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DIREITO

COMERCIAL
I - INTRODUÇÃO GERAL
1. Algumas noções sobre o objeto da disciplina

Direito comercial – Corpo de normas, conceitos e princípios jurídicos que no domínio


do direito privado regem, os factos e as relações jurídico comerciais
Trata-se de um ramo do direito privado, que cuida de relações entre sujeitos colocados
em pé de igualdade jurídica.
E é um ramo do Direito Privado Especial, já que estabelece uma disciplina para as
relações jurídicas que se constituem no campo do comércio, a qual globalmente se
afasta da que o direito civil, como direito privado comum estabelece para a
generalidade das relações jurídico privadas.
I - INTRODUÇÃO GERAL
1. Algumas noções sobre o objeto da disciplina

Temas que formam o objeto do Direito Comercial:


a. A conceção e regime das estruturas organizativas através das quais são exercidas as atividades subsumidas
ao conceito jurídico do comercio: é a problemática da empresa ou do estabelecimento comercial, a
respeito da qual são disciplinadas a respetiva reestruturação, os negócios jurídicos que lhe dizem respeito, a
sua proteção face ao jogo da concorrência, as suas crises e a proteção dos respetivos credores.
b. As regras sobre os empresários comerciais, os denominados comerciantes: sobre o seu acesso à respetiva
qualidade jurídica, sobre as suas obrigações, sobre as sua estrutura e atuação, entre elas, assume especial
complexidade e relevância a disciplina daqueles comerciantes que revestem a natureza de pessoas
coletivas: as sociedades comerciais.
c. As normas que regem os atos jurídicos estruturantes da vida comercial – os atos de comércio -, normas
essas, quer genéricas quer especificas de cada ato em si mesmo e das especialidades que assumem algum
deles face ao regime dos atos de Direito Civil
d. Os documentos tipificados e regulados pelo Direito Positivo para servirem de veículos à circulação e
dinamização do crédito (exemplo: letras, livranças e cheques)
I - INTRODUÇÃO GERAL
2. Evolução histórica do Direito Comercial

É na Idade Média que o Direito Comercial vai adquirindo expressão própria. Destruída a vida comercial
com as invasões barbaras, ela só renasce com as cruzadas e com o desenvolvimento a partir do seculo XII,
das cidades comerciais na Itália, na Flandres, na Alemanha bem como nas feiras que constituem os polos
comerciais da época. As suas poderosas corporações elaboram regulamentos da profissão, onde se
sedimentam usos mercantis.
Toda esta criação normativa mais se desenvolve com os descobrimentos que a partir sobretudo do seculo
XVI, ativaram enormemente o comércio marítimo, expandindo progressivamente a todos os mares e
continentes, e deste modo contribuíram decisivamente para a evolução das regras e, instituições jurídicas
a ele ligadas.
Surge, ao longo desta evolução, um Direito Comercial cujas fontes são os estatutos das corporações de
mercadores, os costumes mercantis e a jurisprudência dos tribunais consulares e que, longe de ser
uniforme, todavia tende para a consolidação de regras semelhantes. Este ius mercatorum aplica-se a todas
as relações jurídicas dos comerciantes, quer entre eles, quer com elementos de outras classes
(eclesiásticos, nobres, militares, agricultores, estrangeiros) prevalecendo mesmo sobre o Direito Canónico
e o Direito Civil. É pois um direito especial e autónomo do Direito Civil subjetivista, corporativo e
fortemente consuetudinário pelas suas origens e com intenso pendor internacionalista.
I - INTRODUÇÃO GERAL
2. Evolução histórica do Direito Comercial

Na Idade Moderna o fortalecimento progressivo do poder real fez com que as corporações
fossem perdendo a importância que tinham tido como criadoras de normas jurídicas,
sendo Direito Mercantil corporativista medieval pouco a pouco substituído por preceitos
de origem real. No entanto não quer isto dizer que o Direito Comercial não tenha
mantido o seu carater subjetivista, pois ele continua a ter como fulcro as atividades dos
comerciantes, cujas corporações continuam ainda por bastante tempo a desempenhar um
importante papel de organização e defesa da classe. Porém as tendências da época
repercutem-se também no Direito Mercantil: à afirmação crescente do poder real faz com
que a criação das suas normas passe a caber prevalentemente ao Rei: de direito de origem
classista passa a direito de fonte estatal, e atenua-se o seu internacionalismo, tornando-se
um direito de matriz nacional.
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2. Evolução histórica do Direito Comercial

A Revolução Francesa e os movimentos semelhantes que, na sua esteira eclodiram em outros países,
significaram a tomada do poder pela burguesia e, com ela, a difusão da ideologia igualitária que levou a
extinção das corporações e à proclamação da liberdade do comercio, o que conduziu a uma modificação
essencial na conceção do Direito Comercial. Em vez de direito privativo da classe profissional dos
comerciantes, ele passa a ser concebido e construído como o direito regulador dos atos de comercio. Por
isso a lei comercial passou a aplicar-se não em função da qualidade dos sujeitos das relações jurídicas,
mas sim em razão da natureza destas relações em si mesmas.
Adotou-se uma conceção objetivista, que influenciou alguns países que sob o influxo do Código Comercial
Francês de 1807, codificaram o seu direito comercial, como foram os casos de Espanha (1886) e Itália
(códigos de 1842, 1865, 1882) e, como se vai ver, também em Portugal.
Mas um retorno ao subjetivismo começou a verificar-se no código comercial alemão de 1861 que serviu
de modelo aos de diversos países: nele, o Direito Comercial voltou a ser caracterizado como direito
profissional dos comerciantes. Comerciante, no HGB, é aquele que explora uma empresa mercantil, sendo
enumeradas as atividades que são objeto das empresas mercantis. E os atos de comercio não são
definidos objetivamente, mas sim subjetivamente, ou seja em função da qualidade de comerciante de
quem os pratica: “são todos os atos de um comerciante que pertençam à exploração da sua empresa
mercantil”.
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2. Evolução histórica do Direito Comercial

