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DIREITO COMERCIAL

CAPITULO I – INTRODUCÇÃO
TEMA I- NOÇÃO DO DIREITO COMERCIAL.

1.1- Noção do Direito Comercial


1.2- Evolução Histórica
1.3- Legislação
1. 4- Autonomia e Características do Direito Comercial
1.5- Fontes do Direito Comercial
1.6- Integração das lacunas.

BIBLIOGRAFIA DO TEMA

1- Abreu, Jorge Coutinho de, Curso de Direito Comercial I, Almedina, Coimbra, 2009 Pag 19-41.
2- Cordeiro, António Menezes, Manual de Direito Comercial, Almedina Coimbra, 2009, pág 47-139.
3- Oliveira, Joaquim Dias Marques, Manual de Direito Comercial Angolano I, Lições de Direito Comercial e
legislação comercial, Cefolex, Luanda, 2009
4- Pajula, Ovidio, A evolução da Constituição económica angolana, Casa das Ideas, Luanda, 2010.
5- Vale, Sofia de, As Empresas no Direito angolano, Lições de Direito Comercial, Maiadouro, Portugal,
2015.

NOÇÃO DO DIREITO COMERCIAL


 Se perguntássemos a qualquer pessoa que entende por Direito Comercial, a resposta imediata
provavelmente seria esta frase: é o Direito dos comerciantes, resposta que não foge da realidade,
o Direito Comercial nasce da acção dos comerciantes.

 O Direito Comercial se pode definir como o conjunto de normas destinadas a regular às relações
jurídicas que derivam do comércio e resolver os conflitos que surjam entre comerciantes face aos
actos de comércio que realizam.

 Por conseguinte, o Direito Comercial tem sido qualificado, como o ramo especial do Direito privado
em relação ao direito Civil, que como se sabe, e o regime jurídico comum ou geral.

O QUE SIGNIFICA O COMÉRCIO

 Em sentido originário, o comércio vem do latim, “comutatio mercium”, que significa “troca de
mercadorias”.

 Do ponto de vista económico, significa por a matéria útil ao alcançe dos que devem aproveita-la
(indústria).

 Em sentido jurídico, o comércio é mito mais amplo, significa oferecer utilidade a matéria bruta por
meio dum processo de transformação e intermediação com fins lucrativos.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

ANTIGUEDADE: O surgimento do Direito Comercial coloca-se no código de hamurabi (1691adc), que entre
outras coisas regulava a associação, o crédito e a navegação. (Lei do talhão).

A actividade comercial dos fenícios deu nacimento as modalidades sociais dos portos, desenvolvendo o
direito comercial marítimo.

Os romanos criaram figuras que se mantem até nossos dias, como a actio intitoria, pelo qual permitia-se
reclamar ao dono dum negocio mercantil o cumprimento das obrigações contraídas pela pessoa
encarregada de administra-la.

IDADE MEDIA: O direito comercial foi regulado pelos foros e ordenanças, não tendo carácter especial. No
seculo XI, na Itália, alguns juristas iniciaram o estudo de maneira autónoma, criando-se um insipiente
“Direito Comerciale Italiane”.
REVOLUÇÃO FRANCESA: A primeira disciplina completa do Direito Comercial, nasceu na frança, com a
“ordenança do comercio” de 1673 ditada sob o regime de Luís XIV. Este pretendia abolir privilégios e as
vinculações inerentes ao sistema estatutário. Não era possível manter, no sistema pós-revolucionário, o
direito comercial como um direito estatutário dos mercadores, de base pessoal subjetiva. Poucos anos apôs
a Revolução, o movimento de codificação que trouxe consigo, deu lugar ao Code commerce, em 1808.
Neste código a matéria mercantil surge enquadrada objetivamente, já não como o estatuto dos
comerciantes, mas como o direito do comércio.

Um dos documentos históricos mais importantes, e o Código de Comércio Napoleónico de 1802, que
estendeu-se a todas as nações conquistadas, chegando a sua influença a outras nações.

