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UNIDADE TEMÁTICA 6: O EMPRESÁRIO E A EMPRESA COMERCIAL

Objectivos

No fim desta unidade voce deverá ser capaz de:

 Compreender a noção de Direito empresarial;


 Compreender o surgimento da teoria da empresa;
 Distinguir o Direito empresarial do Direito Comercial;
 Distinguir o comerciante do empresário;
 Estabelecer a diferença entre empresa, empresário, sociedade comercial e
estabelecimento comercial;
 Compreender a essência da teoria do comerciante e a teoria da empresa;
 Conhecer a regulação jurídica da empresa e do empresário, bem como dos actos do
empresário.

O que é o Direito Empresarial


O Direito Empresarial, antigo Direito Comercial, é o ramo do direito que estuda as
relações privatistas que envolvem a empresa e o empresário. Nessas relações estão o estudo da
empresa, o direito societário, as relações de título de crédito, as relações de direito
concorrencial, as relações de direito intelectual e industrial e os contratos mercantis. Teoria
da Empresa1

Empresa – Actividade organizada na produção e circulação de bens ou serviços.

Empresa: é actividade económica organizada de produção e circulação de bens e serviços para


o mercado, exercida pelo empresário em carácter profissional, através de um complexo de bens.

Origens e Histórico do Direito Empresarial

Como surgiu o Direito Empresarial?

O Direito Comercial, hoje absorvido pelo Direito Empresarial, originou-se do poder de os


comerciantes conseguirem autonomia para que eles mesmos editassem normas voltadas para
regulamentar as actividades de comércio. Ao longo dos séculos, esse poder variará em função
do papel dos comerciantes na economia das nações. Daí se defender que o Direito Empresarial
se justifica principalmente por razões históricas: em dado contexto histórico, os comerciantes
alcançaram esse poder. Não se falará, portanto, de um Direito Comercial na Roma antiga,
embora nessa época o comércio fosse tanto abundante como também regulamentado

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juridicamente. Porém, à medida que, na Idade Média, os comerciantes organizados em ligas ou
associações progressivamente conseguiram que os governantes lhes reconhecessem autonomia
legislativa (leis e costumes aplicáveis aos comerciantes) e de jurisdição (tribunais de comércio),
um corpo normativo autónomo voltado para regulamentar os comerciantes e suas actividades
vai se formar.

Por esse movimento, o Direito Comercial emerge na Idade Média como um direito de uma classe
– os comerciantes – com conteúdo voltado para regulamentar as situações comuns ao cotidiano
mercantil. Entretanto, com o incremento do poder monárquico e a formação dos Estados
nacionais europeus, essas normas serão posteriormente tratadas pelos governantes como
direito emitido pela autoridade do Estado, desse modo passando da condição de Direito
estatutário para a de Direito estatal. Pode-se exemplificar a primeira categoria por meio da
Tabula Amalphitana – nos séculos VII a XI, a cidade de Amalfi – situada onde hoje é território
da Itália – conseguiu permanecer como uma República independente e seus comerciantes
consolidaram um estatuto de costumes lembrado no comércio marítimo mediterrâneo até o séc.
XVI. Já na segunda categoria, podemos ver as L‟ Ordonnance pour le Commerce (1671)
L‟ Ordonnance pour la Marine (1681) editadas pelo Rei da França, a primeira com ênfase no
comércio terrestre e a segunda também tocando o comércio marítimo. De acordo com esse
movimento, a autonomia do Direito Comercial prosseguiu, mas, num segundo momento,
firmada por leis estatais.

O Direito Comercial e as revoluções liberais – a passagem do absolutismo para o


liberalismo

Actividades de comércio, manufactura de bens e transacções financeiras são conhecidas desde


cedo na história da humanidade. Entretanto, para explicar a realidade actual, mostra-se
necessário atentar para um movimento particularmente importante no Ocidente europeu, que
marca a passagem, em vários países, de um sistema político absolutista para um sistema liberal.
No contexto absolutista, a actividade económica promovida pelos súbitos dependia fortemente
de prévia autorização real. Assim, para instalar e operar um moinho, abrir um porto, um banco
ou uma fábrica de vidro era necessário obter uma licença do monarca. Essas licenças podiam
ser concedidas individualmente ou mediante a intermediação de corporações de ofício – aqueles
aceitos em uma determinada corporação estavam autorizados a exercer a respectiva actividade.
A possibilidade de o monarca autorizar ou proibir que se exercesse determinada actividade
económica repercutia para além de regulamentar o direito ao trabalho (privilégios), pois
também permitia que se formassem monopólios (privilégios exclusivos) garantidos pela
autoridade estatal.

