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INSTITUTO SUPERIOR POLITECNICO

INTERCONTINENTAL DE LUANDA

APONTAMENTOS DE DIREITO
COMERCIAL

VOLUME – I

ELABORADO POR: José António Cunha


“Professor”
DIREITO COMERCIAL
ORIGEM.
O Direito Comercial surge na Idade Média com o desenvolvimento
mercantil.
O Prof. Belga, Van Ryn afirma que o domínio próprio do Direito
Comercial é o conjunto de regras jurídicas relativas à actividade do
homem aplicada à produção, à apropriação, à circulação e ao consumo das
riquezas;
NOÇÃO.
É o sistema jurídico normativo que disciplina de modo especial os actos
de comércio e actividades dos comerciantes.
DIVISÃO.
Terrestre, Marítimo e Aeronáutico
CARACTERISTICAS.
- Simplicidade: Menos formalista
- Cosmopolitismo/ Internacionalidade
- Onerosidade: Comerciante busca o lucro.
- Elasticidade: Carácter mais renovador, Dinâmico.
- Fragmentarismo
FONTES DO DIREITO COMERCIAL
 Externas:
Tratados e convenções internacionais (artigo 13 CRA)
Internas:
Leis Comerciais;
Jurisprudência;
Doutrina;
Usos e costumes comerciais (artigo 1-4 CC). Podem
ser:
Secundum legem: Previstos em lei;
Praeter legem: Na omissão da lei;
Contra legem: Contra lei (cheque pré-datado)
ACTOS COMERCIAIS
NOÇÃO – art. 2º C.Com
São aqueles actos que se acham especialmente
regulados pelo código comercial, e todos os contratos
e obrigações dos comerciantes que não forem de
natureza exclusivamente civil, se o contrário do
próprio acto não resultar.
Critérios para definição do acto comercial
(linhagem objectiva)
• Finalidade especulativa;
• Inter posição nas trocas ou na circulação das
riquezas;
• Existência de uma empresa.
CATEGORIAS DE ACTOS COMERCIAIS
(ALFREDO ROCCO)
Actos constitutivos (ou pela sua natureza intrínsecas)
1.Actos de interposição na troca de mercadorias, dos títulos e dos
prédios urbanos e rústicos (compra para revenda e ulterior
revenda);
2. Actos de interposição na troca do dinheiro contra dinheiro a
crédito (operações bancárias);
3. Actos de interposição na troca de trabalho (empresas);
4. Actos de interposição na troca de riscos (seguros).
Actos por conexão ou acessórios
1. Actos directamente declarados comerciais pela lei, em virtude
da sua conexão normal com negócios comerciais.
2. Actos cuja conexão com uma actividade comercial se presume
(todos os actos praticados pelos comerciantes)
3. Actos cuja conexão como negócio comercial carece de ser
demonstrada.
CLASSIFICAÇÃO DOS ACTOS
DE COMERCIAIS
1. Objectivos ou actos de comércio por força da lei:
são todos aqueles regulados no Código Comercial
a) Operações sobre títulos da dívida pública;
b) Actos referentes às sociedades comerciais (Lei nº
1/04 de 13 de Fevereiro);
c) Operações sobre letras de câmbio, notas
promissórias, bilhetes de mercadorias, cheques, títulos
emitidos armazéns gerais; (…)
2. Subjectivos ou actos de Comércio por natureza:
Todos contratos e obrigações dos comerciantes, que não
forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário
do próprio acto não resultar.
ACTOS COMERCIAIS OBJECTIVOS
Interpretação da 1ª parte do artigo 2º do C.com
1. Fiança – art. 101º C.com;
2. Empresas – art. 230º C.com;
3. Mandato – art. 231º C.com;
4. Conta corrente – art. 344º ss C.com;
5. Operações de bancos – art. 362º ss C.com;
6. Transporte – art. 366 ss C.com;
7. Penhor – art. 397º ss C.com;
8. Empréstimo – art. 394º ss C.com;
9. Deposito – art. 403º ss C.com;
10. Deposito de género e mercadoria em armazéns gerais – art. 408º ss
C.com;
11. Compra e venda – art. 463º ss C.com;
12. Reporte – art. 477º ss C.com;
13. Escambo ou troca – art. 408º C.com;
14. Aluguer – art. 481º - 482º C.com;
15. Transmissão e reforma do título de crédito mercantil – art. 483º - 484º
C.com;
Obs - DOS ACTOS DE
COMERCIO TEMOS AINDA:
Actos de comércio autónomo: são os
qualificados de mercantis por si mesmo.
Actos de comércio acessórios: são os que devem
a sua comercialidade ao facto de se ligarem a actos
mercantis. Ex: Fiança – art. 101º; Mandato – art.
231º; Empréstimo – art. 394º C.com, etc.
Actos bilateralmente comerciais: são actos cuja
comercialidade se verifica em ambas as partes.
Actos unilateralmente comerciais: são actos cuja
comercialidade se verifica apenas em relação a uma
das partes.
O COMERCIANTE
NOÇÃO
Podem ser comerciantes as pessoas singulares que
