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Dos Comerciantes

Prof. Sérgio Tomás


1. Introdução
• Os sujeitos (singulares ou coletivos) com capacidade civil de exercício possuem
igualmente a capacidade comercial de exercício, podendo praticar atos de
comércio – Artigo 7.º Ccom
• Todavia, os atores principais e determinantes do Direito Comercial são,
naturalmente, os comerciantes, os quais têm um estatuto próprio, além disso:
• Os atos dos comerciantes são considerados subjetivamente comerciais (de acordo com o artigo 2.º, 2.ª
parte do artigo 2.º Ccom);
• As dívidas comerciais dos comerciantes casados presumem-se contraídas no exercício dos respetivos
comércios (artigo 15.º CCom) e, tais dívidas são, em princípio da responsabilidade dos comerciantes e
seus cônjuges (artigo 1691.º, n.º 1, al. d) CC);
• A prova de certos factos em que intervém um comerciante é facilitada – Artigo 396.º Ccom e 400.º
Ccom;
• Prescrevem no prazo de dois anos certos créditos dos comerciantes – Artigo 317.º, al b) CC;
• Os comerciantes estão obrigados a adotar uma firma, a ter escrituração mercantil, a fazer inscrever no
registo comercial os atos a ele sujeitos (de acordo com o Código do Registo Comercial), a dar balanço a a
prestar contas – artigo 18.º CCom
2. Sujeitos qualificáveis como comerciantes
2.1. Pessoas Singulares
• De acordo com n.º 1 do artigo 13.º CCom, são comerciantes “As
pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio,
fazem deste profissão”, referindo-se, portanto a pessoas singulares.
• Assim, as pessoas têm de ter capacidade para praticar atos de
comércio, nomeadamente a capacidade de exercício (a capacidade
para agir, para atuar juridicamente, por ato próprio ou mediante
procurador). Deste modo, os incapazes (menores e maiores
acompanhados), à primeira vista, não poderiam ser comerciantes,
todavia algumas normas do Direito Civil ajudam a esclarecer esta
questão:
2. Sujeitos qualificáveis como comerciantes
2.1. Pessoas Singulares
• O Artigo 1889, n.º1 al c) CC permite que os pais, enquanto representantes do
filho, e autorizados pelo Tribunal – “Adquirir estabelecimento comercial ou
industrial ou continuar a exploração do que o filho haja recebido por sucessão
ou doação”; Igual solução para o Tutor representante do menor ou maior
acompanhado (artigo 1938.º, n.º 1 als a) e f) CC)

Deste modo, os incapazes que exerçam o comércio através de representantes


legais, devidamente autorizados pelo Tribunal, devem ser considerados
comerciantes e têm o estatuto de comerciantes, quando cumpridas estas
regras.
2. Sujeitos qualificáveis como comerciantes
2.1. Pessoas Singulares
• Para serem comerciantes, as pessoas com capacidade para praticar atos de
comércio (e os incapazes de acordo com as regras referidas) têm de fazer do
comércio profissão, isto é, de modo habitual ou sistemático, o façam em
nome próprio (pessoalmente ou através de representantes), não se exige, no
entanto que o faça de modo exclusivo, nem que seja a principal ou que seja
exercida de modo contínuo (por exemplo, é comerciante quem explore um
parque de campismo apenas nos meses de verão).
2. Sujeitos qualificáveis como comerciantes
2.2. Pessoas Coletivas