Com as revoluções liberais, esse poder absolutista na economia foi fortemente questionado, e
seu carácter geral passou a ser residual. Um importante eixo criado para redução dos poderes
do governante foi construído sob a noção política de liberdade de trabalho – a actividade do
comerciante é uma profissão e ele não pode ser impedido de trabalhar, salvo no caso de
actividades especiais. Essa mudança fez com que o Direito Comercial estatal, que geralmente
actuava utilizando-se de balizas subjectivas – aplicava-se ao sujeito autorizado pelo Estado
(matriculado) a ser comerciante – buscasse outros critérios para definir a quem (sujeitos) e em
que casos tal Direito incidiria (matéria do Direito Comercial).

Os primeiros indícios do conceito de empresa surgiram com dois sistemas distintos de disciplina
privada da economia: o sistema francês e o sistema italiano.
O Sistema Francês sistema surge com a entrada em vigor do Code de Commerce, em 1808,
também conhecido como Código Mercantil Napoleónico. Sua principal fundamentação
doutrinária é a Teoria dos Actos de Comércio, que conferiu ao Direito Comercial um carácter
mais universal, transformando-o em disciplina de um conjunto de actos que poderiam ser
praticados por qualquer cidadão.

A história do direito comercial se divide em 4 (quatro) distintos períodos. O primeiro


corresponde ao período de tempo entre a segunda metade do século XII e a segunda do XVI.
Teve início com a reunião de artesãos e comerciantes em corporações de artes e ofícios. As
decisões dessas corporações eram baseadas principalmente nos costumes inerentes à época.
Assim, o direito comercial se aplicava somente àqueles que integravam as corporações. Apesar
do carácter limitado do direito comercial, já surgiam institutos até hoje utilizados, como por
exemplo o seguro, a letra de câmbio e a actividade bancária. O segundo período tem início na
segunda metade do século XVI, com o florescimento do mercantilismo. Aqui se inicia a
uniformização das normas jurídicas económicas entre Inglaterra e França. O Direito Comercial
ainda tem carácter subjectivo na França, pois continua a se aplicar somente aos membros das
corporações. Na Inglaterra, entretanto, o desenvolvimento da Commom Law supera o
subjectivismo. A principal contribuição do período foi o instituto da sociedade anónima, que
surgiu em função dos empreendimentos mercantis da expansão colonial, pois necessitavam de
alto capital e de limitação de riscos.

O terceiro período se inicia com a Codificação Napoleônica. Nessa fase o Direito Comercial passa
a ser objectivado, isto é, não mais se aplica a determinadas pessoas, mas sim a determinados
actos. É abolido, portanto, o corporativismo, pois qualquer cidadão pode exercer actividade
mercantil. O Direito Comercial deixa de ser o ―direito dos comerciantes‖ , pois adopta a Teoria
dos Actos do Comércio. Essa teoria corresponde a uma relação de actividades económicas, sem
qualquer elemento interno de ligação. O elo entre as actividades dos actos de comércio é externo,
é a relação com as actividades profissionais de uma classe social, a burguesia.

O Sistema Italiano representa a quarta e última etapa do Direito Comercial, com a entrada em
vigor do Codice Civile, em 1942, que disciplina matéria civil e comercial. Tem como base a Teoria
da Empresa, mais adequada ao capitalismo. A diferenciação deixa de ser baseada no género da
actividade, e passa para a sua importância económica.

Aqui, a empresa passa a ser sinónimo de actividade, cujo objectivo é a obtenção de lucros através
do oferecimento de bens ou serviços, gerados mediante a organização da produção. Nos exactos
termos utilizados pelo doutrinador Fábio Ulhoa Coelho:

“Empresa é a actividade económica organizada para a produção ou circulação de bens ou


serviços. Sendo uma actividade, a empresa não tem a natureza jurídica de sujeito de direito
nem de coisa. Em outros termos, não se confunde com o empresário (sujeito) nem com o
estabelecimento empresarial (coisa).”

Assim, o sistema italiano superou o francês, assim não mais se dividiu os empreendimentos em
civis e comerciais. Preferiu-se a criação de um regime geral. A Teoria dos Actos de Comércio foi
substituída pela Teoria da Empresa.

Em 1942, o Código Civil Italiano trouxe um novo delimitador da incidência do regime jurídico
comercial, com a teoria da empresa. Apesar de sua contaminação com o fascismo. Apesar de que
o diploma legal italiano não propôs o conceito jurídico de empresa.
Também promoveu o dito código a unificação formal do direito privado, disciplinando as
relações civis e comerciais num único diploma legal. Enfim, o direito comercial entra em sua
terceira fase evolutiva, onde há a superação do conceito de mercantilidade e, adoptando o
critério da empresarialidade como forma de delimitar a incidência da legislação comercial.