Em Portugal a era das codificações do direito mercantil iniciou-se com o código comercial de 1833 devido ao lavor do insígne jurista
Ferreira Borges e que na época em que foi promulgado, desempenhou o relevantíssimo papel de substituir um ornamento disperso,
confuso e obsoleto por um corpo normativo organizado, inovador e elaborado.
Inspirava-o uma conceção objetivista na medida em que apesar de a disciplina por ele instituída ter como destinatários os comerciantes
matriculados e com campo de aplicação “as operações atos e obrigações ativas e passivas do que exerce o comércio”, todavia estabelecia o
“principio de que todo o ato de comércio quem quer que seja o seu agente esta sujeito à lei comercial”.
Não tardou todavia que o surto de desenvolvimento industrial e comercial desencadeado pela revolução tecnológica e económica do séc.
XIX fizesse surgir a necessidade de reforma do Código de 1833. A partir de 1886, o Ministro da Justiça Veiga Beirão deu impulso decisivo à
publicação de uma novo código, reunindo um grupo de juristas que sob a sua coordenação elaboraram o respetivo articulado.
Daí resultou o Código Comercial aprovado pela Carta de Lei de 28.6.1888, entrado em vigor em 1.1.1889 e ainda hoje vigente em boa
parte e, acima de tudo, como cúpula ordenadora do direito comercial positivo português.
É essencialmente, um código que visa regular os atos do comercio, independentemente da profissão dos seus sujeitos, embora nele se
possam detetar relevantes aspetos de subjetivismo.
Nos tempos mais recentes todavia, a evolução do Direito Comercial tem sido marcada por uma tendência para a conceção do direito de
empresa.
Embora não tenha atingido o seu escopo final de produzir um novo código comercial, a comissão nomeada em 1977 e presidida por Ferrer
correia elaborou estudos preliminares que permitiram centrar no conceito estrutural de Direito da empresa a delimitação material do
nosso futuro ordenamento mercantil.
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2. Evolução histórica do Direito Comercial

Na esteira desse trabalho de desbravamento cultural, num modo automatizado de estabelecimento


individual de responsabilidade limitada, introduzida no nosso ordenamento jurídico pelo D. L. nº 248/86
de 25/8, a que veio acrescentar-se depois outra modalidade institucional, que se distingue daquela poe
gozar de personalidade jurídica própria: a sociedade unipessoal por cotas introduzida no código das
sociedades comerciais pelo D. L. 257/96 de 31/12.
Outro significativo passo no mesmo sentido foi dado no Código dos processos especiais da recuperação da
empresa e da falência (C. P. E. R. F), o qual apesar de alguma inconsistência conceptual, definia o seu
campo material como fulcro da empresa definindo esta “toda a organização de fatores de produção
destinada ao exercício de qualquer atividade agrícola, comercial ou industrial ou de prestação de serviços.
A substituição daquele pelo Código de Insolvência e Recuperação de Empresas (C. L. R. E) de 2008, operou
um reenquadramento do conceito de empresa – ora redefinida como “toda a organização de capital e
trabalho destinada ao exercício de qualquer atividade económica que passou a ser encarrada numa
perspetiva mais correcta, mas não deixou de ter relevância, como facto diferenciador da aplicabilidade de
certos aspetos do regime da insolvência.
Sintomas idênticos podem detetar-se em outros importantes diplomas avulsos ( v. g. na legislação da
propriedade industrial e da concorrência.
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3. O presente e o futuro do Direito Comercial tendências uniformizadoras

O desenvolvimento do Direito Comercial tem manifestado ao longo dos seculos, sobretudo nos dois mais
recentes, um poderoso influxo de conceções que reclamam a liberdade de comércio, nas suas manifestações de
liberdade profissional e de liberdade contratual, a par de reiteradas arremetidas contra o protecionismo e
dirigismo dos Estados.
Daí a tradicional confrontação entre as aspirações de liberdade dos empresários e as tendências
intervencionistas ou estatizantes que, ao longo de todo o passado seculo XX marcaram as tensões cíclicas da
politica económica tanto nacional como internacional, e continuam a constituir um dos seus temas recorrentes
no presente.
A antiga pulsão internacionalista do Direito Comercial vem-se igualmente manifestando sob formas sempre
renovadas, induzindo por ação de entidades internacionais e supra nacionais correntes de pensamento jurídico e
instrumentos de formação e transformação do direito que continuadamente o fazem evoluir no âmbito das
instituições e relação internacionais e induzem significativas correntes de inovação no ordenamento e na pratica
interna dos diversos países.
Esta evolução constante e dinâmica, sob o influxo da tendência liberal que se manifesta na constante atuação do
principio da autonomia da vontade privada, tem conduzido a uma forte tendência uniformizadora do Direito
Comercial superando as diferenças entre os sistemas político-económicos dos diferentes Estados e entre os
sistemas jurídicos em que os ornamentos nacionais se enquadram.
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3. O presente e o futuro do Direito Comercial tendências uniformizadoras

No mesmo sentido unificador é de registar a decisiva importância do influxo do direito da União Europeia gerado pela
Comunidade Económica Europeia (CEE) hoje denominada União Europeia (UE) criado pelo Tratado de Roma de 1957.
Com a finalidade de estabelecer uma mercado comum, preveem-se no chamado Tratado da Comunidade Europeia
instrumentos normativos que se repercutem de forma muito relevante no ornamento das atividades comerciais, como
são os casos: da concorrência, do direito das sociedades e, de uma modo geral, outros aspetos que se relevem úteis
para o funcionamento do mercado comum.
Através dos diplomas do direito comunitário derivado – diretivas, regulamentos, decisões – que os órgãos da EU
podem emitir, tem sido criada uma progressiva aproximação do Direito Comercial dos diversos Estados-membros:
a. Direito Primário ou Originário : Tratados da UE
b. Direito Derivado ou Secundário:
a. Regulamentos = Leis nacionais. Tem carater obrigatório e vinculatividade geral. Depois de publicados no J.O.U.E. vigoram em todo o território
da União Europeia, vinculando EM’s, pessoas singulares e pessoas coletivas.
b. Diretivas vinculam, um, vários ou todos os EM’s (os que vierem enumerados na diretiva) mas só apontam para a obtenção de um resultado,
ficando ao critério dos EM’s visados a forma para atingir esse resultado
c. Recomendações
d. Decisões
e. Pareceres
I - INTRODUÇÃO GERAL
3. O presente e o futuro do Direito Comercial tendências uniformizadoras

