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DIREITO

COMERCIAL
I. INTRODUÇÃO Comercial

1 Noção de V. AS
SOCIEDADES
Direito Comercial COMERCIAIS
2. Evolução
histórica 1. Noção de
3. A autonomia sociedade
do Direito 2. Caracterização
Comercial geral dos tipos
4. Fontes do legais
Direito societários
Comercial 3.Atos de
5. Interpretação e constituição das
Integração da sociedades
Lei comerciais

II. ATOS VI. OS


JURÍDICO- CONTRATOS DE
COMERCIAIS DISTRIBUIÇÃO
COMERCIAL
1. Noção de ato de
1. Contrato de
comércio
Agência
2. Classificações de
2. Contrato de
atos de comércio
Franquia
3. Regime Jurídico
3. Contrato de
Especial dos Atos
Concessão
e
Comercial
Obrigações
Comerciais
III. como
COMERCIANT comerciantes
ES 3. Sujeitos
1. Sujeitos legalmente
qualificáveis inibidos da
como profissão de
comerciantes comércio 4.
2. Sujeitos Estatuto dos
não comerciantes
qualificáveis VII. ALGUNS
TÍTULOS DE
CRÉDITO 2. Os principais
MERCANTIS títulos de
1. Conceito, crédito
função e 2.1 A letra de
característica câmbio
s 2.2 A livrança
2.3 O cheque
IV. OS BENS
JURÍDICO-
COMERCIAIS:
ESTABELECIMENT
O COMERCIAL

1. Noção, elementos e natureza jurídica


2. Negócios Jurídicos sobre o
Estabelecimento Comercial
2.1 Trespasse
2.2 Cessão de exploração

I. INTRODUÇÃO

1. Noção de Direito Comercial

Não existe uma noção satisfatória de


Direito Comercial. À primeira vista, o Direito
Comercial seria o direito que regula as relações
de comércio. Todavia, a palavra “comércio”
pode ser tomada, pelo menos, em dois sentidos
distintos: económico ou jurídico. Assim, o
Direito Comercial pode ser o conjunto de
normas que regula o comércio em sentido
económico ou o comércio em sentido jurídico,
mas nenhuma das duas aceções está correta.
Comércio em sentido económico: conjunto de
atividades económicas pertencentes ao setor
terciário da economia, relativo à circulação de
bens, à intermediação entre a produção e o
consumo.

• O Direito Comercial não regula apenas o


comércio em sentido económico. Por
exemplo, muitas atividades
pertencentes aos mais variados setores
são hoje abrangidos pelo Direito
Comercial (indústrias transformadoras,
pesca…).
• O Direito Comercial não regula sequer
todas as atividades económicas: a
agricultura e o artesanato estão
excluídos dos domínios do comércio.

Comércio em sentido jurídico: conjunto


de atividades económicas a que num país e num
determinado momento se aplicam as leis
comerciais; por outras palavras todas as
atividades que o próprio Direito Comercial
qualificar como tal… pertencem ao Direito
Comercial. Esta aceção não é correta: cria um
conceito de Direito Comercial puramente formal
(cai num círculo vicioso) … enfim… ambos os
sentidos são insuficientes:

• Não existe uma noção satisfatória de


Direito Comercial;
• Por isso em alguns países aparecem
diferentes designações (em França,
temos o “Droit des Affaires”;
• A noção será construída ao longo da
unidade curricular.
De forma simplista, o Direito Comercial
é o conjunto de normas jurídicas que regula os
atos e as atividades jurídico-mercantis.
Estamos perante um ramo de direito privado:
regula as relações entre os particulares, bem
como as relações entre os particulares e

entidades públicas, que atuam como


particulares (critério da posição dos sujeitos).
Dentro do Direito Privado, e em face do Direito
Civil (direito privado comum aplicável a todas as
pessoas e relações entre particulares), o Direito
Comercial é um ramo de direito privado
especial: com regras diferentes das do direito
comum, aplicáveis apenas a determinados
sujeitos, objetos ou relações.

Concluindo, o Direito Comercial abrange:

• comércio propriamente dito;


• outras atividades (indústrias

transformadoras, transportes, seguros,

hotelaria, pesca).

Existem inúmeros “sub-ramos” do Direito


Comercial com relevante autonomia, entre
outros:

• Direito Marítimo; - Direito dos Seguros;


 Direito dos Transportes; - Direito da
Concorrência
• Direito Bancário; - Direito dos Valores
Mobiliários.

2. Evolução Histórica

O Direito Comercial, enquanto conjunto


de normas jurídicas autónomas para regular a
atividade mercantil, é um ramo de formação
medieval (séc. XII) e cresceu nos séculos
seguintes em cidades italianas. Assim, na Idade
Média assistiu-se ao nascimento do Direito
Comercial como ramo autónomo, independente
do Direito Civil.

Principal razão: explosão do comércio.

Surgiram as corporações profissionais


de mercadores (associações de comerciantes
que se organizaram para defender os seus
interesses e que aos poucos foram começando a
reger-se por normas próprias). Desta forma, o
Direito Comercial italiano medieval era um
“direito de classe” criado pelos mercadores para
regular a sua atividade profissional.

O Direito Comercial primitivo apresentava-se


como:

• Um direito
da classe dos
mercadores/co
merciantes;
• Autónomo
face ao direito
civil;  De
origem
consuetudinária
;  De vocação
internacional.
Com a Idade Moderna (Séc. XVI, XVII e XVIII):

O Direito Comercial deixou de ser o


direito privativo de uma classe – a dos
comerciantes (conceção subjetiva) para passar a
ser um direito geral dos atos de comércios,
fossem praticados por comerciantes ou por
simples particulares (conceção objetiva). Vale a
natureza dos atos em si!

O Direito Comercial atual tem, entre outras, as


seguintes características fundamentais:

• Progressiva intervenção dos poderes


públicos na atividade económica;
• Generalização dos institutos jurídico-
mercantis (por exemplo, as letras de
câmbio são de uso corrente entre
comerciantes e particulares; as
sociedades civis podem adotar a forma
de sociedades comerciais);
• Retorno do Direito Comercial à sua
natureza profissional… como um direito
das empresas;
• Declínio da ideia da codificação do
Direito Comercial.

Em Portugal:

• Na Idade Média não se formou um ramo


jurídico autónomo regulador das
relações comerciais, uma vez que foram
poucas e pouco significativas as regras
jurídicas especialmente destinadas ao
comércio.
• Nem na Idade Moderna, “o
desenvolvimento do comércio externo
provocado pelas descobertas marítimas
e ultramarinas não foi acompanhado
por significativo movimento legislativo-
comercial”.

O início da etapa contemporânea na evolução


do Direito Comercial, no séc.XIX, foi marcado
pela aprovação dos seguintes códigos:

• Código Comercial de 1833 (redigido por


Ferreira Borges);
• Código Comercial de 1888: iniciativa de
Veiga Beirão, que hoje ainda se mantém
em vigor.

O Direito Comercial teve notáveis


desenvolvimentos no séc. XX: tendência para a
sua internacionalização e uniformização
(diversas convenções de âmbito universal
unificam os regimes jurídico-mercantis, em
variados setores).

3. Autonomia do Direito Comercial

Quais as razões para que o Direito Civil se


tornasse insuficiente para regular de modo
eficaz os atos da vida comercial? Por outras
palavras, porquê a necessidade da autonomia
do Direito Comercial?

A função específica do comércio é a de


intermediário nas trocas:

• O comerciante não adquire as


mercadorias para si, mas para as colocar
onde se manifeste a sua necessidade,
daí que seja indispensável a maior
rapidez na conclusão dos negócios;
• O comerciante não adquire as
mercadorias para si, mas para terceiros;
compra para revenda, daí que seja
indispensável a facilidade de crédito.

O Direito Civil não satisfazia estes dois


requisitos. Assim, o Direito Comercial mereceu
autonomia, tendo em conta as características
seguintes: I. Simplicidade:

A necessidade de celeridade das


transações comerciais implica uma simplicidade
de formas. (comparar o art.º 1143.º CC com o
art.º 396.º C.Com.)

Art.º 1143.º CC: Sem prejuízo do


disposto em lei especial, o contrato de mútuo
de valor superior a € 25 000 só é válido se for
celebrado por escritura pública ou por
documento particular autenticado e o de valor
superior a € 2500 se o for por documento
assinado pelo mutuário.

Art.º 396.º C. Com: O empréstimo


mercantil entre comerciantes admite, seja qual
for o seu valor, todo o género de prova.

II. Defesa e facilidade do crédito:

O recurso ao crédito constitui um


elemento fundamental da vida comercial, uma
vez que permite realizar o movimento contínuo
de bens e serviços.O Direito Comercial tem a
função de proteger o crédito através dos títulos
de crédito, bem como das operações bancárias
em geral.

III. Universalidade e uniformidade

A função primacial do comércio é a


mesma em todo o mundo, assim sendo, o
Direito Comercial tem uma vocação
universalista. Muitos setores do Direito
Comercial são regulados por convenções
internacionais (matérias de direito bancário,
propriedade industrial, títulos de crédito,
transportes, etc). Por isso, se encontram muitas
semelhanças nas leis de vários países –
uniformidade.

4. Fontes do Direito Comercial

Fontes Internacionais (ou Externas):

A) Convenções Internacionais de que o


Estado Português é signatário em
matérias de Direito Comercial.

De acordo com o art.º 8.º n.º 2 CRP: “As


normas constantes de convenções
regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram
na ordem interna após a sua publicação oficial e
enquanto vincularem internacionalmente o
Estado Português”. Exemplo: A Lei Uniforme
relativa às Letras e Livranças (LULL) foi
estabelecida pela Convenção Internacional
assinada em Genebra em 7 de Junho de 1930,
aprovada em Portugal pelo Decreto-Lei n.º 23
721, de 29 de Março de 1934.

B) Costume Internacional

Nesta fonte estão em causa sobretudo


as normas elaboradas pelas Associações
Internacionais de Comércio, se bem que se trata
de direito dispositivo, para o qual as partes
podem remeter as suas relações. Ex: Código de
Conduta.

C) Doutrina e Jurisprudência Internacional

D) Regulamentos e Diretivas (União


Europeia)

Regulamentos: diretamente aplicáveis


no ordenamento jurídico.

Diretivas: exigem a sua transposição


para a ordem jurídica, dando ao legislador
português uma certa liberdade quantos aos
meios e formas dessa transposição.

Note-se que a maioria da produção legislativa


europeia versa sobre as relações económicas.

Fontes Internas:

A) Lei
B) Costume
C) Doutrina
D) Jurisprudência

A doutrina tem muito impacto quer nos


tribunais, quer na construção do Direito
Comercial.

Lei:

I. Lei Constitucional:
• Art.º 61.º (iniciativa económica privada)
• Art.º 81.º f) (incumbência do Estado:
assegurar o funcionamento eficiente
dos mercados, de modo a garantir a
equilibrada concorrência entre as
empresas, a contrariar as formas de
organização monopolistas e a reprimir
os abusos de posição dominante e
outras práticas lesivas do interesse
geral)
• Art.º 82.º (setores de propriedade dos
meios de produção)
• Art.º 85.º (cooperativas)
• Art.º 86.º (empresas privadas)
• Art.º 99.º (objetivos da política
comercial)

• Art.º 100.º (objetivos da política


industrial)
II. Lei Ordinária (enumeração exemplificativa):

Código Comercial:

• de 1888, designado com frequência por


Código de Veiga Beirão;
• grande parte das suas disposições estão
alteradas ou revogadas;
• Está dividido em livros, cada um dos
livros está dividido em capítulos, estes
em secções (não há subsecções); as
secções em artigos. É frequente
encontrarmos o seguinte símbolo: §
(significa parágrafo).

5. Interpretação e Integração da Lei Comercial

As regras de interpretação da lei


comercial são as mesmas aplicáveis à
interpretação das leis em geral – cf. art.º 9.º CC
e art.º 3.º CCom. No que respeita à integração
do Direito Comercial: cf. art.º 3.º CCom. Este
artigo manda em 1.º lugar interpretar a lei; se
não for possível, recorre-se a casos análogos da
lei comercial; só depois os casos omissos serão
colmatados pelo direito civil – cf. art.º 10.º C.C.
A maioria da doutrina considera que se deverá
observar a ordem referida, não obstante existe
uma doutrina minoritária que considera que
estas vias de integração estão em pé de
igualdade.

Concluindo, o Direito Civil é subsidiário


do Direito Comercial, preenchendo-lhe as
lacunas, o que se entende tendo em conta que
o Direito Comercial “nasceu” do Direito Civil.

II. ATOS JURÍDICO-COMERCIAIS

1. Noção de ato de comércio


Art.º 1.º C.Com (Objeto da lei
comercial). A lei comercial rege os atos de
comércio sejam ou não comerciantes as
pessoas que neles intervém. Com esta regra
evita-se, assim, que duas leis diferentes
regulem situações idênticas.
Art.º 2.º C.Com: a nossa lei não
define o que é um ato de comércio (de facto
não existe um conceito universal e unitário
de AC), apenas enumera taxativamente os
atos de comércio. A redação deste artigo é
bastante confusa, tornando-o complexo.
Possui duas partes perfeitamente distintas,
a que correspondem dois critérios básicos
para a qualificação de um AC.
Serão considerados atos de
comércio todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código, e,
além deles, todos os contratos e obrigações
dos comerciantes, que não forem de
natureza exclusivamente civil, se o
contrário do próprio ato não resultar.
são1ª parte: atos de comércio todos
aqueles que se acharem especialmente
regulados neste código (atos de comércio
objetivos).
Exemplos: António passa um cheque
a favor de Bernardo; António embora não
seja comerciante está a praticar um AC – o
cheque está regulado na LUC – que é
legislação comercial; compra para revenda
efetuada ocasionalmente por um particular
é um AC porque está regulado no Código
Comercial - cf. artigo 463.º C.Com).
Quais são os atos especialmente regulados
no C.Com?
1. atos exclusivamente regulados no C.Com
Ex: conta-corrente (art.º 344.º C.Com);
transporte (art.º 366.º C.Com); reporte
(art.º 477.º C.Com)…
2. atos simultaneamente regulados no
C.Com e no CC
Ex: fiança (art.º 101.º C.Com); mandato
(art.º 231.º C.Com); empréstimo (art.º 394.º
C.Com); penhor (art.º 397.º C.Com);
depósito (art.º 403.º C.Com)…
3. atos regulados em toda a legislação
comercial e não apenas no C.Com (a
redação do artigo é de 1888, como
sabemos)… Ex: letras, livranças e cheques
(LULL e LUC); locação financeira (DL n.º
149/95, de 24 de junho); contrato de
consórcio (DL n.º 231/81, de 28 de julho);
contrato de agência (DL n.º 178/86, de 3
de julho), inter alia.
são2ª parte: atos de comércio todos os
atos praticados pelos comerciantes
(atos de comércio subjetivos)…
A lei parte do princípio de que a
profissão de comerciante é uma profissão
absorvente. Esta presunção é iuris tantum –
os atos praticados por um comerciante
serão considerados AC se o contrário não
for provado.
Duas circunstâncias que podem conduzir à
ilação desta presunção:

• atos que têm natureza


exclusivamente civil: por exemplo, o
casamento, o divórcio, a adoção, a
perfilhação, testamento…
• ou atos que embora pudessem ser
comerciais, nada têm a ver com o
exercício do comércio: por exemplo,
se um comerciante pede um
empréstimo para fazer uma viagem
de lazer, esse empréstimo não será
considerado comercial, mas civil,
pois nada tem a ver com o exercício
do comércio.
Os Atos Comerciais estão sujeitos a
um regime jurídico especial: em matéria de
forma (arts. 96.º e 97.º C.Com);
solidariedade passiva (art.º 100.º C.Com);
juros legais (art.º 102.º C.Com); prescrição
das obrigações comerciais (art.º 309.º e
317.º b) CC); responsabilidade dos bens do
casal pelas dívidas contraídas pelo cônjuge
comerciante (art.º 15.º C.Com e 1690.º e ss
CC).
A qualificação de um ato como AC é ainda
importante:

• para efeitos da atribuição da


natureza comercial a certos
contratos de direito civil (ex: o
depósito será comercial quando a
coisa depositada se destinar ao
comércio);
• para a atribuição da qualidade de
comerciante: aquilo que atribui a um
sujeito a qualidade comerciante é a
prática habitual, sistemática e
reiterada de AC – art.º 13.º C.Com.
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1. atos cuja relevância jurídico-


comercial deriva do seu próprio
conteúdo, independentemente da
pessoa que os pratica.
Ex: compra para revenda, efetuada
ocasionalmente por um particular é um AC,
uma vez que está especialmente regulado
no art.º 463.º C.Com.
2. atos cuja relevância jurídico-
comercial deriva da própria pessoa
que os pratica – comerciante,
independentemente do conteúdo do
ato.
Ex: Todos os atos patrimoniais praticados
por um comerciante presumem-se AC.
Esta classificação entre AC objetivos
e AC subjetivos tem um valor
fundamentalmente teórico. Isto porque:

• existem AC objetivos cuja relevância


jurídico-comercial depende ainda de
elementos subjetivos (ex: o contrato
de transporte só é comercial se o
condutor for comerciante – cf. art.º
366.º C.Com);
• A relevância jurídico-comercial dos
AC subjetivos depende ainda de
certas circunstâncias objetivas,
tendo interesse a natureza do
próprio ato em si – cf. art.º 2. C.Com.
I. AC ABSOLUTOS/II. AC RELATIVOS
I. AC Absolutos: atos cuja relevância
jurídico-comercial deriva da sua própria
natureza intrínseca; a “comercialidade”
radica no próprio ato, que por si só, tem
natureza comercial.
Ex: conta-corrente (art.º 344.º
C.Com), compra para revenda (art.º 463.º
C.Com), reporte (art.º 477.º C.Com).
II. AC Relativos: atos cuja relevância
jurídico-comercial não deriva da sua própria
natureza, deriva de uma relação de conexão
ou de acessoriedade que esse ato tem com
um AC absoluto, com uma atividade
mercantil ou com o comércio em geral.
Desta forma, são também designados por
AC acessórios ou AC por conexão.
Ex: a fiança, figura geral do direito
civil, só será mercantil quando a dívida
afiançada derivar de um AC; o empréstimo
só é comercial quando se destinar a um AC
(art.º 394.º C.Com).
I. AC FORMAIS/ II. AC MATERIAIS
I. AC Formais: atos cuja relevância
jurídico-comercial resulta da sua simples
realização, qualquer que seja o objeto ou o
fim subjacente a esse ato ou quaisquer que
sejam os sujeitos desse mesmo ato. Por
outras palavras, preenchido um mecanismo
formal, está-se perante um AC, ainda que a
operação nada tenha de mercantil e o seu
sujeito nada tenha a ver com o comércio.
Ex: subscrição de uma letra de câmbio…
passar um cheque.
II. AC Materiais: atos cuja relevância
jurídico-comercial reside na natureza
intrinsecamente material do objeto ou da
finalidade subjacente ao ato ou da
qualidade de comerciante dos seus autores.
Não é suficiente o preenchimento de uma
formalidade para ser um AC.
Relevância da distinção: constitui
entendimento dominante que só adquire a
qualidade de comerciante quem realizar
profissionalmente AC materiais. A prática
reiterada e sistemática de AC formais não
atribui a qualidade comerciante (ex:
António passou hoje 20 cheques, praticou
20 AC, mas não lhe pode ser atribuída a
qualidade de comerciante).
I. AC PUROS/ II. AC MISTOS
I. AC Puros (ou bilateralmente
comerciais): revestem uma natureza
comercial relativamente a qualquer um dos
sujeitos intervenientes nesse ato.
II. AC Mistos (ou unilateralmente
comerciais): reveste uma natureza
comercial relativamente apenas a um dos
sujeitos. Ex: um professor vai a um stand de
automóveis e compra um carro. Estamos
perante um AC misto: a venda do ponto de
vista do vendedor é um AC (art.º 463.º n.º 3
C.Com); do ponto de vista do professor, o
comprador, é um ato civil (art.º 464.º n.º 1
C.Com).
Os AC Puros estão sujeitos à lei
comercial. E quanto aos AC Mistos? Estarão
sujeitos ao regime da lei comercial, da lei
civil ou a ambos os regimes?
Solução do legislador português:
Art.º 99.º
Regime dos atos de comércio unilaterais
Embora o ato seja mercantil só com
relação a uma das partes será regulado
pelas disposições da lei comercial quanto a
todos os contratantes, salvo as que só
forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo
respeito o ato é mercantil, ficando, porém,
todos sujeitos à jurisdição comercial.
“salvo as que só forem aplicáveis
àquele ou àqueles por cujo respeito o ato é
mercantil”: por exemplo, normas que estão
especificamente associadas ao estatuto dos
comerciantes (art.º 18.º C.Com); regime
probatório especial (art.º 396.º C.Com);
regra da solidariedade passiva (art.º 100.º
C.Com); normas relativas a juros, etc…
Artigo 230.º C.Com:
Este artigo diz-nos quais são no
Direito Português as empresas que são
consideradas comerciais, o que significa que
todas as outras seriam civis. Só que este
elenco, elaborado no séc. XIX, é demasiado
restrito para os dias de hoje.
Nalguns casos bastará o recurso a
uma interpretação extensiva: empresas de
distribuição de água, luz, gás, telefone,
televisão por cabo, entre muitas outras,
podem considerar-se abrangidas pelo art.º
230.º n.º 2 C.Com.; empresas distribuidoras
de filmes, de software informático podem
considerar-se abrangidas pelo art.º 230.º n.º
5 C.Com; transportes aéreos – 230.º n.º 7
C.Com. Noutros casos há que recorrer à
analogia. As empresas de prestação de
serviços não se podem considerar
abrangidas por uma interpretação extensiva
do art.º 230.º n.º 2 C.Com, uma vez que
fornecem serviços e este artigo fala em
“géneros”. As empresas referidas no artigo
desenvolvem uma atividade económica que
envolve um certo risco, que existe
igualmente nas empresas de prestações de
serviços. Assim, serão de qualificar como
comerciais as agências de viagem, de
publicidade, funerárias, entre outras.
3. Regime Jurídico Especial dos Atos e
Obrigações Comerciais
Regime específico nos seguintes aspetos:
1)Forma
2)Solidariedade passiva
3)Prescrição
4)Juros
5)Responsabilidade dos bens do casal pelas
dividas contraídas pelo cônjuge
comerciante
1) Forma
O Direito Comercial promove a
celeridade das transações comerciais,
enquanto que o Direito Civil tem uma maior
exigência na forma dos contratos. (Cf. art.º
1143.º CC/art.º 396.º C. Com)
2) Solidariedade passiva
No caso de obrigações plurais (mais
do que um devedor), às obrigações
comerciais aplica-se o regime da
solidariedade – qualquer dos devedores
responde pela totalidade da dívida (regime
consagrado no artigo 100.º C.Com); às
obrigações civis aplica-se o regime da
conjunção – cada devedor responde apenas
pela parte que proporcionalmente lhe cabe
– artigo 513.º CC.
Nas obrigações comerciais, o
legislador protege o interesse dos credores
dos comerciantes (uma pessoa concede
mais facilmente crédito se souber que,
havendo mais do que um devedor, pode
exigir o crédito a qualquer um deles).
3) Prescrição
Varia consoante a contraparte do
comerciante seja um comerciante ou um
particular ou um comerciante que atuou
como particular.
Artigo 317 b) CC:
Prescrevem no prazo de dois anos:
b) Os créditos dos comerciantes pelos
objetos vendidos a quem não seja
comerciante ou os não destine ao seu
comércio, e bem assim os créditos daqueles
que exerçam profissionalmente uma
indústria, pelo fornecimento de
mercadorias ou produtos, execução de
trabalhos ou gestão de negócios alheios,
incluindo as despesas que hajam efetuado,
a menos que a prestação se destine ao
exercício industrial do devedor.
Por sua vez, os créditos dos
comerciantes a devedores comerciantes
prescrevem no prazo ordinário de
prescrição, consagrado no artigo 309.º CC:
20 anos. Objetivo: o credor comerciante
não tem “medo” de conceder crédito a um
comerciante, porque sabe que o poderá
exigir durante 20 anos.

4) JUROS
Os juros podem ser:
→ Juros legais ou convencionais: Juros
legais são os estabelecidos por lei; juros
convencionais resultam da estipulação das
partes.
→ Juros compensatórios: constituem uma
mera compensação pela fruição do
dinheiro.
→ Juros moratórios: visam indemnizar o
credor pelo prejuízo causado pelo devedor
pela mora deste no cumprimento da
obrigação.
Artigo 102.º C. Comercial
Os juros convencionais têm que ser
reduzidos a escrito, por uma questão de
segurança nas transações comerciais –
Artigo 102.º § 1.º CCom.
Aos juros comerciais aplica-se o que está
consagrado nos artigos 559.º-A e 1146.º CC
Artigo 102.º § 2.º CCom.
Se o credor for comerciante, temos que ter
em conta as taxas de juro consagradas
neste e estar com muita atenção aos avisos
da Direção-Geral do Tesouro e Finanças em
cada semestre.

Juros legais:
Artigo 102.º § 3, 4 e 5.º CCom
O DL n.º 62/2013, de 10 de maio,
que entrou em vigor no dia 1 de julho de
2013, aplica-se a todas as transações
comerciais, quer as estabelecidas entre
empresas, incluindo profissionais liberais,
quer entre empresas e entidades públicas,
apenas não se aplicando às transações com
os consumidores, aos juros relativos a
outros pagamentos (como os efetuados em
matéria de cheques e letras, ou a título de
indemnização por perdas e danos efetuados
ou não por seguradoras) e às operações de
crédito bancário.
De acordo com o Aviso nº
2553/2019, e em conformidade com o § 5º
do artigo 102º do Código Comercial, a taxa
supletiva de juros de mora relativamente a
créditos de que sejam titulares empresas
comerciais, singulares ou coletivas,
emergentes de transações comerciais
sujeitas ao Decreto-Lei 62/2013, de 10 de
maio, é de 8,00%.
Relativamente à taxa supletiva de
juros de mora relativamente a créditos de
que sejam titulares empresas comerciais,
singulares ou coletivas, não emergentes de
transações comerciais sujeitas ao Decreto-
Lei 62/2013, que foi fixada para o mesmo
período em 7,00%.
Se o credor for comerciante e se se
tratar de uma transação comercial: neste
semestre mantém-se a taxa de 8,00% (ver a
tabela de evolução da taxa de juros
comerciais);
Se o credor for comerciante e não
se se tratar de uma transação comercial
(por exemplo entre comerciante e um
consumidor): neste semestre mantém-se a
taxa de 7,00% (ver a tabela de evolução da
taxa de juros comerciais);
Se o credor não for comerciante
aplica-se a Portaria n.º 291/03, de 8 de abril,
que estabelece a taxa de juros civil em 4%.
(cf. artigo 1146.º CC).
5) RESPONSABILIDADE DOS BENS DO CASAL
PELAS DÍVIDAS CONTRAÍDAS PELO
CÔNJUGE COMERCIANTE
Art.1690º C.Com.
(Legitimidade para contrair dívidas)
1. Qualquer dos cônjuges tem
legitimidade para contrair dívidas sem o
consentimentodo outro.
2. Para a determinação da
responsabilidade dos cônjuges, as dívidas
por elescontraídas têm a data do facto que
lhes deu origem.
As questões a abordar não se põem
quanto às dívidas comerciais contraídas
pelos dois cônjuges em conjunto ou por um
deles com o consentimento do outro.
Nota sobre os regimes de bens de
casamento:

• a comunhão de adquiridos;
• a comunhão geral;
• a separação;
• o ou ainda outro que os nubentes
convencionem.
✓ Comunhão de adquiridos:
“O casamento será celebrado neste
regime de bens se os noivos não celebrarem
convenção antenupcial. Fazem parte da
comunhão o produto do trabalho dos
cônjuges e os bens adquiridos a título
oneroso na constância do matrimónio que
não sejam excetuados por lei. São
considerados bens próprios de cada um dos
cônjuges os bens que cada um deles tiver ao
tempo da celebração do casamento, os que
vierem a receber por título gratuito, doação
ou testamento, e os bens adquiridos na
constância do matrimónio por virtude de
direito anterior.” ✓ Comunhão geral de
bens:
Se estipularem este regime para o
casamento, por convenção antenupcial, os
bens que levarem para o casamento, a título
oneroso ou gratuito, ou que adquirirem
após o casamento, por compra, doação ou
testamento, são dos dois membros do casal.