CÓDIGO PORTUGUÊS: Em Portugal o Direito Comercial teve inicio com as ordenanças de Afonsinas em
1446 com notável influença romana e do Direito estatutário Italiano. Estas foram uma importante fonte de
unificação de ordem jurídica. Evoluiu passando pela compilação autorizada por Don Enrique em 1569 até
a promulgação do primeiro Código Comercial Português, de autoria de José Pereira Borges em 1833. Este
Código, já tinha em si a ideia de um Direito Comercial regulador dos actos de comércio e não dos actos dos
comerciantes, portanto o direito dos comerciantes foi substituído pelo direito do comércio, O direito
comercial.

ANGOLA

O estudo do Direito Comercial Angolano passa necessariamente pelo estudo do Direito Português, pois, foi
deste que herdamos o Código Comercial Português de 1888, aprovado por carta de Lei de 28 de Junho de
1888 por Don Luís e com vigência em todo o continente do reino e ilhas adjacentes a partir de 1 de Janeiro
de 1889. Assim por Decreto de 20-2-1894, foi declarado em vigor no Ultramar, incluindo Angola.

O artigo 4º, estatui que: “toda modificação de que futuro se fizer sobre matéria contida no código comercial
será considerada como fazendo parte dele e inserida no lugar próprio, quer seja por medio de substituição
de artigos alterados, quer pela supressão de artigos inúteis, ou pelo adicionamento dos que forem
necessários”.

Este preceito e típico da era das grandes codificações (seculo XIX), têm uma razão de ser clara e razoável.
Atento ao sistema de qualifição dos actos de comércio (artigo 2º do CC), e imprescindível, que toda a
legislação comercial fique concentrada no Código. A clareza, simplicidade e segurança na qualificação dos
actos de comércio que se pretendia, só assim se consegue manter.

Mas não foi o que sucedeu. O legislador angolano, ao contrario do que lhe ordenava aquele preceito da lei,
na maior parte dos casos, não se deu ao trabalho, de inserir no código os preceitos legais que alterou ou
inovou. Fê-lo por duas razões: em parte por preconceito anti codificador e em parte por dificuldade na
inserção. Sempre que foi alem da simples modificação do texto de determinados artigos, o legislador
preferiu emitir novas leis em separado, como as leis uniformes sobre letras e livranças, o mesmo código,
como o código das sociedades comerciais, revogando os preceitos que os antecederam no código
comercial, com esta prática foi reintroduzida complexidade no sistema.

A proliferação comercial extravagante obriga o interprete a alargar a referencia, feita no artigo 2º, ao código
comercial, para uma outra, mais ampla, a LEGISLAÇÃO COMERCIAL.

LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR OU ESTRAVAGANTE

No âmbito da legislação comercial deve ser incluída, a legislação comercial extravagante que
contem as matérias que anteriormente estavam incluídas no código comercial:

 O código das sociedades comerciais e outras legislações sobre sociedades comerciais.


 O código cooperativo e outras legislações sobre cooperativas
 Decreto Lei 321 de 28 de junho sobre a associação em participação e o consorcio.
 Legislação sobre Empresas mercantis.
 As leis uniformes sobre as letras, livranças e cheques
 Código dos valores mobiliários, e outras legislações sobre a bolsa de valores, operações de
bolsa e mercados financeiros
 Legislação sobre transporte marítimo, terrestres e aéreos
 Legislação de direito marítimo.
A JUSTIFICAÇÃO DA AUTONOMIA: CARACTERISTICAS DISTINTIVAS DO DIREITO COMERCIAL.

 O DC e um ramo autónomo da ciência do Direito, e hoje ninguém põe em dúvida. O DC tem uma
forte razão de ser: A tutela dos interesses comerciais.

Como justificar que o DC tem autonomia científica:

 1- Tutela eficaz do crédito: O DC procura proteger eficazmente o credor comercial.

 2- Celeridade na celebração de negócios de natureza mercantil: E um direito livre de


formalismos. Privilegia-se a celeridade da vida mercantil. Neste sentido, são importantes, por
exemplos os contratos de adesão constantes nas cláusulas contratuais gerais.