Outro poderoso impulso inovador do Direito Comercial hodierno advém do impacto


jurídico do comercio eletrónico, o qual tendo começado por ser encarado numa
perspetiva tradicional, como mero influxo da inovação tecnológica no tocante aos meios
de comunicação, cuja interferência no desenvolvimento das atividades se limitaria a
facilitar a sua celeridade, posteriormente veio a revelar-se uma fonte de profundas
transformações, não apenas económicas, mas estendidas a todos os campos da vida
social, no âmbito da chamada Sociedade da Informação.
Dessas problemáticas, uma das principais diz respeito à contratação eletrónica, ou seja, à
utilização dos meios de tele-informática ou telemática para a transmissão das declarações
de vontade que consubstanciam a celebração de contratos comerciais e materializam a
execução de prestações por eles geradas.
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4. Delimitação do objeto e âmbito do Direito Comercial
A primeira conceção que surgiu a definir o objeto e âmbito da nossa disciplina foi a conceção objetivista.
Segundo ela, o Direito Comercial é o conjunto de normas que regem os atos ou atividades dos comerciantes
relativos ao seu comércio.
Prevalentes nas idades Média e Moderna, como Direito Corporativo da classe mercantil, veio a ter expressão
codificada no HGB alemão 1861 e Código Civil Italiano de 1942, onde o fulcro delimitador do objeto do Direito
Comercial se deslocou para a empresa e a torna subjetiva para a figura jurídica do empresário, ao mesmo tempo
que o âmbito das atividades empresariais mercantis se alargou a outros ramos da atividade económica.
Por seu turno para a conceção objetivista o Direito Comercial é o ramo do direito que rege os atos do comércio,
sejam ou não comerciantes as pessoas que os pratiquem. No nosso ramo do direito passa a ser encarado pelo
seu objeto isto é, dos atos jurídicos que formam o seu núcleo normativo.
Serão esta duas conceções, todavia, incompatíveis uma com a outra? A verdade é que o seu antagonismo é mais
aparente que real, pois entre elas existem significativos pontos de contacto.
Por um lado, a conceção subjetiva, para caraterizar a atividade de comerciante não pode prescindir de ter em
conta que esta advém da pratica de certos atos ou atividades, havidos com comerciais. Além disso, mesmo para
esta conceção nem todos os actos dos comerciantes são comerciais: só são aqueles que tenham causa mercantil,
ou seja, que resultem do exercício do comercio pelo comerciante que o pratica.
I - INTRODUÇÃO GERAL
4. Delimitação do objeto e âmbito do Direito Comercial
Ou seja: mesmo a conceção subjetivista não dispensa a determinação de certos atos como objetivamente
comerciais, por serem aqueles que pertencem ao exercício profissional do comércio.
Por outro lado, mesmo no domínio da conceção objetivista não é possível abstrair da existência dos
comerciantes, isto é, das pessoas que habitualmente se dedicam à pratica de atos e atividades comerciais. Dai
resulta que esta conceção admiti a existência de regras e institutos de poder comercial que radicam na profissão
de comerciante, como é o caso das obrigações especiais previstas do artigo 18 C.COM.
Não há pois sistemas puros: em ambos existem atos de comercio objetivos e regras próprias da profissão de
comerciantes. E deste modo, podemos dizer que, na essência, as duas conceções se resume a isto: no sistema
subjetivista, só são comerciais os atos praticados por comerciantes e no exercício do seu comércio, pelo que não
se admitem atos comerciais isolados ou avulso, mormente de não comerciantes: já no sistema objetivista uma
vez que assenta nos atos do comércio, independentemente de quem os pratique, são também como tais
considerados os atos ocasionais, mesmo que não praticados por comerciantes ou alheios à atividade profissional
de um comerciante desde que pertençam a um dos tipos regulados na lei comercial.
Como se vê, não é viável uma solução conceitual pura e totalmente isenta de dificuldades à cerca do objeto e
âmbito Direito Comercial. Mas havemos de concordar que a conceção de direito de empresa é a que se aproxima
mais da realidade atual recoberta pela nossa disciplina, permitindo até uma visão englobante das empresas
públicas e privadas, na identidade substancial da suas atividades sob o ponto de vista privatístico, ainda que
resultem de conceções diversas no que toca a sua estrutura e aos seus fins últimos.
I - INTRODUÇÃO GERAL
4. Delimitação do objeto e âmbito do Direito Comercial
Em suma, poderemos concluir, como FERRER CORREIA, que o direito comercial é o direito privado especial da empresa comercial, ou seja,
aquele ramo especifico do direito privado que, “centrando-se na empresa ou dela irradiando, abrange todos aqueles domínios em que se
faca sentir a necessidade de uma regulamentação autónoma em face dos princípios gerais do direito civil”:
a) Tutela eficaz do crédito;
b) Segurança das transações;
c) Celeridade na celebração dos negócios.
O nosso código comercial de 1888 respira o influxo prevalente de uma conceção objetivista, como revelam os seus artigos 1º e 2º, 1ª
parte, bem como a sua sistemática: todo o Livro II é dedicado aos atos do comércio objetivos (“Dos Contratos Especiais do Comércio”).
Todavia, é manifesta a subsistência naquele Código de aspetos significativos da conceção subjetivista, como se constata pela 2ª parte e
pelas disposições relativas aos comerciantes (Títulos II a VI do Livro I).
E mesmo a conceção do direito da empresa se pode detetar, ainda que de forma embrionária na norma do artigo 230, a qual, apesar da
sua inserção sistemática anómala – no Livro II dedicado aos atos de comércio objetivos – mostra que o legislador de 1888 não pode
prescindir do conceito e da realidade da empresa, como elemento fulcral de caraterização de delimitação do âmbito do Direito Comercial.
Aliás, modernamente, outros preceitos legais tem vindo a completar este quadro, de forma a acentuar a importância do conceito da
empresa no nosso Direito Comercial.
No nosso Direto Comercial positivo podem, portanto, detetar-se elementos de todas as conceções básicas em presença – subjetivista
clássica, objetivista e do direito da empresa -, o que coloca por vezes embaraçosos problemas de interpretação, de aplicação e de
construção conceitual, fazendo ganhar, cada vez maior relevância a exigência de novo código comercial que confira de novo unidade e
coerência ao sistema
I - INTRODUÇÃO GERAL
5. O Direito Comercial como direito privado da empresa
A noção clássica da nossa disciplina é de que o Direito Comercial é o direito privado especial do comércio.
Porém em que sentido devemos levar aqui a palavra comércio? A noção de comércio que nos é dada pela ciência económica –
atividade de mediação entre a produção e o consumo dos bens, que consiste basicamente na compra e revenda das mercadorias
e operações acessórias, com objetivo de obtenção de lucro e correndo o inerente risco – situa-se no setor terciário da economia,
segundo a conhecida classificação das atividades em três sectores. É uma noção material ou substancial.
Haja em vista que:
a) O Direito Comercial aplica-se tanto ao comercio (em sentido económico, material), como a industria (atividade económica
de produção de bens pertencente ao sector secundário da económica), como as outras atividades de prestação de serviços
igualmente terciárias principalmente o transporte, como as pescas que a ciência económica inclui no sector primário e até
a atos isolados que a lei entende submeter ao regime jurídico comercial, abstraindo por vezes do negocio a eles subjacente
(caso expressivo são os atos relativos às letras e livranças). Entretanto o Direito Comercial não regula todas as atividades
económicas, pois no seu alcance são excluídos designadamente o artesanato, a agricultura e o editor que edita as suas
próprias obras.
b) Por outro lado nem todo o Direito aplicável as atividades comerciais é Direito Comercial na aceção clássica (direito privado
especial do comércio), pois existem normas que se aplicam às atividades comerciais, mas que não são de direito privado
mas sim de direito fiscal, direito constitucional, direito administrativo, direito criminal e outros ramos do direito público
que tem por objeto ou se aplicam as atividades comerciais
I - INTRODUÇÃO GERAL
5. O Direito Comercial como direito privado da empresa
Para FERRER CORREIA, o direito comercial é o ramo de direito privado que, historicamente
constituído e autonomizado para regular as relações dos comerciantes relativas ao seu
comércio, e visando ainda hoje principalmente a satisfação de necessidades peculiares a
este setor da vida económica, se aplica também a outros sectores da atividade humana
que se entende conveniente sujeitar à mesma disciplina jurídica.
II – ATOS DE COMÉRCIO
1. Atos de Comércio
São atos de comércio os fatos jurídicos voluntários especialmente regulados na lei comercial e os que
realizados por comerciantes respeitem as condições previstas no final do artigo 2º do código comercial.
2. Atos e atividades mercantis
O artigo 230 do C.COM
3. O artigo 2º esta dividido em 2 partes:
- 1ª parte - atos de comércio objetivos,
- 2º parte atos de comércio subjetivos
II – ATOS DE COMÉRCIO
3. O artigo 2º esta dividido em 2 partes:
a. Atos simultaneamente regulados na lei civil e na lei comercial (por exemplo: fiança, mandato,
empréstimo, penhor, depósito, compra e venda, aluguer, etc.). Em principio, estes atos serão civis, no
entanto serão comerciais quando neles se verificarem aquelas características especificas que a lei
comercial estabelece como atributivas da comercialidade.
b. Atos exclusivamente regulados no Código Comercial (por exemplo: conta corrente – artº 344º, reporte
– artº477º, transporte – artº 366º e s.s. etc). São os atos que se acham direta e explicitamente
referidos de forma genérica na 1ª parte do artº 2º
c. Atos regulados em legislação comercial extravagante posterior ao Código Comercial (ex: locação
1ª parte - atos de comércio objetivos, financeira, consorcio associação em participação, leasing, atos relativos aos títulos de crédito: letras
livranças e cheques, etc.).
d. Atos regulados na legislação civil (Código Civil e diplomas civis avulsos). No Código Civil e em legislação
civil avulsa surgem certas disposições que constituem normas extravagantes do Direito Comercial, já
que dizem respeito ao regime dos atos de comércio, p ex: no Código Civil o artº317º b) referente à
São atos cuja comercialidade reside no ato prescrição, em legislação civil avulsa as normas respeitantes ao arrendamento urbano para fins não
em si independentemente da qualidade habitacionais, entre os quais assumem especial destaque os fins comerciais, p ex: as normas
das pessoas que os praticam referentes ao contrato de locação do estabelecimento ou cessão de exploração, as normas referentes
ao trespasse do estabelecimento comercial etc.

