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Direito Comercial – Esquemas de resposta

I – Qualificação Comercial

1º - Caracterizar, com traços distintivos, as duas teorias para a qualificação, se a pergunta não nos
direcionar, no enunciado, para uma delas:

• Teoria dos atos de comércio (TAC) – um determinado ato é ato de comércio, aplicando-
se o regime mercantil, quando se acharem especialmente regulados no Código (2º 1ª parte
+ norma especial, como o artigo 463º, quanto à compra para revenda); Estas normas
somente qualificam como comerciais os atos, já a comercialidade enquanto estatuto dos
sujeitos remete-se para o 13º. Atende-se, no essencial, ao elemento operativo (primeiros
atos comerciais objetivamente caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira
compra para revenda), não ao elemento organizativo.

• Teoria jurídica da empresa (TJE) – Esta teoria diz-nos que a norma do 230º é que é a
norma fundamental quanto à qualificação comercial dos atos, ao passo que a norma do
artigo 2º nº1 é uma norma residual, somente quanto aos atos de comércio ocasionais (230º
+ 2º nº1); O artigo 230º alarga o âmbito dos atos objetivos – não são só os clássicos atos
de intermediação nas trocas, mas todos os atos elencados no 230º ou normas especiais
(core ou atos comerciais objetivos absolutos) como todas as atividades preparatórias da
empresa ou a ela funcionalizadas (atos comerciais objetivos acessórios). O 230º opera
duas qualificações: estabelece os atos como comerciais e classifica os sujeitos como
comerciantes (Olavo Cunha), mas complementado pelo artigo 13º. Esta posição antecipa
a qualificação, atendendo ao elemento organizativo em detrimento do elemento operativo
(primeiros atos jurídicos tendo em vista o ato comercial objetivamente caracterizador da
futura atividade core da empresa – imagine-se, a compra e venda de automóveis usados
-, como a contratação de trabalhadores, ou o arrendamento do stand, por exemplo,
mediante um contrato de trespasse).

2º - Tratar separadamente todos os sujeitos que sejam partes na situação jurídica, se a pergunta
não se cingir a um sujeito em concreto;

3º - As questões deverão incidir sobre dois pontos de análise:

• O ato é qualificável como comercial para o sujeito sub judice?

• O sujeito é qualificável como comerciante para o ato sub judice?

(Isto significa que teremos quatro grandes questões (estas duas para cada sujeito), que se tornarão
oito ao todo, pois devem ser respondidas, na falta de explicitação, empregando cada teoria
separadamente); Assim sendo…

4º - Comecemos pela Teoria dos Atos de Comércio (TAC).

5º - Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TAC? (PRIMEIRA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA)

• Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão


normativa da 1ª parte do artigo 2º nº1 Ccom – “todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código”? Entende a doutrina, mediante uma intepretação
extensiva ou atualista - como o fazem o Professor Coutinho de Abreu e o Professor
Evaristo Mendes - que isto engloba:

o As correspondentes a atos de comércio «regulados» diretamente no Ccom;

o As previstas no artigo 230º;

o As correspondentes a atos de comércio regulados por normas avulsas, quer se


trate de normas que revogaram títulos do Código, quer se trate de legislação
comercial extravagante (por autoqualificação ou por interpretação);

o As que correspondam a um pensamento analógico (legis – 10º/2 CC – ou iuris –


10º/3) CC – NA TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO CLÁSSICA NÃO HÁ
ANALOGIA – estes Autores têm uma visão modernista.

• (Cont.) Independentemente da modalidade onde se enquadre, a lógica desta posição é


sempre a seguinte: 2º nº1 1ªP + Norma Especial, codificada ou avulsa. Atende-se, no
essencial, ao elemento operativo (primeiros atos comerciais objetivamente
caracterizadores da atividade da empresa, como a primeira compra para revenda), não ao
elemento organizativo, que atenderia, por exemplo, ao arrendamento do local.

• Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão


normativa da 2ª parte do artigo 2º nº1 CCom – “todos os contratos e obrigações dos
comerciantes (via 13º, segundo a TAC), que não forem de natureza exclusivamente civil,
se o contrário do próprio ato não resultar (ou das suas circunstâncias circundantes) ”.
Importa perguntar três questões…

o Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva positiva)

o Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA


PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO
COMERCIANTE?)

▪ As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade,


inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas para exercer o
comércio por si, por um EIRL ou por representante (13º nº1); E
profissionalidade, mediante a qualificação dos atos de comércio que ele
pratica (ex. 463º CCom).

▪ As Sociedades (13º/2, 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA, SE (1º/2


CSC)

▪ Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);

▪ Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);

▪ As Cooperativas (230º);

▪ As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;

▪ As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).

o Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)


▪ Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);

▪ Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos (dependentes de


uma relação pessoal: por ex., convenções antenupciais e obrigação de
alimentos);

▪ As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);

▪ Os negócios mortis causa (discutível).

• (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação como


subjetivamente comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por essa via.

6º - Repetir toda esta exposição de qualificação do ato como comercial e do sujeito como
comerciante para o outro sujeito, ainda segundo a TAC.

7º - Partimos agora para a análise da questão sob o prisma da Teoria Jurídica da Empresa
(TJE).

8º - Será comercial o ato em questão para o primeiro sujeito, segundo a TJE? (PRIMEIRA
PERGUNTA OBTÉM AQUI RESPOSTA)

9º - Estaremos perante um ato objetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão normativa


do artigo 230º Ccom (relembramos que para a TJE o artigo 230º é a norma qualificadora primária,
operando o artigo 2º nº1 residualmente, somente quanto a atos de comércio ocasionais) – “Haver-
se-ão por comerciais as empresas, singulares ou coletivas, que se propuserem: (…) ”. Esta posição
antecipa a qualificação, atendendo ao elemento organizativo em detrimento do elemento
operativo.

• Se se confirmar a qualificação por esta norma, respondemos desde logo à SEGUNDA


QUESTÃO, uma vez que, segundo Olavo Cunha, o artigo 230º qualifica tanto o ato como
comercial como o sujeito que o pratica como comerciante. Neste caso, o Professor
Coutinho de Abreu entende que há um princípio básico de que todos os contratos de
prestação de serviços são comerciais, nos termos do 230º nº2. É possível, mesmo por
analogia!