✓ Separação de bens:
Neste regime de bens não há
comunhão de nenhum bem quer o tenham
adquirido a título oneroso ou gratuito antes
ou depois do casamento. Cada um conserva
o domínio de todos os seus bens quer
presentes quer futuros. A lei impõe o
regime imperativo da separação de bens
quando o casamento tenha sido celebrado
sem organização do processo preliminar de
casamento, ou, quando um, ou ambos os
noivos, tenham 60 anos de idade.
dividas comuns
1691º e 1695º CC dividas próprias
1691º e 1695º CC

DÍVIDAS COMUNS: ART.ºS 1691.º E 1695.º


CC
Dívidas que embora tenham sido
contraídas pelo cônjuge comerciante,
consideram-se da responsabilidade de
ambos os cônjuges. Este é o regime mais
favorável para o credor, uma vez que não
lhe “escapa” nenhum bem.
Art.º 1691.º n.º 1 d) CC: São da
responsabilidade de ambos os cônjuges “as
dívidas contraídas por qualquer dos
cônjuges no exercício do comércio, salvo se
se provar que não foram contraídas em
proveito comum do casal ou se vigorar
entre os cônjuges o regime de separação de
bens”. O objetivo principal desta alínea é o
da tutela do crédito, mas os interesses da
família não foram esquecidos, pois exige-se
que a dívida seja contraída em “proveito
comum do casal”.
Desta forma, para que a dívida seja
comum têm que se verificar 3 pressupostos:
a) que os cônjuges estejam casados num
regime de comunhão geral ou de
adquiridos;
b) que a dívida tenha sido contraída em
proveito comum do casal;
c) que a dívida tenha sido contraída pelo
cônjuge no exercício do comércio.
b) que a dívida tenha sido contraída em
proveito comum do casal
O conceito de proveito comum é
bastante amplo:
→ O proveito comum não se limita a
interesses económicos ou materiais,
abrange também interesses morais,
espirituais, intelectuais, estéticos, inter alia;
→ O proveito comum não se afere pelo
resultado efetivo (lucro ou prejuízo), mas
pelo fim com que a dívida foi contraída;
→ O proveito comum aproveita não só ao
casal, como abrange todo o agregado
familiar (ex: compra de de um carro para o
filho);
→ Não basta a separação de facto para
automaticamente afastar a ideia de
proveito comum, mas também não é
suficiente a probabilidade teórica de um
dos cônjuges vir a beneficiar com os
proveitos do outro, é necessário o benefício
em concreto.
Contraída pelo cônjuge no exercício
do comércio:
Art.º 15.º C.Com
Dívidas comerciais do cônjuge comerciante:
As dívidas comerciais do cônjuge
comerciante presumem-se contraídas no
exercício do seu comércio.
Este artigo protege os interesses do
credor. Ao credor basta provar que o
devedor é comerciante e que a dívida é
comercial (que resulta da prática de atos de
comércio objetivos ou subjetivos); não tem
que provar que a dívida foi contraída no
exercício do comércio. É mais fácil provar
que o ato é comercial do que provar que
esse ato foi praticado no exercício do
comércio. Senão vejamos:

• o A é comerciante de móveis, casado


com B. A compra um louceiro a C e
para o
pagar subscreve uma letra a favor de C.
Este apenas terá que provar que a
dívida é comercial, bastando-lhe
provar a existência da letra (não tem
que provar que o louceiro se
destinava à revenda).
• o A, dono de um stand de
automóveis, é casado com B. A
compra um automóvel para seu uso
pessoal a C. O AC é subjetivo. C tem
que provar o estatuto de
comerciante de A, logo que a dívida
é comercial.
É ao cônjuge do comerciante ou ao
comerciante que cabe ilidir a presunção do
artigo 15.º C.Com , provando que a dívida
do comerciante não foi contraída no
exercício do comércio, afastando a
aplicação do art.º 1691.º n.º 1 d) CC.
NB: Muitas vezes os factos alegados para
ilidir a presunção do art.º 15.º C.Com
servem para provar que a dívida foi
contraída em proveito comum do casal,
“caindo” a dívida na alínea b) ou c).

 MUITO IMPORTANTE:
A alínea d) do n.º 1 do art.º 1691.º CC
favorece o credor em termos probatórios
relativamente à alínea c):

• na alínea c) é o credor que tem que


provar que a dívida foi contraída em
proveito comum do casal (a fim de
provar que a dívida é comum);
• na alínea d) é ao cônjuge do
comerciante ou ao próprio
comerciante que caberá provar que
a dívida não foi contraída em
proveito comum (a fim de provar
que a dívida não é comum, mas sim
uma dívida própria).
Dívidas Comuns:
Artigo 1695.º + 1691º CC
(Bens que respondem pelas dívidas da
responsabilidade de ambos os cônjuges)
1. Pelas dívidas que são da responsabilidade
de ambos os cônjuges respondem os
benscomuns do casal, e, na falta ou
insuficiência deles, solidariamente, os
bens próprios de qualquer dos cônjuges.
2. No regime da separação de bens, a
responsabilidade dos cônjuges não é
Dívidas Próprias:
Artigo 1696.º + 1692º CC
(Bens que respondem pelas dívidas da
exclusiva responsabilidade de um dos
cônjuges) 1.Pelas dívidas da exclusiva
responsabilidade de um dos cônjuges
respondem os bens próprios do cônjuge
devedor e, subsidiariamente, a sua meação
nos bens comuns.

III. COMERCIANTES

1. Sujeitos qualificáveis como comerciantes


O art.13º CCom
estabelece duas categorias legais
de comerciantes: 1. pessoas
singulares: comerciantes em
nome individual;
2. pessoas coletivas: sociedades comerciais.
I. Comerciantes em nome individual
(também denominados de empresários
individuais)
Requisitos de que depende a
aquisição da qualidade de
comerciante:
a) Capacidade para praticar atos de
comércio – artigo 7.º CCom.
A capacidade a que se refere este
artigo é a capacidade de exercício de
direitos. Não se poderá concluir, por
exemplo, que um menor não pode ser
comerciante; uma vez que representado
pelos pais ou tutor e devidamente
autorizado pelo Ministério Público poderá
ser comerciante – art.1889º nº 1 c) CC.
Quem pratica os atos não são eles
diretamente.
b) Fazer do comércio profissão
Nem é necessário ser a única
atividade exercida, nem sequer ser a
atividade principal; e, inclusive, não é
necessário exercer a atividade o ano inteiro.
Não precisa de ser sempre.
c) Exercício do comércio em nome próprio
Por exemplo, um trabalhador de um
café, cujo proprietário é uma pessoa
singular (comerciante individual), pratica
atos de comércio em nome de outrem
(proprietário do café). – art.231º CCom. Os
comerciantes em nome individual têm uma
responsabilidade ilimitada: se os bens
afetos ao estabelecimento não forem
suficientes para satisfazer os créditos, os
credores do comerciante poderão atacar os
seus bens pessoais – cf. art.º 601.º CC
(princípio da unidade do património
comercial). Cfr. ainda os artigos 1691.º n.º 1
d) CC e 15.º C.Com. O Tribunal vai buscar
qualquer do bem, vai cair em desuso.
Em 1986, o legislador criou uma
figura: ESTABELECIMENTO INDIVIDUAL DE
RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRL). O
EIRL não pode ir ao património pessoal, mas
sim ao do Estabelecimento do Comércio.
O EIRL tem em si subjacente uma
velha aspiração ou reivindicação dos
comerciantes em nome individual:
• a limitação da sua responsabilidade.
Decreto-Lei n.º 248/86, de 26 de agosto.
Razões da criação desta figura:

• dada a natureza aleatória do


comércio, a atividade do
comerciante individual pode fazer
impender sobre todo o seu
património o risco de exploração
mercantil;
• a limitação da responsabilidade não
implica necessariamente um
prejuízo para os credores: é certo
que os credores só se podem fazer
pagar com o património mercantil
do comerciante, mas também os
bens que o comerciante afetou à
exploração do seu estabelecimento
só poderão ser atacados pelos seus
credores comerciais (e não outros).
Razão mais significativa:

• Como se negava a possibilidade de


limitação da responsabilidade do
comerciante em nome individual, na
prática existiam sociedades por
quotas em que verdadeiramente
apenas existia um sócio, já que o
outro ou outros subscreviam apenas
“quotas simbólicas”, a fim de aquele
ver a sua responsabilidade limitada.
No EIRL consagra-se uma autonomia
patrimonial perfeita: cf. Decreto-Lei n.º
248/86, de 26 de agosto:

• Art.º 10.º: os bens afetos ao EIRL


respondem apenas pelas dívidas
desse estabelecimento (e não pelas
dívidas pessoais);
• Art.º 11.º: pelas dívidas do
estabelecimento respondem, apenas
os bens afetos ao EIRL.
O EIRL é constituído com
autonomia patrimonial, mas
depois esta autonomiasofre
várias exceções – daí que o EIRL
não tivesse tido o sucesso que se
esperava.

• Exceções ao art.º 10.º: cfr. art.º 7.º e


art.º 11.º n.º 2 e n.º 3;
• Exceções ao art.º 11: cfr. art.º 22.º (o
próprio EIRL está sujeito às
vicissitudes da vida privada do seu
titular).
O Decreto-Lei n.º
257/96, de 31 de dezembro,
introduziu alterações
profundasno CSC, e consagrou a
possibilidade de constituição de
sociedades unipessoais por
quotas (SUQ). O legislador veio
constatar, pelo meio legislativo,
que a obtenção da limitação da
responsabilidade por parte do
comerciante em nome individual
é melhor conseguida através das
SUQ do que através do EIRL.
II. Sociedades Comerciais
Artigo 1.º n.º 2 CSC consagra os seguintes
tipos legais societários:
→ sociedades em nome coletivo;
→ sociedades por quotas e sociedades
unipessoais por quotas;
→ sociedades anónimas;
→ sociedades em comandita (simples e por
ações).
2. Sujeitos não qualificáveis como
comerciantes
Existem determinados sujeitos que a
lei exclui expressamente da qualidade de
comerciantes:
A) Agricultores
Não são qualificáveis como
comerciantes as pessoas singulares ou
coletivas que exerçam atividade agrícola.
Este conceito deverá ser entendido de
modo amplo e abranger a silvicultura,
pecuária, criação de animais, etc. Cfr.
artigos 230.º § 1.º, 230.º § 2.º e 464.º n.º 2
CCom.
B) Artesãos
Os produtores manuais, ditos
artesãos, não são considerados
comerciantes (sapateiros, oleiros, ferreiros),
bem como artistas tais como pintores e
escultores. Cfr. artigos 230.º § 1.º e 464.º
n.º 3 CCom.
C) Profissionais liberais
São profissionais que exercem de
modo habitual e independente uma
determinada atividade, que está sujeita a
controlo deontológico de uma ordem
profissional. Ex: solicitador, advogado,
médico, contabilista certificado, etc…
D) Artigo 17.º CCom
O Estado, o distrito, o município e a
paróquia não podem ser comerciantes, mas
podem, nos limites das suas atribuições,
praticar atos de comércio, e quanto a estes
ficam sujeitos às disposições deste Código.
§ único. A mesma disposição é aplicada às
misericórdias, asilos, mais institutos de
beneficência e caridade.

Nota: O Estado exerce muitas vezes o


comércio como profissão… Contradição?
A Caixa Geral de Depósitos não realiza o
comércio bancário? Muitos municípios
não exploram certos serviços, como a
água ou os transportes? A proibição do
artigo 17.º mantem-se em vigor, sendo a
regra; as exceções são sempre
introduzidas por via legislativa…
3. Sujeitos legalmente inibidos da profissão
de comércio
A) Proibições Absolutas: são as que
impedem de exercer o comércio
Artigo 14.º CCom: “É proibida a profissão do
comércio:
1. Às associações ou corporações que não
tenham por objeto interesses materiais.”
Esta regra não significa que estas
pessoas coletivas estejam impossibilitadas
de praticar AC. Na verdade, poderão
praticar AC desde que respeitem os limites
da sua capacidade jurídica, de acordo com o
artigo 160.º CC, mas não podem ser
qualificadas como comerciantes. Ex: Uma
associação recreativa pode, por exemplo,
explorar um bar, uma vez que não contraria
o princípio da especialidade do fim;
contudo, não adquire a qualidade de
comerciante.
Questão: E se passarem a exercer a
atividade comercial como a sua atividade
principal?
Nulidade dos atos sempre que haja
divergência entre o objeto real e o
estatutário… A associação deverá ser
judicialmente extinta, a pedido do
Ministério Público ou de qualquer
interessado – artigo 182.º n.º2 b) CC.
Artigo 14.º CCom: “É proibida a profissão do
comércio:
2. Aos que por lei ou disposições especiais
não possam comerciar.”
Os magistrados judiciais,
magistrados do Ministério Público, oficiais
de justiça, notários, conservadores, titulares
de cargos políticos e de altos cargos
públicos, entre muitos outros… O seu
fundamento reside na natureza das funções
desempenhadas por determinados
indivíduos, que se considera incompatíveis
com o exercício do comércio (razões
políticas, éticas e funcionais).
N.B.: Não podem ser comerciantes, mas
podem praticar AC. (ex: um juiz não pode
ser comerciante, mas pode subscrever uma
letra de câmbio, passar um cheque…). B)
Proibições relativas: são as que fazem
depender o exercício do comércio da
autorização de certas entidades.
i) Sócios das sociedades em nome coletivo e
das sociedades em comandita simples:
artigos 180.º e 474.º CSC; ii) Gerentes das
sociedades por quotas: artigo 254.º CSC;
iii) Administradores e administradores
executivos: artigos 398.º n.º 3 e 428.º CSC,
respetivamente; iv) Gerente de uma casa
comercial: artigo 253.º CCom.

4. Estatuto dos Comerciantes


Artigo 18.º CCom - define os principais
deveres do comerciante:
→ a. adotar uma firma;
→ b. ter escrituração mercantil;
→ c. registo comercial;
São fundamentalmente 3 objetivos que se
pretendem atingir:

• Distinguir claramente os
comerciantes uns dos outros;
• Dar a conhecer, em qualquer altura,
a situação económica e financeira do
comerciante e fazer a prova das suas
operações;
• Dar publicidade a determinados atos
muito importantes da vida mercantil
dos comerciantes.
A) FIRMA
Noção: nome com que o
comerciante singular ou coletivo exerce o
seu comércio. Embora seja uma obrigação
para o comerciante, tem para este grande
interesse: individualiza a sua personalidade
comercial.
3 tipos de firmas:

• firma-nome: constituída com o


nome de uma ou mais pessoas;
(Xavier e Isabel, Lda.)
• firma-denominação: formada com
uma expressão relativa ao ramo de
atividade; (X I , Materiais de
Construção, Lda)
• firma-mista: formada com ambos os
elementos anteriores. (Xavier e
Isabel, Materiais de Construção,
Lda.)
Quem aprecia a admissibilidade das
firmas é o REGISTO NACIONAL DE PESSOAS
COLETIVAS (RNPC) – cfr. Artigo 1.º RRNPC.
Nota muito importante:

• Firma: individualiza o comerciante


(quem aprecia a sua admissibilidade
é o RNPC) - ( Livraria Bertrand S.A.)
• Logótipo: individualiza o
estabelecimento… (quem aprecia a
sua admissibilidade é o INPI) - (B)
• Marca: individualiza o produto
(quem aprecia a sua admissibilidade
é o INPI). (Produto).
Composição das firmas:

• Comerciantes em nome individual:


artigo 38.º RRNPC
• Titular de um EIRL: artigo 40.º
RRNPC
Firmas das sociedades comerciais:

• Sociedade em nome coletivo: artigo


177.º CSC;
• Sociedade por quotas: artigo 200.º
n.º 1 CSC;
• Sociedade unipessoal por quotas:
270.º B CSC
• Sociedade anónima: 275.º CSC;
• Sociedade em comandita: artigo
467.º CSC. (Comandita é nome
coletivo; Comandita S.A. é a
sociedade anónima)
Princípios da constituição das firmas e
denominações:
Princípio da verdade: artigo 32.º
RRNPC; artigo 10.º n.º 1, n.º 4 e n.º 5 CSC; A
firma não pode se enganosa. A designação
escolhida tem de corresponder à realidade.
Princípio da novidade: artigo 33.º
RRNPC; artigo 10.º n.º 2 e n.º 3 CSC. O
princípio da novidade vale apenas para
comerciantes concorrentes ou também para
comerciantes não concorrentes (que
exercem atividades diferentes). A doutrina
diverge…vários autores consideram que o
princípio não vale para comerciantes não
concorrentes, uma vez que o risco de
confusão entre firmas é quase ou mesmo
inexistente. Para outros autores, o princípio
vale também para comerciantes não
concorrentes.
Exemplo doutrinário (Coutinho de
Abreu): Duas SQ em Coimbra na
mesma rua:
SVP – Sociedade de Viaturas e Peças, L.da
SVP – Sociedade de Vinhos do Porto, L.da
Embora estejamos perante
comerciantes não concorrentes, as firmas
poderão ser confundíveis e/ou induzirem
em erro (o público pode tomar uma
sociedade por outras). Para todos os efeitos,
o Registo Nacional de Pessoas Coletivas
aprecia a admissibilidade de uma firma
tendo em conta o disposto no artigo 33.º
n.º 2 RRNPC.
Princípio da unidade - consagrou-se
a regra da unidade da firma:

• quer para os comerciantes


individuais: artigo 38.º n.º 1 RRNPC;
 quer para as sociedades
comerciais: artigo 9.º n.º 1 c) CSC.
O primeiro passo na constituição de
uma sociedade comercial consiste em
definir a atividade a exercer e escolher um
“nome” para a sociedade:

• Obtenção do certificado de
admissibilidade da firma:
preenchimento do modelo 1 RNPC (a
não ser que se constitua a sociedade
na empresa na hora e se opte por
uma das firmas da lista de firmas
pré-aprovadas).
• Validade do registo: artigo 53.º
RRNPC.
• Aliás, podemos proceder a uma
pesquisa prévia sobre a eventual
confundibilidade do nome escolhido.
B) Escrituração Mercantil-Artigo 18.º 2
C.Com
Princípio da liberdade de
organização da escrituração mercantil –
artigo 30.º C.Com.
Livros obrigatórios: as sociedades
comerciais têm de ter livros para atas (para
documentação das reuniões dos sócios e de
outros órgãos sociais) – artigos 31.º, 37.º e
39.º C.Com e artigo 63.º CSC;
Conservação dos livros: 10 anos –
artigo 40.º C.Com; artigo 118.º n.º 2 CIRS;
artigo 123.º n.º 4 CIRC. Este prazo conta-se
a partir da data do último assento ou
lançamento. No caso de liquidação da
sociedade, o prazo de conservação é de 5
anos – cfr. artigo 157.º n.º 4 CSC.
Caráter (não) secreto da escrituração
mercantil – artigo 41.º C.Com: a regra é o
seu caráter secreto (o segredo é a alma do
negócio), mas sofre restrições. Art.42.º
C.Com.- Este artigo permite a exibição
judicial da escrituração mercantil em
diversas situações:

• Sucessão universal: falecendo o


comerciante, a exibição pode ser
ordenada a favor dos herdeiros,
legatários e credores da herança;
• comunhão: o cônjuge casado com
comerciante em regime de
comunhão geral ou de adquiridos
pode exigir a exibição em caso de
divórcio ou separação judicial de
pessoas e bens;
• dissolução da sociedade ou de saída
de sócio;  insolvência.
• Exame judicial limitado – artigo 43.º
C.Com.
Para além do C.Com, existem regras
noutros diplomas que consagram a
possibilidade da escrita dos comerciantes
ser examinada, como por exemplo:  Os
funcionários da Autoridade Tributária
poderão examinar os livros e documentos
contabilísticos dos comerciantes para
apurar os respetivos impostos – Cf. CIRC;
CIVA.
• Direito de Informação dos sócios:
artigos 181.º, 214.º, 288.º, 289.º n.º
1 e) CSC. Caso seja recusado o
exercício deste direito, os sócios
poderão requerer inquérito judicial à
sociedade – cfr. 181.º n.º 6, 216.º,
292.º CSC.
• A prestação de contas das
sociedades por quotas e anónimas,
por exemplo, deverão ser registados
por depósito nas conservatórias de
registo comercial (cfr. artigos 3.º
n.º1 n); 15.º n.º 1 e 53.º A n.º 5 a)
CRC.
• Força probatória dos assentos dos
livros de escrituração comercial –
artigo 44.º C.Com.
C) Registo Comercial – artigo 18.º 3 C.Com
Finalidade do Registo:
“O registo comercial destina-se a dar
publicidade à situação jurídica dos
comerciantes individuais, das sociedades
comerciais, das sociedades civis sob forma
comercial e dos estabelecimentos
individuais de responsabilidade limitada,
tendo em vista a segurança do comércio
jurídico” – cfr. artigo 1.º n.º 1 CRC.”
Vantagem do registo - caráter público:
“Qualquer pessoa pode pedir
certidões dos atos de registo e dos
documentos arquivados, bem como obter
informações verbais ou escritas sobre o
conteúdo de uns e outros” – cfr. artigo 73.º
n.º 1 CRC.
Nem todos os factos previstos nas
regras do CRC têm que ser registados, uma
vez que estão apenas sujeitos a registo
obrigatório os factos referidos no artigo 15.º
CRC. E através da leitura deste artigo,
conclui-se que os factos relativos aos
comerciantes individuais consagrados no
artigo 2.º CRC estão sujeitos a registo
facultativo.
Formas de registo - Artigo 53.º-A CRC
1.Os registos são efetuados por transcrição
ou depósito.
2.O registo por transcrição consiste na
extratação dos elementos que definem a
situação jurídica das entidades sujeitas a
registo constantes dos documentos
apresentados.
3.Sem prejuízo dos regimes especiais de
depósito da prestação de contas, o registo
por depósito consiste no mero
arquivamento dos documentos que titulam
factos sujeitos a registo.
5.São registados por depósito:
a) Os factos mencionados nas alíneas b) a l),
n), p), q), u), v) e z) do n.º 1 do artigo 3.º,
salvo
o registo do projeto de constituição de
sociedade anónima europeia gestora de
participações sociais, bem como o da
verificação das condições de que depende a
sua constituição; b) Os factos referidos nas
alíneas b), c) e e) do n.º 2 do artigo 3.º;
c) Os factos constantes das alíneas b) e d)
do artigo 5.º;
d) O facto mencionado na alínea b) do
artigo 6.º (...)

E existem factos sujeitos a registo


obrigatório que estão sujeitos a publicações
obrigatórias – cfr. artigo 70.º CRC. Artigo
70.º n.º 2 CRC: publicacoes.mj.pt
Princípio da Instância- o registo efetua-se,
em regra, a pedido dos interessados, exceto
nos casos de oficiosidade previstos na lei –
cfr. artigo 28.º CRC.
Legitimidade- artigos 29.º e ss CRC.
Princípio da legalidade, artigos 29.º e ss
CRC- “a viabilidade do pedido de registo a
efetuar por transcrição deve ser apreciada
em face das disposições legais aplicáveis,
dos documentos apresentados e dos
registos anteriores, verificando-se
especialmente a legitimidade dos
interessados, a regularidade formal dos
títulos e a validade dos atos neles contidos”
– cfr. artigo 47.º CRC.
Efeitos do Registo:

• Artigo 11.º CRC – “o registo por


transcrição definitivo constitui
presunção de que existe a situação
jurídica, nos precisos termos em que
é definida” – presunção iuris tantum
(cfr. artigo 350.º CC).
• O registo é um requisito de eficácia
dos factos em relação a terceiros,
uma vez que “os factos sujeitos a
registo, ainda que não registados,
podem ser invocados entre as
próprias partes ou seus herdeiros” –
artigo 13.º CRC.
• “os factos sujeitos a registo só
produzem efeitos contra terceiros
depois da data do respetivo registo”
– artigo 14.º n.º 1 CRC.
• “os factos sujeitos a registo e
publicação obrigatória nos termos
do n.º 2 do artigo 70.º só produzem
efeitos contra terceiros depois da
data da publicação” - artigo 14.º n.º
2 CRC. Exemplo (Coutinho de Abreu):
Numa SQ o sócio-gerente António foi
destituído. A destituição não foi registada,
nem publicada. Ernesto compra
mercadorias à SQ representada por
António: a sociedade fica vinculada perante
aquele. Enquanto a destituição não for
registada, nem publicada, é inoponível a
Ernesto, que é um terceiro. Cfr. artigos 3.º
n.º 1 m), 15.º n.º 1, 70.º n.º 1 a) CRC.

 Nota Bem: Existem situações em que


o registo tem efeito constitutivo
(não apenas declarativo)- artigo 13.º
n.º 2 CRC; artigos 5.º, 112.º, 120.º,
160.º n.º 2 CSC, entre outros.

IV. OS BENS JURÍDICO-


COMERCIAIS:
ESTABELECIMENTO COMERCIAL

1. Noção
O Direito Comercial não se limita aos
atos de comércio e aos comerciantes:
compreende determinados bens que
constituem o património dos comerciantes!
Entre estes bens, o mais importante é o
estabelecimento comercial (EC). O EC
constitui uma organização de bens
corpóreos e incorpóreos, através dos quais
o comerciante – seja individual ou coletivo –
realiza a sua atividade mercantil.
Existem três grupos de elementos do EC:

• Bens corpóreos: bens imóveis e bens


móveis;
• Bens incorpóreos: direitos,
obrigações e outros elementos; 
Pessoas.
2. Elementos
I)Bens corpóreos:
A) Bens imóveis: todos os
prédios afetos à exploração do
estabelecimento comercial, não sendo
relevante a que título o comerciante utiliza
esses prédios (proprietário ou
arrendatário);
B) Bens móveis: conjunto de
máquinas, equipamentos, etc… afetos à
exploração do estabelecimento comercial,
bem como as mercadorias e as
matériasprimas (bens destinados à
produção e/ou vendas).
II)Bens incorpóreos:
A) Direitos (são os mais importantes):
Direito de arrendamento: o imóvel
onde “funciona” o estabelecimento
comercial poderá ser propriedade do
comerciante… ou este poderá ser
arrendatário. E no caso de estarmos perante
um contrato de arrendamento, o direito de
arrendamento é um direito fundamental,
porque assegura a estabilidade da
exploração do EC. Daí que a lei estabeleça
um regime jurídico especial para os casos de
arrendamento de imóveis destinados ao
exercício de uma atividade comercial ou
industrial. Ao contrário do que acontece nos
arrendamentos em geral, em que o
arrendatário apenas pode ceder a sua
posição com autorização do senhorio; nos
arrendamentos para comércio e indústria,
existe um regime especial: o arrendatário
pode transmitir livremente a sua posição
sem autorização do senhorio, sempre que
pretenda negociar a transmissão do EC.
Direitos de crédito: podem decorrer
de vendas, empréstimos, celebração de
contratos (agência, concessão, etc…);
Direitos de propriedade intelectual:
direitos sobre marcas, logotipos, patentes,
etc;
Clientela: Constitui um elemento
essencial do EC, pois sem ela o EC não
poderá escoar os seus produtos e/ou
serviços. A doutrina portuguesa considera
que a clientela não pode ser objeto de
direitos (não é algo que possa ser
propriamente de alguém); sobre a clientela
existem meras expetativas jurídicas.
Contudo, existem algumas indicações
contratuais e mesmo legais que nos podem
levar a concluir que a clientela pode, na
verdade, ser objeto autónomo de direitos:

 convencional: por exemplo, no


caso de o EC ter contratos de
fornecimento;  legal: artigo 33.º
da Lei do Contrato de Agência (LCA).
B) Obrigações (dívidas aos fornecedores, ao
fisco, à banca, etc…):
No nosso direito é muito duvidoso
que as obrigações sejam consideradas como
elementos do próprio estabelecimento
comercial, uma vez que, por exemplo, não
se transmitem com o trespasse do EC (tal só
acontece se os credores o consentirem). Cf.
art.º 595.º CC, bem como o art.º 858.º CC.
C) Outros elementos incorpóreos: o EC
engloba ainda licenças ou autorizações
administrativas.
III.Pessoas: cf. artigos 285.º a 287.º CT
Artigo 285.º CT - Efeitos de transmissão de
empresa ou estabelecimento
1.Em caso de transmissão, por qualquer
título, da titularidade de empresa, ou
estabelecimento ou ainda de parte de
empresa ou estabelecimento que constitua
uma unidade económica, transmitem-se
para o adquirente a posição do empregador
nos contratos de trabalho dos respetivos
trabalhadores, bem como a
responsabilidade pelo pagamento de coima
aplicada pela prática de contraordenação
laboral.  “por qualquer título”: é uma
fórmula muito vaga, mas pretende-se
abranger inúmeros casos, entre os quais o
trespasse e a locação do EC;
 os contratos de trabalho mantêm-se e
transmitem-se os respetivos direitos;
por outras palavras, os contratos de
trabalho não são afetados pela
“mudança”.

 NOTA BEM:Capacidade de Realização


de Lucro (Aviamento):
Quando um EC é objeto de uma
venda ou de qualquer outro contrato que o
visa como um todo (como é o caso do
trespasse), o seu valor ultrapassa em muito
o valor da mera soma contabilística dos
elementos que o compõem. Esta mais valia
(eficiência lucrativa do EC como um todo)
dá-se o nome de aviamento ou “goodwill”,
que não é um elemento do EC, mas sim uma
qualidade.

3. Natureza Jurídica
Quatro Teorias sobre a natureza jurídica do
EC:

• Teoria do sujeito de direito : o EC


constitui um novo sujeito de direitos,
uma nova pessoa jurídica, distinta do
comerciante individual ou coletivo.
Crítica: se o EC fosse uma pessoa
juridicamente distinta do seu titular, os
bens afetos ao EC deviam responder apenas
pelas respetivas dívidas. Todavia, no caso do
comerciante em nome individual não é isso
que acontece (responsabilidade ilimitada).
Mais ainda, o titular do EC pode, a qualquer
momento, vender o EC; logo o EC não é um
sujeito de direitos.
• Teoria do património autónomo : o
EC constitui um património
autónomo.
Crítica: se o EC fosse um património
autónomo, os bens afetos ao EC deviam
responder apenas pelas respetivas dívidas e
que pelas dívidas contraídas por esse EC
respondessem apenas os bens do EC.
Todavia, no caso do comerciante em nome
individual não é isso que se verifica
(responsabilidade ilimitada).
• Teoria da Universalidade : o EC deve
ser concebido como uma
universalidade, como um complexo
de coisas jurídicas pertencentes a
um mesmo sujeito, tendentes a um
mesmo fim, que a ordem jurídica
reconhece e trata como uma coisa
só.

• Teoria do Bem Imaterial (Orlando de


Carvalho): O EC é uma coisa unitária,
de natureza imaterial: o que
caracteriza o EC não são os bens que
o integram ou as várias pessoas que
aí trabalham, mas sim uma certa
organização apta a criar lucro.

 Posição adotada pela Prof. Susana


Gil: Concorda com as duas últimas
teorias: o EC constituiu uma unidade
jurídica objetiva, uma vez que
representa algo mais e algo
diferente das coisas que o
constituem. O legislador reconheceu
o EC como tal no trespasse e na
locação do EC.