Tal unificação foi meramente formal posto que o direito comercial conservasse sua autonomia
didático-científica. Desta forma, o direito civil continua a ser um regime jurídico geral do direito
privado e o direito comercial continua a ser um regime jurídico especial do direito privado, que
se destinam à disciplinar o mercado.

Com a teoria da empresa, o direito comercial deixou de ser tradicionalmente o direito do


comerciante (período subjectivo das corporações de ofício) ou o direito dos actos de comércio
(período objectivo da codificação napoleónica) para ser o direito da empresa o que o fez
abranger maior espectro de relações jurídicas.

Portanto, em princípio qualquer actividade económica, desde que seja exercida


empresarialmente está submetida à disciplina das normas do direito empresarial.

Em 1942, na Itália, surge desta forma um novo sistema de regulação das actividades económicas
dos particulares. Nele, alarga-se o âmbito de incidência do Direito Comercial, passando as
actividades de prestação de serviços e ligadas à terra a se submeterem às mesmas normas
aplicáveis às comerciais, bancárias, securitárias e industriais. Chamou-se o novo sistema de
disciplina das actividades privadas de teoria da empresa.

A definição de Alberto Asquini analisou com perspicácia que a empresa é fenómeno


económico poliédrico que transferido para o Direito, apresentavam não apenas um, mas
variados perfis: perfil subjectivo (figura do empresário), perfil funcional (a empresa como
estabelecimento), perfil objectivo (empresa como actividade) e perfil corporativo (como
instituição).

O Direito Comercial, em sua terceira etapa evolutiva, deixa de cuidar de determinadas


actividades e passa a disciplinar uma forma específica de produzir ou circular bens ou serviços,
a empresarial. Atente para o local e ano em que a teoria da empresa se expressou pela primeira
vez no ordenamento positivo. O mundo estava em guerra e, na Itália, governava o ditador
fascista Mussolini.

Surgimento da teoria da empresa.


Teoria da Empresa

Desenvolveu-se para corrigir falhas da teoria dos actos de comércio. Surgiu na Itália. Para
identificar o empresário, não se leva em conta o acto praticado; desconsidera-se a estrutura
organizacional praticada, ou seja, não importa sua actividade, mas sim a relevância social.

A teoria da empresa não divide os actos em civis ou mercantis. Para a teoria da empresa, o que
importa é o modo pelo qual a actividade económica é exercida. O objecto de estudo da teoria da
empresa não é o ato económico em si, mas sim o modo como a actividade económica é exercida,
ou seja, a empresa.
A definição do conceito jurídico de empresa é até hoje um problema para os doutrinadores do
direito empresarial. Deve-se ao fato de ser empresa conforme aludiu Asquini um fenómeno
económico complexo que compreende a organização de vários factores como a natureza, capital,
trabalho e tecnologia.

Portanto, o fenómeno económico vertido para o universo jurídico, a empresa não adquire apenas
um sentido unitárias, e, sim, diversas e distintas acepções.

Por ser poliédrico posto que admita quatro perfis diferentes:

a) Perfil subjectivo, pelo qual a empresa seria pessoa física ou jurídica, ou seja, o
empresário;

b) Perfil funcional pelo qual a empresa seria uma particular força em movimento, é a
actividade empresarial dirigida a um determinado fim produtivo;

c) Perfil objectivo ou patrimonial pelo qual a empresa seria um conjunto de bens afectados
ao exercício da actividade económica desempenhada, ou seja, o estabelecimento empresarial;

d) Perfil corporativo pelo qual a empresa seria uma comunidade laboral, uma instituição
que reúne o empresário e seus auxiliares ou colaboradores, ou seja, um núcleo social organizado
em função de um fim económico comum.

Chamou-se o novo sistema de disciplina das actividades privadas de teoria da empresa. O Direito
Comercial, em sua terceira etapa evolutiva, deixa de cuidar de certas actividades (as de
mercancia) e passa a disciplinar uma forma específica de produzir ou circular os bens ou
serviços, a empresarial. Atente para o local e ano em que a teoria da empresa se expressou no
ordenamento jurídico, em plena Itália fascista de Mussolini.

Para o fascismo, a luta de classes termina em harmonização patrocinada pelo estado nacional.
Burguesia e protelatariado superam seus antagonismos na medida em que se unem em torno
dos superiores objectivos da nação, seguindo o líder (duce), que é intérprete e guardião destes
objectivos. A empresa, no ideário fascista, representa justamente a organização em que se
harmonizam as classes sociais em conflito.