• Se não se confirmar, ou não perfilarmos a teoria do Professor Olavo Cunha…

10º - Estaremos perante um ato subjetivamente comercial? Enquadrar-se-á na previsão normativa


da 2ª parte do artigo 2º nº1 Ccom – “todos os contratos e obrigações dos comerciantes (via 13º),
que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar (ou das
suas circunstâncias circundantes) ”. Importa perguntar três questões…

• Estaremos perante um “contrato ou obrigação”? (Condição objetiva positiva)

• Quem pode ser comerciante? (Condição objetiva positiva) (SEGUNDA PERGUNTA


OBTÉM AQUI RESPOSTA – SERÁ O SUJEITO COMERCIANTE?)

o As pessoas singulares capazes de exercício, ou incapazes (menoridade,


inabilitação ou interdição) judicialmente autorizadas para exercer o comércio por
si, por um EIRL ou por representante (13º nº1);

o As sociedades (13º nº2 e 230º) – SNC, SCS, SQ/SuQ, SA, SCA e SE;

o Os AEIE (3º nº2 do DL 148/90);


o Os ACE (por maioria de razão face aos AEIE);

o As Cooperativas (230º);

o As empresas públicas societárias (13º nº2 e 230º), em particular as EPE;

o As empresas autogestionárias (61º nº5 CRP).

• Que obrigações são exclusivamente civis? (Condição objetiva negativa)

o Os contratos e obrigações pessoais (e.g., casamento, adoção);

o Os negócios e obrigações patrimoniais não autónomos (dependentes de uma


relação pessoal: por ex., convenções antenupciais e obrigação de alimentos);

o As liberalidades não usuais (desinteressadas) (discutível);

o Os negócios mortis causa (discutível).

• (Cont.) Confirmando-se estas três condições objetivas de qualificação como


subjetivamente comercial, o ato poderá adquirir a qualificação por essa via.

11º - Repetir toda esta exposição de qualificação do ato como comercial e do sujeito como
comerciante para o outro sujeito, ainda segundo a TJE.

12º - No final, deveremos, para cada teoria, aferir se estamos perante um ato objetivo puro ou
misto (unilateral ou bilateral), consoante seja comercial para uma ou ambas as partes (art. 99º).

13º - Por fim, devemos extrair daí as necessárias consequências no que toca aos direitos e
obrigações das partes na relação contratual, comercial ou não.

II – Estatuto do Comerciante

Estatuto Ativo (direitos e benefícios) e Passivo (deveres e obrigações) dos Comerciantes:

• Regime dívidas dos cônjuges (art. 15 do CCom/ art. 1691.1d) do CC) – consumido pelo
regime do 2º nº2, segundo Evaristo Mendes;

• Juros de mora (art. 102 §§ 3/4 do CCom) - §5 pouco nos importa, mas importa aferir se
o caso concreto não cairá sobre o seu âmbito de aplicação; Atualmente, a taxa de juros
comerciais é de 7,75% (desde 2013), enquanto a taxa de juros civis é de 4% (desde 1980).

• Solidariedade passiva das obrigações (100º do CCom), extensível à fiança (101º


CCom e 638º nº1 CC, com ressalva da exclusão do benefício da excussão prévia = 627º
nº2 CC);

• Forma do mútuo (art. 396 do CCom)

• Eficácia do penhor (art. 400 do CCom);

• Qualificação de negócios e créditos como comerciais, potencialmente sujeitos a


regras distintas do regime civil (art. 2 2ª parte).

• Regras especiais relativas à representação jurídica dos comerciantes, através de


gerentes e auxiliares seus (arts. 248ss do CCom e 115º nº3 CT);
• Direito de saque (278º CCom);

• Regime de especial da insolvência (CIRE);

• Disposição fundamental - art. 18º CCom: Os comerciantes são especialmente


obrigados:

o A adotar uma firma - a disposição vale literalmente para os comerciantes


singulares informais. Se for constituído um EIRL ou adotada uma forma coletiva
de exercício da profissão (sociedade, cooperativa, ACE, AEIE, etc.), a firma é
um requisito constitutivo, de acordo com o regime legal aplicável a cada caso
[cfr., por ex., os arts. 9.1c) e 42.1b) do CSC];

o A ter escrituração mercantil, dar balanço e a prestar contas - regulada nos artigos
29º e seguintes do CCom, há que atender também às NICs e ao SNC. Note-se
que a contabilidade (o essencial da escrituração) é um sistema de informação
quantificada essencial para o adequado funcionamento do sistema: impondo aos
visados uma espécie de autodisciplina na condução do seu negócio, no interesse
do próprio e de quem tem relações comerciais com ele; e fornecendo ao mercado
- através da publicidade legal das demonstrações financeiras, designadamente do
balanço de exercício - elementos informativos acerca da fortuna e do negócio dos
agentes económicos (máxime, comerciantes). Mas há uma grande diferença entre
um empresário, detentor de uma relevante organização produtiva de mercado, e
um pequeno comerciante em sentido económico. Por isso, como se verá, a lei
discrimina este positivamente, sendo menos exigente para com ele;

o A fazer inscrever no registo comercial os atos a ele sujeitos - estabelecem-se nos


artigos 2 e seguintes do CRCom os factos sujeitos a registo. Via de regra, os atos
ou factos sujeitos a registo só são oponíveis a terceiros após a realização deste
(art. 14 do CRCom). O registo é constitutivo em relação às sociedades comerciais
(art. 5 do CSC e art. 13.2 do CRCom; a respeito do AEIE, cfr. o art. 1 do DL
148/90; quanto aos ACEs cfr. os arts. 2.1 e 4 do DL 430/73; quanto às
cooperativas, os arts. 9 e 17 do CCoop); e é obrigatório em relação a diversos
atos relativos ao EIRL, a sociedades, cooperativas, etc. (arts. 15 e 17 do CRCom).
Note-se que, relativamente ao comerciante singular, se tem subestimado o valor
organizativo da publicidade legal (registal). Com efeito, sendo um sistema
socioeconómico bem ordenado um sistema de sujeitos (comerciantes) registados
(art. 18.3º do CCom/art. 2a) do CRCom), apesar de, no caso dos comerciantes
singulares, a qualidade de comerciante se adquirir pelo exercício profissional do
comércio (art. 13.1º), em rigor, um comerciante singular não matriculado não
deveria poder invocar em juízo a sua qualidade de comerciante sem primeiro se
fazer registar. Encontramos uma solução deste género no CPI, a respeito das
marcas notórias e de prestígio (arts. 241.2 e 242.2). Pode, inclusive, observar-se
que, não tendo o artigo 13.1 do CRCom aplicação ao caso, em face dos artigos 2
e 14, a solução até poderia ser, mais radicalmente, a de que, estando o início da
atividade mercantil sujeita a registo [art. 2a)], só a partir deste quem já é
comerciante «de facto» deveria poder invocar a sua qualidade de comerciante
(art. 14.1). Isto vale, no entanto, apenas para quem é efetivamente relevante para
a funcionalidade do sistema. Mais uma vez, portanto, a solução não se justifica
para que está nas margens do sistema: os pequenos comerciantes (não
empresários). Igualmente importante é o artigo 44, relativo ao valor probatório
da escrituração mercantil dos comerciantes. Se um comerciante não tiver livros
de escrituração, ou recusar apresentá-los, farão fé contra ele os do outro litigante,
devidamente arrumados, exceto sendo a falta dos livros devida a caso de força
maior, e ficando sempre salva a prova contra os assentos exibidos pelos meios
admissíveis em juízo.