4. Negócios Jurídicos sobre o


Estabelecimento Comercial
Negócios Júridicos sobre o EC:
I.Trespasse;
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A
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E
:
Não há nenhuma regra jurídica que
defina trespasse, não obstante o objeto do
trespasse é o EC. Negócio jurídico pelo qual
se realiza a transferência definitiva e por ato
entre vivos da titularidade de um EC: pode
consistir numa venda (o mais comum),
doação, troca, dação em cumprimento.
Assim sendo, a natureza onerosa ou gratuita
não é relevante; todavia, a natureza
onerosa releva para o seguinte caso: direito
de preferência do senhorio (1112.º n.º 4 CC)
Dois sujeitos:

• Trespassante (aquele que transmite


o estabelecimento comercial); 
Trespassário (a quem é
trespassado o EC).
 O trespasse deve ser celebrado por
escrito – 1112.º n.º 3 CC.

A transmissão deve ser comunicada


ao senhorio. Com que antecedência? O
prazo previsto para a locação – um mês –
cf. art.º 1109.º n.º 2 CC) ou o prazo previsto
no art.º 1038.º g) CC – 15 dias?
O trespasse consiste na transferência
global e unitária do EC. Não há trespasse se
não for transmitido o conjunto de
elementos que constituem o EC ou se lhes
der outro destino, por força com o disposto
no artigo 1112.º n.º 2 a) e b) CC. Exige-se no
art.º 1112.º n.º 2 b) CC o conluio das partes,
no sentido da mudança de ramo.
Existem variadas situações de “falso
trespasse”; todavia a lei visa acautelar esta
situação por aqueles que pretendem fugir
às regras gerais que exigem a autorização
do senhorio. Na verdade, não é necessário o
consentimento do senhorio, ainda que este
tenha um direito de preferência – artigo
1112.º n.º 4 (se a transmissão for a título
oneroso).
N.B.: O trespasse tem servido de disfarce
para transmissões não autorizadas da
posição do arrendatário: a renda baixa é o
elemento preponderante.
Existe uma obrigação por parte dos
trespassantes de não exercer uma atividade
comercial idêntica à que desenvolvia o EC
transmitido. Trata-se de uma cláusula
contratual que consagra a obrigação de não
concorrência – a sua violação acarreta
responsabilidade civil contratual.
Como refere o Prof. Coutinho de
Abreu, no contrato de trespasse existe uma
obrigação implícita de não concorrência,
“sem necessidade de qualquer estipulação
contratual”. O trespassante do
estabelecimento fica, em princípio,
obrigado a, num certo espaço e durante
certo tempo, não concorrer com o
trespassário. Estas situações têm que ser
apreciadas caso a caso, pois poderá estar
em causa, de igual modo, o princípio da
liberdade de iniciativa económica e das
regras de defesa da concorrência.
II. LOCAÇÃO (do estabelecimento
comercial: art.1109º CC)
Negócio jurídico através do qual o
titular de um EC transmite a outrem a título
oneroso e temporário, a fruição de um EC.

 Nota bem:
• Transmissão temporária: locação do
EC;  Transmissão definitiva:
trespasse.
A locação é sempre um negócio
oneroso; já o trespasse poderá ser oneroso
ou gratuito.
Dois sujeitos:

• Locador/Cedente;
• Locatário/Cessionário.
O transmitente continua a ser o
titular do EC – cedente/locador; à outra
parte, dá-se o nome de
cessionário/locatário. Coutinho de Abreu
não se refere a este negócio jurídico como
cessão de exploração, mas sim como
locação do EC. Só haverá locação do EC, se
estivermos perante uma transmissão como
um todo e não seja para exercer um outro
tipo de ramo. Pretende-se prevenir as
“falsas locações do EC”; haverá um contrato
de arrendamento se apenas se colocar à
disposição do locatário as “quatro paredes”.
Também na locação, não é
necessária a autorização do senhorio –
artigo 1109.º CC. Aplica-se, de igual modo,
neste contexto, a obrigação de não
concorrência.
Não é feita qualquer referência à
forma deste contrato. Daí que alguns
autores entendam que vigora o princípio da
liberdade de forma: o contrato será válido
se celebrado verbalmente. A Prof. Dra.
Susana Gil não concorda com esta
doutrina, pois tendo em conta que se exige
forma para o trespasse, também se deverá
exigir para a locação do EC.

V. AS SOCIEDADES
COMERCIAIS

1. Noção de sociedade
Para termos uma noção completa de
uma sociedade comercial, temos que
conjugar dois artigos:

 Artigo 980.º CC: dá-nos uma


definição geral de um contrato de
sociedade;  Artigo 1.º n.º 2 CSC: diz-
nos quais os requisitos para que uma
sociedade seja comercial
ARTIGO 980º CC
(Noção)
Contrato de sociedade é aquele em que
duas ou mais pessoas se obrigam a
contribuir com bens ou serviços para o
exercício em comum de certa atividade
económica, que não seja de mera fruição, a
fim de repartirem os lucros resultantes
dessa atividade.

1) Elemento Pessoal: “… entre 2 ou mais


pessoas...” Até 1996 era pacífico que a
constituição de uma sociedade exigia no
mínimo duas pessoas; daí a definição de
contrato de sociedade como um negócio
jurídico bilateral (duas declarações de
vontade). Quando em 1996, o legislador
português criou a figura de “sociedade
unipessoal por quotas”, parte da doutrina
portuguesa criticou esta opção, afirmando
tratar-se de um paradoxo.
É crucial nesta matéria o artigo 7.º n.º 2
CSC: a regra é de dois, exceto:

• quando a lei exige um número


superior: como é o caso das
sociedades anónimas - artigo 273.º
n.º 1 CSC; assim como nas
sociedades em comandita por ações
(mínimo 6 sócios: 5 comanditários e
1 comanditado) – artigos 465.º n.º 1
e 479.º CSC.
• quando a lei permite que a
sociedade seja constituída por uma
única pessoa: sociedades
unipessoais por quotas (artigos 270.º
A a 270.º G CSC); e ainda no caso das
sociedades unipessoais anónimas
(artigo 488.º n.º 1 CSC).
2) Elemento “a contribuir com
patrimonial: bens ou serviços”.

• os sócios têm que assumir uma


obrigação de entrada (artigos 25.º e ss.
CSC);  é uma obrigação
imperativa (artigo 20.º a) CSC).
Natureza das entradas:

• Em dinheiro (pecuniárias)

• Em espécie (bens): devem constar


do contrato de sociedade (artigo 9.º
n.º 1 g) e h) CSC); avaliação do bem
por um Revisor Oficial de Contas
(artigo 28.º CSC);

• Em serviços (figura de sócio de


indústria), mas não é admitida nas
Sociedades por Quotas (artigo 202.º
n.º 1 CSC), nem nas Sociedades
Anónimas (artigo 277.º n.º 1 CSC).
Assim sendo, podemos afirmar que
só é permitido nas Sociedades em
Nome Coletivo e nas Sociedades em
Comandita quanto aos sócios
comanditados (cf. artigo 468.º CSC).
As entradas dos sócios desempenham três
funções muito importantes:

• formam no seu conjunto o


património com o qual a sociedade
vai iniciar a sua atividade;

• definem a proporção da participação


de cada sócio na sociedade;

• e fixam o capital social (cifra


representativa da soma dos valores
nominais das participações sociais).
Momento de realização das entradas:
artigo 26.º CSC
As entradas devem ser realizadas até
ao momento da celebração do contrato. De
acordo com o n.º 3 do mesmo artigo, os
sócios poderão estipular no contrato o
diferimento das entradas em dinheiro:
• Sociedade por Quotas: artigo 203.º
CSC;
• Sociedade Anónima: artigos 277.º
n.º 2 e 285.º n.º 1 CSC.

3) Elemento finalístico (objeto da


sociedade): “… exercício de uma certa
atividade económica, que não seja de
mera fruição”.

• O objeto social é a atividade que os


sócios se propõem a desenvolver –
artigo 11.º n.º 2 CSC. O objeto não
poderá ser vago, nem geral.

• “… não seja de mera fruição”: as


sociedades não podem ter por
objetoatividades de mera perceção
dos frutos dos bens. Exemplo:
António pretende comprar um
prédio para arrendar as várias
frações autónomas. Para enquadrar
tais operações, propõe-se a
constituir uma sociedade unipessoal
por quotas.
Não o poderá fazer, pois essa
atividade é de mera fruição.
4) Elemento teleológico (finalidade da
sociedade): “… a fim de repartirem os
lucros…”.
As sociedades comerciais propõem-
se a obter lucros: esses lucros da sociedade,
destinando-se a ser distribuídos pelos
sócios. É um dos direitos dos sócios: artigo
21.º e 22.º CSC.
Artigo 1.º n.º 2 CSC:
1) Objeto comercial: prática de atos de
comércio. Para que uma sociedade seja
umasociedade comercial, é necessário que
os atos previstos no objeto revistam
natureza comercial.
2) Forma comercial: para que uma
sociedade seja comercial é necessário que
revistaforma comercial: Só se podem
constituir os tipos de sociedades previstos
no artigo 1.º n.º 2 CSC – princípio da
tipicidade.
Artigo 1.º n.º 2 CSC: Princípio da Tipicidade

• Sociedades em Nome Coletivo (SNC)


• Sociedades por Quotas (SQ)
• Sociedades Unipessoais por Quotas
(SUQ)
• Sociedades Anónimas (SA)
• Sociedades Unipessoais Anónimas
(SUA)
• Sociedades em Comandita (simples e
por ações)
Em Portugal os tipos legais societários mais
comuns são: SQ, SUQ e SA.

Tipos de Sociedades:
I. legais comuns;
II. legais especiais.
Tipos legais especiais: visam
responder a necessidades concretas, daí
que tenham uma regulamentação específica
e diferente da contida no CSC. Por exemplo:
 as Instituições de Crédito com sede em
Portugal devem adotar a forma de
sociedade anónima (por exemplo, bancos;
caixas económicas; Caixa Central de Crédito
Agrícola Mútuo e as caixas de crédito
agrícola mútuo; instituições financeiras de
crédito). Cf. Decreto-Lei n.º 298/92, de 31
de dezembro, que aprovou o Regime Geral
das Instituições de Crédito e Sociedades
Financeiras (última alteração introduzida
pelo Decreto-Lei n.º 190/2015, de 10 de
setembro);
 as Sociedades Gestoras de
Participações Sociais podem
constituir-se segundo o tipo de SQ
ou SA – cf. artigo 3.º do Decreto-lei
n.º 495/88, de 30 de dezembro
(última alteração introduzida pelo
Lei n.º 109-B/2001, de 27 de
dezembro).
2. Caracterização geral dos tipos legais
societários
1.Existem diferenças de ordem formal
(respeita à própria regulamentação):
As SNC e as Scom são reguladas por
poucas normas, enquanto que as SQ e as SA
são os tipos legais mais complexos (se bem
que não existe comparação entre as
sociedades de pessoas e as sociedades de
capitais).
2.E existem diferenças de ordem
substancial:
A) Número mínimo de sócios;
B) Regime da responsabilidade dos sócios;
C) Capital social e partes sociais;
D) Organização social.
A) Número mínimo de sócios – cf.
diapositivo n.º6
O número mínimo de sócios deverá
ser respeitado durante a vida da sociedade,
sob pena de dissolução – artigos 142.º n.º 1
a) e n.º 3 CSC. O CSC não estabelece um
número máximo de sócios. (Em França e na
Bélgica, as sociedades de responsabilidade
limitada (SQ) não podem ter mais de 50
sócios; no Luxemburgo, o máximo são 40).
B) Regime da responsabilidade dos
sócios
SNC:

• Os sócios respondem perante a


sociedade pela sua obrigação de
entrada; Perante os credores da
sociedade, os sócios de uma SNC
têm uma responsabilidade
ilimitada, subsidiária em relação à
sociedade (os bens dos sócios só
respondem depois de excutido o
património da sociedade) e
solidária com os outros sócios –
artigo 175.º n.º 1 CSC

• … mesmo anteriores ao seu


ingresso, mas não posteriores à
saída do sócio – artigo 175.º n.º 2
CSC);

• Autonomia patrimonial imperfeita:


os bens da sociedade respondem
pelas dívidas da sociedade, mas
pelas dívidas da sociedade não
respondem apenas os bens da
sociedade, poderão também
responder os bens pessoais dos
sócios (responsabilidade ilimitada).

• Artigo 178.º CSC: os sócios de


indústria muito embora respondam
pelas dívidassociais perante os
credores, não respondem perante a
sociedade… Assim, caso aquele
sócio pague alguma dívida da
sociedade terá direito de regresso
face aos demais pelo total que tiver
pago.
SQ:

• Em princípio cada sócio responde


pela sua entrada – artigo 197.º n.º
1 CSC; todavia a responsabilidade é
solidária pela realização integral do
capital social – artigo 207.º n.º 1
CSC;
• “Os sócios são solidariamente
responsáveis por todas as entradas
convencionadas no contrato
social”; na verdade, se um sócio
não pagar à sociedade
tempestivamente a sua entrada,
poderá ser excluído, sendo os
demais solidariamente
responsáveis perante a sociedade
pelo pagamento da parte da
entrada do excluído que estiver em
dívida;
• A responsabilidade é limitada, por
outras palavras,estamos perante
uma autonomia patrimonial
perfeita: os bens da sociedade
respondem pelas dívidas da
sociedade; pelas dívidas da
sociedade apenas respondem os
bens da sociedade.
• Os credores não podem executar o
património pessoal dos sócios, de
acordo com o artigo 197.º n.º 3
CSC, a não ser que se verifique a
situação estipulada no artigo 198.º
n.º 1 CSC (o que é raro acontecer).
SUQ:

• As sociedades unipessoais por


quotas são, para todos os efeitos,
sociedade por quotas; logo têm
todas as características destas,
exceto as que pressuponham uma
pluralidade de sócios – artigo 270.º
G CSC. Assim sendo, o sócio único
de uma SUQ tem responsabilidade
limitada perante os credores
sociais.
SA:

• A responsabilidade do sócio é
individual e exclusivamente para
com a sociedade pelo valor da sua
entrada;

• Só a sociedade é responsável com o


seu património perante os credores
sociais - artigo 271.º CSC;

• Autonomia patrimonial perfeita.


SComandita: Responsabilidade mista ou
híbrida, uma vez que se reúne na mesma
sociedade, sócios de responsabilidade
ilimitada e limitada - artigo 465.º CSC

• Sócios comanditados:
responsabilidade igual à dos sócios
das SNC = ilimitada;  Sócios
comanditários: responsabilidade
igual à dos sócios das SA = limitada.

C) Capital Social e partes sociais


SNC:

• As participações dos sócios


denominam-se “partes sociais”;
• Não há um valor mínimo, nem para
o capital social, nem para a parte
social;

• Entradas: dinheiro, bens ou serviços


– artigo 178.º CSC;
• As entradas podem ter um valor
desigual, mas não podem ser
emitidos títulos representativos –
artigo 176.º n.º 2 CSC;

• A parte de um sócio só poderá ser


transmitida por ato entre vivos, com
o consentimento dos restantes
sócios – artigo 182.º CSC.
SQ:

• As participações dos sócios


denominam-se “quotas”;

• Aos sócios podemos chamar-lhes


quotistas;
• Vigora o princípio do capital social
livre, de acordo com o artigo 201.º
CSC; todavia a quota terá que ter o
valor mínimo de € 1, por força do
artigo 219.º n.º 3 CSC.

• Entradas: dinheiro e bens, todavia


não são permitidas contribuições de
indústria (202.º n.º 1 CSC).