Estes atos tendo em atenção as pessoas que os praticam (comerciantes), tem de preencher dois requisitos:
1º Não serem de natureza exclusivamente civil (casamento, testamento, adoção)
2º parte atos de comércio subjetivos 2º Não resultar do próprio ato contrário: isto é, exigisse que tais atos sejam praticados pelos comerciantes,
no e para, o exercício do seu comércio
II – ATOS DE COMÉRCIO
4. Classificação dos atos de comércio
4.1. Atos de comércio objetivos e atos de comércio subjeticos
Os atos subjetivos pressupõem a qualidade de comerciante de quem os pratica, ao passo que os
atos objetivos são adequados para atribuir aquela qualidade a quem os prática de forma profissional. A
importância desta categoria é, manifesta, face aos artºs 13 e 1º Nº2 do C.S.C.

4.2. Atos de comércio absolutos e atos de comércio acessórios ou por conexão


Atos típicos integrantes das atividades comerciais
4.2.1. Atos de comércio absolutos:
a) Atividades de mediação nas trocas;
b) Atividades industriais;
c) Atividades financeiras
d) Atividades aleatórias
e) Atividades de prestação de serviços

4.2.2. Atos de comércio acessórios ou por conexão


Os atos de comércio acessórios ou por conexão abrangem todos os atos de comércio subjetivos, mas
também abrangem diversos atos objetivos, designadamente a fiança, o mandato, o penhor, o empréstimo, o depósito.
A importância desta classificação reside, na circunstância de a doutrina dominante entender que o nº 1 do artº 13 do
C.COM. só atribui a qualidade de comerciante a quem pratique profissionalmente atos de comércio que, além de
objetivos, sejam absolutos.
II – ATOS DE COMÉRCIO
4.3. Atos substancialmente comerciais e atos formalmente comerciais
Atos substancialmente comerciais são os que tem comercialidade em razão da
sua própria natureza por representarem atos próprios de atividades mercantis:
Exemplos:
- Atividade transportadora;
- Atividade de prestação de serviços, etc.