III – Empresa (CAP’s)

Perspetiva subjetiva do sistema produtivo:

• Pessoas singulares:
o Que desenvolvem atividade produtiva no quadro da sua esfera jurídica geral
▪ Comerciantes (pequenos comerciantes e comerciantes empresários)
▪ Agentes económicos civis (não comerciantes) – empresários agrícolas,
produtores agrícolas autónomos e profissionais independentes
o Que desenvolvem atividade produtiva no quadro de um EIRL
• Pessoas coletivas:
o Sociedades de direito civil personificadas (sociedades profissionais)
o Sociedades de direito comercial:
▪ Modalidades cumulativas:
• Privadas e públicas
• Unipessoais e pluripessoais
• Independentes e integradas em agrupamento societário
(coligadas)
• De pessoas e de capitais
• Fechadas e abertas (máxime, cotadas)
• Empresariais e profissionais
• Constituindo entidades de interesse público ou não
▪ Tipos sociais (artigo 1º nº2 CSC):
• SQ e SuQ
• SC e SQ(SA & comandita (465º nº2 CSC)
• SA, Grande SA, SCAIP, SA cotada, SA fechada, SA com
prestações acessórias
o EPE (Entidades Públicas Empresariais)
o Cooperativas
o Formas empresariais/profissionais complementares – ACE e AEIE
• Organizações coletivas não personificadas:
o Sociedades civis gerais ou simples
o Sociedades com objeto mercantil preliminares, em formação e irregulares

Perspetiva institucional/objetiva do sistema produtivo:

• Unidades produtivas (UP):


o Noção – Organização de meios pessoais e técnicos com base nas quais se exerce
uma atividade económico-produtiva, tendente à criação de riqueza.
o Pequenas UP vs. UP com relevância sistémica
o UP profissionais e UP empresariais (empresas)
o UP empresariais públicas e UP privadas
o Empresas mercantis (capitalistas) e empresas agrícolas
• Estruturas jurídico-produtivas formal e publicamente instituídas:
o EIRL SCom,, SCivPJ, EPE, Cooperativa, ACE e AEIE
• Estruturas coletivas informais
• Norma ordenadora do art.º 1.º/3 CSC
• Tanto as unidades produtivas autónomas (empresas), como as estruturas jurídico-
produtivas são CAPs:
o CAPs personificados e não personificadas
o CAPs empresariais legalmente típicos, formal e publicamente instituídos:
▪ Personificados (SCom etc.) vs. Não personificados (EIRL)
▪ De estrutura unipessoal (SuQ) vs. De estrutura plural
o CAPs empresariais vs. CAPs profissionais
o Empresas mercantis (capitalistas) vs. Empresas agrícolas
o CAPs singulares vs. CAPs coletivos
o CAPs empresariais informais vs. CAPs empresariais em sentido material:
empresa como organização produtiva de mercado autónoma (empresa mercantil
capitalista) – elementos constitutivos:
▪ Fatores produtivos – tudo o que serve de suporte ou sustentáculo ao
exercício da atividade produtiva:
• Recursos afetos à atividade (meios humanos, meios técnicos e
meios materiais)
• Relações e posições de mercado, numa lógica de batalha pelo
cliente em pleno mundo concorrencial
• Crédito de que a organização beneficia
▪ Organização:
• Seleção e articulação dos fatores produtivos, estrutura humana e
técnico-produtivo de mercado
• Implantação nos mercados, geograficamente e
institucionalmente
• Adoção de procedimentos de ação interna e externa, operacional
e estratégica
• “Essência imaterial de lastro corpóreo”
▪ Dimensão de mercado:
• Toda a atividade produtiva desenvolve-se no mercado
concorrencial e para o mercado. “A concorrência é a biosfera da
empresa” - Olavo Cunha:
o Posição de mercado conquistada
o Dimensão de mercado como pressuposto do ganho de
mercado do empresário (ex. trespasse e obrigação de
não concorrência)
o Imagem, reputação e crédito
• Função produtiva:
o Empresa tem por objeto a atividade de produção e ou de
fornecimento de bens e serviços, a intermediação na
troca de bens ou a prestação de um serviço de
intermediação
o Exploração de oportunidades de ganho que o mercado
esteja em condições de proporcionar
o Organização funcionalmente adequada (racionalidade
económica, eficiência, produtividade, aviamento,
contabilidade, autodisciplina, insolvência como espada
de Dâmocles e saneamento do sistema)
• Autonomia:
o Em sentido lato ou estrito, (agrícola ou capitalista) é
uma organização de fatores produtivos autónoma,
assumindo o seu titular o papel de empresário.
o Vertentes autonómicas:
▪ Económico-financeira (autossustentação)
▪ Sociológica (“extroversão” – auto e hetero-
referência como CAP)
▪ Institucional (dessubjetivização – titularidade
variável ou objetivização)
• Empresário singular ou coletivo (PS ou PC)
• Títulos jurídicos relativos aos fatores produtivos:
o Propriedade, usufruto, gozo, fruição, marcas, patentes,
arrendamento, licenças, etc.
o O conjunto das situações jurídicas ativas e passivas
relativas à empresa forma um «património» apelidável
de património empresarial.
• Empresa como centro de atividade (ator jurídico-económico) e
como objeto jurídico:
o Empresa é um CAP, constitui um bem jurídico objeto de
atribuição jurídica ao respetivo titular e, enquanto objeto
é transacionável, podendo integrar a garantia
patrimonial dos credores do titular/empresário.
o Negócios sobre a empresa mais importantes:
▪ Trespasse (transmissão por compra e venda,
dação em cumprimento, troca, etc.)
▪ Locação ou cessão da exploração