Convém sublinhar que Asquini, um dos expoentes da doutrina comercialista italiana, ao tempo
do governo fascista, costumava apontar como um dos perfis da empresa o corporativo, em que
se expressava a comunhão dos propósitos de empresário e trabalhadores.

A teoria da empresa acabou se desvencilhando das raízes ideológicas fascistas. Por seus méritos
jurídico-tecnológicos, sobreviveu à redemocratização da Itália e permanece delimitando o
Direito Comercial daquele país até hoje.

De acordo com o Código Comercial, o Direito moçambicano adopta a Teoria da Empresa.


Substituiu a teoria dos actos de comércio pela teoria da empresa, deixou de cuidar de
determinadas actividades (mercantis) para disciplinar uma forma específica de produzir ou
circular bens ou serviços: a empresarial. Isto ocorre em razão da evolução operada no comércio
mundial, notadamente com a difusão e aquisição de importância da prestação de serviços. Para
tanto foi criada a Teoria da Empresa, que nasceu na Itália e desenvolveu-se para corrigir falhas
da teoria dos actos de comércio, vindo, actualmente, a nortear a legislação pátria. Considera-se
empresa a actividade económica organizada. Sendo:

 Objectiva – o estabelecimento – um conjunto de bens corpóreos e incorpóreos reunidos


pelo empresário, para o desenvolvimento de uma actividade económica;
 Subjectiva – o empresário – sujeito de direitos que organiza o estabelecimento para o
desenvolvimento de uma actividade económica;
 Funcional – actividade económica desenvolvida por vontade do empresário por meio do
estabelecimento;
 Corporativo – empresário + empregado e colaboradores (recursos humanos utilizados
na execução da actividade económica a que a empresa se propõe).

Abrange as actividades de comércio, indústria e serviço. É facultativo para a actividade rural.


São excluídos: profissionais liberais regulados por lei especial e profissionais intelectuais de
natureza científica, literária ou artística.
A Teoria da Empresa desenvolveu-se para corrigir falhas da teoria dos actos de comércio.
Para identificar o empresário, desconsidera-se a espécie de actividade praticada e passa-se a
considerar a estrutura organizacional, relevância social e a actividade económica organizada, a
fim de colocar em circulação mercadorias e serviços. O actual sistema jurídico passou a adoptar
uma nova divisão que não se apoia mais na actividade desenvolvida pela empresa, isto é,
comércio ou serviços, mas no aspecto económico de sua actividade, ou seja, fundamenta-se na
teoria da empresa, conforme RAMOS 2008.
De agora em diante, dependendo da existência ou não do aspecto económico da actividade, se
uma pessoa desejar actuar individualmente (sem a participação de um ou mais sócios) em algum
segmento profissional, enquadrar-se-á como empresário ou autónomo, conforme a situação, ou,
caso prefira se reunir com uma ou mais pessoas para, juntos, explorar alguma actividade,
deverão constituir uma sociedade que poderá se tornar uma sociedade empresária ou sociedade
simples, conforme veremos as diferenças entre uma e outra, mais adiante.

Entretanto, a mais completa e esclarecedora formulação de conceito de empresa foi a de


Asquini. (1943:5) Inicialmente, invoca a conceituação de que “a empresa é o exercício
profissional de uma actividade económica organizada para fins de produção ou troca”.

Na opinião de Asquini (1943:5) a empresa deve ser encarada sob quatro perfis: 
Subjectivo,
 Funcional,
 Objectivo/ patrimonial e
 Corporativo.

No aspecto subjectivo, a empresa se confunde com a pessoa do empresário, que mereceu


definição legislativa de parte do Código Civil italiano, no art. 2.082, como sendo aquele que
―exerce‖ , portanto, o sujeito da actividade empresária. A actuação do sujeito sobre os factores
económicos (capital e trabalho) de maneira organizada, releva o perfil subjectivo da empresa.
O segundo perfil é o funcional, apresentando-se na empresa como a própria actividade
empreendedora, dirigida a um fim produtivo. Para a doutrina, o elemento actividade é
considerado como conotação marcante do instituto.

Pelo perfil objectivo ou patrimonial, Asquini visualiza a empresa como fazenda mercantil
ou património negocial. Este perfil é identificado como a “azienda” ou o estabelecimento,
complexo de bens, materiais e imateriais, móveis e imóveis, como também os serviços, de que o
empresário se sirva para o exercício de sua actividade.

Empresa e Empresário

Empresário é quem exerce profissionalmente uma actividade económica organizada, para a


produção e circulação de bens e de serviço. Temos neste conceito três expressões que merecem
comentários especiais:
 Actividade Económica;
 Organizada;
 Profissionalmente.