Atos formalmente comerciais


Exemplos:
- Os atos praticados no âmbito dos títulos cambiários (letras, livranças e cheques)
II – ATOS DE COMÉRCIO
4.4. Atos bilateralmente comerciais ou puros e atos unilateralmente comerciais ou
mistos
São atos bilateralmente comerciais ou puros os atos que tem carater comercial
em relação às duas partes.
Exemplo:
- António proprietário de uma drogaria encomendou ao seu fornecedor 100 sacos
de cimento
Os atos unilateralmente comerciais ou mistos são os atos que apenas são
comerciais em relação a uma das partes e civis em relação a outra
Exemplo:
- Rodrigo proprietário de um quiosque na Maia adquiriu um fato para seu uso
próprio num pronto a vestir em Vila Nova de Gaia.
II – ATOS DE COMÉRCIO
5. Regras especiais dos atos e obrigações comerciais em geral
5.1. Forma
O principio da consensualidade ou liberdade de forma artº 219º C.C., apesar de
assumido pelo Direito Civil é por vezes aplicado de forma mais extensa no âmbito do
Direito Comercial: aqui o intuito de promover as relações mercantis, protegendo o crédito
e a boa fé, leva a promover a simplicidade da forma.

5.2. Solidariedade passiva


A solidariedade nas obrigações não se presume: tem que resultar da lei ou da
vontade das partes, como preceitua o artº 513º C.C.. Assim é em Direito Comum, ou seja,
quanto às obrigações civis nas quais a regra é a conjunção.
Mas não é assim nas obrigações comerciais, nas quais, salvo estipulação em
contrário, os co-obrigados são solidários (artº 100º C.COM.)
II – ATOS DE COMÉRCIO
5.2. Solidariedade passiva

Obrigações Civis Obrigações Comerciais


Regra: Conjunção ou Proporcionalidade Regra: Solidariedade

- ARTº 513º C.C. - ARTº 100º C.COM.

Dívida: 800€ Dívida: 800€ B


B
200€ 200€
C C Devedores
Devedores
A A 200€
200€
800€ 800€ D
D
200€ Credor 200€ E
Credor E
200€ 200€

O credor só pode exigir de cada um dos O credor só pode exigir de qualquer condevedores a
condevedores a sua parte na divida, 200€. totalidade do montante em divida, 800€.
II – ATOS DE COMÉRCIO
5.3. Prescrição
Em Direito Privado (Direito Civil e Comercial) a prescrição consiste numa forma de
extinção (prescrição extintiva) de direitos e obrigações, resultante do não exercício destes pelo
respetivo titular durante determinado lapso de tempo fixado na lei.

5.4. Juros
Os juros dizem-se legais se decorrem de norma legal e
convencionais se resultantes de estipulação das partes.
Por outro lado, à que distinguir entre os juros remuneratórios ou compensatórios que
são o correspetivo pela fruição ou pela indisponibilidade do dinheiro ou de um valor
pecuniariamente avaliável e
Juros moratórios que constituem uma indeminização pelo prejuízo causado ao credor pela
mora do devedor no cumprimento de uma obrigação (artº 806º C.C.)
Juros convencionais artº 102º 1º do C.COM.
Limitações das convenções de juros em negócios comerciais artºs 559ºA 1146º do C.C. –
repressão da usura – o artº 560 C.C. consagra restrições à prática do anatocismo, ou seja, à
contagem de juros sob juros.
III – EMPRESA E EMPRESÁRIOS
O ESTABELECIMENTO COMERCIAL
1. A empresa na lei, na doutrina e na jurisprudência:
a) Pluralidade de definições de empresa
b) Empresas comerciais e empresas não comerciais

2. Pequenas e médias empresas


a) A discriminação positiva das P.M.E.’S
b) Recomendação da comissão de 6 de Maio de 2003 relativa à definição de micro, pequenas e
médias empresas
c) Medidas de proteção de pequenas e médias empresas
d) Certificação P.M.E.
III – O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
1. Conceito de estabelecimento comercial
Estabelecimento comercial é a organização do empresário mercantil, o conjunto de elementos reunido e
organizado pelo empresário para através dele exercer a sua atividade comercial, de produção ou circulação de
bens ou prestação de serviços.
O estabelecimento pressupõe assim, antes de mais um titular: ele é um conjunto de meios predestinados por
um empresário, titular de um determinado direito sobre ele, para exercer a sua atividade.
Por outro lado, o estabelecimento é um acervo patrimonial: engloba um conjunto de bens e direitos, das mais
variedades categorias e naturezas que têm em comum a afetação à finalidade coerente a que o comerciante os
destina.
Mas o estabelecimento é também um conjunto de pessoas: pode reduzir-se à pessoa do empresário o seu
suporte humano, nas formas mais embrionárias de estrutura empresarial: mas normalmente engloba uma
pluralidade de pessoas, congregadas por diversos vínculos jurídicos, para atuarem com vista à prossecução da
finalidade comum da empresa.
O estabelecimento é uma organização: os seus elementos não são meramente reunidos, mas sim entre si
conjugados, interrelacionados, hierarquizados, segundo as suas especificas naturezas e funções especificas, por
forma que do seu conjunto possa emergir um resultado global: a atividade mercantil visada.
O estabelecimento, enfim, é uma organização funcional: a sua estrutura e configuração, a sua entidade própria
advém-lhe de um determinado objeto, que é uma atividade de determinado ramo da economia: atividade que,
entretanto, será necessariamente uma atividade de fim lucrativo das que cabem na matéria mercantil, ou seja,
na âmbito material do Direito Comercial. Só assim se pode falar de um estabelecimento comercial.
III – O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
1. Conceito de estabelecimento comercial
Pode um comerciantes não ter estabelecimento comercial? A resposta a esta questão
põe-se em termos diversos consoante se trate de sociedades comerciais ou de
comerciantes individuais.
As sociedades comerciais são comerciantes natos e não carecem, para adquirirem essa
qualidade, de exercer efetivamente o comércio. Pode, por isso, conceber-se que não
tenham um estabelecimento, ou seja, um organização adstrita à atividade mercantil, por
ainda não a terem iniciado, ou por terem alienado o seu estabelecimento e ainda não
terem montado outro, etc.
Quanto aos comerciantes em nome individual, afigura-se-nos que não é possível que
mantenham essa qualidade sem terem um estabelecimento, por muito embrionário que
seja. É que só é comerciante individual quem exerce profissionalmente o comércio. Se
cesse de o exercer, perde a qualidade de comerciante. Logo, enquanto for comerciante é
para ser, o empresário individual necessita de ter um estabelecimento.
III – O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
2. Elementos do estabelecimento comercial