A empresa em sentido material, acima caracterizada, pode situar-se e funcionar no quadro de


uma estrutura formal e legalmente típica, publicamente instituída (registada), personificada ou
não personificada, formando com ela um CAP com estas características:

• CAP não personificado, legalmente típico, formal e publicamente instituído. O caso


particular dos EIRL (DL 248/86):
o A atividade que constitui o objeto do EIRL, levada a cabo sob a sua firma,
desenrola-se num quadro patrimonial autónomo: pelas dívidas decorrentes do
exercício dessa atividade responde o ativo afeto ao EIRL, [incluindo a respetiva
empresa] (art. 11); e, em princípio, o ativo do EIRL só responde por essas dívidas
(art. 10). É um mecanismo de separação patrimonial de certa atividade mercantil
da esfera jurídica geral do comerciante, por fins preventivos.
o O EIRL é uma criação de alguém e o resultado de um investimento. Nessa
medida, constitui um bem jurídico, objeto de atribuição jurídica ao seu titular
(fundador ou seu sucessor), objeto transacionável e integrando a garantia
patrimonial dos credores pessoais deste.
o Neste caso (que corresponde à generalidade das situações), pode haver dois tipos
de negócios jurídicos: negócios sobre o EIRL (máxime, trespasse ou transmissão
do EIRL, com a respetiva empresa, constituição de penhor ou de usufruto – art.
21) e negócios sobre a empresa nele albergada (trespasse, locação, penhor, etc.).
Como a titularidade das situações que integram o respetivo património pertence
a quem for titular do EIRL, nesta qualidade, com a transmissão deste, dá-se
também a transmissão dessas situações.
o Uma análise especial merece a integração de uma empresa num EIRL e,
sobretudo, a transformação de um EIRL numa SuQ (art. 270-A.5 do CSC):
▪ Do EIRL à SuQ – transformação simplificada (art. 270-A.5 do CSC: O
estabelecimento individual de responsabilidade limitada pode, a todo o
tempo, transformar-se em sociedade unipessoal por quotas, mediante
declaração escrita do interessado). É favorecida pela lei: art. 20 do DL
8/2007.
▪ Transformação constitutiva: de CAP não personificado (EIRL) para CAP
personificado (SuQ). Identidade substancial. Não aplicação das regras de
transmissão das situações jurídicas que integram o EIRL (?)
• CAP personificado, legalmente típico, formal e publicamente instituído. Os CAPs
societários de direito mercantil:
o Como se observou, nele avultam as SQ e as SA (1º nº2 CSC).
o Estruturalmente, compreende uma superstrutura formal e orgânica (social ou
corporativa) e uma infraestrutura empresarial (ou profissional).
o Sendo um CAP, o seu valor reside primacialmente na sua capacidade sustentável
(tendencialmente duradoura) para gerar um fluxo de caixa apropriável pelos
sócios.
o Sobre o CAP incide um poder de domínio dos sócios e o seu valor líquido é
atribuído a estes através das participações sociais (quotas e ações, nas SQ e SA).
o Os CAPs empresariais – em especial os que revestem a forma de SQ e SA -
podem ser e são frequentemente objeto de negócios jurídicos. Embora seja
possível, por exemplo, a transmissão da própria estrutura societária, sem
nenhuma empresa associada, o caso mais importante é o da transmissão da
estrutura com a respetiva empresa.
o Correntemente, entende-se, na literatura jurídica, que o objeto desses negócios
jurídicos é – não a sociedade ou CAP societário, mas - a empresa societária,
distinguindo-se dois tipos de negócios: os que incidem diretamente sobre a
empresa (asset deal - trespasse), máxime, transmissão de ativos ou «atividade»);
e os negócios indiretos, realizados através das quotas e ações (share deal).
Contudo, esta construção jurídica não está de acordo com as conceções do tráfico,
para o qual o que se pretende, por ex., comprar e vender é o próprio CAP
societário, embora a transmissão do mesmo se dê através da transmissão das
quotas ou ações. Exemplos:
▪ O comerciante A constituiu um EIRL para o qual «transferiu» a empresa
já detida. Subsequentemente, transformou o EIRL numa SuQ. Por fim,
por acordo com o cônjuge, transformou a SuQ numa SQ «plural»
dividindo a participação na primeira (participação detida em comum com
esse cônjuge) em duas quotas, ficando uma para si e a outra para o
cônjuge:
• a) O A era titular do EIRL e podia dispor dele, designadamente
alienando-o. A única questão duvidosa consiste em saber se,
integrando ele o património conjugal, tinha que obter o
consentimento do cônjuge.
• b) Quando transforma o EIRL em SuQ deixa de poder dispor
desta, apenas podendo dispor da respetiva participação nela? Há
alguma diferença substancial entre as situações que justifique tal
solução? Em termos materiais, não é sempre o mesmo CAP?
• c) O mesmo sucedendo se a alienação respeitar à SQ e respetivas
quotas?
o As sociedades simples ou gerais, regulares (civis) ou irregulares (com objeto
mercantil), formam CAPs coletivos, desenvolvendo a sua atividade num quadro
patrimonial autónomo, separado da esfera de atividade e patrimonial dos sócios.
A natureza jurídica é controvertida. Há quem lhes reconheça subjetividade
jurídica (e quem entenda que neste caso estamos perante uma pessoa coletiva) e
quem entenda que estamos perante simples patrimónios autónomos. Mesmo que
não se reconheça tal subjetividade, estamos perante CAPs, não meros
patrimónios; a atividade do CAP (societário) é que tem legalmente um quadro
patrimonial próprio ou autónomo (embora autonomia imperfeita).

IV - Trespasse

Definição de estabelecimento comercial – segundo o Professor Francisco Barona, o EC é o


conjunto de bens ou serviços predispostos pelo empresário que serve de suporte para uma
atividade produtiva de mercado, englobando elementos corpóreos e incorpóreos dentro da
chamada dimensão técnico-produtiva, aliada à dimensão de mercado. Na verdade, embora possa
designar-se estabelecimento o mero conjunto funcionalmente organizado de elementos (materiais
e imateriais) de caráter patrimonial que servem ou podem servir de base ao exercício de uma
atividade empresarial, em geral (quer no tráfico, quer na realidade especialmente regulada pelo
legislador), o estabelecimento (azienda) identifica-se, no seu núcleo essencial, com a própria
posição de mercado constituída, ou organizada, pelo empresário, na sua teia de relações e
situações, jurídicas e de facto, aparecendo em segundo plano os elementos que a suportam
(Evaristo Mendes). O seu preço determina-se pelo seu aviamento (qualidade produtiva e
capacidade de produzir riqueza).