Empresa:

Empresa: é uma actividade económica. O exercício de uma actividade não económica, ainda
que seja através de uma organização, mesmo que profissional, não constitui empresa, nem quem
a exerce é considerado empresário. Portanto, não é empresário (…), em geral, quem exerce uma
profissão liberal, mesmo que o exercício da profissão implique uma organização estável.

Em segundo lugar, diremos que o empresário exerce actividade profissional, sendo o


elemento da profissionalidade um pressuposto essencial. Por profissão, entende-se um
constante e normal exercício de uma actividade. O exercício da profissão não exige que a
actividade tenha determinada duração ou intervalos certos, mas que seja sistemática e
continuada.

Não é empresa a actividade organizada para a satisfação das próprias necessidades.

Quem produz para si não é empresário, qualquer que seja a complexidade de sua organização.
Nesse caso, falta o elemento da profissionalidade.

O que é empresa?

Compreende quatro perfis.

 Perfil subjectivo: A empresa é o empresário, pois o empresário é quem exercita actividade


económica organizada, de forma continuada. Nesse sentido, a empresa pode ser uma pessoa
física ou uma pessoa jurídica, pois ela é titular de direitos e obrigações.

Quando se diz: "consegui um emprego em uma empresa", tem a palavra empresa empregada com
esse significado.

 Perfil funcional: A empresa é uma actividade, que realiza produção e circulação de bens e
serviços, mediante organização de factores de produção.
Quando se diz: "a empresa de estudar é proveitosa", a palavra empresa empregada com esse
significado.

 Perfil objectivo (patrimonial): A empresa é um conjunto de bens. A palavra é sinónima da


expressão estabelecimento comercial. Os bens estão unidos para uma actividade específica,
que é o exercício da actividade económica. Por exemplo; "a mercadoria saiu ontem da
empresa".

 Perfil corporativo: A empresa é uma instituição, uma organização pessoal, formada pelo
empresário e pelos colaboradores (empregados e prestadores de serviço), todos voltados
para uma finalidade comum.

Empresário: é profissional que exerce "actividade económica organizada para a produção ou


a circulação de bens ou de serviços". Destacam-se da definição as noções de profissionalismo
e actividade económica.

O empresário é o sujeito que exercita a actividade empresarial, articulando, organizando,


intermediando, assegurando a eficiência e o sucesso do funcionamento dos factores
organizados. Nesse aspecto, Rubens Requião destaca dois elementos essenciais para
caracterizar a figura do empresário: o primeiro elemento seria a iniciativa do empresário, com
competência para determinar o caminho a ser percorrido pela empresa com conveniência e
determinação no ritmo de sua actividade. O segundo requisito seria a assunção dos riscos do
negócio, pelos quais responde o empresário, que deve sempre analisar as melhores perspectivas
possíveis, assumindo desvantagens do insucesso.

Diferenças entre empresário e antigo comerciante

Aspectos que diferenciam o empresário comercial do antigo comerciante são vários e como
exemplo, o exercício de uma actividade com profissionalismo e habitualidade, produzindo ou
circulando bens ou serviços assumindo riscos, tendo em vista uma lucratividade. Outro aspecto
é a situação que se encontra os empregados deste empresário, não mais vistos como servos, mas
como colaboradores integrados e com interesses bem definidos para o sucesso da empresa.

Características De Empresário

O profissionalismo é o elemento essencial ao empresário, uma vez, este, podendo ser pessoa
natural ou jurídica que exerce uma actividade em nome próprio extraindo dela as condições
necessárias para estabelecer e se desenvolver financeiramente. Mas não é apenas isso, parte da
doutrina (incluído Fábio Ulhoa Coelho) associa o exercício profissional de certa actividade com
mais dois elementos importantes: habitualidade e pessoalidade.

Será habitual a actividade não provida de tarefas episódicas. Por exemplo, a pessoa monta em
frente de sua casa uma banca e começa a vender de segunda a sábado canetas, lápis, borracha.
Perceba que há habitualidade em nome próprio, significa que o objecto transaccionado saiu do
património do empresário. O segundo aspecto do profissionalismo é a pessoalidade que trata
da actividade empresarial exercida pessoalmente pelo empresário.

A actividade de certa forma é a mesma coisa que empresa, logo, é essencial para caracterizar
o empresário. É interessante destacar na linguagem quotidiana da população e as confusões de
termos utilizados. Ocorre muito este tipo de equívoco, as pessoas falam: ―Vou lá à empresa do
papai‖ , isto é impossível juridicamente, porque ninguém vai à empresa, pois esta é a actividade
do empresário.

