1. Introdução • Os sujeitos (singulares ou coletivos) com capacidade civil de exercício possuem igualmente a capacidade comercial de exercício, podendo praticar atos de comércio – Artigo 7.º Ccom • Todavia, os atores principais e determinantes do Direito Comercial são, naturalmente, os comerciantes, os quais têm um estatuto próprio, além disso: • Os atos dos comerciantes são considerados subjetivamente comerciais (de acordo com o artigo 2.º, 2.ª parte do artigo 2.º Ccom); • As dívidas comerciais dos comerciantes casados presumem-se contraídas no exercício dos respetivos comércios (artigo 15.º CCom) e, tais dívidas são, em princípio da responsabilidade dos comerciantes e seus cônjuges (artigo 1691.º, n.º 1, al. d) CC); • A prova de certos factos em que intervém um comerciante é facilitada – Artigo 396.º Ccom e 400.º Ccom; • Prescrevem no prazo de dois anos certos créditos dos comerciantes – Artigo 317.º, al b) CC; • Os comerciantes estão obrigados a adotar uma firma, a ter escrituração mercantil, a fazer inscrever no registo comercial os atos a ele sujeitos (de acordo com o Código do Registo Comercial), a dar balanço a a prestar contas – artigo 18.º CCom 2. Sujeitos qualificáveis como comerciantes 2.1. Pessoas Singulares • De acordo com n.º 1 do artigo 13.º CCom, são comerciantes “As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste profissão”, referindo-se, portanto a pessoas singulares. • Assim, as pessoas têm de ter capacidade para praticar atos de comércio, nomeadamente a capacidade de exercício (a capacidade para agir, para atuar juridicamente, por ato próprio ou mediante procurador). Deste modo, os incapazes (menores e maiores acompanhados), à primeira vista, não poderiam ser comerciantes, todavia algumas normas do Direito Civil ajudam a esclarecer esta questão: 2. Sujeitos qualificáveis como comerciantes 2.1. Pessoas Singulares • O Artigo 1889, n.º1 al c) CC permite que os pais, enquanto representantes do filho, e autorizados pelo Tribunal – “Adquirir estabelecimento comercial ou industrial ou continuar a exploração do que o filho haja recebido por sucessão ou doação”; Igual solução para o Tutor representante do menor ou maior acompanhado (artigo 1938.º, n.º 1 als a) e f) CC)
Deste modo, os incapazes que exerçam o comércio através de representantes
legais, devidamente autorizados pelo Tribunal, devem ser considerados comerciantes e têm o estatuto de comerciantes, quando cumpridas estas regras. 2. Sujeitos qualificáveis como comerciantes 2.1. Pessoas Singulares • Para serem comerciantes, as pessoas com capacidade para praticar atos de comércio (e os incapazes de acordo com as regras referidas) têm de fazer do comércio profissão, isto é, de modo habitual ou sistemático, o façam em nome próprio (pessoalmente ou através de representantes), não se exige, no entanto que o faça de modo exclusivo, nem que seja a principal ou que seja exercida de modo contínuo (por exemplo, é comerciante quem explore um parque de campismo apenas nos meses de verão). 2. Sujeitos qualificáveis como comerciantes 2.2. Pessoas Coletivas
• De acordo com o artigo 13.º, n. 2 CCom, são comerciantes as Sociedades
Comerciais • Além destas, outras pessoas coletivas podem ser comerciantes, como é o caso das Entidades Públicas Empresariais (EPE), etc. 3. Sujeitos não qualificáveis como comerciantes • Não são comerciantes as pessoas (singulares ou coletivas) que exercem atividade agrícola (agricultura em sentido estrito, silvicultura e pecuária); • Também não são comerciantes os artesãos • Os profissionais liberais (pessoas singulares que exercem de modo habitual e autónomo atividades primordialmente intelectuais, suscetíveis de regulamentação e controlo próprio) 4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de comércio 4.1. Entidades coletivas • De acordo com o artigo 14.º CCom, “É proibida a profissão do comércio: 1.º Às associações ou corporações que não tenham por objecto interesses materiais”. Deste modo: • As associações de fim desinteressado ou altruístico não podem ser comerciantes porque não têm por objeto interesses materiais ( § único do artigo 17.º CCom); • Associações de fim interessado ou egoístico mas ideal (associações recreativas, culturais, desportivas, etc) também não têm por objeto interesses materiais; • Associações de fim interessado ou egoístico de cariz económico não lucrativo (associações mutualistas, associações sindicais, associações de empregadores, etc), porque não obstante poderem praticas atos de comércio, não fazem do comércio profissão. 