Então, estaremos perante um EC?

Não é que releve, uma vez que o trespasse tanto opera quanto a EC como a estabelecimentos não
comerciais (1112º nº1 al. a)). Muito debatida tem sido o conceito de “industrial”. PL e AV têm
uma visão tradicional, argumentando no sentido da qualfiicação de industrial como tudo o que
não é necessariamente juridico-comercial mas visa a criação de riqueza. CA defende que
industrial pretende incluir a industria extrativa, artesanais industriais, cultivo da terrra e ciração
de animais (enfim, elementos não encessariamente comerciais).
Estamos perante um contrato de trespasse (oneroso e inter vivos).

O trespasse, originalmente na versão original do CC de 1966, era regulado nos artigos 1083º a
1120º do CC (1109º e 1112º e 1118º CC – arrendamento para fins não habitacionais). Na década
de 90 transitou para o RAU, em 2006 para o NRAU e hoje surge regulado num Anexo do NRAU,
dedicado à republicação de certos artigos do CC, 1112º por exemplo. A sua inserção junto do
regime do arrendamento resulta de razões históricas, já que a maior parte dos EC funcionavam
em locais arrendados e os senhorios tentam, desde há muito, condicionar a circulação do local.

O trespasse é definido - articulando o entendimento dos Professores Coutinho de Abreu e


Francisco Barona - como um contrato de transmissão direta e definitiva da propriedade de
um estabelecimento ou empresa por negócio entre vivos (se operar mortis causa, opera como
uma espécie de trespasse impróprio, em que se aplica o mesmo regime).

O contrato de trespasse, nos termos do 1112º nº3, exige a sua redução a escrito particular, mesmo
que envolva a transmissão da propriedade do prédio, no trespasse de local próprio (CA), ainda
que a maioria da doutrina exija escritura pública ou documento particular autenticado. Não faria
sentido que para diversos elementos necessários da transmissão, como a transmissão da firma, da
marca ou do logótipo a lei exigi-se forma escrita, mas para um contrato de maior amplitude que
o abranja, tal fosse dispensado (44º nº1 e nº4 RRNPC e 31º nº5, nº6 e 304º-P nº3). O mesmo se
diga para o trespasse de farmácias (18º nº4 DL 307/2007).

Tratemos dos âmbitos de entrega.

O âmbito mínimo de entrega corresponde aos bens necessários ou essenciais para identificar ou
exprimir a empresa objeto do negócio na transmissão de um concreto estabelecimento. A lei
interessa-se pela perduração da afetação de determinados bens. Sem a entrega de todos os
elementos mínimos, o que se transmite é o conjunto de bens que integram o estabelecimento, mas
não o estabelecimento em si. É impossível definir em abstrato os elementos que integram este
leque. Importa proceder a uma análise casuística.

Teremos duas modalidades de âmbitos de entrega:

• Obrigatório/Natural (ex silentio)/Imperativo/Legal/Mínimo;

• Convencional/Máximo.

É possível enumerar os elementos que habitualmente compõem o âmbito de entrega:

Âmbito mínimo e elementos naturais de entrega, que se transmitem necessariamente…

• Meios empresariais do trespassante a título de propriedade:

o Elementos corpóreos: Máquinas; Utensílios; Mobiliário; Matérias-primas;


Mercadorias, etc. (empresa enquanto bem jurídico complexo-unitário);

o Elementos relativos à propriedade industrial: Logotipos e marcas; Inventos


patenteados; Modelos de utilidade; Desenhos ou modelos (304º-P nº3 CPI,
exceto 31º nº5, em parte);

o Elementos incorpóreos: dimensão de mercado/clientela, faturação, localização,


rede de distribuição, conhecimento geral, contratos duradouros, etc.
o Prédios: para os casos de trespasse de local próprio (a doutrina divide-se quanto
à sua admissibilidade – Orlando de Carvalho nega, preferindo a cedência do local
a título de arrendamento (preço pode indiciar a cedência a título de propriedade
ou a título de arrendamento), enquanto Coutinho de Abreu, Barbosa de
Magalhães (categoricamente), Ferrer Correia (ainda que menos categoricamente,
falando em cedência do uso a um de três títulos: propriedade, usufruto,
arrendamento ou comodato) defendem que sempre que de um contrato de
trespasse não se faça menção à transmissão do prédio e não se conclua, por
interpretação do negócio, que ele foi excluído, deve concuir-se que a propriedade
do mesmo foi (naturalmente) transmitida – “direito ao local”); Francisco Barona
faz depender este direito da ligação instrínseca entre o estabelecimento e o local
onde o trespassante o desenvolvia – ex. campo de golfe, hotel vs. Loja de meias).
O local é fundamental, quer enquanto suporte físico, quer enquanto elemento de
acreditação, a nível de clientela – ainda mais, no pequeno comércio tradicional;

o Know-how da empresa (requisito da imissão do adquirente na posse).

• Meios empresarias na disponibilidade do trespassante a título obrigacional:

o Contratos de trabalho (285º nº1 CT) – posição de empregador;

o Cessão da posição contratual de arrendatário (regime de exceção) – para os casos


de trespasse de local arrendadado – inquilinato comercial (Coutinho de Abreu,
Pereira Coelho e Evaristo Mendes consideram que também se transmite - cessão
da posição contratual) – em prédio arrendado ou alocado dispensa-se a
autorização do senhorio - 1112º, fugindo à regra geral de onde se extrairia a
necessidade de consentimento – 424º e ss. e 1059º nº1. Basta que se comunique,
fazendo uma notificação, sujeita a prazo de 15 dias (1038º g)) – 1112º nº2 –
provando que haveria simulação, não haveria trespasse. Se não, haveria trespasse.
E se não houve notificação? Seria trespasse ineficaz por violação do 1112º nº3.
Sendo ineficaz, aplica-se o 1083º nº2 al. e) CC, existindo fundamento para
resolução do contrato de arrendamento. A lei protege o interesse das partes do
contrato de trespasse, os interesses comerciais, em detrimento do interesse do
senhorio;

o Transmissão da posição de locatário financeiro (11º nº1 DL 149/95);

o Transmissão dos seguros relativos à atividade desenvolvida.