Neste prisma, não se pode confundir a empresa com o local em que a actividade é desenvolvida,
o correcto é dizer que irá ao estabelecimento empresarial. Assim temos o empresário que
desempenha uma actividade ―empresa‖ no lugar chamado de estabelecimento empresarial.
Um exemplo é o estudante, que desempenha actividade ―estudo‖ no lugar chamado de escola.

A empresa é o objecto da actividade do empresário, sendo área meio é o que dará suporte
para que o empresário desempenhe sua área fim que é o seu objectivo social. Não se confunde
objecto social com o objectivo social. O objectivo é sempre o mesmo de todos os empresários, o
―lucro‖ . O objecto é a empresa, é a actividade que varia de um empresário para o outro.

A actividade empresarial será económica no sentido de gerar lucros sendo o instrumento para
alcançar outras finalidades como sustentabilidade e rentabilidade. Mas há excepções no que
tange a actividade económica, mesmo estarmos vivendo em pleno capitalismo. É o caso das
associações religiosas que prestam serviços educacionais em uma escola ou universidade sem
visar especificamente o lucro.

De qualquer forma para muitos doutrinadores, o lucro não é o elemento essencial para a
actividade empresarial, ou seja, porque assim toda actividade empresarial teria que ser positiva
ou lucrativa. Se o lucro fosse essencial não existiria a figura da falência, pois, toda actividade
seria lucrativa. O essencial é actividade económica.

A quarta figura é a organização, ou seja, o empresário segundo nosso ilustríssimo professor


Fábio Ulhoa deve reunir os factores de produção quais sejam: capital, mão de obra, insumos e
tecnologia assim, todos articulados na actividade desenvolvida pelo empresário. Na ausência de
um destes elementos não há actividade organizada, logo, não será considerado empresário. Um
exemplo disso, a pessoa cuidava de uma papelaria e não havia um empregado, o próprio dono
vendia e atendia seus clientes.

Na antiga concepção sobre empresário esse cidadão não era considerado empresário,
simplesmente pelo fato de não possuir empregados. Mesmo assim, ele é empresário porque esse
trabalho não é necessariamente de terceiro. O empresário organiza actividade de acordo com
seu funcionamento, fixando horários e as obrigações a serem cumpridas. Então como já foi dito
o empresário organiza os factores da produção. Haroldo Malheiros observa ainda que:

O elemento organizativo está no centro da noção de „empresa‟ , seja


como elemento estrutural e funcionalmente coligado à actividade na
realidade jurídica da própria empresa de outras actividades
económicas nas quais o elemento organizativo falta ou pode ser
irrelevante.

A produção de bens ou serviços é o nosso quinto factor, e consiste na fabricação de


produtos ou mercadorias, ou seja, qualquer actividade envolvendo indústria será considerada
empresarial. A prestação de serviços é a capacidade de realizar serviços. São exemplos: as
montadoras de motos, fábricas de móveis, confecções de sapatos ou roupas; na área de prestação
de serviços: seguradoras, hospitais, etc.
Já a circulação de bens ou serviços são os pólos activos e passivos do comércio entre
vendedores e compradores, é a circulação ou intermediação na cadeia de escoamento de
mercadorias, como exemplos: comerciante de insumos, atacado e varejo e etc. O empresário
produz e circula as riquezas materiais, com serviço sendo o somatório de 4 (quatro) elementos
fácticos jurídicos, ou seja, são questões de fatos observados no mundo real e que impactam o
mundo jurídico. Então para concluir, o empresário é quem exerce actividade económica
organizada com profissionalismo para a produção ou circulação de bens ou de serviços.

Personalidade jurídica
Personalidade jurídica: aptidão que toda a pessoa natural e jurídica possui de exercer direitos
e deveres na Ordem Jurídica.

As sociedades empresárias são sempre personalizadas, pois são pessoas (jurídicas) distintas de
seus sócios (físicas), pois têm seus próprios direitos e obrigações.
A personalização das sociedades empresárias decorre da Teoria da Autonomia da Sociedade
Empresária. São susceptíveis de serem titulares de direitos e deveres depois do registo. Sua
personalidade jurídica começa com o registo, cujos efeitos retroagem à data do acto constitutivo,
ou seja, somente com o registo na Conservatória de Registo de Entidades Legais é que a
sociedade adquire o direito de ser, de existir, no muno jurídico. Consequências da
personificação das sociedades comerciais:

 Titularidade jurídica negocial: quando um sócio realiza um negócio jurídico,


representando a sociedade é esta quem celebra o negócio, vez que é um sujeito de direito
autónomo em relação aos sócios;
 Titularidade jurídica processual: a sociedade é capaz de estar em juízo, activa e
passivamente.
 Titularidade jurídica patrimonial: possui património próprio e inconfundível com os
dos sócios, respondendo com ele