a) Elementos corpóreos, nesta categoria integram-se as mercadorias que não bens


moveis destinados a ser vendidos compreendendo as matérias primas, os produtos
semiacabados e os produtos acabados.
Incluem-se também as maquinas e utensílios, ou seja, os veículos e instrumentos destinados a
serem utilizados nas tarefas próprias do estabelecimento.
Abrangem-se, ainda, outros bens móveis, a saber: os que constituem a mobília das instalações
e um bem fungível e indispensável por excelência: o dinheiro em caixa

b) Elementos incorpóreos, aqui deveremos considerar os direitos resultantes do


contrato ou outras fontes, que dizem respeito à vida do estabelecimento. São nomeadamente
os seguintes: - dos direitos reais de gozo (por ex. o usufruto de um imóvel, etc) dos créditos
resultantes de vendas, empréstimos, locações, etc; os direitos dos direitos de propriedade
industrial (patentes, modelos e desenhos, marcas, logótipos, etc).
Dos direitos emergentes dos contratos de trabalho (artº 285º do C.T.) e de prestação de
serviços com os colaboradores do comerciantes no estabelecimento.
III – O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
2. Elementos do estabelecimento comercial

c) O que é a clientela? Não é suficiente referi-la como conjunto de clientes do


estabelecimento. A clientela é simultaneamente uma certeza e uma virtualidade: hà uma
clientela certa que resulta de relações contratuais com alguma estabilidade (por ex. de
contratos de fornecimento ou prestação de serviços a clientes durante certos prazos ou por
tempo indeterminado), ou quando a própria natureza da atividade assegura que os clientes
renovarão as suas encomendas;
e hà uma clientela virtual correspondente às espectativas ou possibilidades de que novos
clientes se dirijam à empresa.
A clientela é um elemento da empresa e, por isso, enquanto tal, ela goza de proteção inerente
à tutela da própria empresa:
1. O regime da concorrência desleal (artº 317º e 318º do C.P.I.), genericamente votado à
organização da empresa tem a sua tónica mais relevantes na proteção da integridade da
clientela com a atos que visa em desvia-la em termos incompatíveis com a ética comercial
2. Além disso entende-se que o alienantes ou locador de um estabelecimento fica obrigadão
a não exercer uma atividade idêntica que, merecendo a sua localização e outras condições
do seu exercício, o levem a manter a clientela do estabelecimento alienado.
III – O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
2. Elementos do estabelecimento comercial

d) Elementos de facto o aviamento


O aviamento consiste na capacidade lucrativa da empresa, mas também de certas
situações de facto que lhe potenciam a lucratividade, como são as relações com os
fornecedores de mercadorias e de crédito (os bancos e demais instituições de
crédito), as relações com os clientes, a eficiência da organização, a reputação
comercial, a posição mais ou menos forte no mercado, etc.
O aviamento Não é em geral considerado propriamente como um elemento, mas sim
como uma qualidade do estabelecimento, à imagem do que acontece com a
fertilidade de um terreno .
Não se confunda pois o aviamento com a clientela, já que esta é um elemento do
estabelecimento e pode quanto muito ser utilizada pragmaticamente como índice
significativo do aviamento
III – O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
3. O trespasse do estabelecimento
Trespasse é todo e qualquer negocio jurídico pelo qual seja transmitido definitivamente e
intervivos um estabelecimento comercial, como uma unidade jurídica. O alienante diz-se
trespassante, e o adquirente denomina-se trespassário.
Esta definição decorre de um um conjunto variado de modalidades, cada uma das quais deverá
ter regulamentação especifica, para além de aspetos comuns sem duvida significativos. Cabem
assim no âmbito do trespasse de um estabelecimento: a compra e venda, a venda judicial, a
troca, a doação, a realização da entrada numa sociedade etc.
Ficam porém excluídos do âmbito do trepasse os casos de transmissão mortis causa.
Mas o que é essencial para que haja trespasse, é que o estabelecimento seja alienado com um
todo unitário, abrangendo a globalidade dos elementos que o integram ( art.º 1112 nº 2 a)
C.Civil).
A b) nº 2 do art.º 1112 C.Civil, traduz um corolário logico da ideia, subjacente a todo o preceito,
de que o trespasse implica a transmissão de um direito unitário sob o estabelecimento:
porque este é alienado como um todo é que o legislador afasta a caraterização do trespasse se
o adquirente passa a explorar o mesmo local um outro ramo de comercio ou industria. Na
verdade um dos fatores de caraterização de cada estabelecimento, como empresa, é
precisamente o ramo de atividade que nele é explorado.
III – O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
3. O trespasse do estabelecimento
A regulamentação legal do trespasse é suficiente para o considerarmos assumido no nosso
direito como um negócio típico ou nominado (dentro da pluralidade de modalidades que pode
recobrir), ainda que tal regulamentação apenas diga respeito a aspetos parcelares do instituto.
Trata-se de um ato de comercio objetivo, estando regulado em lei civil avulsa e em termos que
se destinam a satisfazer necessidades especificas das atividades e empresas comerciais.
O primeiro aspeto do regime do trespasse focado na lei é o da forma, já que deve ser celebrado
por escrito (que pode revestir a forma de documento particular) (art.º 1112 nº3 C. Civil).
O trespasse faz nascer para o trespassante, independentemente de estipulação, obrigação de
não concorrência ao trespassário, isto é, de não exercer uma atividade análoga, que em
condições local, tempo e outras, constituam uma forma eficaz de retomar a clientela do
estabelecimento alienado.
A violação deste dever constituirá concorrência ilícita, cuja sanção consistirá na indeminização
dos danos causados, bem como na aplicação de uma sanção pecuniária compulsória ao
violador, enquanto persista na conduta elícita, isto é, na exploração concorrencial nos termos
previstos no art.º 829-A do C. Civil
III – O ESTABELECIMENTO
COMERCIAL
4. Cessão da exploração ou locação de estabelecimento
A usualmente denominada cessão de exploração ou concessão da exploração do
estabelecimento comercial não é se não um contrato de locação do estabelecimento
como unidade jurídica, isto é, um negocio jurídico pelo qual o titular do estabelecimento
proporciona a outrem temporariamente e mediante retribuição, o gozo e fruição do
estabelecimento, ou seja, a sua exploração mercantil. O cedente ou locador demite-se
temporariamente do exercício da atividade comercial, e quem o assume é o cessionário
ou locatário.
A cessão de exploração esta atualmente à semelhança do trespasse sujeita a exigência de
forma, devendo sob pena de nulidade, se a celebrada por escrito, por força da redação
dada ao art.º1109 C.Civil pela lei nº 6/2006 de 27/02.
No entanto para que a eficácia produza efeitos para com o senhorio da cedência
temporária da posição de arrendatário inerente à cessão de exploração dependerá
sempre de esta lhe ter sido tempestivamente comunicada, no prazo previsto no art-º1038
nº1 g), do C. Civil
IV – O COMERCIANTE
1. Categorias de comerciantes