Âmbito e elementos convencionais de entrega, apenas transmissíveis por meio de


estipulação…

• Efeitos internos da transmissão – tudo se transmite sem mais (Oliveira Ascensão defendia
a tese da alienação unitária, com ressalva das três figuras de cessão de posições).

• Efeitos externos da transmissão – Exige-se a observância dos requisitos de cada figura,


como requisitos de eficácia:

o Firma, logotipo ou marca quando neles figure nome individual, firma ou


denominação do titular do estabelecimento (44º nº1 RRNPC e 31º nº5 CPI)

o Cessão de posições contratuais ligadas à exploração da empresa mas cujos


objetos imediatos não sejam elementos do estabelecimento e débitos resultantes
da exploração do estabelecimento (424º e ss. CC – regime geral, que exige a
confirmação de terceiros, que a inexistir, retém tudo no trapassante – o que torna
esta situação muito rara) – exceção → posição de arrendatário, segundo a maioria
da doutrina.

o Cessão de créditos do trespassante ligados à exploração da empresa mas cujos


objetos não sejam meios do estabelecimento não devem considerar-se, dissemos
já, elementos ou meios empresariais (577º, atenção ao 583º CC – cessão é válida,
mas meramente aparente, pelo que o devedor cedido se não for notificado,
continuará a cumprir regularmente perante o credor cedente aparente)

o Transmissão singular de dívidas (assunção de dívidas – 595º) - só com acordo


entre os trespassante e o trespassário e ratificação e declaração expressa dos
credores, ou por acordo entre o trespassário e os credores, com ou sem
consentimento do trespassante. Se faltar a ratificação, o negócio deverá ser
interpretado pro creditoris, numa co-assunção solidária de dívidas pelo
trespassante e trespassário. Por conseguinte, ainda que no escrito se diga, como
é habitual, que o estabelecimento é trespassado com todo o seu ativo e passivo,
esse facto, por si só, não significa assunção pelo trespassário de dívidas do
trespassante relativas ao estabelecimento, pois exige-se sempre uma palavra dos
credores - ou como ratificação, ou como acordo direto com o trespassário. A
antiga jurisprudência que, conceptualmente, dizia que passava todo o ativo e
passivo, estava errada. Há casos de exceção (âmbito de entrega legal imperativo):

▪ 285º nº1 e nº2 CT – ordenados e coimas laborais

▪ 209º nº2 CRCSPSS – segurança social

▪ Dìvidas relativas ao EIRL

Elementos excluídos do âmbito natural e convencional:

• Patentes, modelos de utilidade, desenhos ou modelos objeto de licenças de exploração


(32º nº1 e nº8 CPI)

• Máquinas, veículos, móveis emprestados (1059º nº2 e 1139º f) CC)

Sublinhe-se a existência de duas modalidades de transmissão de CAPs empresariais:

• Direta (asset deal) – Trespasse


• Indireta (share deal) – Se o titular da empresa for uma sociedade, em vez de a alienar por
completo, pode apenas fazer uma alienação de ações representativas do capital da
empresa. Com que percentagem será que se transmite?
o 100% - unanimemente.
o Maioria Qualificada (2/3) – Mesquita diz que não.
o Maioria (+ 50%) – Muitos admitem, pela assunção do controlo da sociedade.
o Controlo de facto (- 50%, mas capital social muito disperso) – Poucos admitem.

Debrucemo-nos sobre o problema relativo à obrigação implícita de não concorrência. Esta


obrigação decorre, desde há muito, implicitamente, de todos os negócios de alienação de empresas
(sem necessidade de estipulação ad-hoc), sendo reconhecida pela doutrina e jurisprudência da
maior parte dos ordenamentos jurídicos (i.e. obrigação de abstenção).
O trespassante de estabelecimento, e eventualmente, outras pessoas mais, ficam obrigados, ao
longo de um certo espaço e durante um determinado periodo de tempo, a não concorrer com o
trespassário ou seus futuros adquirentes, desde logo, com atividade idêntica ou similar à exercida
no estabelecimento trespassado.

Fundamentos: princípio da boa-fé, equidade, bons usos do comércio, garantia contra evição,
dever de o alienante entregar a coisa assegurando o seu gozo pacífico (fundamento maior).

A empresa é um bem complexo, englobando múltiplos valores de organização e de exploração.


Normalmente, o alienante ou os seus representantes conhecem as características fundamentais da
empresa e das suas relações com terceiros. Seria, pois, particularmente sensível a sua
concorrência com este EC (concorrência diferencial) – esta razão de ser permite, assim, que
se abra exceções para os casos em que se demonstre que estes elementos não são do conhecimento
do alienante (Hubmann). Nuno Aureliano e Pais de Vasconcelos chegam, mesmo, a negar a
existência de uma qualquer obrigação de não concorrência (argumentando com uma analogia com
o regime do contrato de agência – 9º do DL 178/88 de 3 de julho -, com o 136º CT e com o 61º
nº1 CRP.

Francisco Barona diz que a sua aceitação depende do conceito de EC que adotarmos:

• Conceito restrito – dimensão técnico-produtiva/corpórea – não admissão da


obrigação.

• Conceito amplo – dimensão de mercado – admissão da obrigação de abstenção, já


que o trespassário pagou pela dimensão de mercado do estabelecimento;

Esta obrigação pode provir da generalidade dos negócios incluídos no conceito de trespasse:
venda (voluntária, executiva, falencial), na permuta, na realização de entrada social na dação em
cumprimento, na doação.

Por tudo isto, compreendemos que o trespassante ficará vinculado.

Contudo, para além do trespassante, outras pessoas poderão ficar vinculadas pela obrigação
implícita de não concorrência. De que pessoas estamos a falar?

• Cônjuge do trespassante (independentemente da qualidade do bem ou regime de bens)

• Filhos do trespassante, quando com ele tenham colaborado na exploração do EC


transmitido, ou qualquer amigo ou familiar próximo que tenha acesso a conhecimentos
de privilégio.

• Sócios da empresa trespassante, concretamente, aqueles que detenham conhecimentos


relativos à empresa trespassada que possam conduzir a uma concorrência diferencial, ou
por exercerem funções ao nível da administração ou por deterem o controlo maioritário e
efetivo da sociedade.