EMPRESÁRIO INDIVIDUAL
O empresário pode ser pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, denomina-se empresário
individual: no segundo, sociedade empresária.
Deve-se desde logo acentuar que os sócios da sociedade empresária não são empresários.
Quando pessoas (naturais) unem seus esforços para, em sociedade, ganhar dinheiro com a
exploração empresarial de uma actividade económica, elas não se tornam empresárias. A
sociedade por elas constituída, uma pessoa jurídica com personalidade autónoma, sujeito de
direito independente, é que será empresária, para todos os efeitos legais. Os sócios da sociedade
empresária são empreendedores ou investidores, de acordo com a colaboração dada à sociedade
(os empreendedores, além de capital, costumam devotar também trabalho à pessoa jurídica, na
condição de seus administradores, ou as controlam; os investidores limitam-se a aportar
capital). As regras que são aplicáveis ao empresário individual não se aplicam aos sócios da
sociedade empresária — é muito importante apreender isto.

Para ser empresário, o agente económico deve ser profissional. Suas actividades são habituais,
são o seu meio de vida. Actividade esporádica não é empresarial. As relações empresariais são
onerosas, geram e transferem riquezas. O objectivo é o lucro, garantido pela consagração da
propriedade privada na Carta Cidadã. O empresário articula capital, força de trabalho, insumos
e conhecimentos técnicos, de forma organizada. Seu trabalho é organizar, estruturar. O
empresário poderá realizar qualquer actividade económica, bastando para a incidência do
regime jurídico empresarial que seja praticada profissionalmente, visando ao lucro e com a
organização dos factores de produção.

O conceito jurídico de empresário engloba tanto o empresário individual (pessoa física)


como o empresário colectivo (pessoa jurídica). A actividade empresária ou será exercida
pessoalmente pelo comerciante singular (ou individual), ou colectivamente, por meio da
sociedade empresária. O empresário, portanto, pode ser uma pessoa física ou uma sociedade. O
exercício empresarial poderá se dar por uma única pessoa natural, que será empresário
individual ou singular. Será empresária a sociedade que desenvolve actividades organizando os
factores de produção, independentemente do trabalho pessoal dos seus sócios.

A nova disciplina privatística excluiu da disciplina empresarial apenas quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, mesmo que se utilize do trabalho de
auxiliares ou colaboradores. Com isso, os advogados, médicos, engenheiros, escritores, atores,
pintores, músicos, por exercerem profissões intelectuais, não se qualificam como empresários,
ainda que sejam auxiliados por empregados. Apenas quando organizarem sua actividade de
forma empresarial, de modo que seu trabalho pessoal não seja o preponderante, limitando-se a
dirigir o empreendimento e o trabalho de empregados, serão empresários. Assim, será
empresária uma sociedade de engenharia, quando agir não por meio da actividade pessoal dos
sócios engenheiros, mas sim por meio de uma estrutura de trabalho de terceiros.

Empresário

"Considera-se empresário quem exerce profissionalmente actividade económica organizada


para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária
ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento da empresa".

Qual a diferença entre empresário e sociedade empresária?

O empresário é o sujeito que exercita a actividade empresarial, articulando, organizando,


intermediando, assegurando a eficiência e o sucesso do funcionamento dos factores
organizados. Nesse aspecto, Rubens Requião destaca dois elementos essenciais para
caracterizar a figura do empresário: o primeiro elemento seria a iniciativa do empresário, com
competência para determinar o caminho a ser percorrido pela empresa com conveniência e
determinação no ritmo de sua actividade. O segundo requisito seria a assunção dos riscos do
negócio, pelos quais responde o empresário, que deve sempre analisar as melhores perspectivas
possíveis, assumindo desvantagens do insucesso.

Sociedade empresária é a sociedade que exerce actividade económica organizada, "tem por
objecto o exercício de actividade própria de empresário sujeito a registo".
Em oposição às sociedades empresárias, estão as sociedades simples, que são as sociedades que
não exercem profissionalmente actividade económica organizada.

A empresa é primordialmente uma actividade económica organizada, que gera direitos e


obrigações, percebe-se que empresa e a sociedade são coisas distintas.