não estando impedidas legalmente de exercerem uma
actividade mercantil por si ou por representante, faz
desta, profissão. artº13.º C.Com.
Sujeitos da relação jurídico – mercantil
Comerciantes & Não comerciantes Art. 7º C.com.
Obs: Os sujeitos podem ser pessoas singulares ou
colectivas, com capacidade civil de exercício.
Os actores determinantes no direito mercantil são os
comerciantes.
SUJEITOS LEGALMENTE
Pessoas singulares: INIBIDOS
não são DA PROFISSÃO
comerciantes DE COMÉRCIO
os agricultores, art 230.º
pfo 1º, 1ª parte e pfo 2º - artº464.º nº 2 e 4; os artesãos, os
profissionais liberais (advogados, médicos, contabilistas,
jornalistas); trabalhadores autónomo(escritores, pintores, escultores
e músicos, artº 230.º Pfo 3º do C.Com.
Gerentes de determinadas sociedades comerciais (art. 253º
C.com)
Os sócios de sociedades em nome colectivo (art. 182º nº 1 LSC)
Os gerentes nas sociedades por quotas (art. 287º LSC)
Os administradores nas sociedades anónimas (art. 287º LSC)
Os sócios comanditados (art. 287º LSC)
Os magistrados judiciais (art. 179º nº 5 CRA)
Pessoas colectivas: artº14.º C.Com. há proibição para certas pessoas
colectivas, como associações e corporações. Assim:
Associações de fim desinteressado ou altruístico; art. 14.º nº 1;
Associações de fim desinteressado ou egoístico mas ideal:
SUJEITOS DE QUALIFICAÇÃO DUVIDOSA
Mandatários Comerciais: Os mandatários comerciais com
representação não são comerciantes.
Gerentes de Comércio, Caixeiros e Auxiliares de
comerciante (art.248.º CCom)
Comissários Comerciais (art.266.º C.Com);
Mediadores: devem ser considerados comerciantes quando
explorem uma empresa comercial que se enquadre no âmbito
do art. 230.º nº 3.
Corretores: Se forem sociedades comerciais, são comerciantes.
Enquanto pessoas singulares há que distinguir aqueles que
actuam com representação que não são comerciantes e os que
actuam sem representação que serãocomerciantes.
Gerentes Comerciais: são comerciantes porque exercem uma
actividade de intermediação nas trocas;
Sócios de sociedades de responsabilidade ilimitada;(…)
OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS
COMERCIANTES – ART. 18 C.COM
Os comerciantes são especialmente obrigados:
1- Adoptar uma firma;
2- Ter escrituração mercantil;
3- A fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos;
4- A dar balanço e a prestar contas.
O estatuto do comerciante
Regime jurídico aplicável, artigo 100.º C.Com e212.º CC
Os comerciantes possuem um estatuto que se traduz no seguinte:
1- Os actos dos comerciantes são considerados subjectivamente
comerciais (art. 2º C.com, 2ª parte);
2- As dívidas comerciais dos comerciantes casados presumem-se
contraídas no exercício do respectivo comercio. Art. 15º C.com;
3- A prova de certos factos em que intervêm comerciantes é
facilitada. Art. 396º C.com.
FIRMA E DENOMINAÇÃO
NOÇÃO.
FIRMA: Nome comercial através do qual, todo
comerciante é designado no exercício do seu
comercio e com o qual assina os documentos
respeitantes a sua actividade (comercial)
DENOMINAÇÃO: O sinal identificador de não
comerciantes, e pode nalguns casos ser composta por
nomes de pessoas.
COMPOSIÇÃO.
Firma dos comerciantes individuais. Art. 20º C.Com;
Firma das sociedades comerciais. Art. 12º; 203º; 220º;
303º … LSC
PRINCÍPIOS CONFORMADORES DA COMPOSIÇÃO DAS
FIRMAS E DENOMINAÇÕES
1.Princípio da Verdade, art.12.º LSC: a firma não deve incluir
quaisquer elementos falsos que possam induzir em erro tanto a
identidade do empresário como dos sócios.
2.Princípio da Novidade ou Exclusividade. Art.27º C.com
A firma a adoptar pelo comerciante deve ser distinta daquelas
que já estejam registadas; Este princípio visa garantir e proteger
o comerciante e terceiros (credores e o público) e tem uma
função diferenciadora.
3.Princípio da capacidade Distintiva, art.12.º nº 5 e 6 LSC:
Para as firmas -denominações os sinais distintivos devem
diferenciar o seu titular de outros comerciantes.
4.Princípio da Unidade, art.19.º C.Com – O comerciante deve
adoptar uma firma mesmo que tenha vários estabelecimentos.
5.Princípio da Licitude, art.12.º nº 6 LSC – Proibição da
inclusão na firma, de expressões não admitidas pela lei,
contrárias à ordem pública e aos bons costumes.
ALTERAÇÃO DAS FIRMAS E DENOMINAÇÕES. Art. 220ºnº3 LSC