Os sujeitos ativos credores desta obrigação implícita de não concorrência contam-se entre o
primeiro trespassário mas também (enquanto a obrigação dever durar) os eventuais sucessivos
trespassários (credores do primeiro trespassante seja de outros trespassários-trespassantes)

Naturalmente, que esta obrigação não se perfila em termos absolutos. Tem limites:

• Objetivos – Não ficam proibidos de exercer qualquer atividade económica, mas somente
de (re)iniciar (exceções para o caso de já praticarem à data do trespasse) o exercício de
modo sistemático ou profissional de uma atividade concorrente com a exercida através
da empresa trespassada - atividade económica no todo ou em parte igual ou sucedânea da
inicial.

• Espaciais – Limitados ao raio de ação do estabelecimento trespassado (dimensão de


mercado – raio de irradiação da influência)

• Temporais – Durante tempo suficiente para se consolidarem os valores de organização


e/ou de exploração da empresa transmitida na esfera de um adquirente-empresário
raazoavelmente diligente. A doutrina e a jurisprudência estabeleceu um limite entre 2 a 5
anos. 2 anos, porque é o que a lei prevê para o contrato de agência; 5, porque é o máximo
que tem sido usado em outros ordenamentos jurídicos da UE.

Quais são as consequências da violação dessa obrigação? O credor da mesma poderá exercer
os direitos decorrentes do regime do não cumprimento de obrigações (798º e ss, CC), como
interpor ação de cumprimento (817º), requerer uma sanção pecuniária compulsória (829º-A), ou
exigir que o novo estabelecimento do obrigado seja encerrado (829º nº1) – ainda que com
divergências doutrinárias, desde logo, de AV e PL.

Sublinhemos que esta obrigação é convencionalmente disponível, pelo que, por estipulação
expressa, poderá ser livremente afastada.

V – Contratos de Distribuição

1º - Identificar o contrato de distribuição em causa, pela identificação de cada uma das suas
características essenciais (adiante elencadas).

2º - Extrair todas as consequências do regime de cada contrato de distirbuição, atendendo aos


dados da hipótese (celebração, direitos e obrigações, cessação, indemnização de clientela, etc.).

Figura de trás – Produtor; Figura da frente – Distribuidor.

• Agência – Regime do Contrato de Agência

o Obrigação do agente promover a celebração de contratos

o Atuação do agente por conta e interesse do principal (diferente da concessão e da


franquia, onde se atua por conta própria)

o Autonomia do agente (diferente do trabalhador)

o Estabilidade da relação (diferente da mediação, ainda que, porventura, a prazo)

o Onerosidade (pagamentos à “comissão”)

• Concessão – Regime Convencional (Regime do Contrato de Agência em tudo o que for


permitido por um pensamento casuisticamente analógico – Evaristo Mendes é bastante
cético quanto a esta possibilidade, por fruto do risco muitíssimo acrescido da concessão
por comparação com a dependência do agente, mas admite uma análise casuística)
o Obrigações de venda e de compra para revenda com risco próprio assumido,
pois o lucro do concessionário resulta da diferença entre o preço da compra
e o preço da revenda. Usualmente utilizado para bens de luxo (ex. Mercedes)

▪ Inexistência de direito de retoma dos bens origina o problema da


acumulação de stocks aquando da cessação do contrato de concessão:

• Concessionário assume todo o risco? Ou

• Distinção doutrinária consoante imputabilidade da cessação:

o Ao concedente (indemnização ao concessionário)

o Ao concessionário (dano sibi imputet)

o A nenhuma das partes:

▪ Prorrogação do contrato de distribuição pelo


tempo necessário para escoamento dos stocks

▪ Condição resolutiva tácita de que o contrato não


acaba sem escoamento. Logo, haverá direito à
retoma dos stocks ao produtor.

o Atuação em nome e por conta própria (diferente da agência, igual à franquia)

o Autonomia relativa (pessoa diferente, empresa própria, integrada numa rede


sujeita à política comercial do concedente e assistência técnica ao cliente segundo
o ensinamento do produtor – outra forma de ganho)

o Estabilidade da relação (natureza de contrato-quadro, base dos NJ seguintes)

• Franquia (de distribuição – Zara -, de serviços – 5 à Sec -, e de produção – Pizza Hut) -


Regime Convencional (Regime do Contrato de Agência em tudo o que for permitido por
um pensamento casuisticamente analógico – talvez mais provável do que no regime da
concessão, pois a integração denota maiores afinidades com o regime da agência!)

o Atribuição ao franquiado da prerrogativa (franchise = privilégio) de fruição


da imagem empresarial do franquiador (direito-dever) – direitos privativos
de propriedade industrial ou outros elementos coletores de clientela, para
que tudo pareça que é o próprio produtor que aparece aos olhos do público.

o Transmissão do know-how industrial e prestação de assistência técnica

o Subordinação do franquiado ao controlo e fiscalização do franquiador (diferente


da concessão, pois mais apertada – sendo que também inclui obrigações de
compra para revenda, repetindo-se o problema dos stocks e suas soluções)

o Oneroso (front money, ao início, e royalties, na pendência)

• Mediação

o Acordo (expresso ou tácito, escrito ou oral)

o Atividade pontual e independente de intermediação num único contrato futuro

o Oneroso (comissão)
Problema da indemnização de clientela: Sabemos que é consagrada no artigo 33º para o contrato
de agência, uma vez verificados todos os seus requisitos cumulativos. Será, todavia, esta
disposição extensível aos contratos de concessão e de franquia? Terá a clientela sigo angariada e
o volume de negócios aumentado por força do produtor ou do distribuidor? De quem será, de
facto a clientela? Não será, na franquia e na concessão, do franqueado e do concessionário,
somente? Temos 3 posições diferentes:

• Posição negacionista - Não se aplica por analogia à concessão e à franquia. Não pode
haver analogia pois estamos perante uma norma excecional.
• Posição permissivista - Pode-se aplicar por analogia iuris (10º nº3 CC), desde que se
verifique um aumento do volume de negócios e de clientela.
• Posição intermédia – Pode-se aplicar poa analogia legis (10º nº2 e nº3), com todos os
pressupostos do 33º nº1, nº2 e nº3 verifados, ainda que com cuidada aferição casuística

VI – Propriedade Industrial

1º - Definição e Função (artigo 1º CPI)

2º - Âmbito material do CPI (artigo 2º CPI)

3º - Âmbito pessoal do CPI (artigo 3º CPI)

4º - Princípio da territorialidade ou prefência (artigos 4º, 11º e 12º CPI)