A empresa – actividade exercida pelo empresário – não pressupõe a existência de uma


sociedade, na medida em que esta actividade pode ser exercida por uma única pessoa física e
não por um conjunto de pessoas reunidas em sociedade

A sociedade será simples (não empresária) quando suas actividades económicas se constituem
no exercício pessoal da profissão de natureza intelectual, literária ou artística dos seus sócios.
Quando a actividade da sociedade se representar na prática de um ofício pelos seus próprios
sócios, obtendo este resultado económico do seu trabalho por meio da pessoa jurídica,
configura-se uma sociedade simples, e não empresária. Aqui, o critério diferenciador está na
predominância da actividade pessoal dos sócios. As sociedades diferenciam-se entre
empresárias e simples não pelo seu objecto social, mas sim pelo modo de execução de suas
actividades

As sociedades empresárias são constituídas mediante contrato social ou estatuto, em que


os sócios se obrigam reciprocamente a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de
actividade económica, convencionando a partilha dos resultados entre si.

A personificação da sociedade empresária tem por objectivo e resultado prático a segregação


patrimonial dos sócios em relação à pessoa jurídica. Os bens aportados pelos sócios passam a
ser titulados pela sociedade. As dívidas e créditos dos sócios não se confundem com aqueles da
sociedade, nem os desta com os daqueles. São – a sociedade e os sócios – pessoas com
patrimónios distintos. Salvo casos de abuso da personalidade jurídica, a separação e a
autonomia patrimonial entre os sócios e sociedade são preservadas frente aos respectivos
credores, não respondendo, de regra, os bens daquele por débitos desta.

REFERÊNCIAS
Leituras Obrigatórias

A leitura dos textos indicados, a seguir, é de fundamental importância para a compreensão de


nossos estudos e para a realização das actividades propostas para esta primeira unidade de
estudo. Portanto, não deixe de estudá-los.

 CORREIA, Miguel J. A. Pupo, Direito Comercial (Direito da Empresa), 9ª Edição,


refundida e actualizada, Editora Jurídica, Lisboa, 2005.

 Legislação
 Dec. Lei nº 2/2009 de 24 de Abril (BR nº 016, I Série, 3º Supl. de 24 de Abril de 2009, pág.
86 – (altera alguns artigos do Código Comercial de Moçambique - Decreto-Lei nº
2/2005 de 27 de Dezembro de 2005);

 Decreto 1/2006 de 3 de Maio (Cria o registo de Entidades Legais e aprova o seu


regulamento. BR nº 018, I Série, de 03 de Maio de 2006, pág. 147 a 160. Revoga o Decreto-
Lei nº42 42644 e o decreto nº42 645, ambos de 14 de Novembro de 1959);

 Lei nº 23/2009 de 28 de Setembro de 2009 (BR nº 038, I Série, Supl. de 28 de Setembro de


2009, pág. 286-(18) a 286-(31) - Aprova a Lei Geral das Cooperativas.

 Código Civil Português, aprovado pelo Decreto - Lei nº 47344, de 26/11/1966.

 Decreto-lei 3/2006, de 23 de Agosto (Estabelece o regime para a constituição, alteração e


dissolução das pessoas colectivas e altera os artigos 168, 185, 1143, 1232 e 1239 do Código
civil)

Leituras Complementares

 ABREU, JORGE MANUEL COUTINHO DE - Da Empresarialidade. As Empresas no


Direito, Coimbra, Livraria Almedina, 1996

 ABREU, JORGE MANUEL COUTINHO DE - Curso de Direito Comercial, Vol. I, Introdução,


Actos de Comércio, Empresas, Sinais Distintivos, 6.ª Edição, Coimbra. Almedina, 2007
 Ascensão, J. Oliveira - Direito Comercial, vol. I, II, III, IV Direito Industrial, Lisboa, 1994;
vol. III, Títulos de Crédito, Lisboa, 1992
 Cordeiro, António Menezes - Manual de Direito Comercial, Vol. I, Almedina, Coimbra,
2009;
 CORREIA, L. Brito. Direito Comercial, 2º Volume, Sociedades Comerciais, Lisboa, 1989.
 CORREIA, Ferrer – Lições De Direito Comercial, Almedina Editora, 1994, LEX – Edições
Jurídicas.
 CUNHA, PAULO OLAVO - Direito das Sociedades Comerciais, 3ª Edição, Almedina, 2007
 Martins, Alexandre Soveral, Títulos de crédito e valores mobiliários, vol. I, Almedina, 2008;

 OLIVEIRA, Jorge de. Breves Noções de Direito Comercial. Maputo: Edição do Autor,
1998;

Actividades
1. Explique o que entende por Direito Empresarial
2. Estabeleça a diferença entre empresário e comerciante
3. Explique em que consiste a teoria do Direito empresarial da fase subjectiva moderna do
Direito Comercial
4. Explique as características da empresa como actividade comercial
5. Explique em consiste a empresa de acordo ao Código Comercial (artigo 3º)
6. Identifique os tipos de empresário de acordo ao Código Comercial (artigo 2º)
7. Explique em que consiste a personalidade jurídica do empresário

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