 3- Segurança e firmeza das transações: Num corto espaço de tempo é importante não
haver modificações nas operações comerciais. Exemplo a venda sobre amostras art.º 4.. CCOM.
Suponhamos que um senhor leva um par de sapatos a uma loja e o dono da loja encomenda 50
pares iguais aos que foram mostrados. A Lei diz que tem prazo de 8 dias para se verificar a
mercadoria e fazer eventual reclamação se houver defeito no produto. Ora, se ao fim de 8 dias
não se reclamar, não poderá reclamar-se mais. Se for ao direito civil, o prazo de reclamação pelo
cumprimento defeituoso e mais longo.

 4- Vocação pioneira e internacional: E um ramo tendencialmente universal se assumir-


mos a funcionalidade do exercício do comércio.

FONTES DO DIREITO COMERCIAL

FONTES INTERNAS

1- A LEI

 Código Comercial, aprovado a 19 de Junho de 1988.

 Lei das Sociedades Comerciais, aprovada pela Lei nº 1/2004, de 13 fevereiro.

LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE:

 Lei sobre as cláusulas contratuais gerais (Lei nº 4/2003 de 18 de fevereiro)

 Lei dos contratos de distribuição, agência, franchising e concessão comercial (Lei nº 18/2003, de
12 de agosto).

 Lei sobre os contratos de conta em participação, consórcios e agrupamentos de empresas (lei


19/2003, de 12 de agosto);

 Código de valores mobiliários (lei 22/2015, de 31 de agosto)

 Lei das Instituições Financeiras (lei nº 14/2021, de 30 de setembro)

 O regime jurídico de licenciamento comercial e industrial (Decretos nº 29/2000, de 2 de Junho, e


nº 44/2005 de 6 de Junho, bem como Decreto Executivo nº 46/2000 de 2 de Junho)

 Lei Cambial (Lei nº 5/1997, de 19 de maio)

 Código de registro comercial (Decreto-Lei nº 403/86, de 3 de Dezembro, republicado no Decreto-


Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março)

 Lei da Propriedade industrial (Lei nº 3/1992, de 28 de Fevereiro).

 Lei de Base do Investimento Privado (Lei 10/18 de 26 de junho com as alterações inseridas pela
Lei nº 10/2021)

 Lei Do Arrendamento Urbano (Lei n.º 26/15 de 26 de Outubro)


2- O Costume: sendo em abstracto admitido, tem hoje uma importância meramente residual no domínio
comercial.

3- Os usos do comércio: não tem uma vinculatividade própria, apenas vinculam, à partida, nos termos
do art. 3º do C. Civil, quando a lei remeter para eles, o que sucede com abundância no Código Comercial.

- Os usos podem ainda ser tornados relevantes pelas partes de contratos comerciais, no âmbito da
autonomia privada. Assim sucederá quando as partes, através dos clausulados dos contratos
comerciais, remetem para os usos mercantis. (ex. art 232º, nº1 C.C, art 238º C.C, art 248º C.C, art 269º
C.C, art 373º C.C, art 382º C.C)

4- A Jurisprudência: não é fonte do direito comercial. Com tudo as especiais necessidades de segurança
e previsibilidade do tráfego comercial tornam imperioso que o estudo dos problemas jurídicos comerciais
atenta às tendências jurisprudenciais e recomendam a estabilidade no sentido de decisão dos mesmos.

FONTES EXTERNAS

1- As Convenções Internacionais em matéria Comercial: correspondem com os tratados do DIP,


celebrado pelo Estado angolano em matéria comercial.

2- Lex Mercatoria: Conjunto de princípios gerais e regras costumeiras referidas o elaboradas no quadro
do comércio internacional, e regras adotadas por organizações internacionais como a Câmara de
Comercio Internacional. Ex:

- os Incoterms: que regulam os custos, a responsabilidade e o cumprimento dos contratos de


transporte internacional de mercadorias.

- as regras e usos uniformes sobre crédito documentário

- o regulamento de conciliação e arbitragem.

3- Normas regulamentares e Actos quase normativos (soft law): são ditadas por autoridades
reguladoras de sectores do comércio (como banco nacional de Angola, a comissão do mercado de
capitais e a agência angolana de regulação e supervisão de seguros bem como os actos de soft law.

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