• As entradas podem ter um valor


desigual;
• Não podem ser emitidos títulos
representativos de quotas – artigo
219.º n.º 7 CSC.

• Transmissão de quotas: cf. artigo

228.º e 229.º CSC;  Não podemos


atacar os bens.
SA:

• As participações dos sócios


denominam-se “ações”;

• Aos sócios podemos chamar-lhes


acionistas;
• Valor mínimo para o capital social - €
50.000 – artigo 276.º n.º 5 CSC;

• Valor mínimo para a ação – não


pode ser inferior a 1 cêntimo – artigo
276.º n.º 3 CSC.

• As ações devem ter o mesmo valor


nominal – artigo 276.º n.º 4 CSC;
• Entradas: dinheiro e bens (o artigo
277.º n.º 1 CSC não permite
contribuições de indústria);

• Momento da realização das


entradas: 277.º n.º 2 e 285 n.º 1 CSC;

• As ações podem ser nominativas:


artigo 299.º CSC;
• As ações poderão ser representadas
por títulos livremente transmissíveis;

 Responsabilidade limitada.

SComandita:

• SCom simples: as participações de


ambas as espécies de sócios
denominam-se partes sociais; não
está fixado qualquer valor mínimo
do capital social e as partes sociais
não são representadas por
quaisquer títulos;
• SCom ações: as participações dos
sócios comanditados denominam-se
partes sociais e as dos sócios
comanditários chamam-se ações.

D) Quanto à organização social:


“Órgãos sociais são centros
institucionalizados de poderes funcionais a
exercer por pessoa ou pessoas com o
objetivo de formar e/ou exprimir a vontade
juridicamente imputável à sociedade”
(Coutinho de Abreu). É necessário que a
pessoa coletiva forme, manifeste e execute
uma vontade” (Miguel Pupo Correia). Daí a
necessidade dos órgãos sociais… Para a
sociedade a governação vai variando. As
anónimas são as mais complicadas, pelos
órgãos que a governam.

SNC
:
estrutura muito simples (sociedades
familiares).
Os sócios têm um papel fundamental:
desempenham todas as competências:

• Poder deliberativo : Assembleia


Geral (todos sócios): artigo 189.º CSC
,por voto cada sócio tem direito a
um voto; ( Sócios ( Assembleia Geral)
);
• Poder executivo : salvo estipulação
em contrário, todos os sócios são
gerentes (artigo 191.º n.º 1 CSC);
todos os gerentes devem ser sócios,
salvo deliberação unânime em
contrário (artigo 191.º n.º 2 CSC);
aos gerentes cabe a administração e
representação da sociedade – artigo
192.º CSC; ( Executivo = Sócios);
• Poder fiscalizador *: as sociedades
em nome coletivo não têm órgão de
fiscalização, esta função é exercida
diretamente pelos sócios, através do
direito à informação previsto no
artigo 181.º CSC. ( Fiscalizador =
Sócios );
• Cada sócio tem direito a um voto –
vigora o princípio democrático,
previsto no artigo 190.º CSC.
*verifica a conformidade da atividade dos
outros órgãos com a lei e os estatutos,
denunciando as irregularidades que
descubram.
SQ: estrutura mais complexa, em
comparação com a da SNC, emque o papel
do sócio continua a ser fundamental.

• Poder deliberativo : compete à


Assembleia Geral, constituída pelo
conjunto de sócios, dotada de
competências genéricas – artigo
246.º CSC, tem de ser a sociedade a
decidir.
- n.º 1: conjunto imperativo de
competências (não podem ser
remetidas paraoutro órgão); não
depende da vontade dos seus sócios
de mudar é competência da
Assembleia;
- n.º 2: conjunto supletivo de
competências (só não caberão aos
sócios, caso ocontrato as transfira
para outro órgão); não é
necessariamente
obrigação/competência da
Assembleia. Só a Assembleia Geral
podemos designar gerentes. Pode
ser de competência da Assembleia
ou não.

• Poder executivo : gerência


(gerentes) , com competências
gerais de administração e
representação – artigos 252.º e ss.
CSC, com especial destaque para o
artigo 259.º CSC.

• Poder fiscalizador :
- O contrato de sociedade
pode prever um Conselho Fiscal
(artigo 413.º e ss. CSC);
- A sociedade pode ser
obrigada a ter um ROC (Revisor
Oficial de Contas)- art. 262.º, n.º 2
CSC;
* Se não se verificar nenhuma das duas
hipóteses: teremos o direito à informação,
que apenas poderá ser exigido por sócio
não gerente – artigo 214.º CSC.
Nas sociedades por quotas, vigora o
princípio censitário: o grau de participação
e intervenção depende do valor da
respetiva quota – cf. artigo 250.º CSC-
deliberações: cf. 250 n.º 3 e 265.º CSC.
Exemplo:
Sócio A: 30.000 – 30%
S
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:

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:

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0
0
0
SA:

• Sociedades de capitais, com uma


estrutura de organização mais
complexa;  Desvalorização do
papel do sócio e da Assembleia
Geral, que tem competências mais
reduzidas (em comparação com a
Assembleia Geral de uma Sociedade
por Quotas);

• Gestão da SA cabe exclusivamente


aos seus órgãos de administração –
administradores ou administradores
executivos, restando à Assembleia
Geral algumas matérias, ainda que
fundamentais, da sociedade – artigo
373.º e ss CSC.
• Deliberações: cf. 383.º e 386.º CSC
(quórum constitutivo* e quórum
deliberativo);

• Vigora o princípio de que a cada


ação corresponde um voto – artigo
384.º CSC (o que traduz a pouca
força do sócio minoritário).
Exemplo:
Capital Social: € 100.000
Cada ação vale € 2.
Sócio A- 10.000 ações – €20.000 – 20%
Sócio B – 15.000 ações – €30.000 – 30%
Sócio C: 25.000 – €50.000 – 50%

* Quórum – Artº 383 CSC- Número suficientes de sócios presentes num

Assembleia para votar/decidir. Assembleia Geral só pode-se considerar se

estiverem + 50% dos Sócios.

* Quórum Constitutivo – Não se pode iniciar uma reunião se não estiverem

todos ou metade das pessoas.


Três Estruturas Alternativas – Artº 278 CSC :

Liberdade de escolha

• Modelo “latino”/clássico: 278.º n.º


1 a) CSC: Modelo clássico
simplificado (art.º 278.º, 2) que não
pode ser escolhido por sociedades
cotadas ou por sociedades de
grande dimensão (art.º 413.º, 2)

• Modelo anglo-saxónico/monístico:
278.º n.º 1 b) CSC

• Modelo dualista/germânico: 278.º


n.º 1 c) CSC
Dever de escolha

• Não há um modelo supletivo

• Consagração da escolha nos


estatutos (art.º 272.º, g) do CSC)

• Possibilidade de mudança de
modelo (art.º 278.º, n.º 6)
Tipologia taxativa
• Proibida a adoção de modelos não
previstos no art.º 278.º do CSC

• Possibilidade de criação de
estruturas orgânicas atípicas sem
competênciadecisória.

Artigo 278.º n.º 1 a) CSC: modelo clássico -


o mais comum em Portugal.

• Assembleia Geral: art.ºs 373.º e ss.


CSC;
• Conselho de Administração: art.ºs
390.º e ss. CSC;  Conselho
Fiscal: art.ºs 413.º e ss. CSC.

Artigo 278.º n.º 1 b) CSC - modelo anglo-


saxónico.

• Assembleia Geral: art.ºs 373.º e ss.


CSC;
• Conselho de Administração: art.ºs
390.º e ss. CSC;  Comissão de
Auditoria: art.ºs 423.º-B a 423.º-H
CSC; Revisor Oficial de Contas:
art.º 446.º CSC.
Artigo 278.º n.º 1 c) CSC - modelo
germânico

• Assembleia Geral: artigos 373.º e ss.


CSC;
• Conselho de Administração
Executivo: artigos 424.º a 433.º CSC;
 Conselho Geral e de
Supervisão: artigos 434.º a 445.º
CSC; Revisor Oficial de Contas:
artigo 446.º CSC.
Secretário da Sociedade
Esta figura foi criada pelo Decreto-
Lei n.º 257/96, de 31 de dezembro, que
introduziu os artigos 446.º-A a 446.º-F no
Código das Sociedades Comerciais Na
competência do secretário destacam-se,
entre outras, as funções de secretariado dos
órgãos sociais, de redação das atas, de
certificação de certos eventos sociais, de
garantia do exercício do direito de
informação dos acionistas, de contactos
com as conservatórias do registo comercial,
inter alia.
O cargo é obrigatório nas sociedades
anónimas emitentes de ações admitidas à
negociação em mercado regulamentado. E
é facultativo nas demais sociedades
anónimas e sociedades por quotas.

3. Atos de constituição das sociedades


comerciais
As sociedades comerciais Podem
constituir-se por diversos métodos: forma
tradicional, pelo processo moderno, pela
empresa na hora, pela empresa online…
para constituir uma sociedade comercial
não é necessário recorrer a um solicitador
ou advogado, muito embora “seja
adequado obter um aconselhamento
jurídico especializado, para assegurar as
menções mínimas obrigatórias “ (Paulo
Olavo Cunha). O aspecto mais relevante e
sensível da Constituição de uma sociedade
elaboração do contrato de sociedade.
O primeiro passo consiste em definir
a atividade a exercer e escolher afirma. A
obtenção do certificado de admissibilidade
da firma - a não ser que constitui a
sociedade na empresa na hora e se opte por
uma das firmas da lista de firmas pré
aprovadas. Os futuros sócios deverão
elaborar o contrato de sociedade:
Elementos essenciais:
 Comuns a todos os tipos de
sociedades (art. 9ºCSC);
 Específicos de cada sociedade
(“inúteis” - Coutinho de Abreu)
Sociedade e nome coletivo (art 176º)
Sociedade por quotas (art 199º)
Sociedade anónima (art. 272º)
Requisitos da celebração de um contrato de
sociedade:
1 Relativos às partes:
Número art.7º n.º 2 do CSC
Natureza: pessoas singulares ou
pessoas colectivas
Historicamente, a sociedade foi uma
entidade criada e pensada para pessoas
singulares; Não obstante, já há muito tempo
que se admite que as pessoas colectivas
possam ser partes. Ter a participação de
pessoas colectivas em sociedades
comerciais, em que estará em causa o
princípio da especialidade temos ainda a
participação de sociedades comerciais e
sociedades comerciais (art.11º n.º4 e 5 do
CSC).
A participação de sociedades em sociedades
dá origem à coligação de sociedades: art.
481 e ss CSC. há 4 tipos de relações:
relação simples de participações, relação de
participações recíprocas, relação de
domínio e relação de grupo.
Capacidade:
As partes têm que ter capacidade de
exercício de direitos; A formas suprimir as
incapacidades de exercício:
 Como representantes dos filhos
viram os pais podem entrar em SQ
ou SA, sem autorização do MP; tudo
havia para entrarem SNC ou Scom já
é necessária tal autorização art.
1889º n.º1 d) do CC
 O tutor do menor necessita de
autorização do MP para qualquer
tipo de sociedade;
 Aplica-se A Exceção da capacidade
dos menores: art. 127º nº1 a) CC
 O tutor do menor necessita de
autorização do MP para entrar em
qualquer sociedade art. 1938 nº 21
a), b) e d), salvo se a tutela recair no
pai ou na mãe, aplicando-se neste
caso artigo 1889º nº1 d)
 quanto aos maiores acompanhados
art. 145º do CC

Legitimidade: Art. 8º do CSC


Os conjugues podem constituir ao participar
numa mesma SQ e SA. não podem constituir
ao participar numa mesma SNC ou Scom em
que ambos são sócios de responsabilidade
ilimitada.
2 Relativos à forma
Art. 7º nº1 CSC: o contrato de sociedade
deve ser reduzida a escrito, com
reconhecimento presencial das assinaturas
dos sócios, salvo se a forma mais solene for
exigida para a Transmissão dos bens com
que os sócios entram para a sociedade,
devendo, neste caso, ao contrário de
revestir essa forma, sem prejuízo do
disposto em lei especial.
! As entradas: Bem imóvel: sou um dos
sócios e entrar com um bem imóvel, o
contrato de sociedade terá de ser celebrado
por escritura pública ou por DPA.
Artigo 875º CC: “Sem prejuízo do disposto
em lei especial, o contrato de compra e
venda de bens imóveis só é válido se fosse
celebrado por escritura pública ou por
documento particular autenticado”.
! Registo comercial o registo é requerido
nos termos do art. 3º nº1 a) CRC e no prazo
de 2 meses a contar da celebração do
contrato de sociedades art.15º nº2 CRC.
Artigo 5º CSC: “as sociedades gozam de
personalidade jurídica existem como tais a
partir da data do registo definitivo do
contrato pelo qual se constituem (…)”
! Publicações art.167º CSC e art. 70º nº1 a)
CRC – publicações.mj.pt

Modos de Constituição:
Por escritura pública outorgada em cartório
notarial ou DPA - Documentos particulares
autenticados (no caso de um dos sócios
entrar para a sociedade com um bem
imóvel).
Por redução a escrito com reconhecimento
presencial das assinaturas dos sócios.
No âmbito do regime especial de
constituição imediata de sociedade
Imediata de sociedade “empresa na hora”.
No âmbito do regime especial Constituição
online de sociedades.

Por escritura pública:


Marcação e realização da escritura:
 Certificado de admissibilidade de
firma (número);
 Fotocópia dos documentos de
identificação dos outorgantes;
 Relatório do ROC para a gente
entradas em bens diferentes de
dinheiro art. 28º CSC;
 estou com menos comprovativos do
pagamento do IMT quando a
entrada há em bens imóveis para a
realização do capital social, salvo se
estiver isento – art.2º nº 5 e) do
CIMT;
 documento comprovativo da
obtenção de autorização especial
quando obrigatório (por. Ex,
instituição de crédito).
aplica-se, neste âmbito Vila o que foi
referido para a Constituição por escritura,
mas neste caso o título é o de DPA.
! Nota: não é apenas um notário que poderá
fazer o termo de autenticação, também ao
solicitador ou advogado.

Redução escrito com reconhecimento


presencial das assinaturas:
O contrato de sociedade deve ser reduzido
a escrito e as assinaturas dos subscritores
Contrato reconhecidas presencialmente
(art.7º nº1 CSC) Se forma mais solene for
exigida para a Transmissão dos bens com
que os sócios entram para a sociedade,
devendo, neste caso, o contrato revestir
essa forma, sem prejuízo do disposto em lei
especial.

Registo
Seja por escritura pública, por DPA ou por
escrito com reconhecimento presencial das
assinaturas, segue-se o registo, que pode
ser pedido em qualquer conservatória do
registo comercial.
Documentos:
 Escritura ou DPA;
 certificado de admissibilidade de
firma;
 declaração de aceitação do ROC.
Prazo para requerer o registo: 2 meses a
contar da data do título art.15º nº 2 CRC
Legitimidade para requerer o registo
 sócio, gerente ao administrador
 mandatário com procuração
bastante
 solicitadores, advogados e Notários
Custo do registo contrato de sociedade: 360
EUR
Oficiosamente envia para a publicação.
Declaração de início de atividade: no prazo
de 15 dias após a apresentação do registo
deve ser apresentada a declaração de início
de atividade num serviço das finanças, a fim
de dar cumprimento às suas obrigações de
natureza fiscal.
Inscrição oficiosa na segurança social.