Comerciantes em nome individual – pessoas singulares


Categorias de comerciantes
art.º 13 do C.COM Sociedades comerciais – Pessoas coletivas

No domínio do Direito Comercial, deve prevalecer, em geral, a noção de comerciante que


resulta do art.º 13 do C.COM: comerciante é quem enquadrando-se numa das duas
categorias do art. º13, seja titular de uma empresa que exerça uma das catividades
comerciais, tais como as qualificam o art.º230 do C.COM e as demais disposições avulsas
que caraterizam e englobam no Direito Comercial certas atividades económicas
IV – O COMERCIANTE
2. Âmbito do art.º 13, nº1 do COM

3. Incompatibilidades e impedimentos ao exercício do comércio


A lei define certas incompatibilidades e impedimentos, proibindo o exercício do comércio às
pessoas que exerçam certas funções ou detenham posições que poderiam ser prejudicadas por
esse exercício por motivos éticos ou de politica legislativa.
Os impedimentos ou incompatibilidades podem dividir-se me 2 grandes grupos: de uma lado,
os decorrentes disposições de direito público, por exemplo as que inibem do comércios os
juízes, os magistrados do Ministério Público, os titulares de cargos políticos e de altos cargos
públicos e os titulares de cargos de livre designação especial confiança e elevada
responsabilidade.
De outro lado o estabelecido por disposições de Direito Comercial – logo de Direito Privado,
como são os casos seguintes:
a) Artº 180 e 474;
b) Artº 254 do CSC;
c) Artº297 nº 2 e 3 do CSC;
d) Artº278 Nº1 c) do CSC
IV – O COMERCIANTE
4. Categorias de empresários não comerciantes
a) Agricultores
b) Artesãos
c) Profissionais liberais

5. Comerciantes em nome individual


5.1.
Requisitos de acesso à 1. Ter capacidade comercial (= a capacidade de exercício de
qualidade de comerciantes direitos (artº7 do CCOM))
Habitualidade
em nome individual 2. Fazer do comércio profissão
Artº13 nº1 do CCOM Intuito lucrativo
3. Exercício do comércio em nome próprio
IV – O COMERCIANTE
5. Comerciantes em nome individual
5.2.
a) Comerciantes em nome individual sem património autónomo e
Responsabilidade dos separado (comerciante tradicional)
comerciantes - Responsabilidade ilimitada
em nome individual
b) Comerciantes em nome individual com património autónomo e
separado que tenham constituído um EIRL
- Responsabilidade limitada
V – OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS
COMERCIANTES
1. Firma. Noção
Há duas conceções diversas da firma:
Para o conceito objetivo (predominante nos direitos em inglês e americano, e em certa medida
no italiano e alemão), a firma é um sinal distintivo do estabelecimento comercial. Daí
decorrem, como corolários, a possibilidade de tal designação ser composta livremente e ser
transmitida com o estabelecimento, independentemente de acordo expresso.
Para o conceito subjetivo, a firma é um sinal distintivo do comerciante, o nome que ele usa no
exercício da sua empresa: é o nome comercial do comerciante. Daí que, em relação ao
comerciante individual, nesta conceção, a firma deve ser formada a partir do seu nome civil e,
em principio, intransmissível. Todavia, na generalidade dos sistemas jurídicos que adotam este
conceito, permite-se, por motivos pragmáticos – conservação da clientela pelo adquirente do
estabelecimento – que, em certas condições, a firma seja também transmitida.

- Firma – Nome
2. Tipos de firma - Firma – Denominação
- Firma – Mista
V – OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS
COMERCIANTES
a) Obrigatoriedade
3. Princípios conformadores b) Unicidade
c) Verdade ou sinceridade
do regime da firma d) Novidade
e) Exclusivismo

4. Composição das firmas


4.1. Firma do comerciante em nome individual
A) Comerciante em nome individual sem património autónomo e separado.
Exemplo: José Maria Torres;
J. M. Torres;
José Maria Torres “O Mocho”;
José Maria Torres – Artigos elétricos;
João Nunes da Silva – Mercador de fazendas;
B) Comerciantes em nome individual com património autónomo e separado que tenham constituído um EIRL
Exemplo: Mário João, EIRL;
Mário João transporte de mercadoria, EIRL;
António Alves, Relojoeiro, EIRL;
José da Silva Sousa, EIRL
V – OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS
COMERCIANTES
4.2. Firma das sociedades comerciais
A) Sociedades em nome coletivo artº 177 do CSC
Exemplo:Alves, Bento & Cª
B) Sociedades por quotas artº 200 do CSC
Exemplo: A encadernadora, LDA
C) Sociedades unipessoais por quotas artº 270 b do CSC
Exemplo: António Alves, reparação de automóveis., Unipessoal LDA
D) Sociedades anónimas artº 275 do CSC
Exemplo: Brito & Costa, SA
E) Sociedades em comandita artº 467 do CSC
Exemplo: Pinto, Simões & Comandita
V – OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS
COMERCIANTES
5. A escrituração mercantil
A escrituração mercantil é o registo dos factos que podem influir nas operações e na situação
patrimonial dos comerciantes. A sua obrigatoriedade decorre de:
a) Os comerciantes necessitarem de conhecer os seus direitos e obrigações e a sua situação
patrimonial (“as suas operações comerciais e fortuna”, segundo rezava a redação original
do artº29 C.COM);
b) Ser um importante meio de prova dos factos registados, nos litígios entre os comerciantes
(artº44 C.COM);
c) Ser um meio de verificação da regularidade da conduta do comerciante, v.g. no caso de
insolvência e em todos os casos em que isso estiver em causa;
d) Servir de base à liquidação de impostos e à fiscalização das normas tributárias.