5º - 2 grandes matérias da propriedade industrial – Direitos Privativos (efeito de bloqueio):

• Criações intelectuais (invenções/inovações):


o Técnicas (patentes, modelos de utilidade, configurações de semicondutores –
artigos 51º e ss., 117º e ss., 153º e ss. CPI)
o Estéticas (desenhos/modelos – 173º e ss. CPI)
• Sinais distintivos (sinais individualizadores):
o Individuais (marcas individuais, recompensas, nome comercial (logótipo e firma)
– artigos 222º e ss., 271º e ss., 304º-A e ss. CPI, RRNPC e CUP)
o Coletivos (denominação de origem e indicação geográfica, marcas coletivas –
305º e ss. e 228º-232º CPI)

6º - Estas duas modalidades de direitos privativos são atribuidos por concessão administrativa
(efeito constitutivo)

7º - Para cada matéria (marca, logotipo, patentes, modelos de utilidade, etc.), analisar, se
necessário na hipótese:

• Conceito e seus elementos (51º, 117º, 153º, 173º, 222º, 272º, 304º-A CPI, RRNPC)
• Âmbito positivo (requisitos de concessão – registo no INPI)
• Âmbito negativo (fundamentos de recusa da concessão administrativa)
• Efeitos da concessão:
o Âmbito da proteção
o Direitos conferidos pelo registo
8º - Havendo infração de qualquer direito privativo, o titular deve instaurar ação de infração,
gozando dos seguintes meios de tutela no âmbito de relações interprofissionais:

• Proteção mínima ou complementar – regime da concorrência desleal (317º e 318º CPI),


aplicável na ausência de registo do direito privativo:
o Cláusula Geral (317º nº1 CPI) + 331º; Doutrina inclui:
▪ Atos de apropriação direta dos resultados de atividade alheia -
jurisprudência alemã (lançamento de produto não protegido e cópia em
larga escala por empresa concorrente)
▪ Concorrência parasitária (espera que o concorrente aja, para copiar)
▪ Incitamento à rutura contratual
▪ Atos de obstrução à atividade comercial
▪ Aquisição de vantagem concorrencial mediante a violação de normas
o Ilícitos específicos (317º nº1, alíneas a)-f) CPI) + 331º
o Marcas notórias e marcas de prestígio (241º e 242º CPI – misto de proteção
mínima e de proteção qualificada)
• Proteção qualificada (Registo):
o Administrativa (recusa de concessão/registo no INPI, nulidade ou anulabilidade
da concessão – fundamentos gerais do 24º, 33º e 34º, ou fundamentos específicos
de cada matéria da propriedade industrial)
o Penal (320º e ss. CPI; 227º, 228º e 229º CP)
o Civil (338º e ss. CPI)
• Lei da Concorrência:
o 9º e 10º - situações de conluio (acordos, práticas concertadas de falseamento da
concorrência, fixação de preços, divisão de mercados)
o 11º - Abuso de posição dominantes (relações horizontais)
o 12º - Abuso de dependência económica (relações vertivais)
• DL 57/2008 (práticas desleais de concorrência)

9º - No âmbito de relações de consumo – Código da Publicidade:

• Conceitos – artigo 5º
• Publicidade enganosa – artigo 11º
• Publicidade comparativa – artigo 16º

VII – Insolvência

(Passos obrigatórios)

1º - Estaremos perante um sujeito passivo de insolvência? 2º nº1 al. A) CIRE

2º - Haverá uma situação de insolvência? – 3º nº1 e nº2 – (único pressuposto do processo)

3º - Poderá requerer a declaração de insolvência? – 19º e 20º (legitimidade)

4º - Deverá requerer a declaração de insolvência? – 18º nº1 (nº3 e 20º g) iii))

5º - Como poderá fazê-lo? – 23º nº2 a) (Petição inicial) + 24º (elementos necessários)
6º - Se não o fizer, a insolvência poderá considerar-se culposa (186º nº3 al. a) – presunção ilidível
de culpa)

(Passos hipotéticos – se a hipótese pedir)

7º - Quando a insolvência é fortuita, não há nenhuma sanção aplicável ao devedor (por razões de
mercado – “limpeza” do mercado das empresas ineficientes). Se for culposa (foi o devedor que
se colocou naquela situação), tal pode ter relevância. As cosequências pessoais dividem-se entre:

• Profissionais e Civis – 186º nº2 a) e b) e 189º nº2 c) e d) e e) CIRE


• Penais – 227º ou 228º CP
• Patrimoniais – Reversão da responsabilidade dos administradores

8º - Requerida e declarada a insolvência, todos os bens do devedor são considerados – art. 46º.
Supondo que o devedor um ano antes da insolvência tinha começado a dissipar os bens e, quando
a empresa vem a ser declarada insolvente, já praticamente não tem bens. Há um prazo em que os
atos praticados ficam sob suspeita de terem sido prejudicais para a situação de insolvência. Daí
se prever a resolução em benefício da massa – arts. 120º e ss. CIRE – que visa fazer regressar
ao património do devedor os bens que foram dispostos no período de suspeita (atos prejudicais à
massa, praticados 2 anos antes do início do processo e que o terceiro esteja de má-fé). Esta
resolução tem efeitos retroativos (126º) e ai levar à reintegração dos bens na massa insolvente, e
se o terceiro estava de má-fé tiver um crédito quanto à massa, este será um crédito subordinado
(art. 8º). Há também a resolução incondicional (art. 121º - 1ª via da hipótese), em que se dispensa
os pressupostos anteriores, em que os casos per si fazem com que opere esta resolução, dado o
caráter evidente da prejudicialidade.

9º - Os créditos sobre a massa da insolvência ou as dívidas da massa insolvente são sempre pagos
precipuamente (172º nº1 e nº2 e 51º nº1), ou seja, antes dos créditos sobre a insolvência ou dívidas
da insolvência.

10º - Uma vez satisfeitos os primeiros, os segundos são satisfeitos (pós-reclamação – 128º)
segundo a seguinte ordem de prioridade:

• Garantidos (47º nº4 a) – 1ª parte e 174º);


• Privilegiados (47º nº4 a) -2ª parte e 174º);
• Comuns (47º nº4 c) e 176º);
• Subordinados (47º nº4 b), 48º e 177º).

VIII – Títulos de crédito e valores mobiliários

Não há esquema.

Ler a Fátima Gomes (poucas páginas), compreender todo o regime da LULL e da LUCh e
conhecer o CVM nos seus traços muito gerais.

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