Empresa na Hora
Constituir a ENH (Empresa na hora) a partir
da bolsa de firmas permanentes disponíveis
ou juntar o código do certificado de
admissibilidade de firma. Constituir a ENH e
simultaneamente adquirir uma marca
registada a partir da bolsa de firmas e
marcas permanentes disponíveis.
tipos de sociedade que podem ser
constituídas art 1º. sociedades comerciais/
sociedades civis sobre comercial do tipo de
quotas e anónima. pela prática dos atos
compreendidos no regime especial de
Constituição imediata de sociedade, com ou
sem nomeações de órgãos sociais ao
Secretário da sociedade 360 EUR.
Art. 3º Pressupostos de aplicação
opção por pacto de modelo aprovado pelo
Presidente do IRN. se o capital da sociedade
foi total ou parcialmente realizado
mediante entradas em bens diferentes de
dinheiros sujeitos a registo, os bens
estiverem registados definitivamente em
nome do sócio que os dá como entrada.

Documentos a apresentar:
Art.4º a marcação prévia no caso das
entradas em espécie
os procedimentos de Constituição imediata
de sociedades em que o capital seja total ou
parcialmente realizado mediante entradas
em bens diferentes de dinheiro sujeitos a
registo podem ser realizados mediante
agendamento da data da realização do
negócio jurídico.
Art.7º
Documentos comprovativos da identidade,
capacidade e poderes de representação
para o ato, bem como autorizações
especiais que sejam necessárias. Do capital
total ou parcialmente realizado mediante
entradas em bens diferentes de dinheiro,
deve ser apresentado um relatório
elaborado por um ROC sem interesses na
sociedade (art.º 28º do CSC).
caso ainda não haja sido efetuado, os sócios
devem declarar, sobre a sua
responsabilidade, que o depósito das
entradas em dinheiro é realizado no prazo
de 5 dias úteis ao proceder à entrega NOS
cofres da sociedade até ao final do primeiro
exercício económico;
Os interessados podem proceder à entrega
imediata da declaração de início de
atividade para os efeitos fiscais;
Procedimento:
Art. 8º
Cobrança dos encargos devidos; Promoção
da liquidação do IMT e de outros impostos
que se mostrem devidos, tendo em conta os
negócios jurídicos a celebrar, assegurando o
seu pagamento prévio à celebração do
negócio jurídico;
Aprovação de firma no posto de
atendimento ao afetação, por via
informática e a favor da sociedade
constituir, de afirma escolhida ou de afirma
e marca escolhidas e do número de
identificação de pessoa colectiva (NIPC);
Preenchimento do Pacto, por documento
particular, de acordo com o modelo
previamente escolhido;
Reconhecimento presencial das assinaturas
dos intervenientes no ato;
Registo de Constituição de sociedade e de
outros factos sujeitos a registo comercial,
predial e de veículos a serem efetuados em
consequência do procedimento;

Constituição online de sociedades


 sem deslocação a serviços públicos;
 tipos sociedade que podem ser
constituídas art 1º
 Sociedades comerciais;
 sociedades civis são forma comercial
do tipo por quotas e anónima;
 por qualquer interessado, desde que
possua uma assinatura electrónica
qualificada (titular do cartão de
cidadão);
 por solicitadores, advogados ou
Notários que possui um certificado
digital;

Processo de criação:
 Escolher a firma da sociedade na
bolsa de firmas a utilizando o
certificado de admissibilidade obtido
pela via tradicional;
 preencher os elementos de
identificação dos sócios;
 escolher O Pacto social e entre uma
lista de pactos pré-aprovados ou
juntar O Pacto elaborado pelos
interessados.
Depois de devidamente assinados, os
documentos necessários à Constituição são
digitalizados e enviados através do referido
site; - atenção ao disposto no art7º nº2:
reconhecimento presencial das assinaturas
com a menção de que os contraentes
“manifestaram a sua vontade de constituir a
sociedade”.
Pagar, por via electrónico com multibanco
ou cartão de crédito.

Custos:
Art 13º e Art 27º Regulameto Emolumentar
dos registos e notariado
Pela prática dos atos compreendidos no
regime especial de Constituição online de
sociedades virgula com ou sem nomeação
de órgãos sociais ou Secretário da
sociedade e com a opção por pacto ou ato
constitutivo de modelo aprovado (220 EUR)
Pela prática dos atos compreendidos no
regime especial com a instituição online de
sociedades, com ou sem nomeação de
órgãos sociais ou Secretário da sociedade e
com opção por pacto ou a de constitutivo
elaborado pelos interessados (360 EUR)

VI. OS CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO


COMERCIAL
Contratos de distribuição comercial
o contrato de franquia, o contrato de
agência e o contrato de concessão
comercial são classificados como contrato
de distribuição comercial, embora apenas o
de agência seja um contrato típico. uma das
notas comuns entre os 3 contratos é a
obrigação do distribuidor (agente,
concessionário e franquiado) promover os
negócios e interesses da outra parte
(principal, concedente e franqueador).
1. Contrato de agência
o contrato de agência é, como já referido,
um contrato típico: decreto-lei nº 178/86 de
3 de julho – LCA (transpôs a Diretiva
86/653/CEE, do Conselho, de 18 de
dezembro de 1986 e foi alterado pelo
Decereto-lei nº 118/93, de 13 de abril).
O artigo 1º nº1 LCA define o contrato de
agência como “o contrato pelo qual uma
das partes se obriga a promover por contra
da outra a celebração de contratos, de
modo autónomo e estável e mediante
retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa
zona ou determinado círculo de clientes”.
Contraentes: principal e o agente.
este artigo consagra os elementos
essenciais do contrato e agência; Através da
sua análise, será mais fácil identificar este
contrato.
Características: autonomia, estabilidade e
retribuição.
Autonomia: ao contrário no trabalhador que
está subordinado juridicamente A Entidade
empregadora, o agente independente e
atua com autonomia; Não obstante, esta
autonomia não é absoluta: deve conformar-
se com as orientações recebidas, adequar-
se à política económica da empresa e
prestar regularmente contas da sua
atividade.
Estabilidade: “têm vista não uma operação
isolada, antes do número e de indefinido de
operações”. Aliás, se as partes não tiverem
convencionado prazo, o contrato presume-
se celebrado por tempo indeterminado – cf,
Art 27º
Retribuição: a agência é um contrato
oneroso; A retribuição determina esse,
fundamentalmente com base no volume de
negócios obtido pelo agente. Tem caráter
variável sob a forma de Comissão ou de
percentagem calculada sobre o valor dos
negócios realizados. Como é óbvio, nada
impede que os contraentes acordem uma
parte fixa – artigos 15º a 18º LCA

Hoje Eu Não tenho como obrigação principal


promover a celebração de contratos. “é
uma atividade material, de prospeção do
mercado, de angariação de clientes, de
difusão dos produtos e serviços, de
negociação, etc, que antecede e prepara a
conclusão dos contratos, mas na qual o
agente já não tem de intervir”. Na verdade,
o dever do agente é zelar pelos interesses
do principal, conforme o disposto no artigo
6º LCA.
a lei, por si só, não confere ao agente
poderes para celebrar contratos com
terceiros; Tudo havia se tal for
convencionado por escrito, poderá ter
poderes representativos - artigo 2º LC (o
mesmo se aplica à cobrança de créditos -
artigo 3º LCA).
poderá ser atribuído ao agente um círculo
de clientes 6 exclusivo; Contudo, esta
atribuição terá que ser Convencionada por
escrito - artigo 4º LCA
o capítulo segundo da LCA é dedicado aos
direitos e obrigações das partes:
art 6º a 11º - Obrigações do agente
art 12º a 20º - direitos do agente
E se o agente atua sem os poderes
representativos celebrando negócios e
cobrando créditos sem estar autorizado? Cf.
artigo 22º LCA. de acordo com as regras
gerais, esses negócios serão ineficazes em
relação ao principal, se por ele não forem
ratificados – art. 268º n.º 1 CC. contudo, a
LCA considera que a ratificação se o
principal, tendo tido conhecimento da
celebração do negócio e re respectivo
conteúdo essencial, não manifestar ao
cliente de boa-fé, no prazo de 5 dias a
contar desse conhecimento, que se opõe ao
negócio.
Quanto ao problema da representação
aparente, problema geral de direito (em que
o representado se apresenta como tendo
poderes para celebrar determinado
negócio), o artigo 23º LCA consagrou uma
“solução justa equilibrada”.
As regras sobre a cessão do contrato estão
consagradas no Jardim dos 24º e ss. LCA
Especial importância têm os artigos 33º e
34º LCA - indemnização de clientela.
a não ser que o contrato tenha cessado por
razões imputáveis ao agente, este tem
direito a uma indemnização de clientela,
caso se verificarem cumulativamente os
pressupostos previstos no artigo 33º nº1
LCA. Esta pretende compensar o agente
pela mais-valia que o agente gerou para a
empresa do principal. há que provar um
juízo de prognose: que o principal venha a
retirar benefícios consideráveis da clientela
angariada pelo agente.
Por sua vez, artigo 34º LCA refere-se ao
cálculo da indemnização de clientela e
estabelece um limite máximo de: não
poderá ultrapassar um valor equivalente a
uma indemnização anual, calculada a partir
da média anual das retribuições recebidas
pelo agente nos últimos 5 anos.
A doutrina distingue o contrato de agência
do contrato de mandato, do contrato de
mediação do contrato de trabalho.
mandato 1157º CC prática de atos jurídicos;
agência: prática de atos materiais. O
mandatário tem direito ao reembolso das
despesas, ao contrário do agente (cf. artigo
20º LCA);
mediação: quero mediador, quero a gente
atuam como intermediários, procurando o
concretização do negócio.
Todavia, existem inúmeras diferenças entre
o contrato de mediação e o da agência:
O agente atua por conta do principal,
representando economicamente; Enquanto
o mediador ache por conta própria (Acho
com imparcialidade, no interesse de ambos
os contraentes, sem estar ligado a qualquer
um deles por relações de colaboração,
dependência à representação);
sendo a atuação do mediador imparcial e
não se encontrando vinculada a qualquer
dos possíveis contraentes, poderá vir a ser
retribuído por qualquer deles ao mesmo por
ambos;
o mediador intervém de forma ocasional,
quando solicitado contribuir pois já o agente
exerce uma atividade contínua. Na verdade,
o contrato de agência postula uma certa
continuidade, gosto de constituindo-se para
relações duradouras; Ao invés, o contrato
no dia são tem como elemento essencial a
promoção de certos e determinados
negócios, cessando logo que os mesmos se
concluam.
! Nota: embora conceptualmente a seja
clara a distinção entre as figuras, o certo é
que quando a atividade do mediador ganha
estabilidade, a figura aproxima-se bastante
do agente.

Contrato de trabalho (artigo 11º CT):


Estamos perante uma distinção que nem
sempre é fácil de fazer na prática. Existem
algumas afinidades entre os 2 contratos, no
que respeita à estabilidade; As principais
diferenças assentam no facto de o agente
ser independente e autónomo, em vez do
trabalhador que está subordinado
juridicamente ao empregador (dever de
obedecer as ordens e instruções).
“os contratos que o agente move são
normalmente contratos pelos quais o
principal irá vender os seus bens ou prestar
os serviços que fornece” - daí que a agência
seja um contrato de distribuição comercial.

 o agente atua sempre por conta do


principal;
 o agente independente e atua com
autonomia;
 o agente exerce a sua atividade de
modo estável;
 o contrato de agência é um contrato
oneroso.
Contrato de concessão comercial
1. Contrato atípico, apesar da sua
tipicidade social;
2. 2 partes: concedente e
concessionário;
3. há muita jurisprudência relativa a
este contrato, o que revela a
frequência com que é celebrado e a
sua enorme importância prática;
noção: contrato de concessão é o contrato
pelo qual uma das partes (concedente)
venda a outra (concessionário),
determinado produto, de forma exclusiva
ou não, para que esta revenda ao Público,
numa determinada zona.
“Pelo contrato concessão “concede se” a
outrem o “privilégio” de comercializar bens
“pré vendidos”, seja pela notoriedade da
marca, seja pela integração numa rede de
distribuição, seja pela publicidade de que
beneficiam esses produtos, seja, enfim, pela
vantagem concorrencial e as oportunidades
de ganho em face aos demais
comerciantes”.
O concessionário compra para revenda, às
por contra própria e assume o risco de
comercialização (tal como o franqueado).
o concedente (em regra identificado com o
produtor) transfere para o concessionário
risco de comercialização e assegura “o
escoamento de bens sem perder o controlo
da distribuição e sem arcar com os custos
de organização e outros que teria de
suportar se fosse ele a encarregar-se da
distribuição”.
o concedente consegue impor a sua política
comercial e controlar a própria distribuição;
E o concessionário tem uma posição de
privilégio e uma provável vantagem
concorrencial.
O setor em que tradicionalmente mais
concorre a atividade com funcionários e dos
veículos automóveis (também no setor das
bebidas, vestuário, perfumes,
eletrodomésticos).
! 4 notas finais:
o contrato em que o concessionário assume
a obrigação de compra para revenda,
estabelecendo-se as regras e que os
negócios serão feitos;
o concessionário aja em seu nome e por
contra própria, assumindo os riscos da
comercialização (tal como o franqueador);
as partes estão sujeitas a outro tipo de
obrigações: visa se definir a executar
determinada política comercial, por outras
palavras vírgulas regras de comportamento
(estabelecimento de regras sobre a
organização e as instalações, métodos de
venda, publicidade, assistência aos clientes).
“está em causa a integração do revendedor
na rede de distribuição do concedente”
é um contrato atípico: por analogia -
quando e na medida em que ela se verifica,
diploma que regula o contrato de agência,
sabendo à partida que analogia se verifica
sobretudo em matéria de cessação do
contrato.

