, 2 e 3, do DR n.º 5/98, de
9-4, e 2º, 7, do DL 86/98, de 3-4.

José Alfredo de Vasconcelos Soares de Oliveira

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