Os comerciantes podem de forma livre alterar as firmas


ou denominações nas seguintes situações:
Retirada, exclusão ou morte de sócio cujo nome civil
consta da firma;
Quando se verificam transformações de sociedade;
Quando se adquire uma firma;
Lesão a direito de outro comerciante.
Extinção da firma
A extinção da firma pode ocorrer quando em princípio se
verificar a cessação da actividade do comerciante ou
com o cancelamento do registo.
TEORIA GERAL DAS SOCIEDADES
A sociedade como organização jurídica da empresa
As sociedades comerciais são a estrutura típica da empresa nas
economias de mercado; O Código Civil trata a sociedade como um
contrato (art. 980º), mas as sociedades comerciais são também uma
pessoa jurídica (art. 5º da L.S.C).
Nos termos do art. 1º da L.S.C, as sociedades comerciais têm
necessariamente por objecto a prática de actos de comercio e as
sociedades que tenham por objecto a pratica de actos de comercio
devem revestir um dos tipos previstos no Código.
Uma vez constituída definitivamente a sociedade, as relações passam a
ser dos sócios para com a sociedade – pessoa jurídica – e já não mais
entre eles. A sociedade, como pessoa jurídica, ganha autonomia e sobre
põe-se ao negócio constitutivo.
Definição de Contrato de Sociedade
“Contrato de Sociedade é aquele em que duas ou mais pessoas se
obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum
de certa actividade económica, que não seja de mera fruição, a fim de
repartirem os lucros resultantes dessa actividade.” Art. 980º CC
ELEMENTOS ESTRUTURANTES DO CONTRATO DE
SOCIEDADE
Elemento pessoal – pessoas
Elemento patrimonial – o património da sociedade
Actividade económica – não é de mera fruição
Finalidade lucrativa – o lucro da sociedade
Mas há que distinguir quatro planos da finalidade
lucrativa:
O lucro da sociedade;
A afectação desse lucro;
A distribuição do lucro;
A valorização da participação social.
Tipos de sociedades comerciais
Nos termos do art. 2º da L.S.C as sociedades que tenham por
objecto o exercício de uma actividade comercial têm de adoptar
um dos tipos previstos na Código. Vigora aqui o princípio da
tipicidade ou do “numerus clausus”.
A L.S.C. prevê quatro tipos de sociedades comerciais:
Sociedade em nome colectivo;
Sociedade por quota;
Sociedade anónima;
Sociedade em comandita.
As sociedades em nome colectivo são as chamadas sociedades de
responsabilidade ilimitada por os sócios poderem responder
pessoalmente com todo seu património pelas dívidas da sociedade,
depois de esgotado o património desta (art. 176.º, nº 1 L.S.C.).
Em consequência, a sociedade é “fechada” no sentido de que as
partes sociais só podem ser cedidas com o consentimento unânime
dos sócios (art. 184.º, nº 1 L.S.C.) e mesmo a transmissão “mortis
causa” não é automática (art. 186.º L.S.C.).
CONTINUAÇÃO
As sociedades por quotas são, de longe, o tipo societário mais
utilizado na prática por corresponder à estrutura típica da pequena e
média empresa.
Ao contrário das sociedades em nome colectivo, são sociedades de
responsabilidade limitada, por quanto os sócios não respondem
pelas dívidas da sociedade, salvo se se constituírem garantes, mas
são solidariamente responsáveis pela realização integral do capital
social.
Sociedades anónimas são o tipo característico da empresa de
maior dimensão. O seu capital mínimo é de um montante em
kuanza equivalente a USD 20.000,00 e deverão ter, em principio,
pelo menos, 5 accionistas. Os accionistas respondem apenas pela
realização das acções de que são titulares.
As sociedades em comandita são um tipo misto em que existem
sócios de responsabilidade ilimitada – os comanditados – e sócios
de responsabilidade limitada – os comanditários.
As sociedades em comandita podem revestir a forma de comandita
simples ou comandita por acções.
A PERSONALIDADE JURÍDICA E A
CAPACIDADE DE DIREITO
A personalidade jurídica