Contrato de franquia ao franchising


Na verdade, universo dos contratos de
franquia é bastante baixo: desde o vestuário
até às latarias, do imobiliário hotelaria, da
informática as limpezas (serviços), esta
figura contratual é poderosa.
discute-se qual a terminologia adotar para o
contrato em questão: contrato de franquia
o franchising? há quem proponha as
expressões contrato de franquia,
franqueador e franqueado, com tradução
de do inglês franchising, franchisor e
franchisee.
Tendo em conta o âmbito Internacional
deste contrato virou lei expressão
franchising é mais utilizada.
O contrato de franquia teve a sua origem
nos EUA, na segunda metade do século XIX,
com a Singer Sewing Machine Company. No
final da guerra da secessão, com objetivo de
superar as dificuldades comerciais
existentes entre os Estados federados,
concretamente no que respeitava à
distribuição de bens, aquela empresa
decidiu instalar uma rede de distribuição de
máquinas de costura, em regime de
franchising. Não seria fácil para um
empresário do norte do país e expandir os
seus negócios: para além da dificuldade de
se mover geograficamente, não teria o
capital suficiente. Assim os comerciantes do
sul e Oeste do país, investiram na compra
de produtos já conhecidos pelos
consumidores. No entanto, apenas NOS
anos 20 e 30, este sistema contagiou outras
áreas, tais como o mercado automóvel, com
a General Motors e o setor dos frigir antes,
com uma Coca-Cola, na modalidade de
franchising industrial ou de produção.
A grande expansão do franchising deu-se
após a Segunda Guerra Mundial, tendo
ficado contagiada a área do fast-food a
vírgula como a mcdonalds ou KFC, tendo
sido uma “epidemia” eficaz: muitas outras
áreas de produção e de serviços foram
também “contaminadas”. o sucesso obtido
foi tão grande, que vários franqueadores
norte-americanos, por botas dos anos 50,
decidiram alargar as suas redes ao mercado
europeu. NOS anos 80 é que as partes
contratuais do franchising passaram a ser
também europeias.
O contrato de franchising é o “contrato pelo
qual alguém (franqueador) autoriza
impossibilita que outrem (franquiado),
mediante contrapartidas, atue
comercialmente (produzindo e/ou
vendendo produtos e ou serviços), de modo
estável, com a fórmula do sucesso do
primeiro (sinais distintos, conhecimentos,
assistência) e surge aos olhos do Público
com a sua imagem empresarial, obrigando-
se o segundo a actuar nestes termos,
respeitar as indicações que lhe foram sendo
dadas e a aceitar o controlo e fiscalização a
que for sujeito.
O contrato de franquia não está regulado na
lei portuguesa e o mesmo acontece na
generalidade dos ordenamentos jurídicos
europeus. Estamos perante um contrato
atípico, embora “pese a sua indiscutível
tipicidade social”, que se desenvolve ao
abrigo da liberdade contratual, NOS termos
do artigo 405º do CC. ISTO não significa que
o contrato esteja totalmente desprotegido.
O regime geral dos contratos,
designadamente, art. 27º CC -
responsabilidade contratual; o art.280º CC -
possibilidade do objeto, não contrariedade
à lei, à ordem pública e aos bens costumes;
os art. 334º e 762 nº 2 CC - dever de agir de
boa-fé na execução do contrato.
O regime das cláusulas contratuais gerais,
no caso o contrato de apreço seja um
contrato de adesão - o que é muito
frequente.
O regime jurídico de concorrência, caso
alguma cláusula do contrato esteja
conforme às normas constantes do novo
regime jurídico da concorrência.
O código da propriedade industrial, uma vez
que o contrato de franquia a implicará,
muitas vezes, licenças de exploração de
direitos industriais, nomeadamente no que
diz respeito às marcas e patentes;
O decreto-lei nº 178/86, de 3 de julho LCA
“por analogia, quando e na medida em que
se verifique” diploma que regula o contrato
de agência, sabendo à partida que analogia
se verifica sobretudo em matéria de
cessação do contrato.
Existem 3 modalidades do contrato de
franchising:
1. na franquia de serviços virgula o
franqueador oferece um serviço
sobre o logotipo ou marca do
franqueador, ajustando-se com as
instruções destes. Temos como
exemplos a mcdonalds, na área da
restauração; Avis e Hertz, na locação
de automóveis; E impede-o, na
comercialização de serviços de
seguro; a 5 à Séc, na lavandaria e
limpeza a seco, entre muitos outros.
2. Na franquia de produção ou
industrial “o próprio franqueado
fabrica, segundo as indicações do
franqueador, produtos que ele
vende sobre marca deste”. Hoje
exemplos mais conhecidos desta
modalidade de franquia são a Coca-
Cola e a Pepsi.
3. na franquia de distribuição o
franqueado limita-se a vender
determinados produtos num
estabelecimento que utiliza logotipo
e marca do franqueador. são muitos
os exemplos desta modalidade:
Benetton, Tintoretto, Levi´s,
Boticário, entre outros.
A distribuição de produtos e a prestação de
serviços podem ser conjugadas no mesmo
contrato de franquia. É exatamente o que
se passa, com a Multiopticas e optvisão:
para além dos serviços ópticos que prestam,
também vendem Óculos de sol, armações,
lentes de contato, etc. É suficiente para uma
simples leitura das muitas franquias
disponíveis nas revistas da área vírgula para
se concluir que a franquia de serviços e
distribuição são as dominantes.
Um conjunto de vantagens contribuiu para
o sucesso do franchising, quer para o
franqueador, quer para o franqueado. O
franqueador chega a um mercado maior
com muito menos força em termos de
investimento, do que se quisesse expandir o
seu negócio por conta própria, ou seja,
controla e gere, “através de empresas
independentes”, a distribuição dos vãos,
como se tratasse de uma filial, mas não
suporta os riscos, nem os custos. Por sua
vez, o franqueado tudo fará para que o
negócio corra o melhor possível vir para
uma vez que também procura o lucro e a
eficiência, comercializando produtos e/ou
serviços conhecidos pelos consumidores,
sendo maiores as hipóteses de sucesso, em
comparação com a criação de um negócio,
já que utiliza o logotipo de marca do
franqueador, que muitas vezes até é
conhecida a nível mundial. O franqueado
beneficia ainda do saber fazer (know-how)
comunicado pelo franqueador, bem como
da assistência técnica prestada por este.
A maior desvantagem será no caso de a
rede de franchising ter algum problema de
imagem (quer seja da responsabilidade do
franqueador ou do franqueado); por
exemplo, na hipótese de uma intoxicação
alimentar no Mac donald's serão também
afetados todos os outros franqueados,
embora se trata de empresas
independentes.
As obrigações que recaem sobre as partes,
em regra, constam do contrato de franquia.
as cláusulas mais frequentes em relação às
obrigações do:
Franqueador: transmitir o direito alguns da
marca e outros sinais distintos “na
comercialização de serviços e produtos por
este adquiridos ou fabricados”; comunicar o
saber fazer; fornecer assistência técnica
e/ou comercial; cláusula de exclusividade
territorial, ou seja, o franqueado terá o
direito exclusivo de vender os produtos só
prestar serviços de uma determinada zona;
Retomar os bens em Stock depois de a
cessação do contrato; estipulação de uma
indemnização de clientela.
Franquiado: pagamento de uma
contrapartida; obrigação de suportar um
controlo, obrigação de não concorrer com a
rede durante a vigência do contrato;
cláusulas respeitantes à publicidade;
Manutenção de um Stock mínimo; Cumprir
um volume mínimo de negócios; fixação dos
preços de venda dos bens e/ou serviços;
Manter as instalações, mobiliário,
decoração e demais material nas condições
exigidas pelo franqueador; Não adquirir
participações sociais no capital de
concorrentes do franqueador; apresentar
anualmente o Balanço.
As contrapartidas a prestar pelo
franqueador são essencialmente: direito de
entrada, royalities, taxa de publicidade.
Direito de entrada: estação inicial, paga, em
regra, no momento da declaração do
contrato (poderá ser paga numa ou em
várias prestações); é uma “joia” que rumo
munera o franqueador pelo saber fazer e
notoriedade da marca e pelos serviços
iniciais prestados ao franqueado;
Royalities: pagamento regular, em regra
mensal, cujo valor resulta normalmente a
aplicação de uma percentagem sobre as
vendas, poderá ser um valor fixo ou até
poderá nem existir (em média ronda os 5%
ou 6%);
Taxa de publicidade: pagamento regular, em
regra mensal, e tal como as royalities, pode
resultar da aplicação de uma percentagem
sobre as vendas, de um valor fixo ou até
nem existir. O pagamento da referida taxa
destina-se a pagar um serviço (publicidade)
prestado pelo franqueador, não sendo,
desta forma, um ganho daquele (nada obsta
a que o próprio franqueado promova as
suas próprias campanhas publicitárias,
desde que o franqueador aprova as
referidas campanhas e desde que esteja
estipulado no contrato).
por último, será importante mencionar uma
cláusula que poderá constar do contrato de
franchising, com consiste na possibilidade
do franqueado contratar subfranqueados na
zona que lhe foi atribuída pelo franqueador.
Estamos perante o master franchising o
contrato de franquia principal, que até se
podia chamar “franchising do franchising “.
o franqueado fica, desta forma,
responsabilizado pela administração da
rede nessa zona, pela assistência e controlo
dos franqueados. Geralmente tal ocorre
num país estrangeiro, relativamente ao país
de origem do franchising.
Cessação do contrato:
no que respeita à cessão do contrato de
franquia aplicar-se-ão, por recurso a
analogia, as causas de cessão previstas para
o contrato de agência, consagradas no
artigo 24º LCA, tendo em conta que este é o
contrato típico com mais lá assisti afinidade
com a franquia. o contrato de agência pode
cessar por a: acordo das partes, caducidade,
denúncia e resolução.
Acordo das partes: esta “forma autónoma”
de cessar o contrato está regulada no artigo
25º LCA. sendo certo que vigora o princípio
da liberdade contratual, de acordo com o
artigo 405º nº1 CC, esta liberdade pode
manifestar-se no acordo das partes em por
um fim ao contrato, seja celebrado por
tempo determinado ao por tempo
indeterminado. Exige-se acordo com este
nenhum documento escrito, por razões da
segurança.
Caducidade: o artigo 26º LCA faz uma
enumeração meramente explicativa, entre
os quais, “findo o prazo estipulado”. trata-
se de uma forma de cessação automática do
contrato, pois verificando se algum dos
factos estipulados no artigo ou outros
acordados, o contrato caduca. Na realidade,
a maioria celebrado por tempo
determinado, caducando no fim do prazo
estipulado.
É bastante frequente as partes preverem a
renovação automática do contrato (“5 anos
renováveis” ou “5 anos com renovação
automática”); tudo havia, de acordo com
Pinto Monteiro, tal não acontece o
franqueador ou franqueado, previamente
se manifestarem contra essa renovação.
Se as partes não tiverem previsto a
renovação automática do contrato e
continuarem a cumprir o passado para a
estipulado, a doutrina é pacificada em
ampliar analógica mente o artigo 27º LCA:
aproveita-se o silêncio das partes e
considera se o contrato renovado por
tempo indeterminado.
Denuncia: esta declaração unilateral aplica-
se aos contratos celebrados por tempo
indeterminado e não carece de ser
motivada. A denúncia só poderá ser
exercida validamente, se for comunicada a
outra parte como razoável antecedência. A
questão primacial é de saber qual será essa
“razoável antecedência”.
As partes podem ter previsto esta situação
no contrato e é aconselhada ao; Caso
contrário, teremos que analisar, em face das
circunstâncias, qual será a antecedência
razoável.
! Na opinião da professora Susana Gil, os
tempos de prévios estabelecidos para o
contrato de agência, consagrados no artigo
28º, cuja finalidade é impedir uma
repentina cessação do contrato, não
deverão ser aplicados ao contrato de
franquia. Aquele artigo estabelece que a
antecedência mínima seja de 1 mês caso o
contrato dura há menos de 1 ano; 2 meses
se já tiverem iniciado o segundo ano de
vigência; E 3 meses, NOS restantes escassos.
E os prazos de aviso prévio no franchising
devem ser mais longos do que os
estabelecidos para o contrato e agência,
desde logo porque o capital investido e, em
regra, bastante superior ao investido no
contrato de agência.
Daí que, na opinião da professora, a melhor
solução será uma apreciação casuística das
situações, de forma a averiguar qual a
antecedência razoável uma vírgula em cada
caso concreto para a denúncia ser exercida
de forma lícita.
Resolução: a resolução carece de ser
motivada por um t, faz-se, em regra, através
de declaração extrajudicial de uma parte a
outra; E aplica-se quer aos contratos
celebrados por tempo determinado, quer
por tempo indeterminado, a declaração a
outra parte, como resulta claramente do
artigo 436º nº1 do CC, que se torna eficaz
logo que chega ao destinatário ou é ele
conhecida – art. 224º nº1 CC, tornando-se
assim, irrevogável art. 230º nº1 CC.
o franqueador e o franqueado podem
prever no contrato as situações que
poderão levar à resolução do contrato,
através das chamadas cláusulas resolutivas.
Se nada estiver estipulado no contrato,
aplicámos, por analogia, o artigo 30º LCA
que estabelece 2 fundamentos de resolução
para o contrato de agência.
O primeiro, é estipulado na a), consagra que
o contrato possa ser resolvido, caso uma
das partes falta ao cumprimento das suas
obrigações, de forma de tal como mo grave
ou reiterada, que não seja exigível a
subsistência do vínculo contratual. Por
exemplo, caso o franqueado não realize
pontualmente as contrapartidas financeiras
é que está obrigado ou quando o
franqueador não consegue de ao
franqueado uma assistência eficaz,
incumprimentos de tal modo graves ou
reiterados, que não se pode exigir a parte
cumpridora que o contrato de mantenha.
Coloca-se a questão de saber se a parte que
resolve o contrato tem direito a ser
ressarcida pelo interesse contratual positivo
ou apenas pelo interesse contratual
negativo. Aposição dominante da
jurisprudência portuguesa “é no sentido de
que, a indenização que se pode cumular
com a resolução do contrato não é a
indenização pelo dano in contractu mas
pelo dano in contrahendo, Ou seja, pelo
interesse contratual negativo”.
Assim coloca-se o zelado na situação em
que estaria se não tivesse celebrado o
contrato e não na situação em que se
encontraria se o contrato fosse cumprido.
Na b) estipula se que o contrato possa ser
resolvido “se ocorrerem circunstâncias que
tornem impossível ou prejudiquem
gravemente a realização do fim contratual”,
de forma que também não seja exigível que
o contrato se mantenha até ao prazo
convencionado (quando está em causa um
contrato celebrado por tempo
determinado) ao imposto em caso de
denúncia (NOS casos de contratos
celebrados por tempo indeterminado ao
que se renovaram por tempo
indeterminado). desta forma, “e resolução
não depende de qualquer incumprimento
culposo por banda da outra parte”, trata-se
de um fundamento objetivo e o legislador
estipula que não pode ser exigível a
subsistência do vínculo contratual.
se aplicarmos analógica mente ao contrato
de franquia o artigo 30º, devemos aplicar,
de igual modo, o artigo 32º que estipula
uma indemnização, que terá lugar NOS 2
fundamentos de resolução do contrato, no
fundamento previsto na alínea a) existe o
direito simbolizado pelos danos sofridos; No
caso da alínea b), a indenização será
calculada segundo a equidade.
o artigo 33º LCA consagra o direito de uma
indemnização de clientela para o agente,
após a cessação do contrato, preenchidos
que sejam os requisitos exigidos naquele
artigo. Esta indenização do visa “compensar
o agente da atividade por si desenvolvida e
de que o principal vai a beneficiar; é o
ressarcimento de que uma mais-valia
acrescida colocada ao serviço do principal,
criada ou incrementada pelo esforço do
agente”.
a questão central é a de saber se poderá
aplicar, por analogia, o contrato de
franquia, indenização prevista para a
agência.
A doutrina está dividida. as melhores
soluções defendem uma apreciação
casuística, não fechando a porta à aplicação
do artigo 33º LCA ao contrato de franquia,
mas também tendo em conta que a
clientela, de uma forma geral, é angariada
através da marca.

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