Não deve confundir-se a escrituração do comerciante com a sua contabilidade: esta é apenas a
compilação, registo analise e apresentação de valores pecuniários das operações comerciais. É,
pois, uma parte muito importante da escrituração, mas esta abrange, além dela outros registos
e arquivos: atas, contratos correspondência e demais documentação do comerciante.
V – OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS
COMERCIANTES
6. Balanço
O balanço constitui a síntese da situação patrimonial do comerciante em determinado
momento, através da indicação abreviada dos elementos do ativo, do passivo e da situação
liquida e respetivos valores. A lei impõe a realização de um balanço anual, referido ao último
dia de cada exercício anual, que deve ser elaborado no primeiro trimestre do exercício
imediato (artº 62 C.COM e artº65 nº1 C.S.C.).
O conteúdo do balanço e das demais demostrações financeiras é atualmente regulado pelo
sistema de normalização contabilística (SNC), aprovado pelo decreto de lei nº158/2009 de
13/07 republicado pelo decreto de lei 98/2015, de 2/06.
O decreto de lei nº76-A de 29/03 alterou a epígrafe do título VI do livro I do C.COM para “do
balanço” e revogou o artº63 do mesmo código. Deste modo, foi eliminada a referência neste
título ao dever de prestar contas, o que não significa que este tenha sido suprimido. Na
verdade, ele assume especial relevância nas sociedades, nas quais se concretiza através da
verificação anual da situação da sociedade (artºs 65º a 70º, 263º e 451º a 455º do C.S.C).
Pelo decreto de lei nº8/2007, de 17 de Janeiro, que criou a Informação Empresarial
Simplificada (IES), passou a poder realizar-se a prestação de contas por via eletrónica
conjuntamente com o cumprimento de outras obrigações fiscais e estatísticas
V – OBRIGAÇÕES ESPECIAIS DOS
COMERCIANTES
7. Registo Comercial
A sua finalidade consiste em “dar publicidade à situação jurídica dos comerciantes individuais,
das sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma comercial e dos estabelecimentos
individuais de responsabilidade limitada, tendo em vista a segurança do comércio jurídico (art.
1.º, nº 1, do CRC). E a lei sujeita ao registo comercial factos relativos a outras entidades, tais
como as cooperativas, as empresas públicas, os agrupamentos complementares de empresas e
os agrupamentos europeus de interesse económico (art.1º, nº 2, do CRC). Assim, o registo
comercial não é privativo dos comerciantes, antes abrange outras pessoas singulares ou
coletivas cujos escopos ou atividades têm geralmente caracter económico, variando, todavia,
para cada espécie, os actos sujeitos ao registo.
O registo comercial é efetuado por:
a) Transcrição, que consiste na extratação dos elementos que definem a situação das
entidades sujeitas a registo constantes dos documentos apresentados (art.53º-A, nº2, do
CRC) e compreende a matricula das entidades sujeitas a registo, e as inscrições,
averbamentos e anotações dos factos a elas respeitantes (art.55º, nº1, do CRC);
b) Depósito, que consiste no arquivamento dos documentos que titulam factos sujeitos a
registo (art. 53º-A, nº 3 e 4, do CRC).
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS
1. Noções Fundamentais
Em fase do art.º 980º do CC deparam-se nos quatro elementos do conceito geral de
sociedades:
1. Elemento Pessoal: Pluralidade de sócios;
2. Elemento Patrimonial: obrigação de contribuir com bens ou serviços;
3. Elemento Finalístico: exercício em comum de uma atividade económica que não seja de
mera fruição;
4. Elemento Teleológico: repartição dos lucros resultantes dessa atividade.

O art.º 1º, nº2 do CSC aponta-nos os dois elementos específicos do conceito de sociedade
comercial:
a. Objeto comercial: pratica de atos de comercio
b. Tipo ou forma comercial: adoção de um dos tipos regulados e configurados no CSC.
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS
2. As sociedades unipessoais por quotas (artºs 270º a 270º-G)

3. Conceito de sociedade comercial: objeto comercial

4. Conceito de sociedade comercial: forma comercial


VI – SOCIEDADES COMERCIAIS

anónimas
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS

por cotas 199º


anónimas 272º
em comandita 466º
VI – SOCIEDADES COMERCIAIS
7. A transformação das sociedades, artº 130º

8. A fusão das sociedades, artº 97º a 100º

9. A cisão das sociedades, artº 118º

10. Dissolução e liquidação das sociedades, artº 141º e 146º


a. Causas imediatas
b. Causas de dissolução administrativa
VII – A INSOLVÊNCIA
1. O critério geral: impossibilidade de cumprir as obrigações vencidas

2. A manifesta superioridade do passivo em relação ao ativo

3. A insolvência iminente

4. A noção de empresa no CIRE – Em conformidade com o artº 5º do CIRE “para efeitos deste
código, considera-se a empresa toda a organização de capital e trabalho destinada ao
exercício de qualquer atividade económica”
VIII – TÍTULOS DE CRÉDITO
MERCANTIS
1. Noções fundamentais
Título de crédito, é, como o nome indica, o documento representativo de um crédito que uma
pessoa (o credor) tem sobre outra (o devedor): e pode transmitir-se facilmente, passando a
qualidade de credor de uma para outra pessoa, em muitos casos pela mera transferência do
documento e, noutros, com mais o preenchimento de formalidades simples.

Classificação dos títulos de crédito a. Nominativos, ex: ações e obrigações (quando


nominativas)
consoante a forma de transmissão b. À ordem , ex: letras, livranças e cheques
(quando não forem ao portador)
c. Ao portador, ex: cheque ao portador e nota de
banco

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