O art. 5.º é peremptório ao declarar que: “as sociedades gozam de
personalidade jurídica a partir da data do registo do contrato pelo
qual se constituem, sem prejuízo do disposto da presente lei quanto à
fusão, cisão ou transformação de sociedades”.
A sociedade adquire, por conseguinte, personalidade jurídica a partir
do seu registo definitivo na Conservatória do Registo Comercial e
passa, então, a ser susceptível de titularidade de direitos e obrigações
e a ter capacidade de direito.
A capacidade de Direito
A capacidade de direito das sociedades comerciais, como pessoas
colectivas, está delimitada pelo seu objecto (art. 160.ºC.C). Mas, aqui
há que distinguir o objecto mediato, que é a realização de lucros –
necessário para todas as sociedades (art.980.º C.C) – do objecto
imediato, a actividade comercial concreta que a sociedade se propõe
exercer e que deve constar dos estatutos (art. 10.º, nº 1, al d),e 13.º
L.S.C.).
ASPECTOS PATRIMONIAIS E FINANCEIROS DA SOCIEDADE
A sociedade comercial, como pessoa jurídica, é titular de um património.
No momento da constituição, o património da sociedade é constituído
pelas entradas dos sócios correspondente às suas participações no capital
social.
Numa acepção, o património é constituído pelos bens, valores e créditos
de que a sociedade é titular;
A obrigação de prestar contas
Conforme prescreve o art. 29.º do Código Comercial, “todo o
comerciante é obrigado a ter livros que dêem a conhecer, fácil, clara e
precisamente, as suas operações comerciais e fortuna” e as sociedades
comerciais, como comerciantes (art.13.º, n.º 2 do Código Comercial),
estão naturalmente sujeitas a essa obrigação.
Nos termos do art. 70.º n.º 1, os administradores deve “elaborar e
submeterem aos órgãos competentes da sociedade o relatório de gestão,
as contas do exercício e os demais documentos de prestação de contas
previstos na lei, relativamente a cada ano civil”.
O relatório de gestão deve conter uma exposição fiel e clara sobre a
evolução dos negócios sociais e sobre a situação da sociedade (art.71.º
L.S.C.).
AS OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS
Obrigações de entradas
No contrato de sociedade os sócios subscrevem uma participação
social – constituídas por partes sociais, quotas ou acções – e
obrigam-se a realizar ou liberar o respectivo valor (art. 980.º
C.C.).
Com a subscrição da participação social constitui-se a obrigação
de entrada; a realização ou liberação do capital é o acto de
cumprimento dessa obrigação.
As entradas dos sócios podem ser:
Em dinheiro;
Em espécie;
Em trabalho.
Os direitos dos sócios
O direito à qualidade de sócio
O direito a informação
O direito de participar nas deliberações sociais
FUSÃO, CISÃO E TRANSFORMAÇÃO DE EMPRESAS E SOCIEDADES COMERCIAIS

Fusão (art. 102.º e ss. L.S.C.)


A fusão consiste na união de duas ou mais sociedades, ainda que de tipo
diverso, numa só (art. 102.º, n.º 4 L.S.C.).
Cisão (art.118.º e ss. L.S.C.)
A cisão de sociedades está ligada ao processo de especialização da
economia e consiste no destaque de parte do património de uma sociedade
para com ele formar outra sociedade
ou ser incorporado numa sociedade
Assim, há três modalidades de cisão:
Cisão simples em que se destaca parte do património de uma sociedade para
com ele constituir outra sociedade (art. 124.º L.S.C.);
Cisão-dissolução em que se dissolve a sociedade cindida dividindo-se o seu
património, sendo cada uma das partes destinada a constituir nova
sociedade;
Cisão – fusão em que se destaca parte do património da sociedade para
fundir com sociedade já existente.
Transformação (art. 130.º e ss. L.S.C.)
A transformação consiste na modificação do tipo societário sem que isso
importe a dissolução da sociedade. Exemplo a transformação de uma
DIREITO COMERCIAL

MUITO OBRIGADO

PROF. JOSÉ CUNHA

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