4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de comércio 4.2. Pessoas singulares • Importa agora analisar alguns casos de incompatibilidades. De acordo com o artigo 14.º, n.º 2.º “Aos que por lei ou disposições especiais não possam comerciar”. • A lei comercial estabelece algumas incompatibilidades: • 253.º Ccom • 180.º, n. 1 CSC • 254.º, n.º1 CSC • 398.º, n.º 3 e 428.º CSC • 477.º CSC 4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de comércio 4.2. Pessoas singulares • Existem também incompatibilidades de direito público: • Magistrados judiciais - Lei n.º 21/85, de 30 de Julho - ESTATUTO DOS MAGISTRADOS JUDICIAIS – Artigo 8.º- A; • Magistrados do Ministério Público - Lei n.º 68/2019, de 27 de Agosto - ESTATUTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – Artigo 107.º; • Militares - DL n.º 90/2015, de 29 de Maio - ESTATUTO DOS MILITARES DAS FORÇAS ARMADAS – artigo 14.º, n.º 3 • Titulares de cargos políticos e de altos cargos públicos - Lei n.º 52/2019, de 31 de Julho - REGIME DO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES POR TITULARES DE CARGOS POLÍTICOS E ALTOS CARGOS PÚBLICOS – Artigo 6.º, n.º 2 (ver também artigos 2.º e 3.º) 4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de comércio 4.1. Pessoas singulares
• Importa agora questionar, se uma pessoa proibida pela lei de comerciar,
exercer profissionalmente o comércio, é comerciante? Sim, desde que tenham capacidade para praticar atos de comércio e façam disso profissão, até porque os atos não serão nulos, anuláveis ou ineficazes. O que poderá ocorrer são sanções, como responsabilidade civil, destituição com justa causa, penas disciplinares, perda de mandato, demissão, destituição judicial, etc. 4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de comércio 4.2. Pessoas singulares • Finalmente, temos as situações relacionadas com a insolvência • Definição de insolvência – Artigo 1.º Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE) • Quem está sujeito à insolvência? • Quaisquer pessoas singulares ou coletivas (artigo 2.º, n.º 1, al a) CIRE); • Sujeitos de natureza coletiva mas não personalizados (Artigo 2.º, n.º 1, als c), d), e), f), CIRE) ; • Herança jacente (artigo 2.º, n.º 1, al b) CIRE); • O Estabelecimento Individual de Responsabilidade limitada (artigo 2.º, n.º 1, al g) CIRE); • Quaisquer outros patrimónios autónomos (artigo 2.º, n.º 1, al h) CIRE); 4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de comércio 4.1. Pessoas singulares • Deste modo, concluímos que os sujeitos passivos da declaração de insolvência não têm de ser comerciantes • Pressuposto objetivo para ser declarado insolvente é a situação de insolvência ou situação equiparada • Em geral, e de acordo com o artigo 3.º, n.º 1 CIRE “É considerado em situação de insolvência o devedor que se encontre impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas”. • O n.º 4 do mesmo artigo acrescenta ainda que “Equipara-se à situação de insolvência actual a que seja meramente iminente, no caso de apresentação pelo devedor à insolvência”, ou seja, quando se antevê como provável que o devedor não terá meios para cumprir com a generalidade das suas obrigações no momento em que vençam. 4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de comércio 4.1. Pessoas singulares • Quanto aos efeitos da declaração de insolvência para a inibição do comércio: • Artigo 81.º, n.º 1 CIRE – Importa referir que a massa insolvente é constituída em regra por todo o património do devedor à data da declaração de insolvência e pelos bens que ele adquira na pendência do processo (artigo 46.º, n.º 1 CIRE) • Na sentença de declaração de insolvência ou em momento posterior pode o juiz declarar aberto o incidente de qualificação de insolvência a fim de apurar se ela é culposa ou fortuita, sendo culposa quando a situação tiver sido criada ou agravada em consequência da atuação, dolosa ou com culpa grave do devedor ou dos seus administradores nos três anos anteriores ao início do processo de insolvência (artigo 186.º, n.º 1 CIRE); • Na sentença que qualifique a insolvência como culposa: artigo 189.º, n.º 2, al. c) e n.º 3 CIRE • Se a pessoa proibida de comerciar violar a proibição ,exercer a profissão de comerciante, tornar-se-á comerciante? Não, não devendo ostentar o título de comerciante e ter o respetivo estatuto quem está legalmente impedido de fazê-lo por razões de tutela do crédito do comércio.