• De acordo com o artigo 13.º, n. 2 CCom, são comerciantes as Sociedades


Comerciais
• Além destas, outras pessoas coletivas podem ser comerciantes, como é o caso
das Entidades Públicas Empresariais (EPE), etc.
3. Sujeitos não qualificáveis como
comerciantes
• Não são comerciantes as pessoas (singulares ou coletivas) que exercem
atividade agrícola (agricultura em sentido estrito, silvicultura e pecuária);
• Também não são comerciantes os artesãos
• Os profissionais liberais (pessoas singulares que exercem de modo habitual e
autónomo atividades primordialmente intelectuais, suscetíveis de
regulamentação e controlo próprio)
4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de
comércio
4.1. Entidades coletivas
• De acordo com o artigo 14.º CCom, “É proibida a profissão do comércio: 1.º
Às associações ou corporações que não tenham por objecto interesses
materiais”. Deste modo:
• As associações de fim desinteressado ou altruístico não podem ser comerciantes porque
não têm por objeto interesses materiais ( § único do artigo 17.º CCom);
• Associações de fim interessado ou egoístico mas ideal (associações recreativas, culturais,
desportivas, etc) também não têm por objeto interesses materiais;
• Associações de fim interessado ou egoístico de cariz económico não lucrativo
(associações mutualistas, associações sindicais, associações de empregadores, etc),
porque não obstante poderem praticas atos de comércio, não fazem do comércio
profissão.
4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de
comércio
4.2. Pessoas singulares
• Importa agora analisar alguns casos de incompatibilidades. De acordo com o
artigo 14.º, n.º 2.º “Aos que por lei ou disposições especiais não possam
comerciar”.
• A lei comercial estabelece algumas incompatibilidades:
• 253.º Ccom
• 180.º, n. 1 CSC
• 254.º, n.º1 CSC
• 398.º, n.º 3 e 428.º CSC
• 477.º CSC
4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de
comércio
4.2. Pessoas singulares
• Existem também incompatibilidades de direito público:
• Magistrados judiciais - Lei n.º 21/85, de 30 de Julho - ESTATUTO DOS MAGISTRADOS
JUDICIAIS – Artigo 8.º- A;
• Magistrados do Ministério Público - Lei n.º 68/2019, de 27 de Agosto - ESTATUTO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO – Artigo 107.º;
• Militares - DL n.º 90/2015, de 29 de Maio - ESTATUTO DOS MILITARES DAS FORÇAS
ARMADAS – artigo 14.º, n.º 3
• Titulares de cargos políticos e de altos cargos públicos - Lei n.º 52/2019, de 31 de Julho -
REGIME DO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES POR TITULARES DE CARGOS POLÍTICOS E ALTOS
CARGOS PÚBLICOS – Artigo 6.º, n.º 2 (ver também artigos 2.º e 3.º)
4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de
comércio
4.1. Pessoas singulares

• Importa agora questionar, se uma pessoa proibida pela lei de comerciar,


exercer profissionalmente o comércio, é comerciante? Sim, desde que
tenham capacidade para praticar atos de comércio e façam disso profissão,
até porque os atos não serão nulos, anuláveis ou ineficazes. O que poderá
ocorrer são sanções, como responsabilidade civil, destituição com justa causa,
penas disciplinares, perda de mandato, demissão, destituição judicial, etc.
4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de
comércio
4.2. Pessoas singulares
• Finalmente, temos as situações relacionadas com a insolvência
• Definição de insolvência – Artigo 1.º Código da Insolvência e da Recuperação
de Empresas (CIRE)
• Quem está sujeito à insolvência?
• Quaisquer pessoas singulares ou coletivas (artigo 2.º, n.º 1, al a) CIRE);
• Sujeitos de natureza coletiva mas não personalizados (Artigo 2.º, n.º 1, als c), d), e), f),
CIRE) ;
• Herança jacente (artigo 2.º, n.º 1, al b) CIRE);
• O Estabelecimento Individual de Responsabilidade limitada (artigo 2.º, n.º 1, al g) CIRE);
• Quaisquer outros patrimónios autónomos (artigo 2.º, n.º 1, al h) CIRE);
4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de
comércio
4.1. Pessoas singulares
• Deste modo, concluímos que os sujeitos passivos da declaração de insolvência
não têm de ser comerciantes
• Pressuposto objetivo para ser declarado insolvente é a situação de insolvência
ou situação equiparada
• Em geral, e de acordo com o artigo 3.º, n.º 1 CIRE “É considerado em situação
de insolvência o devedor que se encontre impossibilitado de cumprir as suas
obrigações vencidas”.
• O n.º 4 do mesmo artigo acrescenta ainda que “Equipara-se à situação de
insolvência actual a que seja meramente iminente, no caso de apresentação
pelo devedor à insolvência”, ou seja, quando se antevê como provável que o
devedor não terá meios para cumprir com a generalidade das suas obrigações
no momento em que vençam.
4. Sujeitos legalmente inibidos da profissão de
comércio
4.1. Pessoas singulares
• Quanto aos efeitos da declaração de insolvência para a inibição do comércio:
• Artigo 81.º, n.º 1 CIRE – Importa referir que a massa insolvente é constituída em regra
por todo o património do devedor à data da declaração de insolvência e pelos bens que
ele adquira na pendência do processo (artigo 46.º, n.º 1 CIRE)
• Na sentença de declaração de insolvência ou em momento posterior pode o juiz declarar
aberto o incidente de qualificação de insolvência a fim de apurar se ela é culposa ou
fortuita, sendo culposa quando a situação tiver sido criada ou agravada em
consequência da atuação, dolosa ou com culpa grave do devedor ou dos seus
administradores nos três anos anteriores ao início do processo de insolvência (artigo
186.º, n.º 1 CIRE);
• Na sentença que qualifique a insolvência como culposa: artigo 189.º, n.º 2, al. c) e n.º 3
CIRE
• Se a pessoa proibida de comerciar violar a proibição ,exercer a profissão de comerciante,
tornar-se-á comerciante? Não, não devendo ostentar o título de comerciante e ter o
respetivo estatuto quem está legalmente impedido de fazê-lo por razões de tutela do
crédito do comércio.

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